Jornal Talento 2012-1

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Talento | ano XII | Março-Julho | 2012 Ensaio fotográfico - Pag 06 e 07

Dia livre, lazer em Camburi

O projeto Rua de Lazer, idealizado pela Prefeitura Municipal de Vitória, ocorre todos os domingos na Praia de Camburi e tem por objetivo resgatar a convivência e proporcionar mais um espaço para a prática de atividades ao ar livre Páginas 3, 4 e 5

Investimento no lixo: o que muitos não percebem é a geração de renda que o reúso do lixo poderia proporcionar

O setor imobiliário em Vila Velha demonstra a fragilidade com que o Plano Diretor Municipal (PDM) é tratado no município

Por que os jovens usam drogas? Atitudes e comportamento dos pais, associados a fatores de riscos, podem levar os jovens às drogas.

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EDITORIAL

Foto: Mariana Cicilioti

Desafios e possibilidades para o jornalismo impresso

Alunos do curso de Jornalismo da UVV em atividade interdisciplinar durante a Rua de lazer, na praia de Camburi

Muito se tem especulado sobre os rumos do jornalismo impresso diante das novas tecnologias, das novas configurações do mercado e das exigências do leitor. Nos últimos anos, os jornais tradicionais viram suas tiragens despencarem. A Folha de São Paulo, por exemplo, que já vendeu 1 milhão de exemplares aos domingos na década de 80, vendeu em média 295 mil exemplares em 2010 (dados do IVC). O Jornal do Brasil deixou, naquele ano, de circular em sua versão impressa. Essas mudanças nos levam a questionar os rumos do ensino do Jornalismo Impresso e do Jornal Laboratório Talento, que, em 10 anos de existência, já passou por várias mudanças. No ano passado, só houve fôlego para uma edição. Em meio às críticas sobre conteúdo, forma, objetivos e diagramação, chegou-se à conclusão que era preciso mudar gráfica e editorialmente a publicação. O novo projeto surge, então, com esse duplo desafio: ser identificado como um veículo importante para o processo de aprendizado e ainda provocar a discussão sobre o jornalismo impresso e as novas formas de produção. Ao professor Marcos Spinassé, com sua recémcriada Editoria de Arte, formada por alunos do 1º período de Jornalismo e de Publicidade, coube pensar um novo projeto gráfico. À disciplina de Redação Jornalística coube pensar pautas, dentro de uma concepção de buscar o mundo não noticiado sobre o qual fala o professor e pesquisador da USP, Manuel Carlos Chaparro. Nessa busca, percebemos que era preciso pensar o jornalismo impresso a partir de suas especificidades em relação a outras linguagens. A decisão por uma edição 02 - Talento_ano XII_ Março-Julho_2012

apenas neste semestre foi tomada junto com a coordenação do curso. Ganhamos espaço e apostamos na produção multimídia – estimulada pela implantação do projeto de redação multimídia. Junto com as disciplinas de Fotojornalismo, Laboratório de Telejornalismo e Laboratório de Radiojornalismo, os alunos do 3º período matutino fizeram uma reportagem que teve como tema o projeto “Rua de Lazer”, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Vitória. O resultado dessa produção pode ser conferido nas páginas 3, 4 e 5. As fotos foram produzidas pelos alunos do J5M, orientados pela professora Elizabeth Nader. Esta edição traz ainda, nas páginas 8, 9 e 10 reportagens produzidas pelos alunos do J3N. Na página 11, destacamos o Desafio Fotográfico, apresentando o ensaio vencedor do ano passado na categoria Júri Popular. A equipe do Nacom apresentou, na contracapa, sua campanha feita para o Dia Internacional dos Museus. O Talento mudou e mudaram os ânimos de quem se dispôs a produzir textos mais consistentes. Esperamos que esta edição seja lida, comentada, criticada, elogiada e reconhecida. Só a partir desse reconhecimento, será possível legitimar o veículo e estimular as mudanças e a reflexão. Afinal, este jornal não está pronto; ele é e sempre será um esboço no sentido de que, experimental que é, está sujeito às adequações e apropriações que nos permitirem a busca e a construção do conhecimento. Marcilene Forechi Coordenadora do Laboratório de Jornalismo Impresso

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Editorial

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Reportagem Especial: Rua de Lazer

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Reportagem Especial: Rua de Lazer

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Reportagem Especial: Rua de Lazer

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Ensaio Fotográfico

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Ensaio Fotográfico

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Sustentabilidade: lixo gera lucro

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Sustentabilidade: Vila Velha cresce e ignora Plano Diretor Urbano

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Vem aí o Desafio Fotográfico 2012

EXPEDIENTE Universidade Vila Velha - ES Rua Comissário José Dantas de Mello, 15, Boa Vista - Vila Velha - ES-CEP: 29102-770 Reitor: Manoel Ceciliano Salles de Almeida Vice-Reitora: Luciana Dantas da Silva Pinheiro Pró-Reitor Acadêmico: Heráclito Amancio Pereira Junior Pró-Reitor Administrativo: Edson Franco Immaginario Pró-Reitora de Pós-Graduação: Marco Oliva Pesquisa e Extensão: Marly Imperial Garabelli O Talento é uma produção do Curso de Comunicação Social da UVV Coordenador de Jornalismo: Rodrigo Cerqueira Orientadora Laboratorio de Jornalismo Impresso: Marcilene Forechi Editoria de Arte: Marcos Spinassé Fotojornalismo: Elizabeth Nader Diagramação Editoria de Arte: Giulian Soares Ola, Marcos Barcelos Correia, Samira Rebuli Paiva, Larissa Nascimento Pinheiro Textos: Alunos das turmas J3M e J3N Capa: Editoria de Arte Ensaio: Alunos de Fotojornalismo Ilustrações: Saturnino Gomes de Oliveira EF2PM Revisão: Andressa Zoi Nathanailidis Tiragem: 500 exemplares


RUA DE LAZER

Mais espaço para passeios e atividades em Camburi Ao se deparar com uma rua fechada, tomada por bolas, bicicletas e crianças brincando, não se assuste: você está diante de uma rua de lazer, cena quase em extinção nos grandes centros urbanos. Algumas cidades, no entanto, acharam uma brecha para driblar a escassez de opções para divertir sem riscos e bem pertinho de casa nos finais de semana. As atividades possíveis de serem oferecidas nessas ruas são as mais diversas para que nenhum público fique de fora, em especial, o infantojuvenil. São várias opções de brincadeiras: cama-elás- Aos domingos, atividades esportivas e de lazer deixam o calçadão da Praia de Camburi se estendem para a avenida tica e pula-pula, circuitos infantis e oficinas diversas, entre elas, de arte, criatividade, pin- de Esportes, Fábio Vasco, diz que o projeto tura de rosto e confecção de brinquedos peda- agrada a todos os públicos. “A ideia foi criar gógicos de armar/montar (para menores de 3 mais um espaço de lazer para os moradores de anos). Há opções também de jogos recreativos Vitória e permitir que os pedestres aproveitem e esportivos: basquete, voleibol, futebol, quei- a via. Pessoas de todas as idades frequentam Diante da falta de ações monitoradas na mada, peteca, damas gigantes, baralho, domi- Camburi aos domingos”, destacou. Rua de Lazer, restou a dúvida: se a PreEm Camburi, algumas maneiras de aproveinó, futebol de botão e pingue-pongue. feitura de Vitória ainda vai começar a Para não ficar de fora desse “escape”, a Pre- tar o espaço são passear com as crianças e pradesenvolver um projeto, por que não ter ticar atividades físicas. feitura de Vitória imesperado o desenvolvimento total para, Idosos, adultos e crianplantou o projeto Rua “A ideia foi criar mais um então, levá-lo à população? Quando andaças ocupam a avenida de Lazer, que acontece mos pelo local, no dia 18 de março, nossa espaço de lazer para os para andar de bicicleta todos os domingos, percepção foi a de que a Praia de Camburi moradores de Vitória e ou skate, caminhar, cordas 8h às 13h, em havia se transformado em um “calçadão permitir que os pedestres rer, patinar ou apenas um trecho da Avenida estendido”, pois tudo o que se faz na rua aproveitem a via ” passear. Mas, tudo isso Dante Michelini, no interditada, já era feito no amplo calçadão sem nenhum monitorasentido Praia do Canda praia. to-Jardim Camburi, entre o píer de Iemanjá e mento. Ou seja, todas aquelas possibilidades Além disso, questionamos também o fato apontadas no início desta matéria não são ofea Avenida Adalberto Simão Nader. de se promover uma rua de lazer em uma A Prefeitura iniciou esse projeto há pouco recidas pela Prefeitura. área cujo núcleo residencial – que engloba Questionado sobre o assunto, o secretário mais de seis meses, com o objetivo de incenos bairros Jardim da Penha, Mata da Praia tivar a população a sair de casa para o lazer e afirma que, no lançamento do projeto, em see Jardim Camburi – já é prestigiado com a prática de esportes. O secretário municipal tembro do ano passado, isso tudo foi pensado. atividades esportivas e culturais durante Mas, somente em alguns domingos a Secretaria todo o ano. No verão, o lugar costuma seMunicipal de Esportes e Lazer (Semesp) leva diar torneios nacionais e mundias de vôlei ao local pula-pula, jogos recreativos, tobogã e de praia e futebol de areia, dentre outros. cama-elástica de graça para a criançada. Por que não levar essa ideia para outros Fabio Vasco destacou que a rua possui o espabairros menos privilegiados, que não posço para atividades monitoradas, como basquete suem infraestrutura de recreação, tamde rua e implantação de rampas de skate, mas pouco um espaço adequado, como praças, no primeiro momento, a ideia era a ocupação para o lazer de seus moradores? Não nos do espaço pelo cidadão e isso foi alcançado. A restam dúvidas que uma área destinada ao partir de agora, segundo ele, o município irá lazer é essencial para uma cidade. Entrecomeçar a planejar algumas ações em esporte. tanto, isso deveria ser considerado direito A data para que isso ocorra, no entanto, ainda de todos e não privilégio para poucos. não pôde ser definida pelo secretário.

Foto: Mariana Cicilioti

Nossa Opinião

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Foto: Mariana Cicilioti

Por Elielson Policarpo, Larissa Tavares, Lícia Mendonça e Marina Denadai


RUA DE LAZER

Sol e cuidados com a saúde Perto de completar um ano de existência, o projeto Rua de Lazer leva moradores e frequentadores a fazerem questionamentos quanto à estrutura e os serviços oferecidos no local, como por exemplo, a complicação no trânsito, a falta de suporte de saúde para atendimentos emergenciais e a ausência de profissionais de Educação Física para orientação à prática de atividades físicas. Além dessas questões, há outra relacionada à preocupação que os usuários da Rua de Lazer devem ter com alimentação adequada, preparação física e proteção contra o sol. A fisioterapeuta dermatofuncional, Priscilla Harckbart, afirma que, mesmo com o tempo nublado, é preciso usar protetor solar, já que o mormaço também é responsável por queimaduras e emite raios ultravioleta. Frequentador assíduo da Rua do Lazer, o administrador José Luis Cola Ramos leva os filhos para se exercitarem todos os domingos. Embora as crianças costumem se proteger do sol, o alongamento e a alimentação muitas vezes ficam esquecidos. “Hoje, tínhamos a intenção de ficar por pouco tempo no calçadão e, como o clima está ameno, não passamos protetor, mesmo sabendo dos riscos”, disse. Em um passeio pela cidade com seu bebê, a estudante Samara Pereira de Paula afirma que o protetor é essencial, mas, com a correria, muitas vezes, só passa quando chega ao local. Neste sentido, Priscilla diz que o ideal é aplicar o protetor de 20 a 30 minutos antes de sair de casa e sempre reaplicar durante a exposição.

Foto Benahia Figueiredo

Por Benahia Figueiredo, Caio Gabriel, Felipe Brotto e Renan Faé

Cuidados com a hidratação corporal em qualquer faixa etária são fundamentais para o equilíbrio do metabolismo

Para crianças, existem produtos específicos, já que a pele requer cuidados redobrados. Além do protetor, é preciso usar um calçado confortável e, se a caminhada for longa, será necessário um alongamento para não ter maiores problemas. Segundo o professor de Educação Física da Universidade Vila Velha (UVV) Guilherme Filgueiras qualquer prática física que envolve esforço muscular requer alongamento e aquecimento prévio. Ele diz que isso evita possíveis lesões à musculatura e destaca ainda que não se deve começar um exercício com força total, mas gradualmente. Guilherme ainda explicou que o corpo humano é individual e que o tipo de alimentação

adequada é relativo para cada pessoa. “É necessário saber o que o seu corpo necessita e não generalizar e formar regras gerais sobre o tipo de alimentação anterior à pratica de exercícios físicos. As exigências são individuais”. É importante, mesmo durante uma atividade informal, se preocupar com detalhes que fazem toda diferença no futuro. A falta de protetor resulta em manchas e rugas, assim como a falta de alongamento traz dores e limita movimentos. Um calçado apropriado, alimentação balanceada e proteção solar nunca são demais, principalmente em crianças que passam bastante tempo expostas ao sol.

Esporte e lazer ao ar livre exigem alimentação saudável Por Bruna Ribeiro e Melyssa Lima

Praticar exercícios é ótimo para a saúde. Além do lugar, roupas e materiais apropriados, uma alimentação adequada deve fazer parte da rotina de quem pratica esportes. A Rua de Lazer, na Praia de Camburi, conta com várias opções. Mas, é possível perceber que nem todos se alimentam de forma adequada e o local oferece pouca estrutura para a venda de produtos. O engenheiro Paulo Lindoso, que pratica exercícios na academia da praia, destaca que há poucas opções de lugares que vendem ali04 - Talento_ano XII_ Março-Julho_2012

mentos saudáveis, considerados por ele muito necessários para quem faz atividades físicas. Quem frequenta a Rua de Lazer para praticar exercícios ou passear com família prefere uma alimentação mais saudável, que inclui água de coco, suco, milho e água natural. Há também quem prefira trazer de casa um alimento de acordo com o próprio gosto, como faz a dentista Fernanda Loureiro, que leva frutas para sua filha pequena quando vão passear na orla de Vitória. Segundo o comerciante vendedor de coco Josimar Pereira Vieira as vendas duplicaram desde a implantação da Rua de Lazer em Cam-

buri, mesmo no inverno, que é baixa temporada. Já o dono do quiosque número 2, conhecido como Salvatore, afirma que os alimentos mais vendidos são peixe e bebida alcoólica, embora ele possua no cardápio produtos saudáveis, como água de coco e sucos naturais. O secretário de Esportes e Lazer de Vitória, Fábio Vasco, afirma que a Prefeitura oferece o espaço para os ambulantes, mas é necessário entrar em contato com a Secretária de Desenvolvimento da Cidade, que tem por função coordenar esse trabalho.


Trânsito para uns, lazer para outros De um lado, motoristas inconformados, moradores irritados e trânsito engarrafado; do outro, alegria, crianças praticando esportes e pessoas caminhando tranquilamente pela orla da Praia de Camburi. Contrastes que são vistos durante a realização da Rua de Lazer, nas manhãs de domingo, na Avenida Dante Michelini, em Vitória. Com a Dante Michelini interditada, a Prefeitura de Vitória desvia os veículos que seguem da Praia do Canto em direção a Jardim Camburi para o interior do bairro Jardim da Penha, que é conhecido por sua tranquilidade aos domingos. Com o desvio e o tumulto causado no trânsito, motoristas e moradores não entram em consenso e não apresentam soluções para o problema. Ricardo Andrade tentava trafegar pelo local e diz que durante a semana o trânsito é inevitável, mas que os finais de semana têm sido mais estressantes por causa da interdição. Muitos motoristas reclamam também da falta de policiamento, apesar do secretário de Esportes e Lazer de Vitória, Fabio Vasco, afirmar que sempre há agentes de trânsito no local. De acordo com informações da Prefeitura,

Foto: Diogo Alves

Por Bárbara Becalli, Bruna Jureves, Matheus Bolognini, Munik Vieira e Vinícius Rangel

As manhãs de domingo para quem passa pela Avenida Dante Michelini, na Praia de Camburi, são de trânsito lento

são disponibilizados, ao longo da Rua de Lazer, 13 agentes de trânsito, que são responsáveis por colocar e retirar a sinalização. Os moradores, entretanto, afirmam que a quantidade de agentes é bem inferior à informada e que não há agentes dentro do bairro de Jardim da Penha para orientar os motoristas. Segundo Matheus Paschoal, morador de Jardim da Penha, alguns motoristas possuem certa tolerância em relação ao congestionamento que se forma dentro do bairro e, para eles, isso não é visto como algo totalmente negativo, pois não ocorre todos os dias e é consequência de algo que beneficia a população.

Atropelamento

Durante a realização da Rua de Lazer, no dia 18 de março, ocorreu o atropelamento de um ciclista por um carro de passeio. De acordo com testemunhas, o ciclista teria avançado o sinal. Um agente ressaltou que foi negligência da vítima e que é preciso ter muita atenção no trânsito da região. O rapaz foi socorrido pela equipe de bombeiros, levado a um hospital da Grande Vitória com ferimentos leves e liberado em seguida.

Domingo de sol, rua de lazer e tecnologia O número de aparelhos celulares adquiridos pelos brasileiros cresce a cada dia e o seu uso tornou-se indispensável na vida de qualquer pessoa. Somente em janeiro deste ano, o Brasil bateu o recorde nacional na venda de aparelhos móveis: foram mais de 3 milhões de celulares. De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o número de linhas móveis ativas somou, ao final de fevereiro, 247,62 milhões, representando um crescimento de 19,3% em relação a fevereiro de 2011. As facilidades e benefícios oferecidos pelas operadoras, a queda no custo dos aparelhos e os planos disponibilizados pelas empresas contribuíram para o aumento das vendas. A psicóloga Claudia Pepino acredita que há uma necessidade nos dias de hoje de trazer para o ambiente no qual as pessoas estão, outros lugares através do celular e da internet, conectan-

Foto: Hydianara Sanches

Por Bárbara Treikel, Eugênio Donadia, Gessika Ávila, Jéssica Freitas e Lia Menegaz

A família se diverte mas não deixa a tecnologia de lado

do, assim, os brasileiros durante muitas horas. Segundo ela, aqueles que se encontram próximos das redes sociais são indivíduos que, com o tempo, se tornam intolerantes, pois querem soluções rápidas para os problemas do dia a dia. Claudia comenta também o distanciamento físico que a vida virtual provoca. Ela diz que as relações face a face têm se tornado

restritas, resultando em uma sociedade de pessoas solitárias, que gostam de parecer sempre bonitas, felizes e bem humoradas. Outro tema que alimenta discussões é o fato da cultura tecnológica estar inserida nas novas gerações. Para Claudia, que faz parte do Serviço de Orientação ao Aluno (SOA) da UVV, o Brasil é o país onde as crianças e os adolescentes mais ficam conectados à internet. “É comum para um brasileiro ver uma criança ensinando a um adulto como usar o controle remoto, o celular e até mesmo a internet”. Ela diz que nos Estados Unidos, por exemplo, a faixa adulta está mais ligada às redes. A Rua de Lazer, na Praia de Camburi, mostra como qualquer espaço pode ser palco para o uso da tecnologia móvel. O que se pôde observar é que em um lugar onde se espera que as pessoas se desliguem e busquem alternativas para relaxar e sair da rotina, os celulares e tablets se tornaram indispensáveis. Com certeza, estamos diante de um novo tempo e de novas formas de socialização. Talento_ano XII_ Março-Julho_2012 - 05


ENSAIO

Tais de Hollanda

Daniela Bourguignon Santos

Camila Motta

06 - Talento_ano XII_ Marรงo-Julho_2012


Cristiane Pereira

Jessika Cassimiro

Camila Motta

Lígia Moura

Lígia Moura

Cristiane Pereira

Cristiane Pereira

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SUSTENTABILIDADE

Investimento no lixo gera economia e produz renda ser -transformação em fios de poliéster e depois é feita a junção desses fios com algodão. Além disso, não se pode esquecer que antes de chegar ao ponto de reciclagem é preciso que a sociedade faça a coleta seletiva das garrafas e que haja pessoas para fazer o recolhimento.

Ana Clara Mathias, Daniela Santos e Gislene Goulart

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Lei vai exigir proposta de reúso do lixo no país a partir de 2014

Fotos: Ana Clara Mathias

Cheiro de podre e aparência de esgoto onde deveria haver um rio são algumas das consequências da falta de conscientização sobre o descarte do lixo em Vila Velha. O impacto ambiental é visível. O que muitos não percebem é a geração de renda que o reúso do lixo poderia proporcionar. Em média, dez mil toneladas de lixo são produzidas por mês pelos mais de 414 mil habitantes do município de Vila Velha. Porém, apenas três toneladas são reutilizadas. Desde 2009, o município executa um projeto piloto de coleta seletiva de lixo. Trinta e dois condomínios do bairro Praia da Costa são conscientizados a separar o lixo caseiro para ser recolhido pelo caminhão da Prefeitura, que passa duas vezes por semana. Mas ainda existem 97 bairros sem nenhum trabalho de conscientização. A falta de um projeto mais abrangente do descarte do lixo gera custos extras e dificulta a movimentação econômica sustentável. “A limpeza constante dos canais e sistemas de esgoto gera um custo desnecessário”, aponta Adriana Rigoni, professora de Gestão Ambiental do curso de Administração da UVV. A professora conta que um empenho já foi feito para estruturar a questão do lixo no município. Em 2009, empresas como Arcelor Mittal, Hortifruti, Sebrae, Fibria e UVV se reuniram para discutir o tema. De acordo com a lei, o recolhimento do lixo deve ser feito por catadores. A comissão de empresários se ofereceu para trabalhar junto a Ascinvive, entidade responsável pela destinação do lixo reciclável no município, oferecendo suporte necessário. Uma das ideias era motorizar os carrinhos e padronizar as lixeiras da cidade. “Empurrar o carrinho pesado é quase sub-humano. A gente queria dar condições para que os catadores se sentissem valorizados”, diz a professora. Mas o projeto não foi adiante. “O problema foi a falta de capacitação para gerenciamento da associação”, esclarece. A presidente da Ascinvive, Lúcia Alves dos Santos, afirma que a Prefeitura não se dispõe a doar um terreno para os trabalhos da associação. A professora de Gestão Ambiental explica que o terreno deve ser concedido, mas não

Lixeiras espalhadas pela cidade de Vila Velha

pode ser privado. Como as partes não entraram em acordo, a cooperativa tem que pagar aluguel do espaço que utiliza. Atualmente, apenas oito pessoas trabalham na Associação Independente de Coletores de Material Reciclável de Vila Velha (Ascindive). A geração de emprego neste nicho é evidente, principalmente considerando que Vila Velha tem um polo de confecção. Matéria-prima retirada do lixo A empresa Cobra D’água mantém uma linha de bermudas e camisetas confeccionadas a partir de garrafas pet. Com esse trabalho, a empresa retirou 100 mil garrafas do meio ambiente em 2011. Apesar de manter a fábrica em Vila Velha, as garrafas são do Sul do país, região onde existem estabelecimentos que transformam o plástico em fios de poliéster. Antes de se tornar tecido, o plástico da garrafa pet passa por dois processos: ele precisa

A partir de 2014, empresas, governos, cooperativas e cidadãos deverão implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em agosto deste ano, todas as prefeituras do Brasil deverão entregar uma proposta de reuso do lixo. O modelo atual de descarte – aterros sanitários ou lixões – não poderá mais ser a única alternativa para o descarte do lixo urbano. Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho, em entrevista ao Jornal Nacional, não existe quase nenhuma diferença entre lixão e aterro. “Lixão é a pior forma de destinação, em que o lixo é abandonado sobre um terreno sem nenhum cuidado. O aterro controlado tem algum cuidado só para dar uma disfarçada”. A Prefeitura de Vila Velha não tem nenhuma proposta por enquanto. Em algumas cidades, a responsabilidade com o lixo já é cultural. “Em Curitiba, se alguém joga lixo no chão, a pessoa que segue atrás recolhe e deposita na lixeira. E ainda dá aquela olhada como se dissesse: não faça mais isso”, conta Adriana Rigoni, professora da UVV. Em São Carlos, cidade do interior de São Paulo, a coleta é feita em caçambas abertas, para não compactar o material, o que contaminaria todos os itens. Hoje, existem alguns exemplos que servem de modelo. Mas a partir de 2014, com a nova política, a logística sustentável será obrigatória para as indústrias de todos os setores. As embalagens deverão ser fabricadas com materiais reutilizáveis ou recicláveis e as empresas terão que apoiar as cooperativas de catadores. As prefeituras terão de aumentar a oferta de coleta seletiva e o cidadão terá de fazer a separação em casa.


Vila Velha cresce e ignora plano diretor municipal O Espírito Santo é um dos estados brasileiros mais bem cotados quando o assunto é crescimento imobiliário. Este segmento, porém, demonstra a fragilidade com que o Plano Diretor Municipal (PDM) é tratado em Vila Velha. O PDM é uma lei municipal que normatiza as construções, define o que pode ser feito em cada terreno particular e interfere na forma da cidade e em sua economia. Em geral, esta lei (Lei nº 4.575/2007) se trata de um conjunto de dispositivos de difícil entendimento e aplicação, por seu excesso de detalhes e termos técnicos, que dificultam o entendimento do cidadão e a fiscalização, dando margem a construções irregulares. Não é preciso entender muito das regras de construção para perceber que os prédios da orla da Praia da Costa estão amontoados, o que reflete a falta de planejamento. O que se observa é que os edifícios alicerçados nas brechas da lei geram danos ambientais. “A concentração de edifícios e a altura fora dos padrões dos prédios – acima de 12 andares – na orla capixaba interferem na circulação dos ventos, que são oriundos das áreas oceânicas. Há retenção de calor que originam as chamadas ilhas de calor”, afirma o professor de Geografia, Carlos Alberto Kuster. Kuster, que é mestre em Geografia Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), aponta que o cidadão de Vila Velha se acostumou tanto ao cenário de sombreamento nas praias que nem percebe mais que só pode pegar sol antes das 10 horas e depois das 14 horas. O turismo local, considerado um dos grandes potenciais do município, também é recoberto e prejudicado por esta sombra. O advogado pós-graduado em Direito Ambiental e Urbanístico Pablo Costa ressalta que a interferência das sombras no uso da praia, que é um patrimônio público, histórico, paisagístico, cultural e turístico, implica em um crime ambiental. Ele afirma que a construção exagerada de prédios gera a proliferação de pragas, devido à quantidade de esgoto doméstico à beira-mar, oferecendo riscos à fauna local. Um exemplo recente desta situação, que ainda não foi solucionado, é o Condomínio

Foto: Taís de Hollanda

Por Cristiane Pereira, Lucas Nascimento e Taís de Hollanda

A concentração de edifícios e a altura fora dos padrões interferem na circulação dos ventos e criam áreas de sombreamento

Bahamas, localizado na Avenida Estudante José Julio de Souza, em Itapoã, bairro vizinho à Praia da Costa. As dimensões de suas varandas descumprem as regras estabelecidas pelo PDM, pois invadem as calçadas, causando sombreamento. Do ponto de vista do professor Carlos Alberto Kuster, há uma falta de fiscalização com base no PDM, que tem poder de vetar o projeto de um edifício por meio de uma revisão. No final de 2011, a Prefeitura Municipal de Vila Velha apresentou um novo PDM (Lei Municipal 5.155/11) que propõe a redução de áreas ambientais, permitindo a exploração de áreas do Morro do Moreno, Morro do Jaburuna e Parque Municipal. Em março deste ano, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo suspendeu a mudança. Em seu regulamento, a lei do PDM de Vila Velha declara que a gestão democrática significa a participação efetiva da sociedade nos processos de planejamento da cidade e do território municipal, por meio dos seguintes instrumentos: debates, audiências, consultas públicas e assembleias populares. O advogado Pablo Costa pontua que para se construir um empreendimento de grande impacto ambiental é preciso solicitar uma audiência pública, com a participação da população, que irá exercer seu papel de fiscal dos impactos que trarão os novos empreendimentos. O Ministério Público Estadual é quem dá a última palavra. “O problema é que até o Ministério Público tomar ciência de todas as coi-

sas que aquela reunião abordou, a estrutura do prédio já está erguida e vai ser mais impactante ter que derrubá-lo”, afirma o advogado. Além da ocupação do solo pelas edificações, outro aspecto a ser considerado nos novos empreendimentos é o tipo de moradia que tem sido ofertada na cidade. Uma tendência das construtoras capixabas é a construção de condomínios de luxo, onde se os moradores podem ter mais segurança e ambientes de lazer, com áreas de esporte, espaços gourmet e muito mais. O mestre e doutor em Filosofia pela USP, José Antônio Martins, analisa em seu livro ‘Corrupção’ que a criação dos condomínios fechados leva as pessoas a um distanciamento da vida política da cidade, pois a preocupação com o bem-estar privado se põe acima e antes de qualquer interesse público. Os condomínios luxuosos são comparados a feudos, pois, de acordo com José Antônio Martins, eles isolariam, criariam comodidade aos condôminos e assim o aumento da segregação social. Os novos empreendimentos contam com ruas, praias e rios que, a rigor, seriam bens públicos. De acordo com o advogado Pablo Costa, esses condomínios se utilizam dos bens comuns por meio de acordos municipais de medidas compensatórias previstas na Constituição. “Tais medidas podem ser a disponibilização de um serviço ou instrução para a comunidade e permanência de áreas verdes dentro do condomínio”. Talento_ano XII_ Março-Julho_2012 - 09


COMPORTAMENTO

Drogas: por que os jovens usam e é tão difícil deixar? Por Anária Loss, Francielle Rafael e Luciano Oliveira

Em 2004, havia 870 mil usuários de cocaína, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas, publicado em 2008. O estudo mostra que de 2001 a 2004 houve um crescimento de 75% no número de usuários, o que coloca o Brasil como o segundo maior mercado das américas em consumo de cocaína, atrás apenas dos Estados Unidos, com cerca de 6 milhões de consumidores. Já o consumo de maconha subiu de 1% para 2,6%, o maior aumento verificado na América Latina, no período entre 2001 e 2005. Diante da constatação de que há um elevado e crescente número de adolescentes e jovens que fazem uso de drogas ilícitas, torna-se necessário questionar quais são os motivos que levam esses jovens a trilharem os caminhos obscuros das drogas ilícitas. Para o psiquiatra Gilson Gilberti Filho, a ideologia da sociedade de consumo é determinante na decisão do jovem consumir drogas. Para ele, droga é o produto mais bem acabado do capitalismo industrial. “Trata-se de uma mercadoria que introduz o consumidor jovem em um mundo dotado de fortes sensações físicas”, afirma. Atitudes dos pais, associadas a fatores de riscos, também podem levar os jovens às drogas. O psiquiatra Guilherme Ribeiro diz que dentre os comportamentos paternos, destacam-se: pouco investimento nos vínculos que unem pais e filhos; práticas disciplinares inconsistentes e coercitivas; permissividade excessiva; dificuldades em estabelecer limites às atitudes infantil e juvenil; tendência dos pais à super-

proteção; o autoritarismo e pouca afetividade nas relações, entre outros. “Há um mercado aberto a oferecer sensações fortes, uma rede perversa de captura dos jovens ao mundo das drogas e uma família fragilizada ou desestruturada na administração dos conflitos”, destacou. Diante da suspeita de que o filho esteja usando drogas, Guilherme Ribeiro aconselha uma abordagem inicial na qual os pais mantenham uma postura equilibrada e racional. “Reações emocionais desmedidas podem inibir o jovem a se comunicar abertamente, procurar ajuda ou até amplificar a sensação de incompreensão familiar”. Além dos tratamentos convencionais, que envolvem trabalho médico, apoio da família e dedicação do paciente, o esporte pode ser fundamental para o sucesso e o fim da dependência. O professor Marcelo Furtado, diz que, através do esporte, o jovem irá ocupar corpo e mente e que o atleta tem oportunidade de conhecer muitos lugares e ambientes e de interagir com

pessoas fora de seu círculo de amizades. Para o professor, as atividades esportivas podem visar apenas a saúde do indivíduo e contribuir para deixá-lo focado e concentrado, ajudando-o a viver longe das drogas. “Além da mudança de comportamento, ocorrerá também uma completa transformação de seu hábito alimentar, ou seja, teremos consequentemente uma melhora acentuada na qualidade de vida deste indivíduo”. No Espírito Santo, atualmente, as famílias contam com a rede de saúde pública, que oferece tratamento para as pessoas que querem abandonar o vício. Dentro de um novo conceito, o paciente recebe tratamento clínico alternativo aos hospitais psiquiátricos, com foco no exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Além desses locais, há possibilidade de tratamento em instituições mantidas, principalmente, por igrejas. De modo geral, os jovens são acolhidos em sítios ou casas afastadas onde podem fazer trabalhos voluntários e recebem assistência. José Carlos (nome fictício, pois o entrevistado não quis se identificar), que está há um ano e meio longe das drogas, conta que ainda assim não pode parar o tratamento. Ele diz que saiu de casa aos 16 anos depois de uma briga com a mãe. “Comecei a trabalhar como flanelinha. Vários deles já eram usuários e que me acolheram em suas humildes casas. No início, não experimentei, mas, com o passar do tempo, a curiosidade fez com que eu experimentasse pela primeira vez.” José Carlos relata que, apesar de estar livre das drogas, é muito difícil voltar ao convívio social.

Onde encontrar tratamento Centro de Atenção Psicossocial - CAPSLaranjeiras Rua Bethoven, nº 156 - Laranjeiras, Serra Telefone: (27) 3328-4137 / 3328-4745 Centro de Atenção Psicossocial - CAPSVila Velha Rua Castelo Branco 1841 - Jaburuna, Vila Velha Telefone: (27) 3239-9846 CAPS Infanto/Juvenil Vitória Av. Carlos Moreira Lima 391 - Bento Ferreira, Vitória Telefone: (27) 3225-5497 10 - Talento_ano XII_ Março-Julho_2012

CPTT - Centro de Prevenção e Tratamento ao Toxicômano Rua Álvaro Sarlo, s/n, Ilha de Santa Maria, Vitória Telefone: (27) 3132-5104 / 3132-5105 Centro de Atenção Psicossocial - CAPS João Neiva Rua Brígido Coutinho, nº. 69 - Vila Nova de Cima, João Neiva Telefone: 3258-3974 Centro de Tratamento ao Toxicômano - CTT Rua Goiás, nº. 20 - São Mateus Telefone: 3763-1040


DESAFIO FOTOGRÁFICO Ensaio Por Débora Benaim Cruz e Miriam Passos

O Desafio Fotográfico 2012 será o “e-Dita Foto”, nome escolhido por meio de um concurso realizado entre alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade. O evento é anual, promovido pelo curso de Comunicação Social da UVV e organizado pelo Núcleo de Fotografia “Comunica com Foto”, coordenado pela professora Elizabeth Nader. O objetivo do concurso é promover a produção fotográfica entre os universitários, de forma a levar os participantes a explorar, criativa e originalmente, o olhar conceitual. Os trabalhos selecionados serão apresentados no dia 8 de novembro, quando serão conhecidos os vencedores nas categorias Ensaio e Stop Motion. Os classificados nas duas categorias irão também concorrer ao Prêmio Edição. O tema do Desafio Fotográfico é livre, podendo ser feito em qualquer suporte de equipamento fotográfico, inclusive celular. A premiação para o vencedor será um jantar (prato principal, bebida e sobremesa) para duas pessoas no restaurante JACK’S BULLPEN STACK HOUSE. Nesta edição do Jornal Talento, os leitores podem conferir o ensaio vencedor do Desafio Foto a Foto de 2011, na categoria Júri Popular. O vencedor foi “193”, produzido por Débora Benaim Cruz e Miriam Passos.

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