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Vítimas do sistema
Em 2006, Antonin Scalia, juiz associado da Suprema Corte americana, afirmou que, caso os Estados Unidos tivessem executado presos injustamente, “seus nomes seriam gritados dos telhados”. A afirmação, como lembram de forma incansável aqueles que advogam contra a pena de morte no país, é falsa. Desde a retomada da pena de morte pelo Judiciário americano, em 1976, mais de 1,4 mil pessoas foram executadas. Desde 1973, 156 pessoas foram exoneradas – isto é, inocentadas e postas em liberdade. Proporcionalmente, a marca assusta: para cada 10 executados, um detento é inocentado de acordo com a Coalizão Nacional para Abolir a Pena de Morte (National Coalition to Abolish the Death Penalty, em inglês). Conheça as histórias de prisioneiros que escaparam do corredor da morte sem que seus nomes fossem gritados de telhado algum.
Texto:
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Fernanda Grabauska
Henry Lee McCollum e Leon
Brown foram exonerados em 2014. Os meios-irmãos – que têm deficiência mental – confessaram ter estuprado e assassinado Sabrina Buie, de 11 anos, em 1983. Ambos foram condenados à morte. A sentença de Brown foi alterada para perpétua, mas McCollum passou três décadas no corredor da morte até que exames de DNA provassem tanto a sua inocência como a do meio-irmão. O Estado da Carolina do Norte compensou os dois pelo erro com US$ 750 mil dólares cada um, dinheiro que logo lhes foi tomado por oportunistas e estelionatários.
Kirk Bloodsworth, ex-oficial da Marinha, vivia da pesca de frutos do mar em Maryland. Em 1984, ele foi condenado por estuprar e matar Dawn Hamilton, de nove anos. No julgamento, cinco testemunhas afirmaram ter visto Bloodsworth com a vítima, embora ele tenha defendido sua inocência até o fim. Em 1992, ele leu a respeito da reavaliação de uma condenação a partir de análise de DNA na justiça inglesa. Ao apelar da sua sentença, o exame do DNA encontrado na roupa da vítima o inocentou do crime, tornando Bloodsworth o primeiro preso a ser exonerado do corredor da morte a partir da testagem de DNA. Atuamente, ele trabalha como diretor de advocacia da Witness to Innocence, organização que busca oferecer apoio a prisioneiros que também escaparam da execução pelo Estado.
Sabrina Butler tinha 18 anos quando chegou a um hospital carregando seu filho, de nove meses, sem vida. Era abril de 1989 e ela afirmou aos socorristas que tentou ressuscitá-lo, sem sucesso. O que aconteceu a partir daí fugiu do controle de Sabrina, que foi coagida a confessar o assassinato de seu bebê, presa e sentenciada à morte. Em 1995, após uma mudança na corte, o advogado de Butler apresentou testemunhos de vizinhos que disseram tê-la visto tentando reanimar a criança – um deles disse que, inclusive, tentou ajudá-la. Também houve indícios de que a autópsia feita no corpo do bebê foi desleixada. O júri deliberou apenas por instantes antes de inocentar a jovem.