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Embarque nesse carrossel

Amigos robóticos, criaturas fantásticas, famílias problemáticas, viagens perigosas e grama alta demais: o novo livro de contos de Joe Hill traz brincadeiras de sobra para todos os gostos sombrios.

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Mesmo em um parque de diversão repleto de brinquedos, o carrossel de Joe Hill é a primeira coisa para que você vai olhar. Na verdade, o carrossel parece meio sombrio visto de longe, enquanto pagamos o ingresso e juntamos o troco para o algodão doce, mas tudo bem: dependendo do assento escolhido, ele também pode ser um tanto fantástico, contemplativo, até mesmo sublime. Ele gira rápido, é verdade, mas, uma vez que você embarca e a música começa a tocar, você não vai querer parar antes de chegar ao final. Não que pudesse parar, é claro.

Tudo começa com Alta velocidade, uma história de pai e filho, em mais de um sentido. Joe Hill e Stephen King nos contam a história de Vince (pai) e Race (filho), dois integrantes de uma gangue de motoqueiros que precisam lidar com as consequências de um crime não planejado – e com um caminhão assassino, perseguindo-os por estradas vicinais dos Estados Unidos. Certamente não é o melhor cenário para remoer problemas de família – mas, como a gente bem sabe, nem sempre dá para fugir de certas discussões. Conto que dá nome ao livro (e que inspira o conteúdo desta edição), Carrossel sombrio mostra dois casais adolescentes em um parque de diversões, em um passeio que ganha contornos terríveis

após um giro no... Bem, você sabe onde. Pode um simples carrossel assombrar pessoas por toda a vida? No mundo de Joe Hill, sim – e, se você for especialmente sensível (ou azarado), no seu mundo também.

E poderá uma simples viagem de trem abrir os portões da insanidade? Visitando a Inglaterra a trabalho, um ex-hippie transformado em lobo dos negócios resolve usar a malha ferroviária local. O problema é que, quando você embarca na Estação Wolverton, há o risco real de ser o único ser humano no trajeto. Vivo, pelo menos.

Se as linhas férreas do interior inglês escondem segredos, os lagos enevoados da fronteira entre Estados Unidos e Canadá também têm os seus. No conto Às margens prateadas do lago Champlain, um grupo de crianças tropeça em um deles, que remonta à era dos dinossauros. Poderia ser a fama repentina, mas os acontecimentos tomam uma curva indesejada, interferindo no futuro de um amor infantil.

Temos certeza de que muita gente gostaria de caçar dinossauros – em especial caçadores que já tenham matado tudo mais que há para matar. Ray Bradbury que nos diga, não é mesmo? Nesse sentido, colocar a cabeça de um Fauno na parede poderia ser um chamariz imperdível para muita gente – mesmo que, nesse tipo de caçada, a presa possa mudar de uma hora para outra.

Precisa respirar um pouco? Não tem problema. Podemos parar o carrossel por alguns instantes. Vá ao banheiro, tome um copo d’água. Vamos continuar aqui, esperando por você.

Pronto. Podemos recomeçar?

Imagine morrer antes de terminar aquele livro que capturou a sua imaginação. Chato, não é? E imagine o tamanho da multa que alguém deixa quando morre antes de entregar o livro na biblioteca… Devoluções Atrasadas trata dessas coisas – e, além de falar sobre o fim da vida, é uma história sobre leitores. Afinal, nem sempre somos nós que encontramos o livro certo: às vezes, é o livro certo que nos encontra.

A amizade pode assumir diferentes formas e, é claro, durar diferentes períodos. Em Tudo que me importa é você, um robô de esquina dá tudo de si para que uma jovem adolescente tenha um aniversário inesquecível. Mas, como quem já perdeu um amigo ou amiga bem sabe, algumas relações têm vida curta, e não há moedas o suficiente para recomeçar a contagem. A guerra é o inferno. Em Impressão digital, uma ex-combatente na prisão de Abu Ghraib retorna aos EUA, trazendo o inferno junto com ela. Em uma escalada de tensão, sinais cada vez mais óbvios mostram que alguém está à espreita – um terror humano, criado por humanos, em um duelo que logo se revelará.

Se você parar para pensar, toda história é uma escada: você precisa vencer um degrau depois do outro, seja para chegar às glórias do topo, seja para encontrar aquela coisa assustadora que se esconde no porão. O diabo na escadaria é a chance de sentar e conversar com alguns desses monstros. Brincando com os parágrafos, Joe Hill nos fala de uma fuga às profundezas que mistura amor, fortuna e desgraça.

Convenhamos: na maior parte do tempo, o Twitter não passa de uma pessoa contando banalidades para outras pessoas. É basicamente isso que acontece em Twittando no Circo dos Mortos, mas com uma diferença: o que Blake e sua família estão vivenciando em sua viagem de férias longe está de ser algo trivial. Quer saber mais? Siga @TYME2WASTE no Twitter para se inteirar das novidades!

Está achando a viagem rápida demais? A música talvez seja um tanto tétrica, ou é o cavalinho no qual você sentou que cheira mal, mas não se preocupe: ainda temos algumas voltas, e a diversão vale a pena. Confie em mim. Toda mãe planta sementes em nossos corações. Algumas rendem

flores bonitas, que alegrarão nossos jardins durante a vida. Outras, bem… digamos que, se uma vendedora de beira de estrada oferecer Mães para você, é melhor se assegurar de estar comprando a semente certa! Ambientado no coração separatista e conspiratório da América, o conto traz um reencontro peculiar entre mãe e filho, em meio a uma suja trama familiar.

Falando em histórias de família, é muito fácil se apaixonar pelos carismáticos irmãos Cal e Becky enquanto eles vencem as estradas do Kansas rumo à casa dos tios. Mas Campo do medo é uma história de Joe Hill, e a segunda colaboração com seu pai, Stephen King, então as chances de uma viagem sem incidentes são bem baixas. Ao ouvir gritos de ajuda de uma criança, os dois decidem ver do que se trata – e, sim, eu e você conhecemos a família King, por isso sabemos que isso não tem como dar certo. Mas eles não sabem. Eles nunca sabem. É a vida.

Qual é o tipo de turbulência mais assustador que você pode enfrentar em uma viagem de avião? Você está liberado, último conto de Carrossel sombrio e outras histórias, tenta responder essa pergunta – e a resposta, é claro, não é das mais agradáveis para quem tem medo de voar. Mas parte da graça dos livros de horror é justamente nos familiarizar com o medo que está por vir, não é mesmo? Então faça o check-in, porque a viagem promete.

E, então, chegamos. ao fim do passeio. Foi divertido, não é? Alguns sustos, é claro, mas assustar-se é parte da diversão. Seja como for, essa voltinha foi só um gostinho do que está por vir. O verdadeiro carrossel de Joe Hill está do lado de fora desta revista, dentro das páginas de Carrossel sombrio e outras histórias. Fique conosco um pouco mais – mas saiba que o brinquedo de verdade tem animais mais exóticos, música mais alta, luzes mais assustadoras e gira mais rápido. Bem mais rápido.

Volte sempre.

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