Entrevista a João Monteiro (MOTELx 2013)

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o regresso do terror motelx 7.0

Kiss of the Damned O MOTELx chega à sua 7.ª edição, com o melhor do cinema de terror, homenageando Tobe Hooper e Hideo Nakata. Entre workshops, masterclasses e sessões especiais para os mais novos, são várias as secções do Festival. A Metropolis conversou com João Monteiro, director/programador do MOTELx, sobre o que se pode esperar do Festival mais assustador em Portugal.

TATIANA HENRIQUES Quais são os principais destaques da 7.ª edição do MOTELx? Em primeiro lugar, a forte presença feminina na secção principal “Serviço de Quarto”. São seis filmes a serem exibidos, todos eles visões bastante originais num género predominantemente masculino: Chained de Jennifer Lynch, Kiss of the Damned de Xan Cassavetes, Dark

Touch de Marina de Van, Bellenggu de Upi Avianto e It’s a Beautiful Day de Asakura Kayoko. Destaca-se também a fúria moralista de Cheap Thrills (EUA) e Countdown (Tailândia); o classicismo de The Conjuring (EUA) de James Wan; dois dos filmes de zombies mais originais dos últimos tempos: The Battery (EUA) e The Desert (Argentina); ou a co-produção portuguesa em Painless. E para quem julga não existirem filmes de terror na cinematografia lusitana, a secção “Quarto Perdido”

metropolis

deste ano junta Bernardo Santareno, Manuel Guimarães e António de Macedo, em dois filmes injustamente esquecidos: O Crime de Aldeia Velha (1964) e A Promessa (1973). Os convidados especiais desta edição são Tobe Hooper e Hideo Nakata. Qual é a importância destes dois realizadores para o cinema de terror mundial? Tobe Hooper é um elemento fundamental da última “era de ouro” do terror norte-america-


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Byzantium

Chained

Cheap Thrills

no, aquela que nos apresentou a outros cineastas como Carpenter, Craven, Romero, Cronenberg. The Texas Chain Saw Massacre é um filme seminal e, juntamente com a Night of the Living Dead, um dos filmes mais influentes de sempre no género. Impressionou os seus contemporâneos como Spielberg, Scorsese ou Ridley Scott e vemos hoje variações do seu trabalho nos filmes de Tarantino, Eli Roth, Rob Zombie, toda a nova vaga francesa e britânica, e até em curtas em competição para o Prémio Yorn MOTELx.

que incluía Kyoishi Kurosawa, Shinya Tsukamoto ou Takashi Miike. Ring foi uma injecção de criatividade no cinema de terror cujo efeito se fez sentir, em primeiro lugar, no cinema de outros países asiáticos e, subsequentemente, nos EUA. Nakata conseguiu isso pela forma como fundiu a tradição nipónica dos “Kaidans”, os tradicionais contos de fantasmas do cinema japonês, com o Japão tecnológico dos nossos dias. Os fantasmas, na linguagem do terror moderno, manifestam-se através da internet, das TVs e dos telemóveis.

Hideo Nakata é, igualmente, um dos cineastas mais influentes do presente. Foi o primeiro a destacar-se de uma geração

Quais serão os principais workshops a decorrer e como tem sido a recepção dos mesmos pelo público nas edições metropolis

anteriores? Vão acontecer três workshops este ano e diversas masterclasses. Dois desses workshops contam com membros da equipa do spot promocional do MOTELx 2013, spot que acabou por se transformar na curta-metragem «Dédalo», a ser exibida na sessão de abertura: Caracterização e Iniciação às Próteses com João Rapaz e Helena Batista; Stop Motion e Design de Personagens com Bruno Caetano e João Faria. Está tudo detalhado no site motelx.org. Relativamente a masterclasses, destaca-se a presença da produtora britânica Ne’er Do Well Films (cujo trabalho já foi exibido no festival) numa masterclass com o suges-


18 tivo título “Guerrilla Filmmaking em Tempos de Austeridade” e as imperdíveis masterclasses de Tobe Hooper e Hideo Nakata. A recepção tem sido tão boa que nos temos esforçado para que possam existir cada vez mais workshops. Parece-nos um sinal de que o público do festival começa a olhar para o MOTELx também como um espaço de aprendizagem.

Texas Chainsaw Massacre

O que está a ser preparado especialmente para os mais novos? Este ano, a secção “Lobo Mau” regressa em parceria com a Cinemateca Júnior numa homenagem ao recentemente desaparecido Ray Harryhausen, pioneiro dos efeitos visuais. Serão exibidas algumas das obras do mestre no Palácio Foz (Restauradores) dedicadas essencialmente a fazer sonhar os mais novos, tal como aconteceu com Spielberg, Lucas ou Cameron. Para além dos filmes, haverá igualmente ateliers de stop motion para que se possa aprender alguns truques e praticar em casa. Quem sabe se não poderão sair daqui mestres dos efeitos visuais portugueses… De que forma é que a crise económica poderá ter afectado a programação do festival? De várias formas. Em primeiro lugar, grande parte do trabalho de produção do festival é manter os apoios e tentar aumentá-los, pois sem eles é difícil pensar um festival. E como a crise é global, os preços dos filmes também vão subindo ano após ano. E finalmente, nas temáticas dos filmes apresentados, já é muito difícil fugir ao tema e o cinema de terror ultra-politizado está de volta em força.

Ringu Quais foram os critérios para a selecção dos filmes? São sempre subjectivos e dependem do gosto pessoal dos programadores, que é muito diversificado. Isso ajuda a apelar aos diferentes públicos que compõem o “público” do festival e impedir que nos fechemos numa lógica exclusivamente autoral. É muito interessante olhar no geral para o que saiu de inúmeras reuniões de programação, como o facto, por exemplo, de haver este ano um número recorde de filmes femininos. Qual é o balanço de MOTELx ao longo destes anos? Não há palavras para descrever a nossa satisfação ao assistir ao crescimento natural deste projecto. Nenhum de nós imaginaria que serões caseiros a ver filmes de terror do clube de vídeo da zona, pudessem evoluir para um festival que tem trazido a metropolis

Lisboa os maiores nomes do género e que pusesse tanta gente a realizar filmes de propósito para a competição do festival. Pensa que o cinema de terror em Portugal tem tido maior dimensão também graças ao MOTELx? A questão da “dimensão” é sempre relativa, porque o cinema português no presente só possui dimensão quando triunfa em festivais estrangeiros. É indesmentível que o panorama do cinema de terror em Portugal é diferente do que era em 2007. Há mais exposição mediática dos filmes e dos autores e há mais possibilidades de serem exibidos em festivais da Federação Méliès, da qual o MOTELx é membro. Ou seja, com os festivais de cinema existem estímulos e oportunidades, que esperemos que cresçam e se multipliquem.


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