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O bizarro carrossel de Joe Hill

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Referências históricas, lendas, clássicos da literatura e do cinema de horror: fica claro que Joe Hill bebeu da água de diferentes fontes enquanto elaborava os contos de Carrossel sombrio e outras histórias. Diante dessa profusão de referências – algumas claras, outras escondidas nas entrelinhas – a TAG convida você a tomar seu lugar e dar uma voltinha conosco. Fique à vontade para escolher o assento que achar melhor. A mente de um escritor talvez gire mais rápido do que estamos acostumados, mas não se preocupe: conosco, você está em segurança. Talvez.

ENCURRALADO

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Hoje, o nome Steven Spielberg é quase sinônimo de sucesso nas bilheterias. Em 1971, no entanto, era apenas um jovem diretor tendo sua primeira chance em Hollywood, contratado pela Universal para rodar um longa-metragem que só seria exibido na televisão. Uma oportunidade pouco empolgante, talvez, mas que Spielberg agarrou da melhor forma possível. Rodado em míseros 13 dias e com orçamento bem abaixo da média, Encurralado (Duel, no original) se tornou um filme cult, e é amplamente considerado um dos maiores filmes para televisão de todos os tempos. A história de um pacato vendedor que passa a ser perseguido por um caminhoneiro assassino – sem aviso, sem tréguas e sem motivo aparente – é contada de forma sufocante, com poucos diálogos, e o caminhão Peterbilt 281 é tão onipresente que acaba ganhando vida própria.

SHIRLEY TEMPLE

Virar uma estrela do cinema aos cinco anos de idade não deve ser exatamente a coisa mais fácil do mundo. De fato, inúmeros foram os boatos em torno de Shirley Temple: dizia-se que seus cabelos encaracolados eram uma peruca, que ela havia arrancado os dentes infantis e usava uma dentadura para não perder o sorriso angelical e até mesmo que não se tratava de uma criança, mas de uma anã de 30 anos de idade. As más línguas, porém, foram atropeladas pelo sucesso estrondoso da lenda mirim. Até os dez anos de idade, Temple havia aparecido em nada menos de 29 filmes, além de se transformar em fenômeno de merchandising: durante anos, as bonecas com seu nome foram as mais vendidas dos Estados Unidos. Muitos lugares usavam as visitas da celebridade infantil como chamariz para seus negócios – alguns fazem isso até hoje. A atriz faria sucesso no rádio e na televisão, além de atuar como diplomata até sua morte, em 2014 – mas sua carreira no cinema teve um fim tão precoce quanto o início: admitindo que seus últimos filmes eram muito ruins, Shirley Temple pendurou os sapatinhos em 1950, com meros 22 anos de idade.

UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES

Desde os tempos de assistente de produção, o futuro diretor John Landis pensava em fazer um filme que unisse horror e comédia. Após mais de uma década lutando para encontrar quem topasse bancar a maluquice, Um lobisomem americano em Londres chegou aos cinemas em 1981. A história de dois mochileiros que encontram uma criatura maligna em uma cidadezinha da Inglaterra marcou época e se tornou um filme cult entre os aficionados por terror. Muito disso, é claro, é devido aos efeitos especiais de Rick Baker, que ganharam o Oscar: quem assistiu ao filme não esquece, acima de tudo, da primeira

transformação em lobo de David, personagem principal do filme. A sequência é tão realista que ainda consegue causar arrepios quase quarenta anos depois. Não é à toa que, mais tarde, Baker acumularia outras seis estatuetas e seria convidado para trabalhar no videoclipe de Thriller, de Michael Jackson: seu trabalho revolucionou o visual dos filmes de terror, tornando-se um ponto de partida para todos os sustos que viriam depois.

RAY BRADBURY

Pouca gente plantou tantas sementes na imaginação de futuros escritores quanto Ray Douglas Bradbury. Além de ser um dos pilares da ficção científica moderna, o norte-americano também se destacou em outros gêneros, escrevendo obras de fantasia, suspense e horror. Algumas das suas histórias são nada menos que lendárias. O conto Um som de trovão, sobre uma viagem no tempo para caçar animais pré-históricos, é um dos textos que mais recebeu reimpressões no último século (além de se intrometer na própria ciência, ajudando a gerar o termo "efeito borboleta"), enquanto Farenheit 451 é um marco na literatura de distopia, retratando uma sociedade futurista distópica na qual livros são ilegais e agentes públicos são encarregados de incendiá-los. De certo modo, Bradbury conseguiu o que, antes dele, seria uma façanha quase inimaginável: dar ao sci-fi o status de literatura "de verdade", elevando ao mainstream um gênero visto até então como uma tolice descartável.

JOAN BAEZ

Não é todo mundo que tem o privilégio de ter seu nome (mesmo que artístico) em um clássico da música folk. Mesmo que o autor de Carrossel sombrio e outras histórias não seja exatamente o homenageado: a

canção "Joe Hill", gravada pela cantora Joan Baez, é para um ativista que virou mártir do movimento sindical após ser injustamente julgado e executado em 1915. A música está em One day at a time (1970), um dos álbuns mais festejados da compositora e intérprete norte-americana – o que não é pouca coisa, considerando que ela está na estrada há mais de 60 anos e colocou vários trabalhos entre os mais vendidos nos EUA. Para quem nunca ouviu a obra emocional e de fortes cargas política e social de Joan Baez, esse álbum pode ser um bom ponto de partida – mas se prepare para uma longa jornada, pois a voz da cantora é daquelas que não se consegue ouvir e deixar para lá.

SEREIAS

O conceito de uma criatura com corpo metade humano e metade peixe vem de longe: a deusa assíria Atagartis (que vira peixe após matar acidentalmente seu amante humano) é citada em histórias que remontam há pelo menos mil anos antes de Cristo. Presentes na mitologia de diferentes regiões, as sereias fazem mais de uma aparição nos contos das Mil e uma noites, e se consolidaram como lenda de marinheiros a partir das grandes navegações: praticamente não havia embarcação que voltasse do mar aberto sem alguma história para contar. Foi entre os séculos XV e XVI que se consolidou a imagem que hoje temos das sereias: mulheres deslumbrantes que surgem nas costas mais íngremes, cantando e seduzindo os navegantes até que seus navios se arrebentem contra as pedras. Não surpreende que uma criatura tão resistente no imaginário humano tenha inspirado tanta arte: de A pequena sereia até A forma da água, do Anel dos nibelungos de Richard Wagner às pinturas de John William Waterhouse, o sedutor canto das mulheres-peixe segue seduzindo criadores de todas as épocas.

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