UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Escola Superior de Desenho Industrial
PLATAFORMA ONLINE DE EDUCAÇÃO SEXUAL PARA MENINAS
Taís Fernandes | Orientador: Daniel Portugal RIO DE JANEIRO
| Junho de 2018
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo apoio, carinho e paciência. À minha mãe e ao meu pai, que sempre que a situação apertava estavam ao meu lado, me chamando pra tomar uma caipirinha, jogar um carteado e relaxar um pouco. Obrigada por acreditarem em mim. Sem vocês eu não teria chegado até aqui. Aos meus amigos, pela amizade e pelas conversas na madrugada sobre a vida, o universo e tudo mais. Ao meu orientador, pelo suporte e confiança ao longo deste projeto. Obrigada por tudo. À todas as meninas e mulheres que participaram deste projeto, em especial aquelas do C.E. Manoel de Abreu, que me ajudaram a enxergar muito além do que eu conseguiria sozinha.
Sumário INTRODUÇÃO………………………......….. 4 1. Descrição do problema e Justificativa.... 7 2. Objetivos…………………………………….......... 10 3. Metodologia…………………………………........ 11
I. PESQUISA……………………………....... 12 4. Análise de similares…………….………........ 13 5. Público……………………………………….......... 16 6. Referencial teórico……………...……........... 29
II. DIRETRIZES PROJETUAIS………...... 32 7. Valores norteadores………………….…....... 33 8. Proposta…………………………………….......… 34 9. Referências visuais………………….........…. 37
III. RESULTADO………………………....... 41 10. Identidade Visual………………........…..…. 42 11. Site………………………...…………........…..…. 49 12. Cartilhas ……………………..……........…..…. 78 13. Histórias………………………...….............…. 82
IV. PROCESSO CRIATIVO………….…… 84 14. Prototipagem e refinamento….......….. 85 15. Propostas alternativas…………….......…. 94
V. ENCERRAMENTO…………………..... 95 16. Considerações finais……………........…… 96 17. Encaminhamentos futuros…........……. 97
REFERÊNCIAS…………………….....……. 98 19. Referências teóricas…………….......…… 99 20. Referências projetuais…….......……….. 100
ANEXOS…………………………........……. 103 21.Questionário..........……………................. 104
Introdução
Introdução
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a sexualida-
Durante este período, a atitude predominante era
de, além de ser uma “necessidade básica”, é uma característica
de negação, imposição de tabu, proibição e obses-
humana impossível de ser dissociada de outros aspectos de
são. Negação porque fazia todo o possível para re-
sua vida (OMS, 1975). De fato, diversos profissionais da área
duzir a sexualidade a algo secreto. Com efeito, não
concordam que a sexualidade influencia tanto a saúde men-
se podia falar sobre ela. Se as pessoas o faziam era
tal quanto física de uma pessoa. Suplicy (2002) acredita que a
para se auto-acusarem em confissão ou como ar-
repressão das manifestações da sexualidade da criança ou do
gumento de gracejo malicioso. Imposição de tabu
adolescente podem impactar seu desenvolvimento emocional
porque qualquer tema referente à sexualidade, em-
e intelectual, além das atividades desenvolvidas por ele em seu
bora enormemente carregado de significado e inte-
cotidiano. Se considerarmos que, com o advento da puberda-
resse adquiria o caráter de intocável e indiscutível
de, é na adolescência que surgem os mais diversos questio-
(LÓPEZ,1999).
namentos sobre sexualidade, é imprescindível entender como se dá o debate sobre sexo, sexualidade e gênero no cotidiano desses jovens. Já na década de 1960, ainda de acordo com o autor, a eclosão De acordo com Costa (1986), é na década de 1920 que surgem
de movimentos estudantis e de emancipação sexual trouxe
as primeiras investidas em relação a Educação Sexual nas es-
consigo uma intensificação do debate sobre a abordagem
colas brasileiras: em uma influência clara da postura médico-
de temas ligados à sexualidade no currículo escolar. Apesar
-higienista da época, o foco estava na saúde pública e na re-
disso, com a instauração do Regime Militar em 1964, todos
produção saudável da população. No início da década de 1930,
os projetos e investimentos neste sentido foram deixados de
começa a surgir um interesse em regulamentar a introdução
lado, e as iniciativas de incluir o tema tanto na esfera de en-
dessa temática na sala de aula, refletido no programa aprova-
sino público quanto privada foram escassas ou inexistentes.
do no Congresso Nacional de Educadores que focava na edu-
Com o crescente número de casos de gravidez na adolescên-
cação sexual de crianças a partir dos 11 anos (SAYÃO, 1997).
cia e o risco de contração do vírus da HIV, a década de 1980
Porém, a postura histórica de negação e ocultamento em vigor
apresentou uma maior demanda de iniciativas de “conscienti-
no período dos anos 1940 a 1960 impediu que mudanças signi-
zação” de jovens, influenciando os modelos e práticas adota-
ficativas fossem implementadas. López (1999), argumenta que:
dos nas décadas seguintes.
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Ainda hoje, existe uma resistência em abordar essa temática
cia das mais diversas fontes, que atuam de maneira decisiva
– como exposto em Camargo (1999), a inclusão de questões
em sua formação sexual - e caberia à escola, então, oferecer
de sexualidade em âmbito escolar é considerada por muitos
um espaço seguro para todas essas questões trazidas pelo alu-
como algo “não sadio”, principalmente nos níveis da Educação
no, propondo ações críticas e educativas e instigando posturas
Infantil e Ensino Fundamental. Paradoxalmente, é esperado
reflexivas. Entretanto, como visto em Schubert (2011), perce-
que escolas abordem essa temática em algum momento du-
be-se que os sistemas educacional e de saúde do país ainda
rante o ensino do jovem, ou pelo menos é o que indica a pes-
apresentam dificuldade em lançar programas, palestras e au-
quisa realizada pelo Instituto Datafolha em 1993. A pesquisa,
las que abordem, discutam e orientem sobre a temática.
realizada em dez capitais brasileiras, buscou informar-se sobre como o cidadão brasileiro encara a abordagem de temas ligados a sexo e sexualidade na escola, e constatou-se que apenas 14% das pessoas ouvidas eram contra a inclusão de Orientação Sexual no currículo – sem, porém, definir quais temas esse termo englobava.
Por fim, temos que a escola é onde a maioria das crianças e adolescentes começam a travar suas primeiras relações afetivas fora do seio familiar, e é através dela que diversos valores pessoais são assimilados e estruturados ao longo dos anos de ensino (DALBERIO, 2011). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), além de tratar temas como AIDS e gravidez indesejada na adolescência, a introdução de Orientação Sexual na escola visa desmistificar a sexualidade para os alunos e abordá-la como algo intrínseco ao amadurecimento do jovem, englobando temas ligados a respeito mútuo, saúde e respeito à vida. Tal empreitada é encarada, portanto, mais como um processo de descoberta do que como uma “aula” formalmente estruturada, o que justifica a mudança de nomenclatura de “Educação Sexual” para “Orientação Sexual”. A postura do Ministério da Educação é de que a “a educação sexual possui um papel fundamental para o desenvolvimento cultural, preventivo e saudável da sociedade de forma geral” (BRASIL, 1998, p. 86). A criança e o adolescente sofrem influên-
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Descrição do Problema e Justificativa
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No Brasil, o Ministério da Saúde e o Ministério da Educa-
Por exemplo, de acordo com dados referentes ao período de
ção vêm desenvolvendo diversos programas e materiais li-
2006 a 2015, o Brasil possui a sétima maior taxa de gravidez ado-
gados à abordagem da orientação sexual em sala de aula.
lescente da América do Sul (ONU, 2017). Quando se considera
De fato, a inclusão de temas relacionados a sexo, gênero e
que, majoritariamente, o primeiro acesso da mulher à orienta-
sexualidade nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais)
ção sexual ocorre em ambiente escolar, pode-se afirmar que ele
foi considerado um avanço na esfera de políticas públicas,
é fragmentado e arbitrário, e o acesso às informações depende
reflexo da Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direi-
de variáveis como localização geográfica, valores morais da fa-
tos Reprodutivos (BRASIL, 2005). Existe, por exemplo, uma
mília e da própria escola. Além disso, o ambiente escolar não é
grande quantidade de informações acerca do tema de saúde
preparado para lidar com um assunto que é muitas vezes con-
e orientação sexual - que abrange desde aspectos biológicos
siderado tabu, gerando, por vezes, uma necessidade em seus
e psicológicos, até questões de gênero - disponíveis em ma-
alunos de recorrer a pesquisas paralelas e informações obtidas
teriais como os Cadernos de Atenção Básica 26 - Saúde Sexual
informalmente. Por fim, o próprio discurso adotado pelos ma-
e Saúde Reprodutiva (BRASIL, 2013) e em cartilhas e livretos
teriais didáticos e paradidáticos sancionados pelo governo é ba-
aprovados pelo Ministério da Saúde, exemplificados abaixo
seado em uma postura cientificista, criando um distanciamento
(Figuras 1 a 4). Além disso, existem políticas e legislações es-
entre quem prepara esse conteúdo e quem o recebe.
pecíficas voltadas para abordagem desse assunto com crianças e adolescentes estabelecidos nos PCNs.
Em termos visuais, temos diversos exemplos de publicações que podem ser consideradas inadequadas para o público jo-
Existe, assim, uma abundância de regulamentações e indica-
vem. Como se pode observar nas figuras a seguir (Figuras 1
ções sobre como abordar o tema com foco nos aspectos bio-
e 2), é comum o uso de imagens extremamente cartunizadas,
lógicos, fisiológicos e psicológicos ligados ao sexo. Faz-se notar
marcadas por expressões exageradas e que apelam muito
também uma vontade dos órgãos públicos em entregar aos
mais para um viés cômico do que o adequado para um mate-
adolescentes essas informações, pelo menos no que diz res-
rial instrucional/didático. É possível argumentar que essa lin-
peito a legislações. Apesar de todo esse material, existe uma
guagem visual afasta os seus próprios interlocutores, e acaba
lacuna entre os resultados esperados pela implementação de
por infantilizar e ridicularizar muitos assuntos relevantes liga-
tais políticas e o que de fato ocorre.
dos à orientação sexual.
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Figuras 1 e 2 : exemplos de cartilhas e livros paradidáticos indicados pelo Ministério da Saúde
Figuras 4 e 5 : cartilha “Cá entre nós”, disponibilizada pela ONU no ano de 2015, e cartilha “Saúde na Escola”, disponibilizada pelo governo no ano de 2012.
De fato, dois exemplos que se diferenciam dos demais é a car-
que estão dando os primeiros passos em direção a uma vida
tilha “Cá entre nós”, elaborada pela ONU, e a cartilha “Saúde na
sexual ativa, em especial aqueles do gênero feminino. Inse-
Escola”, ilustrada por Ziraldo. A linguagem visual da primeira tem
ridas em um contexto onde falar sobre sexo e sexualidade é
características mais contemporâneas, com uma paleta de cor re-
muitas vezes um tabu, esses materiais representam o primeiro
duzida e ilustrações que não são utilizadas de forma cartunesca
contato e a fonte majoritária de informações relativas ao tema
ou como alívio cômico. Por mais que o foco desta cartilha seja
para diversas meninas.
auxiliar professores na abordagem dessa temática, considera-se esse conteúdo um exemplo positivo de materiais gráficos que
Tendo isso em vista, o impacto que materiais didáticos, paradi-
trabalhem temas de sexualidade e orientação sexual. Já a se-
dáticos, campanhas e discursos da grande mídia têm sobre es-
gunda, focada em aspectos de saúde além da sexual, é voltada
sas jovens é considerável. Se considerarmos que muitas vezes
especificamente para os jovens, com uma linguagem informal
o primeiro contato mais formal da mulher com o tema de sexo
e mais direta do que os outros exemplos citados. Além disso,
e sexualidade acontece em sala de aula, é possível imaginar a
as ilustrações apresentam um refino maior e complementam o
aura de constrangimento que geralmente envolve o assunto.
texto de maneira eficiente, sem cair em estereótipos ou ridicu-
Tal constrangimento estimula a busca por respostas em canais
larizar os comportamentos dos jovens tomados como exemplo.
paralelos - que muitas vezes trazem informações duvidosas ou promove a ignorância, resultando em uma acentuada expo-
Materiais como esses são de extrema relevância para jovens
sição das jovens a doenças e outras complicações.
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De acordo com os resultados do questionário aplicado na etapa
negras ou homossexuais. Segundo uma delas, “deixar de se
de pesquisa preliminar deste trabalho , diversas mulheres dizem
ver representada em certos meios, como é o caso da mulher
não se ver representadas nos materiais de apoio indicados ou
negra, desregulariza o processo de autodescobrimento, que
oferecidos pelas escolas, ou mesmo no conteúdo online disponí-
é fundamental quando estamos nos tornando sexualmente
vel, desde sites especializados a vídeos instrucionais. Além disso,
ativas”. Outra fala de grande relevância trata da abordagem do
é possível observar nos exemplos citados anteriormente (Figuras
homossexualismo e prevenção: “Só fui descobrir que precisava
1 a 2) que a linguagem textual e visual adotada nesses materiais é
usar camisinha feminina quando minha parceira pegou herpes
datada, por vezes infantil, e reforça certos estereótipos de gênero.
bucal - e olha que eu me considerava informada! É o tipo de
1
coisa que a gente nunca vê nesses livros que dão pra gente na É sabido que pessoas da mesma idade normalmente não são
escola”. Uma terceira entrevistada comenta que, como mulher
fontes de informações precisas ou imparciais. Muitos links da
lésbica, a busca por informações se torna extremamente com-
internet levam a sites de entretenimento sexual (que certamen-
plicada pois “[...] devido à sociedade machista e patriarcal em
te não disponibilizam informações seguras ou corretas), sites
que vivemos, a sexualidade feminina fica subordinada à visão
estilo “faça-você-mesmo” onde fatos não são fatos, ou mesmo
do homem. Já cansei de buscar informações online e me depa-
locais com informações incompletas e baseadas unicamente em
rar com resultados ligados a pornografia e fetichização.”.
experiências pessoais. Educação sexual para adultos é, em sua maioria, inapropriada ou não condiz com a realidade dos jovens
De acordo com Vianna e Unbehaum (2004), existe uma escas-
- é tão inadequada quanto informações extremamente básicas
sez de materiais que investiguem os impactos da discriminação
destinadas a crianças pequenas. Por fim, a mídia, a televisão e
de gênero em políticas públicas no âmbito escolar. Exemplos
os filmes dificilmente podem ser considerados uma fonte segu-
disso seriam a persistência da “discriminação contra as mulhe-
ra de informações, ainda que esses veículos impactem jovens
res expressa em materiais didáticos e currículos, a limitação
constantemente com conteúdo cada vez mais explícito. Além
ao acesso à educação e permanência na escola, sobretudo das
disso, existe uma escassez de espaços que discutam sexualida-
jovens grávidas, bem como o fracasso escolar que marca de
de feminina de forma direta e que abarque múltiplos pontos de
maneira distinta a trajetória escolar de meninos e meninas”.
vista, principalmente voltados para meninas e jovens mulheres
Ao trazer discursos que valorizam certos tipos de comporta-
que não se enquadram na “norma” do discurso comum.
mentos e relacionamentos em detrimento de outros, cria-se uma polarização de representações com a qual a adolescente
Esse problema se torna evidente nas falas das mulheres en-
não se relaciona nem se vê representada, como exemplificado
trevistadas, principalmente as que se identificaram como
pelas falas selecionadas no parágrafo anterior.
1. Ver item 6. Público, p. 18.
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02
Objetivos
Objetivos Gerais O presente projeto visa estimular o diálogo sobre a sexualidade entre jovens do gênero feminino e facilitar o acesso desse público a informações relativas a sexo e sexualidade livre de preconceitos e estigmas.
Objetivos Específicos -
Estudar e compreender as questões relativas à sexualidade e gênero pertinentes ao trabalho, de forma a estabelecer um vocabulário (visual e verbal) relevante para o público ao qual ele se destina;
-
Mapear e compreender diferentes percepções, valores, demandas e questões do público a respeito do tema;
-
Estabelecer um canal de comunicação com o público
-
Elaborar um produto ou serviço que proporcione fácil acesso às informações, além de um ambiente seguro e que permita troca de experiências.
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Metodologia
03
O método adotado neste projeto utiliza como norte as etapas
-
Pesquisa de similares
apresentadas no livro Design Thinking (VIANNA et al, 2012):
-
Elaboração e aplicação de questionário online
Imersão, Análise e Síntese, Ideação e Prototipação.
-
Entrevistas em profundidade com alunas de escolas públicas
A fase de Imersão busca um entendimento do problema, de forma a reenquadrar a questão analisada e observá-la sob variados
ANÁLISE E SÍNTESE
pontos de vista. Seu objetivo é entender e definir o escopo e os limites do projeto. Nessa etapa, busca-se identificar as necessida-
-
Geração de personas e definição do público
des e oportunidades que irão nortear a geração de ideias na fase
-
Definição de diretrizes para o produto/serviço
seguinte do projeto. Após esse levantamento de dados realizado durante a Imersão, é realizada uma etapa de Análise e Síntese dos resultados e, em seguida, entra-se na fase de Ideação. Nela, são
IDEAÇÃO
geradas ideias baseadas nas descobertas e materiais produzidos durante a etapa anterior. Por fim, a etapa de Prototipação busca
-
Moodboard conceitual do serviço
testar as ideias geradas em diálogo com o público relevante. Não
-
Brainstorming de proposta de serviço
há, contudo, uma separação cronológica clara das fases: muitas
-
Naming e pesquisa de referenciais gráficos e inspiracionais
vezes, uma é desenvolvida paralelamente a outra, ou volta-se à
-
Identidade visual
fase anterior depois de trabalhar na seguinte. A realização deste
-
Geração de alternativas
projeto divide-se em:
-
Escolha e refinamento
IMERSÃO PROTOTIPAÇÃO -
Pesquisa do contexto geral do assunto, incluindo história, legislações e programas de educação sexual existentes
-
Geração de modelos de baixa, média e alta complexidade
-
Pesquisa exploratória junto a mulheres
-
Teste de modelos e adaptação baseada em observações
-
Levantamento de informações básicas sobre a história da
e feedback
sexualidade feminina e de questões de gênero
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I. Pesquisa
Análise de similares
04
A análise de similares teve como objetivo entender de que
à Orientação Sexual encontrado foi uma cartilha destinada
forma o público geral se relaciona com a temática do projeto,
aos professores da rede pública de ensino, visando orientá-los
quais são as questões relevantes, etc. Foi realizada uma pes-
sobre como abordar o tema com seus alunos, apresentadas
quisa sobre alternativas já existentes, abrangendo desde apli-
como exemplo na Introdução deste relatório2.
cativos e sites especializados até campanhas de conscientização. O tema pesquisado foi “educação sexual”, entendida aqui
Com base nesse levantamento preliminar, foram selecionadas
como um conjunto de práticas que abarca conceitos biológicos,
algumas alternativas que merecem destaque por apresenta-
sociais e psicológicos. As palavras-chave utilizadas giraram em
rem aspectos relevantes ao projeto. Os critérios de seleção ba-
torno de termos como “educação sexual”, “adolescência”, “apli-
seiam-se na clareza das informações disponibilizadas e em sua
cativo” e “informação”, buscadas tanto em português quanto
relevância - tanto em termos de temática quanto de público.
seus pares em inglês. Aqui, procurou-se um entendimento de como o assunto de sexualidade e orientação sexual são usualmente abordados, atentando-se à linguagem, plataformas utilizadas e vocabulário visual. Foram encontrados diversos resultados, principalmente es-
2. Checar página 8.
trangeiros, voltados para questões ligadas ao prazer sexual e dúvidas quanto a métodos contraceptivos. A partir disso, uma primeira etapa de seleção foi realizada, reunindo numa tabela comparativa os resultados relevantes (Tabela 1) para a proposta do projeto. Essa tabela reúne informações preliminares relativas ao público-alvo, proposta de serviço, qualidade das informações disponibilizadas, meio em que se encontra e, por fim, de que forma se dá essa comunicação. Vale ressaltar que nenhum aplicativo ou site em português do governo foi encontrado: um dos poucos conteúdos voltados
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FONTE
PÚBLICO-ALVO
PROPOSTA
INFORMAÇÕES
MEIO
COMUNICAÇÃO
Amaze Org
adolescentes, pais, educadores, crianças
abordar o assunto de forma clara e sem constrangimentos.
aspectos biológicos, psicológicos e questões de gênero.
site, canal no youtube e mídias sociais.
Linguagem direta e informal. Utiliza animações com personagens cartoon 3D.
Real talk
adolescentes
estabelecer espaço direto para troca de informações e dúvidas.
aspectos biológicos ligados à puberdade e foco em relacionamentos.
Aplicativo grátis para celular.
Linguagem bastante informal. Utiliza mensagens de texto e histórias curtas.
Scarlet Teen
adolescentes e adultos
site com conteúdos diversos sobre sexualidade e identidade de gênero, além de contar com um fórum e atendimento online personalizado
aspectos biológicos e comportamentais.
site online.
Linguagem direta informal. Há bastante interação com o usuário ou entre usuários.
Pubertet
adolescentes a partir dos 12 anos
Minissérie de tv sobre educação sexual (8 eps.) Aspectos da puberdade de maneira simples, real e sem pudores.
puberdade e aspectos biológicos.
8 episódios que passam na TV aberta + conteúdo no youtube.
Linguagem informal com base científica. Vídeos com pessoas em ambientes reais.
Revista Capricho
Adolescentes
Apresentar conteúdo variado sobre o cotidiano adolescente.
relacionamentos, aspectos biológicos, questões de gênero
Revista impressa e site online
Linguagem informal, gráficos, ilustrações e fotos
Tabela 1: resultados da busca de similares
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Capricho - SOS sexo Revista impressa quinzenal e site online, voltada para meninas adolescentes, com conteúdo variado e uma seção específica de sexualidade intitulada “S.O.S Sexo”. Escrita numa linguagem leve e sem trazer uma verdade absoluta sobre o que é certo e o que é errado ser feito, a Capricho aborda o tema da sexualidade feminina como se fosse uma “amiga mais velha” (como se apresentam em seu site), trazendo respostas a dúvidas de leitoras, entrevistas com profissionais da área e histórias sobre experiências ligadas a sexo, menstruação e mudanças físicas características da puberdade.
Scarlet Teen
Figura 5: página da área específica sobre sexo da Revista Capricho
Tem o slogan de “Educação sexual para o mundo real”. É voltado para adolescentes e foca em questões relativas à sexualidade e relacionamentos, com seções dedicadas exclusivamente a relacionamentos LGBT e entre pessoas com deficiências físicas. Destaca-se pela ampla seleção de assuntos relativos a relacionamentos e saúde sexual, principalmente por dispor de uma lista de links para receber ajuda em caso de relacionamentos abusivos ou dúvidas sobre prevenção e contracepção.
Após este estudo mais aprofundado das soluções similares, fica um maior entendimento sobre como o adolescente, pais e jovens adultos se relacionam com o tema escolhido para o projeto. Fica claro também que, para o desenvolvimento das
Figura 6: página inicial do site
próximas etapas, é de extrema importância levar em conta o tom de voz adotado no conteúdo, assim como o vocabulário gráfico mais comum, a saber: paleta de cores vibrante e leve, preferência por ilustrações vetoriais e conteúdos multimídia.
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Público
Figura 7: personas elaboradas para melhor entendimento do público
O público que este projeto visa atender são mulheres jovens
um questionário e a realização de entrevistas em profundida-
adultas e meninas em idade escolar. Foram realizadas pes-
de. Objetivou-se entender de que forma se dá o contato de
quisas que auxiliaram nessa escolha, incluindo a aplicação de
mulheres com o tema de Orientação Sexual, como são essas
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Quando existem dúvidas, onde você costuma buscar
possuem valores, motivações, desejos, expectativas e neces-
informações sobre sexualidade e sexo?
sidades de um determinado grupo identificado – entendendo aqui que essas personas representam um “tipo ideal”, um ar-
100%
0%
não costumo buscar isso
20%
na escola
40%
com amigos
60%
sites especializados
80%
com um ginecologista
quétipo, e não um personagem individual. As personas que foram identificados através da aplicação do questionário são mostradas a seguir, através de parágrafos descritivos e ilustração específica. O objetivo, ao desenvolvê-las, foi identificar o ponto de vista das entrevistadas a respeito da sexualidade feminina e educação sexual, buscando entender os valores que embasam as respostas dadas durante a pesquisa. Buscou-se contemplar perfis distintos que englobassem contex-
Gráfico 1: resultados do questionário sobre onde se costuma buscar informações
experiências, etc. Houve uma grande adesão do questionário online, que conta com cerca de 240 respostas no total. Vale ressaltar que as entrevistas realizadas in loco não foram tão bem-sucedidas, seja por timidez das entrevistadas ou pela falta de respostas por parte dos colégios e cursos procurados. A partir dessas pesquisas, foram elaboradas sete personas que serão apresentadas à seguir. É válido destacar que a vasta maioria dos entrevistados quando perguntada sobre onde buscam informações sobre o assunto (Gráfico 1) respondeu que busca em ambiente online ou com profissionais de saúde, o que é uma informação valiosa para as etapas posteriores do projeto.
Personas Personas são arquétipos concebidos a partir da síntese dos comportamentos observados entre as pessoas pesquisadas (VIANA et al, 2012). Funcionam como personagens fictícios que
tos sociais diferenciados nos grupos averiguados durante a etapa de pesquisa. Foram criadas, então, personas, com o intuito de tangibilizar aspectos úteis observados, além dessas personas funcionarem como forma de aproximação com o público. Além da aplicação do questionário online, foram realizadas visitas ao C.E. Manuel de Abreu, localizado em Niterói - RJ, com o objetivo de validar essas personas entre as meninas entrevistadas durante a primeira etapa da pesquisa. A grande questão que surgiu durante esse encontro foi ligada a representatividade pois, por mais que o conteúdo fosse adequado, a representação escolhida para visualização dessas personas (fotos de bancos de imagens) foi considerada estereotipada e algo que mais atrapalhava do que ajudava. Foi essa observação, então, que impulsionou a ilustração das personas de uma forma mais amigável, que aproximasse o público do conteúdo e facilitasse sua compreensão - e inspirou também as soluções posteriores ligadas à visualidade do projeto. Foi decidido elaborar ilustrações que fugissem do estilo cartoon, assim como do estilo “flat”/minimalista em voga online (Figuras 8 a 10), pois considerou-se que nenhum dos dois era adequado. Se a proposta ali
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era aproximar-se do público, era necessário algo que falasse com ele num nível mais próximo, elaborando ilustrações que capturassem sua essência. Após cerca de 15 dias no ar, o questionário somava mais de 240 respostas, que foram analisadas e compiladas em documentos, planilhas, gráficos comparativos, etc. Posteriormente, ambas pesquisas foram utilizadas como base para a definição de personas, apresentadas a seguir com suas respectivas des-
Figura 8: exemplo de ilustração no estilo “flat”
crições e ilustrações finalizadas. Os trechos entre aspas são reproduções de partes de respostas dos questionários ou de falas das entrevistadas.
Figura 9: exemplo de ilustração no estilo “flat” e cartoon
Figura 10: exemplo de ilustração no estilo “flat” e cartoon ESDI / UERJ
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Só na intimidade Sexo é um ato extremamente íntimo e, portanto, não caberia ser discutido em ambientes públicos ou entre pessoas que mal se conhecem. Assim, concordam com a abordagem do tema de educação sexual nas escolas, mas defendem que não se deve aprofundar demais em especificidades do ato em si, de forma a não constranger ninguém. Acreditam que “certas coisas é melhor descobrir com o parceiro/a”, então não costumam procurar informações além das relativas métodos de prevenção de DSTs e questões ligadas à biologia. “A graça está na descoberta”. Preferem estar “despreparadas” e aproveitar o momento da descoberta junto com o parceiro, do que buscar “informações demais”. Acredita que informações buscadas em paralelo são muito “frias e distantes”, o que não deve existir numa relação íntima. Algumas admitem ter vergonha de não saberem mais sobre assuntos relativos a sexo e sexualidade, e que se sentem intimidadas de admitir isso em seu círculo de amizades. Virgindade é algo de importância relativa: não acham que é algo que define o valor da mulher, mas também acreditam que é um momento importante na vida de qualquer um. “Não pode ser com o cara da esquina, mas também é bom que não seja na lua-de-mel”
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Eu cresci agora sou mulher A sexualidade feminina é vista como “um ato de resistência dentro da sociedade patriarcal na qual estamos inseridas”. O fato da mulher procurar se informar sobre o próprio corpo seria um ato de rebeldia, de luta política contra séculos de repressão. Para esta persona, a educação sexual deveria abranger aspectos biológicos, psicológicos, questões de gênero e relacionamentos, funcionando como uma chance de autodescobrimento e empoderamento feminino. Normalmente procuram informações nos mais diversos lugares, incluindo na internet (vídeos, sites especializados, fóruns e grupos exclusivos), com a ginecologista e entre amigas. Pensam que a sexualidade feminina é intimidadora para os homens e para a sociedade, algo “selvagem e puro” que deixa as pessoas mais conservadoras desconfortáveis, o que causa essa aura de tabu em volta do tema. Acreditam na existência de uma dicotomia entre os tratamentos recebidos entre mulheres e homens no que concerne a virgindade: “se a menina transa, ela é uma vadia. Se não transa, é púdica demais. Não tem como vencermos”. Por fim, sentem falta de espaços seguros para abordar o tema de sexo e sexualidade e acreditam que eles só existem quando exclusivos para mulheres.
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Meu corpo, minhas regras Esta persona encara sexo como algo natural e inerente ao ser humano, e considera que, como tal, as mulheres não deveriam sofrer represálias por serem sexualmente ativas ou falarem de sexo. Para ela, sexo é um processo “lindo, de autodescobrimento e aprendizagem ao longo de toda uma vida”. Defendem que a curiosidade natural em relação ao assunto deve ser estimulada. Não consideram ter passado por nenhum constrangimento ao abordar o tema, ou pelo menos ele nunca foi tão grande que tivesse impedido a exposição de ideias e opiniões. Consideram-se senhoras legítimas do próprio corpo, e que esse “direito” deveria ser inalienável sob qualquer ótica. Há uma forte presença de ideias de maximização da autonomia e da liberdade de escolha de cada indivíduo. Não acreditam que a escola possa proporcionar ambientes adequados para a discussão do tema, e afirmam que a criação de espaços próprios para o tema (como workshops, rodas de conversa, etc) é a melhor solução.
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Escolhi esperar Este grupo considera que a mulher que procura muitas informações ligadas a sexo e sexualidade “não presta”, já que é responsabilidade do homem saber o que fazer e como agir nesse momento. Falar sobre isso, tanto em público quanto entre amigos, é constrangedor, pois uma “moça de família” deveria ter mais ocupações na mente do que esse tipo de assunto. Concordam com a inclusão de educação sexual no currículo do Ensino Médio, com o foco em aspectos biológicos da puberdade e em métodos contraceptivos, sendo que consideram o medo como melhor método de prevenção: “basta mostrar umas imagens bem nojentas de DSTs que eu quero ver se eles [os adolescentes] vão continuar querendo sair transando por aí”. Dizem não sentir curiosidade nem necessidade de procurar mais informações sobre o tema, e defendem que tudo que precisam saber o parceiro vai ensinar quando a hora chegar. Há uma forte presença de valores religiosos, de família e tradição, muitos afirmando que só acham correto transar após o casamento pois “Quem vai querer uma mulher que não é mais virgem? Que não soube se guardar?”.
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Quero mas não posso Há especulação sobre o tema de sexo e sexualidade, mas não há espaços para conversas francas sobre o assunto, pois temem ser julgadas e acabam mantendo dúvidas e experiências em segredo. Esta persona representa as meninas que cursam o Ensino Médio, que não gostam de admitir que sentem curiosidade sobre o assunto. Neste caso, quem busca informação sobre sexo e sexualidade é “um sem-vergonha”. Expressões como “procurar informações na internet, LOGO EU?” e “eu sou PURA, já fulana..” foram recorrentes durante as entrevistas. Apesar de haver muito pudor ao tratar sobre o assunto, não há uma romantização da primeira vez, encarada por elas como um rito de passagem natural para a “vida adulta”. As que admitem já ter tido alguma experiência se sentem envergonhadas de admiti-lo, mas defendem que “sexo é um assunto muito importante, e me sentia despreparada na minha primeira vez”. Por fim, são contra a abordagem de temas relativos a gênero, pois “não devemos misturar as coisas, sexo por si só já é um assunto enorme para lidar”. Em resumo, há uma vontade de se informar mais e de discutir temas de sexo e sexualidade, mas se sentem envergonhadas e constrangidas de fazê-lo, tanto em espaços físicos quanto virtuais.
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Responsabilidade acima de tudo O foco, para esta persona, está na carga de responsabilidades atrelada ao ato sexual, sendo que o prazer fica em segundo plano. Para eles, a decisão de fazer sexo com o parceiro é uma decisão que muda vidas, e não tem volta. É estabelecida uma relação entre responsabilidade versus prazer, onde eles se consideram os “únicos responsáveis pelo próprio corpo” e, por conseguinte, sexo não é “só diversão” mas uma atitude cujos prós e contras devem ser analisados friamente. Se consideram pessoas questionadoras e bem-informadas, e acreditam que esse conhecimento os salvou de situações espinhosas no passado. Há um ar de superioridade em relação a pessoas que não são tão “instruídas” quanto elas, e acreditam que “hoje em dia, só fica grávida ou contrai AIDS quem quer”. Pensam que quanto mais informação a pessoa tem, menores são os riscos que ela corre e pensam que é trabalho da escola ensinar como se proteger das “armadilhas” de uma vida sexual ativa, assim como cabe à mulher a prevenção de gravidez indesejada. Por fim, se sentem desconfortáveis em abordar o assunto em pessoa, e preferem o anonimato de pesquisas online e visitas ao ginecologista. Para elas, a camisinha resolve todos os problemas do mundo.
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Pela moral e bons costumes Para esta persona, sexo é algo para adultos com discernimento, preferencialmente em relacionamentos estáveis e com perspectivas de futuro. Acreditam que “educação se dá em casa”, portanto são contra a abordagem de qualquer assunto ligado a sexo e sexualidade, inclusive aspectos físicos e biológicos. Mesmo que seja “errado”, os jovens vão fazer sexo, então cabe aos pais alertar sobre os perigos. Para elas, a educação sexual “incentiva jovens impressionáveis a praticarem o ato em si”. Não acham que adolescentes possuem autonomia para decidir sobre fazer ou não sexo pois, para esta persona, os jovens não acreditam que suas atitudes irresponsáveis terão consequências duradouras. Por fim, argumentam que na sociedade atual as “mulheres não sabem mais se valorizar” e acham que o maior erro na vida de uma mulher é ela não saber esperar o “homem certo”. Não compreendem questões relativas a gêneros e orientação sexual diferente da heterossexual padrão, e acham que é tudo uma “modinha” dos jovens.
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Definição do Público Foram escolhidas como público deste projeto as personas “Só na intimidade” e “Quero mas não posso”, que se assemelham nos seguintes aspectos: se sentem constrangidas em abordar o assunto em público; tem uma curiosidade que gostariam de explorar porém não sabem onde procurar tais informações; gostariam de poder falar sobre sexo em um ambiente seguro e acolhedor; e, por fim, gostariam de não se sentirem sozinhas em suas experiências, saber que alguém já passou por tudo que passaram. Seguindo o método proposto em Viana (2012), um mapa de empatia foi elaborado (Figuras 11 e 12) para melhor entender e visualizar diversos aspectos importantes dessas personas, a saber: 1. o que veem: onde buscam informações, como percebem as coisas, quais canais de informação influenciam suas opiniões. 2. o que ouvem: quais as pessoas influenciam-nas, o que é dito sobre o assunto em seu círculo social. 3. o que pensam/sentem: quais são as preocupações, aspirações. 4. o que falam/fazem: como se comportam em público, quais são suas atitudes e discursos. 5. quais são seus obstáculos: quais são os problemas enfrentados, quais são seus problemas e frustrações. 6. quais são seus ganhos: quais são seus desejos e necessidades.
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Figura 11: mapa de empatia da persona “Quero mas não posso” ESDI / UERJ
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Figura 12: mapa de empatia da persona “Só na intimidade” ESDI / UERJ
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Referencial teórico
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Senhor! Senhor!, tornou a gritar, ao concluir
de gênero, poder e política, atribuindo importância à construção
os seus pensamentos, “devo, então, come-
simbólica da diferença entre os sexos nesse contexto. Em “Gênero:
çar a respeitar a opinião do outro sexo, em-
uma categoria útil de análise histórica”, a autora afirma que “o uso
bora me pareça monstruosa? Se uso saias,
de gênero enfatiza todo um sistema de relações que pode incluir o
se não posso nadar, se tenho de ser salva
sexo, mas não é diretamente determinado pelo sexo, nem etermi-
por um marinheiro, Deus meu!”, gritou,
na diretamente a sexualidade” (SCOTT, 2015), isto é, a hierarquiza-
“que hei de fazer?” E com isso entristeceu.
ção e dualidade construída sobre a sexualidade humana pode ser encarada como uma metáfora para os confrontos políticos de de-
(Virginia Woolf)
terminados grupos sociais, ao longo da história, contribuindo para a construção e o estabelecimento da lógica do poder. Em seu livro História da Sexualidade 1: a vontade de saber , Fou-
Todas as palavras possuem uma história, e, como propõe
cault (1986) apresenta sua tese de uma sexualidade construída
Saussure (1969), são arbitrários e mutáveis os significados atri-
culturalmente em paralelo aos valores e objetivos políticos de
buídos às palavras. Neste trabalho faz-se necessário estabele-
grupos sociais, embasando seu ponto de vista numa análise
cer um vocabulário comum antes de dar prosseguimento às
histórica focada em três pontos principais: a disseminação da
etapas posteriores, principalmente no que concerne ao gênero
confissão cristã a partir do séc XIII e sua cientifização a partir
e ao sexo. De acordo com um levantamento inicial de infor-
do século XVIII; o aumento dos discursos sobre sexualidade e
mações acerca do tema (BRASIL, 2013), a posição dos órgãos
a paradoxal diminuição do vocabulário autorizado; e a criação
públicos de saúde expressa nos materiais encontrados é favo-
de um chamado biopoder3.
rável à essa dicotomia entre sexo e gênero. Cabe, então, uma breve investigação histórica sobre esses termos, de forma a auxiliar a tomada de decisão e uma abordagem clara. O próprio termo sexualidade é algo que surge na virada do século XIX para o XX (FOUCAULT apud LAQUEUR, 2001), e pertence, dessa forma, à sociedade moderna. Joan Scott (1995) discute as relações
3. Biopoder refere-se à prática dos Estados modernos de regulação de sua população por meio de técnicas “numerosas e diversas para obter a subjugação dos corpos e o controle de populações” (FOUCAULT, 1986). O termo geralmente é usado em referência a práticas de saúde pública, regulação de hereditariedade e regulação de risco.
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Foucault não utiliza em sua análise a categoria de gênero, tra-
Algumas reflexões sobre sexo e gênero
tando o tema de sexualidade de maneira mais ampla. O autor também apresenta as contradições do que chama de “hipótese
O termo gênero advém de genus, que, em Latim, pode significar
repressiva”, a noção de uma repressão sexual vigente na socieda-
nascimento, família, tipo. Gramaticalmente, vem sendo utilizado
de desde o século XVIII. Desde esse período, a sociedade europeia
ao longo do tempo como um classificador de palavras, dividin-
tinha o sexo “legítimo” reduzido apenas à função reprodutora, o
do-se entre: neutro, masculino e feminino. A partir do século XV,
casal como um “modelo”. O que sobrava, tornava-se uma espécie
tornou-se um sinônimo para o sexo biológico dos indivíduos, e
de “amor mal”, que era expulso, negado e reduzido ao silêncio.
consequentemente masculino e feminino passaram a significar o gênero de indivíduos masculinos e femininos. Uma das primei-
Sua análise, então, se inicia a partir de um paradoxo: ao con-
ras aparições do termo identidade de gênero se deu nos anos
trário do que se pensava, essas proibições e regulamentações
1960, quando psicólogos americanos pesquisavam pessoas com
dos comportamentos sexuais não constrangiam ou reprimiam
“sexo ambíguo” - que apresentavam características físicas tidas
uma suposta sexualidade pré-existente, mas sim estimulavam
como femininas e masculinas - e apropriaram-se do termo para
a criação e disseminação de discursos e relações sociais espe-
designar uma “identidade de gênero” que existiria somada a um
cíficos. Quanto à legitimidade do discurso, o autor argumenta
corpo qualquer (CARVALHO, 2011).
que o discurso científico ganha força e passa, de certa forma, a legitimar e deslegitimar práticas ligadas à sexualidade, re-
É possível afirmar, porém, que a ideia central do conceito de
vestindo-as com uma aura de sabedoria e verdade científica.
gênero, tal como apresentado na sociedade contemporânea,
De acordo com Souza e Cascaes (2008), é nesse momento que
vem de Simone de Beauvoir. Com sua já imortalizada afirma-
o discurso médico da “mulher histérica” ganha destaque. Para
ção “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, a autora é uma
as autoras, essa histerização dos corpos femininos é conse-
das mais proeminentes teóricas do feminismo. De forma ge-
quência direta da “mulher nervosa”, construída como oposto
ral, ao questionar-se o que é “ser mulher”, Beauvoir indaga se
da “boa mãe”, que era a grande função da mulher na ordem
basta apenas possuir um útero para ser categorizada como tal
social vigente. Souza e Cascaes argumentam que:
- e, ao negar essa correspondência direta, chega à conclusão de que nem todo ser humano do sexo feminino é necessaria-
“[...] todo o processo de construção cultural simbólica
mente uma mulher, pois “cumpre-lhe participar dessa realida-
de gênero, em torno da imagem da mulher-mãe, pode
de misteriosa e ameaçada que é a feminilidade” (BEAUVOIR,
nos possibilitar a visão de todo um projeto de racio-
1980, p. 13). A autora busca entender a quais lugares sociais
nalização econômica que constrói a sociedade (e a de-
pertencem os homens e as mulheres, quais fatores culturais
sigualdade entre grupos e indivíduos) sobre a base de
circundam essas duas figuras na sociedade. Para Beauvoir, a
uma aparente neutralidade dos fatos biológicos, histo-
mulher é sempre vista como o Outro, um negativo secundário
ricamente universais e, supostamente, isentos das lutas
da figura do homem, e as diferenças que advêm dessa relação
políticas” (SOUZA; CASCAES, 2008, p. 88).
são produzidas e mantidas no âmbito sociocultural. A partir
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disso, é possível concluir que a feminilidade é ao menos tanto
contemporânea, para guiar estudos futuros e estabelecer uma
uma construção social quanto biológica, uma identidade cons-
base teórica inicial. Além disso, foi observado nos resultados
truída através do aprendizado e da repetição de certos gestos.
do questionário e das entrevistas que diversos pontos dessa temática sobre gênero e sexualidade foram abordados pelo
Já Butler (2010) argumenta que a sociedade está inserida numa
entrevistados, tornando essencial o estabelecimento desse
“ordem compulsória” que demanda total alinhamento entre um
referencial teórico para a compreensão dos questionamentos
sexo, um gênero e um desejo/prática obrigatoriamente heteros-
levantados e o estabelecimento de uma comunicação efetiva.
sexuais. Para a autora, a visão binária de sexo/gênero segundo a qual o sexo é natural e o gênero é algo socialmente construído não procede pois essa polarização limita as possibilidades de manifestações de gênero e sua complexidade, que existe além do espectro masculino/feminino. Butler argumenta que: “Essa formulação radical da distinção sexo/gênero sugere que os corpos sexuados podem dar ensejo a uma variedade de gêneros diferentes, e que, além disso, o gênero em si não está necessariamente restrito aos dois usuais. Se o sexo não limita o gênero, então talvez haja gêneros, maneiras de interpretar culturalmente o corpo sexuado, que não são de forma alguma limitados pela aparente dualidade do sexo.” (BUTLER, 2010, p. 163). Assim, segundo Butler, o gênero não tem uma identidade inalterável, pois suas características são performativas e podem estar presentes em qualquer corpo. O gênero se constrói, então, através do discurso performado em sociedade. Não haveria, dessa forma, atos de gênero verdadeiros ou falsos, reais ou distorcidos. Por fim, pode-se argumentar que cada indivíduo possui uma identidade de gênero própria, um senso interno de ser masculino, feminino ou qualquer variação desse espectro. Foi considerado de extrema importância investigar as questões relativas à sexualidade e gênero feminino na sociedade
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II.Diretrizes Projetuais
Critérios norteadores
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Com base no resultado da fase de pesquisa, foram definidas diretri-
e dúvidas. A troca de experiências também é importante, pois atra-
zes para orientar a elaboração da proposta de serviço. Considerou-
vés do compartilhamento de narrativas e experiências a mulher tem
-se imprescindível que o serviço estivesse à disposição da mulher
a possibilidade de ver que muitas outras pessoas já passaram por
que for utilizá-lo, que ela possa acessá-lo facilmente e não dependa
uma determinada situação que a incomoda no momento.
de outros para visualizar o conteúdo desejado, sejam esses outros a escola, pais ou mesmo o parceiro. Essa independência, porém,
Quanto aos aspectos visuais e de comunicação, o serviço deve
não existe sem uma proteção muito grande à privacidade desse
transmitir seriedade sem ser extremamente formal ou sisudo.
usuário: anonimato é fundamental nesse tipo de projeto. De fato,
Dada a natureza dos assuntos abordados, é necessário que haja
o serviço deve permitir que quem o utilize não seja identificado, a
um equilíbrio entre referências de segurança e jovialidade - o ser-
fim de evitar represálias, constrangimentos e exposição de dados
viço deve transmitir credibilidade e confiança sem, entretanto, es-
pessoais e informações sensíveis.
tabelecer uma linguagem formal demais ou cientificista. É importante atentar também para que a comunicação não adote uma
De fato, ambos fatores são considerados vitais ao serviço pelas per-
visualidade infantil e estereotipada do que é ser uma adolescente
sonas escolhidas. Como pode ser observado anteriormente no mapa
- deve-se trazer referências do universo conhecido sem cair em cli-
de empatia, ambas personas gostariam de se sentir “prontas” quando
chês visuais. Precisa-se buscar um equilíbrio entre esses dois uni-
decidirem se tornar sexualmente ativas, e desejam algo que forneça
versos semânticos, e procurar soluções que ofereçam uma alterna-
as informações na hora em que se fizerem necessárias. Elas também
tiva bem-vinda aos exemplos existentes mostrados anteriormente.
apresentam certa timidez ao abordar o assunto, e é um receio, em sua maioria, de ser julgada por suas escolhas ou por suas dúvidas - dessa
Por fim, toda a comunicação e materiais produzidos devem ser
forma, a proteção conferida pelo anonimato é essencial.
inclusivos e livres de estereótipos, de forma a oferecer uma abordagem mais completa e abrangente da temática da sexualidade.
Outro fator importante é acolher essas meninas e mulheres em um
Como visto durante as pesquisas, a falta de representatividade foi
ambiente seguro e livre de julgamentos. Muitas das mulheres que
citada como um dos maiores fatores que distanciam essas me-
inspiraram as personas escolhidas disseram já ter sofrido algum tipo
ninas e mulheres dos discursos dos materiais já existentes. Não
de represália, preconceito ou constrangimento ao abordarem a te-
existem muitos espaços que discutam a sexualidade feminina de
mática de sexo e sexualidade. Então, recebê-las em um espaço segu-
forma direta e inclusiva, e a linguagem adotada aqui será crucial
ro e acolhedor tornaria mais fácil a exposição de seus pensamentos
para oferecer um material completo que ressoe com o público.
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Proposta
Decidiu-se estruturar todo o material desenvolvido em torno
ta ênfase em uma suposta factualidade científica. Além disso,
de duas meninas que funcionam como pontos de identifica-
também não se sentem confortáveis ao lidar com um conteú-
ção e identidade. Optou-se pelo desenvolvimento de uma pla-
do que consideram explícito, portanto é fundamental apresen-
taforma online que disponibilize esses conteúdos - é através
tar o assunto de forma delicada e acolhedora.
das narrativas desenvolvidas nessa plataforma, nessas pequenas histórias e anedotas protagonizadas pelas personagens,
Sobre a plataforma, considera-se o ambiente online o mais ade-
que os conteúdos selecionados são apresentados.
quado para a reunião e disseminação dos materiais desenvolvidos, pois a internet oferece um espaço livre e anônimo, disponível
A adoção dessa abordagem mais lúdica se baseia na busca de
e acessível a todos. É estruturada em três grandes áreas, à saber:
uma identificação por parte do público escolhido e na necessidade de apresentar essas informações e relatos de forma
1. Cartilhas, que são pequenos livretos organizados de
acolhedora e segura. Uma personagem existe a partir das his-
acordo com temáticas específicas, ilustrados e pensa-
tórias que conta, e é através delas que o público se identifi-
dos de forma a facilitar seu download e impressão nas
ca com seus ideais e valores - histórias conectam. Yves Reuter
condições mais adversas;
(2002) explica que “as personagens têm um papel essencial na organização das histórias. […] São as personagens que per-
1. Histórias, narrativas ilustradas com situações cotidia-
mitem as ações e lhes dão sentido.” Assim, ao trazer as vivên-
nas, podendo ou não ser escritas por autores conheci-
cias cotidianas de mulheres contadas através dos olhos dessas
dos do público e autoridades do assunto;
personagens, Sofia e Julieta tornam-se avatares do público em um contexto diferenciado: num cenário virtual, anônimo e se-
1. Fórum, um espaço de interação e troca, que preza
guro. Estejam essas meninas vivendo uma determinada situa-
pelo anonimato e acolhimento de dúvidas e questões
ção pela primeira vez ou revisitando incertezas familiares, elas
dos usuários.
estarão protegidas em seu anonimato, e sendo recebidas por duas personagens isentas de qualquer julgamento moral. Como visto durante as pesquisas, o público escolhido não se
Tem-se como foco desta plataforma, então, a criação de narrati-
relaciona de forma positiva com o acúmulo de dados e mui-
vas com as quais o público se identifique, na forma das Histórias;
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o desenvolvimento de materiais de apoio e informação, na forma
Naming
das Cartilhas; e a criação de espaços seguros de interação, na forma do Fórum. Quando se leva em conta o público deste projeto,
Como duas personagens servem de referência central para o
é importante incentivar a aproximação dele com o conteúdo, aco-
site, decidiu-se utilizar seus nomes para a marca. Assim, nas-
lhendo-o da forma mais sutil e completa possível - daí, o conteú-
cem Sofia e Julieta, duas adolescentes que não poderiam ser
do é textual e visual, com um espaço para comentários, dúvidas
mais diferentes uma da outra.
e vivências, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor ao proporcionar uma experiência não-intrusiva e que depende
Em grego, sophia quer dizer sabedoria - Sofia, então, tem uma
do interesse e engajamento de cada usuário, nada é imposto ou
personalidade cautelosa, prudente e centrada, mas também
obrigatório, e a plataforma funciona no ritmo de cada um. Por
em em si uma vontade de saber que a motiva a sempre querer
fim, é interessante que existam materiais disponíveis para down-
explorar mais e saber mais - sobre si mesma, sobre os outros,
load, expandindo o conceito de troca de experiências para além
sobre o mundo. Já Julieta é apaixonada - pela vida e pelos que
do ambiente virtual e facilitando que o assunto possa ser intro-
nela estão -, romântica e impulsiva, que se joga nas experiên-
duzido no cotidiano dessa mulher e levado ao parceiro, amigas e
cias e quer aproveitá-las ao máximo. Em comum, ambas têm
escolas, caso haja interesse por parte da usuária.
uma curiosidade e um brilho do olhar de quem ainda não viu nem a terça parte do que gostariam do mundo.
Busca-se criar uma rede orgânica de suporte entre mulheres e meninas que estejam passando por qualquer momento de
Assim, as duas representam uma forma de ying e yang, sendo
dúvida ou incertezas, através do desenvolvimento de narrati-
que as experiências que compartilham, suas dúvidas e conquis-
vas e disponibilização de informações seguras e atualizadas.
tas, acabam por criar um meio-termo de acolhimento e perten-
Esta é uma plataforma online de troca de experiências e in-
cimento. Também representam as duas personas originais que
formações acerca do tema, e busca atender às reais necessi-
orientam as decisões de projeto deste trabalho: são um reflexo
dades das adolescentes e jovens adultas desse Brasil. E, por
dos valores e opiniões encontradas durante a etapa de pesquisa.
fim, como a plataforma é baseada em narrativas e troca de experiências, nada mais adequado do que o estabelecimento
Esta plataforma, então, reúne as vivências de Sofia e Julieta, es-
de duas personagens como fio narrativo de todo conteúdo.
sas meninas-espelhos que refletem as inseguranças e alegrias de uma etapa cheia de mudanças e questionamentos na vida de uma mulher. Nas Histórias, os conteúdos são apresentados através de narrativas sobre experiências pessoais das personagens. Nas Cartilhas, organizadas de acordo com temáticas específicas, Sofia e Julieta apresentam conteúdos e respondem a perguntas relativas ao tema, coletadas tanto nos fóruns online quanto durante a etapa de pesquisa deste projeto. Por fim, no
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fórum, as personagens aparecem como mediadoras das conversas, contribuindo com pequenos insights e orientações. Por fim, considera-se que “Sofia e Julieta” preenche certos requisitos formais que o tornam uma opção viável: É contemporâneo e de fácil assimilação; é diferente dos seus pares, pois a grande maioria dos serviços similares de informação sobre sexualidade e sexo optam por caminhos mais formais e tradicionais; transmite uma sensação de familiaridade e aproxima o público das personagens. Também foram pesquisados domínios online disponíveis, e diversas variações do nome são possíveis.
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Referências visuais
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A criação das personagens foi a pedra de toque do desenvolvi-
identidade geral do projeto. Foi elaborado um moodboard com
mento da visualidade do projeto. Para a criação de Sofia e Ju-
exemplos de marcas e grafismos que compõem o universo visual
lieta, buscou-se referências visuais comuns ao universo desse
já conhecido pelo público (Fig. 15), assim como exemplos gráficos
público. Foi elaborado um moodboard (Figura 14) específico,
que conjugassem aspectos de acolhimento e confiabilidade.
com exemplos de como meninas e jovens mulheres costumam ser representadas na mídia, por artistas com um estilo condizente com as diretrizes projetuais. Além disso, também foram selecionadas algumas graphic novels4 como inspiração gráfica para as cartilhas e para o site - foram escolhidos títulos voltados para o público jovem, com protagonistas femininas, que apresentassem uma paleta de cor, estilo de ilustração e hierarquia visual interessantes. O objetivo aqui foi de reunir inspiração para essas personagens, que deveriam trazer todas as características atreladas aos nomes escolhidos. Paralelamente a essa pesquisa para o desenvolvimento das personagens, realizou-se uma busca de referências visuais para a
4. termo Graphic Novel foi utilizado pela primeira vez em 1964 em um fanzine criado por Richard Kyle, porém foi Will Eisner quem popularizou o termo em 1978 com “Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço”. Por definição, é “ [...] estruturada como um romance, como um conjunto com princípio, meio e fim, com seus próprios temas e conceitos únicos para esta obra e não apenas como uma série de tiras compiladas para criar um livro” (TALBOT in WITHROW; DANNER, 2009).
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Figura 13: moodboard inspiracional das ilustrações
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Figura 14: moodboard inspiracional de graphic novels
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Figura 15: moodboard da identidade visual
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III. Resultados
Identidade Visual
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MARCA A partir da pesquisa mostrada anteriormente, decidiu-se pela elaboração de um logo que trouxesse elementos caligráficos, quase uma assinatura das personagens da plataforma - como se endossassem o conteúdo, assinando embaixo de tudo. Ao adotar um logo caligráfico, soma-se à marca certos conceitos de jovialidade e proximidade que outras soluções não apresentaram. Como pode ser visto abaixo, essa opção traz algo divertido e jovem, sem perder a credibilidade necessária ao conteúdo abordado nem afastar-se demais do público e tornar-se algo “institucional”.
Figura 16: marca
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ILUSTRAÇÕES Optou-se pelo desenvolvimento de personagens que fossem expressivas e de fácil reprodução, de forma que seu uso constante nos materiais do projeto fosse viável. Se comparado ao estilo visual utilizado nas personas, este é um pouco menos elaborado e “adulto”, sendo notadamente mais adequado ao público e ao tom de voz mais caloroso utilizado na plataforma. Além disso, é mais expressivo e, ao simplificar formas e limitar uma paleta de cores, mais contemporâneo dialoga especificamente com a visualidade adotada em graphic novels e webcomics.
Figura 17: Sofia e Julieta
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Figura 18: Sofia
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Figura 19: Julieta
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PALETA DE CORES Sobre a paleta de cores escolhida, as mesmas diretrizes foram seguidas. Buscou-se também trazer um vocabulário visual mais moderno e menos estereotipado, evitando soluções que fossem infantis ou frias/distantes.
CORES PRINCIPAIS
RGB 179 46 152 CMYK 40 88 0 0
RGB 8 2 65 CMYK 80 100 35 50
RGB 33 232 92
RGB 91 196 187
CMYK 5 0 75 0
CMYK 60 0 33 0
CORES DE APOIO
RGB 100 72 125
RGB 248 140 77
CMYK70 80 25 10
CMYK 0 55 72 0
RGB 45
RGB 85
CMYK 0 60 60 70
CMYK 60 50 50 45
Figura 17: Sofia e Julieta
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ELEMENTOS DE APOIO Além das ilustrações das personagens, presentes em diversas partes da plataforma e seus materiais, foram elaborados alguns ícones e elementos gráficos de apoio, optando-se pela composição de ilustrações mais elaboradas das personagens e ilustrações mais simples e “rabiscadas”, simulando interferências como rascunhos em um diário. Nos materiais impressos e no site, também foram utilizados elementos que remetem a essa estética de “diário”, como boxes coloridos similares a post-its ou elementos horizontais fazendo alusão a marcadores de texto.
Figura 20 - 22: padrão e elementos de apoio isolados
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TIPOGRAFIA Foram utilizadas duas famílias tipográficas para a composição da plataforma e dos materiais adjacentes. Como fonte para títulos e destaques, foi escolhida a fonte Bree, uma sem serifa que apresenta certas marcas tipográficas que a aproximam do logo mais caligráfico, trazendo leveza sem, porém, perder a seriedade. Já para a mancha de texto, foi escolhida a família tipográfica Open Sans, caracterizada por um corpo de texto leve e discreto, além de proporcionar uma leitura confortável tanto na tela quanto em impressos.
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Site
A plataforma tem uma arquitetura de página simples e direta. Ao entrar no site as duas personagens principais são apresentadas, e estabelecem um diálogo com o usuário que dará o tom dos conteúdos como um todo: linguagem informal, frases curtas, diretas e lúdicas. Em resumo, a estrutura da plataforma é a seguinte: Fórum: para discussão de tópicos ligados à temática de sexualidade e sexo; Histórias: narrativas ilustradas de tópicos do cotidiano; Cartilhas: material com uma abordagem um pouco mais informacional/didática, disponível para download. Quanto ao conteúdo disponível na plataforma, foram desenvolvidos exemplos desses materiais - foi escrito o conteúdo de uma cartilha e uma história, além de toda parte institucional e de apresentação das diferentes estruturas que compõem a plataforma. O desenvolvimento dos textos de apresentação e introdução aos conteúdos foi de vital importância para o estabelecimento do tom de voz geral, tanto das personagens quanto do site em si, e essa estrutura será mantida nos materiais disponíveis e em quaisquer desdobramentos futuros. Idealmente, no lançamento da plataforma, estarão disponíveis dois exemplos de histórias, três cartilhas ilustradas e um conteúdo sobre privacidade online. A seguir, são mostrados exemplos das páginas da plataforma, tanto da versão desktop quanto mobile. Existe ainda um protótipo da plataforma, versão desktop, que pode ser acessado nos links invis.io/R2FSNLDUMT8 e adobe.ly/2LQJ4Z6. Figura 23: site map da plataforma
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Figuras 24 (página anterior) e 25: home page
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Figuras 26 (página anterior) e 27: página das Histórias
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Figuras 28 (página anterior), 29 e 30: página das Histórias - conteúdo
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Figuras 31 e 32: continuação da página das Histórias - conteúdo
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Figuras 33 (página anterior) e 34: página das Cartilhas
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Figuras 34 (página anterior), 35 e 36: página das Cartilhas - conteúdo
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Figuras 37 e 38: continuação da página das Cartilhas - conteúdo
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Figuras 39 e 40: continuação da página das Cartilhas - conteúdo
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Figuras 41 (anterior) e 42: página do Fórum
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Figuras 43 (anterior) e 44: página do Fórum - conteúdo
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Figuras 45 (anterior), 46 e 47: página Institucional - Quem somos
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Figuras 48 e 49: continuação da página Institucional - Quem somos
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Figuras 50 (anterior), 51 e 52: página Institucional - Política de privacidade Figura 53 (página seguinte): página Institucional - Curadoria
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Figura 54: página inicial - versão mobile
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Figura 55: página das Cartilhas- versão mobile
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Figura 55: página do Fórum- versão mobile Figuras 56 e 57: página das Histórias- versão mobile
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Segurança, Privacidade e equipe
põe em risco a sua privacidade, pois o Facebook aprende um pouco mais sobre você e seus interesses quando ele é utilizado
Vale ressaltar a importância do acesso aos fóruns ser restrito a
para navegação em sites de terceiros. Não é apenas o Facebook
usuários cadastrados. Considerando a sensibilidade das informa-
ou o Google, porém, que tentam rastrear as atividades do usuá-
ções que podem ser debatidas nessa plataforma, apenas usuários
rio por meio de cookies5 - diversos sites e aplicativos coletam
registrados no site poderão ter acesso ao conteúdo, bem como
dados sobre seus usuários, sem deixar claro qual a função disso
participar das discussões e responder aos tópicos. Para assegurar
e quem tem acesso a essa informação.
o máximo de anonimato possível, o nome de usuário será gerado de forma aleatória assim que a pessoa se registrar com o e-mail,
Foi realizado um teste, durante a etapa de Ideação deste pro-
e o avatar pessoal de cada um poderá ser escolhido pelo usuário
jeto, que exemplifica a importância do anonimato e segurança
dentre as opções oferecidas pelo site. Por fim, para evitar os famo-
online ao lidarmos com a temática sexual. Foram realizadas
sos “trolls” da internet, haverá um grupo de moderadores com o
pesquisas em buscadores online em três navegadores distin-
poder de banir usuários do site, e impedir, através do rastreio do IP,
tos, optando-se pelas configurações de privacidade padrão. Os
que este se cadastre novamente através de um email secundário.
termos pesquisados foram relativos à temática deste projeto, tais como “métodos contraceptivos”, “primeira vez”, “sexo” e
Além disso, destaca-se também a importância de não oferecer
“camisinha”. Após essa pesquisa, diversos anúncios relativos
a opção de login através de aplicativos de terceiros, principal-
a sites de conteúdo adulto, motéis e medicamentos ligados a
mente do facebook. Esse login funciona da seguinte maneira:
performance sexual apareceram em plataformas como o you-
ao invés de criar uma nova conta, o usuário pode simplesmen-
tube, sites de notícias, anúncios do Google e conteúdo patroci-
te se cadastrar em sites e aplicativos utilizando seu nome e se-
nado no Instagram e no Facebook6.
nha cadastrados no Facebook ou Google, por exemplo. Dessa forma, uma nova senha não precisa ser criada, e o sistema do site se conecta ao Facebook e confirma sua identidade. Por um lado, esse serviço terá acesso a certos aspectos da sua conta pessoal, como seu perfil público, endereço de email, lista de contatos ou mesmo a opção de publicar em sua linha do tempo. E como serviços como Facebook e Google são organizações com fins lucrativos, informações são trocadas numa via de mão dupla: certos dados e vestígios de sua atividade online nesses sites terceiros são incorporados à base de dados do Facebook ou Google, criando um grande histórico com suas preferências e interesses. Por mais prático que seja, optar por esse tipo de login
5. Cookies são metadados utilizados navegador para “lembrar” de preferências e informações a respeito do usuário. Ao visitar-se um site, pequenos pacotes de dados são armazenados em seu computador ou dispositivo móvel, podendo ser informações sobre configurações, preferências e links clicados, histórico de busca, termos utilizados, etc. Sua função básica é tornar a navegação mais rápida e fácil, mantendo um histórico fragmentado das comunicações que acontecem entre o usuário e os lugares que frequenta na internet. 6. Vale ressaltar que esses resultados foram observados tanto quando havia uma conta de Facebook/Google vinculada ao navegador e quando não havia.
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Com isso, pode-se claramente perceber a importância de não somente oferecer um conteúdo seguro e correto, mas também um ambiente que desencoraje esse tipo de associação entre contas e alerte sobre o tipo de conteúdo pessoal do usuário que pode estar sendo exposto sem o seu completo conhecimento. Além disso, uma das cartilhas planejadas trata exatamente dessas questões de privacidade e segurança online quando pesquisando sobre isso online. Por fim, quanto à equipe necessária para a manutenção do site, serão necessários alguns moderadores e, idealmente, uma pequena equipe de criadores de conteúdo fixa, de forma a manter a plataforma relevante e em dia com as questões reais do público conforme ele for se renovando.
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Cartilhas
As informações contidas nas cartilhas foram organizadas de acordo com temáticas específicas, e seu conteúdo foi decidido à partir das dúvidas levantadas nas entrevistas e pesquisas realizadas nos fóruns online e grupos de facebook exclusivos para mulheres. Assim como todo o conteúdo da plataforma em si, as informações disponíveis foram retiradas de sites específicos de saúde e orientação sexual, principalmente o Scarlet Teen, e dos materiais governamentais disponíveis. Quanto ao aspecto visual das cartilhas, elas foram pensadas como folhas A4, ilustradas, com cerca de 6 páginas cada uma. Optou-se por um formato grande, para que o conteúdo não seja associado a revistas em quadrinhos ou a materiais mais informais - a presença de ilustrações precisa ser contrabalanceada por uma estrutura mais formal, daí a opção pelo formato e por uma diagramação mais clássica/convencional. As cartilhas foram pensadas de forma a poderem ser impressas e disponibilizadas offline, daí a encadernação sugerida é um simples grampo no canto superior da folha. O conteúdo é estruturado em tópicos curtos e com pequenas chamadas para o texto principal, como se fossem perguntas que as próprias personagens estivessem fazendo. Como se estabelecesse um diálogo com o leitor, a personagem principal da cartilha expõe dúvidas ou situações pelas quais já passou e que ocasionaram algum constrangimento. Figura 58: capa da cartilha de Métodos Contraceptivos
A seguir, a primeira cartilha diagramada:
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Figuras 59 e 60: páginas internas da cartilha de Métodos Contraceptivos
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Figuras 61 e 62: páginas internas da cartilha de Métodos Contraceptivos
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Figuras 63 e 64: páginas internas da cartilha de Métodos Contraceptivos
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Histórias
As histórias são pequenas narrativas que ilustram situações vividas por meninas e jovens mulheres, abordando questões ligadas a sexo e sexualidade de forma leve e trazendo uma perspectiva mais pessoal/opinativa do que as cartilhas. Um exemplo desse conteúdo foi desenvolvido, e pode ser lido nas páginas seguintes. Idealmente, as histórias são um espaço aberto para qualquer autor que queria contribuir com o projeto, seja ele conhecido ou não. Um email de contato será estabelecido no lançamento da plataforma, para que essa e outras parcerias possam ser estabelecidas no futuro. O conteúdo produzido foi testado com uma pequena amostra do público - uma pequena parcela das meninas do C.E. Manoel de Abreu entrevistadas na etapa preliminar deste projeto acompanharam o desenvolvimento do site, cartilhas e história, e a opinião favorável deste grupo em relação aos resultados obtidos é promissora. O produto final desenvolvido materializa, dessa forma, os critérios norteadores deste projeto: todo o conteúdo possui uma linguagem visual e textual acessível e amigável; estabelece um canal de comunicação com o público definido previamente e funciona como uma alternativa segura e estimulante aos materiais existentes que tratam da temática de sexo e sexualidade. Assim, a plataforma, histórias e cartilhas cumprem com os objetivos iniciais deste projeto. Figura 65: História - Consentimento
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Figuras 66 e 67: continuação da História - Consentimento
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IV. Processo Criativo
Prototipagem e refinamento
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Como um complemento à apresentação deste o projeto, são mostradas à seguir, de forma cronológica, os materiais desenvolvidos ao longo do processo de desenvolvimento e refinamento das ideias, incluindo rascunhos e alternativas iniciais, tanto da identidade visual quanto do design das personagens. Quanto à identidade visual, desde o início tinha-se como referência a caligrafia e soluções que apresentassem diferença nos pesos dos traços e uma “textura visual” interessante.
Figuras 68 a 70: testes iniciais da marca
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Figuras 71 a 74: testes iniciais de estilo das personagens-tĂtulo
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Figuras 75 a 78: testes iniciais de estilo das personagens-tĂtulo
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Figuras 79 a 85: testes iniciais de estilo das personagens-tĂtulo
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Figuras 86 a 90: testes iniciais de estilo das personagens - Sofia e parceira
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Figuras 91 a 98: testes iniciais de estilo das personagens - Julieta e parceiro
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Figuras 99 a 103: testes e estilo - digital e paleta de cores
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Também foram desenvolvidos alguns protótipos iniciais para a plataforma, abandonados pois não alinhavam-se completamente com os critérios norteadores definidos previamente. Como pode ser observado a seguir, essas alternativas apresentavam certos clichês visuais associados a meninas adolescentes (Figuras 98 e 99) - a escolha por uma tipografia cursiva e uma paleta de cores cores com tons claros de rosa e azul traz pode ser associada a um universo ligado ao feminino e delicado, acabando por infantilizar a mensagem passada, além de não trazer a confiança necessária.
Figuras 104 e 105: layouts iniciais da plataforma
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Foram buscadas soluções que trouxessem um ar mais sóbrio (Figura100), trazendo referências mais adultas e uma paleta de cores mais fechada, que inspirasse confiança. Considerou-se que resultado alcançado havia se afastado muito do universo conhecido pelo público, e uma versão que representasse um meio termo visual entre as anteriores foi desenvolvida (Figura 101), dando origem à linguagem visual adotada na versão final do produto.
Figuras 106 e 107: layouts iniciais da plataforma
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Propostas alternativas
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Foram geradas alternativas de serviço que incluíssem as diretrizes projetuais, onde destacam-se as seguintes ideias: -
Elaboração de série de revistas/zines mensal temática com temas de interesse
-
Círculo de debates e troca de experiências
-
Site com conteúdo interativo e “jogos” que explorem as experiências das pessoas em forma de histórias ilustradas e contos
Essas alternativas poderiam funcionar caso o público escolhido fosse diferente, principalmente no que concerne a necessidade de para anonimato quem procura/interage com o conteúdo. A solução escolhida, porém, inclui diversos aspectos e ideias similares às listadas acima, adaptadas às necessidades específicas do público. Buscou-se incluir o que foi considerado ideal em cada uma das ideias propostas acima, e a elaboração desse conjunto de ideias tornou possível que o produto final quebrasse com o que se espera de um site que trate de assuntos de orientação sexual.
Figura 108: geração de propostas
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V. Encerramento
Considerações finais
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A pesquisa desenvolvida foi pautada em duas grandes fases:
mesma língua e apresentasse as informações de forma não
imersão preliminar no assunto de orientação sexual e sexua-
cientificista e livre de julgamentos ou preconceitos. Por fim,
lidade feminina, através de artigos, sites, fóruns online, etc.; e
também foram estudados conceitos referentes à história da
imersão em profundidade com o público, através de questioná-
sexualidade e teorias de gênero para que um vocabulário pa-
rios, entrevistas e das visitas à C.E. Manoel de Abreu, localizado
drão fosse estabelecido durante o desenvolvimento do con-
em Niterói - RJ. Considerou-se que esse processo foi crucial para
teúdo, e um breve compêndio dessas informações pode ser
a compreensão do universo da orientação sexual e de como a
encontrado na introdução deste relatório.
mulher é vista nesse contexto, tanto por ela mesma quanto pela sociedade como um todo. A pesquisa apontou três conceitos
Daí, a solução se dá na forma de uma plataforma online, que
fundamentais no que tange à construção de um diálogo efetivo
não somente oferece todas as informações necessárias, mas o
com jovens mulheres acerca do tema: representatividade, aco-
faz de uma forma acolhedora e anônima. Ao estabelecer esse
lhimento e anonimato. Além deles, também foram encontrados
canal de comunicação direto com o público, acredita-se que
outros valores norteadores para o projeto que formaram a base
as demandas identificadas em etapas anteriores foram aten-
conceitual de diretrizes para seu desenvolvimento.
didas. Espera-se que, no futuro, o material desenvolvido seja expandido e possa cobrir uma gama de assuntos e temas li-
Os insights e observações adquiridos durante a etapa de imer-
gados à orientação sexual e sexualidade feminina, agregando
são serviram não somente para compreender o público em si,
parceiros e tornando-se um ponto de referência para futuras
mas também para entender suas reais necessidades e desejos
gerações de mulheres que estão dando seus primeiros passos
e, a partir de suas experiências com a temática do projeto, ela-
em direção a uma vida sexual ativa saudável e segura.
borar uma estratégia de comunicação efetiva e oferecer um produto que atendesse às questões observadas. Esses valores e informações encontradas foram materializados na forma de personas, o que tornou possível mapear comportamentos e crenças ligadas à temática de orientação sexual e sexualidade: um dos aspectos mais importantes observados durante a pesquisa era a necessidade dessas jovens mulheres se virem representadas num material voltado para elas, que falasse a
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Encaminhamentos futuros
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Em termos de conteúdo, é interessante que mais páginas da
Para as recompensas aos doadores da campanha, foram esbo-
versão mobile da plataforma sejam desenvolvidas, assim como
çadas ideias referentes à elaboração de um box com três edi-
mais dois exemplos de cartilhas e histórias: cartilhas tratando
ções encadernadas das cartilhas, para serem disponibilizadas
a temática de “corpo e menstruação” e “desejos e prazeres”, e
em escolas e bibliotecas. Além disso, pensou-se em convidar
histórias sobre privacidade online e primeira vez.
autores e roteiristas relevantes para o público para produzirem o conteúdo das histórias.
Sobre meios de implementação do projeto, pretende-se lançar uma campanha online de arrecadação de fundos coletiva
Por fim, é interessante que a plataforma consiga parceiros e
em sites como catarse ou kickstarter. O orçamento médio pes-
patrocinadores da área, de forma a se manter em dia e rele-
quisado para desenvolvimento da plataforma fica em torno
vante para o público.
de R$6.000,00 (desktop e mobile), além de custos com manutenção anual, contratação de equipe para gerenciar e produzir conteúdo e taxas do site e manutenção da plataforma. No geral, a princípio busca-se um retorno de R$23.000,00 que seriam suficientes para manter a plataforma funcionando durante dois anos, incluindo custos de manutenção e uma pequena equipe de governança do site e produção de conteúdo. O valor mínimo para lançamento da plataforma com os conteúdos desenvolvidos até o momento é de R$12.000,00, incluindo apenas custos de produção e hosting da plataforma. É importante que a plataforma disponha de um profissional da saúde e um psicólogo que revise o conteúdo produzido, e os custos desses profissionais não está incluso nas taxas mencionadas acima pois ainda não foram encontrados profissionais parceiros que tenham disponibilidade em participar do projeto.
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ReferĂŞncias
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Anexos
Questionário
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A partir das informações obtidas nas investigações prelimina-
E-mails de contato vinham sendo enviados há cerca de um
res deste trabalho e na etapa de análise de similares, o questio-
mês, contendo tanto a proposta de projeto quanto um pedido
nário foi elaborado para melhor compreender como a orienta-
de entrevista com as alunas de escolas públicas e particulares
ção sexual e seus temas é encarada pelas mulheres brasileiras
do Rio de Janeiro e adjacências, porém nenhuma se mostrou
- visando levantar dados sobre o contexto em que essas infor-
favorável. A única exceção foi o Colégio Estadual Manoel de
mações são passadas às mulheres, investigar essas experiên-
Abreu, localizado em um bairro da zona sul de Niterói7, onde
cias e onde informações complementares eram encontradas.
visitas foram realizadas durante os meses de setembro de outubro de 2017.
O questionário divulgado contou com um total 14 perguntas, em sua maioria discursivas. Optou-se pelo meio online pela
A seguir, é mostrado o questionário na íntegra, e algumas das
facilidade de divulgação, especialmente considerando a difi-
respostas obtidas.
culdade de estabelecer contato com escolas e alunas do ensino médio, tanto da rede pública quanto privada. A divulgação deu-se em grupos exclusivos de mulheres no Facebook, e em grupos de coletivos feministas de colégios da rede pública carioca, sendo que as perguntas foram baseadas em informações encontradas em fóruns de discussões nesses mesmos grupos.
7. O C.E. Manoel de Abreu conta com 5 turmas por ano do ensino médio, totalizando cerca de 450 alunos cursando o Ensino Médio. O tempo disponibilizado para a visita foi de apenas uma hora, e cerca de 10 alunas de cada série foram abordadas em duplas ou grupos de três. A perguntas realizadas basearam-se no questionário online, e o link do mesmo foi divulgado para que mais meninas pudessem participar da pesquisa além das presentes no momento da visita.
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Figura 109 e 110: imagem do questionário desenvolvido
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