O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos Chegou a derradeira aventura na Terra-Média. A viagem de BilboBaggins tem a sua última paragem, na obra que encerra a aventura de Peter Jackson pelas histórias de hobbits, anões, elfos e orcs. Numa história bem mais sombria do que aquilo que é contado em livro, são muitas as surpresas, mas também a inevitável nostalgia de um dos marcos da cinematografia recente. Neste especial, mostramos-lhe alguns dos tesouros do final da segunda trilogia. Tatiana Tatiana Henriques Henriques
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Sinopse
No último episódio das aventuras de BilboBaggins (Martins Freeman), a raiva do dragão Smaug (voz de BenedictCumberbatch) foi libertada inadvertidamente sobre os desarmados habitantes de Lake-town pelo hobbit, ThorinOakenshield (Richard Armitage) e os restantes anões. Thorin, o líder dos anões, está cada vez mais obcecado com o tesouro, sacrificando valores como a amizade ou a honra, apesar das várias tentativas de Bilbo em elucidá-lo. Para ajudá-los na tarefa de derrotar o dragão, apenas poderão contar com Bard (Luke Evans), que poderá saber como destruir a criatura
para sempre. Como se não bastasse, há ainda outros obstáculos e perigos bastante maiores: Sauron enviou as suas legiões num ataque oculto à Montanha Solitária, num assalto apenas percebido por Gandalf (Ian McKellen). E eis que chega a altura em que Anões, Elfos e Homens terão de decidir se escolhem unir-se ou permanecer afastados. Falamos da Batalha dos Cinco Exércitos, em que Bilbo terá não apenas de lutar pela sua vida mas também pelas dos seus amigos, numa luta que definirá o futuro da Terra-Média.
Segredos da Terra-Média • O Hobbit foi escrito pelo britânico John Ronald
• Os actores Ian Holm e Christopher Lee gravaram
ReuelTolkien em 1937, quase vinte anos antes de O Senhor dos Anéis.
as suas cenas no PinewoodStudios, em Londres, e não na Nova Zelândia como a restante equipa, devido a condicionantes de saúde. Christopher Lee chegou a conhecer pessoalmente o próprio J.R.R. Tolkien. “Ia caindo da cadeira”, conta o actor sobre o momento. Christopher Lee confessou também que é um fã da obra do escritor e que sempre almejou que houvesse uma adaptação cinematográfica. “Às vezes, os sonhos tornam-se realidade”, rejubilou. Peter Jackson realça um aspecto inelutável no regresso de algumas das personagens: a iconografia das mesmas. Legolas, Galadriel e Gandalf transformaram-se em produtos de merchandising, sendo brinquedos, bonecos ou estando presentes em lancheiras, por exemplo. “O regresso das personagens não se trata somente do retorno de um filme feito há 10 anos, eles trazem consigo toda uma cultura pop. Nunca pensei que os veria outra vez no set”.
• Os três filmes («O Hobbit: Uma Viagem Inesperada», «O Hobbit – A Desolação de Smaug» e «O Hobbit – A Batalha dos Cinco Exércitos») foram gravados em sequência.
• Alguns actores do elenco ficaram com objectos das suas personagens após o final das gravações. Ora, Martin Freeman guardou a espada de Bilbo, as orelhas prostéticas e o contrato que os anões assinam com Bilbo no primeiro filme – todavia, o actor não deixa de admitir que se sentiu algo desiludido por não ter ficado com o anel. Richard Armitage ficou com o escudo de Thorin, a chave da Montanha Solitária e uma peça de ouro guardada por Smaug. Já Lee Pace conservou a espada da sua personagem.
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• A canção que acompanha o primeiro trailer do
• PhilippaBoyens (uma das produtoras do filme)
filme chama-se “EdgeoftheNight” e foi cantada originalmente por Peregrin ‘Pippin’ Took (BillyBoyd) no filme «O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei» (2003).
explica a razão de se ter dividido o livro em três filmes: “Se não tivéssemos feito primeiro «O Senhor dos Anéis», provavelmente «O Hobbit» teria sido uma história muito diferente”, diz Boyens. “É tão
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fácil esquecer a profundidade que há em contar histórias e quão assustador este livro infantil se torna no final. Não termina com Smaug, quando deveria terminar, quando qualquer livro infantil termina e as crianças adoram. Sei que adorei quando li porque era invulgar, leva-te mais longe. Existem fortes elementos trágicos nele”, acrescentou.
• É notório o número reduzido de personagens femininas na obra. Contudo, PhilippaBoyens não considera que tal seja sinónimo que o papel da mulher seja negligenciado: “A falta de energia feminina é facilmente percebida. E é interessante porque o Professor Tolkien escreveu de forma brilhante para as mulheres. Ele tinha um verdadeiro respeito pelas mulheres. O ser mais poderoso na Terra-Média nessa época, como ele escreveu, era a Galadriel. E, assim, temos a história de como ela se desenvolve, tal como ele escreveu. Isso implica que O Hobbit seja muito poderoso e que resulte para o público feminino, na minha opinião”.
• A batalha dos cinco exércitos é tida por PhilipaBoyens como sendo mais “angulosa, lúgubre e impressionante” do que as que foram vistas na primeira trilogia de «O Senhor dos Anéis». Janeiro 2015 metropolis 33
BilboBaggins, o herói inusitado Outrora desconhecido do grande público, Martin Freeman alcançou a fama mundial com as séries televisivas «Sherlock» e «Fargo» e, claro, enquanto BilboBaggins. Tal faz com que agora tenha uma legião de fãs, denominados “Freemaniacs”. Sobre o assunto, o actor mostra, como já é hábito, o seu bom humor: “Gosto de manter uma distância saudável. Quando era jovem, pensava: ‘Também quero que as raparigas gritem ao ver-me’. Mas isso era aos 18 anos, quando dar o salto para o Cinema era impensável. Além disso, as superestrelas não param de ter sexo e isso deve ser muito cansativo”. Martin Freeman confessa que não tinha familiaridade com a história de O Hobbit antes de ingressar na história da Terra-Média e que só leu o livro, de forma apressada, quando começou a falar sobre o filme com Guillermodel Toro, ainda quando o cineasta estava apontado para ser o realizador. O actor britânico caracteriza a sua personagem da seguinte forma: “Bilbo possui falhas, é levemente engraçado e é uma personagem ligeiramente ridícula. É pomposo e algo mesquinho”. “Na essência, é muito decente, tem uma bússola moral e uma noção do certo e do errado, mas há muito além disso. Ele fica mais versátil ao longo da obra e descobre a sua coragem e a sua fúria”, ajuntou. O actor gostou das mudanças da sua personagem, a partir “do ponto de ser meigo e brando para quando descobre um pouco mais de coragem e determinação. Na verdade, procurei sempre isso. Passa-se tanto tempo a interpretar o Bilbo como uma pessoa reticente, a tentar encontrar a 34 metropolis Janeiro 2015
sua voz e descobrir quando falar – quase a pedir permissão para respirar – que torna-se realmente divertido quando ele tem de encontrar aquela coragem dentro dele”, disse em entrevista. Martin Freeman reconhece que atentou à interpretação de Ian Holm como BilboBaggins, mas que apenas usou “certas gesticulações ou padrões de fala”, pois “não se pode ficar paralisado”, justifica. PhilippaBoyens refere que Bilbo é “um tipo normal que se encontra no meio da Guerra. Ele preferia não estar ali mas, uma vez que está, não vai fugir nem esconder-se”. O actor confessa que se emocionou no último dia de filmagens da trilogia. Aliás, “mais do que tinha imaginado”, considerando ainda que este último filme “é um final muito bom para a história”. ElijahWood revelou que foi uma experiência estranha ver Martin na sua casa em BagEnd quando voltou para interpretar o papel de FrodoBaggins: “Foi incrivelmente surreal, mas, ao mesmo tempo, foi também terrivelmente normal”. “Era um lugar ao qual nunca imaginei regressar. Por isso, foi uma completa surpresa para mim e, em última análise, uma bela reunião familiar”, contou aos jornalistas. Sobre as duas personagens, ElijahWood afirma que “apesar de partilharem o mesmo apelido, Frodo e Bilbo são muito diferentes. O Frodo sabe perfeitamente qual a sua relação com o seu tio. Ele cresceu com os contos das aventuras de Bilbo, por isso o Frodo tem um espírito que é muito invulgar nos hobbits, que se traduz na sua grande curiosidade pelo mundo exterior”.
Conseguir que Martin Freeman interpretasse BilboBaggins foi, por si só, uma longa jornada, tal como Peter Jackson elucida: “O Martin era a única pessoa que sempre quisemos para o papel. Sabíamos que ele tinha qualidades que seriam perfeitas para o papel de Bilbo, a forma de agir, tipicamente inglesa, uma qualidade um pouco reprimida. Ele é um actor dramático – não é um comediante, mas é um actor dramático que tem uma habilidade muito rara para a comédia… Com os atrasos que aconteceram, não poderíamos oferecer o papel contratualmente a ninguém. Na época que conseguimos oferecer o papel para Martin, ele já se tinha comprometido com a série «Sherlock»”. Peter Jackson confessou que entrou em pânico, porque não conseguiam “pensar em mais ninguém que fosse tão bom como o Martin. Passava noites sem dormir. Estávamos a cerca de seis semanas do início das filmagens e ainda não tínhamos escolhido ninguém”. Até que Peter Jackson conseguiu alterar o calendário de gravações, tornando possível acomodar o cronograma de Martin na série para que ele pudesse viajar para a Nova Zelândia e tudo se resolveu. Apesar de Martin Freeman ter sido sempre a primeira opção do realizador, foram também considerados para o papel os actores Daniel Radcliffe e ShiaLaBeouf. Janeiro 2015 metropolis 35
Peter Jackson, o viajante da Terra-Média
Peter Jackson é o realizador responsável por levar ao Cinema as aventuras da Terra-Média. A tarefa foi tão bem sucedida que arrecadou três Óscares, incluindo o de Melhor Realizador por «O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei» (2003). Além disso, os filmes ainda possibilitaram alguns sonhos, como conta Jackson: “Também criámos uma infra-estrutura na Nova Zelândia, construímos as nossas equipas de produção e pós-produção. Sempre que ponho os pés naquele prédio digo: obrigado, «Senhor dos Anéis»”. Todavia, inicialmente não seria ele que realizaria estas novas aventuras de «O Hobbit», mas Guillermodel Toro. O cineasta explica por que acabou por mudar de ideias: “Acabei por perceber que há muito charme e humor em «O Hobbit» que não havia n’«O Senhor dos Anéis». Considerei o regresso à Terra-Média por ser uma história completamente diferente e ter um 36 metropolis Janeiro 2015
tom diferente (…), porque dá-me uma oportunidade de fazer algo um pouco diferente. E, no primeiro dia de filmagens, estava incrivelmente feliz. Foi muito divertido começar as gravações”. “«O Senhor dos Anéis» foi uma experiência lendária que nos ligou a muitas pessoas. Estava interessado em ver se isso poderia acontecer de novo e, de facto, aconteceu”, asseverou. Para o realizador, “«O Hobbit» foi interessante na medida em que usamos muito material dos apêndices de «O Senhor dos Anéis» e tentamos incorporá-lo dentro da história principal. Tivemos que criar arcos de personagens que não estavam num livro que foi escrito como uma história de embalar. Foi para isso que Tolkien o escreveu. Foi um grande exercício para, de facto, criarmos toda uma estrutura para «O Hobbit»”. Aliás, Peter Jackson considera que
“completar os pequenos laços e os círculos foi algo realmente interessante, já que se está a lidar com uma história diferente, um tom diferente. Se tivéssemos filmado os filmes numa ordem diferente, não teria sido capaz de fazer isso de forma tão eficaz. Porque, uma vez feitos e exibidos, estamos a olhar para um quadro de seis filmes. Isso não teria sido tão fácil se tivéssemos filmado «O Hobbit» em primeiro lugar, porque há um tom diferente no livro. Poderíamos ter apenas enfatizado o lado de conto de fadas, o que teria feito do Senhor dos Anéis uma adaptação muito mais difícil, porque teria sido árduo relacionar os dois, uns com os outros”. “Um dia, quando tudo isto terminar, irão existir estes filmes como uma série de seis. É assim que as futuras gerações vão pensar neles”, concluiu.
Sobre «O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos», Peter Jackson diz que gosta realmente deste terceiro filme, que considera como “o mais emocional e tenso”, sentindo “como se tivéssemos chegado ao pico”. “De todos os filmes, este parece-se mais como um thriller. Obviamente, os filmes são aventuras de acção e fantasia, mas este é o mais próximo do estilo de um thriller como «Os Homens do Presidente» (1976), baseado em personagens. Neste filme, não introduzimos novas personagens. Não há nenhuma viagem. Os anões e as outras personagens chegaram onde precisavam de estar”, afirmou o realizador. “Penso que é o meu favorito dos três, para ser honesto”, acrescentou.
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Richard Armitage , o fã que entrou na Terra-Média Richard Armitage é um grande fã da obra de Tolkien e conta o que sentiu quando lhe ofereceram o papel de Thorin: “Primeiro, lembrei-me de quando li pela primeira vez O Hobbit enquanto criança e de quando era adolescente e relia toda a saga uma vez por ano. Depois pensei: “Estou destinado para interpretar este papel!’”. Sobre o final da trilogia, o actor considera que “vão haver algumas grandes surpresas” e que “vai ser um evento algo nostálgico. Vão ser 15 anos a ver a Terra-Média no grande ecrã, o culminar do trabalho de uma vida para Peter Jackson”. Richard Armitage disse ainda que a batalha dos cinco exércitos custou muitas lágrimas e sangue. Sobre a sua experiência nas filmagens, o actor contou o seguinte: “Odiava as próteses! Não posso queixar-me totalmente, porque faziam-me parecer mais musculado do que aquilo que sou verdadeiramente. Quanto à armadura que tenho neste filme é outra história: estava desenhada até ao mais ínfimo detalhe e dava-me total liberdade de movimentos. Quando a punha, já não a queria tirar”. No livro, Thorin não é exactamente um guerreiro, tal como é descrito nos filmes. PhilippaBoyens explica a razão da mudança: “Quando começamos a trabalhar a personagem, que é muito mais velha no livro, tornou-se muito difícil investir numa personagem que quer recuperar a sua casa e reconstruir uma cidade quando está nos seus oitenta anos. 38 metropolis Janeiro 2015
Assim, quando começou o processo de escolha do elenco, procuramos pessoas entre os 45 e 55 anos, alguém que tinha uma certa experiência de vida, que poderia ser essa personagem heróica e que poderia ser, igualmente, um grande lutador – mais uma vez, algo difícil de se fazer com uma personagem que, como o Professor Tolkien escreveu, era um velho guerreiro”. Tendo em conta estes factores, Armitage pareceu a escolha mais do que acertada para interpretar Thorin: “Richard Armitage foi o mais jovem actor da audição e foi seleccionado. Não tem nada que ver com o facto de ele ser lindo (risos), mas com o facto de que ele fez uma audição fantástica, com a noção de que era uma personagem conflituosa, mas também grosseira, nórdica, inglês – como um anão”.
Bard, o arqueiro galês Bard é descendente de Girion, o último Senhor de Dale. A personagem reúne os sobreviventes do ataque de Smaug e direccioná-los para a batalha, procurando, desta forma, alguma compensação pela destruição de Laketown. Luke Evans, o actor que interpreta Bard, considera que se trata de “um protagonista fora do comum”, mas que gosta disso. “Tive muita sorte de me terem dado um personagem fantástico e, além disso, me terem dado a oportunidade de ampliá-lo. Agora vê-se muito mais da sua história: de onde vem, os seus filhos… Ser pai é uma parte muito importante da personagem”, evidenciou. Peter Jackson vai mais longe: “Arriscando-me a parecer um crítico do trabalho de Tolkien, penso que a personagem de Bard está pouco desenvolvida no livro”. “É um tipo bastante grosseiro, nada agradável. Uma das coisas que queríamos fazer era integrá-lo mais na história dos anões e de Erebor. Queríamos uma personagem que, no início, não se saiba de que lado estava: se é alguém em quem Bilbo pode confiar ou se tem objectivos ocultos”, acrescentou. Luke Evans admite que nunca leu o livro O Senhor dos Anéis, já que “não é a melhor obra para começar se tens um ritmo lento de leitura”. Contudo, leu O Hobbit quando era criança e voltou a lê-lo quando conseguiu o papel de Bard. Indagado sobre que outra personagem poderia interpretar na história que não Bard, Luke Evans conta que não se vê “como um elfo. Talvez pudesse interpretar um anão. Thorin é também uma personagem fantástica! Teria sido divertido. Mas estou muito contente sendo Bard!”. Luke Evans não teve que se preocupar com o seu sotaque tipicamente galês. O actor referiu que, quando os produtores decidiram que Bard iria ser galês, não tinha pensado que o sotaque seria tão importante, mas, “quando concluis que todos os antecessores de Bard eram da Cidade do Vale… que é uma espécie de Gales! A nação galesa estará encantada em fazer parte do legado de Tolkien”. Janeiro 2015 metropolis 39
Gandalf, o feiticeiro emblemático
Visto pela última vez na Fortaleza de DolDuldur enquanto presenciava o regresso de Sauron, Gandalf tem neste filme uma missão nada fácil: tentar unir anões, homens e elfos contra um inimigo comum personificado pela ameaça dos orcs. Ian McKellen, que já interpretou a personagem seis vezes, enaltece a importância das duas trilogias: “Os seis filmes são, especialmente se pensados como uma unidade, clássicos do cinema contemporâneo. E o Tolkien é tão bom quanto Dickens a descrever cenas. Ele trata do fim de uma era, do momento crucial em que culturas esbatem e grandes mudanças ocorrem. É como se ele propusesse o clímax ininterrupto. Por isso, eu é que pergunto: quem disse que a nossa história acabou? A jornada reinventada pelo meu amigo Peter Jackson seguirá adiante”. E, quando fala de Gandalf, o actor não consegue esconder o carinho que sente pela personagem: “Gandalf começou a tomar forma, apesar de toda aquela magnificência de mago, na voz de fumante. Descobri que Tolkien gostava de tirar as personagens do contexto dos livros e teatralizálos, criando uma voz específica para cada. Essa foi a minha pista essencial. Foi na voz que encontrei aquele tom de professor catedrático, pronto para ensinar tudo o que queres ou que ainda não sabe que queres aprender. Eu adoro esse tipo, o Gandalf. Já fiquei com saudades”. 40 metropolis Janeiro 2015
Andy Serkis: de Gollum a realizador Andy Serkis, que interpreta o inesquecível Gollum, teve também direito a um outro papel especial nesta trilogia: ser o realizador da 2.ª unidade. O actor conta um pouco da experiência: “Foi uma miscelânea de sensações. Começámos na BagEnd e a minha primeira tarefa foi filmar a música que os anões cantam enquanto limpam. Foi fantástico porque eles estavam a começar e foi a primeira vez que lhes foi permitido viver as suas personagens de uma forma que não fosse muito coreografada”. “A maioria dos realizadores, quando gravam o seu primeiro filme, filmam durante 35 dias com, provavelmente, uma câmara digital e cinco actores. Foi uma enorme responsabilidade ser o guardião daquelas performances”, reconhece.
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Novas tecnologias - 3D Apesar de a trilogia de «O Senhor dos Anéis» já ter sido um marco no Cinema a nível tecnológico, de lá para cá muito se alterou entretanto. Ian McKellen que o diga. Na trilogia anterior, o actor ficava posicionado mais distantemente em relação aos actores que interpretavam os hobbits, para criar a ilusão da enorme diferença de altura entre Gandalf e essas personagens. Desta vez, o actor gravou as suas cenas à frente de um ecrã verde, tornando tudo muito mais simples. O filme é o menos longo de ambas as trilogias, tendo 2 horas e 24 minutos. No entanto, já foi anunciado que a edição em Blu-Ray terá mais 30 minutos. Sobre o 3D, Peter Jackson afirma que não mudou o seu estilo de realizar filmes por causa disso, mas “não queria converter o filme, queríamos filmar em 3D. Acho que é muito mais realista”. Ainda sobre as novas tecnologias, recentemente o actor Viggo Mortensen – que interpretou o papel de Aragorn na primeira trilogia – proferiu algumas críticas sobre o modo como os filmes têm sido filmados: “O Peter [Jackson] sempre foi um geek em termos de tecnologia. No primeiro filme, sim, há Valfenda e Mordor, mas há uma espécie de qualidade orgânica, o trabalho dos actores uns com os outros e as paisagens reais. Era mais palpável. O segundo filme já começou a aumentar demasiado para o meu gosto e, no terceiro, já havia uma grande quantidade de efeitos especiais. Foi grandioso, mas o que era subtil no primeiro filme, gradualmente foi se perdendo no segundo e terceiro filmes. Agora, com «O Hobbit» é como se isso fosse multiplicado por 10”. 42 metropolis Janeiro 2015
Última viagem à Terra-Média? Seis filmes e quase duas décadas depois, tudo indica que esta será a última visita à Terra-Média. J.R.R. Tolkien vendeu os direitos de O Hobbit e O Senhor dos Anéis no final da década de 1960, chegando às mãos da United Artists (UA), não antes de quase terem ficado na posse dos Beatles. Sim, dos Beatles, tal como conta Peter Jackson: “Uma vez, os Beatles sondaram o Stanley Kubrick para fazer O Senhor dos Anéis, antes de o Tolkien vender os direitos. O Kubrick recusou. Na verdade, falei sobre isso com o Paul McCartney e ele confirmou. Tinha ouvido rumores de que seria o seu próximo filme após «Socorro!» (1965). O Lennon ia interpretar Gollum, Paul seria Frodo, George Harrison o Gandalf e Ringo Starr interpretaria Sam. E muitas outras pessoas iriam desempenhar outros papéis. Paul foi muito gentil e disse-me: ‘Foi óptimo nunca termos conseguido fazer o nosso, porque assim não terias feito a tua versão e foi fantástico vê-la’. Eu disse: ‘É sobre as músicas que me sinto mal, vocês teriam lançado algumas muito boas. Vocês eram Os Beatles, afinal de contas. É uma pena que tenhamos perdido isso’”. Depois da morte de Tolkien, o seu filho, Christopher, investigou os seus arquivos e descobriu muito material que considerou digno de publicação, como O Silmarillion, que Tolkien “escreveu alguns excertos enquanto estava sentado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial”, explica Peter Jackson. Assim, as restantes obras de Tolkien pertencem ao espólio do escritor e os seus direitos nunca foram
vendidos. “Sem a cooperação das pessoas que administram o espólio de Tolkien, pode não haver mais nenhum filme”, disse Jackson aos jornalistas. E talvez seja mesmo isso que aconteça, tendo em conta as palavras de Christopher Tolkien numa entrevista de 2012: “Tolkien tornou-se um monstro, devorado pela própria popularidade e deglutido pelo absurdo do nosso tempo. A comercialização tem reduzido o impacto estético e filosófico da sua criação. Para mim, há apenas uma solução: afastar-me”. Curiosamente, uma das provas da falta de aquisição de direitos ficou demonstrada em «O Hobbit - Uma Viagem Inesperada» (2012), quando perguntam a Gandalf quantos feiticeiros existem na Terra-Média, ao que ele responde que se esqueceu de dois dos cinco nomes. Ora, os nomes destes feiticeiros, Alatar e Pallando, apenas são referidos na obra Contos Inacabados, justificando, assim, a omissão. Todavia, nem todos acreditam que esta seja a última viagem na Terra-Média, como considera Ian McKellen. O actor britânico disse aos jornalistas que, no final das gravações de «O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei», Peter Jackson revelou-lhe que não iria voltar a adaptar uma obra de Tolkien: “O Peter disse-me, em 2001, que aquele era o final, que estava tudo terminado e aqui estamos 13 anos depois. Portanto, não acredito que este seja, necessariamente o fim da jornada”.
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PER SONAGENS
Homens Bain (John Bell) Bain é o filho de Bard que, na obra de Tolkien, se tornará no rei da cidade reconstruída de Dale.
Beorn (Mikael Persbrandt) Um homem do Norte que consegue mudar de aparência, transformando-se num enorme e feroz urso castanho.
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Elfos Elrond (Hugo Weaving) No primeiro filme da primeira trilogia, pudemos ver algumas das habilidades de luta de Elrond, mas só agora poderemos ver na sua plenitude como o Senhor de Rivendell consegue derrotar os seus inimigos.
Legolas (Orlando Bloom) Antes de se juntar à Irmandade do Anel, Legolas combate os orcs na Montanha Solitária. À semelhança de outras personagens, também Legolas não aparece no livro de Tolkien. “Sinto-me no final de uma viagem muito longa. No último dia de filmagens, estávamos a rodar a batalha final e o Pete [Jackson] pediu que pusessem a música d’«O Senhor dos Anéis». Foi um dos momentos altos da minha vida”, confessou Orlando Bloom. O actor afirma que os filmes da saga lhe mudaram a vida e que a melhor parte “foi ter passado quatro anos da minha vida na Nova Zelândia. Quando lá cheguei pela primeira vez, não fazia ideia do êxito que tudo isto iria ter. Ao regressar para «O Hobbit», já estava consciente de que voltaria para interpretar a personagem mais famosa da minha carreira”.
Tauriel (EvangelineLilly) Tauriel é uma elfa Sivan, diferente das mostradas anteriormente, os chamados Sindar. Letal e destemida, Tauriel desafia as ordens de Thranduil e decide combater sozinha os orcs. A personagem não aparece no livro de Tolkien e foi criada por Peter Jackson para poder incluir mais personagens femininas na história. O realizador considera que “foi uma decisão muito pensada escolher uma personagem feminina, porque há muita força nas mulheres elfas. Simplesmente queríamos uma rapariga vigorosa e agressiva. Foi assim que a personagem surgiu”. Quanto a EvangelineLilly, a actriz é peremptória: “Pensei que tinha ouro nas mãos. Ninguém tinha uma ideia preconcebida sobre como deveria parecer ou comportar, por isso tinha carta-branca. Ninguém poderia dizer-me como a Tauriel deveria ser, à excepção de Peter Jackson, FranWalsh e PhilippaBoyens”. “Queríamos uma distinção clara entre Tauriel, que pertence a uma casta elfa inferior, e os elfos de classe alta, que se pode ver n’«O Senhor dos Anéis». Por isso, não voltei a ver, de forma intencional, o filme. Se o tivesse feito, e porque sou completamente fascinada pela actuação da Cate Blanchett, simplesmente a teria tentado copiar. Não conseguiria conter-me. Por isso, tive a certeza de que não assistiria, para que pudéssemos criar uma elfa guerreira de Woodland completamente única”, acrescentou EvangelineLilly. Janeiro 2015 metropolis 45
Thranduil (Lee Pace) Thranduil abandonou os anões durante o primeiro ataque do dragão Smaug, mas sente-se agora tentado em ingressar na luta pelo tesouro. Todavia, irão os seus intentos mudar novamente quando as forças de Sauron começarem a atacar? “O Thranduil nunca pensa nos outros”, diz PhilippaBoyens sobre a personagem interpretada por Lee Pace. “Tínhamos que encontrar alguém que fosse capaz de carregar esse nível de arrogância. Mas é uma arrogância justificada. Há uma razão para ele ser um rei. O Thranduil é um dos maiores guerreiros da Terra-Média, apesar de demorar algum tempo para que percebamos com quem estamos a lidar. Demora algum tempo a perceber por que ele é tão isolacionista. Tivemos que encontrar um actor capaz disso tudo e que não o odiássemos, apesar de tudo. De alguma forma, sentes-te estranhamente ligado à personagem, mesmo que ele esteja, na maior parte das vezes, a trabalhar contra os nossos heróis”, conclui Boyens.
Galadriel (Cate Blanchett) Galadriel é uma elfa pertencente à família real, sendo princesa de Noldorin e filha de Finarfia. É considerada uma das elfas mais importantes e ponderosas, tal como descrevia Tolkien. Apesar de estar presente nos três filmes da trilogia, Cate Blanchett esteve no set apenas durante oito dias.“Vejo-a como uma mistura de Mãe Natureza e glória física, mas também alguma escuridão. Mas como há tão poucas personagens femininas no livro, queremos que elas possam fazer qualquer coisa!”, disse a actriz sobre a sua personagem. Cate Blanchett revela que vai ter saudades de ter a oportunidade de poder voltar a interpretar Galadriel: “Sou uma parte tão pequena do filme, mas as quatro semanas que passei [na primeira trilogia] foram cruciais para mim. Sou há muito tempo fã do trabalho do Peter”. Tal faz com que a actriz considere que seja uma oportunidade “trabalhar com ele e trabalhar nas histórias que têm um alcance e impacto tão abrangentes, não só como filmes, mas também criativamente. Sei que nunca vai voltar a acontecer, o que me faz sentir algo triste e velha”. Cate Blanchett afirmou ainda que nunca sequer pensou se teria reservas em fazer um filme fantástico, já que “queria tanto trabalhar com o Peter Jackson que o papel era estranhamente secundário”.
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Orcs Thranduil (Lee Pace) Azog é o líder da armada orc, agindo em conluio com Sauron. Este orc tem um alvo em especial de quem quer vingar-se: Thorin, que lhe cortou a mão numa batalha anterior.
Bolg (Lawrence Makoare) O filho de Azog e o segundo comandante das forças orcs tem como principal missão perseguir Bilbo e os anões.
Anões Balin (KenStott) Balin é o homem de confiança de Thorin e um sobrevivente da Guerra entre Anões e Orcs. É o seu túmulo que Gimli (John Rhys-Davies) descobre em Moria no filme «O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel» (2001).
Fili/Kili (Dean O’Gorman/ Aidan Turner) Os sobrinhos de Thorin são também herdeiros do trono de Erebor e são os mais novos a juntar-se à equipa que reclama a Montanha Solitária.
DáinIronfoot (BillyConnolly)
Dáin é uma das poucas novas personagens a aparecer no novo filme. Trata-se do Senhor das Colinas de Ferro e é primo de Thorin, respondendo ao pedido de ajuda dos anões ao contribuir com a sua armada de 500 homens.
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