Entrevista a Fernando Galrito (Monstra 2013)

Page 1

18

a animação -

MONSTRA

O Festival MONSTRA chega à sua 13.ª edição, realizando-se de 13 a 23 de Março. Este ano, a competição será de curtas e lon história do Festival, que tem como homenageado nesta edição o cinema húngaro. A Metropolis conversou com Fernando Ga sobre o MONSTRA e o cinema de animação em geral. O que podemos esperar nesta nova edição do Festival MONSTRA?

Pela primeira vez, a competição será consistir esta homenagem? de curtas e longas metragens. A que Em 2014 passam cem anos sobre se deve esta mudança? Fernando Galrito: Como sempre o primeiro filme de animação uma programação diversificada, de Esta transformação deve-se húngaro Zsirb Odon, realizado, em grande qualidade dirigida a diferentes essencialmente à constatação de 1914, por István Kató, e trinta anos públicos. Desde os mais novos e às um aumento da qualidade anual, sobre a realização da primeira longa famílias com a MONSTRINHA até aos tanto nas curtas como nas longas metragem de animação realizada amantes da transdisciplinaridade metragens, não fazendo já tanto a óleo pelo húngaro Jósef Gemes. e dos diálogos artísticos, passando sentido ter uma programação bienal “Tempos Heróicos”, o nome do filme, por todos os que querem estar em de curtas e longas, no sentido de, a foi o motivador para esta retrospectiva contacto com os últimos e melhores cada ano, manter uma excelência na e homenagem a uma cinematografia filmes de animação da actualidade. qualidade dos filmes em competição. com uma larga história no mundo da Para os que querem aprender e animação mundial. dialogar com alguns dos melhores Da Hungria saíram grandes obras criadores desta arte, temos também Este ano, o cinema húngaro é o mundiais da animação, tanto dos um alargado conjunto de acções de homenageado. Porque recaiu a estúdios da Pannonia Filmes como de formação, masterclasses e encontros escolha neste país e em que irá Kestkemet. internacionais.

metropolis


19

- lx

György Pál, Georges Pal e Péter Mihály Földes (Peter Foldes), revolucionário utilizador nos anos 60 do computador na animação. Para esta retrospectiva contamos com o apoio individual de alguns dos realizadores e produtores mencionados, mas também de Annaida Orosz e da cinemateca da Hungria.

A que irá ser dedicado nesta edição do MONSTRA a nível da formação? Aproveitando a presença entre nós de grandes nomes da animação mundial, como Ferenc Cakó, de Hungria, o grande mestre da animação com areia; Martine Chartrand do Canadá, mestra na animação em tinta; Vincenzo Gianola premiado no mundo inteiro com os seus filmes realizados sobre película; Merlin Crossingham, director de arte dos estúdios Aardman e da série Wallace and Gromit ou Ilan Katin, criador transdisciplinar nas áreas do Mapping, são alguns dos formadores desta edição da MONSTRA.

ngas metragens, uma novidade na alrito, Director Artístico do Festival,

ASTIGMATISMO Premiada com um Óscar e duas vezes nomeada, a animação Húngara tem uma enorme credibilidade suportada pelos inúmeros galardões ganhos em todos os grandes festivais do mundo (Cannes e Berlim incluídos). A sua animação assenta em grandes e inúmeros autores, mas também numa grande diversidade de áreas e técnicas abrangidas pelos seus mais representativos realizadores. A retrospectiva da animação húngara que programamos conta com obras da nova geração de realizadores como Réka Temple, Geza Tóth, Alexei Alexeev, Áron Gauder, mas também dos seus grandes mestres como: Ferenk Cakó, Marcell Jankovics, Istvan

Pode falar-nos mais sobre o encontro “O Cinema para além dos ecrãs”?

O mundo actual regressou a diálogos e criações artísticas que não víamos desde a primeira metade do século A Hungria gerou grandes nomes XX. Estes diálogos são motivados pelo da animação que, fora da sua terra encontro de artistas de diferentes natal, criaram obras fundamentais áreas, mas também mobilizados por da história da animação mundial mediações tecnológicas que vão das como: János Halász, conhecido interactividades à generatividade. internacionalmente como John Halas, O desenvolvimento de hardware e de quem faremos uma retrospectiva software por artistas e engenheiros de curtas e da longa inspirada na obra informáticos tem vindo a transformar de Orwel, Animal Farm. Mas também as possibilidades criativas da ilusão Imre Hajdú, conhecido em França e no do movimento, ultrapassando mundo por Jean Image; Gyula Engel estes diálogos os palcos e os ecrãs conhecido nos estúdios Disney e nos estáticos. São estas as temáticas que genéricos de Bambi e Fantasia como irão estar em apresentação e debate Jules Engel; o criador de The Idea e neste encontro, onde vamos reunir parceiro de Lotte Reininger, Berthold especialistas e criadores de vários Bartosch; ou ainda os fabulosos pontos do globo. Orosz, Kinga Rofusz, Csaba Varga, Sandor Kovasznai, entre outros.

metropolis


20 Esta é a 13.ª edição do MONSTRA. Qual é o balanço possível ao longo dos anos? O balanço é positivo ao pensarmos que ao longo de 15 anos e 13 edições temos vindo não apenas a crescer em termos de espectadores e de influência e referência artística e programática. Tal reflecte-se na criação de novos públicos, de intervenção nos grandes agrupamentos de escolas de Lisboa, e a partir deste ano também em Almada. Mas sintoma disso é a crescente implantação do festival na programação de cinema de animação português um pouco pelo Mundo. Em 2013, o festival esteve em 10 países europeus, na China, Argentina, Brasil, Moçambique, Angola e Timor. Recentemente fomos galardoados pela Televisão Ucraniana pela excelência da programação realizada nos festivais nacionais. A nossa marca é a não desistência, a continuação e manutenção de um trabalho marcado pela qualidade e pela diversidade. Só desta forma é possível sermos e criarmos seres pensantes e intervenientes num futuro não tão cinzento e marcado apenas por números, mas pela arte e pela criatividade, fundamental ao desenvolvimento individual e colectivo da sociedade. Como vê o cinema português e mundial na actualidade?

GLORIA VICTORIA MACPHERSON

O GRANDE Vê-se pelo passado recente que temos qualidades artísticas e humanas para marcarmos a nossa presença no mundo das artes da animação com grande qualidade. Parece, no entanto, que se pretende remeter de novo este país a um obscurantismo intelectual e artístico que nos marcou durante quase meio século. E assim é difícil manter e evoluir.

O cinema de animação português, que se encontrava até há 4 anos atrás numa caminhada crescente de qualidade e diversidade, estagnou completamente depois de nestes últimos anos não ter sido dado Do ponto de vista mundial, e nesta nenhum incentivo e apoio – à edição da MONSTRA vamos discutir animação em particular e à cultura em essa problemática em dois encontros geral.

metropolis

mundiais: Que questões hoje se colocam no ensino – que pessoas formar num momento de mudança de modelos e relação entre o espectador e os ecrãs - E que rumos pode seguir a arte da ilusão do movimento perante os novos paradigmas e tecnologias criativas e de difusão que se apresentam a criadores e espectadores num futuro próximo. E não podemos perder este debate e comboio, da mudança e transformação...é dele que o


21

E COELHO

A VOLTA DO LAGO

mundo é feito e só cabe nele quem não se atrasar nem deixar cair as condições para o seu pensamento e concretização. E sermos parte integrante do futuro presente da animação e da criação no mundo.

AGUA

FRENKI

Tatiana Henriques

metropolis


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.