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QUINTA DO ATAÍDE – UMA ADEGA PARA O FUTURO

Primeira adega certificada LEED (Líder em Energia e Design Ambiental) em Portugal

Em janeiro de 2021, começámos a construção de uma nova adega de baixo impacto ambiental na nossa propriedade da Quinta do Ataíde, no Vale da Vilariça, que juntamente com as suas vinhassatélite de Assares, Canada, Carrascal e Macieira constituem a maior área de vinha biológica certificada no Norte de Portugal. Tivemos de adiar o início da construção por um ano, devido à pandemia da covid-19. A adega da Quinta do Ataíde estará pronta a tempo da vindima de 2023.

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O projeto da nova adega de última geração foi aprovado para atingir a certificação LEED (ver abaixo), e para tal foi avaliada em função dos mais elevados padrões de eficiência de recursos e responsabilidade ambiental. Será a primeira adega certificada LEED em Portugal e uma das primeiras no Mundo a atingir o nível abrangente LEED v4, que aborda questões relativas a eficiência energética, eficiência hídrica, utilização de materiais com reduzido impacto ambiental, estratégias de controlo de iluminação e climatização, mitigação de impactos exteriores, e redução de resíduos.

A construção desta avançada adega é inspirada pelo nosso compromisso a longo prazo com a sustentabilidade e inovação. Sendo a primeira empresa portuguesa de vinhos certificada pela B Corporation, estamos a implementar uma estratégia de sustentabilidade em todo o processo produtivo: da vinha à garrafa. A adega irá produzir os vinhos da Quinta do Ataíde e outros vinhos DOC Douro de primeira linha que fazem parte do portefólio da Symington.

Vinhas com certificação biológica

Ao longo da última década e meia, fomos gradualmente criando um conjunto muito considerável de vinhas no Vale da Vilariça, uma área única dentro da sub-região mais oriental da demarcação do Douro – o Douro Superior. Ao contrário do Vale do Douro, que detém pouco mais de 50% do total mundial da área de vinha de encosta (de montanha), o Vale da Vilariça é, por contraste, caracterizado por um terreno levemente ondulado. O distrito é também o mais quente e seco das zonas produtoras de vinho no Douro e esta combinação de relevo suave, clima e solos presta-se à agricultura biológica.

A vinha de Assares foi a primeira a receber certificação biológica, em 2006, seguida por Ataíde e Canada, em 2010 e mais tarde pela Macieira. As parcelas do Carrascal, praticamente contíguas com Ataíde, estão em processo de certificação que, uma vez concluído, aumentará a área total de vinha cultivada de forma biológica dos atuais 127,5 para 158 hectares.

Com uma área de vinha biológica tão significativa concentrada no Vale da Vilariça, o eixo principal da nossa produção de vinho tranquilo do Douro deslocou-se em grande parte da sub-região de Cima Corgo para esta área remota do Douro. A nossa decisão de construir a nova adega neste local foi, portanto, natural e lógica, até porque constitui um elemento necessário e complementar das vinhas e corresponde à nossa procura ativa da sustentabilidade em todos os procedimentos nas operações de vinificação.

Considerações geográficas e ambientais

A escolha do local da nova adega não foi deixada ao acaso. Foi feito um estudo exaustivo das várias propriedades da família Symington no Vale da Vilariça para escolher a melhor localização para a construção de uma adega com determinadas características particulares e específicas. O local selecionado é o ideal, tanto em termos de integração da adega na paisagem circundante como de viabilidade no que diz respeito à sua interação com as infraestruturas disponíveis na zona. Tiveram de ser levados em consideração aspetos tão diversos como o tipo e características do solo, acessibilidades e topografia, tirando partido do relevo do terreno, atendendo ao tipo de edifício de vários níveis que idealizamos.

O objetivo é aproveitar e utilizar a gravidade, tanto quanto possível, na movimentação das uvas, do mosto e dos lotes vinificados dentro da adega. Em suma, a ação por gravidade (também conhecida como fluxo gravitacional) terá um papel preponderante na disposição do edifício para diminuir o gasto de energia e reduzir a utilização de bombas a um mínimo absoluto, maximizando assim a qualidade do vinho. O plano desnivelado permite que a ação da gravidade seja aproveitada na movimentação das uvas para o nível seguinte – a sala principal de vinificação e, subsequentemente, para a zona onde os vinhos serão armazenados, concluída a sua produção.

A adega situa-se num ponto suavemente ascendente, completamente rodeada por parcelas de vinhas biológicas: tanto as vinhas da própria Quinta do Ataíde, mas também da Canada, Carrascal e Macieira. A adega é assim estrategicamente colocada num local de acesso rápido a todas estas vinhas, facilitando o transporte das uvas recém-colhidas para a adega durante a vindima. A adega encontrase perto de uma estrada municipal, com fácil acesso à principal rede rodoviária local e da vila de Vila Flor.

São múltiplos os benefícios qualitativos e ambientais na localização desta adega. O facto de as uvas serem vindimadas nas imediações da adega assegura que nenhuma da sua frescura se perca, o que terá um impacte positivo na qualidade dos vinhos produzidos. Além disso, esta proximidade também se traduz numa pegada de carbono mais baixa, uma vez que deixa de ser necessário o seu transporte para um outro local para serem vinificadas.

O considerável investimento canalizado para a construção da adega da Quinta do Ataíde reflete a ambição da nossa família em alargar os limites no que diz respeito à conservação ambiental. As soluções arquitetónicas escolhidas e implementadas na construção do edifício e a filosofia subjacente à própria produção de vinho nesta adega encarnam o desejo fundamental de reduzir as emissões de carbono, de otimizar a utilização eficiente de energia, de diminuir a pressão sobre os limitados recursos hídricos e de harmonizar o edifício com a paisagem, de modo a minimizar o seu impacte ambiental.

Painéis fotovoltaicos constituirão uma pala em todo o perímetro da cobertura e fornecerão toda as necessidades energéticas da adega.

Considerações arquitetónicas e de vinificação –a forma serve a função

A premissa arquitetónica subjacente à construção da adega procurou conciliar os aspetos puramente geométricos da construção e das funcionalidades do edifício com o espaço natural da paisagem em que se insere.

A partir de uma leitura da paisagem, procurámos primeiramente soluções para a localização da nave principal da adega, pretendendo-se assim a integração mais perfeita possível com o terreno. Tendo concluído este exercício, passámos então à escolha do melhor layout para os edifícios de apoio.

Felizmente encontrámos um local ideal para a construção da adega em desníveis tirando partido do relevo irregular do terreno. Este fator foi determinante dado o objetivo dos nossos enólogos de potenciar da melhor forma o uso do fluxo da gravidade com o intuito de aperfeiçoarem ainda mais as suas práticas de vinificação. A ausência de bombeamento mecânico nas várias fases da vinificação ajuda a preservar os aromas e sabores do vinho, bem como manter outras características qualitativas.

(Em cima) Corte da adega, mostrando, à esquerda, a zona de receção de uvas, ao centro a nave principal de fermentação e, à direita, as zonas de armazenamento.

(Em baixo) Reunião de obra em junho de 2021 onde a equipa de engenharia da Symington recebeu alguns fornecedores e empreiteiros.

No nível mais elevado do local de construção da adega, onde o terreno apresenta um considerável desnível, localizar-se-á a zona de receção das uvas, e respetivo equipamento, incluindo os desengaçadores, a partir dos quais o sumo das uvas é preparado para ser transferido para as cubas de fermentação.

No piso intermédio, serão instalados os corredores de passagem sobre as cubas e no extremo oposto do edifício os laboratórios de apoio, os gabinetes dos enólogos e outros escritórios de apoio a atividades diversas, bem como as instalações do pessoal (vestiários, áreas de descanso, casas de banho, etc.).

A principal área de vinificação ficará localizada um andar abaixo, no nível inferior do edifício. Aí ficarão as cubas de fermentação e, numa zona separada, a sala de barricas e os grandes tanques de armazenamento em aço inoxidável, local onde os lotes finais serão envelhecidos/armazenados.

O piso superior terá uma sala de provas panorâmica, com acesso a uma ampla varanda, de vistas imponentes virada a sul ao longo do Vale da Vilariça, até ao ponto onde este se junta ao Rio Sabor e este, por seu turno, ao Rio Douro. Desta sala será possível ver, também, a grande nave de vinificação em baixo, a norte.

A adega terá uma cobertura verde com vegetação autóctone, que atua como regulador de temperatura no interior do edifício, pontuada por claraboias que controlam a luz natural no edifício e servem para renovar o ar naturalmente no interior da nave de vinificação.

A NOVA ADEGA DA QUINTA DO ATAÍDE EM 10 PONTOS:

1. A NOVA CASA DOS DOC DOURO DE TOPO DA SYMINGTON:

A adega está desenhada para produzir vinhos de elevada qualidade e dimensionada para produzir 691.000 litros de vinho em 2023, com capacidade de expansão futura.

2. PRIMEIRA ADEGA COM CERTIFICAÇÃO LEED EM PORTUGAL:

O projeto pretende ser a primeira adega certificada LEED em Portugal e uma das primeiras no Mundo a atingir os mais elevados padrões LEED v4. O LEED ( Leadership in Energy and Environmental Design) é o sistema de classificação de edifícios ecológicos mais utilizado no Mundo. Proporciona um enquadramento para edifícios verdes, altamente eficientes e de custos controlados. A certificação LEED é um símbolo mundialmente reconhecido de liderança em sustentabilidade. Talvez a mais conhecida adega certificada LEED do Mundo seja a do polo de Davis, da Universidade da Califórnia.

3. INTEGRAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICA:

A forma do edifício, a sua localização e a cobertura vegetal foram pensadas para que o edifício ficasse integrado na paisagem natural, alinhado entre os vinhedos biológicos. Utiliza ao máximo os relevos inclinados para se encaixar no terreno, causando a menor perturbação paisagística. Um cuidadoso arranjo em redor do edifício, utilizando vegetação autóctone, ajudará a sua integração e a controlar a temperatura ambiente em torno da Adega.

4. ADEGA GRAVÍTICA:

Um desnível natural do terreno onde surge a adega permite que esta seja construída de forma a não se ter de recorrer à bombagem de massas na transformação da uva em vinho. A receção das uvas será num piso superior, de modo a aproveitar a gravidade para a transferência das massas para as cubas de vinificação num piso inferior. Para além deste ponto, a enologia incorporará algumas inovações nas diversas etapas do processo.

5. EDIFÍCIO VERDE:

A impressionante cobertura curva de 2700 m2 será coberta com vegetação autóctone, refletindo a biodiversidade e o ecossistema da área circundante, o que ajudará a regular a temperatura no interior da adega. A vegetação foi selecionada no local, recolhida e mantida em viveiro para ser replantada, agora, na cobertura da Adega. As paredes exteriores também serão parcialmente cobertas com vegetação, para ajudar a integrar o edifício na paisagem.

6. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA:

A adega será um "edifício de energia positiva", produzindo mais eletricidade a partir dos seus próprios painéis solares (700 m2 –instalados na pala perimetral do edifício) do que aquela de que necessita – incluindo eletricidade para o processo. O excedente de energia alimentará a rede elétrica nacional durante todo o ano, exceto durante a vindima.

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