Revista Grand Panamby - Camargo Corrêa

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M A G A Z I N E

legado

A pintura abstrata de Tomie Ohtake

ART

O surrealismo digital do sueco Erik Johansson

moda

A brasilidade do estilista Ronaldo Fraga

arquitetura A simplicidade de Shigeru Ban



editorial

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OS SENTIDOS DA ARTE ara brindarmos o lançamento do residencial Grand Panamby oferecemos aos nossos clientes uma revista sobre arte e lifestyle. Assim como o empreendimento foi idealizado para famílias que gostam das boas coisas da vida, a revista Grand Panamby identificou um elo entre a família e os sentidos da arte. Criar, crescer, cuidar, educar e preservar são ações incorporadas em toda família e nada mais próximo do legado dessa vida compartilhada do que a arte que expressa emoções e ideias em todas as culturas. Assim como a família é perene, a arte é para sempre. Nas páginas a seguir, o leitor poderá conhecer ou relembrar grandes ícones da arte brasileira e internacional. São artistas dos mais diversos segmentos que fizeram da arte uma plataforma para experimentar os sentidos. Na seção ART, o nonsense marca o trabalho do jovem artista sueco Erik Johansson. Entre as mulheres que viveram intensamente processos criativos inovadores – cada uma ao seu modo – perfilamos a cineasta e fotógrafa alemã Leni Riefenstahl e a artista plástica Tomie Ohtake. Senhoras que contribuíram com a história da arte no século 20 e tornaram-se referências pelas obras que deixaram para nós. Com um legado fortemente identificado com a paisagem urbana de São Paulo, o escultor Victor Brecheret viveu plenamente um período importante das artes visuais no Brasil. Brecheret foi um dos pioneiros do Modernismo em nosso país. Com sensibilidade apurada e técnica impecável, o artista criou obras monumentais com forte identidade. Na seção CULT, a arte multifacetada de Roberto Burle Marx, que foi além do paisagismo e se aventurou na pintura, joalheria e vidraçaria, entre outras expressões artísticas. Tal qual Marx, o artista italiano Leonardo da Vinci também foi um inventor talentoso. Da arte para a ciência sua genialidade revelou seu lado visionário ao antecipar diversos artefatos que se tornaram realidade muito tempo após sua morte. Em ARQUITETURA, os projetos emergenciais de Shigeru Ban que foram pensados para aliviar o dia a dia de sobreviventes de catástrofes naturais. A brasilidade do estilista Ronaldo Fraga está na seção MODA: sua originalidade trouxe visibilidade internacional ao seu estilo. O mesmo podemos dizer do chef espanhol Ferran Adrià em GOURMET. Nossa reportagem revelou seu processo criativo apresentado em uma exposição especial em Madri. E como estamos falando dos sentidos, a seção VIAGEM traz a cidade francesa de Grasse, considerada a capital do perfume. A Fundação Maria Luisa e Oscar Americano ganha destaque na seção VERDE. Com seu bosque de 75 mil metros quadrados, a Fundação é um verdadeiro refúgio natural na capital paulista. Para finalizar, apresentamos o residencial Grand Panamby, com os diferenciais de sua arquitetura assinada pelo escritório Candusso, o paisagismo de Benedito Abbud e projeto de decoração da arquiteta Patrícia Anastassiadis. Com esse conteúdo focado nos sentidos da arte e na qualidade de vida esperamos que todos tenham uma leitura agradável e possam se inspirar para viver a vida com maior plenitude.

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sumário

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INSTITUCIONAL Planejado para famílias que valorizam a qualidade de vida, o residencial Grand Panamby aposta em unidades espaçosas

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LEGADO Com telas abstratas, a artista plástica Tomie Ohtake deixou sua marca na história das artes visuais do Brasil

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CULT

Da pintura à joalheria, o múltiplo talento de Roberto Burle Marx foi além do seus projetos de paisagismo

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VIAGEM Capital internacional do perfume, a cidade de Grasse é um dos destinos mais procurados da Riviera Francesa

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Autor do Monumento às Bandeiras, o escultor Victor Brecheret deixou sua arte para a cidade de São Paulo

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FOTOGRAFIA Com uma vida cheia de aventuras, a fotógrafa e cineasta alemã Leni Riefenstahl foi uma esteta à procura da beleza

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Apoiado na pesquisa sobre nossas raízes, o estilista Ronaldo Fraga faz uma releitura de nossa cultura em suas coleções

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sumário

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ana luiza siqueira renata ferreira pinto

ARQUITETURA Vencedor do Prêmio Pritzker em 2014 o arquiteto Shigeru Ban desenvolve projetos para vítimas de catástrofes

tatiana miti isikawa André Luiz dos Santos Oliveira

PROJETO EDITORIAL

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ART

O verdadeiro e o falso na manipulação de imagens do artista sueco Erik Johansson

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O parque arborizado da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano tornou-se um refúgio na cidade de São Paulo

O lado de cientista e inventor do italiano Leonardo da Vinci, autor da famosa Monalisa

SCI

VERDE

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GOURMET O processo criativo do chef espanhol Ferran Adrià: um ícone da gastronomia internacional

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www.studiolemon.com.br Rua Harmonia, 293 CEP 05435-000 Tel.: (11) 2893 - 0199 São Paulo - SP

DIRETOR DE CRIAÇÃO Cesar Rodrigues cesar@studiolemon.com.br

DIRETOR EXECUTIVO Chico Volponi cvolponi@studiolemon.com.br

PROJETO GRÁFICO Lemon Design & Comunicação

DESIGN Eduardo Barletta

EDITOR Luiz Claudio Rodrigues

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JORNALISTAS Claudio Gues Lauro Lins

Onde você descobre o jeito especial de ver a vida

REVISÃO Claudio Eduardo Nogueira Ramos

GRAND PANAMBY


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GRAND PANAMBY Planejado para famílias que valorizam as boas coisas da vida, o residencial Grand Panamby reúne espaço e sofisticação num dos bairros mais nobres de São Paulo

Perspectiva ilustrada da fachada


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“O MELHOR ESPAÇO É AQUELE QUE CONTA SUA HISTÓRIA. UM AMPLO REFÚGIO, ONDE EM CADA AMBIENTE SE DESCOBRE UM JEITO ESPECIAL DE VER A VIDA”

Perspectiva ilustrada do terraço

lanejado para oferecer conforto e qualidade de vida para seus moradores, o residencial Grand Panamby será erguido num dos bairros mais arborizados e nobres de São Paulo, o Panamby. Seu diferencial está no espaço generoso de suas 236 unidades, com opções que variam de 138 m2 até 395 m2. Além das dimensões generosas, os apartamentos têm pé-direito duplo com 5,2 metros de altura, um detalhe especial que faz toda a diferença pela amplitude e sofisticação. O residencial Grand Panamby é composto por duas torres instaladas numa área de 13 mil m2 cercada por um terreno de 4 mil m2 de área verde preservada. Seu projeto contemporâneo é assinado pela Candusso Arquitetos, enquanto o paisagismo foi planejado por Benedito Abbud. A decoração das áreas comuns foram planejadas pela arquiteta Patrícia Anastassiadis.

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Foto do Parque Burle Marx


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Por estar num dos bairros mais arborizados da cidade e com enorme potencial de valorização, o Grand Panamby tem localização privilegiada com fácil acesso a shoppings centers, supermercados, restaurantes, escolas, academias de ginástica e parques. Lugares que tornam o dia a dia mais prático aos futuros moradores do residencial, que está a 10 minutos de caminhada do Parque Burle Marx e próximo à futura ponte do Panamby, na Marginal Pinheiros, rota que irá facilitar o acesso a um dos principais eixos de negócios da cidade: as avenidas Berrini e Chucri Zaidan. Além disso, esse trecho da região Sul de São Paulo passa por uma grande transformação urbana, como melhorias viárias que incluem as novas alças Laguna e Itapaiuna da futura ponte Panamby, o Monotrilho e a avenida Hebe Camargo. A construção das alças já foi iniciada e cada uma

terá sentido único e oferecerá novos retornos e acessos para quem trafega na Marginal Pinheiros. A alça de acesso Laguna ligará o bairro Panamby à rua Laguna, no Brooklin. Com 365 metros de extensão, a alça terá três faixas de rolamento e uma ciclovia com acesso direto ao Parque Burle Marx. A faixa exclusiva para bicicletas será posicionada à direita e terá conexão com a ciclovia da CPTM. Uma passarela para os pedestres completa o projeto urbanístico. Por sua vez, a alça Itapaiuna será uma ótima opção para os moradores da região do Portal do Morumbi que precisam cruzar o rio Pinheiros no sentido Santo Amaro e à região central da cidade. A alça terá extensão de 340 metros e três faixas de rolamento. Com essas melhorias, a região será uma referência em mobilidade urbana em São Paulo, trazendo mais qualidade de vida aos seus moradores.

em sentido horário, o parque burle marx, marginal pinheiros e o morumbi shopping.


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Foto aérea da região do Panamby


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INTUITIVA E AUTORAL A arte abstrata de Tomie Ohtake é o principal legado da artista para a cultura nacional

POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES FOTOS: DIVULGAÇÃO

omie Ohtake (1913-2015) invariavelmente vestia preto. Um gesto que se contrapõe ao seu trabalho: colorido, vibrante e cheio de energia. Também mantinha uma atitude silenciosa e reflexiva. Ela nunca aprendeu a falar fluentemente o português. Sua comunicação sempre foi através da arte. Suas pinturas, gravuras e esculturas falavam por ela. Além das cores, linhas e texturas são aspectos importantes nas obras da artista. Suas telas, com manchas justapostas e sobrepostas, trazem a sensação de profundidade, transparência e movimento. Geralmente telas monocromáticas com variações sobre o mesmo tom. Ela se negava a dar títulos para sua arte e muito menos criar um discurso para elas. Sua criação era intuitiva, inventiva e autoral. Gostava que as pessoas vissem e sentissem sua arte do jeito delas. A fama conquistada, desde a década de 1960, nunca modificou o desafio que se propôs: o eterno reinventar. “A capacidade de renovação de Tomie está expressa nas diferentes fases de sua pintura e nas suas composições de gravura e escultura. É dessa intenção intuitiva permanente que brotam o frescor e o esplendor de sua arte celebrada pela crítica e pelo público”, afirma o texto de apresentação da artista no site do Instituto Tomie Ohtake. O crítico de arte Agnaldo Farias afirma que a maturidade foi seu apogeu. “Sua poética em vez de declinar, germina em outras direções. Pode-se dizer que o outono cede espaço à primavera.” Ao longo de sessenta anos de carreira, Tomie substitui a imaterialidade aparente de suas telas pelo estudo da relação forma-cor. Entre formas ovais, retangulares, cruciformes e quadra-

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das apresentadas de maneira isolada, justaposta ou em série, ficava sempre preservada a ambiguidade perturbadora de sua arte. “Esses efeitos são obtidos através da tensão entre a forma que se agiganta até praticamente encobrir o espaço; na maneira como esse espaço insinua-se pelas frestas da forma; enfim, no confronto incessante entre esses dois termos e que se acentua, já nos anos 1970, quando finalmente o espaço branco é tomado pela cor e se apresenta como forma”, diz o catálogo de sua última exposição em novembro de 2013, na galeria do instituto que leva seu nome na capital paulista. Quando chegou ao Brasil em 1936, aos 22 anos, o que chamou a atenção dela foi a luz, a claridade. Para ela, o Brasil tinha “cheiro de amarelo”. Foi só depois dos 40 anos, com os filhos criados, que Tomie pôde se dedicar à arte. Em 1957, na primeira exposição individual no Masp, Tomie já exibia telas de pintura abstrata. De acordo com os críticos, sua pintura é abstrata informal, onde a utilização de cores e formas, com criação livre e intuitiva são valorizadas. Aos 101 anos mantinha uma disciplina rígida e uma rotina organizada de trabalho, até ser internada no começo de fevereiro no Hospital Sírio-Libanês. Ao ser questionada se continuava na ativa ao completar seu centenário de vida, respondeu: “Mesma coisa que antes. Não sinto diferença nem um pouco. Ainda bem que, felizmente, tenho saúde”, afirmou com seu providencial sorriso. Assim como o abstrato era a principal qualidade de sua arte, a gentileza e a simplicidade da artista é o que fica na memória de quem teve o privilégio de conhecê-la pessoalmente.


LEGADO

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A palavra da crítica Os críticos de arte sempre foram os principais incentivadores do trabalho de Tomie Ohtake. Aqui, trechos de alguns ensaios de Miguel Chaia, Frederico Moraes, Paulo Herkenhoff e Agnaldo Farias sobre sua obra.

A DIMENSÃO CÓSMICA NA ARTE DE TOMIE OHTAKE, POR MIGUEL CHAIA Usufruir uma obra de Tomie Ohtake propicia uma dupla experiência – incita à reflexão, num movimento primordial de subjetivação; e estimula os sentidos, em direção às coisas externas do universo. A produção dessa artista vem deixando inúmeras pistas para o olhar e a análise do significado da sua obra. Uma das possibilidades de leitura é oferecida pela presença de uma dimensão cósmica nas suas pinturas, que se vem manifestando desde o início de sua trajetória, mas que exacerba naquelas realizadas a partir dos anos 1990. Mais interessante ainda é que essas obras antecipam, pela intuição artística, imagens do espaço cósmico obtidas por instrumentos de observação de alta tecnologia, como, por exemplo, o telescópio Hubble. A poética de recriação do cosmo pela artista, que para a sua elaboração prescinde da intencionalidade, e a crescente utilização de recursos tecnológicos para fotografar ou ilustrar pontos do universo formam um instigante material para aprofundar questões referentes à sincronia entre arte e ciência e a relação da arte com a filosofia, supondo essas três áreas enquanto fenômenos interligados de produção de conhecimento. A analogia entre as imagens artísticas e as realizações técnico-científicas remete a algumas das preocupações românticas, como aquelas que supõem o artista como o ser sensível antenado no seu tempo e nos fenômenos adjacentes e, também, como indivíduo portador da capacidade de antecipação do futuro. Entretanto, no caso dessa analogia, centrada na obra de Tomie Ohtake, tais formulações românticas não serão consideradas, uma vez que interessa entender questões desse tipo, a partir da análise da obra e das situações de sua criação. Essa tendência de realização de uma pintura representando espaços, formas e cores que remetem a um mundo cósmico encontra fundamento numa geometria curva, original arcabouço da linguagem e da expressão artística de Tomie Ohtake, que pode ser melhor explicitada através de duas abordagens distintas, mas vinculadas entre si: a primeira permite compreender essa geometria a partir da análise interna à obra; e a outra considera as condições vivenciadas pela artista e que, direta ou indiretamente, afetam o seu fazer artístico.

Óleo sobre tela, sem título.


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Litografia, sem tĂ­tulo (1972).


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O EDIFÍCIO DE FORMAS: TOMIE OHTAKE, POR FREDERICO MORAIS Diante da sua pintura, o crítico vive um permanente desafio: ou fala de pintura, ou deve recolher-se. Com efeito, em suas telas, Tomie Ohtake não descreve situações vividas ou sonhadas, não comenta nem recria a realidade à sua/nossa volta, não avança para análises sociais ou políticas, não é nem confessional nem autobiográfica. Assim, não há nada em que o crítico possa agarrar-se para escapar ao desafio de falar de pintura. Mas falar da pintura de Tomie é falar, antes de tudo, da forma. É dela que nos recordamos quando pensamos em sua pintura. Em 1976, comentando uma exposição da artista, escrevi: “Guarda-se na memória aquele gesto preciso, que faz caminhar a cor dentro da cor, em ondulações. Guarda-se na memória aquela precisa forma/cápsula, como que suspensa no espaço, ao mesmo tempo tão solidamente presa à tela. Guarda-se na memória aquela precisa sucessão de formas-em-arco, ocupando a parte inferior da tela. Formas precisas e nítidas, que nos emocionam como certas manhãs de sol, muito claras, quando todas as coisas parecem adquirir o mais perfeito equilíbrio, como a luminosidade calma e macia de certas tardes outonais, como a inteireza da pedra, da onda, do silêncio”. É como se Tomie Ohtake criasse as formas que precisamos ou desejamos. Formas nítidas e precisas, capazes de atender às nossas necessidades, que são profundas e permanentes, de ordem e de beleza, de claridade e de frescor, de transparência. Formas que funcionam como uma espécie de higiene do olhar, um contraponto necessário à fragmentação e dispersão do mundo atual, caótico e veloz, apegado à materialidade dos objetos e ao consumo. Um contraponto necessário ao excesso de realidade contingente, ao bombardeio de informações inúteis veiculadas pelos meios de comunicação de massa. Por isso suas formas permanecem em nossa memória como modelos ou arquétipos de um mundo de luz limpa, saudável, digno de viver.


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Gravuras e serigrafias, sem título.

TOMIE OHTAKE, POR PAULO HERKENHOFF Na tradição da pintura clássica do zen-budismo, o traço tem preeminência. A pintura se elabora por meio de “uma linguagem linear de certa frieza, distanciada e muito pessoal. O traço aqui não possui nenhum valor próprio. É uniforme no que concerne às suas características: é fino, preciso, de utilidade objetiva”, informa Helmut Brinker. Este é o cânon gráfico da arte zen. No Japão, a adolescente Tomie Ohtake teve aulas de arte no ginásio. Usava o crayon para criar imagens figurativas, já revelando seu claro interesse pela cultura ocidental. Recorda-se que “havia pintura japonesa tradicional, com tinta de terra, mas eu não gostava daquilo, da linha fina e dos detalhes”. Essa postura anuncia uma forma particular do interesse de Tomie Ohtake em arte, que ora recusa peremptoriamente a tradição oriental enquanto dogma estético, ora atua em sua perspectiva, reinventando seu sentido para o presente. Sua pintura conserva memória da ação caligráfica, incorpora o emaranhado das lianas da Amazônia, onde viveu, e finalmente a gestualidade da arte informal europeia dos anos 1950. Na escritura pictórica de Shiró, a imagem funde a fantasmática da primeira infância no Japão, seu imaginário da vivência amazônica e se aproxima do simbólico pós-surrealista. Se o espaço renascentista havia cessado de dar conta das necessidades do mundo moderno e por isso fora submetido à destruição, conforme Pierre Francastel; a obra de Ohtake responde os desafios de um espaço novo, que inclui encontros espirituais, diálogos e fusão de culturas por meio do signo material da pintura. Tomie praticou uma arte que é suave fricção do desejo de estabilidade no tempo que passa.


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19 Óleos sobre tela, sem título.

SEIXO ROLADO E NUVEM, POR AGNALDO FARIAS Ela é econômica no falar. E não se sabe ao certo se isso é uma decorrência de seu português pouco fluente, que mesmo depois de sessenta e cinco anos de Brasil se expressa exclusivamente por meio de frases curtas e substantivas, ou porque o discurso verbal é mesmo uma floração invisível e efêmera, sendo-lhe mais interessante manter o foco na concretude do trabalho, numa rotina disciplinada e infatigável mantida ao longo de mais de cinquenta anos. Talvez seja por isso que os registros fotográficos e fílmicos prefiram flagrá-lo no momento da ação, na coreografia pausada e silenciosa que seu corpo miúdo realiza diante da tela, desfilando os meticulosos passos e gestos correspondentes à avaliação do desenho ou da pincelada já executados, para logo em seguida, sempre com a mão segura, ir adiante. É comum que as câmeras dos incontáveis jornalistas e pesquisadores que volta e meia acorrem ao seu estúdio se fechem no movimento de seu tronco e mãos, na lenta sucessão de pinceladas sobre as telas; na elaboração de pequenas telas, projetos de pinturas maiores; ou na produção de gravuras, outro campo preferencial de suas experiências. Em particular, se elas pertencerem a séries derivadas da apropriação e retificação de formas estampadas em gravuras anteriores. Um método singular, segundo o qual a artista recorta uma gravura sua cuja imagem lhe interessa, recorte que em seguida ela empunha ao mesmo tempo que projeta uma luz sobre ele. Os contornos distorcidos das sombras derramadas sobre a matriz da gravura que está sendo preparada convertem-se num novo ponto de partida. A economia no falar coincide com o adensamento de uma experiência que parece tomada pelo sentido senão da urgência ao menos da certeza, como se não houvesse tempo a ser perdido. Afinal, coerente com uma sociedade que consignava às mulheres exclusivamente os labores dos espaços domésticos, o começo de Tomie foi tardio, quando já contava com quase 40 anos e os dois filhos devidamente criados. Desde então a pintura foi a espinha dorsal de sua trajetória, embora várias bifurcações – como a gravura, os painéis murais, as cenografias e, mais recentemente, a escultura – tenham ocorrido em seu desenrolar. E saliente-se que essas bifurcações são de tal ordem que tratá-la como pintora, ainda que na condição de uma das maiores representantes que essa expressão conheceu entre nós, talvez seja uma maneira imprópria porquanto reducionista de se referir a uma grande artista.


CULT

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ECLÉTICO Multitalentoso, Roberto Burle Marx também aventurou-se na pintura, joalheria e vidraçaria, entre outras criações POR: CLAUDIO GUES FOTOS: DANIEL MANSUR E ISABELLA MATHEUS

oberto Burle Marx (1909-1994) tornou-se célebre pelos seus projetos paisagísticos no Brasil e no mundo. O mesmo talento que tinha para compor jardins elaborados pode ser visto na criação de um acervo de arte que inclui pinturas, desenhos, cerâmicas, vidros, joias e tapeçarias. Toda essa produção foi exibida na exposição “Vontade de Beleza”, que ficou em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo até março passado. Uma faceta de sua vida que poucos conheciam. O curador da mostra, o crítico de arte Giancarlo Hannud, destaca a influência do paisagismo nessa produção. “Sua prática paisagística, caracterizada pela ordenação das formas, massas, cores e texturas sobre um dado espaço geográfico, em estreita relação com sua topografia e flora nativas, sempre esteve intimamente ligada à sua atuação como pintor e vice-versa. Durante praticamente toda sua vida, parte do seu dia foi dedicado à pintura, com cavaletes em todos os seus locais de trabalho e residências. Do mesmo modo sua escultura, tapeçaria e joalheria, tudo se fundindo em um grande projeto de estetização da vida e do viver”, afirma Hannud. Foi a partir da década de 1930 que Burle passou a pintar. Nessa fase dedicou-se a naturezas-mortas com motivos da flora brasileira, em traços sinuosos e uma paleta de tons sóbrios. Sua primeira influência é o expressio- Na foto maior, exemplar da joalheria nismo, com formas estilizadas ou simplificadas, cores intensas e até – com design abstrato criada por Burle Marx. mesmo o efeito psicológico que procura imprimir aos autorretratos Acima, um conjunto e pinturas de tipos populares. Logo depois incorpora as formas do de telas que fazem parte de coleções. cubismo. Sua pintura tem influência de Pablo Picasso e dos mura- particulares e do acervo do Sítio Burle listas mexicanos, representando figuras do povo, cenas do trabalho e Marx, no Rio de Janeiro. favelas. Além de Picasso, Burle também admirava Cézanne, Braque, Léger, Gris e Lhote. Em alguns depoimentos, Burle Marx afirmou ter maior afinidade pela obra de Braque. “Ele era genial e teve uma influência na arte contemporânea e uma grande compreensão do conceito pictórico”, afirmou o artista ao comentar sobre suas primeiras influências. Por sua vez, seus retratos aproximam-se das obras de Cândido Portinari (com quem estudou em 1935) e Di Cavalcanti, na representação realista de suas figuras. Ao pintar cidades, Burle Marx tira partido do geometrismo, com uma paleta sóbria, em que predominam tons amarelos, cinzas e pretos. Paralelamente, um novo tratamento formal é percebido em algumas telas, como uma passagem gradual para o abstracionismo. A partir dos anos 1940, o artista teve como suporte a tela e o papel e utilizava óleo, guache e até mesmo a combinação desses e outros materiais, como o nanquim. Essa ausência de distinção entre desenho e pintura explica a razão de muitas de suas obras lembrarem desenhos coloridos. Burle Marx atribuía a mesma dignidade plástica e poética aos desenhos, à pintura, à estamparia ou pintura sobre tecido.

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Segundo a Enciclopédia de Artes Visuais, do Instituto Itaú Cultural, a obra de Burle Marx atinge uma linguagem singular a partir da década de 1950. “A tendência para a abstração consolida-se e a paleta muda, passando a incluir muitas nuances de azul, verde As pedras brasileiras, como a turmalina, e amarelo mais vivos.” foram as preferidas de Burle Marx para criar Em suas telas, o trabasua coleção de joias. lho com a cor está associado ao desenho. A partir dos anos 1980, Burle Marx passa a realizar composições geométricas em acrílico, os contornos são desenhados com a cor, as telas adquirem um aspecto fluido, flexível e ganham leveza. Os especialistas em sua trajetória artística também destacam os desenhos a nanquim, nos quais, muitas vezes, trabalha com motivos extraídos da trama de folhagens e galhos. “Embora tenha como base a natureza, seus desenhos são, essencialmente, de caráter abstrato, com a predominância de elementos lineares. Utiliza o nanquim para obter gradações em tonalidades diversas.” As formas da natureza eram sua inspiração corriqueira. As pinturas e desenhos refletem sua experiência de paisagista e botânico.

Paisagem brasileira Conhecido por sua preocupação ambiental e pela preservação da flora brasileira, Burle Marx inovou ao usar plantas nativas do Brasil em seus projetos paisagísticos, tornando essa a principal característica de seu trabalho. Foi ele quem valorizou as bromélias e as tornou populares. Graças as suas pesquisas, as espécies da Mata Atlântica tornaram-se conhecidas e são cultivadas em viveiros. Por conta disso, o estilo Burle Marx tornou-se sinônimo do paisagismo brasileiro no mundo.

A vidraçaria, assinada pelo paisagista, é composta de utilitários, como vasos e jarras de formas estilizadas.


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Seu primeiro projeto paisagístico foi o jardim de uma casa desenhada pelos arquitetos Lucio Costa (autor do projeto urbanístico de Brasília) e Gregori Warchavchik, em 1932. A partir de então não parou mais de projetar paisagens, pintar e desenhar. Sua fama atravessou as fronteiras. O paisagista é autor de diversos jardins ou estufas em várias cidades pelo mundo, como Longwood Gardens, na Filadélfia, nos Estados Unidos; e o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, entre outras importantes obras. O estudo da paisagem natural brasileira é um elemento fundamental nos projetos de Burle Marx. Sua obra tem caráter inovador: trabalha como botânico e pesquisador, realizando excursões pelo País, onde descobriu espécies vegetais nativas, como plantas do cerrado, espécies amazônicas e do sertão nordestino. Todas incorporadas aos seus projetos. O paisagista incluía em seus parques e jardins elementos arquitetônicos como colunas e arcadas, encontrados em demolições, além de mosaicos e painéis de azulejos, recuperando a tradição portuguesa. Seu paisagismo é marcado pela preocupação com as massas de cor, obtidas pela disposição de arbustos e árvores em grupos homogêneos, de acordo com seu potencial de mudanças cromáticas, ao longo das estações do ano. Essa mesma atenção em relação à cor é conferida aos materiais minerais incorporados aos seus projetos, como pedras, seixos e areia. Cria jardins de formas orgânicas, delineados por um contorno preciso, como pode ser visto, no Conjunto da Pampulha (Belo Horizonte, 1942-1945), na Fazenda Marambaia (Petrópolis, 1948) e no Rancho da Pedra Azul (Teresópolis, 1956). Sua parceria com arquitetos modernos permitiu que a arquitetura e o paisagismo fossem integrados. Trabalha com Lucio Costa no projeto dos jardins do Ministério da Educação e Saúde (Rio de Janeiro, 1938-1944) e no eixo monumental de Brasília (1961-1962); com Rino Levi na residência Olivo Gomes (atual Parque da Cidade Roberto Burle Marx, em São José dos Campos,1950-1953 e 1965); com Afonso Eduardo Reidy nos jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1954-1956) e no Parque do Flamengo (1961-1965); e com Oscar Niemeyer, no conjunto da Pampulha (1942-1944).

Em 1949 adquire o Sítio Santo Antônio da Bica (hoje Sítio Roberto Burle Marx) nas proximidades do Rio de Janeiro, onde reúne e estuda exemplares, muitas vezes raros, da flora brasileira. Por seu tamanho e abrangência, a propriedade abriga as coleções reunidas por ele ao longo de mais de oito décadas de vida. Na década de 1970, tem marcante atuação como ecologista, defendendo a necessidade da formação de uma consciência crítica em relação ao meio ambiente.

Tapeçaria sem título (1971) confeccionada com lã, talagarça e bordado que faz parte do acervo do Sítio Roberto Burle Marx.

“BURLE CHEGOU A SER COMO BEETHOVEN. FICOU QUASE CEGO. MAS SE PERDIA ENTRE AS PLANTAS E PUNHA ORDEM NA NATUREZA COMO SE VISSE OS MÍNIMOS DETALHES” (SUSANA SILVA)


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O PARQUE

BURLE MARX Nascido na capital paulista, Burle Marx tinha que ter um parque com seu nome em São Paulo: o Parque Burle Marx. Criado pelo próprio paisagista, seu jardim possui uma área de aproximadamente 4 mil metros quadrados, constituído por 15 palmeiras-imperiais, o gramado xadrez, a área do pergolado, o espelho d’água com seu conjunto de fontes, dois painéis escultóricos em concreto e alto-relevo que emolduram o espaço e a área das árvores de pau-ferro. O parque conta com 50 espécies de plantas herbáceas e arbóreas, localizadas entre canteiros e jardins no parque. A obra é datada de 1950 e passou por uma intervenção de restauro pelo próprio Burle Marx em 1991. O terreno onde hoje está instalado o parque, na década de 1940 era a Chácara Tangará, propriedade do empresário Baby Pignatari, que resolveu construir uma casa para morar com sua futura esposa, a princesa austríaca Ira von Furstemberg. Na época da construção, Pignatari contratou Burle Marx para planejar e realizar os jardins de sua residência (projetada por Oscar Niemeyer). Como o casal se separou, a casa permaneceu inacabada durante muitos anos. Dessa empreitada, sobrou o conjunto artístico e paisagístico do Parque Burle Marx. Os critérios para o estabelecimento do parque foram, por um lado, a existência de extensas áreas de cobertura vegetal significativa, com forte presença de mata nativa secundária e, por outro lado, a presença de elementos remanescentes do projeto do paisagista. No momento de implantação do parque, a Prefeitura de São Paulo optou por estabelecer um gerenciamento de forma pioneira, por meio da iniciativa privada. Para tal, foi firmado um convênio com a Fundação Aron Birmann que se comprometeu a administrar e gerenciar o Parque Burle Marx, sem ônus para o município, mas mantendo todas as prerrogativas de um parque público.


VIAGEM

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CAPITAL DO PERFUME

Com fama internacional por seus perfumes, Grasse é uma joia rara nas montanhas da Côte d’Azur e colinas da Provence

POR: LAURO LINS FOTOS: DIVULGAÇÃO

Acima, vista de Grasse, na Riviera Francesa. À direita, detalhe de uma das lojas de perfumes da cidade.

onhecida como a capital mundial do perfume, a cidade de Grasse – na Côte d’Azur, na França – conserva seu lado feudal em construções antigas que remontam ao século 12. Um quarto do seu território é formado por uma reserva natural – com destaque para o plantio de oliveiras e flores –, o que proporcionou o desenvolvimento de sua indústria de perfumaria. Ao todo são 30 fábricas de perfumes espalhadas pela cidade. A indústria do perfume em Grasse começou no século 16. Entre as mais famosas estão Fragonard, Bouchara, Galimard e Molinard. Os primeiros perfumistas oficiais começaram como fabricantes de fragrâncias para luvas. Um luxo que a corte francesa se habituou para mascarar os odores desagradáveis de suas luvas. Os campos de flores de Grasse, em sua maioria, cultivam jasmim, rosa e tuberosa. Espécies que são consideradas as três rainhas na arte da perfumaria. O solo da região é rico em oligoelementos, fator decisivo para a qualidade de suas flores. Além das espécies citadas, nos campos também podemos ver o cultivo de violetas, mimosas e lavandas. Cada etapa do cultivo das flores em Grasse é planejada e programada de maneira especial. Violetas e mimosas são colhidas na primavera, as rosas em maio e junho, as lavandas em julho e os jasmins entre os meses de agosto e outubro. Além do cultivo regional, as fábricas da região adquirem flores importadas. As rosas vêm do Marrocos, da Turquia e da Bulgária; enquanto os jasmins são importados do Egito e da Índia. Nos campos no entorno de Grasse são cultivadas flores exclusivamente para as maiores marcas de perfume do mundo, como Dior e Chanel.

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Além da perfumaria, Grasse conserva sua arquitetura antiga. No centro histórico, suas ruelas apresentam edifícios dos séculos 17 e 18 e, volta e meia, suas ruas se abrem para grandes praças. A principal delas é a Place aux Aires, que abrigava o mercado diário, ao ar livre, de flores e comidas regionais. Essa atividade tradicional foi extinta em 2004, mas as lojinhas em seu entorno permanecem em atividade, como açougues e padarias. Por lá, vale a pena experimentar um fougassette – típico pão doce da região que é delicadamente perfumado com água de flor de laranjeira. Essa iguaria é encontrada na Venturi, uma pequena padaria ao lado da praça na cidade velha. Na Place du Petit Puy está a Catedral Notre Dame du Puy, erguida nos séculos 10 e 11. Dentro da igreja há três pinturas de Rubens, encomendadas ao artista em 1601, antes de sua fama.

Com ruelas que remontam à Idade Média, Grasse tem restaurantes e cafés por todos os lados da cidade.

Museus A fim de preservar sua história, a cidade de Grasse tem uma série de importantes museus. Fundado em 1989, o Museu Internacional do Perfume é a primeira instituição pública dedicada à preservação e à promoção de aromas e fragrâncias. O museu aborda a história do perfume em seus diversos aspectos: matérias-primas, produção, indústria, inovação, comércio, design, marketing e uso. Entre as principais peças em exposição está o kit de viagem usado por Maria Antonieta em seus áureos tempos. Ao longo do ano, o museu promove exposições temporárias, passeios temáticos e oficinas olfativas. Outra importante instituição na cidade é a casa de perfume Galimard, ponto de encontro para os aficionados em perfumes e um excelente lugar para aprender sobre ele.


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Fachada do Museu do Perfume e antigos tonéis de cobre para a destilação de flores.

No local, os guias explicam as diferentes técnicas de extração dos óleos perfumados de flores, incluindo jasmim, rosa e lavanda, com os quais se faz apenas um litro de óleo essencial a partir de 150 quilos de flores. O turista não pode deixar de visitar o Museu Fragonard. Instalado numa casa erguida no final do século 17, o museu abriga as obras do pintor Jean-Honoré Fragonard, com 15 obras originais e algumas réplicas de suas pinturas que estão em exposição no Museu do Louvre, na capital francesa. Além do famoso Fragonard, o museu exibe pinturas de Marguerite Gérard e Jean-Baptiste Mallet. Numa das mansões mais elegantes de Grasse, uma construção do século 18, que foi sede do antigo hotel da marquesa de Clapiers-Cabris, o Museu de Arte e História da Provence evoca a vida cotidiana da Provence. Seu acervo é composto por mobiliário de época, cerâmicas, pinturas e trajes que revelam o estilo de vida provençal. Em outra residência, que também pertenceu à marquesa, está o Museu Provençal de Trajes e Joias. Nele, o destaque é o vestuário e a joalheria provençal dos séculos 18 e 19, além do mobiliário típico da região.


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As famosas cidades da Côte D’Azur: Nice, Cannes e Mônaco são os destinos mais luxuosos durante o verão francês.

História do perfume O perfume é uma mistura de óleos essenciais aromáticos, álcool e água. Seu nome deriva do latim “per fumum” que significa através da fumaça. Foi no Egito antigo que nasceu a arte da perfumaria. Por volta de 2000 antes de Cristo, o perfume era apreciado pelos faraós e membros importantes da corte. No século 9, o químico árabe Al-Kindi escreveu o livro “Livro da Química de Perfumes e Destilados” com centenas de receitas de óleos de fragrâncias e águas aromáticas, além de descrever métodos de perfumaria, como a destilação de flores em alambiques. A partir da Espanha, o perfume foi introduzido na Europa durante o Renascimento e no século 14, na França, aconteceu o desenvolvimento da perfumaria, tornando-se o centro e o comércio de perfumes mundial até os dias de hoje.


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Cidades da Côte D’Azur Grasse faz parte das cidades da Côte d’Azur. Ao contrário de suas vizinhas famosas, a cidade está nas montanhas em vez do litoral. Ao sul da cidade, a apenas 15 quilômetros de distância, está Cannes com seus iates, praias de areia fina e lojas de luxo. A cidade é conhecida mundialmente por sediar o Festival Internacional do Cinema e atrair estrelas de cinema, grandes diretores e aficionados que circulam e movimentam a célebre avenida Croisette. Mais ao norte está Nice, na costa Mediterrânea. Seu centro histórico abriga bons restaurantes e hotéis, como o Régina e o Negresco. O primeiro foi morada do pintor Matisse, que tem um museu na cidade. A 20 quilômetros a leste de Nice está o Principado de Mônaco. Com apenas 202 hectares, é o segundo menor Estado do Mundo, atrás do Vaticano. Mantém sua realeza a família Grimaldi, há mais de sete séculos no poder. É famosa pelo seu circuito de Fórmula 1 e o cassino de Monte Carlo, instalado no luxuoso distrito de Mônaco, famoso pelo glamour. A região sempre foi frequentada por ricos, famosos e a aristocracia europeia. A rainha Vitória passava as férias de inverno em Grasse. Outro inglês famoso, o ator Dick Bogarde viveu durante muitos anos no vilarejo Le Pigeonnier, a leste de Grasse. Em Nice, o casal Angelina Jolie e Brad Pitt viu nascer seus filhos gêmeos, Knox Léon e Vivienne Marcheline. Coisas que só acontecem na Riviera Francesa.


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MODERNO A obra de Victor Brecheret está intimamente ligada com São Paulo. Suas esculturas podem ser vistas em parques, praças públicas e museus por toda a cidade

POR: CLAUDIO GUES FOTOS: DIVULGAÇÃO


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este ano se completam 60 anos da morte do escultor Victor Brecheret (18941955). Com obras espalhadas pela cidade de São Paulo, o escultor é um dos artistas mais conhecidos do paulistano. Um verdadeiro ícone da capital paulista. Foi no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo que Brecheret iniciou sua formação artística em 1912 ao estudar desenho, modelagem e entalhe em madeira. No ano seguinte viaja para Roma para ter aulas com Arturo Dazzi, artista italiano especializado em figuras monumentais. Na Itália, estuda as obras de Auguste Rodin e Emile Bourdelle. Quando retorna a São Paulo, em 1919, já era um escultor com amplo domínio técnico. Amigo de Ramos de Azevedo, Brecheret consegue com o arquiteto um espaço no Palácio das Indústrias para ser usado como ateliê.

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“O MONUMENTO ÀS BANDEIRAS FOI A MAIOR OBRA DE BRECHERET E DEMOROU 33 ANOS PARA SER FINALIZADA”

Detalhe do “Monumento às Bandeiras”, no Parque do Ibirapuera: a obra mais famosa de Victor Brecheret.

Nessa época, seu trabalho é descoberto por um grupo de intelectuais ligados ao movimento modernista. Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Pichia tornam-se grandes incentivadores de sua arte, que apresenta um tratamento naturalista da anatomia e volumes trabalhados em luz e sombras. De acordo com a Enciclopédia de Artes Visuais do Instituto Cultural Itaú, Mario de Andrade denominava esse período de Brecheret como a “fase de sombras, na qual estas se valorizam mais do que a luz”. Em 1920 faz a maquete para sua obra mais famosa: o Monumento às Bandeiras, no qual evoca a saga dos bandeirantes na conquista de novas terras. No ano seguinte, ganha uma bolsa de estudos e viaja para Paris, onde permanece até 1935. Mesmo fora do País, expõe algumas obras na Semana de Arte Moderna de 1922.


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Em Paris, Victor Brecheret segue três correntes artísticas que busca aplicar em sua arte: o volume geométrico da escultura cubista, o tratamento sintético da técnica de Constantin Brancusi e a estilização do art déco. Nessa fase, “o escultor reduz a dramaticidade vista em suas obras anteriores e passa a produzir peças com formas simplificadas e de forte cunho ornamental”, ensina a Enciclopédia de Artes Visuais. De volta ao Brasil em 1936, Victor passa a receber encomendas de esculturas públicas, trabalhos com temas religiosos e retoma o projeto do Monumento às Bandeiras, que é finalizado somente em 1953. A obra monumental se destaca pelo conjunto de esculturas, com linhas estilizadas, simplificação dos detalhes e a preocupação com os volumes. “O monumen-

to consegue resumir o apelo narrativo e alegórico do tema. Em sua composição convergem uma forte marcação horizontal e um movimento de arrasto que culmina na figura da Glória, que enfeixa heroicamente todo o grupo escultórico. O tratamento da superfície é mais áspero, se comparado ao de obras anteriores, o escultor dá maior ênfase à matéria”, avalia a crítica especializada. A partir da década de 1940, Brecheret aproxima-se dos temas ligados à cultura indígena, em esculturas feitas em bronze ou terracota. Nessa fase, atinge o ponto alto de sua carreira ao se apropriar de pedras de formas circulares, nas quais interfere realizando suaves incisões. Um trabalho que evoca o sagrado e o mágico dos arquétipos indígenas.


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nesta página, A escultura “Depois do Banho” (1942), em mármore, do acervo da Fundação Itaú À esquerdA escultura “Musa Impassível” em exposição na Pinacoteca de São Paulo Em granito, a escultura “Luta de Onça” (1947-1948), Coleção Particular

“A OBRA DE BRECHERET TRAZ DAS RAÍZES ITALIANAS A VIVÊNCIA DO CLÁSSICO E DA TERRA BRASILEIRA O CLIMA DE VOLUPTUOSIDADE DO MODERNISMO DE 22” (PAULO BONFIM)


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Em bronze polido, “Madona”, década de 1920. “São João Batista”, em terracota, década de 1940.


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Vanguarda e religiosidade Atualmente, uma passada de olhos pela obra de Brecheret não evoca qualquer tipo de surpresa. Mas nas décadas de 1930, 1940 e 1950 absorver as obras de Brecheret era para gente que tinha conhecimento das vanguardas europeias. No livro “Brecheret” – de sua filha Sandra Brecheret Pellegrini, presidente da Fundação Escultor Victor Brecheret – podemos acompanhar a evolução do artista. Desde o período que trabalhou artesanalmente o mármore e a pedra até outros períodos de sua vida com o uso de bronzes e terracotas. Um dos amigos de Brecheret foi Ciccillo Matarazzo, fundador da Bienal de São Paulo. Os dois compartilhavam as mesmas ideias e afinidades. Brecheret participou da I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951. Nessa edição, sua escultura “O índio e a suassuapara” foi uma das obras premiadas. Na última fase de sua vida, o escultor dedicou-se à escultura religiosa, com santos e anjos, apóstolos e sacerdotes, madonas e virgens, Cristos e Pietàs, um dos temas favoritos e muito explorado pelo artista. “Seu envolvimento com a figura triste da mãe que perde seu filho querido é onde se supera, ao traduzir com sua escultura toda a paixão desse momento”, pontua Sandra Brecheret Pellegrini. “Às vezes, suas esculturas apresentam elementos do barroco brasileiro, com pequenos adornos, incisões e símbolos.” Ao longo de seu trabalho, notamos que sua religiosidade acompanha intimamente o seu amor à natureza, daí surgindo incrustados nas vestes de suas imagens pequenos animais, pássaros e entalhes com características indígenas. Brecheret tinha um apreço especial pelo escultor italiano Michelangelo. “A obra de Michelangelo foi uma de suas maiores fontes de inspiração, em termos estéticos, artísticos e mesmo arquitetônicos”, afirma Sandra Brecheret.


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UMA AVENTURA NA ÁFRICA A cineasta e fotógrafa alemã Leni Riefenstahl embrenhou-se, durante a década de 1960, na África para criar um dos mais importantes registros fotográficos de tribos africanas até então desconhecidas (e ignoradas) no Ocidente POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES FOTOS: DIVULGAÇÃO


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o vermos as cenas dos bastidores de seu trabalho na África – registradas no documentário Ein Traun von Afrika – talvez seja difícil acreditar que a cineasta e fotógrafa alemã Leni Riefenstahl tenha sido uma simpatizante do nazismo na primeira metade do século 20. Seu passado pode ter sido infame, mas sua vida artística foi prolífica ao estabelecer novos paradigmas no cinema e na fotografia modernas. Múltipla em suas expressões, Leni foi diretora de cinema, produtora, roteirista, editora, fotógrafa, atriz e bailarina. O livro África – feito em tiragem limitada pela editora Taschen, teve apenas 2.500 cópias, todas assinadas e numeradas – foi o seu canto do cisne.

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“SE NA VIDA DE LENI RIEFENSTAHL ELA NÃO TIVESSE FEITO NADA ALÉM DE VISITAR A ÁFRICA, SOMENTE COM ISSO SEU LUGAR NA HISTÓRIA JÁ ESTARIA GARANTIDO” (Kevin Brownlow, cineasta britânico).

Dois flagrantes da cineasta e fotógrafa Leni Riefenstahl, durante suas expedições na década de 1960 na África.

Lançado em 2002, no ano em que a cineasta completava 100 anos de idade, a publicação restituía sua dignidade como artista ao revelar sua sensibilidade em documentar o modo de vida de diversas tribos africanas. Em especial a comunidade Nuba, no Sudão. Essa viagem à África foi feita nos anos 1960, quando Leni tinha 60 anos de idade, mas o vigor de uma menina de 20 e poucos anos. Esse contato com a África ancestral é considerado, por ela, como um dos momentos mais felizes de sua vida. Pena que a ensaísta norte-americana Susan Sontag, intelectual famosa pela defesa dos direitos humanos, tenha massacrado a primeira impressão desse trabalho nos anos 1970 – intitulados como “The Last of the Nuba” e “O Povo de Kau”. Sem papas na língua, Susan escreveu um artigo onde denunciava o novo trabalho de Leni “como mais uma prova da estética fascista de Riefenstahl”. Ela nunca foi perdoada por ter feito os filmes “O Triunfo da Vontade” e “Olympia”. O primeiro, de 1935, mostra a convenção do Partido Nazista, em Nuremberg, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas. O segundo, lançado em 1938, documenta os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936.


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“Leni Riefenstahl é um desses personagens que nunca deixarão de fornecer material para estudos, análises, críticas e releituras. Não apenas pela riqueza interna de sua obra, mas também pelo uso político do que foi feito delas” (Pedro Aguiar, estudioso da obra da cineasta)


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A despeito de toda a grita dos intelectuais, os filmes foram aclamados pela beleza cinematográfica de suas cenas, bem como pela técnica pioneira, com truques inéditos no cinema, inovadores ângulos de câmera e ousadas técnicas de montagem. Para obter o efeito de movimento em algumas cenas, os câmeras utilizaram patins em algumas tomadas. Leni também usou guindastes, elevadores e trilhos para captar os melhores ângulos idealizados por sua inventiva imaginação. Com tanto esforço criativo, o filme Olympia foi listado pela revista Time entre os 100 maiores de todos os tempos. Seu interesse pela África foi despertado nos anos 1950 após ler algumas obras de Ernest Hemingway e ver as fotografias de George Rodger, publicadas na revista National Geographic. Na década seguinte desembarcou no Sudão em uma série de viagens para fotografar a tribo Nuba. Além dessa, também registrou os povoados Dinka, Shiluk e Masai. Por sua dedicação, Leni recebeu a nacionalidade sudanesa e tornou-se a primeira estrangeira a receber um passaporte sudanês. Seus laços com esses povos perdurou Mulheres da tribo Nuba, no Sudão, retratadas até o fim de sua vida. Em 2000 sofreu pelas lentes de Leni Riefenstahl. um acidente de helicóptero ao tentar resgatar seus amigos africanos durante a guerra civil do Sudão (1983-2005). Em suas expedições à Africa, a fotógrafa iniciou seu relacionamento amoroso com o câmera Horst Kettner. Na época Leni estava com 60 anos e ele com apenas 20. Kettner foi seu segundo marido e viveram juntos por 38 anos até sua morte, em 2003, em sua casa, em Pöcking, na Alemanha.

Ética e Estética “Não é fácil admirar a obra de grandes criadores, quando estes assumiram, fora de sua arte, atitudes pessoais ou posições políticas desprezíveis”, disse o crítico de arte e livreiro Pedro Corrêa do Lago na ocasião da morte de Leni, em 2003. Ela nunca foi perdoada pelo seu passado nazista. Num famoso artigo para a revista Piauí, Corrêa do Lago a comparou com outros ilustres artistas do século passado. Entre eles, o escritor francês Louis-Ferdinand Céline, que escreveu panfletos antissemitas durante a Segunda Guerra; o poeta norte-americano Ezra Pound, que animou um programa de rádio que exaltava o ditador italiano Benito Mussolini; e o cineasta Elia Kazan, que foi levado ao ostracismo por ter dedurado colegas de Hollywood que eram simpatizantes do comunismo na época do Macarthismo.

Apesar do estigma que a perseguiu por toda a vida, Leni Riefenstahl teve uma trajetória marcante. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a diretora de cinema caiu em desgraça, mesmo sendo considerada a maior cineasta mulher do século 20 pela crítica especializada. E surgiu a Leni fotógrafa. Para entendermos sua capacidade de enfrentar os altos e baixos, precisamos conhecer sua vida. Leni nasceu de uma família abastada. Sua mãe, Bertha Scherlach, a incentivava a seguir o mundo das artes. Aos quatro anos de idade, pintava e escrevia poesia. Em 1918, quando tinha 16 anos, assistiu uma apresentação de Branca de Neve e decidiu que seria bailarina. Teve aulas de balé escondidas de seu pai na escola Grimm-Reiter. Em pouco tempo sua reputação como bailarina a tornou popular em Berlim. Teve que abandonar a dança por causa das frequentes lesões nos pés, que a levaram a uma cirurgia no joelho, intervenção que forçou seu abandono dos palcos. Depois dessa fase, interessa-se por cinema. Predestinada, torna-se atriz do diretor alemão Arnold Fanck e como atriz de cinema mudo torna-se uma figura popular na Alemanha. Por seu corpo atlético, tinha forte apelo em filmes de aventura. Um de seus sucessos como atriz foi “The White Hell Pitz Palu”, de 1929, co-dirigido pelo austríaco G. W. Pabst. Chegou a ser cogitada para estrelar “O Anjo Azul”, de Josef von Stemberg, mas perdeu o papel para Marlene Dietrich. Como diretora, seu primeiro filme “Das Blaue Licht” (1932) lhe trouxe projeção internacional ao ganhar a Medalha de Prata no Festival de Cinema de Veneza. Recebeu convites para Hollywood, mas descartou todos a fim de ficar na Alemanha com um namorado. Das Blaue Licht chamou a atenção de Hitler que personificou, na figura de Leni, o ideal perfeito da mulher alemã. Ao conhecer pessoalmente o führer, Riefenstahl foi convidada por ele para dirigir a película “Sieg des Glaubens” (Vitória da Fé), um filme de propaganda nazista. Logo em seguida faz “Triunfo da Vontade” e, na sequência, “Olympia”. Para divulgar este último foi para os Estados Unidos, onde foi recebida pelo industrial Henry Ford, o produtor de cinema Louis B. Mayer e Walt Disney, que a levou ao estúdio de produção do desenho animado Fantasia.


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O dia a dia dos africanos no SudĂŁo foi registrados por Leni que considerou esse perĂ­odo com um dos mais felizes de sua vida.


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A beleza estética em suas fotos na série africana foram alvo de críticas da ensaísta norte-americana Susan Sontag.


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Leni foi amiga pessoal de Hitler por 12 anos (19321944) e também foi muito próxima de Joseph Goebbels (Ministro da Propaganda Nazista) e de sua mulher, Magda. As controvérsias sobre sua participação como colaboradora do Reich surgiram com a invasão da Polônia, em 1939, onde participou como correspondente de guerra. Durante esse episódio foi fotografada com uniforme militar e uma pistola no cinto, na companhia de soldados alemães. No ano seguinte, Leni iniciou as filmagens de “Tiefland” (A Planície). Para este filme aceitou 65 prisioneiros ciganos que foram ordenados pelo regime para servir na produção. Mais tarde, todos foram deportados para o campo de concentração Auschwitz-Birkenau. Um mau passo que nunca foi esquecido por seus detratores. Com o fim da guerra, Leni foi presa pelas tropas aliadas que a mantiveram sob custódia por diversas ocasiões. Nessa fase, sua vida foi marcada por uma série interminável de prisões e fugas até ser oficialmente inocentada da acusação de cumplicidade com os crimes de guerra nazistas. Com o fim da guerra, foi boicotada em bloco pelo mundo do cinema. Mas se vingou, ressurgindo das cinzas, como uma notável fotógrafa e gozou de saúde privilegiada até sua morte. Com o relativo sucesso das fotos da África na década de 1970, Leni ganha os holofotes da mídia, mas com as duras críticas de Susan Sontag, ela se refugia na fotografia subaquática. Aos 72 anos de idade inicia essa nova empreitada. Para isso, teve que mentir sua idade para obter autorização de mergulho. Em 1978 publicou o livro Korallengärten (Coral Gardens) e em 1990, “Wunder unter Wasser” (Maravilha debaixo d’água). Aos 100 anos ainda fotografava a vida marinha e ganhou a distinção de ser a mais velha mergulhadora do mundo. Numa vida cheia de aventuras, Leni – que amava a beleza e o cinema – tornou-se a mulher que todos amavam odiar.


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O material que Leni produziu na década de 1960, quando viveu na comunidade Nuba no Sudão é considerado pelos críticos como o ensaio fotográfico mais importante de sua carreira.


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“A ROUPA É UMA ESCRITA. ELA TEM QUE FUNCIONAR COMO UMA ESCRITA PESSOAL DE CADA UM” (Ronaldo Fraga)


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BRASILEIRINHO Inspirado em suas memórias e na cultura brasileira, o estilista Ronaldo Fraga faz da moda um trampolim para suas ideias

POR: CLAUDIO GUES FOTOS: DIVULGAÇÃO

e o estilista mineiro Ronaldo Fraga fosse uma música seria “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo. Uma pintura? O “Abaporu”, de Tarsila do Amaral. Um livro? Certamente “Grande Sertão: Veredas”, de seu conterrâneo Guimarães Rosa. Todos ícones nacionais, impregnados de DNA brasileiro. E não poderia ser diferente: são as raízes brasileiras que lhe interessam, motivam e dão forma às suas criações de moda. Ao se render à cultura brasileira, Ronaldo Fraga traz luz para suas coleções desde que surgiu no cenário da moda nos anos 1990. Sua trajetória com temas marcantes – Álbum de Família; Quem Matou Zuzu Angel; Nara Leão Ilustrada; Athos Bulcão, do início ao fim; Descosturando Nilza e tantas outras – não chama a atenção só de seus compatriotas. No ano passado, pela segunda vez, Ronaldo foi um dos sete estilistas do mundo selecionados pelo Design Museum de Londres para figurar na exposição “Designs of the Year”, que reúne anualmente os trabalhos mais inovadores e originais do mundo, segundo a equipe de curadores do museu. Na mostra apresentou uma das peças da coleção “Carne Seca”, que teve a caatinga como fonte de inspiração, apresentada na São Paulo Fashion Week, em 2014. Ao seu lado, no segmento de moda, estavam os estilistas Raf Simons, Miuccia Prada e Rick Owens. Prova de que o diferencial de seu trabalho - marcado pelo ineditismo, fruto de extensas pesquisas – atravessa nossas fronteiras e ganha os holofotes internacionais por conta de seu forte trabalho autoral. Para ele, a moda é um instrumento de manifestação. “Eu quero usar o vocabulário que a vida me deu. Das músicas que escutei, dos livros que li. Não conheço outra ferramenta de comunicação eficiente e tão democrática como a moda”, afirma o estilista.

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Esse lado de historiador da nossa cultura serve para dar originalidade às suas criações. “Se você tem uma pretensão à autoria, não dá para ser autor de nada se você não coloca a sua digital. A melhor coleção é aquela que me dá muitos livros para ler. Num desfile estou contando uma história para aquela audiência”, afirma o estilista. Desde 2001, Ronaldo Fraga apresenta suas coleções no São Paulo Fashion Week. Na década anterior, exibia suas criações no Phytoervas Fashion (embrião do SPFW) e Casa de Criadores. “Eu costumo dizer que a passarela é o último momento em que a roupa pertence ao estilista. Depois que termina aquele momento do desfile, ele não é mais dono da coleção. O desfile é para se criar uma imagem, levá-la para um universo que não é o universo dela, provocar desejo e, com esse desejo, o consumo”, declarou o estilista ao blog do poeta Régis Bonvicino.


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Um dos desfiles de Ronaldo Fraga na São Paulo Fashion Week.

“ESTAR ACIMA DO FEIO E DO BONITO. ESSE É O DESAFIO DA MODA DO NOSSO TEMPO” (Ronaldo Fraga)

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“A ESCOLHA DA ROUPA É UMA CONQUISTA AMOROSA. COM O OUTRO, COM O SEU GRUPO, COM VOCÊ MESMO” (Ronaldo Fraga)


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Na coleção de inverno de 2011, o estilista foi buscar inspiração na azulejaria de Athos Bulcão, um ícone de Brasília.

O traço divertido e lúdico do estilista revela o lado despojado de suas criações.

Mas antes do mercado o que interessa para ele é o processo de criação. “As pessoas costumam confundir inspiração e processo de criação. Processo criativo, por mais que você negue, existe. É uma metodologia individual para se organizar ideias e estimular o desejo de criação. Não acredito em inspiração como um momento da criação que bate e acontece para um e não acontece para outro. No meu caso, é mais um processo de organização de ideias. É uma curadoria da própria mente e um registro de coisas para não esquecer. Eu uso um caderno de desenho, que é basicamente um diário de organização dessas ideias”, revela o estilista, que prossegue dizendo que o mercado atual não dá tempo para maturação das ideias. “Não tem mais espaço para o acaso, não tem espaço para o erro. O que é bom é que esse mercado é diverso, tem espaço para tudo. Se por um lado, a produção hoje é em série, e temos que ter excelência, por outro a assinatura ganha valor. São tempos em que estamos retomando algo que havia se perdido: o valor da autoria”, frisa o estilista. Das ideias para a política foi um pulo. Em sua participação como integrante do Colegiado de Moda do Ministério da Cultura, há alguns anos atrás, Ronaldo Fraga teve a oportunidade de levar a moda para a política. “É importante que o setor de moda se envolva com a política e que entenda que isso pode ajudar todo o setor. Eles achavam que estilista era tudo rico, bem-sucedido e que não tinha nada a ver com cultura. Esse lugar ficou no passado, mas ainda falta muita coisa. A gente não tem um museu de moda no Brasil”, reclama o estilista sobre como o Brasil ainda desconhece nossa história de moda. Talvez a pista para entender a fusão entre moda e cultura que o estilista promove esteja na sua formação. Depois de estudar estilismo na Universidade Federal de Minas Gerais, Fraga foi para Nova York a fim de se aperfeiçoar - graças a uma bolsa de estudos - na prestigiada Parsons School (de onde saíram Marc Jacobs e Tom Ford). Em seguida rumou para Londres onde aprendeu a fazer chapéus na não menos famosa Saint Martins (celeiro de criadores famosos como Alexander McQueen, John Galliano e Stella McCartney). Com todo esse background não é à toa que conquistou seu lugar ao sol. Com as ferramentas básicas aprendidas do estilo internacional, Fraga descobriu que o Brasil podia ser sua fonte de inspiração permanente. Com amadurecimento profissional, seu processo criativo evoluiu e atualmente – conhecido de Norte a Sul no País – o estilista é uma verdadeira enciclopédia viva de nossa memória e história. E com uma vantagem: a frugalidade da moda.

O QUE VEM POR AÍ Para o inverno de 2015, Ronaldo Fraga lançou a coleção “Cidade Sonâmbula”. Aqui, um manifesto autoexplicativo desse lançamento que chega às lojas em junho próximo. Toda cidade é um ser vivo. Um ser que influencia a forma como consumimos, comemos, vestimos e nos relacionamos. Um ser que guarda nas suas pedras e ruas a escrita da memória dos nossos fantasmas. Dentro de nós, reproduzimos a cidade que nos habita, impávida e implacável. Assistindo ao movimento Ocupe Estelita – no qual pessoas ocuparam o velho cais da cidade do Recife na tentativa de defender um fragmento da história de Pernambuco, viajei no tempo até 1982, quando parte da população de Belo Horizonte tentou em vão embargar a demolição do Cine Metrópole, antigo Teatro Municipal. Fui levado a pensar nas cidades que estamos a plantar no Brasil. Torres de concreto áspero como numa sala de espelhos de imagens distorcidas e ditadoras sob um jardim de afetos e memórias evaporadas. Nessa estética desenvolvimentista de faces áridas, a cidade do Recife é irmã siamesa de Fortaleza, que se confunde com o paredão de prédios de Salvador, que não tem mais áreas livres para os circos desavisados que ali chegavam e que, como Belo Horizonte, vorazmente tenta se parecer como São Paulo. Todas vestidas com texturas impermeáveis adornadas com árvores de plástico de maquetes de arquitetura. Fingindo nunca dormir, são cidades sonâmbulas. Em meio às casas verticalizadas, tento achar vestígios de memória inventada e poesia insuspeita. Essa história é colorida com cinza grafite, asfalto, gelo e pingos do sangue vermelho da cidade. Estampo em desenhos sobre fotografias fundindo o que é com o que poderia ter sido. Construo com tecido de seda, algodão e viscose brincando com tricôs de papel e fitas de VHS.


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SUTIL SIMPLICIDADE Dedicado a desenvolver projetos para vítimas de catástrofes, o arquiteto Shigeru Ban ganhou notoriedade internacional para sua arquitetura

POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES FOTOS: DIVULGAÇÃO

As estruturas de papelão são a base para a arquitetura emergencial idealizada pelo arquiteto Shigeru Ban.

Escola temporária reconstruída após terremoto na província de Sichuan na China.

o vencer o Prêmio Pritzker em 2014 – o mais importante prêmio internacional de arquitetura – Shigeru Ban chamou a atenção do mundo para a função social da arquitetura. Em 1995, em Ruanda, ele usou pela primeira vez as estruturas de tubos de papelão (em acampamentos da ONU) que o tornaram famoso. Naquele mesmo ano, ele voltou a usá-los em seu próprio país, o Japão, para atender as vítimas do terremoto de Kobe. Na ocasião, ele construiu casas em uma semana, mas também ensinou as pessoas como fazer. O mesmo aconteceu na Turquia, Índia e Haiti. Mesmo envolvido com grandes projetos – como o Centro Pompidou em Metz, na França; ou o pavilhão japonês para a Expo 2000, em Hannover – o arquiteto japonês gosta de compartilhar seus conhecimentos. Tem verdadeira obsessão em ser útil e metade do seu tempo é dedicado a pessoas que não podem pagar pelos seus projetos, principalmente refugiados e vítimas de desastres naturais. Seu trabalho é chamado de arquitetura de emergência. Ban é tão diferente de seus pares da atualidade que tem uma maneira própria de interpretar a arquitetura e difundir seus valores. O principal deles é a modéstia. “É preciso ter uma certa complexidade para fazer coisas simples. Eu odeio resíduos e procuro usar tudo o que está disponível na obra.” Mesmo atento à questão da sustentabilidade, Shigeru Ban está mais preocupado com as pessoas que vivem em situação de emergência. “A arquitetura é conhecida por atender apenas os privilegiados e ricos. É sobre poder e dinheiro. Isso me trazia uma certa desilusão com a profissão. Eu penso que os arquitetos têm conhecimentos que podem ser úteis para muitas pessoas”, afirma o arquiteto.

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Arquitetura reciclável Desde jovem, Ban teve curiosidade em desenvolver seu próprio sistema estrutural de construção. Para evitar que as pessoas necessitadas pudessem vender os materiais de suas cabanas, criou unidades de papelão e papel. “Usei pela primeira vez papel comprimido para uma exposição sobre Alvar Aalto e descobri esse material para construir estruturas. Aprendi que a duração de um prédio tem a ver com a resistência dos materiais com que é construído. O concreto pode ser destruído por um terremoto, mas o papel sobrevive ao mesmo terremoto”, ensina o arquiteto. Com essa técnica inovadora, alguns de seus projetos de papel tornaram-se permanentes, como a igreja de Kobe. ”Os edifícios construídos de papel podem resistir ao tempo desde que alguém se importe com eles. Mas acredito que a arquitetura sempre pode ser temporária.” Indagado sobre como surgiu seu interesse em ajudar os necessitados, Ban – que nasceu numa família abastada – diz que sentia vergonha pela arquitetura que aprendeu na Universidade. “Minha mãe é modista, meu pai um homem de negócios. Eles sempre me deram liberdade de escolha. Eu acho que foi o senso comum que me fez olhar para os mais necessitados. Para mim parecia errado a arquitetura estar trancada em um gueto social.” Com essa postura, Ban conseguiu fazer com que muitos arquitetos participassem ativamente em situações de emergência. No acidente nuclear de Fukushima, em 2011, muitos arquitetos tiveram uma parcela de colaboração. Nessa ocasião, Ban desenvolveu paredes de papelão a fim de dar mais privacidade às pessoas nos abrigos temporários. “As vítimas foram evacuadas para ginásios e decidi criar biombos, pois as famílias de(SHIGERU BAN) pois de alguns dias, precisavam se recolher. As autoridades não aceitaram minha proposta, pois é mais fácil controlar as pessoas sem divisórias. Foi um pequeno gesto que transformou a vida daquelas pessoas numa situação um pouco mais confortável dentro das possibilidades.” Para que as autoridades não possam interferir em seu trabalho, o arquiteto criou a ONG Voluntary Architects’ Network. “Se eu trabalhasse para o governo teria que seguir regras. Em situações de emergência não há tempo para pedir permissão. Os políticos só veem números. Não consegui convencê-los de que a qualidade é necessária depois de um tempo, então decidi fazer, sem esperar por ajuda ou apoio. O que eu faço custa o mesmo que o deles, mas permite que as pessoas vivam melhor. Após o terremoto de 2011 propus habitações de três andares, pois não há espaço para que todos tenham uma casa isolada, ainda que pequena. São projetos que custam o mesmo que é proposto pelo governo.” Com esse grau de engajamento social, Shigeru Ban elevou a categoria de arquitetos a um novo patamar. “Eu gosto de arquitetos que buscam desafios e não aqueles que cuidam somente em manter sua posição de status quo.”

Nascido em 1957, em Tóquio, o arquiteto Shigeru Ban sempre teve uma predileção pelo feito à mão. Na sua juventude, observava com admiração o trabalho de carpinteiros, muitas vezes contratados para reformar a casa de madeira da família. Fascinado pelo trabalho desses artesãos, Ban decidiu que iria se tornar um carpinteiro. Mais tarde trocou seu interesse profissional pela arquitetura. Na época de preparo para ingressar na Universidade de Tóquio teve aulas de desenho e modelagem estrutural utilizando papel, madeira e bambu. Foi quando descobriu sua desenvoltura e habilidade excepcional para lidar com esses materiais. Na universidade leu um artigo sobre John Hejduk e sua arquitetura de papel. Ao conhecer os modelos e projetos de edifícios não construídos foi revolucionário para ele. Motivado com essa proposta inovadora foi para os Estados Unidos estudar arquitetura. Primeiro tentou a Cooper Union, mas acabou tendo aulas no California Institute Southern of Architecture (SCI-Arc) até conseguir a transferência para a escola que havia desejado desde o início. Na Union Cooper foi colega dos arquitetos Dean Maltz, Nanako Umemoto e Laurie Hawkinson. Entre seus professores, o arquiteto suíço Bernard Tschumi.Depois de concluir seus estudos foi para a Finlândia para ver de perto a obra do modernista Alvar Aalto. Em Tóquio, nos primeiros anos como profissional de arquitetura, Ban organizou uma exposição sobre Aalto.

“MEUS VALORES SÃO A MODÉSTIA E A COMPLEXIDADE DE FAZER COISAS SIMPLES”


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Detalhe do Miyake Design Studio Gallery, em T贸quio. Na foto menor, projeto de pequena escala na capital japonesa.


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Ao desenvolver as estruturas de tubos de papel ficou fascinado pelas possibilidades do material. Nessa época (1985-1986) projetou a PC Pilha House, Furniture House, Wall Less House e a Naked House, entre outros. Em 1994, ao tomar conhecimento de que 2 milhões de refugiados da guerra civil de Ruanda foram forçados a viver em condições miseráveis, propôs seus abrigos de tubos de papel para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. No ano seguinte fez o mesmo para as vítimas do terremoto de Kobe. Com sua ONG Voluntary Architects’ Network (VAN) iniciou as atividades para aliviar a vida das vítimas de desastres naturais, construindo alojamentos temporários na Turquia (1999), Índia (2001) e Sri Lanka (2004).

Fachada da Picture Window House, em Shizuoka, no Japão.


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“EU GOSTO DE ARQUITETOS QUE BUSCAM DESAFIOS E NÃO AQUELES QUE CUIDAM SOMENTE EM MANTER SUA POSIÇÃO DE STATUS QUO.” (SHIGERU BAN)

Projetos de Paper House assinados por Shigeru Ban no Japão.


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Essas ações trouxeram grandes melhorias na qualidade de vida em abrigos. Em 2000, em parceria com o arquiteto alemão Frei Otto, construiu uma enorme estrutura de papelão para o Pavilhão do Japão na Expo Hannover, na Alemanha. Essa estrutura chamou a atenção de todo mundo para a arquitetura reciclável. Por sua expertise, Ban foi convidado em 2010 para dar aulas, como professor visitante, nas universidades de Harvard e Cornell, nos Estados Unidos. Além dos tubos de papel, Shigeru Ban desenvolveu sistemas de construção com bambu laminado, sistemas estruturais construídos com contêineres e estruturas de madeira sem conectores metálicos.


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Detalhe do interior do Pavilhão Japonês, criado por Shigeru Ban para a edição de 2000 da Expo Hannover, na Alemanha.

Na foto maior, o Centre Pompidou em Metz, na França. ao lado, fachada da Curtain Wall House, em Tóquio.


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ILUSÃO DE ÓPTICA A manipulação digital de imagens do sueco Erik Johansson produz cenas surreais que surpreendem pelo efeito de fantasia quase real

POR: LAURO LINS FOTOS: DIVULGAÇÃO

o clássico “Assim é, se lhe parece”, peça teatral do dramaturgo italiano Luigi Pirandello, o contraste entre a realidade e a aparência, o verdadeiro e o falso deixa em evidência a ideia de uma realidade objetiva que possa ser interpretada pela racionalidade. Mas as interpretações podem ser várias e subjetivas. No surrealismo é enfatizado o papel do inconsciente na atividade criativa com imagens que fogem da razão e, que muitas vezes, são perturbadoras. Essa introdução serve para explicar, até certo ponto, as “mentiras” propostas pelo artista sueco Erik Johansson. Suas fotografias digitalizadas não capturam momentos, mas ideias. Para ele, a fotografia é apenas uma maneira de coletar cenas que transformem em realidade os paradoxos de seu mundo imaginário. Suas fotos mostram algo que não se pode obter com uma câmera. Aos 30 anos de idade e em pleno processo de amadurecimento artístico, Erik Johansson se interessou por fotografia digital quando tinha apenas 15 anos. “Minha paixão anterior era o desenho, mas com a fotografia descobri que o processo de criação estava no planejamento”, lembra o artista. Essa ideia de organização meticulosa na manipulação das imagens é que faz o diferencial do seu trabalho. “Fotografia para mim tem a ver com estar no lugar certo e na hora certa. E qualquer um pode fazer isso. Então quis criar algo diferente. Fotos com algo inesperado, mas com a preservação de um nível de realismo. Quando digo realismo quero dizer fotorrealismo, fotos onde as pessoas possam parar um minuto e pensar um momento para desvendar o truque”, diz Johansson. As situações inusitadas propostas em suas fotografias têm mais a ver em captar uma ideia do que registrar um momento. Mas qual é o seu truque? O que a faz ser tão realista? O que cria a ilusão? “Não se trata do que é realista, mas sim do que pensamos que parece ser realista. A perspectiva é a ilusão. Trata-se da maneira como vemos o mundo”, explica o artista.

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Na foto menor, “Fish Island”. Acima, a tela “Groundbreaking”


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“A ÚNICA COISA QUE NOS LIMITA É A IMAGINAÇÃO” (Erik Johansson)


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Essa brincadeira entre o real e o imaginário é o grande truque por trás da arte de Johansson. Em uma palestra para o portal TED, o artista revelou seu método de trabalho. De acordo com ele, são três regras simples para obter o efeito realista em suas fotografias. Em síntese, sua arte é a de apreender imagens comuns que separadas não dizem nada ao observador, mas ao serem combinadas com outras são vistas sob outra óptica. A primeira regra é que todas essas fotos tenham a mesma perspectiva. A segunda regra é que todas as imagens tenham a mesma luz. A terceira é o passo mais importante: tornar impossível distinguir onde começam e terminam as diferentes imagens, criando

uma junção perfeita. “Combinando contraste, cor e brilho nas bordas, adicionando efeito fotográficos, como profundidade de campo, cores dessaturadas e apagando as diferentes bordas fazem com que pareçam uma imagem única”, revela o fotógrafo. Essa colagem virtual exige dedicação e horas de manipulação em frente ao computador. E Erik não faz questão de manter em segredo sua técnica. No Youtube há diversos vídeos que mostram seu processo de criação, tal qual os tutoriais de cabelo e maquiagem. O que interessa para ele é enganar, mesmo que seja por alguns segundos, o nosso cérebro. “Gosto de pegar diferentes peças da realidade e juntá-las para criar uma realidade alternativa.”


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“Snow cover”, tela criada em 2012 pelo sueco Erik Johansson.

FOTOGRAFIA ABSTRATA Radicado em Berlim, Erik Johansson estudou engenharia da computação e fez mestrado em Design Interativo – uma disciplina que cria ferramentas para interagir com o usuário e tornar os computadores mais amigáveis. Ao contrário dos fotógrafos ciosos de seu trabalho, o artista gosta (e tem orgulho) de divulgar seu processo de criação e sua técnica de Photoshop, que engana o olho e o cérebro. Seu trabalho é bem-humorado, mas também pode ser contundente e político. Em uma entrevista para o jornal britânico The Independent, Erik analisou como as pessoas reagem de forma positiva ao seu trabalho. “Acho que a atenção é porque a realização é muito realista. Algumas das ideias são bastante abstratas, mas quando se olha para as fotografias percebemos o grau de realismo e vem a surpresa”, avalia o artista. Para ele, a fotografia é apenas a forma que consegue obter material para o seu trabalho. “Na verdade, o meu trabalho é a imagem que é criada no computador depois dessa etapa. Da ideia até a imagem final posso levar entre uma semana e um mês para chegar ao resultado que me satisfaça”, diz Erik, que costuma se inspirar em artistas como MC Escher, Salvador Dalí e René Magritte. Sua fama nos últimos anos o fez ser chamado para criar peças exclusivas para o Google, Adobe e Microsoft. Para um trabalho que se destaca entre milhões de corriqueiras selfies, um grupo de clientes que são emblemáticos em nosso tempo.


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FOTOSSÍNTESE No coração do Morumbi, a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano tem uma generosa área verde com espécies da Mata Atlântica

POR: CLAUDIO GUES FOTOS: DIVULGAÇÃO

primeira coisa que se percebe quando se entra na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano é a quantidade de pássaros em seu parque. O canto dos passarinhos é permanente em todas as horas do dia. De acordo com o Guia das Aves, publicado em 2006 pela Fundação, cerca de 51 espécies vivem no parque de 75 mil metros quadrados que circunda a sede da instituição. Em sua maioria, vegetação de Mata Atlântica, como paus-ferro, paus-brasil, jacarandás, sibipirunas e angicos, entre outros. Atraídos por essa diversidade, os pássaros costumam fixar residência no parque. Sua fauna é composta por rolinhas, pica-paus, andorinhas, joões-de-barro, papagaios, asas-brancas, gaviões e periquitos, entre outros. Por conta de suas aves, o parque recebe muitos observadores de pássaros, principalmente estrangeiros. O engenheiro Oscar Americano (1908-1974), proprietário da residência até sua doação ao poder público em 1974, foi o responsável pela criação dessa mata. No final dos anos 1940, ele implantou um diversificado parque numa área que tinha apenas pinheiros e eucaliptos. O projeto é do paisagista Otávio Teixeira Mendes (1907-1988), autor do paisagismo do Parque do Ibirapuera, que muitos pensam ser de Burle Marx (1909-1994), que havia sido convidado para a empreitada, mas seu projeto nunca saiu do papel. O parque da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano tornou-se uma das mais importantes áreas verdes de São Paulo.

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A Fundação também é conhecida por sua sede. A casa modernista é assinada por um dos mais importantes arquitetos paulistanos, Oswaldo Arthur Bratke (1907-1997), que projetou uma casa com amplas paredes de vidro que deixam a residência em contato permanente com o jardim. Na entrada da casa, o espelho d’água é um convite à contemplação. Com coberturas planas e pela incorporação da paisagem através de vazios, pérgolas e elementos vazados, a residência tornou-se famosa. Na casa, um belo acervo de arte moderna e obras do períodos Brasil Colônia e Brasil Império dão um toque de museu à Fundação. Entre as pinturas, destaque para uma tela do artista holandês Frans Post (1612-1680) e obras de Cândido Portinari (1903-1962), Di Cavalcanti (1897-1976) e Victor Brecheret (1894-1955). Além disso, o visitante pode conferir de perto as coleções do casal Maria Luisa e Oscar Americano, desde o mobiliário, as porcelanas Companhia da Índia; passando por pratarias e tapeçarias e até exemplares da arte sacra do século 18.

“A FUNDAÇÃO TEM CUMPRIDO OS OBJETIVOS IDEALIZADOS NA SUA CRIAÇÃO, QUE SEMPRE FORAM A CONSERVAÇÃO DO ACERVO E DO PARQUE E A MANUTENÇÃO DE SUAS INSTALAÇÕES” (ANNA HELENA AMERICANO DE ARAÚJO, DIRETORA DA FUNDAÇÃO)

Fachada da casa criada pelo arquiteto Oswaldo Bratke, sede da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano e uma das alamedas do parque de 75 mil metros quadrados que tÊm paisagismo de Otávio Teixeira Mendes.

Serviço Fundação Maria Luisa e Oscar Americano Avenida Morumbi, 4077 – (11) 3742 0077 Horário de funcionamento: De terça a domingo, das 19h às 17h30.


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ientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Foi precursor da aviação e da balística e ficou na memória coletiva como um homem de rara capacidade de invenção. Os múltiplos talentos de Leonardo da Vinci (1452-1519) ecoam até os nossos dias. Tanto que a exposição “Leonardo da Vinci, A Natureza da Invenção” – em cartaz no Centro Cultural da Fiesp até maio de 2015 – revela sua inventividade. Leonardo é considerado um gênio, um estudioso que buscou inspiração na observação da realidade, analisando e compreendendo os fenômenos da natureza, como os movimentos da água e do ar, as metamorfoses dos seres vivos e as diferentes formas encontradas no mundo natural. A mostra traz mais de 40 peças e 10 instalações interativas que representam a trajetória de um dos mais importantes artistas da história mundial. Os projetos, maquetes e desenhos foram produzidos por pesquisadores e engenheiros, em 1952, para a celebração do quinto centenário de nascimento do artista. Na ocasião, essa equipe de especialistas mergulhou no estudo e na reinterpretação de seus manuscritos para conceber as peças apresentadas em 1953 e que até hoje podem ser vistas no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci, em Milão. Esse material representa um instrumento fundamental para a compreensão das ideias e do processo criativo do grande artista-engenheiro do século 15. Da Vinci acreditava na simplicidade, na forma e função, movimento e vida, curiosidade e invenção. Imaginou de um prosaico isqueiro até máquinas voadoras, passando por armas de guerra, guindastes, máquinas fabris, paraquedas, máquinas hidráulicas para limpeza e dragagem de rios e canais, máquinas de fiar, tornos, perfuratrizes, a máquina a vapor e até um submarino, entre vários objetos e aparatos que somente muitos anos após a sua morte passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas. De acordo com especialistas de sua obra, embora todos os seus estudos científicos tenham se tornado populares nos últimos 150 anos, Da Vinci foi, durante toda a sua vida, um engenheiro que teve de usar sua habilidade inventiva. Muitos dos seus desenhos, como os diques móveis que protegeriam Veneza, foram considerados dispendiosos ou inviáveis. Conceitualmente, inventou o helicóptero, o uso de energia solar concentrada e a calculadora, entre outros.

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VISIONÁRIO Como inventor, Leonardo da Vinci se inspirava na natureza para criar engenhos que se tornariam comuns na atualidade

POR: CLAUDIO GUES FOTOS: DIVULGAÇÃO

“A ARTE DIZ O INDIZÍVEL, EXPRIME O INEXPRIMÍVEL, TRADUZ O INTRADUZÍVEL” (Leonardo da Vinci)


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“A necessidade é a melhor mestra e guia da natureza. A necessidade é terna e inventora, o eterno freio e a lei da natureza” (Leonardo da Vinci)


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“A MAIS NOBRE PAIXÃO HUMANA É AQUELA QUE AMA A IMAGEM DA BELEZA EM VEZ DA REALIDADE MATERIAL. O MAIOR PRAZER ESTÁ NA CONTEMPLAÇÃO” (Leonardo da Vinci)

Protótipos dos projetos de Leonardo da Vinci na exposição “A Natureza da Invenção”.


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Mostra Originalmente realizada em Paris e Munique, é a primeira vez que a exposição vem para um país fora da Europa, numa parceria do SESI-SP e da Universcience (organização francesa criada em 2010 a partir da fusão da Cidade da Ciência e da Indústria com o Palácio da Descoberta). Mostrar Leonardo da Vinci como um homem do seu tempo é o objetivo da exposição, segundo o curador da mostra, Claudio Giorgione. “A exposição busca explicar a genialidade de Leonardo, mas não como muitas pessoas pensam, como um inventor de muitas coisas, mas sim como um homem do seu tempo. A inovação vem da observação de tudo o que estava a sua volta, como a natureza e o trabalho de outras pessoas”, esclarece Giorgione, que é curador do Museu Nacional de Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci.

Biografia A infância de Leonardo da Vinci foi no campo, o que explica seu apego à natureza. Foi aficionado por cavalos, que no futuro se tornariam alvos de suas pesquisas. Leonardo se transformaria no modelo da educação clássica – resgatada no Renascimento – pois dominava amplas áreas do conhecimento. Sua produção científica, oculta em rascunhos e codificações, nunca se destacaria, como sua obra artística. Esse viés criador lhe garantiria fama e recompensas. Em 1469, o artista vai para Florença e inicia sua trajetória na esfera das artes, cursando pintura no ateliê do famoso pintor de Florença, Andrea del Verrocchio. Suas pesquisas no campo da anatomia começam a se desenvolver em 1472. Nessa época, Da Vinci cria vários desenhos e esquemas do organismo humano. Nessa primeira etapa de sua criação, que vai até 1480, ele elabora pequenas obras, tais como “Madona com Cravo”, a “Madona Benois” e, talvez, a “Anunciação”. Em 1482 o artista segue para Milão, e nessa cidade trabalha para Ludovico Sforza, atuando como engenheiro, escultor e pintor. Nesse período, que tem como limite o ano de 1486, ele empreende uma de suas realizações mais conhecidas, A Virgem dos Rochedos, pintura concebida para um altar. Até 1488 ele se dedica à arquitetura, permanecendo no ateliê da catedral de Milão. Antes de retornar para Florença, realiza sua última obra para a família Sforza, a clássica “A Última Ceia”. Em 1500, já de regresso à cidade florentina, ingressa em seu estágio mais produtivo na esfera da pintura, compondo nesse período sua criação mais célebre: a “Monalisa”, ícone que faz parte do acervo do Museu do Louvre, em Paris. Na mesma época, começa a produzir a pintura mural “Batalha de Anghiari”. Em 1516, com a morte de seu mecenas e protetor Giuliano de Médici, Da Vinci passa a atuar junto ao soberano Francisco I da França. O artista morre em território francês, em 1519, na cidade de Cloux. Seu corpo foi enterrado na igreja de S. Florentino, no castelo de Amboise, posteriormente destruída durante as insurreições ocorridas na Revolução Francesa. Atualmente sua sepultura está na capela de Saint-Hubert, no mesmo castelo.


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BANQUETE DE IDEIAS A inovadora gastronomia do chef catalão Ferran Adrià é uma das mais emblemáticas de nosso tempo POR: LUIZ CLAUDIO RODRIGUES FOTOS: DIVULGAÇÃO

ransformar a cozinha num laboratório experimental – com o uso de novas tecnologias – parece ser a principal contribuição do chef catalão Ferran Adrià para a gastronomia contemporânea. À frente do restaurante El Bulli, seus pratos inovaram a cozinha mundial com espumas, gelatinas quentes, molhos encapsulados em esferas, desconstrução de ingredientes, texturas inesperadas, mistura do gelado com o quente e pratos servidos em formatos inusitados. O restaurante não existe mais, foi extinto em 2011. Cedeu seu espaço para a Fundação El Bulli, onde Adrià se dedica a experimentações. De acordo com ele, o espaço na cidade de Cala Montjo, na Catalunha, é “um viveiro de novas ideias e novos talentos”. Sua gastronomia tornou-se conhecida como “molecular”, termo rejeitado por ele. “Esse nome não é nada apetitoso e faz referência apenas à ciência, um dos elementos que definem o meu estilo”. Adrià prefere nomear sua cozinha como “Nueva Nouvelle Cuisine”. Por sua vez, os críticos batizaram de “tecnoemocional” a definição para essa nova vertente da cozinha contemporânea. Seja qual for o nome de sua elaborada comida, Adrià surpreendeu gourmands e gourmets de todo o mundo com suas texturas e sabores diferenciados que confundiram os sentidos de muita gente. E negando sua máxima de que “criatividade é não copiar”, seu estilo foi imitado por muitos chefs. Durante toda a década de 2000, restaurantes de todas as partes do planeta passaram a servir espumas salgadas, raviólis líquidos, gelatinas quentes, foie gras pulverizado, “ar” com sabor e toda a sorte de cápsulas que aprisionavam sabores. Todas invenções do chef catalão.

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O chef espanhol Ferran Adrià


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E como tudo que é novo causa reação dos tradicionalistas, seus elaborados pratos provocaram a ira de alguns colegas de métier que se opuseram à “invasão” tecnológica na cozinha. O mais famoso deles foi o chef catalão Santi Santamaria, falecido em 2011. Santi era considerado o pai da cozinha catalã e tinha fama de ser o chef mais culto da Espanha. O chef de cozinha provocou controvérsia ao criticar a cozinha experimental e laboratorial de Adrià, de quem foi amigo até 2007, quando romperam os laços de amizade. O marco desse rompimento foi a palestra de Santi no Madri Fusión – importante congresso anual de gastronomia na Espanha – onde afirmou que a “onda científica” estava (Ferran Adrià) “aleijando a alta cozinha”. No ano seguinte, ao lançar o livro “A Cozinha a Nu”, Santi acusou os chefs da linhagem de Adrià pela “manipulação inconsequente de elementos químicos na cozinha”. Bradou contra os emulsificantes e gelificantes usados na preparação de pratos e na desconstrução de ingredientes.

Segundo Santi, as novas técnicas poderiam causar danos à saúde. Mas como diz o ditado popular “o que não mata, engorda”, Adrià ignorou as críticas e prosseguiu com suas inovações. Em seu livro “A refeição em família – Cozinhando em casa com Ferran Adrià”, o chef revela que está sempre observando, palpitando e documentando. Além de confessar que sofre de “organização doentia” e, para surpresa dos leitores, dizer que no dia a dia se alimenta com os tradicionais pratos servidos pelas abuelas espanholas. “Esse livro é aquele que imaginamos que Adrià nunca escreveria. Se comprarmos toda a parafernália que ele usava em seu restaurante e os kits de substâncias aplicadas em suas receitas, podemos em sã consciência jogar tudo fora”, afirmou (com uma certa dose de indignação) a colunista de gastronomia Nina Horta, por ocasião do lançamento do livro em 2013.

“QUANDO COZINHO NÃO PENSO”

Adrià retratado em dois momentos na exposição “Auditando o Processo Criativo”, idealizada por ele na Fundação Telefônica, em Madri.


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Comida como ciência De chef de cozinha a cientista da gastronomia, Ferran Adrià passou por um longo processo de desenvolvimento. Em 1987, o restaurante El Bulli passa a fechar suas portas por seis meses, todos os anos, para que sua equipe de cozinheiros possa ter tempo integral para investigação e inovação. Em 1993, Adrià toma uma decisão inédita no mundo da gastronomia: formar uma equipe de criatividade, um grupo que passa a trabalhar em paralelo com a cozinha, focado na concepção e no desenvolvimento de novas ideias. Em 2000, o sonho se torna realidade com a abertura do ElBullitaller, em Barcelona, um espaço dedicado exclusivamente à experimentação. Nos 25 anos da história do El Bulli, a excelência criativa foi uma questão prioritária e as trocas de menu se sucederam de maneira vertiginosa, com empenho permanente do aperfeiçoamento de sua cozinha, que envolvia “riscos, liberdade e criatividade”, segundo as considerações de Adrià.

Em 2011, o El Bulli foi fechado e no seu lugar surgiu a Fundação El Bulli. De acordo com o chef, a instituição surgiu para melhorar a eficiência criativa, dele próprio e de sua equipe. Todos envolvidos num processo de imersão. Com o resultado dessa reflexão foi criado o Mapa do Processo Criativo. Sujeito a constante evolução, esse mapa “é resultado de um permanente e minucioso trabalho de análise das variáveis a fim de estabelecer o processo criativo para uma cozinha de vanguarda”, afirma Adrià. As variáveis da criatividade, estabelecidas pela Fundação El Bulli, são Atitudes, Capacidades (Inteligência e Talento), Hábitos (Conhecimento), Virtudes e Defeitos (Filosofia) e Emoções e Sentimentos.


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Ao lado dessas variáveis, um dos princípios estabelecidos pelo chef está o de “não dar nada por encerrado, assumir a suscetibilidade de modificar e melhorar”. Nesse processo criativo, o El Bulli liderou iniciativas poderosas na cozinha, fazendo o diálogo da gastronomia com outras disciplinas, como a arte e a ciência. Como sinal de evolução e conhecimento acumulado, abandonou o cardápio e implantou o menu degustação, concebido para ser uma experiência, assim como a vontade de compartilhar e difundir o conhecimento acumulado. O conceito essencial da metodologia do El Bulli é fazer uma auditoria criativa que se propõe a analisar, de maneira sistemática, seu processo de criação. Ferran Adrià lembra que Picasso dizia que mais perigoso que copiar os outros é copiar a si mesmo. Com esse espírito, o chef estabeleceu um alto nível de exigência de sua equipe. Para ele, o ato de comer havia se tornado uma experiência sensorial tanto como intelectual. Ao cozinhar com um bloco de notas, descobriu que um ingrediente popular pode ser tão válido quanto outro usado na alta gastronomia. A ideia de não copiar ilumina as ideias de Adrià desde quando trabalhava para o chef francês Jacques Maximin, na Côte d’Azur, em seu início de carreira na década de 1980. Com esse mote, o chef dispensou os cadernos de receitas e fez suas próprias descobertas a fim de sair dos limites estabelecidos. Com esse ensinamento, Adrià decide tomar distância dos mestres para forjar sua própria linguagem e iniciar uma trajetória de inovação gastronômica sem precedentes. Uma jornada que levou o El Bulli a ser considerado o melhor restaurante do mundo. A história do seu restaurante é a história de uma equipe que revolucionou a maneira de entender a cozinha, mas, sobretudo, a história de uma equipe que desenvolveu uma assombrosa investigação sobre a criatividade. Convertendo sua cozinha em um laboratório, o chef assumiu a dupla faceta de criador e analista de seu próprio trabalho, considerando que só submetendo seu processo criativo a uma análise conseguiria manter um elevado grau de inovação.

Painel com diversas invenções gastronômicas do chef espanhol que fizeram parte do cardápio do restaurante El Bulli


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que é necessário O para criar? Durante cinco meses, de outubro de 2014 a março de 2015, uma exposição revelou as ideias do chef Ferran Adrià. Chamada de “Auditando o Processo Criativo”, a mostra foi instalada num espaço de mil metros quadrados na Fundación Telefônica, em Madri. A exibição foi concebida pelo próprio Adrià, junto com sua equipe do ElbulliDNA, a fim de expor seu método de reflexão sobre a criatividade. Podemos ser criativos apenas com a sorte? O que é necessário para ser criativo? Como se manter em plena forma durante mais de 25 anos? Podemos monitorar o processo criativo? Essas foram as perguntas sugeridas por Adrià para a composição da exposição – a primeira do chef catalão em Madri, a maior realizada até agora e a primeira sobre processos criativos. A mostra não foi uma exposição de cozinha, mas sobre a criatividade, baseada em parâmetros de inovação, uma reflexão e interpretação do modus operandi de Adrià. Nela, murais com centenas de desenhos, objetos e utensílios do El Bulli, contaram a história dos 1.846 pratos criados em sua cozinha. A lição de Ferran Adrià é que não se pode criar sem riscos, liberdade de decisão, interação de talentos, autoexigência, o questionamento nos mínimos detalhes, análise e revisão constantes. Para ele, essas foram as chaves que converteram seu restaurante em um dos melhores do mundo.

“NENHUM ALIMENTO É ESTRANHO. TUDO É CULTURAL” (FERRAN ADRIÀ)


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Durante os 25 anos do El Bulli foram feitos 5 mil experimentos para que aproximadamente 125 ideias fossem incorporadas ao menu. “Há muitos pontos de partida para criar um prato, com muitas variáveis que se cruzam nesse percurso, desde uma nova técnica, um utensílio, a adaptação de pratos existentes ou a inspiração que veio em uma viagem”, enumera o chef. No El Bulli foram concebidos pratos para surpreender os comensais através dos sentidos, das emoções e do intelecto. “A busca de novos ingredientes, os cinco sentidos, a natureza, a influência de outras cozinhas, novas maneiras de servir um prato, inspiração e desconstrução. O processo criativo se forja com o diálogo permanente com outras áreas, como a ciência, o design e a arte”, ensina o chef. Outro de seus ensinamentos é o compartilhamento. No El Bulli nada era secreto. Com essa nova cultura, tudo era catalogado de maneira exaustiva. Os registros eram feitos em fichas, desenhos, documentos e gráficos. Qualquer encontro era documentado, inclusive os pratos que foram descartados, que poderiam ser retomados posteriormente e dar lugar a novos pratos. As elaborações originais do El Bulli é a ponta mais visível, mas não menos importante é o legado intelectual que promete alimentar nossas mentes. Por tudo isso, Adrià fez do ato de comer uma arte.

Detalhes da exposição “Auditando o Processo Criativo”. Nela, a reflexão criativa foi esquadrinhada em todos os níveis possíveis a fim de revelar o método por trás da gastronomia de Ferran Adrià.




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QUALIDADE DE VIDA A luminosidade natural foi a grande inspiração do paisagista Benedito Abbud para criar os jardins do Grand Panamby

Desde a década de 1980, o escritório Benedito Abbud Paisagismo tem como foco a criação de projetos e planos de arquitetura paisagística com identidade própria. Seu portfólio inclui mais de 5.200 projetos paisagísticos em todo o Brasil e em países, como Argentina, Uruguai e Angola. Já planejou projetos paisagísticos para cidades, bairros, parques, praças, condomínios verticais, residências e empreendimentos comerciais e corporativos, além de hotéis, loteamentos, habitações compactas e shopping centers. Seus projetos são caracterizados em proporcionar lazer, convívio social, esporte, cultura, contemplação e educação ambiental. Nessa entrevista exclusiva, o paisagista fala sobre o seu projeto para o Grand Panamby. Como foi feito o projeto paisagístico para o Grand Panamby? Benedito Abbud: Foi uma honra participar do desenvolvimento desse projeto. Nele procuramos imprimir um paisagismo que despertasse os sentidos dos moradores com o perfume das flores, a textura das folhas, o barulho dos pássaros, o sabor das frutas e o visual que toda área externa, integrada à área de preservação, irá resgatar trazendo a natureza em contato direto com as pessoas. Grand Panamby:

Houve algum desafio nesse projeto que vale a pena destacar? Benedito Abbud: Podemos dizer que a declividade do terreno e a grande área preservada são dois elementos que trouxeram limitações na área. Desafios que nos incentivaram a buscar soluções criativas no jardim. Grand Panamby:

Grand Panamby: Os

apartamentos do Grand Panamby têm pé-direito duplo. Que tipos de vegetações são os mais adequados para a luminosidade que esse ambiente oferece? Benedito Abbud: O pé-direito alto possibilita o uso de plantas de porte maior, assim como espécies mais resistentes adaptadas à sombra ou meia-sombra para tirar o melhor da luminosidade natural.


INTERIORES

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CONFORTO E BEM-ESTAR Autora do apartamento decorado e do design de interiores das áreas comuns do Grand Panamby, a arquiteta Patrícia Anastassiadis fala do diferencial em ambientes com pé-direito duplo

Há 20 anos no mercado, a arquiteta Patrícia Anastassiadis desenvolve projetos comerciais, corporativos, hotelaria, entretenimento e empreendimentos imobiliários. Seu escritório na capital paulista é composto por mais de 60 profissionais, todos focados em unir estética com as melhores soluções técnicas e funcionais para cada projeto. Ao unir arquitetura e design, seu trabalho procura aliar bem-estar, conforto e percepção a fim de tornar cada espaço num lugar único. Nessa entrevista exclusiva, a arquiteta fala sobre como fez a ambientação e tirou partido do pé-direito alto dos apartamentos do Grand Panamby. Como você avalia as possibilidades dos apartamentos com pé-direito duplo? Muito agradável ter esse respiro no apartamento onde trazemos a sensação de estarmos em uma casa, saindo da escala convencional do apartamento. Com a arquitetura de interiores buscamos ressaltar ainda mais essa qualidade, trabalhando com elementos verticais e soluções que valorizam o pé-direito do apartamento. Grand Panamby:

Patrícia Anastassiadis:

Quais são as soluções ideais para esse tipo de arquitetura? Patrícia Anastassiadis: Explorar a altura com revestimentos especiais e uma seleção qualificada de luminárias e mobiliário: itens que reforçam a imponência e o conforto de ter um pé-direito alto. Grand Panamby:

Grand Panamby: O pé-direito alto ajuda a iluminação natural no ambiente. Essa qualidade influencia

um bom projeto de interiores? Patrícia Anastassiadis: A iluminação natural por meio do pé-direito duplo reforça a sensação de casa, bem-estar e aconchego. A luminosidade nesse tipo de ambiente costuma ser muito agradável, pois se consegue ter diferentes graus de luz ao longo do dia.


arquitetura ARQUITETURA

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O conceito Penthouse Reconhecido por suas inovações, o Candusso Arquitetos planejou o Grand Panamby com o melhor do estilo contemporâneo

Desde 1976 no mercado, o escritório Candusso Arquitetos – dos sócios Roberto Candusso e Renato Candusso – é reconhecido por seus projetos arrojados que aliam de maneira equilibrada a funcionalidade e a estética. Além disso, a aposta em novas tecnologias e a atenção ao desenvolvimento de processos construtivos tornaram o Candusso Arquitetos numa referência no segmento de arquitetura e construção no País. Nesta breve entrevista, Roberto e Renato Candusso falam do processo criativo do projeto Grand Panamby. Como vocês definem a arquitetura do residencial Grand Panamby? Roberto e Renato Candusso: Desde o início do projeto, o Grand Panamby foi pensado para ser especial. Em cada detalhe do apartamento, localização ou do condomínio, é perceptível a preocupação em ser um empreendimento diferenciado. A arquitetura adotada tem o novo conceito de moradia. O Grand Panamby dispõe em todos os pavimentos de pé-direito duplo no living e na varanda, trazendo verdadeiramente a atmosfera de uma casa para o edifício. O conceito penthouse é explorado em toda a sua dimensão. Grand Panamby:

Quais são os principais elementos que podem ser destacados no projeto? Roberto e Renato Candusso: Grandes terraços com pé-direito duplo recuados para maior privacidade. Planejados para utilização de variados ambientes, como churrasqueiras, espaço gourmet, espaço zen e outros que a imaginação criar. O projeto conta com unidades amplas, confortáveis e cheias de estilo. Existem também opções de mezanino sobre o living, que pode ser usado como escritório, home theater e sala de leitura, entre outros, além das opções de coberturas. Grand Panamby:

O que há de inovador na arquitetura do Grand Panamby? Roberto e Renato Candusso: O efeito do conceito penthouse provoca um prazer inigualável, onde o espaço e o conforto de uma casa somam-se à segurança, à vista privilegiada de um apartamento e à amplitude dos espaços, o pé-direito duplo e living interligado ao terraço de grandes proporções. Grand Panamby:


ed.01/2015

ARQUITETURA

fachada 83 83

Perspectiva ilustrada


implantação 84

NORTE

1 4

2 5

6

12

8

11

13

3

7 9

14

10 15

26

18 19

17 20 21 16

22

23

25

24

terreno 1 3. 3 3 1 ,8 0 m 2

IMAGEM ILUSTRADA DA IMPLANTAÇÃO

área verde preservada 4 .0 0 0 m 2

ÁR E AS COMUNS 1.

PORT COCHËRE

10. SALÃO DE JOGOS ADULTOS

19.

SPA/MASSAGEM

2.

PORTARIA

11.

DECK

20. FITNESS

3.

MARQUISE

12.

DECK MOLHADO

21.

4.

APOIO SALÃO DE FESTAS

13.

PISCINA ADULTO

22. BRINQUEDOTECA

5.

SALÃO DE FESTAS

14.

PISCINA INFANTIL

23. JOGOS TEEN

6.

HOME CINEMA

15.

QUADRA RECREATIVA

24. ESTACIONAMENTO VISITANTE

7.

HOME OFFICE

16.

PLAYGROUND

25. ACESSO VEÍCULOS

8.

HALL SOCIAL

17.

CHURRASQUEIRA/FORNO DE PIZZA

26. ÁREA VERDE PRESERVADA

9.

ESPAÇO GOURMET

18.

PISCINA COBERTA AQUECIDA

HALL SOCIAL


projetado para ser muito além do comum. 85

PROJETO DE ARQUITETURA

CANDUSSO ARQUITETOS PROJETO DE PAISAGISMO

BENEDITO ABBUD PROJETO DE ARQUITETURA

PAT R Í C I A A N A S TA S S I A D I S

NÚMERO DE TORRES

2 TORRES

NÚMERO DE PAVIMENTOS

2 6 E 2 7 P AV. T I P O + 2 P AV. D E M E Z . + 1 DUPLEX NÚMERO DE UNIDADES POR PAVIMENTO

4 UNIDADES

TOTAL DE UNIDADES

236

NÚMERO DE ELEVADORES

4 E L E VA D O R E S S O C I A I S ( H A L L P R I VA T I V O ) 1 E L E VA D O R D E S E R V I Ç O

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Perspectiva ilustrada


churrasqueira e forno de pizza 86


ÁREAS DE LAZER CONTEMPORÂNEAS, INCRIVELMENTE ESPAÇOSAS E EQUIPADAS. 87

Perspectiva ilustrada


quadra recreativa 88


89

Perspectiva ilustrada


piscina coberta climatizada 90


91

Perspectiva ilustrada


piscina descoberta 92


93

Perspectiva ilustrada


spa 94


95

Perspectiva ilustrada


sal達o de jogos teen 96


97

Perspectiva ilustrada


sal達o de jogos adulto 98


99

Perspectiva ilustrada


espaรงo gourmet 100


101

Perspectiva ilustrada


home cinema 102


103

Perspectiva ilustrada


fitness 104


105

Perspectiva ilustrada


home office 106


107

Perspectiva ilustrada


brinquedoteca 108


109

Perspectiva ilustrada


espaรงo em dobro 110


LIVING ampliado do apto. de 163m2. 111

Perspectiva ilustrada


terraรงo gourmet 112


113

Perspectiva ilustrada


terraรงo gourmet 114


115

Perspectiva ilustrada


boulevard 116


117

Perspectiva ilustrada


playground 118


119

Perspectiva ilustrada


sal達o de festas 120


121

Perspectiva ilustrada


apartamento 138 m2 122

3 suĂ­tes 2 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada padrĂŁo do apartamento de 138 m2


123

2 suĂ­tes (living ampliado) 2 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada do living ampliado do apartamento de 138 m2


apartamento 163 m2 124

4 dorms. (2 suĂ­tes) 3 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada padrĂŁo do apartamento de 163 m2


125

3 suĂ­tes (living ampliado) 3 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada do apartamento de 163 m2 - living e cozinha ampliados


apartamento 185 m2 126

4 suĂ­tes 3 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada padrĂŁo do apartamento de 185 m2


127

3 suĂ­tes (living ampliado) 3 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada do living ampliado do apartamento de 185 m2


duplex - inferior (307 m2) 128

3 suĂ­tes 4 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada padrĂŁo do apartamento duplex de 307 m2


duplex - superior (307 m2) 129

Planta ilustrada padr達o do apartamento duplex de 307 m2


duplex - inferior (308 m2) 130

3 suĂ­tes 4 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada padrĂŁo do apartamento duplex de 308 m2


duplex - superior (308 m2) 131

Planta ilustrada padr達o do apartamento duplex de 308 m2


duplex - inferior (347 m2) 132

4 dorms. (2 suĂ­tes) 4 vagas (vinculadas)

Planta ilustrada padrĂŁo do apartamento duplex de 347 m2


duplex - superior (347 m2) 133

Planta ilustrada padr達o do apartamento duplex de 347 m2


São Paulo Corporate Towers

Ventura - Rio de Janeiro

Uma empresa com um pensamento maior: contribuir para a mudança e experiência de vida positivas para as cidades e o país. Constantemente nos propomos aos maiores desafios, que resultam em projetos significativos. Atuamos em diferentes regiões do Brasil e estamos entre as mais importantes companhias de incorporação de empreendimentos de alta qualidade. Chegamos em 2015 com R$ 11,3 bilhões

Raízes da Mata - São Paulo

de VGV lançados e 60 empreendimentos entregues. Temos destaque em projetos corporativos de padrão Triple A, empreendimentos inovadores e emblemáticos e com diferenciado padrão arquitetônico, que aliam conforto e tecnologia. Nossos projetos estão além do produto. Queremos propor soluções de vida e isso inclui a realização dos sonhos das pessoas.


Marine Home & Sea - Santos

Offices Boutique Klabin

Moema Work Center

KALLAS

A Kallas é uma construtora e incorporadora que busca promover, através de seus empreendimentos, uma relação harmoniosa entre as pessoas e as cidades. Do econômico ao alto padrão, do residencial ao comercial, público ou privado, suas entregas estão sempre pautadas na prosperidade e na qualidade de vida dos clientes. Ao longo dos seus mais de 30 anos de experiência no mercado, a Kallas cresceu junto com seus clientes, en-

Hight Park Aclimação

Blend Vila Mariana

Sky House Alto da Lapa

tendendo a importância de boas práticas e do respeito ao entorno na criação de soluções imobiliárias e de engenharia mais eficientes e alinhadas a seu tempo, beneficiando empresa, mundo e sociedade. A Kallas orgulha-se por, mais que construir ou incorporar, participar dessa transformação.



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