Revista Especial ASPESM N8

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FICHA TÉCNICA

TÍTULO | TITLE Revista Portuguesa de Enfermagem em Saúde Mental | Portuguese Journal of Mental Health Nursing

PUBLICAÇÃO E PROPRIEDADE | PUBLISHING AND PROPERTY

A Sociedade Portuguesa de Enfermagem em Saúde Mental | The Portuguese Society of Mental Health Nursing

DIRETOR | MANAGING DIRECTOR

Carlos Sequeira, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal

COORDENADOR | COORDINATOR

Luís Sá, PhD - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal

COORDENADOR DA COMISSÃO EDITORIAL | EDITORIAL BOARD COORDINATOR

Francisco Sampaio, MSc – Hospital de Braga, Portugal

COMISSÃO EDITORIAL | EDITORIAL BOARD

Amadeu Gonçalves, PhD - Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Viseu Analisa Candeias, MSc - Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho Bruno Santos, MSc – Casa de Sáude do Bom Jesus - Braga Carlos Vilela, MSc - Escola Superior de Enfermagem do Porto Lia Sousa, MSc - Centro Hospital de São João, Porto Lucília Vale de Nogueira, MSc – Centro Hospitalar do Porto Luís Silva, MSc - Hospital de Magalhães Lemos, Porto Odete Araújo, MSc - Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho Olga Cunha Rocha, MSc - Escola Superior de Enfermagem do Porto (Jubilada) Regina Pires, MSc – Escola Superior de Enfermagem do Porto Rita Costa, MSc - Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Porto Rosa Silva, MSc - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto

COMISSÃO CIENTÍFICA | SCIENTIFIC REVIEWERS

Agustín Simónelli Muñoz, PhD - Universidad Católica San Antonio, Múrcia, Espanha Aida Mendes, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal Alexandre Marques Rodrigues, PhD - Escola Superior de Saúde de Aveiro, Aveiro, Portugal Beatriz Araújo, PhD - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal Carlos Sequeira, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Carme Ferré-Grau, PhD - Universitat Rovira i Virgili. Tarragona, Espanha Elaine Antunes Cortez, PhD - Escola de Enfermagem AAC - Universidade Federal Fluminense, Brasil Elizabete Borges, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Francisca Manso, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Portugal Geilsa Cavalcanti Valente, PhD - Escola de Enfermagem AAC - Universidade Federal Fluminense, Brasil Guilherme Correa Barbosa, PhD – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Brasil Graça Pimenta, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Isilda Ribeiro, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Joaquim Passos, PhD – Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Portugal José António Pinho, PhD – Centro Hospitalar do Porto, Portugal José Carlos Carvalho, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal José Carlos Gomes, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria, Portugal José Carlos Santos, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal Juan Roldan Merino, PhD - Escuela de Enfermería Sant Joan de Déu (adstrita a la UB), Espanha Júlia Martinho, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Luís Sá, PhD - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal Margarida Sotto Mayor, PhD - Hospital de Magalhães Lemos, Porto, Portugal Mar Lleixà-Fortuny, PhD - Universitat Rovira i Virgili. Tarragona, Espanha Marluce Miguel de Siqueira, PhD - Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Michell Araújo, PhD - Faculdade Católica Rainha do Sertão - Fortaleza e Hospital de M., Brasil Odete Araújo, PhD - Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho, Portugal Odete Pereira, PhD - Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Brasil Raul Cordeiro, PhD – Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal Teresa Barroso, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal Teresa Lluch-Canut, PhD – Escola Universitària d’Infermeria - Universitat de Barcelona, Espanha Zeyne Scherer, PhD – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Brasil Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 2


Público-alvo:

INDEXAÇÃO:

Enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e outras pessoas com interesse na área da saúde mental.

A Revista da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental foi aceite para indexação em:

Objectivo:

Library Online

Divulgação de evidências científicas sobre a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento, reabilitação e reintegração das pessoas com doença mental ao longo da vida.

Âmbito:

Políticas e design dos cuidados de saúde; Avaliação, diagnóstico, intervenções e resultados de enfermagem; Sistemas de informação e indicadores em saúde mental; Direitos e deveres dos doentes mentais; Formação e investigação em enfermagem em saúde mental.

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ISSN:

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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 3


Índice

EDITORIAL CONVIDADO

1

SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: QUE DESAFIOS? ..................................... 6

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO

2

SENTIDO DE HUMOR, BEM-ESTAR SUBJETIVO E COMPETÊNCIAS DE COPING

DESPORTIVO EM ATLETAS ....................................................................................................... 9

3

CONSUMO DE ÁLCOOL NO FEMININO: FATORES INFLUENCIADORES DA TRAJETÓRIA

DE VIDA ..................................................................................................................................... 15

4

DISSULFIRAM NA MANUTENÇÃO DA ABSTINÊNCIA DO ÁLCOOL: AVALIAÇÃO DO

CONHECIMENTO NUM GRUPO DE PESSOAS EM INTERNAMENTO .................................... 22

5

CONSUMO DE ÁLCOOL E VULNERABILIDADE EM SAÚDE DAS PESSOAS EM SITUAÇÃO

DE SEM-ABRIGO

6

AVALIAÇÃO DA COGNIÇÃO DE UM GRUPO DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS DE

UMA REGIÃO DO NORTE DE PORTUGAL .............................................................................. 37

7

LITERACIA EM SAÚDE EM PESSOAS COM ALTERAÇÕES DA SAÚDE MENTAL ................. 43

ARTIGOS DE REVISÃO

8

GESTÃO DO RISCO EM SAÚDE MENTAL: REVISÃO INTEGRATIVA ........................................... 51

9

EFICÁCIA DE PROGRAMAS DE BIOFEEDBACK NA REDUÇÃO DA ANSIEDADE –

REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ............................................................................... 59

10

EFEITOS DO MINDFULNESS NA SAÚDE MENTAL DOS ADOLESCENTES:

UMA SCOPING REVIEW ........................................................................................................... 67

..................................................................................................................... 29

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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 5


Editorial Convidado

1

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0284

SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: QUE DESAFIOS? | Andreia Espírito Santo1 |

A saúde mental na infância e adolescência é inequivocamente reconhecida como uma prioridade e um desafio nas políticas de saúde pública. Há uma preocupação crescente com a área da saúde mental infanto-juvenil espelhada não só nas recomendações nacionais como nas recomendações europeias. Apostar na promoção da saúde mental e na prevenção da doença, principalmente nesta fase da vida, traz não só benefícios como poupança a longo prazo, nomeadamente nos anos de vida perdidos ajustados à incapacidade em adulto (Disability Adjusted Life Years [DALYs]). Em Portugal, sabese que entre os 5 e os 14 anos de idade, entre doenças com maior impacto na qualidade de vida estão também incluídas as perturbações mentais e comportamentais (Institute of Health Metrics and Evaluation, 2019; Conselho Nacional de Saúde [CNS], 2018). Não obstante, os dados epidemiológicos sobre a saúde mental de crianças e adolescentes na Europa, e especificamente em Portugal, são muito limitados. Torna-se assim fundamental que se constitua como prioridade a investigação em saúde mental na infância e adolescência de forma a possibilitar a análise detalhada e o planeamento de ações dirigidas às necessidades encontradas. A evidência científica tem vindo a comprovar que muitas das patologias psiquiátricas no adulto têm início antes dos 18 anos de idade. Juntando este dado à prevalência dos problemas de saúde mental nesta faixa etária e às comorbilidades muitas vezes associadas, facilmente se reconhece o custo económico e social que a doença mental tem (Ministério da Saúde [MS], 2017). Destacase, assim, a importância da intervenção na saúde mental o mais prematuramente possível e em idades mais precoces. A fase da gravidez e da primeira infância é um momento-chave para se iniciar a promoção da saúde mental e prevenir problemas futuros, principalmente quando existem fatores de risco familiares, como violência familiar, toxicodependência, doença mental materna, entre outros. Promover o desenvolvimento de competências parentais e apoiar as famílias é essencial para o crescimento harmonioso da criança, estimulando precocemente o estabelecimento de uma vinculação segura e

prevenindo o risco de futuras dificuldades comportamentais, emocionais, sociais e de aprendizagem (CNS, 2019; Direção-Geral da Saúde [DGS], 2006). Sabe-se que as intervenções destinadas a apoiar e encorajar o desenvolvimento de competências parentais são fundamentais para quebrar ciclos transgeracionais de parentalidade desadequada e, deste modo, promover um ambiente adequado e promotor da saúde mental. O estudo Health Behaviour in School-Aged Children (HBSC), estudo colaborativo da Organização Mundial de Saúde que pretende estudar os estilos de vida dos adolescentes e os seus comportamentos nos vários cenários das suas vidas, nos seus dados de 2018, demonstra que a saúde mental é um problema relevante nos estudantes portugueses. Estes referiram sintomas de malestar, por vezes mesmo tristeza extrema, desregulação emocional e preocupações intensas. Cerca de 27,6% dos adolescentes sentia-se preocupado todos os dias, várias vezes por dia, 27,6% referia que nunca ou quase nunca sente que as coisas lhe correm como queriam, e 26,2% nunca ou quase nunca se sentia confiante com a sua capacidade para lidar com problemas pessoais. Dos jovens inquiridos, 9,2% disseram sentir-se tristes quase todos os dias e 5,9% revelaram tristeza extrema (os valores mais elevados de todas as edições do estudo). De referir ainda que 51,8% considera-se um estudante com pouco ou nenhum sucesso académico e que os inquiridos relatam que diariamente se sentem nervosos (13,6%), irritados (12,6%), tristes (9,2%), com medo (6,3%). Do seu conhecimento, 11,2% tomaram pelo menos uma vez no último mês medicação para a ansiedade, 9% para as dificuldades de adormecer, 6,5% para a tristeza e 6% para défice de atenção/hiperatividade, e 19,6% refere ainda ter tido comportamentos autolesivos pelo menos uma vez no último ano (Matos & Equipa Aventura Social, 2018). Quando se trabalha na área da saúde mental é essencial ter sempre em consideração a estreita relação entre os fatores de risco de desenvolvimento de doença mental e os fatores protetores. Os fatores de risco podem estar associados à criança, à família e ao contexto/eventos de vida.

1 Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Psicoterapeuta pela Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Breves; Competência Acrescida Avançada em Psicoterapia pela Ordem dos Enfermeiros; Secretária da Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica da Ordem dos Enfermeiros; Enfermeira especialista no Hospital Beatriz Ângelo, andreia.santo@hbeatrizangelo.pt Citação: Espírito Santo, A. (2021). Saúde mental na infância e adolescência: Que desafios?. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 06-08. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 6


Sabe-se que os fatores de risco são cumulativos. Quantos mais fatores de risco forem identificados, maior a probabilidade de se desenvolver problemas de saúde mental. São fatores de risco muito relevantes: perdas ou separações, em resultado de morte, separação parental/ divórcio, hospitalização, perda de amizades, desmembramento familiar; mudanças na vida, como o nascimento de um irmão, mudança de casa ou de escola; eventos traumáticos, como o abuso, violência, acidentes, conflitos ou desastres naturais; aparecimento de doenças crónicas, incluindo diabetes tipo 1, entre outras. Para equilibrar, quantos mais fatores de risco, mais fatores protetores serão necessários, os chamados fatores de resiliência. Estes podem também ser específicos da criança, da família ou do contexto. Os fatores protetores estão relacionados com competências de comunicação da criança, o desenvolvimento de relações familiares estáveis, seguras e protetoras, e com a existência de uma comunidade com redes de suporte, escolas inclusivas e capazes de apoiar os estudantes do ponto de vista escolar e extracurricular (MS, 2017). É na promoção destes ambientes protetores que a escola tem um papel fundamental, promovendo a autoestima e a confiança das crianças/jovens, uma crença na capacidade em lidar com a mudança e adaptação, e uma série de abordagens de resolução de problemas sociais, assim como são também uma forte rede de suporte quando estão presentes fatores de risco. É desta forma fácil de compreender a importância de as equipas na saúde mental infanto-juvenil serem multidisciplinares e trabalharem em rede. Os problemas de saúde mental nesta faixa etária têm repercussões não só a nível pessoal, como social, académico e muitas vezes judicial. Os problemas de saúde mental podem aumentar o risco de delinquência, problemas com a justiça, abuso de substâncias, problemas disciplinares, absentismo, retenção ou abandono escolar. Os profissionais de saúde que trabalham na área da saúde mental infantojuvenil não podem trabalhar sozinhos. Uma estreita articulação intersectorial entre a comunidade educativa, equipa de saúde escolar, cuidados de saúde primários, cuidados de saúde diferenciados e a criança/adolescente e sua família tem de ser mantida. O Programa Nacional de Saúde Escolar (2015) tem prevista a área da saúde mental como prioritária, destacando a necessidade de se criarem projetos de desenvolvimento de competências socioemocionais; promoção da autoestima, autonomia e resiliência; prevenção de comportamentos de risco; prevenção da violência e do bullying;

combate ao abandono e exclusão escolar; prevenção de comportamentos aditivos com e sem substância (DGS, 2015). As necessidades identificadas são comuns às também identificadas no Plano Nacional para a Saúde Mental, assim como no Plano de Ação em Saúde Mental 2013-2020 da Organização Mundial de Saúde. Pretende-se, essencialmente, a criação de ambientes favoráveis ao fortalecimento dos fatores protetores e de resiliência das crianças e adolescentes, seja numa fase mais precoce de promoção de relações parentais seguras e estáveis; na intervenção precoce através da identificação, prevenção e tratamento de problemas emocionais e comportamentais; e na criação de programas ou redes de proteção da comunidade (abuso infantil, violência,…) (World Health Organization [WHO], 2013; Coordenação Nacional para a Saúde Mental [CNSM], 2008). Infelizmente, o acesso aos serviços especializados de saúde mental na infância e adolescência não é equitativo em todo o país. Há uma grande escassez de profissionais especializados nesta área que se traduz em zonas do país com poucos recursos humanos, equipas que não se conseguem multidisciplinares e que, consequentemente, vão invalidar uma intervenção atempada e de qualidade. A distribuição geográfica de enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica (EESMP) predomina também no litoral, entre Lisboa e Porto, conduzindo a uma escassez nas zonas do interior e do Sul do país. Concentra-se a grande maioria nos hospitais e há uma grande percentagem de enfermeiros EESMP a desempenhar cuidados gerais e não cuidados especializados (Ordem dos Enfermeiros, 2020). Ora, estes dados são contraditórios ao que se pretende, que é uma distribuição uniforme pelo país, com enfermeiros EESMP na comunidade, nas escolas e nos cuidados de saúde primários a desenvolverem o seu relevante papel de promoção, avaliação e intervenção precoce. A Comissão Técnica de acompanhamento da reforma da saúde mental, na sua avaliação do Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016, com propostas prioritárias para a extensão a 2020, refere que em Portugal existem vários obstáculos, nomeadamente: escassos dados epidemiológicos sustentados em estudos científicos; desigualdade na acessibilidade aos cuidados de saúde mental; escassez de camas de internamento; poucos serviços locais de Saúde Mental Infantil; ausência de estruturas de reabilitação psicossocial; escassez de recursos humanos; inadequação do modelo de financiamento dos Serviços de Saúde Mental Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 7


(privilegia-se o número de consultas e internamentos realizados, não favorecendo o desenvolvimento de programas de promoção e prevenção, nem a constituição de parcerias e de processos de articulação que promovam a formação e supervisão de outros profissionais, que possam desenvolver a sua atividade na área da saúde mental da infância e adolescência, ao nível dos Cuidados de Saúde Primários, escolas e outras estruturas da comunidade) (MS, 2017, p. 54). Ser enfermeiro especialista nesta área traz muitos desafios. Começando pelo cliente de cuidados, que não é só a criança/adolescente, mas também a sua família. Outro desafio é o conhecimento e a articulação com a rede com a qual necessita de trabalhar. A discussão, partilha e referenciação tem de ser bidirecional e muitas vezes é necessária intervenção complementar em paralelo. E, como abordado anteriormente, o papel do enfermeiro EESMP pode passar também pela formação de outros profissionais, promovendo o desenvolvimento de competências na promoção de saúde mental e deteção/encaminhamento precoce de situações de risco. Em qualquer contexto em que esteja um enfermeiro EESMP deve este promover a literacia em saúde mental, assim como combater o estigma. O grande foco deve ser a promoção da saúde mental e o desenvolvimento de projetos, particularmente projetos e programas validados e replicáveis e, por outro lado, a intervenção deve ser dirigida à criança e adolescente, mas também à sua família e comunidade. Importa não esquecer ainda que na saúde mental infanto-juvenil os diagnósticos são muitas vezes difíceis de efetuar. É necessário contextualizar a sintomatologia e perceber a sua evolução. Pode algumas vezes ser situacional e de adaptação a uma nova realidade, mas pode outras vezes ser de evolução prolongada e preditor de doença mental na fase adulta. É importante estar atento a sinais como a diminuição do rendimento escolar, o desinteresse na aprendizagem, o isolamento, as alterações de comportamento, uma vez que são sinais de sofrimento psicológico, sofrimento esse que é necessário avaliar com consequente programação de uma intervenção breve ou prolongada no tempo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Conselho Nacional de Saúde. (2018). Gerações mais saudáveis: Políticas públicas de promoção da saúde das crianças e jovens em Portugal. Lisboa: CNS. Disponível em http://www.cns.min-saude.pt/wp-content/uploads/2018/12/GERACOES-MAIS-SAUDAVEIS.pdf Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 8

Conselho Nacional de Saúde. (2019). Sem mais tempo a perder – Saúde mental em Portugal: Um desafio para a próxima década. Lisboa: CNS. Coordenação Nacional para a Saúde Mental. (2008). Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016 — Resumo Executivo. Lisboa: Alto Comissariado da Saúde. Coordenação Nacional para a Saúde Mental. (2009). Recomendações para a prática clínica da saúde mental infantil e juvenil nos cuidados de saúde primários. Lisboa: CNSM. Direção-Geral da Saúde. (2015). Programa Nacional de Saúde Escolar. Lisboa: DGS. Direção-Geral da Saúde. (2006). Promoção da saúde mental na gravidez e primeira infância: Manual de orientação para profissionais de saúde. Lisboa: DGS. Institute of Health Metrics and Evaluation. (2019). Global burden of disease 2019. Disponível em https:// vizhub.healthdata.org/gbd-compare/ Matos, M. G., & Equipa Aventura Social. (2018). HBSC: A saúde dos adolescentes portugueses após a recessão – dados nacionais do estudo HBSC 2018. Lisboa: FMH/ UL. Disponível em http://aventurasocial.com/publicacoes/publicacao_1545534554.pdf Ministério da Saúde - Comissão Técnica de Acompanhamento da Reforma da Saúde Mental. (2017). Relatório da avaliação do Plano Nacional de Saúde Mental 20072016 e propostas prioritárias para a extensão a 2020. Ministério da Saúde. Disponível em https://www.sns. gov.pt/wp-content/uploads/2017/08/RelAvPNSM2017. pdf Ordem dos Enfermeiros. (2020). Anuário estatístico 2019. Lisboa: OE. Disponível em https://www.ordemenfermeiros.pt/arquivo/estatistica/2019_AnuarioEstatisticos.pdf World Health Organization. (2013). Mental health action plan 2013-2020. Genebra: WHO.


Artigo de Investigação

2

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0285

SENTIDO DE HUMOR, BEM-ESTAR SUBJETIVO E COMPETÊNCIAS DE COPING DESPORTIVO EM ATLETAS | Olga Valentim1; Luís Sousa2; Cristina de Sousa3; Helena José4; Rui Amaro5; Isanete Alonso6 |

RESUMO INTRODUÇÃO: O sentido de humor tem sido estudado como uma estratégia para lidar com adversidade, sendo considerado um importante mecanismo de coping, utilizado em situações de stress. OBJETIVO: Verificar a relação entre sentido de humor, o bem-estar subjetivo e as competências de coping desportivo num grupo de atletas. MÉTODOS: Estudo transversal e correlacional, realizado numa amostra não probabilística de 47 atletas de triatlo e mountain Bike. Os instrumentos utilizados foram: Athletic Coping Skills Inventory-28, Multidimensional Sense of Humor Scale (versão portuguesa), Escala de Felicidade Subjectiva de Lyubomirsky e Lepper e Positive and Negative Affect Schedule. Utilizou-se estatística descritiva e coeficiente de correlação de Spearman e o nível de significância adotado foi p<0,05. RESULTADOS: Produção e Uso Social do Humor e Apreciação do Humor estão positivamente correlacionadas com a Felicidade Subjetiva. O Humor Adaptativo e a Produção e Uso Social do Humor estão positivamente correlacionados com a dimensão Afetividade Positiva e com a dimensão Rendimento sob Pressão da Escala de Competências de Coping Desportivo. CONCLUSÕES: O papel do sentido de humor e suas dimensões no bem-estar subjetivo dos atletas e nas suas competências psicológicas, deve ser considerado na conceção de programas de promoção de estratégias de coping e de saúde mental em atletas. PALAVRAS-CHAVE: Senso de humor e humor como assunto; Felicidade; Adaptação psicológica; Atletas

RESUMEN

ABSTRACT

“Humor, bienestar subjetivo y habilidades de afrontamiento deportivo en atletas”

“Humor, subjective well-being and sports coping skills in athletes”

CONTEXTO: El sentido del humor se ha estudiado como una estrategia para enfrentar la adversidad y se considera un mecanismo de afrontamiento importante utilizado en situaciones estresantes. OBJETIVO(S): Verificar la relación entre el humor, el bienestar subjetivo y las habilidades de afrontamiento deportivo en un grupo de atletas. METODOLOGÍA: Estudio transversal y correlacional. Realizado en una muestra no probabilística de 47 atletas de triatlón y bicicleta de montaña. Los instrumentos utilizados fueron: Athletic Coping Skills Inventory-28, Multidimensional Sense of Humor Scale (versión portuguesa), Escala de Felicidad Subjetiva de Lyubomirsky y Lepper y Positive and Negative Affect Schedule. Se utilizaron estadísticas descriptivas y el coeficiente de correlación de Spearman y el nivel de significancia adoptado fue p<0.05. RESULTADOS: La producción y el uso social del humor y la apreciación del humor están positivamente correlacionados con la Felicidad Subjetiva. El Humor Adaptativo y la Producción y el Uso Social del Humor se correlacionan positivamente con la dimensión de Afecto Positivo y la dimensión de Rendimiento sobre Presión de la Escala de Habilidades de Afrontamiento Deportivo. CONCLUSIONES: El papel del humor y sus dimensiones en el bienestar subjetivo de los atletas y sus competencias psicológicas deben considerarse en el diseño de programas para promover estrategias de afrontamiento y salud mental en los atletas.

BACKGROUND: Sense of humor has been studied as a strategy to deal with adversity and is considered an important coping mechanism used in stressful situations. AIM: To verify the relationship between humor, subjective well-being and sports coping skills in a group of athletes. METHODS: Cross-sectional and correlational study. Performed on a non-probabilistic sample of 47 triathlon and mountain bike athletes. The instruments used were: Athletic Coping Skills Inventory-28, Multidimensional Sense of Humor Scale (portuguese version), Lyubomirsky and Lepper’s subjective happiness scale and Positive and Negative Affect Schedule. Descriptive statistics and Spearman’s correlation coefficient were used, and the significance level adopted was p<0.05. RESULTS: Production and Social Use of Humor and Humor Appreciation are positively correlated with subjective happiness. Adaptive Humor and Production and Social Use of Humor are positively correlated with the positive affect dimension and the performance under pressure dimension of the Athletic Coping Skills Inventory. CONCLUSIONS: The role of humor and its dimensions in the subjective well-being of athletes and their psychological skills should be considered in the design of programs to promote coping strategies and mental health in athletes.

DESCRIPTORES: Ingenio y humor como asunto; Felicidad; Adaptación psicológica; Atletas

KEYWORDS: Wit and humor as topic; Happiness; Adaptation, psychological; Athletes Submetido em 31-12-2019 Aceite em 18-04-2020

1 Doutora em Enfermagem; Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Desabituação do Centro das Taipas, ARSLVT; Investigadora no CINTESIS; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Portugal, ommvalentim3@gmail.com 2 Doutor em Enfermagem; Enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação; Investigador integrado em Comprehensive Health Research Centre, Professor Adjunto na Universidade de Évora, Portugal, luismmsousa@gmail.com 3 Doutora em Psicologia; Professora Auxiliar no Instituto de Estudos Interculturais e Transdisciplinares de Almada; Professora Auxiliar na Escola Superior de Saúde Atlântica, Portugal, c.m.sousa@netcabo.pt 4 Doutora em Enfermagem; Investigadora na Health Sciences Research Unit: Nursing; Scholar of the European Academy of Nursing Science; Professora Coordenadora na Universidade do Algarve, Portugal, helenamgjose@gmail.com 5 Licenciado em Ciências da Nutrição, ruidiasamaro@gmail.com 6 Doutora em Ciências e Tecnologias da Saúde, Especialidade Nutrição; Professora Adjunta na Universidade Atlântica, Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Portugal, alvesdealonso@gmail.com Citação: Valentim, O., Sousa, L., de Sousa, C., José, H., Amaro, R., & Alonso, I. (2021). Sentido de humor, bem-estar subjetivo e competências de coping desportivo em atletas. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 09-14. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 9


INTRODUÇÃO O sentido de humor tem sido estudado como uma estratégia de coping perante a adversidade, ajudando a lidar com situações difíceis (Santos, Sousa, Carvalho, Severino & José, 2016; Sousa & José, 2016; Sousa et al., 2018.; Sousa, et al., 2019). Além disso, ter sentido de humor ou “usar o humor” tem sido considerado benéfico para lidar com o stress, melhora as interações sociais, a satisfação com a vida e o bem-estar, aumenta a criatividade, assim como, diminui a depressão, a ansiedade e emoções negativas (Ruch, Hofmann, Rusch & Stolz, 2018; Sousa & José, 2016; Sousa et al., 2018). Na realidade, o humor é um importante mecanismo de coping, que permite lidar com situações de stress e a sua relação com a autoeficácia e apoio social sugerem que o sentido de humor pode desempenhar um papel importante no reforço de abordagens auto-eficazes para a gestão da vida (Brcic, Suedfeld, Johnsin, Huynh & Gushin, 2018). Nos contextos desportivos, alguns estudos têm salientado as diferenças individuais nas estratégias de coping perante adversidades (Dias, Cruz & Fonseca, 2012). No percurso da excelência no desporto surgem também fatores pessoais e contextuais (Matos, Cruz & Almeida, 2017). Nas características individuais, realçam-se as competências psicológicas de confronto dos atletas quando se preparam para a competição. Por outro lado, o bem-estar subjetivo tem sido considerado uma variável importante na saúde mental dos atletas em geral (Lundqvist, 2011) e nos atletas de elite (Lundqvist & Sandin, 2014). Estudos recentes têm enfatizado a abordagem benéfica do uso do humor na psicologia do desporto aplicada, particularmente na melhoria da relação entre o treinador e o atleta (Pack, Hemmings, Winter & Arvinen-Barrow, 2019). Contudo, a relação entre estas variáveis necessita de ser melhor compreendida para desenhar intervenções em contextos de saúde mental positiva. De acordo com Lluch (2003), a saúde mental positiva refere-se a um estado de funcionamento ótimo do ser humano o que mostra a relevância da promoção das qualidades da pessoa na otimização do seu potencial. Recentemente, tem aumentado o interesse da investigação na área da saúde pelos conceitos da saúde mental positiva (efeito positivo, bem-estar, benefício), apontando para a promoção da saúde mental positiva e capacitação das pessoas para lidar com os acontecimentos de vida negativos.

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 10

Neste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar a relação entre sentido de humor, o bem-estar subjetivo e as competências de coping desportivo num grupo de atletas. MÉTODOS Estudo transversal e correlacional, realizado numa amostra não probabilística de 47 participantes, cujo critério de inclusão era pertencer ao grupo de atletas de atletas de triatlo e moutain bike em início de competição. Os instrumentos utilizados foram: i) a Athletic Coping Skills Inventory-28 (Cruz, 1995) com 28 itens e 7 subescalas tipo likert de 3 pontos que variam entre o zero (quase nunca) e 3 (quase sempre), ii) a versão portuguesa da Multidimensional Sense of Humor Scale (MSHS) (José e Parreira, 2008) com 24 itens e 5 subescalas de tipo likert de 5 pontos, variando entre 1 (concordo totalmente) e 5 (discordo totalmente); iii) a Escala de Felicidade Subjetiva (SHS) de Lyubomirsky e Lepper (Pais-Ribeiro, 2012) com 4 itens numa escala de likert de 7 pontos, que varia entre 1 (não muito feliz) a 7 (muito feliz) e iv) a Positive and Negative Affect Schedule (PANAS) (Galinha e Pais-Ribeiro, 2005) com 20 itens (10 emoções positivas e 10 negativas) numa escala de likert de 5 pontos, que varia entre 1 (nada) e 5 (extremamente) para indicar em que medida sentiu cada uma das emoções. Na análise dos dados, utilizou-se estatística descritiva (média, desvio-padrão, valor mínimo e valor máximo) e coeficiente de correlação de Spearman (dado que a amostra é de 47 participantes e não segue a distribuição normal); foi calculado o alfa de Cronbach para cada dimensão da escala utilizada, para demonstrar a validade e fiabilidade das medidas; o nível de significância adotado foi p<0,05. Os princípios éticos constantes na declaração de Helsínquia foram respeitados, sendo garantida a confidencialidade dos dados e o anonimato. Requereu-se a autorização dos autores para utilizar as escalas e da comissão de ética da Atlântica, Escola Universitária de Ciências empresariais, Saúde, Tecnologias e Engenharia para a realização do estudo. A cada pessoa da amostra, após esclarecimento sobre os objetivos do estudo, processo de colheita de dados e confidencialidade, solicitou-se o consentimento livre e esclarecido e a participação voluntária, consoante o princípio da autonomia. Os dados foram recolhidos no início da época de competição.


RESULTADOS Os resultados indicaram que a amostra de 47 atletas de triatlo e mountain Bike, é caracterizada por 41 (87,5%) homens e seis mulheres. Em média têm 25,2 anos (DP=14,7), a maioria possui o ensino básico/ secundário (80,8%), são solteiros (68,1%), não fumadores (100%) e não apresentam doenças crónicas (85,1%). Da tabela 1 constam os resultados relativos às cinco subescalas do Humor (HSHS), Afetividade (PANAS) e Escala de Felicidade Subjetiva (SHS). Tabela 1 - Descritivas das Dimensões do Humor, Afetividade e Felicidade Subjetiva (N=47) Dimensões

nº Min Max M (n.º DP itens itens/M)

Produção e Uso Social do Humor (MSHS)

12

22

58

39,68 (3,30)

8,44

Humor Adaptativo (MSHS)

4

4

20

13,70 (3,42)

3,68

Objeção ao Uso do Humor (MSHS)

3

7

15

13,09 (4,36)

1,80

Atitude Pessoal Face ao Humor (MSHS)

3

10

15

14,02 (4,67)

1,48

Apreciação do Humor (MSHS)

2

2

10

8,49 (4,24)

1,78

Afetividade Positiva (PANAS)

10

13

43

29,72 (2,97)

7,98

Afetividade Negativa (PANAS)

10

10

28

13,06 (1,30)

4,48

Felicidade Subjetiva (SHS)

4

11

28

21,81 (5,45)

3,68

Legenda: MSHS: Multidimensional Sense of Humor Scale; PANAS: Positive and Negative Affect Schedule; SHS: Subjective Happiness Scale

Analisando a tabela 1, observou-se que os valores médios obtidos nas dimensões do Humor apresentaramse acima do ponto médio da escala. Destacam-se as dimensões com médias mais elevadas: Objeção ao Uso do Humor e a Atitude Pessoal Face ao Humor. No que se refere à dimensão da Afetividade Positiva, a média é superior à afetividade negativa, ou seja, os participantes manifestam sobretudo entusiasmo com a vida e menos intensidade relativamente ao sentirse indispostos ou perturbados. Relativamente à Felicidade Subjetiva obteve-se um valor médio de felicidade. Na tabela 2 apresentam-se os resultados relativos às dimensões de competências desportivas.

Tabela 2 - Descritivas das Dimensões de Competências Desportivas (N=47) Dimensões

nº Min Max M itens

DP

Confronto com a Adversidade

4

1

11

6,26

2,48

Rendimento sob Pressão

4

0

12

6,30

3,46

Ausência de Preocupações

4

0

12

6,04

3,19

Concentração

4

2

11

7,45

2,54

Formulação de Objetivos e 4 Preparação Mental

1

12

7,28

2,70

Confiança e Motivação para a Realização

4

4

12

8,06

2,15

Disponibilidade para a Aprendizagem a Partir do Treino

4

3

12

8,72

2,24

Analisando a tabela 2, verificou-se que os valores médios obtidos nas competências psicológicas de confronto são superiores ao ponto médio da escala, destacando-se duas dimensões com médias mais elevadas: Confiança e Motivação para a Realização; Disponibilidade para a Aprendizagem a Partir do Treino. Estudou-se a correlação (Spearman) entre as subescalas do Humor, Felicidade Subjetiva, Afetividade e Competências Desportivas (tabela 3 e 4). Salienta-se, no entanto, que apenas serão apresentadas as dimensões onde se verificaram resultados estatisticamente significativos. Tabela 3 - Correlações de Spearman entre Humor (Produção e Uso Social do Humor, Apreciação do Humor, Humor Adaptativo), Competências Desportivas (Ausência Preocupações e Rendimento sob Pressão), Afetividade Positiva e Felicidade Subjetiva e valores de alfa de Cronbach Subescalas

1

1. Prod. Uso Social Humor

(0,89)

2

3

4

5

6

2. Apreciação Humor

0,60**

(0,84)

3. Humor Adaptativo

0,61**

0,42**

(0,86)

4.Felicidadde Subjetiva

0,63**

0,50**

0,29

(0,73)

5.Afetividade Positiva

0,37*

0,13

0,52**

0,28

(0,87)

6. Ausência Preocupações

-0,29*

-0,31**

-0,11

-0,22

-0,15

(0,78)

7.Rendimento sob Pressão

0,31*

0,10

0,36*

0,26

0,29*

0,06

7

(0,90)

Nota: ** A correlação é significativa ao nível p <0,01 *A correlação é significativa ao nível p <0,05.

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Os resultados indicaram que as dimensões Produção e Uso Social do Humor e Apreciação do Humor estavam positivamente correlacionadas com a Felicidade Subjetiva (rs, rho de spearman)=0,63, p<0,0001; rs=0,50, p<0,0001). Verificou-se, também, que o Humor Adaptativo e a Produção e Uso Social do Humor estavam positivamente correlacionados com a dimensão Afetividade Positivado bem-estar subjetivo (rs=0,52, p<0,0001; rs=0,37, p=0,01). Estas duas dimensões da Escala de Humor também estavam positivamente correlacionadas com a dimensão Rendimento sob Pressão da Escala de Competências de Coping Desportivo, respetivamente, Humor Adaptativo com um valor de rs=0,36, p=0,012 e Uso Social do Humor com um valor de rs=0,31, p=0,037. As dimensões Produção e Uso Social do Humor e Apreciação do Humor estavam negativamente correlacionadas com a Ausência de Preocupações (rs=0,29, p=0,048; rs=-0,31, p=0,036) (tabela 3). Tabela 4 - Correlações de Spearman entre Competências Desportivas (Rendimento sob Pressão, Formulação de Objetivos e Preparação Mental, Confiança e Motivação para a Realização, Confronto com a Adversidade e Disponibilidade para a Aprendizagem a Partir do Treino), Afetividade Positiva e Negativa e Felicidade Subjetiva e valores de alfa de Cronbach Subescalas

1

1. Rendimento sob Pressão

(0,90)

2

3

4

5

6

7

2. F. Objetivos e Prep Mental

0,12

(0,69)

3. Conf. e Motivação Realiz

0,36*

0,37*

(0,60)

4. Confronto com Adversidade

0,68**

0,27

0,55**

(0,66)

5. Disponibilidade Aprendizagem

0,22

0,19

0,35*

0,42**

(0,50)

6. Afetividade Positiva

0,29*

0,39**

0,43**

0,43**

0,16

(0,87)

7. Afetividade negativa

-0,22

-0,19

-0,02

-0,22

-0,38**

0,21

(0,80)

8. Felicidade Subjetiva

0,17

0,04

0,16

0,12

0,29*

0,28

-0,05

Nota: **A correlação é significativa ao nível p <0,01; *A correlação é significativa ao nível p <0,05. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 12

8

(0,73)

Relativamente às Competências de Coping Desportivo, existem correlações positivas entre diversas dimensões e a Afetividade Positiva: Rendimento sob Pressão (rs=0,29, p=0,047); Formulação de Objetivos e Preparação Mental (rs=0,39, p=0,007); Confiança e Motivação para a Realização (rs=0,43, p=0,003) e Confronto com a Adversidade (rs=0,43, p=0,003; A dimensão Disponibilidade para a Aprendizagem a Partir do Treino está negativamente correlacionada com a Afetividade Negativa (rs=-0,38, p=0,009) e positivamente correlacionada com a Felicidade Subjetiva (rs=0,29, p=0,048) (tabela 4). DISCUSSÃO Os estados de humor são indicadores que coadjuvam o rendimento e a prevenção da saúde do atleta (Pack, Hemmings, Winter & Arvinen-Barrow, 2019). Em relação aos dados descritivos a partir dos scores da Escala do Humor, destacam-se as dimensões: Objeção ao Uso do Humor e Atitude Pessoal Face ao Humor, com valores mais elevados. Estes resultados mostraram que as médias das dimensões do sentido do humor são elevadas, sugerindo a possibilidade de haver elevada autoestima, empatia e atração interpessoal, o que poderá repercutir-se positivamente na vida das pessoas, ao contribuir para a sua adaptação às situações da vida diária (José e Parreira, 2008). Nas competências psicológicas de confronto verificamos que o nosso grupo de atletas é confiante e positivamente motivado, trabalhando sempre para melhorar em situações de treino ou competição. Por outro lado, é um grupo aberto e disponível para aprender a partir daquilo que lhe é ensinado no treino, aceitando de forma positiva e construtiva as críticas de treinadores. Estas características são congruentes com os valores da Afetividade Positiva, em que o grupo manifesta entusiasmo com a vida. De acordo com outros estudos, verificamos que o bem-estar subjetivo é uma variável importante para os atletas antes de iniciar uma época de competição (Lundqvist, 2011). Os nossos resultados indicam que o Humor Adaptativo e a Produção e Uso Social do Humor estão relacionados com um estado emocional mais positivo na preparação destes atletas. De forma congruente, o Humor Adaptativo e uso social do humor estão também positivamente relacionados com a Felicidade Subjetiva, evidenciando o papel benéfico destas dimensões no aumento do bem-estar e na Felicidade


Subjetiva, de acordo com aquilo que alguns estudos têm demonstrado (Ruch, Hofmann, Rusch & Stolz, 2018; Sousa & José, 2016; Sousa et al., 2018). Na adversidade, ou seja, no Rendimento sob Pressão, o Humor Adaptativo e a Produção e Uso Social do Humor aumentam, podendo assim ser considerados como estratégias de coping, para lidar com situações difíceis, tal como outros estudos têm enfatizado noutros contextos (Santos, Sousa, Carvalho, Severino & José, 2016; Sousa & José, 2016; Sousa et al., 2018; Sousa et al., 2019). Como estratégia, a Produção e o uso social do humor parecem aumentar na presença das preocupações, bem como a Apreciação do Humor. Estes resultados estão de acordo com estudos anteriores que evidenciam o papel importante do sentido de humor como uma abordagem na gestão de eventos stressantes no desporto e na vida (Brcic, et al., 2018). As correlações positivas encontradas entre as competências psicológicas Rendimento sob Pressão, Formulação de Objetivos e Preparação Mental; Confiança e Motivação para a Realização; Confronto com a Adversidade e Afetividade Positiva vão ao encontro dos estudos que enfatizam a importância do bemestar subjetivo na preparação psicológica dos atletas (Lundqvist, 2011; Lundqvist & Sandin, 2014). A disponibilidade para a Aprendizagem a Partir do Treino aumenta a Felicidade Subjetiva e diminui a afetividade negativa. Assim, a relação entre as competências psicológicas do atleta e o bem-estar subjetivo começa na disponibilidade para o treino e de acordo com alguns estudos é na relação entre o treinador e o atleta que se pode começar a ensinar os benefícios da utilização do humor nos contextos desportivos, tal como se tem feito noutros contextos, particularmente na relação entre técnico de saúde mental e utentes (Pack, Hemmings, Winter & Arvinen-Barrow, 2019). CONCLUSÃO Neste estudo, verificou-se que a dimensão Produção e Uso Social do Humor, bem como o Uso do Humor Adaptativo aumenta quando a competência Rendimento sob Pressão aumenta. Este resultado, parece ser congruente com o facto do sentido de Humor poder constituir uma estratégia importante em contextos de stress desportivo, aumentando, assim, o bem-estar e a felicidade subjetiva dos atletas.

Este estudo, é um contributo relevante para o conhecimento do papel do sentido de humor e suas dimensões na Felicidade Subjetiva dos atletas e nas suas competências psicológicas, podendo constituir uma variável importante nos programas específicos de promoção de estratégias de coping e de saúde mental nestes grupos. Se na relação entre o treinador e o atleta os benefícios da utilização do humor têm sido reconhecidos, é particularmente importante que essa utilização se faça também na relação entre técnico de saúde mental e os atletas. São necessários mais estudos que permitam caracterizar a compreensão do uso de sentido de humor e de competências de coping desportivo em atletas, nomeadamente estudos longitudinais. As limitações deste estudo envolvem a dimensão da amostra de 47 participantes e o tipo de amostragem utilizado condicionando assim a extrapolação dos resultados. Uma outra limitação são os valores de fiabilidade de algumas dimensões da Escala Athletic Coping Skills Inventory-28, sendo inferiores a 0,70, no entanto são similares ao estudo de validação da versão brasileira (Miranda, Coimbra, Bara Filho, Miranda Júnior & Andrade, 2018). IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Os resultados deste estudo podem contribuir positivamente para a prática clínica. Os participantes apresentaram valores mais baixos na Escala do Humor nas dimensões com Produção e Uso Social do Humor, Humor Adaptativo e nas Competências Desportivas no Confronto com a Adversidade, Rendimento sob Pressão e Ausência de Preocupações. Esta informação é relevante uma vez que os profissionais de saúde mental poderão intervir quer na avaliação quer na forma de delinear intervenções complementares de promoção de estados emocionais positivos, contribuindo para o controlo dos fatores de ansiedade e melhoria das relações interpessoais, sociais e de confronto no desporto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brcic, J., Suedfeld, P., Johnsin, P. Huynh, T. & Gushin, V. (2018). Humor as a coping strategy in spaceflight. Acta Astronautica,152, 175-178. Doi: 10.1016/j.actaastro.2018.07.039

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Cruz, J. F. A. (1995). Inventário de competências de confronto no desporto. Athletic Coping Skills Inventory ACSI – 28 Smith, Schutz, Smoll & Ptacek, 1995; Tradução para investigação. Braga: PIIPAC. Dias, C. C., Cruz, J. F. & Fonseca, A. M. (2012). The relationship between multidimensional competitive anxiety, cognitive threat appraisal, and coping strategies: A multi-sport study. International Journal of Sport & Exercise Psychology, 10(1), 52-65. Doi: 10.1080/1612197X.2012.645131 Galinha, I. C. & Pais-Ribeiro, J. L. (2005). Contribuição para o estudo da versão portuguesa da Positive and Negative Affect Schedule (PANAS): IIEstudo psicométrico. Análise psicológica, 23(2), 219-227. Disponível em: http://www.scielo.mec. pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S087082312005000200012&lng=pt&nrm=iso José, H. & Parreira, P. (2008). Adaptação para português da escala multidimensional do sentido de humor. Referência, 6, 7-18. Disponível em: http://www. index-f.com/referencia/2008pdf/060718.pdf Lluch, M. T. (2003). Construcción y análisis psicométrico de un cuestionario para evaluar la salud mental positiva. Psicología Conductal, 11(1), 61-78. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/ resource/pt/ibc-25922 Lundqvist, C. (2011). Well-being in competitive sports – the feelgood factor? A review of conceptual consideration of well-being. International Review of Sport and Exercise Psychology, 4, 109–127. Doi:10.10 80/1750984X.2011.584067

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Sousa, L. M. M., Teixeira, P. M. R., Marques-Vieira, C. M., Severino, S. S. P., Faisca, H. & José, H. M. G. (2018). Emploi de l’humour dans la relation infirmier/personne malade: une revue de la littérature et synthèse. Revue Francophone Internationale de Recherche Infirmière, 4(1), 30-38. Doi: 10.1016/j.refiri.2017.07.011

Matos, D. S., Cruz, J. F. & Almeida, L. S. (2017). Excelência no desporto: a Importância de fatores pessoais e contextuais no percurso de campeões portugueses. Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercicio y el Deporte, 12, (2), 287-295. Dospinível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/56989

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Artigo de Investigação

3

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0286

CONSUMO DE ÁLCOOL NO FEMININO: FATORES INFLUENCIADORES DA TRAJETÓRIA DE VIDA | Lídia Moutinho1; Olga Valentim2; João Longo3; Manuel Lopes4; Aida Mendes5; |

RESUMO INTRODUÇÃO: A vulnerabilidade física feminina ao consumo de álcool, o julgamento social e a existência de um maior número de mulheres com sintomas depressivos e ansiosos, são fatores apontados pela literatura como diferenciadores em relação ao género no consumo e consequências do mesmo. A compreensão da trajetória de consumo de álcool no género feminino é indispensável para a identificação dos fatores influenciadores e para o desenvolvimento de estratégias preventivas tendo em consideração a variável género. OBJETIVO: Conhecer os fatores influenciadores do consumo de álcool com risco para a saúde nas trajetórias de vida das mulheres. MÉTODO: Realizou-se um estudo qualitativo, transversal, com recurso a entrevista semi-estruturada a participantes do género feminino com consumos de risco de bebidas alcoólicas para a saúde. O tratamento dos dados foi efetuado com recurso à técnica de análise de conteúdo temática. RESULTADOS: A idade, a relação parental e a integração do consumo de bebidas alcoólicas nas atividades de socialização e lazer mostraram-se fatores importantes na evolução dos consumos. A capacidade para controlar o consumo de bebidas alcoólicas é um elemento diferenciador das trajetórias de consumos de risco e de dependência. Os constrangimentos legais associados ao consumo de álcool constituem um problema acrescido nas trajetórias das consumidoras de risco. CONCLUSÕES: A aprendizagem do consumo de álcool sem que este se traduza em danos para a saúde é fundamental. Destaca-se a importância da informação/ educação para a saúde sobre o consumo desta substância e suas consequências nos diferentes padrões de consumo. PALAVRAS-CHAVE: Feminino; Bebidas alcoólicas; Fatores de risco

RESUMEN

ABSTRACT

“Consumo de alcohol feminino: Factores que influyen en la trayectoria de la vida”

“Female alcohol consumption: Factors influencing life trajectory”

INTRODUCCIÓN: La vulnerabilidad física femenina al consumo de alcohol, el juicio social y la existencia de un mayor número de mujeres con síntomas depresivos y ansiosos son factores identificados en la literatura como diferenciadores en relación con el género en el consumo y sus consecuencias. Comprender la trayectoria del consumo de alcohol entre las mujeres es esencial para la identificación de factores influyentes y para el desarrollo de estrategias preventivas que tengan en cuenta la variable de género. OBJETIVO: El objetivo de este estudio es comprender los factores que influyen en el consumo de alcohol con un riesgo para la salud en las trayectorias de vida de las mujeres. METODOLOGÍA: Se realizó un estudio cualitativo de corte transversal, utilizando una entrevista semiestructurada con mujeres participantes con consumo de riesgo para la salud de las bebidas alcohólicas. El procesamiento de datos se realizó utilizando la técnica de análisis de contenido temático. RESULTADOS: La edad, la relación con los padres y la integración del consumo de alcohol en las actividades de socialización y ocio demostraron ser factores importantes en la evolución del consumo. La capacidad de controlar el consumo de bebidas alcohólicas es un elemento diferenciador en las trayectorias del consumo riesgoso y adictivo. Las restricciones legales asociadas con el consumo de alcohol son un problema adicional en las trayectorias de los consumidores riesgosos. CONCLUSIONES: Aprender a consumir alcohol sin dañar la salud es fundamental. Se destaca la importancia de la información / educación en salud sobre el consumo de esta sustancia y sus consecuencias en los diferentes patrones de consumo.

INTRODUCTION: The female physical vulnerability to alcohol consumption, social judgment and the existence of a greater number of women with depressive and anxious symptoms are factors pointed out in the literature as gender differentiators in drinking and its consequences. Understanding the trajectory of alcohol consumption in females is indispensable in identifying influenciators factors and developing preventive strategies taking into account the gender variable. AIM: the aim of this study is to know the factors that influence the consumption of alcohol with health risk in the life trajectories of women METHODS: A qualitative, cross-sectional study was carried out, using semi-structured interviews with female participants who drink alcoholic beverages with health risky. Data processing was performed using the thematic content analysis technique. RESULTS: Age, parental relationship and the integration of alcohol consumption into socialization and leisure activities proved to be important factors in the evolution of consumption. The ability to control the consumption of alcoholic beverages is a differentiating element in the trajectories of risky and addictive consumption. The legal constraints associated with alcohol consumption are an added problem in the trajectories of risky consumers. CONCLUSIONS: Learning how to consume alcohol without damaging health is critical. The importance of health information / education on the consumption of this substance and its consequences on different consumption patterns is highlighted.

DESCRIPTORES: Femenino; Bebidas alcohólicas; Factores de riesgo

KEYWORDS: Female; Alcoholic beverages; Risk factors Submetido em 31-12-2019 Aceite em 21-05-2020

1 Doutora em Enfermagem; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Professora Adjunta na Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches, Portugal, lidiamoutinho@live.com.pt 2 Doutora em Enfermagem; Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Desabituação do Centro das Taipas, ARSLVT; Investigadora no CINTESIS; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Portugal, ommvalentim3@gmail.com 3 Doutor; Enfermeiro especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica; Professor Coordenador na Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches, Portugal, jroloster@gmail.com 4 Professor Coordenador na Escola Superior de Enfermagem São João de Deus, Portugal, mjl@uevora.pt 5 Doutora em Enfermagem; Diretora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal, acmendes@esenfc.pt Citação: Moutinho, L., Valentim, O., Longo, J., Lopes, M. & Mendes, A. (2021). Consumo de álcool no feminino: Fatores influenciadores da trajetória de vida. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 15-21. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 15


INTRODUÇÃO O consumo de bebidas alcoólicas a nível mundial é um comportamento bastante comum sendo que 55,5% da população com mais de 15 anos já ingeriu bebidas alcoólicas (World Health Organization [WHO], 2018). Em Portugal o consumo desta substância é apontado como um dos responsáveis pelo aumento da mortalidade em acidentes de viação e por doenças atribuíveis ao consumo (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências [SICAD], 2017). Em termos das consequências na sociedade salienta-se, o acréscimo de sinalizações comunicadas à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ). Cada vez mais crianças e/ou jovens são expostas a comportamentos relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas, afetando, desse modo, o seu bemestar e desenvolvimento (SICAD, 2017). Globalmente, em Portugal, asistiu-se nos últimos anos a uma estabilização dos padrões de consumo, no entanto, destaca-se o agravamento dos consumos de risco ou dependência na população entre os 15 e os 74 anos, em especial em alguns subgrupos populacionais como o género feminino (SICAD, 2017). A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para a maior vulnerabilidade feminina para esta substância refererindo-se à mesma como o efeito telescópio ou seja, comparativamente aos homens, as mulheres apresentam um período de tempo mais curto entre o início do consumo de álcool e a dependência do mesmo (Foster, Hicks, Durbin, Iacono & McGue, 2018). O consumo desta substância é reconhecido como potenciador do risco de cancro da mama (MoncadaMadrazo et al., 2020) e risco de infecções por Vírus do Papiloma Humano (HPV) (Kim, 2015). Nos fatores psicológicos verifica-se a existência de um maior número de mulheres com sintomas depressivos e ansiosos assim como dificuldades acrescidas na adaptação ao dia-a-dia comparativamente aos homens (Pedrelli et al., 2018). No que se refere aos fatores culturais, apesar de se constatar uma menor pressão social para a experimentação de álcool, o julgamento social em relação ao consumo desta substância pelos indivíduos do género feminino é bastante severo o que poderá traduzir o maior número de consequências sociais. A dificuldade no cumprimento dos papéis sociais da mulher esperados, como o de mãe e dona de casa, são condições que podem conduzir à tristeza e desânimo, irritabilidade, sentimentos de culpa, agressividade e vergonha (Silva, 2015). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 16

A visão preconceituosa que a sociedade apresenta sobre o consumo de álcool pelas mulheres delonga a procura de tratamento, o que irá acarretar o agravemento da dependência e consequências associadas (Silva, 2015). O aumento de consumo de álcool no género feminino assim como as consequências associadas (WHO, 2018), mostram a emergência da necessidade de investigar as especificidades da dependência de álcool, analisando as questões intrínsecas ao género feminino. Desde a experimentação até à identificação de consumos considerados de risco, cada mulher apresenta uma trajetória de vida e de consumo que lhe é própria. Apesar de diferentes, no sentido que cada uma reflete uma história de vida individual, a sua análise pode permitir o conhecimento do sentido das experiências de consumo e a forma como vão sendo integradas nos projetos de vida individuais. Conhecer os fatores influenciadores do consumo de álcool com risco para a saúde nas trajetórias de vida de cada mulher poderá dar contributos para a identificação de estratégias que impeçam os consumos de risco de evoluírem para nocivos e/ou dependência. Este estudo teve como objetivo conhecer os fatores influenciadores do consumo de álcool com risco para a saúde nas trajetórias de vida das mulheres. MÉTODOS Trata-se de um estudo que assenta numa abordagem qualitativa de natureza interpretativa. Critérios de inclusão da amostra: participantes do género feminino, idade igual ou superior a 18 anos, nacionalidade portuguesa, com consumos de bebidas alcoólicas de risco (The Alcohol Use Disorder IdentificationTest [AUDIT] superior ou igual a oito) que aceitaram participar no estudo voluntariamente. A avaliação do consumo de álcool realizou-se através do AUDIT, (Babor et al., 2001), questionário desenvolvido pela OMS com o intuito específico de realizar a triagem para os problemas relacionados com o uso de álcool. Salienta-se que este é também o instrumento recomendado pela Direção Geral de Saúde (DGS) para esse fim (DGS, 2014). O instrumento de recolha de dados utilizado foi a entrevista semi-estruturada, uma vez que esta é particularmente vantajosa para “(…) recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo” (Bogdan & Biklen, 2013, p. 134).


RESULTADOS A amostra foi constituída por seis participantes. Destas, quatro apresentavam consumos considerados de risco (AUDIT igual ou superior a 8 e inferior a 15), uma com um consumo nocivo (AUDIT igual ou superior a 16 e inferior a 20) e outra com um consumo avaliado como dependência (AUDIT superior ou igual a 20) (Tabela 1). Os períodos de tempo das trajetórias de consumos com risco para a saúde oscilaram entre os 6 e os 19 anos de consumo. Ao percorrer o guião, procurou-se explorar aspetos referentes à sua trajetória de consumo desde a experimentação até ao consumo atual.

Tabela 1 - Caraterização das participantes às quais foi realizada entrevista E1

E2

E4

E6

E7

E8

Sexo

Fem

Fem

Fem

Fem

Fem

Fem

Idade

24

26

24

22

30

20

Idade de 17 Experimentação anos

16 anos

12 anos

14 anos

11 anos

14 anos

Nº anos de consumo

7 anos

10 anos

12 anos

8 anos

19 anos

6 anos

AUDIT

8

8

10

8

26

16

A ordenação dos dados permitiu a caraterização do primeiro consumo de álcool ou “experimentação”, a caraterização do consumo realizado nos últimos doze meses designado por “consumo atual” e, ainda, do “percurso” realizado entre a experimentação e o consumo atual. Após a experimentação de bebidas alcoólicas os participantes referem ter mantido os consumos de álcool seguindo trajetórias distintas sendo estas consumidoras de risco, nocivos e dependência (Quadro 1). Quadro 1 - Grelha de análise - Etapas da trajetória de consumo de álcool Consumo de Risco; Consumo Nocivo e Dependência

A técnica da entrevista torna-se, assim, útil na recolha de dados sobre as crenças, as opiniões e as ideias dos sujeitos. De modo a facilitar a condução da entrevista foi elaborado um guião para orientação do investigador. Após a sua realização, cada uma das entrevistas foi transcrita para papel para seguidamente se realizar a análise de conteúdo. Iniciou-se a análise das entrevistas pela leitura flutuante das mesmas com o objetivo de se obter o sentido do todo. Nas leituras seguintes e sistematicamente procedemos a “uma microanálise, referida como “uma análise linha-a-linha” (Strauss & Corbin, 1998). Após a identificação das “unidades de registo” foi realizada a codificação aberta. Estas foram agrupadas em códigos e posteriores categorias e subcategorias. Ao pensamento tem-se acesso por via indireta, exigindo por isso, que os investigadores “montem um esquema” – análise de conteúdo – (Bardin, 2009) que facilite a desocultação dos sentidos latentes e arrumação num conjunto de categorias de significação do conteúdo manifesto das entrevistas. Nesse processo, foram cumpridas as regras da homogeneidade, exaustividade (esgotar a totalidade do texto), exclusividade (o mesmo elemento de conteúdo não pode ser classificado em duas categorias diferentes), objetividade (codificadores diferentes devem chegar a resultados iguais) e pertinência (adaptadas ao conteúdo e ao objetivo). Não podemos deixar de salientar que em investigação qualitativa, diferentemente da quantitativa, a variedade de sentidos inerentes aos dados, exige do investigador intuição, inspiração e experiência, sendo que alguns autores falam mesmo da “arte” do analista e não tanto da sua técnica (Longo, 2017).

Categorias

Subcategorias

Experimen- Idade, Contexto, Tipo e Quantidade de tação Bebida, Efeito Experimentado Percurso

Contexto, Tipo e Quantidade de Bebida, Frequência, Horário, Efeito Experimentado, Experiências Vividas, Estar exposto a riscos, Esforço para lidar com o consumo, Acontecimentos de vida

Consumo atual

Contexto, Tipo e Quantidade de Bebida, Esforço para lidar com o consumo; Efeito Experimentado, Experiências Vividas; Estar exposto a riscos

Os resultados mostraram que a “experimentação” ocorreu entre os 11 (E7) e os 17 anos (E1). No que se refere aos contextos, constatou-se que a iniciação aconteceu sempre na companhia de terceiros, designadamente, amigos (E1”com as amigas”) ou familiares (E6 “Em casa com os pais”), em locais públicos (E1 “quando saía”) ou em casa. Em contexto familiar, verificou-se a ingestão de álcool era efetuada em pequenas quantidades, não havendo referência a episódios de alcoolização. As bebidas de eleição parecem ser a cerveja (E1) e o vinho (E2, E3).

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Na categoria “Percurso” constata-se uma grande heterogeneidade em relação ao tipo de bebidas escolhidas assim como às quantidades ingeridas, sendo de realçar o relato de situações de embriaguez (E4 “tiraram-me uma garrafa de safari da mão e eu estava a beber pela garrafa. Acabei por perder a noção da quantidade”). Os contextos em que se verificou a ingestão de bebidas alcoólicas são idênticos àqueles em que tinha ocorrido a experimentação no entanto, estes passaram a acontecer também em locais públicos. O efeito experimentado associado ao consumo de bebidas alcoólicas ora foi recordado como prazeroso (E7”Ficava mais extrovertida, mais solta”) ora como desagradável (E4” os meus pais quando chegaram a casa eu estava a vomitar na sanita, e pronto, na altura disse que tinha batido com a cabeça, não sei se foi do álcool mas foi aquilo que me saiu (...). Cheguei ao hospital e a minha mãe teve de passar lá uma noite comigo”). As experiencias vividas associadas ao consumo desta substância referidas são a diversão (E1 “Divertimonos mais”; E4 “com alguma ingestão tem mais piada”), a socialização (E8, “quando estamos sob efeito do alcool conseguimos expressarmo-nos muito melhor“) e desinibição (E2 ”foi assim que conheci o meu namorado”; E6 “Naquela situação facilitou a aproximação”), independentemente do mau estar físico que o consumo possa causar. A utilização do álcool para lidar com problemas de vida foi outro aspeto salientado (E7 ”para aguentar o ritmo de trabalho”; E2 “Estava sozinha e estava triste”; E1 “momento de me abstrair dos meus problemas”). No que se refere à relação parental salienta-se a existência de modelos de consumo. (E2, E4 “pai”). As filhas de pessoas que sofrem de alcoolismo, descrevem o impacto negativo que o consumo de álcool teve na sua vida familiar aquando dos consumos dos progenitores (E4 ”Ele chegava sempre a discutir com a minha mãe, não dava atenção aos filhos, queria estar no café e gastava o dinheiro todo...”, “eu critiquei o meu pai e agora estou a fazer o mesmo...”). No entanto, algumas participantes salientam que a ingestão de álcool foi interrompida durante um período de tempo devido ao comprometimento da relação parental (E2 “o pai deixou de lhe falar durante algum tempo depois de a ter visto vomitar em locais públicos após a ingestão de bebidas alcoólicas”; E6 ”a minha mãe estava muito desiludida comigo”).

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Em contexto familiar, a crítica, foi outro aspecto fortemente sentido pelas entrevistadas (E7 “o meu marido ficava tempos e tempos sem falar comigo”; E2 ”vejam lá se é preciso beberem mais...”). Em termos sociais, foram vários os acontecimentos de vida que motivaram a suspensão temporária do consumo. Entre esses motivos, estão questões legais (E7 “havia um problema com a proteção de menores (...) uma das exigências do acordo era que não houvesse consumos de álcool (...) tive uma falha (...) quase perdi os meus filhos”; E8 “Fiquei sem carta (...) sou eu que vou pagar a multa do meu dinheiro); o abandono escolar na sequência de gravidez e interrupção da mesma (E4 “parei de beber na gravidez (...) voltei a beber depois de dar de mamar (...) mas foi só um mês”; E7 “a partir dos 4 meses deixei de beber”) ou alterações do padrão de consumo de bebidas alcoólicas. O início da atividade laboral, ainda durante o secundário, foi outro acontecimento de vida apontado como impulsionador dos consumos. O ambiente noturno e o fácil acesso a bebidas alcoólicas, estimulavam o consumo de álcool (E7 “porque trabalhava num bar, num café (...) tinha mais facilidade em beber muito mais”; E8 “comecei a trabalhar à noite ainda tinha 15 anos”). Nas trajetórias analisadas evidenciou-se o esforço para lidar com os consumos. Este constitui um elemento diferenciador das trajetórias de consumo de risco (E6 “começo a sentir que vou ficar tonta e paro”) e dependência (E7 “não consigo controlar-me, não consigo dizer que não...”). Por outro lado, o estar exposto a riscos implicou a adoção de medidas para os minimizar, em especial na condução (E4” decidimos quem leva o carro, e esse não bebe”), apesar de não ser colocada a hipótese de interrupção do consumo. No “consumo atual”, as participantes referem consumir quantidades de álcool superiores às descritas durante o “percurso”, assim como a utilização de bebidas alcoólicas pela apreciação das suas propriedades hedónicas (E1 “mesmo quando vou jantar com os meus pais há vinho, bebo um copo de vinho...”; E2 ”agora vamos experimentando vinhos”). Atitude semelhante se verifica aquando das saídas noturnas e jantares de convívio com familiares e amigos (E2 “bebemos em casa de um amigo”).


DISCUSSÃO Vários autores alertam para a idade precoce de experimentação de bebidas alcoólicas como um preditor da dependência (Brito, et al., 2015). Tal conclusão é confirmada pela presente investigação, pois os participantes que referem idades de experimentação mais precoce (entre os 11 e os 12 anos) são os que apresentam scores de AUDIT mais elevados (19 e 26). Os resultados encontrados em relação à ingestão de bebidas alcoólicas em contexto familiar corroboram a opinião de Mattick e colaboradores (2017) ao referir que, nestes contextos, os consumos são em doses reduzidas. A utilização das bebidas alcoólicas como um fator favorecedor da socialização constitui um achado comum a outras investigações (Treloar, Piasecki, McCarthy, Sher & Heath, 2015). Tais experiências são integradas na trajetória de cada participante como positivas, agradáveis ou prazerosas, o que pode ser explicado, em parte, pela atuação do etanol no funcionamento cerebral (Pedrelli, et al.,2018). O uso continuado de álcool vai provocar alterações nos sistemas de recompensa e motivação, com um aumento de valor incentivo para esta substância, seus estímulos e contextos associados. Essa ação leva a que os indivíduos sintam como prazeroso o consumo de bebidas alcoólicas e contextos a ele associados. Assim, confirma-se a expetativa de que a diversão e a socialização só são possíveis com o consumo de álcool e em contextos onde tal pode acontecer. As expetativas associadas ao consumo são apontadas por diversos autores como potenciadores dos consumos (Anderson, Garcia & Dash, 2016). Com efeito, ao fim de alguns anos de consumo, além das alterações no funcionamento cerebral, as consequências pessoais repercutem-se também na existência de um parco reportório de estratégias para lidar com os problemas de vida, uma vez que, durante o período em que era esperado que fossem desenvolvidas, o consumo de álcool assumiu esse papel. A utilização do álcool para lidar com problemas de vida quotidianos, constitui um resultado que também encontra espelho em outros trabalhos produzidos neste âmbito (Pedrelli, et al., 2018). No que se refere à relação parental salienta-se a existência de modelos de consumo, nomeadamente a figura do pai, estes resultados vão ao encontro do referido por outros autores em que a relação parental mostrou ser influenciadora da trajetória de consumos (Mattick et al., 2017).

Com efeito, apesar de as participantes reconhecerem que consumo de álcool pelos progenitores pode ter um efeito dissuasor de consumos, esse modelo de comportamento foi por elas replicado posteriormente. Paradoxalmente, a relação parental parece assumir um papel protetor em relação aos consumos de álcool, uma vez que também foi apontada como causa da interrupção da ingestão de bebidas alcoólicas. O impacto que o consumo de bebidas alcoólicas causou na vida de cada mulher, associado à crítica de terceiros fez emergir nas participantes a necessidade de controlar o seu consumo. A competência de controlo sobre a ingestão de bebidas alcoólicas está estreitamente ligada à negação das suas consequências e como tal ao adiamento da interrupção dos consumos. A integração do consumo de álcool nas trajetórias das participantes foi paulatinamente conquistando mais espaço. Aquando da experimentação o seu uso esteve associado às experiências de socialização de que é exemplo a desinibição e a diversão passando no “percurso” a ser utilizado como como recurso para lidar com uma emoção negativa ou com o contexto laboral. Apesar da existência de consequências negativas em diferentes áreas de vida das participantes, todas referem a utilização do álcool como um fator potenciador das experiências de socialização de que é exemplo a diversão e a desinibição/socialização nas diferentes etapas descritas. CONCLUSÃO A realização deste estudo teve como objetivo geral conhecer na trajetória de vida das participantes quais os fatores influenciadores do consumo de álcool. Verificou-se que a idade, a relação parental, a crítica, as consequências associadas ao consumo e as atividades de lazer e socialização mostraram-se fortemente influenciadoras da ingestão de bebidas alcoólicas. Concluiu-se que as diferentes trajetórias de consumo foram iniciadas em idades precoces e que as suas repercussões no bem-estar e saúde das mulheres são expressivas. Este trabalho teve como principais limitações o reduzido número de participantes. O fato de a entrevista, ter sido realizada num único momento impediu também que fossem aprofundados alguns aspetos relacionados com o consumo de álcool.

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IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Apesar das limitações, a realização deste trabalho realça a necessidade intervenções de enfermagem que promovam a construção de um projeto de saúde que inclua recursos que permitam aos indivíduos evitar as situações que coloquem a sua saúde em risco, como é o caso do consumo de álcool. Alerta também para a necessidade de implementação de medidas que “ensinem” os jovens a beber com moderação de modo a prevenir a evolução dos consumos sem riscos para consumos nocivos e/ou dependência. Esta aprendizagem deve incluir programas que integrem o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, a aquisição de conhecimentos acerca das substâncias e suas consequências, a resistência à pressão social, o treino de competências pessoais e sociais e a construção de atitudes e expetativas seguras acerca da substância. Deverá também contemplar a participação em atividades prazerosas que não incluam o consumo de álcool. Assim e perante uma sociedade em que o acesso às bebidas alcoólicas é facilitado, compete aos profissionais de saúde, em especial aos enfermeiros especialistas em saúde mental e psiquiátrica, a implementação de estratégias que capacitem os indivíduos para lidar com esta substância. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anderson, K., Garcia, T., & Dash, G. (2016). Drinking Motives and Willingness to Drink Alcohol in Peer Drinking Contexts. Emerging Adulthood, 5(1), 16-26. Doi:10.1177/2167696816636503 Babor, T. F., Higgins-Biddle, J., Saunders, J. B., & Monteiro, M. G. (2001). AUDIT The Alcohol Use Disorders Identification Test: Guidelines for use in primary care (2nd ed.). Geneva, Switzerland: World Health Organization. Bardin, L. (2009). Análise de conteúdo. (3ª Edição). Lisboa. Edições 70. Becoña, E. (2015). Fatores associados ao consumo de álcool na adolescência, em função do género. Psicologia, Saúde & Doenças, 16 (3), 392-410. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1645-00862015000300010&lng=pt&tl ng=pt. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 20

Bogdan, R. & Biklen, S., (2013). Investigação Qualitativa em Educação – uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora. Brito, I., Precioso, J., Correia, C., Albuquerque, C., Samorinha, C., Cunha-Filho, H. & Becoña, E. (2015). Fatores associados ao consumo de álcool na adolescência, em função do género. Psicologia, Saúde & Doenças, 16(3), 392-410. Disponível em http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1645-00862015000300010&lng=pt&tlng=pt. Direção-Geral da Saúde. (2014). Detecção Precoce e Intervenção Breve no Consumo Excessivo de Álcool. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizesda-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n0302012-de-28122012-png.aspx Foster, K. T., Hicks, B. M., Durbin, C. E., Iacono, W. G., & McGue, M. (2018). The Gender Risk–Severity Paradox for Alcohol Use Disorder From Adolescence Through Young Adulthood. Emerging Adulthood, 6(6), 375–386. Doi: 10.1177/2167696817740453 Kim H. W. (2015). Awareness of human papillomavirus and factors associated with intention to obtain HPV vaccination among Korean youth: quasi experimental study. BMC international health and human rights, 15,4.doi:10.1186/s12914-015-0042-2 Longo, J. J. R. (2017). O valor formativo do practicum. Perspetivas docentes e discentes na formação inicial em Enfermagem. Düsseldorf: Novas Edições Académicas. Mattick, R., Wadolowski, M., Aiken, A., Clare, P., Hutchinson, D., Najman, J.,. . . Kypri, K. (2017). Oferta parental de álcool e consumo de álcool na adolescência: estudo de coorte prospectivo. Psychological Medicine, 47(2), 267-278. Doi: 10.1017 / S0033291716002373 Moncada-Madrazo, M., Aranda-Gutierrez, A., IsojoGutiérrez, R., Issa-Villarreal, M., Elizondo-Granillo, C., Ramos-Reyes, Á., …, G., Soto-Fuenzalida, G. (2020). Factores de riesgo modificables del cáncer de mama: una comparación entre mujeres menores y mayores de 40 años. Ginecología y Obstetricia de México, 88(03),131138. Disponível em: https://www.medigraphic.com/ cgi-bin/new/resumen.cgi?IDARTICULO=92609


Pedrelli, P., Mac Pherson, L., Khan, A. J., Shapero, B. G., Fisher, L. B., Nyer, M., … Fava, M. (2018). Sex Differences in the Association between Heavy Drinking and Behavioral Distress Tolerance and Emotional Reactivity Among Non-Depressed College Students. Alcohol & Alcoholism, 53(6), 674 - 681.Doi: 10.1093/ alcalc/agy045 Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aitivos e nas Dependências – SICAD. (2017). Relatório Anual 2017: A Situação do País em Matéria de Álcool. Lisboa: SICAD. Silva, A. (2015). A trajetória de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas dentro dos serviços de atenção e tratamento até a comunidade terapêutica. (Dissertação de Mestrado). Universidade Católica de Brasília, Brasil. Disponível em https://bdtd.ucb.br:8443/ jspui/handle/123456789/1856

Strauss, A & Corbin, J. (1998). Basics of qualitative Research: Techniques and Procedures for developing Grouded Theory. USA: SAGE Publications. Treloar, H., Piasecki, T., McCarthy, D., Sher, K.,& Heath, A. (2015). Ecological evidence that affect and perceptions of drink effects depend on alcohol expectancies. Addiction, 110(9), 1432-1442. Doi:10.1111/ add.12982 World Health Organization. (2018).Global status report on alcohol and health. Disponível em: https:// www.who.int/publications/i/item/9789241565639

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Artigo de Investigação

4

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0287

DISSULFIRAM NA MANUTENÇÃO DA ABSTINÊNCIA DO ÁLCOOL: AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO NUM GRUPO DE PESSOAS EM INTERNAMENTO | Sandra Costa1; Liliana Martins2; Ana Catarina Antunes3; Lídia Moutinho4; Lara Pinho5; Olga Valentim6 |

RESUMO CONTEXTO: O uso do dissulfiram no tratamento da Perturbação de Uso de Álcool (PUA) é uma estratégia importante na manutenção da abstinência. As sessões de psicoeducação, realizadas pelos enfermeiros, têm a finalidade de preparar o utente/família para a toma segura do dissulfiram, monitorizando os seus efeitos. OBJETIVO: Avaliar o conhecimento de pessoas com PUA internadas sobre os cuidados a ter com a alimentação e produtos de higiene durante a toma de dissulfiram identificando as necessidades de intervenções de enfermagem psicoeducativas. MÉTODOS: Estudo transversal e descritivo. Na colheita de dados utilizou-se um questionário sociodemográfico e um instrumento desenvolvido pelos autores com questões de avaliação do conhecimento acerca dos cuidados a ter durante a toma de dissulfiram indicando os aspetos sobre os quais devem incidir as sessões de psicoeducação. RESULTADOS: Amostra constituída por 31 participantes com uma média de idades de 49 anos (DP=8,87). Destaca-se o conhecimento não demonstrado, sobre o consumo de pickles, maionese e mostarda (48,4%), de doces confecionados com álcool (38,8%), a utilização de xaropes e elixires com álcool (41,9%) e de aftershave, perfumes ou tónicos com álcool (35,5%). 12,9% dos participantes não reconhece os sintomas, toracalgia, tonturas, taquicardia e cefaleias, como reações adversas aquando da junção de álcool com dissulfiram. CONCLUSÕES: Uma percentagem significativa da amostra não sabe quais os cuidados a ter com a alimentação e com a seleção dos produtos de higiene pelo que é necessário realizar intervenções psicoeducativas, tendo os enfermeiros especialistas em saúde mental um papel fundamental.

PALAVRAS-CHAVE: Alcoolismo; Enfermagem psiquiátrica; Educação em saúde; Dissulfiram

RESUMEN

ABSTRACT

“Disulfiram en el mantenimiento de la abstinencia de alcohol: Evaluación del conocimiento en un grupo de pacientes hospitalizados”

“Disulfiram in alcohol abstinence maintenance: Evaluation of knowledge in an inpatient group”

CONTEXTO: El uso de disulfiram en el tratamiento del Trastorno por Uso de Alcohol (TUA) es una estrategia importante para el mantenimiento de la abstinencia. Las sesiones psicoeducativas realizadas por enfermeras están destinadas a preparar al paciente / familia para el uso seguro de disulfiram y controlar sus efectos. OBJETIVO(S): Evaluar el conocimiento de personas hospitalizadas con TUA sobre el cuidado que se debe tener con los cuidados alimentarios, productos higiénicos durante la toma de disulfiram, identificando la necesidad de intervenciones psicoeducativas de enfermería. MÉTODOS: Estudio transversal y descriptivo. Los datos se recopilaron mediante un formulario sociodemográfico, y un instrumento desarrollado por los autores con preguntas de evaluación del conocimiento sobre el cuidado a tener durante la toma de disulfiram, indicando aspectos en los que deben centrarse las sesiones de psicoeducación. RESULTADOS: Muestra compuesta por 31 participantes con edad promedio de 49 años (DE = 8,87). Destaca conocimiento insuficientes sobre el consumo de encurtidos, mayonesa y mostaza (48.4%), dulces hechos con alcohol (38.8%), el uso de jarabes y elixires con alcohol (41.9%) y después del afeitado, perfume o tónicos con alcohol (35.5%). El 12,9% de los participantes descalifican los síntomas, dolor de pecho, mareos, taquicardia y dolor de cabeza, como reacciones adversas cuando se agrega alcohol con disulfiram. CONCLUSIONES: Un porcentaje significativo de la muestra no sabe qué precauciones tomar con los alimentos y selección de productos higiénicos, siendo necesario efeto intervenciones psicoeducativas, con enfermeros especializadas en salud mental que desempeñan un papel fundamental.

BACKGROUND: The use of disulfiram in the treatment of Alcohol Use Disorder (AUD) is an important strategy to the maintenance of abstinence. The psychoeducation sessions conducted by nurses are intended to prepare the patient / family for the safe use of disulfiram and to monitor its effects. AIM: To evaluate the knowledge of hospitalized people with AUD about the care to be taken with food and hygiene products during the taking of disulfiram and to identify the need for psychoeducational nursing interventions. METHODS: Cross-sectional and descriptive. Data were collected using a form with sociodemographic data and an instrument developed by the authors with questions about knowledge about the care to be taken during the taking of disulfiram and identify the aspects on which psychoeducation sessions should focus. RESULTS: Sample consisting of 31 participants with an average age of 49 years (SD = 8.87). It stands out the knowledge not demonstrated, about the consumption of pickles, mayonnaise and mustard (48.4%), of sweets made with alcohol (38.8%), the use of syrups and elixirs with alcohol (41.9%) and aftershave, perfum or tonics with alcohol (35.5%). 12.9% of the participants do not recognize the symptoms, chest pain, dizziness, tachycardia and headache, as adverse reactions when the addition of alcohol with disulfiram. CONCLUSIONS: A significant percentage of the sample does not know what precautions to take with food and of hygiene products selection, so it is necessary to carry out psychoeducational interventions, having the nurse specialists in mental health a fundamental role.

DESCRIPTORES: Alcoholismo; Enfermería de salud mental; Educación en salud; Disulfiram

KEYWORDS: Alcoholism; Psychiatric nursing; Health education; Disulfiram Submetido em 31-12-2019 Aceite em 11-05-2020

1 Licenciada em Enfermagem; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Alcoologia de Lisboa, costa76@live.com.pt 2 Mestre em Ciências da Educação – Formação de Adultos; Enfermeira especialista em Enfermagem Comunitária na Unidade de Alcoologia de Lisboa, liliana.mbernardes. martins@gmail.com 3 Mestre em Enfermagem; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Alcoologia de Lisboa, catarinaoliveiraantunes@gmail.com 4 Doutora em Enfermagem; Professora Adjunta na Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, lidiamoutinho@live.com.pt 5 Doutora em Psicologia; Professora Adjunta Convidada no Instituto Politécnico de Portalegre, Escola Superior de Saúde; Investigadora Integrada no CINTESIS; Investigadora Auxiliar Convidada na Universidade de Évora, Escola Superior de Enfermagem São João de Deus, lmgp@uevora.pt 6 Doutora em Enfermagem; Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Desabituação do Centro das Taipas, ARSLVT; Investigadora no CINTESIS; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Portugal, ommvalentim3@gmail.com Citação: Costa, S., Martins, L., Antunes, A. C., Moutinho, L., Pinho, L., & Valentim, O. (2021). Dissulfiram na manutenção da abstinência do álcool: Avaliação do conhecimento num grupo de pessoas em internamento. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 22-28. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 22


INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, o consumo de álcool converteu-se numa grave e evidente preocupação de saúde pública, em que o abuso e a dependência são problemas crónicos (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2018) conduzindo a uma nova complexidade nas respostas dos serviços e nos cuidados de saúde (Lopes, Gomes, e Lobo-Almada, 2018). Portugal encontra-se entre os países que consomem mais bebidas alcoólicas do mundo, representando também um consumo acima da média da região europeia (OMS, 2018). A incidência do alcoolismo demonstrada pela evidência científica, tem vindo a constituir apreensão nos profissionais de saúde, pois a promoção de estilos de vida saudáveis é uma meta a atingir (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências [SICAD], 2019), caso contrário, por se tratar de uma doença crónica a sua prevalência será elevada com o consequente aumento de consequências em saúde. Contextualizando a Perturbação de Uso de Álcool (PUA) como doença crónica, multifatorial, que se deteta quase sempre numa fase já tardia, esta tem implicações físicas, psicológicas, sociais, profissionais e familiares (OMS, 2018). No processo de doença que se enquadra a PUA, as recaídas são parte integrante (Marlatt & Witkiewitz, 2009), pois evidenciam-se como o maior obstáculo ao sucesso do tratamento, visto ocasionarem experiências recorrentes de insucesso, bem como de desmotivação nos indivíduos. Integrado nesta perspetiva surge a Prevenção da Recaída (PR), abordagem criada por Marlatt e Gordon (1993), que contempla os princípios da aprendizagem social de Bandura (1996) e a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) em que a manutenção da abstinência no tratamento da PUA se apresenta como um desafio nos cuidados de saúde. A PR revela-se como um elemento decisivo na manutenção a longo prazo do processo de mudança (Marlatt & Witkiewitz, 2009). Elencando este processo, o Enfermeiro Especialista de Saúde Mental e Psiquiátrica (EESMP), deverá desenvolver intervenções que englobam a excelência relacional, que lhe permitem o estabelecimento de relações de confiança e parceria, de forma a aumentar o insight acerca dos problemas e a capacidade de encontrar novas vias de resolução na procura permanente da re(adaptação) funcional dos indivíduos (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2018).

O EESMP identifica os determinantes específicos da saúde mental, aplica técnicas geradoras de motivação, fomenta a mudança de comportamentos, promove a adoção de estilos de vida saudáveis e contribui para a gestão da terapêutica (O`Brien, 2011). Em contexto de internamento, nas intervenções dirigidas a pessoas com PUA, destaca-se a importância da psicoeducação para adesão/gestão à terapêutica. A psicoeducação é uma técnica que relaciona os instrumentos psicológicos e pedagógicos com objetivo de ensinar a pessoa e os cuidadores sobre a patologia física e/ou psíquica, bem como sobre seu tratamento (Lemes e Ondere Neto, 2017). A psicoeducação visa a compreensão da doença mental de forma clara e concisa, sendo um método de desenvolver estratégias para lidar com a mesma e com os seus efeitos. Não é, portanto, um tratamento, mas sim projetada para ser parte integrante de um plano global de tratamento. Engloba, por exemplo, planos de prevenção da recaída e de estratégias para a gestão da doença. A implementação de intervenções psicoeducativas para promover o conhecimento, compreensão e gestão efetiva da doença mental é uma das competências do EESMP (OE, 2018). Ao capacitar a pessoa com PUA para os cuidados a ter com a sua doença e tratamento, o EESMP contribui para que esta possa ter consciência e preparação para lidar com as mudanças a partir de estratégias de enfrentamento, fortalecimento da comunicação e de adaptação (Bhattacharjee et al., 2011). A evidência científica demonstra que a TCC aliada à farmacoterapia num programa integrado de tratamento expressa, de uma forma geral, resultados mais eficazes (Marlatt & Witkiewitz, 2009; Neto, Lambaz, Aguiar, & Chick, 2008), pelo que uma gestão terapêutica eficiente é essencial para o sucesso do tratamento. A adesão à toma de dissulfiram, tem demonstrado ser uma estratégia potencialmente útil para indivíduos motivados a interromper o consumo de álcool na manutenção da sua abstinência, potenciando assim a PR, pois permite criar uma janela cognitiva na compreensão da doença e respetivo tratamento (Chamberlain & Grant, 2019). O dissulfiram é um fármaco aversivo, que provoca reações físicas desagradáveis na pessoa após a ingestão de bebidas alcoólicas, por interferir no metabolismo do álcool ingerido. Pretende-se, deste modo, desenvolver uma aversão progressiva ao abuso do álcool, criando melhores condições para o tratamento do alcoolismo, uma vez que à ingestão de bebidas alcoólicas deixa de estar associada a uma recompensa (Kim et al., 2018). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 23


Para a administração deste fármaco é imprescindível a concordância dos indivíduos na sua administração, pois estes devem permanecer conscientes e estarem informados dos cuidados, implicações e efeitos esperados caso ingiram, inalem ou tenham contacto dérmico com álcool. Para isso é importante que os indivíduos reconheçam as restrições alimentares a que estão expostos assim como a seleção dos produtos de higiene que não contenham álcool, uma vez que no caso de ingestão, inalação ou contato dérmico com álcool, pode ocorrer sintomatologia adversa de que é exemplo a vasodilatação generalizada, cefaleias, taquicardia, sudorese intensa e náuseas ou vómitos (Feitoza, 2014). Diversos autores referem que a toma supervisionada desta terapêutica pela família, apresenta-se como uma ferramenta útil, o que proporciona um aumento na efetividade do tratamento, diminuindo a tensão familiar e possibilitando a criação só por si de uma relação de confiança que foi quebrada pela presença da doença (Chamberlain & Grant, 2019). Desta forma, prevenir a recaída deve ser um processo ativo, em que se planeiam estratégias preventivas, desenvolvem e implementam iniciativas e programas, com o objetivo de modificar e melhorar a formação integral e a qualidade de vida sistémica, promovendo o autocontrolo individual, a resistência coletiva face à PUA e a promoção da saúde mental. Numa unidade de tratamento da PUA, foi desenvolvido o presente estudo com o objetivo de avaliar o conhecimento de pessoas com PUA sobre os cuidados a ter com a alimentação e com os produtos de higiene antes de iniciarem a toma de dissulfiram e identificar a necessidade de intervenções de enfermagem psicoeducativas. Não obstante, a multiplicidade de estudos acerca da PUA, nos últimos anos, particularmente em Portugal é notória a falta de estudos sobre o conhecimento da terapêutica, nomeadamente do dissulfiram (Antunes e Costa, 2019; Costa, Figueiredo, Monteiro, Costa, e Xavier, 2017; SICAD, 2019). MÉTODOS Estamos perante um estudo transversal e descritivo, sendo os participantes selecionados através do método de amostragem por conveniência, ou seja, todos os utentes internados que correspondessem aos critérios de inclusão. A amostra foi constituída por 31 participantes de ambos os sexos, internados numa unidade de tratamento de pessoas com PUA, da área metropolitana de Lisboa. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 24

Foram definidos os seguintes critérios de inclusão: pessoas internadas com o diagnóstico médico de PUA, somente com prescrição de dissulfiram, sem comorbilidade psiquiátrica e que aceitassem participar no estudo durante o primeiro semestre de 2019. A equipa de enfermagem efetuou uma avaliação à população da amostra no período inicial do internamento (10º dia) antes de iniciarem a toma do dissulfiram, em que se elaborou um levantamento dos diagnósticos de enfermagem acerca de quais os cuidados a ter face a esta temática. Foi criado pelos EESMP um programa de psicoeducação que consta de um protocolo de intervenção, contemplando um conjunto de quatro sessões que decorrem, duas vezes por semana, até ao final do internamento (28º dia). Para a recolha de dados recorreu-se a um formulário com dados sociodemográficos e um instrumento desenvolvido pelos autores com questões relativas ao conhecimento sobre os cuidados a ter com a alimentação e com os produtos de higiene durante a toma de dissulfiram concomitantemente com álcool, (alimentos que contém álcool, produtos de higiene ou bebidas alcoólicas), bem como possíveis reações adversas, nome do medicamento e dosagem. Os participantes foram igualmente questionados sobre a importância deste fármaco na prevenção da recaída e quem seria a pessoa corresponsável pela sua administração. Analisaram-se os dados recorrendo-se à estatística descritiva no programa IBM SPSS, versão 25 para Windows. Na realização deste trabalho de investigação foram respeitadas as normas éticas que constam na declaração de Helsínquia, bem como as suas alterações World Medical Association (2013). Foi obtido o consentimento informado dos participantes para a participação no estudo, garantindo o anonimato e confidencialidade, bem como o cumprimento dos princípios éticos inerentes a qualquer investigação. RESULTADOS Os participantes são maioritariamente do sexo masculino (64,5%), com idades compreendidas entre 33 e 68 anos, com uma média de idades de 49 anos (DP=8,87), desempregados (51,6%) e internados pela primeira vez (90%). No quadro 1 podemos observar as respostas acerca dos conhecimentos com os cuidados a ter com a administração do dissulfiram, relativamente à alimentação e aos produtos de higiene.


Quadro 1 - Conhecimento sobre cuidados a ter na toma do dissulfiram (N = 31) Deve ingerir/utilizar? Sim

Não

n (%)

n (%)

9 (29)

22 (71)

Ingerir cerveja sem álcool

11 (35,5)

20 (64,5)

Ingerir doces confecionados com álcool

12 (38,8)

19 (61,3)

Usar Vinagre de vinho

8 (25,8)

23 (74,2)

Pickles, maionese e mostarda

15 (48,4)

16 (51,6)

Aftershave, perfumes ou tónicos com álcool

11 (35,5)

20 (64,5)

Xaropes e elixires com álcool

13 (41,9)

18 (58,1)

Cheirar ou colocar álcool na pele

7 (22,6)

24 (77,4)

Variáveis Uso de vinho na confeção de alimentos Cuidados com alimentação

Produtos de higiene

Tendo em consideração que a toma do dissulfiram implica cuidados no âmbito do contacto diário que vai para além do consumo de bebidas alcoólicas, analisando o quadro 1, observámos que a maioria das pessoas com PUA, que constituem a amostra, mostram conhecimento sobre os cuidados a ter com os alimentos e os produtos de higiene. No entanto destaca-se o conhecimento não demonstrado, sobretudo sobre o consumo de pickles, maionese e mostarda (48,4%), de doces confecionados com álcool (38,8%), a utilização de xaropes e elixires com álcool (41,9%) e de aftershave, perfumes ou tónicos com álcool (35,5%). As reações adversas relativas à toma do dissulfiram com álcool, referidas pelos inquiridos, são apresentadas no quadro 2. Quadro 2 - Conhecimento sobre os efeitos adversos da toma do dissulfiram com álcool (N = 31) Reações Adversas

Sim

Não

n (%)

n (%)

Rubor na face e tronco superior

29 (93,5)

2 (6,5)

Cefaleia pulsátil

27 (87,1)

4 (12,9)

Sudorese intensa

28 (90,3)

3 (9,7)

Tonturas

27 (87,1)

4 (12,9)

Náuseas e vómitos

28 (90,3)

3 (9,7)

Dor no peito

27 (87,1)

4 (12,9)

Taquicardia

27 (87,1)

4 (12,9)

Mal estar geral

29 (93,5)

2 (6,5)

A maioria dos inquiridos identificou como possíveis as reações adversas desencadeadas pela toma do dissulfiram em simultâneo com a ingestão de álcool (entre 87,1% a 93,5%) (quadro 2). Os participantes com PUA da amostra identificaram o nome do fármaco (80,6%), contudo 90,3% desconhecia a dosagem prescrita. 87,1% dos indivíduos considerou a toma do dissulfiram como uma estratégia importante na PR. Em relação à pessoa responsável pela supervisão e/ou administração do fármaco, 45,2% dos participantes referiram que esta seria realizada por um familiar próximo, como o irmão ou os pais, 32,3% pelo cônjuge e 22,5% por um técnico de saúde, num centro de saúde ou equipa de tratamento. DISCUSSÃO A PUA representa um problema de saúde pública que implica uma intervenção complexa, o que tem fomentado investigação na procura de uma melhor compreensão das questões relacionadas com as metodologias de tratamento e a sua eficácia. Estudos recentes demonstram que o dissulfiram continua a ser uma opção essencial no tratamento a longo prazo de pessoas com PUA (De Sousa, 2019). Os resultados mostram que uma importante percentagem das pessoas com PUA tem insuficientes conhecimentos sobre aos cuidados a ter com a toma do dissulfiram. Destaca-se o conhecimento não demonstrado, sobre o consumo de pickles, maionese e mostarda (48,4%), de doces confecionados com álcool (38,8%), na utilização de xaropes e elixires com álcool (41,9%) e de aftershave, perfumes ou tónicos com álcool (35,5%). Além disso 90,3% desconhecia a dosagem prescrita. Estes resultados são preocupantes pois poderão colocar em risco o cumprimento do projeto terapêutico e a manutenção da abstinência do álcool. De acordo com Cruz, Vedana, Mercedes e Miasso (2016), o conhecimento sobre a medicação, as preocupações com o tratamento e a identificação de impedimentos para seguir a prescrição medicamentosa comprometem a adesão à terapêutica. Vários estudos avaliam a adesão do doente à terapêutica em doenças crónicas, tais como a diabetes, hipertensão, esquizofrenia e PUA (Coelho, et al., 2017; De Sousa, 2019; Favrod & Maire, 2014), contudo, não se encontraram estudos cujo projeto terapêutico inclui o conhecimento do utente sobre os cuidados a ter com a toma de dissulfiram. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 25


Realizou-se uma pesquisa nas bases de dados Medline, Scielo, Pubmed, CINAHL e ScienceDirect, entre 2009 e 2019, utilizando os descritores: alcoolismo, educação em saúde, alimentos, produtos de higiene pessoal e dissulfiram (alcoholism, health education, food, personal hygiene products and dissulfiram), que revelou a inexistência de artigos que abordem o conhecimento das pessoas sobre as restrições alimentares e seleção de produtos de higiene aquando da toma do dissulfiram, pelo que não foi possível fazer a comparação dos resultados obtidos no presente estudo, relativamente a estas variáveis. Alguns estudos mencionam o uso do dissulfiram e de outros fármacos no tratamento da PUA, sem associarem a adesão terapêutica e/ou a psicoeducação relativamente aos cuidados com a sua administração (Kim et al., 2018; Witkiewitz, Litten, & Leggio, 2019). No atual estudo 87,1% dos indivíduos consideram a toma do dissulfiram como uma estratégia importante na prevenção de recaída. Estes dados vão ao encontro dos resultados no estudo de Cabral e Silva (2001) sobre “A adesão à terapêutica em Portugal”, onde 79,5% dos participantes entenderam as vantagens do tratamento proposto. Segundo os mesmos autores, uma outra dimensão, que influencia a adesão à terapêutica, relaciona-se com o tratamento, nomeadamente a compreensão do esquema terapêutico, dos efeitos secundários e a ausência ou presença de resultados imediatos. Na amostra em estudo, quando apresentados os efeitos adversos do dissulfiram administrado concomitantemente com álcool, a maioria dos participantes conseguiu identificá-los. Sabemos que o conhecimento por si só não basta para a adesão à terapêutica, no entanto é fundamental para a mesma, uma vez que o conhecimento aumenta a literacia e, consequentemente, uma opção consciente. Assim, a psicoeducação mostra-se importante para a abordagem às pessoas com PUA pois contribui entre outros aspetos para aumentar conhecimentos sobre a toma da terapêutica aversiva e dotar o individuo de estratégias que permitam a adesão ao tratamento e manutenção da abstinência. De acordo com Andretta e Oliveira (2011), a psicoeducação mostrou ser eficaz no tratamento da PUA. A efetividade do tratamento aumenta com intervenções que estimulem a abstinência, tais como a determinação entre o utente e os profissionais envolvidos no seu tratamento, a supervisão da administração do medicamento por algum familiar e consequente monitorização comportamental (Chamberlain & Grant, 2019). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 26

Na amostra do presente estudo, a toma assistida do fármaco ficou de ser supervisionada por um familiar próximo, como irmão ou pais (45,2%) ou o cônjuge (32,3%) o que parece ser um bom indicador da PR. De salientar que, os restantes, 22,5%, foram integrados numa realidade frequente, de ausência total de rede familiar da pessoa com PUA, sendo mobilizado o recurso a outra rede, nomeadamente institucional, que não foram analisados no presente estudo. CONCLUSÃO Os resultados mostraram que os participantes necessitam aumentar os conhecimentos sobre como tomar o dissulfiram, os cuidados a ter com alimentação e seleção dos produtos de higiene, pelo que é urgente a implementação de estratégias nas unidades de internamento que promovam o aumento destes conhecimentos. Revelaram também que têm bons conhecimentos acerca dos efeitos adversos associados à toma do dissulfiram simultaneamente com álcool. A análise destes resultados remete para a importância das intervenções psicoeducativas realizadas pelos enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde mental e psiquiatria, que abordem questões relacionadas com a administração da terapêutica e cuidados a ter, incluindo não só o utente, mas também a família, como aliada na prevenção da recaída, tendo um importante papel na supervisão e gestão do regime terapêutico. Estas intervenções devem ter como objetivo não só a consciencialização acerca da doença e do tratamento, mas também devem incidir sobre a fulcral necessidade de adesão/gestão ao regime terapêutico e às mudanças significativas no estilo de vida, tendo como foco a prevenção da recaída. A principal estratégia para se conseguir bons resultados no tratamento será aquela que permita ao utente uma boa integração social e uma maior adesão terapêutica. A correta utilização da toma do dissulfiram é uma meta a atingir, com a certeza de que os utentes e familiares irão beneficiar da redução das recaídas e melhoria da qualidade de vida. Embora a reduzida dimensão da amostra não permita extrapolar os resultados, estes apontam para a necessidade da realização das sessões de psicoeducação dirigidas a utentes e familiares como importante estratégia na promoção da adesão/gestão terapêutica e prevenção da recaída. Como limitações ao presente estudo apresentamos a reduzida dimensão da amostra, sugerindo que se realizem estudos futuros com uma amostra maior.


Recomenda-se ainda a realização de estudos experimentais com a avaliação antes e após intervenções psicoterapêuticas que se foquem na adesão/gestão à terapêutica e prevenção de recaídas e que avaliem a efetividade dos resultados em saúde decorrentes das intervenções em ESMP. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O cumprimento do projeto terapêutico, a manutenção da abstinência do álcool e a adesão à toma do dissulfiram assume-se como uma ferramenta importante na recuperação da pessoa com PUA. Tendo em conta os resultados encontrados consideramos que este estudo tem implicações para a prática clínica da ESMP, na medida em que alerta para a importância das intervenções psicoeducativas na população com PUA, devendo ser incluídos membros da família para uma melhor adesão e gestão da terapêutica e prevenção da recaída. O conhecimento acerca do processo terapêutico e da medicação, a adesão e gestão ao regime terapêutico, assim como o papel da família, devem ser considerados aquando da realização da avaliação inicial e do plano individual de cuidados ao utente com PUA e sua família. Propõem-se algumas recomendações para a prática clínica do enfermeiro ESMP, adaptadas à população com PUA para melhorar a sua adesão ao regime medicamentoso, e neste sentido sugere-se intervenções baseadas na psicoeducação ao utente/família, consultas/entrevistas motivacionais e após a alta, a realização de follow-up telefónico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andretta, I. e Oliveira, M. S. (2011). A entrevista motivacional em adolescentes usuários de droga que cometeram ato infracional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(2), 218-226. Doi: 10.1590/S010279722011000200002 Antunes, A. e Costa, E. C. V. (2019). Sono, agressividade e comportamentos de risco em indivíduos dependentes de drogas e de álcool. Análise Psicológica, 37(1), 1-14. Doi: 10.14417/ap.1390 Bhattacharjee, D., Rai, A., Singh, N., Kumar, P., Munda, S. & Das, B. (2011). Psychoeducation: A Measure to Strengthen Psychiatric Treatment. Industrial psychiatry journal. 14(1). 33-39.

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Neto, D., Lambaz, R., Aguiar, P., & Chick, J. (2008). Effectiveness of Sequential Combined Treatment in Comparison with Treatment as Usual in Preventing Relapse in Alcohol Dependence. Alcohol & Alcoholism, 43(6), 661-668. Doi: 10.1093/alcalc/agn075 O’ Brien, M.T. (2011). An evaluation of a screenning and brief intervention pilot project for hazardous and harmful drinkers within the accident and emergency department of Manchester Royal Infirmary. Journal of Psiychiatric and Mental Health Nursing, 18, 440448. Doi:10.1111/j.1365-2850.2010.01684.x Ordem dos Enfermeiros (2018). Regulamento das competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica. Regulamento n.º 515/2018. Diário da República, 2.ª série, n.º 151, de 7 de agosto de 2018. 21427-21430. Lisboa: Autor.

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 28

Organização Mundial de Saúde. (2018). Global status report on alcohol and health-2018. Geneva: OMS. Serviço de Intervenção nos Comportamento Aditivos e nas Dependências [SICAD] (2019). Relatório anual 2018 - a situação do país em matéria de álcool. Lisboa: SICAD. Witkiewitz, K., Litten R. Z., & Leggio L. (2019). Advances in the science and treatment of alcohol use disorder, Science Advances, 5, 1-11. Doi: 10.1126 / sciadv.aax4043 World Medical Association (2013). World Medical Association Declaration of Helsinki: Ethical principles for medical research involving human sub-jects. Journal of the American Medical Association, 310(20), 2191– 2194. Doi: 10.1001/jama.2013.281053


Artigo de Investigação

5

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0288

CONSUMO DE ÁLCOOL E VULNERABILIDADE EM SAÚDE DAS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE SEM-ABRIGO | Olga Valentim1; Lídia Moutinho2; Lara Pinho3; Cristiana Firmino4; Catarina Tomás5; Ana Querido6 |

RESUMO CONTEXTO: Em Portugal, 45% das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (PSSA) estão a viver na rua, na área metropolitana de Lisboa. Esta população apresenta vulnerabilidades de ordem económica, social e física. No que se refere ao seu estado de saúde, salienta-se o consumo de substâncias, problemas músculo-esqueléticos, respiratórios, cardiovasculares e psiquiátricos. As consequências da Perturbação de Uso de Álcool (PUA) refletem-se a nível socioeconómico e da saúde, pelo que se torna relevante conhecer essa problemática nas PSSA. OBJETIVO: Caracterizar o perfil sociodemográfico, a perceção de saúde e o consumo de álcool entre a população em situação de sem-abrigo na área metropolitana de Lisboa. MÉTODOS: Estudo transversal, descritivo e correlacional. Os instrumentos utilizados foram um questionário com a caracterização sociodemográfica e de saúde construído pelos autores e o CAGE. A recolha de dados foi realizada na cidade de Lisboa em março de 2018. A análise de dados foi realizada com o SPSS 25. RESULTADOS: A amostra é constituída por 199 participantes de ambos os sexos. 49,2% apresenta PUA, 56,8% fuma diariamente tabaco e o consumo de drogas foi referido ao longo da vida por 52,8% dos participantes. Foram encontradas correlações estatisticamente significativas entre o consumo de tabaco, de bebidas alcoólicas e de drogas ilícitas. CONCLUSÕES: A intervenção com PSSA, deve basear-se numa visão holística da pessoa e do meio em que se insere, na Redução de Riscos e Minimização de Danos e/ou interrupção dos consumos de álcool. As necessidades em cuidados de saúde mostram a importância da inclusão do enfermeiro nas equipas multidisciplinares que apoiam esta população.

PALAVRAS-CHAVE: Pessoas em situação de rua; Transtornos relacionados ao uso de álcool; Vulnerabilidade em saúde; Enfermagem psiquiátrica

RESUMEN

ABSTRACT

“El consumo de alcohol y la vulnerabilidad a la salud de las personas sin hogar”

“Alcohol consumption and health vulnerability of homeless people”

CONTEXTO: en Portugal, el 45% de las personas sin hogar (PSSA) viven en la calle en el área metropolitana de Lisboa. Esta población tiene vulnerabilidades económicas, sociales y físicas. En cuanto a su estado de salud, se destacan el uso de sustancias, problemas musculoesqueléticos, respiratorios, cardiovasculares y psiquiátricos. Las consecuencias del trastorno por consumo de alcohol (PUA) se reflejan a nivel socioeconómico y de salud, por lo que es relevante conocer este problema en PSSA. OBJETIVO(S): caracterizar el perfil sociodemográfico, la percepción de salud y el consumo de alcohol entre la población sin hogar en el área metropolitana de Lisboa. METODOLOGÍA: Estudio transversal, descriptivo y correlacional. Los instrumentos utilizados fueron un cuestionario con caracterización sociodemográfica y de salud construido por los autores y CAGE. La recolección de datos se realizó en la ciudad de Lisboa. El análisis de los datos se realizó con SPSS 25. RESULTADOS: La muestra consistió en 199 participantes de ambos sexos. El 49.2% tenía PUA, el 56.8% fumaba tabaco diariamente y el 52.8% de los participantes informó el uso de drogas durante toda la vida. Se encontraron correlaciones estadísticamente significativas entre el consumo de tabaco, el alcohol y las drogas ilícitas. CONCLUSIONES: La intervención con PSSA debe basarse en una visión holística de la persona y el medio ambiente, la reducción de riesgos y la minimización de daños, y / o la interrupción del consumo de alcohol. Las necesidades de atención médica muestran la importancia de incluir enfermeras en equipos multidisciplinarios que apoyan a esta población.

BACKGROUND: In Portugal, 45% of Homeless People (PSSA) are living on the street in the Lisbon metropolitan area. This population has economic, social and physical vulnerabilities. Regarding their health status, substance use, musculoskeletal, respiratory, cardiovascular and psychiatric problems are highlighted. The consequences of Alcohol Use Disorder (PUA) are reflected at the socioeconomic and health level, so it is relevant to know this problem in PSSA. AIM: To characterize the sociodemographic profile, health perception and alcohol consumption among the homeless population in the Lisbon metropolitan area. METHODS: Cross-sectional, descriptive and correlational study. The instruments used were a sociodemographic questionnaire with health characterization built by the authors and the CAGE. Data collection was performed in the city of Lisbon during March 2018. Data analysis was performed with SPSS 25. RESULTS: The sample consisted of 199 participants of both sexes. 49.2% had PUA, 56.8% smoked tobacco on a daily basis, and drug use was reported throughout life by 52.8% of participants. Statistically significant correlations were found between tobacco use, alcohol and illicit drugs consumption. CONCLUSIONS: Intervention with PSSA should be based on a holistic view of the person and the environment, risk reduction and harm minimization, and / or interruption of alcohol consumption. Health care needs highlights the importance of including nurses in multidisciplinary teams to support this population.

DESCRIPTORES: Personas sin hogar; Trastornos relacionados con alcohol; Vulnerabilidad en salud; Enfermería psiquiátrica

KEYWORDS: Homeless persons; Alcohol-related disorders; Health vulnerability; Psychiatric nursing Submetido em 31-12-2019 Aceite em 20-05-2020

1 Doutora em Enfermagem; Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Desabituação do Centro das Taipas, ARSLVT; Investigadora no CINTESIS; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Portugal, ommvalentim3@gmail.com 2 Doutora em Enfermagem; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Professora Adjunta na Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches, lidiamoutinho@live.com.pt 3 Doutora em Psicologia; Investigadora Auxiliar Convidada na Universidade de Évora, Escola Superior de Enfermagem São João de Deus; Investigadora no CINTESIS; Professora Adjunta Convidada no Instituto Politécnico de Portalegre, Escola Superior de Saúde, lmgp@uevora.pt 4 Mestre em Enfermagem e em Gestão em Saúde; Título de Especialista em Enfermagem; Enfermeira especialista em Enfermagem de Reabilitação no Hospital Cuf Infante Santo; Professora Adjunta na Escola Superior de Saúde Atlântica, furtado.cristy@gmail.com 5 Doutora em Enfermagem; Investigadora no ciTechCare (Center for Innovative Care and Health Technology); Investigadora no CINTESIS; Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, catarina.tomas@ipleiria.pt 6 Doutora em Enfermagem; Investigadora no ciTechCare (Center for Innovative Care and Health Technology); Investigadora no CINTESIS; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, ana.querido@ipleiria.pt Citação: Valentim, O., Moutinho, L., Pinho, L., Firmino, C., Tomás, C., & Querido, A. (2021). Consumo de álcool e vulnerabilidade em saúde das pessoas em situação de semabrigo. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 29-36. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 29


INTRODUÇÃO A definição de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (PSSA) está conceptualizada a partir da situação habitacional ou do tipo de local onde estas pessoas pernoitam (Instituto Nacional de Estatística [INE], 2015). O Grupo Implementação, Monitorização e Avaliação da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas Sem-Abrigo (GIMAE), (2019) refere que em Portugal existem 3.396 pessoas ”sem teto” ou “sem casa”, das quais 1.443 pessoas estão a viver na rua, em espaços públicos, abrigos de emergência ou locais precários e 1.953 pessoas não têm casa, isto é, estão a viver em equipamentos onde podem pernoitar por períodos de tempo limitados. Na cidade de Lisboa, existem atualmente 644 PSSA, das quais 350 não têm teto. Esta população apresenta diversas vulnerabilidades no que se refere ao seu estado de saúde (Silva et al., 2018). Além do consumo de substâncias (Smith-Bernardin, Kennel, & Yeh, 2019), os problemas mais frequentes são músculo-esqueléticos (30%), respiratórios (20%), cardiovasculares (16%), psicológicos/psiquiátricos (15,5%) e 9,5% afirmam ter problemas de tipo neurológico (Craveiro, Belo, & Cardoso, 2016; Erickson et al., 2018). As vulnerabilidades identificadas nesta população em Lisboa são semelhantes às encontradas em outras partes do mundo (Nvatanga & Snelling, 2018; Silva et al., 2018; Webb, Mitchell, Nyatanga, & Snelling, 2018). Os processos que levam uma pessoa à situação de sem-abrigo são quase sempre complexos e multifatoriais. A literatura refere dois tipos de causas: as estruturais, como o desemprego, a pobreza, as políticas habitacionais e sociais; e as individuais, onde se situam as doenças físicas e mentais, os consumos de álcool e drogas e as perdas de valores (Ross-Houle, Venturas, Bradbury, & Porcellato, 2017). De acordo com os mesmos autores, a PSSA utiliza habitualmente o consumo de álcool como uma estratégia para lidar com as situações adversas, o que potencia a dependência da substância. O desenvolvimento da resiliência e do estabelecimento de relações interpessoais é importante para interromper o consumo de álcool e a manutenção da abstinência. A interrupção dos consumos é considerada essencial para a adesão a programas de apoio (Opalach et al., 2016) e construção ou reorganização de um novo projeto de vida com a PSSA.

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A população portuguesa apresenta uma das taxas de consumo de álcool per capita mais elevadas da Europa (World Health Organization [WHO], 2018), no entanto não está ainda identificada a percentagem de PUA nas PSSA em Portugal. Lisboa é a cidade portuguesa onde há uma maior percentagem de PSSA. A vulnerabilidade das PSSA tem sido alvo de preocupação para as entidades governamentais em Portugal, pelo que foi constituído um grupo de trabalho com diversos objetivos, dos quais se destacam: assegurar o acesso aos cuidados de saúde e criar condições que garantam a promoção da autonomia através da mobilização e contratualização de recursos disponíveis de acordo com o diagnóstico de necessidades. Torna-se assim fundamental caracterizar as PSSA em termos sociodemográficos e de saúde, com enfoque na problemática do uso de álcool, dando um contributo para o diagnóstico das necessidades destas pessoas, para que se possam identificar possíveis estratégias de intervenção e prevenção eficazes junto das mesmas. Assim, este estudo teve como objetivo caracterizar o perfil sociodemográfico, a perceção de saúde e o consumo de álcool da população em situação de sem-abrigo na área metropolitana de Lisboa. MÉTODOS Desenho do Estudo Estamos perante um estudo transversal, descritivo e correlacional. A amostra foi do tipo não probabilístico, por conveniência, sendo constituída pela populaçãoalvo elegível que se encontrava acessível e aceitou participar no estudo. É composta por 199 participantes em situação de sem-abrigo que se encontravam no momento de aplicação dos questionários no concelho de Lisboa. Instrumentos Foi utilizado um questionário realizado pelos autores que incluiu a caracterização sociodemográfica dos participantes, caraterização da situação de sem-abrigo (razões, que contribuíram para a situação de sem-abrigo, tempo que se encontra da situação de sem-abrigo, procura de trabalho, local onde pernoita, existência de apoios sociais), dados relativos à perceção de saúde (perceção do estado de saúde, toma da terapêutica e existência de limitações funcionais físicas ou psíquicas), consumo de tabaco e de álcool.


Utilizou-se o CAGE (Cut; Annoyed; Gilty; Eyer) para conhecer o padrão de consumo de bebidas alcoólicas. Este teste de avaliação é de fácil aplicação e é especialmente útil para detetar a dependência e o abuso de álcool. É constituído por quatro perguntas, sendo que as três primeiras se referem à experiência de consumo (“Já lhe aconteceu ter que beber logo ao levantar, para aliviar a sensação de mal-estar?”; “Já pensou que deveria reduzir ou deixar de ingerir bebidas alcoólicas?”; “Já alguma vez se sentiu desgostoso e triste com os seus hábitos de consumo de bebidas alcoólicas?”) e a última questão explora aspetos relacionados com a abstinência alcoólica “Já se sentiu desagradado com os comentários que outras pessoas tenham feito acerca dos seus hábitos de consumo de bebidas alcoólicas?”). É atribuído um ponto a cada resposta positiva. Um resultado superior a dois indica provável abuso excessivo de álcool e dependência alcoólica. A sensibilidade deste questionário situa-se entre os 61% e os 100% e a especificidade entre os 77% e os 96% (Direção Geral da Saúde 2001; Gomes, 2004). Outros estudos realizados utilizando o CAGE, tais como o de Choe, Lee, Choi, Suh, Lee e Kim (2019) em que foi identificada uma sensibilidade entre 43% e 94% e a especificidade de 70% a 97% na identificação do PUA, o de Cardoso, Alexandre e Rosa (2010) realizado em território nacional que identificou uma a sensibilidade e especificidade do CAGE da identificação dos problemas de consumo de álcool de 52% e 95% respetivamente e o de Dhalla e Kopec (2007) em que o CAGE demonstrou uma alta confiabilidade teste-reteste (0,80-0,95), e uma adequada correlação (0,48-0,70) foram argumentos que suportaram a seleção do CAGE como instrumento para identificar a PUA. Procedimentos Os princípios éticos foram tidos em consideração ao longo de todo o processo, sendo garantida a confidencialidade dos dados e o anonimato. Foi obtida autorização da Comissão de Ética da Escola Superior de Saúde Atlântica (dia 15 janeiro de 2018) para a realização do estudo e foi obtido o consentimento informado dos participantes após explicação dos objetivos e procedimentos. Os dados foram recolhidos através da aplicação dos questionários por heteroavaliação, presencialmente, em entrevista face-a-face, com a colaboração das equipas de rua e da Câmara Municipal de Lisboa, durante o mês de março de 2018.

Utilizaram-se estatísticas descritivas para caraterização da amostra, e inferenciais para verificar a existência de associação entre o consumo de tabaco, bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. Partindo do Teorema do Limite Centra e considerando a dimensão da amostra, optou-se pela utilização de estatísticas paramétricas, especificamente o teste da significância do r de Pearson, considerando os resultados estatisticamente significativos para um nível de significância de 5% ou 1% (Marôco, 2011). Isto é, para p<0,05 ou p<0,01. A análise de dados foi realizada com o programa SPSS versão 25 para Windows. RESULTADOS A amostra é constituída por 199 participantes, maioritariamente do sexo masculino (88,4%), e de nacionalidade portuguesa (76,4%), com uma média de idades de 50,25 anos (DP=11,14). A maior parte dos participantes frequentou o ensino básico (59,8%), é solteira (60,8%) e sem filhos (57,8%). 43,7% dos participantes apontam diversas razões sem especificar nenhuma em particular para que se encontrem na situação de sem-abrigo, e uma percentagem de 20,1% atribui esta situação ao facto de estar desempregado. A análise do período de emprego superior a seis meses de apenas 17,6% da amostra realça a dificuldade desta população em obter rendimento de forma regular. Em relação à situação habitacional, os dados mostram que 81,4% dos participantes dorme na rua diariamente e 10,6% mais de duas vezes por semana. O tempo em que os participantes vivem na rua oscila entre um mês ou mais de 3 anos. A maior parte vive sem teto há mais de 3 anos (41,2%) (Tabela 1). Os resultados da amostra referentes ao estado de saúde das PSSA mostram que 7,0% considera que o seu estado de saúde é muito bom, 29,1% bom, 45,7% regular. Os restantes referem que o seu estado de saúde é mau (15,6%) ou muito mau (2,5%). 21,6% dos participantes reconhece a existência de limitações funcionais de ordem física ou psíquica. No que se refere à medicação, 43,9% diz tomar habitualmente medicamentos. No que se refere ao consumo de substâncias, concluiu-se que a maioria fuma diariamente tabaco (56,8%), consome bebidas alcoólicas (51,8%) e tem história de consumo de drogas ilícitas ao longo da vida (52,8%) (Tabela 2).

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Tabela 1 - Características sociodemográficas da amostra (N=199) Variáveis

n (%)

Género Feminino

23 (11,6)

Masculino

176 (88,4)

Habilitações Literárias Aliteracia

18 (9,0)

Ensino Básico

119 (59,8)

Ensino Secundário

49 (24,6)

Formação Universitária

6 (3,0)

Outra

7 (3,5)

Estado Civil Solteiro

121 (60,8)

Casado

16 (8,0)

Divorciado

46 (23,1)

Viúvo

16 (8,0)

Nacionalidade Portuguesa

152 (76,4)

Dupla nacionalidade

13 (6,5)

Outra

34 (17,1)

Filhos Sim

84 (42,2)

Não

115 (57,8)

Emprego com duração superior 6 meses Sim

35 (17,6)

Não

164 (82,4)

Motivo da situação de Sem-abrigo Diversas razões não especificadas

87 (43,7)

Carência económica (desemprego)

40 (20,1)

Rotura familiar

29 (14,6)

Despejo da habitação

28 (14,1)

Não sabe / não responde

15 (7,5)

Duração da situação de Sem-abrigo < 1 mês

6 (3,0)

1 a 6 meses

41 (20,6)

6 a 12 meses

29 (14,6)

1 a 3 anos

40 (20,1)

>3 anos

82 (41,2)

Não sabe / não responde

1 (0,5)

Situação habitacional (pernoitar na rua) Todas as noites Mais de duas vezes por semana

162 (83,9) 21(10,9)

1 a 2 vezes por semana

3 (1,6)

De vez em quando

7 (3,5)

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O consumo de álcool foi alvo de uma análise mais detalhada, de que se realça a quantidade de álcool ingerido, que oscila entre um a 30 copos. As bebidas alcoólicas de baixa graduação são ingeridas na maior parte dos casos diariamente e 54,8% dos participantes não responderam a esta questão. As bebidas alcoólicas de alta graduação são ingeridas diariamente na quantidade de um copo por 48,4% dos participantes. Uma percentagem de 3,2% refere ingerir mais de 20 copos por dia, no entanto a maior parte dos participantes (84,4%) não respondeu à questão. Sobre as consequências do consumo, os resultados mostram que a maior parte dos participantes já se sentiu criticado pelos consumos (32,7%), culpado (37,7%) e com necessidade de ingerir bebidas alcoólicas pela manhã (33,2%). 49,2% dos participantes não responderam. Tabela 2 - Dados relativos à saúde e consumo de substâncias Variáveis

N (%)

Perceção do estado de saúde Muito Bom

14 (7,0)

Bom

58 (29,1)

Regular

91 (45,7)

Mau

31 (15,6)

Muito mau

5 (2,5)

Tem reconhecida alguma limitação funcional ou psiquica Sim

43 (21,6)

Não

155 (77,9)

Medicação Sim

86 (43,2)

Não

110 (55,3)

Não sabe / não responde

3 (1,5)

Consumo de Tabaco Diariamente

113 (56,8)

Sim, mas não diariamente

20 (10,1)

Não

66 (33,2)

Consumo bebidas alcoolicas Sim

103 (51,8)

Não

96 (48,2)

CAGE PUA

98 (49,2)

Sem PUA

101 (50,8)

Consumo de drogas ilícitas Sim

105 (52,8)

Não

92 (46,2)

Não sabe / não responde

2 (1,0)


Foram encontradas correlações positivas estatisticamente significativas entre o consumo de tabaco e bebidas alcoólicas (r=0,17; p=0,013) e correlações negativas entre o consumo de tabaco e drogas ilícitas (r=-0,26; p=0,0001). Ou seja, o consumo de tabaco está associado a um maior consumo de bebidas alcoólicas, e inversamente relacionado ao consumo de drogas ilícitas. Ao analisar o resultado do CAGE, concluímos que 49,2% apresentam PUA, isto é, CAGE ≥ 2. Não obstante a constatação de PUA, os resultados apontam para uma perceção maioritariamente positiva sobre a sua situação de saúde (81,8%), entre regular (45,7%) e muito boa (7,0%). DISCUSSÃO A percentagem de PSSA do sexo masculino, a baixa escolaridade e o facto de terem apresentado atividades laborais por períodos inferiores a seis meses são dados comuns a outros estudos (INE, 2015; Opalach et al, 2016). Um estudo realizado por Ross-Houle e colaboradores (2017) indica que parece existir relação entre a baixa escolaridade, a dificuldade em manter um emprego e a situação de sem-abrigo. Os resultados do presente estudo mostram ainda a existência de necessidades das PSSA na saúde, situação económica e habitacional e também alertam para a reduzida rede de apoio e de relações afetivas desta população. Tendo em conta a escolaridade e os curtos períodos laborais da nossa amostra e as afirmações apresentadas pelo estudo referido, consideramos que estes poderão ser fatores potenciadores da situação de sem-abrigo. No que respeita à perceção do estado de saúde, um estudo recente com uma amostra de 2437 PSSA realizado em Espanha (83,8% género masculino), demonstra que a maioria refere um estado de saúde regular (43,8%), sendo que 39,7% menciona que o estado de saúde é pobre (Fajardo-Bullón, Esnaola, Anderson, & Benjaminsen, 2019), dados idênticos ao presente estudo. Estes dados indicam-nos que as PSSA têm noção de que a sua saúde tem fragilidades, podendo não reconhecer a PUA como um problema de saúde, remetendo ainda mais para a importância da vigilância de saúde desta população. Relativamente ao uso de substâncias, este é um dado preocupante, dada a elevada taxa de consumos nas PSSA. No estudo de Fajardo-Bullón e colaboradores (2019), 45,5% das PSSA consumiam álcool (42,6% consumo moderado e 2,9% consumo elevado).

Na presente investigação, o consumo de álcool nas PSSA foi mais elevado (51,8%) com 49,2% com PUA. Já nos Estados Unidos, uma em cada cinco PSSA tinham abuso de substâncias e/ou outro problema de saúde mental no ano de 2016 (United States Department of Housing and Urban Development, 2016). Na nossa amostra de PSSA, 49,2% sofrem de PUA, desconhecendo-se a prevalência de outros problemas de saúde mental. No que respeita ao consumo de drogas ilícitas, o estudo de Fajardo-Bullón e colaboradores (2019) demonstra que 44,4% das PSSA consome ou já consumiu drogas, sendo esta prevalência mais elevada no presente estudo (52,8%). A associação entre o tabagismo e consumo abusivo e/ ou dependência alcoólica é referida por vários autores (Ferreira, Bispo Junior, Sales, Casotti, & Braga Junior, 2013) o que não acontece relativamente às drogas ilícitas, que no presente estudo se encontra correlacionado negativamente. O consumo e abuso de álcool ou drogas ilícitas é mais elevado em Portugal nas PSSA nos estudos analisados, sendo um dado preocupante tendo em conta todas as consequências para a saúde que daí advêm, aliadas à ausência de habitação. O facto de a situação de semabrigo resultar de acontecimentos de vida adversos como desemprego ou ruturas afetivas remete para a utilização das bebidas alcoólicas como estratégia para lidar com situações adversas. A percentagem de PSSA que não sabe especificar o(s) motivo(s) que os levaram à situação de sem-abrigo (43,7%) alerta para a dificuldade desta população na identificação das situações problema e consequentemente em estratégias que permitam a sua resolução. Como referem RossHoule e colaboradores (2017) a utilização de bebidas alcoólicas para lidar com estados emocionais negativos potencia a evolução dos consumos para situação de dependência. Por outro lado, o contrário também se pode verificar, ou seja, poderá ter sido o consumo abusivo de álcool que levou à rutura familiar ou aos acontecimentos de vida adversos, como o desemprego, tendo em conta as elevadas taxas de alcoolismo na população geral em Portugal e a acessibilidade à substância. Assim, é importante perceber se é o consumo de álcool que leva à situação de sem-abrigo ou se é o contrário, para que possam ser implementadas estratégias atempadamente. Importa ainda perceber a presença de outras perturbações mentais nesta população e implementar estratégias para a habitação e cuidados de saúde. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 33


CONCLUSÃO Os resultados alertam para a existência de necessidades em saúde pelas PSSA. A percentagem de consumidores de substâncias (tabaco e drogas ilícitas) e de álcool em particular, remete para o risco de aumentarem as consequências no estado de saúde e o comprometimento da integração e sucesso de programas de apoio a esta população. Os resultados confirmam a necessidade de equipas multidisciplinares na abordagem às PSSA, onde os enfermeiros especialistas em saúde mental e psiquiatria (EESMP) têm um papel essencial. Ficou demonstrada a existência de necessidades das PSSA na área da saúde no que respeita à falta de insight sobre a PUA. A diferença percentual entre as PSSA que reconhecem a existência de limitações funcionais de ordem física e psíquica e os que tomam habitualmente terapêutica denotam a iliteracia em saúde desta população, sendo por isso importante a existência do profissional de saúde perito em estratégias comunicacionais e de relação terapêutica para ajudar cada um no reconhecimento das situações de doença e procura de tratamento. O treino desta população em competências socias e relacionais que lhes permitam lidar com as vulnerabilidades existentes em diversas áreas de vida, e a identificação das situações de consumo de substâncias, para intervenção ou encaminhamento alertam para a importância do ESSMP nas equipas de apoio á PSSA principalmente ao nível dos comportamentos aditivos. Além disso, torna-se essencial atuar ao nível da promoção e proteção da saúde mental, bem como da prevenção da doença mental nesta população. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Tendo em conta os resultados deste estudo, que demonstram o elevado consumo de substâncias nas PSSA, podemos inferir que a intervenção junto desta população requer uma avaliação pormenorizada do consumo de substâncias e em especial do consumo de álcool e da inventariação de problemas de saúde existentes, além da situação socioeconómica. A triagem do consumo de álcool, o encaminhamento adequado, a Redução de Riscos e Minimização de Danos, mostram ser intervenções de primeira linha a considerar junto das PSSA. A dificuldade demonstrada na identificação dos problemas, e consequentemente nas estratégias que conduzam à sua resolução mostram que o EESMP é um elemento fulcral nas equipas de apoio a PSSA. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 34

Na sua prática clínica, o mobilizar de um conjunto de saberes e conhecimentos científicos, técnicos e humanos e os elevados níveis de julgamento clínico e tomada de decisão, traduzidos num conjunto de competências clínicas especializadas, permitem ao EESMP facilitar a integração da PSSA no seu processo terapêutico e a vivência de experiências gratificantes nas relações interpessoais e intrapessoais. Tendo em conta as competências do EESMP (Ordem dos Enfermeiros, 2018), que inclui a coordenação, implementação e desenvolvimento de projetos que promovam e protejam a saúde mental, torna-se urgente e essencial o seu envolvimento ativo na construção de programas específicos para este grupo da comunidade, no sentido de prevenir consequências como por exemplo o abuso de bebidas alcoólicas. Esta intervenção deverá ser dirigida a todos os grupos de risco podendo passar pela intervenção ao nível das Unidades de Cuidados na Comunidade e pelas Equipas Comunitárias de Saúde Mental, reguladas pelo Despacho n.º 2753/2020 (Ministério da Saúde, 2020). Importa ainda refletir sobre o processo de desinstitucionalização psiquiátrica e sobre a possível necessidade de intervenção focada nos cuidados continuados em saúde mental para as PSSA, dada a elevada taxa de comportamentos aditivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cardoso, G., Alexandre, J., & Rosa, A. (2010). Depression, anxiety and alcohol abuse in a gastroenterology intensive care unit: prevalence and detection. Clinical practice and epidemiology in mental health: CP & EMH, 6, 47–52. Doi: 10.2174/1745017901006010047 Choe, Y. M., Lee, B. C., Choi, I. G., Suh, G. H., Lee, D. Y., & Kim, J. W. (2019). Combination of the CAGE and serum gamma-glutamyl transferase: an effective screening tool for alcohol use disorder and alcohol dependence. Neuropsychiatric disease and treatment, 15, 1507–1515. Doi: 10.2147/NDT.S203855 Craveiro, M., Belo, F., & Cardoso, M. (2016). II Diagnóstico Social De Lisboa – 2015-2016, SINOPSE. Lisboa: Rede Social. Dhalla, S., & Kopec, J. A. (2007). The CAGE questionnaire for alcohol misuse: a review of reliability and validity studies. Clinical and investigative medicine. Medecine clinique et experimentale, 30(1), 33-41. Doi: 10.25011/cim.v30i1.447


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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 35


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Artigo de Investigação

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0289

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AVALIAÇÃO DA COGNIÇÃO DE UM GRUPO DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS DE UMA REGIÃO DO NORTE DE PORTUGAL | Lia Sousa1; Nuno Araújo2; Clara Simões3;Filipe Fernandes4; Isabel Araújo5 |

RESUMO CONTEXTO: Envelhecer compreende um conjunto de alterações, nomeadamente cognitivas; existindo uma linha muito ténue entre as mudanças esperadas para esta etapa da vida e as alterações de cariz patológico. Cerca de 80% das pessoas com défice cognitivo desenvolvem demência, pelo que, é fundamental intervir para retardar o aparecimento desta síndrome. O primeiro passo para a intervenção é a avaliação do perfil cognitivo destas pessoas. OBJETIVOS: Identificar o perfil cognitivo de um grupo de idosos de uma região do Norte de Portugal; e identificar a relação entre as variáveis sociodemográficas e o perfil cognitivo de um grupo de idosos de uma região do Norte de Portugal. MÉTODOS: Estudo quantitativo, transversal, descritivo-correlacional de corte. A amostra foram idosos institucionalizados (n = 37) com capacidade para responder a um questionário composto por questões sociodemográficas e pelo Montreal Cognitive Assessment (MoCA), versão portuguesa. A colheita de dados decorreu entre Novembro de 2017 e Fevereiro de 2018, sendo cumpridos todos os pressupostos éticos da investigação com humanos. RESULTADOS: Os participantes eram maioritariamente mulheres (67,6%), com média de idade de 82 anos, viúvas e com mais de 4 anos de escolaridade. A pontuação obtida no MoCA variou entre 6 e 24 pontos, verificando-se correlação entre o score global e as variáveis sexo e idade. Todos os participantes apresentaram défices maioritariamente na linguagem e na abstração. CONCLUSÕES: Evidenciou-se uma maior prevalência de défices cognitivos na população mais velha, sendo clara a importância de avaliar e intervir na cognição destas pessoas, objetivando a manutenção/regressão dos défices e prevenindo a evolução para quadros demenciais. Pela proximidade a esta população, os enfermeiros, nomeadamente os especialistas em saúde mental e psiquiatria, são agentes privilegiados para a intervenção nesta área, através da implementação de programas de estimulação geral da cognição.

PALAVRAS-CHAVE: Cognição; Idoso; Envelhecimento cognitivo

RESUMEN

ABSTRACT

“Evaluación cognitiva de un grupo de ancianos institucionalizados de una región del norte de Portugal”

“Cognition assessment of a group of institutionalized aged from a northern region of Portugal”

CONTEXTO: El envejecimiento comprende un conjunto de cambios, a saber, cognitivos; Hay una línea muy delgada entre los cambios esperados en esta fase de la vida y los cambios patológicos. Alrededor del 80% de las personas con deterioro cognitivo desarrollan demencia, por lo que es esencial intervenir para retrasar la aparición de este síndrome. El primer paso para la intervención es la evaluación del perfil cognitivo de estas personas. OBJETIVO(S): Identificar las características cognitivas de un grupo de ancianos de una región del norte de Portugal; e identificar la relación entre las variables sociodemográficas y las características cognitivas de un grupo de ancianos de una región del norte de Portugal. METODOLOGÍA: Estudio cuantitativo, transversal y descriptivo-correlacional de corte. La muestra consistió en ancianos institucionalizados (n = 37), capaces de responder un cuestionario compuesto por preguntas sociodemográficas y la Evaluación Cognitiva de Montreal (MoCA), versión portuguesa. La recopilación de datos tuvo lugar entre noviembre de 2017 y febrero de 2018, y se cumplieron todos los supuestos éticos para la investigación en humanos. RESULTADOS: Los participantes eran en su mayoría mujeres (67,6%), con una edad promedio de 82 años, viudas y con más de 4 años de estudio. El puntaje MoCA varió de 6 a 24 puntos, con una correlación entre el puntaje general y las variables de género y edad. Todos los participantes presentaron déficits principalmente en lenguaje y abstracción. CONCLUSIONES: Los resultados confirman la mayor prevalencia de déficits cognitivos en la población de edad avanzada, dejando en claro la importancia de evaluar e intervenir en la cognición de estas personas, apuntando al mantenimiento / regresión de los déficits y evitando la evolución a la demencia. Debido a la proximidad a esta población, las enfermeras, es decir, especialistas en salud mental y psiquiatría, son agentes privilegiados para la intervención en esta área, a través de la implementación de programas generales de estimulación cognitiva.

BACKGROUND: Aging comprises a set of changes, namely cognitive. There is a very thin line between the expected changes for this stage of life and the pathological changes. About 80% of people with cognitive impairment develop dementia, so it is essential to intervene to delay the onset of this syndrome. The first step for the intervention is the assessment of the cognitive profile of these people. AIM: To identify the cognitive features of a group of aged from a region of northern Portugal; and to identify the relationship between sociodemographic variables and cognitive features of a group of elderly people from a northern region of Portugal. METHODS: Quantitative, cross-sectional and descriptive-correlational study. The sample consisted of institutionalized aged (n = 37) capable of answering a questionnaire composed of sociodemographic questions and the Montreal Cognitive Assessment (MoCA), Portuguese version. Data collection took place between November 2017 and February 2018, and all ethical assumptions for human research were met. RESULTS: The participants were mostly women (67.6%), with an average age of 82 years, widows and with more than 4 years of schooling. The MoCA score ranged from 6 to 24 points, with a correlation between the overall score and the gender and age variables. All participants presented deficits mostly in language and abstraction. CONCLUSIONS: The results confirm the higher prevalence of cognitive deficits in the older population, being clear the importance of evaluating and intervening in the cognition of these people, aiming at the maintenance / regression of the deficits and preventing the evolution to dementia. Due to the proximity to this population, nurses, namely specialists in mental health and psychiatry, are privileged agents for intervention in this area, through the implementation of general cognition stimulation programs.

DESCRIPTORES: Cognición; Anciano; Envejecimiento cognitivo

KEYWORDS: Cognition; Aged; Cognitive aging Submetido em 31-12-2019 Aceite em 17-04-2020

1 Doutora; Docente na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, Instituto Politécnico de Saúde do Norte, lia.sousa@ipsn.cespu.pt 2 Doutor; Docente na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, Instituto Politécnico de Saúde do Norte, nuno.araujo@ipsn.cespu.pt 3 Doutora; Docente na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, Instituto Politécnico de Saúde do Norte, clara.simões@ipsn.cespu.pt 4 Enfermeiro; Docente na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, Instituto Politécnico de Saúde do Norte, joaquim.fernandes@ipsn.cespu.pt 5 Doutora; Docente na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, Instituto Politécnico de Saúde do Norte, isabel.araujo@ipsn.cespu.pt Citação: Sousa, L., Araújo, N., Simões, C., Fernandes, F., & Araújo, I. (2021). Avaliação da cognição de um grupo de idosos institucionalizados de uma região do norte de Portugal. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 37-42. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 37


INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fenómeno mundial e as suas repercussões representam um enorme desafio para a Sociedade. Em Portugal, a taxa de envelhecimento situa-se nos 157%, acima da média europeia (PORDATA, 2018). Esta tendência demográfica implica um aumento da incidência das patologias associadas ao envelhecimento. Envelhecer compreende um conjunto de alterações, nomeadamente cognitivas; existindo uma linha muito ténue entre as mudanças esperadas para esta etapa da vida e as alterações de cariz patológico, como por exemplo, a perturbação neurocognitiva ligeira. Esta condição implica a evidência de um declínio cognitivo modesto em relação a um nível prévio, objetivado pela própria pessoa e por um informador, sendo que os défices não interferem nas atividades básicas e instrumentais de vida diária (American Psychiatric Association, 2013). A evidência demonstra que 80% das pessoas com perturbação neurocognitiva ligeira desenvolvem perturbação neurocognitiva major (demência). Esta síndrome caracteriza-se por défices cognitivos múltiplos, graduais e contínuos, que levam a limitações sociais e ocupacionais significativas (American Psychiatric Association, 2013), sendo fundamental intervir para retardar o seu aparecimento, promovendo a autonomia e contribuindo para um envelhecimento ativo (Langa & Levine, 2014). O Relatório “Health at a Glance 2017” apresentou novos dados sobre a prevalência da demência nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), colocando Portugal como o 4º país com mais casos por cada mil habitantes. A média dos países da OCDE é de 14.8 casos por cada mil habitantes, sendo que para Portugal a estimativa é de 19.9. De acordo com o relatório, estima-se que em Portugal existam 205 mil pessoas com demência, número que subirá para os 322 mil até 2037 (OCDE, 2017). A perturbação neurocognitiva major é uma doença crónica, pelo que os números apresentados demonstram a importância da intervenção ao nível da prevenção dos fatores de risco e da promoção dos fatores protetores. No que diz respeito aos fatores de risco, o principal é um fator não modificável, a idade. Sabe-se que a taxa de incidência e prevalência desta síndrome aumenta com a idade, sendo de 20% nas pessoas com idades entre os 85 e os 89 (Langa & Levine, 2014). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 38

No que concerne aos fatores protetores, a evidência demonstra que alguns comportamentos são protetores relativamente ao desenvolvimento de perturbação neurocognitiva major, tais como: a prática de exercício físico regularmente, a prática de uma alimentação saudável, o desenvolvimento de atividades de estimulação cognitiva, entre outros (Nascimento, Batista, Rocha & Vasconcelos, 2015). De entre as atividades protetoras do desenvolvimento de perturbação neurocognitiva major, a estimulação da cognição assume especial destaque. A manutenção da saúde cognitiva tem uma importância fundamental na prevenção do compromisso cognitivo e no atraso da instalação do quadro demencial (Lousa, 2016). Os benefícios da estimulação da cognição estão demonstrados quer para a população idosa saudável, quer para idosos com quadros de perturbação neurocognitiva ligeira, ou de perturbação neurocognitiva major em estadio inicial (Apóstolo, Cardoso, Marta & Amaral, 2011). Esta intervenção psicoterapêutica pode ser instituída nas diferentes fases da doença, desde que adaptada aos défices cognitivos identificados. Deste modo, a identificação do perfil cognitivo da população idosa em diferentes contextos, como o domicílio ou as instituições residenciais, é um passo fundamental para definir estratégias de estimulação cognitiva eficazes e eficientes, que deem resposta às reais necessidades cognitivas deste grupo etário, para que atuem na promoção da saúde cognitiva e na prevenção das síndromes demenciais. Os objetivos deste estudo foram: 1) Identificar o perfil cognitivo de um grupo de idosos institucionalizados de uma região do norte de Portugal. 2) Identificar a relação entre as variáveis sociodemográficas e o perfil cognitivo de um grupo de idosos institucionalizados de uma região do norte de Portugal. MÉTODOS O estudo apresentado é um corte de um estudo quantitativo, transversal e descritivo-correlacional, que procurou avaliar o perfil cognitivo e o bem-estar de um grupo de idosos institucionalizados, de uma região do norte de Portugal, e a sua relação com um conjunto de variáveis sociodemográficas e clínicas. Neste artigo apresentamos apenas os dados relativos ao perfil cognitivo e à sua relação com as variáveis sócio-demográficas.


A amostra de conveniência foi constituída por um grupo de idosos institucionalizados (n = 37) com capacidade para responder ao questionário de colheita de dados. O questionário foi composto por questões sociodemográficas (idade, sexo, escolaridade e estado civil) e pelo Montreal Cognitive Assessment (MoCA), versão portuguesa (Simões et al., 2008). Este consiste num instrumento breve de rastreio para o défice cognitivo que avalia as seguintes funções cognitivas: atenção e concentração, funções executivas, memória, linguagem, capacidades visuo-construtivas, capacidade de abstração, cálculo e orientação. A pontuação total é de 30 pontos, sendo uma pontuação de 26 ou mais considerada normal. A colheita de dados decorreu entre Novembro de 2017 e Fevereiro de 2018, numa instituição residencial para idosos, de uma região do norte de Portugal. Durante este processo foram atendidos os pressupostos éticos da investigação com humanos, procedendo-se a um pedido de autorização para a realização do estudo à Direção da instituição (N / Refª: ESSVA / ENF-VA013/2017) e a um consentimento informado tácito para os participantes. Para o tratamento estatístico dos dados recorreu-se ao Statistical Package for the Social Sciences 21, utilizando-se estatística descritiva (medidas de tendência central e coeficiente de correlação de Pearson). RESULTADOS No que concerne aos dados sociodemográficos, a amostra era constituída maioritariamente por mulheres, com média de idade de 82 anos, viúvas e com mais de 4 anos de escolaridade (Tabela 1). Tabela 1 - Caracterização sociodemográfica dos participantes Variável

n= 37

Idade

Média =82,22 (DP ±1,5) anos Amplitude: 65-97 anos

Sexo

Feminino: 25 (67,6%) Masculino: 12 (32,4%)

Escolaridade

Sem escolaridade: 9 (24,3%) 4 a 12 anos de escolaridade: 23 (62,1%) Mais de 12 anos de escolaridade: 5 (13,5%)

Estado civil

Solteiro/a: 5 (13,5%) Casado/a: 9 (24,3%) Divorciado/a: 2 (5,4%) Viúvo/a: 21 (56,8%)

Quanto aos resultados cognitivos, verificou-se que a média de pontuação no MoCA foi de 14,35 pontos, num máximo possível de 30 pontos. Os valores do teste variaram entre 5 e 24 pontos. Além da análise descritiva das cotações, fez-se uma conversão dessas somas num valor percentual de 0 a 100%, de forma a melhor avaliar o desempenho cognitivo dos idosos em cada função cognitiva avaliada. Assim, verificou-se que as funções cognitivas onde os idosos apresentaram melhor desempenho foram a evocação e a orientação. E as funções cognitivas onde apresentaram um desempenho mais baixo foram a linguagem e a abstração. Na Tabela 2 encontram-se de forma mais detalhadas os resultados encontrados. Tabela 1 - Resultados obtidos pelos participantes no MoCA n=37 Variáveis

Média Desvio % de desempontuação Padrão penho correto

Função visuo-espacial executiva (5 pontos)

1,89

1,02

37,84

Nomeação (3 pontos)

1,38

1,09

45,95

Atenção (6 pontos)

Sequências números (2 pontos)

0,70

0,66

35,16

Série de letras (1 ponto)

0,62

0,49

62,16

Subtração (3 pontos)

1,08

1,09

36,03

Repetição de frases (2 pontos)

1,03

0,89

51,35

Fluência verbal (1 ponto)

0,05

0,23

5,41

Abstração (2 pontos)

0,19

0,52

9,46

Evocação diferida (5 pontos)

3,11

1,63

62,16

Orientação (6 pontos)

4,24

1,61

70,72

Linguagem (3 pontos)

Pontuação Total (30 pontos)

Amplitude: 5/24 Média = 14,35 (SD 5,00)

Correlacionando os dados sociodemográficos com os scores obtidos no MoCA, verificou-se que as variáveis sexo e idade se correlacionam com o score total. Sendo que ser mulher parece estar relacionado com a obtenção de scores mais baixos e o aumento da idade influência de forma negativa o score total do MoCA, como se pode ler na Tabela 3.

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 39


Tabela 3 - Correlação entre a pontuação total do MoCA e as variáveis socioeconómicas Variáveis Sociodemográficas

n=37 p value

Correlação de Pearson

0,007

- 0,436

0,002

0,488

Escolaridade

0,121

0,259

Estado Civil

0,082

-0,290

Idade Sexo

Média Score MOCA: Feminino - 12,64±4,5 Masculino - 17,75±4,3

p value =< 0,05

DISCUSSÃO Para uma melhor explanação dos resultados procedeu-se à divisão da discussão de acordo com os objetivos do estudo. Os resultados encontrados resultam da participação de 37 idosos institucionalizados, amostra de conveniência composta maioritariamente por mulheres, com uma média de idade de 82 anos, viúvas e com mais de 4 anos de escolaridade. Este perfil de pessoas idosas é comum nos estudos de investigação em Portugal, como referem Nascimento, Batista, Rocha & Vasconcelos (2015), tal pode justificar-se pelas características sociodemográficas da população portuguesa, onde as mulheres apresentam uma longevidade superior à dos homens, existindo, por isso, mais mulheres idosas do que homens em Portugal (PORDATA, 2018). A idade média dos participantes coloca-os numa zona próxima de prevalência de síndromes demenciais na ordem dos 20% (Langa & Levine, 2014), o que pode justificar alguns resultados cognitivos obtidos, particularmente na fluência verbal e na abstração. A maioria dos participantes tem uma escolaridade entre 4 a 12 anos, o que é um valor ligeiramente superior aos encontrados noutros estudos, como o de Machado, Ribeiro, Cotta & Leal (2011) e Zimmermmann, Leal, Zimmermmann & Marques (2015), em que a maioria dos participantes não tinham instrução ou tinham uma escolaridade muito baixa. Um maior nível de escolaridade pode ser um fator protetor e de reserva cognitiva para estes idosos. Perfil cognitivo dos idosos O desempenho cognitivo dos idosos avaliados evidencia alterações cognitivas importantes, considerando os pontos de corte estipulados no teste MoCA para demência (17 pontos) e défice cognitivo (22 pontos) (Freitas et al., 2014). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 40

Estes resultados coadunam-se com os de outros estudos na área, em que a maioria dos participantes apresentam comprometimento cognitivo marcado (Machado, Ribeiro, Cotta & Leal, 2011 e Zimmermmann, Leal, Zimmermmann & Marques, 2015). Estes resultados demonstram a verosimilhança que os idosos apresentam para a incidência de défices cognitivos ou síndromes demenciais, corroborando a importância de uma avaliação cognitiva precoce e de uma intervenção direcionada, não só em settings institucionais, mas também em contexto comunitário, sendo este um campo de ação crucial para a Enfermagem, nomeadamente, para os Enfermeiros de Saúde Mental e Psiquiátrica. Relativamente ao desempenho dos idosos nas funções cognitivas avaliadas verificou-se um desempenho cognitivo positivo (superior a 50%) na atenção – série de letras, na linguagem – repetição de frases, na evocação deferida e na orientação. Este desempenho é invulgar face aos resultados encontrados noutros estudos, visto que, numa população envelhecida e institucionalizada, a evocação e a orientação são, normalmente, as principais funções cognitivas afetadas (Fernandes, 2014). Nas restantes funções cognitivas avaliadas, os idosos obtiveram um desempenho cognitivo negativo (inferior a 50%), destacando-se particularmente a linguagem – fluência verbal e a abstração, este desempenho pode ser justificado pelo facto da deterioração destas funções ser típica em quadros demenciais e de declínio cognitivo (Pinto, 2016). Os resultados demonstram que os idosos apresentam critérios de avaliação compatíveis com o diagnóstico de enfermagem - cognição comprometida (Conselho Internacional de Enfermeiros, 2016), o que suporta a importância de intervenções de estimulação da cognição na prestação de cuidados gerais de Enfermagem e a implementação de programas de estimulação cognitiva individuais ou em grupo, para uma abordagem mais direcionada. Correlação entre as variáveis sociodemográficas e o perfil cognitivo dos idosos Na correlação entre as variáveis sociodemográficas e o valor total do MoCA verificou-se que a escolaridade e o estado civil não influenciam o desempenho cognitivo dos idosos que participaram no estudo, resultado que se coaduna com os do estudo de Pinto (2016), que não observou influência da escolaridade no desempenho cognitivo da sua amostra e contrariam os


resultados obtidos por Nascimento, Batista, Rocha & Vasconcelos (2015), que verificaram influência tanto da escolaridade como do estado civil na performance cognitiva dos participantes. A ação da escolaridade no desempenho cognitivo tem sido discutida por vários autores, não existindo ainda um consenso alargado sobre a sua influência; no entanto, vários testes de avaliação cognitiva utilizam a escolaridade para os pontos de corte dos seus scores. Relativamente á variável sexo objetivou-se que existe relação entre o sexo e o desempenho cognitivo, sendo que as mulheres obtiveram um desempenho cognitivo inferior aos homens. No seu estudo Nascimento, Batista, Rocha & Vasconcelos (2015) obtiveram um resultado similar, ao passo que Pinto (2016) constatou no seu estudo que o sexo não se revelou significativo para os resultados do MoCA. No que concerne à variável idade, verificou-se que esta tem impacto no desempenho no MoCA, sendo que quanto maior a idade pior o desempenho cognitivo. Este resultado é compartilhado por alguns estudos na área, tais como Machado, Ribeiro, Cotta & Leal (2011) e Nascimento, Batista, Rocha & Vasconcelos (2015), no entanto, também existem investigadores que não encontraram um impacto significativo da idade no desempenho do MoCA (Pinto, 2016). Pese embora, a influência da idade no desempenho cognitivo seja quase um dado adquirido no meio científico, verifica-se que, na correlação entre as variáveis sociodemográficas e os resultados do MoCA parece existir alguma heterogeneidade nos resultados encontrados em diferentes estudos na área. Conclusões Este estudo permitiu identificar o perfil cognitivo de um grupo de idosos institucionalizados de uma região do norte de Portugal, percebendo-se que apresentam alterações importantes em diferentes funções cognitivas, destacando-se a linguagem e a abstração. Verificou-se também que as mulheres apresentaram piores resultados e que quanto maior a idade pior o desempenho cognitivo. Não obstante o reduzido número da amostra, a identificação do perfil cognitivo destes idosos acarreta mais-valias para a instituição onde o estudo foi desenvolvido, visto possibilitar um maior conhecimento das necessidades dos utentes e a implementação de estratégias de estimulação cognitiva que visem a manutenção/regressão dos défices identificados e a prevenção da evolução de quadros demenciais.

Os resultados demonstram ainda a importância da avaliação cognitiva precoce das pessoas mais velhas, em diferentes contextos, de forma a implementar estratégias promotoras da cognição e preventivas de défices cognitivos. Neste âmbito, pela proximidade dos cuidados prestados, os enfermeiros, nomeadamente os de saúde mental e psiquiátrica, possuem competências diferenciadas para avaliar e intervir nesta população. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA A avaliação do perfil cognitivo dos idosos é uma necessidade evidente face ao panorama sociodemográfico mundial e português. A identificação atempada dos défices cognitivos permite uma intervenção ajustada e preventiva. Este estudo demonstra que a avaliação do perfil cognitivo pode ser feita de forma rápida e económica, através de um questionário de avaliação simples e eficaz, sendo uma mais-valia para as instituições de saúde que prestam cuidados aos idosos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Psychiatric Association (2013). DSM V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi Editores. Apóstolo, J., Cardoso, D., Marta, L. & Amaral, T. (2011). Efeito da estimulação cognitiva em idosos. Revista de Enfermagem Referência, 3(5), 193-201. Doi: 10.12707/ RIII11104 Conselho Internacional de Enfermeiros. (2016). Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem. Versão 2015. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros. Fernandes, S. (2014). Estimulação cognitiva em idosos institucionalizados. (Dissertação de Mestrado). Instituto Politécnico de Bragança, Portugal. Disponível em: https://bibliotecadigital.ipb.pt/ bitstream/10198/11546/1/Sara%20Isabel%20Diegues%20Fernandes.pdf Freitas, S., Prieto, G., Simões, M.R., Santana, I. (2014). Psychometric Properties of the Montreal Conitive Assessment (MoCA): An analysis using the Rasch Model. The Clinical Neuropsychologist, 25 (1), 65-83. Doi: 10.1080/13854046.2013.870231

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Pinto, V. (2016). Caracterização do perfil cognitivo de idosos portugueses analfabetos e institucionalizados – o contributo do Montreal Cognitive Assessment (MoCA). (Dissertação de Mestrado). Universidade Lusófona de Humanidade e Tecnologias, Portugal. PORDATA. (2018). Índice de Envelhecimento. Disponível em: https://www.pordata.pt/Europa/%C3%8 Dndice+de+envelhecimento-1609 Simões, M., Freitas, S., Santana, I., et al. (2008). Montreal Cognitive Assessment (MoCA): Versão portuguesa. Coimbra: Serviço de Avaliação Psicológica da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Disponível em: https:// www.MoCAtest.org/ Zimmermmann, I., Leal, M., Zimmermmann, R. & Marques, A. (2015). Idosos institucionalizados: comprometimento cognitivo e fatores associados. Geriatric Gerontology Aging, 9(3), 86-92- Disponível em: https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/publisher.gn1. com.br/ggaging.com/pdf/v9n3a03.pdf


Artigo de Investigação

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0290

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LITERACIA EM SAÚDE EM PESSOAS COM ALTERAÇÕES DA SAÚDE MENTAL | Ana Gonçalves1; Adriana Ferreira2; Ana Gomes3; Rute Gomes4; Bruno Santos5; Nuno Araújo6 |

RESUMO CONTEXTO: A saúde mental está diretamente relacionada com a literacia em saúde, uma vez que, a primeira é influenciada pela segunda, podendo melhorar ou não a qualidade de vida do indivíduo dependendo da saúde mental de cada um. A literacia em saúde ou alfabetização em saúde pressupõe uma interação entre os profissionais de saúde e os indivíduos. OBJETIVO: Conhecer o nível de literacia em saúde nas pessoas com alterações de saúde mental assistidos na casa de saúde do Bom Jesus, Braga, Portugal. MÉTODOS: A amostra deste estudo foi constituída por 101 doentes com alterações da saúde mental assistidos numa instituição de assistência psiquiátrica no Norte de Portugal, dos quais 23 eram acompanhados externamente à instituição e 78 estavam institucionalizados em unidades de curto internamento. RESULTADOS: Os resultados obtidos, através da aplicação de um questionário e posteriormente pela análise dos dados, evidenciaram a existência de baixos níveis de literacia em saúde em 71,6% dos inquiridos. Observou-se também a existência de relação entre a idade e as habilitações literárias destas pessoas com o nível de literacia, no entanto, apesar de haver evidência estatística suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde é influenciado pela idade ou pela escolaridade, esta relação é desprezável, fazendo com que não se possa afirmar que, quanto mais velho menor a literacia em saúde ou quanto maior o nível de escolaridade maior o nível de literacia. Também se pode verificar a existência de relação entre o nível de literacia em saúde e as pessoas com o diagnóstico de “perturbação neurótica”. CONCLUSÕES: Assim sendo, podemos concluir que a literacia em saúde é influenciada pela saúde mental das pessoas. Uma vez que, a segunda influência a qualidade e segurança dos cuidados de saúde das pessoas. É necessário que as pessoas tenham habilidades de inteligência e comunicação para tomarem decisões informadas sobre a melhor decisão a ser tomada em relação à sua saúde.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização em saúde; Saúde mental; Hospitalização; Enfermagem

RESUMEN

ABSTRACT

“Alfabetización en salud en personas con trastornos de salud mental”

“Health literacy in people with mental health changes”

CONTEXTO: La alfabetización sanitaria o la alfabetización sanitaria presuponen una interacción entre profesionales de la salud y las personas. La salud mental está directamente relacionada con la alfabetización en salud, ya que la primera está influenciada por la segunda y puede o no mejorar la calidad de vida del individuo dependiendo de la salud mental de uno. OBJETIVO: Conocer el nivel de alfabetización en salud en personas con trastornos de salud mental asistidos en el hogar de salud de Bom Jesus. METODOLOGÍA: La muestra de este estudio consistió en 101 pacientes con trastornos de salud mental atendidos en una institución de atención psiquiátrica en el norte de Portugal, de los cuales 23 fueron seguidos externamente a la casa y 78 fueron institucionalizados en unidades de hospitalización cortas. RESULTADOS: Los resultados obtenidos mediante la aplicación de un cuestionario y análisis de datos posteriores mostraron la existencia de bajos niveles de alfabetización en salud en el 71,6% de los encuestados. Sin embargo, también hubo una relación entre la edad y la alfabetización de estas personas con el nivel de alfabetización, aunque existe evidencia estadística suficiente para indicar que el nivel de alfabetización en salud está influenciado por la edad o la educación. Esta relación es insignificante, lo que hace imposible decir que cuanto mayor es la alfabetización en salud o cuanto mayor es el nivel educativo, mayor es el nivel de alfabetización. También es posible verificar la existencia de una relación entre el nivel de alfabetización en salud y las personas con diagnóstico de “trastorno neurótico”. CONCLUSIONES: Por lo tanto, podemos concluir que la alfabetización en salud está influenciada por la salud mental de las personas. Desde entonces, el segundo influye en la calidad y seguridad de la atención médica de las personas. Las personas necesitan habilidades de inteligencia y comunicación para tomar decisiones informadas sobre la mejor decisión con respecto a su salud.

DESCRIPTORES: Alfabetización en salud; Salud mental; Hospitalización; Enfermería

BACKGROUND: Health literacy or basic health knowledge presupposes an interaction between health professionals and individuals. Thus, mental health is directly related to health literacy, since the former is influenced by the second, and may or may not improve the quality of life of the individual depending on the mental health of each one. AIM: To know the level of health literacy in people with mental health disorders assisted at Bom Jesus health home. METHODS: The sample of this study consisted of 101 patients with mental health disorders who were taken care of at a psychiatric care institution in northern Portugal, of which 23 were externally monitored and 78 were institutionalized in short hospitalization units. RESULTS: The results obtained, through the application of a questionnaire and later by the data analysis, evidenced the existence of low levels of health literacy in 71.6% of the respondents. It was also pointed out the existence of a relationship between the age and the qualifications of these people with the level of literacy, however, although there is sufficient statistical evidence to affirm that the level of health literacy is influenced by age or schooling, this relationship is negligible, making it impossible to state that the older the people are, the lower level of health literacy they have, or the higher the level of schooling the higher the level of literacy. It is also possible to check the existence of a relationship between the level of health literacy and people diagnosed with “neurotic disorder”. CONCLUSIONS: Thus, we can conclude that health literacy is influenced by people’s mental health, since, the second influences the quality and safety of people’s health care. People should get intelligence and communication skills and abilities to make wise decisions when it comes to make decisions about their health.

KEYWORDS: Health literacy; Mental health; Hospitalization; Nursing Submetido em 30-12-2018 Aceite em 29-03-2019

1 Enfermeira, Fafe, Portugal, apatricia1997@hotmail.com 2 Enfermeira, Trofa, Portugal, adrianaferreira511@gmail.com 3 Enfermeira, Landim, Portugal, catarina1gomes@hotmail.com 4 Enfermeira, Trofa, Portugal, rutegomes11@gmail.com 5 Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria; Enfermeiro especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Enfermeiro-Chefe na Casa de Saúde do Bom Jesus, Unidade de Curto Internamento, Braga, Portugal, santosbmc@gmail.com 6 Doutor em Gestão; Mestre em Ciências Empresariais; Enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação; Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Saúde do Norte, Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, Vila Nova de Famalicão, Portugal, nuno.araujo@ipsn.cespu.pt Citação: Gonçalves, A., Ferreira, A., Gomes, A., Gomes, R., Santos, B., & Araújo, N. (2021). Literacia em saúde em pessoas com alterações da saúde mental. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 43-50. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 43


INTRODUÇÃO A literacia em saúde consiste nas competências cognitivas, sociais e capacidades que possibilitam às pessoas aceder, compreender e usar informação no domínio da saúde. Ao longo da última década, a literacia em saúde, tem sido perspetivada como uma dimensão fundamental para os programas de promoção da saúde e prevenção das doenças mentais (Loureiro, 2012). Diversos estudos têm mencionado que o conceito de literacia em saúde pode ter um papel determinante na manutenção e na melhoria das condições de saúde. Um inadequado nível de literacia em saúde pode ter implicações significativas na saúde individual/coletiva (Martins, 2018). Esta também designada de alfabetização em saúde, pressupõe uma interação entre os profissionais de saúde e as pessoas, uma vez que, as pessoas devem ter habilidades de inteligência e comunicação para tomarem decisões informadas sobre a melhor decisão a ser tomada em relação à sua saúde. Desta forma, a alfabetização em saúde implica o conhecimento, motivação e competências das pessoas para aceder e analisar as informações obtidas, de forma, a tomar decisões na vida quotidiana sobre cuidados mais adequados, prevenindo doenças e promovendo a saúde para manter ou melhorar a qualidade de vida (Sørensen, 2012; Martins, 2015). Este conceito é um conceito multidimensional, sendo explorado por vários autores. Nutbeam definiu três tipos de literacia: literacia funcional, literacia interativa e literacia crítica (Pedro, Amaral, & Escoval, 2016). O modelo explorado foi o de Sorensen et al que confina as principais dimensões da alfabetização em saúde (Sousa, 2017). Este processo requer quatro tipos de competências: acesso, entender, avaliar e aplicar. Estas quatro competências são cruciais para a literacia em saúde, pois baseiam-se nas qualidades cognitivas específicas e dependem da qualidade da informação obtida sobre a saúde. Estas competências também incorporam os três níveis de literacia (literacia funcional, interativa e crítica) (Sørensen, et al., 2012). O modelo baseia-se em três dimensões: promoção da saúde, prevenção da doença e cuidados de saúde. Sendo que estas estão relacionadas com os quatro tipos de competências em saúde (acesso, entender, avaliar e aplicar). Este modelo esteve na base da construção do projeto HLS-EU e consequente construção do questionário de Literacia para a saúde europeu (HLS-EUPT) ( Mota, 2018).

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O conceito de saúde mental, inicialmente, era entendido como ausência de perturbação. Os estudos revelam que esta não se restringe à ausência de doença mental, mas abrange a presença de algo positivo, designando-se de saúde mental positiva, ou seja, a saúde mental deve ser entendida como estado completo (Figueiral, 2016). Segundo o relatório Health at a Glance (2018) cerca de uma em cada seis pessoas dos países da união europeu sofrem de algum problema de saúde mental (17,3%, ou seja, 84 milhões de pessoas), relativamente aos dados de 2016. Dentro destes problemas de saúde mental, destacam-se a ansiedade (5,4%, ou seja, 25 milhões de pessoas), seguida das perturbações do humor (4,5%, ou seja, 21 milhões de pessoas). Portugal destaca-se como o 5º país da EU onde há uma maior prevalência destas doenças. No topo da lista encontra-se Finlândia, Holanda, França e Irlanda. De seguida, encontra-se Portugal, sendo que as perturbações com maior prevalência são a depressão e ansiedade (cada afeta 6% da população), seguindo-se os problemas relacionados com o consumo de álcool e drogas e distúrbios bipolares e esquizofrenia (cada afeta 2 % da população). As perturbações psiquiátricas são classificadas segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) que permite identificar e padronizar as tendências e estatísticas sobre saúde. O CID define as doenças, distúrbios, lesões e outros problemas relacionados com a saúde de uma forma hierárquica, possibilitando desta forma, um fácil armazenamento, recuperação e análise do conteúdo (World Health Organization - WHO, 2018). Os profissionais de saúde inseridos em contexto de saúde mental e psiquiátrica centram-se na prestação de cuidados de saúde à pessoa com alterações da saúde mental, sejam eles reais ou potenciais, baseando-se em intervenções psicoterapêuticas, visando (Sá, 2010): a promoção e proteção da saúde mental; a prevenção da perturbação mental e o tratamento; a Reabilitação psicossocial e a reinserção social da pessoa. Face ao contexto supracitado, tornou-se importante a realização de um estudo que responda à questão: qual o nível a literacia em saúde das pessoas com alterações de saúde mental assistidos na casa de saúde do Bom Jesus, em Braga, com o objetivo de saber o nível de literacia em saúde nestas pessoas.


MÉTODOS Ao abrigo do paradigma quantitativo, foi realizado um estudo descritivo exploratório transversal, pois pretendemos descrever e perceber o comportamento da váriavel “Literacia em Saúde” nos doentes com alterações da saúde mental e posteriormente verificar se existe relação com as outras variáveis (variáveis sociodemografiacas e variáveis clínicas). Para determinação da amostra recorremos a um método não probabilístico e por conveniência. No estudo feito os critérios de inclusão definidos foram: idade igual ou superior a 18 anos; ter capacidades cognitivas para responder ao questionário MMSE (pontos de corte segundo os critérios pré-definidos da escala). De acordo com os critérios definidos, a nossa amostra é constituída por n=101 pessoas, dos quais 23 eram acompanhados externamente à instituição e os restantes, 78 estavam institucionalizados em unidades de curto internamento. A nossa população alvo foram as pessoas com alteração da saúde mental assistidos numa instituição psiquiátrica. Como não foi possível aceder a todos os pessoas institucionalizadas, recorremos a uma população acessível: as pessoas com alterações mentais assistidas numa unidade assistencial na área da Psiquiatria encontravam-se internadas em duas unidades de curto internamento e uma unidade de apoio socio-ocupacional em regime de ambulatório, totalizando uma população de N=257. Como instrumento de colheita de dados foi aplicado um questionário constituído primeiramente por um grupo para avaliar a capacidade cognitiva, através da escala Mini-Mental State Examination (MMSE) e de seguida para avaliar o nível de literacia em saúde através da escala Health Literacy Survey in Portuguese (HLS-EU - PT). A escala MMSE foi desenvolvida por Folstein, Folstein, & McHugh, 1975. É constituída por 30 itens que avaliam as funções cognitivas, nomeadamente, a orientação temporal e espacial, a memória imediata e de evocação de palavras, o cálculo, a nomeação, a repetição, a execução de um comando, a leitura, a escrita e habilidade visomotora. A pontuação obtida no final da escala pode variar entre 0 e 30 pontos, em que o 0 representa um “mau desempenho” e o 30 representa um “bom desempenho”. Para a população portuguesa prosperam-se valores operacionais de “corte” segundo a escolaridade/literacia, como se pode verificar na tabela 1 (Melo, Barbosa , & Neri , 2017) (Morgado, Rocha, Maruta, Guerreiro, & Martins, 2009).

Tabela 1 - Valores operacionais de “corte” para a população portuguesa Literacia

Pontuação

0 a 2 anos

22

3 a 6 anos

24

Igual ou superior a 7 anos

27

A escala HLS-EU-PT foi construída por Luís Saboga Nunes & Kristine Sorensen, para avaliar a alfabetização em saúde. Esta escala é constituída por 47 itens, divididos em 12 subdomínios. Para cada item da escala, o indivíduo classifica a dificuldade de uma determinada tarefa, segundo uma escala de Likert de 4 categorias, ou seja, muito fácil, fácil, difícil e muito difícil. A informação proveniente da escala, está subdividida em três domínios, em que o primeiro se designa como domínio da saúde, o segundo como domínio da prevenção das doenças, e por fim o terceiro domínio, o domínio da promoção da saúde (Sørensen, et al., 2013). As respostas dos 47 itens que medem o nível de alfabetização em saúde estão cotadas, com um mínimo de 0 e um máximo de 50 pontos, onde 0 representa o “mínimo possível”, e o 50 representa o “melhor possível”. Os quatro níveis resultantes das pontuações obtidas são: “inadequados” (0–25);“problemáticos” (> 25–33);“suficientes” (> 33–42); “excelentes” (> 42–50). Sendo que, os níveis “inadequado” e “problemático” foram combinados num único nível “alfabetização em saúde limitada” (0-33), de forma a detetar grupos vulneráveis (Sørensen, et al., 2015). De forma a cumprir os princípios éticos, após a elaboração do instrumento de colheita de dados foi solicitada autorização, para aplicação do estudo de investigação, à direção da instituição já supra-referida, sendo concedida a devida autorização da instituição e comissão de ética da mesma. Foi também garantida a confidencialidade dos dados, através da atribuição de códigos ao questionário. A informação recolhida foi analisada através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 25, recorrendo à análise estatística descritiva e inferencial. RESULTADOS Após analisar a nossa amostra, verificamos que era constituída por 101 pessoas, dos quais 68 (67,3%) são do sexo feminino e 33 (32,7%) são do sexo masculino.

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Relativamente à idade e para efeitos de análise estatística esta variável foi categorizada, sendo que a nossa amostra era constituída maioritariamente por pessoas com idade entre os 45-55 anos. Analisando a variável do estado civil dos inquiridos, estes são maioritariamente solteiros (42 inquiridos, ou seja 41,6%). No que diz respeito às habilitações literárias, 51 pessoas (50,5 %) referem que têm ensino básico e apenas 1% refere completar o nível de escolaridade de mestrado. Observando a variável situação profissional, podemos concluir que a maioria dos inquiridos (40 pessoas - 39,6%) são reformados. Por fim, a caracterizar a variável local de residência, a amostra em estudo é constituída por 59 pessoas (58,4%) que residem em meio urbano. Na amostra em estudo, o principal motivo de internamento é a perturbação de humor (34,7%). Apresentação dos Resultados À questão “Tem alguma outra doença de longa duração?”, 29,7% referiram ter outros problemas de saúde, sendo que os restantes 70,3% referiram não ter qualquer problema de saúde. Dentro dos individuo que responderam ter outro problema de saúde, destaca-se a hipertensão arterial (9,9%), seguida da doença cardiovascular Para responder ao nosso primeiro objetivo: “Conhecer o nível de literacia em saúde nas pessoas com alterações de saúde mental assistidos numa instituição psiquiátrica”, foi elaborado o gráfico 1 onde está evidenciado o nível de literacia em saúde destas pessoas, por categorias e dimensões da escala HLS-EU-PT. Gráfico 1 - Nível de Literacia em saúde da amostra

Depois de analisado, podemos afirmar que 7,90% das pessoas da amostra apresentam um nível de literacia em saúde “inadequado”, 63,4% apresentam um nível de literacia em saúde “problemático”, 21,8% tem um nível de literacia em saúde “suficiente” e os restantes (6,9%) um nível de literacia em saúde excelente. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 46

Relativamente às dimensões da escala, Promoção da Saúde, Prevenção da Doença e Cuidados de Saúde, podemos verificar que em todas as dimensões o nível de literacia em saúde é problemático em mais de 50% das pessoas da amostra. Também se verifica que os piores resultados se encontram na dimensão Promoção da saúde, com cerca de 68% das pessoas com um nível de literacia em saúde limitada. Relativamente ao segundo objetivo:” Perceber se existe relação entre o nível de literacia em saúde e as variáveis sociodemográficas nas pessoas com alterações de saúde mental assistidas numa instituição psiquiátrica”, as variáveis sociodemográficas foram cruzadas com a variável literacia em saúde. Assim, foi possível observar a existência de relação entre o sexo e a literacia em saúde, onde se conclui, pelo valor da mediana que o nível de literacia em saúde é superior no sexo masculino (31,91) comparativamente ao sexo feminino (30,53) Na variável “idade” por categorias foi observado a existência de relação entre a idade e a literacia em saúde, onde se conclui, que o nível de literacia é superior nas pessoas com idade inferior a 35 anos (32,62). Com base na análise inferencial, foi permitido afirmar que há evidencia estatística suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde é influenciado pela idade. No entanto, não se pode dizer que quanto mais velhos, menos literacia tem estas pessoas. Com a análise bivariada da variável “estado civil” em categorias e “literacia em saúde” constatou-se que a literacia em saúde é superior em pessoas que vivem acompanhadas (31,21) e inferior nas pessoas que vivem sozinhos (30,85. Depois de efetuada a análise inferencial, podemos concluir que não há evidência estatística suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde é influenciado pelo estado civil. Seguindo para a variável “habilitações literárias”, podemos concluir que as pessoas com escolaridade secundária ou superior tem maior nível de literacia em saúde (31,56) comparativamente com as pessoas com escolaridade até ao ensino básico (29,78). O valor de prova desta variável é de 0,020, podendo concluir que há evidência estatisticamente suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde está correlacionado com as habilitações literárias das pessoas em estudo. Mais concretamente, nessa população, quanto maior a escolaridade maior o nível de literacia em saúde. No entanto a relação existente é desprezável.


Com base na variável “situação profissional em categorias”, o nível de literacia em saúde é superior nas pessoas que se encontram no ativo (32,27) em relação às pessoas que se encontram no inativo (30,56). O valor de prova desta variável é de 0,259, permitindo concluir que não há evidencia estatística suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde é influenciado pela situação profissional. Quanto à variável “local de residência”, o nível de literacia em saúde é maior nas pessoas que vivem em meio urbano (31,56) em relação às pessoas que vivem em meio rural (29,96). Depois de realizada a análise inferencial, podemos concluir que não há evidência estatística suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde é influenciado pelo local de residência. Relativamente ao terceiro objetivo: “Perceber se existe relação entre o nível de literacia em saúde e as variáveis clínicas nas pessoas com alterações de saúde mental assistidas numa instituição psiquiátrica, as variáveis clínicas foram cruzadas com a variável literacia em saúde. Portanto, foi possível observar a existência de relação entre o motivo de internamento e a literacia em saúde, podendo concluir que as pessoas que foram internados com o diagnóstico de perturbação da personalidade possuem maior nível de literacia em saúde (32,98), seguindo-se das restantes alterações mentais. Após a análise inferencial, podemos concluir que, no entanto, apenas o motivo de internamento perturbação neurótica tem evidência estatística suficiente. Por fim, foi analisada a variável “tem alguma outra doença de longa duração” e a variável “literacia em saúde”, tendo-se verificado que as pessoas que já vivenciaram outros problemas de saúde possuem um nível de literacia de saúde superior (31,38) comparativamente aqueles que não vivenciaram essa situação (30,85). Com base na análise inferencial, o valor de prova é de 0,821 e indica a inexistência de correlação, estatisticamente significativa, entre a variável em causa e o nível de literacia em saúde. No que diz respeito ao quarto objetivo: “Verificar se há relação entre o nível de literacia em saúde nas pessoas assistidas em unidades de curto internamento e as pessoas em fase de tratamento no ambulatório”, foi observado a existência de relação, sendo que as pessoas assistidas externamente à instituição possuem maior nível de literacia em saúde (31,20) relativamente às pessoas assistidas em unidades de curto internamento (30,85).

Após calcular o valor de prova, conclui-se, que não há evidência estatística suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde é influenciado pelo tipo de internamento. Relativamente à primeira questão: “Qual o nível de literacia em saúde nas pessoas com alterações de saúde mental assistidos numa instituição psiquiátrica? “, foi possível averiguar através do questionário HLS-EUPT, que a amostra em estudo é maioritariamente constituída por pessoas com um nível de literacia considerado problemático (63,7%). Comparativamente a outros países da Europa, nomeadamente, Holanda, Irlanda, Polónia, Grécia, Alemanha, Áustria, Espanha e Bulgária, Portugal encontra-se ligeiramente abaixo da média destes países, sendo que, o valor médio do score europeu situa-se nos 33,8 e Portugal nos 33,0. Em relação ao nível de literacia em saúde, em Portugal há um predomínio do nível de literacia “suficiente” (42,4%). Nas dimensões Cuidados de Saúde e Prevenção da Doença, Portugal situa-se abaixo dos valores médios, sendo que, na dimensão Cuidados de saúde,45,4% das pessoas apresentam um nível de literacia limitada (problemático 35,3% e inadequado10,1%) e na dimensão prevenção da doença, 45,5% das pessoas também apresentam um nível de literacia limitada (34,2% problemático e 11,3% inadequado). Quanto à dimensão Promoção da Saúde, Portugal encontra-se ligeiramente acima dos valores médios (Espanha, Ávila , & Mendes, 2015). Examinando a nossa amostra, podemos verificar que o nível de literacia geral é problemático, seguindo-se de suficiente, nas três dimensões da literacia em saúde, onde se verifica um predomínio do nível de literacia problemático (PS-52,5%; PD-53,5% E CS- 51,5%). Contudo, estes valores são semelhantes aos descritos na literatura, onde se verifica que a literacia em saúde é um problema transversal, uma vez que o nível de literacia predominante se situa no problemático. Dando resposta à segunda questão: “Será que existe relação entre o nível de literacia em saúde e as variáveis sociodemográficas?”, foi possível afirmar que, na nossa amostra verificou-se, a existência de relação entre a idade e o nível de literacia em saúde, quanto mais velhos são as pessoas menor o nível de literacia em saúde, pois as pessoas com idade inferior a 35 anos apresentavam um nível de literacia de 32,62 , e as pessoas com idade superior a 65 anos apresentavam um nível de literacia de 28,90.

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Contudo, esta relação é desprezável. Na nossa amostra também foi possível verificar a existência de relação entre as habilitações literárias e o nível de literacia em saúde, quanto mais estudos têm as pessoas, maior o nível de literacia em saúde. Em 2018, a média de idades em Portugal situava-se nos 44,8 anos, já em 2010 esta média situava-se nos 41,2 anos, através destes dados podemos afirmar que a população portuguesa está a envelhecer. Sendo que, a média europeia situa-se nos 43,1 anos, mais baixa que em Portugal. Contudo, a percentagem da população com escolaridade inferior ao ensino básico tem vindo diminuir (Pordata, 2019). Na população da nossa amostra, não se conseguiu verificar tanto estas diferenças, pois 50,5% da amostra apresentavam escolaridade inferior ao ensino básico e os restantes 49,5% apresentavam escolaridade superior. A relação entre o nível de literacia e a idade foi corroborada por vários estudos, que evidenciam que quanto mais velhos são as pessoas menor a literacia em saúde (Serrão, Veiga, & Vieira, 2015; Veiga & Serrão, 2016; Espanha, Ávila, & Mendes, 2016). Contudo, a relação existente na nossa amostra não é tão significativa, como se pode verificar também no estudo de Carneiro, Silva, & Jólluskin (2017). Em relação à variável habilitações literárias, quanto mais escolaridade têm as pessoas, maior é o nível de literacia em saúde (Serrão, Veiga, & Vieira, 2015; Pedro, Amaral, & Escoval, 2016; Carneiro, Silva, & Jólluskin, 2017). Contudo na nossa amostra esta relação não foi significativa para afirmarmos que quanto mais escolaridade tenham as pessoas mais letradas em saúde sejam. Segundo o estudo de Carneiro, Silva, & Jólluskin (2017), quando a variável habilitações literárias é controlada, a relação entre o nível de literacia e a idade torna-se desprezável ou as diferenças existentes desaparecem. Relativamente às restantes variáveis sociodemográficas (sexo, estado civil, situação profissional e local de residência), não foi possível verificar a existência de relação destas com o nível de literacia em saúde, na amostra em questão. Quanto à terceira questão de investigação: “Será que há relação entre as variáveis clínicas e o nível de literacia em saúde nas pessoas com alteração da saúde mental?” e após a análise em programa estatístico, averiguou-se, para a nossa amostra, a existência de relação entre o diagnóstico de internamento “perturbação neurótica” e a literacia da saúde, sendo que as pessoas com este motivo de internamento possuem maior nível de literacia, em comparação aos outros motivos de internamentos. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 48

No entanto, não existe fundamentação para comparar os nossos dados com a literatura. Quanto à outra variável clínica em estudo, “tem alguma outra doença de longa duração”, não se observou, para a nossa amostra, relação entre esta e a literacia em saúde, que fosse considerada estatisticamente significativa. Por fim, em relação á terceira questão: “Qual o nível de literacia nas pessoas assistidas em unidade de curto internamento e Unidade socio-ocupacional de apoio em ambulatório?”, foi possível identificar a existência de relação entre ambas as variáveis, sendo que se verificou uma maior literacia nas pessoas assistidas externamente à instituição em relação às pessoas assistidas em unidades de curto internamento. Contudo, após a análise inferencial de ambas as variáveis, concluiuse que não existe relação entre o nível de literacia em saúde e o tipo de internamento das pessoas. É de salientar que, apesar de não existir relação estatisticamente significativa entre ambas as variáveis, as pessoas assistidas externamente à instituição apresentam um nível de literacia superior (31,20) à das pessoas institucionalizadas em unidades de curto internamento (30,85). CONCLUSÃO Na pesquisa bibliográfica, sobre a população portuguesa, denota-se o baixo nível da literacia em saúde. Contudo o nível de literacia varia dependendo de alguns fatores. De acordo com a revisão da literatura, existe uma relação entre a idade e o nível de literacia, apesar de não serem estatisticamente significativas, que não permitem afirmar que à medida que a idade avança, o nível de literacia tende a diminuir (Medina, 2019). O fator escolaridade relaciona-se com a literacia em saúde, uma vez que os idosos com um menor nível de escolaridade, tendem a ser os mesmos que apresentaram os piores resultados (Medina, 2019). Os resultados do nosso estudo corroboraram com a revisão da literatura analisada, porque o nível de escolaridade afeta o nível de literacia em saúde. Apesar de haver evidência estatística suficiente para afirmar que o nível de literacia em saúde é influenciado pela idade ou pela escolaridade, esta relação é desprezável, fazendo com que não se possa dizer que quanto mais velho menor a literacia dos mesmos ou quanto maior o nível de escolaridade maior o nível de literacia.


Denotou-se, também, a existência de relação entre o motivo de internamento “perturbação neurótica” e a literacia em saúde, sendo que os indivíduos com este motivo de internamento possuem maior nível de literacia, comparativamente com os outros motivos de internamentos. Este estudo veio evidenciar um nível de literacia em saúde baixo nas pessoas desta amostra, demonstrado através dos resultados que se situavam no “problemático” e “limitada” na relação da literacia em saúde. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O conceito de literacia em saúde tem vindo a ganhar importância ao longo das décadas, de forma a capacitar as pessoas para a tomada de decisão acerca da sua saúde. Este é transversal nas várias áreas da saúde onde se tem evidenciado um baixo nível de literacia, podendo ser um fator de risco para o desenvolvimento das doenças crónicas (diabetes e obesidade), sendo que, este acontecimento também se verifica nas perturbações psiquiátricas. Um inadequado nível de literacia em saúde pode ter implicações significativas na saúde individual e coletiva (Martins, 2018). Alguns autores relacionam o facto de que as pessoas possuírem um baixo nível de literacia em saúde tem maior dificuldade em compreender a informação fornecida pelos profissionais de saúde. Sendo que, este quando relacionado ao estigma e preconceito contribuem para agravar as perturbações mentais, uma vez que, impedem o diagnóstico precoce das mesmas, levando uma elevada taxa de hospitalização, que por sua vez, se traduz em elevados custos em cuidados de saúde (Loureiro, Pedreiro, Correia, & Mendes, 2012; Pedro, Amaral, & Escoval, 2016). Desta forma, tem-se procurado que as pessoas adquiram conhecimentos em saúde, para que a comunicação entre os profissionais de saúde e as pessoas seja eficaz. O autoconhecimento e a autoconsciência são assim aptidões que importam fortalecer, de modo a conseguir estabelecer relações de ajuda com as pessoas, que se pretendem coerentes, empáticos e de aceitação incondicional do outro (Tomás, 2013).

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Artigo de Revisão

8

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0291

GESTÃO DO RISCO EM SAÚDE MENTAL: REVISÃO INTEGRATIVA | Tânia Correia1; Maria Manuela Martins2; Lara Pinho3 |

RESUMO CONTEXTO: Um conhecimento científico da gestão de risco nos cuidados de saúde mental é essencial para a construção de sistemas de saúde mais seguros, de qualidade e para melhorar a segurança do doente. Embora estudos sobre a segurança do doente e gestão do risco nos cuidados de saúde tenham vindo a aumentar, existe ainda pouca evidência no que se refere aos cuidados de saúde mental. OBJETIVO: Conhecer a evidência existente sobre a gestão do risco no âmbito dos cuidados de saúde mental, nomeadamente áreas prioritárias e estratégias de intervenção/monitorização. MÉTODOS: Revisão integrativa da literatura através de pesquisa nas bases de dados MEDLINE, CINAHL, e Psychology and Behavioral Sciences Collection cujos critérios de inclusão foram: abordagem quantitativa, qualitativa e/ou revisões de literatura, nos idiomas Português, Inglês e Espanhol, publicados nos últimos 10 anos e terem como tema de pesquisa a gestão de risco no âmbito dos cuidados de saúde mental. RESULTADOS: Foram encontrados 6 artigos que dão resposta ao objetivo desta revisão: dois estudos qualitativos, dois estudos de método misto e duas revisões de literatura. CONCLUSÕES: As áreas prioritárias na gestão do risco em saúde mental identificadas foram: violência e comportamento autodestrutivo, erros de tratamento, riscos associados à sintomatologia das doenças mentais. Nos estudos selecionados foram também identificadas estratégias de gestão do risco em saúde mental como: parceria, envolvimento e capacitação do utente, programas estruturados individualizáveis, orientações estratégias a nível político, treino e formação dos profissionais. PALAVRAS-CHAVE: Saúde mental; Psiquiatria; Segurança do paciente; Gestão de riscos

RESUMEN

ABSTRACT

“Gestión de riesgos de salud mental: Revisión integradora”

“Mental health risk management: Integrative review”

CONTEXTO: El conocimiento científico de la gestión de riesgos en la atención de salud mental es esencial para construir sistemas de salud más seguros y de calidad y mejorar la seguridad del paciente. Aunque los estudios sobre la seguridad del paciente y la gestión de riesgos en la atención médica general están aumentando, todavía hay poca evidencia en la atención de la salud mental. OBJETIVO: Conozca la evidencia existente sobre la gestión de riesgos en la atención de salud mental, incluidas las áreas prioritarias y las estrategias de intervención / monitoreo. METODOLOGÍA: Revisión integral de literatura mediante la búsqueda en las bases de datos de MEDLINE, CINAHL y Psychology and Behavioral Sciences Collection cuyos criterios de inclusión fueron: abordaje cuantitativo, cualitativo y / o revisiones de literatura en los idiomas portugués, inglés y español publicados en los últimos 10 tienen como tema de investigación la gestión de riesgos en la atención de la salud mental. RESULTADOS: Encontramos 6 artículos que cumplen con el objetivo del revisión: dos estudios cualitativos, dos estudios de método mixto y dos revisiones de literatura. CONCLUSIONES: Entre las áreas prioritarias de atención en la gestión de riesgos en salud mental se identificaron: violencia y comportamiento autodestructivo, errores de tratamiento, riesgos asociados con los síntomas de enfermedad mental. En los estudios seleccionados, también identificamos estrategias de gestión de riesgos para la salud mental como la asociación, la participación y el empoderamiento del usuario, programas estructurados individualizados, orientación estratégica a nivel político, capacitación y educación de profesionales.

BACKGROUND: Scientific knowledge of risk management in mental health care is essential for building safer, quality health systems and improving patient safety. Although studies on patient safety and risk management in general health care are increasing, there is still little evidence in mental health care. AIM: To know the existing evidence on risk management in mental health care, including priority areas and intervention / monitoring strategies. METHODS: Integrative review of literature through research on MEDLINE, CINAHL, and Psychology and Behavioral Sciences Collection data bases, including critical criteria of quantitative, qualitative approach and / or literature reviews, in Portuguese, English and Spanish, published in the last 10 years and fear as a subject of research to gesture of risk in the domain of mental health. RESULTS: We found 6 articles that meet the objective of this review: two qualitative studies, two mixed method studies and two literature reviews. CONCLUSIONS: Among the priority areas of attention in risk management in mental health were identified: violence and self-destructive behavior, treatment errors, risks associated with the symptoms of mental illness. The selected studies also identified mental health risk management strategies such as partnership, involvement and empowerment of the user, individualized structured programs, strategic guidance at the political level, training and education of professionals.

DESCRIPTORES: Salud mental; Psiquiatría; Seguridad del paciente; Gestión de riesgos

KEYWORDS: Mental health; Psychiatry; Patient safety; Nursing care; Risk management Submetido em 31-12-2019 Aceite em 02-04-2020

1 Mestre; Doutoranda na Universidade do Porto, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar; Investigadora no CINTESIS; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Serviço de Pedopsiquiatria, Portugal, tsp.correia@gmail.com 2 Doutora em Ciências de Enfermagem; Investigadora no CINTESIS; Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal, mmartins@esenf.pt 3 Doutora em Psicologia; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Professora Auxiliar Convidada no Instituto Politécnico de Portalegre, Escola Superior de Saúde; Investigadora no CINTESIS; Investigadora Auxiliar na Universidade de Évora, Escola Superior de Enfermagem São João de Deus, Portugal, lmgp@uevora.pt Citação: Correia, T., Martins, M. M., & Pinho, L. (2021). Gestão do risco em saúde mental: Revisão integrativa. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 51-58. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 51


INTRODUÇÃO A Segurança dos cuidados de saúde tem vindo a ganhar crescente destaque nas agendas internacionais desde a publicação do relatório “To err is human: building a safer health care sistem” pelo Institute Of Medicine em 2000, devido ao impacto dos dados divulgados, nomeadamente, o elevado número de mortes consequentes de erros clínicos considerados evitáveis, bem como, dos problemas identificados nos sistemas cujo objetivo seria evitar esses mesmos erros (Institute of Medicine, 2000). Em cuidados de saúde, a segurança é definida como a “(…) redução do risco de danos desnecessários a um mínimo aceitável. Um mínimo aceitável refere-se à noção coletiva em face do conhecimento atual, recursos disponíveis e no contexto em que os cuidados foram prestados em oposição ao risco do não tratamento ou de outro tratamento.” (Direção Geral da Saúde, 2011, p. 14). Os dados atualmente conhecidos são de que um em cada dez doentes é alvo de erros resultantes do processo de prestação de cuidados, dos quais, pelo menos 50% são considerados evitáveis (Jha et al., 2013; World Health Organization, 2017). Destes erros, 1/3 resultam em danos ligeiros a moderados e 5% em danos graves (World Alliance For Patient Safety, 2008). A nível nacional, um estudo em hospitais portugueses elaborado em 2011 pela Escola Nacional de Saúde Pública obteve conclusões semelhantes, sendo nomeadamente a taxa de incidência de eventos adversos aproximadamente 11% com 53% das situações consideradas evitáveis (Sousa, Uva, Serranheira, Leite, Nunes, 2011). Considerando que o contexto dos cuidados de saúde envolve um conjunto de riscos e que o risco “(…) é a probabilidade de ocorrência de um incidente.” (Direção Geral da Saúde, 2011, p. 15), demonstrase fundamental uma gestão do risco fundamentada e efetiva que envolva estratégias de planeamento, organização, direção, avaliação e implementação com o objetivo promover a segurança dos cuidados de saúde, reduzir/prevenir riscos para doentes e profissionais de saúde e, se estes ocorrerem, minimizar danos (Direção Geral da Saúde, 2011). No âmbito dos cuidados da especialidade de Psiquiatria e Saúde Mental, além dos riscos conhecidos e partilhados com as restantes áreas de cuidados da saúde, há riscos próprios decorrentes de particularidades da especialidade que se prendem com a apresentação das suas patologias. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 52

Neste sentido, o risco é conceptualizado como afetando não apenas o indivíduo, mas também outros doentes, profissionais de saúde, familiares/cuidadores e/ou público em geral, ampliando o alcance de risco (Slemon, Jenkins, & Bungay, 2017). Neste contexto dos cuidados de saúde, a identificação de potenciais riscos e ações preventivas constituem um grande objetivo da enfermagem psiquiátrica para garantir a segurança (Nijman et al., 2011; Slemon et al., 2017). Contudo, a discussão sobre danos resultantes de cuidados em saúde mental tem vindo a ser considerada limitada (Kanerva, Lammintakanen, & Kivinen, 2013). Face ao exposto, este trabalho tem como objetivo conhecer a evidência existente sobre a gestão do risco no âmbito dos cuidados de saúde mental, nomeadamente áreas prioritárias e estratégias de intervenção/monitorização. MÉTODOS Nesta pesquisa do estado da arte, procedeu-se a uma revisão integrativa da literatura por se tratar de uma metodologia estruturada que permite reunir e sintetizar os resultados de investigação disponíveis sobre um tema, e assim aprofundar o conhecimento sobre o mesmo (Mendes, Silveira, & Galvão, 2008; Soares et al., 2014). Antecedendo a pesquisa, a metodologia de pesquisa, critérios de inclusão e exclusão, objetivos do estudo e questão de investigação foram estabelecidos num protocolo de revisão. O processo de revisão baseou-se nas etapas do processo de revisão sugerido por The Joanna Briggs Institute para scoping review (The Joanna Briggs Institute, 2017): definição de objetivos, questão de investigação, critérios de inclusão e exclusão; planeamento da estratégia de pesquisa e seleção de estudos; especificação do método de extração de dados; análise, síntese e apresentação do conhecimento produzido. Assim, e identificada a importância da gestão de segurança em saúde mental, a questão que se coloca é: Qual a produção científica sobre a gestão de segurança no contexto de cuidados de saúde mental nos últimos 10 anos? Na questão formulada no presente estudo, os elementos PIO são: população (P), profissionais de saúde, doentes e outros envolvidos (cuidadores, familiares, população em geral); intervenção (I), gestão de risco; outcome (O) segurança no âmbito dos cuidados de saúde mental e psiquiatria.


No processo de pesquisa utilizaram-se descritores MeSH: Mental Health, Psychiatry e Risk Management. Através da associação destes descritores, concretizou-se a pesquisa nas bases de dados MEDLINE, CINAHL e Psychology and Behavioral Sciences Collection, e a expressão de pesquisa utilizada foi: (“Mental Health” OR Psychiat*) AND (“Risk Management”). Quanto ao período da pesquisa, este compreendeu todo o mês de setembro de 2019. Como critérios de inclusão, definiram-se: estudos que dessem resposta ao objetivo do estudo, ou seja, terem como tema de pesquisa a gestão de risco no âmbito dos cuidados de saúde mental, publicações dos últimos 10 anos, entre janeiro de 2009 e setembro de 2019, abordagem quantitativa, qualitativa e/ou revisões de literatura, nos idiomas Português, Inglês e Espanhol. Da pesquisa resultou a identificação de 104 estudos. Numa primeira fase foram excluídos os artigos repetidos, posteriormente foram selecionados pela análise dos títulos. Num segundo momento foram selecionados estudos pela análise do resumo e por fim na leitura do artigo na íntegra, pela aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Do processo de pesquisa (Figura 1) resultaram seis artigos que incluem dois estudos qualitativos, dois estudos de método misto e duas revisões de literatura. A recolha e sistematização dos dados realizou-se com recurso a uma tabela-resumo (Tabela 1), de acordo com as indicações de Joanna Briggs Institute (2017) que apresenta de forma descritiva os seguintes dados: Autores e ano, Objetivo, Metodologia, Participantes e Principais Resultados. Esta estratégia/ferramenta contribuiu para a identificação de categorizações temáticas. Figura 1 - Processo de seleção dos estudos incluídos na revisão (adaptado de PRISMA Diagram Flow (Moher, Liberati, Tetzlaff, Altman, & The PRISMA Group, 2009).

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RESULTADOS Tabela 1 - Estudos Incluídos na Revisão de Literatura Nº Autores (Ano) País

Objetivos

População

Metodologia

1

Briner & Manser (2013) Suiça

Conhecer riscos clínicos mais importantes em saúde mental e práticas de gestão de risco.

n=11

Estudo quali- Riscos identificados: violência e comportamento autodestrutivo; erros de tativo tratamento, de diagnóstico e de medicação; riscos associados a doenças mentais; abandono do hospital contra parecer médico, fuga e medidas compulsivas; riscos gerais dos cuidados de saúde; riscos profissionais. Estratégias: avaliação do risco (entrevista de avaliação inicial, instrumentos específicos) e anamnese proactivas; técnicas de gestão de agressão; monitorização do risco de suicídio, contratos sem suicídio, a proteção arquitetónica, suporte intensivo, interdisciplinaridade, dotações adequadas, treino, formação e recurso a procedimentos padronizados, informação dos doentes sobre o seu esquema medicamentoso e efeitos secundários; monitorização rigorosa da medicação.

2

Gilbert, Adams, & Buckingham (2011) Reino Unido

Avaliação dos processos de avaliação, gestão de riscos e a conexão entre eles

n= 43 Estudo misto (doentes) n=17 (profissionais)

Riscos: ideação suicida expressa, ameaças de morte a outros, antecedente de tentativa de suicídio, antecedente de agressão a outro, automutilação. Estratégias: Fontes de informação sobre riscos: doente, família, registos anteriores, outros profissionais ou equipas de saúde. Identificam-se falhas evidentes no processo de avaliação e gestão de riscos. A avaliação de riscos precisa ser priorizada. A equipa deve se comprometer e entender a natureza dinâmica do risco, o objetivo e o propósito da avaliação e gestão do mesmo.

3

Rimondini Identificar se e como a et al. (2019) capacitação de doentes Itália psiquiátricos pode melhorar o gerenciamento de riscos de acordo com a perspetiva dos profissionais de saúde.

n=95

Riscos: suicídio, violência, recaídas Estratégias: Equilíbrio entre proteção e autonomia; Parceria de cuidados; Relação terapêutica, Conexão, Centralidade dos cuidados no doente.

4

Holley, Chambers, & Gillard (2016) Reino Unido

Explorar como a prática n=8 de gerenciamento de riscos afeta a implementação de cuidados orientados para a recuperação nos serviços comunitários de saúde mental.

Estudo quali- Estratégias: Cuidados orientados para a recuperação do doente vs gestão tativo do risco Verifica-se uma cultura de aversão ao risco incorporada nos serviços de saúde mental. A falta de orientação estratégica ao nível político e a falta de apoio e orientação no nível da prática podem contribuir para a resistência à implementação de cuidados orientados para a recuperação no contexto da prática de gestão de risco.

5

Eidhammer, Fluttert, & Bjorkly (2014) Estados Unidos da América

Examinar a literatura empírica sobre o envolvimento do doente na colaboração entre doentes e enfermeiros na gestão do risco.

n=3

Revisão sistemática de literatura

Evidência limitada de resultados positivos no envolvimento do doente na gestão do risco em saúde mental. Estratégias: As recomendações enfatizam uma abordagem de gestão estruturada com intervenções personalizadas, colaborativas e individualizadas, com foco nos sinais de alerta precoce e gatilhos para raiva e agressão. A avaliação, monitorização e planeamento da gestão do risco deverá realizarse em parceria (doente - profissional). São necessárias mais pesquisas para desenvolver e testar modelos mais flexíveis que diferenciem o envolvimento do doente de acordo com a capacidade atual de colaboração.

6

(O’Rourke, Wrigley, & Hammond, 2018) Irlanda

Apresentar as melhores práticas de gestão de riscos nos serviços de saúde mental. Explorar a prevalência de violência nos serviços de saúde mental, examinar a natureza do risco, identificar estratégias de gestão de riscos nos cuidados de saúde mental.

NA

Revisão de literatura

Estratégias: A avaliação e a gestão efetiva de riscos que envolva ativamente o doente, podem ser terapêuticos. É necessária formação dos profissionais de saúde sobre procedimentos de risco, comunicação e documentação. Deve ser promovida uma cultura de aprendizagem, atenção à segurança do doente e melhoria contínua da qualidade. O cuidado centrado na pessoa é outro elemento baseado em evidências para um cuidado mais seguro bem como a parceria de cuidados para a gestão de segurança.

Estudo misto

Conclusões

DISCUSSÃO Com base nos resultados dos estudos selecionados, alinhamos os achados em dois eixos, riscos em saúde mental e estratégias de gestão do risco em saúde mental. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 54


Riscos Identificados em Saúde Mental A avaliação e consequente decisão/planeamento e intervenção adquirem um caracter particular no âmbito de cuidados de saúde mental. Além de fazerem parte do processo terapêutico, incluem, por exemplo, riscos próprios para a segurança (Rimondini et al., 2019). Um risco frequentemente identificado é o de violência física, como agressão ou violação verbal/psicológica, ameaças e insultos, que podem ter como alvo outros doentes, profissionais de saúde ou outras pessoas como familiares, cuidadores ou outros (Briner & Manser, 2013; Gilbert et al., 2011; Rimondini et al., 2019). Também presente é o risco de violência externa como por exemplo familiares de doentes que ameaçam ou agridem outros doentes ou profissionais (Briner & Manser, 2013). Por sua vez, o risco de autoagressão inclui suicídio, tentativa de suicídio e autoagressão (Briner & Manser, 2013; Gilbert et al., 2011). A aplicação de medidas compulsivas, além de ter sido identificada como uma estratégia, foi também reconhecida como um risco por comprometer a adesão futura do doente aos tratamentos (Briner & Manser, 2013). Existe ainda o risco de erro no tratamento, nomeadamente no processo de terapia, como o abuso de poder por parte do terapeuta, ou erros de diagnóstico (Briner & Manser, 2013). É conhecido o risco de erros de diagnóstico, designadamente o diagnóstico incorreto de doença mental quando se trata de doença física ou diagnostico errado de psiquiatria, o que resulta na implementação de um esquema terapêutico inadequado com o potencial de agravar o estado do doente (Briner & Manser, 2013). Os riscos associados à medicação psiquiátrica incluem os efeitos secundários como alterações do apetite, do peso ou da libido, que são os principais responsáveis pela não adesão ao esquema medicamentoso (Briner & Manser, 2013). Outro risco associado à medicação é o uso inadequado da medicação para abuso de substâncias ou para o suicídio (Briner & Manser, 2013). Riscos associados às patologias psiquiátricas como a toxicodependência e o contrabando de drogas em instituições de saúde mental são uma realidade também identificada (Briner & Manser, 2013). A saída do hospital contra parecer médico ou a fuga podem ocorrer em consequência da patologia psiquiátrica, como, por exemplo, na presença de alucinações (voz imperativa, de comando, que ordenam que o doente abandone o hospital) ou porque o doente está hospitalizado compulsivamente, contra sua vontade (Briner & Manser, 2013).

Uma fuga pode ter graves consequências como suicídio ou agressão (Briner & Manser, 2013). Riscos conhecidos dos cuidados de saúde em geral também foram identificados por serem importantes para a saúde mental, embora com menor impacto nesta área, pelo que serão referidos brevemente: erros de medicação como troca de medicação ou administração incorreta; risco de infeção; risco de quadros de abstinência; condições organizacionais e tecnológicas potencializadoras do erro; riscos profissionais decorrentes de dotações insuficientes, stress, excesso de carga de trabalho, resultando em absentismo e elevada rotatividade da equipa de saúde; e ainda a perda de informação sobre o doente quando este é transferido (Briner & Manser, 2013). Os riscos para a equipa de saúde é uma preocupação muito valorizada em cuidados de saúde mental e psiquiatria pela frequência de eventos que envolvem violência contra os profissionais desta área (Briner & Manser, 2013). Estratégias de Gestão do Risco em Saúde Mental Embora não seja possível eliminar o risco na totalidade, ele pode ser minimizado com a implementação de estratégias para avaliar e gerir o risco (O’Rourke et al., 2018). De um ponto de vista mais geral, a gestão de risco implica que eventos adversos ocorridos sejam rapidamente detetados, notificados e estudados no sentido de estabelecer estratégias preventivas futuras numa cultura de aprendizagem; que boas práticas sejam disseminadas; e os sistemas de melhoria continua nos cuidados de saúde sejam efetivos (O’Rourke et al., 2018). Na avaliação dos processos de doentes hospitalizados em unidades de saúde mental, verificou-se que a documentação da avaliação e gestão de segurança apresenta lacunas evidentes com inconformidades entre o que os enfermeiros avaliam e registam e os planos de gestão de segurança que são formulados (Gilbert et al., 2011). Verificou-se ainda que muitos dos doentes hospitalizados eram acompanhados por equipas na comunidade, consideradas fontes de informação importante, mas que não foram consideradas (Gilbert et al., 2011). Acredita-se que estas falhas se devam a falta de uniformização de registo da informação desta natureza bem como a falta de confiança e formação dos enfermeiros na avaliação da segurança e dos riscos (Gilbert et al., 2011).

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Assim, entre as estratégias identificadas estão o treino, formação sobre procedimentos de risco e documentação, e recurso a procedimentos padronizados para consulta (Briner & Manser, 2013; O’Rourke et al., 2018). A avaliação do risco na entrevista de avaliação inicial, a utilização de instrumentos específicos nessa matéria e uma anamnese extensa e negociação de contratos terapêuticos foram estratégias identificadas como importantes para a gestão de segurança (Briner & Manser, 2013). As fontes de informação sobre riscos mais referidas foram o próprio doente, a família, registos anteriores, outros profissionais ou equipas de saúde (Gilbert et al., 2011). Todavia a reavaliação/monitorização regular da segurança e dos riscos é importante para o doente uma vez que permite identificar mudanças e intervir de forma adequada (Gilbert et al., 2011). A monitorização do risco de suicídio, contratos sem suicídio, a proteção arquitetónica e acompanhamento de suporte contínuo são medidas reconhecidas como importantes na gestão do risco de suicídio (Briner & Manser, 2013; Rimondini et al., 2019). A interdisciplinaridade, dotações seguras, supervisão de pares e recomendações de evitar consultas/terapias de um para um também foram referidas para prevenir erros no tratamento (Briner & Manser, 2013). Quanto às estratégias de gestão de segurança para prevenir ou minimizar os riscos associados à medicação surgem: informação dos doentes sobre o seu esquema medicamentoso e efeitos secundários esperados ou possíveis e que medidas poderão tomar para os evitar (Briner & Manser, 2013). Neste processo o doente deve ser ouvido quanto às suas necessidades e envolvido na gestão do regime medicamentoso (Briner & Manser, 2013). Nos internamentos, a distribuição e a administração de medicamentos deve ser monitorizada rigorosamente (Briner & Manser, 2013). Perante o perigo de fuga as estratégias reconhecidas foram a transferência do doente para uma enfermaria mais segura/fechada. Se a fuga ocorre, deverá ser contactada a polícia para que inicie a sua busca (Briner & Manser, 2013). No âmbito de prevenção/gestão da violência identificaram-se estratégias como o ensino e treino de técnicas de gestão de agressões, o acolhimento de doentes em fase aguda da doença numa enfermaria confortável e onde a sua liberdade e segurança possam ser garantidos (Briner & Manser, 2013; Rimondini et al., 2019).

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Medidas compulsivas também surgem como estratégia utilizada para a gestão de segurança nomeadamente através de medidas coercivas, contra a vontade do doente e com uso de força (Briner & Manser, 2013; Correira, 2018). Na prestação de cuidados a doentes em fase aguda da sua doença mental pode implicar tomar decisões que interferem com a sua liberdade e autonomia, comprometendo a capacitação do doente (Correira, 2018; Rimondini et al., 2019). Considerando que estas medidas podem afetar a eficácia da intervenção terapêutica, surgem recomendações no sentido de um equilíbrio entre proteger do risco e promover a autonomia (Correira, 2018; Rimondini et al., 2019). Neste sentido, o estabelecimento de uma conexão numa relação terapêutica de confiança, fornece aos profissionais de saúde uma noção mais real do estado emocional e cognitivo do doente e dessa forma reduz a subjetividade da avaliação do risco (Rimondini et al., 2019). Esta estratégia implica o desenvolvimento de uma parceria com o doente em que este pode ter um papel ativo na avaliação, monitorização e planeamento da gestão do risco e processo terapêutico que deverá estar centrado no doente no sentido da sua capacitação para autonomia e autogestão (Eidhammer et al., 2014; Holley et al., 2016; O’Rourke et al., 2018; Rimondini et al., 2019). Contudo, o que se tem verificado é que esta estratégia é de difícil aplicação uma vez que a aplicação de cuidados orientados para a recuperação pode ser contaminada pela responsabilidade de gestão de riscos que os profissionais sentem. Estes sentem-se mais confortáveis na abordagem de gestão de sintomas através da medicação (Holley et al., 2016). Neste âmbito, surgem recomendações para uma abordagem de gestão de riscos em saúde mental estruturada e colaborativa, com intervenções individualizáveis e com foco particular nos sinais de alerta precoce e gatilhos para agressão (Eidhammer et al., 2014). Neste processo deve-se: considerar as necessidades e crenças emocionais e de saúde do doente; desenvolver o processo de tomada de decisão de forma compartilhada; privilegiar o ensino para autogestão, autorregulação; aplicar princípios de prevenção, mudança de comportamento e autogestão de agressividade que incluam ações que os doentes possam iniciar para controlar os seus impulsos agressivos (Eidhammer et al., 2014).


CONCLUSÃO

IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Pela análise dos estudos aqui identificados, percebemos que a gestão do risco em saúde mental difere da gestão do risco nos restantes serviços de saúde apresentando riscos próprios no âmbito segurança que foram referidos ao longo do artigo, como é o caso de suicídio durante um internamento psiquiátrico, risco de fuga ou o de contrabando de drogas nestes serviços de saúde. A este tema deve ser dada especial importância por comprometer não só a segurança dos doentes como também de profissionais, familiares e outros. Além disso, consideramos que a gestão do risco deve ir mais além da simples gestão do risco nas unidades de saúde em geral, preparando a pessoa com doença mental para uma melhor gestão da sua segurança e da dos outros, e assim contribuir para a adesão ao regime terapêutico. Medidas compulsivas, além de representarem uma estratégia de gestão de risco, também representam, em si, um risco para a segurança do doente na medida em que pode desempenhar um papel iatrogénico por contribuir para compromisso da futura adesão ao tratamento por parte do doente. Os erros no tratamento em saúde mental são de difícil identificação, e este facto aliado a falhas na cultura de notificação por parte dos profissionais, contribuem para que estes erros sejam identificados e discutidos com menor frequência que os erros de tratamento das demais especialidades. Constata-se que nos serviços de saúde mental é frequente uma cultura de valorização do risco dos envolvidos. Também se verifica a falta de orientações políticas, estratégicas e de suporte ao nível da prática o que pode explicar a dificuldade de implementação de cuidados orientados para a recuperação em detrimento de medidas mais coercivas. Reconhecida a importância da segurança nesta especialidade, é necessário que na prática este foco de atenção não anule outros, também importantes, como a adesão ao regime terapêutico ou a capacitação do doente para a autogestão do seu processo terapêutico. Importa ainda referir que a evidência existente sobre os riscos e a gestão destes nos cuidados de saúde na especialidade de saúde mental e psiquiatria é limitada.

A gestão do risco em saúde mental reveste-se de especial importância para a prática clínica dos enfermeiros e demais profissionais de saúde, devendo estar sempre presente na prática de cuidados à pessoa com doença mental. É importante implementar nos serviços de saúde mental estratégias que promovam uma melhor gestão do risco e segurança e que simultaneamente sejam estratégias terapêuticas orientadas para a recuperação. Estas estratégias devem respeitar o princípio da centralidade no doente, que deve ser envolvido no processo terapêutico através de uma parceria estabelecida pelo e com o profissional de saúde. Todo o processo de planeamento e intervenção, perante as avaliações realizadas, deve ser reajustado, flexível e adequado à capacidade do doente em colaborar. São necessários mais estudos sobre modelos ou programas de intervenção que conciliem as recomendações referidas. Umas das estratégias a considerar nestes modelos ou programas é a articulação com estruturas ou organizações existentes com potencial de parceria neste âmbito de cuidados de saúde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Briner, M., & Manser, T. (2013). Clinical risk management in mental health: a qualitative study of main risks and related organizational management practices. BioMedical Center Health Services Research, 13(44). Doi: 10.1186/1472-6963-13-44 Correira, T. S. P. (2018). Perceções, atitudes e emoções dos doentes submetidos a internamento psiquiátrico compulsivo: Revisão integrativa. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, (20), 81-90. Doi:10.19131/rpesm.0230 Direção Geral da Saúde. (2011). Estrutura Concetual da Classificação Internacional sobre Segurança do Doente. Disponível em: https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/classificacao-internacional-sobreseguranca-do-doente-png.aspx Eidhammer, G., Fluttert, F. A., & Bjorkly, S. (2014). User involvement in structured violence risk management within forensic mental health facilities - a systematic literature review. Journal of Clinical Nursing, 23(1920), 2716-2724. Doi:10.1111/jocn.12571 Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 57


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Artigo de Revisão

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Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0292

EFICÁCIA DE PROGRAMAS DE BIOFEEDBACK NA REDUÇÃO DA ANSIEDADE – REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA | Jéssica Costa1; Graça Sebastião2; Hélder Almeida3; Sandra Tejo4; Rosa Lopes5 |

RESUMO CONTEXTO: A ansiedade é uma emoção, traduz-se num mecanismo adaptativo e transitório em resposta a stressores, cursa com o aumento da atividade autonómica, favorece o desenvolvimento e desempenho da pessoa, promove a criatividade e a cooperação interpessoal. O Biofeedback (BFB) é uma técnica mente-corpo, na qual se aprende como modificar a fisiologia, com o objetivo de melhorar a saúde física, mental, emocional e espiritual da própria pessoa. OBJETIVOS: Identificar a eficácia do BFB na redução da ansiedade e da sintomatologia associada na pessoa adulta; conhecer os instrumentos utilizados na avaliação; analisar a complementaridade do BFB e outras técnicas de intervenção. MÉTODOS: Nesta revisão integrativa da literatura (RIL) recorreu-se à estratégia P[I][C]OD na elaboração da questão de pesquisa: “Qual a eficácia do BFB na redução da ansiedade e sintomatologia associada na pessoa adulta?”. A pesquisa realizou-se em março de 2019, nas bases de dados MEDLINE complete, CINAHL complete e Psychology & Behavioral Sciences Collection através da plataforma EBSCO, com descritores (MESH): “biofeedback” e “anxiety”. Estudos publicados entre 2015-2019; idiomas: português, inglês e espanhol; disponíveis em texto completo. Amostra com 14 artigos. RESULTADOS: O BFB evidenciou eficácia no controlo da ansiedade e sintomatologia associada em jovens universitários, grávidas, atletas, pessoas com perturbação de ansiedade. Em alguns estudos, o BFB é utilizado com outras técnicas: relaxamento, respiração, imaginação guiada e mindfulness. CONCLUSÕES: Existe evidência científica da eficácia do BFB na redução da ansiedade e da sintomatologia associada, ainda mais evidente quando combinado com outras técnicas.

PALAVRAS-CHAVE: Biofeedback; Ansiedade; Enfermagem; Saúde mental

RESUMEN

ABSTRACT

“Efectividad de los programas de biofeedback en la reducción de la ansiedad – revisión integral de la literatura”

“Effectiveness of biofeedback programs in anxiety reduction – integrative literature review”

CONTEXTO: La ansiedad es una emoción, se traduce en un mecanismo adaptativo y transitorio en respuesta a factores estresantes, aumenta la actividad autónoma, favorece el desarrollo y el desempeño de la persona, promueve la creatividad y la cooperación interpersonal. Lo biofeedback (BFB) es una técnica de cuerpo y mente en la que se aprende a modificar la fisiología para mejorar la salud física, mental, emocional y espiritual. OBJETIVOS: Identificar la efectividad de lo BFB en la reducción de la ansiedad y los síntomas asociados en adultos; conocer los instrumentos utilizados en la evaluación; analizar la complementariedad del BFB y otras técnicas de intervención. METODOLOGÍA: En esta revisión integral de la literatura (RIL), la estrategia P[I][C]OD se utilizó para elaborar la pregunta de investigación: “Qué tan efectiva es lo BFB para reducir la ansiedad y la sintomatología asociada en adultos?”. La investigación se realizó en marzo de 2019 en las bases de datos MEDLINE complete, CINAHL complete y Psychology & Behavioral Sciences Collection a través de la plataforma EBSCO, con descriptores (MESH): “biofeedback” y “ansiedad”. Se incluyeron los estudios publicados entre 2015-2019; Idiomas: portugués, inglés y español; disponible en texto completo. Muestra con 14 artículos. RESULTADOS: BFB mostró eficacia en el control de la ansiedad y los síntomas asociados en estudiantes universitarios, mujeres embarazadas, atletas, personas con trastorno de ansiedad. En algunos estudios, BFB se usa con otras técnicas: relajación, respiración, imaginación guiada y atención plena. CONCLUSIONES: Existe evidencia científica de la eficacia de BFB en la reducción de la ansiedad y sintomatología asociada, aún más evidente cuando se combina con otras técnicas.

BACKGROUND: Anxiety is an emotion, it translates into an adaptive and transient mechanism in response to stressors, it increases autonomic activity, favours the development and performance of the person, promotes creativity and interpersonal cooperation. Biofeedback (BFB) is a mind-body technique in which one learns how to modify physiology to improve one’s physical, mental, emotional and spiritual health. AIM: To identify the efficacy of BFB in reducing anxiety and associated symptoms in adults; know the instruments used in the assessment; analyze the complementarity of the BFB and other intervention techniques. METHODS: In this integrative literature review, the P[I][C]OD strategy was used to elaborate the research question: “How effective is BFB in reducing anxiety and associated symptomatology in adults?”. The research was conducted in March 2019 in the databases MEDLINE complete, CINAHL complete and Psychology & Behavioral Sciences Collection through the EBSCO platform, with descriptors (MESH): “biofeedback” and “anxiety”. Studies published 2015-2019 were included; Languages: Portuguese, English and Spanish; available in full text. Sample with 14 articles. RESULTS: BFB showed efficacy in controlling anxiety and associated symptoms in college students, pregnant women, athletes, people with anxiety disorder. In some studies, BFB is used with other techniques: relaxation, breathing, guided imagination and mindfulness. CONCLUSIONS: There is scientific evidence of the efficacy of BFB in reducing anxiety and associated symptomatology, even more evident when combined with other techniques.

DESCRIPTORES: Biofeedback; Ansiedad; Enfermería; Salud mental

Submetido em 31-12-2019 Aceite em 02-05-2020

KEYWORDS: Biofeedback; Anxiety; Nursing; Mental health

1 Enfermeira; Braga, Portugal, jessica.dias.costa.95@gmail.com 2 Licenciada em Enfermagem; Enfermeira na Unidade de Saúde Familiar D. Francisco Almeida, Abrantes, Portugal, mgbento.sebastiao@gmail.com 3 Mestre em Psiquiatria Cultural; Enfermeiro no Instituto Português de Oncologia de Coimbra Francisco Gentil, Coimbra, Portugal, helderalm@gmail.com 4 Licenciada em Enfermagem; Enfermeira no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal, sandra.sandratejo@gmail.com 5 Doutora em Ciências de Enfermagem; Professora adjunta na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal, rlopes@esenfc.pt Citação: Costa, J., Sebastião, G., Almeida, H., Tejo, S., & Lopes, R. (2021). Eficácia de programas de biofeedback na redução da ansiedade – revisão integrativa da literatura. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 59-66. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 59


INTRODUÇÃO A ansiedade é uma emoção sentida ocasionalmente pela pessoa, traduz-se num mecanismo adaptativo e transitório em resposta a situações stressoras, cursa com o aumento da atividade do sistema nervoso autónomo (SNA) simpático, favorecedora do desenvolvimento e desempenho da pessoa, promove criatividade e cooperação interpessoal (Than, 2007, citado por Saraiva e Cerejeira, 2014). Em Portugal, o Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental de 2013, mostra que a prevalência anual das perturbações psiquiátricas afeta 22,9% da população portuguesa, e que a prevalência das perturbações da ansiedade é de 16,5% (Direção Geral da Saúde, 2014). O BFB é uma técnica de autorregulação de mecanismos autónomos, dado que as informações facilitam a aprendizagem do controlo fisiológico e o feedback facilita a aprendizagem de qualquer habilidade. É considerado uma técnica mente-corpo, na qual se aprende como modificar a fisiologia de modo a melhorar a saúde física, mental, emocional e espiritual da própria pessoa (Frank, Khorshid, Kiffer, Moravec, & McKee, 2010). O BFB clínico pode ser usado para controlar sintomas de doenças, melhorar a saúde geral e o bemestar, através de treino para gestão do stresse e da ansiedade. Esta revisão integrativa da literatura objetivou: identificar a eficácia do BFB na redução da ansiedade e sintomatologia associada na pessoa adulta; conhecer os instrumentos utilizados na avaliação; analisar a complementaridade do BFB e outras técnicas de intervenção.

Consideraram-se critérios de inclusão: disponibilidade de texto integral; idioma português, inglês e espanhol; espaço temporal 2015-2019; e critérios de exclusão: impossibilidade de avaliação com BFB e outra patologia psiquiátrica prévia. A pesquisa realizada a 8 de março de 2019, na plataforma EBSCO – bases científicas MEDLINE complete, CINAHL complete, Psychology & Behavioral Sciences Collection; descritores “biofeedback” e “anxiety” e operador booleano “AND”, resultando na equação de pesquisa “biofeedback AND anxiety”, obrigatoriamente presente no abstract dos artigos. Da pesquisa nas bases de dados obtiveram-se 80 estudos, sendo removidos 15 por repetição. Posteriormente, os 65 estudos foram analisados por título e resumo, sendo excluídos 29. Nesta fase todos os revisores (4) participaram na decisão de inclusão/exclusão dos estudos. Seguidamente, na fase de leitura do texto completo, foram analisados 16 estudos dos quais 2 foram eliminados por não cumprirem os critérios de inclusão. Também nesta fase, os estudos foram analisados de forma independente pelos revisores e a decisão final de inclusão/exclusão foi discutida com todos os revisores (4), de modo a limitar o risco de erro. Assim, nesta RIL foram incluídos 14 estudos. O processo de seleção dos estudos está representado na figura 1. Figura 1 - Processo de seleção dos estudos

MÉTODOS Nesta revisão integrativa da literatura (RIL) utilizou-se o método P[I][C]OD na elaboração da questão de pesquisa. Definiu-se a população (P) pessoas com ansiedade; intervenção (I) programas de BFB para reduzir a ansiedade; comparação (C) avaliação antes e após a intervenção/comparação com outras intervenções; resultados (O) eficácia do programa BFB e desenho de estudo (D) primários: quantitativo e/ou qualitativo. Assim, a questão de pesquisa: “Qual a evidência científica sobre a eficácia do BFB nas pessoas com ansiedade?” com os objetivos: identificar a eficácia do BFB na redução da ansiedade e da sintomatologia associada na pessoa adulta; conhecer os instrumentos utilizados na avaliação. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 60

RESULTADOS A síntese dos resultados e sua organização é apresentada na Tabela 1.


Intervenção breve de biofeedback em estudantes universitários ansiosos Autores: Chaló, P., Pereira, A., Batista, P., Sancho L. Ano/País: 2017/Portugal Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo quasi-experimental com objetivo de verificar o impacto de programa curto de BFB em 50 estudantes universitários do 1º ano. Utilizou escala traço (STAI-Y2) em dois grupos com score superior a 75%. 25 estudantes receberam 15 minutos de sessão, durante 8 semanas. O GC não recebeu nenhuma intervenção. Em cada sessão foi utilizado BFB X-Pert software e pedido aos participantes que realizassem exercícios respiratórios e encorajados a pensamentos e emoções positivas.

Instrumentos

SCL (Eletromiografia de superfície); escala STAI-Y2

Resultados

Verificou-se uma redução significativa de ansiedade e stress pós-intervenção avaliados pela STAI-Y2. No grupo controlo verificou-se uma diminuição não significativa. O programa demonstrou efeitos benéficos na redução da ansiedade em estudantes universitários.

Effect of short-term heart rate variability biofeedback on long-term abstinence in alcohol dependent patients – a one-year follow-up Autores: Penzlin, A., Barlinn, K., Illigens, B., Weidner, K., Siepmann, M., Siepmann, T. Ano/País: 2017/Alemanha Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo randomizado controlado com objetivo de verificar o impacto do BFB por variabilidade de frequência cardíaca (VFC) em dependentes de álcool e a taxa de abstinência, um ano após a aplicação do programa. Dos 48 participantes, apenas 27 completaram o estudo, sendo 15 do grupo de estudo e 12 do grupo de controlo. O VFC - BFB foi aplicado 1 vez por semana durante 2 semanas. O teste psicométrico, a função neurovascular e a função cardíaca foi avaliada antes e imediatamente após a última sessão de BFB.

Instrumentos

VFC - BFB

Resultados

Verificou-se que uso VFC poderá ser benéfico no aumento da abstinência alcoólica a longo prazo.

Limitações

O elevado número de pessoas que desistiram do estudo pode ter enviesado os resultados, pois presume-se que estas pessoas possam ter recaído.

Effect on Healthcare Utilization of Incorporating Biofeedback into the Management of Pain and Anxiety in Adolescents Autores: Sahler, O., Zhao, J. Ano/País: 2017/ EUA Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo quasi-experimental com objetivo de avaliar a eficácia de um programa de BFB-termal, combinado com técnicas de relaxamento no controlo da dor e ansiedade em adolescentes. Selecionados 52 pacientes em período de 18 meses. Os pacientes selecionados tinham indicação para sessões de relaxamento, ao que se acrescentou o BFB-termal e incluídos os que foram a consulta, telefone/e-mails, as visitas às urgências e as hospitalizações antes e depois da primeira aplicação de BFB. Durantes as sessões o paciente é incentivado a pensamentos e emoções positivas.

Instrumentos

BFB termal e técnicas de relaxamento

Resultados

Verificou-se redução significativa dos níveis de dor/ansiedade; redução de consultas físicas e por telefone/e-mail. Redução pouco significativa nas idas à urgência. A utilização do BFB-termal combinada com técnicas de relaxamento pode reduzir significativamente recursos na saúde e custos associados.

Effects of heart rate variability biofeedback during exposure to fear-provoking stimuli within spider-fearful individuals: study protocol for a randomized controlled trial Autores: Schafer, S., Ihmig, F., Lara, H., Neurohr, F., Kiefer, S., Staginnus, M., Lass-Hennemann, J., Michael, T. Ano/País: 2018/Alemanha Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo randomizado controlado com o objetivo de estudar o efeito da utilização do VFC-BFB antes e durante a exposição em pessoas com aracnofobia (n=80). Participantes frequentaram sessão de treino onde praticam 2 tarefas (VFC-BFB e 1 tarefa de pseudo-BFB motor ou 2 tarefas de pseudo-BFB motoras). Treino em casa das tarefas durante 6 dias. Uma semana depois, durante a sessão de exposição, assistem a vídeo de 16 min. Constituídos 4 grupos: o grupo 1, VFC-BFB e uma pseudo-tarefa motora antes da exposição e utiliza o VFCBFB durante a exposição; grupo 2, recebe o mesmo treino, mas continua a tarefa de pseudo-BFB durante a exposição; grupo 3, pratica duas tarefas de pseudo-BFB e continua uma delas durante a exposição; grupo 4, treina duas tarefas de pseudo-BFB e não tem tarefa adicional durante a exposição.

Resultados

Os resultados mostram evidência de eficácia do BFB VFC durante a exposição. Este estudo foi o primeiro a utilizar o BFB pré-treinado durante a exposição ao medo. Este tipo de programa representa uma ferramenta fácil de usar e capaz de melhorar os resultados da terapia de exposição.

Resting Heart Rate Variability and the Effects of Biofeedback Intervention in Women With Low-Risk Pregnancy and Prenatal Childbirth Fear Autores: Narita,Y., Shinohara, H., Kodama, H. Ano/País: 2018/Japão Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo quasi-experimental com objetivo de investigar se gestantes de baixo risco com medo do parto durante o último trimestre demonstravam diferenças significativas em relação à variabilidade da frequência cardíaca (VFC) de repouso e avaliar se VFC-BFB pode reduzir esse medo e alterar a VFC em repouso. Foram estabelecidos os índices de VFC em 97 gestantes de baixo risco entre a 32ª-34ª semana gestação, e aconselhado às mulheres com W-DEQ≥66 (n=40) a realizar treino de VFC-BFB em casa. Reavaliação 3-4 semanas depois (36ª-37ª semana gestação), independentemente gestantes praticarem o método.

Instrumentos

VFC; Wijma delivery expectance/experience questionnaire (W-DEQ versão A); Pittsburg Sleep Quality Index (PSQI); Visual analog scale (Fatigue-VAS)

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Resultados

O medo do parto não teve efeito significativo nos índices de VFC em repouso, quando o ponto de corte W-DEQ≥66 (definido convencionalmente). No entanto, mulheres com scores Q≥90 (n=5) tiveram um poder significativamente menor de alta frequência do que do GC. Os scores do W-DEQ diminuíram significativamente nas mulheres que realizaram a VFC-BFB (n=18), mas não houve mudança naqueles que não realizaram o método (n=20). Os resultados sugerem que scores W-DEQ muito altos (≥90), e não o critério convencional (W-DEQ≥66), do medo do parto foram atribuídos à baixa atividade parassimpática entre gestantes de baixo risco e que a VFC-BFB da intervenção pode efetivamente diminuir o medo do parto nessas mulheres.

The Effectiveness of Diaphragmatic Breathing Relaxation Training for Reducing Anxiety Autores: Chen, Y., Huang, X., Chien, C., Cheng, J. Ano/País: 2016/ Tailândia Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo randomizado controlado com objetivo de avaliar a eficácia de um programa de treino de relaxamento com respiração diafragmática na redução da ansiedade. Pré-teste e pós-teste experimental com medidas repetidas, utilizou BFB condutividade da pele, fluxo sanguíneo periférico, frequência cardíaca e frequência respiratória. 46 participantes distribuídos aleatoriamente, através tabela números aleatórios, grupo DBR (n=24) e GC (n=22). 30 participantes completaram ciclo de 8 semanas: 15 no grupo DBR e 15 no GC. 16 participantes não continuaram o tratamento antes de completar o pós-teste.

Instrumentos

BFB para condutividade da pele, fluxo sanguíneo periférico, FC e FR; Beck Anxiety Inventory (BAI)

Resultados

O GE obteve redução significativa nos scores do BAI, temperatura periférica, frequência cardíaca e frequência respiratória nas 8 sessões de treino semanal e na taxa de respiração.

The House is Crashing down on me: Integrating Mindfulness, Breath Training, and Heart Rate Variability Biofeedback for an Anxiety Disorder in a 71-years-old Caregiver Autores: Moss, D. Ano/País: 2016/EUA Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo de caso com objetivo de demonstrar eficácia do mindfulness, treino de respiração e BFB-VFC na perturbação de ansiedade; desenvolver estratégias de autorregulação e alteração do estilo de vida, de modo a aumentar a resiliência do cuidador. Narrativa de caso de pessoa reformada, 71 anos, cuidadora do marido com demência, cujo stress do papel de cuidador desencadeou a recorrência de perturbação de ansiedade previamente tratada.

Instrumentos

Treino de respiração; Mindfulness; BFB-VFC; Beck Depression e Anxiety Inventory

Resultados

Caso ilustra o valor da atenção plena, treino de respiração BFB-VFC no transtorno de ansiedade, bem como o esforço para instilar habilidades de autorregulação sustentáveis e mudanças de estilo de vida para maior resiliência nessa situação de longo prazo.

Walking versus biofeedback: a comparison of acute interventions for stressed students Autores: Meier, N., Welch, A. Ano/País: 2015/EUA Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo quasi-experimental com objetivo de comparar o efeito da respiração guiada com BFB versus intervenções de exercícios sobre a variabilidade da frequência cardíaca, estado de ansiedade e efeitos. Avalia estudantes (n=32) com altos níveis de estresse percebido, que completam três intervenções de 10 minutos em dias separados: respiração guiada com BFB, caminhada individual (Exercício) e uma condição de controlo da atenção de estudo tranquilo (Silêncio Estudo). Ansiedade e afeto foram medidos antes, imediatamente após (Pós 0) e 15 min após (Pós 15) a intervenção. A VFC foi avaliada pré e pós intervenção com eletrocardiograma.

Instrumentos

STAI; Lista de verificação do adjetivo de desativação de ativação (AD-ACL). Escalas: PSS

Resultados

O BFB reduziu mais a ansiedade que a condição de exercício (Pré e Pós): BFB d = -0,48, Exercício d = -0,13). Em segundo lugar, o Exercício aumentou temporariamente a energia (Pré para Pós 0: d = 0,67), enquanto o BFB aumentou temporariamente a calma (Pré para Pós): d = 0,51). Todas as condições aumentaram significativamente a variabilidade da frequência cardíaca total (p <0,05).

Biofeedback-Aided Relaxation Training Helps Emotional Disturbances in Undergraduate Students Before Examination Autores: Tahsini, Z., Hosseini, S., Kianersi, F., Rashn, S., Majdara, E. Ano/País: 2017/Irão Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo randomizado controlado com objetivo de determinar a eficácia do treino de relaxamento auxiliado por BFB (BFRT) no alivio de sintomas de depressão, ansiedade e stress, em estudantes universitários e na preparação para os exames finais. Participaram 29 estudantes, sexo masculino e feminino, com níveis elevados depressão, ansiedade e stress. Foram escolhidos aleatoriamente para BFRT ou GC. O GE recebeu 8 sessões de BFRT, durante 4 semanas, nas quais foram treinados para diminuir a eletromiografia (EMG), a taxa de respiração (RESP) e para aumentar a temperatura da pele (TEMP).

Instrumentos

Depression, anxiety and stress scale (Lovibond and Lovibond 1995); BFB 2000 x-pert System Version 4 e os módulos EMG, RESP, TEMP

Resultados

Estudantes que receberam o BFRT revelaram reduções significativas nos sintomas quando comparados aos do grupo de controlo. Aqueles que receberam BFRT também mostraram mudanças significativas para as três modalidades psicofisiológicas alvo (EMG, RESP e TEMP). Concluiu-se que o BFRT pode ser útil para reduzir os sintomas de distúrbios emocionais em estudantes universitários durante um período particularmente stressante e que isso, por sua vez, pode ajudar a promover a saúde psicológica geral.

A RCT Comparing Daily Mindfulness Meditations, Biofeedback Exercises, and Daily Physical Exercise on Attention Control, Executive Functioning, Mindful Awareness, Self-Compassion, and Worrying in Stressed Young Adults Autores: Bruin, E., Zwan, J., Bögels, S. Ano/País: 2016/Holanda

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Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo randomizado controlado com objetivo de avaliar efeitos de meditações diárias de mindfulness (MM) versus VFC-BFB e exercício físico diário (PE) no controlo da atenção, função executiva, consciência consciente, auto compaixão e preocupação. Estudo randomizado, com 75 adultos jovens, 18 a 40 anos, com níveis elevados de stress, randomizados para MM, VFC-BFB e PE, com avaliações no pré-teste, pós-teste e acompanhamento. Os 3 grupos foram alvo de intervenções autoguiadas durante 5 semanas. Os processos cognitivos de controlo da atenção, função executiva, consciência consciente, autocompaixão, preocupação foram avaliados pré-teste, pós-teste e acompanhamento 6 semanas depois. Os participantes foram mantidos cegos para a intervenção, até ao final do pré-teste.

Instrumentos

VFC-BFB; Attention Control Scale (ACS); (BRIEF-A); Five Facet Mindfulness Questionnaire (FFMQ-SF); Self-Compassion Scale (SCSSF); Questionário de Preocupação do Estado de Penn (PSWQ)

Resultados

As meditações diárias autorreguladas em geral, o VFC-BFB diário e os exercícios físicos diários levam a um melhor controlo da atenção, funcionamento executivo, aumento da conscientização e autocompaixão conscientes e menos preocupações. A meditação consciente não superou o VFC-BFB ou o exercício físico diário em relação a esses processos cognitivos.

Effects of Heart Rate Variability Biofeedback on EEG Alpha Asymmetry and Anxiety Symptoms in Male Athletes: A Pilot Study Autores: Dziembowska, I., Izdebski, P., Rasmus, A., Brudny, J., Grzelczak, M., Cysewski, P. Ano/País: 2015/Polónia Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo randomizado controlado com objetivo de investigar se o BFB (respiração rítmica, emoções positivas ativamente auto-geradas e dispositivo portátil de BFB) induz alterações nos valores de VFC, EEG dos atletas e na auto-estima e ansiedade percecionadas. Estudo experimental com GC (n=21) e GE (n=20), participaram jovens atletas do sexo masculino, idade entre 16 e 21 anos, com pelo menos 3 anos de prática desportiva de futebol e basquete. O GE foi submetido a programa de 10 sessões em 3 semanas de treino de BFB de VFC. Foram avaliados os níveis de ansiedade antes e após em ambos os grupos através do STAI.

Instrumentos

VFC e EEG (emWave PC); STAI

Resultados

Em ambos os grupos não se verificaram diferenças significativas ao nível da autoestima e ao nível da ansiedade traço, porém os níveis de ansiedade estado reduziram de forma significativa no GE, bem como melhorias a nível da frequência cardíaca e no EEG.

Effects of heart rate variability biofeedback training in athletes exposed to stress of university examinations Autores: Deschodt-Arsac, V., Lalanne, R., Spiluttini, B., Bertin, C., Arsac, L. Ano/País: 2018/ França Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo experimental com objetivo de investigar potenciais benefícios do treino de BFB-VFC em jovens atletas de competição expostos ao stress de exames universitários, nomeadamente a persistência dos benefícios após o término da intervenção. Participantes distribuídos aleatoriamente (GE=12; GC=6), GE submetido programa de 5 semanas de BFB-VFC, no qual têm de respirar 6 ciclos/min por período de 5 minutos, duas vezes por dia (manhã (8h-10h) e noite (19h-22h). Antes e depois do programa foi aplicada o STAI; testes adaptados de Skinner e Brewer (traços de ansiedade). Participantes submetidos a exames como um evento stressor. O exame 1, realizado após 5 semanas do programa e o exame 2, 12 semanas após o términos do programa, foi avaliada a VFC em ambos os momentos.

Instrumentos

VFC; software: URGOFeel; STAI

Resultados

No exame 1 não se verificaram diferenças na ansiedade estado entre GE e GC, mas após 12 semanas, no exame 2, verificou-se diminuição da ansiedade estado nos indivíduos submetidos ao programa VFC-BFB. No GC os níveis ansiedade estado mantiveram-se altos em ambos os exames.

Heart rate variability biofeedback: implications for cognitive and psychiatric effects in older adults Autores: Jester, D., Rozek, E., McKelley, R. Ano/País: 2018/EUA Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo quasi-experimental com objetivo de estudar a eficácia do BFB-VFC como novo tratamento para diminuição de sintomas psiquiátricos e melhorar a função cognitiva em idosos. Os 20 participantes idosos com idades entre 63 e 96 anos (excluídos idosos com défices cognitivos graves), a maioria do sexo feminino (70%) e com patologias cardíacas (45%) e psiquiátricas (depressão, ansiedade e bipolaridade). Realizada avaliação pré e pós teste, com recurso STAI e BFB com 3 semanas de duração, com pelo menos 2 sessões semanais, perfazendo um total de 6 sessões de 30 minutos cada.

Instrumentos

VFC, software: LLC emWave Pro; STAI

Resultados

Verificou-se uma diminuição estatisticamente significativa na ansiedade de estado e na ansiedade de traço, além de melhorias a nível da cognição e da perturbação depressiva.

Reducing Anxiety and Improving Academic Performance Through a Biofeedback Relaxation Training Program Autores: Aritzeta, A., Soroa, G., Balluerka, N., Muela, A., Gorostiaga, A., Aliri, J. Ano/País: 2017/Espanha Tipo/ Objetivo/ Descrição do estudo

Estudo quasi-experimental com objetivo de analisar a influência de programa de treino de relaxamento de BFB na ansiedade e nos resultados académicos em estudantes do 2º ano de psicologia (GE=152; GC=81), mais de 75% do sexo feminino. Programa de 5 sessões BFB associado a 3 atividades de treino de respiração profunda, relaxamento muscular e imaginação guiada, duração 8 semanas, participantes submetidos a 3 testes de avaliação académica, feita avaliação pré e pós-teste.

Instrumentos

VFC, software: emWave; escala: STAI

Resultados

O GE demonstrou diferenças estatisticamente significativas depois de submetidos ao programa de BFB, evidenciou níveis de ansiedade traço e estado mais baixos e melhor desempenho académico comparativamente ao GC, níveis de ansiedade traço e estado semelhantes entre si.

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DISCUSSÃO Os estudos analisados revelam a eficácia do BFB no controlo de ansiedade em jovens universitários, grávidas, atletas, pessoas com perturbações de ansiedade e comportamento aditivo. Também a RIL de Morais, Correia, Vicente e Lopes (2018), na maior parte dos estudos analisados, verificou eficácia do BFB na redução de ansiedade e da sintomatologia associada bem como da complementaridade com outras técnicas. Na utilização de VFC-BFB, verificaram-se benefícios no aumento da abstinência alcoólica a longo prazo (Penzlin et al., 2017); na redução da ansiedade durante a exposição em pessoas com fobia de aranhas (Schafer, et al., 2018); diminuição do medo do parto em grávidas de baixo risco com medo do parto pré-natal (Narita, Shinohara & Kodama, 2018); eficácia na diminuição dos níveis de ansiedade estado em estudantes atletas, após 12 semanas (Dziembowska et al.,2015), reforço da autorregulação e capacidade de resiliência no cuidador informal (Moss, 2016); diminuição de sintomas psiquiátricos (ansiedade traço e estado), melhoria da cognição e da perturbação depressiva em idosos (Jester, Rozek & McKelley, 2018). Na complementaridade com outras intervenções, o BFB reduziu mais a ansiedade e a caminhada aumentou os níveis de energia, contribuindo para o aumento da variação da frequência cardíaca em estudantes universitários (Meier & Welch, 2015); o treino de respiração profunda, relaxamento muscular e imaginação guiada com universitários revelou eficácia nos níveis de ansiedade traço e na ansiedade estado (Aritzeta, et al., 2017); meditação diária autorregulada, VFC-BFB diário e exercícios físicos diários melhoraram controlo da atenção, funcionamento executivo, aumento da conscientização e autocompaixão conscientes e menos preocupações em adultos jovens com ansiedade (Bruin, Zwan & Bögels, 2016); exercícios respiratórios, pensamentos e emoções positivas durante o SCL-BFB em universitários evidenciou redução significativa da ansiedade (Chaló, Pereira, Batista & Sancho, 2017); técnicas de relaxamento e BFB termal no tratamento da dor e ansiedade em adolescentes, pode reduzir significativamente recursos na saúde e custos associados (Sahler & Zhao, 2017). Duração dos programas de BFB variou entre 1 sessão/ semana durante 2 semanas (Penzelin, et al., 2017) e 8 semanas (Chaló, et al., 2017).

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Tamanho amostra variou de um (Moss, 2016) e mais de duzentos participantes (Aritzeta et al., 2017). Instrumento utilizado na avaliação da ansiedade: STAI (Chaló et al., 2017; Deschodt-Arsac, Lalanne, Spiluttini, Bertin & Arsac, 2018; Dziembowska et al., 2015; Meier & Welch, 2015; Schäfer et al., 2018) e BAI (Chen, Huang, Chien & Cheng, 2016; Moss, 2016). CONCLUSÃO Os resultados evidenciam que a aplicação do BFB é eficaz como recurso terapêutico no controlo da ansiedade e da sintomatologia associada, resultante de diversas situações, em jovens universitários, grávidas, atletas, idosos e pessoas com diagnóstico de perturbação de ansiedade. Esta eficácia torna-se ainda mais evidente quando combinado com outras técnicas. Paralelamente, os resultados apontam também a eficácia do BFB na redução da dor, no desempenho académico de jovens universitários, na cognição, na perturbação depressiva em idosos e no tratamento de pessoas com dependência de álcool. A pesquisa revelou escassez de estudos com BFB em Portugal e, considerando a evidência de eficácia, pode ter interesse a replicação de alguns estudos realizados noutros países. O tamanho da amostra e a duração dos programas podem ser fatores condicionantes dos resultados finais, sugerindo-se a análise futura de estudos sujeitos às mesmas condições de forma a obter resultados com maior validade, permitindo a sua extrapolação. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O BFB como intervenção terapêutica não-farmacológica, ao dispor do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica, permite uma intervenção psicoterapêutica no controlo da ansiedade e da sintomatologia associada, na pessoa doente, mas também na pessoa exposta a situações stressoras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aritzeta, A., Soroa, G., Balluerka, N., Muela, A., Gorostiaga, A., & Aliri, J. (2017). Reducing anxiety and improving academic performance through a biofeedback relaxation training program. Applied Psychophysiology Biofeedback, 42(3), 193–202. Doi: 10.1007/s10484017-9367-z


Bruin, E. I., Zwan, J. E., & Bögels, S. M. (2016). A RCT comparing daily mindfulness meditations, biofeedback exercises, and daily physical exercise on attention control, executive functioning, mindful awareness, self-compassion, and worrying in stressed young adults. Mindfulness, 7(5), 1182–1192. Doi: 10.1007/ s12671-016-0561-5 Chaló, P., Pereira, A., Batista, P., & Sancho, L. (2017). Brief biofeedback intervention on anxious freshman university students. Applied Psychophysiology Biofeedback, 42(3), 163–168. https://doi.org/10.1007/ s10484-017-9361-5 Chen, Y. F., Huang, X. Y., Chien, C. H., & Cheng, J. F. (2016). The effectiveness of diaphragmatic breathing relaxation training for reducing anxiety. Perspectives in Psychiatric Care, 53(4), 329–336. Doi: 10.1111/ ppc.12184 Deschodt-Arsac, V., Lalanne, R., Spiluttini, B., Bertin, C., & Arsac, L. M. (2018). Effects of heart rate variability biofeedback training in athletes exposed to stress of university examinations. PLoS ONE, 13(7), 1–13. Doi: 10.1371/journal.pone.0201388 Direção-Geral da Saúde. (2014). Portugal: Saúde mental em números - 2014. Disponível em: https://www. dgs.pt/estatisticas-de-saude/estatisticas-de-saude/ publicacoes/portugal-saude-mental-em-numeros2014-pdf.aspx Dziembowska, I., Izdebski, P., Rasmus, A., Brudny, J., Grzelczak, M., & Cysewski, P. (2015). Effects of heart rate variability biofeedback on EEG alpha asymmetry and anxiety symptoms in male athletes: A pilot study. Applied Psychophysiology Biofeedback, 41(2), 141– 150. Doi: 10.1007/s10484-015-9319-4 Frank, D. L., Khorshid, L., Kiffer, J. F., Moravec, C. S., & McKee, M. G. (2010). Biofeedback in medicine: Who, when, why and how? Mental Health in Family Medicine, 7(2), 85–91. Disponível em: https://www.ncbi. nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2939454/ Jester, D. J., Rozek, E. K., & McKelley, R. A. (2018). Heart rate variability biofeedback: Implications for cognitive and psychiatric effects in older adults. Aging and Mental Health, 23(5), 574–580. Doi: 10.1080/13607863.2018.1432031

Meier, N. F., & Welch, A. S. (2015). Walking versus biofeedback: A comparison of acute interventions for stressed students. Anxiety, Stress and Coping, 29(5), 463–478. Doi: 10.1080/10615806.2015.1085514 Morais, H., Correia, M., Vicente, S., & Lopes, R. (2018). Eficácia do biofeedback na redução da ansiedade: Sua potencialidade como intervenção do especialista em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica. Revista Investigação Em Enfermagem, 9–19. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/323858837_ Eficacia_do_Biofeedback_na_reducao_da_ansiedade_-_sua_potencialidade_como_intervencao_do_ especialista_em_enfermagem_de_saude_mental_e_ psiquiatrica/link/5ab02178458515ecebeb15d0/ download Moss, D. (2016). The house is crashing down on me: Integrating mindfulness, breath training, and heart rate variability biofeedback for an anxiety disorder in a 71-year-old caregiver. Biofeedback, 44(3), 160–167. Doi: 10.5298/1081-5937-44.3.02 Narita, Y., Shinohara, H., & Kodama, H. (2018). Resting heart rate variability and the effects of biofeedback intervention in women with low-risk pregnancy and prenatal childbirth fear. Applied Psychophysiology Biofeedback, 43(2), 113–121. Doi: 10.1007/s10484018-9389-1 Penzlin, A. I., Barlinn, K., Illigens, B. M. W., Weidner, K., Siepmann, M., & Siepmann, T. (2017). Effect of shortterm heart rate variability biofeedback on long-term abstinence in alcohol dependent patients - a one-year follow-up. BMC Psychiatry, 17(1), 1–8. Doi: 10.1186/ s12888-017-1480-2 Sahler, O. J. Z., & Zhao, J. (2017). Effect on healthcare utilization of incorporating biofeedback into the management of pain and anxiety in adolescents. Alternative and Complementary Therapies, 23(4), 139–143. Doi: 10.1089/act.2017.29122.ojs Saraiva, S. B., & Cerejeira, J. (2014). Psiquiatria fundamental. Lisboa: Lidel.

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Schäfer, S. K., Ihmig, F. R., Lara H., K. A., Neurohr, F., Kiefer, S., Staginnus, M., … Michael, T. (2018). Effects of heart rate variability biofeedback during exposure to fear-provoking stimuli within spider-fearful individuals: Study protocol for a randomized controlled trial. Trials, 19(1), 1–11. Doi: 10.1186/s13063-018-2554-2

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Tahsini, Z. G., Hosseini, S. M., Farahnaz, K., Rashn, S., & Majdara, E. (2017). Biofeedback-aided relaxation training helps emotional disturbances in undergraduate students before examination. Applied Psychophysiology Biofeedback, 42(4), 299–307. Doi: 10.1007/ s10484-017-9375-z


Artigo de Revisão

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0293

10 EFEITOS DO MINDFULNESS NA SAÚDE MENTAL DOS

ADOLESCENTES: UMA SCOPING REVIEW | Patrícia Ferreira1; Maria Varanda2; Maria José Nogueira3 |

RESUMO CONTEXTO: O mindfulness ou atenção plena, foca-se intencionalmente no momento presente, aceitando a experiência sem crítica ou julgamento. Os benefícios das intervenções baseadas em mindfulness têm sido demonstrados em diversas áreas, incluindo a Saúde Mental dos adolescentes. OBJETIVO: Identificar os efeitos do mindfulness na saúde mental dos adolescentes; identificar as perturbações mentais mais comummente alvo de Mindfulness-Based Intervention (MBI). MÉTODO: Scoping Review de acordo com o manual do Joanna Briggs Institute Institute (JBI) (2015). Pesquisa realizada nos motores de busca/bases de dados da EBSCO e PubMed. RESULTADOS: Foram identificadas 107 publicações não repetidas e, ao final do processo de elegibilidade e exclusão, incluíram-se 7 publicações na amostra final. CONCLUSÕES: O mindfulness em adolescentes é usado tanto na promoção de saúde mental como na prevenção e tratamento da doença mental. Os efeitos MBI em adolescentes: aumento da autoestima, reduz ansiedade, melhora bem-estar geral, qualidade de sono, a tomada de decisão, a regulação emocional e controlo de impulsos. PALAVRAS-CHAVE: Atenção plena; Saúde mental; Adolescentes

RESUMEN

ABSTRACT

“Efectos de la atención plena en la salud mental de los adolescentes: Una revisión de alcance”

“Effects of mindfulness on adolescent mental health: A scoping review”

CONTEXTO: La atención plena se enfoca intencionalmente en el momento presente, aceptando la experiencia sin crítica ni juicio. Las intervenciones basadas en la atención plena o mindfulness (MBI) ha mostrado beneficios en la salud mental de los adolescentes. OBJETIVO: Identificar los efectos de la atención plena en la salud mental de los adolescentes; Identificar los trastornos mentales más comúnmente afectados por Mindfulness-Based Intervention (MBI). MÉTODOS: Revisión del alcance según el Manual del Instituto Joanna Briggs (2015). Búsqueda realizada en buscadores/bases de datos de EBSCO y PubMed. RESULTADOS: Se identificaron un total de 107 publicaciones no repetidas y, al final del proceso de elegibilidad y exclusión, se incluyeron 7 publicaciones en la muestra final. CONCLUSIÓN: El MBI en adolescentes se utiliza tanto para la promoción de la salud mental como para la prevención y el tratamiento de enfermedades mentales. Efectos de la atención plena en adolescentes: aumento de la autoestima, reduce la ansiedad, mejora el bienestar general, la calidad del sueño, la toma de decisiones, la regulación emocional y el control de los impulsos.

BACKGROUND: Mindfulness is the focus on the present moment, accepting the entire experience without criticism or judgment. The benefits of mindfulness-based interventions (MBI) have been proved in several areas, including adolescent mental health. AIM: To identify the effects of MBI on adolescent mental health; To identify the mental disorders most commonly targeted by Mindfulness-Based Intervention (MBI). METHODS: Scoping review according to Joanna Briggs Institute (2015) recommendations. Research was done on EBSCO and PubMed data bases and search engines. RESULTS: 107 different publications were found, and after exclusion and eligibility, 7 papers were included as the sample for this scoping review. CONCLUSIONS: MBI can be used to prevent and treat mental health problems in adolescents. In addition, as a result of MBI, increased selfesteem, improved sleep quality, increased self-esteem, decision making, improved emotional regulation and impulse control, as well as increased well-being, have been demonstrated.

DESCRIPTORES: Atención plena; Salud mental; Adolescentes

KEYWORDS: Mindfulness; Mental health; Adolescents Submetido em 31-12-2019 Aceite em 18-06-2020

1 Pós-graduada em Enfermagem de Saúde Mental; Enfermeira no Instituto Português de Oncologia, Serviço de Cirurgia Geral, Lisboa, Portugal, pstferreira@gmail.com 2 Pós-graduada em Enfermagem de Saúde Mental; Enfermeira no Hospital Pulido Valente, Unidade de Insuficiência Respiratória, Lisboa, Portugal, maria31varanda@gmail.com 3 Doutora em Enfermagem; Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Investigadora no CINTESIS; Professora Auxiliar na Universidade Católica Portuguesa, Instituto de Ciências da Saúde Lisboa, Lisboa, Portugal, nogueira.mjc@gmail.com Citação: Ferreira, P., Varanda, M., & Nogueira, M. J. (2021). Efeitos do mindfulness na saúde mental dos adolescentes: Uma scoping review. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (spe 8), 67-72. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 67


INTRODUÇÃO O Mindfulness ou Atenção Plena, é uma antiga prática budista que se define como um estado de consciência que emerge ao prestar atenção propositada no momento presente e aceitando a experiência sem crítica ou julgamento (Kabat-Zinn, 2003). Requer o comprometimento com um processo sistemático de auto-observação, autointerrogação e ação consciente. As terapias baseadas em mindfulness surgiram no fim dos anos 70, início dos anos 80, com o Mindfulnessbased Stress Reduction, desenvolvido por Kabat-Zinn (New Zealand Mental Health Foundation [NZMHF], 2011; Shapero, Greenberg, Pedrelli, Jong & Desbordes, 2018). Enquadram-se nas terapias de terceira geração e incluem diversas modalidades de intervenção, como “acceptance and commitment therapy, dialectical behavior therapy, mindfulness- based cognitive therapy (…)” (Hayes & Hoffman, 2017, p. 245). A aplicação dos princípios do mindfulness causa uma mudança na perspetiva (uma re-perspetiva) através da qual o praticante adquire maior capacidade de ser objetivo sobre as suas próprias experiências e estados internos (NZMHF, 2011); as MBI visam uma transformação dos padrões rígidos de interpretação das sensações internas para um padrão de interpretação objetiva e aceitação das experiências (NZMHF, 2011). Vários autores têm vindo a descrever benefícios que vão para além da componente física (Creswell, 2017), como: maior flexibilidade e controlo da atenção, dos processos de aprendizagem, melhoria da memória de trabalho, da resolução de problemas, redução dos pensamentos automáticos e melhoria da regulação emocional (Creswell, 2017; Perry-Parrish, CopelandLinder, Webb, Shields & Sibinga, 2016). Apesar do seu surgimento há mais de 40 anos, estas terapias de terceira geração têm aumentado ao longo dos anos. Segundo a NZMHF (2011) existem quatro tipos de intervenção mais comuns baseadas em mindfulness: mindfulness-based stress reduction – MBSR, mindfulness-based cognitive therapy – MBCT, dialectical behaviour therapy – DBT e acceptance and commitment therapy – ACT. Para a população adolescente, tem havido um empenho na implementação, em vários países, de programas escolares de mindfulness com vista à promoção do bem-estar e do desenvolvimento saudável, assim como na prevenção das perturbações, por exemplo, relacionadas com o stress (Broderick & Jennings, 2012).

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Apesar dos estudos com adolescentes serem limitados em número, existe evidência comprovada a nível da capacidade de atenção, das competências sociais, incluindo ao nível de jovens com défices de aprendizagem, bem-estar geral e redução de ansiedade, depressão e sintomas somáticos (Broderick & Jennings, 2012). Apesar das escassas publicações encontradas em pesquisas prévias, esta scoping review foi realizada com o objetivo de conhecer os efeitos de intervenção baseada em mindfulness na saúde mental do adolescente, sem restrição à área de enfermagem. Como objetivos minor, visou-se conhecer as perturbações mentais nas quais se tem aplicado as MBI e as modalidades ou tipos mais utilizadas. MÉTODOS A presente scoping review foi realizada com base no manual de elaboração de scoping review de Joanna Brigs Institute (2015). Como questão norteadora da scoping review, considerámos a seguinte: qual o efeito das MBI na saúde mental dos adolescentes? Foi utilizada estratégia PCC: população (P) adolescentes (13 aos 18 anos); conceito (C) intervenções de mindfulness (sem restrição); contexto (C) área de saúde mental do adolescente (sem especificar). A pesquisa foi feita em dois motores de pesquisa individuais: EBSCO (bases: Cochrane, Psychology and Behavioral Sciences Collection, Academic Search Complete, Library, Information Science & Technology Abstracts) e PubMed, entre março e abril de 2019. Frase boleana: Mindfulness AND Mental Health AND Adolescents; sendo os termos identificadores únicos MeSH e DeCS (D064866, D008603 e D000293). Limitou-se a pesquisa por ano de publicação (>2014), acesso completo gratuito, idade (13-18), idioma (português e inglês) e termos thesaurus. Para a seleção das publicações foi usado o fluxograma PRISMA (JBI, 2015). O processo de seleção das publicações a incluir está esquematizado na figura 1, no formato de fluxograma PRISMA (JBI, 2015). A amostra final está expressa no quadro 1, onde constam dados como o título, autoria, país onde foi realizada a publicação, objetivo, população, conceito, contexto, tipo de estudo e resultados principais.


Figura 1 - Fluxograma PRISMA

Quadro 1 - Resumo das publicações incluídas na amostra final Título

Autor/Ano

Objetivos

População

Metodologia

Resultados

Mindfulness-based stress reduction in adolescents with mental disorders: A randomised clinical trial

Díaz-González, M. C, Dueñas, C.P, Elvira, J.A.M e Vázquez, V.S 2018

Avaliar os efeitos de um programa de MBSR em adolescentes que recorrem a serviços de saúde mental com perturbações mentais, não internados

Adolescentes (13 a 16 anos) com perturbações mentais

Teste clínico randomizado

Tratamento promissor para adolescentes com transtornos mentais. Efeito significativo sobre depressão, ansiedade e paranóia

Using mindfulness with treatment of dual diagnosis in adolescents

Bayles, C. e Vilalobos, T 2015

Discursar sobre o tratamento de adolescentes com diagnóstico dual, incluindo terapias baseadas em mindfulness

Adolescentes (geral, sem população de estudo-clínico)

Revisão narrativa

Terapias baseadas em mindfulness (como MDT, p.e.) têm grande eficácia no tratamento

Mindfulness Training as an Intervention for Substance User Incarcerated Adolescents: A Pilot Grounded Theory Study

Himelstein, S., Saul, S., GarciaRomeu, A. e Pinedo, D. 2014

Desenvolver um modelo conceptual de ensino mindfulness em adolescentes que se encontram presos e que abusam de substâncias

Adolescentes (15 a 18 anos)

Estudo Piloto, Existe estrutura conde teoria fun- cetual para o ensino de damentada mindfulness a jovens encarcerados com abuso de substâncias

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The impact of mindfulness meditation training on executive functions and emotion dysregulation in an Iranian sample of female adolescents with elevated ADHD symptoms

Kiani, B., Hadianfard, H. e Mitchel, J. T. 2017

Avaliar o impacto do treino do mindfulness nas funções executivas e de desregulação emocional em adolescentes com sintomas elevados de déficit de atenção e hiperatividade

Adolescentes (sexo feminino, 13 a 15 anos) com Défice de atenção ou hiperatividade

A mindfulness-based group for young people with learning disabilities: A pilot study

Thornton, V., Williamson, R. e Cooke, B. 2017

Desenvolver um programa mindfulness para jovens com dificuldades de aprendizagem, e cuidadores.

Adolescentes Estudo piloto (13 a 15 anos) com dificuldades de aprendizagem

Terapias baseadas em mindfulness (como MDT, p.e.) têm grande eficácia no tratamento

Effects of school-based mindfulness training on emotion processing and well-being in adolescents: evidence from event-related potentials.

Sanger, K. L., Thierry, G. e Dorjee, D 2016

investigar as alterações no processamento emocional de adolescentes após treino mindfulness

adolescentes dos 16 a 18 anos

Estudo nãorandomizado com grupo de controlo

MBT mantém a reação a estímulos emocionais com modificação no bem-estar

Acceptance and commitment therapy universal prevention program for adolescents: a feasibility study

Burckhardt, R., Manicavasagar, V., Batterham, P. J., Hadzi-Pavlovic, D. e Shand, F. 2017

Avaliar a viabilidade de um programa de prevenção baseado na acceptance and commitment therapy, em adolescentes do ensino secundário

Adolescentes estudantes, com idades compreendidas entre os 14 a 16 anos

Estudo clínico semialeatório, com grupo de controlo

Demonstrado potencial de um programa ACT, merecendo investigação posterior

RESULTADOS O primeiro estudo (Díaz-González, Dueñas, Elvira & Vázquez, 2018) demonstra os efeitos de MBSR na ansiedade, na auto-estima e um efeito médio absoluto sobre todas as outras variáveis clínicas incluídas no estudo. A narrativa científica de Bayles e Villalobos (2015), introduz-nos a noção de outra MBI: Mode Deactivation Therapy (MDT), defendendo-a como a terapia mais adequada demonstrando benefícios a nível comportamental, com manutenção dos efeitos até aos 18 meses pós intervenção. Himelstein, Saul, Garcia-Romeu e Pinedo (2014), desenvolveram um modelo conceptual de ensino mindfulness a dez adolescentes. Os jovens foram alvo de seis exercícios baseados em mindfulness, durante dez a quinze semanas, com duração máxima de vinte minutos. Concluem que as técnicas de mindfulness claras, objetivas e de curta duração podem aumentar a recetividade do cliente e podem ter o potencial de reduzir o uso de substâncias através do aumento do bem-estar, concentração, relaxamento, qualidade do sono, capacidade de tomada de decisões e diminuição do stress.

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Estudo clínico randomizado com grupo de controlo

Efeitos positivos sobre funções executivas e desregulação emocional na população alvo

Já Kiani, Hadianfard e Mitchel (2017) descrevem sessões desenvolvidas ao longo de oito semanas, com duração de noventa minutos, em grupos de intervenção formal e em tempo autónomo de forma informal. Concluíram melhorias ao nível das funções executivas, menor desregulação emocional e maior controlo dos impulsos. Referem ainda que a meditação de mindfulness pode ajudar os adolescentes a experimentar emoções e responder de forma mais adaptativa às mesmas. Sem referência ao tipo de MBI utilizada, Thornton, Williamson e Cooke (2017), aplicaram um programa baseado em mindfulness a cinco jovens, com dificuldades de aprendizagem leves a moderadas. Realizaram uma variedade de atividades, ao longo de seis semanas. Concluíram que é possível realizar MBI com jovens com dificuldades de aprendizagem, mas que a atividade de “body scan”, clássica dos programas de mindfulness, é demasiado abstrata para esta população. O estudo de eficácia da Acceptance and Commitment Therapy (ACT) como programa de prevenção, realizado por Burckhardt, Manicavasagar, Batterham, HadziPavlovic e Shand (2017), por possuir uma amostra pequena, não apresenta dados relevantes sobre melhoria objetiva e quantificável da ansiedade e do bemestar.


No entanto, dois terços dos jovens reportaram que o programa foi benéfico para si mesmos, sendo que os autores concluem que o programa pode ser benéfico, carecendo de estudos de maiores dimensões. A publicação de Sanger, Thierry e Dorjee (2016), demonstra um programa escolar de oito semanas baseado em mindfulness based stress reduction and cognitive therapy (MBSR/CT) e conclui melhoria no bem-estar auto percecionado e a um possível benefício da aplicação das práticas mindfulness nos currículos escolares. DISCUSSÃO Dos sete artigos incluídos na scoping review, três não referem o tipo de MBI utilizada (Thornton et al., 2017; Himelstein et al., 2014; Kiani et al., 2017). Os restantes discursam sobre MBSR/CT, ACT ou MDT. Dois autores (Díaz-González et al., 2018; Himelstein et al., 2014) expressam ter reduzido o tempo de duração de cada atividade mindfulness, enquanto os restantes que publicam sobre uma experiência direta com a intervenção, mantêm uma duração prolongada das intervenções, geralmente superior a cinquenta minutos. Os estudos de população clínica realizam programas de MBI ao longo de seis a quinze semanas. Dois autores (Thornton et al., 2017; Kiani et al., 2017) fazem referência a práticas informais em tempo autónomo por parte da população estudada, referido por Shapero et al. (2018), como parte necessária às MBI em grupo. Para as MBI realizadas em grupo existe geralmente uma partilha de experiências que visa a aprendizagem por modelação e por feedback direto (Shapero et al., 2018); esta partilha de experiências é apenas referida em dois dos artigos incluídos na scoping review (Burckhardt et al., 2017; Thornton et al., 2017). Quanto aos problemas de saúde mental da população alvo, à exceção de dois estudos cuja população é nãoclínica (Sanger et al., 2016; Burckhardt et al., 2017), há referência a dificuldades de aprendizagem, agressividade, uso de substâncias, ansiedade, défice de atenção, hiperatividade e diagnóstico dual. Assim, concluem-se os seguintes efeitos das MBI nos adolescentes: melhora o bem-estar geral (Himelstein et al., 2014; Sanger et al., 2016), redução da ansiedade e aumento da autoestima (Díaz-González et al., 2018), aumento da capacidade de concentração e de decisão, assim como melhoria da qualidade do sono (Himelstein et al., 2014).

Ainda evidencia a melhoria das funções executivas, da regulação de emoções e controlo de impulsos (Kiani et al., 2017). Os resultados encontrados com a realização desta scoping review corroboram o descrito na evidência científica e referido no enquadramento teórico (Perry-Parrish et al., 2017). A principal limitação apontada pela grande maioria dos autores prende-se com o número reduzido de participantes, que não permite a extrapolação ou generalização dos resultados. Outra limitação referida é a fraca adesão à intervenção e sua avaliação, bem como as dificuldades dos adolescentes em realizar determinadas atividades, o que pode indicar uma adaptação insuficiente dos programas de MBI à população-alvo. CONCLUSÃO Em suma, as MBI no contexto dos jovens adolescentes são utilizadas tanto na promoção de saúde mental como prevenção e tratamento da doença mental. Os seus efeitos, respondendo à questão inicial, passam pela redução da ansiedade, melhoria do bem-estar, das funções executivas, controlo de impulsos e aumento da qualidade do sono. O contexto em que são executados, de acordo com a pequena amostra final de publicações, é variado; demonstra-se o seu uso tanto em contexto escolar como em serviços relacionados com a saúde mental e psiquiatria (ambulatório e de permanência). Não é possível concluir o tipo de MBI mais utilizado devido à diversidade revelada pela amostra final de publicações incluídas nesta scoping review. Reconhece-se que os limitadores de pesquisa (nomeadamente a idade, acesso gratuito e os termos thesaurus que nem todos os autores utilizam) podem ter eliminado algumas publicações com possível relevância. Nas bases de dados selecionadas, poucos são os estudos que correspondem ao que procurávamos – a pequena amostra incluída não refletirá, na plenitude, a evidência publicada (muitos são os artigos excluídos pelos limitadores de pesquisa). Os incluídos referem a necessidade de investigação posterior. Concluímos que seria relevante novos, e maiores, investimentos nesta área. Considerando as MBI como intervenções psicoterapêuticas, alarga-se o campo de intervenção verdadeiramente holística e diferenciada do enfermeiro especialista em saúde mental na manutenção, recuperação e melhoria da saúde mental dos adolescentes. Não foi encontrado nenhum estudo, nas bases de dados e segundo os critérios apresentados, realizado em Portugal. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 71


O facto de não ter surgido nenhum texto relacionado com as MBI eleva a seguinte questão: serão as MBI executadas por enfermeiros nos cuidados de saúde mental aos adolescentes? Novas pesquisas e investimentos nesta área serão de grande importância.

Himelstein, S., Saul, S., Garcia-Romeu, A., & Pinedo, D. (2014). Mindfulness training as an intervention for substance user incarcerated adolescents: A pilot grounded theory study. Substance Use and Misuse, 49(5), 560-570. Doi: 10.3109/10826084.2013.852580

IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Kabat-Zinn, J. (2003). Mindfulness-Based Interventions in Context: Past, Present, and Future. Clinical Psychology: Science and Practice, 10(2), 144-156. Doi:10.1093/clipsy.bpg016

Os resultados encontrados podem contribuir para que os enfermeiros portugueses, no futuro, possam aplicar as intervenções baseadas no mindfulness em adolescentes, dado o seu grande potencial na melhoria da saúde mental. Existe, assim, um vasto leque de possíveis projetos a implementar nesta área. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bayles, C. & Villalobos, T. (2015). Using mindfulness with treatment of dual diagnosis in adolescents. International Journal of Behavioral Consultation and Therapy, 9(4), 23-25. Broderick, P. C. & Jennings, P. A. (2012). Mindfulness for adolescents: A promising approach to supporting emotion regulation and preventing risky behavior. New Directions For Youth Development, 136, 111-126. Doi:10.1002/yd.20042 Burckhardt, R., Manicavasagar, V., Batterham, P. J., Hadzi-Pavlovic, D. & Shand, F. (2017). Acceptance and commitment therapy universal prevention program for adolescents: a feasibility study. Child And Adolescent Psychiatry Mental Health, 11(27), 1-10. Doi: 10.1016/j.jcbs.2020.03.001 Creswell, J. D. (2017). Mindfulness Interventions. Annual Review of Psychology, 68, 491-516. Doi: 10.1146/ annurev-psych-042716-051139 Díaz-González, M. C., Dueñas, C. P., Elvira, J.A.M. & Vázquez, V. S. (2018). Mindfulness-based stress reduction in adolescents with mental disorders: A randomised clinical trial. Psicothema, 30(2), 165-170. Doi: 10.7334/psicothema2017.259 Hayes, S. C., & Hofmann, S. G. (2017). The third wave of cognitive behavioral therapy and the rise of processbased care. World psychiatry: official journal of the World Psychiatric Association (WPA), 16(3), 245–246. Doi: 10.1002/wps.20442

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Kiani, B., Hadianfard, H. and Mitchell, J. T. (2017). The impact of mindfulness meditation training on executive functions and emotion dysregulation in an Iranian sample of female adolescents with elevated attentiondeficit/hyperactivity disorder symptoms. Australian Journal of Psychology, 69, 273-282. Doi:10.1111/ ajpy.12148 Mental Health Foundation of New Zealand. (2011). An overview of mindfulness-based interventions and their evidence base. Perry-Parrish, C., Copeland-Linder, N., Webb, L., Shields, A. H., & Sibinga, E. M. (2016). Improving selfregulation in adolescents: current evidence for the role of mindfulness-based cognitive therapy. Adolescent health, medicine and therapeutics, 7, 101–108. Doi: 10.2147/AHMT.S65820 Sanger, K. L., Thierry, G., & Dorjee, D. (2016). Effects of school-based mindfulness training on emotion processing and well-being in adolescents: evidence from event-related potentials. Developmental Science, 21(5). Doi: 10.1111/desc.12646 Shapero, B. G., Greenberg, J., Pedrelli, P., de Jong, M., & Desbordes, G. (2018). Mindfulness-Based Interventions in Psychiatry. Focus (American Psychiatric Publishing), 16(1), 32–39. Doi: 10.1176/appi.focus.20170039 The Joanna Briggs Institute (2015). Joanna Briggs Institute Reviewers’ Manual. Disponível em: http://joannabriggs.org/assets/docs/sumari/Reviewers-Manual_ Methodology-for-JBI-Scoping-Reviews_2015_v2.pdf Thornton, V., Williamson, R., & Cooke, B. (2017). A mindfulness-based group for young people with learning disabilities: A pilot study. British Journal of Learning Disabilities, 45(4), 259-265. Doi: 10.1111/ bld.12203


11 NORMAS

DE PUBLICAÇÃO DA ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL

REVISTA

PORTUGUESA

DE

A Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental é publicada duas vezes por ano, em junho e dezembro, tratando-se de uma revista indexada em bases de dados nacionais e internacionais. A Revista apresenta, atualmente, as seguintes secções: Artigos de Investigação; Artigos de Revisão (Narrativa, Sistemática e Integrativa) da Literatura; Artigos de Boas Práticas/Reflexão. 1 – Procedimentos de Submissão do Artigo: 1.1 – Submissão eletrónica: os artigos devem ser sempre submetidos eletronicamente no sítio da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental: http://www.aspesm.org/. 1.2 – Para a submissão dos artigos, deverão sempre ser enviados os seguintes documentos: a) Artigo integral, obedecendo às normas da revista; b) Checklist de autoverificação, preenchida na totalidade c) Declaração de Cedência de Direitos de Autor e de Observação dos Princípios Éticos da Investigação, provando que os autores concordam que o artigo, uma vez aceite, fique da propriedade d’ ASPESM, não podendo, por isso, ser publicado noutra fonte, e que foram cumpridos todos os princípios éticos inerentes a um trabalho de investigação. Nota: a Direção da Revista reserva-se o direito de retirar um artigo do processo de revisão ou das bases de dados (no caso dos artigos publicados), sempre que se verifique que os autores publicaram uma versão idêntica noutra Revista. 2 – Processo de Revisão: Os artigos propostos são apreciados num processo Double Blinded (duplamente cego). Neste processo, o artigo é enviado por dois Peer Reviewers (Pares Revisores), os quais o examinam e arbitram sobre a sua qualidade, dando as recomendações que julgarem convenientes. Sempre que não se verifique acordo entre os dois revisores, o Diretor da Revista reserva-se o direito de indicar um terceiro revisor. A Direção da Revista enviará ao autor informação sobre a eventual aceitação definitiva, aceitação com alterações, ou não aceitação. No caso da aceitação com alterações, os autores receberão os pareceres e recomendações sugeridas pelos Peer Reviewers. O autor deve efetuar as alterações e reenviar o documento, via eletrónica, no tempo regulamentado. Nota: caso não se verifique o cumprimento rigoroso do tempo estipulado para correção do artigo, este pode ser excluído do processo de revisão. Cada artigo será, posteriormente, verificado pelo Diretor e Coordenador da Revista, que analisam a primeira versão do artigo e a versão corrigida, em função das recomendações dos Peer Reviewers. O processo de revisão será efetuado online. As fases do processo de revisão e recomendações encontram-se descritos no quadro abaixo: Fase Receção do Artigo Revisão Reformulação do Autor Verificação Redatorial Publicação

Procedimento Após o envio do artigo, este será submetido a um processo de revisão técnica (revisão dos aspetos formais e de normalização, de acordo com as normas de publicação da Revista). O artigo é enviado para 2 Peer Reviewers, que o examinam e arbitram sobre a sua qualidade, dando as recomendações convenientes. A Direção da Revista enviará ao autor informação sobre a aceitação definitiva, aceitação com alterações, ou não aceitação, bem como os pareceres e recomendações dos Peer Reviewers. As alterações a efetuar pelo autor deverão ir, rigorosamente, de acordo com as recomendações dos Peer Reviewers. Cada artigo deverá ser verificado pelo Diretor e pelo Coordenador da Revista, que analisam a primeira versão do artigo e a versão corrigida, em função das recomendações dos Peer Reviewers. A oportunidade de publicação é da inteira responsabilidade da Direção da Revista.

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3 – A decisão final acerca da oportunidade de publicação dos artigos é da responsabilidade do Diretor da Revista. 4 – O artigo: 4.1 – Tipo de artigo: devem ser artigos científicos originais e versarem temas de saúde mental, Enfermagem de saúde mental ou educação em saúde mental. O conteúdo dos artigos é da exclusiva responsabilidade dos seus autores, aos quais compete respeitar os princípios éticos da investigação e cumprir as normas da edição da Revista. A Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental poderá incluir artigos em língua portuguesa, espanhola, inglesa ou francesa, consoante a origem dos artigos. 4.2 – Estrutura do artigo 4.2.1 - Título: o artigo deverá incluir um título informativo (que vá de encontro ao âmbito do trabalho) e sucinto (em português, espanhol e inglês); máximo de 16 palavras, sem abreviaturas e sem a indicação da localização geográfica da investigação. 4.2.2 - Autores: os autores devem estar devidamente identificados, com o nome, habilitações académicas, categoria profissional, instituição onde exercem funções, contactos (morada, e-mail e telefone institucionais) e informação no caso de o artigo ser extraído de Dissertação ou Tese (indicando o título, ano e instituição onde foi apresentada). O nome e afiliação dos autores deve surgir imediatamente após o título em português. As afiliações devem estar por extenso (ex.: Local de Trabalho – Escola Superior de Enfermagem do Porto). Os endereços de correio eletrónico dos autores dos artigos devem estar com hiperligação (com link disponível). 4.2.3 - Resumo: o resumo do trabalho deve ser apresentado em português, espanhol e inglês, e não deve exceder as 250 palavras, devendo incluir a descrição do contexto, objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões. 4.2.4 - Palavras-Chave: o artigo deve apresentar, no máximo, 4 palavras-chave, transcritas de acordo com os descritores MeSH (em português, ver DeCS), em português, espanhol e inglês. 4.2.5 - Corpo do artigo: O artigo (tratando-se de um trabalho de investigação) deve ser estruturado em secções, devendo incluir os seguintes capítulos: Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão, Conclusão, e Implicações para a Prática Clínica). Os artigos de revisão e de boas práticas/reflexão não têm que obedecer, necessariamente, a esta divisão. 4.3 - Formato: • O texto deve ser apresentado em formato Word, letra Arial, tamanho 11, espaçamento 1,5, páginas em formato A4, em coluna única, evitando negritos e sublinhados, variação do tipo de letra, fundos de cor, etc.; • Todas as margens devem ter 2,5 cm.; • Não devem ser incluídas notas de rodapé. • O artigo não deve ultrapassar as 15 páginas incluindo resumo (em português, espanhol e inglês), referências, tabelas, quadro e figuras. • O artigo não deverá ser paginado. • Os parágrafos não devem ser indentados. • O artigo deve ser redigido de acordo com o Novo Acordo Ortográfico (caso não o seja, a Comissão Editorial reserva-se o direito de realizar a conversão). Nota: caso o(s) autor(es) se recuse(m) a redigir o artigo segundo o Novo Acordo Ortográfico devem, aquando do seu envio, manifestar essa posição de forma clara e inequívoca. • Na primeira utilização de uma sigla esta deve estar, primeiramente, por extenso, por exemplo: Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). • Quando se realizarem citações de três a cinco autores, todos os nomes devem ser mencionados na primeira vez que a citação é feita (ex.: Bradley, Ramirez, & Soo, 1999). Nas vezes seguintes, deve utilizar-se apenas o nome do primeiro autor seguido de “et al.” (ex.: Bradley et al., 1999). Caso a citação seja de seis ou mais autores, logo na primeira vez em que a citação é feita deve utilizar-se apenas o nome do primeiro autor seguido de “et al.”. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 74


• No corpo do artigo, ao citar autores coletivos, na primeira vez que a citação é feita, deve ser mencionado o nome por extenso (ex.: National Institute of Mental Health [NIMH], 2003). Nas vezes seguintes, pode ser utilizada a abreviatura (ex.: NIMH, 2003). • Os títulos dos capítulos devem seguir a seguinte estrutura: Nível do Título Formato 1 Centrado, Negrito, com Maiúsculas e Minúsculas 2 Alinhado à Esquerda, Negrito, com Maiúsculas e Minúsculas 3 Indentado, negrito, em minúsculas terminando com ponto final. 4 Indentado, negrito, itálico, em minúsculas terminando com ponto final. 5 Indentado, itálico, em minúsculas terminando com ponto final. 4.3.1 - Tabelas, quadros, gráficos e figuras: devem ser incluídos apenas os que sejam absolutamente essenciais para a compreensão do artigo e numerados por ordem de inclusão no texto, em função de cada tipo. As tabelas e quadros devem apresentar o título em cabeçalho e os gráficos e figuras devem apresentar o título por baixo. Para tabelas e quadros o tamanho da letra pode ser reduzido até um mínimo de 9 e sem espaçamentos. As tabelas, quadros, gráficos e figuras devem surgir imediatamente após o parágrafo em que é feita referência às mesmas. 4.3.2 - Citações: todos os autores citados no artigo devem constar da lista de referências bibliográficas. Exemplo: Sequeira (2006), (Sequeira, 2006), ou “Em 2006, Sequeira (...)”. Deve indicar-se o número de página, no caso de citação textual, tal como nos exemplos: Sequeira (2006, p. 32) ou (Sequeira, 2006, p. 32). Quando citar dois ou mais autores numa mesma paráfrase, deve ordená-los por ordem alfabética, tal como no exemplo: (Miller, 1999; Shafranske & Mahoney, 1998). Nota: utilizar o símbolo “&” apenas nas paráfrases em que os autores citados sejam de países em que o português não é uma língua oficial (ex.: EUA, Reino Unido, etc.). 4.3.3 - Referências Bibliográficas: • As referências selecionadas devem permitir evidenciar as publicações mais representativas do “estado da arte” da problemática em estudo (últimos 5 anos, extensíveis a 10 anos para problemáticas que tenham sido pouco estudadas), resultando da pesquisa de bases de dados de revistas indexadas nacionais e internacionais. • As referências bibliográficas devem estar elaboradas de acordo com as normas da 6ª Edição da American Psychological Association (APA). Todas elas deverão estar citadas no artigo. • Nas referências bibliográficas, independentemente do número de autores, estes devem ser todos referidos, não sendo permitido o uso de “et al.”. • O título das revistas nunca deve ser abreviado nas referências bibliográficas. Por exemplo, não se deve escrever “RPESM”, mas sim “Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental”. • Sempre que se inclua um site nas referências bibliográficas, a sua hiperligação deve estar presente e funcionante. Nota: as fontes devem ser alvo de seleção criteriosa, em função da sua pertinência, e não devem ultrapassar um total de 20 referências, organizadas por apelido do autor e ordenadas por ordem alfabética. APA 6ª Edição (Exemplos – consultar http://www.apastyle.org/) 4.3.3.1 Modelo de referências (indicar o nome de todos os autores – não usar “et al.”): Livros Shotton, M. A. (1989). Computer addiction? A study of computer dependency. London, England: Taylor & Francis. Trabalho académico (Dissertação/Tese) Healey, D. (2005). Attention deficit/hyperactivity disorder and creativity: An investigation into their relationship. Tese de Doutoramento, University of Canterbury, Christchurch, New Zealand. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 75


Trabalho académico (Dissertação/Tese) Healey, D. (2005). Attention deficit/hyperactivity disorder and creativity: An investigation into their relationship. Tese de Doutoramento, University of Canterbury, Christchurch, New Zealand. Editor literário Barkley, R. A. (Ed.) (2008). Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: Manual para diagnóstico e tratamento (3ª ed.). Porto Alegre: Artmed. Capítulos de livros Haybron, D. M. (2008). Philosofy and the science of subjective well-being. In M. Eid & R. J. Larsen (Eds.), The Science of subjective well-being (pp. 17-43). New York, NY: Guilford Press. Autor coletivo American Psychological Association. (2010). Publication manual of the American Psychological Association (6ª ed.). Washington, DC: Author. Artigos de publicações periódicas Com DOI Herbst-Damm, K. L. & Kulik, J. A. (2005). Volunteer support, marital status, and the survival times of terminally ill patients. Health Psychology, 24, 225-229. doi: 10.1037/0278-6133.24.2.225 Sem DOI Light, M. A. & Light, I. H. (2008). The geographic expansion of Mexican immigration in the United States and its implications for local law enforcement. Law Enforcement Executive Forum Journal, 8(1), 73-82. Documentos eletrónicos Livros Schiraldi, G. R. (2001). The post-traumatic stress disorder sourcebook: A guide to healing, recovery, and growth [Adobe Digital Editions version]. doi: 10.1036/10071393722 Artigos de publicações periódicas Wheeler, D. P. & Bragin, M. (2007). Bringing it all back home: Social work and the challenge of returning veterans. Health and Social Work, 32(1), 297-300. Acedido em http://www.naswpressonline.org Outros (póster, comunicação livre, etc.) Leclerc, C. M. & Hess, T. M. (2005, agosto). Age diferences in processing of affectively primed information. Póster apresentado na 113ª Annual Convention of the American Psychological Association, Washington, DC. Nota: no caso de os autores serem de países de língua oficial portuguesa, nas referências bibliográficas o “&” deve ser substituído por “e”. 5 – Formato Padrão do Artigo a submeter: Primeira Página • Título (em português, espanhol e inglês) • Nome dos autores (separados por ponto e vírgula); • Afiliações dos autores (uma afiliação por linha); • Indicação caso o artigo seja extraído de Dissertação/Tese. Nota: esta página, posteriormente, é retirada pelo Coordenador da Comissão Editorial, sendo atribuído um número codificado que identifica o artigo junto dos revisores Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, ESPECIAL 8 (JAN.,2021) | 76


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ASPESM

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A SPESM EM: WWW.ASPESM.ORG


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