w w w ponto l i vro ponto c om _
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n úm e r o s par es/
J os é A fon s o Fu r tad o O Livro no Final de Século: Utopias e Distopias
in: Belém, Lisboa, 1997.
Índice
7/ José Afonso Fur tado Enciclopédia e Hipertexto
57 / J o anna Ste rn Among E-Readers 5 9 / Cly f for d Ly nc h The battle to define the
9/ Frédéric Filloux Ebooks Winners & Losers 1 1/ M i c hae l Ashl ey Publishing eBooks 1 3/ José Afonso Fur tado Enciclopédia
future of the book in the digital world
e Hipertexto
the future, or how are we moving beyond
17 / Steve n Hel l e r Who Cares About Books? 23/ José Afonso Fur ta do Enciclopédia
the book?
e Hipertexto
6 3 / Cra ig M od Books in the Age of the Ipad 6 5 / G eo rg e P. Land ow Twenty minutes into
6 7 / Craig M od Books in the Age of the Ipad 71 / Cly f fo r d Ly nc h The battle to define the
24-29 / Max B rui nsm a The Oldness of New 30-31/ Max B ru i nsm a Rescue Meaning 32-33 / José Afonso Fur t ado
future of the book in the digital world
Enciclopédia e Hipertexto
book?
35/ Mandy B row n The Form of the Book 37/ J osé Afonso Fur ta do Enciclopédia
7 5 / Craig M od Embracing the digital book 77 / G eo rg e P. Land ow Twenty minutes
e Hipertexto
into the future, or how are we moving beyond the
39/ Mandy B row n The Form of the Book 41/ Frédé ri c Fi l l oux Ebooks Winners
book?
& Losers
future of the book in the digital world
43/ Steve n Hel l e r Who Cares About Books? 45/ Mandy B row n Good Design is Long
8 3 / Craig M od Embracing the Digital Book 8 5 / Cly f for d Ly nc h The battle to define the
Lasting
future of the book in the digital world
47 / 49 / 51 / 53/
7 3 / G eo rg e P. Land ow Twenty minutes into the future, or how are we moving beyond the
7 9 / Cly f for d Ly nc h The battle to define the
M andy B row n The Form of the Book
8 6 - 9 3 / Ro b e r t M c C ru m The No one knows
M i c hae l Ashl ey Publishing eBooks
anything, and other dilemmas of the e-book era
C rai g Mod Books in the Age of the Ipad
9 5 / Cra ig M od A Simpler Page 9 9 / Cly f for d Ly nc h The battle to define the
Robe r t L. Mi tc he ll Display tech to
watch this year
future of the book in the digital world
Os últimos anos têm sido o palco de uma exacerbada controvérsia sobre a questão da “morte” ou do “fim” do livro ou, talvez melhor, sobre a eventualidade da sua substituição por diferentes formas de comunicação. Poderá parecer estranho que, neste final de século, seja o livro a concitar posições tão extremadas, desde a sua enérgica defesa e posturas de resistência a movimentos de uma algo singular euforia pela eminência do seu desaparecimento. Como escreve Derrida no mesmo número desta publicação, “é preciso resistir com vigilância e esse pessimismo catastrófico que traduziria a tentação vã de oposição ao desenvolvimento ineludível de uma técnica com vantagens evidentes”, mas também não cair num “optimismo progressista e por vezes ‘romântico’, pronto a confiar mais uma vez às tele-tecnologias da comunicação o mito do livro infinito e sem suporte, da transparência universalista, da comunicação imediata, totalizante e sem controle, ultrapassando todas as fronteiras, numa espécie de grande aldeia democrática…”. Estas deve ser a orientação que, afastando uma situação de economias exaltadas, nos pode levar a compreender o que em torno do livro realmente se joga. Se o livro tem condensado essa discussão é porque, como bem sumariza João Arriscado Nunes, “as noções dominantes de competência cultural nas sociedades ocidentais estão condicionadas pelo modelo de leitura, da escrita e do texto impresso”, modelos dominante que “pressupõe, por outro lado, a relação necessária entre os modos de produção estética e cognitiva centradas na narrativa e na
exposição ou descrição (…), a tecnologia da impressão e os objectos materiais que ela torna possíveis (…) e as formas de organização e reprodução da cultura centrados na definição de objectos – potencialmente impressos – autocontidos, com fronteiras definidas, com autoria atribuível, classificáveis por género, assunto, cronologia ou autoria, e que são conservados em instituições cuja função é garantir a sua colocação num modelo de ordem que disciplina o saber e a cultura”. E, se pensarmos na sua reprodução e transmissão, “na existência de actores que produzem e manipulam legitimamente esses objectos e competências” e “de práticas institucionalizadas de apropriação social desses objectos e competências” e “de práticas institucionalizadas de apropriação social desses objectos”, entenderemos que é esta relação que “permite compreender a centralidade da literatura e do livro, do ler e do escrever nos debates sobre a cultura e as suas dinâmicas no mundo contemporâneo”. Estas considerações permitem-nos salientar que o modelo que agora se questiona é um modelo histórico e não “natural”, que não se esgota no específico problema do livro, livro que seria assim como que a metonímia das circunstâncias dessa cultura num período de rápida transformação, e que mobiliza complexas e estreitas relações entre processos de desenvolvimento tecnológico, práticas e instituições sociais e culturais e a instauração de hierarquias e formas de dominação material e simbólica. Como afirma Alan Luke, ao livro têm sido atribuídos vários poderes, místicos e
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José Afonso Fur tado ◦ Enciclopédia e Hiper texto
Neste quadro, Roger Chartier tem vindo a insistir em que, muito embora situações aparentemente semelhantes sejam recorrentes
na história do livro e dos meios de comunicação, o momento em que nos encontramos configura uma “revolução” mais radical do que todas as anteriores por abranger, pela primeira vez em simultâneo, um conjunto de mutações que até agora tinham ocorrido em separado.
Até agora, os géneros textuais podiam distinguir-se imediatamente pela sua materialidade específica.
“Todos sabemos que um livro não é um jornal, que por sua vez também não é uma car ta... Mas no mundo dos textos electrónicos esta diferença tende a desaparecer.”
espirituais, benfazejos e hermenêuticos e, través das suas utilizações, temse visto associado a uma série de “propriedades e efeitos morais e cognitivos, sociais e políticos”. Também Derrida se refere a “essa religiosidade, a essa quase sacralidade, mais precisamente a essa quase resacralização que, com todas as suas circunstãncias políticas, terá pontuado toda a história das técnicas de inscrição e de arquivo, toda a história dos suportes e modos de impressão”. Na realidade, e também por isso, se trata menos de “o livro” do que de “a ordem dos livros”, noção de Roger Chartier, a que atribui o triplo sentido de designação das múltiplas operações que tornam possível o ordenamento do mundo do escrito, de ordem que o texto tenta impôr ao leitor e, por fim, do modo como os livro (na sua materialidade) condicionam a apropriação dos discursos. Na realidade, e também por isso, se trata menos de “o livro” do que de “a ordem dos livros”, noção de Roger Chartier, a que atribui o triplo sentido de designação das múltiplas operações que tornam possível o ordenamento do mundo do escrito, de ordem que o texto tenta impôr ao leitor e, por fim, do modo como os livro (na sua materialidade) condicionam a apropriação dos discursos. Este conceito permite integrar a ideia do livro num sistema social que engloba os seus diversos agentes – autores, leitores, editores, livreiros, bibliotecários, etc. – sistema responsável pela produção, disseminação e recepção das formas de comunicação tal como
historicamente as podemos detectar. Sublinhe-se “historicamente” para melhor albergar a continuada interrogação de Chartier: “como situar, na história longa do livro, da leitura e das relações com a escrita, esta revolução anunciada, na verdade já começada, que leva a passar do livro (ou do objecto escrito) tal como o conhecemos, com os seus cadernos, folhas e páginas, ao texto electrónico e à leitura no ecrã?”
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Frédéric Filloux ◦ Ebooks Winners & Losers
There is no doubt: the digital book will find its place under the sun;
its prospects look much better than those of the online press.
In the first place, there isn’t an ingrained, now decade-old, habit of reading news for free on the internet.
Second, the book (in its physical form) is the centuries-old incarnation of the “cognitive container”, with its unparalleled convenience and with a value attached to it.
And third, it can’t be unbundled.
A contextualização das concepções e objectos integrados nessa “ordem do livro” permite verificar desde logo que, apesar da recente e extensa bibliografia sobre esta matéria, a questão do livro e do seu futuro não é nova, tendo sido motivo de controvérsia em diversos momentos e contextos históricos. Lembrar alguns deles, especialmente significativos, permitirá uma abordagem mais ponderada da situação actual e das transformações em curso. Platão, no Fedro, apresenta duas objecções fundamentais contra a escrita e o seu desenvolvimento. Por um lado, o discurso escrito provoca o “esquecimento nas almas ao levá-las a descuidar a memória: confiantes na escrita, é através do exterior, por meio de caracteres estranhos, e não do interior, do fundo de si mesmos, que procuram suscitar as suas recordações”; assim, continua Platão pela boca de Sócrates, a escrita é um meio não de “reter mas de renovar a recordação”, dando origem a uma presunção da ciência e não à própria ciência. A escrita era perigosa porque atentava contra os poderes da mente substituindo-os por uma memória artificial. Esta defesa da “escrita na alma” é, aliás, anterior a Platão, podendo encontrar-se já em Píndaro a metáfora do “livro da alma”, tema que será ainda retomado pelos tráficos, para quem, em cena, o vai recitar”. Por outro lado, a escrita é incapaz de dar resposta às dúvidas que vier a suscitar, estando condenada a repetir-se eternamente; mais ainda, “uma vez escrito, o discurso
passa indiferentemente pelas mãos dos conhecedores e pelas mãos dos profanos, sendo incapaz de distinguir a quem deve ou a quem não deve falar”. A escrita, embora apresentando características de fixidez, é incapaz de assegurar a sua própria interpretação. Estas reacções contra a nova técnica surgem num momento em que se assiste à instalação definitiva da escrita alfabética num mundo até então dominado pela tradição oral. E se, num primeiro momento, a escrita vai ainda de algum modo servir essa cultura oral, sendo, como refere Jesper Svenbro, “publicação oral”, momento em que a leitura e agora o livro tinham como função fixar e conservar os textos, num segundo momento o livro aparece já destinado à criação e à leitura. Momento de transição a que Cavallo e Chartier se referem: “o que se deve sublinhar é que, na época helenística, apesar da persistência de certas formas de transmissão oral, o livro exerce doravante um papel fundamental. A literatura passa a depender completamente da escrita e do livro, instrumentos de composição da obra, da sua difusão e conservação”. Situação que virá a implicar, em virtude da imposição da filologia alexandrina da ideia de que não há obra “senão escrita e que podemos apropriarmo-nos dela graças ao livro que conserva”, a uma “estruturação mais rigorosa dos textos em volumetria e de acordo com as características exteriores do próprio volumen”, acabando por se definir “uma apresentação da escrita em colunas, um sistema para
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Michael Ashley â—Ś Publishing eBooks
Bac k in 1999 Nuvomedia built one of the fir st eBook reader s.
It was called the Roc ket eBook and they thought they were turning a new page in publishing histor y.
os títulos e uma série de dispositivos que dividem os textos e as secções de cada texto” (…) Assiste-se assim a um reordenamento da produção literária e de uma disciplina técnica funcionalmente ligadas à criação das grandes bibliotecas e também a novas práticas de leitura”. Encontramos pois raízes bem antigas em alguns temas persistentes nessa “longa história” a que Chartier se refere. Em primeiro lugar, a clássica ideia do “ceci tuera cela” vulgarizada por Victor Hugo, poderá ter tido aqui uma das suas primeiras formulações: a escrita faria desaparecer a memória, o livro a tradição oral, a cultura letrada a cultura oral. / Sendo impossível desenvolver nesta circunstância as diferentes variantes da teoria da “orality and literacy”, remetemos para os clássicos de Goody, Havelock e Ong; para uma revisão crítica, fascinante e impiedosa, dessa teoria e em particular das teses de Ong, vejase a recente obra de Coleman.) Outro tema que aqui encontramos é o que se exprime na oposição entre o verdadeiro conhecimento, que não necessita da mediação do livro, e a presunção do conhecimento, em que deixaríamos que o livro pensasse por nós. Muito depois, na Encyclopédie, se denunciará como defeitos do livro o facto de mobilizar excessivamente o nosso tempo e atenção, convidar à preguiça e serem, afinal, um obstáculo para a aquisição própria de conhecimentos, já que leva a que se menosprezem outros meios de atingir o conhecimento como a observação e a experiência. Com facilidade se
reconhecerão hoje
em dia out r as at it udes que
mais não s ão do que o eco d eg radado daquela resistência
originária à es crit a, à lei t ura e ao liv ro.
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José Afonso Fur tado ◦ Enciclopédia e Hiper texto
As revoluções nas práticas de leitura ocorreram no contexto de uma certa estabilidade quer nas técnicas de reprodução dos textos quer na forma e materialidade do objecto.
MAS HOJE E S TAS TR Ê S R E VOL UÇ ÕE S – TÉ C NIC A , MOR F OL ÓGIC A E MATE RIAL
– E S TÃO PE R FE ITAME NTE INTE R L IG ADAS.”
Essa singularidade leva a que enfrentemos uma crise nas categorias que têm permitido a nossa ligação com o livro e com a sua cultura.
i nven ção de Guten ber g
Séculos mais tarde, a invenção da prensa de caracteres móveis vai provocar igualmente reacções de crítica e rejeição ao que se configura como a transição do livro manuscrito para o livro impresso. Tendo como pressuposto que a revolução tecnológica dos nossos dias tem o seu antecedente mais próximo na
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(hipótese discutível e a que voltaremos), James O’Donnell estudou cuidadosamente a história dessa resistência, esperando que a sua análise ajudasse a dissipar os receios e as ansiedades do presente. Tarefa nada fácil pois, também aqui, prevaleceu a história tal como contada pelos vencedores, ou seja, pelos defensores e promotores da nova tecnologia. É na figura e obra de Johannes Trithemius, da ordem beneditina, autor de De laude scriptorum, que vai encontrar o essencial da argumentação contro o livro impresso. As objecções são, resumidamente, as seguintes: “todas as cópias do livro impresso são iguais, não se podendo comparar entre si e corrigir diferentes cópias. Um erro numa delas corresponde a um erro em todas as outras, sendo impossível o controlo que a confrontação com uma outra, a condenação do excesso de livros, fenómeno que, para além da multiplicação dos erros inerentes ao seu carácter impresso, leva à credibilização de opiniões divergentes e sem fundamente, receio que o famoso Chanceler da Universidade de Paris, Jean de Gerson, tinha já manifestado bem antes da invenção dos caracteres móveis; por outro lado, a imprensa, utilizando quase exclusivamente o papel, comprometeria a durabilidade das obras pois, como afirma Trithemius, é substância bem efémera: “se a escrita utilizar as peles (o pregaminho, dir-se-ia hoje) ela pode durar mil anos”; por fim, o seu desprezo pelos novos livros deve-se também à muito maior qualidade dos códices manuscritos e, como menciona O’Donnell, “ao valor acrescentado pelos escribas e iluminadores”. Contudo, sem
pretender retirar sentido a algumas destas posições, o que verdadeiramente preocupava Trithemius era a erosão do “ethos e da cultura do scriptorium monástico”. A escrita tinha-se tornado o labor manual por excelência” e em torno dela estava organizada grande parte do ideal monástico. E, embora a sua posição se tivesse matizado posteriormente, o facto de nunca ter conseguido enquadrar a imprensa na vida do mosteiro, levava-o a crer que este viria a perder progressivamente o seu estatuto dominante na maior parte da sociedade europeia. E, na verdade, a partir do século XVI esse movimento veio, como previra, a tornar-se irreversível. Concluíase assim um processo que tinha, num primeiro momento, levado que o modelo escolástico da escrita e da leitura se tivesse sobreposto ao modelo monástico, culminando agora no modelo humanista, próprio da cultura do renascimento. No que se refere às objecções que apontámos, algumas encontraram terreno fértil até aos nossos dias. Observe-se por exemplo o tema do excesso de publicações, que levou mais tarde Voltaire a afirmar que o crescente número de livros estava a tornar-nos ignorantes, e que actualmente tem a sua expressão mais preocupante na multiplicação exponencial da informação que autores como David Shenk caracterizam como “data smog” ou Michel Dertouzos como “Info-junk”, (...) e que consiste na crescente dificuldade em encontrar modos de legitimar e credibilizar a informação que circula pelas vastas redes electrónicas. Por fim, a defesa da preciosidade e do
Steven Heller â—Ś Who Cares About Books?
Did pe op le r eal l y wo rr y abo ut t he loss of t h e s c ro l l o r o f p arc h ment ?
17 But ever since Gutenberg introduced movable type, print has indeed been mutable. The book has served as laboratory for writers, artists, designers and typographers, from ancient scribes to contemporary fontographers. Although circumscribed by a cover and inside pages, the book is no more constrained than any other medium and no less vast than any other art form.
luxo das obras manuscritas (que levou bibliófilos como o Duque Federigo de Urbino a considerar uma “vergonha” a hipótese de qualquer obra impressa coabitar com o livros da sua biblioteca) está geralmente relacionada com a preferência por produtos mais antigos e artesanais que, pela sua crescente escassez, são valorizáveis também pelas suas propriedades materiais. E não deixa de ser curioso verificar como esse argumento foi utilizado pelo próprio O’Donnell, quando, prevendo o progressivo desaparecimento do livro na sua forma tradicional, concede apesar de tudo que nalguns casos poderá sobreviver nem que seja “pelo seu prestígio, do mesmo modo que as edições encadernadas dos clássicos existem ainda, não para serem lidos, mas como expressões de uma ideia do livro e do estatuto do seu possuindo”. Sobre Trithemius e sobre a resistência à nova tecnologia, O’Donnell conclui que “o sistema de comunicação introduzido pela imprensa era tão vasto, tão rápido, tão poderoso e, finalmente, uma tal fonte de riqueza que até os próprios defeitos do sistema ponderam ser remediados à medida das necessidades”. E conclui ainda, sem surpresa, que a história se repete repetidamente. Convirá contudo fazer notar que estes exemplos contêm algumas questões decisivas que não podem agora deixar de ser levantadas:
a introdução de uma nova tecnologia é só por si um factor de mudança? Se assim for, essa mudança conduz necessariamente ao desaparecimento da tecnologia anterior? …
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Steven Heller ◦ Who Cares About Books?
Whatever the future, we should be happy we’ve had the book in this form for so long. So let’s return to the future — to the 24th century, to be precise.
Even in the most futuristic science fiction projections, the book continues to hold a place of honor. Make it so!
Ou seja, no fundo, o que aqui está em jogo é o problema das relações que as tecnologias mantêm, e em que circunstâncias históricas, com os factores materiais, sociais e culturais. Para essa análise teremos de regressar a alguns desses momentos mais significativos da evolução do livro, da leitura e das suas relações com a escrita e tentar compreender quais foram, em cada contexto, os factores que provocaram as múltiplas “revoluções” que os estudiosos têm vindo a recensear. No que se refere ao aparecimento da escrita e à tese de que o livro, o discurso escrito, implicaria o desaparecimento da tradição e da cultura orais e a rápida disseminação da cultura letrada, diversos autores têm vindo a demonstrar que, ao invés, a leitura em público sobreviveu muito mais do que se previra. Como escreve Coleman, “textos medievais de âmbito literário e histórico demonstram abundantemente que a leitura oral em público manteve a sua popularidade muito para além do crescimento das taxas de alfabetização na Idade Média tardia e do advento da separação das palavras, do aparecimento do papel, de zonas privadas de leitura e mesmo da imprensa”. Mais ainda, essa leitura em público não era destinada exclusiva, nem sequer preferencialmente à massa analfabeta, sem conhecimentos ou socialmente desfavorecida, mas era uma prática comum entre as elites das classes média e alta em Inglaterra e França, durante o mesmo período. Daqui se extrai, escreve Coleman, que ouvir ler livros era uma opção claramente assumida e correspondia à partilha de uma experiência social.
A aceitação destes factos põe naturalmente em causa as teorias tradicionais que faziam corresponder a persistência da oralidade com as elevadas taxas de analfabetismo, com as necessidades de entretenimento das classes baixas ou como um subproduto de renitentes deficiências tecnológicas. Ruth Finnegan, contra este “determinismo tecnológico” (expressão sua), aponta que os efeitos de uma tecnologia depende do modo como as pessoas a utilização e do modo como interage com um vasto leque de outros factores numa determinada situação”. Em síntese, os modos de recepção não são condicionados apenas pela tecnologia mas por elementos os mais diversos, designadamente literários e sociais. Mais vulgarizada tem sido a invenção de Gutenberg, considerada em geral como a grande “revolução” da história do livro e como o grande termo de comparação com a revolução digital dos nosso dias. Com efeito, o aparecimento da imprensa tem sido saudado como um passo decisivo no avanço tecnológico e no desenvolvimento da civilização ocidental. Mark Stefik afirma mesmo que a invenção da prensa de caracteres móveis se tornou no modelo das revoluções tecnológicas e contribuiu decisivamente para a difusão da ideia de que, após a introdução de um nova tecnologia, se seguem alterações sociais imediatas e de largo alcance.
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José Afonso Fur tado ◦ Enciclopédia e Hiper texto
Acontece que, neste momento, todos estes desenvolvimentos coexistem, o que confirma que, no interior das próprias inovações tecnológicas, os movimentos não são uniformes nem síncronos e que a mesma invenção pode conter diversas evoluções e potenciais utilizações.
So there are good reasons to consider older media, even if one accepts the essential differences between those and the newer ones.
Max Bruinsma â—Ś The Oldness of New
to which age-old criteria of composition,
applicable.
perfectly
plane, are
colour and
of line,
balance,
and
structure
fundamentally different from a paper page, it still remains a flat surface
is in many ways a carrier that is
And although the computer screen
24
More than telling the viewer when ‘to turn the page’, or which button to click, the graphic designer of interfaces can be the user’s partner in making choices. In stead of prescribing the action (‘turn the page’), the interface can prepare the viewer in making their choices (or offer a choice of enticing ways to continue, each addressing them in a different tone...), and more: it can be poetic, if designers set their minds to it.
t hey can f unct i on as p ar t of t he stor y tol d, l i ke the ton e of voi ce of a narrato r f l avour s hi s tal e.
B ut t he y ca n d o m o re:
and studying the new problems of structure and navigation, we should not forget that we know a lot already.
But while exploring the new possibilities
can not yet be judged on the basis of a similar theoretical and empirical histor y.
BUT on the web the balance between texts and images, navigational and content information, content and embellishment
Max Bruinsma â—Ś The Oldness of New
in times of information overload
of what i s – or can be –
in public and commercial communication.
culturally meaningful
gravitate more and more towards the rescuing
of a graphic designer
the responsabilities
In my view,
29
Now who will decide what is meaningful or not?
30
message they’re supposed to serve.
an interpretation that may go well beyond the
commission to convey a vision of their own,
In a sense, the designer uses their
nourishing ways.
It may feed back in rather
the message and the added content, that in a sense feeds off it.
But it can also result in a more symbiotic relationship between
Max Bruinsma â—Ś Rescue Meaning
look related. 31
and make things
You can also try
other messages.
different from
just make it look
message than to
to enhance a
more ways
But there are
mod ali dad es
compreensão.
d a especiali zação e da
i ntercâm bio do saber,
colectiva através d o
a sua construção
conhecim ento, para
e comunicação do
p ara o enquadram ento
novas
para i ntroduz ir
potenci al id ades
electrónica tem
sur to da edição
S e é cer to que o
José Afonso Fur tado ◦ Enciclopédia e Hiper texto
mas pela facilidade de acesso e capacidade de manipulação dos média digitais pelos quais a escrita é agora também transmitida.
de ler e escrever,
que já não se caracteriza pelas competências
É perfeitamente possível que nos deparemos com um novo tipo de literacia,
32
reprodução e distribuição do livro e
tipologias de leitura e entre diversas formas de literacia.
a complexas configurações entre diferentes hierarquias e
à convivência de todas as modalidades de produção,
com o universo textual,
discurso, levando ao aparecimento de novas relações
complementaridade entre os vários suportes do
competição mas também certamente uma persistente
os papéis vão ser redistribuídos, implicando uma
Mas essas novas materialidades pressupõem que
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É comumente aceite que a invenção de Gutenberg tornou possível a distribuição em massa da palavra agora impressa, provocou um conjunto de rápidos desenvolvimentos sociais através da exploração da alfabetização e do ensino e democratizou o conhecimento. Autores como Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, na sua obra clássica, consideram que esse é o verdadeiro momento do aparecimento do livro e escrevem frases como: “o livro, esse recém-chegado ao seio das sociedades ocidentais”; “o livro, que começou a sua carreira em meados do século XV”; ou ainda quando se referem ao “fim de uma época, princípio de uma época. Uma sociedade de elite vai progressivamente diluir-se face a uma sociedade de massas”. Elizabeth Eisenstein dedicou-lhe uma obra precisamente designada como “printing revolution”, McMurtrie afirma que “na história da cultura humana não há acontecimento que tenha importância da impressão com os tipos móveis” e um historiador da ciência como Derek de Solla Pierce escreve que “por volta de 1500 (…) o livro impresso se tornou uma força realmente nova. A importante consequência desse facto foi que o mundo do saber até então domínio de uma elite privilegiada, se tornou subitamente muito mais acessível ao cidadão comum”. É inegável, como refere Chartier em diversas oportunidades, que a invenção da imprensa alterou radicalmente os modos de reprodução dos textos e de produção do livro e que a cópia manuscrita deixa de ser o único recurso disponível para assegurar a multiplicação e a circulação dos textos. É também certo
que ela “corresponde a uma necessidade de difusão da cultura escrita, portanto de instrução, bem como da aceleração das trocas intelectuais”, e que vai permitir a diminuição dos custos de produção de um livro e abreviar a duração da sua produção. Mas cada vez mais se pensa que a perspectiva tradicional de avaliação deste acontecimento corresponde ao que Scott D. N. Cook chama o “mito de Gutenberg”. Mito, porque essa imagem da revolução de Gutenberg é historicamente incorrecta e conceptualmente enganadora: o processo pelo qual o mundo do saber se iria tornar acessível ao homem comum implicava, afinal, outros factores para além dos caracteres móveis, em particular o papel – “fazer chegar a palavra impressa às massas requeria um suporte que estivesse disponível em larga quantidade e custos adequados à distribuição em massa” – e a alfabetização – “o homem comum precisava de ser capaz de ler”. Nada disto sucedia em 1500. Na verdade a disponibilidade do papel e o seu custo foram sérios obstáculos para a impressão em massa até à generalização do papel composto por elementos fibrosos de natureza vegetal, já no início do século XIX, e a taxa de analfabetismo, que se aproximava dos 80% em meados do século XVII, só diminuiu para números da ordem dos 50% nessa mesma altura. O que significa que “só nas últimas décadas do século passado é que estavam criadas as condições para que o mundo do saber se pudesse tornar acessível ao homem comum, isto é, quatrocentos aos depois do aparecimento da imprensa”. Por outro
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Mandy Brown ◦ The Form of the Book
So it’s no surprise that many of us crave the long text at the end of the day, writing that takes its time, that flows from one sentence to the next, page after page after page.
It’s this kind of rhythm
that emerges from a book, and which
remains relevant even as the book
from paper to pixels.
moves
lado, para Scott Cook, o decréscimo do analfabetismo dever-se-ia mais à alteração de valores sociais, políticos e morais do que aos efeitos da presença continuada da tecnologia da impressão, o que é dizer que “esse efeito da ‘revolução da imprensa’ se deveu mais a factores sociais do que tecnológicos”. Também é essa a opinião de Carla Hesse, no que se refere à cultura impressa como equivalendo à estabilização da cultura escrita “num cânone de textos, ao aparecimento da noção de autor como criador, ao livro como propriedade e ao leitor como público electivo”. Hesse considera que, muito embora a introdução da imprensa tenha acelerado, intensificado e alargado a difusão da cultura letrada, “não há sinais evidentes de uma relação clara entre o advento da imprensa e a emergência da noção de autor individual”, que parece muito mais a expressão de um ideal cultural, cujos elementos principais foram lentamente elaborados nas sociedades ocidentais desde o Renascimento mas que se cristalizaram na “civilização do livro” ou no “moderno sistema literário” (expressões que prefere ao termo “print culture”) com estabelecimento das modernas democracias ocidentais no final do século XVIII. Para tornar a situação mais complexa, Cook escreve que, perante a prensa de caracteres móveis, “não se sente a invenção e exploração de uma tecnologia revolucionária, mas antes o uso conservador de uma técnica inovadores para a produção de manuscritos”, o que sugere que o início e o sucesso de uma revolução tecnológica podem com frequência depender de as novas tecnologias serem funcionalmente
compatíveis com antigas práticas artesanais e valores tradicionais da cultura ambiente”. Na verdade, a cópia manuscrita sobreviveu largamente à invenção de Gutenberg, até ao século XVIII e mesmo XIX, confirma Chartier. E o seu desaparecimento, reconhece O’Donnel, pode ter-se devido à obsolescência do seu conteúdo do que da sua tecnologia. Roger Chartier tem vindo a acentuar cada vez mais os limites dessa “revolução técnica” afirmando mesmo, numa entrevista recente, que “a revolução de Gutenberg não foi necessariamente uma revolução”. E porquê? Em primeiro lugar, porque, nas suas estruturas essenciais, o livro não é modificado pela invenção da prensa de caracteres móveis: “por um lado, pelo menos até ao início do século XVI, o livro impresso continua em grande parte dependente do manuscrito. Imita a sua paginação, a escrita, a aparência e, sobretudo, é considerado como devendo ser terminado pela intervenção da mão (…): por outro la, ponto fundamental, depois e antes de Gutenberg o livro é um objecto composto por folhas dobradas e reunidas em cadernos ligados entre si”. Mais ainda, “as concordâncias, as tábuas alfabéticas, os índices sistemáticos generalizam-se no tempo do manuscrito e é nos scriptoria monásticos e nas lojas dos estacionários que se inventaram esses modos de organização do material escrito, seguidamente retomados pelos impressores. Finalmente, é nos últimos séculos do livro copiado à mão que se estabelece uma hierarquia duradoura dos formatos, distinguindo-se o grande folio,
José Afonso Fur tado ◦ Enciclopédia e Hiper texto
É pois necessário olhar para além dos factores tecnológicos de mudança e reconhecer que são as dimensões culturais, sociais e económicas e o modo como elas interagem com
as novas tecnologias que vão, na realidade, afectar a edição do futuro”.
o livro da banco (…), o livro humanista (…) e o libellus. O livro impresso é herdeiro destas distinções que associam formato do livro, género do texto, momento e modos de leitura”. Existe ainda um outro motivo que justifica uma cuidadosa avaliação do real significado da invenção de Gutenberg. A experiência da China, da Coreia ou do Japão, força a que se reconheça que a utilização da técnica de impressão própria do Ocidente não é uma condição sine qua non para a existência não só de uma forte cultura escrita como também de uma cultura impressa de largo alcance. Conjunto de razões que leva Chartier a sublinhar a continuidade entre “print culture” e “scribal culture”, já que, afinal, não se vislumbra uma ruptura total entre essas duas culturas nem o muno antigo desapareceu bruscamente: “um livro manuscrito e um livro impresso assentam nas mesmas estruturas fundamentais, as do codex. E, no fim e ao cabo, a revolução dos nossos dias só tem um precedente no mundo ocidental: “a substituição do volumen pelo codex, do livro em forma de rolo pelo livro composto de cadernos reunidos, que se verificou nos primeiros séculos da era cristã”. Codex cuja adopção, lembra ainda O’Donnell, embora com uma base tecnológica, se deveu contudo a reais mudanças culturais e sociais. Naturalmente que a revolução de hoje é bem mais radical pela novidade de abranger transformações que, pela primeira vez, ocorrem em simultâneo: “revolução na técnica de produção e reprodução do texto, revolução na estrutura do veículo e revolução nas práticas de leitura”.
Para a compreendermos, é decisivo inserila na história das mutações fundamentais dessa longa história do livro, já que cada transformação tecnológica ou social se radica e modifica as anteriores, é ainda decisivo interrogarmonos sobre a operatividade do modelo unidimensional das novas tecnologias e apontar para um modelo multidimensional das revoluções tecnológicas.
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Mandy Brown ◦ The Form of the Book
ON THE PAGE, THE RHYTHM OF THE TEXT EMERGES FROM BOTH THE MACRO DESIGN — the pleasing shape of the page, the proper amount of thumb space — and the micro — the right amount of leading, the evenness of the word spacing, the correct break of a line.
On the screen, the rhythm of a text encompasses all of these things and more—the placement of a link, the shift from text to video and back again, the movement from one text to another.
The rhythm becomes more complex
as the orchestra
gets larger, but the desire for rhythm does not subside.
anunciando um futuro em que livros, bibliotecas,
De um lado, as previsões dos “tecnófilos”,
Uma análise distanciada mostra-nos, contudo, que o debate de hoje tem sido travado de maneira violenta e mesmo maniqueísta.
tecnológicas e sociais que se influenciam mutuamente”.
As mudanças não são causadas pelo simples aparecimento de um artefacto, são constituídas por múltiplas inovações
Como escreve Cook, “a observação da ‘printing revolution’ sugere que a estrutura das revoluções tecnológicas não é nem simples nem tecnologicamente determinada, nem a mesma em todo o lado, quer histórica ou culturalmente. (…)
por géneros e instituições
do mundo electrónico,
livrarias e editores tradicionais se vêem substituídos
Frédéric Filloux ◦ Ebooks Winners & Losers
Of
course, obstacles
remain.
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em que a escrita linear cede o passo, nas suas mais importantes funções, ao hipertexto e ao multimédia, em que as fronteiras oscilam e tendem a desagregarse e, por fim, em que a civilização do livro dá lugar a uma nova ordem digital. Do outro, reações apocalípticas dos “bibliófilos”, que denunciam o fim da literatura, dos leitores dos autores e dos verdadeiros editores, para quem o livro vai ser substituído por um pastiche electrónico. Geoffrey Nunberg considere que ambas as partes partilham uma espécie de fetischismo e que é essa colisão entre fetichismos que os leva a adoptar a mesma variedade de determinismo tecnológico: “ambos assumem não só que o futuro do discuro depende completamente dos artefactos que asseguram a sua mediação mas ainda que esses artefactos e, consequentemente, os períodos culturais, estão destinados a superar-se uns aos outros”. Assim, para uns, o computador tem que “matar” o livro e não apenas “feri-lo” ou chegá-lo um pouco para o lado; e como, do outro lado, se aceita implicitamente este ponto, sente-se a exigência não só de defender o livro mas também de desacreditar a tecnologia que é suposto substituílo. Derrida refere, noutro local desta publicação, que só se poderá falar a sério destes dois fantasmas, que não são senão o reverso um do outro, se se renunciais, de um modo neutro, a qualquer teleogia escatológica. Conselho imprescindível, pois a história está cheia de cadáveres de tecnologias consideradas, num ou noutro momento, “inevitáveis” e “condenadas ao sucesso”, quando na realidade, como nos
lembra Walt Crawford, a maior parte das inovações falham – ou antes de chegarem ao mercado, ou imediatamente a seguir ou mesmo após um breve fulgor de glória e, até, quando aparentemente se encontram já implantadas – e, de um modo geral as novas tecnologias complementam ou deslocam as antigas: como diz Eco, nunca sucedeu, na história da cultura, uma coisa ter pura e simplesmente morto outra: uma coisa alterou profundamente outra. O que parece particularmente adequado às tecnologias da comunicação: nem a escrita, nem a imprensa, nem a rádio, nem o cinema, nem a televisão provocaram a morte de tecnologias anteriores. O momento que vivemos faz recordar um pouco a situação que se seguiu à invenção de Daguerre e às previsões desesperadas de que a fotografia iria acabar com a pintura. Em 1839, o pintor Delaroche afirmava: “a partir de hoje a pintura morreu”; pouco depois uma comissão de pintores apelava para os poderes públicos impedirem a prática da fotografia por concorrência desleal… Esta situação revela, segundo Paul Duguid, uma tendência para subestimar aquilo a que Raymond Williams chamava o “complexo socio-material”, de que as tecnologias constituem apenas uma parte. Perante isso, devemos afastar dois “tropos futurológicos”: a noção de superação e a exigência de libertação. A primeira, tem a ver com aquela ideia de que cada nova tecnologia aniquila as suas antecessoras. Refira-se, de passagem, que a situação se complica um pouco quando, como afirma Eco, na clássica formulação do “ceci tuera cela”, não é muito fácil identificar o “ceci” (O
Steven Heller â—Ś Who Cares About Books?
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Even in the most futuristic science fiction projections, the book continues to hold a place of honor.
Mandy Brown ◦ Good Design is Long Lasting
But what of pixels, or bits and bytes? If I died tomorrow, I can confidently assume that the books on my shelves will last a hundred years. But the files on my laptop— where I’m typing these words right now—won’t survive more than a year or two. The words
I’ve blogged
not much longer than that; the drives they live on will fail, or else the space I’m no longer paying for will be filled by someone else.
computador? Produtos offline? O hipertexto? O multimédia? A internet? A realidade virtual? Futuros “livros electrónicos?) e mesmo o pré-digital “cela” se apresenta também algo escorregadio dado o carácter heterogéneo da forma livro. Mas prossigamos na versão mais simplificada, analisando o caso de Raymond Kurzweil. Em 1992, numa série de artigos publicados no Library Journal, afirma: “o livro impresso (…) não vai viver para sempre”; “a primeira vaga de ‘livros electrónicos’”, o Cd-Rom, “são falsos substitutos” (por razões técnicas: ausência das qualidades do papel e tinta, contraste, resolução, etc.); “o computador pessoal do início do próximo milénio não é um falso substituto. Estes livros electrónicos terão imensas vantagens” (as qualidades do papel e tinta terão sido completamente atingidas); “o livro entrou na sua fase de obsolescência, embora devido à sua longa história e enorme base instalada possa ainda resistir por um par de décadas”; “o livro de papel será substituído por uma categoria de software a que poderemos chamar livros virtuais”; “as pessoas estão ligadas às sua colecções de livros de papel, mas quando chegar o verdadeiro livro electrónico, o que acontecerá no final da década, serão inúteis atitudes de resistência”. No ano seguinte e na mesma publicação volta ao tema e considera que, apesar das suas previsões terem sido consideradas surpreendentes, os acontecimentos desse ano vieram a confirmar o seu acerto: “aceitou-se que os livros computorizados são melhores do que a sua variedade em papel em certas categorias”; mas para outras categorias, o
livro sequencial standard, o “computador como livro não resulta, e assim esta tecnologia é ainda um falso substituto. O livro ainda não são obsoletos, mas esta vitória será efémera”. Poderia pensar-se que haveria alguns indícios de recuo, embora esta ideia de luta contra o livro – “a vitória será efémera” – seja o perfeito exemplo da atitude denunciada por Duguid. Mas, em meados de 1995, Kurzweiler reincide num texto assumidamente futurológico apresentado por ocasião de uma conferência em Telavive. Vejamos então como é que um observador vivendo em 2040, encara a questão do livro: “em 1997, a lei de Moore originou o aparecimento de livros sem papel, graças à introdução de aparatos
portáteis e
desconectados (…); livros, revistas e jornais
já não necessitam
de uma forma física (…).
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Mandy Brown ◦ The Form of the Book
A beautiful digital text can no more be arrived at by “converting” from a print design than a beautiful print book can be created by converting a Word file.
The digital book will never come into its own so long as it is treated as a byproduct, unworthy of attention.
(...) If the form of the book is changing, it ought to lead to more variety, not less.
Só para terminarmos: “o computador pessoal era, por volta do ano 2000 um livro virtual (…);
na mudança de século, a maior parte da leitura era feita em documentos virtuais”.
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Michael Ashley â—Ś Publishing eBooks
There are many mediums
for ebook publishing today.
consideração
argumentos contra o livro
que ignorem a totalidade
do seu ciclo.
O que significa que, se isolarmos o ponto de vista da produção autoral, pode julgar-se que o livro exerce uma influência autoritária sobre uma audiência passiva.
Mas se se privilegiar a circulação do texto, então a informação pode parecer auto-suficiente e o livro inibidor, e assim sucessivamente. Por isso Duguid defende que os livros devem ser entendidos como “objectos materiais envolvidos num circuito social”, como “agentes cruciais no ciclo da produção, distribuição e consumo”. Do mesmo modo, “a tecnologia deverá ser encarada não isoladamente mas no seu contexto histórico e sócio-material”, já que “o tecnológico e o cultural se encontram indissoluvelmente entrelaçados”. E as ideias da tecnologia como simples “superação” e “libertação” deixam de fazer sentido”. Esta noção de tecnologia e da sua relação com a sociedade e com a cultura parece aliás, ser cada vez mais aceite, e obras recentes têm vindo a acentuar essa perspectiva. Manuel Castells, por exemplo, afirma que “o dilema do determinismo tecnológico é provavelmente um falso problema, já que a tecnologia é sociedade e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem os seus instrumentos tecnológicos” (51). As teses de Pierre Lévy vão no mesmo sentido. Começando por afastar, por desadequada, a teoria do impacte das novas tecnologias sobre a cultura ou a sociedade, o que pressuporia que a tecnologia seria um agente autónomo, separado da sociedade e da cultura, entidades passivas, afirma que, se por suposição, existissem três entidades, “a distinção entre cultura (a dinâmica das representações), a sociedade (as pessoas, os seus laços, as suas trocas, as suas relações de força) e a técnica (os artefactos eficazes), não podia ser senão meramente conceptual”. uma “causa” independente.
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Craig Mod â—‹ Books in the Age of the Ipad
T’S NO WONDER WE LOVE OUR PRINTED BOOKS. Unlike computer screens, the experience of reading on a Kindle or iPhone (or iPad, one can assume) mimics this familiar maternal embrace. The text is closer to us, the orientation more comfortable. And the seemingly insignificant fact that we touch the text actually plays a very key role in furthering the intimacy of the experience.
THE KINDLE AND IPHONE ARE BOTH LOVELY
The iPad changes the experience formula. It brings the excellent text readability of the iPhone/Kindle to a larger canvas. It combines the intimacy and comfort of reading on those devices with a canvas both large enough and versatile enough to allow for well considered layouts.
Técnicas que condicionam mas não determinam, o que significa que abrem
certas possibilidades, “que certas opções culturais e sociais não poderiam ser seriamente encaradas sem a sua presença. Mas as possibilidades abertas são várias e nem todas terão seguimento. Novas técnicas que, sendo as mesmas, se podem integrar em conjuntos culturais muito diversos”. Ao que acresce, para mais dificultar uma análise concreta das implicações sociais e culturais da informática ou do multimédia, a ausência de estabilidade neste sector. Muitas inovações têm falhado, o sucesso de outras era praticamente imprevisível, por vezes as novas técnicas fazem reviver outras aparentemente em obsolência e, como afirma oportunamente Crawford, “a maioria das pessoas não adopta novos dispositivos tecnológicos só por estarem disponíveis, mas por corresponderem a alguma necessidade, real ou imaginária; essas invenções são instrumentos para satisfazer desejos. Se esse desejo não é sentido ou se o marketing não consegue suscitá-lo, a qualidade da tecnologia é completamente irrelevante”. Mas não tenhamos a ilusão de acreditar, alerta Lévy, na disponibilidade das técnicas e seu potencial para com os indivíduos ou colectividades pretensamente livres, esclarecidas ou racionais.
A maioria das vezes, enquanto nos interrogamos ou reflectimos sobre o que se está a passar, a dinâmica colectiva já gerou e impôs práticas e modos de agir. E se as revoluções tecnológicas se caracterizam pala sua capacidade de disseminação, isto é, pela sua potencial penetração em todos os domínios da actividade humana, a revolução que estamos a viver diz respeito a tecnologias de processamento de informação e comunicação. O facto de a informação se caracterizar já por essa tendência para a disseminação através da estrutura social, aumenta exponencialmente, assim pensa Castells, a profundidade e rapidez da dinâmica do seu desenvolvimento. Para ele, neste caso, “a difusão da tecnologia amplifica indefinidamente o poder da tecnologia, à medida que vai sendo apropriada e redefinida pelos seus utilizadores. As novas tecnologias de informação não são assim simples instrumentos a serem usados mas processos a serem desenvolvidos”. Daí que se assista a um movimento de digitalização que afectará todos os média
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Craig Mod ○ Books in the Age of the Ipad
This is an opportunity to redefine modes of conversation between reader and content.
AND THAT’S ONE HELL OF AN OPPORTUNITY IF MAKING CONTENT IS YOUR THING.
contexto, o modo como os documentos são produzidos, utilizados e reproduzidos se encontra profundamente afectado. De que modo?
A segunda e importante diferença tem a ver com “a imaterialidade das representações electrónicas e consequente diminuição nos custos de reprodução”.
Também aqui as palavras de Lévy parecem apontar um caminho seguro, quando afirma que os dispositivos de comunicação, os modos de conhecimento e os géneros característicos não vão (como já vimos) substituir os anteriores; vão “por um lado, influenciá-los, e por outro levá-los a encontrar o seu “nicho” específico na nova tecnologia cognitiva”. O mesmo é dizer, como o fazem Seely Brown e Duguid, que as novas tecnologias devem ser entendidas como uma oportunidade para que diferentes géneros sigam diferentes trajectórias, umas em direcção à nova tecnologia outras permanecendo com a anterior.
George P. Landow â—‹ Twenty minutes into the future, or how are we moving beyond the book?
We f in d o ur sel ves i n t h e p osi t i on,
in ot h er wo rds , of p erc ei vi n g th e bo o k as tec hn olog y
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Desde logo, a ideia de que grande parte dos documentos impressos e a que na maior parte dos casos se dá o nome de livro não têm qualquer interesse cultural e não será certamente em torno deles que se irá travar qualquer batalha: catálogos, listas telefónicas, relatórios e contas, horários de diversos meios de transporte, o grosso das comunicações burocráticas, etc. Jacques Derrida assinala este crescimento quantitativo do papel a que chama “secundário”, isto é, “aquele que não tem a ver com a primeira inscrição (...) ou então o que está ligado apenas à impressão mecânica ou à reprodução do escrito ou da imagem”. Ao contrário, o que decresce é o papel “primário”, “o lugar de acolhimento para um traço original, para a composição inaugural ou para a invenção, para a escrita com pena, lápis ou mesmo máquina de escrever, em suma o papel apropriado a tudo o que continua a designar como “primeira versão”, “original”, “manuscrito” ou “borrão”. No momento em que se acelera “o fim da hegemonia do papel (fim estrutural, degenerescência, tendência para uma retirada)”, papel que é, de modo evidente, “o “sujeito” finito de um domínio circunscrito, de uma hegemonia que delimita uma época na história da técnica e na história da humanidade”, no momento em que “se retira”, sem que isso signifique a morte do papel pois, bem ao invés, “no tempo da sua retirada ou redução, a produção do papel para reprodução, a transformação e o consumo do papel para impressão podem aumentar em quantidade e mais depressa do que nunca. A redução
do papel não é uma rarefacção. Neste momento é mesmo bem o inverso”. E por isso Derrida exclama que “sofre, que sufoca, por excesso de papel...”. Em segundo lugar, e com algumas excepções mais excitadas, é praticamente consensual que tratar o complexo universo da edição, constituído por segmentos, mercados (ou mesmo por indústrias) bem distintos como uma entidade monolítica não tem qualquer sentido. Consenso também visível no entendimento de que apenas algumas categorias estão destinadas a migrar para o mundo da edição electrónica.
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George P. Landow â—‹ Twenty minutes into the future, or how are we moving beyond the book?
PHYSICAL BOOKS AND E-BOOKS ARE BOTH TEXT AT THEIR CORES. Book designers long ago established rigorous rules for laying out text blocks so they disappear to the reader.
They took pride in turning the physicality of a book into a tool for efficiently and elegantly getting information into the mind of the reader. As any good typographer knows: the best typography goes unnoticed.
Our e-readers seem to have forgotten this heritage. They’ve forgotten that their core purpose is simply to present text as comfortably as possible; to gently pull the reader into the story. E ver y other aspect o f experiencing a book is predicated on this notion.
É possível, ainda, pontos de convergência entre diversos autores sobre os critérios dessa partilha. Barthes e Compagnon defendem que “há dois modos possíveis de aceder a uma informação: um é sequencial- é preciso explorar todo o campo até encontrar a informação procurada-, e o outro selectivo – a informação está recenseada por uma entrada que se atinge directamente”. Dir-se-ia, assim, que nos textos que não necessitam de uma leitura sequencial, a que Landow chama “o modelo não linear da rede”, em que se abandona a concepção tradicional do texto com as suas unidades convencionais como, por exemplo, a página ou o parágrafo, cada um ligado à unidade que o antecede e à que lhe sucede, em que uma linha liga o princípio e o fim, em que a estrutura da obra (física e conceptual) não pode ser alterada sem destruir a sua integridade, a edição electrónica tenderá a substituir o livro impresso. Umberto Eco distingue dois tipos de livros, “quelli da consultare e quelli da leggere”, e só em relação aos primeiros põe a hipótese da sua transferência para edição electrónica”(65). Steven Harnad separa a “trade literature” da “esoteric literature”. Esta abrange o campo da investigação especializada académica e científica; a “trade literature” inclui desde a poesia e ficção até obras de entretenimento (66). Tom Wilson afirma que em certos géneros a publicação passará a ser digital, substituindo o livro impresso:” os factores decisivos que vão condicionar essa transição são a possibilidade de uma rápida publicação, rápida actualização e a economia própria da edição electrónica.
Factos que significam que a edição electrónica
é ideal para dados
ou informações que necessitam de ser disponibilizados num período escasso de tempo, que necessitam de permanente actualização
e q ue s ão di r i g i dos a audi ên ci as c o n h e c i d as e bem del i mi t adas.
Clyfford Lynch â—‹ The battle to define the future of the book in the digital world
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FOR TOO LONG, the act of printing something in and of itself has been placed on too high a pedestal.
The true value of an object lies in what it says, not its mere existence.
O próprio corpus da edição electrónica encontramos dois como a ordem ou a civilização do livro está já em curso e” talvez sem surpresa, algumas das dimensões da paisagem cultural emergente neste ambiente digital são reconfortantemente familiares”. Convirá lembrar ainda que a “bibliocultura” (termo de Derrida) vai concorrer ainda durante algum tempo “com outras formas de publicação subtraídas às formas herdadeas de autorização, de autentificação, de controle, de habilitação, de selecção, de sanção...”. Bastará pensar na questão da “peer review” em relação aos agora “electronic journals” e nos problemas de transição do impresso para o digital: “a maior parte dos artigos não são ainda escritos com o objectivo de uma efectiva apresentação electrónica”; mais, “no média electrónico o estilo da apresentação bem sucedida é muito diferente do que estamos habituados com o papel (...) A transição vai ser difícil”. O que isto significa é que o próprio corpus da edição electrónica encontramos dois géneros de textos: representações derivadas ou secundarias de livros impressos e publicados ou de textos pensados primariamente para publicação impressa, e publicação de textos electrónicos pensados e concebidos para se moverem em suportes digitais desde o seu início.
géneros de textos: representações derivadas de livros impressos ou de textos pensados primariamente para publicação impressa, e publicação de textos electrónicos pensados e concebidos para se moverem em suportes digitais desde o seu início.
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Clyfford Lynch â—‹ The battle to define the future of the book in the digital world
Digital books cover a wide spectrum of material, ranging from literal translations of printed books, created by scanning pages or generating a PDF file, to complex digital works that are the intellectual successors of certain genres of book-length works, but which cannot be reasonably converted back into printed form. To a large extent, digital books exist (or at least should exist) independent of the devices that may be used to access, render and view them.
A key role of standards is to ensure that a digital book can be used with a wide range of viewing environments that may change over time.
Lancaster sumariza sequencialmente a evolução da edição electrónica: “Utilização de computadores para produzir publicações impressas convencionais; distribuição de texto em forma electrónica onde a versão electrónica é o exacto equivalente da versão em papel e pode ser usada para gerar versões em papel; distribuição exclusiva em forma electrónica em que a edição possui algo mais do que a versão em papel apresentada electronicamente; geração de publicações completamente novas que exploram as verdadeiras capacidades electrónicas (hipertexto, som, movimento, etc.), ponto que se pode dividir em: apresentação de textos e gráficos existentes de um modo inovador e produção de publicações elaboradas ab initio para explorar completamente as potencialidades electrónicas”. Lancaster confirma que este último passo está longe de estar completamente realizado. Por outro lado, considera que a evolução actual não é fácil de perspectivar, pois todas estas fazes coexistem neste momento e, por exemplo, faz notar que a primeira ainda não desapareceu. Sem curarmos de saber o exacto sentido desta asserção, o que é certo é que isto confirma que no interior das próprias inovações tecnológicas os movimentos não são uniformes nem síncronos e que a mesma invenção pode conter em si diversos desenvolvimentos potenciais. Como escreve Nunberg, “quando se fala da edição digital ou do futuro do livro deve compreender-se (...) que esta tecnologia tem um aspecto muito largo de aplicação e afecta cada um dos modos de ler e não apenas a leitura num ecrã”.
A mesma tecnologia digital que provoca as migrações para forma electrónica de certos segmentos da edição tem um outro lado, normalmente menos comentado, que provocou desenvolvimentos espectaculares nos processos de impressão. Por isso Odlyzko reconhece que, embora, a atracção da facilidade de acesso e a crescente qualidade dos ecrãs favoreça a pura electrónica, isso pode ser contrariado pelos desenvolvimentos nos processos de impressão: “dentro de poucos anos teremos impressoras a cor domésticas com resolução de 1.200 dpi. (...) Por isso a concorrência não vai ser entre a requisição de uma obra numa biblioteca ou a sua leitura num ecrã, mas entre lê-la no ecrã ou imprimi-la numa impressora conectada. Espero que o ecrã venha a ganhar, mas nada vai estar decidido nas próximas décadas”. A conclusão é da maior importância e pode resumir-se afirmando que a tecnologia digital também alterou o modo como produzimos e distribuímos os tradicionais livros impressos. Nesse sentido, tem-se vindo a assistir à alteração de um modelo de edição centralizado (“primeiro imprime-se, depois distribui-se”) para um modelo de edição distribuída, possibilitada pelo advento da tecnologia das redes e pelo desenvolvimento de novos modelos de impressoras (digitais, CTP, etc.): ”primeiro distribui-se electronicamente, depois imprime-se”. Os mesmo desenvolvimentos tecnológicos levaram à elaboração da noção de “printing on demand”, ou seja, a impressão casuísta de textos digitalizados em livrarias, bibliotecas, ateliers de impressão ou copy shops.
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Craig Mod ○ A Simpler Page
We need a starting point. We know HTML is the future so why not build a core design template for long form tablet reading? With this in mind, I set out to build just that. The end result is called Bibliotype. It’s a simple set of CSS, HTML, and JS files that provide a base for anyone looking to bring long form reading to tablets (be it in a CMS, blog, iOS app—anything using WebKit as a renderer).
[...] Bibliotype wouldn’t exist without their support and the opportunity to work together.
Point your iPads (or browsers) here for a demo.
The most important point to consider in tablet editorial design is that tablets are some of the first digital screens to be engaged at a variety of distances. Until now, a desktop screen was always a few feet away from one’s face.
Or, with smart phones, at arms length. No longer with tablets.
Por fim, uma referência ao nicho da distribuição electrónica de obras impressas, que tem provocado o aparecimento e espectacular desenvolvimento da venda a retalho “online” de livros tradicionais, e cujo sucesso económico tem levado alguns autores, com mal disfarçada ironia, a afirmarem que, até agora, o efeito mais imediato das novas tecnologias tem sido, neste sector, usar bites para vender átomos. Talvez então Derrida tenha razão quando fala das “economias de compensação que vêm sempre amortecer o luto- e a melancolia”, ou quando se refere à “coabitação, no interior do mesmo espaço social da cultura do papel com a cultura electrónica” (78). E que assim, por agora, nada haja na economia da edição ou no corpo de práticas envolvidas no uso do livro impresso que justifique o seu desaparecimento. E, se é certo que “muitas formas e géneros migrarão, em parte ou na totalidade para um modo de existência electrónico nos próximos anos, existem numerosos géneros impressos que beneficiam das novas tecnologias quer na preparação electrónica do texto, na impressão a pedido, na publicidade na Web ou, o que pode ser mais importante, através dos sistemas de inventário computorizados que tornaram possível novos tipos de distribuição e venda a retalho que aumentaram enormemente o acesso geral do público a textos, de um modo que pode ser muito mais significativo do que os efeitos dos média electrónicos.
Vai haver uma revolução digital, mas o livro impresso vai participar nele de um modo extremamente activo”. Talvez seja pois legítimo pensar que os livros estão destinados a viverem várias vidas e que os cultural
mais próximos da conformação que foi a nossa continuarão
a substituir, na sua mais longa duração, em papel impresso, ainda que a sua distribuição possa ser electrónica e a sua impressão final realizada em “tipografias” locais, em livrarias ou mesmo em nossa casa e à medida das nossas necessidades. Passarão ainda a ter uma existência primária, secundária ou terciária, movendose entre scanners e impressoras e, afirma Nunberg, cada versão tomará parte no trabalho de comunicação associado ao livro tradicional.
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Clyfford Lynch â—‹ The battle to define the future of the book in the digital world
Completely left behind in the focus on reading technologies, control of intellectual property, and the economics of publishing (and all of their broader social implications) is the deep, important, and exciting question of how the digital medium may permit authors and readers to reconceptualize the acts of communication and documentation that have been embodied in the printed book for some or all of the purposes that the book has historically served.
This may be the area with the greatest promise of truly transformative changes.
E, assim, verificar-se-á, entre livros impressos e as novas formas e géneros que emergem no mundo electrónico, uma inevitável interacção e simbiose. Afinal, escreve Derrida, porque é que havíamos de sacrificar uma possibilidade no momento em que se inventa uma outra?
“Dizer adeus ao livro “ao papel, hoje, seria um pouco como se um dia decidíssemos deixássemos de falar porque sabemos escrever”. Como mutação é “integradora, sem ruptura absoluta”, temos o privilégio de “conservar ainda o desejo de a nada renunciar”.
E então talvez a questão da “MORTE DO LIVRO” tenha já, definitivamente, PERDIDO O SEU SENTIDO.
www ponto livro ponto com Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Design Editorial II Carolina Ferreira T창nia Rodrigues Maio 2013