PROJETO CACHOEIRA
DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL
SÉRIE ÁGUA, CLIMA E FLORESTA VOLUME I
DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL
EXPEDIENTE The Nature Conservancy (TNC) SRTVS, Qd.701, Conj.D, Bl.B, Sala 246, Edifício Brasília Design Center Brasília DF – CEP: 70340-907 nature.org/brasil Diretor regional da TNC para a América Latina Joe Keenan Diretor da TNC para o Programa de Conservação da Mata Atlântica e das Savanas Centrais (AFCS) João Campari Gerente de Agricultura e Áreas Protegidas do AFCS Henrique Garcia dos Santos Gerente de Serviços Ambientais do AFCS Fernando Veiga Gerente de Marketing do Brasil Alexander Rose Especialista de Marketing do AFCS Marli Santos Equipe técnica da TNC Andrea Garafulic Aguirre Aurélio Padovezi (Coordenador de Restauração Ecológica) Revisão Alessandro Mendes (Azimute Comunicação) Foto de Capa Luis Costa Edição de Imagens Ana Flávia Andrade (Estagiária de Marketing TNC) Ribamar Fonseca (Supernova Design) Projeto Gráfico e editoração eletrônica Mayra Fernandes (Supernova Design) Iniciativa TNC Prefeitura de Piracaia Sabesp Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Apoio Fundação Dow Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D536 Diagnóstico Sócio Ambiental. Projeto Cachoeira/Luciano Elsinor Lopes e Osvaldo Barbara Yhara, organização: Aurélio Padovezi(TNC).Brasília, DF: The Nature Conservancy do Brasil, 2011. 114 p.-(Série Água, Clima e Floresta, Projeto Cachoeira v. I – 1ª edição) 1. Mata Atlântica 2. Diagnóstico Sócio Ambiental 3. Restauração Ecológica CDD –
PROJETO CACHOEIRA
DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL Diagnóstico socioambiental da área de influência
ORGANIZADOR Aurélio Padovezi AUTORES Luciano Elsinor Lopes Osvaldo Barbara Yhara EDITOR The Nature Conservancy do Brasil
SÉRIE ÁGUA, CLIMA E FLORESTA VOLUME I – 1ª EDIÇÃO
BRASÍLIA – DF 2011
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
apresentação Prezados leitores,
A
série Água, Clima e Floresta foi elaborada com muita dedicação da equipe técnica da The Nature Conservancy (TNC), parceiros e consultores, unidos em pról de um objetivo em comum: contribuir para a conservação do meio ambiente e o sucesso na execução de projetos ambientais. Suas publicações visam expor, de forma didática, técnicas, métodos procedimentos e idéias acumuladas pela vasta experiência da TNC em projetos de campo. Com esta publicação apresentamos o primeiro volume da série. Neste levantamos os aspectos socioambientais do Projeto Cachoeira, realizado pela TNC e parceiros, na região de Piracaia, no estado de São Paulo. O projeto objetiva a restauração do entorno do reservatório Cachoeira que contribui para o abastecimento de água de cerca de 50% da grande São Paulo. Essa primeira etapa do estudo faz uma análise dos principais fatores que influenciam o bem-estar das famílias da comunidade incluindo renda, trabalho, instalações sanitárias e saúde , bem como das informações ambientais sobre a região de abrangência do projeto e como estas se relacionam com o trabalho de reflorestamento. Por meio de entrevistas, os autores dão voz às pessoas da comunidade, às instituições públicas e privadas e às associações que participam ativamente nos trabalhos de restauração. Este estudo foi o responsável por gerar as informações de base necessárias para avaliar o impacto do projeto Cachoeira na sócio-economia da comunidade do seu entorno. O programa de conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais agradece a todos que colaboraram com a elaboração desse valioso registro. Boa leitura!
João Campari Diretor do Programa de Conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais
Haroldo Palo Jr.
10 prefácio
20
24
introdução
metodologia
30
98
resultados e discussão
perspectivas de desenvolvimento local sustentável
102
114
indicadores de monitoramento socioambiental
referências bibliográficas
110 conclusão
sumรกrio
prefรกcio
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
A
represa Cachoeira, em Piracaia (SP), faz parte do sistema de represas do Cantareira, responsável pelo abastecimento de água potável para 9 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. A formação do lago artificial em meio às antigas pastagens e cultivos agrícolas deu origem à extensa margem desprovida de floresta. Em fevereiro de 2009 o Projeto Cachoeira iniciou as atividades de restauração florestal em 350 hectares no entorno da represa Cachoeira, em Piracaia. Essa iniciativa foi concebida por uma parceria entre a Sabesp e a The Nature Conservancy (TNC) e conta com a participação da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e da Prefeitura Municipal de Piracaia e o apoio da Fundação Dow. O projeto partiu do princípio de que o projeto de restauração florestal deve beneficiar a comunidade local de seu entorno. O primeiro movimento nesse sentido foi priorizar a contratação de moradores dos bairros mais próximos para participar das atividades de restauração florestal. Essa iniciativa resultou na oferta de emprego e renda direta aos moradores locais, o que trouxe melhoria de qualidade de vida para a comunidade. Este relatório apresenta os resultados do diagnóstico socioambiental participativo do Projeto Cachoeira, realizado entre março e agosto de 2009 pelo Instituto Socioambiental Gaia. Com o intuito de monitorar o impacto social do projeto, o diagnóstico caracterizou condições socioeconômicas das comunidades do entorno logo no início das atividades de restauração florestal, estabelecendo o marco zero ou baseline socioambiental do projeto. A interpretação dos resultados desse diagnóstico permitiu definir indicadores para avaliar a influência do projeto na socioeconomia das comunidades de seu entorno ao longo do tempo. Moradores locais foram contratados e treinados para entrevistar representantes dos principais grupos de interesses (Tabela 1). Após as entrevistas, sucederam-se diversas oficinas de diagnóstico participativo com a comunidade. 10
Tabela 1 Entrevistas por grupo de interesse. Amostragem – percentual de entrevistados em relação ao total de representantes de cada grupo de interesse. Grupo de interesse
N° de entrevistas
Amostragem
Famílias na área de influência
59
75,6 %
Instituições
10
100%
Trabalhadores de restauração florestal
11
100%
Ex-trabalhadores da restauração florestal
8
66,7%
Prestadores de serviço e fornecedores
2
100%
Criadores de gado
2
66,7%
Pescadores
21
Indeterminado
Romeiros (informações indiretas)
3
Indeterminado
Total
116
Nos bairros Barbas, Carás, Velosos, Dandão e Souzas, área de influência socioeconômica do projeto, foram registrados 135 moradores, sendo a proporção de jovens entre 20 e 29 anos menor do que a observada nas demais faixas etárias. O rendimento mensal domiciliar per capita médio foi de R$ 363,59 (78,2% de um salário mínimo) em 2009, sendo que 35% das famílias tiveram renda mensal inferior a meio salário mínimo por pessoa. A emigração já ocorreu em 27% das famílias. O índice de desocupação de 14% nas comunidades da área de influência do projeto é maior do que o obtido no mesmo período no estado de São Paulo (9,74%). A maioria das pessoas que deixa esses bairros (56%) muda-se para a área urbana de Piracaia em busca de oportunidades de trabalho (75%). A comunidade vivencia um processo de êxodo rural, mas a
tendência pode ser revertida pela melhoria das condições de vida, sobretudo em relação a emprego, renda e transporte. Exceto pela igreja e por pequenos grupos familiares, a comunidade não tem tradição de trabalho de mutirão ou cooperativo. A convivência entre vizinhos parece ser pequena, provavelmente em função das grandes distâncias entre as casas e da dificuldade de transporte. A situação mostra a necessidade de investir em organização social para qualquer tipo de atividade colaborativa de geração de renda que se planeje fazer na região. Aproximadamente 60% das famílias residem em pequenas propriedades com menos de 30 hectares. O plantio de algum tipo de cultura é realizado em 69% das propriedades, sendo a maioria da produção utilizada para consumo próprio. Apenas 11
a cultura de eucalipto tem como principal objetivo a comercialização (65% dos 16 produtores). Em 61% das propriedades, há nascentes, das quais 83% possuem mata em seu entorno, total ou parcialmente. Do total de entrevistados, 39% declararam não haver outras áreas de mata na propriedade além das áreas de mata ripária. O diagnóstico evidenciou a ausência de estrutura local para a comunidade. Não há creches e postos de saúde nos cinco bairros e apenas o Carás conta com uma escola de ensino fundamental (EMEFR Bairro dos Carás). Como áreas de lazer, foram citados apenas um campo de futebol (16 respostas) e a represa (uma resposta). A precariedade da estrada foi o problema mais citado nas entrevistas e enfatizado nas reuniões comunitárias. Gráfico 1 Principais problemas dos bairros segundo os moradores Maior problema das pessoas que vivem no bairro
Porcentagem
50 40 30 20 10
Falta de informação
Falta de apoio da prefeitura
Barulho do condomínio
Sem resposta
Não tem problema
Falta de água
Não sabe dizer
Falta de emprego
Falta de transporte
Estrada ruim
0
Os moradores locais conhecem e avaliam de forma extremamente positiva o Projeto Cachoeira (Gráfico 2 e 3), sendo que todos os entrevistados consideraram importante restaurar a margem da Represa do Cachoeira para a conservação das florestas e dos recursos hídricos da região. Oito entrevistados (17% do total), no entanto, afirmaram que o projeto trouxe prejuízo para os criadores de gado em atividade na área da restauração florestal. É importante ressaltar que a criação de gado pela comunidade nesse local é inadequada, pois se trata de uma área de preservação permanente. No entanto, o histórico conturbado de desapropriação das antigas propriedades e o posterior uso da área pela comunidade para criação de gado explicam a visão dos moradores de que o projeto restringiu o uso dessas terras. Cabe ressaltar que a comunidade não tem ainda uma visão clara sobre detalhes do projeto, sendo importante um incremento das ações de comunicação social para que ela possa efetivamente sentir-se parte integrante do projeto.
12
Arquivo GAIA Michael Giannechini
Área do Projeto Cachoeira em restauração
13
14
Scott Warren
Gráfico 2 Porcentagem de entrevistados que conhecem o Projeto Cachoeira Conhecimento do Projeto Cachoeira 2% Não respondeu 20% Não
78% Sim
Gráfico 3 Opinião dos entrevistados sobre o projeto Qual sua opinião sobre o projeto Muito interessante Uma maravilha Boa ideia Tomara que continue Ótimo Legal Importante Bom, mas difícil de dar certo Bom, mas tem que fiscalizar Bom 0
10
20
30
40
50
60
70
80
Porcentagem
Todos os trabalhadores envolvidos com o Projeto Cachoeira disseram gostar de trabalhar no projeto. A maioria (82%) justificou a resposta em função do “gosto pela natureza” e do “gosto pela atividade de plantio”. Essa percepção é reforçada pelo fato de 95% dos respondentes identificarem a geração de renda como o principal benefício do projeto à comunidade. Esses trabalhadores constituem a principal fonte de informação da população a respeito do projeto, fazendo com que a relação entre eles e a população seja estratégica.
15
Os incêndios são considerados por todos os grupos de interesse como o principal risco ao projeto, tanto por trabalhadores e ex-trabalhadores da restauração quanto por pescadores. O monitoramento da influência do Projeto Cachoeira nas comunidades da área do entorno será realizado periodicamente, por meio de indicadores socioeconômicos. Em 2009, esses indicadores foram medidos para constituir o marco zero (baseline) do projeto (Tabela 2). Tabela 2 Marco zero (baseline) dos indicadores sociais do Projeto Cachoeira Indicador
Comunidade na área de influência
Trabalhadores do projeto
1 Rendimento mensal domiciliar per capita médio (Rfc)
Rfc2009 = R$ 363, 59 (78,2% do salário mínimo vigente)
Rfc2009 = R$ 443,54 (95.38% do salário mínimo vigente)
2 Percentual médio de contribuição do projeto à renda mensal familiar
CRf = 1,54% CRt = 85%
3 Percentual médio de contribuição do projeto à renda mensal do trabalhador do projeto 4 Intenção de emigração
IE = 59%
IE = 36%
5 Percentual dos respondentes que afirmam conhecer o Projeto Cachoeira
Pc = 89%
6 Percentual dos entrevistados que consideram que o projeto trouxe benefícios à comunidade
Pb = 89%
Pb = 72%
7 Percentual dos entrevistados que consideram que o projeto trouxe problemas ou consequências negativas à comunidade
Pp = 17%
Pb = 27%
Ruim
0%
0%
Regular
0%
0%
Bom
80%
72%
Muito bom
13%
9%
Ótimo
7%
9%
8 Opinião a respeito do projeto
No presente diagnóstico socioambiental, verificamos que o Projeto Cachoeira tem, atualmente, um impacto social extremamente positivo nas comunidades em sua área de influência. As atividades do projeto oferecem emprego e renda para moradores locais e promovem a discussão de questões socioambientais. As reuniões do Projeto Cachoeira e deste diagnóstico têm contado com grande participação da comunidade, fomentando a organização comunitária.
16
A comunidade da área de influência do projeto, como grande parte dos municípios brasileiros, enfrenta o problema do êxodo rural. A dificuldade de transporte, as más condições da estrada e a escassez de postos de trabalho são motivos de fortes reivindicações da comunidade e possivelmente os principais fatores associados à intenção de emigração. A maioria das pessoas vive em pequenas propriedades, praticando atividades agropecuárias voltadas à subsistência, sendo a aposentadoria a principal fonte de renda das famílias. A plantação de eucalipto é a única cultura voltada para comercialização. O diagnóstico socioambiental evidenciou que as atividades do Projeto Cachoeira, somadas a outras parcerias intersetoriais que aliem restauração florestal e desenvolvimento local, têm o potencial de reverter o processo de êxodo rural em comunidades como as retratadas neste diagnóstico.
John Maier
o Projeto Cachoeira tem, atualmente, um impacto social extremamente positivo nas comunidades em sua área de influência
17
introdução
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
A
represa Cachoeira localiza-se no município de Piracaia (SP) e faz parte do sistema de represas do Cantareira, responsável pelo abastecimento de água potável para 9 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. A área onde se formou o lago da represa era predominantemente composta por pastagens e áreas agrícolas. Com isso, as margens do lago foram constituídas por áreas anteriormente desflorestadas.
Haroldo Palo Jr.
Tendo em vista as demandas socioambientais da região, os principais objetivos do Projeto Cachoeira são: 1) contribuir para a diminuição do efeito estufa e consequentemente do aquecimento global; 2) contribuir para o incremento de biodiversidade local; 3) proteger e preservar a qualidade da água no Sistema Cantareira; e 4) desenvolver projetos em conjunto com as comunidades locais e criar oportunidades de geração de renda para a região. O projeto parte do princípio de que as pessoas devem se beneficiar diretamente das atividades que realizam. Para monitorar os resultados sociais do projeto, este diagnóstico caracteriza as condições socioeconômicas das comunidades locais no início das atividades, estabelecendo um marco zero ou baseline. O acompanhamento das características socioeconômicas das comunidades ao longo do tempo e a investigação da relação das tendências observadas com o Projeto Cachoeira permitirão avaliar o impacto do projeto na comunidade. O projeto Cachoeira é uma iniciativa conjunta da Sabesp e da The Nature Conservancy (TNC). O projeto conta com a
20
Haroldo Palo Jr.
parceria institucional da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e da Prefeitura Municipal de Piracaia e com o apoio da Fundação Dow, que visa restaurar a floresta do entorno da represa Cachoeira. Este relatório apresenta os resultados do diagnóstico socioambiental do Projeto Cachoeira, realizado pelo Grupo de Aplicação Interdisciplinar à Aprendizagem (Gaia).
1.1 Objetivos do diagnóstico O diagnóstico socioambiental do Projeto Cachoeira tem como objetivos: a) caracterizar aspectos socioeconomicos da comunidade e dos demais públicos de interesse do projeto residentes no entorno do reservatório (baseline), conciliando indicadores sociais do Climate, Community & Biodiversity Alliance (CCB), indicadores sociais nacionais e regionais e outros indicadores de interesse do projeto. b) caracterizar a percepção ambiental das instituições e demais usuários da área e seu entorno. c) gerar subsídios para um plano de ação visando a melhoria da qualidade de vida das comunidades no entorno do Reservatório do Rio Cachoeira. d) gerar subsídios para a definição das estratégias socioambientais para ação no Projeto Cachoeira.
21
metodologia
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
A
partir de reconhecimentos de campo e de informações preliminares, foram definidos a área de influência socioeconômica e os grupos de interesse (stakeholders) do projeto. Os métodos empregados no diagnóstico foram entrevistas semiestruturadas, entrevistas estruturadas – questionário e reuniões comunitárias. O período de 01 de abril de 2008 a 31 de maio de 2009 foi estabelecido como ano de referência, a fim de delimitar temporalmente algumas das perguntas realizadas. Foram utilizadas perguntas semelhantes às empregadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2007) para permitir a comparação com dados municipais. O salário mínimo no estado de São Paulo na época da pesquisa era de R$ 465.
2.1 Área de influência do Projeto Cachoeira e grupos de interesse
Zé Paiva
A área de influência socioeconômica do projeto considerada neste diagnóstico compreende os bairros Dandão, Sousas, Barbas, Carás e Velosos. Os critérios para a inclusão desses bairros foram: proximidade em relação às áreas a serem restauradas e probabilidade de influência socioeconômica do projeto nessas áreas, avaliada com a participação do principal líder comunitário local. Outro critério considerado foi a possibilidade de expansão do projeto em médio prazo.
24
Os principais grupos de interesse identificados por este diagnóstico e que deverão ser acompanhados para avaliação de impacto do projeto são:
Zé Paiva
o projeto parte do princípio de que as pessoas devem se beneficiar diretamente das atividades que realizam
a) famílias na área de influência: famílias residentes na área de influência do Projeto Cachoeira. b) trabalhadores da restauração florestal: pessoas empregadas ou prestadoras de serviço nas atividades relacionadas diretamente à restauração florestal propriamente dita. Foram consideradas assim as pessoas que se encontravam empregadas nas atividades de restauração do Projeto Cachoeira na semana da entrevista (16 a 20/07/2009). c) ex-trabalhadores da restauração florestal: todos os profissionais que já atuaram no projeto. d) prestadores de serviço e fornecedores do projeto sediados na região: pessoas ou empresas, sediadas na área de influência ou nas proximidades, responsáveis pelo fornecimento de serviços indiretamente relacionados à restauração florestal, como transporte e alimentação dos trabalhadores. e) criadores de gado: pessoas que tiveram o gado removido da área do plantio pelas atividades do projeto. f) pescadores: praticantes da pesca esportiva nas margens da Represa Cachoeira, considerando a área de influência do projeto. g) romeiros: pessoas que percorrem a região a pé ou a cavalo, tendo como destino o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Aparecida (SP). h) instituições: associações, sindicatos, ONGs e autarquias do governo municipal que atuam na área de influência do projeto. 25
2.2 Entrevistas Foram desenvolvidos um roteiro de entrevista semiestruturada direcionada às instituições e sete questionários (entrevistas estruturadas) destinados aos demais grupos de interesse. Os questionários foram elaborados com perguntas de múltiplas escolhas, nas quais os entrevistados podiam escolher uma ou mais respostas, e também perguntas abertas, em que não havia alternativas estabelecidas a priori. Nessas últimas, a categorização das respostas foi realizada a posteriori, a partir das respostas obtidas. Quando possível, evitamos explicitar as alternativas de respostas aos entrevistados, a fim de não induzi-los. Foram realizadas 116 entrevistas com os diversos públicos de interesse (Tabela 1). Tabela 1 Entrevistas por grupo de interesse e estratégia utilizada. Amostragem – percentual de entrevistados em relação ao total de representantes de cada grupo de interesse. Grupo de interesse
N° de entrevistas
Amostragem (número total)
Entrevistador
Famílias na área de influência
59
75,6 % (78)
Local
Instituições
10
100%
Gaia
Trabalhadores
11
100% (11)
Gaia/Local
Ex-trabalhadores
8
66,7% (12)
Gaia/Local
Prestadores de serviço e fornecedores
2
100% (2)
Gaia
Criadores de gado
2
66,7% (3)
Gaia
Pescadores
21
Indeterminado
Local
Romeiros (informações indiretas)
3
Indeterminado
Local
Total
116
2.3 Oficinas de diagnóstico participativo Após a análise preliminar dos resultados das entrevistas, foram realizadas seis oficinas de diagnóstico participativo com as comunidades na área de influência do projeto. O objetivo das reuniões foi obter informações mais específicas e complementares sobre as expectativas e a percepção da comunidade em relação ao projeto e sobre sua relação com a comunidade local. 26
2.4 Análises dos dados
Arquivo GAIA
Para a análise dos dados, foi empregada estatística descritiva, apresentando percentuais e médias, o que favorece a comparação temporal com avaliações futuras. Em questões com mais de uma alternativa possível, a soma dos percentuais foi maior do que 100%, pois foi apresenta-
da a frequência de ocorrência de cada resposta, ou seja, o número de vezes em que cada resposta foi citada dividido pelo número de respondentes. As comparações com dados municipais foram feitas com base no censo IBGE 2000, que é o dado mais atualizado em âmbito municipal. As informações deverão ser revistas quando forem publicados os dados do censo IBGE 2010.
Mobilizadora local aplicando os questionários 27
resultados e discuss達o
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
3.1 Famílias na área de influência 3.1.1 Demografia e escolaridade
A
amostra realizada por este estudo contabilizou 135 moradores nos bairros Barbas, Carás, Velosos, Dandão e Souzas, distribuídos de maneira mais ou menos uniforme entre as classes etárias (Tabela 1). O número de homens na comunidade é maior que o de mulheres (Gráfico 1), embora a diferença seja pequena. Dos 19 domicílios na área de influência cujas famílias não foram entrevistadas, três estavam desocupados, 12 são casas de pessoas que raramente estão no domicílio por morarem em outras cidades e em quatro as famílias não quiseram responder por acreditar que o projeto não tem relação com elas. Considerando esses quatro domicílios de famílias que realmente residem no local e o número médio de 3,3 pessoas por domicílio (IBGE, 2001), a estimativa de moradores na área de influência é de 148 pessoas. Tabela 1 Distribuição dos moradores dos bairros entrevistados por sexo e faixa etária
Bairro
Barbas
Dandão
Souzas
Faixa etária
M
H
M
H
M
H
M
H
M
H
M
H
0-9
5
1
3
4
3
3
1
1
0
0
12
9
10-19
6
1
1
5
1
2
4
4
0
0
12
12
20-29
2
2
1
2
2
2
1
0
0
0
6
6
30-39
5
5
1
0
2
5
1
2
0
0
9
12
40-49
2
5
4
3
2
1
1
1
0
0
9
10
50-59
3
2
0
1
0
1
0
0
0
0
3
4
60-69
4
4
0
1
1
1
1
1
1
1
7
8
70-79
1
4
1
1
0
2
0
3
0
1
2
11
Acima dos 80
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
1
Sem resposta
1
0
0
0
0
0
1
0
0
0
2
0
Total
29
24
11
18
11
17
10
12
1
2
62
73
(M) Mulheres (H) Homens
30
Carás
Veloso
Total
John Maier
John Maier
Alexander Rose/TNC
metade da comunidade da área de influência do projeto tem rendimento familiar de até dois salários mínimos, evidenciando rendas menores do que os dados do município
31
A pirâmide etária para a área de influência do projeto mostra claramente uma menor quantidade de jovens na faixa dos 20 aos 29 anos em relação às demais classes etárias (Gráfico 1). Esse resultado pode estar relacionado ao êxodo de pessoas dessa faixa de idade em busca de melhores condições de vida (estudo, trabalho). Quando comparada à pirâmide etária brasileira (Gráfico 2), nota-se que a pirâmide local não tem o mesmo padrão. Na pirâmide local, é evidente o grande número de pessoas no ápice, indicando o predomínio de pessoas acima dos
60 anos de idade. A emigração já ocorreu em 27% das famílias. Quando solicitados a exemplificar os casos de familiares que migraram, a maioria dos entrevistados citaram o(a) filho(a) (69%) ou o(a) irmão(a) (12%). A maioria migrou para a área urbana de Piracaia (56%). Deles, 75% citam a busca de oportunidades de trabalho como motivo principal do êxodo rural. Do total dos entrevistados, 41% afirmaram que se mudariam do local onde vivem, sendo a zona urbana de Piracaia o destino mais citado, com a justificativa de que tem mais recursos (50%).
Gráfico 1 Pirâmide etária da comunidade na área de influência do projeto Pirâmide etária da comunidade Acima de 80 70-79 60-69 50-59 40-49
Homens
30-39
Mulheres
20-29 10-19 0-9 -10
-5
0
5
10
15
Gráfico 2 Pirâmide etária do Brasil (Fonte: IBGE Censo 2000) Pirâmide etária do Brasil Acima de 80 70-79 60-69 50-59 40-49
Homens
30-39
Mulheres
20-29 10-19 0-9 -15
32
-10
-5
0
5
10
15
Carlos Renato Fernandes
Aproximadamente 80% das pessoas sabem ler e escrever, sendo que 84% delas têm até a 4a série do ensino fundamental (Gráfico 3) e apenas 20% ainda estão estudando. Todas as pessoas entre 7 e 17 anos são alfabetizadas. Gráfico 3 Escolaridade registrada para a comunidade da área de influência do projeto Escolaridade 2% Superior 5% EM 3ª série 2% EM 2ª série
7% EF 1ª série 12% EF 2ª série
2% EM 1ª série 7% EF 8ª série 3% EF 7ª série 5% EF 6ª série 19% EF 3ª série 9% EF 5ª série
27% EF 4ª série
33
3.1.2 Trabalho e renda O rendimento mensal domiciliar per capita médio na área de influência do projeto foi de R$ 363,59 (78,2% do salário mínimo), variando entre R$ 100 e R$ 1.500. Esse indicador de rendimento mensal por pessoa foi menor do que meio salário mínimo em 35% das famílias e de até ¾ do salário mínimo em 51,2% das famílias. Os valores são significativamente menores do que os da cidade de Piracaia, que apresenta mais famílias com rendimento maior (Tabela 2). Tabela 2 Comparação entre o rendimento mensal domiciliar per capita médio da comunidade da área de influência e do município de Piracaia (Censo 2000)
34
Rendimento mensal domiciliar per capita médio
Percentual da comunidade na área de influência
Percentual do município (Censo 2000)
Mais de 1/8 a 1/4 de salário mínimo
4,65
1,55
Mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo
30,23
8,73
Mais de 1/2 a 3/4 de salário mínimo
16,28
10,36
Mais de 3/4 a 1 salário mínimo
30,23
15,12
Mais de 1 a 1 1/4 salários mínimos
9,3
9,07
Mais de 1 1/4 a 1 1/2 salários mínimos
4,65
9,52
Mais de 1 1/2 a 2 salários mínimos
0
15,99
Mais de 2 a 3 salários mínimos
0
8,66
Mais de 3 a 5 salários mínimos
2,33
10,27
Metade da comunidade da área de influência do projeto tem rendimento familiar de até dois salários mínimos, evidenciando rendas menores do que os dados do município. Segundo o Censo IBGE 2000, a maioria das famílias de Piracaia tem renda de 3 a 10 salários mínimos (Tabela 3). Tabela 3 Distribuição da faixa salarial da comunidade
Pergunta
Qual é a renda da sua família por mês
Resposta
N°
Porcentagem (n=59)
Porcentagem Municipal (Censo 2000)
Mais de 1 a 2 salários mínimos
30
50,85
10,23
Mais de 2 a 3 salários mínimos
7
11,86
15,84
Mais de 3 a 5 salários mínimos
6
10,17
24,02
Mais de 5 a 10 salários mínimos
-
-
29,87
Não responderam
16
27,12
-
Considerando todos os moradores dos domicílios entrevistados (116 pessoas), 30% das pessoas estão trabalhando. Dos que responderam não estar trabalhando, apenas 14% estão procurando emprego. O índice de desocupação de 14% nas comunidades na área de influência do projeto é maior do que o obtido no estado de São Paulo (9,74%). A menor renda na área rural e a taxa de desocupação explicam a reivindicação da comunidade local por geração de emprego e renda, assim como a intenção de migrar para a área urbana de Piracaia.
3.1.3 Características gerais das moradias As casas, em sua maioria, são construídas em alvenaria, cobertas por telhas de barro, contendo entre quatro e seis cômodos. Há rede elétrica e água encanada (Tabela 4). Não foram observadas diferenças entre a área de influência do projeto e o município no que se refere ao número médio de cômodos por domicílio (5,22 e 5,08, respectivamente) e ao número médio de cômodos servindo como dormitórios (1,97 e 1,81, respectivamente; dados municipais IBGE 2000). 35
Tabela 4 Dados sobre as características das residências da área de influência do projeto e do município de Piracaia
Perguntas
Material predominante na construção
Tipo de cobertura
Número de cômodos
Forma de iluminação
Presença de água encanada
36
Respostas
N°
Porcentagem (n=59)
Porcentagem Municipal (2000)
Alvenaria
57
96,61
-
Madeira aparelhada
1
1,69
-
Sem resposta
1
1,69
-
Telha
55
93,22
-
Laje de concreto
1
1,69
-
Outro material
2
3,39
-
Sem resposta
1
1,69
-
2
1
1,69
4,38
3
6
10,17
15,44
4
17
28,81
23,22
5
15
25,42
24,99
6
12
20,34
13,62
7
4
6,78
5,07
8
1
1,69
5,24
10
1
1,69
5,19
22
1
1,69
-
Sem resposta
1
1,69
-
Elétrica de rede
55
93,22
97,42
Óleo, querosene ou gás de botijão
2
3,39
-
Sem resposta
2
3,39
-
Sim
56
94,92
94,2
Não
1
1,69
-
Sem resposta
2
3,39
-
Existe banheiro ou sanitário em aproximadamente 88% das residências, proporção menor do que a registrada para o município (97%; Tabela 5). A principal forma de escoadouro do banheiro na área de influência do projeto é a fossa rudimentar (78%). A utilização desse tipo de fossa representa risco de contaminação do solo e da água da represa, sendo que, nesse caso, o risco é minimizado pela baixa densidade populacional. Assim, é mais preocupante a possibilidade de contaminação local de algumas das nascentes e poços utilizados pela própria comunidade. A ausência de coleta faz com que 40% das famílias entrevistadas queimem o lixo e que 22% queimem e enterrem. Além de representar um destino inadequado do ponto de vista ambiental, a queima do lixo aumenta o risco de incêndio
acidental na região. Das 18 famílias que afirmaram dar outro destino ao lixo, cerca de 30% levam-no para a cidade. A falta de coleta de lixo é citada por alguns moradores da comunidade quando indagados sobre problemas em seu bairro. Nesse quesito, também foi citado o lixo deixado pelas pessoas que utilizam a represa, principalmente os pescadores. Metade das famílias entrevistadas relatou a existência de algum tipo de coleta seletiva de lixo. O aumento dessas iniciativas poderia auxiliar na redução de resíduos queimados, contribuindo para geração de renda. No entanto, a distância entre as moradias representa uma dificuldade para esse tipo de atividade, visto que o transporte é um dos principais problemas para os moradores locais.
Alexander Rose/TNC
metade das famílias entrevistadas relatou a existência de algum tipo de coleta seletiva de lixo 37
Tabela 5 Situação das condições sanitárias e da disposição do lixo dos moradores da área de influência do projeto e do município de Piracaia
Pergunta
Ocorrência de banheiro ou sanitário
De que forma é feito o escoadouro do banheiro ou sanitário?
Destino do lixo domiciliar
Coleta algum tipo de material (vidro, plástico, papel)?
Respostas
Nº
Porcentagem (n=59)
Porcentagem Municipal (2000)
Sim
52
88,14
96,96
Não
4
6,78
3,04
Sem resposta
3
5,08
-
Rede geral de esgoto ou pluvial
-
-
57,94
Fossa séptica não ligada à rede coletora de esgoto ou pluvial
1
1,69
14,81
Fossa rudimentar
46
77,97
18,42
Vala
1
1,69
1,13
Direto para o rio, lago
6
10,17
5,03
Outra forma
1
1,69
0,3
Sem resposta
4
6,78
-
Coletado diretamente
2
3,39
71,17
Queimado
24
40,68
11,8
Queimado e enterrado
13
22,03
-
Outro destino
18
30,51
0,55
Sem resposta
2
3,39
-
Sim
29
49,15
Não
26
44,07
Sem resposta
4
6,78
O telefone celular é, na maioria das moradias, o principal meio de comunicação, sendo quase inexistente a presença de telefone fixo. O rádio, o televisor colorido, o fogão e a geladeira são encontrados na maioria das famílias, ao contrário da lavadora de roupa, encontrada em 20% das famílias. O computador está presente em somente 5% das moradias, sendo que nenhuma delas relatou acesso à internet. A única diferença marcante entre os moradores do entorno da represa e da área urbana de Piracaia em termos de utensílios domésticos diz respeito à existência de telefone fixo (Tabela 6).
38
39
Scott Warren
Tabela 6 Quantidade de utensílios domésticos dos moradores da área de influência do projeto e do município
Perguntas
Algum morador tem telefone celular?
Algum telefone fixo?
Tem fogão?
Tem rádio?
Tem TV em cores?
Tem geladeira?
Tem computador?
O computador tem acesso a internet?
Tem máquina de lavar roupa?
40
Respostas
Nº
Porcentagem (n=59)
Porcentagem Municipal (Censo - 2000)
Sim
46
77,97
-
Não
10
16,95
-
Sem resposta
3
5,08
-
Sim
4
6,78
27,68
Não
54
91,53
-
Sem resposta
1
1,69
-
Sim
57
96,61
-
Não
1
1,69
-
Sem resposta
1
1,69
-
Sim
54
91,53
92,05
Não
4
6,78
-
Sem resposta
1
1,69
-
Sim
52
88,14
92
Não
6
10,17
-
Sem resposta
1
1,69
-
Sim
53
89,83
91,49
Não
4
6,78
-
Sem resposta
2
3,39
-
Sim
3
5,08
8,54
Não
55
93,22
-
Sem resposta
1
1,69
-
Sim
0
0
-
Não
2
66,67
-
Sem resposta
1
33,33
-
Sim
20
33,90
33,71
Não
37
62,71
-
Sem resposta
2
3,39
-
Alexander Rose/TNC
Mais de 50% das moradias são próprias e já pagas, a exemplo dos dados oficiais do município (Tabela 7). Na área de influência do projeto, aproximadamente 27% das famílias residem em moradias emprestadas ou cedidas pelos patrões, enquanto os dados municipais apontam para 17% das moradias alugadas, situação quase inexistente na área de influência do projeto. Tabela 7 Situação das moradias e do terreno na área de influência do projeto e no município
Perguntas
Esta casa é
O terreno onde está a casa é próprio?
Respostas
N°
Porcentagem (n=59)
Porcentagem municipal (Censo -2000)
Própria já paga
35
59,32
58,13
Alugada
1
1,69
17,23
Emprestada ou cedida por patrão
16
27,12
13,95
Emprestada ou cedida de outra forma
2
3,39
6,48
Outra condição
3
5,08
0,7
Sem resposta
2
3,39
-
Sim
35
59,32
-
Não
17
28,81
-
Sem resposta
7
11,86
-
41
Alexander Rose/TNC
3.1.4 Saúde A maioria da comunidade entrevistada não tem plano de saúde (83%) e busca atendimento médico principalmente no pronto socorro do hospital e no posto de saúde, ambos localizados na zona urbana de Piracaia (Gráfico 4). Logo, quando questionada sobre possíveis soluções para os principais problemas de saúde enfrentados pela comunidade, a maioria citou como importante a implantação de um posto de saúde mais próximo da comunidade. Dentre os problemas de saúde mais citados estão os de coluna, associados principalmente ao esforço do trabalho na lavoura (Gráfico 5). Gráfico 4 Setores da área da saúde nos quais a comunidade busca atendimento Onde a família busca atendimento 6% Consultório/Clínica
41% Posto de saúde
44% Hospital/P. Socorro
9% Farmácia
42
41% dos entrevistados responderam que gostariam de se mudar do local onde vivem
Gráfico 5 Principal problema de saúde indicado pela comunidade da área de influência do projeto Qual é o principal problema de saúde no bairro 7% Coluna 27% Sem resposta
35% Gripe
19% Não sabe 2% Normal 3% Falta de atendimento local 3% Pressão alta 2% Poeira 2% Cada um tem um
3.1.5 Contexto e organização social Os problemas do bairro mais citados foram o estado precário da estrada e a falta de transporte e de emprego. Juntos, esses fatores representam 80% das indicações como primeiro ou segundo principal problema do bairro (Gráficos 6 e 7). Os problemas citados se inter-relacionam, pois
a estrada ruim dificulta o transporte público ou de veículos particulares. A estrada e o transporte também foram as questões mais citadas pelas comunidades nas oficinas de diagnóstico participativo. Segundo eles, o problema da estrada impede a assistência adequada à saúde, pois as ambulâncias não circulam na região. As comunidades não podem usufruir adequadamente dos equipamentos públicos e dos empregos existentes no centro urbano da cidade. Essa situação acaba por isolar a comunidade, dificultando o seu desenvolvimento e favorecendo o êxodo rural. De fato, 41% dos entrevistados responderam que gostariam de se mudar do local onde vivem (Gráfico 8), sendo a zona urbana de Piracaia o destino mais citado, com a justificativa de que tem mais recursos (50%). Por outro lado, existe uma relação íntima entre os moradores e o local. Eles citaram o sítio onde moram, a tranquilidade, a igreja e os vizinhos como aspectos que mais gostam no bairro (Gráfico 9). Quando indagados sobre o local mais bonito que conhecem em Piracaia, a represa foi o local mais citado (22%), seguida pela Igreja Matriz de Piracaia (14%), o sítio onde mora (11%) e o centro urbano da cidade (10%). As respostas acima indicam que a comunidade está vivenciando um processo de êxodo rural, mas 43
a ligação com o local indica que a tendência pode ser revertida pela melhoria das condições de vida, sobretudo no que diz respeito ao emprego, renda e transporte. Gráfico 6 Porcentagem dos principais problemas identificados pelas famílias entrevistadas na área de influência do projeto Maior problema das pessoas que vivem no bairro
Porcentagem
50 40 30 20 10
Falta de informação
Falta de apoio da prefeitura
Barulho do condomínio
Sem resposta
Não tem problema
Falta de água
Não sabe dizer
Falta de emprego
Falta de transporte
Estrada ruim
0
Gráfico 7 Porcentagem do segundo maior problema indicado pelas famílias entrevistadas na área de influência do projeto Segundo maior problema das pessoas que vivem no bairro
Porcentagem
50 40 30 20 10
44
Falta de preservação das águas
Coleta de lixo
Educação
Falta de preservação do meio ambiente
Estrada ruim
Não responderam
Falta de emprego
Falta de transporte
0
Gráfico 8 Porcentagem das pessoas entrevistadas que se mudaria para outro local Se você pudesse se mudaria para outro local ou cidade? 10% Não responderam 41% Sim
O maior elo das comunidades na área de influência do projeto parece ser a Igreja, pois 88% dos entrevistados se declararam frequentadores, sendo que 76% afirmaram que algum outro membro da família também o faz. A maioria dos entrevistados, 92%, é frequentadora da Igreja Católica, sendo que 84% dos seus parentes seguem a mesma religião.
49% Não
Gráfico 9 O que as pessoas entrevistadas indicaram como os lugares que mais gostam na comunidade ou no seu bairro O que a comunidade mais gosta em seu bairro 2% Bar do Rodrigo 2% Bar da Márcia
2% Não sabe 3% Sem resposta 19% Igreja
5% Represa
apenas o bairro dos Carás conta com uma escola de ensino fundamental (EMEFR Bairro dos Carás). Como área de lazer, foi citado apenas um campo de futebol (16 respostas) e a represa (uma resposta). É importante ressaltar que a represa não é vista pela comunidade como uma área de lazer.
8% Tudo
9% Vizinhos
37% Do lugar onde mora 10% Tranquilidade 3% Natureza
Os questionários evidenciam a ausência de estrutura local para a comunidade. Nenhum dos cinco bairros tem creche e posto de saúde e
A maior parte das pessoas indicou o senhor André Donizeti Cunha do Amaral, ministro da Igreja Católica e morador do Bairro dos Barbas, como sendo um líder (23% de 59 respondentes), além de ser citado como pessoa admirada ou um exemplo para a comunidade (36% de 41 respondentes). Quase a totalidade da comunidade não faz e nem fez parte de associações, sindicatos, cooperativas ou outros grupos sociais envolvendo interesses comuns (Tabela 8). Apenas 28% deles citam ter participado recentemente das reuniões organizadas pela TNC (29%) e pelo Gaia (24%) para esclarecimento e discussão do Projeto Cachoeira (Gráficos 10 e 11). Como citado anteriormente, a Igreja é o maior elo entre as pessoas da comunidade. Além disso, a pessoa citada como sendo o líder da comunidade também apresenta-se como figura importante da instituição. A comunidade se organizou para construir as igrejas que lá existem em terras doadas pelos moradores e com recursos da própria comunidade. Por outro lado, com a exceção da participação na igreja e de pequenos grupos familiares, a comunidade não tem tradição de trabalho de mutirão ou trabalho cooperativo. 45
A convivência entre os vizinhos parece ser pequena, provavelmente em função das grandes distâncias entre as casas e da dificuldade de transporte. Além disso, quando indagados sobre o que poderia ser feito para aumentar o rendimento da família se tivesse algum apoio, a maioria (34%) citou que poderia trabalhar se houvesse maior oportunidade de trabalho. Uma proporção menor enfatizou o trabalho feminino em oficinas (10%) de costura e padaria. Quando indagados sobre qual apoio seria necessário, a maioria dos respondentes citou maiores oportunidades de trabalho (20%) ou apoio financeiro (17%). O empreendedorismo coletivo aparece como uma das possibilidades de aumento de renda. No entanto, grande parte das pessoas pensa em novos postos de trabalho oferecidos por um investidor externo à comunidade. A maioria das pessoas entraria em uma cooperativa ou em sociedade com outras pessoas da comunidade (59%). Cabe ressaltar, pelos resultados acima apresentados, que os membros da comunidade não têm clareza de seu papel enquanto cooperados, visto que a posição deles está muito mais relacionada ao trabalho na lavoura, que faz parte do seu próprio histórico, do que ao conhecimento dos diversos estratos e funções que compõem essa estrutura. Tabela 8 – Porcentagem da comunidade que participa de algum tipo de grupo em prol de um bem comum Pergunta
Você já fez parte de algum grupo, associação, sindicato ou cooperativa?
Atualmente você faz parte de algum grupo, associação, sindicato ou cooperativa?
Alguma outra pessoa da família já fez parte de algum grupo, associação, sindicato ou cooperativa? Alguma outra pessoa da família faz parte de algum grupo, associação, sindicato ou cooperativa?
46
Resposta
Nº
Porcentagem (n=59)
Sim
4
6,78
Não
54
91,53
Sem resposta
1
1,69
Sim
1
1,69
Não
57
96,61
Sem resposta
1
1,69
Sim
4
6,78
Não
54
91,53
Sem resposta
1
1,69
Sim
1
1,69
Não
57
96,61
Sem resposta
1
1,69
Haroldo Palo Jr.
Gráfico 10 Porcentagem da população que registrou ter participado ultimamente de reuniões ocorridas junto à comunidade. Participação em reuniões 2% Não responderam 29% Sim
69% Não
Gráfico 11 Participação em reuniões pela comunidade da área de influência do projeto Participação em reuniões de algum grupo na comunidade 7% Prefeita, plantação de árvores 7% Palestras da Floresp 7% Não lembra o nome da igreja 7% Plantio das árvores 33% Na igreja (da TNC)
13% ONG Gaia na igreja dos Carás 6% Na igreja sobre plantação (uma ONG) 20% Igreja
47
Haroldo Palo Jr.
3.1.6 Uso do solo, manejo e produção agropecuária Aproximadamente 60% das famílias entrevistadas residem em propriedades com áreas que não ultrapassam 30 hectares, caracterizadas como pequenas propriedades (Gráfico 12). Gráfico 12 Porcentagem de distribuição das propriedades por área
Sem resposta
Mais de 200
Mais de 100 a 200
Mais de 50 a 100
Mais de 40 a 50
Mais de 30 a 40
Mais de 20 a 30
Mais de 10 a 20
Mais de 5 a 10
40 35 30 25 20 15 10 5 0 Até 5
Porcentagem
Área das propriedades (em hectares)
Em 61% das propriedades há nascentes. Destas, 83% possuem mata em seu entorno, total ou parcialmente. Além disso, 58% das nascentes não são protegidas por cerca e 14% são protegidas apenas parcialmente (Tabela 9). 48
a ausência de mata ripária em algumas nascentes, rios e lagoas, bem como de áreas de reserva legal em algumas propriedades, indica a potencialidade da região para o estabelecimento de projetos de restauração florestal
Tabela 9 Presença de nascentes, mata e gado nas propriedades da área de influência do projeto Pergunta
Nesta propriedade tem nascente?
Em volta das nascentes tem mata?
As nascentes são cercadas?
As nascentes que têm mata são cercadas?
Nas propriedades onde as nascentes são cercadas há criação de gado?
Respostas
Nº
Porcentagem
Sim
36
61,02
Não
20
33,90
Sem resposta
3
5,08
Sim, totalmente
11
30,56
Sim, parcialmente
19
52,78
Não, em nenhuma nascente há mata
6
16,67
Sim, totalmente
9
25
Sim, parcialmente
5
13,89
Não, em nenhuma nascente há cerca
21
58,33
Sem resposta
1
2,78
Sim, totalmente
8
26,67
Sim, parcialmente
5
16,67
Não
16
53,33
Sem resposta
1
3,33
Sim
13
92,86
Não
1
7,14
49
Na Tabela 10 é possível identificar que, além das nascentes, na maioria das propriedades há ocorrência de rios ou riachos, 54% com mata no entorno. As lagoas ocorrem em apenas 30% das propriedades, 33% com mata em seu entorno. Do total de respondentes, 39% não possuem outras áreas de mata na propriedade além das áreas de mata ripária. A ausência de mata ripária em algumas nascentes, rios e lagoas, bem como de áreas de reserva legal em algumas propriedades, indica a potencialidade da região para o estabelecimento de projetos de restauração florestal em parceria com os proprietários agrícolas. Tabela 10 Presença de lagos, rios, lagoas e áreas cobertas por vegetação na área de influência do projeto Perguntas Nesta propriedade tem rios ou riachos?
Em volta destes rios ou riachos tem mata?
Nesta propriedade tem lagoa?
Em volta destas lagoas tem mata?
Além das já citadas, tem mais mata na propriedade
Respostas
Nº
Porcentagem
Sim
37
62,71
Não
19
32,20
Sem resposta
3
5,08
Sim, totalmente
4
10,81
Sim, parcialmente
20
54,05
Não, em nenhum rio ou riacho há mata
13
35,14
Sim
18
30,51
Não
36
61,02
Sem resposta
5
8,47
Sim, parcialmente
6
33,33
Não, em nenhuma lagoa há mata
12
66,67
Sim
32
54,24
Não
23
38,98
Sem resposta
4
6,78
A maioria das famílias relatou a utilização de água das nascentes para consumo próprio e de córregos ou rios para a criação ou produção agrícola (Tabela 11). A maioria da comunidade afirma que a qualidade da água é de ótima a boa e sempre disponível. No entanto, essa informação representa a percepção da comunidade e não um laudo de análise técnica. A dependência que a comunidade tem de nascentes e riachos para o fornecimento de água pode ser um dos argumentos utilizados em uma campanha de restauração florestal nas propriedades. Essa justificativa seria prontamente compreendida, pois os moradores já associam a disponibilidade de água com a existência de floresta. 50
Tabela 11 Proveniência da água utilizada pela comunidade da área de influência do projeto para os diversos fins Perguntas
Proveniência da água utilizada para a família
Proveniência da água utilizada para a criação
Proveniência da água utilizada para a lavoura
Respostas
Nº
Porcentagem
Rede geral de distribuição
0
0
Poço
3
5,08
Sem resposta
3
5,08
Nascente
44
74,58
Córrego ou rio
7
11,86
Outra
2
3,39
Rede geral de distribuição
0
0
Poço
4
9,52
Nascente
15
35,71
Córrego ou rio
26
61,90
Outra
1
2,38
Rede geral de distribuição
0
0
Poço
5
12,20
Sem resposta
26
63,41
Nascente
3
7,32
Córrego ou rio
7
17,07
O plantio de algum tipo de cultura é realizado em 69% das propriedades (Gráfico 13), sendo a maioria utilizada para consumo próprio (Tabela 12). Apenas a cultura de eucalipto tem como principal objetivo a comercialização (65% dos 16 produtores) (Tabela 13). Das famílias que têm algum tipo de cultivo, a maioria utiliza-se de esterco animal (56%) e não tem como método usual a utilização de adubos químicos (39%), inseticidas (51%) ou herbicidas (53%). Muitos não relataram a presença de pragas na lavoura (43%) (Tabela 14). A pequena utilização de defensivos agrícolas e adubos químicos parece estar diretamente relacionada ao objetivo principal do plantio para o consumo próprio. Esse modo de produção parece estar diretamente relacionado ao histórico da comunidade local, que desde sua formação tem como meio de vida o trabalho na lavoura dedicado ao plantio de subsistência e comercialização apenas do excedente. 51
Gráfico 13 Porcentagem de propriedades que possuem pelo menos um tipo de plantio Propriedades com plantio 7% Não responderam 24% Não
69% Sim
Tabela 12 Valores médio, máximo e mínimo das culturas plantadas pela comunidade Cultura
Média
Máxima
Mínima
Banana
60
100
20
Hortaliça
50
300
5
Cana
139,84
484
20
Feijão
300,48
1000
1,20
Mandioca
353,4
1000
20
Milho
1431,52
12000
30
Pomar
757,5
2000
30
Eucalipto
149338
72600
145,2
Tabela 13 Culturas plantadas para fins de comercialização Culturas
Eucalipto
Feijão
52
Resposta
Nº
Porcentagem
Sim
11
64,71
Não
5
29,41
Sem resposta
1
5,88
Sim
1
8,33
Não
10
83,33
Sem resposta
1
8,33
...continuação
Hortaliça
Milho
Sim
1
10
Não
8
80
Sem resposta
1
10
Sim
1
7,69
Não
11
84,62
Sem resposta
1
7,69
Tabela 14 Registro da quantidade de propriedades que se utilizam de adubação e defensivos agrícolas Perguntas
Usa esterco animal?
Tem enfrentado praga na lavoura?
Usa adubo químico
Usa herbicida mata-mato na lavoura?
Usa inseticida?
Usa outro químico na lavoura?
Respostas
Nº
Porcentagem (n=41)
Sim
23
56,10
Não
6
14,63
Sem resposta
11
26,83
Sim
11
26,83
Não
18
43,90
Sem resposta
12
29,27
Sim
13
31,71
Não
16
39,02
Sem resposta
12
29,27
Sim
7
17,07
Não
22
53,66
Sem resposta
12
29,27
Sim
8
19,51
Não
21
51,22
Sem resposta
12
29,27
Não
28
68,29
Sem resposta
13
31,71
Dentre os métodos mais utilizados para limpeza do terreno está a capina com foice e enxada (Gráfico 14). Apenas uma pequena porcentagem dos entrevistados (5%) relatou usar o fogo como método de limpeza do terreno, mas informou nunca ter tido problemas de incêndio. 53
Gráfico 14 Porcentagem dos métodos de limpeza utilizados para limpeza do terreno nas propriedades Método de limpeza do terreno
Porcentagem
50 40 30 20 10
O gado come o pasto
Mata-mato
Enxada ou enxadão
Foice e enxada, máquina de cortar grama
Sem resposta
Máquina de cortar grama
Foice
Foice e enxada
0
Gráfico 15 Porcentagem de cabeças de gado criadas nas propriedades entrevistadas na área de influência do projeto Cabeças de gado na propriedade 5% Mais de 40 até 100 cabeças 3% Não sabe 5% Sem resposta
64% Até 20 cabeças 23% Mais de 20 até 40 cabeças
Em relação à criação de gado, 66% das residências entrevistadas dizem ter gado na propriedade, porém, a maioria tem até 20 cabeças (Gráfico 15), o que significa dizer que a criação de gado da comunidade restringe-se a rebanhos pequenos que não visam a comercialização.
54
55
ZĂŠ Paiva
Aproximadamente 71% dos entrevistados possuem criação de outros animais, sendo a galinha criada por 100% deles (Tabela 15). Na criação de pequenos animais predominam as aves, como patos, gansos, perus e galizés. Alguns entrevistados criam suínos e outros, caprinos. Tabela 15 Número de criadores na área de influência do projeto por tipo de criação Pergunta
Resposta
Nº
Porcentagem (n=42)
Galinha
42
100
Carneiro
2
4,76
Galizé
1
2,38
Ganso
7
16,67
Pato
18
42,86
Cabrito
2
4,76
Ovelha
1
2,38
Peru
4
9,52
Porco
7
16,67
Número de criadores de cada criação
A porcentagem de criadores de ovelhas foi de 2,38%. No entanto, há apenas um único criador, não sendo, dessa forma, uma criação significativa quando considerado o número de criadores e o número de cabeças. Nesse sentido, tanto em número de criadores como em número de cabeças, as criações mais expressivas são as de galinhas e patos (Gráfico 16). Gráfico 16 Número de pequenos animais criados nas propriedades entrevistadas da área de influência do projeto
Mínimo
56
Média
Máximo
Ovelhas
Galizé
Peru
Porco
Cabrito
Pato
Ganso
Carneiro
90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Galinhas
Porcentagem
Pequenos animais
Zé Paiva
Considerando as criações de galinhas e patos, é possível observar que o número de cabeças na maioria da propriedade não passa de 30 (Gráfico 17), o que evidencia, da mesma forma que com o gado, que a criação de pequenos animais é doméstica e sem fins comerciais, apenas para consumo da família. Gráfico 17 – Porcentagem de cabeças da criação de galinhas e patos das propriedades entrevistadas na área de influência do projeto Porcentagem da criação de galinhas 12% Mais de 50 até 70 cabeças 2% Sem resposta 29% Até 10 cabeças
40% Mais de 10 até 30 cabeças 17% Mais de 30 até 50 cabeças
Porcentagem da criação de patos 6% Mais de 30 33% Até 10 cabeças
61% Mais de 10 até 30 cabeças
57
58
Haroldo Palo Jr.
Observa-se que a atividade de plantio relacionada ao Projeto Cachoeira ainda é pouco significativa para a contribuição da renda da comunidade, cuja maior porcentagem é representada pela aposentadoria (Tabela 16). A contribuição da renda advinda de serviços de caseiro evidencia a presença de residências utilizadas para veraneio e sua importância para a economia local. A importância da aposentadoria reflete a presença na comunidade de um número significativo de pessoas com idade acima dos 60 anos e a emigração da população mais jovem, conforme descrito anteriormente. Além disso, tal resultado sugere a estratégia de recrutar mais pessoas da comunidade para integrar as atividades do projeto e/ ou aumentar o salário dos trabalhadores para que eles possam contribuir de forma significativa com um incremento de renda e geração de emprego para a comunidade. Tabela 16 Contribuição das diversas atividades na renda da comunidade economicamente ativa da área de influência do projeto Atividade
Valores (R$)
Percentual
Aposentadoria
265,77
33,06
Serviços de caseiro
145,77
17,95
Serviços de pedreiro
80,77
6,75
Projeto Cachoeira
12,31
1,54
Trabalho autônomo
85,13
4,66
Funcionário público
47,69
5,13
Serviços gerais
49,10
5,13
Carvoaria
39,74
6,16
Serviços braçais
12,82
1,33
Trabalho no sítio
42,05
4,10
Renda do sítio e dos imóveis
41,03
3,57
Pensão
18,72
2,19
Salário
7,69
1,40
Roça
15,38
1,44
Eucalipto
5,13
0,46
Produção de queijo
10,26
1,14
Negócios com gado
12,82
1,42
59
3.1.7 Percepção sobre o Projeto Cachoeira O Projeto Cachoeira é conhecido por 78% dos respondentes. No entanto, apenas 35% afirmaram saber quais são as instituições responsáveis pelo projeto (Gráfico 18). A instituição mais citada foi a empresa contratada para execução da primeira fase de restauração do projeto (65% das respostas), seguida pela TNC (19%) e pela empresa DOW (6%), enquanto a Sabesp, a Secretaria do Meio ambiente e a Prefeitura Municipal de Piracaia não foram citadas (Tabela 17). As principais fontes de informação sobre o projeto foram as pessoas que estão trabalhando no plantio (37%), bem como conversas entre vizinhos (23%) e palestras sobre o projeto (19%). Cabe ressaltar que as entrevistas foram aplicadas antes das reuniões realizadas com a comunidade, nas quais também foram disseminadas informações sobre o projeto. Os dados indicam a importância de os trabalhadores do projeto serem contemplados em um plano de comunicação ou programa educativo e em campanhas para a prevenção de incêndio florestal. Cabe ressaltar que não existe ainda uma visão clara da comunidade sobre detalhes do projeto, sendo importante um incremento das ações de comunicação social junto à comunidade para que essa possa efetivamente sentir-se parte integrante do projeto. Tabela 17 Principais fontes de informação do projeto pela comunidade na área de influência do projeto Pergunta
Como você conheceu o projeto
Resposta
Nº
Porcentagem (n=59)
Alguém que está trabalhando no plantio falou sobre o projeto
22
37,29
Conhecido ou vizinho falou sobre o projeto
14
23,73
Assistiu palestra
11
18,64
Já esteve na área do plantio
5
8,47
Outros
5
8,47
Sem resposta
13
22,03
Quando questionados a respeito de sua opinião sobre o projeto, a totalidade dos entrevistados expressou opiniões positivas (Gráfico 19). A importância para a preservação do meio ambiente (50%) e das águas (20%), bem como a geração de renda (20%), foram as justificativas mais citadas para a visão positiva da comunidade em relação ao projeto. 60
Luis Costa
os dados indicam a importância de os trabalhadores do projeto serem contemplados em um plano de comunicação ou programa educativo e em campanhas para a prevenção de incêndio florestal 61
Gráfico 18 Porcentagem de entrevistados que têm conhecimento sobre o Projeto Cachoeira Conhecimento do Projeto Cachoeira 20% Não 2% Não respondeu
78% Sim
Gráfico 19 Opinião dos entrevistados sobre o projeto Qual sua opinião sobre o projeto Muito interessante Uma maravilha Boa ideia Tomara que continue Ótimo Legal Importante Bom, mas difícil de dar certo Bom, mas tem que fiscalizar Bom 0
10
20
30
40
50
60
70
80
Porcentagem
A maioria dos entrevistados afirma que o projeto trouxe benefícios para a comunidade (89%). Destes, a maioria citou como principal benefício a geração de renda (98%). A maior expectativa da comunidade, não somente quando questionada sobre o projeto em si, mas também sobre a sua repercussão, é que ele gere outros mecanismos de renda junto à comunidade como solução para melhoria de sua condição de vida. Quando questionados sobre que tipo de atividades o Projeto Cachoeira poderia desenvolver junto à comunidade, foram citados, principalmente, a implementação 62
de atividades de turismo, a formação de uma cooperativa (de leite, queijo, carnes etc) e a implantação de uma fábrica de costura (Gráfico 20). Nesse último caso, é visível a busca de ocupação da mão de obra feminina. É citado ainda que a melhor forma de se implementar essas atividades é por meio de apoio financeiro, o que indica, de certa forma, uma expectativa da população em que uma iniciativa externa possa solucionar seus problemas. Gráfico 20 Atividades citadas pelos moradores da área de influência do projeto para serem desenvolvidas junto à comunidade Atividades junto à comunidade 2% Escola 15% Não responderam 7% Não sabe 19% Cooperativa
15% Fábrica de costura 5% Qualquer coisa que traga serviço para a comunidade 27% Atividades de turismo
10% Padaria
Parte dos entrevistados (17% ou oito pessoas) afirmou que o projeto trouxe problema para a comunidade, no caso, prejuízo para as pessoas que tinham criação de gado na área da restauração florestal. É importante ressaltar que a criação de gado pela comunidade nesse local é inadequada, pois trata-se de área de preservação permanente. Além disso, a Sabesp é proprietária das terras, o que torna legítima a solicitação da retirada do gado. No entanto, o histórico conturbado de desapropriação das antigas propriedades e o posterior uso da área pela comunidade para criação de gado explicam a visão dos moradores de que o projeto restringiu o uso dessas terras. 63
Existem muitas dúvidas e especulações na comunidade a respeito das possibilidades de expansão do projeto e as consequências disso para a utilização da área para a criação de gado. Não conseguimos informações precisas, mas, aparentemente, cerca de 20 pessoas têm cabeças de gado nas margens da represa. Uma família vive em casa cedida pela Sabesp na área da empresa e tem muita expectativa a respeito de seu futuro.
3.2 Trabalhadores da restauração florestal 3.2.1 Escolaridade A maioria dos trabalhadores do projeto (90%) sabe ler e escrever e apenas uma pessoa declarou estar estudando atualmente. A maioria (70%) estudou até a 4a série do ensino fundamental (Gráfico 21). Gráfico 21 Porcentagem de trabalhadores para cada grau de escolaridade
Escolaridade 10% EF 5ª série 10% EF 6ª série 10% EF 8ª série 10% EF 2ª série
20% EF 3ª série 40% EF 4ª série
3.2.2 Trabalho e renda O trabalho no plantio contribui com 37% da renda dos trabalhadores que se dedicam a essa atividade, incrementando de forma significativa a renda familiar (Tabela 18). Com exceção da atividade relacionada à lenha, a aposentadoria contribui com grande parte dessa renda. Assim sendo, o projeto mostra-se como uma atividade promissora como forma de aumentar a renda e gerar emprego para a população local, inclusive aos aposentados.
64
Luis Costa
Tabela 18 Contribuição relativa das diversas atividades no rendimento total dos trabalhadores da área do projeto Atividade
Valor (R$)
Percentual
Aposentadoria
193
15
Ajudante geral
46,50
5
Lenheiro
226,50
18,53
Plantio
393,60
37,55
Transporte escolar
364,80
5,82
Fornecedor marmitex
100
1,6
Doméstica
60
5,63
Autônomo
40
4,62
Trabalho da esposa
46
4,65
Transporte Florespi
100
1,6
Todos os entrevistados disseram gostar de trabalhar no projeto. A maioria (82%) justificou a resposta em função do gosto pela natureza e pela atividade de plantio. Quando indagados se preferiam trabalhar em outra atividade, 82% não responderam. Em relação às condições de trabalho, a principal insatisfação é com o valor do salário, que julgam ser baixo, seguida pela falta de ferramentas de trabalho adequadas. Aproximadamente 36% dos entrevistados afirmaram que as condições de trabalham são boas, sem restrições (Gráfico 22). 65
Scott Warren
Gráfico 22 Opinião dos trabalhadores do Projeto Cachoeira sobre as condições de trabalho Condições de trabalho 37% O salário poderia ser melhor
36% Tudo é bom 9% O salário não dá nem para pagar as contas
A totalidade dos entrevistados considera que a empresa contratada para realizar a primeira fase da restauração poderia melhorar aspectos do trabalho. Os principais itens citados foram melhoria no salário (27%) e transporte para socorro em caso de acidente (45%). Antes do trabalho no projeto, 72% trabalhavam como empregados em atividades diversas (Tabela 19). A maioria dos trabalhadores do projeto tem seu rendimento advindo unicamente desse trabalho (Tabela 20). No entanto, grande parte deles tem um aumento do rendimento total familiar, pois contam com a contribuição do salário de outro membro da família. 66
a renda originada do Projeto Cachoeira representa, em média, 55% do rendimento familiar dos trabalhadores
Tabela 19 Atividades dos trabalhadores antes do Projeto Cachoeira Pergunta
Em que você trabalhava antes de trabalhar no Projeto Cachoeira?
Resposta
Nº
Porcentagem (n=11)
Ajudante geral
2
18,18
Tratorista
2
18,18
Pedreiro
1
9,09
Encostava lenha (eucalipto)
1
9,09
Plantação
1
9,09
Não trabalhava
2
18,18
Autônomo (tirava a medida do rio que passa pelos Cunhas)
1
9,09
Transporte escolar e trabalho rural (no campo)
1
9,09
Em média, 85% do rendimento bruto dos trabalhadores advêm das atividades de restauração do projeto Cachoeira (Tabela 20). A renda originada do Projeto Cachoeira representa, em média, 55% do rendimento familiar dos trabalhadores, sendo uma contribuição importante. O rendimento mensal domiciliar per capita médio dos trabalhadores (R$ 468,59) foi maior do que o registrado para as famílias na área de influência do projeto (R$ 363,59), indicando uma influência positiva do projeto na comunidade. No entanto, essa média é fortemente influenciada pelo caso do trabalhador que recebe a maior renda (R$ 7.364; Tabela 21). Quando a renda
mensal domiciliar per capita é calculada sem esse trabalhador, a média cai para R$ 331,35, valor menor do que a média dos moradores em geral. Além disso, vários trabalhadores tiveram sua renda reduzida com a participação no projeto (Tabela 21). Mas apesar de oferecer um salário por vezes menor do que a renda no trabalho anterior, o Projeto Cachoeira foi visto como uma atividade vantajosa pelos trabalhadores, por ser mais próxima de casa, oferecer uniforme, cesta básica, transporte e carteira assinada. No entanto, a questão salarial foi apontada como um fator que demanda melhoria, conforme explicitado anteriormente. 67
68
Per capita
155
171,67
232,50
155
80,71
330
120
93
450
232,50
1.591
328,31
Total
465
515
465
465
565
660
480
465
900
465
6.364
1073,55
211,33
654
232,50
232,50
93
116,25
232,50
66,43
155
232
155
84,79
41,11
100
51,67
100
96,88
70,45
82,30
100
100
90,29
100
%
Contribuição do projeto na renda do trabalhador (%)
*Salário bruto no projeto de R$ 1.616 mais R$ 1.000 como prestador de serviços de transporte
660,55
2616*
465
465
465
465
465
465
465
465
465
465
155
Per capita
Rendimento bruto mensal do trabalhador (Reais)
Total
Rendimento bruto mensal do trabalhador advindo da restauração (Reais)
1559
7364
465
900
1200
800
1100
1500
970
920
1465
465
Total
468,59
1841
232,50
450
240
200
550
214,29
323,33
460
488,33
155
Per capita
Rendimento bruto familiar mensal (Reais)
54,65
49,10
100
51,67
38,75
58,13
42,27
31
47,94
50,54
31,74
100
%
Contribuição do projeto na renda familiar (%)
3,36
4
2
2
5
4
2
7
3
2
3
3
Nº de pessoas
Pessoas na família
Tabela 20 Rendimento bruto e per capita dos trabalhadores do projeto e de suas famílias, em Reais. Não foram computados nesses valores cesta básica (R$ 50) e vale-transporte. Médias apresentadas na última linha da tabela, em negrito
Scott Warren
Tabela 21 Comparação em Reais dos salários dos ex-trabalhadores do projeto antes e durante o projeto. Médias apresentadas na última linha da tabela, em negrito Quanto você ganhava bruto por mês antes do projeto (R$)
Quanto você ganha bruto por mês no Projeto Cachoeira (R$)
500
465
1000
465
800
465
600
510
400
510
465
530
600
465
3648
6364*
1001,62
1221,75
* Neste valor estão incluídos R$ 1.616 referentes ao trabalho no plantio, R$ 1000 referentes ao transporte de trabalhadores do projeto e R$ 3648 referentes ao transporte escolar
69
3.2.3 Contexto e organização social Quando indagados sobre o que não gostavam no bairro, a maioria dos entrevistados (73%) afirmou gostar de tudo. Em relação ao que mais gostam, a igreja, a represa e as pessoas foram destaque (Gráfico 23). Gráfico 23 Indicações de atividades e lugares que a comunidade mais gosta O que mais gosta na comunidade 9% Lajado de pedras do B. dos Cunhas
para novas atividades, desde que elas sejam geradoras de lucros. Fica evidente também que, embora estejam dispostos a participar da implementação de uma cooperativa ou algo dessa natureza, tanto os trabalhadores quanto a comunidade de maneira geral não possuem nenhuma experiência no assunto. Logo, qualquer atividade com essas características depende primeiramente de um trabalho de integração com a comunidade, assim como de capacitação de pessoal.
9% Do B. dos Barbas 9% Jogar futebol 19% Gosta de tudo
3.2.4 Percepção sobre o Projeto Cachoeira Aproximadamente 18% dos trabalhadores estão no projeto desde o início, mas a porcentagem mais expressiva deles (27%) estava trabalhando havia quatro meses (Gráfico 24). A maioria dos trabalhadores afirmou conhecer a instituição responsável pelo Projeto Cachoeira (73%), citando a TNC (50%) e a empresa contratada para executar a primeira fase de restauração (37%).
18% Igreja 18% Das pessoas
18% A represa
A maioria dos trabalhadores (55%) não mudaria do local onde mora, pois julga não ter motivos para deixá-lo. No entanto, 36% afirmaram que mudariam para outro lugar caso pudessem. A maioria (90%) não participa de nenhuma atividade em grupo, mas 100% se propõem a fazer parte de uma cooperativa ou sociedade com outras pessoas da comunidade desde que haja um benefício para o todo e aumento de renda. Quando indagados sobre de que forma o projeto poderia contribuir, as respostas se diversificaram, mas relacionaram-se com a implantação de atividades que gerem retorno financeiro para a comunidade. Nesse sentido, é possível perceber que os trabalhadores, assim como os moradores, têm predisposição 70
Cabe ressaltar que a Sabesp não foi citada como responsável pelo projeto. Em todas as reuniões em que a TNC e o Gaia falaram do projeto, a Sabesp foi citada como instituição responsável, juntamente com a TNC. No entanto, é usual que as pessoas relacionem o projeto às instituições com as quais têm mais contato, no caso a TNC e a empresa contratada para executar as atividades de restauração. Esse fato indica a importância de uma presença mais frequente de técnicos da Sabesp nas atividades cotidianas do projeto, e não apenas em eventos, caso a empresa tenha interesse em ser reconhecida como co-responsável pelo projeto entre os moradores locais. Existe um histórico de relacionamento com a Sabesp em função das desapropriações ocorridas em 1970, mas que ainda afeta a maneira como as pessoas veem a empresa.
Gráfico 24 Porcentagem de tempo de trabalho dos trabalhadores no Projeto Cachoeira Tempo de projeto 9% 2 meses
9% 1 mês 28% 4 meses
18% 7 meses 9% 6 meses 9% 4 meses e meio 9% 3 meses
9% 5 meses e meio
A maioria dos trabalhadores consideram o Projeto Cachoeira bom (73%), muito bom (9%) ou fabuloso (9%) e todos acham o projeto importante (100%). As justificativas principais foram a preservação da água (citada em 45% das respostas), a geração de emprego (45%) e a recuperação da mata (36%).
os trabalhadores relatam que os moradores costumam usar o fogo para “limpar o pasto”
A geração de emprego foi a principal resposta dada (72%) quando se questionou os benefícios desse projeto para a comunidade. Em relação aos problemas ou consequências negativas para a comunidade, a maioria não respondeu (73%). Dos que responderam, todos citaram a restrição das terras para a criação de gado como uma consequência negativa (27% ou três pessoas). Os trabalhadores julgam que o fogo é o principal problema que o projeto pode enfrentar (91%). Foram citados ainda o gado, o lixo e as formigas. Os trabalhadores relatam que os moradores costumam usar o fogo para “limpar o pasto” e os pescadores costumam fazer fogueiras. Para eles, a melhor forma de conter essa atividade é pela fiscalização (72%) e utilização de aceros para contenção do fogo (27%). 71
3.3 Ex-trabalhadores do plantio 3.3.1 Escolaridade Do total de entrevistados, 87% sabem ler e escrever. A maioria dos ex-trabalhadores estudou até o atual 6º ano do ensino fundamental (Gráfico 25). Apenas um dos entrevistados frequenta a escola (12%). Gráfico 25 Grau de escolaridade dos ex-trabalhadores do Projeto Cachoeira
Escolaridade EF 2ª série
EF 1ª série EF 4ª série
EF 6ª série
EF 7ª série EF 8ª série
3.3.2 Trabalho e renda Metade dos entrevistados trabalhava como empregado em seu trabalho anterior (50%), 25% eram autônomos e os 25% restantes não trabalhavam antes de se dedicar ao projeto. 72
Cerca de 37% dos ex-trabalhadores trabalhavam anteriormente ao projeto como lenheiros e 25% não trabalhavam (Gráfico 26). O projeto contribuiu para o aumento da oportunidade de emprego para essas pessoas que estavam desempregadas. Gráfico 26 Distribuição das atividades realizadas pelos ex-trabalhadores anteriormente ao trabalho no projeto Trabalho anterior ao projeto 13% Jornal O Globo + restaurante
13% Petrobras RJ - CCDL 37% Lenheiro
25% Não trabalhava
Exceto pelos que não tinham rendimento antes de trabalharem no projeto, metade dos trabalhadores teve uma sensível diminuição no seu rendimento per capita quando comparado ao valor recebido antes do projeto. O contrário foi observado para o rendimento mensal domiciliar per capita médio, que aumentou em aproximadamente 80% (Tabela 22).
Haroldo Palo Jr.
12% Cavalo
73
74
Renda per capita
50
62,50
130
266,67
600
700
679,63
Quanto você ganhava por mês antes do projeto?
400
500
650
800
1200
700
708,33
301,53
465
439,71
232,50
142,33
215
430 427
93
465
51,63
51,63
413 413
58,13
Renda per capita
465
Quanto você ganhava por mês no Projeto Cachoeira (salário bruto, sem descontos)?
Tabela 22 Distribuição de renda dos ex-trabalhadores (em R$)
120,60
427
460
2000
1500
2000
1500
Qual era a renda da sua família por mês antes de você entrar no projeto?
232,89
142,33
230
400
187,50
250
187,50
Renda per capita
1597,83
427
860
1800
2000
2500
2000
Qual era a renda da sua família por mês quando estava no projeto?
290,81
142,33
430
360
250
312,50
250
Renda per capita
3.3.3 Contexto e organização social A maior parte dos entrevistados (62%) declarou que se mudaria para outra cidade. No entanto, não apresentou justificativas concretas para essa decisão ao afirmar que não tem problemas na comunidade ou bairro (62%) e que o principal problema do bairro é o lixo na vegetação da represa (13%). Entre os ex-trabalhadores, aproximadamente 87% não fazem parte de nenhum grupo ou cooperativa de trabalho na comunidade. No entanto, todos (100%) se dizem predispostos a participar de uma cooperativa. A melhoria dos ganhos foi a justificativa da maioria (Gráfico 27). Gráfico 27 Motivos da participação dos ex-trabalhadores numa cooperativa Por que participaria de uma cooperativa 13% Sempre ajudar e ser ajudado, precisa plantar árvore
13% Dependendo do que for, vale a pena arriscar 12% Porque será bom
12% Pela natureza entraria até como voluntária
50% Para melhorar os ganhos
Uma parte dos ex-trabalhadores (38%) não definiu em que ações o Projeto Cachoeira poderia auxiliar para a melhoria das condições de vida da comunidade. Outra parte (37%) vê o projeto como uma possibilidade de aumento de geração de emprego e renda (Gráfico 28).
dos entrevistados, 75% acreditam que o projeto trouxe algum benefício para a comunidade, gerando emprego e trazendo melhorias para o meio ambiente 75
Gráfico 28 Opinião de ações que o projeto pode ter junto à comunidade segundo opinião dos ex-trabalhadores Ações do Projeto Cachoeira junto à comunidade 13% Recolher o lixo da margem da represa e selecionar para gerar renda
13% Dependendo do que for, vale a pena arriscar
38% Não sabe
12% Para reunir todos e fazerem o melhor
37% Dar mais empregos com salário bom
3.3.4 Percepção sobre o Projeto Cachoeira Metade dos ex-trabalhadores (50%) afirma saber quem é a instituição responsável pelo projeto, citando a TNC. No parecer dos ex-trabalhadores, trata-se de um projeto bom (100%), sobretudo por gerar emprego. Dos entrevistados, 75% acreditam que o projeto trouxe algum benefício para a comunidade, gerando emprego, trazendo melhorias para o meio ambiente e possibilitando a aprendizagem de uma nova atividade.
3.4 Prestadores de serviço e fornecedores do projeto Todos os dois fornecedores e prestadores locais do projeto citaram a TNC como responsável e a empresa Dow como patrocinadora. Acham-no “fabuloso” ou ótimo, principalmente para a melhoria das condições ambientais. Ambos identificam benefícios em sua implantação, sendo citado, em sua totalidade, a geração de emprego (Tabela 23), sendo que um dos entrevistados (50%) identifica a retirada de gado da área como sendo uma consequência negativa de sua implantação, embora todos reconheçam a importância de recuperar as matas.
76
Tabela 23 Opinião dos prestadores de serviço e fornecedores do projeto Pergunta
Resposta
Nº
Porcentagem (n=2)
O projeto trouxe algum benefício para a comunidade ou para algumas pessoas da comunidade?
Sim
2
100
Não
0
0
Sim
1
50
Não
1
50
O projeto trouxe algum problema ou consequência negativa para a comunidade ou para algumas pessoas da comunidade?
Os dois fornecedores entrevistados trabalham no projeto, fornecendo serviço de transporte e alimentação para os trabalhadores, e sentem-se satisfeitos com o trabalho. Na opinião deles, o principal problema que pode ser enfrentado pelo projeto são as queimadas. Eles sugerem a fiscalização como uma forma eficiente de controle.
Scott Warren
77
os donos de gado entrevistados reconhecem os benefícios do projeto, considerando-o muito importante pelo fato de ser em prol da melhoria das condições ambientais
Os fornecedores gostam de morar no local e, além do lixo deixado pelos pescadores na margem da represa, não têm nenhuma outra indicação de aspectos negativos, afirmando que não se mudariam caso tivessem oportunidade. Sabem ler e escrever, tendo cursado até o 9º ano (8ª série) do ensino fundamental, sendo que um deles (50%) está atualmente cursando o supletivo. Atualmente não fazem parte de nenhuma associação, mas se predispõem a participar de uma iniciativa dessa natureza como forma de beneficiar a comunidade. Em relação a iniciativas que possam contribuir com a comunidade, citam a possibilidade de aumentar o número de trabalhadores no projeto como forma de beneficiar a comunidade como um todo e que, para isso, deveriam receber suporte técnico e patrocínio. O rendimento dos fornecedores aumentou com a contribuição do projeto (Tabela 24). O mesmo se deu com a renda familiar, visto que nesse caso em particular os entrevistados são marido e mulher. Tabela 24 Renda dos fornecedores do projeto (em R$)
Quanto você ganhava por mês antes do projeto?
Quanto você ganha por mês atualmente, somando todas as rendas (renda bruta, sem descontos)?
Quanto você ganha por mês no Projeto Cachoeira (salário bruto, sem descontos)?
Qual era a renda da sua família por mês antes de você entrar no projeto?
Qual é a renda da sua família por mês atualmente?
Quantas pessoas vivem desta renda?
3.648
5.262
1.616
3.648
6.262
4
0
1.000
0
3.648
6.262
4
78
Scott Warren
3.5 Criadores de gado Os donos de gado entrevistados sabem da existência do projeto, assim como conhecem a instituição responsável. Eles citaram a Sabesp e a empresa contratadas para fazer o cercamento. O conhecimento se deu por conversa com pessoas que trabalham no projeto, assim como por visita à área do plantio. Reconhecem os benefícios do projeto, considerando-o muito importante pelo fato de ser em prol da melhoria das condições ambientais e não identificam consequências negativas de sua implantação, reconhecendo seu papel fundamental na recuperação das matas. Possuem criação de gado em sua propriedade e criavam gado na área do plantio. Com a implantação do projeto, o gado foi retirado da área represada e os criadores tiveram que arrendar pasto de terceiros. Metade deles julgou ter tido prejuízo por consequência da retirada do gado da área. Ambos arrendaram pasto para colocar o gado. Eles tinham 40 e 50 cabeças de gado na área do Projeto Cachoeira. É importante ressaltar que mesmo essas pessoas para quem o projeto teve alguma consequência negativa em função de aumento no custo de produção declararam ter uma visão positiva do projeto. Quando questionados sobre como o projeto poderia ajudar, o turismo foi uma iniciativa citada, por meio da administração de pousadas ou barcos por moradores.
3.6 Pescadores Os pescadores entrevistados se utilizam da represa para momentos de lazer e são na maioria de outros municípios, sendo o principal Jundiaí, SP (Gráfico 29). 79
Gráfico 29 Cidade de origem dos pescadores entrevistados Cidade de origem 7 6 5 4 3 2 1
Sertanópolis
Santana do Maiuaçu
Rio Grande da Serra
Recife
Presidente Bernardes
Piracaia
Palmópolis
Joanópolis
Guarulhos
Atibaia
Itatiba
Jundiaí
0
São na maioria homens com idade média de 47 anos, que costumam pescar na companhia de amigos. O fato de a maioria dos pescadores frequentar a represa semanal ou quinzenalmente indica a possibilidade de se realizar um trabalho mais efetivo com esse público (Gráfico 30). Gráfico 30 Frequência de pescadores na represa Frequência da pesca na represa 25% 20% 15% 10% 5% 0%
Semanal
Semestral
Quinzenal
Outra
Bimensal
Anual
Mensal
As condições para pesca, segundo a maioria deles, são boas ou regulares (Tabela 25). Os pescadores comprariam “produtos de supermercado” e “artigos de pesca” de estabelecimentos locais (Gráfico 31). Tabela 25 Opinião dos pescadores sobre as condições locais Pergunta
Condições locais para os pescadores
80
Resposta
Nº
Porcentagem (n=21)
Boas
17
80,95%
Regulares
3
14,29%
Ruins
1
4,76%
Gráfico 31 O que, na opinião dos pescadores, pode ser comercializado pela comunidade O que a comunidade poderia vender aos pescadores
20% Refeições
52% Produtos de pesca
28% Produtos de supermercado
A maioria dos pescadores entrevistados desconhece a existência do projeto (76%) e dos 23% que dizem conhecer, apenas 20% afirmam saber qual é a instituição responsável, citando a TNC. Os pescadores não identificaram causas negativas relacionadas à implantação do projeto. A maioria não soube responder se o projeto trouxe ou não benefícios, mas reconhece a importância de recuperar a vegetação às margens da represa (Tabela 26). Tabela 26 Opinião dos pescadores sobre a atividade de recuperação da mata Pergunta
Resposta
Nº
Porcentagem (n=21)
Em sua opinião, é importante recuperar a mata nas margens da Represa do Cachoeira?
Sim
20
95,24
Não
1
4,76
Não sei
0
0
Para eles, a importância em recuperar a mata está diretamente relacionada à melhoria das condições ambientais em seus diversos aspectos: qualidade da água, contenção da erosão, qualidade do ar, proteção da natureza, ou seja, apesar de expressarem-se de diferentes formas, o objetivo final está na contribuição para a preservação da natureza.
81
Praticamente todos os pescadores entrevistados dizem fazer fogueiras na margem da represa. Segundo eles, há necessidade de fogueiras durante a noite e para a preparação do churrasco. Eles reconhecem que a prática oferece risco de incêndio da vegetação na beira da represa em algumas situações (Gráfico 32). Eles julgam que o meio mais adequado de se fazer um trabalho para evitar esse problema é por meio da comunicação e conscientização dos frequentadores da represa.
Gráfico 32 Opinião dos pescadores sobre o risco de incêndio Risco de incêndio 19% Não
5% Não sabe
Scott Warren
76% Sim
82
John Maier
Quando questionados sobre o lixo deixado, todos os pescadores entrevistados se mostraram conscientes sobre o problema e acham importante que sejam levadas sacolas para acondicioná-lo no final da pescaria. Eles, no entanto, reconhecem que muitos pescadores não se preocupam com esse procedimento e sugerem campanhas e colocação de lixeiras como formas de conscientizá-los sobre a importância de não deixar o lixo jogado às margens da represa. Os pescadores também afirmam que a estrada poderia ser melhorada, visto que nos dias de chuva fica impossível transitar por ela. Em relação ao projeto, na opinião dos pescadores, o maior problema está relacionado com o gado e os proprietários de terra, pela necessidade de retirada do gado e a perda das áreas de pasto. Além disso, não deixaram de ressaltar os problemas que podem ser causados por queimadas e os conflitos que poderão surgir pela colocação de cercas na área do projeto, que acabam impedindo a circulação de pessoas, principalmente dos pescadores que se deslocam até a margem da represa (Tabela 27). Tabela 27 Principais problemas que o projeto pode enfrentar na opinião dos pescadores Pergunta
Problemas que o projeto pode enfrentar
Resposta
Nº
Porcentagem (n=21)
Problemas com o gado
6
28,57
Queimadas
4
19,05
Cerca
4
19,05
Pessoas
3
14,29
Não sabe
3
14,29
Não vê problema
1
4,76
Além disso, eles sugerem um trabalho de conscientização junto aos pescadores sobre o destino do lixo, a confecção de fogueiras e a pesca predatória (Gráfico 33). Alguns sugeriram a implementação de fiscalização na área (Tabela 28). 83
Tabela 28 Opinião dos pescadores sobre o que seria a solução dos problemas que o projeto pode enfrentar
Resposta
Nº
Porcentagem (n=21)
Conscientização
7
33,33
Fiscalização
7
33,33
Educação
1
4,76
Transformar em área de lazer
1
4,76
Deixar um acesso
1
4,76
Deixar aberto
1
4,76
Sem resposta
3
14,29
Pergunta
Qual seria uma solução para este problema?
Gráfico 33 Opinião dos pescadores sobre as melhorias nas condições locais Melhorar as condições para os pescadores 3,7% Acabar com formigas
7,4% Não sabe
3,7% Menos barcos 3,7% Iluminação da represa 7,4% Ter mais peixes
22,2% Estrada
18,5% Conscientizar pescadores 18,5% Fiscalizar pesca predatória 7,4% Plantar árvores
7,4% Lixo
A média do salário dos pescadores que a informaram é em torno de R$ 1.465, sendo o rendimento mensal domiciliar per capita de aproximadamente R$ 632 (Tabela 29). Esse valor foi maior do que o registrado nos domicílios da área de influência.
84
Tabela 29 Rendimento per capita médio dos pescadores Pergunta
Qual é o rendimento mensal da sua família?
Média
Renda (R$)
Pessoas que dependem da renda
Renda mensal familiar per capita
3.000
5
600
1.500
2
750
1.500
4
375
1.500
3
500
2.500
3
833,33
2.180
2
1090
2.000
4
500
1.500
1
1500
1.000
5
200
800
3
266,67
2.300
2
1150
1.000
3
333,33
700
2
350
465
1
465
465
1
465
1.000
1
1000
1.500
4
375
1.465,29
2.705
632,55
3.7 Romeiros Segundo informação da população local, o trajeto percorrido pelos romeiros depende geralmente de onde vem a romaria, mas comumente eles passam por Piracaia, seguem na estrada da barragem pelo entorno da represa e entram na estrada da Cachoeira dos Pretos, seguindo viagem até a cidade de Aparecida (SP). Normalmente, passam por lá de uma a duas romarias por semana, mas esse número costuma aumentar nas férias, chegando a três ou mais, totalizando cerca de 120 romeiros por semana. O período da manhã e da tarde são os mais utilizados pelos romeiros, que geralmente estão à cavalo e, ocasionalmente, a pé. Os romeiros
cortam cercas para facilitar a passagem, jogam lixo no caminho e aumentam o risco de incêndio acendendo fogueira, visto que costumam acampar pela região, principalmente para almoçar, além de utilizarem o fogo para se aquecerem no frio. Segundo os entrevistados, alguns dos incêndios começam pelo descarte de cigarros acesos nas proximidades da vegetação. Na opinião dos entrevistados, os romeiros são importantes do ponto de vista comercial, devido ao consumo de alimentos e de materiais para as charretes, cavalos etc. Por outro lado, consideram que os romeiros tumultuam o hábito e o trânsito da comunidade local pela presença de cavalos, carroças e caminhões, que obstruem a passagem dos moradores. 85
Adriano Gambarini
3.8 Instituições Foram entrevistadas 10 instituições que atuam na área de influência do Projeto Cachoeira, a maioria delas sendo parte da administração municipal. Conforme evidenciado nas entrevistas abaixo, a maioria dos representantes dessas instituições tem conhecimento dos principais problemas enfrentados pelos moradores desses bairros. No entanto, é evidente que, apesar da intenção de implementar ações e projetos, pouco tem sido feito em benefício desse público. Vários representantes das instituições entrevistados acreditam na possibilidade de implantação de uma cooperativa ou instituição similar para o aumento da renda dos moradores, mas chamam a atenção para a necessidade de capacitação adequada. Todos os entrevistados explicitaram uma avaliação extremamente positiva a respeito do Projeto Cachoeira e colocaram-se à disposição para a realização de ações conjuntas. 86
ASSOCIAÇÃO DOS APICULTORES E PRODUTORES RURAIS DE PIRACAIA E REGIÃO Sidnei Vieira Barbosa – Presidente A Associação dos Apicultores e Produtores Rurais de Piracaia e Região possui entre seus associados moradores da comunidade que estão dentro da Área de Influência Direta do Projeto Cachoeira. Segundo o Sr. Sidnei, as pessoas que moram no entorno da estrada da Barragem passaram e passam por muitas dificuldades, como falta de emprego, renda e transporte. Por outro lado, o Sr. Sidnei explicou que existem muitas possibilidades de melhoria para a região, pois pessoas da própria comunidade têm possibilidade de montar laticínios, apiários e criar gado confinado. A associação pretende construir uma marcenaria para aumentar a fabricação de caixas. O Sr. Sidnei ressaltou que seria muito importante a criação de uma cooperativa. Ele acha excelente o Projeto Cachoeira e entende que o trabalho que vem sendo desenvolvido deveria ser mais divulgado. Além disso, o Sr. Sidnei tem intenção de ser parceiro do projeto e apresentá-lo em parceria com a Casa da Agricultura (plantio de espécies adequadas à apicultura), o que poderá, inclusive, gerar renda para a própria comunidade.
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – PREFEITURA MUNICIPAL DE PIRACAIA Maria Estela de Almeida Izzo – Diretora As escolas localizadas na Área de Influência Direta do Projeto Cachoeira são escolas rurais que têm somente educação infantil de 1ª à 4ª séries, com professoras polivalentes. Todas as outras séries são oferecidas somente no centro de Piracaia. Segundo a Sra. Maria Estela, a população da região é muito esclarecida, pois insiste em ter linha telefônica e internet. Segundo ela, no âmbito da educação, o maior problema é a dificuldade de acesso à informação, sendo que um dos principais problemas enfrentados pela comunidade é a dificuldade de locomoção. As estradas são muito ruins quando chove muito. Há diversos problemas causados pela falta de infraestrutura mínima, como ônibus circular, por exemplo. Segundo a Sra. Maria Estela, a solução para esses problemas seria a realização de parcerias entre o poder público e a Sabesp. 87
A falta de recurso financeiro, material e humano inviabiliza uma série de ações do departamento. A Sra. Maria Estela entende que o Projeto Cachoeira pode contribuir muito em vários departamentos da prefeitura, enfatizando a importância dos dados levantados. As vocações econômicas da região estão relacionadas ao Turismo (ecoturismo e turismo de pesca, principalmente) e à agricultura. Segundo Maria Estela, o turismo deveria ser mais explorado com cursos de capacitação. Com relação à criação de uma cooperativa, a Sra. Maria Estela entende que seria uma alternativa, mas as experiências com cooperativas no passado mostram que há falta de integração, coesão e seriedade. No entanto, o Departamento de Educação se colocou à disposição do Projeto Cachoeira e elogiou a proposta de envolvimento da comunidade.
DEPARTAMENTO DE MEIO AMBIENTE Ana Lúcia Watanabe – Assessora de Meio Ambiente
Alexander Rose/TNC
O Departamento de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Piracaia é a referência do projeto na prefeitura, o qual tem grande apoio da Sra. Ana. O departamento tem desenvolvido alguns projetos, como o mapeamento de nascentes, que está sendo pleiteado junto ao Fehidro, entre outros que podem ter interface com o projeto.
88
Segundo a Sra. Ana, a comunidade localizada na área de influência direta do Projeto Cachoeira passa por muitas dificuldades por falta de renda e opções para geração de renda. Nesse sentido, a Sra. Ana coloca algumas possibilidades para mitigar essa situação da comunidade, como a formação de uma cooperativa ou associação de produção de mudas nativas. Ela ressalta que os trabalhadores da restauração florestal (plantios) poderiam montar um viveiro e produzir mudas, pois além da própria demanda do projeto, existe uma solicitação muito grande dos próprios moradores do município em atender as demandas da região. Além disso, o turismo e o artesanato poderiam ser mais explorados, pois há um grande potencial. Independente da ação, a Sra. Ana afirmou que é difícil mobilizar as pessoas, devido à dificuldade de integração. Segundo ela, existem muitas limitações do departamento pela falta de uma equipe de profissionais e de um departamento de meio ambiente. Contudo, colocou-se à disposição para o que for preciso.
PARQUE ECOLÓGICO Aurélio – Responsável pelo Parque O Parque Ecológico de Piracaia possui um lago formado pelo rio Cachoeira e fornece mudas produzidas em seu viveiro para os moradores do município. Esse viveiro tem uma capacidade limitada e sua atuação fica restrita à Piracaia. Segundo o Sr. Aurélio, as principais necessidades da comunidade são transporte e saúde. Para ele, a prefeitura e a Sabesp deveriam oferecer tal infraestrutura. O Sr. Aurélio afirmou que as pessoas da comunidade são simples e humildes e que atividades agrícolas são as verdadeiras vocações daquela comunidade. Ele citou como destaques atividades como apicultura e coleta de sementes, que têm interface com o projeto. Além disso, ressaltou que essas atividades podem diversificar a produção da região, pois no entorno da represa existe o predomínio de plantações de eucalipto, o que é muito ruim. O entrevistado entende que seria muito positiva a criação de uma cooperativa. Contudo, ressalta que falta união entre as pessoas. Outro ponto destacado foi a dificuldade em estabelecer maior integração entre o campo e a cidade. O Sr. Aurélio conhece o Projeto Cachoeira há muito tempo, acha interessante a proposta e acredita que deva ter continuidade. 89
DEPARTAMENTO DE SAÚDE Laura – Coordenadora da Vigilância Epidemiológica O sistema de saúde público de Piracaia é composto pela Santa Casa, o Centro de Saúde Central de Batatuba e o rural, que fica no bairro do Peão. A Sra. Laura ressaltou a dificuldade de acesso aos diferentes locais e também ao conhecimento. Uma solução colocada pela Sra. Laura seria a atuação de fato do agente comunitário. Ela destaca que a prefeitura não tem recursos e precisa de pessoas comprometidas nas diversas esferas. Segundo a entrevistada, as pessoas da comunidade desenvolvem atividades ligadas à agricultura e seria muito interessante se elas fossem capacitadas no que já fazem. Essa capacitação poderia contribuir para aumentar a produção de alimentos, como produtos orgânicos, leite e seus derivados. Com relação à criação de uma cooperativa, a Sra. Laura ressalta que acha viável, mas acredita ser necessário resgatar a autoestima e o vínculo com o próximo. A entrevistada achou o projeto muito bom e não imaginava que ele pudesse contribuir tanto para a comunidade local.
SINDICATO RURAL DE PIRACAIA E JOANÓPOLIS Manoel Arthur Mendonça – Vice-presidente O Sindicato Rural de Piracaia e Joanópolis não tem uma atuação específica na Área de Influência Direta do Projeto Cachoeira. Contudo, segundo o Sr. Manoel, oferece cursos gratuitos por meio do Senar, que beneficiariam no mínimo 90% da comunidade. Entretanto, o Sr. Manoel destacou que, apesar do Senar oferecer cursos maravilhosos, a dificuldade maior é trazer as pessoas para as aulas. Ele destacou ainda a falta de escola, saúde e acesso ao transporte público como as principais dificuldades encontradas pela comunidade. Para o Sr. Manoel, deveria haver mais investimento público. Ele também destacou que há migração da comunidade devido à falta de renda. Segundo o Sr. Manoel, além das atividades agrícolas, a comunidade poderia desenvolver o artesanato, pois um terço dos cursos do Senar são nessa área. Nesse sentido, o Sr. Manoel acredita 90
Adriano Gambarini
91
a maioria da população da região é composta por pequenos produtores de baixa renda que praticam a agricultura familiar
que seria viável a criação de uma cooperativa. Contudo, ressalta a importância de uma boa estrutura e parcerias. Além disso, o Sr. Manoel diz que será necessária muita confiança entre os cooperados e uma boa relação entre as pessoas. O entrevistado achou o projeto muito bom, objetivo e sério, colocou-se à disposição para parcerias e destacou que os cursos do Senar podem ser no local. A comunidade poderia enviar as demandas de cursos até outubro de 2009 para solicitar cursos para 2010.
DEPARTAMENTO DE TURISMO Sheila Prado Bernardes Martins – Assessora de Gabinete Existem muitos projetos do departamento de turismo para serem colocados em prática nos próximos anos. A Sra. Sheila explicou que está sendo desenvolvido um programa de formação de guias locais em parceria com o Sebrae de Guarulhos. Estão formalizando o Contur e o Turismo Rural, junto com a Casa da Agricultura, para auxiliar e instrumentalizar os produtores existentes. Segundo Sheila, falta emprego na região e o que mais emprega as pessoas é a carvoaria; contudo, a mão de obra é muito barata. Ela ressalta que a região não tem área de lazer, infraestrutura turística e básica. Com relação à criação de uma cooperativa, Sheila considera a iniciativa viável e positiva. Para ela, esse processo deve acontecer de forma organizada, pois as pessoas da comunidade são individualistas. Além disso, é preciso um trabalho de conscientização, juntamente com a prefeitura e ONGs, para dar suporte à comunidade, formada por pessoas que precisam de auxílio. 92
Segundo Sheila, o Projeto Cachoeira é de grande valia para a comunidade e para o município, pois a prefeitura sozinha não teria condições de preservar a região e desenvolver tais atividades para a população.
CASA DA AGRICULTURA Luis Carvalho (Presidente), Rodrigo (veterinário) e Roberlei Lopes (técnico) A Casa da Agricultura tem atuação em parceria com o Sindicato Rural, com outros departamentos da Prefeitura Municipal de Piracaia e com associações. Na Área de Influência Direta do Projeto Cachoeira, existem a vacinação contra a brucelose e a Patrulha Agrícola, que consiste na venda de implementos agrícolas a preço de custo e no empréstimo de um trator. Contudo, segundo o Sr. Lopes, quem mais precisa é quem menos procura a Casa da Agricultura. A maioria da população da região é composta por pequenos produtores de baixa renda, que praticam a agricultura familiar, com pouca informação, e que geralmente dependem de recurso externo (ajuda dos filhos). Além disso, o Sr. Lopes ressaltou que vários deles relatam variações na renda (a cada quatro anos) relacionadas com a produção do eucalipto. Segundo o Sr. Rodrigo, os principais problemas enfrentados pelos moradores da comunidade são relacionados ao transporte público ruim, dificuldade de acesso na estrada da barragem e falta de sistema de saúde e de educação de qualidade. O Sr. Carvalho ressalta que deveria haver naquela região um 93
centro de treinamento e um espaço para a capacitação e valorização do aspecto sociocultural da população local. Segundo o Sr. Lopes, as desapropriações feitas pela Sabesp causaram impactos negativos que podem ser percebidos até hoje. Por outro lado, ele ressalta que a realização efetiva de alguns programas desenvolvidos pela Casa da Agricultura, como o Catileite e o Programa de Melhoramento Genético, tem muita chance de impactar de forma positiva os pequenos produtores. Os representantes da Casa da Agricultura entendem que seria viável a criação de uma cooperativa, contudo, a conscientização sobre a importância do trabalho coletivo e o transporte serão os grandes desafios. Segundo o Sr. Lopes, o Projeto Cachoeira é maravilhoso e a expectativa é que ele de fato “saia do papel e vá para a terra, saia da caneta e vá para a enxada”. Ele também ressalta que “é preciso pessoas que se identifiquem com os agricultores e não apenas estudiosos que só colocam coisas no papel”. Quando questionados sobre informações relevantes ao diagnóstico, os entrevistados enfatizam o modo negativo como foi conduzida a desapropriação, ressaltando que ainda existem muitas pendências, pois até hoje as pessoas não receberam indenização da Sabesp. Além disso, os jovens não têm emprego, nem perspectiva de melhora, pois atualmente prevalece o plantio do eucalipto, que representa um emprego temporário, diferentemente do passado, quando haviam os produtores de leite.
ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS Sra. Francisca - Presidente A Associação dos Artesãos de Piracaia conta com uma sede próxima ao portal do município, gerenciada pelos associados. Segundo a Sra. Francisca, não há nenhuma atuação específica na Área de Influência Direta do Projeto Cachoeira. Ela cita o transporte deficiente e o desemprego como as maiores dificuldades encontradas pelos moradores da comunidade. Para ela, melhorias nas condições de infraestrutura da região resultariam no surgimento de novos empregos. A associação enfrenta 94
grandes dificuldades na comercialização dos produtos. Além disso, o projeto poderia contribuir com cursos e capacitações para a comunidade, que exibe uma forte vocação no manuseio do bambu e da taboa. Segundo a Sra. Francisca, a criação de uma cooperativa seria interessante, mas, ao mesmo tempo, seria um desafio devido à falta de integração entre as pessoas (Gráfico 34). Gráfico 34 Maiores desafios apontados pelas instituições Quais os desafios para a implantação de projetos de geração de renda e/ou cooperativas 7% Transporte
52% Integração entre a comunidade
7% Baixa estima da comunidade 13% Capacitação da comunidade
Cabe ressaltar que nenhum departamento da Prefeitura Municipal de Piracaia e nenhuma instituição entrevistada conhece o número de moradores no entorno da represa. Entretanto, todos os entrevistados concordam que está havendo emigração nesses bairros, sendo que o principal fator apontado é o desemprego. Ao perguntar sobre a viabilidade de implantação de uma cooperativa na região, 90% dos entrevistados entendem que é uma medida viável. Quando questionados sobre os maiores desafios que essa cooperativa enfrentaria, todos os entrevistados apontaram a falta de relações e de integração entre a comunidade (Gráfico 34). 95
perspectivas de desenvolvimento local sustentรกvel
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
Zé Paiva
4.1 Vocação da comunidade
O
diagnóstico realizado evidenciou a afinidade da comunidade com as atividades agropecuárias, em especial a lavoura, visto que essa é a principal atividade desenvolvida por ela.
Quando indagados a respeito de apoio para que pudessem aumentar a renda da família, os entrevistados citaram a necessidade de mais oportunidades de trabalho (Gráfico 35). 98
Gráfico 35 Atividades que a comunidade entrevistada relatou saber realizar Atividades da comunidade 2% Cuidar da propriedade
7% Não responderam
5% Trabalhar
1% Cozinhar, costurar (fazer tricô e crochê) serviços de roça
5% Tirar leite
51% Trabalhar na lavoura
5% Um pouco de tudo
5% Pedreiro 10% Cortar lenha
7% Não sabe 2% Os homens trabalho braçal e as mulheres na área de cozinha
Segundo os entrevistados, até o momento não havia nenhum outro projeto. Embora não seja comum a prática de atividades em grupo entre os moradores locais, quando citada essa possibilidade como forma de integração entre as atividades técnicas e o público local, é visível a receptividade da população, principalmente como uma forma de amenizar um de seus maiores problemas.
4.2 Demanda local A perspectiva de desenvolvimento local está relacionada à continuidade das ações de participação direta da comunidade nas atividades que integram os objetivos do projeto, buscando maior interação entre a comunidade local e o trabalho executado pelo projeto. Tal interação poderia ocorrer no formato de uma cooperativa para o plantio em curto prazo e da implantação de um viveiro para a produção de mudas a médio e longo prazo. A implantação de uma cooperativa capaz de responder às demandas do plantio, desenvolvida junto aos produtores, é outra atividade que pode resultar em uma parceria muito bem sucedida. No entanto, devido à inexperiência da população em trabalhos dessa natureza e estrutura, a iniciativa deve, antes de mais nada, fornecer informações básicas que compõem esse processo para que as pessoas dentro da comunidade possam ocupar papéis dentro dessa estrutura, de acordo com a afinidade, aumentando assim sua eficácia. O incremento do plantio de mudas de interesse comercial e o plantio agroflorestal podem ser outras estratégias possíveis como forma de parceria. 99
indicadores de monitoramento socioambiental da comunidade na ĂĄrea de influĂŞncia
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
O
s indicadores abaixo foram selecionados a partir do presente diagnóstico, a fim de monitorar o impacto do Projeto Cachoeira ao longo do tempo.
1 – Rendimento mensal domiciliar per capita médio (Rfc) n
Rf i 0 ci n
¦ Rfc
i
Rfc = Rendimento mensal domiciliar per capita médio n = Número de domicílios Rfi = Renda do i-ésimo domicílio ci = Número de pessoas do i-ésimo domicílio que dependem dessa renda (Rfi) Baseline 2009 Domicílios na área de influência Rfc2009 = R$ 363,59 (78,2% do salário mínimo vigente) Trabalhadores do projeto Rfc2009 = R$ 443,54 (95,38% do salário mínimo vigente) Observação: a medida proporcional em relação ao salário mínimo tem como objetivo relativizar as flutuações relacionadas à economia do país. Comparação planejada: domicílios na área de influência vs. domicílios do município de Piracaia
102
2 – Taxa de variação temporal do rendimento mensal domiciliar per capita mÊdio (Rfc)
TRfc
Rfc( t 1) Rfc( t )
TRfc = Taxa de variação temporal do rendimento mensal domiciliar per capita mĂŠdio Rfc(t+1) = Rendimento mensal domiciliar per capita mĂŠdio no tempo t+1 Rfc(t) = Rendimento mensal domiciliar per capita mĂŠdio no tempo t Comparação planejada: domicĂlios na ĂĄrea de influĂŞncia vs. domicĂlios do municĂpio de Piracaia
3 – Percentual mÊdio de contribuição do projeto à renda mensal familiar n
CRf
Rfpi
ÂŚ Rf i 1
n
i
u 100
CRf = Percentual mĂŠdio de contribuição do projeto Ă renda domiciliar mensal Rfpi = Renda mensal do i-ĂŠsimo domicĂlio advindo de atividades relacionadas ao projeto Rfi = Renda mensal do i-ĂŠsimo domicĂlio n = NĂşmero de domicĂlios Baseline 2009 DomicĂlios na ĂĄrea de influĂŞncia CRf = 1,54% Comparação planejada: variação do indicador ao longo do tempo
103
4 – Percentual médio de contribuição do projeto à renda mensal do trabalhador do projeto n
Rpi 1 Ri u 100 n
¦ i
CRt
CRt = Percentual médio de contribuição do projeto à renda mensal do trabalhador do projeto Rpi = Renda mensal do i-ésimo trabalhador advinda de atividades relacionadas ao projeto Ri = Renda mensal total do i-ésimo trabalhador n = Número de trabalhadores Baseline 2009 CR = 85% Comparação planejada: variação do indicador ao longo do tempo
5 – Intenção de emigração (percentual)
n
u 100
IE = Intenção de Emigração; respostas afirmativas à pergunta: “se você pudesse se mudaria para outro local ou cidade?” Ep = Emigrantes potenciais, número de pessoas com intenção de emigração n = Número de pessoas entrevistadas Baseline 2009 Comunidade na área de influência IE = 59% Trabalhadores do projeto IE = 36% Comparação planejada: variação do indicador ao longo do tempo
104
6 – Percentual dos respondentes que afirma conhecer o Projeto Cachoeira
C u 100 n Pc = Percentual de entrevistados que afirma conhecer o Projeto Cachoeira B = Número de entrevistados que afirma conhecer o Projeto Cachoeira n = Número total de entrevistados Baseline 2009 Comunidade na área de influência Pc = 89% Comparação planejada: variação do indicador ao longo do tempo
7 – Percentual dos entrevistados que considera que o projeto trouxe benefícios à comunidade
B u 100 n Pb = Percentual de entrevistados que considera que o projeto trouxe benefícios à comunidade B = Número de entrevistados que considera que o projeto trouxe benefícios à comunidade n = Número total de entrevistados Baseline 2009 Domicílios na área de influência Pb = 89% Trabalhadores do projeto Pb = 72% Comparação planejada: variação do indicador ao longo do tempo
105
8 – Percentual dos entrevistados que considera que o projeto trouxe problemas ou consequências negativas à comunidade
P u 100 n Pp = Percentual de entrevistados que considera que o projeto trouxe problemas ou consequências negativas à comunidade P = Número de entrevistados que considera que o projeto trouxe problemas ou consequências negativas à comunidade n = Número total de entrevistados Baseline 2009 Comunidade na área de influência Pp = 17% Trabalhadores do projeto Pb = 27% Comparação planejada: variação do indicador ao longo do tempo
9 – Opinião a respeito do projeto Percentual de entrevistados que considera o projeto ruim; regular; bom; muito bom; ótimo Baseline 2009 Comunidade na área de influência (%)
Trabalhadores do projeto (%)
Ruim
0
0
Regular
0
0
Bom
80
73
Muito bom
13
9
Ótimo
7
9
Comparação planejada: variação do indicador ao longo do tempo
106
Scott Warren
107
conclus達o
diagnóstico socioambiental . série água, clima e floresta . v. I
C
Haroldo Palo Jr.
omo grande parte dos municípios brasileiros, a comunidade na área de influência do projeto enfrenta o problema do êxodo rural. A dificuldade de transporte, as más condições da estrada e a escassez de postos de trabalho são as principais reivindicações da comunidade e, possivelmente, os principais fatores associados à intenção de emigração e êxodo rural. A maioria das pessoas vive em pequenas propriedades, praticando atividades agropecuárias voltadas à subsistência, sendo a aposentadoria a principal fonte de renda das famílias. A plantação de eucalipto tem se tornado a única cultura voltada para comercialização.
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O Projeto Cachoeira, iniciativa conjunta da Sabesp e da TNC (The Nature Conservancy), é conhecido por grande parte dos moradores locais e tem uma avaliação extremamente positiva por parte deles. A comunidade considera importante restaurar a margem da Represa do Cachoeira e faz uma ligação direta entre a presença de florestas
e a conservação dos recursos hídricos na região. A criação de postos de trabalho é um fator central na opinião da população a respeito do Projeto. A relação entre a população e os trabalhadores da restauração é estratégica, uma vez que eles constituem a principal fonte de informação da população a respeito do projeto. O histórico e o passivo social relacionado à desapropriação da área ocupada pelo lago da represa e adjacências continuam influenciando as opiniões e atitudes da comunidade. Esses passivos interferem até hoje na relação da comunidade com a Sabesp, que não foi reconhecida como instituição responsável pelo projeto. Os incêndios são considerados por todos os grupos de interesse como o principal risco ao projeto, tanto por trabalhadores e ex-trabalhadores da restauração quanto por pescadores. Campanhas educativas com a participação dos atores envolvidos parecem ser a melhor solução para
o problema, além da formação de uma brigada contra incêndio. Ações de desenvolvimento local têm o potencial de reverter a intenção de emigração registrada, pois há uma forte ligação das pessoas com o local. Quando referem-se ao emprego e à renda, as pessoas consideram, principalmente, a criação de postos de trabalho criados por empreendedores externos à comunidade. A vocação mais evidente da comunidade está relacionada a atividades agrossilvopastoris. Entretanto, atividades como costura e culinária também são alternativas viáveis. Atividades de turismo rural foram citadas por grupos nas reuniões comunitárias. A organização social e o empreendedorismo são pouco praticados na comunidade, com exceção das atividades relacionadas à Igreja. Por esse motivo, consideramos que atividades de desenvolvimento local necessitam de uma preparação da comunidade, capacitando-a para o trabalho cooperativo.
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Referências bibliográficas IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, v.28. Rio de Janeiro. 2007
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FSC