Rev mulher bancaria

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Comando Nacional

P ESPECIAL DA MULHER - Março | 2014

Não mexe comigo que eu não ando só

Bancárias ampliam organização 3o Encontro cria Coletivo Nacional das Mulheres Bancárias Revista das 25 banc rios Participe do II Censo da Diversidade, de 17 de março de abril @

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- Fevereiro 2014

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Apresentação

O Instituto Cajamar, histórica escola de formação política da classe trabalhadora. Acima, foto de novembro de 1995: A Cidade das Mulheres – Gênero e Políticas Públicas, organizado por várias entidades, entre elas a CUT. Na página ao lado, foto de novembro de 2014: 3º Encontro Nacional de Mulheres Bancárias da Contraf-CUT

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té o final da década de 1960, o sistema financeiro nacional era um território exclusivamente masculino. As mulheres, que haviam conquistado o direito à plena igualdade de voto em 1946, somente mais de duas décadas depois começaram a ser admitidas pelos bancos. Primeiro, no Banespa e no Banco do Brasil, depois con-

Passado e

quistando todo o sistema. Hoje as mulheres formam praticamente a metade da categoria e já são maioria nos bancos privados. As bancárias se tornaram referência nacional e internacional na luta contra as discriminações. Foi a primeira categoria em toda a América a conquistar uma mesa temática permanente por igualdade de oportunidades. E também a primeira, em 2009, a incorporar a

licença-maternidade de 180 dias.

MAS AINDA HÁ MUITO A AVANÇAR. Embora sejam mais escolarizadas, as mulheres bancárias ganham nos bancos 23,9% a menos que os homens. E essa diferença cresce nas faixas salariais mais altas, evidenciando os grandes obstáculos à ascensão profissional feminina.


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presente de lutas Para avançar nessa luta por igualdade, elas contam com mais um instrumento importante: o Coletivo Nacional das Mulheres Bancárias da Contraf-CUT, criado no final de novembro passado pelo 3º Encontro Nacional de Mulheres, realizado no Instituto Cajamar, na Grande São Paulo. Será também importante nesse processo o II Censo da Diversidade, que será realizado de 17 de março

a 25 de abril em todo o país – uma conquista da Campanha Nacional de 2012. Esta Revista dos Bancários, Especial Mulheres, traz informações sobre o II Censo e faz um resumo do Encontro Nacional de Mulheres, precedido por 14 encontros regionais e estaduais somando o total de 14 eventos em todo Brasil. O Coletivo terá a missão de gerar novos conhecimentos e definir estratégias

de luta por igualdade de gênero. Como disse um dia a saudosa Beth Lobo, a classe trabalhadora tem dois sexos. É dever de todo dirigente sindical, não importa o gênero, de lutar pelo fim das injustiças e preconceitos em busca da construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática. Carlos Cordeiro, Presidente da Contraf-CUT


P Encontro da Contraf-CUT institui o

Coletivo Nacional de

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Instituto Cajamar, lugar histórico na formação de lideranças O 3º Encontro das Mulheres Bancárias foi realizado no Instituto Cajamar, por onde passaram as principais lideranças sindicais e progressistas do país. Ele foi criado nos anos 80 pela CUT com contribuição solidária de entidades internacionais, com o objetivo de oferecer estrutura coletiva de formação políticas para dirigentes e militantes da CUT, do PT e dos movimentos sociais. O educador Paulo Freire foi o primeiro coordenador político do Instituto Cajamar.

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3º Encontro Nacional das Mulheres Bancárias, realizado pela Contraf-CUT entre 25 e 27 de novembro de 2013 no Instituto Cajamar, Grande São Paulo, aprovou e elegeu o primeiro Coletivo Nacional de Mulheres, que tem por objetivo debater e formular políticas para as questões de gênero no sistema financeiro nacional. Cordenado pela Contraf-CUT, o Coletivo é formado por duas representantes (uma titular e uma suplente) de cada federação de bancários, necessariamente pelas dirigentes que estiverem à frente das secretarias que tratam das questões de gênero. “Além das federações, o Coletivo também está aberto à participação das companheiras que atuam nessa área nos sindicatos, porque temos uma grande demanda pela frente”, explica Deise Recoaro, secretária da Mulher da Contraf-CUT. É a primeira vez que a categoria bancária cria um Coletivo Nacional de Mulheres. As discussões sobre

gênero vinham sendo realizadas até agora pela CGROS (Comissão de Gênero, Raça e Orientação Sexual), mas não em caráter orgânico.

A QUESTÃO DE GÊNERO NA PERSPECTIVA DE CLASSE “Temos agora o desafio de ampliar a discussão sobre gênero por toda a categoria, criar os coletivos estaduais da mulher, elevar o nível de formação das militantes do tema e formular políticas para a questão das mulheres no sistema financeiro, onde ainda são grande os preconceitos e as discriminações”, afirma Deise. Segundo a secretária da Contraf-CUT, o 3º Encontro Nacional das Mulheres teve caráter formativo e organizativo. “Com a contribuição dos palestrantes convidados, fizemos um debate muito rico, focando a questão de gênero dentro da perspectiva de classe. Com isso estamos superando a discussão de que a questão de gênero divide a luta dos trabalhadores”, avalia Deise Recoaro. Revista d@s banc@rios - Fevereiro 2014

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‘Nosso desejo é transformar a realidade’

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lém da criação do Coletivo Nacional de Mulheres, no último dia do Encontro teve ainda três mesas de discussões. Na primeira, a vice-presidenta da CUT Nacional, Carmem Foro, fez uma exposição sobre a trajetória da luta de organização das mulheres dentro da central, que no último congresso aprovou a implementação da paridade de gênero na direção, e como ela influiu na conscientização sobre o tema em toda a sociedade. “Temos uma sociedade capitalista, patriarcal, homofóbica e machista. Essa é a nossa realidade. E nossas entidades acabam reproduzindo o que a sociedade é. O patriarcado e o machismo estão tão culturalmente arraigados que a gente respira isso nos locais de trabalho, nas ruas, nas instituições públicas e também nos sindicatos. E nosso desejo é transformar essa realidade”, disse Carmem. A diretora regional da UNI Américas Briceida Gonzalez apresentou as campanhas mundiais e regionais sobre

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questões de gênero desenvolvidas pela UNI-Sindicato Global, que representa mais de 20 milhões de trabalhadores dos setores de serviços em todo o mundo - e à qual a Contraf-CUT é filiada. A UNI aprovou em 2010 o princípio de que as entidades sindicais filiadas devem ter pelo menos 40% de mulheres nas direções.

REFORMA POLÍTICA PARA MAIS DEMOCRACIA Por fim, a presidenta do Sindicato dos Bancários, Juvanda Moreira, falou sobre a importância da reforma política para ampliar a democracia e a luta das mulheres por igualdade. No Congresso Nacional, dos 513 deputados federais só há 45 mulheres (8%) e no Senado apenas 12 senadoras no total de 81. “O Congresso Nacional é branco, masculino e conservador. Para mudar isso precisamos participar da luta pela reforma política, implementar cota de participação de gênero, mudar as formas de financiamento para alterar a correlação de forças”, propõe Juvândia.


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Pesquisa traça perfil dos dirigentes sindicais quanto a gênero e diversidade

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ma das bandeiras que o movimento sindical no ramo financeiro vem defendendo e alcançando mais retorno é a valorização da diversidade e garantia de igualdade no local de trabalho, independente de gênero, raça, orientação sexual. O Coletivo quer também aferir o perfil das dirigentes sindicais. Por isso, durante o 3º. Encontro Nacional de Mulheres Bancárias, foram distribuídos 100 questionários com 24 perguntas organizado por Jô Portilho, diretora do Sindicato do Rio de Janeiro e doutoranda em Serviço Social. O modelo se baseou na pesquisa realizada pela professora Sue Ledwith (Ruskin College e Global Labour University-GLU) com trabalhadoras de diversos ramos profissionais no Brasil, África do Sul e Índia. Sessenta questionários foram preenchidos livremente e com total sigilo, o que dá a tranquilidade de que suas respostas espelham o sentimento das 58 mulheres e 2 homens pesquisados. Nesse universo de sindicalistas, 86,66% estão liberados do banco à disposição do movimento sindical, sendo que 62% das mulheres liberadas ocupam algum cargo na direção executiva de suas entidades, quase sempre ligado à Secretaria de Mulheres/Gênero. No entanto, será preciso levar em conta que o evento durou 3 dias no meio da semana; fato que dificulta a presença de sindicalistas da base, sem cargo sindical na executiva de suas entidades. Com relação à faixa etária dos pesquisados, é possível dizer que não corresponde proporcionalmente à faixa etária dos bancários empregados atualmente. Enquanto a categoria profissional concentra quase a metade de seus trabalhadores com até 35 anos de idade, as sindicalistas, nesta mesma faixa etária, correspondem apenas a 15,51% das entrevistadas. A pesquisa aponta ainda que a maior concentração de sindicalistas está na faixa de 36 a 55 anos, ou seja, 82,75% em relação ao total de mulheres entrevistadas. Acima de 56 anos de idade

só encontramos 3,44% de sindicalistas. Sobre as dificuldades de ser liderança no movimento sindical, foram oferecidas 22 opções de problemas previamente definidos e uma opção em aberto. Cada participante da pesquisa poderia eleger até 3 opções, sendo que problemas com sexismo/machismo foi citado 24 vezes. O segundo maior problema entre as mulheres que responderam a pesquisa é falar em público (19), seguido de obter apoio de líderes sindicais mais experientes (16). Em quarto lugar entre os problemas que cerceia o desenvolvimento da liderança das mulheres está a política do sindicato (15) e a burocracia sindical (14). Ainda bastante citados (entre 9 e 12 vezes) estão as questões de assédio moral no âmbito da direção sindical, o problema de conciliar a vida doméstica com o trabalho, da igualdade e diversidade, além de lidar com situações de conflito dentro do sindicato. O resultado completo da pesquisa será divulgado em breve. De posse dessas informações o Coletivo Nacional de Mulheres da Contraf-CUT buscará ações que equalizem os problemas e encontrem soluções que contribuam para tornar as entidades sindicais ainda mais democráticas e prontas a reforçar a luta por equidade para todo o conjunto dos trabalhadores do ramo financeiro.

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P Brasília

A solução está na

organização

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s mulheres bancárias têm uma longa história de organização e luta, tornando-se referência nacional e internacional quando da conquista da mesa temática de Igualdade de Oportunidade. Com a criação da Secretaria de Mulheres da Contraf/CUT, essa organização foi retomada a partir de encontros e reuniões para criação

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de coletivos estaduais/regionais de mulheres bancárias.

A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO POR COLETIVOS. A criação de coletivos é fundamental para dinamizar as políticas de gênero na categoria. A troca de experiência, estudos e aprofundamento na reflexão da condição da mulher bancária tem contribuído na formu-

lação de pauta e de reivindicações que atendam as necessidades dessa parcela importante da categoria. O sindicato é uma das principais entidades capaz de garantir distribuição de renda, justiça social e igualdade de oportunidades para a classe trabalhadora. É de fundamental importância que as mulheres também estejam representadas nestas entidades em postos que oportunizem participação ativa.


São Paulo

VEJA NESTA PÁGINA E NA SEGUINTE OS ENCONTROS REGIONAIS QUE PRECEDERAM O 3º ENCONTRO NACIONAL DAS MULHERES BANCÁRIA Rio de Janeiro e Espírito Santo

Paraná

Pernambuco

Rio Grande do Sul

Minas Gerais

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P Centro Norte

Ceará

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São Paulo e Mato Grosso do Sul

Paraíba

Alagoas

Piauí

Espírito Santo

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ii PCS transparente para combater a discriminação

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ransversalidade é uma estratégia usada para orientar um olhar para a remuneração, para o emprego, para saúde e condições de trabalho e reconhecer que os impactos sofridos pela categoria de forma geral são ainda mais cruéis e nefastos para uma parcela importante dos bancários, como as mulheres, a população negra e as pessoas com deficiência. Mais que um diagnóstico, é necessário reconhecer as desigualdades e dar visibilidade a elas, para fazer com que seu combate deixe de ser uma luta específica para ser geral, e buscar medidas concretas para superar as injustiças. As mulheres compõem praticamente metade da categoria e, apesar de mais escolarizadas, ainda ocupam os postos de menores salários. Para minimamente romper com esse ciclo da discriminação e desigualdade é

preciso medidas mais democráticas e transparentes na promoção de mulheres e homens. Isso passa pela implantação de um Plano de Cargos e Salários nos bancos. Na Campanha Nacional dos Bancários de 2013 a categoria conquistou um avanço nesse sentido, que é um pressuposto básico para a construção de um PCS. No artigo 5º, sobre Plano de Cargos e Salários, diz o parágrafo 10: Os bancos disponibilizarão aos(as) empregados(as) a relação de cargos com suas definições técnicas , assim como os critérios necessários para ocupação dos mesmos.” Hoje os critérios são muito subjetivos e quase nada objetivos. Além disso, os trabalhadores e trabalhadoras não têm acesso às informações necessárias para traçar um plano de investimento na carreira, tanto em termos de formação, capacitação e remuneração. Revista d@s banc@rios - Fevereiro 2014

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Mulher, mostre sua cara PARTICIPE DO II CENSO DA DIVERSIDADE, DE 17 DE MARÇO A 25 DE ABRIL

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a retomada da mesa temática de Igualdade de Oportunidades em 2014, a Contraf-CUT, federações e sindicatos definiram no dia 18 de fevereiro com a com a Fenaban os últimos encaminhamentos para a realização do II Censo da Diversidade, que será aplicado de 17 de março até 25 de abril em todo o país. O calendário das mesas temáticas para o ano de 2014 está pré-agendado. Nesses encontros, a Contraf-CUT fará o acompanhamento do II Censo até a divulgação dos resultados, além de averiguar se os bancos estão efetivamente assegurando condições igualitárias na contratação e na ascensão laboral de todos os trabalhadores, independente de sexo, gênero, raça/cor, etnia, se LGBT ou pessoas com deficiência.


Calendário O II Censo começa no dia 17 de março e vai até o dia 25 de abril, quando ficará disponível o questionário para que todos os bancários respondam. As informações são confidenciais e o sigilo será preservado. Portanto, os bancários e bancárias podem se sentir seguros e tranquilos porque o sistema não identificará as pessoas que responderem ao questionário. O principal objetivo do censo é conhecer o perfil da categoria com a finalidade de corrigir distorções e construir um ambiente de trabalho democrático e igualitário.

Para Andréa Vasconcellos, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, “o resultado do II Censo será um valioso instrumento de comparação para identificar avanços ou retrocessos”.

CONQUISTA DA CAMPANHA NACIONAL 2012 O II Censo foi uma conquista do processo de mobilização da Campanha Nacional dos Bancários 2012. O Comando Nacional, coordenado pela Contraf-CUT, arrancou o compromisso da Fenaban, com planejamento em 2013 e realização em 2014, conforme estabelece a cláusula 47ª

da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). O universo de participantes será de cerca de 486 mil bancários, que corresponde a 98% dos funcionários de 19 bancos. “Chamamos todos os colegas a responderem o questionário do II Censo, pois o maior número de participantes permitirá conhecer melhor a categoria e ter um perfil próximo da realidade, o que será fundamental para a definição de uma política de igualdade e de inclusão no sistema financeiro”, destaca Andréa. A Contraf-CUT também propôs a inclusão de uma pergunta relacionada ao Plano de Cargos e Carreiras. “O objetivo era verificar se o bancário conhece os critérios técnicos exigidos para a ocupação de cargos e funções, bem como as características essenciais para as promoções na empresa”, salienta Andrea. Mas a proposta não foi acatada pela Fenaban. “A negativa dos bancos revela a pouca transparência na política de ascensão profissional, uma vez que vários bancos utilizam critérios subjetivos para definir a ocupação de cargos e funções nos bancos”, critica a dirigente sindical. Todos os bancários, inclusive os licenciados por motivos de saúde, maternidade e mandato sindical que estão na base de cadastro da Rais, poderão responder às perguntas do II Censo, assim que o questionário ficar disponível no hotsite da Febraban. “Ressaltamos que as informações serão confidenciais e sigilosas”, explica Andrea.

INCLUSÃO DA POPULAÇÃO LGBT E A LUTA PELA IGUALDADE A inclusão de uma questão sobre a população LGBT no II Censo abre inúmeras possibilidades de diálogo, com vistas a romper com as barreiras da indiferença, do silêncio e da dominação simbólica que vem cercada de piadinhas, brincadeiras, apelidos, insinuações e expressões de insulto que perpetuam a homofobia. Também derruba o falso mito do “homem de verdade”, discurso que serve somente para perpetuar as discriminações de cargas múltiplas. Lutar pela igualdade significa eliminar todas as formas de preconceito e discriminações, implica por fim a homofobia e punir exemplarmente agressores e assassinos. Para Andréa, “é inaceitável em pleno século XXI que uma pessoa , que nunca se fez conhecer, foi ouvida, foi considerada ou respeitada, possa ser odiada pela sua orientação sexual”. Revista d@s banc@rios - Fevereiro 2014

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Discriminação das mulheres aumenta com ascensão e escolarização

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xceto em São Paulo e no Rio de Janeiro, as mulheres ainda são sub-representadas no sistema financeiro em comparação com a população economicamente ativa no Brasil. Elas já são maioria nos bancos privados, principalmente nas faixas salariais até sete salários mínimos, são mais escolarizadas que os homens, mas ganham em média 23,9% a menos que os trabalhadores do sexo masculino - diferença que cresce com a ascensão profissional e com o aumento da escolarização das mulheres bancárias. Dos 512 mil trabalhadores do sistema financeiro nacional em dezembro de 2012, as mulheres representavam 48,7% - índice menor que o da participação feminina na População Economicamente Ativa (PEA), que no mesmo período era de 54,1%. Tomando o sistema como um todo, as mulheres só são maioria em São Paulo (53%) e no Rio

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de Janeiro (51%). Embora a porta de entrada das mulheres no sistema financeiro tenha sido nos bancos públicos - primeiro no Banespa e depois no Branco do Brasil, na década de 1960 -, houve uma inversão nas últimas décadas e hoje elas são maioria nos bancos privados. “Não é difícil compreender por que isso ocorreu. Com a mudança do trabalho bancário, que se transformou essencialmente em venda de produtos, os bancos privados passaram a ressaltar as ‘qualidades das características femininas’, como paciência e habilidade no trato com os clientes, e nos casos mais graves chegando a explorar a imagem do corpo feminino”, interpreta Barbara Vallejos Vazquez, técnica do Dieese-seção Contraf-CUT que fez a apresentação do estudo durante o 3º Encontro Nacional de Mulheres Bancárias.


ii No topo, bancárias são minoria e ganham menos

As bancárias somam 48,7% da categoria no Brasil. Respondem por 52% do quadro nos bancos privados.

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72,8% completaram o ensino superior contra 66,8% dos homens.

A INJUSTIÇA Recebem em média 23,9% menos que os homens. Uma mulher com doutorado recebe 56% menos que um homem com o mesmo título. As mulheres negras representam apenas 8% da categoria.

Concentração das mulheres nos cargos de menores salários

s mulheres só são maioria nos bancos até os postos de trabalho com remuneração até sete salários mínimos. Na faixa entre sete e dez salários mínimos, é igual o número de homens e mulheres no setor como um todo. A partir daí, a participação feminina vai decrescendo quase que na mesma proporção do aumento da remuneração. Exceto no segmento de gerência, que tem contato direto com os clientes, onde as mulheres são maioria (52,5%). Nas diretorias dos bancos, há 1.798 homens e apenas 457 mulheres. Na média do sistema financeiro, as mulheres ganham 23,9% menos que os homens. Mas cresce a diferença salarial em relação aos trabalhadores do sexo masculino à medida que as mulheres vão ascendendo na carreira e aumentando a sua escolarização. A remuneração média dos homens gerentes, por exemplo, é de R$ 7.251 e o das mulheres gerentes cai para R$ 5.221 - uma diferença de 38,8%. A diferença de remuneração também aumenta quanto maior for a escolaridade da categoria bancária. Entre os que têm superior incompleto, as mulheres ganham 19% a menos que os homens. No segmento de superior completo, a diferença aumenta para 27%. Sobe para 33% entre os que possuem mestrado e chega a 56% na faixa dos que têm doutorado.

Diretoria ....................................................................................................................................................................... 20,3% Gerência ....................................................................................................................................................................... 52,5% Supervisão ............................................................................................................................................................... 49,4% Escriturárias e Técnicas Bancárias...................................................................................... 46,1% Agentes, Assistentes e Auxiliares Administrativos ............................... 60,5% Operadores de telemarketing e telefonistas .................................................. 72,3% Outros .............................................................................................................................................................................. 49,4%

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P Novas formas de gestão exploram e fragilizam mulher, diz professor

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professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Marília, Giovanni Alves, abordou o tema “Trabalho, Corpo e Subjetividade”, durante palestra no 3º Encontro Nacional de Mulheres Bancárias. Para ele, o corpo funciona como elemento da subjetividade, o que está intimamente relacionado ao trabalho moderno. “As formas de gestão inseridas nos escritórios e demais locais de trabalho se caracterizam pela captura

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do corpo e mente”, aponta Giovanni. O especialista destaca que vivemos uma nova era de dominação do capital e atravessamos um verdadeiro desmonte da pessoa humana, sendo a mulher o elo mais frágil neste processo. “Todos somos iguais, pertencemos à espécie humana, porém o capital tem se aproveitado da diferença de gênero e explorado a desigualdade, quando, por exemplo, trata as pessoas com indiferença na questão da gestão”, explica. Segundo o professor da Unesp, o capital não se in-


ii teressa se a força de trabalho é exercida por homem ou mulher. “As novas formas de precarização do trabalho e de gestão desmontam as pessoas e alteram a subjetividade quando instauram relações de captura que destroem até mesmo as relações de vida pessoal”, afirma. “A tarefa que se coloca a nós numa sociedade é de luta, reflexão e formação. Este é o trinômio da emancipação humana. Luta sem reflexão não vale nada, e reflexão sem formação também não se sustenta. É preciso também dar continuidade ao processo de formação que está inserido na luta. Enfim, o homem foi feito para fluir e ter uma vida plena de sentido”, conclui Giovanni.

Desigualdade prejudica inserção da mulher

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inserção historicamente privilegiada dos homens em relação às mulheres é o principal aspecto relacionado à desigualdade de gênero no mercado de trabalho. A avaliação foi feita pela economista, pesquisadora do Cesit/Unicamp e assessora sindical Marilane Oliveira Teixeira, no painel sobre “Articulação entre Trabalho Produtivo e Trabalho Reprodutivo”. Para a pesquisadora, o problema não está na recuperação econômica, que tem sido favorável nos últimos anos, com considerável geração de postos de trabalho. A questão central está na inserção do homem num contexto bem mais favorável que o das mulheres. Segundo Marilane, o capitalismo acentuou a disparidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho ao considerar inconciliável a atividade feita em casa e fora por uma única pessoa que seria responsável ao mesmo tempo pela reprodução social e mercado de trabalho. “Se parte da reprodução da força de trabalho é exercida gratuitamente no âmbito doméstico, parte dos meios necessários para se produzir a força de trabalho também é gratuita. Por este motivo, a força de trabalho também se reduz”, explica Marilane. A especialista ainda destaca que há posicionamentos divergentes sobre o trabalho realizado no mercado de

trabalho e o trabalho doméstico dentro da produção capitalista. Enquanto o primeiro é percebido como um processo de acumulação e benefícios, o segundo é destinado ao bem estar das pessoas e tem como validade a redução das tensões que se estabelece no próprio ambiente de mercado. “A resposta que precisamos dar não está na dinâmica do mercado de trabalho, mas sim porque ao considerarmos a população não economicamente ativa de mulheres 84% delas estão na faixa etária de 25 a 39 anos?”, questiona Marilane. “Em compensação, ao consideramos a faixa etária entre 16 a 24 anos, o número é reduzido para 63%.” Para ela, a explicação está possivelmente associada ao período reprodutivo, o que impulsiona o debate sobre a falta de políticas públicas que falharam ao tentar reinserir as mulheres no mercado de trabalho. “A evolução das mulheres no mercado de trabalho nos últimos quinze anos é irrisória. Entre 1998 e 2011 passou de 40,9% para 42%. Praticamente estacionou. Precisamos incluir a dinâmica da reprodução social como compartilhamento e discussão de política pública. O fato de ser mulher não pode representar tratamento desigual no mercado de trabalho. Homens e mulheres podem se reinserir com igualdade, e também do ponto de vista social”, conclui Marilane.

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P A luta por igualdade na América Latina

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redução da desigualdade entre homens e mulheres na América Latina e a luta pela equidade de gênero na sociedade brasileira foram os destaques na análise de conjuntura realizada na abertura do 3º Encontro Nacional de Mulheres por Néstor Bercovich, da divisão de assuntos de gênero da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), e pela deputada federal e ex-presidenta do Sindicato dos Bancários de Brasília, Érika Kokay (PT-DF). Néstor ressaltou que uma das principais preocupações da Cepal é a luta pela diminuição nos níveis de desigualdade no continente. Para ele, foram muitos os avanços, porém existem inúmeros desafios. “Ainda persistem as

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condições de discriminação com as mulheres na incorporação do trabalho remunerado”, enfatizou. Segundo Néstor, um dos desafios é aumentar a autonomia econômica da mulher e eliminar a violência física para consolidar o “empoderamento” das mulheres. “As mulheres trabalham bem mais que os homens, principalmente em função do trabalho doméstico. Já os homens dedicam mais tempo ao trabalho remunerado e as mulheres aos trabalhos não remunerados”, destacou. A igualdade como gênero, conforme o palestrante, após o Consenso de Quito, em 2007, é medida pela autonomia física, de tomada de decisões e também econômica. “A mudança estrutural para a igualdade de gênero requer a igualdade como horizonte, a mudança


estrutural como caminho e a política como instrumento. Ainda há muito caminho a percorrer quando observamos que metade das mulheres latino-americanas não possui vínculo com o mercado de trabalho”, completou Néstor.

EQUIDADE DE GÊNERO Érika Kokay apontou os desafios lançados na sociedade para conquistar a equidade de gênero. Ela lembrou que a violência contra a mulher é parte da formação da sociedade brasileira. “O colonialismo foi construído através desta lógica. Ainda passamos pela escravidão e ditadura sem que fizéssemos o luto para que essas situações não voltem a acontecer”, salientou. Para a deputada, foram esses três períodos de profunda desumanização simbólica e também literal da sociedade que ainda estão em curso no país. “As mulheres foram desumanizadas e arrancaram a condição de serem sujeitas de seu próprio corpo, vida e história”, ressaltou. Segundo a deputada, é fundamental trazer a agenda da equidade de gênero para construir uma sociedade em que não exista dor por ser mulher, negro ou indígena,

e que não haja o medo das ruas, das noites e de voltar para casa devido à violência doméstica que destrói a condição humana. “Existem vários movimentos em construção de nossa história e para a formação dessa nova sociedade é fundamental que reconheçamos nossos holocaustos e lutos para que não tropecemos nos espaços da ditadura em nossa contemporaneidade”, enfatizou. Conforme a parlamentar, situações como o espaço doméstico ainda majoritariamente dominado pelas mulheres e a presença de apenas 8,7% de mulheres na Câmara Federal denotam os desafios que estão lançados na sociedade e que só serão superados com o mínimo de organização para que a voz da mulher seja ouvida. “São por essas razões que as mulheres trabalham mais, são as maiores vítimas de LER/Dort e depressão. Por isso, também são maioria entre as vítimas de pânico e que fazem com que elas não se reconheçam e que não percebam seus próprios limites. Há países em que as mulheres usam burca e são maioria no Parlamento. Por esses motivos, exigimos a equidade de gênero”, concluiu Érika. Revista d@s banc@rios - Fevereiro 2014

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Programa Pró-Equidade nos Bancos Públicos premia com selo de igualdade

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pesquisadora Gláucia Fraccaro apresentou uma avaliação do Programa Pró-Equidade nos Bancos Públicos, criado em 2005 pelo governo federal. Gláucia explicou as transformações do programa, desde sua criação, até os dias atuais. No início, o objetivo era debater a igualdade dentro das estatais. Começou com cerca de 11 empresas públicas e atualmente envolve mais de 90 organizações públicas e privadas. “Com o passar dos anos, o programa foi ganhando novos parceiros e discussões. Consiste atualmente na distribuição de um selo para as empresas que conseguem formular e aplicar políticas de igualdade em suas empre-

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sas”, explica Gláucia. O selo de distinção de igualdade é uma exigência do mercado e agrega valor à marca ou faz referência à qualidade do produto ou serviço, por não ter, por exemplo, agrotóxicos. Segundo a pesquisadora, é a própria empresa que propõe a adesão e preenche a ficha perfil. “Trata-se dos dados do corpo de trabalhadores, que posteriormente é entregue com o plano de ação para enfrentar a desigualdade. A execução do plano é de 12 meses e, se aprovado, a empresa recebe o selo”, explica Gláucia. Para ela, ainda não foi possível identificar uma mudança significativa de mercado nos últimos dez anos. O que melhorou, porém muito pouco, foi a participação das


mulheres nas empresas, que cresceu de 19,5% para 22%. “Podemos identificar que as mulheres participantes do programa conseguiram atingir cargos de direção, porém há muitas empresas públicas que este tipo de mudança ainda é praticamente nula”, observa Gláucia. O desafio é envolver fortemente a igualdade dentro das ações de diversidade e responsabilidade social, incorporar as metas do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça em planejamento estratégico e incluir acordos coletivos e metas do programa nas discussões sobre mudanças das relações de trabalho. O objetivo para a quinta edição do programa é a inclusão de mais mulheres nos postos de trabalho, mais mulheres em cargos de direção, mais mulheres negras em todos os níveis e menor diferença de salários entre mulheres e homens. “Em termos de ação, observamos que os bancos públicos propuseram inicialmente algo interessante como a licença maternidade e paternidade e a questão de inclusão da população negra. Porém, o que percebemos é uma dificuldade muito grande na inserção do tema da igualdade nos discursos das empresas”, salienta Gláucia. “Muitas vezes o tema da igualdade se encontra dissolvido no tema da diversidade e da responsabilidade social. É muito difícil para inserir. O programa ainda precisa ser reforçado do ponto de vista de propaganda externa para atingir seus objetivos”, conclui a pesquisadora.

Rosa Luxemburgo como inspiração A primeira palestra do 3º Encontro das Mulheres Bancárias foi “A obra de Rosa Luxemburgo na atualidade”, com a professora Isabel Loureiro. Segundo ela, embora a filósofa, economista e militante polonesa-alemã não tenha sido vista como uma feminista por seus contemporâneos, ela foi defensora do voto feminino e inspiração de atuação política: “Quando nenhuma mulher militava politicamente, ela foi capaz de enfrentar essa barreira e ocupar o espaço público”. Segundo a professora, a redescoberta de Rosa Luxemburgo pelo movimento feminista aconteceu nos anos 1980, quando a sua máxima de que a liberdade não pode ser outorgada, mas sim conquistada, dentro do princípio de que “a emancipação dos trabalhadores é obra dos trabalhadores”, passou a nortear as lutas das mulheres. “Pelo pensamento de Rosa Luxemburgo, as mulheres têm que atuar politicamente por si mesmas e não deixar outros agirem em seu lugar. O conceito de autonomia das massas, passa a ser pensado em termos da autonomia da mulher. Temos que nos libertar a nós mesmas”, defendeu a professora. Rosa ficou conhecida como a teórica da greve de massas, e essa foi sem dúvida sua contribuição original à teoria marxista. A idéia básica é que as massas desorganizadas, incultas, ao passarem à ação se politizam, adquirem na luta consciência de sua condição e de seus objetivos revolucionários, e não precisam ficar à espera de que uma vanguarda lhes leve de fora a consciência. A vanguarda, o partido é porta-voz dos anseios das massas os quais ela sintetiza num programa, mas a vanguarda não substitui as massas em hipótese alguma. Sem essa dialética entre núcleo organizado e espontaneidade das massas não há esperança de mudança radical da sociedade capitalista. Revista d@s banc@rios - Fevereiro 2014

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P Em peça teatral, mulheres refletem sobre opressão

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presentação de um trecho da peça “Carne”, da Kiwi Companhia de Teatro, sobre Patriarcado e Capitalismo. A encenação foi feita por Fernanda Azevedo, Luiz Nunes, Fernando Kinas e Dani Embón. Com foco no aspecto artístico e político, a Companhia apresentou dados sobre a violência contra a mulher, desigualdade e preconceito, entre outras questões pertinentes ao debate. É como narra a atriz em uma das passagens da peça: “Para os homens, o público e o político, seu santuário. Para as mulheres, o privado e seu coração, a casa”. O grupo teatral tem como característica a elaboração do pensamento crítico sobre o teatro e que seja carregado de interesse social. Por este motivo, a equipe pesquisa há cinco anos o tema relacionado à questão de gênero.

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Revista d@s banc@rios - Fevereiro 2014

Entre maio de 2010 e setembro de 2011, a Companhia desenvolveu um conjunto de atividades sobre a questão de gênero, além de uma montagem teatral, apresentada cerca de 70 vezes em todas as regiões de São Paulo, e este registro é parte destas atividades.

Histórico

A companhia completa 17 anos de teatro em 2013 com uma quinzena de montagens teatrais já produzidas. Um dos objetivos do grupo responde à necessidade de, simultaneamente, fazer e pensar o teatro, contribuindo para a construção de pensamento crítico à respeito da sociedade brasileira.


Publicação de responsabilidade da Contraf/CUT Rua Líbero Badaró, 158, 1º andar, Centro - São Paulo, SP - CEP: 01008-000 Fone: (11) 3107-2767

Presidente Carlos Alberto Cordeiro da Silva (Itaú Unibanco/SP)

Diretores Executivos

Vice-Presidente Carlos de Souza (Banco do Brasil/RJ)

Bárbara Peixoto de Oliveira (Caixa Econômica Federal/DF)

Secretaria-Geral Ivone Maria da Silva (Itaú Unibanco/SP)

Marcos Aurélio Saraiva Holanda (Caixa Econômica Federal/CE)

Secretaria de Finanças Roberto von der Osten (Itaú Unibanco/PR)

Manoel Elídio Rosa (Itaú Unibanco/SP)

Secretaria de Imprensa Ademir Wiederkehr (Santander/RS)

Rosalina do Socorro Ferreira Amorim (Banco do Brasil/PA)

Secretaria de Relações Internacionais Mário Raia (Santander/SP)

Fabiana Uehara Proscholdt (Caixa Econômica Federal /DF) Mauri Sérgio Martins de Souza (Itaú Unibanco/SP) Sérgio Ricardo Siqueira (HSBC/SP) Simoni Nascimento de Abreu (Itaú Unibanco/SC)

Secretaria de Saúde do Trabalhador Walcir Previtale (Bradesco/SP) Secretaria de Formação William Mendes (Banco do Brasil/SP) Secretaria de Organização do Ramo Financeiro Miguel Pereira (HSBC/RJ) Secretaria de Políticas Sociais Andrea Freitas de Vasconcelos (Bradesco/RR) Secretaria de Assuntos Sócios Econômicos Antonio Pirotti (Banrisul/RS) Secretaria de Políticas Sindicais Carlindo Dias de Oliveira (Bradesco/MG) Secretaria de Assuntos Jurídicos Alan Patrício Menezes Silva (HSBC/PE) Secretaria da Mulher Deise Aparecida Recoaro (Santander/SP) Secretaria de Relações do Trabalho Adílson Martins Barros (Bradesco/RJ)

Coordenação e Edição: José Luiz Frare Redação: José Luiz Frare, Maria Ester Costa e Júnior Barreto. Projeto gráfico e diagramação: Tadeu Araujo Fotografias: Paulo Pepe e Jailton Garcia Impressão: Bangraf (11) 2940-6400 Tiragem: 6.000 exemplares

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8 DE MARÇO

Dia Internacional da Mulher 2014

M u l h e r e s e m lu t a p o r IGUA L D A D E LIBERDADE AUTONOMIA Local / Data

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