Revista RPESM 24

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FICHA TÉCNICA

TÍTULO | TITLE

Revista Portuguesa de Enfermagem em Saúde Mental | Portuguese Journal of Mental Health Nursing

PUBLICAÇÃO E PROPRIEDADE | PUBLISHING AND PROPERTY

A Sociedade Portuguesa de Enfermagem em Saúde Mental | The Portuguese Society of Mental Health Nursing

DIRETOR | MANAGING DIRECTOR

Carlos Sequeira, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal

COORDENADOR | COORDINATOR

Luís Sá, PhD - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal

COORDENADOR DA COMISSÃO EDITORIAL | EDITORIAL BOARD COORDINATOR

Francisco Sampaio, MSc – Hospital de Braga, Portugal

COMISSÃO EDITORIAL | EDITORIAL BOARD

Analisa Candeias, MSc - Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho Bruno Santos, MSc - Irmãs Hospitaleiras, Braga Carlos Vilela, MSc - Escola Superior de Enfermagem do Porto Joana Coelho, MSc - Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho Lia Sousa, MSc - Centro Hospital de São João, Porto Lucília Vale de Nogueira, MSc – Centro Hospitalar do Porto Luís Silva, MSc - Hospital de Magalhães Lemos, Porto Mafalda Silva, MSc - Escola Superior de Saúde de Santa Maria Regina Pires, MSc – Escola Superior de Enfermagem do Porto Rita Costa, MSc - Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Porto Rosa Silva, MSc - Instituto de Ciências da Saúde – Universidade Católica Portuguesa, Porto Sónia Teixeira, MSc - Centro Hospitalar Conde de Ferreira

COMISSÃO CIENTÍFICA | SCIENTIFIC REVIEWERS

Agustín Simónelli Muñoz, PhD - Universidad Católica San Antonio, Múrcia, Espanha Aida Mendes, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal Alexandre Marques Rodrigues, PhD - Escola Superior de Saúde de Aveiro, Aveiro, Portugal Amadeu Gonçalves, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viseu, Portugal Ana Querido, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria, Portugal Beatriz Araújo, PhD - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal Carlos Sequeira, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Carme Ferré Grau, PhD - Universitat Rovira i Virgili. Tarragona, Espanha Catarina Tomás, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria, Portugal Elaine Antunes Cortez, PhD - Escola de Enfermagem AAC - Universidade Federal Fluminense, Brasil Elizabete Borges, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Francisca Manso, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Portugal Geilsa Cavalcanti Valente, PhD - Escola de Enfermagem AAC - Universidade Federal Fluminense, Brasil Guilherme Correa Barbosa, PhD – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Brasil Graça Pimenta, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Isilda Ribeiro, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal José Carlos Carvalho, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal José Carlos Gomes, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria, Portugal José Carlos Santos, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal Juan Roldan Merino, PhD - Escuela de Enfermería Sant Joan de Déu (adstrita a la UB), Espanha Júlia Martinho, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Luís Sá, PhD – Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal Margarida Sotto Mayor, PhD - Hospital de Magalhães Lemos, Porto, Portugal Maria José Nogueira, PhD - Escola Superior de Saúde Atlântica, Portugal Mar Lleixà-Fortuno, PhD - Universitat Rovira i Virgili. Tarragona, Espanha Marluce Miguel de Siqueira, PhD - Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Michell Araújo, PhD - Faculdade Católica Rainha do Sertão - Fortaleza e Hospital de M., Brasil Odete Araújo, PhD - Escola de Enfermagem da Universidade do Minho, Portugal Odete Pereira, PhD - Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Brasil Olga Sousa Valentim, PhD - Escola Superior de Saúde Atlântica, Portugal Paulo Seabra, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Portugal Raul Cordeiro, PhD – Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal Teresa Barroso, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal Teresa Lluch-Canut, PhD – Escola Universitària d’Infermeria - Universitat de Barcelona, Espanha Zeyne Scherer, PhD – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Brasil

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 2


Público-alvo:

INDEXAÇÃO:

Enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e outras pessoas com interesse na área da saúde mental.

A Revista da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental foi aceite para indexação em:

Objectivo:

Library Online

Divulgação de evidências científicas sobre a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento, reabilitação e reintegração das pessoas com doença mental ao longo da vida.

Âmbito:

Políticas e design dos cuidados de saúde; Avaliação, diagnóstico, intervenções e resultados de enfermagem; Sistemas de informação e indicadores em saúde mental; Direitos e deveres dos doentes mentais; Formação e investigação em enfermagem em saúde mental.

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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 3


Índice

EDITORIAL CONVIDADO

1

NESTE NOSSO TEMPO ATÍPICO ....................................................................................................

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO

2

FATORES DE RISCO E IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM

3

PREVALÊNCIA DE SINTOMAS DEPRESSIVOS ENTRE ADOLESCENTES ESCOLARES EM

MUNICÍPIO DO NORTE DE MINAS GERAIS, BRASIL ...................................................................... 15

4

SATISFAÇÃO POR COMPAIXÃO, BURNOUT E STRESSE TRAUMÁTICO SECUNDÁRIO EM

ENFERMEIROS DA ÁREA HOSPITALAR ......................................................................................... 23

5

LITERACIA EM SAÚDE MENTAL DOS JOVENS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM NA

INTEGRAÇÃO AO ENSINO SUPERIOR ........................................................................................... 31

6

INTERVENÇÃO PSICOEDUCACIONAL DE PROMOÇÃO DA LITERACIA EM SAÚDE MENTAL

SOBRE A ANSIEDADE PARA ADOLESCENTES EM CONTEXTO ESCOLAR: VALIDADE DE

CONTEÚDO ATRAVÉS DE E-DELPHI MODIFICADO ..................................................................... 41

7

O CUIDADO ESPIRITUAL REALIZADO PELA ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA

6

........... 9

INTENSIVA ....................................................................................................................................... 47

ARTIGOS DE REVISÃO

8

A VISITA DOMICILIÁRIA NA CONTINUIDADE DE CUIDADOS HOSPITAL-DOMICÍLIO À PESSOA

COM DOENÇA MENTAL – UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA .................................... 54

9

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO ATENDIMENTO AO PÚBLICO INFANTOJUVENIL EM

SOFRIMENTO MENTAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA ................................................................... 63

10

AUTO-EFICÁCIA EM CUIDADORES DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: REVISÃO INTEGRATIVA .. 63

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 4


Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 5


Editorial Convidado

1

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0275

NESTE NOSSO TEMPO ATÍPICO | Lucília Nunes1 |

Uma das referências que tem aparecido com frequência é que vivemos um tempo atípico, que 2020 é um ano atípico. Tomamos por «atípico» o que se afasta do normal ou do esperado, o que é anómalo, o que se nos apresenta como anormal, irregular, fora da regra ou do habitual. Provavelmente, é uma expressão suficientemente clara e, ao mesmo tempo, equívoca, para caracterizar este nosso tempo. O surgimento e a rápida disseminação do novo coronavírus colocaram desafios inesperados a todas as entidades e em todos setores - nenhum país, sistema de saúde ou instituição estava preparado para uma pandemia com a dimensão e as repercussões que vivemos. A pandemia constitui, por um período que se estima poder ser longo, um teste difícil para todos. Em bom rigor, não conhecemos uma ameaça infeciosa desta magnitude desde a pandemia de influenza de 1918. Em poucos meses, entrámos em modo de emergência, os serviços de saúde focados no combate à infeção por SARS-COV-2, as famílias voluntária ou compulsivamente confinadas e a economia quase paralisada. Tempo atípico significa que vivemos um tempo marcado pela situação pandémica, que é complexa e evolutiva, suscita incerteza e instabilidade, requer de nós, seres sociais, que mantenhamos distanciamento social. Como se afirma no parecer do CNECV “A necessidade de tomar decisões, numa escalada necessariamente modelada pelo próprio desenvolvimento da situação pandémica, confronta-se com princípios, valores e direitos das pessoas e da sociedade em geral.” (Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida, 2020). Desde logo, emergiram questões éticas, de proteção da vida e da dignidade humana, relacionadas com os princípios da necessidade, da precaução, da proporcionalidade, da solidariedade. Também se foi tornando claro que algumas consequências deste ano atípico poderão alastrar aos próximos anos – e pensemos concretamente na Saúde Mental.

A vivência da pandemia não trouxe apenas o confinamento ou o distanciamento físico. Alguns medos agigantaram-se; o medo da doença, o aumento do stress e da ansiedade, a incerteza do futuro. O que tem sido designado por impacto psicológico da pandemia, mas também as consequências concretas relacionadas com o aumento do desemprego, a crise económica, e uma conjugação complexa de fatores que potencia angústia existencial. Vejamos algumas coisas que sabemos, das evidências existentes. Sabemos que o isolamento e a quarentena podem desencadear um conjunto de sintomas psicopatológicos, designadamente perturbações depressivas e perturbações de stress pós-traumático. Sabemos que a pandemia aumenta a vulnerabilidade, quer do ponto de vista emocional quer pelas dificuldades económicas – existe uma forte relação entre saúde mental e privação social e evidências que o aumento do desemprego se relaciona com agravamento da saúde mental. Sabemos que as pessoas morrem neste tempo de pandemia e os seus familiares e amigos vivem a privação da despedida, o sofrimento da perda em isolamento no período de luto, o que pode vir a ter repercussões sérias na saúde mental. Também sabemos que a saúde dos enfermeiros está a ser afetada pela sobrecarga, a exaustão e as exigências do contexto pandémico, acrescidas do risco e do receio de adoecer e de infetar amigos e família, receios que se traduzem em maiores níveis de ansiedade, stress e sintomas depressivos (Sampaio, Sequeira, & Teixeira, 2020). Sabemos que os problemas de saúde mental têm consequências severas na vida das pessoas e dos que as rodeiam, incluindo familiares e outros cuidadores. Não conseguimos, naturalmente, ajuizar sobre os impactos de médio e longo prazo destes tempos atípicos. Todavia, como Enfermeiros de Saúde Mental, temos recursos e meios para ajudar, para intervir.

1 Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Mestre em Ciências de Enfermagem; Mestre em História Cultural e Política; Doutora em Filosofia; Agregação em Filosofia, especialidade Ética; Agregação em Enfermagem; Conselheira designada pela Assembleia da República na Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida; Coordenadora da Unidade de Investigação em Enfermagem Sul e Ilhas (NURSE’IN); Professora Coordenadora no Instituto Politécnico de Setúbal, Escola Superior de Saúde, Campus do Instituto Politécnico de Setúbal, Estefanilha, 2914-503 Setúbal, Portugal, lucilia.nunes@ess.ips.pt Citação: Nunes, L. (2020). Neste nosso tempo atípico. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 06-07. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 6


“O enfermeiro especialista em saúde mental compreende os processos de sofrimento, alteração e perturbação mental do cliente assim como as implicações para o seu projeto de vida, o potencial de recuperação e a forma como a saúde mental é afetada pelos fatores contextuais.” (Regulamento n.º 515/2018). A especificidade da prática clínica em Enfermagem de Saúde Mental permite estabelecer relações de confiança e parceria com a pessoa, aumentar o insight sobre os problemas e a capacidade de encontrar novas vias de resolução. Não teria dúvidas em afirmar que a primeira responsabilidade do enfermeiro especialista em Saúde Mental é respeitar a dignidade da pessoa (Franco, Caldeira, & Nunes, 2020) e proteger os seus direitos, zelando pela qualidade e a segurança dos cuidados. Claro que acabámos de passar para o território da ética profissional, que regula a relação do enfermeiro com aqueles a quem presta cuidados, tendo em conta a dignidade humana, os direitos das pessoas e as competências necessárias para o exercício. Em situação de necessidade, as pessoas podem ter diminuída a sua liberdade e nem ter consciência (ou capacidade) de pedir ajuda. Evitando psiquiatrizar a atual vida social, ainda assim importa reconhecer a especial delicadeza deste nosso tempo atípico, em que cruzam e entretecem a Ética e a Enfermagem de Saúde Mental. Diria mais: é tempo de visibilizar e valorizar os contributos da Enfermagem de Saúde Mental na promoção, a prevenção, a intervenção, tratamento, reabilitação e reinserção psicossocial.

Este nosso tempo atípico é também tempo de focar na dignidade humana, na compaixão e solidariedade, na justiça e equidade. Que o sentido de estarmos sitiados não nos imobilize – que, antes, nos sirva de impulso para a resiliência e a intervenção profissional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. (2020). Posição sobre a “situação de emergência de saúde pública pela pandemia covid-19: Aspetos éticos relevantes”. Disponível em https://www.cnecv.pt/pt/comunicacoes/tomada-de-posicao Franco, H., Caldeira, S., & Nunes, L. (2020). Dignity in nursing: A synthesis review of concept analysis studies. Nursing Ethics. doi:10.1177/0969733020961822 Regulamento n.º 515/2018 (2018). Regulamento de competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica. Disponível em https://dre.pt/application/conteudo/115932570 Sampaio, F., Sequeira, C., & Teixeira, L. (2020). Nurses’ mental health during the covid-19 outbreak: A crosssectional study. Journal of Occupational and Environmental Medicine, 62(10), 783-787. doi:10.1097/ JOM.0000000000001987

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 7


Artigo de Investigação

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0276

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FATORES DE RISCO E IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM | Liliane da Silva1; Alisséia Lemes2; Vagner do Nascimento3; Rosa Volpato4; Elias da Rocha5; Adaene de Moura6 |

RESUMO CONTEXTO: A universidade é um local de desenvolvimento científico e humano, com alto risco ao adoecimento mental. As repercussões desse adoecimento, podem desencadear processos de questionamento sobre a vida, valores individuais e em algumas circunstâncias contribuir para a presença de ideação suicida. OBJETIVO: Avaliar a presença de ideação suicida entre os estudantes de enfermagem e os fatores de risco associados. MÉTODOS: Pesquisa exploratória, com abordagem quantitativa, realizada entre julho e outubro de 2016, com estudantes de enfermagem de uma universidade pública do Brasil. A coleta de dados ocorreu com aplicação de questionário semiestruturado e Inventário de Ideação suicida de Beck. Os dados foram analisados pelo Epiinfo versão 3.5.2 e Bioestat versão 5.0. RESULTADOS: Participaram da pesquisa 60 estudantes de enfermagem, entre 18 e 37 anos, sendo 80% do sexo feminino e 82% solteiros. Em relação aos fatores de risco para o suicídio destacou-se a dificuldade financeira (33%) e mudança de cidade para cursar a universidade (45%). Houve associação entre ideação suicida com maiores responsabilidades (100%) e pressão (86%) na vida atual. Esta associação foi mais significativa entre o histórico para tentativa de suicídio (p= 0,015) e depressão (p= 0,010). A ideação suicida esteve presente em 12% da amostra. CONCLUSÃO: Neste estudo, verificou-se que parte dos estudantes apresentaram ideação suicida, ao mesmo tempo que estão expostos a fatores de risco que podem contribuir para desenvolver ou agravar o adoecimento mental, motivo que alerta a gestão universitária quanto ao cuidado à saúde do estudante desde o ingresso à formação. PALAVRAS-CHAVE: Estudantes de enfermagem; Prevenção; Saúde mental; Suicídio

RESUMEN

ABSTRACT

“Factores de riesgo y idenación suicida entre estudiantes de enfermería”

“Risk factors and suicide ideation among nursing students” BACKGROUND: The university is a place of scientific and human development, with high risk for mental illness. The repercussions of this illness can trigger processes of questioning about life, individual values, and in some circumstances contribute to the presence of suicidal ideation. AIM: Assess the presence of suicidal ideation among nursing students and the associated risk factors. METHODS: Exploratory research with quantitative approach, conducted between July and October 2016, with nursing students from a public university in Brazil. Data collection was performed using a semi-structured questionnaire and Beck’s suicidal ideation inventory. Data were analyzed by Epiinfo version 3.5.2 and Bioestat version 5.0. RESULTS: Sixty nursing students, between 18 and 37 years old, participated in the research, 80% female and 82% single. Regarding risk factors for suicide, financial difficulties (33%) and change of city to study at the university (45%) were highlighted. There was an association between suicidal ideation with higher responsibilities (100%) and pressure (86%) in current life. This association was most significant between the history of suicide attempt (p = 0.015) and depression (p = 0.010). Suicidal ideation was present in 12% of the sample. CONCLUSION: In this study, it was found that part of the students presented suicidal ideation, while being exposed to risk factors that may contribute to develop or aggravate mental illness, reason that alerts the university management regarding the student’s health care since the beginning admission to training.

CONTEXTO: La universidad es un lugar de desarrollo científico y humano, con alto riesgo de enfermedad mental. Las repercusiones de esta enfermedad pueden desencadenar procesos de cuestionamiento sobre la vida, los valores individuales y en algunas circunstancias, contribuyen a la presencia de ideas suicidas. OBJETIVO: Valorar la presencia de ideación suicida entre estudiantes de enfermería y los factores de riesgo asociados. METODOLOGÍA: Investigación exploratoria con enfoque cuantitativo, realizada entre julio y octubre de 2016, con estudiantes de enfermería de una universidad pública de Brasil. La recolección de datos se realizó mediante un cuestionario semiestructurado y el inventario de ideas suicidas de Beck. Los datos fueron analizados por Epiinfo versión 3.5.2 y Bioestat versión 5.0. RESULTADOS: Participaron de la investigación 60 estudiantes de enfermería, entre 18 y 37 años, 80% mujeres y 82% solteros. En cuanto a los factores de riesgo de suicidio, se destacaron las dificultades financieras (33%) y el cambio de ciudad para estudiar en la universidad (45%). Hubo una asociación entre ideación suicida con responsabilidades más altas (100%) y presión (86%) en la vida actual. Esta asociación fue más significativa entre la historia de intento de suicidio (p = 0.015) y depresión (p = 0.010). La ideación suicida estuvo presente en el 12% de la muestra. CONCLUSIÓN: En este estudio, se descubrió que parte de los estudiantes presentaban ideas suicidas, mientras estaban expuestos a factores de riesgo que pueden contribuir a desarrollar o agravar una enfermedad mental, razón que alerta a la gerencia de la universidad sobre la atención médica del estudiante desde la entrada a la formación.

KEYWORDS: Nursing students; Prevention; Mental health; Suicide

DESCRIPTORES: Estudiantes de enfermería; Prevención; Salud mental; El suicidio

Submetido em 31-03-2019 Aceite em 18-11-2019

1 Enfermeira. Mestranda em Ciências, Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil, liliane_rodrigues23@hotmail.com 2 Enfermeira. Doutora em Ciências. Docente Assistente II na Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário do Araguaia. Brasil, alisseia@hotmail.com 3 Enfermeiro. Doutor em Bioética. Docente Adjunto da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Tangará da Serra, vagnernascimento@unemat.br 4 Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, São Paulo, Brasil, rosamjvolpato@gamil.com 5 Enfermeiro. Mestre em Ciências da Saúde. Docente Assistente na Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário do Araguaia. Brasil, eliasufmt@yahoo.com.br 6 Enfermeira. Doutoranda em Ciências, Pós-graduação em Enf. Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, adaene_moura@usp.br Citação: Silva, L. S., Lemes, A. G., Nascimento, V. F., Volpato, R. J., Rocha, E. M., & Moura, A. A. M. (2020). Fatores de risco e ideação suicida entre estudantes de enfermagem. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 08-16. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 8


INTRODUÇÃO

MÉTODOS

A universidade é um local em que se desenvolve conhecimento científico, formação intelectual, profissional e moral, oportunizando ao jovem a possibilidade de assunção de seus atos e comportamentos, além de impor incertezas frente ao futuro (Matos, 2014). Esse cenário gera ansiedade, preocupação e estresse, que somado à distância da família, frustações/perdas pessoais, cobranças, avaliações, reprovações, metodologias de ensino engessadas e tradicionais, pouco acolhimento de professores e gestão universitária, falta de incentivo e de políticas de permanência, vulnerabiliza o indivíduo ao sofrimento psíquico (Rios, Mascarenha, Souza, Olebar, Paiva, & Silveira, 2019). Pesquisadores revelam que tais enfrentamentos, com novos ciclos de amizade e relações afetivas, rearranjos quanto a alimentação/moradia/segurança e controle de recursos, exige habilidades sociais e competências emocionais nem sempre existentes entre os estudantes (Hirsch, Barlem, Almeida, Tomaschewski-Barlem, Lunardi, & Ramos, 2018). Entre os universitários, aqueles que cursam enfermagem, apesar de normalmente escolherem essa área por afinidade, e se satisfazerem ao longo da trajetória acadêmica, não estão imunes ao adoecimento (Silva, Silva, Chagas, Tortola, & Caldeira, 2019a). O estranhamento diante da teoria e prática, e a excessiva cobrança de estar forte e preparado para atender/acolher todas as demandas da comunidade, especialmente em ser referência de cuidado desde o nascer ao morrer, trazem por vezes, respostas nocivas à saúde mental do estudante, como o constante questionamento sobre a vida e seus valores individuais, desencadeando em algumas circunstâncias ideação suicida (Silva, Nascimento, Santos, & Ferreira, 2019b). A partir disso, é indiscutível que o adoecimento mental desenvolvido durante a vida universitária, necessita de intervenção e acompanhamento profissional para reduzir prejuízos no desempenho do estudante e evitar riscos maiores, como àqueles ligados tanto à ideação suicida como ao suicídio propriamente dito (World Health Organization, 2014). Nesse sentido, este estudo teve como objetivo avaliar a presença de ideação suicida entre os estudantes de enfermagem e os fatores de risco associados com a presença da ideação suicida.

Trata-se de estudo exploratório, com abordagem quantitativa, realizada com estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Universitário do Araguaia (CUA), localizado em Barra do Garças, Mato Grosso, Brasil. Os critérios de inclusão foram: idade ≥18 anos e estar regularmente matriculado no curso de enfermagem. Os critérios de exclusão foram: estudantes que não estiveram presentes na sala de aula no momento da coleta de dados ou que se encontraram afastados por atestado médico e licença de maternidade; e aqueles que deixaram de responder alguma das questões dos questionários aplicados, em específico do Inventário de Ideação Suicida de Beck (BSI). Para a definição da amostra, utilizou-se uma amostragem não probabilística, por conveniência, dos 133 estudantes de enfermagem matriculados na UFMT/ CUA. Destes aceitaram participar do estudo 64 alunos. Houve perdas de quatro questionários, por preenchimento incompleto, totalizando assim, uma amostra de 60 universitários. Os estudantes autodeclararam pertencer ao 1º semestre (21%) do curso, seguido do 3º semestre (32%), 5º semestre (20%), 7º semestre (22%) e 8º semestre (5%). A pesquisa foi realizada, nos períodos matutino e vespertino, entre os meses de julho a outubro de 2016, por meio da aplicação de três instrumentos de pesquisa. O primeiro, um questionário semiestruturado elaborado pelos pesquisadores, contendo questões objetivas, sobre os dados sociodemográficos (faixa etária, sexo, estado civil, renda individual mensal, religião e arranjo familiar) e os fatores de risco para o adoecimento mental. O segundo instrumento, o Inventário de Ideação Suicida de Beck (BSI), é um questionário validado no Brasil, autoaplicável que investiga a presença de ideação suicida, possuindo 21 itens. Obtém-se o escore total do BSI, somando os escores de cada item, pois, cada grupo apresenta alternativas, que podem ter escore de 0, 1, 2, 3, embora, este inventário não recomenda um ponto de corte. A presença de qualquer escore diferente de zero (0), em qualquer item, revela a existência de ideação suicida e demonstra a necessidade de o caso ser melhor investigado do ponto de vista clínico (Cunha, 2016). Os participantes responderam os instrumentos da pesquisa em sala de aula, após permissão do docente. O preenchimento teve a duração média de 30 minutos.

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Os dados foram lançados e organizados no programa Microsoft Office Excel 2013, posteriormente, foram processados e analisados no programa Epiinfo versão 3.5.2 e Bioestat versão 5.0. A estatística descritiva com utilização do programa Epi Info versão 3.5.2, foi aplicada nas variáveis sociodemográficas e nos fatores de risco, apresentados em gráficos e tabelas, por meio de números absolutos e relativos. Para avaliar as possíveis associações da ideação suicida com as demais variáveis (dificuldade financeira, morte significativa, mudança de cidade, pressão e responsabilidade na vida atual e solidão) foi utilizado o programa BioEstat versão 5.0, por meio da análise de correlação “Coeficiente de Contingência C” (resultado de C=0, determina que não há associação entre as variáveis, quando C≠0, há correlação entre duas variáveis (<0.1 fraca, 0.1 a 0.3 moderada e >0.3 forte), sendo adotado o nível de significância de 0,05 (p<0,05). Todas as providências em relação à dimensão ética do estudo foram tomadas de acordo com a Resolução de ética 466/2012. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Universitário do Araguaia, sob o protocolo número 515/705. Todos os participantes do estudo manifestaram a sua concordância em participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Tabela 1 - Distribuição sociodemográfica dos estudantes de enfermagem da UFMT/CUA. Julho a outubro de 2016. Barra do Garças, MT, Brasil (n=60).

Faixa etária

33 a 37 Total Sexo Total

Feminino Masculino

Renda mensal individual

Total Ocupação remunerada Total Possui Religião Total

Arranjo familiar

Até 1 salário mínimo* 1 a 2 salários mínimos ≥ 3 salários mínimos Não declarou renda

49 06 04 01 60 36

82 10 07 01 100 60

08

14

02

03

14

23

60 Sim 12 Não 48 60 Sim 50 Não 10 60 Pai e/ou mãe 21 Sozinho 18 Com familiares 10 Amigos 05 Cônjuge 03 Em república 03 60

100 20 80 100 83 17 100 35 30 17 08 05 05 100

*Salário mínimo correspondia a R$ 880,00.

Os participantes do estudo apresentaram idade entre 18 e 37 anos, com média de 22 anos. Predominaram estudantes com idade entre 18 a 22 anos (72%), do sexo feminino (80%), solteiros (82%), com renda mensal de até um salário mínimo (60%), sem ocupação remunerada (80%), com algum tipo de religião (83%), residindo com o pai e/ou mãe (35%) e sozinho (30%) (Tabela 1).

18 a 22 23 a 27 28 a 32

Total

Total

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Descrição

Estado civil

Solteiro Casado União estável Separado

N 43 11 04

% 72 18 07

02 60 48 12 60

03 100 80 20 100

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A partir dos resultados, verificou-se que as mulheres constituíram a maior parte da amostra, achado semelhante a um estudo realizado em Portugal, onde 64,7% dos estudantes eram mulheres (Gonçalves, Sequeira, Duarte, & Freitas, 2014) e em estudo brasileiro também realizado em Mato Grosso (53%) (Santos, Marcon, Espinosa, Baptista, & Paulo, 2017). Ambos os estudos, destacam a presença de mulheres em cursos da área da saúde, especialmente na enfermagem. Neste estudo predominaram estudantes adultos jovens. Dados semelhantes foram encontrados em estudo realizado em Minas Gerais (BR) em que 59,1% dos estudantes tinham idade entre 21 a 25 anos (Botti, Monteiro, Benjamim, & Queiroz, 2016). Essa faixa etária pode estar relacionada ao perfil do curso, que comumente exige dedicação integral, sem ocupação com outras atividades (Coelho, Lorenzini, Suda, Rossini, & Reimão, 2010).


A maior parte dos estudantes eram solteiros (82%), o que também foi verificado entre 92% dos estudantes de um estudo nordestino (BR) (Leão, Gomes, Ferreira, Cavalcante, 2018) e entre 72,6% dos estudantes do curso de graduação em Enfermagem do Rio Grande do Sul (BR) (Hirsch et al., 2018). Em relação a isso, alguns autores reportam que o estar solteiro pode favorecer o adoecimento mental, motivado pela ausência de companhia para conversar, desabafar, dividir sofrimentos e compartilhar experiências (Carlotto, Barcinski, Fonseca, 2015). Parte dos participantes possuíam renda mensal de até um salário mínimo (60%), assim como não exerciam atividade remunerada (80%). Corroborando com a presente pesquisa, 60% dos estudantes de cursos da área da saúde de uma instituição pública em Mato Grosso (BR) referiram renda inferior a um salário mínimo (Mesquita, Lemes, Carrijo, Moura, Couto, Rocha, Volpato, 2016) e 80,7% dos universitários do Nordeste (BR) também não possuíam atividade remunerada (Leão, Gomes, Ferreira, Cavalcanti, 2018). Uma associação da ideação suicida com a baixa condição socioeconômica foi reportada em estudo brasileiro, onde universitários com menos condições econômicas apresentaram maior probabilidade de ideação suicida ao compará-los aos universitários com níveis econômicos melhores (Santos et al., 2017). Uma revisão de literatura apontou que as condições econômicas têm sido relacionadas como fator de risco aos transtornos psicológicos, ao ponto que os estudantes que têm problemas financeiros tendem a evidenciar maiores níveis de depressão, ansiedade e ideação suicida (Pereira, Cardoso, 2015). Em contrapartida, a OMS apontou que em países de rendimentos elevados, cerca de 90% das pessoas apresentavam adoecimento mental quando tentaram ou cometeram suicídio (WHO, 2014), aspecto que leva a reflexão da necessidade de prevenção ou tratamento em qualquer nível socioeconômico, para minimizar o adoecimento mental e consequentemente o comportamento suicida. Grande parte dos estudantes do presente estudo autodeclararam professar religião (83%), semelhante aos resultados identificados por Mesquita et al. (2016), onde professar uma religião foi reportado por 78% dos acadêmicos. Santos et al. (2017) ao comparar presença de ideação em acadêmicos com e sem práticas religiosas, identificaram que a presença de ideação suicida foi maior entre os acadêmicos que não possuíam religião.

Autores apontam que a religião é um importante fator que auxilia o estudante a superar dificuldades e estresse, próprios da fase acadêmica (Werner, Siqueira, Lemes, 2015). Nesse estudo, observou-se que a maioria dos universitários reside com os pais (35%) ou sozinhos (30%). Morar com os pais foi semelhante em outras pesquisas nacionais realizadas em Mato Grosso (Mesquita et al., 2016), no Nordeste (Leão et al., 2018) e em um estudo internacional realizada em Portugal (Gonçalves, Sequeira, Duarte, & Freitas, 2014). Diferente resultado foi apontado por Pereira e Cardoso (2015), onde os universitários moravam com colegas de classe (66,4%) ou familiares (23,8%). Fatores de risco para o adoecimento mental entre os estudantes de enfermagem Na tabela 2, verifica-se que 33% dos universitários de enfermagem referiram passar por algum tipo de dificuldade financeira. Após o ingresso na universidade, 27% dos acadêmicos enfrentam processo de luto de alguma pessoa importante (avós, pai e mãe e amigos) e 45% tiveram que mudar de cidade para frequentar o curso. Tabela 2 - Fatores de risco para adoecimento mental entre os estudantes de enfermagem da UFMT/CUA. Julho a outubro de 2016. Barra do Garças, MT, Brasil (n=60). Descrição

Sim

Não

Total

n

%

n

%

n

%

Dificuldade financeira

20

33

40

67

60

100

Morte de alguém importante após entrar na universidade

16

27

44

73

60

100

Mudança de cidade para frequentar a universidade

27

45

33

55

60

100

Como observado, parte dos universitários referiram passar por algum tipo de dificuldade financeira, assim como apresentado no estudo de Santos et al. (2017). Pesquisa que objetivou estimar a prevalência e os fatores associados ao adoecimento mental entre estudantes universitários da área da saúde no Nordeste (BR), revelou maior prevalência do comprometimento da saúde mental entre os que apresentaram renda mensal de um a cinco salários mínimos (Leão et al., 2018). Outro estudo aponta que as condições econômicas têm sido relacionadas como um fator associado aos transtornos psicológicos, entre eles a ideação suicida, desta forma, estudantes que têm problemas financeiros tendem a evidenciar maiores níveis de depressão, ansiedade e ideação suicida (Pereira, Cardoso, 2015). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 11


Essa relação foi confirmada em uma pesquisa brasileira que destacou associação da ideação suicida com a baixa condição socioeconômica, onde, universitários pertencentes a condições econômicas mais baixas apresentaram 1,69 mais chance a ideação suicida ao serem comparados aos demais universitários com níveis econômicos maiores (Santos et al., 2017). Outro fator de risco verificado entre os estudantes foi a mudança de cidade. Neste estudo, parte dos acadêmicos (45%) referiram ter que mudar de cidade para frequentar a universidade, fato que chama a atenção, pois, certamente esses estudantes tiveram que se (re)organizar em outras formas de moradia para conseguir frequentar a universidade. A necessidade dessa mudança também foi verificada em um estudo realizado em Portugal, onde, alguns alunos (119/349) precisaram deslocar-se de suas residências para frequentar a universidade, deixando a casa de seus familiares (Róias, 2016). Em contrapartida, um estudo realizado no Nordeste (BR) revelou que a maioria dos estudantes não mudaram de cidade para cursar a faculdade, pois mantiveram residindo com os pais ou cônjuge (Leão et al., 2018). Para Pereira e Cardoso (2015, p. 24) como o “estudante universitário muitas vezes se afasta do seu local de residência para continuar a sua formação, pode-se notar quebra significativa nos contatos sociais e no número de pessoas disponíveis para obter apoio”, desencadeando um conjunto de problemas mentais. Os universitários que apresentaram ideação suicida declararam sentir maior pressão na vida atual (86%) e maiores responsabilidades na vida hodierna (100%) (tabela 3). Maior pressão na vida do universitário também foi verificada no estudo de Sequeira, Carvalho e Borges (2013), em que 69,7% dos acadêmicos de enfermagem relataram sentirem-se sob grande pressão e estresse. Já um estudo paulista (BR) identificou certa exigência emocional, principalmente nos períodos de estágio entre estudantes de psicologia de uma universidade pública (Andrade, Antunes, Zanoto, Tiraboschi, Viana, Currila, 2016). Para Robazzi (2019), o contexto acadêmico associado à pressão e maiores responsabilidades adquiridas, desperta no estudante uma fase de concorrência, competitividade em busca dos melhores resultados e melhor possibilidade de empregos após a formação. Silva (2013) aponta em seu estudo, que ao ingressar na universidade o indivíduo se depara com várias situações estressantes, tais como: excesso de conteúdo, noites mal dormidas, baixa qualidade de vida, desentendimento entre professor e aluno, entre outras. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 12

Entre os fatores de risco, a solidão esteve presente entre 100% dos universitários que apresentaram ideação suicida. Os resultados apontam evidências para uma forte associação da ideação suicida com a solidão entre os estudantes (C=0,321; p=0,025) (tabela 3). Corroborando com os dados apresentados, o estudo de Sequeira, Carvalho e Borges (2013) revelou que 43,6% dos estudantes de enfermagem referiram solidão no último mês que antecedeu a pesquisa. Tabela 3 - Associação da presença de ideação suicida dos estudantes de enfermagem da UFMT/CUA com fatores de risco. Julho a outubro de 2016. Barra do Garças, MT, Brasil, (n=60). Presença de ideação suicida Variáveis

Sim

Não

N (%)

N (%)

Estatística Teste de Contingência

Valor de p

Maior pressão na vida atual Sim

06 (86%)

49 (92%)

Não

01 (14%)

04 (8%)

0,078

0,903

Maior responsabilidade na vida atual Sim

07 (100%)

50 (94%)

Não

00 (0%)

03 (6%)

Sim

07 (100%)

25 (47%)

Não

00 (0%)

28 (53%)

0,083

0,781

0,321

0,025*

0,369

0,015*

0,363

0,010*

Solidão

Histórico de tentativa de suicídio Sim

03 (50%)

04 (7%)

Não

03 (50%)

50 (93%)

Histórico de depressão na vida Sim

05 (71%)

10 (19%)

Não

02 (29%)

43 (81%)

*p=<0,05

É importante ressaltar que a solidão, pode estar relacionada a uma baixa rede de suporte social, o que contribui para a piora da saúde mental dos estudantes, assim como relatado no estudo de Arria, O’Grady, Caldeira, Vincent, Wilcox, & Wish (2009), onde a carência de suporte social entre os estudantes é um fator de risco à ideação suicida. A carência expressada pelo sentimento de solidão está relacionada com a satisfação com a vida. Maiores níveis de solidão estão diretamente associados a um aumento da ideação suicida (Nascimento, Morales, 2016). O estudo de Krause-Parello (2008) confirma essa necessidade, ao ressaltar que estudantes que precisam ausentar do seio da sua família podem desencadear sentimentos negativos perigosos para o adoecimento mental, por sentirem-se emocionalmente isolados e sozinhos nesta nova fase da vida.


No presente estudo, verificou-se que 12% dos universitários apresentaram histórico de tentativa de suicida e 25% histórico para depressão. Além disso, houve uma forte associação entre o histórico de depressão e de tentativa de suicídio com a presença de ideação suicida entre os estudantes (C=0,363/ p=0,010; C=0,369/ p=0,015) (tabela 3). Semelhantemente ao que aqui foi apresentado, pesquisa apontou que 28,6% dos estudantes mencionaram episódios depressivos na vida (Leão et al., 2018), enquanto que entre estudantes mato-grossense a depressão esteve presente em 41% da amostra (Mesquita et al., 2016). Quanto à ideação suicida, um estudo mineiro (BR) revelou que 9,5% dos alunos reportaram histórico de tentativa de suicídio. Já em um estudo mato-grossense (BR) 9% dos universitários reportaram tentativa de suicídio, porém, na perspectiva dos familiares, apontando ainda, uma acentuada associação com a ideação suicida entre essas tentativas (Santos et al., 2017). Acima do que foi encontrado nesta pesquisa, o estudo de Veloso, Lima, Sales, Monteiro, Gonçalves, Silva Junior (2019) realizado no Piauí (BR) entre universitários da área da saúde, revelou que 21% dos estudantes apresentaram histórico de tentativa de suicídio e que possuir histórico de tentativa de suicídio aumenta em 243 vezes as chances de ideação suicida (IC=51,3081150,874). Santos et al. (2017), revelaram em seu estudo que possuir histórico de suicídio na família ou entre amigos próximos contribui para aumentar a propensão a apresentar ideação suicida entre os universitários. A Organização Mundial da Saúde aponta como fator de risco para o suicídio, a ideação suicida e o histórico de tentativa de suicídio (WHO, 2014) e confirmando essa afirmação, na Colômbia, a probabilidade de ideação suicida foi de 4,4 vezes naqueles que fizeram uma tentativa de suicídio, do que naqueles que não o fizeram (Cuesta, Parra, Orozco, & Pérez, 2015). Como apontado, o adoecimento mental esteve presente em parte dos estudantes que apresentaram ideação suicida, em específico a depressão, dados semelhantes a estudo internacional (Róias, 2016). O estudo de Santos et al. (2017) revelou que a variável sintomas depressivos têm uma acentuada associação com a ideação suicida (p<0,001). Ideação suicida entre acadêmicos de enfermagem No gráfico 1, pode-se verificar que a ideação suicida esteve presente em 12% dos acadêmicos.

Outros estudos apontaram a presença de ideação suicida entre os estudantes semelhante aos dados aqui apresentados, como um estudo realizado em Portugal (72,6%) (Róias, 2016), na Colômbia (16%) (Cuesta et al., 2015), e no Irão (11,7%) (Poorolalal, Panahi, Ghaleiha, Jalili & Darvishi, 2017). Gráfico 1 - Presença de ideação suicida entre os acadêmicos de enfermagem da UFMT/CUA. Julho a outubro de 2016. Barra do Garças, MT, Brasil, (n=60).

Para Botti, Monteiro, Benjamim, & Queiroz (2016) independente da expressão numérica ser relevante ou não para apontar o risco do suicídio na vida do estudante, é preciso atentar a presença de adoecimento mental entre os universitários, uma vez que, é mais comum nessa nova fase de vida se deparar com alguns empasses que entravam sua saúde mental. Para Róias (2016) a presença de ideação suicida entre os estudantes precisa ser levada muito a sério, pois tem sido considerado forte indicador de futuro suicídio, e desta forma, precisa da atenção redobrada dos profissionais de saúde. Portanto, há necessidade de desenvolver de forma conjunta atividades preventivas e de intervenção breve. Assim, a instituição de ensino superior precisa se (re) organizar no sentido de desenvolver programas que visem a promoção da saúde mental e a prevenção do suicídio entre os universitários, de forma que possibilite no âmbito da academia, espaços abertos para debates acerca da temática, buscando reduzir tabus que cercam o tema e disseminar o assunto por todos do espaço acadêmico (Gonçalves, 2014). Pereira (2013) ressalta a importância de preparar os estudantes para enfrentar todas as adversidades da vida acadêmica, em específico os da saúde. Desta forma, o despertar dos alunos quanto aos aspectos preventivos desse adoecimento deve ocorrer o mais breve, de maneira que possam enfrentar com mais entusiasmo o cotidiano acadêmico.

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Esse enfrentamento pode ser baseado em grupos, disponibilizando salas de apoio psicopedagógico e/ou através de programas de saúde e bem estar universitário, reduzindo as vulnerabilidades para o adoecimento e danos mentais (Sequeira, Carvalho, Borge, 2013). CONCLUSÃO Neste estudo, integraram-se predominantemente jovens universitários, do sexo feminino, solteiros, com religião, baixa renda mensal e residindo sozinho ou com os pais. Verificou-se que os estudantes apresentaram fatores de risco que podem contribuir com o adoecimento mental, entre eles, dificuldade financeira e a necessidade de mudar de cidade para cursar a universidade. Parte dos estudantes de enfermagem apresentaram ideação suicida, destacando que as variáveis que apresentaram associação com a ideação suicida foram a solidão, o histórico de tentativa de suicídio e o histórico de depressão. Os resultados apresentaram aspectos situacionais dos estudantes de enfermagem, despertando para a necessidade da criação de ambientes que acolham, acompanhem e rastreiem regularmente a presença de qualquer sofrimento mental, em busca de reduzir os prejuízos reais e potenciais. Acredita-se que a criação de espaços individuais ou coletivos facilitará a realização de ações de prevenção e promoção a saúde desses estudantes, podendo contribuir para melhoria da qualidade de vida. Diante do exposto, acredita-se que todo os cuidados propostos voltados a cuidar da saúde mental dos estudantes possam contribuir para que estes reconheçam que necessitam de ajuda o mais precoce possível e encontrem condições/referências para receberem atendimento e acompanhamento no âmbito universitário. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O presente estudo poderá contribuir com a sensibilização dos reitores, pró-reitores, coordenadores de cursos, professores e servidores de programas de assistência estudantil, responsáveis por elaborar políticas e estratégias que visem a prevenção, diagnóstico e tratamento precoce em busca de acolher os estudantes no que diz respeito ao seu sofrimento mental.

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Além de acolher e atender as necessidades dos universitários, tais ações (prevenção e promoção) contribuirá para a desmistificação dos temas que envolvem a saúde mental, em especial ao suicídio, favorecendo assim um processo de discussão, aproximando os estudantes, na identificação de suas necessidades e como mediá-la a partir do suporte profissional e de serviços especializados presente na comunidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, A. S., Antunes, N. A., Zanoto, P. A., Tiraboschi, G. A., Viana, P. V. B. A., Currila, R. T. (2016). Vivências Acadêmicas e Sofrimento Psíquico de Estudantes de Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(4): 831846. Doi: 10.1590/1982-3703004142015 Arria, A. M., O’Grady, K. E., Caldeira, K. M., Vincent, K. B., Wilcox, H. C., & Wish, E. D. (2009). Suicide ideation among college students: A multivariate analysis. Archives of Suicide Research.,13 (3):230-246. Doi: 10.1080/13811110903044351 Botti, N. C. L., Monteiro, A. M. C., Benjamim, M. L. N., & Queiroz, L. C. (2016). Depressão, uso de drogas, ideação e tentativa de suicídio entre estudantes de enfermagem. Revista de Enfermagem UFPE. 10 (7):2611-2616. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/11321/13010 Carlotto, M. S., Barcinski, M., Fonseca, R. (2015). Transtornos mentais comuns e associação com variáveis sociodemográficas e estressores ocupacionais: uma análise de gênero. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 15(3): 1006-1026. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid =S1808-42812015000300013 Coelho, A. T., Lorenzini, L. M., Suda, E. Y., Rossini, S., & Reimão, R. (2010). Qualidade de sono, depressão e ansiedade em universitários dos últimos semestres de cursos da área da saúde. Neurobiologia, 73:35-39. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Rubens_Reimao/publication/236943130_Sleep_ quality_depression_and_anxiety_in_college_students_of_last_semesters_in_health_areas_courses/ links/0deec51a4a98ad9d76000000.pdf


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Artigo de Investigação

3

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0277

PREVALÊNCIA DE SINTOMAS DEPRESSIVOS ENTRE ADOLESCENTES ESCOLARES EM MUNICÍPIO DO NORTE DE MINAS GERAIS, BRASIL | Maria Brito1; Cássio Lima2; Romerson Messias3; Alexandre Brito4; Lucinéia de Pinho5; Marise Silveira6 |

RESUMO CONTEXTO: Os sintomas depressivos podem se manifestar em diferentes faixas etárias. Todavia, entre os adolescentes estudantes, a frequência é elevada e tal problema pode acarretar em diversas repercussões o adolescente. OBJETIVO: Esta pesquisa teve por objetivo determinar a prevalência de sintomas depressivos entre adolescentes escolares de um município do Norte de Minas Gerais (MG) – Brasil. MÉTODOS: Trata-se de um estudo epidemiológico de base escolar, com delineamento transversal, analítico e de abordagem quantitativa. A população foi composta por adolescentes do ensino médio de escolas públicas estaduais. Foram aplicados questionário estruturado e Inventário de Depressão de Beck. As variáveis foram descritas por meio de frequência absoluta e percentual. Foram aferidas associação entre as variáveis e os sintomas depressivos, utilizando-se o Teste do qui-quadrado (nível de significância p≤0,05). RESULTADOS: Entre os 819 participantes, 166 (20,2%) foram classificados como portadores de sintomas depressivos. Constataram-se associações desses sintomas com sexo feminino (p=0,001), faixa etária de 18 ou mais anos (p=0,023) e estudar em turno noturno (p=0,034). CONCLUSÃO: Houve considerável prevalência de sintomas depressivos entre adolescentes, com situação preocupante entre aqueles do sexo feminino, que estudam à noite e possuem 18 ou mais anos. São imperiosas providências para identificação precoce desses sintomas, estratégias preventivas e de promoção da saúde. PALAVRAS-CHAVE: Adolescente; Saúde do adolescente; Saúde mental; Depressão

RESUMEN

ABSTRACT

“Prevalencia de síntomas depresivos entre adolescentes escolares en el municipio de Norte de Minas Gerais, Brasil”

“Prevalence of depressive symptoms among adolescent students in a municipality in the North of Minas Gerais, Brazil”

CONTEXTO: Los síntomas depresivos pueden manifestarseen diferentes grupos de edad. Sin embargo, entre losestudiantes adolescentes, la frecuencia es alta y esteproblema puede dar lugar a varias repercusiones en el adolescente. OBJETIVO: Esta investigación pretendía determinar laprevalencia de síntomas depresivos entre los estudiantesadolescentes en un municipio del norte de Minas Gerais (MG) - Brasil. METODOLOGÍA: Se trata de un estudio epidemiológico basado enla escuela con un enfoque transversal, analítico ycuantitativo. La población consistió en adolescentes de laescuela secundaria de las escuelas públicas del estado. Seaplicó un cuestionario estructurado y un inventario de ladepresión de Beck. Las variables se describieron por mediode la frecuencia absoluta y el porcentaje. Se verificó unaasociación entre las variables y los síntomas depresivos utilizando la prueba de Chi-cuadrada (nivel de significancia p≤0,05). RESULTADOS: Entre los 819 participantes, 166 (20,2%) fueronclasificados como sufriendo de síntomas depresivos. Seencontraron asociaciones de estos síntomas con hembras (p=0,001), grupo de edad de 18 años o más (p= 0023) y estudio en el turno nocturno (p=0034). CONCLUSIÓN: Hubo una considerable prevalencia desíntomas depresivos entre los adolescentes, con unasituación preocupante entre las hembras, que estudian porla noche y tienen 18 años o más. Las medidas para laidentificación precoz de estos síntomas, las estratégias preventivas y la promoción de la salud son imprescindibles.

BACKGROUND: Depressive symptoms can manifest in differentage groups. However, among adolescent students, thefrequency is high and this problem can result in severalrepercussions on the adolescent. AIM: This study aimed to determine the prevalence of depressive symptoms among school adolescents in a municipality in the North of Minas Gerais (MG) - Brazil. METHODS: This is a school-based epidemiological study, with a cross-sectional, analytical and quantitative approach. The population was composed of high school adolescents from state public schools. Structured questionnaire and Beck Depression Inventory were applied. The variables were described by means of absolute frequency and percentage. The association between variables and depressive symptoms was assessed using the chi-square test (significance level p≤0.05). RESULTS: Among the 819 participants, 166 (20.2%) were classified as suffering from depressive symptoms. Associations of these symptoms were observed in females (p=0.001), age group of 18 years or older (p=0.023) and night shift study (p=0.034). CONCLUSION: There was a considerable prevalence of depressive symptoms among adolescents, with a worrying situation among those women, who study at night and are 18 years or older. Provisions for the early identification of these symptoms, preventive strategies and health promotion are imperative.

DESCRIPTORES: Adolescente; Salud del adolescente; Salud mental; Depresión

KEYWORDS: Adolescent; Adolescent health; Mental health; Depression Submetido em 31-03-2019 Aceite em 10-01-2020

1 Enfermeira; Doutora em Ciências da Saúde; Professora na Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Saúde Mental e Saúde Coletiva, nanda_sanfig@yahoo.com.br 2 Enfermeiro; Doutorando em Ciências da Saúde na Universidade Estadual de Montes Claros, Bairro Santo Expedito, Minas Gerais, Brasil, cassioenf2014@gmail.com 3 Médico; Mestre em Cuidado Primário em Saúde; Professor na Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Saúde Mental e Saúde Coletiva, romersonbrito@yahoo. com.br 4 Matemático; Doutor em Ciências da Saúde; Professor no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil, alexandre.brito@ifnmg.edu.br 5 Nutricionista; Doutora em Ciências da Saúde; Professora na Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Saúde Mental e Saúde Coletiva, lucineiapinho@hotmail.com 6 Matemática; Doutora em Saúde Coletiva; Professora na Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Ciências Exatas, Brasil, ciaestatistica@yahoo.com.br Citação: Brito, M. F., Lima, C., Messias, R., Brito, A., Pinho, L., & Silveira, M. (2020). Prevalência de sintomas depressivos entre adolescentes escolares em município do Norte de Minas Gerais, Brasil. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 17-24. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 17


INTRODUÇÃO Os quadros depressivos atingem mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, contribui para a carga global de doenças e para o desenvolvimento de incapacidade nos indivíduos. A evolução pode tender para uma forma extremamente grave, o que depende da intensidade e duração, apresentando repercussões para o indivíduo, a família, o sistema de saúde e para a sociedade. E, na pior das hipóteses, tais quadros podem levar ao suicídio (World Health Organization, 2017). Os sintomas depressivos podem se manifestar em diferentes faixas etárias. No entanto, entre os adolescentes e jovens estudantes, a frequência é maior do que na população geral. Os adolescentes, por estarem em um período de transição para a fase adulta, se deparam com novas responsabilidades, com a necessidade de tomada de decisões que terão repercussões no futuro e com demandas econômicas, sociais e estudantis. Isso pode produzir reflexos negativos no âmbito psicológico e desencadear os sintomas depressivos (Thiengo, Cavalcante e Lovisi, 2014; Machado et al., 2018; Rosa, Loureiro e Sequeira, 2019). A ocorrência dos referidos sintomas durante a fase escolar produz implicações na forma os indivíduos acometidos pensam, sentem e agem, provocando efeitos negativos marcantes na vida estudantil. Estudos referem que um em cada sete estudantes podem experimentar esse transtorno (Sajjadi et al., 2013; Thiengo et al., 2014). Dessa maneira, os sintomas depressivos nesse público têm sido frequentemente relatados no cenário nacional (Argimon, Terroso, Barbosa e Lopes, 2013; Avanci, Assis e Oliveira, 2008; Salle, Rocha, Rocha, Nunes e Chaves, 2012; Teixeira, Guimarães e Echer, 2017; Thiengo et al., 2014) e internacional (Barroilhet et al., 2012; Sajjadi et al., 2013; Earnshaw et al., 2017; Rosa et al., 2019). Embora o impacto dos eventos estressantes na vida do estudante esteja relacionado a características pessoais, eles têm uma relação causal importante com os sintomas depressivos, afetando a capacidade de aprendizagem, concentração, produtividade, desempenho acadêmico e de relacionamento interpessoal (Thiengo et al., 2014; Machado et al., 2018; Rosa et al., 2019). Além do prejuízo no rendimento acadêmico, os transtornos depressivos podem ter impactos extremamente limitantes, causando impacto negativo na vida dos indivíduos e de suas famílias. Também podem levar o indivíduo a tornar se incapaz de realizar atividades de vida diária e causar sofrimento a pessoas saudáveis próximas à pessoa acometida (Molina et al., 2012; Rosa et al., 2019). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 18

Por se tratar de uma fase crucial ao desenvolvimento humano, permeada por muitas mudanças em curto período de tempo, o desenvolvimento de sintomas depressivos e transtornos mentais em geral pode acarretar diversos danos psicossociais para o adolescente. O problema, inclusive, ultrapassa o âmbito individual: o aumento de sintomas depressivos entre adolescentes pode trazer danos à sociedade como um todo, que terá muitos jovens problemáticos no início de sua entrada no mercado de trabalho, elevados gastos com a saúde destes e com o sistema de previdência (Argimon et al., 2013; Machado et al., 2018). Todavia, verifica-se uma carência na atenção à saúde mental infanto-juvenil, não só em países em desenvolvimento, mas também em países desenvolvidos (Argimon et al., 2013; Thiengo et al., 2014). E o entendimento de que sujeitos, antes da fase adulta, também poderiam ser afetados por sintomas de depressão, constitui-se em um campo recente de estudos, uma vez que até a algumas décadas esse quadro clínico em crianças e adolescentes não era explorado (Melo, Siebra e Moreira, 2017). Como esses sintomas têm ocorrido com frequência entre adolescentes e requerem constante monitoramento, é necessário detectá-los precocemente, bem como realizar investigações para a caracterização desse problema, a fim de ampliar o conhecimento nessa área e potencializar medidas de identificação e prevenção (Melo et al., 2017). Contudo, há poucas pesquisas epidemiológicas de base populacional sobre a temática, sendo que essas pesquisas são relevantes (Argimon et al., 2013; Thiengo et al., 2014) e úteis para a implantação de programas preventivos e de promoção da saúde (Campos, Del Prette e Del Prette, 2014), colaborando com a melhora na atenção à saúde mental desse grupo (Argimon et al., 2013; Thiengo et al., 2014). O presente estudo teve por objetivo determinar a prevalência de sintomas depressivos entre adolescentes escolares de um município do Norte de Minas Gerais (MG) – Brasil. MÉTODOS Trata-se de um estudo epidemiológico de base escolar, com delineamento transversal, analítico e de abordagem quantitativa. A população foi composta por adolescentes do ensino médio de escolas públicas estaduais da cidade de Montes Claros, situada na região Norte do estado de MG – Brasil. Foram adotados como critérios de inclusão: ser estudante regularmente matriculado na instituição e sala


selecionada; assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (no caso de maiores de idade); responsáveis assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o discente assinar o Termo de Assentimento (no caso de estudantes menores de idade). Como critério de exclusão, considerou-se o fato de o escolar não estar presente no dia agendado para a coleta de dados. O tamanho amostral foi definido considerando-se os seguintes parâmetros: prevalência estimada do evento de 50%, nível de confiança de 95% e margem de erro de 5%. Fez-se correção para o efeito do desenho, adotandose deff igual a 2,0, e estabeleceu-se também um acréscimo de 20% para compensar as possíveis não respostas e perdas. Estimou-se a participação de no mínimo 748 adolescentes. A seleção da amostra foi do tipo probabilística por conglomerados em dois estágios. No primeiro estágio, por probabilidade proporcional ao tamanho, foi feito o sorteio das escolas. No segundo estágio foi realizado o sorteio das turmas por amostragem aleatória simples. Os critérios de elegibilidade para a seleção foram ser estudante regularmente matriculado na instituição e estar presente no dia da coleta de dados. A coleta de dados foi realizada no segundo semestre de 2016 e primeiro semestre de 2017, por pesquisadores e acadêmicos previamente capacitados. Foi utilizado um questionário que contemplava as variáveis sociodemográficas (sexo e idade), escolares (série e turno de estudo) e sintomas depressivos. Para avaliação dos sintomas depressivos, foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck (BDI) (Beck, Ward, Mendelson, Mock & Erbaugh, 1961), validado no Brasil (Gorestein e Andrade, 1998). O instrumento é composto por 21 itens em uma escala de likert de cinco pontos, que englobam aspectos comportamentais específicos dos quadros depressivos: tristeza, pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa, sensação de punição, autodepreciação, autoacusações, ideias suicidas, crises de choro, irritabilidade, retração social, indecisão, distorção da imagem corporal, inibição para o trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de peso, preocupação somática e diminuição de libido (Gorestein e Andrade, 1998). A classificação dos sintomas depressivos se dá nos níveis: mínimo (0-13 pontos), leve (14-19 pontos), moderado (20-28 pontos) ou grave (29-63 pontos). Entre adolescentes, foi estabelecido o ponto de corte para identificação de sintomas depressivos clinicamente significativos para aqueles que tiveram pontuação a partir do quadro leve (Barroilhet et al., 2012).

Em estudo sobre o processo de validação entre adolescentes brasileiros, o instrumento apresentou adequadas propriedades psicométricas, com um padrão de resposta semelhante ao obtido com a versão original, bem como ao retratado em outros idiomas. Registrou-se uma alta consistência interna da versão em português, de 0,79 pelo coeficiente alfa de Cronbach (Gorestein e Andrade, 1998). Os dados foram organizados e analisados utilizando-se o software estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows, versão 20.0. As variáveis investigadas foram descritas por meio de sua distribuição de frequência absoluta e percentual. Foram calculadas as prevalências e intervalos de confiança de 95% (IC95%) dos sintomas depressivos por sexo, faixa etária, série e turno de aula entre os estudantes. Aferiuse associação entre essas variáveis e os sintomas depressivos, através do Teste do qui-quadrado, considerando o nível de significância p≤0,05. O estudo seguiu todas as diretrizes éticas de pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto de pesquisa que deu origem ao atual trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), sob Parecer Consubstanciado nº 1.520.173/2016, CAAE: 54414416.3.0000.5146. Os participantes maiores de idade forneceram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Aqueles com menos de 18 anos apresentaram o Termo de Assentimento, bem como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado por seus responsáveis legais.

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RESULTADOS Um total de 819 adolescentes escolares participou desta pesquisa. Como demonstrado na Tabela 1, em sua maioria, os participantes foram do sexo feminino, 442 (54,0%); da faixa etária de 15 a 17 anos, 618 (75,5%); estavam matriculados no 1º ano do ensino médio, 329 (40,2%); e estudavam no turno diurno, 765 (93,4%). Tabela 1 - Características dos adolescentes do ensino médio de escolas públicas estaduais de Montes Claros (n=819), Minas Gerais – Brasil, 2017. Variáveis

Quanto à associação entre as variáveis investigadas e os sintomas depressivos, averiguaram-se associações estatisticamente significantes com o sexo feminino (p=0,001), a faixa etária de 18 ou mais anos (p=0,023) e o fato de estudar no turno noturno (p=0,034) (Tabela 3). Tabela 3 - Médias e IC 95% do escore geral do BDI, prevalência e IC 95% de sintomas depressivos, por sexo, faixa etária, série e turno entre adolescentes do ensino médio de escolas públicas estaduais de Montes Claros (n=819), Minas Gerais – Brasil, 2017. BDI

Média

Prevalência de sintomas depressivos

Escore geral IC 95%

%

IC 95% p-valor

8,03

7,488,59

20,2

18,023,0

Masculino

6,64

5,887,40

34,3

30,039,0

Feminino

9,22

8,4410,0

65,7

61,070,0

15-17 anos 7,74

7,138,35

68,7

65,072,0

≥18 anos

8,94

7,6810,19

31,3

25,038,0

1º ano

7,98

7,108,85

41,0

36,046,0

2º ano

8,75

7,709,80

33,1

27,039,0

3º ano

7,38

6,408,35

25,9

20,031,0

Diurno

7,86

7,308,42

89,8

88,092,0

Noturno

10,56

7,7313,38

10,2

2,018,0

n

%

Masculino

377

46,0

Feminino

442

54,0

Todos

15-17 anos

618

75,5

Variáveis

≥18 anos

201

24,5

Sexo

Sexo

Faixa etária

Série* 1º ano

329

40,2

2º ano

249

30,4

3º ano

240

29,3

Diurno

765

93,4

Noturno

54

6,6

Turno

*Ausência de informação.

O BDI obteve uma adequada consistência interna quando aplicado na amostra do atual trabalho: 0,879 (coeficiente alfa de Cronbach). No que se refere aos sintomas depressivos, predominou a classificação de nível mínimo, entre 653 (79,7%) dos estudantes pesquisados. Porém, 166 (20,2%) adolescentes foram classificados como portadores de sintomas depressivos, considerando o ponto de corte a partir do quadro leve (Tabela 2). Tabela 2 - Classificação dos sintomas depressivos entre adolescentes do ensino médio de escolas públicas estaduais de Montes Claros (n=819), Minas Gerais – Brasil, 2017. Gravidade

n

%

Mínimo

653

79,7

Leve

83

10,1

Moderado

65

7,9

Grave

18

2,2

Total

819

100,0

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 20

0,001

Faixa etária 0,023

Série 0,506

Turno 0,034

DISCUSSÃO O presente estudo evidenciou uma importante prevalência de sintomas depressivos entre adolescentes escolares, similarmente ao constatado em pesquisas realizadas em escolas da cidade de Porto Alegre – estado do Rio Grande do Sul (Argimon et al., 2013; Salle et al., 2012), na região metropolitana dessa cidade (Teixeira et al., 2017) e no Chile (Barroilhet et al., 2012). Uma revisão sistemática evidenciou prevalência superior: 43,55% (Sajjadi et al., 2013).


Informa-se que em tais trabalhos também foi aplicado o BDI. É consensual que os sintomas depressivos possuem caráter multicausal e complexo, isto é, nem sempre existe um fator específico e predeterminante para desencadear, desenvolver ou manter o quadro depressivo, o que exige cautela na análise desse problema. Contudo, sabe-se que a adolescência é uma fase essencial do desenvolvimento humano, marcada por uma série de alterações e desafios em um breve período de tempo (Argimon et al., 2013). As dificuldades vivenciadas pelo adolescente na construção da sua identidade podem ser marcadas por tensões, estresse e angústias, tornando-o propenso a um quadro depressivo (Teixeira et al., 2017). Ainda, as respostas e interpretações pessoais do adolescente aos eventos estressantes e as suas relações no mundo são adquiridas durante todo o seu desenvolvimento. Aqueles que possuem apego inseguro, pouca regulação afetiva e capacidade negativa de resolução de problemas estão vulneráveis à baixa autoestima, à insatisfação com a vida e à sintomatologia depressiva (Avanci et al., 2008). O resultado constatado no atual estudo é preocupante. Na literatura, autores ressaltam que os sintomas depressivos impactam negativamente no desempenho escolar, comprometem as relações sociais, prejudicam a autoestima, causam quadros de instabilidade emocional e irritabilidade (Argimon et al., 2013; Melo et al., 2017; Teixeira et al., 2017). Adicionalmente, os adolescentes acometidos por tais sintomas apresentam diminuição significativa do seu bem-estar físico e psicológico, menos suporte familiar afetivo, mais sentimentos de solidão, angústia, desesperança e tristeza, comprometendo a sua qualidade de vida (Melo et al., 2017; Teixeira et al., 2017). Trata-se de uma condição requer atenção especial nessa etapa do ciclo de vida, pois também está associada à ideação e tentativas de suicídio; ao abuso de substâncias como álcool, tabaco e drogas ilícitas; e à recorrência do quadro ao longo da vida (Argimon et al., 2013; Barroilhet et al., 2012; Melo et al., 2017; Teixeira et al., 2017). Sendo assim, é válido salientar que, a partir de uma depressão leve, o indivíduo possui a probabilidade de 1/12 de desenvolver ideação suicida. Então, trata-se de uma temática delicada que não deve ser negligenciada, tendo em vista que o suicídio constitui uma das principais causas de morte no período da adolescência (Argimon et al., 2013; Melo et al., 2017). Situação ainda mais preocupante foi observada entre os adolescentes do sexo feminino, os quais apresentaram prevalência de sintomas depressivos, estatisticamente significante, superior.

A vulnerabilidade feminina para tal quadro é bem documentada na literatura nacional (Braga e Dell’Aglio, 2013; Campos et al., 2014; Lopes et al., 2016; Salle et al., 2012; Thiengo et al., 2014) e internacional (Barroilhet et al., 2012; Sajjadi et al., 2013). Ressalta-se que, nesse público, o sexo feminino tem mais que o dobro de chance de apresentar esses sintomas do que o sexo masculino (Avanci et al., 2008). A diferença entre a manifestação depressiva de adolescentes do sexo feminino e masculino sinaliza que as meninas tendem a apresentar sintomas mais subjetivos, como desânimo, raiva, solidão e angústia; mais preocupação com a popularidade; menos satisfação com o corpo e baixa autoestima. Por outro lado, os meninos são responsáveis por mais problemas de conduta, abuso de substâncias, sentimentos de repulsa e desconsideração (Braga e Dell’Aglio, 2013; Earnshaw et al., 2017; Melo et al., 2017). Outra hipótese é que a adolescência é marcada por estresses ocasionados pelas mudanças endócrinas e psicológicas, no auge do processo de individuaçãoseparação na formação da identidade. Nesse sentido, a confirmação da maior propensão feminina aos sintomas de depressão nessa fase é determinada por aspectos biopsicossociais e culturais: fatores endócrinos; o timing precoce na puberdade, culminando na prematuridade para a vida social; conflito entre a conectividade familiar e a autonomia individual; alta reatividade ao estresse; reação social ao relato de sintomas dessa natureza; comportamento mais passivo (Avanci et al., 2008). Este estudo demonstrou associação estatisticamente significante entre idade e sintomas de depressão, registrando-se escore mais elevado entre os estudantes da faixa etária igual ou superior a 18 anos. Verificou-se achado semelhante em escolares de uma cidade do interior do estado de São Paulo (Campos et al., 2014) e em Santiago – Chile (Barroilhet et al., 2012). A idade é um fator fundamental no estudo e desenvolvimento de sintomas depressivos (Melo et al., 2017). Os adolescentes mais novos apresentam menor probabilidade de desenvolver esses sintomas, logo, menor idade é um fator de proteção. Por outro lado, geralmente, a prevalência dos referidos sintomas aumenta com a idade, uma variável que pode demarcar mudanças na vida do adolescente. Essas mudanças, por sua vez, podem ser um fator de estresse, pois equivalem à exigência de novas respostas adaptativas e cobranças que se tornam proporcionalmente mais intensas com o aumento da idade (Campos et al., 2014). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 21


O turno de estudo também esteve associado à ocorrência de sintomas depressivos entre os escolares desta pesquisa, com resultados adversos para aqueles que estudam à noite. Possivelmente, os adolescentes que estudam à noite procuram conciliar trabalho e estudos, e até mesmo família. Dessa maneira, podem vivenciar dificuldades, como tempo reduzido com a família, obstáculos contrários ao exercício do estudo extraclasse, problemas de aprendizado, elevada carga horária de trabalho, sono reduzido, cansaço e alto nível de estresse (Moreira, Lima e Silva, 2011). Uma pesquisa realizada no município de Uruguaiana - estado do Rio Grande do Sul mostrou predominância de consumo de bebidas alcoólicas e de pouca atividade física nos grupos de adolescentes que estudam no período noturno (Coutinho, Santos, Folmer e Puntel, 2013). Assim, tais adolescentes se encontram em um contexto que favorece o desenvolvimento de sintomas depressivos. Os resultados encontrados no atual trabalho e na literatura revelam a necessidade de os profissionais de saúde e da educação compreenderem o problema em pauta, e então buscarem a construção de vínculo e apoio, bem como estratégias de educação e promoção da saúde nas escolas (Avanci et al., 2008; Earnshaw et al., 2017; Lopes et al., 2016; Teixeira et al., 2017). Por fim, os achados desta pesquisa devem ser considerados à luz de certas limitações. O método de aferição da variável desfecho foi a informação autorreferida pelo discente. O delineamento transversal avaliou apenas associação entre variáveis, sem possibilidade de definir relação de causalidade. A amostra, embora representativa, foi restrita aos escolares de uma única cidade, o que dificulta a generalização dos resultados. A exclusão de discentes ausentes no dia da coleta pode ter repercussão dos resultados identificados. CONCLUSÃO Neste trabalho, foi observada importante prevalência de sintomas depressivos entre adolescentes, com situação preocupante entre aqueles do sexo feminino, que estudam à noite e possuem 18 ou mais anos. Convém salientar que esta investigação foi conduzida com um seguimento importante da população, cujos aspectos relativos à saúde mental ainda requerem maior atenção do sistema de saúde e constituem uma temática relativamente recente de estudos. O trabalho apresenta caráter pioneiro, uma vez que a região até então não contava com inquéritos amplos de base escolar que contemplassem a saúde mental. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 22

IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Fica evidente a necessidade de medidas para a identificação precoce de sintomas depressivos em adolescentes escolares, estratégias preventivas e de promoção da saúde, por meio de ações intersetoriais envolvendo os setores de saúde e educação com as famílias. Face à realidade constatada nesta investigação, são imperiosas providências que almejem a prevenção de agravos e a promoção da saúde mental dos adolescentes escolares. Os sintomas depressivos e outros transtornos mentais destacam-se como desafios a serem enfrentados pelas escolas e pelos profissionais do sistema de saúde. Assim, a identificação de sintomas e de seus principais fatores de risco contribui na proposição de medidas de prevenção e controle mais específicos ao longo de todo o processo de desenvolvimento da adolescência (Earnshaw et al., 2017; Lopes et al., 2016). No Brasil e no cenário desta pesquisa, isso pode ser desempenhado no âmbito do Programa Saúde na Escola (PSE), que desenvolve ações de promoção e cuidado à saúde de escolares da rede pública de ensino. Convém salientar que, embora a adolescência seja um período crítico para o início da depressão, os adolescentes constituem um dos grupos populacionais que menos faz uso dos serviços de saúde, mesmo em situações em que necessitam de assistência especializada. Sendo assim, o enfermeiro que atua na Atenção Primária à Saúde e no PSE constitui um profissional essencial: pode ser um articulador na abordagem inicial do adolescente e na interligação de uma rede de cuidados. Tal profissional representa um recurso de ajuda próximo e acessível, de¬sempenhando papel fundamental na referenciação das situações para níveis mais especializados de cuida¬dos. Logo, torna-se crucial aprimorar os recursos para procura e acesso à assistência profissional, através da promoção do conhecimento sobre o assunto nas escolas e da im¬plementação de programas de cuidados iniciais em saúde mental, que empoderem os adolescentes para o cuidado de sua saúde, tendo, por sua vez, o enfermeiro especialista em saúde mental um papel determi¬nante nesse processo (Rosa et al., 2019). Financiamento Processo APQ-02197-17 Edital 01/2017 - Demanda Universal, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Argimon, I. I. L., Terroso, L. B., Barbosa, A. S., e Lopes, R. M. F. (2013). Intensidade de sintomas depressivos em adolescentes através da escala de depressão de Beck (BDI-II). Boletim da Academia Paulista de Psicologia, 33(85), 354-372. Disponível em: http://pepsic. bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415711X2013000200010 Avanci, J. Q., Assis, S. G., e Oliveira, R. V. C. (2008). Sintomas depressivos na adolescência: estudo sobre fatores psicossociais em amostra de escolares de um município do Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 24, 2334-2346. Doi: 10.1590/S0102-311X2008001000014

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Barroilhet, S., Fritsch, R., Guajardo, V., Martínez, V., Vöhringer, P., Araya, R., & Rojas, G. (2012). Ideas autolíticas, violencia autoinfligida, y síntomas depresivos en escolares chilenos. Revista Médica do Chile, 140, 873-881. Doi: 10.4067/S0034-98872012000700007

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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 24


Artigo de Investigação

4

SATISFAÇÃO TRAUMÁTICO HOSPITALAR

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0278

POR COMPAIXÃO, SECUNDÁRIO EM

BURNOUT E ENFERMEIROS

ESTRESSE DA ÁREA

| Edenise Batalha1; Marta Melleiro2; Cristina Queirós3; Elisabete Borges4 |

RESUMO CONTEXTO: Os enfermeiros estão expostos a fatores que podem afetar a sua saúde mental, pois lidam com a dor física e emocional, com situações graves e complexas e, muitas vezes, com situações precárias no trabalho. São, portanto, suscetíveis a Satisfação por Compaixão (SC), Burnout (BO) e Estresse Traumático Secundário (ETS), os quais influenciam a sua saúde individual e podem afetar negativamente a assistência prestada. Assim, estudar esta temática torna-se relevante no contexto hospitalar. OBJETIVO: Identificar o nível de SC, BO e ETS em enfermeiros portugueses do âmbito hospitalar e analisar a sua variação em função das características sociodemográficas e profissionais. MÉTODOS: Pesquisa quantitativa com 201 enfermeiros que exerciam em contexto hospitalar, selecionados através da amostragem por redes, sendo 82% mulheres, 55% com idade ≤ 36 anos, e 53% com experiência profissional ≤13 anos. Aplicou-se a Professional Quality Scale 5 e um questionário sociodemográfico, tendo sido seguidos os requisitos éticos para pesquisas com seres humanos. RESULTADOS: Os níveis foram maioritariamente médios para SC (46,8%), BO (51,2%) e ETS (56,2%). Encontrou-se associação negativa entre a SC e BO e positiva entre o BO e o ETS. Apenas foi encontrado resultado significativo do ETS em função da carga horária semanal, com os enfermeiros que trabalhavam menos horas a apresentarem média superior. CONCLUSÕES: Os resultados elucidam a necessidade de estratégias que fomentem ambientes de trabalho promotores de saúde mental nos enfermeiros, especialmente relacionadas com a gestão do estresse, visando a diminuição do BO e ETS e a elevação da SC. PALAVRAS-CHAVE: Enfermeiros; Transtornos de estresse traumático; Esgotamento profissional; Saúde mental

RESUMEN

ABSTRACT

“Satisfacción por compasión, burnout y stress traumático secundario en enfermeros del área hospitalaria“

“Compassion satisfaction, burnout and secondary traumatic stress among hospital nurses”

CONTEXTO: Los enfermeros están expuestos a factores que pueden afectar su salud mental, porque tratan con el dolor físico y emocional, con situaciones graves y complejas y, muchas veces, con situaciones precarias en el trabajo. Por lo tanto, son susceptibles a la satisfacción por compasión (SC), Burnout (BO) y estrés traumático secundario (ETS), que influencia su salud individual y pueden afectar negativamente la asistencia prestada. Así, estudiar esta temática se vuelve relevante en el contexto hospitalario. OBJETIVO: Identificar el nivel de SC, BO y ETS en los enfermeros portugueses desde el ámbito hospitalario y analizar su variación de acuerdo con las características sociodemográficas y profesionales. METODOLOGÍA: Investigación cuantitativa con 201 enfermeros que ejercieron en el contexto hospitalario, seleccionado a través de muestreo por redes, siendo 82% mujeres, 55% con edad ≤ 36 años, y 53% con experiencia profesional ≤ 13 años. Se aplicó la Professional Quality Scale 5 y un cuestionario sociodemográfico, y se siguieron los requisitos éticos para la investigación con los seres humanos. RESULTADOS: Los niveles fueron mayoritariamente medios para SC (46,8%), BO (51,2%) y ETS (56,2%). Se encontró una asociación negativa entre SC y BO y positiva entre BO y ETS. Sólo se encontró un resultado significativo del ETS en función de la carga horaria semanal, con los enfermeros que trabajaban menos horas a presentar media superior. CONCLUSIONES: Los resultados elucidan la necesidad de estrategias que fomenten ambientes de trabajo promotores de la salud mental en los enfermeros, especialmente relacionadas con la gestión del estrés, visando la disminución del BO y el ETS y la elevación de la SC.

BACKGROUND: The nurses are exposed to factors that can affect their mental health because they deal with the physical and emotional pain, with serious and complex situations and often with tense situations at work. Thus, nurses are susceptible to Compassion Satisfaction (CS), Burnout (BO) and Secondary Traumatic Stress (STS), which influence their particular health and can negatively affect the care performed. Therefore, investigating this issue becomes relevant in the hospitals. AIM: Identify the level of CS, BO and STS in the hospital nurses and analyse their variation as a function of socio-demographic and professional characteristics. METHODS: Quantitative research with 201 hospital nurses, selected by sampling for networks, being 82% women, 55% aged ≤ 36 years, and 53% ≤ 13 years professional experience. The Professional Quality Scale 5 and a demographic questionnaire were used. The ethical requirements for research with human beings were followed. RESULTS: The mean level was the most frequent for all nurses (CS: 46.8%; BO: 51.2%; STS: 56.2%). Significant negative association was found between CS and BO, and significant positive association was observed between BO and STS. There was significant result only for STS as function of the weekly workload, of which nurses who worked fewer hours’ exhibit higher level. CONCLUSIONS: In sum, results reveal the need of strategies that allow work environments with better mental health for nurses, mainly regarded to stress management, aiming reduction of BO and STS, and increase of CS.

DESCRIPTORES: Enfermeros; Trastornos de estrés traumático; Agotamiento profesional; Salud mental

KEYWORDS: Nurses; Stress disorders, traumatic; Burnout; Mental health Submetido em 30-09-2019 Aceite em 11-02-2020

1 Doutoranda em Enfermagem na Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem; Professora Assistente na Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências da Vida, Salvador, Bahia, Brasil, emssilva@uneb.br 2 Doutora em Enfermagem; Professora Sênior na Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, São Paulo, Brasil, melleiro@usp.br 3 Doutora em Psicologia; Professora Associada na Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Porto, Portugal, cqueiros@fpce.up.pt 4 Doutora em Enfermagem; Professora Adjunta na Escola Superior de Enfermagem do Porto, Porto, Portugal, elisabete@esenf.pt Citação: Batalha, E., Melleiro, M., Queirós, C., & Borges, E. (2020). Satisfação por compaixão, burnout e estresse traumático secundário em enfermeiros da área hospitalar. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 25-33. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 25


INTRODUÇÃO Os enfermeiros representam uma grande parcela dos trabalhadores de saúde e desempenham papel essencial nos cuidados prestados à população. Não obstante, esses trabalhadores estão expostos a diversos fatores que podem afetar a sua saúde mental, pois lidam cotidianamente com a dor física e emocional, com situações graves e complexas e, muitas vezes, com a precariedade no trabalho, estando expostos a sofrimentos, medos, conflitos, disputa de poder, ansiedade e estresse (Baldonedo, Mosteiro, Queirós, Borges & Abreu, 2018; Martins, Robazzi & Bobroffi, 2010). Relativamente à saúde mental de enfermeiros portugueses, Seabra, Lopes, Calado e Capelas (2019) conduziram um estudo com 1264 enfermeiros, tendo verificado que quase dois terços relataram uma perceção negativa da sua própria saúde mental. Dentro deste grupo, mais de um quinto indicou sintomas graves de depressão, quase três quartos referiam sintomas somáticos e ansiedade, e quase todos referiram disfunção social, o que comprova a magnitude de alterações de ordem mental nesses trabalhadores. Os autores relatam que ainda há poucos estudos sobre as consequências que as demandas profissionais associadas às características de seu trabalho podem ter sobre suas vidas e saúde mental. A influência do trabalho na saúde mental dos trabalhadores é abordada por Areosa (2018) sob a ótica da psicodinâmica do trabalho, revelando que este se configura como algo fundamental para construção de identidades, seja individual ou social. Contudo, é passivo de conflitos e resistências, dependente de emoções e afetos, bem como repleto de formas de poder e emancipação, sendo em si ambivalente e merecedor de reflexão ética. Trata-se, portanto, de algo indiscutivelmente relevante na atualidade frente às implicações que o trabalho pode provocar nos profissionais (Baldonedo, Mosteiro, Queirós, Borges e Abreu, 2018; Queirós, Borges, Teixeira e Maio, 2018). Outrossim, a saúde mental associada ao trabalho depende de diversos fatores, conformando-se como uma relação subjetiva e complexa, pois uma determinada situação no trabalho pode ser entendida ou sentida como negativa por um indivíduo e pode ser positiva para outro (Areosa, 2018). Dentro dessa complexa relação, o trabalho pode ser um gerador ou potencializador de prazer e felicidade na vida das pessoas, mas também pode ser fonte de sofrimento físico e emocional. Os enfermeiros, nomeadamente os da área hospitalar, vivenciam com frequência situações de perda e luto Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 26

envolvidas no seu processo de trabalho, pois ao cuidar do outro, os profissionais de enfermagem estabelecem relações afetivas, sendo que quanto mais próxima essa relação, maior é o grau de sofrimento. Entretanto, mesmo em meio ao sofrimento, o reconhecimento do seu trabalho por parte da família e do doente permeia sentimento de orgulho e de sensação de dever cumprido (Silva, Lage e Macedo, 2018). Esta dualidade entre o prazer e o sofrimento no cuidado ao outro é abordada por Stamm (2010), através do que essa autora nomeia de Qualidade de Vida Profissional (QVP), que pode ser entendida como a qualidade que o profissional sente em relação ao seu trabalho. A QVP neste modelo incorpora dois aspetos, o positivo: Satisfação por compaixão (SC) e o negativo: Fadiga por compaixão (FC). A SC refere-se ao prazer que o trabalhador sente ao realizar bem o seu trabalho, estando relacionada a poder ajudar os outros, ao sentir-se positivamente em relação aos seus colegas e por sua capacidade de contribuir para o ambiente de trabalho ou até mesmo para o bem maior da sociedade. Em contrapartida, a FC divide-se em duas dimensões: a primeira diz respeito a sentimentos, como exaustão, frustração, raiva e depressão relacionadas ao Burnout (BO) e a segunda relaciona-se a um sentimento negativo, motivado pelo medo e pelo trauma relacionado ao trabalho, nomeadamente o Estresse Traumático Secundário (ETS). O BO é uma síndrome psicológica que implica uma reposta prolongada aos estressores interpessoais crônicos no trabalho e é composta por três dimensões: exaustão emocional; despersonalização e realização pessoal. A dimensão da exaustão emocional está relacionada ao sentir-se sobrecarregado e sem recursos emocionais e físicos. Por outro lado, a despersonalização é uma resposta negativa que torna o trabalhador insensível e com uma excessiva apatia a diversos aspetos do trabalho. Por fim, a dimensão da realização pessoal refere-se a sentimentos de incompetência e carência de realizações e produtividade no trabalho (Maslach & Leiter, 2017). Recentemente (em Maio de 2019) a Organização Mundial de Saúde reconheceu o BO como doença relacionada com o trabalho, prevendo-se que em 2022 já esteja incluída na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11) (World Health Organization, 2019). Ressalta-se, ainda, que o ETS está relacionado à exposição secundária aos eventos estressantes extremos e traumáticos no trabalho, sendo caracterizado pelo medo e pelo trauma relacionado à assistência ao doente.


Os efeitos negativos do ETS podem incluir distúrbios no padrão do sono pelo sentimento de medo, pensamentos intrusivos e comportamento de evitação de lembranças das experiências traumáticas do paciente (Stamm, 2010). Diante de todas essas características da SC, do BO e do ETS e das implicações para o trabalhador e para a assistência prestada, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos visando identificar os níveis de SC, BO e ETS e explorar a relação com variáveis pessoais e profissionais (Carvalho, 2011; Cetrano, Tedeschi, Rabbi, Gosetti, Lora, Lamonaca, Manthorpe & Amaddeo, 2017; Cruz, 2014; Hunsaker, Chen, Maughan & Heaston, 2015; Salimi, Pakpour, Rahmani, Wilson & Feizollahzadeh, 2019). Pela definição de SC, BO e ETS estas dimensões podem ser consideradas como aspetos do domínio da saúde mental, especialmente no que se refere à promoção de ambientes de trabalho saudáveis através da prevenção do BO e do ETS. Nesse enlace, o Programa Nacional para Saúde Mental de Portugal propõe como meta mais realização de promoção da saúde mental e em articulação com as linhas de Ação Estratégica para a Saúde Mental e o Bem-Estar na Europa enfatiza que são importantes os programas de prevenção e intervenção precoce, através da integração da saúde mental em todas as políticas com ênfase na cooperação entre diversos setores (Portugal, 2017). Pelo exposto, investigar esta temática torna-se relevante, no sentido de identificar os níveis de SC, BO e ETS, bem como para melhorar a QVP dos trabalhadores, prevenindo o adoecimento, especialmente psíquico dos enfermeiros. Assim, este estudo teve como objetivos identificar o nível de Satisfação por compaixão, BO, e Estresse Traumático Secundário em enfermeiros portugueses do âmbito hospitalar, e analisar a sua variação em função de características sociodemográficas e profissionais. MÉTODOS Tipo de estudo e participantes Pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva, analítica, de corte transversal, realizada no período de janeiro a fevereiro de 2019. A população do estudo foram enfermeiros da área hospitalar a exercer em Portugal. A amostragem empregada foi não-probabilística, através da amostragem por redes ou snowball.

Os critérios de inclusão foram ser enfermeiro e atuar em hospitais da região norte de Portugal. A amostra foi constituída por 201 enfermeiros, a maioria do Distrito do Porto, mulheres, jovens, com parceiro, licenciadas, provenientes de centro hospitalar universitário com vínculo definitivo (Tabela 1). Tabela 1 - Características sociodemográficas e profissionais dos participantes do estudo. VARIÁVEIS Faixa etária

Sexo

Estado Civil Habilitações Acadêmicas

Local de trabalho/Tipo hospitalar

Local de trabalho/Tipo de gestão

n

%

≤ 36 anos

110

54,7

≥ 37 anos

88

43,8

Não responde

3

1,5

Feminino

164

81.8

Masculino

36

18.2

Não responde

1

0,5

Com parceiro

116

57,7

Sem Parceiro

85

42,3

Licenciatura

137

68,2

Especialização

36

17,9

Mestrado

25

12,4

Doutoramento

03

1,5

Centro Hospitalar universitário

111

55,2

Centro Hospitalar

54

26,9

Hospital

14

7,0

Instituto

7

3,5

Outro

2

1,0

Pública

161

80,0

Parceria Público-Privado

18

9,0

Privado

7

3,5

Misericórdia

1

0,5

Não responde

14

7,0

Definitivo

182

90,5

Precário

17

8,5

Não responde

2

1,0

Rotativo

170

84,6

Fixo

31

15,4

Experiência em anos

≤13 anos

107

53,2

≥14 anos

94

46,8

Antiguidade profissional

≤ 9 anos

108

53,7

≥10 anos

92

45,8

Não responde

1

0,5

≤35 horas

138

68,7

≥36 horas

56

27,9

Não responde

7

3,5

Tipo de Contrato Turno

Horas de trabalho semanal

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 27


Instrumentos de colheita de dados Para a coleta dos dados sociodemográficos e profissionais foi construído um breve questionário através do qual se recolheram os dados apresentados na Tabela 1, enquanto para a coleta de dados relacionada com a QVP foi utilizada a Professional Quality Scale 5 (ProQOL 5, de Stamm, 2010), traduzida e adaptada para o contexto português por Carvalho (2011). A ProQOL 5 é composta por 30 itens que se organizam em três subescalas: SC; BO; e ETS, cada uma com dez itens, os quais permitem avaliar a perceção do participante através de uma escala de Likert de 5 pontos, variando de 1 (Nunca) a 5 (Muito frequentemente). A fidelidade da ProQOL 5 para este estudo foi testada a partir do coeficiente do Alfa de Cronbach, alcançando valores de 0,87 para a SC, 0,73 para o BO e 0,84 para o ETS, os quais indicam boa consistência interna e confiabilidade da escala para amostra estudada. Salientase que estes valores são próximos dos verificados na versão original (Stamm, 2010) e na versão portuguesa do ProQOL 5 (Carvalho, 2011). Procedimentos A pesquisa foi submetida a Comissão de Ética da Escola Superior de Enfermagem do Porto, sendo aprovada conforme Anexo 4 à ata n.º 26/2018. Seguiram-se todos os critérios éticos para pesquisas com seres humanos, sendo solicitado consentimento informado aos participantes e garantido o anonimato e confidencialidade das informações. Após a aprovação do estudo, as pesquisadoras fizeram contato com enfermeiros que atuam em contexto hospitalar, convidando-os a participar da pesquisa e solicitando que indicassem outros colegas, conforme os critérios de inclusão. Os instrumentos de coleta de dados foram disponibilizados aos participantes de duas formas, impressos em papel ou online através de um formulário criado no Google Forms. Essas duas formas de recolha de dados foram escolhidas pelas pesquisadoras para dar agilidade e maior poder de alcance a pesquisa. Ao final da recolha dos dados, verificou-se que 164 enfermeiros responderam via papel e todos os instrumentos foram considerados elegíveis para seguir para a análise. Relativamente à recolha online, constou de 45 enfermeiros, entre os quais oito foram excluídos pois tratavam-se de trabalhadores que não exerciam em contexto hospitalar, seguindo, portanto, 37 como elegíveis para análise, perfazendo 201 participantes. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 28

O tratamento dos dados foi efetuado através do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 24. Para análise descritiva utilizou-se frequência absolutas e relativas, bem como medidas de tendência central, nomeadamente média (M) e desvio padrão (DP). Foram calculados também os percentis das três subescalas. Os Tscores da SC, BO e ETS e os padrões de cortes para classificação dos níveis em baixo, médio e alto das três subescalas da QVP foram analisados de acordo com a autora da versão original recorrendo a transformação dos valores primários em Zscores seguindo a sua conversão em Tscores (Stamm, 2010). Desse modo, a reconversão dos valores primários, forçado para obter uma M de 50 e um DP de 10, possibilitou a comparação entre os valores das três subescalas e com outras investigações que utilizaram o mesmo instrumento. Efetuou-se ainda uma análise de correlação entre as subescalas da QVP, através do R de Pearson. Relativamente a comparação de médias da SC, BO e ETS em função de variáveis sociodemográficas e profissionais utilizou-se o teste paramétrico t de Student para amostras independentes e o teste não paramétrico de Mann-Whitney de acordo com os seus critérios de aplicabilidade. Adotou-se o limite de significância de p<0,05 (grau de confiança de 95%). RESULTADOS A análise da SC, do BO e ETS (Tabela 2) quanto a média, desvio padrão, valor máximo, valor mínimo e percentis revelou que a SC apresenta a média mais elevada em oposição ao ETS com a média mais baixa. Tabela 2 - Distribuição dos valores da média (M), desvio padrão (DP), máximo, mínimo, e percentis das subescalas SC, BO e ETS ProQOL5

M

DP

Mínimo

Máximo

Percentil Percen25 til 50

Percentil 75

SC

38,4

5,3

22,0

49,0

43,6

51,1

56,7

BO

25,4

5,0

13,0

41,0

43,1

49,1

57,2

ETS

24,1

5,5

13,0

40,0

42,5

48,0

56,8

Considerando os níveis de cada dimensão (Gráfico 1) através das categorias Baixo, Médio e Alto para as três subescalas SC, BO e ETS, verifica-se que a maioria da amostra se situou no nível médio, sendo 46,8% para SC, 51,2% para BO e 56,2% para ETS.


Gráfico 1 - Frequências absolutas e relativas dos níveis Baixo, Médio e Alto das subescalas SC, BO e ETS

A análise através do R de Pearson (Tabela 3) revelou uma correlação significativa e negativa entre SC e o BO, e significativa e positiva entre o BO e o ETS. Não foi evidenciada correlação significativa entre ETS e SC. Tabela 3 - Matriz de correlação de Pearson entre as subescalas da SC, BO e ETS ProQOL 5

SC

BO

-,681**

ETS

-,137

BO ,480**

** p<0,01

Realizaram-se análises comparativas para a SC, BO, ETS em função de variáveis sociodemográficas e profissionais, tendo apenas sido encontrada diferença estatisticamente significativa para o ETS em função das horas de trabalho semanal (Tabela 4). Nota-se que os enfermeiros que trabalhavam ≤ 35 horas semanais apresentaram médias superiores de ETS. Tabela 4 - Comparação das médias do ETS em função das horas de trabalho semanal ProQOL5 ETS

Horas de trabalho semanal

N

M

DP

t (gl) p

≤ 35 h /semanais

138

50,9

10,2

≥ 36 h /semanais

56

47,4

9,6

2,182 (192) 0,030

DISCUSSÃO Na QVP a SC apresenta-se como fundamental, pois reflete o quanto o trabalhador está satisfeito em realizar o seu trabalho. A média da SC evidenciada neste estudo esteve ligeiramente abaixo da encontrada no estudo com enfermeiros do serviço de emergência dos Estados Unidos (M= 39,8) (Hunsaker, Chen, Maughan & Heaston, 2015) e dos achados de Zhang, Han, Qin, Yin, Zhang, Kong e Wang. L Zhang (2018) em sua meta-análise sobre SC na enfermagem, que encontraram uma M= 45,1 com variações de 38,0 a 52,1.

Contudo, situou-se acima da média encontrada entre enfermeiros de cuidados intensivos no Irão (M= 36,3) (Salimi, Pakpour, Rahmani, Wilson & Feizollahzadeh, 2019). Quanto aos níveis de SC, os enfermeiros apresentaram predominantemente SC média, o que também foi evidenciado no estudo de Cruz (2014) com enfermeiros portugueses, com 45,5% da amostra neste nível, e por Carvalho (2011) na sua pesquisa com profissionais de saúde do contexto português com 54,8%. A percentagem do nível baixo de SC foi menor que a encontrada por Cruz (2014) que evidenciou 29,5% dos enfermeiros no nível baixo de SC, porém mais alta que a evidenciada por Carvalho (2011) que obteve 17,8%. Tais achados sugerem que o fenômeno da SC é experienciado pelos enfermeiros e demais trabalhadores de saúde de maneira diferente, possivelmente sendo influenciada por diversas variáveis, entre as quais o local e as condições de trabalho. Nesse enlace, isto ratifica o que Stamm (2010) exemplifica no modelo teórico da QVP, que fatores como ambiente do trabalho, aspetos dos doentes e características próprias do trabalhador irão influenciar diretamente na SC e na FC. Além disso, os estudos citados decorreram em anos diferentes, o que subentende fases diferentes da relação entre trabalhador e trabalho, bem como das próprias características ou condições de trabalho. Contudo, torna-se difícil comparar estudos, sugerindo-se estudos multicêntricos que recolham os dados no mesmo momento. Diante da importância da SC (Sacco & Copel, 2018) enfatizam que aumentar os sentimentos de SC dos enfermeiros promove o bem-estar individual do enfermeiro, bem como proporciona benefício positivo para as pessoas que utilizam serviços no sistema de saúde. A elevação do nível da SC é algo complexo, mas necessário através do fortalecimento dos antecedentes da SC já identificados por Sacco & Copel (2018), como por exemplo: relação empática estabelecida com o doente ou família; apoio dos colegas; desenvolvimento da resiliência e de mecanismos de enfrentamento; prática do autocuidado; e equilíbrio entre trabalho e vida com apoio social conjugado com avanços organizacionais, o que pode ser um caminho para a sua estimulação dentro da equipe. Além disso, deve-se ter em consideração o impacto positivo que os resultados advindos da SC têm de forma sistêmica no sistema de saúde e na sociedade, além de preservar a saúde do trabalhador. No que se refere ao BO, a média apresentada pelos enfermeiros foi ligeiramente acima da encontrada por Cruz (2014) (M= 24,5) e por Hunsarker et al. (2015) (M=23,7) e mais baixa do que a evidenciada por Salami et al. (2019) (M=26,9). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 29


Quanto ao seu nível, classificado mediante os percentis, a maioria situou-se no nível médio, seguido pelo alto, corroborando com os resultados de Cruz (2014). Estando a maioria da amostra no nível médio a alto de BO, pode-se inferir que há uma vulnerabilidade psicológica com impacto na saúde dos enfermeiros e com efeitos nas organizações de saúde e nos cuidados prestados. Cetrano et al. (2017) evidenciaram que o BO estava associado a mais problemas ergonômicos, baixo comprometimento organizacional, autonomia, confiança e participação, além de maior impacto do trabalho na vida pessoal dos trabalhadores. Além disso, Mercês, Gomes, Else, Santana, Silva, Machado, Couto, França, Figueiredo e D’Oliveira Júnior (2018) identificaram que maiores prevalências do BO estavam associadas a mais cefaléia e tontura. Ainda, estudos com enfermeiros revelaram a relação do BO com sintomas depressivos. Johnson, Louch, Dunning, Johnson, Grange, Reynolds, Hall e O’Hara (2017) verificaram que o BO mediava sintomas depressivos e a perceção de segurança dos doentes, tendo o melhor ajuste estatístico sido encontrado quando os sintomas depressivos foram considerados como um resultado do BO, em vez de um preditor de BO. Esta relação do BO com a depressão também foi corroborada por DuanPortera, Hatchc, Pendergastc, Freudef, Rosef, Burrf, Müller, Martus, Pohrt e Potte (2018), os quais encontraram que o maior desengajamento (avaliado neste estudo como forma análoga ao cinismo ou despersonalização) contribuiu para sintomas depressivos mais graves ao longo do tempo, enquanto a exaustão estava significativamente associada com mais sintomas depressivos. Face aos diversos impactos negativos do BO, especialmente na saúde mental dos trabalhadores, intervenções devem implementadas, conforme Maslach & Leiter (2017) e Queirós et al. (2018), devendo essas medidas serem realizadas a nível organizacional e individual, visando a prevenção e a minimização do BO. De forma individual é essencial o desenvolvimento da autoavaliação e autoconhecimento, visto que são primordiais para o reconhecimento de sinais e sintomas do BO. Outras medidas incluem a gestão adequada do estresse, a adoção de comportamentos saudáveis, a idealização de expectativas realistas no local de trabalho, a partilha com os colegas, e em casos mais graves, a psicoterapia pode até ser recomendada (Queirós et al., 2018). As propostas organizacionais concentram-se no local de trabalho e tentam alterar as condições que estão realmente causando o estresse nos trabalhadores. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 30

Neste modelo, pode-se incluir o redesenho das tarefas, a melhoria no reconhecimento das equipes e dos profissionais, e o desenvolvimento de políticas mais justas e equitativas (Maslach & Leiter, 2017). Silva, Borges, Abreu, Queirós, Baptista e Felli (2016) desenvolveram um estudo com enfermeiros da região metropolitana do Porto-Portugal acerca da relação do BO com a resiliência, evidenciando que a resiliência se correlacionou negativamente com a exaustão emocional e positivamente com a realização pessoal. Inferiram, então, que trabalhadores com elevado grau de resiliência tinham a tendência de não apresentar BO e enfatizaram que intervenções sobre o ambiente de trabalho devem ser implementadas, a fim de promover comportamento resiliente nos trabalhadores. O BO apresentou correlação negativa significativa com a SC, sugerindo que medidas que visem o aumento da SC poderá diminuir o BO nos enfermeiros, e ainda que o aumento do nível do BO pode levar a diminuição da SC. De facto, o trabalhador em BO apresenta sentimentos de desesperança e dificuldades em lidar com o trabalho ou em fazer o trabalho de forma eficaz (Satmm, 2010). Além disso, no BO pode haver a diminuição da empatia para com o outro, algo essencial para a manutenção da compaixão (Maslach & Leiter, 2017) e fundamental na profissão de enfermagem. Tal achado ratifica o encontrado no modelo conceitual de Sacco & Copel (2018) que explica o impacto positivo da SC para o trabalhador e para o trabalho desenvolvido, nomeadamente o entusiasmo e significado ao trabalho, o engajamento, a proteção contra a FC, a manutenção da empatia, e o ambiente de trabalho positivo. Portanto, e de acordo com esta correlação, BO e SC apresentam-se como opostos dentro do contexto do trabalho. Relativamente ao ETS, a amostra apresentou uma média superior a pesquisa de Cetrano et al. (2017) (M=14,4) e Hunsarker et al. (2015) (M=21,6), e foi bastante próxima de Cruz (2014) que também estudou enfermeiros portugueses (M= 24,9) e inferior que a encontrada por Salimi et al. (2019) (M=26,9). Quanto ao nível de ETS, os enfermeiros encontram-se em sua maioria no nível médio, seguido do alto, o que diferiu de Cruz (2014) que teve 38,5% situados no nível médio e 32,4% com nível baixo de ETS. A expressiva percentagem da amostra em ETS médio e alto constitui um sinalizador de que estes trabalhadores possam estar a sofrer dos impactos físicos e emocionais do ETS.


Além dos sintomas relacionados com o medo, dificuldades para dormir, evitação de circunstâncias que relembrem os traumas advindo do trabalho anteriormente apresentados por Stamm (2010), Cetrano et al. (2017) identificaram que ETS estava relacionado com problemas ergonômicos, perceção da qualidade das reuniões no trabalho e com o impacto da vida no trabalho e do trabalho na vida pessoal. O ETS apresentou correlação positiva com o BO. Enquanto o BO se baseia na exposição prolongada a estressores crônicos no trabalho, o ETS relaciona-se com eventos traumáticos no trabalho. Além disso, o BO tem um desenvolvimento mais prolongado advindo fundamentalmente de uma exaustão emocional e física, enquanto o ETS tem na sua base o medo e o trauma decorrente de eventos no trabalho (Stamm, 2010). São, portanto, fenômenos distintos, mas que apresentam semelhanças do ponto de vista psicológico e perfazem no modelo da QVP a FC. Cruz (2014) evidenciou que maiores níveis tanto do BO como do ETS estavam associados a níveis mais altos de sintomas psicopatológicos, nomeadamente depressão, estresse e ansiedade, o que possivelmente justifica a correlação positiva encontrada. Stamm (2010) refere que atenção especial deve ser dada ao risco da conjugação do BO com o ETS, uma vez que neste caso há um maior sofrimento do trabalhador na sua vida profissional, com maior risco de desenvolver depressão pelo ambiente de trabalho. Quanto a análise da variação da QVP em função de características sociodemográficas e profissionais, apenas o ETS apresentou diferença significativa na carga horária semanal. Este resultado diferiu de outros estudos que encontraram variação da QVP, nomeadamente em função da idade, no qual enfermeiros mais velhos possuíam maior nível de SC (Hunsaker et al., 2015; Salimi et al., 2019) e menos BO (Hunsaker et al., 2015). Em relação a experiência profissional, Salimi et al. (2019) evidenciaram que os mais experientes apresentaram níveis mais baixos de BO, e que o ETS variou significativamente em função do tempo e tipo de unidade de trabalho. Os enfermeiros no presente estudo que trabalhavam até 35 horas apresentaram média superior aos enfermeiros com mais horas de trabalho. Esse dado sugere que a menor carga horária pode levar a maior dedicação ao trabalho e envolvimento com os doentes, com maior preocupação empática, e, portanto, mais ETS.

Essa inferência encontra semelhança no estudo de Cruz (2014), que nos seus resultados apontou para uma relação positiva significativa entre o ETS e a preocupação empática, que permeia a capacidade de experienciar sentimentos de preocupação e compaixão pelo outro. Contudo, Cruz (2014) também evidenciou que a preocupação empática também influenciava a SC, pois os trabalhadores mais empáticos pareciam ter mais satisfação no cuidado aos outros. Sob essa ótica, a busca de equilíbrio entre uma relação empática que promove SC e, consequentemente, todos os seus benefícios e a geração de ETS deve ser buscada no intuito de preservar a saúde do trabalhador e o melhor cuidado aos doentes. Assim, Cruz (2014) revela a necessidade de estratégias que auxiliem os enfermeiros a lidarem com eventos estressantes e a desenvolverem autocompaixão e regulação emocional. CONCLUSÕES Neste estudo foi possível identificar a QVP de enfermeiros portugueses que atuam no âmbito hospitalar, averiguando-se que a maioria apresentou nível médio de SC, BO e ETS. O BO apresentou correlação negativa e significativa com a SC, sugerindo que medidas que visem diminuir o BO poderão levar ao aumento da SC nos enfermeiros. O BO apresentou correlação significativa e positiva com o ETS, indicando que compartilham características, especialmente referentes aos sintomas psicopatológicos. O ETS apresentou, ainda, variação em função da carga horária semanal, sendo os enfermeiros que trabalhavam menos horas aqueles que apresentaram maior índice de ETS. Por conseguinte, conclui-se que a ambivalência do trabalho na saúde mental e física aplicada a QVP dos enfermeiros remete para a satisfação e prazer no trabalho, mas também para o desgaste, sofrimento, medo e trauma advindos do BO e do ETS. Assim, medidas de cunho individual e organizacional, devem ser implementadas para a estimulação de maior SC e diminuição dos níveis de BO e ETS, visando melhor QVP dos enfermeiros, melhor desempenho das organizações e maior qualidade no cuidado prestado aos doentes. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA A avaliação da QVP dos enfermeiros elucida a necessidade de fomentar estratégias para ambientes de trabalho promotores de saúde mental nestes trabalhadores.

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Estratégias essas que podem ser realizadas visando a gestão dos riscos e a promoção da saúde, como a gestão do estresse de maneira individual, através de autoconhecimento, autoavaliação, e o desenvolvimento de comportamentos mais resilientes, mas também de forma organizacional, com a equalização da carga laboral, gerenciamento dos conflitos das equipes, apoio social, inclusão e autonomia dos indivíduos no seu exercício profissional. É relevante ratificar a necessidade de cuidar de quem cuida, pois o ser enfermeiro na sua atuação percebe satisfação, mas também sofrimento. Desta forma, para melhorar a saúde mental destes profissionais devem existir políticas de recursos humanos adequadas e que se concretizem na prática através de programas e serviços acessíveis aos trabalhadores, potenciando a QVP dos enfermeiros, bem como a qualidade dos cuidados prestados. Financiamento O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 88881.190017/2018-01. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Areosa, J. (2018). O trabalho como palco do sofrimento. International Journal on Working Conditions, (15), 8195. Disponível em: http://www.ricot.com.pt/artigos/1/ IJWC.15_JAreosa_p.81.95.pdf Baldonedo, M., Mosteiro, P., Queirós. C., Borges, E. e Abreu, M. (2018). Stress no trabalho em enfermeiros: estudo comparativo Espanha/Portugal. International Journal on Working Conditions, (15), 67-80. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/326827211_Stress_no_trabalho_em_enfermeiros_estudo_comparativo_EspanhaPortugal_Stress_at_work_among_nurses_a_comparative_ study_SpainPortugal Carvalho, P.R.C. (2011). Estudo da Fadiga por Compaixão nos Cuidados paliativos em Portugal: Tradução e Adaptação Cultural da Escala “Professional Quality of Live 5”. (Dissertação de mestrado). Universidade Católica, Portugal. Disponível em: https://repositorio. ucp.pt/handle/10400.14/4202

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Artigo de Investigação

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Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0279

LITERACIA EM SAÚDE MENTAL DOS JOVENS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM NA INTEGRAÇÃO AO ENSINO SUPERIOR1 | Luís Loureiro1; Paula Freitas2 |

RESUMO INTRODUÇÃO: A transição para o Ensino Superior e consequente processo de adaptação corresponde a um período crítico e complexo que acarreta mudanças significativas na vida dos jovens que podem vir a ter implicações na sua saúde e bem-estar e consequentemente no sucesso académico. OBJETIVOS: Caracterizar a literacia em saúde mental associada à depressão e ansiedade; analisar comparativamente a literacia associada à depressão e ansiedade. MÉTODOS: Estudo descritivo-correlacional, realizado a partir dos dados colhidos junto de uma amostra aleatória de 246 estudantes, inscritos no 1.º ano do curso de licenciatura em Enfermagem, tendo sido aplicado o Questionário de Avaliação da Literacia em Saúde Mental. RESULTADOS: Os resultados revelam níveis modestos de literacia em saúde mental, com deficits mais acentuados no caso da depressão. Uma margem de jovens refere de modo explicito que não sabe e/ou não tem conhecimento em termos de primeira ajuda. CONCLUSÕES: Torna-se necessário intervir precocemente, no sentido de aumentar os níveis de literacia de saúde mental dos estudantes. Estas intervenções, com foco no acolhimento e integração, podem contribuir para a adaptação e sucesso académico dos estudantes. PALAVRAS-CHAVE: Literacia; Saúde mental; Depressão; Ansiedade

RESUMEN

ABSTRACT

“Alfabetización en salud mental de los jóvenes estudiantes de enfermería en la integración a la enseñanza superior”

“Mental health literacy of young nursing students when accessing higher education”

INTRODUCCIÓN: La transición hacia la enseñanza superior y el consiguiente proceso de adaptación corresponde a un período crítico y complejo que conlleva cambios significativos en la vida de los jóvenes que pueden tener implicaciones en su salud y bienestar y consecuentemente en el éxito académico. OBJETIVOS: Caracterizar la alfabetización en salud mental asociada a la depresión y ansiedad; analizar comparativamente la alfabetización asociada a la depresión y la ansiedad. METODOLOGÍA: Estudio descriptivo-correlacional, realizado a partir de los datos recolectados en una muestra de 246 estudiantes, inscritos en el primer año del curso de licenciatura en Enfermería, habiendo sido aplicado el Cuestionario de Evaluación de la Alfabetización en Salud Mental. RESULTADOS: Los resultados revelan niveles modestos de alfabetización en salud mental, con deficiencias más acentuadas en el caso de la depresión. Un margen de jóvenes señala que no sabe y / o no tiene conocimiento en este ámbito, como es el caso de las estrategias de primera ayuda. CONCLUSIONES: Es necesario intervenir precozmente, en el sentido de aumentar sus niveles de alfabetización de salud mental de los estudiantes. Estas intervenciones, con foco en la acogida e integración, pueden contribuir a la adaptación y éxito académico de los estudiantes.

INTRODUCTION: The transition to higher education and the consequent adaptation process corresponds to a critical and complex period that brings significant changes in the lives of young people that may have implications for their health and well-being and consequently academic success. AIMS: To characterize the mental health literacy associated with depression and anxiety; analyze comparatively the literacy associated with depression and anxiety. METHODS: Descriptive-correlational study, based on data collected from a random sample of 246 students, enrolled in the 1st year of a bachelor in Nursing, and the Questionnaire for Evaluation of Mental Health Literacy was applied. RESULTS: The results reveal modest levels of mental health literacy, with a more pronounced deficiency in the case of depression. A margin of young people indicates that they do not know and/or do not have knowledge in this area, as is the case of first aid strategies. CONCLUSIONS: It is necessary to intervene early in order to increase students’ mental health literacy levels. These interventions, with a focus on reception and integration, can contribute to the students’ academic adaptation and success.

DESCRIPTORES: Alfabetización; Salud mental; Depresión; Ansiedad

KEYWORDS: Literacy; Mental health; Depression; Anxiety Submetido em 30-09-2019 Aceite em 22-04-2020

1 Investigação enquadrada no Pós-doutoramento a decorrer no departamento de Ciências do Comportamento do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. 2 Doutor; Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Rua 5 de Outubro (Polo B), Coimbra, Portugal, luisloureiro@esenfc.pt 3 Doutora; Professora Auxiliar na Universidade do Porto, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Porto, Portugal, pmfreitas@icbas.up.pt Citação: Loureiro, L., & Freitas, P. (2020). Literacia em saúde mental dos jovens estudantes de enfermagem na integração ao ensino superior. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 34-42. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 34


INTRODUÇÃO A transição e consequente processo de adaptação ao ensino superior, corresponde a um período crítico que implica mudanças significativas na vida dos jovens (Almeida, 2014) aos níveis educativos, ecológicos e desenvolvimentais (Soares, Pereira e Canavarro, 2015). A evidência produzida ao longo das últimas décadas, aponta para que a qualidade da adaptação seja considerada uma variável preditora do sucesso académico em todas as suas vertentes (Nogueira, 2017), e que envolve, não apenas os aspetos escolares, mas também os sociorrelacionais e psicológicos, tais como o desenvolvimento intelectual, a criação e manutenção de novas relações e vínculos interpessoais e sociais, e o desenvolvimento da identidade e da autonomia (Soares, Pinheiro e Canavarro, 2015; Van Rooij, Jansen & van de Grift, 2018). Neste sentido, a saúde mental e o bem-estar assumem um lugar de destaque, quer sejam perspetivados a partir do impacto que este processo de transição pode acarretar na saúde mental dos jovens, quer ainda por ser considerada uma condição que lhes permite adaptar-se e enfrentar com sucesso os desafios que lhes são colocados (Nogueira e Sequeira, 2018). É também referido na literatura que nem todos os estudantes estão capacitados para enfrentar e gerir os desafios com sucesso, na medida em que muitos experienciam níveis elevados de stress, ansiedade e depressão (Araújo e Almeida, 2015; Nogueira, 2017). É comumente aceite que as dificuldades decorrentes do stress académico podem ter impacto no desencadear de problemas de saúde mental e que estes se podem agravar com o tempo (Pulido-Martos, Augusto-Landa & Lopez-Zafra, 2012; Ribeiro et al., 2017). Acresce ainda o facto de uma franja dos jovens apresentar à partida problemas de saúde mental, alguns dos quais com perturbações psiquiátricas diagnosticadas (Silveira, Norton, Brandão e Roma-torres, 2011), que se podem agravar à medida que o percurso académico se desenrola, ao ponto de comprometer a sua autonomia, autoconfiança e perceção de competência pessoal e consequentemente o desempenho académico. Neste sentido as instituições de Ensino Superior devem potenciar continuamente os serviços de apoio e ajuda especializados, com o objetivo de maximizar o seu potencial de crescimento e desenvolvimento e minimizar os efeitos adversos das dificuldades de adaptação. Simultaneamente, poderão ser ainda utilizadas outras medidas/iniciativas centradas no acolhimento e integração dos estudantes e cujo foco se centre na transição e adaptação académica, de modo a potenciar, por exemplo

o suporte social, a saúde mental e o bem-estar. Poderemos destacar neste contexto as intervenções que ancoram no conceito de literacia em saúde mental (LSM) na medida em que as crenças e conhecimentos acerca dos problemas de saúde mental podem permitir aos jovens, reconhecer os problemas de saúde mental, geri-los no quotidiano, assim como tomar medidas preventivas adequadas (Jorm, 2014). Este conhecimento é voltado para a ação em prol da saúde mental e bem-estar do estudante e dos seus pares. É de salientar que a evidência produzida no contexto Português ao nível da LSM de estudantes do ensino superior é reduzida, contudo os dados disponíveis relativamente às componentes de reconhecimento dos problemas de saúde mental (incluindo as perturbações mentais) e conhecimentos e competências para prestar a primeira ajuda apontam, por um lado, para que muitos jovens não reconheçam e não valorizem os problemas de saúde mental e em consequência deste facto, não procurem ajuda especializada ou atrasem a sua procura, e, por outro, apresentem deficits significativos em termos dos conhecimentos e competências para prestar primeira ajuda aos seus pares (Correia, 2012). A escassez de dados relativamente à LSM dos estudantes do Ensino Superior, conjugados com aquela que a evidência acerca dos desafios que a transição e adaptação ao ensino superior implicam em termos da sua saúde mental e bem-estar dos jovens, estiveram na base de desenvolvimento do presente estudo e cujos objetivos são: a) caracterizar a literacia em saúde mental dos estudantes do 1.º ano do curso de licenciatura em Enfermagem em termos de depressão e ansiedade, nomeadamente ao nível do reconhecimento dos problemas, intenção de pedido de ajuda, conhecimentos sobre primeira ajuda e confiança para prestar primeira ajuda; b) analisar comparativamente a literacia associada aos problemas de saúde mental referidos. MÉTODOS O presente estudo, prossegue uma abordagem quantitativa de tipo descritivo-correlacional. Hipótese Os estudantes de Enfermagem apresentam, comparativamente, um nível diferenciado de LSM acerca da depressão e da ansiedade em termos de reconhecimento dos problemas, conhecimentos sobre primeira ajuda em saúde mental, intenção de pedido de ajuda e confiança para prestar ajuda. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 35


Participantes O presente estudo foi realizado a partir dos dados colhidos junto de uma amostra aleatória simples de 246 estudantes, selecionados a partir dos estudantes inscritos no 1.º ano do curso de licenciatura em Enfermagem. A selecção foi realizada com recurso à aplicação random. org (https://www.random.org). Da lista inicial de 350 estudantes, foram selecionados de modo aleatório simples 250 estudantes (71%), aos quais foram aplicados os questionários. Destes 250 questionários, 4 foram anulados por não se encontrarem devidamente preenchidos. O critério de inclusão foi: ser aluno do 1.º ano, inscrito pela primeira vez no curso de enfermagem. A média das idades observada é de 18,77 anos (desvio padrão de 2,99 anos) e a mediana de 18 anos, sendo 41 (16,70%) do sexo masculino e 205 (83,30%) do sexo feminino. Instrumento de colheita de dados O instrumento de colheita de dados utilizado foi o Questionário de Avaliação da Literacia em Saúde Mental - QuALiSMental (Loureiro, 2015). Este questionário é composto por duas partes. A 1.ª parte é constituída por questões de âmbito sociodemográfico, nomeadamente sexo, idade e habilitações literárias dos pais. A 2.ª parte compreende um conjunto de questões relacionadas com as diferentes componentes da literacia em saúde mental, nomeadamente: a) reconhecimento dos problemas de saúde mental (incluindo perturbações mentais) de modo a promover e facilitar a procura de ajuda e b) conhecimentos e competências para prestar apoio e primeira ajuda aos outros. As questões de cada componente referida são precedidas por duas vinhetas, uma relatando um caso de uma jovem chamada Joana que apresenta sinais e sintomas de depressão, e outra chamada Rita que apresentava sinais e sintomas de quem sofria de problemas relacionados com ansiedade. Ambos os casos estão de acordo com os critérios da versão 5 do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais 5 - DSM-V da American Psychiatric Association (2014). Depois de apresentadas as vinhetas, na componente de reconhecimento é colocada a seguinte questão: “Na tua opinião, o que é que se passa com a Joana/Rita? (Podes assinalar várias respostas). A possibilidade de respostas consiste em 17 itens, sendo que existem rótulos de problemas de saúde mental, bem como a possibilidade de escolher “não sei”; “não tem nada”; “tem um problema” ou “outro”, devendo neste último caso, especificar qual. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 36

Nos rótulos estão incluídos: “depressão”; “esquizofrenia”; “psicose”; “doença mental”; “bulimia”; “stress”; “esgotamento nervoso”; “abuso de substâncias (ex.: álcool)”; “crise própria da idade”; “problemas psicológicos/ mentais/ emocionais”; “anorexia”; “ansiedade” e “alcoolismo”. A componente de conhecimentos e competências para prestar apoio e dar a primeira ajuda é constituída por 10 itens, sendo precedidos pela seguinte orientação: “São apresentadas de seguida diferentes opções que podias utilizar para ajudar a Joana/ Rita. Assinala para cada uma a tua opinião”. Os itens do questionário relativos a esta componente são: “ouvir os seus problemas de forma compreensiva”; “dizer-lhe com firmeza para andar para a frente”; “sugerir que procure ajuda de um profissional de saúde especializado”; “marcar uma consulta no médico de família com o seu conhecimento”; “perguntar se tem tendências suicidas”; “sugerir que beba uns copos para esquecer os problemas”; “reunir o grupo de amigos para a animar”; “não valorizar o seu problema, ignorando-a até que se sinta melhor”; “mantê-la ocupada para que não pense tanto nos seus problemas”; “incentivá-la a praticar exercício físico”. O formato de resposta aos itens é “útil”, “prejudicial”, “não sei”). Esta componente é ainda constituída por outras duas questões, nomeadamente: a) “Se estivesses a viver atualmente uma situação como a da Joana/Rita, pedirias ajuda?”. Na reposta os participantes podem assinalar “sim”, “não” e “não sei”; b) “Em que medida te sente confiante para ajudar a Joana/Rita?”. O formato de resposta é tipo Likert e varia de 1 (nada confiante) a 5 pontos (muitíssimo confiante). A avaliação das características psicométricas do para a população portuguesa (Loureiro, 2015) revelou bons índices de fiabilidade, assim como validade de construto que atestam a sua utilização neste contexto, estando a tipologia e conteúdo do instrumento disponível em Loureiro (2015). Procedimentos ético-formais da colheita de dados Os dados foram recolhidos no mês de setembro de 2018. Os questionários foram aplicados em contexto de sala de aula, em sessões coletivas, num período especificamente disponibilizado para o efeito. O tempo de resposta do questionário situou-se entre os 20 e os 30 minutos. A proposta do estudo foi submetida à Diretora da instituição onde foi realizado o estudo, tendo obtido parecer positivo e autorizada a sua realização.


Dadas as caraterísticas da amostra, após serem informados sobre os objetivos do estudo, os participantes assinaram um termo de consentimento informado. Análise estatística Os dados foram analisados com recurso ao software IBM SPSS-24. Foram calculadas as estatísticas resumo adequadas (média, mediana e desvio padrão) para a idade e frequências absolutas e percentuais para a variável sexo. No caso do item relativo à confiança para prestar ajuda, também foram calculadas medidas resumo, nomeadamente de tendência central (média e mediana). No que respeita ao estudo comparativo efetuado, e dado que a amostra, apesar do estímulo (vinheta) ser diferente, engloba as mesmas questões/itens, com os mesmos sujeitos a serem avaliados, o que tem subjacente emparelhamento, esse facto implicou a utilização de testes para grupos emparelhados. Dado o formato de resposta (qualitativo) dos itens, são utilizados testes não paramétricos, neste caso os testes estatísticos de McNemar (tabelas de 2x2) e teste de Bowker (caso das tabelas de 3x3). Na questão “b” da última componente referida (“Em que medida se sente confiante para ajudar a Joana/ Rita?”), e dado o formato de resposta ser tipo Likert, utilizou-se o teste de sinais por postos de Wilcoxon. Relativamente aos testes de McNemar e Bowker, dado o número de variáveis em estudo, o número de tabelas de dupla entrada (contingência) produzidas é extenso, pelo que se optou por resumir todos os resultados em tabelas que incluem as distribuições de frequências percentuais. O cálculo conjunto das frequências percentuais foi realizado com recurso à opção de tabelas customizadas do IBM SPSS-24. O teste de Bowker, sendo um teste omnibus, implicou o cálculo adicional de testes post hoc com correção de Bonferroni, especificamente nos casos em que as diferenças encontradas foram estatisticamente significativas (p<0,05). Neste sentido, os procedimentos à posteriori implicaram o cálculo de três novas tabelas de dupla entrada (as restantes tabelas introduziam informação redundante e não forma utilizadas), que comparavam as respostas obtidas às categorias, duas a duas (2x2).

Como se pode observar da Tabela 1 (apenas se apresentaram os rótulos com valores cuja frequência absoluta seja ≥ 1), em termos de reconhecimento da depressão, 74,39% dos participantes assinalam o rótulo “depressão”, seguido de “stress” (67,89%), “ansiedade” (53,25%), “esgotamento nervoso” (46,75%) e “problemas psicológicos/mentais/emocionais” (50,00%). No caso da vinheta da ansiedade, o rótulo assinalado em primeiro lugar foi a “ansiedade” (70,73%), seguido de “problemas psicológicos/mentais/emocionais” (45,53%) e “stress” (43,90%). Em termos comparativos, os testes de McNemar revelam diferenças com significado estatístico nos rótulos “depressão (x2=168,14; p<0,001), “stress” (x2=33,31; p<0,001), “esgotamento nervoso” (x2=98,44; p<0,001) e ansiedade (x2=15,57; p<0,001). Tabela 1 - Distribuição percentual das respostas assinaladas pelos participantes aos itens relativos ao reconhecimento, em função das vinhetas da depressão e ansiedade (N=246) Vinheta da depressão Vinheta da ansiedade

Sim

Não

Total

Depressão

Sim

2,85

0,81

3,66

Não

71,54

24,80

96,34

Total

74,39

25,61

100,00

Sim

3,25

3,66

6,91

Não

5,28

87,80

93,09

Total

8,54

91,46

100,00

Sim

35,37

8,54

43,90

Não

32,52

23,58

56,10

Total

67,89

32,11

100,00

Sim

2,44

1,22

3,66

Não

44,31

52,03

96,34

Total

46,75

53,25

100,00

Sim

1,22

3,27

4,49

Não

6,94

88,57

95,51

Total

8,16

91,84

100,00

Problemas psicológicos/ mentais/emocionais

Sim

30,49

15,04

45,53

Não

19,51

34,96

54,47

Total

50,00

50,00

100,00

Ansiedade

Sim

42,68

28,05

70,73

Não

10,57

18,70

29,27

Total

53,25

46,75

100,00

Doença mental Stresse

Esgotamento nervoso Crise da idade

168,14***

(†)ns

33,31***

98,44***

(†)ns

1,18ns

15,57***

† Utilizada distribuição binomial; ns = não significativo; *** p<0,001

RESULTADOS Os resultados são apresentados de acordo com a ordem das variáveis na hipótese submetida a teste: a) reconhecimento dos problemas, b) conhecimentos sobre primeira ajuda em saúde mental; c) intenção de pedido de ajuda e d) confiança para prestar ajuda e apoio.

Ao nível dos conhecimentos acerca das estratégias para prestar primeira ajuda aos outros (Tabela 2), os resultados indicam que a quase totalidade dos jovens (> 99,00%) percecionam como “útil” a escuta compreensiva para ambos problemas de saúde descritos nas vinhetas. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 37


No caso de outras estratégias que são consideradas adequadas, tais como “sugerir que procure ajuda de um profissional”, “marcar uma consulta no médico de família”, “incentivá-la para que pratique exercício físico”, ainda que uma percentagem muito substancial dos jovens as percecionem como uteis para a depressão, respetivamente 85,71%, 71,72% e 80,08%, esse valor diminui comparativamente para os mesmos itens, na ansiedade (57,96%, 41,39% e 74,39%), com destaque para as duas primeiras estratégias. Nas estratégias consideradas ineficazes e desajustadas em termos de primeira ajuda, nomeadamente “não valorizar o seu problema, ignorando-a até que se sinta melhor”, “mantê-la ocupada para que não pense tanto nos problemas”, “dizer-lhe com firmeza para andar para a frente” e “sugerir que beba uns copos para esquecer os problemas” os jovens apresentam um perfil diferenciado de respostas. A quase totalidade considera consumo de álcool como “prejudicial”, respetivamente 92,24% na depressão e 89,80% na ansiedade. Contudo, nas outras estratégias, a opção “não sei” apresenta percentagens relativamente elevadas, especificamente no caso de “dizerlhe com firmeza para andar para a frente” (43,28% na depressão e 36,97% na ansiedade). Também a estratégia “mantê-la a pessoa ocupada para que não pense tanto nos problemas” é considerada estratégia útil em ambos os casos por 74,29% na depressão e 66,12% na ansiedade. Um dos itens com resultados que carecem de reflexão em termos de primeira ajuda, especificamente no caso da vinheta da depressão, diz respeito ao questionar a pessoa se tem tendências suicidas. Como podemos observar da Tabela 2, 48,16% afirmam que é prejudicial e 31,84% afirmam que não sabem. Comparadas as estratégias em função das duas vinhetas, o teste de Bowker revela diferenças com significado estatístico em quatro estratégias: “sugerir que procure ajuda de um profissional de saúde” (x2=57,95; p<0,001); “marcar uma consulta no médico de família” (x2=59,89; p<0,001); “perguntar se tem tendências suicidas (x2=32,27; p<0,001); “reunir o grupo de amigos para a animar” (x2=10,57; p<0,05) e “mantê-la ocupada para que não pense tanto nos problemas” (x2=9,37; p<0,05). Nos itens referidos anteriormente (Tabela 2), os procedimentos post hoc apenas revelaram diferenças quando comparadas as categorias “útil” e “não sei” nos casos em que a mudança é estatisticamente significativa ao nível de 0,001.

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 38

Neste sentido, os “reunir o grupo de amigos para a animar” e “mantê-la ocupada para que não pense tanto nos problemas”, apesar de inicialmente terem significado estatístico, não vieram a relevar diferenças dada a aplicação da correção não revelou diferenças em nenhum dos grupos. Os valores das distribuições percentuais e que incluem os testes post hoc são apresentados na Tabela 3. Ainda na Tabela 2, podemos observar no que respeita à intenção de pedido de ajuda em situação idêntica à referida nas vinhetas, que as mudanças são estatisticamente quando se passa da depressão para a ansiedade (x2=24,52; p<0,001). Quando questionados acerca da sua confiança para prestar ajuda e apoio à pessoa que estava nas situações descritas nas vinhetas (Tabela 2), o teste de sinais por postos de Wilcoxon indicou que as diferenças não têm significado estatístico (z=-0,76; p>0,05). As médias são respetivamente de 2,87 pontos no caso da depressão (mediana = 3,00 pontos) e 2,75 pontos na ansiedade (mediana = 3,00 pontos). Tabela 2 - Distribuição percentual das respostas assinaladas pelos participantes aos itens sobre conhecimentos sobre primeira ajuda em saúde mental e intenção de procura de ajuda para as vinhetas da depressão e ansiedade (N=246) Vinheta da depressão Vinheta da ansiedade Ouvir os seus problemas de forma compreensiva Dizer-lhe com firmeza para andar para a frente Sugerir que procure ajuda de um profissional de saúde(†††) Marcar uma consulta no médico de família(†††) Perguntar se tem tendências suicidas(†††) Sugerir que beba uns copos para esquecer os problemas

A

B

C

Total

A

98,80

---

0,80

99,60

B

---

---

---

---

C

0,40

---

0,00

0,40

Total

99,20

---

0,81

100,00

A

16,81

5,04

12,18

34,03

B

2,52

17,65

8,82

28,99

C

8,40

6,30

22,27

36,97

Total

27,73

28,99

43,28

100,00

A

55,51

---

2,45

57,96

B

2,45

0,82

0,82

4,08

C

27,76

0,82

9,39

37,96

Total

85,71

1,63

12,65

100,00

A

37,70

---

3,69

41,39

B

1,64

3,28

1,23

6,15

C

32,38

0,82

19,26

52,46

Total

71,72

4,10

24,18

100,00

A

7,35

---

0,41

7,76

B

2,04

42,45

11,02

55,51

C

10,61

5,71

20,41

36,73

Total

20,00

48,16

31,84

100,00

A

---

2,04

,41

2,45

B

,82

85,71

3,27

89,80

C

---

4,49

3,27

7,76

Total

,82

92,24

6,94

100,00

x2(†)

(††)ns

4,65ns

57,95***

59,89***

32,27***

2,76ns


Reunir o grupo de amigos para a animar

A

73,36

1,64

6,56

81,56

B

5,33

0,41

1,64

7,38

C

9,84

---

1,23

11,07

Total

88,52

2,05

9,43

100,00

---

,82

---

,82

,82

92,24

1,63

94,69

,41

4,08

---

4,49

1,22

97,14

1,63

100,00

A

57,55

0,82

7,76

66,12

B

4,90

3,67

1,22

9,80

C

11,84

1,63

10,61

24,08

Total

74,29

6,12

19,59

100,00

A

67,89

---

6,50

74,39

B

0,41

---

---

0,41

C

11,79

---

13,41

25,20

Total

80,08

---

19,92

100,00

Sim

Não

Não sei

Total

Sim

42,28

1,22

6,91

50,41

Não

2,44

1,63

6,10

10,16

Não sei

19,92

1,22

18,29

39,43

4,07

31,30

100,00

Medi- Média ana

Mediana

3,00

0,76 ns

A

Não valorizar B o seu problema, ignoran- C do-a até Total Mantê-la ocupada para que não pense tanto Incentivá-la a praticar exercício físico

Se estivesses a viver uma situação idêntica, pedirias ajuda? (†††)

Total

Confiança para prestar ajuda

64,63 Média

2,87

3,00

2,75

10,57*

3,57ns

9,37*

---

x2

24,52***

A= útil; B= prejudicial; C=Não sei; (†) Estatística do teste de Bowker; (††) Teste de McNemar com distribuição binomial; ns = não significativo; * p<0,05; *** p<0,001; § z do teste de sinais por postos de Wilcoxon; (†††) itens submetidos a testes post hoc. Neste caso as matrizes cuja diferença apresentou significado estatístico foram as células AC (“útil” versus “não sei”) em 2x2 com p<0,01 (consultar batela 3).

Relativamente aos testes post hoc e como referido anteriormente, apenas foram encontradas diferenças à posteriori nas matrizes em quatro itens (“sugerir que procure ajuda de um profissional de saúde”; “marcar uma consulta no médico de família”; “perguntar se tem tendências suicidas e “intenção de pedido de ajuda), sendo os resultados apresentados na Tabela 3. No caso, “sugerir que procure ajuda de um profissional de saúde”, o número de participantes que considera “útil” essa estratégia para a depressão são 87,55%, valor que se situa em 60,94% na ansiedade. Na depressão, 12,45% refere não saber, enquanto na ansiedade esse valor é de 39,06%. É de salientar que nesta matriz são apenas considerados 234 sujeitos, dado que os que respondem “prejudicial” são excluídos no cálculo do teste. Na estratégia “marcar uma consulta no médico de família”, enquanto na depressão, 75,33% considera “útil” a estratégia, na ansiedade esse valor é inferior (44,49%), e em termos dos que afirmam não saber, esse valor é de 24,67% na depressão, e de 55,51% na ansiedade.

O tamanho do grupo considerado nesta análise é n=229. Por último, a estratégia “perguntar se tem tendências suicidas” (n=96), na depressão 46,90% considera útil”, enquanto na ansiedade o valor é menor (20,00%), já no que respeita aos que afirmam “não sei”, passa de 53,68% na depressão para 80,00% na ansiedade. No que respeita à intenção de pedido de ajuda os testes post hoc indicam duas matrizes onde se observam mudanças significativas, nomeadamente a matriz “AC”, que considera “sim” e “não sei”. Neste caso (n= 215) e no que respeita à depressão, 56,28% assinalou que procuraria ajuda enquanto na ansiedade aumenta para 71,16%. A ambivalência na procura de ajuda para a vinheta da depressão (assinalam 28,84%), diminui na ansiedade, onde apenas 28,80% assinala a opção “não sei”. Quando comparada a matriz com as categorias “BC” (considerando n=67), isto é, para os formatos de resposta “não” e “não sei”, verifica-se que na depressão, 10,45% afirmam que não procurariam ajuda e 89,55% não sabem se o fariam, contudo na ansiedade, 28,36% não procurariam ajuda, enquanto os que têm dúvidas aumenta para 71,64%. Tabela 3 - Distribuição percentual das respostas assinaladas pelos participantes aos itens sobre conhecimentos sobre primeira ajuda em saúde mental e intenção de procura de ajuda para as vinhetas da depressão e ansiedade Vinheta da depressão Vinheta da ansiedade

Útil (A)

Não sei (C)

Total

Sugerir que procure ajuda de um profissional de saúde (n=234)

Útil (A)

58,37

2,58

60,94

Não sei (C)

29,18

9,87

39,06

Total

87,55

12,45

100,00

Marcar uma consulta no médico de família (n=229)

Útil (A)

40,53

3,96

44,49

Não sei (C)

34,80

20,70

55,51

Total

75,33

24,67

100,00

18,95

1,05

2,45

27,37

52,63

0,82

46,32

53,68

9,39

Sim (A)

Não sei (C)

Total

Sim (A)

48,37

7,91

56,28

Não sei (C)

22,79

20,93

43,72

Total

71,16

28,84

100,00

Não (B)

Não sei (C)

Não (B)

5,97

22,39

28,36

Não sei (C)

4,48

67,16

71,64

Total

10,45

89,55

100,00

Útil (A) Perguntar se tem tendências suicidas Não sei (C) (n=96) Total

Se estivesses a viver uma situação idêntica, pedirias ajuda? (n=215)

Se estivesses a viver uma situação idêntica, pedirias ajuda? (n=67)

p

**

**

**

**

**

** p<0,01

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 39


DISCUSSÃO Em termos de reconhecimento dos problemas de saúde mental (e perturbações mentais) de modo a promover e facilitar a procura de ajuda, os resultados mostramse, em parte, satisfatórios e estão em linha com os obtidos noutros estudos (Correia, 2012; Jorm, 2014). É de salientar que nesta componente não se pretende avaliar a capacidade dos jovens em fazer diagnósticos em saúde mental, mas sim de problematizar e reconhecer os sinais de modo ajustado e valorizar os sintomas atribuindolhe neste sentido um rótulo ajustado ao problema descrito (Loureiro, 2014). Como se pode observar, ¾ da amostra assinala corretamente o rótulo “depressão” e “ansiedade” nas respetivas vinhetas sendo que 50,00% dos participantes considera ambos os problemas descritos nas vinhetas como problemas psicológicos/mentais/ emocionais. Contudo, no caso da depressão, tal como acontece noutros estudos (Correia, 2012; Loureiro, 2016), aproximadamente metade da amostra assinala o rótulo “esgotamento nervoso”. Este rótulo é inespecífico e não se refere a um problema em particular, servindo mais para caraterizar qualquer tipo de mudança na saúde mental das pessoas. Acresce ainda uma aparente confusão dos sintomas descritos com problemas de “stress” e “ansiedade”, o que pode indiciar um aparente desconhecimento do que significam e implicam estes problemas. Comparativamente, verificamos que na vinheta da ansiedade tal questão não se coloca, pois assinalam maioritariamente os rótulos adequados (“stress”/”ansiedade”/” problemas psicológicos/mentais/emocionais”). Como se pôde observar, uma margem reduzida de participantes assinala as situações como sendo doenças mentais (<10,00% em ambos). Estes resultados podem indiciar que os jovens estudantes sabem em certa medida que para se falar em doença/perturbação mental implica a existência de um diagnóstico e neste sentido podemos verificar que a valorização é feita ao conceito de problema de saúde mental. É de ressaltar que o conteúdo das vinhetas não refere qualquer tipo de diagnóstico ou consulta especializada em saúde mental. No que respeita às estratégias para prestar primeira ajuda aos outros, os estudos (Jorm, 2014; Correia, 2012; Loureiro, Sousa e Gomes, 2014; Loureiro, 2016), são unanimes em mostrar que a escuta compreensiva é eleita como a estratégia com maior utilidade na abordagem à pessoa que está a sofrer de um problema relacionado com a sua saúde mental.

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Este dado é positivo e está em consonância com as propostas, por exemplo, da intervenção ao nível dos primeiros socorros em saúde mental (Loureiro, 2014; Loureiro e Sousa, 2019; Loureiro e Costa, 2019). A estratégia de perguntar se tem pensamentos suicidas é vista, por cerca de metade da amostra como prejudicial, sendo que ainda cerca de 1/3 afirma não saber da sua adequabilidade à situação. Esta relutância é explicada em parte pela crença de que este tipo de questões coloca a ideia de suicídio na pessoa. Observa-se que uma margem substancial de jovens afirma o seu desconhecimento sobre algumas estratégias consideradas desadequadas, tanto para a depressão como para a ansiedade, tais como “dizer-lhe com firmeza para andar para a frente” e “mantê-la ocupada para que não pense tanto”, assumindo que não sabem do efeito que este tipo de estratégia pode provocar na pessoa, tal como reportado noutros estudos (Correia, 2012; Jorm, 2014; Loureiro e Sousa; 2019; Loureiro e Costa, 2019). Quando questionados sobre a intenção de procura de ajuda, caso vivenciassem uma situação semelhante à descrita nas vinhetas, aproximadamente 60% responde afirmativamente no caso da depressão e 50% na ansiedade. A evidência tem mostrado a este respeito que os pares (amigos, colegas), são eleitos como elementos essenciais no suporte à procura de ajuda em saúde mental e este facto é particularmente importante na adolescência e juventude, podendo por isso evitar-se o agudizar das situações. Ao nível da confiança para prestar ajuda a alguém que esteja a sofrer de um problema idêntico ao descrito nas vinhetas, com valores estão também eles em consonância com os encontrados noutros estudos realizados com amostras de estudantes de Enfermagem (Correia, 2012; Loureiro e Sousa, 2019; Loureiro e Costa, 2019) ainda que frequentando anos letivos diferenciados. Mesmo que os desenhos sejam de cariz experimental (nível IV), no momento prévio à intervenção os estudantes sentem-se confiantes. Estes resultados merecem uma leitura cautelosa, até porque apesar de referirem que se sentem confiantes, nas estratégias de primeira ajuda uma margem considerável como se referiu não sabe da adequabilidade e utilidade das estratégias. Se praticamente todos elegem como “útil” ”ouvir os seus problemas de forma compreensiva“, não sabemos que estratégias utilizariam para abordar a pessoa (Loureiro, Sousa e Gomes, 2014). A prática indica que se a abordagem à pessoa que está em sofrimento não for planeada, o dano causado poderá ser maior no sentido de poder levar a pessoa à escusa da procura de ajuda e a opção pela contínua ocultação dos sintomas (Loureiro, 2014).


Sabemos que muitos jovens não reconhecem os problemas de saúde mental e consequentemente, nas situações que podem envolver sofrimento psicológico ou adoecer mental, não procuram ajuda, mesmo quando as instituições disponibilizam serviços de apoio social e psicológico, tão pouco são capazes de prestar primeira ajuda aos seus pares. O agudizar destes problemas pode levar ao comprometimento da sua saúde e bem-estar, ao ponto de levar ao abandono do curso e a projetos de futuro, ou ainda à ocorrência de outros comportamentos como o consumo de álcool e outras substâncias psicoativas. Concomitantemente a evidência mostra que uma boa rede de suporte social e familiar reduz o impacto dos acontecimentos stressantes e pode promover a procura de ajuda e maximização do potencial de desenvolvimento dos estudantes. Ora, em termos de estudantes de ensino superior, este problema pode agudizar-se ainda mais quando uma parte substancial dos estudantes estão deslocados e isso implica claramente um afastamento da sua rede de suporte social e familiar, ainda que se criem novos vínculos e relações pessoais e interpessoais, sabemos que os jovens privilegiam e valorizam a ajuda informal, nomeadamente dos pais e amigos. Em termos globais, os resultados constituem um desafio face às necessidades que decorrem da missão social das instituições de ensino superior, especificamente ao nível do acolhimento e integração dos estudantes do 1.º ano. No caso dos estudantes de Enfermagem acrescem ainda outros desafios e que decorrem, por exemplo, da exposição ao longo do curso, logo a começar no primeiro ano, a um conjunto de stressores com fortes implicações na sua saúde e bem-estar, nomeadamente de âmbito académico, clínico e, inclusive, de âmbito pessoal. Neste sentido, intervir precocemente pode contribuir para evitar o desenvolvimento e agravamento dos problemas de saúde mental que podem comprometer o seu sucesso académico. Nesta área, a evidência científica acerca da saúde mental e vulnerabilidade aponta para dados preocupantes relativamente à sua saúde mental (Sequeira, Carvalho, Borges e Sousa, 2013). CONCLUSÕES Os resultados permitem-nos concluir que o nível de literacia em saúde mental dos jovens estudantes que ingressam no 1.º ano do curso de Enfermagem revela deficits no reconhecimento dos problemas de saúde mental e nas estratégias de prestação de ajuda e apoio, com maior enfâse no caso da depressão.

É nosso entendimento que o desconhecimento relativo à saúde mental poderá ter implicações, entre outros, na procura de ajuda em saúde mental, especificamente nas situações que envolvem vulnerabilidade e adoecer mental. No contexto do curso de Enfermagem, que envolve uma forte componente humana, centrada na escuta e na relação, peças fundamentais do cuidar, as intervenções conducentes à promoção da saúde mental e bem-estar dos estudantes são de valorizar desde o início do percurso académico, centrando-se, por exemplo, no incremento da LSM dos estudantes em todas as suas componentes. Uma das formas de intervir poderá ser através da implementação do programa educacional de primeira ajuda em saúde mental (PASM), na medida em que este programa promove o conhecimento em saúde mental e potencia as estratégias de gestão da saúde mental no quotidiano. Como o PASM é voltado para a acção em prol da saúde mental dos indivíduos e daqueles que o rodeiam, esta acção deve incluir todos os atores da comunidade educativa, incluindo pessoal docente e não docente das instituições de ensino superior. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Estes resultados constituem um incentivo e um alerta para instituições de Ensino Superior da Enfermagem no sentido de implementarem programas educacionais promotores da saúde mental dos jovens estudantes, centrados nos problemas e desafios com que se debatem em termos de saúde mental e bem-estar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, J. (2014). A saúde mental global, a depressão, a ansiedade e os comportamentos de risco nos estudantes do ensino superior: estudo de prevalência e correlação (Tese de Doutoramento). Universidade Nova de Lisboa, Portugal. American Psychiatric Association. (2014). DSM-5 Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais [Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-V)] (5th ed.). Porto Alegre: Artmed Editora. Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2015). Adaptação ao ensino superior: o papel moderador das expectativas acadêmicas. Lumen: Educare, 1(1), 13–31. Doi: 10.19141/2447-5432/lumen.v1.n1.p.13-32 Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 41


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Artigo de Investigação

6

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0280

INTERVENÇÃO PSICOEDUCACIONAL “PROLISMENTAL” PARA ADOLESCENTES EM CONTEXTO ESCOLAR: VALIDADE DE CONTEÚDO ATRAVÉS DE E-DELPHI MODIFICADO1 | Tânia Morgado2; Luís Loureiro3; Maria Botelho4 |

RESUMO CONTEXTO: A literacia para a saúde mental foi definida como o conhecimento e as crenças sobre as perturbações mentais que ajudam no seu reconhecimento, gestão ou prevenção. Estudos nacionais e internacionais evidenciam reduzida literacia em saúde mental dos adolescentes e a necessidade de serem desenvolvidas intervenções psicoeducacionais sobre a ansiedade em contexto escolar. OBJETIVO: Avaliar a validade de conteúdo da intervenção psicoeducacional promotora da literacia em saúde mental sobre a ansiedade dos adolescentes em contexto escolar: “ProLiSMental”. MÉTODOS: Intervenções complexas segundo a Medical Research Council Framework. O desenho da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” foi submetido à avaliação da validade de conteúdo através de um e-Delphi modificado com peritos. Foram definidos os critérios de seleção dos peritos, os critérios de consenso e as questões orientadoras. Foram garantidas as considerações éticas. RESULTADOS: Participaram 25 peritos nacionais e internacionais com elevado nível de perícia e obtiveram-se os critérios de consenso na 1ª ronda, registando concordância nas respostas a todas questões (100%) e concordância elevada nas respostas a 8 questões (57,1%). CONCLUSÕES: Validou-se o conteúdo da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental”, constituída por 4 sessões de 90 minutos, com recurso a diferentes métodos e técnicas pedagógicas. Espera-se que esta intervenção psicoeducacional promova a capacitação dos adolescentes para aceder, compreender e usar informação sobre a saúde mental que os ajude na prevenção, no reconhecimento e na gestão da ansiedade. PALAVRAS-CHAVE: Letramento em saúde; Ansiedade; Adolescentes; Escolas

RESUMEN

ABSTRACT

“Intervención psicoeducativa “ProLiSMental” para adolescentes en contexto escolar: Validez de contenido a través de e-Delphi modificado”

“ProLiSMental” psychoeducational intervention for adolescents in school context: Content validity through modified e-Delphi”

CONTEXTO: La alfabetización en salud mental se definió como el conocimiento y las creencias sobre los trastornos mentales que ayudan en su reconocimiento, manejo o prevención. Estudios nacionales e internacionales muestran un bajo nivel de alfabetización en la salud mental de los adolescentes y la necesidad de desarrollar intervenciones psicoeducativas sobre la ansiedad en el contexto escolar. OBJETIVO: Evaluar la validez de contenido de la intervención psicoeducativa promotora de la alfabetización en salud sobre la ansiedad de los adolescentes en el contexto escolar: “ProLiSMental”. METODOLOGÍA: Intervenciones complejas de acuerdo a Medical Research Council Framework. El diseño de la intervención psicoeducativa “ProLiSMental” fue sometido a evaluación de validez de contenido a través de un e-Delphi modificado con expertos. Se definieron criterios de selección de expertos, criterios de consenso y preguntas orientadoras. Se garantizaron las consideraciones éticas. RESULTADOS: Participaron 25 expertos nacionales e internacionales con alto nivel de especialización y se obtuvieron criterios de consenso en la 1a ronda, registrándose acuerdo en las respuestas a todas las preguntas (100%) y alto acuerdo en las respuestas a 8 preguntas (57,1%) . CONCLUSIONES: Se validó el contenido de la intervención psicoeducativa “ProLiSMental”, que consta de 4 sesiones de 90 minutos, utilizando diferentes métodos y técnicas de enseñanza. Se espera que esta intervención psicoeducativa promueva la formación de los adolescentes para que accedan, comprendan y utilicen información sobre salud mental que les ayude a prevenir, reconocer y manejar la ansiedad.

DESCRIPTORES: Alfabetización en salud; Ansiedad; Adolescentes; Instituciones académicas

BACKGROUND: Mental health literacy was defined as knowledge and beliefs about mental disorders that help in their recognition, management or prevention. National and international studies show low mental health in adolescents’ mental health and the need to develop psychoeducational interventions on anxiety in the school context. AIM: To evaluate the content validity of the psychoeducational intervention to promote mental health literacy on anxiety of adolescents in a school context: “ProLiSMental”. METHODS: Complex interventions according to the Medical Research Council Framework. The design of the “ProLiSMental” psychoeducational intervention was submitted to content validity assessment through a modified e-Delphi with experts. Criteria for selecting experts, consensus criteria and guiding questions were defined. Ethical considerations were guaranteed. RESULTS: 25 national and international experts with a high level of expertise participated and consensus criteria were obtained in the 1st round, registering agreement on the answers to all questions (100%) and high agreement on the answers to 8 questions (57,1%). CONCLUSIONS: The content of the “ProLiSMental” psychoeducational intervention was validated, consisting of 4 sessions of 90 minutes, using different teaching methods and techniques. It is expected that this psychoeducational intervention will promote the empowerment of adolescents to access, understand and use information about mental health that will help them to prevent, recognize and manage anxiety.

KEYWORDS: Health literacy; Anxiety; Adolescents; Schools Submetido em 31-03-2020 Aceite em 09-07-2020

1 Este artigo foi elaborado no âmbito da tese de Doutoramento “Desenvolvimento e pilotagem de uma intervenção psicoeducativa de promoção da literacia em saúde mental de adolescentes em contexto escolar”, no Doutoramento em Enfermagem da Universidade de Lisboa/Escola Superior de Enfermagem de Lisboa. 2 Mestre em Bioética; Doutoranda em Enfermagem na Universidade de Lisboa; Investigadora na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA:E) e no Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), Coimbra, Portugal, tmorgado@gmail.com 3 Mestre em Toxicodependência e Patologias Psicossociais; Doutor em Saúde Mental; Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra; Investigador na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA:E), 3Coimbra, Portugal, luisloureiro@esenfc.pt 4 Mestre em Ciências de Enfermagem; Doutora em Filosofia; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa; Investigadora na Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem, Lisboa, Portugal, rbotelho@esel.pt Citação: Morgado, T., Loureiro, L., & Rebelo Botelho, M. A. (2020). Intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” para adolescentes em contexto escolar: Validade de conteúdo através de e-Delphi modificado. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 43-50. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 43


INTRODUÇÃO Em Portugal, a prevalência anual das perturbações psiquiátricas é 22,9%, sendo as perturbações de ansiedade as mais comuns com 16,5% (Caldas de Almeida, Mateus, Xavier e Tomé, 2015). Mundialmente, aproximadamente 16% das crianças e adolescentes sofrem de alguma perturbação mental e a prevalência mundial de qualquer perturbação da ansiedade em crianças e adolescentes é de 6,5% (World Health Organization, 2018). No final dos anos 90, a literacia em saúde mental (LSM) foi definida como o conhecimento e as crenças sobre as perturbações mentais que ajudam no seu reconhecimento, gestão e prevenção (Jorm et al., 1997). Este conceito integra várias componentes: a) o conhecimento sobre como prevenir as perturbações mentais; b) reconhecimento de quando as perturbações mentais se estão a desenvolver; c) o conhecimento sobre a ajuda profissional e tratamentos disponíveis; d) o conhecimento sobre as estratégias efetivas de auto-ajuda; e) competências de primeira ajuda em saúde mental, para ajudar quem está em crise ou a desenvolver uma perturbação mental (Jorm, 2012). Contemporaneamente, o conceito de literacia em saúde (LS) foi definido como as habilidades cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos para aceder, compreender e usar a informação de modo a promoverem e manterem uma boa saúde (Nutbeam, 1998). Mais recentemente, Sørensen et al. (2012) propõem um modelo integrado de literacia em saúde em três domínios: os cuidados de saúde; a prevenção das doenças e a promoção da saúde. Vários estudos nacionais e internacionais têm evidenciado a reduzida LSM dos adolescentes (Morgado, Toletti, Loureiro, Botelho e Pereira, 2014; Loureiro, Sequeira, Rosa & Gomes, 2014; Coles et al., 2016) e a necessidade de serem desenvolvidas intervenções psicoeducacionais de promoção da LSM nomeadamente sobre a ansiedade, dos adolescentes em contexto escolar. Este é o contexto onde os adolescentes passam a maior parte do seu tempo, tornando-se muito favorável ao desenvolvimento destas intervenções para esta população. Políticas de saúde nacionais também têm enfatizado a emergência de reconhecer a promoção da saúde mental e da LSM dos adolescentes em contexto escolar como uma área de intervenção prioritária. Mais especificamente, o Programa Nacional de Saúde Escolar 2015 (Ministério da Saúde, Direção Geral da Saúde, 2015) apresenta a promoção da LS como um objetivo geral e a ansiedade como uma área de intervenção na adolescência, reforçando a necessidade de desenvolver projetos Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 44

de promoção da LSM sobre a ansiedade em adolescentes em contexto escolar, nos quais os enfermeiros poderão dar um contributo significativo. Segundo o Regulamento de Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica (Regulamento n.º 515/2018), os enfermeiros especialistas assistem a pessoa ao longo do ciclo de vida, família, grupos e comunidade na otimização da saúde mental e coordenam, implementam e desenvolvem projetos de promoção e proteção da saúde mental e prevenção da perturbação mental na comunidade e grupos, mobilizando competências psicoterapêuticas, sócio-terapêuticas, psicossociais e psicoeducacionais. No entanto, existe um número reduzido de intervenções psicoeducacionais promotoras da saúde mental e, mais especificamente, da LSM sobre a ansiedade para adolescentes, em contexto escolar, sistematizadas, validadas e com avaliação de efetividade para a população portuguesa (Morgado e Botelho, 2014). Neste sentido, com os contributos de estudos anteriores, foi desenhada uma intervenção psicoeducacional de promoção da LSM sobre a ansiedade para adolescentes em contexto escolar, constituída por 4 sessões de 90 minutos denominada “ProLiSMental”. Os conteúdos enquadram-se nos conceitos de LS, LSM e nas suas componentes: 1ª Sessão: Saúde mental e ansiedade nos adolescentes; 2ª Sessão: Estratégias de promoção, prevenção, gestão e auto-ajuda; 3ª Sessão: Ações de primeira ajuda e procura de ajuda profissional; 4ª Sessão: Da promoção e prevenção à procura de ajuda profissional. Utilizaram-se os métodos: 1) Expositivo, com exposição dialogada; 2) Interrogativo, com técnica expositiva e formulação de perguntas; 3) Demonstrativo; 4) Ativo: dinâmicas de grupo; jogos pedagógicos e jogos de papéis/role-playing/dramatização, no sentido crescente da sua utilização. O presente estudo teve como objetivo avaliar a validade de conteúdo da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” através de um e-Delphi modificado. MÉTODOS Neste estudo, recorreu-se ao “Medical Research Council Framework” (Craig et al., 2013), para o desenvolvimento e viabilidade/pilotagem de uma intervenção complexa. Na fase de desenvolvimento, revisões da literatura e grupos focais com adolescentes e profissionais de saúde e da educação permitiram desenhar a intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” para adolescentes, em contexto escolar, no 9º ano de escolaridade.


Posteriormente realizou-se um estudo exploratório, descritivo, misto e procedeu-se à avaliação da validade de conteúdo da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” através de um e-Delphi modificado com peritos, em janeiro e fevereiro de 2016. O Delphi é um método de recolha de dados que é utilizado para, de forma sistemática, identificar a opinião de um grupo de especialistas e obter consenso perante um problema complexo (Keeney, Hasson & McKenna, 2011) e, de acordo com Jorm (2015), não deve ser considerado um método inferior. O método de Delphi utiliza várias rondas para o envio de questionários até chegar a um consenso, sendo que em cada ronda é enviado para os peritos um resumo dos resultados da ronda anterior (Keeney et al., 2011; Jorm, 2015; Donohoe, Stellefson & Tennant, 2012). O número de rondas depende do tempo disponível e do facto do investigador ter ou não iniciado o método de Delphi com uma questão aberta ou uma lista de questões fechadas (Keeney et al., 2011). Apesar do método de Delphi clássico utilizar quatro rondas, em muitos estudos este número foi reduzido para duas ou três rondas para adequação aos objetivos da investigação (Keeney et al., 2011). Apesar da não concordância de alguns autores, surge na literatura a possibilidade da realização de apenas uma ronda, quando os critérios de consenso são logo obtidos (Jünger, Payne, Brine, Radbruch & Brearley, 2017; Diamond et al., 2014). O método e-Delphi modificado distingue-se do Delphi clássico, porque é administrado por e-mail ou através de um questionário online e porque pode ter menos do que três rondas (Keeney et al., 2011). Tem sido cada vez mais utilizado pela conveniência para o investigador e para os participantes, pela economia de tempo e custos e pela facilidade na gestão e tratamento dos dados (Donohoe et al., 2012; Jorm, 2015). A seleção dos participantes é realizada de acordo com os objetivos do estudo e com seus conhecimentos, experiência e área de perícia e não havendo consenso sobre o número ideal, podem variar consoante sejam grupos homogéneos ou heterogéneos. Os autores são consensuais ao afirmarem que os resultados e as conclusões são mais estáveis, quanto maior o número de participantes (Jorm, 2015; Keeney et al., 2011), mas alertam que um número demasiado elevado de participantes pode dificultar o desenvolvimento da técnica. Neste e-Delphi modificado foram definidos como critérios de seleção dos participantes:

1) serem profissionais da saúde e/ou da educação e/ou investigadores e peritos nas áreas: “LS” e/ou “LSM” e/ou “saúde mental e ansiedade” e/ou “saúde comunitária e saúde escolar” e/ou “saúde e educação de adolescentes”; 2) terem experiência profissional de, pelo menos, 5 anos; 3) possuir licenciatura, mestrado ou doutoramento; 4) ter experiência curricular relevante, com participações em eventos científicos e publicações na área de perícia. Perante estes critérios de seleção constituiu-se uma amostra não probabilística intencional. Relativamente às considerações éticas, foram salvaguardados: a voluntariedade; a obtenção do consentimento informado; o anonimato e a confidencialidade nas respostas e a possibilidade de desistência dos participantes a qualquer momento, sem nenhum prejuízo. Foram também definidos os critérios de consenso (adaptados de Fink, Kosecoff, Chassin & Brook, 1991), perante os quais se deve verificar como critérios de inclusão: obrigatoriamente, a concordância com uma média superior ou igual a dois, numa escala de Likert de quatro níveis e, pelo menos, 75% nos níveis três e quatro para cada uma das questões. Adicionalmente, pode verificar-se concordância elevada, se mais de 65% no nível quatro (Quadro1). Quadro 1 - Critérios de Consenso do e-Delphi modificado Critérios de concordância para inclusão

Critérios de concordância para exclusão

Numa escala de Likert de 4 níveis: - Média superior ou igual a 2; - Pelo menos 75% nos níveis 3 e 4; - Mais de 65% no nível 4 (concordância elevada).

Numa escala de Likert de 4 níveis: - Média inferior a 2; - Mais de 75% nos níveis 1 e 2; - Mais de 65% no nível 1 (concordância elevada).

Ausência de comentários dos peritos que indiquem ambiguidades ou falha na compreensão das questões.

No método de Delphi clássico, a primeira ronda começa com questões abertas dando liberdade aos participantes nas suas respostas (Keeney et al., 2011). Neste e-Delphi modificado foi enviado um email com o desenho da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” aos peritos selecionados e o endereço da plataforma webpage Delphi Decision Aid, onde se encontravam as questões orientadoras do e-Delphi modificado (adaptadas de Feeley & Cossette, 2015) para a primeira ronda. Os participantes tiveram que responder a 14 questões sobre os seguintes itens: a) Quem: destinatários, formadores; b) O quê: conteúdos, sequência, número/duração das sessões, plano das sessões; c) Quando: tempo; d) Onde: contexto; Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 45


e) Como: modo de implementação, equipamentos e materiais, para resposta numa escala de Likert de quatro níveis, de discordo totalmente a concordo totalmente. Os peritos tiveram também a possibilidade de agregar comentários e sugestões em cada uma das questões fechadas. Foi definido que este e-Delphi modificado teria o número de rondas necessário para obter os critérios de consenso entre os peritos. A plataforma webpage Delphi Decision Aid facilitou a sistematização do método, a garantia das considerações éticas e o tratamento estatístico dos dados. RESULTADOS Foram convidados 36 peritos nacionais e internacionais, dos quais 25 aceitaram participar neste e-Delphi modificado, o que corresponde a uma taxa de adesão de 69,4% e cuja caraterização se apresenta no Quadro 2. Quadro 2 - Caraterização dos peritos Caraterísticas

n (%)

Total Sexo

25(100,0) Feminino

16 (64,0)

Masculino

9 (36,0) M (DP)

Idade (anos)

49,84 (7,61)

Tempo de exercício profissional (anos)

26,24 (7,46) n (%)

Formação Académica

Licenciatura e pós-graduação

1 (4,0)

Mestrado

9 (36,0)

Doutoramento

14 (56,0)

Pós-doutoramento

1 (4,0)

Atividade Profissional Principal

n (%)

Enfermeiros

14(56,0) Enfermeiros EESMP

9 (36,0)

Enfermeiros EESC

4 (16,0)

Enfermeiros EESIP

1 (4,0)

Psicólogos

4 (16,0)

Pedopsiquiatra

1 (4,0)

Sociólogos

2 (8,0)

Economista e administrador(a) hospitalar

1 (4,0)

Comunicação e marketing

1 (4,0)

Investigador (sénior researcher)

1 (4,0)

Professores Ensino Básico (3º ciclo)

1 (4,0)

Ensino Superior: Enfermagem

9 (36,0)

Ensino Superior: Psicologia

4 (16,0)

Ensino Superior: Ciências Sociais

4 (16,0)

Ensino Superior: Ciências Médicas

1 (4,0)

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 46

Foram obtidos os critérios de consenso logo na 1ª ronda (Quadro 3), registando médias superiores a três e concordância nas respostas a todas as questões (100%), sendo que em 8 questões (57,1%) a concordância foi elevada. Quadro 3 - Critérios de consenso obtidos na 1ª ronda Com concordância (%) M (DP)

Pelo menos 75% nos níveis 3 e4

Mais de 65% no nível 4 (concordância elevada

1. O desenvolvimento da intervenção psicoeducacional é pertinente?

3,92 (0,27)

100,0

92,0

2. A intervenção psicoeducacional é adequada ao contexto?

3,68 (0,55)

96,0

72,0

3. A intervenção psicoeducacional é adequada para os destinatários?

3,75 (0,43)

100,0

75,0

4. Os formadores detém conhecimentos e competências facilitadores da implementação da intervenção psicoeducacional?

3,21 (0,71)

83,3

-

5. A finalidade e o objetivo geral estão corretamente formulados?

3,70 (0,69)

95,7

78,3

6. Os objetivos específicos das sessões estão corretamente formulados?

3,48 (0,58)

95,7

-

7. A intervenção psicoeducacional incluí os conteúdos necessários e adequados?

3,39 (0,57)

95,7

-

8. A sequência dos conteúdos da intervenção psicoeducacional é apropriada?

3,70 (0,46)

100,0

69,6

9. O número de sessões é adequado?

3,43 (0,58)

95,6

-

10. A duração das sessões é adequada?

3,74 (0,44)

100,0

73,9

11. Os métodos, as técnicas pedagógicas e os recursos didácticos são adequados?

3,35 (0,76)

91,3

-

12. As estratégias de avaliação são adequadas?

3,30 (0,75)

82,6

-

13. A redação do texto é clara, coerente e vai ao encontro das regras de ortografia, gramática e sintaxe?

3,70 (0,69)

95,7

78,3

14. A intervenção psicoeducacional é exequível?

3,61 (0,57)

95,6

65,2

Questão


Adicionalmente, foram analisados os comentários dos peritos em cada uma das questões, sendo possível integrar a maior parte das sugestões no desenho da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental”, das quais destacamos: a) Adequação da intervenção aos destinatários: 1) Adaptar o desenho da intervenção para adolescentes com necessidades especiais e para adolescentes noutros anos de escolaridade, por exemplo do 12º ano, pela possível ansiedade associada aos exames; 2) Integrar os pais, professores e assistentes operacionais. Estas sugestões serão tidas em consideração em estudos futuros; b) Adequação dos formadores à implementação da intervenção: 1) Constituir uma equipa interdisciplinar e interprofissional, integrando além dos enfermeiros de diferentes áreas de especialidade, psicólogos, professores e pedagogos; c) Formulação da finalidade e do objetivo geral: 1) Integrar os conceitos de literacia em saúde e literacia em saúde mental como fio condutor da intervenção; 2) Ajudar os adolescentes a aceder, usar e compreender o conteúdo e os recursos disponibilizados; d) Formulação dos objetivos específicos das sessões: 1) Clarificar os objetivos específicos e os resultados esperados, em função da perspetiva do formador e dos formandos; e) Adequação do conteúdo da intervenção. Na primeira sessão: 1) Aumentar a psicoeducação sobre a ansiedade, nomeadamente um enquadramento sobre as emoções; distinção entre medo, stress e ansiedade; a relação bidirecional entre pensamento-emoção-comportamento; a relação entre a emoção, o corpo e os mecanismos cerebrais associados aos estados de ansiedade; 2) Identificar o filme a ser visionado. Na segunda sessão: 3) Disponibilizar recursos credíveis de acesso à informação sobre as estratégias de promoção da saúde mental, prevenção, gestão da ansiedade e auto-ajuda; 4) Ensinar outros tipos relaxamento e outras estratégias como a meditação. Na terceira sessão: 5) Clarificar o acrónimo de Primeira Ajuda em Saúde Mental; 6) Disponibilizar informação sobre recursos de ajuda credíveis on-line e orientar os adolescentes em pesquisas utilizando o próprio telemóvel. Na quarta sessão: 7) Reforçar a importância da utilização de estratégias de resolução de problemas pelos adolescentes; f) Adequação do número de sessões: 1) Dividir as turmas em pequenos grupos para permitir trabalhar os conteúdos previstos com maior intensidade e possibilitar o envolvimento de todos os adolescentes;

g) Adequação dos métodos, técnicas pedagógicas e recursos didáticos: 1) Aumentar o recurso ao método ativo utilizando mais técnicas de role-playing e envolver os adolescentes no seu planeamento e construção; 2) Propor atividades e “trabalhos para casa” entre as sessões. h) Adequação das estratégias de avaliação: 1) Formular as questões de avaliação, orais ou escritas, de forma clara, simples, compreensível e de acordo com os princípios da literacia em saúde (assertividade, clareza e positividade); 2) Clarificar a avaliação de processo e de resultados; 3) Clarificar de que forma a técnica de observação possibilita a avaliação formativa e que instrumentos/grelhas são necessárias; 4) Avaliar a utilidade e a aplicabilidade da intervenção pelos adolescentes no seu dia-a-dia, por exemplo “Escreve uma carta a um amigo a falar sobre as sessões que realizaste. Conta-lhe o que aprendeste, o que achaste mais útil, em que medida te ajudaram, se recomendarias a intervenção a esse amigo e porquê”; i) Redação do texto: 1) Apresentar em cada sessão um enquadramento/justificação e a descrição pormenorizada de todos os procedimentos necessários; 2) Clarificar a expressão “perante a turma”; 3) Substituir “Quando é que os adolescentes da minha idade se sentem ansiosos?” por “O que pode levar um adolescente a sentir-se ansioso?”; 4) Acrescentar “O que sentem os adolescentes quando estão ansiosos?”; J) Exequibilidade da intervenção: 1) Refletir sobre possíveis dificuldades de implementação, de adesão e participação ao longo das 4 sessões relacionadas com a especificidade da temática, embora relevante; 2) Refletir sobre a possibilidade de quatro formadores ser um número excessivo; 3) Prever desvios e recorrências; k) Divulgação da intervenção: 1) Atribuir à intervenção uma imagem/logótipo coerentes e significativos; 2) Elaborar um manual de leitura agradável, com o planeamento individualizado de cada sessão e com a clarificação dos benefícios da intervenção para os alunos e para a comunidade escolar. Os resultados e conclusões deste processo foram devolvidos a todos os peritos. Este e-Delphi modificado permitiu avaliar a validade de conteúdo da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” e, apesar de globalmente respeitar a estrutura inicial, contribuiu significativamente para a melhoria dos conteúdos, através da integração da maior parte das sugestões dos peritos.

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DISCUSSÃO

CONCLUSÕES

Este e-Delphi modificado teve uma amostra heterogénea de participantes, com elevado nível de perícia, de diferentes áreas disciplinares e profissionais, nacionais e internacionais, com uma média elevada de anos de exercício profissional e elevado nível de formação académica. Apesar de vários autores defenderem como caraterística essencial dos métodos de Delphi a possibilidade de análise e feedback dos peritos em, pelo menos, duas rondas, neste e-Delphi modificado, obtiveram-se os critérios de consenso logo na primeira ronda, tal como noutros estudos (Jünger et al., 2017; Diamond et al., 2014). Isto pode dever-se à não utilização de questões de resposta aberta na primeira ronda como no método de Delphi clássico. Com os contributos dos estudos anteriores e atendendo ao objetivo deste e-Delphi modificado, foi possível elaborar questões fechadas recorrendo a quatro níveis de resposta numa escala de Likert, logo na primeira ronda, o que facilitou o processo de resposta por parte dos peritos, apesar destes terem a possibilidade de agregar comentários adicionais, com reflexões e sugestões, a cada questão. Enfatizamos o elevado número de sugestões dadas pelos peritos, que apesar de estabelecerem os critérios de consenso logo na primeira ronda, constituíram-se como relevantes oportunidades de melhoria para a intervenção psicoeducacional “ProLiSMental”. Esta intervenção psicoeducacional procura ir ao encontro das necessidades referenciadas na literatura, em relação à evidência de reduzida LSM sobre a ansiedade dos adolescentes (Morgado, Toletti, Loureiro, Botelho e Pereira, 2014; Loureiro, Sequeira, Rosa & Gomes, 2014; Coles et al., 2016) e à necessidade de serem desenvolvidas e avaliadas intervenções psicoeducacionais nesta área e para esta população (Morgado e Botelho, 2014). A LSM representa o conhecimento ligado à ação que pode beneficiar a própria saúde mental ou dos outros e se esta não for promovida pode contribuir para vários obstáculos à promoção da saúde mental e à prevenção da doença mental (Jorm, 2012). Níveis mais elevados de LSM reduzem o estigma, potenciam comportamentos promotores de saúde mental e, mais especificamente, promovem a capacidade dos adolescentes para aceder, compreender e utilizar eficazmente a informação sobre a saúde mental e a ansiedade e as respetivas estratégias de promoção da saúde mental; de prevenção, gestão da ansiedade e auto-ajuda; de primeira ajuda e procura de ajuda profissional, caso necessário.

O presente e-Delphi modificado permitiu validar o conteúdo da intervenção psicoeducacional de promoção da LSM sobre a ansiedade denominada “ProLiSMental” para adolescentes em contexto escolar, no 9º ano de escolaridade, através de elevados níveis de concordância dos peritos logo na primeira ronda. Sugestões adicionais contribuíram para melhorias significativas, tornando esta intervenção psicoeducacional mais adequada, precisa, intencional, sistematizada e exequível. A promoção da LSM sobre a ansiedade dos adolescentes em contexto escolar deve ser uma prioridade de saúde pública, de saúde comunitária e de saúde mental, sendo urgente o desenvolvimento de intervenções psicoeducacionais nesta área, de forma sistematizada, validada e com avaliação de efetividade. Acreditamos que a intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” aumentará os níveis de LSM sobre a ansiedade dos adolescentes, promovendo a sua capacitação para aceder, compreender e usar informação sobre a saúde mental que os ajude na prevenção, no reconhecimento e na gestão da ansiedade e os empodere na adoção de comportamentos promotores da saúde mental.

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IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Este e-Delphi modificado tem como implicações para a prática clínica, para a investigação e para a educação, a realização de estudos consequentes de avaliação da viabilidade e pilotagem da intervenção psicoeducacional “ProLiSMental” sobre a ansiedade para adolescentes, no 9º ano de escolaridade, em contexto escolar. São necessários estudos posteriores ponderando a adaptação da intervenção às necessidades dos adolescentes de outros anos letivos e à inclusão dos encarregados de educação, professores e outros profissionais do contexto escolar. Numa perspetiva integradora e de criação de redes entre os diferentes níveis de cuidados de saúde e da educação, sugerimos a constituição de equipas interdisciplinares, que vão desde os cuidados de saúde primários e comunidade escolar aos cuidados diferenciados, na área da saúde mental da infância e adolescência. Uma melhor resposta a este nível na comunidade não só promove a saúde mental dos adolescentes como permite precocemente prevenir, identificar, intervir e encaminhar no caso de perturbação mental, facilitando a articulação com os cuidados diferenciados de pedopsiquiatria.


Sugerimos também o estabelecimento de parcerias com instituições que apoiem a investigação e facilitem os processos de avaliação da efetividade das intervenções. Simultaneamente, estes estudos trazem desafios à intervenção dos enfermeiros de várias áreas de especialidade, mais especificamente dos enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica, no desenvolvimento de conhecimentos e competências de âmbito psicoeducacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Caldas de Almeida, J.M., Mateus, P., Xavier, M., e Tomé, G. (2015). Joint Action on Mental Health and Wellbeing: Towards Community-Based and Socially Inclusive Mental Health Care, European Commission – Portugal Situation Analysis. EU. Disponível em: http://spgg.com. pt/UserFiles/file/23_09_15report_JA_em_PORTUGUES.pdf Coles, M. E., Ravid, A., Gibb, B., George-Denn, D., Bronstein, L. R., & McLeod, S. (2016). Adolescent Mental Health Literacy: Young People’s Knowledge of Depression and Social Anxiety Disorder. The Journal of adolescent health: official publication of the Society for Adolescent Medicine, 58(1), 57-62. Doi: 10.1016/j.jadohealth.2015.09.017 Craig, P., Dieppe, P., Macintyre, S., Michie, S., Nazareth, I., & Petticrew, M. (2013). Developing and evaluating complex interventions: the new Medical Research Council guidance. International journal of nursing studies, 50(5), 587–592. Doi: 10.1016/j.ijnurstu.2012.09.010 Diamond, I. R., Grant, R. C., Feldman, B. M., Pencharz, P. B., Ling, S. C., Moore, A. M., & Wales, P. W. (2014). Defining consensus: a systematic review recommends methodologic criteria for reporting of Delphi studies. Journal of clinical epidemiology, 67(4), 401-409. Doi: 10.1016/j.jclinepi.2013.12.002 Donohoe, H., Stellefson, M., & Tennant, B. (2012). Advantages and limitations of e-Delphi technique: Implications for health education researchers. American Journal of Health Education, 43(2), 38-46. Doi: 10.1080/19325037.2012.10599216

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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 49


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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 50

Regulamento n.º 515/2018 de 7 de agosto de 2018. (2018). Regulamento de Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. Diário da República n.º 151/2018, Série II. Ordem dos Enfermeiros. Lisboa, Portugal. Sørensen, K., Van den Broucke, S., Fullam, J., Doyle, G., Pelikan, J., Slonska, Z., Brand, H., & (HLS-EU) Consortium Health Literacy Project European (2012). Health literacy and public health: a systematic review and integration of definitions and models. BMC public health, 12, 80. Doi: 10.1186/1471-2458-12-80 World Health Organization. (2018). Adolescent mental health. Fact sheets. Disponível em: https://www.who. int/news-room/fact-sheets/detail/adolescent-mentalhealth.


Artigo de Investigação

7

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0281

O CUIDADO ESPIRITUAL REALIZADO PELA ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA1 | Rosa Volpato2; Marislei Brasileiro; Angelica Gonçalves4; Erika Ramirez5; Gustavo Volpato6; Alisseia Lemes7; Tatiete Schonholzer8 |

ABSTRACT CONTEXTO: Esta revisão busca responder como a enfermagem tem abordado a espiritualidade no processo de cuidar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), contribuindo na compreensão das dificuldades e fatores que possam melhorar a atuação destes profissionais neste ambiente de ambivalência entre a vida e a morte dos pacientes. OBJETIVO: Verificar os artigos existentes na literatura sobre os cuidados espirituais prestados pela equipa de enfermagem em UTI. MÉTODOS: Foi utilizado o método de revisão integrativa, sendo as buscas realizadas entre 2008 a 2018 nas bases de dados Medline, Lilacs, Cinahl e no portal PubMed. Foram utilizados chaves de busca com os descritores Spirituality, Nursing, Team, Intensive Care Units, Systematization of Nursing Care e suas variações em português e espanhol, com os operadores booleanos AND e/ou OR. RESULTADOS: Foram encontrados na literatura 381 artigos, sendo que ao final do processo foram incluídos quatro artigos que descreviam os cuidados espirituais prestados pela equipa de enfermagem em UTI. Foram elencadas três categorias que tratam da temática: Processo de Enfermagem e os cuidados espirituais; b) Bem-estar espiritual; c) Desafios na assistência aos cuidados espirituais. CONCLUSÕES: A espiritualidade dentro do processo de cuidar foi relatada em poucos estudos e de forma fragmentada. Mostrou-se importante o cuidar de si para cuidar do outro, além de aspectos relacionados ao enfrentamento de desafios. A enfermagem necessita ter um olhar mais amplo do cuidado espiritual, para que possa ofertar o cuidado sistematizado e com embasamento científico. KEYWORDS: Espiritualidade; Enfermagem; Unidades de terapia intensiva; Processo de enfermagem

RESUMEN

RESUMO

“El cuidado espiritual realizado por enfermería en la unidad de cuidados intensivos”

“The spiritual care carried out by nursing in the intensive care unit”

CONTEXTO: Esta revisión busca dar respuesta a cómo la enfermería ha abordado la espiritualidad en el proceso de cuidado en la Unidad de Cuidados Intensivos (UCI), contribuyendo a la comprensión de las dificultades y factores que pueden mejorar el desempeño de estos profesionales en este ambiente ambivalente entre la vida y la muerte de los pacientes. OBJETIVO: Verificar los artículos existentes en la literatura sobre el cuidado espiritual proporcionado por el equipo de enfermería en las UCI. METODOLOGÍA: Se utilizó el método de revisión integradora con las búsquedas realizadas entre 2008 y 2018 en las bases de datos LILACS, MEDLINE, PubMed y Cinahl. Las claves de búsqueda se utilizaron con los descriptores Spirituality, Nursing, Team, Intensive Care Units, Systematization of Nursing Care y sus variaciones en portugués e español, com los operadores booleanos Y y/o OR. RESULTADOS: En la literatura, se encontraron 381 artículos y, al final del proceso, se incluyeron cuatro artículos que incluían el cuidado espiritual proporcionado por el equipo de enfermería de la UCI. Se enumeraron tres categorías que abordan el tema: a) Proceso de enfermería y el cuidado espiritual; b) Bienestar espiritual; c) Retos en la asistencia del cuidado espiritual. CONCLUSIONES: La espiritualidad dentro del proceso de atención se ha informado en pocos estudios y de forma fragmentada. Resulta importante cuidarse a sí mismo para cuidar de los demás, así como los aspectos relacionados con los desafíos que enfrenta. La enfermería necesita tener una visión más amplia del cuidado espiritual, de modo que pueda ofrecer un cuidado sistematizado y con base científica.

BACKGROUND: This review seeks to answer how nursing has addressed spirituality in the care process in the Intensive Care Unit (ICU), contributing to the understanding of the difficulties and factors that can improve the performance of these professionals in this ambivalent environment between patients’ lives and deaths. AIM: Verify the existing studies in the literature on spiritual care provided by the nursing team in the ICU. METHODS: The integrative review method was used, and the searches performed between 2008 and 2018 in the databases Medline, Lilacs, Cinahl and the PubMed portal. The search keys were used with the descriptors Spirituality, Nursing, Team, Intensive Care Units, Systematization of Nursing Care and its variations in Spanish and Portuguese, using Boolean operators AND and/or OR. RESULTS: In the literature, 381 articles were found and, at the end of the process, four articles were included that presented the spiritual care provided by the ICU nursing team. Three categories that address the issue were listed: a) Nursing process and spiritual care; b) Spiritual well-being; c) Challenges in assisting spiritual care. CONCLUSIONS: Spirituality within the attention process has been reported in few studies and of fragmented way. It was important to take care of yourself to take care of others, as well as aspects related to the facing challenges. Nursing needs to have a broader vision of spiritual care, so that it can offer systematized care scientific basis.

DESCRIPTORES: Espiritualidad; Enfermería; Unidades de cuidados intensivos; Proceso de enfermería

PALAVRAS-CHAVE: Spirituality; Nursing; Intensive care units; Nursing process Submetido em 30-12-2019 Aceite em 02-03-2020

1 Este artigo foi extraído do trabalho de conclusão de curso de especialização em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva da primeira autora sobre o tema “A enfermagem e a espiritualidade no processo de cuidar na Unidade de Terapia Intensiva: Revisão Integrativa” (2018), apresentado no Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição. 2 Enfermeira; Doutoranda em Enfermagem pela Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, São Paulo, Brasil, rosamjvolpato@gmail.com 3 Enfermeira; Docente na Pontifícia Universidade Católica de Goiás e Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição, Goiânia, Brasil, marislei@cultura.trd.br 4 Enfermeira; Docente na Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Enfermagem, São Carlos, São Paulo, Brasil, angelicamartins@ufscar.br 5 Enfermeira; Doutora em Enfermagem na Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, erika.leon3@gmail.com 6 Biomédico; Docente na Universidade Federal de Mato Grosso, Barra do Graças, Mato Grosso, Brasil, gtvolpato@gmail.com 7 Enfermeira; Doutora em Ciências pelo programa de Enfermagem Psiquiátrica da Universidade de São Paulo; Docente na Universidade Federal de Mato Grosso, alisseia@ hotmail.com 8 Enfermeira; Doutora em Enfermagem na Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública, Brasil, tatischonholzer@gmail.com Citação: Volpato, R. J., Brasileiro, M., Gonçalves, A., Ramirez, E., Volpato, G., Lemes, A., & Schonholzer, T. (2020). O cuidado espiritual realizado pela enfermagem na unidade de terapia intensiva. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 51-58. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 51


INTRODUÇÃO A espiritualidade é um termo amplo, com significado muitas vezes associado à religiosidade. A palavra espiritualidade é derivada do latim “spiritus” que tem como significado o sopro, vento ou respiração. Está ligada à subjetividade humana na busca do significado, sentido para tudo na vida, que pode ou não estar associada à religiosidade (Valente et al., 2016). Dada a sua importância, ela foi adicionada ao conceito multidimensional em saúde, juntamente com as dimensões físicas, psicológicas e sociais, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no final da década de 90 (Júnior et al., 2015). A espiritualidade está associada à qualidade de vida geral dos indivíduos, enfatizando o benefício e a importância da sua inserção para o cuidado dos usuários que se encontram em diversas condições de saúde (Ienne et al., 2018); sendo também apontada no aumento da sobrevida, diminuição da prevalência de doenças e aumento do autocuidado. Já a espiritualidade vivenciada de forma negativa pode vir associada a desfechos prejudiciais à saúde (Moreira-Almeida e Lucchetti, 2016). Entre os profissionais de saúde, a espiritualidade é mencionada como alternativa/apoio para diminuir a ansiedade (Moura et al., 2018). Portanto, o exposto nos aponta que a espiritualidade faz parte do dia-a-dia da sociedade em geral, independente da crença religiosa. A participação do profissional de enfermagem, direcionada aos aspectos espirituais, pode auxiliar no processo de cuidado centrado, integral e de qualidade a esses pacientes (Conselho Federal de Enfermagem [COFEN], 2017). Para direcionar o cuidado utiliza-se o Processo de Enfermagem (PE), sendo de suma importância para garantir uma assistência sistematizada pela equipa de enfermagem (Viana et al., 2018). Isso proporciona um cuidado efetivo, detalhado e organizado, que facilita a verificação da efetividade no tocante ao paciente e/ou ao familiar. Como os aspectos espirituais fazem parte das necessidades e preocupações dos pacientes em condições críticas de saúde e com risco iminente de morte (Braz Evangelista et al., 2016), estes sentimentos e desejos podem estar mais aflorados quando o internamento se dá na UTI. Visando responder ao nosso questionamento de como a enfermagem tem abordado a espiritualidade no processo de cuidar na UTI, esta revisão busca trazer contribuições para compreender as dificuldades e fatores que possam colaborar para melhorar a atuação destes profissionais, que vivem num ambiente que lembra muitas vezes a ambivalência entre a vida e a morte dos pacientes. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 52

Diante do exposto, o objetivo do estudo foi verificar os artigos existentes na literatura a respeito dos cuidados espirituais prestados pela equipa de enfermagem em UTI. MÉTODOS Optou-se por utilizar a revisão integrativa com o propósito de agrupar e resumir resultados disponíveis em estudos, que tratam da temática sobre a enfermagem e a espiritualidade no processo de cuidar na UTI, de forma ordenada e sistemática para contribuir com a reflexão. Para tal propósito foram utilizados os seguintes passos descritos por Cooper (1984): Formulação do problema, levantamento dos dados, avaliação dos dados coletados, análise e interpretação dos resultados. As buscas por bibliografias, realizadas no período entre 2008 a 2018 nas bases indexadas de dados Medline, Lilacs, Cinahl e no portal PubMed. Foram utilizadas estratégias de busca com os descritores Spirituality, Nursing, Team, Intensive Care Units, Systematization of Nursing Care e suas variações em português e espanhol, com os operadores booleanos AND e/ou OR. Cabe ressaltar que as chaves foram utilizadas de acordo com as características de cada base de dados. Os critérios de inclusão foram estudos que estavam disponíveis na íntegra, artigos originais, qualitativos e/ou quantitativos, nos idiomas português, espanhol ou inglês. De acordo com os critérios de inclusão, não foram considerados relatos de experiência, editoriais, cartas, artigos de opinião e de revisão, comentários, notas prévias, teses e dissertações. Os artigos selecionados (Figura 1) foram exportados para o computador e quando verificado duplicidade já eram excluídos. Posteriormente procedeu-se a leitura de títulos e resumos dos demais artigos e em seguida a leitura dos artigos na íntegra. Após essa fase, foram extraídos os principais resultados, utilizando como referência as etapas do Processo de Enfermagem (PE): a Recolha de Dados; Diagnóstico de Enfermagem; Planeamento de Enfermagem; Implementação e Avaliação) e análise de conteúdo convergente, onde se criaram categorias de análises por similaridade de conteúdo.


Figura 1 - Fluxograma ilustrativo do processo de seleção dos artigos das bases de dados Lilacs, Medline, PubMed e Cinahl.

RESULTADOS Foram encontrados na literatura 381 artigos, sendo que ao final do processo foram incluídos quatro artigos que traziam os cuidados espirituais prestados pela equipa de enfermagem em UTI (Quadro 1). Três estudos são qualitativos (dois utilizaram como técnica de pesquisa de dados a entrevista e um utilizou o método criativo sensível de Cabral) e um é quantitativo correlacional descritivo. Quanto ao país onde foram realizados os estudos, dois são do Brasil, um da Tailândia e um do Irã, sendo o ano de publicação de 2008 a 2015. Dois dos artigos estavam indexados na base de dados LILACS, um no MEDLINE e um no Pubmed. A partir da análise dos resultados descritos nos artigos, foram elencadas as categorias principais que tratam dos cuidados espirituais prestados pela equipa de enfermagem em UTI, a saber: a) Processo de Enfermagem e os cuidados espirituais; b) Bem-estar espiritual; c) Desafios na assistência aos cuidados espirituais

Revista Rev. Latinoamericana de Enfermagem Journal of clinical nursing

Lundberg & Kerdonfag, 2010 (Tailândia)

Dezorz e Crossetti, 2008 (Brasil)

Autor; Ano e País

Quadro 1 - Autores, ano de publicação, país de origem, objetivo, desenho do estudo, resultados e conclusão.

Objetivo

Desenho do estudo

Resultados

Conclusão

Compreender como a espiritualidade permeia o processo de cuidar de si e do outro, no mundo da terapia intensiva, sob o olhar das profissionais de enfermagem

Abordagem qualitativa, método criativo-sensível de Cabral, que guiou a produção e a análise das informações em nove oficinas de arte e experiências. Participaram n=9 profissionais da equipa de enfermagem, atuantes na UTI em um hospital universitário.

Este texto apresenta um dos temas emergidos na pesquisa: a espiritualidade no cuidado de si, que foi evidenciada nas práticas cotidianas que aconteciam por meio da oração, do contato íntimo com a natureza, assim como do senso de conexão com uma Força Superior que propiciava tranquilidade, bem-estar e fortalecimento à vida e ao trabalho das cuidadoras na UTI.

O autoconhecimento revelou-se como prática essencial no cuidado de si para também melhor cuidar do outro.

Explorar como os enfermeiros tailandeses em unidades de terapia intensiva de um hospital universitário em Bangkok prestam cuidados espirituais aos seus pacientes.

Enfermeiras n=30, amostragem intencional com a técnica de bola de neve. Entrevistas semiestruturadas com questões abertas, gravadas, transcritas na íntegra e submetidas à análise de conteúdo.

Cinco temas relacionados à prestação de cuidados espirituais surgiram: dar apoio mental, facilitar rituais religiosos e crenças culturais, comunicar-se com pacientes e familiares de pacientes, avaliar as necessidades espirituais dos pacientes e mostrar respeito e facilitar a participação da família nos cuidados. Diversas formas de melhorar o cuidado espiritual foram sugeridas pelos enfermeiros.

A espiritualidade foi uma parte importante do cuidado para os enfermeiros ao atender as necessidades de seus pacientes e das famílias dos pacientes. Portanto, a educação em enfermagem deve melhorar a compreensão e a consciência dos enfermeiros sobre questões espirituais e preparálos para responder às necessidades espirituais humanas.

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 53


Rev. enferm. UERJ Journal of Caring Sciences,

Brito et al., 2013 (Brasil) Azarsa et al., 2015 (Irã)

Investigar a compreensão de enfermeiros sobre conceitos de espiritualidade e de necessidades espirituais do paciente sem possibilidades terapêuticas.

Pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, n=7 enfermeiras de UTI em um hospital público. As entrevistas foram gravadas e tratados qualitativamente mediante a técnica de análise de conteúdo.

As categorias emergidas do material empírico foram: espiritualidade na visão de enfermeiros; e necessidades espirituais dos pacientes sem possibilidades terapêuticas: compreensão de enfermeiros.

A partir da compreensão da dimensão espiritual, os profissionais passam a valorizá-la na prática clínica, ajudando o paciente a enfrentar melhor o processo de terminalidade.

Avaliar o bemestar espiritual, a atitude em relação cuidado espiritual e sua relação com a competência do cuidado espiritual entre enfermeiros.

Estudo descritivo correlacional, n=108 enfermeiros atuantes nas UTI’s, em 2 hospitais do Irã. Foram utilizados: formulário de dados demográficos. Três escalas: Escala de BemEstar Espiritual, Espiritualidade e Escala de Avaliação de Cuidados Espirituais e Escala de Competência de Cuidado Espiritual. Os dados foram analisados pelo SPSS.

A pontuação média do bem-estar espiritual= 94,45 (14,84), a perspectiva do cuidado espiritual= 58,87 (8,67) e a competência do cuidado espiritual= 98,51 (15,44). Regressão linear mostrou uma variação de 0,42 entre as pontuações de competência no cuidado espiritual explicadas pelo bemestar espiritual (saúde religiosa, saúde existencial) e aspectos da perspectiva do cuidado espiritual (espiritualidade, cuidado espiritual, atendimento personalizado). A competência do cuidado espiritual teve uma relação positiva com o bem-estar espiritual e a perspectiva do cuidado espiritual.

Devido à natureza da enfermagem e importância da interação próxima enfermeiros com pacientes em UTIs, maior bem-estar espiritual dos enfermeiros e quanto maior sua atitude positiva em relação ao cuidado espiritual, mais eles podem fornecer cuidados aos seus pacientes

DISCUSSÃO Processo de Enfermagem (PE) e os Cuidados Espirituais A prática do cuidado em enfermagem diário é embasado em funções sistematizadas exercidas pelos enfermeiros. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN – Brasil, Resolução 358/2009), o PE é uma ferramenta de organização da assistência de enfermagem, disposta nas seguintes fases: Recolha de Dados; Diagnóstico de Enfermagem; Planeamento de Enfermagem; Implementação e; Avaliação de Enfermagem (COFEN, 2009). Isso demarca o enfermeiro como um profissional relevante e autónomo para realizar o cuidado. Observamos que os artigos incluídos no estudo não apresentam todas as fases desse processo bem delineadas. Isso foi verificado por Viana et al. (2018), que aponta a execução fragmentada do PE devido às falhas no conhecimento científico e falta de tempo ou capacitação. Além disso, o cuidado é realizado desvinculado da sistematização da assistência, dificultando a sua percepção e continuidade deste cuidado. Entretanto, foi possível identificar recolha de dados e diagnóstico de enfermagem nos estudos de Brito et al. (2013) e Lundberg et al. (2010). Estes autores relataram que a comunicação verbal (com o paciente ou com a família) ou não-verbal (símbolos que remetem a crenças religiosas) são os principais meios de identificação Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 54

das necessidades e sofrimento espirituais dos pacientes na UTI. Ao realizar o cuidado espiritual, o enfermeiro tem que apresentar uma destreza eficaz durante a comunicação, pois a sua importância é ímpar para a identificação das necessidades espirituais e o sofrimento espiritual (Caldeira & Timmins, 2017). Para que ocorra a identificação adequada das necessidades dos pacientes, o enfermeiro precisa ter interesse em conhecê-lo e aplicar o conhecimento e as habilidades para realizar o PE (Sousa et al., 2018). Este é um processo constante, caracterizado pela pesquisa de informações e observação dos usuários e familiares, determinando assim, as intervenções das suas necessidades espirituais (Caldeira & Timmins, 2017). Concernente a isso, observa-se a importância de uma minuciosa pesquisa de informações, pois há indícios de forte correlação entre diagnóstico de enfermagem e os resultados positivos das intervenções propostas, reforçando assim a necessidade de um amplo conhecimento científico na prática da enfermagem (Leoni-Scheiber et al., 2020). Após a pesquisa de informações, é realizado o planeamento e a implementação das ações de enfermagem, que dependem da elaboração de intervenções para alcançar os resultados. Neste contexto, o estudo de Lundberg et al. (2010) apresentou mecanismos para proporcionar alivio espiritual para os pacientes, sendo a gravação de orações para que os pacientes pudessem


ouvir em diversos momentos do seu internamento, a escuta da família e dos pacientes sobre a espiritualidade, estar ao lado, tocar ou segurar a mão do paciente e o amparo as famílias. Cabe ressaltar que a morte pode ser vivenciada de maneiras distintas, e compete ao profissional a imparcialidade durante a assistência (Brasileiro e Brasileiro, 2017). Porém, a espiritualidade é uma importante ferramenta para auxiliar na resiliência nestes momentos de difícil enfrentamento (Braz Evangelista et al., 2016). Os autores Brito et al. (2013) e Lundberg et al. (2010) enfatizam também a importância do Planeamento ser realizado por uma equipa multidisciplinar, para que os cuidados prestados contemplem as necessidades físicas, psicossociais e espirituais dos pacientes. Os profissionais que atuam na UTI apresentam competências, um alto grau de conhecimento e o comprometimento para desempenhar o apoio continuado para com a família e o paciente (Gulini et al., 2017). Os membros desta equipa devem estar atentos para o cuidado espiritual, e desta forma compartilhar informações na elaboração para o plano de cuidado de forma coletiva e não-fragmentada. A última fase do PE é a avaliação e, apesar dos estudos não trazerem claramente essa etapa, foram identificados relatos de profissionais que tiveram um retorno positivo de familiares de pacientes a respeito dos cuidados espirituais prestados pela equipa. Outros profissionais acreditam na importância do desenvolvimento de ferramentas de avaliação para as necessidades espirituais (Lundberg et al., 2010). É apontado carência de instrumentos que auxiliem na avaliação e qualificação do cuidado individualizado após sua implementação (Barros et al., 2015). Na avaliação do cuidado espiritual, Braz Evangelista et al. (2016) assinalam que 73 instrumentos apresentam este questionamento, e a maioria são voltados para o cuidado de pessoas com câncer e/ou cuidados paliativos, destacando que cerca de 10%, ou seja, nove instrumentos passaram por adaptação transcultural. As UTIs possuem características de dinâmica de trabalho diferenciadas de outros setores hospitalares (pacientes em estado críticos e altas densidades tecnológicas) e geralmente os cuidados (diagnóstico de enfermagem) acabam sendo focados nas necessidades psicobiológicas para manutenção da vida (Sousa et al., 2018). No entanto, a espiritualidade permeia o ambiente da UTI, auxiliando na aceitação do quadro da doença, diminuindo o sofrimento e trazendo conforto, tanto para a família e o paciente (Vale e Líbero, 2017). Mesmo que o cuidado espiritual, ainda hoje, não seja visto pela enfermagem como um cuidado básico em saúde.

O enfermeiro necessita entender o significado de espiritualidade para saber o que observar e questionar durante a consulta, e a aquisição de conhecimento em relação a amplitude espiritual existente, para que assim, reflita em uma assistência espiritual efetiva e que atenda às necessidades dos pacientes e familiares (Braz Evangelista et al., 2016). Bem-estar espiritual Os estudos trazem a concepção de bem-estar próprio para prestar cuidados aos outros Dezorzi et al., 2008; Azarsa et al., 2015). A profissão da enfermagem possui teorias, sendo uma dessas a Teoria das necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta. Essa teoria define que o enfermeiro deve garantir cuidados em todas as suas dimensões, sendo gente que cuida de gente, não apenas como paciente e sim como ser humano (Barros et al., 2015). Porém, muitas vezes o cuidar de si entre os profissionais de enfermagem não é algo rotineiro. Isto é evidenciado por rotinas estressantes e de sobrecarga de trabalho, com infortúnios da dor e de sofrimento, gerando cansaço físico e mental (Salimena et al., 2016). Moura et al. (2018) apontaram que 30% dos profissionais de saúde apresentavam algum grau de ansiedade, associado à pressão exercida no trabalho, dificuldades de dormir e tratamento para ansiedade. Nesse sentido, é necessário recordar que enfermeiro faz parte de uma equipa multiprofissional, onde todos são responsáveis pela assistência espiritual e apoio aos pacientes e familiares (Caldeira & Timmins, 2017). Esse compartilhamento da assistência pode ser o fator para diminuir a carga de trabalho sobre os enfermeiros. Os trabalhadores da saúde que atuam na UTI apresentam maior risco de desenvolver Burnout. Ho et al. (2018) também destacam a necessidade investigar quem são estes profissionais e como o cuidado espiritual pode auxiliá-los. Isso tornase essencial para melhorar a oferta do cuidado por estes indivíduos. Os estudos de Dezorzi et al. (2008) e Azarsa et al. (2015) descrevem que os hábitos de autocuidado (estar em contato com a natureza, acreditar em uma força superior, realizar práticas de orações e compartilhar com colegas suas experiências) ajudam na busca de forças para lidar com o ambiente intenso com que trabalham. Além disso, ajudam também na ampliação da sensibilidade para perceber as necessidades espirituais dos pacientes (Dezorzi et al., 2008). Os profissionais de enfermagem estão preparados para identificar tais necessidades, mas primeiramente eles precisam estar preparados para identificar as suas próprias necessidades, e assim poder realizar as ações de cuidado espiritual para com o outro (Ienne et al., 2018). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 55


Azarsa et al. (2015) apontam que o bem estar espiritual entre os enfermeiros está diretamente correlacionado ao aumentando da atitude positiva em relação à espiritualidade e ao cuidado espiritual na enfermaria de UTI. Corroborando com esta pesquisa, Ienne et al. (2018) mostram que enfermeiros que apresentavam maior conexão espiritual em momentos difíceis lidam melhor com o estresse, sentem-se confortados e bem no dia-dia devido à contribuição da fé. Estes fatores estão relacionados com a vontade de conversar sobre espiritualidade com o paciente. Um fator importante é o cuidar de si para cuidar do outro, sendo representado por questões que transcendem ter saúde ou equilíbrio no ambiente de trabalho. Está ligada ao autoconhecimento, qualidade de vida, além do aumento da sensibilidade para com o outro, colocando- se na posição de sujeito e não apenas objeto (Salimena et al., 2016). Sendo assim, o bem-estar físico e espiritual do profissional de saúde capacita-o a um cuidado mais abrangente ao paciente. Portanto, a enfermagem pode auxiliar o paciente a alcançar o seu bemestar, mesmo no momento de enfermidade, através do cuidado espiritual adequado de forma individual para contemplar as suas necessidades (Caldeira & Timmins, 2017). Desafios na assistência aos cuidados espirituais Uma revisão narrativa apontou que existem poucos estudos que abordam as necessidades espirituais dos pacientes nas UTIs, mesmo sendo evidente que estes pacientes e seus familiares carecem receber este cuidado. Os profissionais de saúde devem ofertar o cuidado para amparar os familiares e o indivíduos no enfrentamento das condições críticas de saúde (Ho et al., 2018). Esta situação fica clara nos relatos emergidos nos estudos de Brito et al. (2013) e Lundberg et al. (2010), que enfatizam a dificuldade ou despreparo dos profissionais para perceber as necessidades ou sofrimentos espirituais de pacientes, principalmente daqueles que estão impossibilitados de expressar verbalmente suas angústias. Cabe à equipa conscientizar-se dos desafios e buscar meios para transpor as barreiras de comunicação e permitir a humanização da assistência (Brasileiro e Brasileiro, 2017). Portanto, os enfermeiros têm que melhorar o raciocínio clínico e habilidades no conhecimento da espiritualidade, mesmo sendo subjetiva (Ienne et al., 2018). Já o estudo de Azarsa et al. (2015) mostra que os profissionais de enfermagem possuem um nível de conhecimento adequado para poder prestar cuidados espirituais. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 56

Algumas variáveis que interferem na execução do PE são destacadas, como estruturas físicas, carga de trabalho e défice de recursos humanos. Isso pode acarretar no distanciamento na utilização do PE, que muitas vezes não consegue ultrapassar os limites do conhecimento teórico para a prática (Barros et al., 2015). Neste sentido, outro estudo aponta que a falta de tempo, devido a uma rotina de trabalho intensiva, pode prejudicar a execução da prestação do cuidados espirituais, pois delimita ato de ouvir e observar (Lundberg et al., 2010). Outro ponto de desafio para os profissionais é a comunicação com os pacientes, em virtude das condições críticas e equipamentos que não permitem a verbalização e, sendo muitas vezes eles próprios, analfabetos, não permitindo a comunicação através da escrita. A comunicação com a família também se pode tornar um desafio pela não-aceitação da condição crítica do seu familiar, interrompendo assim a comunicação com a equipa de enfermagem (Lundberg et al., 2010). Um fator primordial na assistência seria conseguir aproximar essas famílias da assistência prestada, pois é de grande relevância para o planeamento e desenvolvimento de ações durante o cuidado realizado na UTI (Brasileiro e Brasileiro, 2017). Outro fator relatado é a formação de futuros profissionais de enfermagem, uma vez que possuem conhecimentos insuficientes a respeito dos cuidados espirituais. Uma sugestão seria a inserção de disciplinas e cursos para refinar tais cuidados (Lundberg et al., 2010; Azarsa et al., 2015). Assim se percebem que existem lacunas deste conhecimento e/ou da prática de como identificar as necessidades espirituais e de como implementar tais cuidados, sendo considerado um desafio, preocupando tanto graduandos como profissionais em atuação (da Silva et al., 2015). Para Ienne et al. (2018) há a necessidade de inserir o tema da espiritualidade, não apenas no currículo da graduação, mas também na prática da docência, favorecendo a prática do enfermeiro de forma integral. Isto proporcionaria ao enfermeiro reconhecer as necessidades do paciente para a elaboração de diagnósticos específicos e o devido registro para a continuidade do cuidado, bem como a identificação detalhada do trabalho realizado pelo enfermeiro. Porém, segundo Timmins & Caldeira (2017) a capacitação pode não gerar um conhecimento que abarque as complexidades da espiritualidade, limitando a eficácia do cuidado. Os desafios apontados nos estudos merecem ter um olhar diferenciado, pois é através da identificação que podemos buscar soluções para melhorar a assistência das necessidades espirituais dentro da UTI.


Para garantir uma assistência individualizada aos pacientes que se encontram fragilizados no ambiente de cuidados intensivos, há necessidade de aprimoramento e a inter-relação entre teoria e prática, visando garantir a compreensão de condições biopsicossociais e espirituais. CONCLUSÕES Diante dos resultados apresentados, conclui-se que a espiritualidade dentro do cuidado sistematizado em UTI foi identificada em poucos estudos, onde foram extraídos das falas dos profissionais apenas etapas fragmentadas do processo de enfermagem. Evidenciou-se a importância do profissional apresentar uma atitude positiva quanto à espiritualidade e auto cuidado para prestar os cuidados a outras pessoas. Alguns desafios ainda devem ser enfrentados, seja durante a formação como profissional ou quanto a situações de recursos estruturais e humanos disponíveis para a atuação no ambiente de trabalho. Portanto, foi possível desvelar o contexto representativo e atual do cuidado espiritual prestado pela enfermagem na UTI. Isso permite que a enfermagem possa ter uma visão ampla de que a espiritualidade permeia toda a forma de cuidado oferecido em diversos ambientes aos pacientes e seus familiares. Considera-se como limitação a não apresentação do nível de evidência dos estudos utilizados para compor esta revisão, o que poderia incorporar maior robustez aos achados. Todavia, como não foram encontrados muitos estudos, utilizar esses instrumentos de avaliação poderia limitar os resultados da realidade da assistência prestada no âmbito dos cuidados espirituais. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Esta revisão é uma ferramenta que traz conhecimentos para os enfermeiros que desejam aprimorar os cuidados na prática sobre saúde mental (espiritualidade), voltada para os pacientes em UTI. Os achados desta revisão chamam atenção para a necessidade de disseminar e sensibilizar o cuidado espiritual entre as equipas de enfermagem. Para que isso ocorra com mais eficácia, as universidades devem atuar como facilitadoras, inserindo a abordagem do cuidado espiritual em algumas disciplinas, instruindo essa temática de forma holística e fundamentada. Assim, a espiritualidade será inserida como um cuidado vital para a saúde, sendo a saúde do indivíduo, da família e/ou comunidade.

Um papel das universidades é levar o conhecimento científico para ser aplicado na clínica, seja por meio de uma maior capacidade destas na oferta dos cursos que ministram, na realização de palestras e também na possibilidade de poderem continuar a dar aos profissionais de enfermagem uma formação continua ao longo da sua carreira activa. Os gestores também necessitam estar atentos aos fatores gerenciais de pessoal e estrutura, que possam dificultar a implementação deste e outros cuidados no ambiente de UTI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Azarsa, T., Davoodi, A., Markani, A. K., Gahramanian, A., & Vargaeei, A. (2015). Spiritual wellbeing, attitude toward spiritual care and its relationship with spiritual care competence among critical care nurses. Journal of Caring Sciences, 4(4), 309. Doi: 10.15171/jcs.2015.031 Barros, A. L. B. L. D., Sanchez, C. G., Lopes, J. D. L., Dell’Acqua, M. C. Q., Lopes, M. H. B. D. M., Silva, R. D. C. G., e Ortiz, D. C. F. (2015). Processo de enfermagem: Guia para a prática. Conselho Regional de Enfermagem - SP. Disponível em: https://portal.coren-sp.gov.br/ sites/default/files/SAE-web.pdf Brasileiro, M. D. S. E., e Brasileiro, J. E. (2017). O medo da morte enquanto mal: uma reflexão para a prática da enfermagem. Revista de Ciências Médicas, 26(2), 77-92. Doi: 10.24220/2318-0897v26n2a3582 Braz Evangelista, C., Limeira Lopes, M. E., da Costa, G., Fátima, S., de Souza Batista, P. S., Batista, V., & de Magalhães Oliveira, A. M. (2016). Palliative care and spirituality: An integrative literature review. Revista Brasileira de Enfermagem, 69(3), 591-601. Doi: 10.1590/00347167.2016690324i Brito, F. M., Costa, I. C. P., de Andrade, C. G., de Lima, K. F. O., da Costa, S. F. G., e Lopes, M. E. L. (2013). Espiritualidade na iminência da morte: estratégia adotada para humanizar o cuidar em enfermagem. Revista Enfermagem UERJ, 21(4), 483-489. Disponível em: https:// www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/10013 Caldeira, S., & Timmins, F. (2017). Implementing spiritual care interventions. Nursing Standard, 31(34), e10313. Doi: 10.7748/ns.2017.e10313 Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 57


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Artigo de Revisão

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Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0282

A VISITA DOMICILIÁRIA NA TRANSIÇÃO HOSPITAL-DOMICÍLIO À PESSOA COM DOENÇA MENTAL – UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA | Soraia Ferreira1; Lino Ramos2 |

RESUMO CONTEXTO: A mudança de um paradigma hospitalocêntrico para um de raiz comunitária vem sendo desde há vários anos contemplada como prioritário. No entanto, continua a existir uma escassa resposta de estruturas necessárias de apoio às pessoas com doença mental e seus cuidadores. O processo de vivência da transição hospital-domicílio pode expor a pessoa a um risco potencial de desenvolver um processo de adaptação desajustado, pelo que a visita domiciliária pode ser um recurso interessante, na medida em que promove a acessibilidade e a aceitabilidade, podendo influenciar positivamente o envolvimento das pessoas e dos seus cuidadores no tratamento destas patologias. OBJETIVO: Identificar os benefícios da visita domiciliária às pessoas com doença mental na continuidade de cuidados hospital-domicílio. MÉTODO: Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, recorrendo-se a pesquisa nas bases de dados EBSCO e B-ON e no RCAAP, tendo resultado em cinco artigos compreendidos no horizonte temporal 2013-2018. RESULTADOS: A visita domiciliária permite manter o contacto da pessoa com doença mental e os cuidados de saúde, assegura a continuidade de cuidados, demonstrando ter benefícios quer a nível da sintomatologia, da funcionalidade ou da qualidade e vida das pessoas e das suas famílias, reduzindo o desperdício de recursos consumidos durante os reinternamentos por causa das recaídas, além de promover igualmente a sua inserção na comunidade. CONCLUSÕES: A visita domiciliária deve ser explorada no que concerne aos cuidados a pessoas com doença mental, por ser um recurso que pode diminuir algumas das barreiras identificadas na continuidade de cuidados pós-hospitalar e pelos benefícios que acarreta. PALAVRAS-CHAVE: Visita domiciliar; Transtornos mentais; Continuidade de assistência ao paciente; Enfermagem psiquiátrica

RESUMEN

ABSTRACT

“La visita a domicilio em la transición hospital-domicilio a la persona com enfermedad mental – una revisión integrativa de la literatura”

“The home visit in the hospital-domicile transition of the person with a mental disorder – an integrative review of the literature”

CONTEXTO: El cambio de un paradigma centrado en el hospital a uno basado en la comunidad ha sido considerado una prioridad durante varios años. Todavía hay poca respuesta de las estructuras de apoyo necesarias para las personas con enfermedades mentales y sus cuidadores. El proceso de experimentar la transición entre el hospital y el domicilio puede exponer a la persona a un riesgo potencial de desarrollar un proceso de adaptación inapropiado, por lo que la visita a domicilio puede ser un recurso interesante, ya que promueve la accesibilidad, la aceptabilidad y la participación de las personas y sus cuidadores en el tratamiento de estas patologías. OBJETIVO: Identificar los beneficios de las visitas domiciliarias a personas con enfermedades mentales en la continuidad de la atención hospitalaria domiciliaria. METODOLOGÍA: Se llevó a cabo una revisión integrativa de la literatura utilizando las bases de datos de EBSCO y B-ON y RCAAP, lo que resultó en la inclusión de cinco artículos en el horizonte temporal 2013-2018. RESULTADOS: La visita domiciliaria asegura la continuidad de la atención, demuestra beneficios en términos de síntomas, funcionalidad o calidad de vida de las personas y sus familias, reduce el derroche de recursos consumidos, y también promueve su integración en la comunidad. CONCLUSIONES: Se deben explorar las visitas domiciliarias en relación con la atención de las personas con enfermedades mentales, ya que se trata de un recurso que puede reducir algunas de las barreras identificadas en la continuidad de la atención poshospitalaria y los beneficios que aporta.

DESCRIPTORES: Visita domiciliaria; Trastornos mentales; Continuidad de la atención al paciente; Enfermería psiquiátrica

BACKGROUND: Changing the hospital-centered to a community-based care paradigm has been seen as a priority for a long time. However, there still is a limited response from all the organizations needed to help and support patients with Mental Illnesses and their caretakers. The hospital-home transition and how the patients cope with it might lead to maladjusted adaptation mechanisms. As such, home visits are an important tool that promote accessibility and acceptability, positively influencing patients’ and their caretakers’ involvment in the treatment of the underlying disease. AIM: To understand the benefits that home visits can have in promoting the continuity of hospital-home care for the patients with mental illness. METHODS: An integrative literature review was conducted using the EBSCO and B-ON databases and RCAAP, resulting in five articles included in the 2013-2018 time horizon. RESULTS: The home visit allows the person with mental illness to maintain contact with the health care system, ensures continuity of care, demonstrating benefits in terms of symptoms, functionality or quality of life and life of individuals and their families, reducing the waste of resources consumed during readmissions due to relapses, and also promoting their integration into the community. CONCLUSIONS: Home visits should be explored with regard to the care of people with mental illness, as this is a resource that can reduce some of the barriers identified in the continuity of post-hospital care and the benefits it brings.

KEYWORDS: House calls; Mental disorders; Continuity of patient care; Psychiatric nursing Submetido em 30-09-2019 Aceite em 23-12-2019

1 Estudante no Instituto Politécnico de Setúbal, Escola Superior de Saúde, Campus do Instituto Politécnico de Setúbal, Setúbal, Portugal, soraia.ferreira@estudantes.ips.pt 2 Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Setúbal, Escola Superior de Saúde, Setúbal, Portugal, lino.ramos@ess.ips.pt Citação: Ferreira, S., & Ramos, L. (2020). A visita domiciliária na transição hospital-domicílio à pessoa com doença mental – uma revisão integrativa da literatura. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 59-67. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 59


INTRODUÇÃO As perturbações psiquiátricas e os problemas de saúde mental tornaram-se a principal causa de incapacidade e uma das principais causas de morbilidade, nas sociedades atuais (Direção Geral de Saúde [DGS], 2017), pois causam geralmente sofrimento psíquico e perturbam as capacidades relacionais e produtivas de quem delas padece (Almeida, 2018). Segundo este autor, os cuidados de saúde mental na comunidade devidamente organizados com os cuidados de internamento prestados em hospitais gerais podem assegurar um acompanhamento efetivo à quase totalidade dos casos de doença mental grave e apoiar os serviços de cuidado primários a gerir os casos de gravidade ligeira a moderada. De acordo com a “Pirâmide da organização de serviços para uma combinação ótima de serviços para a saúde mental” (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2009), no que concerne a cuidados formais, estes devem ser maioritariamente serviços de cuidados primários para a saúde mental. A desinstitucionalização e o desenvolvimento de cuidados na comunidade são objetivos fundamentais nas políticas da maioria dos países Europeus (DGS, 2017). Os cuidados de saúde primários (CSP) que integrem a saúde mental trazem bastantes benefícios, tendo a OMS (2009) definido razões que o validam, nomeadamente afirmando que os CSP otimizam o acesso das pessoas que necessitam de serviços de saúde mental mais perto das suas casas possibilitando a manutenção das suas atividades quotidianas, assim como a monitorização e gestão a longo-prazo de indivíduos afetados. No Decreto-Lei nº 35/99, de 5 de Fevereiro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 304/2009, de 22 de outubro, vem definido sumariamente a organização dos serviços de saúde mental tendo como modelo de referência o comunitário. Em Portugal, a reorganização dos serviços e reformulação do quadro normativo, tem privilegiado a reabilitação, a reinserção e a integração da saúde mental no sistema de saúde, aparentemente sem grande sucesso (Palha & Costa, 2015). O Decreto-Lei n.º 8/10 de 28 de janeiro de 2010 veio criar um conjunto de unidades e equipas de cuidados continuados integrados de saúde mental (CCISM), destinado às pessoas com doença mental grave. No entanto, somente decorridos sensivelmente 7 anos desde a publicação deste decreto-lei é que foram definidos os contratos-programa a celebrar com as Unidades e Equipas de Saúde Mental, no âmbito da RNCCI (Despacho n.º 1269/17 de 6 de fevereiro de 2017).

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Face à escassa resposta de estruturas necessárias de apoio às pessoas com doença mental, os “cuidadores familiares transformaram-se no lastro de sustentação dos programas de saúde mental comunitária” (Almeida, Almeida e Santos, 2010, p.95). É destacado que estes cuidadores podem sofrer de uma elevada sobrecarga objetiva (alteração dinâmica familiar, dificuldades laborais, sociais e financeiras) e subjetiva (sentimentos associados à vivência intrapsíquica desta sobrecarga, com frequentes preocupações com a segurança e futuro dos seus familiares), uma vez que não foram criados mecanismos suficientes que ajudassem a alivar a sua sobrecarga (Xavier e Pereira, 2008 cit in Almeida, Almeida e Santos, 2010). Os mesmos autores (p.111) sugerem o desenvolvimento de “políticas públicas e práticas de atendimento comunitário sensíveis às necessidades dessa população, tais como, a implantação de grupos psico-educativos, visitas domiciliárias regulares e o desenvolvimento de estratégias para enfrentar a sobrecarga que tenha em conta as especificidades de cada família”. Assim, não somente as pessoas com doença mental, mas também os seus cuidadores, devem ser encarados como parceiros importantes na prestação de cuidados de saúde mental, incentivados a participar nos mesmos e a receber informação e educação, se necessário (Comissão Europeia [CE], 2016). A acessibilidade é, em todo o mundo, um dos principais problemas no tratamento das doenças mentais e a aceitabilidade também se constitui como outro fator importante na utilização de serviços de saúde mental, uma vez que serviços mais estigmatizantes como os serviços de psiquiatria podem influenciar negativamente a decisão de procurar ou manter cuidados (Almeida, 2018). Assim, a visita domiciliária (VD) pode ser um recurso interessante, na medida em que promove a acessibilidade e a aceitabilidade, podendo influenciar positivamente o envolvimento das pessoas e dos seus cuidadores no tratamento destas patologias. Assim, procurar-se-á compreender quais os benefícios decorrentes das visitas domiciliárias a pessoas com doença mental e que estratégias devem ser implementadas para o seu sucesso. MÉTODOS Uma revisão integrativa da literatura (RIL) tem como objetivos analisar dados que são extraídos de estudos anteriores e sintetizá-los, fornecendo uma compreensão mais abrangente sobre um determinado fenómeno, constituindo-se assim como um método que proporciona a


síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (Souza, Silva & Carvalho, 2010), contribuindo para o aperfeiçoamento das práticas baseadas na evidência em Enfermagem. A presente RIL pretende apurar qual a evidência científica existente e de qualidade acerca dos benefícios da VD às pessoas com doença mental e foi regida pelas seguintes etapas: formulação do problema/questão de investigação; extração de resultados; discussão/análise e interpretação dos dados e conclusão. A estratégia PICO, que representa um acrónimo para Patient (participantes/problema), Intervention (intervenção), Control (comparação, contexto), Outcomes (resultados) foi a utilizada para a formulação da questão de investigação que se pretende estudar, tal como evidenciado na seguinte tabela (tabela 1). Tabela 1 - Critérios utilizados para a formulação da questão de investigação P

Participantes

Quem foi estudado?

Pessoas adultas com doença mental

I

Intervenção

O que foi feito?

Visita domiciliária

C

Contexto

Local estu- Domicílio após dado? internamento no hospital – continuidade de cuidados

O

Outcomes

Resultados, Efeitos ou Consequências?

Benefícios da VD nas pessoas com doença mental

DESCRITORES: Adults with mental disorders or mental illness Home visits by nurses Hospital to home Benefits or advantages or positive effects

Foi então estabelecida a seguinte questão de investigação: “Quais os benefícios da visita domiciliária para a continuidade de cuidados hospital-domicílio às pessoas com doença mental?”, e na sequência da mesma, definido como objetivo principal: “Identificar os benefícios da visita domiciliária às pessoas com doença mental na continuidade de cuidados hospital-domicílio”. A pesquisa de evidência científica decorreu nas bases de dados EBSCO e B-ON nas revistas CINAHL® Plus, Nursing & Allied Health Collection, Cochrane Plus Collection, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, MedicLatina e MEDLINE® e no RCAAP (Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal), com recurso aos seguintes descritores de pesquisa: “Adults with mental disorders or mental illness”, “Home visits by nurses”, “Hospital to home” e “Benefits or advantages or positive effects” com a inclusão do operador boleano/frase “and”.

De modo a poder dar resposta à questão de investigação colocada e de modo a orientar a pesquisa realizada foram definidos critérios de inclusão e de exclusão. Como critérios de inclusão estabeleceram-se os estudos que dessem resposta à questão de investigação referida anteriormente; estudos disponíveis em base de dados com texto na íntegra e revistos por especialistas; estudos compreendidos temporalmente no período decorrido entre janeiro de 2013 e novembro de 2018; estudos nas línguas inglesa, portuguesa ou espanhola; estudos empíricos de natureza qualitativa e quantitativa, assim como revisões sistemáticas e reflexões teóricas. Quanto ao tipo de participantes, os critérios de inclusão estabelecidos são estudos que contemplem pessoas adultas com doença mental no domicílio e/ou profissionais de saúde que realizem visitas domiciliárias a pessoas com doença mental, preferencialmente enfermeiros. Como critérios de exclusão são definidos os estudos que contemplem na sua população crianças e adolescentes (pessoas com idade inferior a 18 anos), pessoas com doença mental que não se encontrem no domicílio. Quando colocados os critérios de inclusão e exclusão na base de dados EBSCO e no RCAAP não foram encontrados quaisquer resultados, enquanto na base de dados B-On surgiram 28 artigos. Destes, através da leitura do título, foram excluídos 17 artigos, uma vez que a população desses estudos não eram pessoas com doença mental. Assim, restaram 11 artigos, dos quais 2 foram eliminados pela leitura do resumo e 4 foram eliminados após a leitura integral do artigo, pois embora a população desses estudos padecesse de uma doença mental, não se encontravam a residir no seu domicílio. Assim, foram excluídos 23 artigos que não iam ao encontro da questão de investigação colocada. Totalizaram-se assim 5 artigos que foram incluídos nesta revisão integrativa. Todos apresentam um nível de evidência fidedigno segundo Joanna Briggs Institute (JBI >50%), após terem sido aplicadas as grelhas correspondentes a cada artigo segundo os níveis de evidência JBI – 2 estudos nível de evidência 2c (estudos quasiexperimental); 2 estudos nível de evidência 3 (estudos qualitativos); e 1 estudo nível de evidência 4a (revisão sistemática de estudos descritivos). A extração dos resultados da amostragem total, através dos quais foi possível realizar a discussão de resultados, encontram-se esquematizados conforme tabela 2. Esta extração de dados foi realizada a partir de grelhas de extração de dados do Joanna Briggs Institute (The Joanna Briggs Institute, 2013). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 61


Não foi assegurada uma revisão independente, uma vez que apenas os autores deste artigo foram responsáveis pela mesma. RESULTADOS Tabela 2 - Extração de resultados IDENTIFICAÇÃO DO ESTUDO (REFERÊNCIA)

OBJETIVO DO ESTUDO; DESENHO; Nº E TIPO DE PARTICIPANTES

RESULTADOS

CONCLUSÕES

Chang, Y. & Chou, F. (2015). Effects of Home Visit Intervention on Re-hospitalization Rates in Psychiatric Patients. Community Ment Healt. Springer Science+Business Media. 51, pp. 598605.

- Examinar o impacto da visitação domiciliária na taxa de reinternamentos e nos custos médicos em pessoas com esquizofrenia e outras perturbações psiquiátricas.

- Em relação ao número de pessoas que foram rehospitalizadas existiu uma enorme diferença entre os grupos: nas pessoas com VD’s <4 ou sem VD’s 62,57% foram reinternadas; nas pessoas com 4 ou + VDs a percentagem ficou-se nos 10,61. - A taxa de reinternamentos diminuiu assim de 42,1% para 11,6% após VD’s; - O número de dias de hospitalização e os custos associados foram menores no grupo com 4 ou + VD’s; - Género e estado civil não contribuíram para a taxa de reinternamentos e o número total de dias de internamento; - Pessoas mais idosas tiveram menor taxa de reinternamento, mas mais dias de hospitalização; - Pessoas com mais de 12 anos de escolaridade tiveram menor taxa de re-hospitalização, dias de hospitalização mais curtos e menores custos associados; - Tipo de intervenção: avaliação de sintomas; efeitos secundários da medicação; administração da medicação oral ou de longa duração; obter maior compreensão da realidade da pessoa e família, saúde física, estado emocional, dinâmica familiar, situação económica e social, relações interpessoais ou fatores de “stress”.

- O principal objetivo das VD’s é manter o contacto da pessoa com doença mental e os cuidados de saúde, reduzindo o desperdício de recursos consumidos durante os reinternamentos por causa das recaídas; - Como o número de reinternamentos entre os grupos que não tiveram VD’s ou tiveram em número inferior a 4 vezes foram semelhantes sugere que a eficácia de um acompanhamento inadequado de VD’s ou não existirem VD’s é semelhante (no entanto, os que receberam VD’s tiveram custos inferiores); - O intervalo médio entre as visitas foi de 32,85 dias; - Este estudo indica que as VD’s fornecem um modelo que assegura a continuidade de cuidados, em que a taxa de reinternamento, o nº de dias de internamento e os custos associados foram menores comparativamente ao grupo que não teve VD’.

Gomis, O.; Palma, C. & Farriols, N. (2017). Intervencion domiciliaria en psicosis: una revision sistemática. Actas Esp Psiquiatria 45(6), pp. 290-302

Analisar os diferentes tipos de serviços domiciliários e propor recomendações para a criação de um serviço que satisfaça as necessidades tanto para doentes com um primeiro episódio psicótico como para doentes psiquiátricos resistentes a tratamento farmacológico e psicológico. Comparam a intervenção domiciliária na psicose tendo em conta várias tipologias e os seus benefícios. Fazem-no através de uma revisão sistemática da literatura, considerando 93 artigos (4 revisões sistemáticas e o resto artigos em revistas científicas ou livros de caracter científico) no período compreendido entre 2005-2015.

- A intervenção domiciliária não só tem sido aplicada nos serviços de intervenção precoce da psicose mas também: Intervenção em Crise em Casa – vários estudos, mesmo os mais recentes, demonstraram evitar hospitalização ou reduzir a sua durabilidade. Intervenções incluem a pessoa e a família. Embora a teoria fale em equipas multidisciplinares, a realidade demonstra que costumam ser enfermeiros psiquiátricos a fazerem este serviço. Observadas melhorias a nível da psicopatologia, qualidade de vida, adesão ao tratamento e satisfação relativa aos cuidados prestados; Abordagem através Diálogo Terapêutico (Open Dialogue Approach) – principal objetivo é tratar doentes psicóticos nas suas casas, com uma equipa multidisciplinar. Todo o tipo de intervenção é feita nesse contexto, a partir do diálogo terapêutico. O tratamento baseia-se na compreensão da doença pelo doente e família, havendo sempre uma avaliação das mudanças que vão ocorrendo. Benefícios a nível da sintomatologia, funcionalidade e redução da terapêutica psicótica. Treino de Habilidades Sociais em âmbito domiciliário a pessoas com esquizofrenia – ao realizar este tipo de intervenções no domicílio, houve uma melhoria das atividades de vida diária, adesão ao tratamento e melhoria da sintomatologia; uso do reforço positivo, modulagem, exercícios ou tarefas em casa e role playing. - Outras intervenções domiciliárias referidas: contacto telefónico de 2/2semanas durante 3m reduziu atividade alucinatória e recaídas.

- A Abordagem através Diálogo Terapêutico coloca o enfoque na pessoa com doença mental, tentando compreender e dar sentido à experiência sentida, intervindo de forma personalizada. É o tipo de intervenção que tem mais em conta o presente e as potencialidades de toda a rede de suporte (amigos, vizinhos, rede social); - É fundamental a integração das famílias numa intervenção conjunta; - Para promover a adesão ao tratamento, é importante a vinculação afetiva do doente com a equipa domiciliária; -Limitações: recusa da família em receber VD’s ou a falta de apoio familiar; - Concluída a intervenção domiciliária pode ser importante o follow-up cara-cara ou telefone, durante pelo menos 6 meses ; -As intervenções domiciliárias podem melhorar a adesão ao tratamento, a qualidade de vida, habilidades sociais e as relações familiares no meio ambiente natural do doente, reduz hospitalizações e promove a inclusão na comunidade.

- Estudo retrospetivo. Entre junho de 2005 a junho de 2012. Participantes diagnosticados com patologias psiquiátricas após alta hospitalar, recrutados do maior hospital no sul de Taiwan (China), com idades compreendidas entre os 20 e os 85 anos. Para o estudo foram criados 3 grupos de comparação: 1 grupo que não recebeu VD’s (1100 participantes); 1 grupo com VD’s < 4 vezes (62 partic.); 1 grupo com 4 ou + VD’s (179 participantes).

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Gleason, H. & Coyle, E. (2015). Mental and behavioral health conditions among older adults: implications for the home care workforce. Aging & Mental Health. 20 (8), pp. 848855

Identificar os desafios que os profissionais enfrentam na prestação de cuidados no domicílio a pessoas com doença mental, bem como as estratégias e apoio que utilizam. -Entrevistas qualitativas. Foram criados 5 grupos com profissionais (49) que atuavam no domicílio de pessoas com DM (2 grupos tinham formação na área e 3 não) em Massachusetts (EUA), que foram questionados através de entrevistas que foram gravadas em áudio e transcritas textualmente (existiu sempre um moderador nos grupos que usou um protocolo semi estruturado).

- As pessoas de quem cuidavam tinham predominantemente patologias obsessivas (de acumulação), abuso de substâncias e depressão. Outros diagnósticos como esquizofrenia, bipolaridade ou ideação suicida também foram contemplados; - Independentemente do diagnóstico emergiram tópicos comuns que serviam como barreiras ou facilitadores durante a prestação de cuidados: o comportamento dos doentes, que foram agrupados em 3 categorias: agressiva, disruptiva e psicótica; a comunicação; estratégias de coping e a informação. - Comunicação: comunicação verbal exprimindo a empatia; importância do silêncio para evitar conflitos, importância do não-verbal, construção da relação interpessoal; - Estratégias de coping: definir limites na relação; lidar com as próprias emoções; sentimento de realização/dever cumprido; saber como agir em situações de risco que comprometam a segurança do profissional; importância do suporte formal e externo; - Informação: profissionais consideram não receber informação prévia suficiente acerca da pessoa com DM; dinâmicas familiares complicadas que não são facilitadoras; falta de informação/treino na área.

- É destacada a importância de reconhecer os sinais de alerta e “responder” perante o comportamento e não o diagnóstico; - Os resultados do estudo corroboram a ideia de que a consistência do mesmo profissional nas visitas domiciliárias promove a construção da relação terapêutica, a satisfação de ambos e a promoção da qualidade de vida do cliente; - Em situações de agudização da doença são necessários apoios da polícia ou de outros membros da equipa de saúde; - Ter as habilidades e as competências para agir prontamente nestas situações e a capacidade de resolução de problemas, torna-se fundamental para o sucesso dos cuidados na comunidade; -A partilha entre pares emergiu como um recurso importante para validação e partilha de estratégias; - A importância da formação contínua e desenvolvimento profissional para dar resposta às necessidades.

Pfeiffer, P; Bowersox, N; Birgenheir, D; Burgess, J.; Forman, J. & Valensteun, M. (2016). Preferences and Barriers to Care Following Psychiatric Hospitalization at Two Veterans Affairs Medical Centers: A Mixed Methods Study. The Journal of Behavioral Health Servces & Research. 43(1), pp. 88-103

- Avaliar as preferências das pessoas com doença mental por uma ampla gama de serviços pós-hospitalares e quais as barreiras percecionadas pelos mesmos à continuidade de cuidados pós-internamento. - Estudo de métodos mistos – questionários (242 pessoas) e entrevistas qualitativas (25 pessoas). As preferências foram avaliadas pedindo às pessoas que indicassem os serviços desejados a partir de uma lista de verificação de serviços atualmente disponíveis. A população foi constituída por doentes com alta há 2-4 semanas, de 2 unidades de internamento psiquiátricas (veterans affairs medical centers, que fazem parte do sistema nacional dos EUA com serviços integrados de saúde mental).

- Entre os serviços existentes, o serviço mais referido foi o aconselhamento individual (23,7%), seguido de acompanhamento domiciliar (16,2%) e grupos de apoio (14,4%); - Numa das perguntas abertas feitas na entrevista “O que ajudaria depois da hospitalização?”, 18 pessoas responderam “follow up por telefone” e 4 referiram visitas domiciliárias; - A maioria das pessoas referiu preferir serviços “ao vivo, em pessoa” (77,4%), ao invés de por telefone (13,1%) ou via vídeo na internet (1,5%) – impessoal e receio da questão da privacidade; - Reconsideram o telefone/internet em caso de não haver outra opção ou entre as visitas “pessoalmente”; - Como barreiras que complicavam a continuidade de cuidados pós hospitalar, as pessoas identificaram: problemas de transporte (44,3%); falar sobre questões que os perturbam e provocam “sintomas desagradáveis” como ansiedade (36,4%); motivação (35,7%) ou estigma (o facto de familiares ou amigos saberem, 24,7%); -O apoio crescente da família/amigos foi considerado como o recurso que mais os ajuda no seu tratamento no pós-alta; seguindo-se do apoio dos pares (outras pessoas doentes) e em terceiro as visitas domiciliárias; - Várias pessoas referiram que enquanto estavam internadas, lhes falaram em inúmeros serviços, mas que efetivamente nenhum chegou até eles. - Sintomas que poderão interferir na adesão a estratégias no pós-alta devem ser avaliados e ensinados: autoidentificação de sinais precoces de recaída e os familiares ou amigos estarem atentos a sinais precoces que possam levar a pessoa ao abandono do tratamento.

- Mais de dois terços (69,1%) dos entrevistados tiveram pelo menos uma preferência por um tratamento que não estavam a receber atualmente como parte de seu acompanhamento pós-internamento sugere lacunas substanciais nos cuidados; - A maioria preferia ter aconselhamento pessoal; - Nas entrevistas qualitativas, as pessoas referiram os telefonemas ou visitas domiciliárias como estratégias que preferiam de uma forma “check in”, que poderiam ocorrer menos do que uma vez por semana; - A dificuldade no transporte foi a barreira mais mencionada, pelo que contribui para um inadequado tratamento no pós alta; - Terapia via telefone ou vídeo não parecem ser estratégias que sejam da sua preferência, “aconselhamento pessoal” para mais pessoas na comunidade pode ser inviável em termos e custos, pelo que deve considerar-se as visitas domiciliárias menos frequentes (ou a monitorização telefónica em ambulatório), e que as pessoas preferem.

Lakeh, M.; Yaghoubi, M; Hajebi. A; Malakouti, SK. & Vasfi, MG (2017). Costeffectiveness of aftercare services for people with severe mental disorders: an analysis parallel to a randomised controlled clinical trial in Iran. Health and Social Care in the Communitty, 25(3), pp.1151-1159

- Avaliar a relação custoeficácia dos serviços de pósinternamento, incluindo acompanhamento telefónico ou visita domiciliária para todas as pessoas durante os 20 meses após a alta hospitalar

- Todas as pessoas do grupo de intervenção receberam: 1. visitas domiciliárias (para os que tinham fraca adesão ao tratamento) ou acompanhamento por telefone, com possibilidade de troca entre as intervenções durante o período de seguimento, 2.educação para a saúde aos cuidadores das pessoas com DMG e 3.treino de habilidades sociais às pessoas. -O grupo de controlo não foi intervencionado, seguindo apenas as recomendações “normais” que eram feitas no hospital no pósalta; -Utilizados para compara-A eficácia da intervenção foi medida através de várias escalas ção dois grupos de 60 pesque foram aplicadas na admissão do internamento, na alta, e soas recrutadas entre 2010 aos 3,6, 12 e 20 meses após a alta e os custos obtidos através e 2012, que tivessem doença de uma equação, em que o número de reinternamentos e a sua mental grave (esquizofrenia, duração foram incluídos para os poderem calcular.Nas avaliapatologia esquizoafetiva ou ções periódicas de cuidados pós-alta, todos os indicadores de p.bipolar) e que tivessem psicopatologia, qualidade de vida e satisfação com os serviços estado internadas no Irão. foram melhores no grupo de intervenção comparativamente ao grupo de controlo.

- Custos de cuidados na comunidade são inferiores quando comparados com os custos hospitalares, pelo que diminuir o número de internamentos diminui o encargo financeiro imposto ao sistema e ao doente e sua família (mais de 2/3 dos custos diretos); - Reinternamentos diminuíram; - Maior custo-benefício em intervenções comunitárias como VD’s ou acompanhamento por telefone.

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DISCUSSÃO Concluída a extração e análise de resultados dos cinco artigos selecionados é possível dar resposta à questão de investigação previamente elaborada: “Quais os benefícios da visita domiciliária na continuidade de cuidados hospital-domicílio às pessoas com doença mental?”. De acordo com Chang & Chou (2015), antes das pessoas internadas terem alta hospitalar, deve ser-lhes facultado, se necessário, um plano que inclua reabilitação, os encaminhamentos e follow ups necessários, devendo esta diretriz ir ao encontro da promoção de intervenções comunitárias nas pessoas com doença mental, como é o caso da intervenção dos profissionais em visitas domiciliárias. Devido à falta de insight em relação à sua própria patologia, estas pessoas têm um risco acrescido de abandonarem o tratamento contínuo, quer seja psicoterapêutico ou farmacológico, resultando daí múltiplas recaídas que afetam as suas vidas em diferentes dimensões, aumentando a sua dependência e reduzindo a sua funcionalidade (Chang & Chou, 2015; Gomis, Palma & Farriols, 2017). As descompensações psicóticas precoces podem ter um impacto negativo maior, uma vez que podem interferir nas tarefas de vida que são tipicamente completadas durante o fim da adolescência/ início da vida adulta (como o término da escolaridade obrigatória, início da vida profissional ou o estabelecimento de relações sociais extra-família), o que consequentemente resultará em pior prognóstico e maiores custos relacionados com os cuidados de saúde (Chang & Chou, 2015). Indo também ao encontro deste facto, Gomis, Palma & Farriols (2017), elaboraram uma revisão sistemática da literatura acerca da intervenção domiciliária na psicose, analisando os diferentes tipos de serviços domiciliários, de modo a poderem propor recomendações para a criação de um serviço que satisfizesse tanto as necessidades para pessoas com um primeiro episódio psicótico como para doentes psiquiátricos resistentes a tratamento farmacológico e psicológico. Fazem um enfoque especial nas pessoas com um primeiro surto psicótico pois constataram que o período temporal entre o primeiro surto e o tratamento efetivo da doença era demasiado extenso, pelo que intervir precocemente (nos primeiros 3-5 anos, desde a primeira manifestação), melhoraria o prognóstico a longo prazo destes doentes. Estes autores fizeram assim uma comparação entre diferentes intervenções domiciliárias na psicose.

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Ressalvam que tão importante como a abordagem à pessoa com doença mental, é a integração das famílias numa intervenção conjunta e independentemente da tipologia, as intervenções domiciliárias demonstraram ter benefícios, nomeadamente: melhorar a adesão ao tratamento, a qualidade de vida, habilidades sociais e as relações familiares no meio ambiente natural onde estão inseridos, reduzir hospitalizações e promover a inclusão na comunidade. Além destas, num estudo realizado por Lakeh; Yaghoubi; Hajebi; Malakouti & Vasfi (2017) também se constatou existir um maior custo-benefício. Realizaram um estudo de modo a avaliar a relação custo-eficácia dos serviços de pós-internamento, incluindo acompanhamento telefónico ou visita domiciliária, além da educação e capacitação de habilidades sociais dos cuidadores para todas as pessoas durante os 20 meses após a alta hospitalar, utilizando para comparação dois grupos de 60 pessoas recrutadas entre 2010 e 2012, que tivessem doença mental grave (esquizofrenia, patologia esquizoafetiva ou p.bipolar), em que as pessoas do grupo de intervenção receberam visitas domiciliárias (para os que tinham fraca adesão ao tratamento) ou acompanhamento por telefone, com possibilidade de troca entre as intervenções durante o período de seguimento, educação para a saúde aos cuidadores das pessoas com DMG e treino de habilidades sociais e em que o grupo de controlo não foi intervencionado, seguindo apenas as recomendações “normais” que eram feitas no hospital no pós-alta. A eficácia da intervenção foi medida através de várias escalas que foram aplicadas na admissão do internamento, na alta, e aos 3,6, 12 e 20 meses após a alta e os custos obtidos através de uma equação, em que o número de reinternamentos e a sua duração foram incluídos para os poderem calcular. Nas avaliações periódicas de cuidados pós-alta, todos os indicadores de psicopatologia (PANSS - escala de sintomas positivos e negativos; young mania rating scale; escala depressão Hamilton; GAF – escala funcionamento global), qualidade de vida (WHOQOL-BREF) e satisfação com os serviços (questionário satisfação do cliente) foram melhores no grupo de intervenção comparativamente ao grupo de controlo. No que concerne aos custos, embora no grupo de intervenção se tenha gastado primeiramente mais (custos associados às VD’s, transporte, pagamento dos profissionais), passados os 20 meses, os custos diretos totais do grupo de intervenção foram menores que o do grupo de controlo e à medida que o tempo ia passado, o “cost saving” do grupo de intervenção ia sendo cada vez maior.


Os reinternamentos diminuíram e provaram existir um maior custo-benefício em intervenções comunitárias como as VD’s ou acompanhamento por telefone. Lakeh et al (2017) recomendam a expansão das intervenções domiciliárias a pessoas com DM. O estudo realizado por Chang & Chou (2015) também obteve resultados obtidos similares. No sentido de conseguir examinar o impacto da visitação domiciliária na taxa de reinternamentos e nos custos médicos, realizando um estudo durante 7 anos, em que foram incluídos participantes diagnosticados com patologias psiquiátricas após alta hospitalar, recrutados do maior hospital no sul de Taiwan (China), com idades compreendidas entre os 20 e os 85 anos. Para o estudo foram criados 3 grupos de comparação: 1 grupo que não recebeu visitas domiciliárias (1100 participantes); 1 grupo que recebeu menos de 4 visitações domiciliárias (62 partic.) e 1 grupo que recebeu quatro ou mais visitações (179 partic.). Após a intervenção, verificou-se que existiu uma enorme diferença entre os grupos, em que 62,57% das pessoas que não receberam nenhuma ou menos de quatro visitações domiciliárias foram reinternadas (o número de reinternamentos entre estes dois grupos foi semelhante, o que sugere que a eficácia de um acompanhamento inadequado de VD’s ou de as mesmas não se realizarem é semelhante), contrariamente às pessoas que receberam mais do que quatro visitações domiciliárias em que a percentagem se situou nos 10,61. Assim, conseguiram que a taxa de reinternamentos diminuísse de 42,1% para 11,6% após as visitações domiciliárias. O número de dias de hospitalização e os custos associados foram igualmente menores no grupo com 4 ou mais VD’s. Constataram que o género e estado civil não tiveram uma influência significativa na taxa de reinternamentos ou no número total de dias de internamento, contrariamente às pessoas com mais de 12 anos de escolaridade que apresentaram a menor taxa de re-hospitalização, dias de hospitalização mais curtos e menores custos associados. É curioso que as pessoas solteiras e com menos de 12 anos de escolaridade eram as mais representadas nos três grupos, o que pode demonstrar como referido anteriormente que a escolaridade e o estabelecimento de relações interpessoais acabam por ficar comprometidos quando existem descompensações psiquiátricas e o que leva consequentemente a um pior prognóstico. O tipo de intervenção realizado nas VD’s incluiu psicoeducação, orientação nas atividades de vida diárias, promoção da adesão à terapêutica e treino competências sociais básicas, em que avaliação de sintomas, efeitos

secundários da medicação; administração da medicação oral ou de longa duração também eram comuns. Relatam que era tentado obter maior compreensão da realidade da pessoa e família, da sua saúde física, estado emocional, avaliar a dinâmica familiar, situação económica e social, as relações interpessoais ou os fatores de “stress”, o que parece ir ao encontro da “Abordagem através do Diálogo Terapêutico”, referida por Gomis, Palma & Farriols (2017) na sua RSL, em que é colocado o enfoque na pessoa com doença mental, tentando compreender e dar sentido à experiência sentida, intervindo de forma personalizada, ocorrendo sempre uma avaliação das mudanças que vão ocorrendo. Durante a prestação de cuidados no domicílio a pessoas com doença mental, podem existir fatores que o dificultem ou facilitem, e Gleason & Coyle (2015) procuraram percebê-lo num estudo que realizaram, em que questionaram profissionais que faziam visitas domiciliárias a este grupo populacional. Independentemente do diagnóstico, emergiram tópicos comuns: o comportamento da pessoa cuidada e a comunicação, as estratégias de coping e a informação que os profissionais detinham. Comportamentos agressivos, disruptivos ou psicóticos dificultam a prestação de cuidados (Gleason & Coyle, 2015), bem como a recusa da família em receber VD’s ou a própria falta de apoio familiar das pessoas com DM que se constituem como limitações da intervenção domiciliária (Gomis, Palma & Farriols, 2017). Questões como a importância da comunicação verbal/ não verbal congruente, a utilização do silêncio para evitar conflitos ou a construção da relação terapêutica em que devem ser definidos limites, foram mencionadas frequentemente pelos profissionais que foram entrevistados como fatores facilitadores, bem como estratégias de coping como o saber lidar com as próprias emoções. É destacada a importância da necessidade de se reconhecerem os sinais de alerta e de se “responder” perante o comportamento e não o diagnóstico, a relevância dos profissionais terem as habilidades e as competências para agir prontamente em situações de agudização e a capacidade de resolução de problemas que se torna fundamental para o sucesso dos cuidados na comunidade (Gleason & Coyle, 2015). Além dos profissionais estarem atentos a sinais de alerta, também Pfeiffer et al (2016) destacam que os mesmos devem ser ensinados à própria pessoa e aos familiares e pessoas significativas de modo a se prevenirem descompensações e abandono de tratamento por parte da pessoa com DM. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 65


Pfeiffer et al (2016) realizaram um estudo de modo a avaliarem as preferências das pessoas com DM por uma ampla gama de serviços pós hospitalares e conhecerem quais as barreiras percecionadas pelas mesmas à continuidade de cuidados pós-internamento. Em termos de serviços existentes a maioria preferia ter um “aconselhamento individual”, seguindo-se o acompanhamento domiciliar e posteriormente os grupos de apoio. No entanto, consideraram que o apoio da sua família/amigos se constituía como o recurso que mais os ajudaria no pós-alta, seguindo-se do apoio de pares e em terceiro as visitas domiciliárias. Como barreiras que complicavam a continuidade de cuidados pós-hospitalar, as pessoas identificaram problemas de transporte (44,3%), falar sobre questões que os perturbam e provocam “sintomas desagradáveis” como ansiedade (36,4%); motivação (35,7%) ou estigma (o facto de familiares ou amigos saberem, 24,7%). De destacar que 77,4% das pessoas questionadas e entrevistadas preferiam serviços “ao vivo/em pessoa”, quando comparados com outras opções como telefone ou via vídeo/ internet e que preferiam que as VD’s fossem realizadas de forma “check in” e que poderiam ocorrer menos do que uma vez por semana (Pfeiffer et al, 2016). Sendo a dificuldade no transporte a barreira mais mencionada pelas pessoas e que contribui para um inadequado tratamento no pós-alta, e o facto das pessoas com DM aparentemente aceitarem de forma geral as VD’s, Pfeiffer et al (2016) consideram-nas como um recurso que deve considerar-se. A partilha entre pares emergiu como um recurso importante para validação e partilha de estratégias utilizadas pelos profissionais que realizam VD’s e é destacado por Gleason & Coyle (2015) a formação contínua e desenvolvimento profissional para se ir conseguindo dar resposta às necessidades das pessoas cuidadas. Os resultados deste estudo corroboram a ideia de que a consistência do mesmo profissional nas visitas domiciliárias promove a construção da relação terapêutica, a satisfação de ambos e a promoção da qualidade de vida do cliente, tal como corroborado por Gomis, Palma & Farriols (2017) que afirmam a vinculação afetiva da pessoa com doença mental à equipa domiciliária como importante no sucesso deste tipo de intervenção domiciliária. Chang & Chou (2015) e Gomis, Palma & Farriols (2017) referem que a área da visitação domiciliária a pessoas com doença mental carece de mais investigação.

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IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Para a prática clínica e uma vez que a organização dos serviços de saúde mental deve ter como modelo de referência o comunitário, a visita domiciliária constituise como uma intervenção que deve ser explorada no que concerne aos cuidados de enfermagem a pessoas com doença mental, não só pelos benefícios supramencionados, mas por ser um recurso que pode diminuir algumas das barreiras identificadas pelos doentes na continuidade de cuidados pós-hospitalar: a dificuldade de transporte, a motivação ou o estigma, uma vez que fornece os cuidados junto do meio de inserção social da pessoa. Como intervenções a realizar nas visitas domiciliárias, a psicoeducação, promoção adesão à terapêutica, orientação nas atividades de vida diárias e treino de competências sociais básicas foram algumas das realizadas, devendo o enfoque das mesmas, ser colocado não só na pessoa com doença mental, mas também integrando as pessoas significativas, como a família e amigos. Deve procurar-se sempre compreender e dar sentido à experiência vivida da pessoa com doença mental, intervindo de forma personalizada. Em contexto domiciliário, o estabelecimento de uma relação terapêutica assume-se como fator importante no sucesso da intervenção, pelo que devem ser adotadas estratégias que a promovam, como é o caso de uma comunicação verbal/não verbal congruente, a utilização eficaz do silêncio ou estratégias de coping. De ressalvar a importância do reconhecimento precoce, não só por parte dos profissionais mas também por parte das pessoas com doença mental e das suas famílias, dos sinais de alerta, de forma a se poderem prevenir descompensações e consequências que daí possam advir. CONCLUSÕES Este trabalho procurou compreender quais os benefícios decorrentes das visitas domiciliárias a pessoas com doença mental, como foi referido anteriormente através da questão de partida. O principal objetivo da visita domiciliária é manter o contacto da pessoa com doença mental e os cuidados de saúde, sendo um modelo que assegura a continuidade de cuidados, demonstrando ter benefícios quer a nível da sintomatologia, da funcionalidade ou da qualidade e vida das pessoas e das suas famílias, reduzindo o


desperdício de recursos consumidos durante os reinternamentos por causa das recaídas, além de promover igualmente a sua inserção na comunidade (Chang & Chou, 2015; Gleason & Coyle, 2015; Gomis, Palma & Farriols, 2017; Lakeh et al, 2017). Os autores são unanimes em considerar a visita domiciliária como benéfica na continuidade de cuidados hospital-domicílio à pessoa com doença mental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, J.; Almeida, H. e Santos, E. (2010). Sobrecarga dos cuidadores familiares de pessoas com doença mental: dimensões analítico-reflexivas na perspectiva do Serviço Social. Psychologica, 2(52), 91-116. Doi: 10.14195/1647-8606_52-2_5 Almeida, J. (2018). A saúde mental dos portugueses. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos. Chang, Y. & Chou, F. (2015). Effects of Home Visit Intervention on Re-hospitalization Rates in Psychiatric Patients. Community Mental Health Journal - Springer Science+Business Media, 51(5), 598-605. Doi: 10.1007/ s10597-014-9807-7 Comissão Europeia [CE] (2016). European Framework for Action on Mental Health and Wellbeing. Bruxelas: CE. Decreto-Lei n.º 8/10 de 28 de Janeiro. (2010). Diário da República nº 191/2010 - Iª Série. Lisboa. Decreto-Lei nº 304/09 de 22 Outubro. (2009). Diário da Republica nº 205/2009 - Iª Série. Lisboa. Despacho n.º 1269/17 de 6 de fevereiro. (2017). Diário da República nº 26/2017 - IIª Série. Lisboa. Direção Geral de Saúde. (2017). Programa Nacional para a Saúde Mental. Lisboa: DGS.

Gomis, O.; Palma, C. & Farriols, N. (2017). Intervencion domiciliaria en psicosis: una revision sistemática. Actas Espanholas de Psiquiatria, 45(6), 290-302. Disponível em: https://www.actaspsiquiatria.es/repositorio/19/110/ESP/19-110-ESP-290-302-827522.pdf Lakeh, M.; Yaghoubi, M; Hajebi. A; Malakouti, SK. & Vasfi, MG (2017). Cost-effectiveness of aftercare services for people with severe mental disorders: an analysis parallel to a randomised controlled clinical trial in Iran. Health and Social Care in the Communitty, 25(3), 11511159. Doi: 10.1111/hsc.12416 Organização Mundial de Saúde. (2009). Integração da saúde mental nos cuidados de saúde primários – Uma perspetiva global. Genebra: OMS. Palha, F. e Costa, N. (2015). Trajetórias pelos cuidados de saúde mental. Parte I – O processo de “desinstitucionalização” psiquiátrica em Portugal: da análise objetiva dos factos às perceções de utentes, familiares/ cuidadores e técnicos. Porto: ENCONTRAR+SE Pfeiffer, P; Bowersox, N; Birgenheir, D; Burgess, J.; Forman, J. & Valensteun, M. (2016). Preferences and Barriers to Care Following Psychiatric Hospitalization at Two Veterans Affairs Medical Centers: A Mixed Methods Study. The Journal of Behavioral Health Servces & Research, 43(1), 88-103. Doi: 10.1007/s11414-015-9460-0 Souza, M; Silva, M. & Carvalho, R. (2010). Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein, 8(1), 102-106. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/eins/v8n1/ pt_1679-4508-eins-8-1-0102.pdf The Joanna Briggs Institute. (2013). The New JBI Levels of Evidence and Grades. Levels of Evidence – Effectiveness. Disponível em: https://joannabriggs.org/jbi-approach.html#tabbed-nav=Levels-of-Evidence

Gleason, H. & Coyle, E. (2015). Mental and behavioral health conditions among older adults: implications for the home care workforce. Aging & Mental Health, 20 (8), 848-855. Doi: 10.1080/13607863.2015.1040725

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Artigo de Revisão

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Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0283

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO ATENDIMENTO AO PÚBLICO INFANTOJUVENIL EM SOFRIMENTO MENTAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA | Rachel Santos1; Isabela Takeshita2; Franciéle Cardoso3; Lilian Torres4 |

RESUMO CONTEXTO: A qualidade da assistência de enfermagem em saúde mental é essencial na vida das crianças e adolescentes. OBJETIVO: Descrever a atuação do enfermeiro no cuidado ao público infantojuvenil em sofrimento mental. MÉTODO: Revisão integrativa da literatura nas bases de dados BVS e EBSCO, a partir de descritores selecionados. A amostra constituiu-se de 15 artigos, publicados entre 2013 a 2017, disponíveis na íntegra e nos idiomas português, inglês e espanhol. RESULTADOS: A atuação do enfermeiro perpassa pela gestão e organização do cuidado e considera o olhar individualizado e respeitoso. Busca-se a promoção da autonomia e ressocialização desses jovens e suas famílias, a partir da inclusão do familiar/ cuidador no planejamento do cuidado. CONCLUSÃO: O olhar ampliado e a variedade de intervenções desempenhadas pelo enfermeiro torna sua prática complexa e fundamental para a qualidade de vida desses jovens. O diferencial em sua atuação está no conhecimento aberto, reflexivo e cientificamente embasado. PALAVRAS-CHAVE: Psiquiatria infantil; Psiquiatria do adolescente; Serviços de saúde mental; Enfermagem

RESUMEN

ABSTRACT

“Actuación del enfermero en la atención al público infantojuvenil en sufrimiento mental: Una revisión integrativa”

“Nurses’ performance in the care of children and adolescents in mental suffering: An integrative review”

CONTEXTO: La calidad de la asistencia de enfermería en salud mental es esencial en la vida de los niños y adolescentes. OBJETIVO: Describir la actuación del enfermero en el cuidado al público infantojuvenil en sufrimiento mental. MÉTODOLOGÍA: Revisión integrativa de la literatura en las bases de datos BVS y EBSCO, a partir de descriptores seleccionados. La muestra consistió en 15 artículos publicados entre 2013 a 2017, totalmente disponible electrónicamente en portugués, inglés y español. RESULTADOS: La actuación del enfermero pasa por la gestión y organización del cuidado y considera la mirada individualizada y respetuosa. Se busca la promoción de la autonomía y resocialización de estos jóvenes y sus familias, a partir de la inclusión del familiar / cuidador en la planificación del cuidado. CONCLUSIÓN: La mirada ampliada y la variedad de intervenciones desempeñadas por el enfermero hacen su práctica compleja y fundamental para la calidad de vida de esos jóvenes. El diferencial en su actuación está en el conocimiento abierto, reflexivo y científicamente embasado.

BACKGROUND: The quality of nursing care in mental health is essential in the lives of children and adolescents. AIM: To describe the nurse’s role with the child and adolescent public in mental suffering. METHOD: Integrative literature review on the VHL and EBSCO databases, from selected descriptors. The sample consisted of 15 articles, published between 2013 and 2017, available in full electronic form and in the Portuguese, English and Spanish languages. RESULTS: Nurses work through the management and organization of care and consider the individualized and respectful look. What is sought is the promotion of the autonomy and resocialization of these young people and their families, from the inclusion of the caregiver in the planning of care. CONCLUSION: The expanded look and variety of interventions performed by nurses makes their practice complex and fundamental to the quality of life of these young people. The differential in its performance lies in open, reflective and scientifically grounded knowledge.

DESCRIPTORES: Psiquiatría infantil; Psiquiatría del adolescente; Servicios de salud mental; Enfermería

KEYWORDS: Child psychiatry; Adolescent psychiatry; Mental health services; Nursing Submetido em 30-09-2019 Aceite em 12-12-2019

1 Enfermeira, Especialista em Auditoria em Enfermagem, Enfermeira de Referência na Fundação FIAT Saúde e Bem Estar, rachelsilvasantosmg@gmail.com 2 Enfermeira, Especialista em Enfermagem do Trabalho, Mestre em Enfermagem, Docente na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, isabelamie@gmail.com 3 Enfermeira, Especializanda em UTI Geral e Assistência Intensiva ao Paciente Crítico, francieleavilaboeira@gmail.com 4 Enfermeira, Mestre e Doutor em Ciências, lilian.torres0806@gmail.com Citação: Santos, R., Takeshita, I., Cardoso, F., & Torres, L. (2020). Atuação do enfermeiro no atendimento ao público infantojuvenil em sofrimento mental: Uma revisão integrativa. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 69-78. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 69


INTRODUÇÃO A Reforma Sanitária, o Sistema Único de Saúde e o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, redefiniram as políticas públicas de assistência à saúde ao público infantojuvenil no Brasil (Reis et al., 2010). Em especial, a Reforma Psiquiátrica, com um novo modelo de atenção, advogou pela descentralização do cuidado e extinção dos hospitais psiquiátricos (Secretaria de Atenção à Saúde [SAS], 2005a). Os serviços comunitários, com estratégias de mobilização específica, procuraram incluir no seio familiar e na sociedade os indivíduos em sofrimento mental (Machado et al., 2014). O sofrimento mental infantojuvenil, em metade dos casos, tem seu início antes dos 14 anos (Naughton, Maybery, & Goodyear, 2018). Tal população representa um terço do total porém, mais que números, constitui o grupo mais vulnerável dos pontos de vista físico, econômico e social (Gogineni, Rothe, & Pumariega, 2019). Reconhecer e compreender a importância da saúde mental de crianças e adolescentes para a saúde pública tem recebido ênfase de vários organismos internacionais (Gogineni, Rothe, & Pumariega, 2019) e favorecido, no Brasil, o desenvolvimento de diretrizes governamentais, com serviços articulados em rede e com inclusão social. Os exemplos são as Unidades Básicas de Saúde, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), os ambulatórios e os hospitais gerais (Reis et al., 2010). O CAPSi, em especial, destina-se a crianças e adolescentes e tem se revelado fundamental na assistência em saúde mental (SAS, 2005a & 2005b). Trata-se de desconstruir o modelo hospitalocêntrico, promover um serviço que respeite as características regionais e que, efetivamente, insira os indivíduos em atividades educativas e culturais em seu próprio contexto (Machado et al., 2014; Thiengo, Cavalcante, & Lovisi, 2014). Um dos documentos governamentais, em 2002, define e estabelece diretrizes para os CAPSi, como atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico e de orientação) e em grupos (psicoterapia, grupo operativo e atividades de suporte social), além das oficinas terapêuticas, visitas e atendimentos domiciliários. Incluem-se acolhimento familiar, atividades comunitárias, com enfoque na integração da criança e do adolescente e ações intersetoriais, nas áreas de assistência social, educação e justiça (Ministério da Saúde, 2002). Apesar de avanços nas estruturas burocrática e organizativa, sua finalidade, entretanto, ainda é desconhecida, sobretudo, pelo profissional de saúde (Cunha, Borges, & Bezerra, 2017). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 70

A integração dos centros de atenção com a ESF tornase indispensável, nessa perspectiva, para o cuidado integral às crianças e adolescentes em sofrimento mental. O caminho, árduo e desconhecido, conclama a união de todos os atores do sistema para encontra-lo e o enfermeiro tem papel relevante na integração desejada (Delfini, Reis, 2012). Ademais, no CAPSi, esse profissional coordena a equipe, planeja e avalia a assistência de enfermagem, individual ou em grupo. Acresce-se o desenvolvimento e manutenção do ambiente terapêutico, o cuidado propriamente dito ao indivíduo/família/comunidade e a cooperação na formação e educação permanente dos profissionais. No cotidiano, o enfermeiro realiza pré-consulta e triagem, consulta de enfermagem, coordena grupos terapêuticos, reuniões em geral e orientações sobre uso de medicamentos (Secretaria Executiva, 2003). Diante desse contexto de relevância dos serviços especializados ou mesmo da ESF, no atendimento a crianças e adolescentes em sofrimento mental, questiona-se: qual a atuação do enfermeiro junto ao público infantojuvenil no cuidado em saúde mental? O estudo torna-se relevante ao se considerar que os CAPSi tem se expandido em âmbito nacional. Em 2006, havia 75 centros e, em 2014, mais de 200 unidades, segundo o Boletim Informativo Saúde Mental em Dados, de nº 12, do Ministério da Saúde (SAS, 2015). É essencial que o enfermeiro conheça em profundidade as suas atribuições, a partir da sua formação histórica/cultural, em que o cuidado procura entender as possibilidades terapêuticas. A sua abordagem, como educador e facilitador do processo de aprendizagem e adaptação contribuiria para a qualificação do cuidado em saúde mental. O objetivo proposto é descrever a atuação do enfermeiro no atendimento ao público infantojuvenil em sofrimento mental. MÉTODOS Revisão integrativa da literatura. Tipo de pesquisa que representa um método específico para a compreensão mais abrangente de um dado fenômeno, a partir do que já está posto, enquanto conhecimento (Botelho, Cunha, Macedo, & 2011). São percorridas seis etapas: elaboração do problema, colheita de informações, avaliação crítica, análise e interpretação dos dados recolhidos, além da apresentação pública (Mendes, Silveira, Galvão, & 2008). A população do estudo foi composta por publicações nacionais e internacionais das bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e EBSCO Information Services.


Os Descritores em Ciências da Saúde coincidiram com aqueles contidos no Medical Subject Headings: “Child psychiatry”, “Adolescent psychiatry”, “Community mental health services”, “Nursing”, “Child” e “Mental health”. Foram incluídos os artigos publicados entre janeiro de 2013 a dezembro de 2017, além de publicações disponíveis na íntegra e nos idiomas inglês, português e espanhol. Após os cruzamentos dos descritores, identificou-se uma população de 148 artigos (Tabela 1). Tabela 1 - Cruzamento de descritores para busca na literatura Descritores e cruzamentos

EBSCO

BVS TOTAL

Psiquiatria Infantil "AND" Psiquiatria do Adolescente

14

0

14

Serviços de Saúde Mental "AND" Enfermagem

11

49

60

Psiquiatria do Adolescente "AND" Psiquiatria Infantil "AND" Enfermagem

1

0

1

Enfermagem "AND" Psiquiatria Infantil

5

0

5

Enfermagem "AND" Psiquiatria Infantil "AND" Saúde Mental

0

50

50

Serviços de Saúde Mental "AND" Psiquiatria Infantil "AND" Enfermagem

0

12

12

Serviços de Saúde Mental "AND" Psiquiatria Infantil

0

6

6

TOTAL

31

117

148

Fonte: Dados da Pesquisa

A totalidade de 148 estudos foi analisada em conjunto por três dos pesquisadores em relação à pertinência de títulos e resumos, sendo selecionados 23 artigos, mediante a concordância de todos os avaliadores, nesta fase, anterior à leitura na íntegra de cada pesquisa. Em seguida, cada pesquisador leu integralmente a seleção. Na discussão conjunta, momento posterior em que os pesquisadores apresentaram sua síntese de leitura, cada artigo foi definido como integrante da amostra ou não, mediante a sua capacidade de resposta à questão norteadora. Quando a análise não se apresentou unânime, nova leitura e discussão se realizou, dessa vez em grupo, para a definição final. Tal processo eliminou oito estudos por não responderem à questão norteadora. A amostra constituiu-se, portanto, de 15 publicações, sete na EBSCO e, oito, na BVS (Tabela 2). Tabela 2 - População e amostra dos bancos de dados utilizados População Leitura de títulos Leitura na Amostra e resumos íntegra 148 Fonte: Dados da Pesquisa

23

23

15

Após a leitura cuidadosa da amostra realizou-se, primeiramente, a avaliação da qualidade metodológica dos estudos selecionados, por meio das ferramentas publicadas, em 2014, no Manual do Instituto Joana Briggs (The Joanna Briggs Institute, 2014). Os instrumentos foram aplicados e cada publicação deveria atender a, pelo menos, 50% dos itens que compunham os critérios de avaliação das evidências apresentadas, para sua permanência na amostra. Em seguida, realizou-se a análise de cada artigo, de forma individual, pelos autores para identificação de respostas à questão norteadora. Finalmente, todos os pesquisadores se reuniram para a organização conjunta dos resultados encontrados. RESULTADOS O exame dos 15 artigos selecionados considerou as variáveis relacionadas aos autores, às publicações e àquela, de interesse, ou seja, a questão de pesquisa. Agruparam-se as ideias comuns sobre a atuação do enfermeiro na saúde mental do público infantojuvenil. Caracterização dos autores da seleção de artigos No total, são 67 autores, sendo 47 (70%), enfermeiros. Quanto à qualificação, 29 (43%) são doutores, 18 (27%) graduados, 12 (18%) mestres e, oito (12%), especialistas. Mais da metade (53%, n=8) se qualificou no Brasil e 42 (63%) atuam como docentes (Quadro 1). Quadro 1 - Caracterização dos autores da amostra Autor

Profissão

Área de Atuação

País de Qualificação qualificação

Barkmann 3 Enfer6 Docentes Alemanha et al ., 2015 meiros 2 Psicólogos 1 Médico

6 Doutores

Beentjes, Goossens, & Jongerden, 2016

3 Enfermeiros

3 Docentes Holanda

2 Doutores 1 Especialista

Dutra, Bossato, & Oliveira, 2017

3 Enfermeiros

3 Assistenciais

Brasil

3 Graduados

Gloff et al., 2015

3 Enfermeiros 1 Médico

3 Assistenciais 1 Docente

Estados Unidos

2 Doutores 1 Mestre 1 Especialista

Hirota et al., 2015

6 Enfermeiros 3 Médicos 1 Psicólogo

10 Docentes

Coreia do Sul

2 Doutores 3 Mestres 2 Especialistas 3 Graduados

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Macedo Monteiro et al., 2015

5 Enfermeiros

2 Docentes Brasil 3 Assistenciais

1 Doutor 1 Mestre 3 Graduados

Ma3 Enferchineski, meiros Schneider, & Camatta, 2013

3 Docentes Brasil

3 Doutores

Martinez, Tocantins, & Souza, 2013

2 Docentes Brasil 1 Assistencial

2 Doutores 1 Mestre

3 Enfermeiros

Matsukura, 2 Terapeutas 1 Docente Tanõ, 2014 Ocupacionais 1 Assistencial

Brasil

1 Doutor 1 Mestre

Noronha et 6 Enferal., 2016 meiros

6 Assistenciais

Brasil

6 Graduados

Santos de Aguiar Jr, de Oliveira, & Almeida de Araújo, 2015

1 Enfermeiros 1 Farmacêutico 1 Psicólogo

3 Assistenciais

Brasil

3 Mestres

Stringer et al., 2015a

2 Enfermeiros 2 Psicólogos

4 Docentes Holanda 4 Doutores

Stringer et al., 2015b

3 Enfermeiros 3 Psicólogos

6 Docentes Holanda 2 Doutores 2 Mestres 2 Especialistas

Tszesnioski 1 Enfermeiro 4 Assistenet al., 2015 2 Terapeutas ciais Ocupacionais 1 Fonoaudiólogo Zegwaard et al., 2017

4 Enfermeiros

Brasil

2 Especialistas 2 Graduados

4 Docentes Holanda 4 Doutores

Quadro 2 - Caracterização das publicações analisadas Autor

Base

Barkmann et al., 2015

Ano

Periódico

Idioma

Delineamento

EBSCO 2015

European Child & Adolescent Psychiatry

Inglês

Coorte prospectiva

Beentjes et al., 2016

EBSCO 2016

Perspectives in Psychiatric Care

Inglês

Descritivo, qualitativo

Dutra et al., 2017

BVS

Escola Anna Nery

Português

Pesquisa Convergente Assistencial

Gloff et al., 2015

EBSCO 2015

International Inglês Review of Psychiatry

Descritivo, qualitativo

Hirota et al., 2015

EBSCO 2015

Psychiatry and Clinical Neurosciences

Inglês

Descritivo, quantitativo

2017

Macedo BVS Monteiro et al., 2015

2015

Pesquisa Cuidado é Fundamental Online

Português

Descritivo, qualitativo

Machineski et al., 2013

BVS

2013

Revista PortuGaúcha de guês Enfermagem

Descritivo, qualitativo

Martinez BVS et al., 2013

2013

Revista PortuGaúcha de guês Enfermagem

Representações sociais

Matsukura, Tanõ, 2014

BVS

2014

Revista de PortuTerapia guês Ocupacional da Universidade de São Paulo

Descritivo, qualitativo

Noronha et. al., 2016

BVS

2016

Revista PortuGaúcha de guês Enfermagem

Descritivo, qualitativo

Santos de BVS Aguiar Jr et al., 2015

2015

Pesquisa Cuidado é Fundamental Online

Português

Relato de experiência

Stringer et al., 2015a

EBSCO 2015a Perspectives in Psychiatric Care

Inglês

Estudo de caso

Stringer et al., 2015b

EBSCO 2015b Perspectives in Psychiatric Care

Inglês

Estudo de caso

Tszesnioski et al., 2015

BVS

Ciência & Saúde Coletiva

Português

Pesquisaação

Zegwaard et al., 2017

EBSCO 2017

BMC Psychiatry

Inglês

Descritivo, qualitativo

Fonte: Dados da Pesquisa

Caracterização das publicações Do total de publicações, 53% (n=8) encontram-se na BVS e, 47% (n=7), na EBSCO. Maior ocorrência de publicações deu-se em 2015 (53%, n=8). Mais da metade publicados na língua portuguesa (53%, n=8) e, em periódicos diversos, associados às profissões da área de saúde. Quanto ao delineamento, apenas um estudo com abordagem quantitativa e, 93,5% (n=14), são pesquisas qualitativas que envolvem estudos de caso, relatos de experiência, pesquisa ação, convergente assistencial e representações sociais (Quadro 2).

Fonte: Dados da Pesquisa

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2015


Atuação do enfermeiro diante de crianças e adolescentes em sofrimento mental As categorias temáticas foram assim nomeadas: a organização da assistência ao público infantojuvenil em sofrimento mental, o olhar ampliado nas relações com crianças e adolescentes em sofrimento mental, a promoção da autonomia e ressocialização diante do sofrimento mental e, a inclusão do cuidador/familiar no planejamento dos cuidados. A organização da assistência ao público infantojuvenil em sofrimento mental Na gestão do cuidado da criança e do adolescente em sofrimento mental a sistematização da assistência de enfermagem (SAE) revela-se ferramenta eficaz, ao oferecer fundamentos teóricos para o alcance dos objetivos (Macedo Monteiro et al., 2015). Outras atividades são gerir os cuidados colaborativos, planear as ações intersetoriais e elaborar os projetos terapêuticos singulares (Matsukura, Taño, 2014; Stringer et al., 2015a). Pontualmente, o plano terapêutico é metodologia assistencial que cria alvos reais e atingíveis, além de auxiliar os cuidadores na percepção de alterações comportamentais, o que torna eficiente a procura pelos serviços de saúde (Gloff et al., 2015; Macedo Monteiro et al., 2015). O planeamento descreve comportamentos específicos em cada estágio patológico e apresenta possíveis soluções para o seu controle. O contato precoce com o serviço de saúde, nas recaídas, torna o feedback mais objetivo (Beentjes et al., 2016). O cotidiano do enfermeiro envolve, pois, ações sistematizadas em equipa, baseadas em competências para conhecer o indivíduo (Gloff et al., 2015; Macedo Monteiro et al., 2015). De fato, o conhecimento e habilidades são fundamentais para maior precisão, planeamento adequado e desenvolvimento de ações apropriadas e consistentes de controle e manutenção que envolvam não apenas o indivíduo mas, também, a sua família (Barkmann et al., 2015; Naughton et al., 2018). A atuação do enfermeiro no CAPSi considera a redução dos custos e a maximização da eficiência do cuidado, a partir do levantamento dos recursos e pontos fortes. O julgamento clínico permite prever os diagnósticos de enfermagem e planear cuidados que promovam a saúde e previnam problemas (Macedo Monteiro et al., 2015). Dominar as ferramentas disponíveis descortina a dimensão mais abrangente e relacional no cuidado à saúde mental dos jovens.

O olhar ampliado nas relações com crianças e adolescentes em sofrimento mental As abordagens diferenciadas individualizam o cuidado, quando o modelo assistencial, até então denominado hospitalocêntrico, deu lugar a investimentos na dimensão social e histórica do indivíduo, pois as relações ultrapassaram os serviços de saúde (Dutra et al., 2017). Porém, no cenário atual, ainda predomina a heterogeneidade cultural, religiosa e econômica, que desmotiva impor modelos com foco nas relações terapêuticas (Beentjes et al., 2016), adaptadas à cultura do local e da criança (Hirota et al., 2015), a partir do acolhimento/ acompanhamento que favorecem a inserção social (Matsukura, Taño, 2014). Não se discute que o acolhimento é uma das principais atitudes para qualificar e humanizar o atendimento (Santos de Aguiar Jr et al., 2015). O enfermeiro valoriza o ser social, quando conhece a sua história e a articula com a sua família e ambiente vivido, suas redes de apoio e desejos (Beentjes et al., 2016; Dutra et al., 2017; Macedo Monteiro et al., 2015). Não obstante, os enfermeiros ainda transitam nos discursos sobre a loucura e convivem, ao mesmo tempo, com o objetivo e o subjetivo, razão e paixão. Competências que favorecem o olhar crítico em saúde mental (Macedo Monteiro et al., 2015; Stringer et al., 2015a). Não se pode deixar de destacar que, no âmbito das relações, a comunicação é a estratégia para o olhar diferenciado e para o estabelecimento de vínculos e revela-se pelo toque e pelo contato físico, ao relacionar afeto e segurança. As oficinas terapêuticas permitem ao outro se manifestar para que se amplie o processo de construção do viver com dignidade e da cidadania, mesmo diante de sofrimento mental. E o lúdico, em especial, marca presença, no sentido de fazer emergir o simbólico e revelar pensamentos relacionais (Dutra et al., 2017; Gloff et al., 2015; Macedo Monteiro et al., 2015; Martinez et al., 2013). Portanto, a utilização de ferramentas específicas concorrem para o cuidado autêntico e para a autonomia. A promoção da autonomia e ressocialização diante do sofrimento mental A corresponsabilidade no cuidado e a reinserção social dos jovens na família e na sociedade, requerem atuação multiprofissional, proporcionam bem estar biopsicossocial e promovem cidadania (Macedo Monteiro et al., 2015).

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E os enfermeiros apostam que mediar relacionamentos livres de julgamento contribui para a autonomia, o fortalecimento da vida social e a construção de identidades. Estabelecem-se afinidades entre a autonomia e a educação para a saúde por meio de intervenções planejadas (Beentjes et al., 2016; Dutra et al., 2017). Entretanto, o CAPSi demanda uma estratégia de intervenção específica, que considera as características subjetivas, físicas e jurídicas diferenciadas, integrada à rede de saúde, educação, assistência social e garantia de direitos. O cuidado deve ultrapassar o tratamento dos transtornos mentais (modelo centrado na doença) e buscar a inclusão social, a integralidade e a qualidade de vida (Santos de Aguiar Jr et al., 2015; Tszesnioski et al., 2015). A saúde mental dos jovens constitui-se relação social complexa que precisa de ser pensada, planeada e mediada, para promover o prota¬gonismo dos indivíduos, autonomia e consciência crítica da realidade de vida (Dutra et al., 2017; Noronha et al., 2016). Nessa perspectiva, o cuidado autônomo significa conviver, experimentar, provocar situações desejadas, potencialmente veladas nas histórias de sofrimento mental (Dutra et al., 2017). Significa ponte para exercitar o viver, pois os limites e as possibilidades são reconhecidos, estabelecem-se laços de cuidado consigo, com o trabalho e com a afetividade no entorno. Para o enfermeiro o sofrimento mental não atrapalha reconhecer potencialidades individuais no cotidiano vivido (Dutra et al., 2017; Santos de Aguiar Jr et al., 2015). Não menos importante, o envolvimento familiar para o autocuidado, é essencial, principalmente, diante de eventuais limitações das crianças e adolescentes, oportunidade em que os enfermeiros apostam na autonomia e na liberdade como fundamentos do cuidado (Macedo Monteiro et al., 2015). A colaboração eficaz e precoce entre indivíduo, profissionais e cuidadores informais é um dos objetivos na assistência, mas o próprio jovem, é responsável pelos seus caminhos. Fato que evidencia e reforça a promoção da autonomia e tomada de decisão (Beentjes et al., 2016; Stringer et al., 2015b). Assim, o cuidado autêntico não se furta de considerar os familiares na idealização de intervenções em saúde mental. A inclusão do cuidador/familiar no planeamento dos cuidados Crianças e adolescentes percebem, na família, o apoio necessário, elemento chave para auxiliar, precocemente, a equipe de saúde sobre a realidade para a definição do plano terapêutico que se antecipe a quadros agudos (Beentjes et al., 2016; Martinez et al., 2013). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 74

O grupo familiar apresenta-se como peça fundamental na adesão e resposta às terapias propostas, por se envolver no cuidado (Noronha et al., 2016; Santos de Aguiar Jr et al., 2015). A intervenção junto dos cuidadores ocorre de forma paralela ao tratamento do jovem, quando a complexidade das relações demanda aconselhamento e apoio fundamentados (Hirota et al., 2015; Naughton et al., 2018; Zegwaard et al., 2017), pois nessa fase, torna-se possível a compreensão da situação vivenciada. E, ao profissional, cabe vislumbrar o ambiente relacional (Machineski et al., 2013). A escuta cuidadosa, somada ao apoio sem julgamento, conforta o familiar, ocasião em que a empatia é a ferramenta de aproximação. Quando há informação e compreensão a carga tende a diminuir e o resultado da inteiração, cuja precocidade se deseja, representa a continuidade e a coordenação de atendimento melhorado e cada vez mais pontual (Beentjes et al., 2016; Dutra et al., 2017; Stringer et al., 2015a; Zegwaard et al., 2017). Entre os métodos desenvolvidos para a aceitação e o enfrentamento da situação, destacam-se a educação em saúde, treinamentos, grupos de apoio e aconselhamento (Machineski et al., 2013; Zegwaard et al., 2017). Os familiares acreditam que o enfermeiro da saúde mental busca o melhor para o indivíduo e para o cuidador, o que reforça a ideia de deferimento, fragilidade respeitada, confiança não violada e promessas mantidas (Zegwaard et al., 2017). Emerge, portanto, a necessidade de ações coordenadas para a interação e a comunicação entre o enfermeiro, o jovem e sua família, consideradas relevantes para a adesão ao tratamento e a reinserção social efetiva (Martinez et al., 2013; Naughton et al., 2018). Isso posto, os resultados apontaram que a atuação do enfermeiro perpassa pela gestão e organização do cuidado individualizado, com vistas à promoção da autonomia e ressocialização desses jovens e suas famílias. DISCUSSÃO Os achados desta revisão vão de encontro a outros estudos que abordam o quanto a enfermagem colabora no tratamento da criança e do adolescente em sofrimento mental. Destacam-se a utilização de metodologias como a SAE e o olhar mais abrangente que alcance familiares e cuidadores. O processo de trabalho do enfermeiro compõe-se de duas esferas distintas e, ao mesmo tempo, complementares: assistir/cuidar e administrar/gerir a atenção ao jovem em sofrimento mental. Na esfera assistencial, considera-se o cuidado integral.


Do ponto de vista gerencial, a sua atuação almeja a organização dos processos de trabalho e a adequação dos recursos humanos em enfermagem, ao criar e implementar condições apropriadas para o desempenho de sua equipe nas ações assistenciais (Senna et al., 2014). Para atingir tais dimensões o profissional precisa de se preparar, pois a administração e a gestão da assistência relacionam-se à SAE, ferramenta que programa e avalia os cuidados com vistas à redução de possíveis danos e à recuperação do indivíduo na atenção psiquiátrica (Peixoto et al., 2017). Torna-se possível afirmar que mais que as habilidades técnicas, os resultados demonstram a necessidade de ampliação do olhar profissional para além do corpo físico das crianças e adolescentes em sofrimento mental. Há que se considerar o contexto, os atores envolvidos e as relações aí constituídas no estabelecimento dos planos de cuidado. Os estudos selecionados asseveraram, de maneira categórica, que a garantia da qualidade assistencial ao público específico, depende da competência do enfermeiro para a condução individualizada da atenção em saúde mental. Estariam, portanto, envolvidas as habilidades baseadas no conhecimento técnico-científico e, não menos importante, no campo do subjetivo. Ao delinear os desafios dos saberes e práticas de enfermeiros na saúde mental, diante da reforma psiquiátrica, pesquisadores afirmam a complexidade da assistência, pela especificidade de cada jovem que sofre mentalmente. Defendem o olhar voltado para a qualidade do tratamento e para o respeito à dignidade do indivíduo em sofrimento (Souza, Afonso, 2015). Igualmente, o cuidado com bases em diagnósticos psiquiátricos de enfermagem, ultrapassa procedimentos associados à administração de medicamentos, higiene, alimentação e controle físico ou contenção. Incluem-se atividades terapêuticas multidisciplinares e reinserção do indivíduo em seu contexto, para maior qualidade de vida (Peixoto et al., 2017). O diferencial na atuação do enfermeiro reside nas mudanças realizadas a partir do saber e do fazer. O profissional torna-se um líder na implantação das novas políticas de saúde mental. Ao sistematizar e organizar o serviço reveste-se de mediador entre o indivíduo, a equipe, a família e a comunidade, circunstância que concorre para a resolutividade e o enfrentamento mais efetivos de problemas e agravos à saúde (Bortone, Wingester, 2016; Naughton et al., 2018).

De fato, um estudo sobre as estratégias de cuidado no CAPSi, a partir de concepções de familiares e profissionais, faz emergir que as práticas valorizam, sobretudo, a formação de vínculo e a subjetividade do indivíduo. Passa a ser considerado um ser expressivo, criativo, lúdico, social, com capacidade de desenvolvimento funcional, de forma autônoma e de acordo com suas possibilidades (Henriques Araújo et al., 2015). Significa promover a saúde mental infantojuvenil na perspectiva da psiquiatria social (Gogineni, Rothe, & Pumariega, 2019). Pelos resultados a ressocialização integra o papel do enfermeiro, ao favorecer e estimular a autonomia, pois a assistência ultrapassa o silenciamento de sintomas e o isolamento do sofrimento mental. Há que haver a superação de estigmas, de preconceitos e de estereótipos vinculados à loucura. Vislumbra-se o olhar marcado pela defesa dos direitos humanos e pelo resgate da cidadania (Zeferino et al., 2016). Essa revisão evidencia tantos outros estudos ao enaltecer o desempenho da família no contexto assistencial. O cuidado que liberta, tão relevante na ressocialização, inclui o entorno do indivíduo marcado pelo sofrimento mental e considera as informações decorrentes do vínculo estabelecido. São elementos que dão suporte e embasam as ações assistenciais (Cunha et al., 2017). A atuação do enfermeiro frente a crianças e adolescentes que sofrem mentalmente é complexa e essencial para a qualidade de vida dos jovens. A complexidade deve-se à variedade de intervenções e de olhares advindos do conhecimento técnico e científico em psiquiátrica infantojuvenil, à gestão do cuidado individual, toque e comunicação, até a promoção da autonomia e da cidadania, sem deixar de incluir e valorizar os familiares. Entretanto, a presente revisão não encerra questões sobre o cuidado em saúde mental, especificamente, de crianças e adolescentes. O público carece de respostas a outras questões que emergirão dos resultados. A visão dos profissionais desse cuidado específico poderá fazer despontar outras dimensões. E, a participação dos familiares pode evidenciar as dificuldades cotidianas na busca pela saúde mental de seus integrantes mais jovens.

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CONCLUSÕES O enfermeiro é o profissional que detém as competências exigidas para mesclar assistência e gestão em quaisquer níveis de cuidado em saúde, porém torna-se essencial e urgente o suprimento das lacunas ainda existentes para alcançar resultados satisfatórios na atenção a crianças e adolescentes em sofrimento mental. Não se pode deixar de ressaltar o papel das instituições de ensino na promoção do conhecimento aberto, reflexivo, curioso para se buscar, além do aprender, o reaprender a aprender. Conhecimentos, habilidades e atitudes para planear as ações em saúde para público tão peculiar demandam considerar dimensões relacionais e contextuais, em especial as que envolvem a família. Analisar o papel do enfermeiro fez emergir o profissional articulador do cuidado ao público infantojuvenil em sofrimento mental, ao assistir, gerenciar e promover o cuidado autônomo e integral, com vistas à ressocialização. Prática cotidiana complexa e fundamental que liberta e associa-se a ações e intervenções capazes de incluir o jovem e seu entorno no plano terapêutico. Entretanto, novos estudos devem contemplar a visão da família, da escola e da vizinhança daquele que sofre mentalmente. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O permanente aprimoramento do enfermeiro para alcançar padrões assistenciais de excelência de crianças e adolescentes em sofrimento mental concorre para a de vínculos mais fortes e consistentes, além de planos terapêuticos mais efetivos. Repercussão não menos importante estabelece-se no apoio aos familiares dos jovens, ponto chave, por permitir a inclusão e corresponsabilização na manutenção da saúde e no enfrentamento dos conflitos relacionais. Esse contorno permitiria assistir crianças e adolescentes em sofrimento mental no processo de aceitação, autonomia e reinserção familiar e social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Barkmann, C., Otto, C., Schön, G., Schulte-Markwort, M., Schlack, R., Ravens-Sieberer, U., Klasen F., & The BELLA study group. (2015). Modelling trajectories of psychosomatic health complaints in children and adolescents: results of the BELLA study. European Child & Adolescent Psychiatry, 24(6), 685-694. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00787-0140656-2 Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 76

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Stringer, B., van Meijel, B., Karman, P., Koekkoek, B., Hoogendoorn, A. W., Kerkhof, A. J., & Beekman A. T. (2015a). Collaborative care for patients with severe personality disorders: preliminary results and active Ingredients from a pilot study (Part I). Perspectives in Psychiatric Care, 51(3), 189-189. Doi: 10.1111/ppc.12079 Stringer, B., van Meijel, B., Karman, P., Koekkoek, B., Kerkhof, A. J., & Beekman, M. D. (2015b). Collaborative care for patients with severe personality disorders: analyzing the execution process in a pilot study (Part II). Perspectives in Psychiatric Care, 51(3), 220-227. Doi: 10.1111/ppc.12087 The Joanna Briggs Institute. (2014). Joanna Briggs Institute reviewers’ Manual: 2014 edition Adelaide, Austrália. Disponível em: http://joannabriggs.org/assets/ docs/sumari/reviewersmanual-2014.pdf Thiengo, D. L., Cavalcante, M. T., & Lovisi, G. M. (2014). Prevalência de transtornos mentais entre crianças e adolescentes e fatores associados: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 63(4), 360-372. Doi: 10.1590/0047-2085000000046 Tszesnioski, L. C., Nóbrega, K. B. G., Lima, M. L. L. T., & Facundes, V. L. D. (2015). Construindo a rede de cuidados em saúde mental infantojuvenil: intervenções no território. Ciência & Saúde Coletiva, 20(2), 363-370. Doi: 10.1590/1413-81232015202.05082014 Zeferino, M. T., Cartana, M. H. F., Fialho, M. B., Huber, M. Z., & Bertoncello, K. C. G. (2016). Percepção dos trabalhadores da saúde sobre o cuidado às crises na rede de atenção psicossocial. Escola Anna Nery, 20(3): e20160059. Doi: 10.5935/1414-8145.20160059 Zegwaard, M. I., Aartsen, M. J., Grypdonck, M. H., & Cuijpers, P. (2017). Trust: an essential condition in the application of a caregiver support intervention in nursing practice. BMC Psychiatry, 17(1), 47. Doi: 10.1186/ s12888-017-1209-2


Artigo de Revisão

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0284

10 AUTOEFICACIA EN CUIDADORES DE PERSONAS CON DISCAPACIDAD:

REVISIÓN INTEGRATIVA

| Martha Parra-Aguirre1; Patrícia Cid-Henríquez2; Alda Orellana-Yáñez3 |

RESUMEN CONTEXTO: La capacidad de los cuidadores familiares para enfrentar las demandas del cuidado en el hogar se desarrolla individualmente según la capacidad de autoeficacia que logre alcanzar a lo largo de la vida. OBJETIVO: Conocer la percepción de autoeficacia de los cuidadores familiares de personas con discapacidad. METODOLOGÍA: Se utilizó el formato PICO para la pregunta de investigación. Se buscaron artículos científicos en las bases de datos Scopus, PubMed, SciELO, BVS y WOS, teniendo en cuenta los descriptores: autoeficacia, cuidadores y personas con discapacidad, con sus respectivas traducciones al inglés y portugués. Se establecieron cuatro estrategias de búsqueda diferentes utilizando el booleano AND. Los filtros aplicados fueron: texto completo y límite de temporalidad 2008 a 2018. RESULTADOS: Se identificaron 74 estudios de los cuales se eliminaron 68, finalmente, el estudio incluyó 6 investigaciones que evalúan la percepción de autoeficacia en el cuidador familiar de personas con discapacidad. Los estudios reportan a la autoeficacia como un mecanismo de afrontamiento con fuerte validez predictiva en las condiciones de salud y los dominios de las conductas de salud. La asociación más comúnmente reportada es entre la autoeficacia y la sobrecarga percibida, en donde existe una asociación lineal negativa. CONCLUSIONES: La autoeficacia es un determinante poderoso y modificable de la conducta por lo que debe ser foco de atención de los profesionales de enfermería. Surge la necesidad de definir modelos de intervención en enfermería en conjunto con las familias a través de un acompañamiento a lo largo del tiempo. DESCRIPTORES: Autoeficacia; Cuidadores; Personas con discapacidad

RESUMO

ABSTRACT

“Auto-eficácia em cuidadores de pessoas com deficiência: Revisão integrativa”

“Self-efficacy in caregivers of persons with disabilities: Integrative review”

CONTEXTO: A capacidade dos cuidadores familiares de atender às demandas do cuidado domiciliar é desenvolvida individualmente, de acordo com a capacidade de autoeficácia que eles alcançam ao longo da vida. OBJETIVO: Conhecer a percepção de autoeficácia de cuidadores familiares de pessoas com deficiência. MÉTODOS: Foi utilizado o formato PICO para a questão de pesquisa. Pesquisámos artigos científicos nas bases de dados Scopus, PubMed, SciELO, BVS e WOS, levando em consideração os descritores: autoeficácia, cuidadores e pessoas com deficiência, com suas respectivas traduções para inglês e português. Foram estabelecidas quatro estratégias de busca diferentes usando o AND booleano. Os filtros aplicados foram: texto completo e prazo de 2008 a 2018. RESULTADOS: Foram identificados 74 estudos, dos quais 68 foram eliminados e, por fim, foram incluídos 6 estudos que avaliam a percepção de autoeficácia no cuidador familiar de pessoas com deficiência. Estudos relatam a autoeficácia como um mecanismo de enfrentamento com forte validade preditiva nas condições de saúde e nos domínios dos comportamentos de saúde. A associação mais comumente relatada é entre autoeficácia e sobrecarga percebida, onde há uma associação linear negativa. CONCLUSÕES: A autoeficácia é um determinante poderoso e modificável do comportamento, devendo ser o foco dos profissionais de enfermagem. Surge a necessidade de definir modelos de intervenção em enfermagem junto às famílias por meio de um acompanhamento ao longo do tempo.

BACKGROUND: The capacity of family caregivers to meet the demands of home care is developed individually according to the capacity of selfefficacy that they achieve throughout life. AIM: To know the perception of self-efficacy of family caregivers of people with disabilities. METHODS: The PICO format was used for the research question. Scientific articles were searched in the Scopus, PubMed, SciELO, BVS and WOS databases, taking into account the descriptors: self-efficacy, caregivers and people with disabilities, with their respective translations into English and Portuguese. Four different search strategies were established using the AND boolean. The filters applied were: full text and time limit from 2008 to 2018. RESULTS: 74 studies were identified, 68 of which were eliminated. Finally, the study included 6 studies that evaluate the perception of self-efficacy in the family caregiver of people with disabilities. Studies report self-efficacy as a coping mechanism with strong predictive validity in health conditions and domains of health behaviors. The most commonly reported association is between self-efficacy and perceived overload, where there is a negative linear association. CONCLUSIONS: Self-efficacy is a powerful and modifiable determinant of behavior, so it should be the focus of nursing professionals. The need arises to define models of intervention in nursing together with families through an accompaniment over time.

PALAVRAS-CHAVE: Autoeficácia; Cuidadores; Pessoas com deficiência

KEYWORDS: Self-efficacy; Caregivers; Disabled persons Submetido em 30-09-2019 Aceite em 21-01-2020

1 Doutoranda em Enfermagem na Universidad de Concepción, Chile; Docente de Enfermagem na Universidad Central del Ecuador, Quito, Equador, maparraa@uce.edu.ec 2 Doutora em Enfermagem; Professora Titular na Universidad de Concepción, Concepción, Chile, patcid@udec.cl 3 Doutora em Enfermagem; Professora Associada na Universidad de Concepción, Casilla, Concepción, Chile, aorellan@udec.cl Citação: Parra-Aguirre, M., Cid-Henríquez, P., & Orellana-Yáñez, A. (2020). Autoeficacia en cuidadores de personas con discapacidad: Revisión integrative. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (24), 79-85. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 79


INTRODUCCIÓN El incremento de la esperanza de vida al nacer y la progresión constante de las enfermedades crónicas repercuten en el desarrollo de discapacidades y condiciones de dependencia, lo cual también implica un aumento en la necesidad de personas que se dediquen a brindar cuidados en el ambiente familiar. El cuidado de un paciente dependiente supone un exceso de trabajo para los cuidadores a cargo, con largas jornadas y altas horas de constante dedicación (Pinzón & Carrillo, 2016). Esta circunstancia genera ansiedad, agotamiento y temor de no cumplir de forma adecuada con las labores de asistencia, lo cual puede repercutir en sentimientos de culpa que más adelante se ven reflejados en sobrecarga y alteración en la calidad de vida (Pinzón & Carrillo, 2016). Sin embargo, aun presentando algunos problemas en la experiencia de asistencia, a menudo los cuidadores son capaces de mostrar una extraordinaria capacidad de adaptación a las circunstancias que les ha tocado vivir (Crespo & FernándezLansac, 2015). Las personas pueden afrontar las presiones como amenaza o como oportunidad en las diferentes etapas del curso de la vida, ejerciendo su papel activo y concentrándose en las posibilidades que las situaciones proporcionan, en función de sus creencias sobre su capacidad de actuar sobre ellas (Fontes & Azzi, 2012). En esta transición potencialmente estresante, como es hacia el papel de cuidador, las creencias de autoeficacia, pueden servir como recurso personal facilitador o factor de vulnerabilidad (Petronilho, Pereira & Silva, 2015). Para explicar estos procesos de afrontamiento, surgen desde la psicología modelos que han puesto de relieve el papel de la cognición en la regulación del comportamiento y dentro de ellos se destaca el concepto de autoeficacia, el cual en el ámbito de la salud cobra importancia en la prevención de conductas riesgosas y en la promoción de comportamientos que van en beneficio de las personas (Zenteno, Cid & Saez, 2017). La autoeficacia es el constructo más importante dentro de la teoría social–cognitiva propuesta por Bandura (1977), donde se enfatiza el papel de los fenómenos autorrefenciales como el medio por el cual el ser humano es capaz de actuar en su ambiente y transformarlo, permitiendo a las personas crear y desarrollar autopercepciones acerca de sus capacidades y estas se conviertan en los medios por los cuales siguen sus metas y toman sus decisiones (Ornelas, Blanco, Aguirre & Guedea, 2012).

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 80

Las creencias de autoeficacia determinan el nivel de motivación, la cantidad de esfuerzo y tiempo empleado para alcanzar un objetivo (Pereira & Almeida, 2004). Esta creencia acerca de lo que es capaz de realizar, da forma a las acciones, cuanto más fuerte la creencia en las capacidades personales, mayor y más largos serán los esfuerzos. Así, las creencias de autoeficacia pueden transformar cognitivamente las situaciones que parecen ser amenazantes en situaciones manejables (Ornelas et al., 2012; Pereira & Almeida, 2004; Taylor & IrizarryRobles, 2015). La percepción de autoeficacia se enmarca en el control personal de las acciones, no refleja las competencias personales, sino las creencias, juicios y evaluaciones sobre lo que se puede realizar con las competencias que se posee en situaciones determinadas y tiene una elevada predictibilidad en relación con las tareas de comportamiento específico (Pereira & Almeida, 2004). Estas creencias no son uniformes, y provienen de: experiencias vividas; persuasión verbal de otros; modelación social por medio de la observación del desempeño de otras personas; y el estado físico y emocional durante una tarea, como un reflejo de las capacidades y limitaciones personales para adaptarse al dominio particular de funcionamiento que es el objeto de interés (Bandura, 2006; Pace et al., 2017). En este caso se trata de la autoeficacia del cuidador, la cual puede explicar la variabilidad en la capacidad de los miembros de la familia para hacer frente a las demandas crónicas de los cuidados y evaluar la confianza de los cuidadores para responder a estos desafíos según las tareas a desarrollar (Steffen, McKibbin, Zeiss, Gallagher-Thompson & Bandura, 2002). De este modo, la percepción de autoeficacia, le permitirá al cuidador organizar y ejecutar un cuidado que sea eficiente y que permita prevenir conductas mal adaptativas o riesgosas entre la diada cuidado y cuidador (Zenteno et al., 2017). Dentro del contexto del cuidado familiar ha existido un interés permanente por comprender los factores cognitivos y comportamentales que favorecen o dificultan el ejercicio del rol de cuidador. Esto ha llevado a evaluar la autoeficacia del cuidado, identificándose tres dimensiones: autocuidado y obtención de respiro, manejo de conductas disruptivas y control de pensamientos perturbadores, que reflejan desafíos conductuales y cognitivos distintivos y comunes para los cuidadores familiares de personas dependientes (Steffen et al., 2018).


Dada la importancia de la percepción de autoeficacia del cuidador para la entrega de su cuidado es que esta revisión integrativa tiene como objetivo conocer la percepción de autoeficacia de los cuidadores familiares de personas con discapacidad. METODOLOGÍA En el contexto actual la enfermería basada en la evidencia (EBE) constituye una pieza clave para garantizar que la práctica sea efectiva y eficiente utilizando en forma crítica los resultados de la investigación científica para establecer mejoras en la calidad de los cuidados de enfermería (Subirana & Fargues, 2004), dando el apoyo científico necesario para buscar y evaluar la evidencia y posteriormente en conjunto con la experiencia clínica tomar las decisiones en el cuidado (Orellana & Paravic, 2007). En esta investigación se utilizó la metodología de la revisión integrativa sugerida por Mendes, Silveira & Galvão (2008), cuyas etapas son: definición del problema y formulación de la pregunta de investigación, establecimiento de criterios para inclusión y exclusión de estudios, búsqueda en las bases de datos para identificación de los estudios a ser incluidos en la revisión, definición de la información a extraer de los estudios seleccionados y categorización de los estudios, evaluación de los estudios incluidos en la revisión integrativa, interpretación de los resultados y finalmente, síntesis del conocimiento. Para la formulación de la pregunta de investigación se utilizó el formato PICO, incluyendo tres de sus componentes: ¿Cuál es la percepción de autoeficacia de los cuidadores familiares de personas con discapacidad? Para la elección de los estudios se aplicaron los siguientes criterios de inclusión: artículos originales, disponibles en texto completo, en idiomas inglés, español o portugués, correspondientes a los años 2008 a julio 2018 y que contuvieran de manifiesto en el texto algún tipo de relación entre autoeficacia y cuidador de personas con discapacidad. Se excluyeron estudios de intervención y estudios para validación de escalas. Se realizó la búsqueda de los artículos científicos en las bases de datos Scopus, PubMed, SciELO, BVS y WOS. La búsqueda se orientó tomando en cuenta los descriptores MeSH/DeCS: cuidadores, personas con discapacidad, autoeficacia y sus respectivas traducciones al idioma inglés y portugués. Se establecieron cuatro estrategias de búsqueda diferentes utilizando el booleano AND según se muestra en el Cuadro 1.

Cuadro 1 - Estrategias de Búsqueda para la Selección de Estudios Base de datos Estrategia de búsqueda

Artículos encontrados

BVS

Caregivers and Disabled Persons and Self Efficacy

17

PubMed

Caregivers and Disabled Persons and Self Efficacy

8

Caregivers and Disabled Persons and Self Efficacy

2

Family Caregiver and person with Physical Disabilities and Self Efficacy

3

Family Caregiver and person with Physical Disabilities

16

Caregivers and Disabled Persons and Self Efficacy

13

Caregivers and Disabled Persons and Self Efficacy

0

Cuidadores e Auto Eficácia

15

WOS

Scopus SciELO

El procedimiento para la selección de artículos se resume en la Figura 1. Figura 1 - Diagrama de flujo del proceso de selección de estudios para revisión integrativa

Los artículos identificados en las bases de datos se exportaron al gestor de referencias Zotero para la eliminación de los duplicados y la aplicación de los criterios de inclusión y exclusión. Finalizada esta etapa, se utilizó un instrumento (ficha resumen) para la extracción, categorización y evaluación de la información de los artículos seleccionados, incluyendo autor, título, revista, país, año de publicación, lugar de estudio, objetivo, metodología, resultados y conclusiones relevantes. Para garantizar la calidad de la evidencia seleccionada se realizó el análisis crítico de los artículos científicos y se aplicó las tres preguntas claves para estudios cuantitativos: Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 81


¿Son válidos los resultados?; ¿Cuáles son los resultados?; ¿Resultan útiles los resultados? (Subirana & Fargues, 2004), con lo cual se eliminaron en la lectura a texto completo cuatro artículos. RESULTADOS De los seis artículos el 100% de los estudios corresponden al enfoque cuantitativo, cinco de las investigaciones son de corte transversal y solamente la investigación de Petronilho et al. (2015) es de tipo longitudinal. Los análisis estadísticos aplicados son de tipo descriptivo y correlacional. Respecto al año de publicación, dos corresponden al 2013, dos al 2015 y solamente uno para los años 2016 y 2017. La mitad de las investigaciones fueron publicadas en revistas de enfermería y la otra mitad en revistas de psicología y medicina de la familia. En cuanto al lugar de la investigación, cuatro de las seis publicaciones corresponden a países de la Unión Europea y solamente dos corresponden a América Latina. Los artículos que compusieron el corpus de análisis se presentan en el Cuadro 2 ordenados según el año de publicación. Cuadro 2 - Descripción de las Publicaciones sobre Autoeficacia en el Cuidador de Personas con Discapacidad Autor País identificado

Título

Marrón, RedolarRipol, Boixadós, Nieto, Guillamón, Hernández & Gómez. España.

Burden on Caregivers of Universitas Children with Cerebral Psychologica Palsy: Predictors and 2013 Related Factors

La autoeficacia tenía una asociación lineal negativa con la carga, mientras que el grado de discapacidad y depresión una asociación lineal positiva. Los predictores más importantes de la carga de los cuidadores fueron el grado de discapacidad, la depresión y la autoeficacia.

Guedes & Pereira. Portugal.

Burden, Coping, Physical Symptoms and Psychological Morbidity in Caregivers of Functionally Dependent Family Members

Revista LatinoAmericana. Enfermagem 2013

Fue encontrada una correlación negativa significativa entre estrategias de enfrentamiento entre ellas la autoeficacia y las diferentes variables clínicas del cuidador, y también una correlación positiva significativa entre estrategias de enfrentamiento y la duración del cuidado. Los cuidadores de familiares con déficit cognitivo relatan mayor sobrecarga en el relacionamiento interpersonal y menor auto-eficacia percibida.

Petronilho, Pereira & Silva. Portugal.

Perceção de autoeficácia do familiar cuidador após o regresso a casa do dependente: Estudo longitudinal

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental 2015

Se verificó una evolución positiva en la percepción de autoeficacia de los cuidadores familiares a lo largo de tres meses tras el regreso a casa del dependiente. Existe una construcción mental del papel a ejercer que determina su acción, la mayor asignación de importancia a determinados cuidados está asociada a una mayor percepción de autoeficacia. La mayor percepción de autoeficacia en la ayuda de los cuidadores fue al "andar", "vestirse/desvestirse", "alimentarse" y "bañarse".

Crespo & FernándezLansac. España.

Resiliencia en cuidadores familiares de personas mayores dependientes

Anales de Psicología 2015

Se analizaron las diferencias entre dos grupos: alta vs. moderada o baja resiliencia. Aunque hubo diferencias en el estado cognitivo del receptor de cuidado, los cuidadores con alta resiliencia mostraron mayores puntuaciones significativas estadísticamente en: satisfacción con el apoyo social recibido, autoeficacia para controlar los pensamientos negativos, autoestima, autocuidado y extraversión.

Pablo, Domínguez, Sobrecarga y autoefiPeláez, Rincón & Orea. cacia percibida en México. cuidadores primarios informales de pacientes con insuficiencia cardíaca

Revista Clínica de Medicina de Familia 2016

Se observó una correlación significativa negativa entre la sobrecarga percibida y autoeficacia percibida, moderada e inversamente proporcional. El 49,5 % de la muestra reportó un nivel de autoeficacia bajo. El 27,5 % presentó sobrecarga leve y el 25,7 % sobrecarga intensa.

Zenteno, Cid & Sáez. Chile.

Enfermería Se observó cómo la percepción de autoeficacia se ve influenciada Universitaria por las características biopsicosociales del cuidador (edad, nivel de 2017 estudios, autoestima, conocimiento del tratamiento) e indicadores de morbilidad de la persona cuidada en estado crítico y cómo esta se relaciona con la decisión de adoptar una conducta promotora de salud frente a su autocuidado y el de su familiar.

Autoeficacia del cuidador familiar de la persona en estado crítico

Revista Año

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 82

Aporte a la comprensión del fenómeno estudiado


En cuanto a las características de los cuidadores, los estudios revelan que el perfil del cuidador se mantiene como se ha conocido tradicionalmente, es decir, mayoritariamente femenino (entre el 73% al 88%) (Crespo & Fernández-Lansac, 2015; Marrón et al., 2013; Pablo, Domínguez, Peláez, Rincón & Orea, 2016; Zenteno et al., 2017), la edad promedio fue de 40 a 62 años (Crespo & Fernández-Lansac, 2015; Guedes & Pereira, 2013; Marrón et al., 2013; Pablo et al., 2016; Zenteno et al., 2017), entre el 62% al 79,8% de los cuidadores reportaron tener pareja o ser casados (Guedes & Pereira, 2013; Pablo et al., 2016; Zenteno et al., 2017). El tiempo de cuidado promedio reportado fue entre tres y ocho años (Guedes & Pereira, 2013; Zenteno et al., 2017), en relación al nivel de estudios, los cuidadores poseen estudios básicos y/o medios (Crespo & Fernández-Lansac, 2015; Guedes & Pereira, 2013; Pablo et al., 2016; Zenteno et al., 2017). Sobre la relación de parentesco, la mayoría de los estudios reportan a las madres, esposas o hijas/os de las personas dependientes como sus cuidadores (Crespo & Fernández-Lansac, 2015; Marrón et al., 2013; Pablo et al., 2016; Zenteno et al., 2017). El mayor aporte de estos estudios se centra en la descripción de características de los cuidadores familiares que muestran prioridad para ser intervenidas, ejemplo de ello son la autoeficacia, la sobrecarga, la depresión, la ansiedad y el apoyo social (Crespo & Fernández-Lansac, 2015; Guedes & Pereira, 2013; Marrón et al., 2013; Pablo et al., 2016; Petronilho et al., 2015; Zenteno et al., 2017). Las intervenciones sugeridas como producto de los estudios son en su mayoría la implementación de programas de educación y apoyo efectivo a los cuidadores familiares a través del uso de herramientas como psicoeducación y entrenamiento en solución de problemas para reducir la depresión y mejorar la autoeficacia, incorporando aspectos positivos de la adaptación a los modelos teóricos de cuidado, los cuales tradicionalmente se han venido centrando en el desarrollo de sintomatología (Crespo & Fernández-Lansac, 2015; Guedes & Pereira, 2013; Marrón et al., 2013; Pablo et al., 2016; Petronilho et al., 2015) DISCUSIÓN La preocupación de enfermería por los cuidadores familiares de personas con discapacidad es importante, considerando el aumento de la esperanza de vida al nacer, las enfermedades crónicas no transmisibles y su relación con los niveles de discapacidad y dependencia que requieren de esta figura dentro del ámbito familiar.

El constructo de la autoeficacia ha sido útil para avanzar en la investigación y la práctica psicosocial con cuidadores familiares debido a que las creencias de autoeficacia muestran una fuerte validez predictiva en las condiciones de salud y los dominios de las conductas de salud (Steffen et al., 2018), como queda demostrado en los resultados de esta revisión integrativa. Las variables psicológicas estudiadas en los cuidadores familiares fueron: autoeficacia, resiliencia, calidad de vida, percepción de apoyo social, sobrecarga, y depresión (Crespo & Fernández-Lansac, 2015; Guedes & Pereira, 2013; Marrón et al., 2013; Pablo et al., 2016; Petronilho et al., 2015; Zenteno et al., 2017). De los cuales la autoeficacia resalta como uno de los predictores más importantes en la carga del cuidado. Una de las reacciones más comúnmente reportadas como consecuencia del ejercicio del rol de cuidador es la sobrecarga percibida (Guedes & Pereira, 2013; Marrón et al., 2013; Pablo et al., 2016), entendida como el nivel en el que el cuidar influye sobre la vida social, personal, económica y aspectos de su salud (Pablo et al., 2016). Esto se corrobora con el estudio de Pablo et al. (2016), quienes indican que la sobrecarga es una de las consecuencias negativas más reportadas relacionada con la autoeficacia percibida. La autoeficacia se asocia de forma lineal negativa con la carga (Marrón et al., 2013) y esta carga aumenta en los cuidadores de familiares con déficit cognitivo (Guedes & Pereira, 2013). Además, se ha investigado el papel de la autoeficacia en la regulación del estrés, la ansiedad y depresión. Así, Marrón et al. (2013), encontraron una asociación lineal positiva entre el grado de discapacidad de la persona cuidada y la depresión del cuidador con la sobrecarga en donde la autoeficacia fue el mecanismo regulador de estas percepciones. En cuanto a las estrategias de enfrentamiento, Crespo & Fernández-Lansac (2015), reportan que los aspectos subjetivos relacionados con los recursos internos y la manera en que los cuidadores valoran la situación, son los que realmente determinan su adaptación a las circunstancias. Así en su estudio, relacionaron los factores de estrés del cuidador entre dos grupos con alta vs. moderada o baja resiliencia. Los cuidadores altamente resilientes tendieron a manifestar una menor preocupación por los problemas del paciente, y presentaron menores niveles de sintomatología depresiva y ansiosa. Además, se observaron mayores puntuaciones en: satisfacción con el apoyo social recibido, autoeficacia para controlar los pensamientos negativos, autoestima, autocuidado y extraversión (Crespo & Fernández-Lansac, 2015). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 83


La construcción mental que realice el cuidador sobre la importancia de su rol determina su acción y al parecer asigna mayor importancia a determinados cuidados lo cual se asocia a una mayor percepción de autoeficacia (Petronilho et al., 2015). Otro estudio reporta una correlación positiva significativa entre estrategias de enfrentamiento y la duración del cuidado (Guedes & Pereira, 2013), lo que indica que a medida que el cuidador se adapta a su rol, disminuye la ansiedad y se establecen estrategias de enfrentamiento y entre ellas la autoeficacia (Marrón et al., 2013; Petronilho et al., 2015). Con ello surge la necesidad de definir modelos de intervención en enfermería con mayor efectividad junto a las familias a través de un acompañamiento a lo largo del tiempo más sistemático y útil, teniendo en cuenta el significado personal atribuido al cuidado, sus expectativas, sus necesidades y los recursos disponibles (Petronilho et al., 2015). En la práctica de enfermería, la autoeficacia es un determinante poderoso y modificable de la conducta por lo que debe ser foco de atención de los profesionales de enfermería (Weng, Dai, Wang, Huang & Chiang, 2008), se debe abogar por el acceso y la utilización de los recursos necesarios para los cuidadores familiares como una intervención crucial desde la enfermería (Petronilho et al., 2015). La importancia de que los profesionales de enfermería conozcan cómo las personas organizan sus pensamientos y acciones radica en la capacidad de fomentar una prevención efectiva y además ser capaces de identificar las necesidades de cada situación específica, a las que tendrán que dar una respuesta eficaz en la asunción por parte de los familiares del papel de cuidadores (Petronilho et al., 2015). CONCLUSIÓN Esta revisión integrativa de la percepción de autoeficacia en el cuidador familiar de personas con discapacidad, la evidencia como una estrategia de afrontamiento que protege al cuidador familiar de los efectos del estrés, la ansiedad y sobrecarga prolongados al que es sometido debido a su rol. Es importante considerar a los cuidadores como un usuario más de las intervenciones del sistema de salud y especialmente de enfermería, generando propuestas que visibilicen, evalúen y actúen en la práctica con la entrega de cuidados que promocionen su autoeficacia. Se puede percibir la necesidad emergente de más estudios en enfermería sobre intervenciones enfocadas al desarrollo de autoeficacia en este grupo poblacional. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 84

IMPLICACIONES PARA LA PRÁCTICA CLÍNICA Los resultados obtenidos en esta investigación destacan que la naturaleza y el alcance de la autoeficacia cambian a lo largo de la vida, cobrando aún mayor importancia cuando se asumen nuevos roles, como es el caso del cuidador familiar. Frente a esto, es necesario fomentar e implementar acciones multidisciplinarias encaminadas a apoyar a los cuidadores a fortalecer su autoeficacia para enfrentar los desafíos que le impone el ejercicio de este rol, así como para complementar los modelos de cuidado hasta ahora existentes. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioral change. Psychological Review, 84(2), 191–215. Doi: 10.1016/0146-6402(78)90002-4 Bandura, A. (2006). Guide for constructing Self-Efficacy Scales. In Bandura, A. Self-Efficacy beliefs of adolescents. 5(1), 307-337. Disponível em: https://www.uky. edu/~eushe2/Bandura/BanduraGuide2006.pdf Crespo, M. & Fernández-Lansac, V. (2015). Resiliencia en cuidadores familiares de personas mayores dependientes. Anales de Psicología, 31(1), 19–27. Disponível em: http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_ abstract&pid=S0212-97282015000100003&lng=es&nr m=iso&tlng=es Fontes, A. & Azzi, R. (2012). Self-efficacy beliefs and resilience: Findings of social-cognitive literature. Estudos de Psicologia (Campinas), 29(1), 105–114. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ abstract&pid=S0103-166X2012000100012&lng=en&n rm=iso&tlng=pt Guedes, A. C. & Pereira, M. D.G. (2013). Burden, coping, physical symptoms and psychological morbidity in caregivers of functionally dependent family members. Revista latino-americana de enfermagem, 21(4), 935–940. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S010411692013000400935&lng=en&nrm=iso&tlng=es Marrón, E. M., Redolar-Ripol, D., Boixadós, M., Nieto, R., Guillamón, N., Hernández, E. & Gómez, B. (2013). Burden on caregivers of children with cerebral palsy: predictors and related factors. Universitas Psychologica, 12(3), 767–777.


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11 NORMAS

DE PUBLICAÇÃO DA ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL

REVISTA

PORTUGUESA

DE

A Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental é publicada duas vezes por ano, em junho e dezembro, tratando-se de uma revista indexada em bases de dados nacionais e internacionais. A Revista apresenta, atualmente, as seguintes secções: Artigos de Investigação; Artigos de Revisão (Narrativa, Sistemática e Integrativa) da Literatura; Artigos de Boas Práticas/Reflexão. 1 – Procedimentos de Submissão do Artigo: 1.1 – Submissão eletrónica: os artigos devem ser sempre submetidos eletronicamente no sítio da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental: http://www.aspesm.org/. 1.2 – Para a submissão dos artigos, deverão sempre ser enviados os seguintes documentos: a) Artigo integral, obedecendo às normas da revista; b) Checklist de autoverificação, preenchida na totalidade c) Declaração de Cedência de Direitos de Autor e de Observação dos Princípios Éticos da Investigação, provando que os autores concordam que o artigo, uma vez aceite, fique da propriedade d’ ASPESM, não podendo, por isso, ser publicado noutra fonte, e que foram cumpridos todos os princípios éticos inerentes a um trabalho de investigação. Nota: a Direção da Revista reserva-se o direito de retirar um artigo do processo de revisão ou das bases de dados (no caso dos artigos publicados), sempre que se verifique que os autores publicaram uma versão idêntica noutra Revista. 2 – Processo de Revisão: Os artigos propostos são apreciados num processo Double Blinded (duplamente cego). Neste processo, o artigo é enviado por dois Peer Reviewers (Pares Revisores), os quais o examinam e arbitram sobre a sua qualidade, dando as recomendações que julgarem convenientes. Sempre que não se verifique acordo entre os dois revisores, o Diretor da Revista reserva-se o direito de indicar um terceiro revisor. A Direção da Revista enviará ao autor informação sobre a eventual aceitação definitiva, aceitação com alterações, ou não aceitação. No caso da aceitação com alterações, os autores receberão os pareceres e recomendações sugeridas pelos Peer Reviewers. O autor deve efetuar as alterações e reenviar o documento, via eletrónica, no tempo regulamentado. Nota: caso não se verifique o cumprimento rigoroso do tempo estipulado para correção do artigo, este pode ser excluído do processo de revisão. Cada artigo será, posteriormente, verificado pelo Diretor e Coordenador da Revista, que analisam a primeira versão do artigo e a versão corrigida, em função das recomendações dos Peer Reviewers. O processo de revisão será efetuado online. As fases do processo de revisão e recomendações encontram-se descritos no quadro abaixo: Fase Receção do Artigo Revisão Reformulação do Autor Verificação Redatorial Publicação

Procedimento Após o envio do artigo, este será submetido a um processo de revisão técnica (revisão dos aspetos formais e de normalização, de acordo com as normas de publicação da Revista). O artigo é enviado para 2 Peer Reviewers, que o examinam e arbitram sobre a sua qualidade, dando as recomendações convenientes. A Direção da Revista enviará ao autor informação sobre a aceitação definitiva, aceitação com alterações, ou não aceitação, bem como os pareceres e recomendações dos Peer Reviewers. As alterações a efetuar pelo autor deverão ir, rigorosamente, de acordo com as recomendações dos Peer Reviewers. Cada artigo deverá ser verificado pelo Diretor e pelo Coordenador da Revista, que analisam a primeira versão do artigo e a versão corrigida, em função das recomendações dos Peer Reviewers. A oportunidade de publicação é da inteira responsabilidade da Direção da Revista.

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3 – A decisão final acerca da oportunidade de publicação dos artigos é da responsabilidade do Diretor da Revista. 4 – O artigo: 4.1 – Tipo de artigo: devem ser artigos científicos originais e versarem temas de saúde mental, Enfermagem de saúde mental ou educação em saúde mental. O conteúdo dos artigos é da exclusiva responsabilidade dos seus autores, aos quais compete respeitar os princípios éticos da investigação e cumprir as normas da edição da Revista. A Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental poderá incluir artigos em língua portuguesa, espanhola, inglesa ou francesa, consoante a origem dos artigos. 4.2 – Estrutura do artigo 4.2.1 - Título: o artigo deverá incluir um título informativo (que vá de encontro ao âmbito do trabalho) e sucinto (em português, espanhol e inglês); máximo de 16 palavras, sem abreviaturas e sem a indicação da localização geográfica da investigação. 4.2.2 - Autores: os autores devem estar devidamente identificados, com o nome, habilitações académicas, categoria profissional, instituição onde exercem funções, contactos (morada, e-mail e telefone institucionais) e informação no caso de o artigo ser extraído de Dissertação ou Tese (indicando o título, ano e instituição onde foi apresentada). O nome e afiliação dos autores deve surgir imediatamente após o título em português. As afiliações devem estar por extenso (ex.: Local de Trabalho – Escola Superior de Enfermagem do Porto). Os endereços de correio eletrónico dos autores dos artigos devem estar com hiperligação (com link disponível). 4.2.3 - Resumo: o resumo do trabalho deve ser apresentado em português, espanhol e inglês, e não deve exceder as 250 palavras, devendo incluir a descrição do contexto, objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões. 4.2.4 - Palavras-Chave: o artigo deve apresentar, no máximo, 4 palavras-chave, transcritas de acordo com os descritores MeSH (em português, ver DeCS), em português, espanhol e inglês. 4.2.5 - Corpo do artigo: O artigo (tratando-se de um trabalho de investigação) deve ser estruturado em secções, devendo incluir os seguintes capítulos: Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão, Conclusão, e Implicações para a Prática Clínica). Os artigos de revisão e de boas práticas/reflexão não têm que obedecer, necessariamente, a esta divisão. 4.3 - Formato: • O texto deve ser apresentado em formato Word, letra Arial, tamanho 11, espaçamento 1,5, páginas em formato A4, em coluna única, evitando negritos e sublinhados, variação do tipo de letra, fundos de cor, etc.; • Todas as margens devem ter 2,5 cm.; • Não devem ser incluídas notas de rodapé. • O artigo não deve ultrapassar as 15 páginas incluindo resumo (em português, espanhol e inglês), referências, tabelas, quadro e figuras. • O artigo não deverá ser paginado. • Os parágrafos não devem ser indentados. • O artigo deve ser redigido de acordo com o Novo Acordo Ortográfico (caso não o seja, a Comissão Editorial reserva-se o direito de realizar a conversão). Nota: caso o(s) autor(es) se recuse(m) a redigir o artigo segundo o Novo Acordo Ortográfico devem, aquando do seu envio, manifestar essa posição de forma clara e inequívoca. • Na primeira utilização de uma sigla esta deve estar, primeiramente, por extenso, por exemplo: Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). • Quando se realizarem citações de três a cinco autores, todos os nomes devem ser mencionados na primeira vez que a citação é feita (ex.: Bradley, Ramirez, & Soo, 1999). Nas vezes seguintes, deve utilizar-se apenas o nome do primeiro autor seguido de “et al.” (ex.: Bradley et al., 1999). Caso a citação seja de seis ou mais autores, logo na primeira vez em que a citação é feita deve utilizar-se apenas o nome do primeiro autor seguido de “et al.”. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 88


• No corpo do artigo, ao citar autores coletivos, na primeira vez que a citação é feita, deve ser mencionado o nome por extenso (ex.: National Institute of Mental Health [NIMH], 2003). Nas vezes seguintes, pode ser utilizada a abreviatura (ex.: NIMH, 2003). • Os títulos dos capítulos devem seguir a seguinte estrutura: Nível do Título Formato 1 Centrado, Negrito, com Maiúsculas e Minúsculas 2 Alinhado à Esquerda, Negrito, com Maiúsculas e Minúsculas 3 Indentado, negrito, em minúsculas terminando com ponto final. 4 Indentado, negrito, itálico, em minúsculas terminando com ponto final. 5 Indentado, itálico, em minúsculas terminando com ponto final. 4.3.1 - Tabelas, quadros, gráficos e figuras: devem ser incluídos apenas os que sejam absolutamente essenciais para a compreensão do artigo e numerados por ordem de inclusão no texto, em função de cada tipo. As tabelas e quadros devem apresentar o título em cabeçalho e os gráficos e figuras devem apresentar o título por baixo. Para tabelas e quadros o tamanho da letra pode ser reduzido até um mínimo de 9 e sem espaçamentos. As tabelas, quadros, gráficos e figuras devem surgir imediatamente após o parágrafo em que é feita referência às mesmas. 4.3.2 - Citações: todos os autores citados no artigo devem constar da lista de referências bibliográficas. Exemplo: Sequeira (2006), (Sequeira, 2006), ou “Em 2006, Sequeira (...)”. Deve indicar-se o número de página, no caso de citação textual, tal como nos exemplos: Sequeira (2006, p. 32) ou (Sequeira, 2006, p. 32). Quando citar dois ou mais autores numa mesma paráfrase, deve ordená-los por ordem alfabética, tal como no exemplo: (Miller, 1999; Shafranske & Mahoney, 1998). Nota: utilizar o símbolo “&” apenas nas paráfrases em que os autores citados sejam de países em que o português não é uma língua oficial (ex.: EUA, Reino Unido, etc.). 4.3.3 - Referências Bibliográficas: • As referências selecionadas devem permitir evidenciar as publicações mais representativas do “estado da arte” da problemática em estudo (últimos 5 anos, extensíveis a 10 anos para problemáticas que tenham sido pouco estudadas), resultando da pesquisa de bases de dados de revistas indexadas nacionais e internacionais. • As referências bibliográficas devem estar elaboradas de acordo com as normas da 6ª Edição da American Psychological Association (APA). Todas elas deverão estar citadas no artigo. • Nas referências bibliográficas, independentemente do número de autores, estes devem ser todos referidos, não sendo permitido o uso de “et al.”. • O título das revistas nunca deve ser abreviado nas referências bibliográficas. Por exemplo, não se deve escrever “RPESM”, mas sim “Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental”. • Sempre que se inclua um site nas referências bibliográficas, a sua hiperligação deve estar presente e funcionante. Nota: as fontes devem ser alvo de seleção criteriosa, em função da sua pertinência, e não devem ultrapassar um total de 20 referências, organizadas por apelido do autor e ordenadas por ordem alfabética. APA 6ª Edição (Exemplos – consultar http://www.apastyle.org/) 4.3.3.1 Modelo de referências (indicar o nome de todos os autores – não usar “et al.”): Livros Shotton, M. A. (1989). Computer addiction? A study of computer dependency. London, England: Taylor & Francis. Trabalho académico (Dissertação/Tese) Healey, D. (2005). Attention deficit/hyperactivity disorder and creativity: An investigation into their relationship. Tese de Doutoramento, University of Canterbury, Christchurch, New Zealand. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 89


Trabalho académico (Dissertação/Tese) Healey, D. (2005). Attention deficit/hyperactivity disorder and creativity: An investigation into their relationship. Tese de Doutoramento, University of Canterbury, Christchurch, New Zealand. Editor literário Barkley, R. A. (Ed.) (2008). Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: Manual para diagnóstico e tratamento (3ª ed.). Porto Alegre: Artmed. Capítulos de livros Haybron, D. M. (2008). Philosofy and the science of subjective well-being. In M. Eid & R. J. Larsen (Eds.), The Science of subjective well-being (pp. 17-43). New York, NY: Guilford Press. Autor coletivo American Psychological Association. (2010). Publication manual of the American Psychological Association (6ª ed.). Washington, DC: Author. Artigos de publicações periódicas Com DOI Herbst-Damm, K. L. & Kulik, J. A. (2005). Volunteer support, marital status, and the survival times of terminally ill patients. Health Psychology, 24, 225-229. doi: 10.1037/0278-6133.24.2.225 Sem DOI Light, M. A. & Light, I. H. (2008). The geographic expansion of Mexican immigration in the United States and its implications for local law enforcement. Law Enforcement Executive Forum Journal, 8(1), 73-82. Documentos eletrónicos Livros Schiraldi, G. R. (2001). The post-traumatic stress disorder sourcebook: A guide to healing, recovery, and growth [Adobe Digital Editions version]. doi: 10.1036/10071393722 Artigos de publicações periódicas Wheeler, D. P. & Bragin, M. (2007). Bringing it all back home: Social work and the challenge of returning veterans. Health and Social Work, 32(1), 297-300. Acedido em http://www.naswpressonline.org Outros (póster, comunicação livre, etc.) Leclerc, C. M. & Hess, T. M. (2005, agosto). Age diferences in processing of affectively primed information. Póster apresentado na 113ª Annual Convention of the American Psychological Association, Washington, DC. Nota: no caso de os autores serem de países de língua oficial portuguesa, nas referências bibliográficas o “&” deve ser substituído por “e”. 5 – Formato Padrão do Artigo a submeter: Primeira Página • Título (em português, espanhol e inglês) • Nome dos autores (separados por ponto e vírgula); • Afiliações dos autores (uma afiliação por linha); • Indicação caso o artigo seja extraído de Dissertação/Tese. Nota: esta página, posteriormente, é retirada pelo Coordenador da Comissão Editorial, sendo atribuído um número codificado que identifica o artigo junto dos revisores Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 24 (DEZ.,2020) | 90


Segunda Página • Titulo (em português); • Resumo (em português); • Palavras-Chave (em português); • Título (em espanhol); • Resumen; • Descriptores; • Titulo (em inglês); • Abstract; • Keywords. Páginas Seguintes: • Introdução; • Metodologia; • Resultados; • Discussão; • Conclusões; • Referências bibliográficas; • Apêndices (se existentes), agradecimentos (se existentes), conflitos de interesses (se existentes), fontes de financiamento (se existentes), e contribuições dos autores (se aplicável).

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