Oya

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SÍLVIO RIBEIRO

Ilustrações de TAISA BORGES




Copyright © 2006 Sílvio Ribeiro Editora Renata Borges Editora de literatura infanto-juvenil Denyse Cantuária Editora assistente Noelma Brocanelli Projeto grá co e ilustrações Taisa Borges Capa e editoração eletrônica Luciano Sousa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ribeiro, Sílvio Oya; a rainha de dois mundos / Sílvio Ribeiro; [ilustrações de Taisa Borges]. – São Paulo: Peirópolis, 2006. – (Deusas africanas) ISBN 85-7596-090-3 1.Literatura infanto-juvenil I. Borges, Taisa. II. Título. III. Série 6.4939

CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático 1.Literatura infantil 2.Literatura infanto-juvenil 028.5

EDITORA FUNDAÇÃO PEIRÓPOLIS Rua Girassol, 128 – Vila Madalena 05433-000 – São Paulo – SP – Brasil Te.: (55 11) 3816-0699 e fax: (55 11) 3816-6718 vendas@editorapeiropolis.com.br www.editorapeiropolis.com.br


SÍLVIO RIBEIRO

Ilustrações de TAISA BORGES


iz a lenda que por volta do ano 1.450 a.C. viveu uma linda princesa cuja história irei contar. A princesa negra nasceu em uma cidade chamada Ira, no continente africano. Seus moradores eram chamados de povo Nupe. As terras dos nupes eram muito cobiçadas por seu solo fértil e produtivo onde o gado era abundante e tudo o que se plantava crescia com enorme rapidez e beleza. A linda jovem era a predileta de seu pai; sabia caçar, pescar e lutava tal qual um homem, sendo praticamente impossível vencê-la num duelo.

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Vários pretendentes queriam se casar com a moça, atraídos por sua enorme beleza. Mas ela já tinha o seu preferido um jovem forte que, mais tarde ela viria a saber, tratava-se de um primo-irmão. O rapaz que encantava a princesa sempre morou em Ira, cercado pelos cuidados de sua querida mãe Torossy. Mas, foi chegado o momento em que, por motivações políticas, teve de abandonar a cidade e sair à procura do pai. O reino da princesa negra vivia sempre em guerra com a gente de um outro povoado conhecida por yorubas.

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Alguns anos se passaram, e o jovem que havia saído à procura do pai desenvolveu habilidades de liderança e inteligência no trato com os negócios, tornando-se rei de uma forte e próspera dinastia. Por seus feitos, conseguiu o respeito e a admiração de todo o povo de predominância Yoruba. O palácio do rei cava em uma cidade chamada Oyo. Ele reinava com sabedoria, mãos de ferro e um grande senso de justiça, e servia de juiz nas


questĂľes entre todos os povoados, inclusive as que envolviam os Yorubas. Como era o costume naquela ĂŠpoca, um homem podia ter quantas esposas pudesse sustentar. O rei de Oyo, portanto, que tinha vĂĄrias esposas e todas viviam confortavelmente em seu castelo. Mesmo assim, ele nunca deixou de acalentar o sonho de se casar com sua amada de juventude.

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Acostumado a ter tudo o que queria, um dia decidiu marchar com seus soldados em busca da mulher amada. Para realizar tal feito, juntou seus melhores homens, fortemente armados, e foram em direção às terras dos nupes, onde morava a princesa.

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Todo o reino Oyo sentiu-se amedrontado com o feito, pois nunca tinham visto seu rei reunir um exército tão grande e tão forte. A notícia logo chegou às terras da jovem princesa, e o povo Nupe cou igualmente assustado, já imaginando que a guerra que estava por vir seria de proporções devastadoras.

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A princesa, percebendo-se dividida entre os dois lados do con ito, sofria muito: de um lado estava seu povo, os nupes, e todos que residiam no povoado em que nascera; do outro lado, pronto para guerrear, estava o amor de sua inf창ncia. O que fazer?

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A ita e cheia de angústia, a princesa decidiu procurar aconselhamento com um velho viajante, muito sábio e acostumado a fazer adivinhações, e recebeu dele a incumbência de fazer um encantamento: “Tome um pedaço de pano preto nas mãos, rasgue-o ao meio e jogue-o ao chão”. A princesa assim fez e, no exato momento em que o pano caiu de suas mãos, o chão se partiu ao meio, surgindo um lindo rio a dividir as duas metades de terra e a formar uma ilha.

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O rio seria batizado futuramente de Rio Niger. Mas, naquela ocasião, foi chamado de rio Oya, em homenagem à princesa que fez o encantamento. Em reconhecimento a esse feito, a partir daquele dia também ela passou a ser chamada Oya, que no idioma dos nupes, signi ca “ela rasgou”, e lembra o som do tecido ao ser rompido ao meio — OYYYYAHHH!

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Chegou o dia em que o conquistador, acompanhado do seu poderoso exército, chegou ao povoado de Oya para reclamar a mão de sua amada, sob pena de destruir totalmente a ilha onde ela morava, matando todo o seu povo. O massacre seria inevitável, pois naquele momento o exército yoruba era bem mais numeroso e fortemente armado.

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Oya, para não ver seu povo totalmente destruído, esperou a noite cair e, num ato de coragem, seguiu furtivamente com seu amado, evitando assim uma grande guerra. Ao chegar ao reino dos yorubas, Oya foi recebida com uma grande festa: muita comida, batida de tambores e cantos em louvor à nova rainha. Naquele momento começava a grande aliança entre Oya e as demais mulheres do reino. Todas temiam pela vida de seus maridos que, pela interferência de Oya não precisaram mais lutar, evitando assim um grande derramamento de sangue. A rainha teve que lidar com as outras esposas do Rei e, como era muito faceira, esperta mesmo, logo fez amizade com todas. Uma amizade que ela logo estendeu também aos o ciais do rei, encarregados de cuidar de missões especiais.

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Os belos contos da coleção de livros Deusas Africanas nos proporcionam o contato direto com a oralidade e seu poder de criar, reinventar, lembrar e esquecer fatos para construir o fio narrativo de nossa própria história. Neste primeiro volume, conta-se a história de Oya, uma divindade africana muito popular na tradição afro-brasileira, mais conhecida como Yansã.


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