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Friquinique

Eduardo Medeiros

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Eduardo Medeiros

Friquinique

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perna de pau, o olho de vidro, a barba por sobre os seios da siamesa da esquerda. Quase todo siamês é ambidestro, mas ninguém percebe. O freak é, antes de tudo, um cara marcado em seu próprio corpo, uma tatuagem que o sujeito não quis, e que diz dele uma coisa muito clara e incômoda: “parte, meu amigo, você não faz”.

Ou faz de outro jeito, e é esse outro jeito que os esquizóides aprendem desde cedo (se assim nascem) ou desde logo (se assim se tornaram) a administrar. A deformidade estigmatiza o sujeito, faz dele um bicho a partir de seu defeito. O freak é uma normalista que acabou de chegar em casa após sua primeira trepada, às seis da manhã, e encontra os pais na mesa do café. Erving Goffman define o estigma como um traço de identificação imediata da diferença de um sujeito em relação a seu grupo, e entende o estigmatizado como alguém que “compra” essa diferença e passa a viver a partir dela. Mutilados, cultivadores de comportamentos destoantes e deformidades em geral entram nessa lista, e são exibidos como aberrações nos palcos e telas desde que o mundo é mundo. Já foram bem retratados por Joel-Peter Witkin, por exemplo, que compôs um impressionante catálogos de mortos, mutilados e freaks capazes de questionar qualquer noção de normalidade. Mas o que fazem os esquisitos quando não estão “em exibição”? Qual o cotidiano dos “inadequados”? Por quais dramas passam quando a dramatização acaba e o pano baixa? Como o homem sem braços passa manteiga no pão? A mulher barbada depila as axilas? São essas as respostas que este Friquinique tenta dar, com seus personagens deslocados e esquisitões transitando por enormes picadeiros urbanos (onde todos, afinal de contas, somos meio que personagens do Tod Browning). O enfoque das narrativas está no cotidiano das figuras deformes, na melancolia, na solidão e no desconforto não glamurizado de suas condições. O freak é uma tatuagem vermelha, em arial black, rodeada de caralhinhos alados, na testa da normalista, dizendo: "papai, DEI." Bruno Azevêdo

trombonista imaginário


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he wooden leg, the glass eye, the beard over one of the left twin's breasts. Almost every siamese is two-handed but no one seems to notice. The freak is, above all, someone marked on its own skin, an unwanted tattoo that says something very clear and uncomfortable: "belong, my friend, you do not." Or perhaps it does, in some other way that the schizoids learn early on (if born like that) or pretty soon (if turned into) how to manage. Deformity stigmatizes, makes animals out of them and their "flaws". The freak is a schoolgirl that has just arrived home after losing her virginity, six in the morning, and runs into her parents at the breakfast table. Erving Goffman defines stigma as a trace of immediate identification of the difference of a subject in relation to his group, and understands the stigmatized as someone who "buys" this difference and begins to live from it. Mutilated, carriers of dissonant behavior and deformities in general fall into this list and are displayed as aberrations on stage and screen since the world exists. They have been well portrayed by Joel-Peter Witkin, for example, who composed an impressive catalog of dead, mutilated and freaks able to question any notion of normality. But what do the weird do when not on display? How is the daily life of the inadequate? What really goes on behind the curtain, when the drama ends and the show is over? How does an armless man spreads peanut butter on a toast? Does the bearded lady shave her armpits? Those are some of the questions that this Friquinique tries to answer, with its weirdo displaced characters on parade at the city's urban circus rings (where we are all kind of characters in a Tod Browning film). These narratives focus in the daily lives of deformed figures, in their melancholic, lonely and uncomfortable conditions. The freak is a red tattoo, in arial black, surrounded by flying dicks, on the schoolgirl's forehead, that reads: "daddy, I did it".

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a jambe de bois, l’œil de verre, la barbe par dessus la poitrine de la sœur siamoise de gauche. La plupart des jumeaux siamois sont ambidextres, mais personne ne le remarque. Le « freak » est, avant tout, quelqu’un marqué sur son corps, d’un tatouage qu’on a pas voulu et qui dit quelque chose très claire ainsi que gênante : « mon cher, tu n’appartient à nulle part ». Ou on fait partie d’un hors classe, et c’est de cette façon que les bizarres apprennent depuis très tôt (si ainsi naissent-ils) ou depuis bientôt (s’ils le sont devenus) à l’administrer. La difformité stigmatise l’être, il devient une bête selon son handicap aux yeux des autres. Le freak est une fillette qui vient d’arriver chez elle à six heures du matin après sa première fugue avec des garçons, et elle tombe sur ses parents déjà éveillés. Erving Goffman définit le stigmate comme une trace d’identification immédiate de la différence du sujet par rapport à un groupe, et comprend le stigmatisé comme celui qui « achète » cette différence et décide de vivre à partir d’elle. Mutilés, les gens agissant hors les normes et des difformés en général sont présents à cette liste, du moment où ils sont exhibés comme des anomalies vivantes sur scènes et écrans depuis belle lurette. Joel-Peter Witkin les a photographiés, par exemple, dans un incroyable catalogue comprenant des morts, des mutilés et des freaks, nous faisant tordre nos notions de « normalité ». Mais, encore, que font ces « singuliers » quand ne sont-ils pas « à l’affiche »? Quel serait le quotidien des « inadéquats »? Par quels drames passent-ils quand la scène se termine et les rideaux descendent? Comment l’homme sans les bras tartine-t-il son pain? La femme barbue, laisse-t-elle ses aisselles épilées? Friquinique essaie de répondre à ces questions-là, avec ses personnages en marge et bizarroïdes, qui y défilent, métroboulot-dodo (et, en fin de comptes, nous aussi sommes un peu des personnages de Tod Browning). Le point en commun des récits ci-présents est le quotidien de ces gens, leur mélancolie, leur solitude, leur malaise, sans aucun glamour. Le freak est un tatouage rouge, en format aberrant, brodé de bites volantes, à la tête de la fillette, et qui dit : « papa, j’ai baisé ». Bruno Azevêdo

imaginary trombonist / tromboniste imaginaire




Não existe monstro que não possa tornar-se agradável através da arte. boileau

Les Ecarts de la Nature ou Recueil des Principales Monstruosités (1775)

Devo ser, devem querer que eu seja, ou um gorila ou o próprio homem das cavernas, de qualquer forma um antepassado do homem, não o próprio Homem – embora a minha consciência me grite que sou um homem, que ela é um homem, e que o fato de andar de quatro não me atinge desde que eu não ande, apenas esse gorila fora de mim ou esse homem das cavernas. campos de carvalho

A Chuva Imóvel (1963)

arrigo barnabé

Clara Crocodilo (1980)



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FRIQUINIQUE por Eduardo Medeiros, Elcerdo, Rafael Sica e Stêvz Edição e projeto gráfico Stêvz Versão traduzida Maria Clara Carneiro (francês) e Stêvz (inglês)

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Stêvz. Friquinique / Eduardo Medeiros, Elcerdo, Rafael Sica, Stêvz. – Rio de Janeiro: E. de M. Vieira, 2013. 192 p. : il., 23 x 20 cm.

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Agradecimentos Bruno Azevêdo, Clara do Prado, Maria Clara Carneiro, Rosimar Mello

Impresso na gráfica Minister Rio de Janeiro, Brasil Outubro de 2013

revistabeleleu.com.br

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CDD B869.7 CDU 741.5 (39)

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1. Histórias em quadrinhos – Adulto. 2. Freaks I. Título. II. Beleléu. III. Autores. IV. Bleargh.

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ISBN: 978-85-912517-3-5




Eduardo Medeiros

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ATENÇÃ O

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ISSO É APENAS UMA PRÉVIA D FRIQUIN O LIVRO IQUE , A COISA PRA VALER V O CÊ ENCONT RA AQU I: friquiniq ue.tumb lr.com

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