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Investigação e angústia em uma colheita macabra

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PAULA SPERB

Romance de Pablo Zorzi tem como protagonista um policial em início de carreira que precisa lidar simultaneamente com crise existencial e crime brutal

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Talvez nenhum outro tipo de literatura segure tanto a atenção e — por que não? — a tensão dos leitores quanto um bom livro de histórias de detetives. Nessas obras, os crimes são engenhosamente elaborados para despistar qualquer conclusão antecipada por parte de quem lê. Mas, sozinhos, os crimes não seguram uma boa narrativa. Os detetives são peças indispensáveis nessa engrenagem. Alguns deles são célebres e considerados clássicos do gênero, como as histórias de Sherlock Holmes, do escritor Arthur Conan Doyle; C. Auguste Dupin, personagem criado por Edgar Allan Poe; e Hercule Poirot, o investigador saído da mente da rainha do gênero, Agatha Christie.

O livro do mês, Colheita de ossos, tem sua própria história de detetive. É um típico romance policial, porém brasileiro. É verdade que o Brasil tem seus próprios clássicos do gênero, com os autores Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza. Mas uma das características que distingue Colheita de ossos é o espaço da narrativa, um Brasil pouco retratado na literatura: o estado de Santa Catarina, mais especificamente o oeste catarinense. Naquela região, se está mais perto da fronteira com a Argentina do que do centro econômico e cultural do próprio país. Como diz a letra da música dos Engenheiros do Hawaii, “estamos longe demais das capitais”. A cidade onde a trama transcorre não é nominada, mas sabemos que está próxima de Chapecó, bem distante do litoral do estado.

Nada melhor para uma história repleta de crimes macabros do que estar longe de tudo, ainda mais em uma área rural. É justamente o que acontece em Colheita de ossos. O protagonista é Hugo Martins, um gaúcho de 29 anos que deixa o Rio Grande do Sul após ser aprovado na Academia de Polícia Civil de Santa Catarina. O jovem policial assume seu posto na pequena — e aparentemente pacata — cidade. Novato, ele precisa lidar com uma crise existencial enquanto é escalado para investigar uma série de assassinatos dignos de filme de terror. Inicialmente, Hugo parece se sentir inseguro com o desafio, mas irá se dedicar integralmente à tarefa. Tal dedicação é também um modo de fugir de seus próprios problemas.

Colheita de ossos tem um quê da saga do detetive Joona Linna, escrita pela dupla sueca Lars Kepler, por causa dos detalhes perturbadores que envolvem os crimes. Mas o livro do mês também dialoga com o que há de melhor na literatura contemporânea brasileira, como os catarinenses Ieda Magri e Marcelo Labes, autores, respectivamente, de Um crime bárbaro (2022) e Três porcos (2020). Ambos os romances tratam de crimes reais ocorridos em Santa Catarina — o primeiro, no oeste catarinense, e o segundo, no Vale do Itajaí.

Além disso, diversos elementos que compõem romances policiais estão presentes em Colheita de ossos para não decepcionar quem gosta do gênero: o detetive mais experiente, a cena do crime com detalhes chocantes, personagens misteriosos, pistas que inicialmente não levam a lugar algum e, claro, o final surpreendente.

Principais Personagens

Hugo Martins: o protagonista, um policial novato de 29 anos

Anderson Vogel: jornalista que se muda para a área rural e trabalha no jornal local

Cristina Weiss: advogada, mulher de Anderson

Miguel Rosso: fotógrafo, amigo de Anderson

Álvaro Fiore: espirituoso delegado de 65 anos, chefe de Hugo

Jonas Heimich: policial transferido para o litoral

Lívia Tumelero: médica perita do Instituto Médico

Legal (IML)

Bento: vizinho do prédio de Hugo

Pâmela Jardim Viana: influencer digital, 27 anos

Estevão Viana: empresário, ex-marido de Pâmela

* e, claro, Magaiver: o cachorro vira-lata de Hugo

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