CONTOS DE BRUXAS
Talita de Barros
Ele esvaziava a garrafa todos os dias e colocava dentro uma mensagem, devolvendo ao mar Nunca recebeu resposta Mas tornou-se alcoólatra
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Aos 30 anos resolveu não lavar a cabeça. Passou devagar o pente nos cabelos, pela última vez molhados. Começa a construir sua maturidade Aos 50 anos, o marido e filhos já não pediam, deixavam de suplicar Limpa, asseada e perfumada, só a cabeça preservada Jamais penteou Preso a nuca, o cabelo crescia intocado sem que nada além do volume do pitote a brotar Aos 80, a velhice a deixou entregue a uma enfermeira. A qual, a bem da higiene levou-a um dia para debaixo do chuveiro abrindo o jato sobre a cabeça branca E tudo o que ela mais havia temido aconteceu Levada pela água, escorrendo ao longo dos fios para perderem-se no ralo sem que nada pudesse retê-las lá se foram uma a uma as suas lembranças
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Toda noite a índia recebia a visita de um lindo homem com desenhos pelo corpo, esse só aparecia a anoitecer Certo dia o pai da dela insistiu para que ele ficasse para o amanhecer, acabou aceitando, mas logo se foi. Ela o seguiu entre as luzes e escuridão da floresta, pediu-lhe que esperasse por ele perto do jenipapeiro. Muito curiosa foi atrás para ver qual a surpresa, quando se depara com uma enorme lagarta cheia de manchas subindo pelo tronco. Chorou, voltou e nunca mais queria o ver.
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No décimo quarto andar, olhou para a parede branca do apartamento. Viu a vida em frente, as paredes esperando outra demão de tinta e o tempo esperando os ponteiros. Correu de um canto a outro da sala e antes que o medo pudesse perceber, saltou pela janela e voou. Foi bom, mas se arrependeu. E numa fração de segundos aprendeu o quanto se arrepender e sempre inútil.
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