Revista Roosevelt

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editorial

porto de partida... e chegada

A Rua Augusta era como uma zona portuária, um caos harmônico onde a diversidade de seres humanos transitava e trocava experiências entre o sobe e desce nas calçadas aglomeradas e o atravessar a rua entre carros barulhentos. Mas Cronos é implacável, disfarçado de especulação imobiliária fechou baladas, expulsou botecos, tirou as moças das esquinas, construiu prédios residenciais, enfim, higienizou e segue higienizando a região. Assim, as pessoas se viram impulsionadas a descer, levadas pela correnteza do progresso em direção ao centro e a outro porto: a PRAÇA Roosevelt. Não é de hoje que a praça recebe “refugiados” de todas as espécies, foi testemunha de apresentações memoráveis de talentos da música brasileira, ponto de drogas e prostituição, locação do filme Noite Vazia de Walter Hugo Khouri, reduto do rock com Cais e Hoellish, símbolo da luta contra a ditadura através do nome do Teatro Studio Heleny Guaribe (ativista política desaparecida em 1971), recebeu David Bowie e ressurgiu artisticamente com a chegada do grupo teatral Os Satyros e a abertura do Espaço Parlapatões. Tantos altos e baixos que a palavra para defini-la é resistência. Teimosa, cai e levanta e segue, sempre, aberta a todos que nela chegam. Regras? Respeito à diversidade. E é assim que a Roosevelt Magazine chega nesta primeira edição, com respeito às diferenças, refletindo e discorrendo polêmicas e assuntos da ordem e/ou desordem do dia, conversando com talentos reconhecidos e apresentando os anônimos. Nosso “porto de partida” é aqui, dele seguiremos viagem e a ele retornaremos ao término de cada edição. Bem-vindos. roosevelt


sumário

expediente

desenrola iaco moda sangue novo logo ali cep 01303-020 dna pizza 10

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desenrola

Escrita Urbana:

mais viva que nunca

Por Caru Albuquerque

Das manifestações políticas nos anos 1960 passando pelo status de arte e a caça às bruxas da atual gestão, o muros dizem muito sobre a sociedade. Para alguns, a pixação (escrita urbana angulosa originária de São Paulo, praticada por grupos e que se diferencia da pichação tradicional) é sinônimo de competição, reconhecimento, amizades e diversão. Para muitos, é apenas sujeira e vandalismo. Ou era, até um grupo atacar a 28ª Bienal, conhecida como Bienal do Vazio. Foram cerca de 50 pessoas encabeçadas pelos mesmos da invasão à faculdade Belas Artes e à galeria Choque Cultural, em julho e agosto do mesmo ano, respectivamente. Em todas as ações, eles ataroosevelt

caram os locais pixando o nome de seus grupos. Ao atingir o calcanhar de Aquiles de intelectuais, mecenas e lideranças da arte institucionalizada, a pixação entrou para rodas de conversa, debates e até para a Bienal seguinte – não deixando de receber duras críticas de outros pixadores e do público. Na mesma época, um dos líderes dos ataques foi convidado pela Fundação Cartier de Paris para participar de uma exposição de arte urbana. Ele espalhou seu pixo por


todos os cantos em uma sala da exposição. Como era de se esperar, foi acusado por outros pixadores de institucionalizar a pixação. Além disso, nem todos concordavam e alguns continuam sem concordar com a bandeira “pixação é arte” que passou a ser levantada desde o ataque à faculdade. Vieram então livros, filmes, documentários, programas de televisão e entrevistas – um ciclo que se repete toda vez que um novo acontecimento sobre pixação chega ao grande público. Como antecedente desses fatos estava a Lei Cidade Limpa, de 2006, que levou o prefeito Kassab a fazer um apagão muito maior que o visto agora. Além de graffitis, lambe-lambes, bombs e tags, a administração pintou de bege muitas pixações antigas, mas carregadas de história. Isso gerou pela primeira vez entre os pixadores uma reflexão mais profunda sobre a memória do movimento. Na época, e-mails de protesto chegaram a circular entre os pixadores e uma manifestação foi marcada em frente à prefeitura,

mas sem resultados. Aqui faz-se necessário abrir parênteses. No Brasil, a pichação se enquadra na legislação de crimes ambientais. A atitude moderna – da modernidade – de escrever nas ruas ganha proeminência no país nos anos 1960 com as manifestações políticas. Mais tarde, vieram frases de anônimos e pichações de artistas, como “Celacanto provoca maremoto” e “Lerfá um”, no Rio de Janeiro, e “Rendam-se terráqueos”, “Sou pipou”, “Rainha do Frango Assado” e “Cão Fila”, em São Paulo. Ainda no âmbito da escrita, nos anos 1980 os muros de São Paulo

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também passaram a receber nomes dos grupos de punks, que copiavam das bandas de rock pesado o formato das suas letras - está aqui a raiz das letras angulosas. Com o tempo, pessoas ligadas a outros estilos de vida começaram a entrar nesses grupos, alterando as intenções iniciais e transformando continuamente essa cultura até chegar ao estágio de abstração do código verbal, da quantidade de escritas pela cidade e da competição por locais de difícil acesso que to-

dos vemos hoje. Essa manifestação de escrita angulosa é grafada com X por seus praticantes, que escrevem o nome ou o brasão dos grupos pela cidade. Assim, o contexto da São Paulo na década de 1980 fez nascer aqui a pixação, um fenômeno original de uma cidade de cultura ocidental, localizada num país em desenvolvimento, capitalista, com uma periferia enorme, carente de escolas e distante dos principais equipamentos culturais e de lazer. E é neste cenário que ela difere das outras escritas urbanas como, as de, a do Iaco, Mauro (“A gente precisa ver”), Saci Urbano e Enivo (“Tempo”), que considero “pichações poéticas” – e não apenas pichação, que pode ser qualquer garatujo no espaço, seja urbano ou não, seja escrita ou não.


desenrola A origem e a evolução da pixação em São Paulo expõem uma periferia sem aparelhagem pública, com diferenças sociais extremas e uma polícia que não cumpre sua função – ao fazer vista grossa, ela influenciou o crescimento do número de praticantes e o incremento da técnica. Mas, afinal, pixação é arte? Os pixadores pensam num nome, criam letras, desenvolvem sofisticadas grifes (logomarcas de vários grupos reunidos), refletem sobre a espacialidade da palavra no ambiente urbano e escalam a cidade de forma criativa, ou seja, existe um processo artístico na atividade. Qualquer coisa pode ser feita com intenção de arte ou, se não é no propósito, pode ser institucionalizada e, a partir de então, ser arte. Mas importante frisar que defini-la como arte não é, digamos assim,

instaurar uma qualidade, mas carimbar com os olhos da indústria cultural e da história da arte uma expressão suburbana que se originou sem essa intenção e que sugere o questionamento dos padrões vigentes. Arte ou não aos seus olhos, aos olhos dos outros ou das instituições artísticas, a certeza que temos é que pelas regras atuais a pixação é ilegal quando acontece sem autorização nos muros dos outros e no muro público. E aqui cabe a reflexão: fora dos muros, autorizada dentro de um museu, seria ainda pixação? Uma votação na Câmara dia 10 de fevereiro aumentou o valor da multa para os pichadores, resgate de um projeto de lei de 2005 que foi arquivado na época do Kassab. Uma falha é que a lei agora distingue pichação como sendo tudo o que é


fotos Caru Albuquerque

escrito e “grafite”, o que é desenho, sendo este sempre arte e livre de punição. Antes era tudo crime, mas raramente alguém era fichado. A lei não considera as nuances do universo da escrita urbana, não distinguindo pixação, pichação poética, pichação, bombs e tags – inclusive estes dois, apesar de letra, são parte da cultura do graffiti. Bem mais organizados que há dez anos, estavam presentes muitos pixadores, que defenderam seus pontos de vista e reivindicaram punições mais brandas. O pichador flagrado será multado em

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R$ 5 mil e se o ato for contra patrimônio público, se o bem for tombado o valor sobe para R$ 10 mil. Até o vencimento da multa, o responsável pode firmar um termo de recuperação da paisagem urbana e se comprometer a reparar o bem pichado. Então, como agora a ordem é reprimir, se você resolver lançar um “te amo” por aí é bom ter cuidado redobrado – ou corre o risco de levar uma multa nada básica. Caru Albuquerque é curadora e desde 2005 pesquisa arte urbana.



iaco: 12 x

polêmico

Após escrever “Doria”, nome do atual prefeito de São Paulo, sequencialmente por 12 vezes, num ato de protesto contra o programa Cidade Linda, que apagou 15 mil metros quadrados de paredes com graffiti e pixação na Avenida 23 de Maio, *iaco virou história. Fui até sua casa pra conversar e entender mais esta história... Por Bob-Donask roosevelt


ROOS. iaco, conte pra gente um pouco de sua trajetória. iaco. Iniciei minhas intervenções na rua através da pixação tradicional em 1996. Depois de alguns estudos, resolvi adotar outra tipografia com uma letra cursiva e estilizada, *iaco, criada em 2000 e tirada de um dos personagens do desenho Animaniacs. Logo em seguida comecei a acrescentar adjetivos ao nome pra que houvesse mais interação com a sociedade, e, como já sabia desenhar desde pequeno, criei o *Dinossauro, que faz menção a tudo que é extinto no país.

ROOS. De onde vem a sua inspiração? iaco. Do cotidiano, das pessoas, das conversas que tenho em mesas de bar, de filmes que assisto e, principalmente, da arte. Porque leio livros desde criança e meu sonho sempre foi poder fazer parte da história da arte, de alguma forma. Nunca deixo de acreditar e sigo estudando. Na verdade, tudo é um aprendizado, até a situação que nos trouxe a este abismo cinza, tenho aprendido muito... Fazer um trabalho no muro é algo sem palavras, não dá pra qualificar e descrever... Mas a sensação de liberdade, de estar vivo é muito grande.

ROOS. Como você se define? Grafiteiro, pixador... iaco. Sempre digo que não sou nem grafiteiro nem pixador, porque só uso os muros da cidade como suporte, escrevendo ou desenhando. Procuro sempre estudar e manter minha mente focada nas minhas ideias.

ROOS. Você acha que antes de apagar os graffitis da 23 de Maio, o prefeito deveria ter feito uma reunião com representantes da arte de rua na Secretaria Municipal de Cultura? iaco. Acho que antes de tomar essa atitude ele deveria ter consultado a população, porque, apesar de ele sempre enfatizar que não é um político e sim um gestor, ele trabalha pra população e, sendo assim, não é chefe de ninguém. São Paulo não é uma empresa, a gente paga impostos e o salário dele é pago por nós. Mas não é só culpa dele, é também do secretário de Cultura, temos muitos problemas na cidade, e gastar dinheiro apagando um muro que era uma marca, não só da antiga gestão mas, principalmente, da cidade, chega a ser um crime, além de uma falta de respeito com a população. Eu e todos os artistas envolvidos nas pinturas da 23 de Maio fomos

ROOS. Há diferenças entre pixo e graffiti? Quais? iaco. A maior diferença, na minha opinião, entre o graffiti e a pixação é a interpretação que as pessoas têm de ambos, porque o graffiti, apesar de ser agradável aos olhos, na maior parte das vezes, tem seu lado marginal como a pixação, que é a essência da cultura. Tudo começou com a escrita em cavernas e rochas, a arte rupestre, e segue nos dias de hoje com a pixação e o graffiti. São dois diferentes tipos de evolução e adaptação aos novos tempos.

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pagos pra fazer as intervenções que se tornaram o maior mural de graffiti a céu aberto da América Latina. E, por incrível que pareça, fomos pagos pela população, a mesma que o elegeu e paga seu salário.

intervenções diferentes e impactantes, e poder fazer com que as pessoas pensem... olhem, pelo menos uma vez, de um jeito diferente o mundo ao seu redor... sabe, causar uma reação, a arte serve pra isso e é isso o que me dá motivação pra continuar. Agora, sobre toda essa repercussão, acho que tanto a população quanto a mídia viram esta ação de uma forma positiva, muitos apoiaram e se sentiram representados.

ROOS. Esta atitude do prefeito, na sua opinião, vem da falta de conhecimento e sensibilidade com relação à cultura de rua, ele foi mal assessorado ou reflete uma política de governo? iaco. Acho que é uma combinação disso tudo e mais um pouco. A cida- ROOS. No último 31 de janeiro, você de pra mim não funciona só como esteve no Mirante 9 de Julho, onde um meio de locomoção, mas de in- foi exibido o filme Cidade Cinza, de teração; ao contrário do prefeito que Marcelo Mesquita e Guilherme Vavê São Paulo através de liengo. Após a exibição, um vidro blindado que “A cidade pra mim houve um debate em que distorce sua real condinão funciona só falaram Djan (conhecido ção, suas necessidades Cripta), o grafiteicomo um meio de como e sua cultura de rua. ro Binho, que atualmente locomoção mas representa os grafiteiros ROOS. Por que você es- sim de interação” em São Paulo, e João Wacreveu o nome do prefeito iner, um dos diretores do repetidamente na 23 de Maio? documentário PIXO. Qual a sua opiiaco. As 12 escritas foram feitas de nião sobre o que foi discutido? forma simbólica pois o número 12 é iaco. No dia da exibição dos filmes, um número importante na numero- não deu muito pra escutar o debalogia. Eu sabia que seriam apagadas te porque começou a chover, mas rapidamente, apagar seu próprio achei a atitude do proprietário do Minome é destruir seu “Eu”, seu ego. rante 9 de Julho (Facundo Guerra) Acho que não poderia deixar a histó- muito boa pois abriu espaço pro diária passar em cinza, a arte também logo de um assunto que é muito imserve pra isso. portante. A prova disso é o número de gente que estava lá pra ver e ouvir ROOS. E como você acredita que a aquelas pessoas, mesmo na chuva. população vê este seu ato? Sobre os envolvidos, só não entendo iaco. Na maioria das vezes penso em porque o Binho Ribeiro foi chamado

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pra fazer parte desse debate, já que sempre faz painéis e trabalhos vinculados à prefeitura, independente de quem seja a gestão. E “representante” é uma palavra inadequada pra ambos (Djan e Binho), existem muitas pessoas que fazem pixação e graffiti e nem todas têm a mesma opinião e atitude. Mas acho válido conversar, debater, mostrar que somos pessoas civilizadas e não criminosos, como tem dito o nosso prefeito. ROOS. Parece que o prefeito e o secretário de Cultura André Sturm terão uma reunião com os grafiteiros de São Paulo e os “representantes” do graffiti no estado. Pra você quais são as motivações dessa reunião? iaco. O graffiti sempre é visto com bons olhos, é mais domesticado. A guerra desta gestão é contra a pixação. Falando da reunião, são sempre as mesmas pessoas que participam delas, porque tem sempre dinheiro envolvido. Mas na hora de correr algum risco pra intervir na rua, ninguém aparece, a maior prova disso foi a 23 de Maio que permaneceu pintada de cinza durante uma semana... até eu ir lá e intervir. ROOS. Na primeira sessão plenária do ano na Câmara Municipal, com a presença do prefeito, o vereador Eduardo Suplicy levou o grafiteiro Mauro Neri, que faz parte do coletivo Veracidade e foi detido quando estava restaurando um dos seus graffitis apagados próximo ao Parque do Ibirapuera. Você acha que esta iniciativa resultará em alguma mudança política efetiva em relação a este assunto? iaco. O vereador Eduardo Suplicy entende as necessidades de São Paulo como nenhum outro político desta cidade. Acho válido o que ele fez, gosto de pessoas que tomam atitudes e não são oportunistas. E o Mauro fez o que achou que deveria ser feito, não sei se vai ter algum resultado, só o tempo dirá.

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ROOS. Em uma entrevista à Folha de São Paulo, com a 23 de Maio já cinza, o secretário da Cultura afirmou: A gente já tinha isso de dezembro e iria anunciar em março, mas, como o graffiti se tornou um assunto tão importante, a gente resolveu antecipar, para mostrar que o graffiti é fundamental nesta gestão. Como você lê o depoimento do secretário? iaco. Eles perceberam o erro e estão tentando maquiar, como fazem com quase tudo na cidade nesta gestão. Todos nós sabemos que a cidade tem coisas bem mais importantes a serem resolvidas, por exemplo, a Cracolândia, as enchentes, os buracos na rua, as redes de esgoto. Maquiagem só é feita quando se permite. ROOS. A verticalização de São Paulo possibilita aos pixadores a exploração de um espaço quase infinito. E com relação aos murais de graffiti? iaco. A verticalização da cidade só adaptou a tipografia ao formato atual. A cidade e a escrita evoluem juntas, cada uma de uma forma diferente. Pra fazer murais de graffiti é mais difícil porque não sobra muito espaço amplo e acessível quando se

“ Viver de arte num país de terceiro mundo é difícil e não falo só das artes visuais, falo também de música, dança” roosevelt

verticaliza tudo. Por isso, a forma de graffiti chamada throw up (throw up é vomito em inglês, ou seja, trata-se de um estilo simples e rápido de grafitar que utiliza poucas cores, letras, na maioria das vezes arredondadas, e que, geralmente, é feito à noite em lugares não autorizados como portas de lojas, muros, paredes ou até mesmo pequenos caminhões) ou Bomb’s, como é conhecida, é mais viável na cidade e eu, particularmente, gosto muito. ROOS. Há rumores que o prefeito João Dória vai lançar o programa (M.A.R.) Museu de Arte de Rua. Você acha que grafiteiros e pixadores vão estabelecer suas artes dentro dessas áreas determinadas pela prefeitura? iaco. Acho que algumas pessoas vão usar o espaço pra praticar, mas vai ser muito difícil aquelas que realmente fazem a cena acontecer utilizarem esse espaço, principalmente os pixadores, que sempre procuram novos suportes e lugares pra ocupar. Mas por um lado é bom ter esse espaço, você pode levar seus filhos e netos pra aprender, sem os riscos que a rua oferece. ROOS. O secretário da Cultura diz que os artistas que fizerem parte deste programa serão remunerados. iaco. Só acredito vendo! ROOS. Qual é o futuro da arte de rua? iaco. A cultura de street art é muito forte na Europa. A Europa é o berço


da arte do nosso tempo e o lugar de onde saíram muitos mestres da pintura, Picasso, van Gogh, Modigliani, Renoir, Miró, Kandinsky. Não é em Miami que pesquiso pra saber o que é arte e qual a sua história. ROOS. Já teve algum trabalho seu em galeria de arte? iaco. Um tempo atrás tinham muitos trabalhos meus em galerias, e no ano passado resolvi tirar todos, pois não acredito no jeito que as galerias trabalham. É preciso uma adaptação ao nosso tempo. ROOS. Como você vê os artistas que começaram mostrando seus trabalhos nos muros da cidade e depois migraram para as galerias? iaco. Viver de arte num país de ter-

ceiro mundo é difícil e não falo só das artes visuais, falo também de música, dança. Viver de arte no Brasil é um sonho pra poucos. O fato de muitos grafiteiros estarem pintando e expondo seus trabalhos tem o lado bom, retorno financeiro e projeção, mas também tem o lado ruim, eles quase não pintam mais na rua, e o graffiti tem que ser feito na rua porque esta é a sua essência. Pra fazer arte você tem que estudar, não é só transportar o que fazia na rua para um tela. A arte é muito ampla, não é só um suporte, ela tem que trazer sentimentos impressos em cada cor, risco e traço. *iaco está grafado em letra minúscula porque se trata da sua assinatura como artista visual


moda

Estratégia de mercado: esporte e urban lifestyle

Por Ariane Cordeiro

A Fila anda, com estratégia e sensibilidade, em direção ao jovem urbano brasileiro. Não é de hoje que o centro histórico de São Paulo, que corresponde às imediações da região em que foi fundada a cidade, serve de inspiração para criação de arte e produções artísticas. Assim como a arquitetura, o centro sempre abrigou um leque de pessoas oriundas de cidades, estados, países, tribos e classes sociais diferentes. A diversidade está no comportamento e no estilo de vida dos paulistanos. O modus operandi dessa máquina (São Paulo) foi o que chamou a atenção de marcas estrangeiras, como é o caso da italiana Fila, que em 2014 inaugurou roosevelt

suas primeiras lojas no país. A Fila é comercializada no Brasil pelo grupo Dass, que desde 2007 tem o direito de propriedade da marca na América Latina. Dos artigos importados às marcas próprias, a Fila chega a 2017 inserida no livestyle urbano, onde pessoas, moda e comportamento se unem e formam um estilo próprio. “A proposta é que cada um tenha a liberdade para assumir o seu estilo”, afirma Bruno Rosolem, coordenador de marketing da Fila e responsável pelo reposicionamento da marca no Brasil.


Aos 33 anos, Bruno, residente do centro da cidade, trabalha há oito anos no grupo Dass (com passagem de 2008 a 2013, e de 2015 até o momento). Entre 2013 e 2015, saiu da companhia para assinar, junto com dois amigos, uma marca própria chamada “Whole”. “A experiência me fez amadurecer profissionalmente. Quando voltei para a Fila, tanto eu quanto a marca estávamos em momentos de crescimento, por isso casou, e muito bem, o meu retorno”, avalia. Após a empreitada comercial, Bruno retornou à Fila, em 2015, com o desafio de reestruturar a marca. “2016 foi o ano de arrumar a casa. Começamos algumas tímidas campanhas, mas encerramos muito satisfeitos. Agora, para 2017, a estratégia é avançar, crescer e conquistar o brasileiro”, afirma. No Brasil, a aposta está nos estilos de vida autênticos, novas e antigas vertentes da moda, do esporte e da música, como o rap e o hip hop, tendo sempre a cidade como pano de fundo. “O foco? Jovens que gostam de estilos antigos, mas, ao mesmo tempo, modernos”, revela. Entre as marcas que terão destaque estão a “Haight”, maiôs e body desenhados pela estilista Marcela Franklin, com a pegada de fardamento atlético dos anos 1970 e 80; a “Dermetropal”, de roupas, tênis e acessórios desenhados por Mário Francisco; a exclusiva “Your ID”, na linha do streetwear; a “Whiteline”, conhecida pela linha de basquete anos 1990; e a “Blackline”, fardamentos inspirados nos anos 1980 e 90.

Mesmo com muitas boas novidades, a marca sabe que o trabalho será intenso, principalmente pelo domínio das gigantes Nike e Adidas no mercado. “Sabemos dos desafios, a sensibilidade para entender e trabalhar os pontos latentes é o que nos guiará.” Bruno destaca o trabalho com uma comunicação 360º e a conexão entre os diversos estilos e mundos urbanos, do fashion ao hype, além da inspiração: olhar para tudo o que rola em cultura e comportamento, extrair com base em estudos e vivência o lifestyle urbano. “O papel do cidadão é enxergar conexões, conectar as pessoas e também ser uma conexão, não tendo barreiras e sim filtros na visão.”

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sanguenovo

A Roosevelt Magazine apresenta a diversidade cultural no centro de São Paulo. A cada edição a coluna “Sangue Novo” vai conversar com um artista que está em início de carreira, mas que já “quebra tudo”! Cada um com seu talento injetando sangue novo no velho centro. O primeiro convidado é o DJ Andrew Cardozo. Nascido em Duque de Caxias (RJ), Andrew chegou a São Paulo com o objetivo de tocar na noite paulistana. Aos 22 anos, o carioca fala um pouco sobre seu estilo, influências musicais, culturais, a experiência em baladas e na noite de São Paulo. Confiram! roosevelt

Nome completo: Andrew dos Santos Cardozo, conhecido como DJ Andrew Cardozo O que faz? DJ e técnico de som Onde encontrá-lo? DJ Club Bar, Clube Aloca, Alberta #3, London Station, Poison Bar, Templo Club, Espaço Elevate e Bar do Netão Residente: O Lourdes O que toca: Disco & House e subgêneros – transita no set sem ser estático a um ritmo ou gênero Principais influências Giorgio Moroder, Tom Tom musicais: Club, Jean Michel Jarre, Donna Summer, DJ Sneak e Todd Terry Influências culturais Larry Levan, Frankie Knuckles, (inspirações): Thomas Bangalter & Hardrive Balada preferida: O Lourdes e D-edge Praça Roosevelt: Galera do skate O que espera no Mais festas abertas, gratuitas, centro: rolando diversos ritmos, e muita, muita gente dançando!



m e r e u q s e el você

“assaltar”

Após 48 anos da sua estreia, O Assalto, peça de José Vicente, volta aos palcos mais atual que nunca. Espaço Cia. da Revista, 8h da noite, chego para uma entrevista com o ator e diretor Gustavo Trestini, que desta vez assina a direção da peça O Assalto, do dramaturgo José Vicente. Encenada pela primeira vez com grande sucesso em 1969 no Teatro Ipanema, e depois em 2004, também com forte repercussão, no Teatro Oficina, ela volta agora mais uma vez. Conversei com ele sobre a importância e a atualidade do texto nos dias de hoje.

Por Rita Gentile

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logoali ROOS. Gustavo, como o texto O Assalto chegou até você? GUSTAVO. Eu fiz artes cênicas na Unicamp e estudei dramaturgia brasileira, O Assalto é um clássico da nossa dramaturgia. Sempre gostei, mas confesso que o achava datado. Um dia, no primeiro semestre de 2016, Fábio Santarelli, ator e produtor da peça na montagem atual, me reapresentou o texto e pediu para assistir a uma leitura. Fizemos a leitura e fiquei muito impressionado com o frescor da obra. Pensei, “Este texto tem que ser feito agora. Ele é apropriado para os nossos dias”. Por quê? Porque fala das angústias que vivemos hoje na sociedade, principalmente aqui no Brasil após o impeachment, mostrando um pouco este nosso estado de desesperança... temos muita vontade de luta, mas também há desesperança. São dois personagens massacrados por um sistema que destrói tudo, um deles trabalha tendo consciência disso, o outro não. Isso me interessou muito.

Ele é de que ano? O texto foi escrito pelo dramaturgo José Vicente em 1967 e encenado no Teatro Ipanema, Rio de Janeiro, em 1969, com direção de Fauzi Arap. O primeiro texto de José Vicente é Santidade, de 1960. Aliás, a atriz Tônia Carrero chegou a produzi-lo em 1968, mas a censura proibiu a encenação. Na época, o presidente Costa e Silva chegou a ir a televisão e maldisse a peça em rede nacional afirmando que este tipo de “coisa” jamais seria montada no Brasil. Após ter seu primeiro texto proibido, José Vicente passou pelo crivo da censura com O Assalto que acabou sendo encenada e obteve um enorme sucesso. Ele só tinha 22 anos na época. Um gênio. E o elenco original? Contou com Ivan de Albuquerque e Rubens Corrêa, dois grandes atores e fundadores do Teatro Ipanema. Se não me engano O Assalto foi o primeiro grande sucesso desse teatro, a partir dele o Ipanema passou a ter forte relevância na cena teatral brasileira, o que mantém até hoje.

“O ASSALTO fala das milhões de telas as quais estamos conectados e, por isso, extremamente solitários, com nossos smartphones, nossos fones de ouvido”

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logoali Soube que O Assalto foi para o cinema. O diretor Walter Lima Júnior, em 1971, fez uma versão cinematográfica da peça, chamada Na Boca Da Noite, dentro da linguagem do Cinema Novo. Um filme atualíssimo, vale a pena ver, está disponível no YouTube. No elenco atuam os mesmos atores da montagem do Teatro Ipanema. A informação que eu tenho é que o filme foi rodado num feriado de carnaval. Eles fecharam um banco, entraram, fizeram uma locação externa detalhando a arquitetura de modo que o prédio fosse o terceiro personagem da trama, onipresente, opressor. A forma como ele dirigiu Walter Lima Júnior, não preciso dizer mais nada! A peça se passa num banco, que hoje trabalham com a tecnologia. Foram necessários ajustes no texto? Sim, uma agência bancária dos anos 1960 não tem nada a ver com o setor bancário atual. Hoje o dinheiro praticamente não existe, são bits e bytes que correm dentro de um sistema de computador. Tudo é através de um terminal de computador, os valores vêm e vão pela internet, não migram mais fisicamente. Esta foi uma questão na peça, atualizar o texto ou não – se manteríamos o texto na década de roosevelt

1960 enfatizando a relação entre os personagens ou se o traríamos para aqui, agora.Resolvemos atualizá-lo, e a agência, na peça, tem, obviamente, terminais de computadores. A assistente de direção alterou parte do texto em que o personagem Vitor se refere ao despertador como objeto que marca o compasso da vida das pessoas, colocando o smartphone em seu lugar. O smartphone hoje é o despertador para todos os momentos e não só para tocar pela manhã, é aquele que te vigia o tempo todo – essa ideia de ser vigiado por um aparelho que você carrega consigo já foi tratada em várias crônicas. Isso abriu para uma discussão: a tecnologia é parte da estrutura de dominação e da engrenagem que passa por cima de tudo. Qual a relevância da peça hoje? Zygmunt Bauman, grande filósofo, pensador e cientista que acabou de falecer, fala das “sociedades líquidas”, das “relações líquidas”, dessas coisas que não se constroem, não têm corpo e se desfazem como o líquido, utilizando esta metáfora como espelho da sociedade contemporânea e sua sensação de profunda solidão. Solidão é o principal tema da peça, pessoas solitárias e presas a um sistema do qual não conse-

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guem sair, e ao mesmo tempo que têm à disposição tantas ferramentas de comunicação. O Assalto fala das milhões de telas às quais estamos conectados e, por isso, extremamente solitários, com nossos smartphones, nossos fones de ouvido. Mas também há outro tema que era relevante nos anos 1960 e segue sendo hoje: a sustentabilidade. Quando se pensa em sustentabilidade se pensa logo em preservação da natureza etc., mas sustentabi-

lidade neste caso é “até que ponto o homem consegue sobreviver em um sistema que tira tudo o que ele tem a oferecer”. Hoje se fala muito em “metas sustentáveis” no mundo corporativo, a cada ano este sistema precisa gerar mais lucros, o que gera a problemática da sustentabilidade do planeta. Mas e o homem diante disso tudo? Chega um momento em que o indivíduo, seus valores e sua vida não se sustentam, veja os casos de suicídio no Japão

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logoali e a forma como as empresas tiram o sangue dessas pessoas. Com relação a isso tudo, José Vicente era um visionário, pois percebeu este movimento já lá na década de 1960 e agora estamos no seu ápice. O que você pode adiantar da peça? Vitor, um bancário, em um determinado dia fica após o expediente e aguarda a chegada de um faxineiro pelo qual nutre grande admiração e desejo. Também há uma forte projeção de uma série de coisas que ele acredita que este faxineiro representa, como se ele fosse uma espécie de antídoto para sua solidão dentro dessa estrutura. E nesta noite especial muitas coisas irão acontecer. Existe uma metáfora no título O Assalto, Vitor tenta “assaltar” este ser humano e tirar dele alguma coisa com que possa se relacionar verdadeiramente. E o público, você acredita que ele será “assaltado” pela peça? Assim esperamos! Ao que tudo indica, no final da pré-estreia, que assisti ao lado de parte da imprensa e de convidados, eles conseguiram, pois foram aplaudidos por um longo tempo.

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O ASSALTO

Espaço Cia. da Revista Al. Nothmann, 1135 Sta. Cecilia Terças, quartas e quintas as 21h Ingressos R$ 40,00

Quem apresentar a Roosevelt Magazine na bilheteria paga meia entrada. ENQUANTO ESPERA... Na Cia da Revista você encontra o Delícias do Poeta, um bistrô charmoso onde pode beber suco, cerveja ou até mesmo uma boa taça de vinho. Se estiver com fome é só pedir panqueca, focaccia ou cuscuz marroquino. Aberto das 19h às 23h nas noites do espetáculo.



a bossa da Roosevelt Por Sérgio Barbo

Na década de 1960, a Praça serviu de insuspeito cenário para a popularização da Bossa Nova

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CEP01303020

É fato notório que a Bossa Nova surgiu no Rio do Janeiro no final dos anos 1950, mas foi em São Paulo que o gênero encontrou terreno fértil para se desenvolver na década seguinte. E foi justamente na Praça Roosevelt e arredores, graças ao seu circuito de casas noturnas, que o ritmo se proliferou. A Baiúca, Cave, Stardust e Djalma’s compuseram esse prolífico cenário, numa época em que a Praça era basicamente um grande estacionamento. Por um instante, ali foi a nossa Ipanema. A mais famosa e duradoura casa foi A Baiúca, misto de restaurante e piano-bar, fundada em 1956 na Rua Major Sertório, e logo transferida para a Roosevelt. Foi lá que o Zimbo Trio se formou, e por onde passaram artistas como o pioneiro Johnny Alf, Walter Wanderley, Claudette Soares e Maysa.

A Baiúca, Cave, Stardust e Djalma’s, A Baiúca, Cave, Stardust

A Baiúca, Cave, Stardust e

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CEP01303020 A frequência de público era intensa e, certa vez, a atriz inglesa Vivien Leigh, do filme E o Vento Levou, visitou o local, porém, viu-se obrigada a fugir dali, com os sapatos na mão, após uma confusão armada por um fã bêbado e exaltado. Em 1994, com a degradação da região, A Baiúca se transferiu para o Itaim. Hoje, um supermercado ocupa seu espaço. A boate Cave, na Rua da Consolação, também foi palco de importantes artistas, como Baden Powell e Alaíde Costa, e teria sido lá que Vinícius de Moraes proferiu a famosa frase “São Paulo é o túmulo do samba”, ao se irritar com frequentadores que atrapalhavam a apresentação de Johnny Alf. Do outro lado da praça ficava a “rival” Stardust, cujo coproprietário era Alan Gordin, pai do futuro guitarrista da Tropicália Lanny Gordin. Jair Rodrigues, acompanhado por Hermeto

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Pascoal, era uma das atrações, enquanto entre a clientela havia figuras como Bob Kennedy. Tempos depois, a Stardust cederia lugar ao Bon Soir. Havia ainda o Farney’s (do cantor Dick Farney), que foi adquirido pelo pianista carioca Djalma Ferreira e reinaugurado como Djalma’s, em 1962. Lá, Elis Regina, ao lado de Sílvio César, fez seu primeiro show na cidade, em agosto de 1964. Todas essas casas são história passada, mas a boêmia dos anos dourados ainda permeia, em parte, a velha Roosevelt. O badalado bar Papo, Pinga e Petisco, criado por um ex-proprietário do Bon Soir e Cave, o Doca, é situado onde já foi o Djalma’s, e ainda procurado por fãs de Elis Regina.

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Nele fica a Praça Roosevelt, cenário de muitos acontecimentos importantes e curiosos desde que era somente um escampado. A cada edição, uma nova velha história contada por Sérgio Barbo.

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dna Pessoas com seus DNA’s de moda, dança, música,

teatro, cinema, enfim, de todas as artes, juntas e misturadas, pra você conhecer melhor.

Das grades ao bom som:

Caiuby

“Rapper e MC, profissão que veio após sair da cadeia.”, diz Caiuby Onirejá da Silva e Souza, 35 anos, mostrando que não tem vergonha de contar o que passou e de onde veio a inspiração. Até porque o neto do Seu Nenê, fundador do Grêmio Recreativo Escola de Samba Nenê da Vila Matilde, uma das escolas de samba mais tradicionais de São Paulo, cresceu com a presença de grandes compositores brasileiros em sua sala de estar. “Ali sim era uma verdadeira escola!”, completa. Nos anos 1990, cantava samba e pagode “para os outros” nas horas vagas e trabalhava em uma empresa de telemarketing. Foi quando conheceu, dentro do trem, o rapper Mano Son, do grupo Tiro Inicial. Após esse dia, suas viagens nunca mais foram as mesmas. “Começamos a nos encontrar na estaroosevelt

ção Brás, para fazer um som. Depois de duas semanas, larguei o emprego. Aliás, meu único registro em carteira está como abandono de trabalho”, comenta. Gravou o primeiro álbum em CD, o Promotape, lançado em 2011. Em 2013, se destacou com a música “Vixi Vixi”. O terceiro álbum, intitulado Fidelidade às Raízes, lhe rendeu boas vendas e o prêmio Cultura Hip Hop da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). No ano seguinte criou a “Batalha da 2”, que recebeu grandes nomes como MC Reset e Galera do Funk. Das raízes da Zona Leste, o rapper foi parar no centro. “Aqui é o meu trabalho. Você chega e tem alguém fazendo um som, uma arte. A Praça Roosevelt, por exemplo, é o ponto mais artístico da cidade. Aqui o rap me trouxe e me fez residente.”


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Atitude, coragem e ousadia:

Mário Hag

“Você deveria ser criativo como o seu amigo Mário!” Talvez, a frase mais falada durante uma festa entre amigos em São Paulo. O ano era 1986. Qual Mário? Um jovem que, aos 16 anos, fez o próprio cinto para o evento, com pele de coelho, tingido de onça e forrado com couro. “Na época, foi o maior alvoroço. Todos queriam saber onde eu tinha comprado. Quando disse que fiz, surgiram várias encomendas”, lembra Mário Hag, dono da criação. Um ano depois, ainda no colegial, Mário abriu o primeiro ateliê na casa dos pais, no bairro do Higienópolis. No início dos anos 1990, se dividiu entre o design de joias e o curso de Publicidade e Propaganda na faculdade Cásper Líbero, mais tarde fez Design Publicitário na Escola Panamericana. A carreira em agência, como diretor de arte e dupla de criação com redatores, rendeu bons frutos e comodidade financeira, mas Mário estava cansado. “Decidi que largaria para me dedicar à confecção da minha marca, a Mário Hag.” Então, no finalzinho dos anos 1990, abriu a loja de sua grife de acessórios (bolsas e bijuterias). No mesmo período, cursou pós-graduação em Design de

Calçados e Bolsas, no Istituto Europeo di Design – IED São Paulo. As influências sempre vieram de grandes paixões como a música. “Já customizamos em tecidos de verniz, em couro, mas sempre seguindo uma linha retrô carregada, variando e passando por influências do rock e pop e de movimentos que surgiram nos anos 1980 e 1990, como o pós-punk, clubber e gótico.” Essa liberdade de ir e vir é marca registrada de Mário. Aos 46 anos, já teve três ateliês, o maior deles, fechado em 2012, contava com dez funcionários e uma produção de mil peças por mês. Ele também manteve uma loja própria na Galeria Ouro Fino, desenhou para marcas e trabalhou com estilistas famosos em desfiles e parcerias com grandes marcas, como Walter Rodrigues, Swarovski, Fabia Bercsek, André Lima, Ellus e Samuel Cirnansky. Atualmente, Mário atende aos clientes em um novo ateliê, na Santa Cecília, e voltou a se dedicar à criação. O primeiro trabalho? Com ar de suspense, o estilista comenta que pretende lançar uma coleção com os rostos de ícones da música que nos deixaram no fatídico 2016, como David Bowie e Prince. Agora, é aguardar. roosevelt


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Múltipla arte:

Gabriel Godoy

Gabriel Frias Godoy, nascido e criado em São Paulo, é um dos exemplos de como uma carreira artística pode ser sólida e estável. Jovem e carismático, sabe que não é só de sorrisos que vive um ator. “Ser artista no Brasil é incerto e injusto. Sempre dá aquele frio na barriga”, afirma. Mas, como ele ressalta, o importante é acreditar, trabalhar e seguir um fluxo, sempre aberto a novas oportunidades. Assim é a vida de Gabriel desde que resolveu, há 13 anos, entrar para o teatro. Formado em Artes Cênicas pela Oficina de Atores Nilton Travesso e Arte Dramática pela Universidade de São Paulo (USP), o paulistano aproveitou muito bem as oportunidades. No teatro infantil, Gabriel (vale unificar – Gabriel ou Godoy) atuou em grandes montagens como A Flauta Mágica, Os Canfundó, musicais como Pinóquio e o Mágico de Oz – com este último viajou por todo o Brasil. No tempo em que estudou na USP, Gabriel teve contato com o audiovisual. Entre seus colegas estavam Pedro Morelli e Francisco “Kiko” Meirelles, filho do prestigiado diretor brasileiro Fernando Meirelles. Nessa época, realizou testes roosevelt

para a série O Negócio, de Luca Paiva Mello e Rodrigo Castilho, escrita por Fabio Danesi, Camila Raffanti e Alexandre Soares Silva. A série está há cinco anos no ar – e chega a sua última temporada neste semestre. A exposição como “Oscar”, personagem de O Negócio, o ajudou a conquistar testes para o elenco da Rede Globo, e foi assim que, depois de dez anos, Gabriel pôde se ver e ser visto pelo canal de TV aberta mais assistido da América Latina. Em 2014, o ator participou da novela Alto Astral com o personagem “Afeganistão Pereira”. Já em 2016 estava entre os destaques da novela Haja Coração na pele de “Leozinho”, vilão carismático e atrapalhado, casado com “Fedora Abdala” interpretada pela atriz Tatá Werneck – a crítica especializada elogiou os momentos de humor que o casal proporcionava na trama. Atualmente, Gabriel grava o segundo longa, Restô. Sobre o centro? Assim como a própria dinâmica da profissão, Gabriel está por lá e por cá, adora a arquitetura, os cinemas de rua, bares e parques de São Paulo. “Essa cidade é inspiradora. Vive e respira cultura”, finaliza.


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Na Praça, há resistência:

Gustavo Ferreira

Na tarde da terça-feira, 7 de fevereiro, a gestão João Dória (PSDB) anunciava a proibição do uso da Praça Roosevelt como ponto de concentração ou dispersão de blocos do Carnaval 2017. No mesmo dia, conversamos com Gustavo Ferreira, 33 anos, profissão, ator. Mas, inquieto, gosta do desafio de transitar entre outras funções: produtor cultural da SP Escola de Teatro, professor na Oficina de Atores e diretor no Grupo Experimental, ambos do grupo Os Satyros, e coordenador do Satyrianas (festival de teatro anual com 72 horas de duração), evento também promovido pelo Satyros. E, justamente, por ter tantas responsabilidades culturais vinculadas à praça, a notícia o preocupou pelo fato de coibir eventos culturais na região. A defesa pela arte e pela PRAÇA Roosevelt faz parte da vida e da rotina do ator. “Frequento esse lugar desde os 19 anos. Hoje, passo 12 horas de segunda a segunda, às vezes estendo. Pa-

ra mim, aqui é como um gueto familiar: um lugar de carinho e cuidado, onde todos se conhecem e se cuidam”, afirma. Formado em Artes Cênicas pela Faculdade Anhembi Morumbi, Gustavo se revela “um verdadeiro ator” no palco e na vida pessoal. Atualmente, se divide entre as aulas na Oficina e a direção do Grupo Experimental Os Satyros, composto por 15 jovens atores. “Na SP Escola de Teatro, alcançamos o número de 400 alunos regulares, que varia em mil por semestre, contando os cursos livres e as oficinas”, revela. A preocupação do início da conversa dá espaço ao prazer e orgulho de ser e fazer parte dessa construção, dessa história. “Acredito que nós somos personagens coadjuvantes na peça em que a Praça é protagonista, mas todos caminham para a mesma direção: a defesa de um lugar democrático para chamar de nosso, de meu. Essa é a PRAÇA Roosevelt.”

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3 endereços no centro pra comer esta iguaria Afro-brasileira

por André Guedes

De origem ainda controversa, o Acarajé é símbolo da cultura Afro-brasileira e lista nos pratos típicos do país. Mesmo reconhecido mundialmente como um prato da culinária bahiana, sua provável real origem é africana, mas com roupagem “abrasileirada”. Também preparado como “comida de Santo” (tradicionalmente só pode ser feito por um filho de santo), até alguns anos atrás era raro encontrá-lo em terras paulistanas, e quando encontrado não fazia jus ao baiano. Entretanto, nos últimos anos dezenas de barracas, trailers e restaurantes começaram a oferecer o acarajé, algumas vezes como carro chefe, ainda assim, muitos deles deixam a desejar. Pensando nisso, deixo uma lista de 3 ótimos lugares do centro de São Paulo que nos presenteiam com este quitute dos Deuses, quero dizer, dos Santos. O primeiro na lista surge em meio a loucura da Rua Augusta, Consolação, um espaço pequeno, porém acolhedor, o DIGAÊ BAR E BAHIA. Logo na entrada somos recepcionados pela frase pintada no vitral, “Acarajé quente, Cerveja gelaroosevelt


da”, que já dá a entender que trata-se de um ótimo lugar pra ir com os amigos. Além dos típicos Acarajé Tradicional (R$ 13,00) e No Prato(R$15,00), oferecem a versão Porção (R$ 20,00), para ser compartilhado enquanto pode degustar uma das várias opções de cachaça, destaque para a Gabriela (R$ 5,00 a dose). Um diferencial: a massa é feita na hora, o que faz o pedido demorar um pouco para chegar a mesa, mas vale a pena esperar. Outro lugar bacana é o ACARAJÉ BAIANO com EDUARDO BORGES na Frei Caneca, próximo ao Extra Supermercado. Também com as opções Tra-

Acarajé Baiano com Eduardo Borges Rua Frei Caneca, 721a. Aberto de SEG a SAB das 12h às 22h00 e DOM das 09h00 às 17h00 * Média por pessoa: R$15 - R$25 Digaê Bar e Bahia Rua Augusta, 1150. Aberto todos os dias das 16h às 0h ** Média por pessoa: R$20 - R$30 Tabuleiro do Acarajé Rua Doutor Cesário Mota Jr, 611. Abre aos SAB das 18h às 21h ** Média por pessoa: R$20 - R$30

dicional e No Prato, fica em um trailer com mesinhas sob um toldo, se tornando point de mini happy hour de quem trabalha na região. Apesar de preços um pouco mais em conta, as porções são pré fritas. Por último, um dos mais recentes e quase sempre lotado TABULEIRO DO ACARAJÉ, na Vila Buarque. Apesar de não possuir mesas (esquema pegue e leve), isso não impede que os clientes, na sua maioria universitários, peçam e comam nas mesas dos bares ao lado. Se você é um apaixonado por Acarajé como eu, não vai sair decepcionado destes lugares.

Chef Andre Guedes é formado em Gastronomia pela FAMESP, professor de cozinha clássica e contemporânea. Foi Chef do TEX-Redneck Bar. Atualmente é consultor gastronômico e diretorexecutivo “Cozinheirinhos” que oferece cursos e oficinas exclusivas para crianças. Contato: chefguedes@outlook.com (11) 94936-8403



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