"Encontro no Escuro" Caderno 3
Em dezembro de 2014 um jogo entre poetas foi proposto na rede social Facebook, pela Internet. Trocar poemas com parceiros desconhecidos. Formaram-se dois pares para cada jogador. Em uma dupla, o brincante ocupava o papel de Poeta. Na outra, pensava e escrevia como Musa. As mensagens foram enviadas por um mediador que garantia a manutenção do desconhecimento. A partir do material poético nasceram estes diálogos, agora publicados com o nome: "Encontros no Escuro" . Neste terceiro Caderno estão os poemas de Adriana Aneli Costa Lagrasta, Marcelo Novaes e Tânia Amares formando a seguinte composição de duplas: Marcelo Novaes(poeta pseudônimo Ananindeua)/ Tania Amares (musa: Margem) Adriana Aneli (poeta pseudônimo Mira)/Marcelo Novaes (muso pseudônimo Hira)
Marcelo Novaes (Poeta) / Tânia Amares (Musa) Ananindeua para Margem Fome perpétua rodas rodando Em extremos quilômetros [em quilômetros extremos ou nano -segundos]: ronco de motor arroz feijão e prato cheio. As rodas não deixam de rodar E a fome nunca some.
Margem para Ananindeua some no prato ? o que nana os extremos ? por que tantos segundos rodando ? e a batata baroa matou o barão e comeu com feijão”
Ananindeua para Margem
No prato some o veneno. A distância embala os extremos que dormem, com sono.
O fogo de fato aquece a lembrança do que estava no prato, e os segundos rodam: Moto Perpétuo.
Quanto ao fato da Baroa ser assassina, assino embaixo.
Margem para Ananindeua Quem sabe a noite no escuro da tua fantasia me vejas de branco olhando a ti ao lado da estrela guia e como a fome nunca some estarei comendo o mesmo arroz com feijão do dia da morte do barão Ananindeua para Margem (musa) Já te vejo e não é de hoje, Já espreitas de branco e outras cores, A cada vez que me pego olhando pra Saber quem me olha de jeito. Deixo até o prato e me levanto. Melhor assim. Pior se te visse, De branco ou luto, só de noite, Por ter comido muito.
De Margem (musa) para Ananindeua (poeta)
"do céu ou das chamas teus olhos enxergam miséria, pilhéria e podridão meu olho vesgo irmão do torto vê turvas estrelas dançando na amplidão
Ulisses, no barco, do convés lava o chão recorda o canto e o repete lento entoa a voz, saliva escorrendo prepara o tempo da mastigação
ai que fome, que fome batata, arroz e feijão "
De Ananindeua para Para Margem Teus olhos leem um pouco mais daquilo Que falta aos meus: o tilintar da asa [uma só] e o chamar do grilo, para a longa caminhada. E o clássico Ulisses, coitado, ignora Tudo isso. Segue o verme seu mastigar infinito E não há fome que assim vá embora.
De Margem Para Ananindeua
"“Passou a fome, comi o verme Rastejei até você e vi seus pés Cansados de pisar no horizonte Deitei-me Você sumiu”
De Ananindeua para Margem
Nem sempre ando, e meus pés nem sempre sabem se mover [sequer à Margem], mas, às vezes, podem perceber se somem.
Pode até a fome fenecer, quem sabe.
De Margem para Ananideua Enquanto sumias ia sentindo o aroma das azaléias recém abertas recém chegadas às tuas brevidades
de olhos fechados, revia as manhãs em que sumistes pouco a pouco Deixei de ver teus lábios depois os braços os pés foram os últimos
então, não tinha mais fome não tinha mais nome à minha frente o enorme sumidouro
De Ananindeua para Margem
Pobre insone que não dorme E fica revendo as manhãs, sem Que haja rastro de passeio ou Passo.
Meus.
Afinal, quando sumo [se sumo], não há aviso Nem atraso.
Então, durma.
De Margem para Ananindeua "olha ali quem tá plantado sentado em pé, olho fechado
Ananindeua comprido verde bastante cabeleira vento vai shuiii shuiii vento foi shuiiiii shuuuô
Ananindeua Pensa que sabe Ananin acha que dá Rio de aguae de pescá Para-pará deuá
Chuva caiu bem lá No sono do carcará Num dorme, num dorme Ananindeua grita Fuà fuá vem me pegá
Saci olhou Foi boto que viu Curupira dormiu
Blem Blem do sino Badalo safado Disse também Nem vem, nem vem Esprito do mato
Corre caipora Nem vem Que não tem"
De Ananindeua para Margem Ananindeua: índio bom. Saci viu e nem correu. Caipora chegou e Correu poro abraço. Calcanhar de Caipora Desvirou. Até Adriana Do Calcanhar Canhoto Cantou pra Ananindeua. Shui Shui foi o vento que Veio do Oiapoque, quando Ananindeua pescou. Blém, blém, tocaram As Igrejas Barrocas De Mariana e Congonhas. A Margem sorriu diante da Habilidade do índio em pegar peixe Baixinho, silencioso, sem rede: Só no agachado.
De Margem para Ananindeua ......
Não tinha certeza, era índio, não era. Eras cobertas de heras. A pele vermelha doía.
Não, não era pele, não era indío.
O som vinha do quarto. Esquadros. Em todos os quadros A mesma cena : Amanhã, amanhã e amanhã Água do rio vermelhou. Pescador diz que é bom. A matéria é sempre sonho.
De Ananindeua para Margem:
Não é índio: é chefe de índio, Cacique. Margem sonhando Acordada, em fita infinitas Vezes rebobinada. Ananindeua cuida de Margem: mostra o peixe.
De Margem para Ananindeua
"Cogumelos, não bebo não. Do povo miúdo é que são. Duendes, fadas, gnomos .
Se durmo é mesmo no quarto, desmaiando de cansaço.
Na minha rua, um protesto. Era contra o genocídio. Mortes, falavam disso. Pais, irmãos e filhos. Caçados como bichos. Sangue manchava o rio.
E veio à porta o pacote, embrulho meio amassado. Com um penacho colado. Era o meu nome amarrado.
Tudo bem certo, o pacote Devidamente endereçado
. Odé Odé. Salve São Jorge, Okê protege, vou abrir Não deixa o penacho cair
Olha, meu pai, um peixe. E é um tambaqui !
O som dos índios cresceu. Pés batendo no chão. Batendo, marcando tempo. Gira Tempo que é roda, Indios cuidam de si. Demarquem terras agora Vida é direito de índio. Devolvam o seu Ybi
De Ananindeua para Margem
Margem é bela, bela margem: Sabe saudar caboclo que é uma Beleza. Entra na Gira e comparecem Ogum e Oxossi.
Índios e Orixás se apresentam A quem sabe lhes saudar. Até mandam Presentes, em caixas, caixotes, amassados Pacote. De noite, pra Margem melhor andar, Acendem archotes. De cogumelos, não há Necessidade.
De Margem para Ananindeua " Porque sou margem, não ando. Quando sou bela, sou mata. Trago os espíritos e os orixás. Ananindeua eu chamei. Disse índio, ia me cuidar. Veio ninguém. Veio a cidade, o asfalto Ananindeua sem archote, não viu. No escuro, não vive nenhum Orixá.
Canalizaram o rio, virei estrada de asfalto. Índio não veio, nem Oxossi, nem Ogum. Dorme Ananindeua, dorme levinho que um dia a porta vai se fechar."
De Ananindeua para Margem
Ananindeua dorme leve e Dorme pouco: dezoito horas por dia, de segunda à sexta. Sábados, domingos e feriados, Ananindeua tem direito a maior Descanso. É que Ananindeua sonha O sonho de toda a tribo.
De Margem para Ananindeua Ananindeua teu nome não é esse, nem essa a tua vida. Tampouco é seu o sonho da tribo.
A máscara impede tua visão barulhos não deixam que ouça. Por trás da máscara, Índio não há ninguém. Ninguém presta atenção.
Indio, branco, cor-de-rosa, Preto, azul e amarelo, vieram Enfeitar o mundo e sonham Com outro mundo.
Desse em que vivem, reclamam. Ninguém quer saber Se Índio vende a mata, se sonha cantar na tv Se é preto o presidente, se é rosa o espalha lixo. Amarelo fala pouco, tão pouco isolado e só, senta no escuro Pega a faca, ele mesmo Imola seu corpo e rega com sangue o mundo que o gerou.
De Ananindeua para Margem
Dê um microfone a Ananindeua: Ananindeua joga no chão. Se margem Quer cantar na TV, que cante bonito. Se amarelo faz harakiri ou suppuku, Branco não tem vergonha de fazer Maracutaia.
Ananindeua come maracujá. Só não divide com boto cor de rosa Porque só viu boto cor de boto.
de Margem para Ananindeua
"Uma fruta surgiu bem aqui. Colorida, esperançosa. Cheia de graça, benfazeja. Fruta que leva o sêmen, liberta sementes banhadas em mel.
O coito é na terra.
Dança a semente na orgia do vento, no colo entre beijos de pássaros e bocas ávidas do doce amor. E é a terra que engravida. Gera e alimenta filhos. Depois os devora, como Saturno no quadro de Goya"
De Ananindeua para Margem
É assim mesmo, Margem: Frutas surgem e vão, por detrás De um rosto ou nome sempre Existe mais do que um Pouco de fuligem. E o que parece devoração É só uma das fases do Ciclo.
Margem para Ananindeua
"Um ciclo dois cíclopes três ciclones quatro ciclovias cinco tempos irreversíveis"
Ananindeuapara Margem Ananindeua fica Muito feliz em ver Que Margem já sabe Contar de um a cinco.
De Margem para Ananindeua ---------.. Eram cinco mafagafinhos Emararanhados no ninho de símbolos Cada vez mais mafagafinhavam-se na cultura Apesar da mafagafinhação geral, cada um, Por si só, queria se desmafagafinhar E ser melhor que o outro mafagafinho Até que surgiu, do interior das matas Ananindeua Colorado para salvá-los Será que o índio conseguirá Desmafagafinhá-los ?
De Ananindeua para Margem: Cultura é forma de aproximação, Ou de nada serve. Culto era Adoniram. Aquele. Ananindeua atravessa o cipoal, Adentra o cipoal, corta firula com faca Curta, arranca firula com dente e unha, E chega na Margem desemaranhado de Tanta bobagem.
De Margem para Ananindeua Sempre vejo os índios sérios para tirar fotografia. Entre eles não são, Mas se os chamamos pra foto Fazem cara de índio Índio sério Indío não ri em fotos Eu falava, mas você não mi'scuitava não Nem que fosse Iracema Nem que não fosse bobagem
De Ananindeua para Margem
Índio não gosta de foto, nem Com ph. Não gosta de photo. Se for Ph. D. pode gostar de pose. Ananindeua não tem mestrado, mas ouvido calibrado para andar de aves e vozes de índias. Siriemas e Iracemas não dizem bobagens.
De Margem para Ananindeua
Margem nasceu antes dos índios. Viu tantos bichos, aves, Iracemas. Lábios de mel de tantas índias força e vida de jovens todos índios e muitos indiozinhos.
Margem separada por um largo Rio dee sua irmã. Se Rio é amante, ama ao mesmo tempo, as duas irmãs.
Soterrados. Hoje o povo consagra o asfalto, Margem, Rio e sua irmã, esquecidos no passado remoto.
Melancólica Margem perdeu a mãe Mãe Natureza, mãe morta.
Sangra a perda sem nunca cicatrizar. Ananindeua não pode ver Margem. Só dela ouvir contar.
Margem tem fome de arroz, feijão e batata. Plantados na Terra. Já viu muitos assassinatos e guerras.
Rodas giram enlouquecidas na estrada Abaixo do asfalto, o cadáver. Margem está morta.
De Ananindeua para Margem
Margem é mais velha que índio, Mais romântica e melancólica. Fome De margem é fome distante, ainda que O Rio corra no meio, aparentemente ao Alcance, sabe-se lá de que.
Hoje, comida vem em lata. Não é alimento: é produto Alimentício. Não é mais Comida.
Índio entende suspiro de Margem, à margem da urbana Vida. E isso é mais fundo que Leito.
De Margem para Ananindeua
Índio de novo nasce, vê espírito, Floresta. Fala com outros seres de lá. Aqui onde sou terra, embaixo da vida da estrada, só o que vibra são carros caminhões. o resto é escuridão. Índio tem bom coração. Peço desculpas. Peço perdão. Índio deve estar certo, cores, pássaros, a flor do maracujá, Índias de longos cabelos , rostos pintados, colares Beleza no mundo. Bondade pessoas, curiosidade, amizade, criatividade.
Há amor. O que sumia, no sumidouro, não era Ananindeua.
Era eu, Margem enterrada sem escolha para a vida. As trevas, o ventre da terra, é o inferno de Margem.
Pobre daqueles sem opção presos às margens. Pobres dos que, sem saber o por quê, vivem nas trevas, sem querer.
De: Ananindeua paraMargem Não se trata de estar certo, Margem, ou não. Trata-se de ângulos de percepção. Índio também prefere batata da terra, arroz e feijão e tomates plantados sem veneno. Morangos e figos. Índio prefere, ao grito, o bom Mote.
Mas há os carros. Há buzinas Impacientes. Há trotes dados De dentro dos presídios, por Telefone. Há golpes nos caixas E roubos nos supermercados. Índio não ignora isso.
Em ombro de índio também Se encosta, não só à margem.
De Margem para Ananindeua Ouviu falar da ciranda ? Dança de roda de Aruanda Enquanto as mãos se encontram Umbigos vêm e vão
De Ananindeua para Margem:
Ouvi falar só de longe, Pois visitava outra aldeia. Aruanda é cidade grande.
De Margem para Ananindeua De margem para Ananindeua https://www.youtube.com/watch?v=EJvvEqt460g
canto de Orixás (letra de canção, som de atabaques, saias rodando)
Quando eu for pra Aruanda, sei que vou te encontrar rodeada de crianças do lado de Iemanjá vou pedir a Omolu e aos sagrados orixás pra chover chuva de rosa quando eu for te abraçar perdoa nanã, perdoa. perdoa que eu vou chorar quem eu amava foi embora, está nos braços de oxalá
De Margem para Ananindeua Essa terra que me cobre é meu quarto Aqui é minha Aruanda, meu Terreiro onde danço e canto aos meus orixás
Santos da Natureza Dos Ventos, das Águas Santos da cura e justiça Sei que olham por mim Um dia serei livre outra vez
Rio chora, escondido, preso, pedindo brisa Quer vento, quer chuva Gotas, saltos, superfície
Eu que sou terra, coberta de terra Sinto o peso do asfalto, a saudade De tudo o que era festa na floresta
Ananindeua é floresta e canto Escuta, índio, meu pranto. Se tanto choro, se tanto lembro
É só saudade dos encantos Voz de índio, gosto de vida Crianças brincando em meu colo Nadando juntas no rio
Risadas verdes na mata Salve, Ananindeua, índio vida Que o tempo lhe seja leve Que a lua durma contigo
De Ananindeua para Margem
Margem está poetando como Rio. Lao-Tsé dizia que o sábio Acha o Todo em sua própria casa, Ou algo semelhante. O quarto de Margem é, assim suficiente. Orixás dançam onde haja O coração que os espelhe. Eu ouço teu pranto e sei que É salgado o que sinto. No entanto, Orixás são capazes de dançar em Cada centímetro quadrado, como a Água do rio pode voltar ao céu, Mesmo que, de pronto, não se Veja. Margem e Ananindeua falam a mesma Língua.
De Margem para Ananindeua
A língua de Margem é terra Lambida por língua de rio. Língua de ìndio é ouvida Outros índios, outros povos Mas quem lambe a língua de Ananindeua ?
De Ananindeua pra Margem
A Boca da Noite já lambeu Tanto a boca de Ananindeua Que índio se aposentou por Tempo de serviço.
De Margem para Ananindeua
Ora índio, se Boca da Noite ao meio dia, veio doce, diáfana, efemêra e lambeu com gosto, deixou índio parado, todo mole, todo duro, todo índio apaixonado, não era pra aposentar, mas pra sentar Boca no colo e beijar e beijar
De Ananindeua para Margem
Margem está certa. A Previdência não validou Minha pretensão e a Providência Outra coisa me destinou: beijos em Profusão.
de Margem para Ananindeua
Profusamente beijados, o que será depois ? Boca, bico, bituca E Milton cantando erara êrara êee eraraêraraê Água de beber, bica no quintal, sede de viver tudo A história de índio e Boca da Noite, começou há tanto tempo Lembra, Ananindeua, lembra...
De Ananindeua para Margem A história de Beijo de Ananindeua com Boca da Noite é anterior às bocas, becos, Bares e botecos dessa megalópole. É Anterior às musas das pornochanchadas Nacionais, quiçá anterior à Vera Cruz e Mazzaropi. Flerte de índio com Boca da Noite Tem a idade da lua. É mito na tribo. É tradição oral.
De Margem para Ananindeua
Amores ancestrais e bocas. Índio, homem, valores. E veja, há um brilho aqui. Outro ali. Na grande árvore da floresta, nascem olhos brilhantes.
As bocas já tinham nascido o céu sorriu de manhã. Ananindeua prepara seu coração para a chegada.
NOVO DIÁLOGO
Segunda dupla de Marcelo Novaes
Marcelo Novaes agora é "muso" Hira, Adriana Aneli é poeta, "Mira"
De Hira para Mira
Dizem que palavra não sacia ou não dizem nada. Eu só digo que na vida ando à toa ou ando n’água, mas ando todo dia.
Hira para Mira ( segundo chamado) Meu amor é amplo e disponível Para os que têm amor: para os que Não têm empresto um pouco. O voo também é amplo, mas Não é voo só, nem voo solo: É voo de descer e acampar Junto.
De Mira para Hira
"Quantos poetas Românticos, prosas Exaltam suas musas Com todas as letras Eu te murmuro Eu te suspiro Eu, que soletro Teu nome no escuro Me escutas, Cecília? Mas eu te chamava em silêncio Na tua presença Palavras são brutas" (Chico Buarque - Cecília)
De Hira para Mira Eu tentaria soletrar o nome de Alguém se eu lhe tivesse visto o Rosto. Sou bom nisso. Às vezes, canto O que vejo como refrão, ópera ou Improviso. Desde que o semblante Me passe o som exato. Ou quase. guardaste? Nome fictício e poema?
De Mira para Hira
HIRA, meu nome ninguém saberá o segredo está guardado comigo neste silêncio que te fará minha"
De Hira para Mira
Este segredo te fará muda Ou mudo, ou te fará planta. Impossível fazer mais do que Isso. E se alcançares isso, dê-se Por satisfeita ou satisfeito, mas não Hira-da.
De Hira para Mira
Mira aquela pomba E não se esqueça de que Ela ainda voa, porque não sabe descer. Mira aquela pomba que Parece saber o que quer, Mas não tem que lhe dê Sequer um nome.
De Mira pra Hira
"Hira: num olhar a pomba é abatida de raspão o tiro a asa arrasta a queda dói menos que a solidão de voar longe"
De Hira para Mira
Se a pomba não encontra a sombra, o tiro não encontra a pomba que, ao para -peito, se retira.
De Mira para Hira
amanhece pomba cinza alheia à paz ao anoitecer volta a buscar abrigo.
De Hira para Mira
Ouça isso, Mira, pomba minha que não voa [nem anda], que coisa longa e lenta e linda [e loa]: nessa hora não-pressaga [e boa] os pios dos canários soam Como o som do pingo d’água.
de Mira para Hira
"Hira: Triste canta a Juriti Líquido invade sua dor Se não voa Se não anda É porque aguarda."
De Mira para Hira
Triste canta a juriti Líquido invade sua dor Se não voa Se não anda É porque aguarda."
De Hira para Mira
Juriti canta bonito e canta triste, acalentada pelo passo da sanfona, que dança valsa.
Juriti sabe das cousas, de hoje e das passadas. Sabe também das passaradas. E o mais bonito em Juriti é, que mesmo graçoila, não faz troça.
De Mira para Hira
Juriti estava cinza o canto da Hira a despertou bateu asas até o sol voltou de madrugada bela árvore do paraíso.
De Hira para Mira
Juriti é pomba tão bonita. Bebe água sem erguer o bico. Voa longe sem se ausentar do Piso. Vai e volta embelezando O céu e a noite.
De Mira para Hira
recado caiu do bico da juriti caiu do céu no meu colo a doce sensação de não estar sozinho água segue seu caminho contornando o céu e a noite.
de Hira para Mira
Juriti carrega mais do que recado, Carrega o dom de levar leveza ao Colo e fazê-lo se sentir acompanhado. Céu e noite caminham juntos.
De Mira Para Hira
no coração qualquer pena pesa mais que chumbo dói mais que limão no corte estrangula como nó de gravata céu e noite caminham juntos sol e lua se encontrarão algum dia?
De Hira para Mira Mira o céu e veja que solidão É ilusão da alma. Mesmo nos espaços Afastados, sem o sol e a lua, não vicejaria Sequer a planta ou o plâncton. Neles, sol e Lua já se encontraram. Dia e noite caminham juntos, em Paralelo.
de Hira para Mira A poesia sempre derrapa, É sinuosa. Hira não conhece a ira, nem na derrota. A coisa se amansa, no tempo-espaço, antes mesmo do infinito. Nem carece esperar que As paralelas se encontrem.
De Mira para Hira:
Então, frente a frente olhos investigam e ultrapassam: vejo a mim neste reflexo e tremo Hira é mais do que um poema
De Hira para Mira Hira é a coagulação, sempre móvel, porque sempre adiante, de milênios de experiências, boas ou desastrosas. Não carece tremer por tão pouco. Cada qual já treme com sua própria quota. Sob os pés de Mira, há solo e redemoinho o bastante.
De Mira para Hira
Ao que parece, Hira sabe quem é Mira.... Nada escapa ... Isto não me aborrece; me estimula, caleidoscópio, a provar que há mais de mim do que imagina x musx
mas, quem será Hira, entre tantos deuses do olimpo?
De Hira para Mira
Hira nada sabe do Olimpo, Só de ouvir dizer. Olimpo é Muito alto. Hira tem na vista um alcance de 8,712712712 milhas. Aproximadamente.
Mira me escapa, como Tanta coisa. Exceto a História que nos é Comum, pois Humana.
ou seja
pra nós depois só sei que Mira não é alienígena
De Mira PARA HIRA:
se Hira nada sabe do olimpo, melhor deuses guerreiam enquanto homens amam e se divertem
De Hira para Mira Esses deuses briguentos me cansam. Não quero saber de nenhum deles, até que eles mesmos se cansem de seus atos. Olhe a Lua, Mira. Veja quão Humana!
De Mira para Hira a lua está longe do sol como Hira de Mira Mira Hira, raça tupi, a distância é real... podem sonhar os homens?
De Hira para Mira Mira cita Lula Barbosa e Marlui Miranda. Mira ouve Música. Os homens sempre Hão de sonhar, até acordarem.
De Mira para Hira Mira num olhar, Hira, somos amigos há mais tempo do que eu imagino? Seremos amigos por mais tempo do que esta brincadeira? A sorte está lançada...
De Hira para Mira Mira no olhar um riacho Cacho de nuvem no azul do céu A rolar...
De Mira para Hira
Hira, em troca de tanto carinho que me deu nestes dias de musx secretx, eu te mando uma pista sobre mim: MIra Ira é a música que mais gostei de conhecer quando adolescente... eu tinha 14 anos quando a ouvi pela primeira vez em um show do "Placa Luminosa"... amo tudo o que diz respeito ao continente americano, a poesia, os ritmos, as histórias de luta de todo um povo sofrido, talvez fique fácil saber agora quem eu sou; segue um poema feito a você em agradecimento : o poema " com asas e dragões a vida singra mapas em suas costas desbrava o que sobra do desconhecido futuro criado com versos próprios Hira é a coragem de quem mergulhou sobreviveu tantas vezes."
De Hira para Mira Mira, o agradecimento é deste poeta ( que era Musa – nota da editora). Afinal, ser lido é a recompensa.
No mais, todos mergulhamos. Alguns, tentando usar as mãos como remos, por conta de não tê-los já dados de antemão, nem achá-los fabricados para o inusitado percurso.
De Mira para Hira Hira como Mira, ambos Temos vidas eternas. Não Imagine que seria tão simples Escapar. O que cabe nos sonhos, Existe de alguma forma. Para Hira Ser lido é ganhar asas Ser admirado é ter vida eterna O inusitado é pré-fabricado Pelos sonhos da gente. ass: Mira
Mira Ira (Lula Barbosa)
Mira num olhar Um riacho, cacho de nuvem No azul do céu a rolar... Mira Ira, raça tupi, Matas, florestas, Brasil. Mira vento, sopra continente, Nossa América servil, Mira vento, sopra continente, Nossa América servil... Mira num olhar, Um riacho, cacho de nuvem No azul do céu a rolar...
Mira ouro, azul ao mar, Fonte, forte de esperança, Mira sol, canção, tempestade, ilusão, Mira sol, canção, tempestade, Ilusão... Mira num olhar Verso frágil tecido em fuzil, Mescla morena, Canela, cachaça, bela raça, Brasil. Anana ira, Mira ira anana tupi Anana ira, anana ira Mira Ira
imagem: http://www.aleida.net/festivals/raices2012/a_jacha.html raĂces de amĂŠrica