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Um conjunto de instrumentos para proteger a natureza
Perda de biodiversidade, proteção da natureza e ação da União Europeia para a natureza
Outubro de 2022 terminado em outubro de 2022
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PDF ISBN978-92-76-58603-6
IMPRESSÃO
ISBN978-92-76-58615-9 doi:10.2779/54905 doi:10.2779/208435
KH-09-22-597-PT-N
KH-09-22-597-PT-C
A natureza é importante, porque...
✖ a biodiversidade sustenta toda a vida na Terra;
✖ A perda de biodiversidade implica a perda de serviços vitais dos quais todos dependemos
✖ Os ecossistemas absorvem carbono e ajudam a atenuar os efeitos das alterações climáticas
A biodiversidade em terra e no oceano é a variedade da vida na Terra. Esta teia de seres vivos constitui o tecido da vida que limpa a água que bebemos, poliniza as nossas colheitas, purifica o ar que respiramos, regula o clima, mantém os nossos solos férteis, proporciona-nos medicamentos e disponibiliza muitos dos elementos fundamentais para a indústria.
Os ecossistemas terrestres e marinhos prestam serviços essenciais que mantêm o nosso sistema de suporte de vida.Quando destruímos a biodiversidade, destruímos este sistema, serrando o ramo em que estamos sentados. Os ecossistemas danificados são mais frágeis e têm uma capacidade limitada para lidar com acontecimentos extremos e com novas doenças. Em contrapartida, os ecossistemas equilibrados protegem-nos dos desastres imprevisíveis e, quando utilizados de forma sustentável, oferecem muitas das melhores soluções para fazer face a desafios urgentes. Cuidando melhor da natureza, podemos mitigar as alterações climáticas e adaptarmo-nos às mesmas, frequentemente a um custo muito baixo.
O oceano é um fator essencial da vida na Terra: produz 50 % do oxigénio na atmosfera, absorve cerca de 25 % das emissões de dióxido de carbono antropogénicas e 90 % do excesso de calor no sistema climático e atua como regulador do clima global.
Precisamos de ecossistemas saudáveis e da biodiversidade por muitas razões.. Além do seu valor intrínseco e dos bens não materiais que nos proporcionam, tais como o enriquecimento espiritual e o valor estético, os ecossistemas são a base de todas as economias e sociedades. Mais de metade da produção mundial depende da natureza e dos seus serviços. Cerca de 70 % dos pobres do mundo dependem diretamente de espécies selvagens para satisfazer as suas necessidades diárias em matéria de alimentação, energia e medicamentos.
O declínio global da biodiversidade apresenta riscos fundamentais para o bem-estar humano. Ameaça a nossa segurança alimentar e hídrica, prejudica a nossa saúde física e mental, enfraquece as nossas economias, ameaça a resiliência face a catástrofes naturais, aumenta o risco de conflito, agrava a crise climática, e degrada a beleza do mundo natural que partilhamos com todas as criaturas. Estes efeitos afetarão os mais pobres e vulneráveis primeiro e de forma mais árdua.
A natureza está presente em todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU:
… Sustenta a sociedade e é a base da nossa economia.
Imagem extraída de https://www.stockholmresilience.org/images/18.36c25848153d54bdba33ec9b/1465905797608/sdgs-food-azote.jpg
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Estamos a perder o mundo natural mais rápido do que nunca…
✖ As atividades humanas têm impelido o planeta para uma sexta extinção em massa, com um milhão de espécies em risco de extinção
✖ Desde 1970, a população mundial de espécies selvagens diminuiu 69 %.
✖ A biodiversidade acima e abaixo do nível do solo e no mar está em declínio em todas as regiões do mundo, a uma velocidade sem precedentes.
Esta perda está intrinsecamente associada às alterações climáticas e faz parte de uma crise ecológica geral.
As taxas de extinção em todo o mundo são agora cerca de 100 a 1 000 vezes superiores às verificadas antes da hominização. Este é o maior evento de extinção desde o desaparecimento dos dinossauros. As populações animais em todo o mundo diminuíram quase 70 % em apenas 50 anos. Estamos a empurrar o mundo natural para bolsas cada vez mais pequenas. Como resultado, 66 % dae fauna selvagem vive em apenas 2 % da Terra. Este processo é alimentado por padrões globais de produção e consumo.
As florestas tropicais estão a ser destruídas a um ritmo acelerado, perdendo-se todos os anos 13 milhões de hectares ou uma área equivalente ao território da Grécia ou da Nicarágua. Estas florestas abrigam os mais elevados níveis de biodiversidade do planeta. Um terço de todas as florestas da era pré-industrial foi entretanto abatida. Entre 30 a 50 % de mangais morreram ou foram arrancados nos últimos 50 anos. As florestas de mangais são essenciais enquanto habitat e zona de desova para animais marinhos, mas também reduzem a erosão, protegem as zonas costeiras de inundações e captam e armazenam grandes quantidades de emissões de gases com efeito de estufa.
Os solos albergam uma incrível diversidade de vida: 25 % a 30 % de todas as espécies da Terra vivem nos solos durante toda ou parte da sua vida. As atividades humanas exercem um forte impacto sobre a biodiversidade dos solos. A degradação dos terrenos e dos solos em todo o mundo está a reduzir cada vez mais a biodiversidade e os serviços ecossistémicos, como, por exemplo, o abastecimento de água potável e de alimentos nutritivos, a captura de carbono ou a proteção contra a erosão.
O declínio dos insetos é especialmente dramático. Em 2019, um amplo estudo concluiu que, a manterem-se as taxas de declínio atuais, 40 % das espécies de insetos no mundo poderiam desaparecer nas próximas décadas.
Os insetos são importantes porque servem de alimento para animais maiores, como aves, morcegos, répteis, anfíbios e peixes. Se essa fonte alimentar for retirada, todos estes animais morrerão de fome.
O declínio dos insetos polinizadores ameaça os sistemas alimentares em todo o mundo. Três em cada quatro culturas de frutas ou sementes dependem, em certa medida, dos polinizadores. Sem eles, muitos agricultores teriam lucros reduzidos ou perderiam o seu negócio.
Os mares também sofrem pressões múltiplas e cumulativas, e são as primeiras vítimas das alterações climáticas: o Ártico perdeu uma área de gelo equivalente a cerca de seis vezes o tamanho da Alemanha nos últimos 40 anos, e espécies marinhas estão a desaparecer do seu habitat ao dobro do ritmo das terrestres. Existem agora mais de 400 zonas mortas nos oceanos em todo o mundo, principalmente devido ao escoamento de fertilizantes para os oceanos. O lixo marinho e os plásticos têm um impacto devastador na vida marinha. Estima-se que estejam acumulados bem mais de 150 milhões de toneladas de plásticos nos oceanos de todo o mundo, e que são adicionados 4,6 a 12,7 milhões de toneladas todos os anos. A este ritmo, em 2050, os oceanos poderão conter mais peso em plástico do que em peixes.
Quase 50 % dos recifes de corais têm sido destruídos. Se a temperatura média global subir 2 °C, os recifes de coral tropicais irão desaparecer. Devido à função dos recifes de coral enquanto viveiro para peixes e outra vida marinha, esta evolução afeta os meios de subsistência de meio milhar de milhão de pessoas.
A crise da natureza é tanto uma crise global como uma europeia. Mais de 80 % dos habitats na Europa estão em mau estado. As turfeiras, pastagens e habitats de dunas são os mais afetados. As zonas húmidas da Europa Ocidental, Central e Oriental diminuíram 50 % desde 1970, tendo-se registado uma redução de 71 % dos peixes e 60 % dos anfíbios na última década. Na Europa Ocidental e Central e nas partes ocidentais da Europa Oriental, pelo menos 37 % dos peixes de água doce e cerca de 23 % dos anfíbios estão, atualmente, em risco de extinção.
A agricultura intensiva e a silvicultura, a expansão urbana e a poluição são as principais pressões responsáveis por este declínio drástico na biodiversidade da Europa, que está a ameaçar a sobrevivência de milhares de espécies animais e habitats e a pôr em risco a saúde e a prosperidade humana.
Ligações
• IPBES Relatório de Avaliação Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos
• WWF Relatório Planeta Vivo de 2022
• IPCC Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera no Contexto das Alterações Climáticas
• Lista vermelha de árvores europeias: https://www.iucn.org/news/species/201909/mais demetade das árvores endémicas europeias está em risco de extinção
• Estudo de 2019 sobre o declínio dos insetos: Declínio mundial da entomofauna: Uma revisão das suas causas
• Comissão Europeia «Os nossos Oceanos, Mares e Costas»
• Relatório do Estado da Natureza 2020 (Comissão Europeia, AEA)
• UICN https://www.iucn.org/tags/work-area/red-list
• Lista vermelha de pássaros 2021https://op.europa.eu/s/w7yl
✖ A perda de biodiversidade gera um processo de extinção em cascata, em que a perda de uma espécie leva à perda de outra, num efeito de dominó…
✖ Até cinco mil milhões de pessoas irão enfrentar uma maior poluição das águas e uma polinização insuficiente para satisfazer as necessidades nutricionais nos cenários futuros de uso dos solos e de alterações climáticas.
✖ Quando danificamos os ecossistemas, estes libertam carbono, em vez de o armazenarem. Estes ciclos de resposta aceleram o processo das alterações climáticas.
A ciência é incontestável. O mundo está a tornar-se cada vez mais inabitável devido às crises naturais e climáticas, associadas à poluição, às ameaças à nossa alimentação e água, e à insegurança energética. As casas, meios de subsistência e sistemas de suporte de vida das pessoas estão em risco.
Os desafios não poderiam ser maiores, e a década atual é decisiva. O fracasso para a natureza irá significar fracasso para o clima, segurança, a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030 e a incapacidade de assegurar a continuidade de toda a vida na Terra.
A perda de biodiversidade torna impossível cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Metade das 44 metas relacionadas com a pobreza, a fome, a saúde, a água, as cidades, o clima, e com os oceanos e a degradação da terra já está a ser comprometida pelas tendências de alteração negativas da natureza e pelo seu impacto nas populações.
A existência de pontos de rutura é uma das maiores preocupações em matéria de alterações climáticas e de perda de biodiversidade. Atingir um ponto de rutura pode levar a mudanças grandes e abruptas, levando um sistema a um estado diferente. Estas alterações são difíceis ou impossíveis de reverter e podem ter impactos negativos drásticos.
Uma nova análise indica que a Terra pode já ter deixado um estado climático «seguro». Cinco dos dezasseis pontos de rutura podem ser acionados nas temperaturas de hoje em dia: o colapso da Gronelândia e da camada de gelo da Antártida ocidental, produzindo eventualmente um aumento do nível do mar enorme, o colapso de uma corrente fundamental no norte do Atlântico, afetando a chuva da qual depende a alimentação de mil milhões de pessoas, um degelo abrupto do pergelissolo rico em carbono, e uma morte massiva dos recifes de coral tropicais.
O Fórum Económico Mundial relacionou todos os maiores e mais prováveis riscos para o bem-estar humano ao ambiente (condições meteorológicas extremas, falha na ação climática, perda de biodiversidade e desastres ambientais de origem humana).
O biólogo americano Paul Ehrlich comparou, certa vez, a perda de espécies com a remoção aleatória de rebites da asa de um avião. O avião pode continuar a voar durante algum tempo, mas, a qualquer momento, haverá uma falha catastrófica. A nossa própria sobrevivência está em jogo.
MAS – ainda há esperança! Ainda podemos inverter a perda de biodiversidade e evitar os piores impactos das alterações climáticas — desde que atuemos rapidamente e à escala mundial! O tempo é o nosso maior desafio. De acordo com o mais recente relatório especial do IPCC (RE 1.5 sobre o aquecimento global de 1,5 °C), os próximos 8 anos serão decisivos. As emissões globais de gases com efeito de estufa têm de ser reduzidas a metade e a destruição da natureza interrompida e revertida. Sem ação transformacional nesta década, a humanidade estará a colocar riscos colossais ao nosso futuro comum. As sociedades correm risco de mudanças irreversíveis em grande escala na biosfera da Terra e nas nossas vidas como parte dela.
Há agora uma necessidade existencial de construir economias e sociedades que apoiem a harmonia do sistema terrestre em vez de a interromperem.
Ligações
• O ambiente na Europa: Estado e perspetivas 2020 (SOER), Agência Europeia do Ambiente:
• https://www.eea.europa.eu/publications/soer-2020
• Relatório especial do IPCC: (RE 1.5 relatório sobre o aquecimento global de 1,5 °CC)
• Centro de Resiliência de Estocolmo, limites planetários: https://www.stockholmresilience.org/research/ planetary-boundaries/planetary-boundaries/about-the-research/the-nine-planetary-boundaries.htmle
• Mundo em risco de ultrapassar múltiplos pontos de rutura climáticos acima de 1,5 °C de aquecimento global ‒ Centro de Resiliência de Estocolmo
• Relatório de Riscos Globais do Fórum Económico Mundial 2022 https://www.weforum.org/reports/ global-risks-report-2022/digest
Mas será assim tão importante?
✖ A perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema são uma das maiores ameaças que a humanidade enfrentará na próxima década.
✖ Desde a década de 1970, a humanidade tem utilizado mais recursos do que aqueles que a Terra consegue produzir num ano. Atualmente, seriam necessários 1,6 planetas Terra para satisfazer a nossa procura anual de recursos naturais.
✖ Cerca de 300 milhões de pessoas enfrentam já um maior risco de inundações e furacões devido à perda de habitats e de proteção nas zonas costeiras.
O nosso impacto coletivo na natureza não tem precedentes na história do planeta. A ação humana alterou significativamente três quartos do ambiente terrestre e dois terços do ambiente marinho. Em 2022, o Dia da Sobrecarga da Terra (o dia em que esgotámos os recursos que o planeta é capaz de regenerar num ano) foi 28 de julho.
Mais de um terço da superfície terrestre mundial e cerca de três quartos dos recursos de água doce são agora dedicados à produção agrícola ou à pecuária.
A perda de biodiversidade significa a perda de opções para o futuro, tais como desenvolver novos medicamentos. Cerca de 70 % dos medicamentos contra o cancro são produtos naturais ou produtos sintéticos inspirados na natureza, e cerca de quatro mil milhões de pessoas dependem fortemente de medicamentos naturais. A perda de biodiversidade significa a perda de inúmeros medicamentos que nunca serão descobertos — uma perda irrecuperável para a humanidade.
Também é importante ao nível pessoal. A natureza tem muitos efeitos de prevenção e restabelecimento da saúde. O contacto regular com a natureza pode reduzir o stress e promover a atividade física, com efeito positivo no estado de espírito, na concentração e na saúde, reduzindo os riscos associados a estilos de vida sedentários.
A degradação dos solos já reduziu a produtividade de quase um quarto da superfície terrestre global. Os polinizadores selvagens europeus estão a diminuir drasticamente em diversidade e abundância, e muitos estão agora perto da extinção. De acordo com a «Lista Vermelha de Árvores Europeias», quase metade das árvores endémicas da Europa está em risco de extinção. A perceção de que os mares e os oceanos são uma fonte de recursos ricos e abundantes, capazes de absorver o desperdício humano e a exploração de forma ilimitada, já não é verdadeira.
Ligações
• CBD Biodiversidade e saúde: https://www.cbd.int/health/stateofknowledge/
• Dia da Sobrecarga da Terra https://www.overshootday.org/
• CBD Global Biodiversity Outlook (GBO5) Report
Porque estamos a perder biodiversidade?
✖ A perda de habitats, a sobre-exploração, as alterações climáticas, a poluição e as espécies exóticas invasoras são alguns dos fatores que contribuem para a perda de biodiversidade.
✖ A causa subjacente são as atividades humanas insustentáveis.
✖ A procura de novos recursos está a impulsionar a desflorestação, a alterar os padrões de utilização dos solos e a destruir os habitats em todo o mundo.
A principal causa da crise climática e ecológica são os padrões de produção e de consumo insustentáveis. O efeito cumulativo de um modelo económico em que concebemos, produzimos, utilizamos e, depois, deitamos fora em vez de reduzirmos, reutilizarmos ou reciclarmos tem gerado efeitos secundários indesejados.
A extração e o processamento de materiais, combustíveis e alimentos estão na origem de 90 % da perda de biodiversidade e de cerca de metade de todas as emissões de gases com efeito de estufa, de acordo com o Painel Internacional de Recursos.
O nosso modelo económico consumista implica, frequentemente, que os ciclos políticos e as instituições públicas e financeiras se concentrem nas preocupações de curto prazo e ignorem as implicações mais amplas a longo prazo.
As alterações climáticas já estão a ter repercussões na perda de biodiversidade, interagindo com outros fatores e agravando-os. É provável que também venham a potenciar os efeitos de outras causas da perda de biodiversidade no futuro. Estas repercussões serão ainda mais acentuadas à medida que a temperatura continua a aumentar.
Na Europa, a principal causa da perda de biodiversidade é a alteração do uso dos solos e dos mares. As práticas agrícolas e silvícolas tornaram-se mais intensivas, com mais aditivos químicos, menos espaços entre os campos e menos variedades de culturas. Esta falta de variedade significa, por exemplo, que existem muito menos insetos e, consequentemente, menos aves. Os subsídios agrícolas ligados à produção, que incentivam a quantidade em detrimento da qualidade e da variedade, são outro fator a ter em conta. Os mares europeus também estão sujeitos a uma série de fatores que afetam a biodiversidade, incluindo sobrepesca, danos no fundo do mar, poluição e propagação de espécies não indígenas.
Os sistemas de agricultura intensiva europeus tornaram-se num dos principais fatores de perda de biodiversidade. O uso generalizado de pesticidas e fertilizantes, a erosão dos solos e a substituição de florestas virgens por plantações agrícolas estão a ter um efeito negativo na saúde dos ecossistemas mundiais. Quando os solos se degradam, tornam-se menos férteis, requerem mais aditivos químicos e perdem a sua capacidade de reter água e carbono. Isso, por sua vez, torna as inundações mais frequentes e intensas e contribui para as emissões de gases de efeito de estufa, ao mesmo tempo que o excesso de fertilizantes atinge o mar, sufocando a vida marinha.
As cidades e as zonas urbanas também se expandiram significativamente, impermeabilizando os solos e deixando menos espaço para a natureza. E, quando as áreas de cultivo e a expansão urbana não deixam espaço para a natureza, o resultado é a perda do mundo natural. Muitos cidadãos e empresas ignoram o quanto a nossa sociedade depende da biodiversidade. A utilização do PIB como principal instrumento de avaliação do desenvolvimento económico também pode ocultar a verdadeira dimensão do nosso impacto no ambiente.
Ligações
• ODS Panorama dos Recursos Globais 2019 https://wedocs.unep.org/bitstream/ handle/20.500.11822/27518/GRO_2019_SPM_EN.pdf?sequence=1&isAllowed
• https://sdg.iisd.org/news/global-outlook-highlights-resource-extraction-as-main-cause-of-climatechange-biodiversity-loss/
O que significa isto para os negócios?
✖ Mais de metade do PIB global depende da natureza e do valor que ela fornece.
✖ Os custos da inação são altos e prevê-se que aumentem.
✖ A conservação da biodiversidade tem benefícios económicos diretos potenciais para muitos setores da economia.
A perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema ameaçam os alicerces da nossa economia. De acordo com o Fórum Económico Mundial, mais de metade do PIB global depende da natureza e dos serviços que ela fornece, com três setores económicos principais — construção, agricultura, alimentação e bebidas, e pesca — altamente dependentes dela. Estima-se que o mundo perdeu entre 3,5 e 18,5 biliões de euros por ano em serviços ecossistémicos de 1997 a 2011 devido às alterações na cobertura dos solos, e entre 5,5 e 10,5 biliões de euros por ano devido à degradação dos solos.
As empresas começam a tomar consciência de que dependem dos recursos naturais para produzir alimentos, fibras e materiais de construção. Os ecossistemas polinizam as culturas, filtram a água, contribuem para a decomposição dos resíduos e regulam o clima. A perda da natureza tem custos imediatos para as empresas no que diz respeito a riscos operacionais, continuidade das cadeias de abastecimento, riscos de responsabilidade civil e de reputação, bem como a quota de mercado e financiamento. Portanto, com a atual taxa sem precedentes de perda de vida natural, o capital natural está a tornar-se uma questão muito importante para a maioria dos negócios, levando a problemas de escassez e de qualidade.
As empresas de ponta reconhecem esses riscos, mas a sua compreensão ainda não se tornou dominante. Frequentemente, há pouco conhecimento sobre como os modelos de negócios e a origem de materiais dependem da natureza e da biodiversidade, e pouco entendimento sobre a interação entre eficiência de recursos, serviços ecossistémicos, biodiversidade, custo da inação e alterações climáticas. Os decisores políticos deverão traçar melhores regras de divulgação financeira que permitam às empresas compreender a sua dependência e os seus efeitos sobre a natureza.
Além de contabilizar a sua dependência e impacto na natureza, os investimentos das empresas na restauração de ecossistemas também poderão trazer benefícios tangíveis. A preservação dos recursos marinhos pode aumentar os lucros anuais da indústria de peixe e marisco em mais de 49 mil milhões de euros, enquanto a proteção das zonas húmidas costeiras pode economizar cerca de 50 mil milhões anuais ao setor segurador, reduzindo as perdas por inundações. O investimento em capital natural, incluindo a restauração de habitats ricos em carbono e uma agricultura favorável ao clima, é reconhecido por estar entre as cinco políticas de recuperação fiscal mais importantes, que oferecem altos multiplicadores económicos e impacto climático positivo.
Ligações
• Fórum Económico Mundial (2020), O futuro da natureza e dos negócios, http://www3.weforum.org/ docs/WEF_The_Future_Of_Nature_And_Business_2020.pdf
• A Economia da Biodiversidade: O relatório Dasgupta https://www.gov.uk/government/publications/ final-report-the-economics-of-biodiversity-the-dasgupta-review
• Plataforma de Biodiversidade e Negócios da UE https://ec.europa.eu/environment/biodiversity/ business/index_en.htm
Biodiversidade e resiliência
✖ Quanto mais a natureza estiver sob ameaça, mais vulneráveis nos tornamos.
✖ Apenas florestas saudáveis e diversas podem armazenar água, carbono e prevenir fogos florestais. Apenas ecossistemas marinhos saudáveis podem alimentar as pessoas e ajudar a regular o clima.
✖ Trabalhar com a natureza é uma das formas mais eficazes e económicas de resolver problemas urgentes relacionados com alterações climáticas, segurança alimentar e saúde humana.
Cuidando melhor da natureza podemos mitigar as alterações climáticas e adaptarmo-nos às mesmas, frequentemente a um custo muito baixo.
A natureza é a nossa melhor «tecnologia» de remoção de carbono. Nada remove o carbono da atmosfera de forma mais eficiente e económica do que florestas, zonas húmidas e mares. As turfeiras sequestram cerca de 30 % do carbono do solo global, cobrindo apenas 3 % da superfície terrestre. O restabelecimento de turfeiras drenadas poderia poupar até 25 % das emissões de gases com efeito de estufa agrícola da Europa.
A natureza também diminui o impacto das catástrofes naturais como inundações, secas e vagas de calor. O restabelecimento das planícies se inundação de rios pode reduzir os danos económicos e a exposição da população a inundações até 70 %. As árvores arrefecem a temperatura da superfície da terra nas cidades europeias até 12 °C.
O investimento na regeneração da terra e do oceano é a solução inteligente ‒ cada euro investido na restauração da natureza induz ganhos superiores a oito vezes o seu valor. Os agricultores conseguem solos de melhor qualidade e uma polinização regular, as comunidades dispõem de uma melhor proteção contra inundações, água potável e cidades mais frescas, os pescadores garantem a recuperação das reservas de pesca e os silvicultores obtêm florestas mais resilientes.
O custo económico da degradação da natureza é extremamente alto, com o custo da degradação do solo da UE a ultrapassar atualmente os 50 mil milhões de euros por ano. O restabelecimento das planícies de inundação de rios pode reduzir os danos económicos e a exposição da população a inundações até 70 %. E dado que cerca de 5-8 % da atual produção agrícola mundial é diretamente atribuível à polinização animal, o declínio de populações polinizadoras significa um risco financeiro ainda maior para agricultores com culturas dependentes de polinizadores.
A natureza é essencial para a saúde humana. Os ecossistemas saudáveis também ajudam significativamente a reduzir a poluição, filtrando tanto a água como o ar. São fontes de medicamentos, sendo cerca de 60 000 espécies – plantas, animais, fungos e micróbios – usadas pelas suas propriedades medicinais, nutricionais e aromáticas. A realização de atividades na natureza melhora a saúde mental, diminui os níveis de stress e a prevalência de doenças, e reduz os níveis de alergias.
Em geral, os benefícios da restauração da natureza ultrapassam em muito os custos. Quanto mais se esperar, mais problemas se acumularão para o futuro.
Ligações
• https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/fs_22_3749
• Nota informativa sobre o futuro da série Ciência para uma Política Ambiental: Florestas europeias para a biodiversidade, mitigação e adaptação às alterações climáticas https://op.europa.eu/s/w7yj