Chupa Manga Zine nº 17

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chupa manga zine

O NOVO DISCO DA CHAPA MAMBA DEPOIS DE TRÊS ANOS! (pág. 6)

Nº 17, ANO 5 — AGOSTO DE 2020

E MAIS

sessão marmelada: lançamentos especial poeira nenhuma faça seu próprio vinil, o som das estatísticas o barulho da dobradiça enferrujada repertório de signos musicais aprenda a tocar o último single de stvz

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EXPEDIENTE

chupa manga zine

Nº 17, ANO 5 — AGOSTO DE 2020

REDAÇÃO, EDIÇÃO-GERAL, PROJETO GRÁFICO Stêvz PARTICIPAM DESTA EDIÇÃO Alexis Peixoto Maíra Valério Janja FALE CONOSCO chupamangarecords@gmail.com

Stêvz é o nosso fantástico editor, e apesar de preferir não empregar superlativos, referir-se a si mesmo na primeira pessoa do plural ou na terceira do singular, é Na capa: detalhe da arte

exatamente isso que está fazendo agora.

de Poeira Nenhuma, sexto

Assina todos os textos deste zine,

disco da Chapa Mamba

exceto onde indicado.

Impresso, dobrado, grampeado

Chupa Manga Zine é uma publicação

e refilado em casa na

independente e de periodicidade irregular

interminável quarentena

do selo musical Chupa Manga Records,

de agosto de 2020

atualmente localizado em São Paulo, Brasil.


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Enquanto fechamos mais uma edição deste zine, o país ultrapassa a inacreditável marca de 100.000 mortos por coronavírus, e, apesar da Rússia ter anunciado a primeira (mas duvidosa) vacina do mundo, o horizonte ainda não é nada animador. Enquanto o pior não passa, vamos produzindo alguma coisa cultural, tentando não enlouquecer com as notícias. Lançamos, finalmente, o prometido álbum da Chapa Mamba iniciado em 2018, e o nosso amigo Alexis Peixoto publicou um texto tão bacana sobre ele, na sua revista eletrônica O Inimigo, que pedimos para reproduzi-lo aqui na íntegra. Aproveitamos para destacar o seguinte comentário de Raul Pacheco (que também escreveu sobre Lance dos Fantasmas, de Sudário, tempos atrás): Um texto cheio de boas referências sobre uma banda tão inteligente quanto desconhecida. Haveria alguma chance de sucesso? Sabe, penso que o mundo tá tão perplexamente incompreensível que é capaz da

ri

realidade se dobrar e a Chapa conseguir alcançar um público ($) legal — talvez até contra seu próprio desejo haha sei lá. Mas também porque o som tá bom. Acho que o Poeira é o melhor trabalho que já ouvi deles.

Espera-se, então, que o disco receba a mesma atenção da crítica mundial como os trabalhos anteriores da banda que obtiveram resenhas fascinantes no rateyourmusic como "decente" e "faltou esforço" ­— esta última, praticamente uma autocrítica de quem não pôde se dar ao trabalho de digitar mais de 14 caracteres. Continuando nas colaborações, Maíra Valério entrevistou o selo brasiliense de música experimental Dobradiça Enferrujada, e nos conta uma pouco dessa cena. E Janja enviou um quadrinho adaptando a versão condensada de um conto de João Antônio (1937-1996). No mais, o de sempre: confira os últimos lançamentos da Chupa Manga, aprenda a tocar grandes sucessos e veja as nossas dicas.


SESSÃO MARMELADA

singles e velharias

GERMANO DA SILVA > SONHOS INTRANQUILOS DO CAFÉ QUEIMADO (SINGLE)

STVZ > SONGS I WOULD LIKE TO FINISH SOME DAY VOL.1 (EP)

Primeiro lançamento de Germano da Silva (mais um músico de Passo Fundo, RS) pelo selo, “Sonhos Intranquilos do Café Queimado” foi feita pra ser ouvida na quarentena, tomando café de qualidade questionável. Germano produz um som lo-fi amargo apenas com o celular, e está preparando um EP para o futuro próximo.

O primeiro volume dessa coleção de demos e ideias inacabadas foi lançado meio na surdina, mas deve aparecer de novo em breve. Essas “canções que eu gostaria de terminar um dia” trazem material registrado entre 2015 e 2018 e as suas seis faixas são intituladas simplesmente com a data de cada gravação.


Aprenda a tocar essa música no fim desta edição!

compacto em vinil

STVZ > MAIS UMA COISA QUE NÃO VAI DAR EM NADA / ATÉ CHEGAR EM ALGUM LUGAR (SINGLES) Mais uma meta-canção neo-psicodélica avulsa para tentar alegrar um pouco a sua quarentena. A Lombra Records fabricou alguns compactos em vinil do nosso último single “Mais Uma Coisa que Não Vai Dar em Nada”, com “Até Chegar em Algum Lugar” (apresentada na edição de março deste zine) no verso. Tiragem ultra-limitada — quem tem, tem.


ESPECIAL

POR ALEXIS PEIXOTO

chapa mamba contra as quatro bestas do apocalipse pรณs-moderno Em novo disco, trio ataca as mazelas da realidade imediata com rocks certeiros e jabs de sarcasmo teleguiado Foto: Bernan Marques


É a incrível volta de quem não foi a parte alguma. Após um período de incomum silêncio, a Chapa Mamba está de volta com Poeira Nenhuma, uma novíssima coleção de rocks empenados. São 11 músicas em pouco mais de 20 minutos, que é o tempo perfeito para tomar um café, dar um tapa ou ler um gibi — todas atividades que caem bem em conjunto com esse disquinho, ainda que ele mereça muito mais do que servir de música de fundo. Mas antes de falar do disco e das canções propriamente ditas (chegaremos lá, jovens), ainda é preciso tirar algumas coisas da frente. A notícia do lançamento de Poeira Nenhuma apareceu quase de supetão numa das newsletters da Chupa Manga Records, o selo-de-um-cara-só tocado pelo Stêvz, guitarra e voz da Chapa Mamba. Não que uma aparição súbita seja algo fora da norma para o trio — aliás, eles só aparecem se for de repente — mas o que chamou atenção foi o tempo corrido sem notícias. Do disco anterior, Presente, até aqui foram três anos sem músicas novas da Chapa Mamba, o maior período de silêncio na história da banda. E mais: as músicas do Poeira Nenhuma, informava o release, foram registradas ao vivo em uma sessão de 2018. Então por que esperar para lançá-las só agora? O que aconteceu com a banda de lá pra cá? Considerando tudo que rolou no Brasil

e no mundo nesses dois anos, é possível que as canções tenham ganhado outro sentido enquanto maturavam no cofre? Curioso pelos efeitos da passagem do tempo sobre a banda e o disco, escrevi para Stêvz e fiz as três perguntas do parágrafo anterior. Poucas horas depois ele me escreveu de volta com a seguinte resposta: No meio de 2018 me mudei de Porto Alegre para São Paulo, e isso me obrigou a deixar o material de lado por uns bons meses. Mas apesar de ter sido gravado basicamente ao vivo, em 3 ou 4 dias, tentei tomar o tempo que fosse necessário para descobrir o que as músicas desse disco poderiam dizer — algumas foram terminadas no último minuto. Não havíamos planejado muita coisa além de trocar umas demos toscas por whatsapp, e as “sessões” só foram mesmo suficientes para aprendermos as músicas que tínhamos prontas, fazer os arranjos e inventar uma ou outra coisa na hora. Enquanto nos preparávamos para gravar no Rio de Janeiro, durante uma intervenção militar, Marielle Franco foi assassinada com seu motorista Anderson. De lá para cá, a situação política do país conseguiu piorar exponencialmente com a eleição de um verme neofascista e sua turba, e, nesse exato instante, o mundo enfrenta a pior pandemia em um século. É difícil acrescentar qualquer coisa relevante à cacofonia geral na qual estamos imersos todos os dias, ainda mais


dentro de uma posição de privilégio, mas tentei escrever letras que pelo menos não fossem completamente alienadas desse contexto geral — mesmo que de forma indireta. Além disso, há limitações óbvias quando se criam as letras depois de gravado o instrumental (especialmente do jeito que pudemos fazê-lo, sem separação dos instrumentos, tudo junto em dois canais estéreo), por conta da estrutura já engessada. É um problema recorrente. Os espaços estão definidos, a dinâmica também — embora em alguns momentos tenha sido necessário lançar o “truque” de duplicar uma seção ou outra para caber mais versos — e, não bastando preencher os espaços, às vezes a palavra ideal para a narrativa não funciona por conta da sua fonética. No fim das contas, apenas agora conhecendo realmente as canções e sabendo como elas deveriam ser interpretadas, essa seria a hora (mas não podemos nos dar a esse luxo) de GRAVAR TUDO DE NOVO, de forma INTENCIONAL. Mesmo assim, tentei não mexer demais no que havia sido captado ao vivo. Há um senso de urgência ali que traduz um pouco dessas angústias, e espero que faça algum sentido para quem escuta hoje ou daqui há 10 anos, se ainda existir Brasil e mundo. Veremos. (No mais, é só um disquinho de rock caseiro de uma banda que toca junta uma vez por ano, e olhe lá. Você também pode fazer um.)

É tentador escrever que Poeira Nenhuma é um retorno da Chapa Mamba à boa forma, ainda que isso não faça lá muito sentido. Primeiro, porque o grande trunfo deste conjunto é justamente ser uma genuína banda de “corpo ausente”, logo sem forma aparente definida. Outra que essa expressão, surrada e pisada por anos de mau uso em críticas de música, me parece mais apropriada ao jornalismo esportivo. Mas é fato que há neste disco novo um vigor recuperado em relação aos dois anteriores, que inauguraram a fase da Mamba como trio, com a chegada do baixista Binho pra completar a cozinha com a bateria de Bruno. Em Poeira Nenhuma, o formato finalmente entra nos eixos e as 11 faixas correm refrescantes & ligeiras, como um pé de vento que entra pela janela e espalha os papéis da mesa pela casa. As faixas retomam temas caros à banda desde os primeiros discos, uma espécie de saga recorrente contra as Quatro Bestas do Apocalipse Pós-Moderno — Consumismo, Espetáculo, Controle e Alienação — , aqui atacadas por todos os lados com jabs de sarcasmo teleguiado. Vide “Água em Pó”, jingle imaginário para um produto que deve ser sucesso entre terraplanistas, ou a quase-grunge “Nunca Leia os Comentários”, de título autoexplicativo. Há ainda as sensacionais “Apoie a Cena Local”, tiração de onda com a galera


OUÇA: chupamanga.bandcamp.com/album/poeira-nenhuma

que só se abraça pra sair na foto, e a “Mão Invisível do Patrão”, que em menos de três minutos resume uma vida inteira de expedientes massacrantes. Mas a faixa mais sintonizada com o tempo presente talvez seja “Ideia Errada”, que em poucos versos resume bem o estado confuso das coisas desses dias: tentam te convencer a não ser mais você pra poder te vender mais uma ideia errada eles não querem que a gente saiba dar um jeito de se defender

Posto dessa forma, pode parecer que Poeira Nenhuma é um jorro de ressentimento contra tudo que está aí — eu vos garanto, não é. Mas é sim um trabalho preocupado em dizer algo em vez de simplesmente divertir, que fala com um vocabulário simples, mesmo quando o assunto é sério. E se tudo mais parecer sem saída, a dobradinha final do disco, “Vai Passar” e “Enquanto Isso” — essa, um instrumental com gosto de fim de tarde — aponta para amanhãs melhores. Fiquemos tranquilos, juventude. Enquanto houver maneira de dizer “não”, a Chapa Mamba canta. E a gente segue aumentando o som.


DICAS

faça seu próprio vinil PARA SABER MAIS yurisuzuki.com ezrecordmaker.com

Essa belezinha aí em cima pode parecer uma vitrola qualquer, mas trata-se de um modelo desenvolvido por Yuri Suzuki — ­ artista sonoro e designer residente em Londres, sócio do estúdio Pentagram — ­ em parceria com a fabricante japonesa Gakken, que risca e toca discos de cinco polegadas. Produzido em larga escala, o “brinquedo” pode ser adquirido nos EUA e no Japão pela bagatela de aproximadamente 450 reais, e tem velocidade de reprodução tanto em 45 quanto 33 rpm. A qualidade sonora definitivamente não é das melhores, mas o aparelho pode ser operado até por uma criança, e é capaz de gravar áudio do celular. Vale a pena conferir também outros trabalho de Suzuki, que já teve obras expostas em museus do mundo todo.


o som das estatísticas Obcecado pela interseção entre som e imagem (lembra do artigo sobre música e quadrinhos da nossa última edição?), o programador Brian Foo cria uma série de projetos que utilizam inteligência artificial para interpretar conjuntos de dados em forma de música. Sempre partindo de material de acesso livre, Foo, que trabalhou por anos com a Biblioteca Pública de Nova Iorque e agora com o Museu de História Natural, tem por objetivo tornar recursos públicos — como coleções audiovisuais, conjuntos de dados científicos e objetos

culturais — mais acessíveis para as pessoas. Dentre seus projetos mais interessantes estão os sites Data-Driven DJ, ­que transforma dados improváveis ­— como a posição de estrelas no céu (inspirado no Atlas Eclipticalis de John Cage), eletroencefalogramas de um derrame, medições da qualidade do ar de Pequim e quadros abstratos de Jackson Pollock e Lee Krasner — em música; e o recente Citizen DJ, que permite ao usuário transformar centenas de gravações de domínio público da Biblioteca do Congresso Americano em beats de hip-hop.

PARA SABER MAIS brianfoo.com datadrivendj.com citizen-dj.labs.loc.gov



ENTREVISTA

POR MAÍRA VALÉRIO

dobradiça enferrujada discos: de portas abertas para a experimentação ao lado: A Aranha Tem Uma Mosca Dentro da Cabeça, de Bruno Cunha e Kino Lopes, improviso de clarinete e guitarra. Capa por Uirá Ryker.

Em 2016, ocupações se alastraram pelo Brasil em oposição à Proposta de Emenda Constitucional 241, a “PEC da Morte”, que previa um teto de gastos públicos que acabaria por congelar investimentos em áreas como saúde ou educação por duas décadas (e que, infelizmente, conseguiu avançar). A Universidade de Brasília (UnB) não ficou de fora e, em meio aos protestos, floresceram projetos que estreitaram laços entre pessoas mobilizadas pela vontade de romper barreiras não apenas na arena da política formal, mas também na música, por meio da improvisação. Tal método de criação pareceu uma maneira eficaz de negociar forma, técnica e linguagem de modo

que diferenças fossem abraçadas. Nesse cenário, nasceu a Dobradiça Enferrujada Discos, antes chamada Gris Records, iniciativa fundada por Edgard Felipe e que se dedica às diversas estratégias de experimentação musical — e ao registro e produção das próprias pesquisas. Como afirma o músico Kino Lopes, hoje um dos responsáveis pelo selo, a improvisação foi uma das formas iniciais de “fazer do desencontro uma nova gramática”. Foi assim que ele, com um fundo mais voltado para o jazz e para a música brasileira, teve a oportunidade de criar e experimentar junto a colegas que transitam por outros gêneros — como música antiga, barroca ou romântica, por exemplo.


“A própria impossibilidade de encontrar uma língua unificadora seria a estética da improvisação”, conta o músico. “As linguagens são feitas de desencontros. Não tem nada mais anticultura do que falar que a cultura é alguma coisa. Cultura é um encontro entre identidades”, reflete. Aberto para encontros, desencontros e colaborações, o selo não tem o intuito de ditar regras ou determinar tendências. O denominador comum entre os projetos lançados é a eterna busca por tatear o desconhecido pois, para Kino, a cultura não está a serviço de uma imagem: a ideia é tirar imagens novas de uma criação. Essas novas imagens, no entanto, se transmutam em experimentos não necessariamente agradáveis, fofos ou confortáveis, principalmente quando se pensa a partir de uma perspectiva viciada em um entretenimento ultraprocessado. E essa é a graça: o tensionamento nos modos de ver o mundo, de acordo com Kino, é uma potência mobilizadora em tempos que temos uma indústria cultural que consolida uma força totalizadora e homogeneizante nas maneiras de ser, crer, ver e ouvir mesmo em alas mais progressistas da sociedade. Até o momento, o catálogo do Dobradiça Enferrujada Records conta com 10 álbuns gravados, vários vídeos, a participação de mais de 20 artistas nas empreitadas do selo e a realização de diversos

eventos pelo Distrito Federal, que uniu música a outras formas de expressões artísticas. “Naturalmente outras artes entraram [nas experimentações]”, diz Kino. “A improvisação fortaleceu muito a gente não ter uma relação com a arte como algo que ilustra ou exemplifica uma ideia já existente”, reforça. O projeto Antiparcas foi uma dessas experimentações híbridas promovidas em parceria com o selo. O intuito era reunir o som intuitivo do Paradoxa Duo — formado por Edgard e Kino — e o trabalho das artistas Thalita Pefeito, Anabi, Isadora Almeida e Kabe Rodriguez em uma imersão que juntasse processos de criação visual e musical para, a partir daí, propor uma troca mútua entre espaços poéticos que se centralizam no caminho, no percurso, no instante — e não no destino final. “Era projetada uma construção plástica delas, e a gente ia improvisando em cima, e elas improvisando de volta”, explica Kino. “Um jogo de tênis, de pingue-pongue, entre artes visuais e música”, diz. Mas, e aí: a música experimental de improviso perde alguma camada fundamental quando gravada? Kino adianta que não possui uma resposta exata e que a pergunta é tema de amplos debates. E traz novas questões. “Acho que a primeira pergunta é: quando uma improvisação deixa de ser improvisação quando ela é gravada?”, indaga.“


E qual é a real diferença não apenas entre os modos de produção da improvisação e da composição, mas entre a experiência auditiva de um tempo improvisado e de um tempo composto? E, especificamente, como a gravação afeta esses dois tempos?” acrescenta. Segundo o músico, existe uma ideia de que a composição é algo que permite uma audição mais direcionada para o detalhe e para as múltiplas direções propostas por um detalhe. Além disso, a composição traz elementos que não existem na improvisação, como o tempo estático e a “borracha” que permite correções e afins. Já na improvisação, os instrumentos deixam de ser simples instrumentos e a composição não acontece mais em um tempo que pode ser pausado. O instrumento está ali, não apenas esperando ser descoberto, mas sugerindo novas coisas. Porém, a realidade é que essa polaridade não é assim tão rígida, pois na composição pode surgir uma ideia nascida de um “erro” e, na improvisação, a bibliografia de cada membro envolvido traz todas as experimentações já feitas antes. “É o grande mito do documentário: se você está com uma câmera na mão, você não vai registrar o que aconteceu, você está agregando coisas, você está influenciando o registro”, brinca Kino. O que importa, nas palavras dele, “é ver o que sai da fricção entre tudo o que rola”.

LANÇAMENTOS RECENTES Morte em pleno verão – QORPO QORPO é Victor Rodrigues e Morte em pleno verão é um registro eletrônico e minimalista sobre o ruído e a matéria. A obra sugere o som como uma estrutura sólida, silenciosa e dramática, uma escultura suspensa no tempo. Mais a soma de seus possíveis Pt. e Pt. 2 Dividida em duas partes, essa coletânea de composições/improvisações reúne 14 artistas do Distrito Federal em um trabalho autoral e experimental que utiliza elementos diversos na criação de texturas instigantes. Masterizada por Pedro Menezes, o trabalho conta com Ca Rócha (tigelas e voz), Lucas Mattoso (garrafinha, didgeridoo, percussão corporal e voz), Victor Rodrigues “QORPO” (eletrônicos), Yuki Shimura (cravo), Gaspar Barrios (contrabaixo acústico e eletrônicos), Caio Fonseca (bateria), Daniel Pitta (saxofone soprano), Vida Viera (eletrônicos), Rafael Bacellar (teclado), Luiz Rocha (clarineta), Biophillick (eletrônicos), Marília Nobrega (violoncelo), André Togni (bateria) e Kino Lopes (guitarra e eletrônicos).

PARA SABER MAIS selo.dobradicaenferrujadadiscos.com dediscos.bandcamp.com


XEROCÃO

repertório de signos musicais

KOELLREUTTER, H. J. Introdução à estética e à composição musical contemporânea. 2ª ed. Porto Alegre: Movimento, 1987.

Signo é um sinal que se refere a alguma coisa

representados por signos. Som é tudo o que

fora de si mesmo, ou melhor, à própria função

soa. Assim, ruído também é som. O compositor

de se referir a alguma coisa. Sinal é um meio de

italiano Russolo, por exemplo, organizou, no

transição à distância, portador de informação

ano de 1912, uma orquestra de ruídos, a Intona

e de signos, que, por sua vez, não devem ser

Rumore, onde os classificou da seguinte maneira:

confundidos com símbolos. Símbolo é um signo que “coincide” com o objeto a ser simbolizado

1º Grupo: estalos, estampidos, estouros.

(do grego symballein; syn = com, juntamente

2º Grupo: assobios, sibilos.

e ballein = atingir, lançar, colocar). Um símbolo

3º Grupo: murmúrios, sussurros.

é, portanto, mais que um signo, já que nele

4º Grupo: chiados, guinchos.

estão latentes duas possibilidades fundamentais

5º Grupo: percussão.

que, racionalmente vistas, estão contrapostas

6º Grupo: vozes de seres vivos

e que, psiquicamente vistas, formam um todo.

(animais e humanos).

O autêntico simbolo é sempre o conjunto de dois polos que se completam mutuamente.

Assim, a composição dos tempos atuais serve-se

Sinal é um objeto qualquer que se transforma

de todos os tipo de som, como por exemplo:

em signo, quando se refere a alguma coisa que está fora deste sinal. O símbolo coincide

TOM: som com altura determinada.

com o objeto ou a coisa simbolizada. Todos os

RUÍDO: som sem altura determinada,

elementos musicais na partitura são símbolos,

MESCLA: som que contém, ao mesmo

pois cada signo coincide com o som corres-

tempo, elementos sonoros com altura

pondente. Porém, quando os mesmos signos

determinada e frações de ruidosidade.

são apenas ouvidos (sem utilização interme-

PONTO: impulso curto determinado pelo som

diária da partitura) deixam de ser símbolos. A

característico do instrumento (ex.: Woodblock)

música consiste basicamente de som e silêncio,

ou por articulação (maneira de tocar).


LINHA: contínuo sonoro produzido

musical contemporânea, não considera, em prin-

por um só instrumento ou uma só voz

cípio, alturas e intervalos absolutos, mas gradua-

(linha reta, quebrada ou ondulada).

ções e tendências. Não se trata, por exemplo, de

SONÂNCIA: som que se extingue lentamente,

acordes, mas de graus de intensidade de grupos

seja por características do instrumento (ex.: prato

de sons; de ritmos e andamentos determinados,

ou gongo) ou por articulação (arcada, respiração).

mas de graus de velocidade, de mudança de

SOM MÓVEL: som produzido por movimento

andamento, de tendências, enfim. Na composição

contínuo (vibrato, esfregar, raspar, sacudir).

de campos sonoros, o processo de desenvolvi-

CLUSTER: (do inglês = cacho) complexo sonoro

mento cede lugar ao processo de transformação.

formado por segundas maiores ou menores,

A determinação de graduações e tendências

ou ainda por intervalos menores (microtons),

encontra-se entre o preciso e o impreciso, entre

sobrepostos e emitidos simultaneamente.

o determinado e o indeterminado. A composição

SIMULTANÓIDE: complexo sonoro formado por

de campos depende principalmente do equilíbrio

três ou mais sons de frequências diferentes que

das relações entre ordem e desordem. Entre

não podem ser ordenados em terças sobrepostas.

as camadas de pontos, linhas, grupos, blocos,

AGRUPAMENTO SONORO: grupo de

entre os graus de adensamento e rarefação.

sons multidimensional; seus elementos

SILÊNCIO: o silêncio pode ser entendido de

não obedecem a uma ordem periódica.

diversas maneiras, como: ausência de som, índice

PROCESSO SONORO: movimento dire-

alto de redundância, reverberação ou ressonân-

cional de sons que pode consistir em

cia, simplicidade e austeridade, delineamento em

um ou mais agrupamentos sonoros.

lugar de definição, monotonia. Aqui, a mono-

CADEIA SONORA: sucessão de pontos,

tonia consiste na utilização de grande quanti-

linhas ou complexos de sons.

dade de elementos conjuntivos, de repetição, de

FAIXA SONORA: sons móveis sobrepostos.

redundância, que criam um clima de meditação.

COMPLEXO SONORO: conjunto multidirecio-

Na música tradicional, o silêncio é caracterizado

nal de sons justapostos e sobrepostos; pode

pela pausa, sendo utilizado como elemento de

ser regular ou irregular, estatístico e textura.

articulação que separa com distinção e clareza

CAMPO SONORO: produto de uma estética

as diversas partes da forma de um trecho ou de

relativista, compreende estruturas de determi-

uma frase. Na música de hoje, o silêncio torna-se

nação aproximativa e tende à fusão e diluição

um elemento de expressão; o vazio repleto de

e, portanto, à unificação das mesmas. O campo

potencialidades. Integra o contínuo do universo

descuida dos elementos que requerem precisão,

sonoro, pois existe como matéria sonora e

exatidão, rigor e regularidade de execução, pois

vibrante. Apesar do restrito limite audível do

é estrutura volumétrica. Com a composição de

ser humano (16 a 20.000 hz), o mundo sonoro

campos, desaparece definitivamente o que se

continua a existir. O silêncio deve ser perce-

praticou até então como composição de vozes ou

bido como outro aspecto do mesmo fenômeno

partes. A estética relativista, base da composição

(som), e não apenas como ausência de som.


PLAY ALONG

© Stvz, 2020.

mais uma coisa que não vai dar em nada

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2. Mas vai 1. I sso 2. Mas vai

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QUADRINHOS


POR JANJA


EXTRA

o título de uma matéria

As legendas também importam, mesmo que estejam em corpo 7 Como você já deve ter percebido, nós gostamos de notas de rodapé Abolimos todos os textos justificados

Talvez você tenha reparado alguma coisa diferente neste número do chupa manga zine. De fato, resolvemos dar uma necessária recauchutada no layout da publicação, tentando seguir os princípios básicos da escola suíça de Josef Müller-Brockmann. Pode parecer besteira, mas com um formato tão pequeno e pouco ortodoxo (para caber no mesmo envelope de um 7 polegadas), cada milímetro das nossas páginas tem alto valor imobiliário, e não podemos nos dar ao luxo de distribuir os elementos entre elas de qualquer jeito. Sem falar que, com as novas 3 ou 4 colunas variáveis e as divisões horizontais agora definidas, é muito mais fácil chegar a uma diagramação sólida do que puramente via tentativa e erro, como vínhamos fazendo até aqui. Espera-se, então, que com isso tenhamos proporcionado a você uma leitura mais confortável. Até a próxima edição.


O novo single do Stvz

Este zine O almoço de amanhã

O novo imposto sobre livros Tretas de internet

Essa pandemia Esse governo Os apoiadores desse governo

nga. ama chup camp.com band

O novo ĂĄlbum da Chapa Mamba


“A banda demonstra profissionalismo e bom-humor, ampliando o leque de influências, que vão de É O Tchan a Justin Bieber.” ����⭐ — @resenhabot


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