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os últimos anos, a Comissão de Anistia tem se destacado por seus maravilhosos esforços no sentido de “internacionalizar” o debate sobre justiça de transição no Brasil. A presente coletânea, fruto de um seminário realizado em Oxford, em outubro de 2010, traz alguns dos resultados mais pertinentes desses laços de colaboração. Aqui, o tema central é a difusão global da chamada responsabilização (accountability) dos Estados e de seus agentes de repressão. Como funciona o conceito de anistia nessa nova era, na qual os atores e a jurisprudência visam, cada vez mais, institucionalizar o princípio de accountability? No presente livro, o leitor pode escolher entre três níveis de análise da anistia: no Direito Internacional, nos casos de sociedades póstransição e pós-conflito (Espanha, Uruguai, Ruanda e Irlanda do Norte) e no âmbito da redemocratização brasileira. Os especialistas brasileiros e internacionais que se reuniram na Universidade de Oxford trocaram análises, experiências e insights que se complementam e se reforçam à luz da experiência acumulada da Comissão de Anistia. À honra de sediarmos o encontro podemos somar a satisfação de ver publicados, e acessíveis aos leitores brasileiros e internacionais pela primeira vez, as análises e os diálogos que presenciamos em Oxford, que certamente contribuirão para aprofundar ainda mais o debate internacional sobre a anistia. Timothy J. Power Diretor Latin American Centre Universidade de Oxford
REALIZAÇÃO
Latin American Centre Brazilian Studies Programme Oxford Transitional Justice Research John Fell Oxford University Press Research Fund
A Anistia na Era da Responsabilização:
O Brasil em Perspectiva Internacional e Comparada
N
urante um significativo tempo, a literatura sobre a justiça de transição na América Latina, que se renova na presente obra, ignorava o caso brasileiro enquanto relevante para os debates transicionais. Mirando apenas a dimensão dos juízos penais, compreendia que o Brasil não possuía, de fato, uma “justiça de transição”. Quando, a partir da segunda metade dos anos 2000, aceleraram-se radicalmente os processos de reparação, memória e verdade, e viu-se surgir uma consistente demanda por justiça, as singularidades do caso brasileiro passaram a desafiar essa literatura, que não prestara atenção a dois fenômenos ímpares e altamente relevantes de nossa transição: (i) a existência de uma anistia paradoxalmente demandada pela sociedade e, ao mesmo tempo, imposta pelo regime, e (ii) a gradual articulação da demanda por justiça transicional desde as comissões de reparação criadas em 1995 e 2001, que passaram a produzir, para além de sua função eminentemente reparatória, memória e verdade, rearticulando circuitos sociais de luta por justiça transicional que pareciam desligados após a promulgação da Constituição de 1988.
A Anistia na Era da Responsabilização: O Brasil em Perspectiva Internacional e Comparada
Comissão de Anistia Ministério da Justiça Brasil Centro de Estudos Latino-Americanos Universidade de Oxford Reino Unido ISBN 978–85–85820–07–7
9 788585
820077
O livro que este Ministério da Justiça agora apresenta, em conjunto com a Universidade de Oxford, procura debater justamente os papéis que podem cumprir as leis de anistia em um cenário global em que a norma de responsabilização individual emerge cada vez com mais força. Vale-se, para tanto, de uma especial ênfase no caso brasileiro, que desafia a norma global ao manter válida para dado conjunto de crimes a Lei de Anistia de 1979, sem com isso deixar de promover outras medidas que impactam positivamente seu processo democrático. Os textos da obra exploram os feitos, ambiguidades e contradições do caso brasileiro em perspectiva comparada, objetivando apresentar um panorama amplo sobre seus processos e, mais ainda, fomentar novas críticas, investigações e políticas públicas, consolidando, ainda, redes de cooperação entre acadêmicos e agentes públicos da América Latina e das instituições de ensino e pesquisa de ponta de todo o mundo. Paulo Abrão Secretário Nacional de Justiça Presidente da Comissão de Anistia Ministério da Justiça