Entrevista a João Ferreira (Queer 2013)

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horizonte queer 14

joão Ferreira em entrevista

O Queer Lisboa, o único Festival em Portugal dedicado à temática gay, lésbica, bissexual, transgénero e transsexua Serão exibidos 93 filmes, entre os quais o documentário E Agora? Lembra-me, de Joaquim Pinto, que foi recenteme na Suíça. A Metropolis falou com João Ferreira, Director Artístico do Queer Lisboa, sobre as muitas novidades que

TATIANA HENRIQUES Quais são os destaques desta edição? Este ano o Festival inaugura uma nova competição, a In My Shorts, dedicada a filmes de estudantes de escolas de cinema europeias. Decidimos abrir esta nova competição, porque são cada mais e melhores os filmes que nos chegam de jovens estudantes que exploram a temática queer nos seus filmes de curso. Temos também a secção Queer Focus que este ano vai olhar para as relações da cidade com as comunidades sexuais. É um programa de cinco longas-metragens, de onde destacaria a ficção Boy Eating the Bird’s Food, realizada por Ektoras Lygizos. Outro dos destaques desta edição é, sem dúvida, o documentário Gore Vidal: United States of Amnesia, que será apresentado no Queer Art. O filme fala da obra e da vida pessoal deste famoso ensaísta norte-americano, falecido o ano passado, e que é uma das vozes mais críticas do sistema político daquele país e que tem tido uma relação tensa, mas muito interessante, com a cultura queer. A selecção dos filmes exibidos foi elaborada a partir de

E Agora? Lembra-me que critérios? Os filmes são vistos pela nossa equipa de programadores, por três principais meios: nas viagens que fazemos a festivais internacionais; pelos pedidos directos que fazemos a distribuidores; e finalmente através de submissão, pela qual este ano recebemos 210 filmes. Ao todo, vimos mais de 700 filmes, para chegar a uma programação final de 93 títulos. Não existe um critério específico ou tema, para partirmos para esta selecção. A metropolis

surgir, esse tema vem depois de seleccionados os filmes. Para além da procura de filmes de qualidade, é claro que é importante para nós que eles sejam de alguma forma pertinentes para este tempo e lugar específicos. Afinal, o cinema tem também essa função social. Depois, temos igualmente a preocupação em pensar sempre o programa no universo maior do cinema e cultura queer, daí a organização de eventos paralelos, debates ou retrospectivas.


al, está de volta para a sua 17ª edição. ente premiado no Festival de Locarno, e preencherão o Festival este ano.

participar em debates, conhecer outros aspectos da cultura queer para além do cinema – como literatura, teatro ou artes plásticas. No fundo, procuramos preencher uma lacuna, em termos dos espaços convencionais, não apenas do circuito comercial de cinema, mas de outros agentes culturais, normalmente cépticos em relação à mostra de objectos artísticos com esta temática. Apesar de focar um género cinematográfico específico, este Festival de Cinema nunca foi pensado para um nicho de mercado ou para um público especializado. Aliás, o próprio conceito de cinema queer é transversal à história do cinema – ele atravessa desde a ficção ao documentário, da animação ao experimental, alimentando-se de todos os géneros como o noir, western, melodrama, comédia romântica ou drama familiar. É um Festival feito para todos aqueles que gostam de bom cinema.

Quais são os principais objectivos do Queer Lisboa? O propósito do Queer Lisboa é o de divulgar o melhor cinema queer, de produção recente, sem esquecer toda a história deste género, resgatada frequentemente pela programação de retrospectivas, ou secções especiais, que permitem uma leitura sobre um determinado tema. O Festival tem também o propósito de criar um espaço de reflexão, onde o público tem a oportunidade de conhecer realizadores,

De que se tratam o “Queer-mente” e “At Home with Little Joe”? Estas colaborações surgem precisamente da vontade de apresentar outros aspectos da cultura queer, para além do cinema. Nesse sentido, vamos acolher uma edição especial do –mente, o Queer-mente, onde serão apresentadas oito performances de oito minutos cada, sobre o tema da transgressão. Vários artistas vão passar pelo palco do Ministerium Club, desde nomes consagrados, como o João Grosso ou o José Neves, até uma nova geração, com o Miguel Bonmetropolis

15 15 neville ou a Cláudia Jardim. Vamos também fazer uma parceria com a revista de cinema britânica, a Little Joe e os artistas plásticos João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, para apresentar a At Home With Little Joe, uma instalação onde, durante dois dias, vão ser exibidos filmes non-stop sob o tema da domesticidade. Que balanço faz ao longo dos anos? O Festival passou por muitas fases. Diria que os primeiros três anos foram os de afirmação da pertinência deste Festival, tendo-se programado sobretudo retrospectivas, mostrando um pouco da história do cinema queer e da representação da homossexualidade no cinema. Seguiu-se depois um período de afirmação de uma identidade própria, que coincidiu com a chegada a Lisboa de dois outros grandes Festivais: o DocLisboa e o Indie Lisboa. Esse acabou por ser um período conturbado, onde o Festival teve sérios cortes de apoios. A partir da 9.ª edição, em 2005, foi criada a competição, que considero ser um passo fundamental, que nos permitiu, por exemplo, ter um maior reconhecimento e poder negocial com os grandes distribuidores internacionais. Foi também a partir desta altura que conseguimos o reconhecimento pleno do nosso trabalho por parte dos nossos principais patrocinadores, que se mantêm até hoje, a Câmara Municipal de Lisboa e o Instituto do Cinema e do Audiovisual. Hoje, sinto que nos conseguimos afirmar, quer junto do público, quer junto dos patrocinadores.


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