Mergulhador profissional - concentração e técnica

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O mergulho e

os encantos do mundo

submerso

Pioneiros neste esporte em Guarulhos falam de suas experiências e a paixão pelos mistérios do fundo do mar Lourdes Dias Fotos: Aparício Reis e arquivos pessoais

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onhecer novos lugares é uma experiência fascinante. Imagine poder conhecer um mundo totalmente diferente do que você está acostumado a ver. Estar no mundo das águas, podendo ver de perto a vida marinha com todas as suas cores e mistérios. O fundo do mar ou as cavernas e grutas de água doce guardam encantos que só o mergulho permite descobrir. O mergulho é um dos esportes radicais que mais crescem no Brasil e representa uma descoberta das ma-

ravilhas do mundo submerso. Também é muito procurado como alternativa de combate ao estresse por executivos e profissionais das mais diferentes áreas de atuação. No Brasil, os equipamentos começaram a chegar na década de 70. Os cursos, a princípio, voltados ao Exército e Corpo de Bombeiros, se popularizaram e atualmente são bastante procurados. Existem locais na costa brasileira privilegiados e convidativos ao mergulho, a exemplo de Recife-PE, Arraial do CaboRJ, Santos-SP, Itanhaém-SP, UbatubaSP, Ilha Grande-RJ, Paraty-RJ, IlhabelaSP, Abrolhos-BA, entre outros.

O mergulho é dividido em livre e autônomo. O aparato do mergulho é extenso e variável, e depende da modalidade e especialidade escolhidas pelo mergulhador. Por exemplo, no mergulho recreacional, os equipamentos básicos se resumem na roupa de neoprene, máscara, snorkel, colete equilibrador. Especialistas observam que o importante é que os equipamentos ofereçam conforto e segurança ao mergulhador. Para conhecer a introdução do mergulho na cidade de Guarulhos, a R e v i s t a G u a r u l h o s entrevistou Rinaldo Schoub (coronel da reserva

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Rinaldo Schoub formou mais de dois mil alunos; o filho Júnior segue seus passos

e ex-comandante do Corpo de Bombeiros de Guarulhos) precursor do esporte no município; o advogado Hugo Mesquita; o empresário Cláudio Antônio Gualandro (mais conhecido por Bolão e proprietário da Guasub Guarulhos Atividades Sub Aquáticas); Marcellus Bellezzo (proprietário da Escola de Mergulho Hidrofobia) e Elso Lino de Pontes, o Carioca (mergulhador profissional e engenheiro civil). Para eles, o mergulho é um esporte apaixonante e uma verdadeira terapia. Outro ponto em comum desses apaixonados pelo esporte é que o Brasil é privilegiado pela extensa variedade de pontos de mergulho para mergulhadores de águas abertas ou não. O coronel Rinaldo Schoub, que esteve na ativa de 1970 a 1993, foi instrutor de mergulho no Corpo de Bombeiros e ministrou aulas nas modalidades livre e autônomo. Às vésperas de completar 60 anos (em setembro), Schoub se emociona ao falar sobre o mergulho e de ter formado mais de dois mil alunos, no período de 1978 a 1988, entre eles: Hugo Mesquita, Bolão, Carioca, Ricardo Beires, Walmir Freitas e tantos outros que se profissionalizaram para ensinar o que aprenderam. “Em

Guarulhos, quem não foi meu aluno é aluno de ex-aluno”, orgulha-se Schoub. O mergulho é considerado por Schoub um esporte saudável, mas que exige cuidados específicos. Ele afirma que mergulhar é fácil e pode ser praticado por qualquer pessoa e em qualquer condição física, inclusive portadora de deficiência. A recomendação fundamental é ter treinamento e equipamento básico apropriado, como o snorkel, máscara, nadadeira e outros. “Os cursos são rápidos. O mergulho livre em minha época era ministrado em duas semanas, com aulas diárias. Já o autônomo durava quatro semanas e o batismo de ambos, em alto-mar, era na seqüência do término do curso. Por ossos do ofício e por questão de segurança, meu sistema era rígido. Acredito que com disciplina aprende-se mais facilmente”, ressalta. Schoub explica que, no mergulho autônomo, a duração varia com a capacidade do cilindro, a profundidade e o consumo de ar do mergulhador. Em média, um cilindro tradicional permite ficar entre 35 e 50 minutos no mergulho. Quando se respira ar sob pressão o corpo absorve nitrogênio e o excesso desse gás, normalmente, é eliminado durante a subida. Não respeitando as tabelas de mergulho, ou se a subida à superfície for rápida demais, podem se formar bolhas na corrente sangüínea. Por isso, recomenda-se que a pessoa esteja acompanhada ao mergulhar, e tenha a cautela necessária”, observa. Aliás, mergulhar em grupo é uma

prática comum para Schoub, Mesquita e Gualandro. No caso de Schoub, sua esposa, Maria de Fátima, sempre esteve ao seu lado auxiliando nas aulas. Seus filhos (Rebeca, Reysa e Rinaldo Schoub Júnior) aprenderam a mergulhar de forma natural. “A Fátima é uma eterna companheira e o Júnior está seguindo os passos do pai. É bombeiro e também instrutor de mergulho”, comenta Schoub, ressaltando que o fundo do mar “é um mundo bonito e maravilhoso que deve ser compartilhado em família e entre amigos”. HUGO MESQUITA, advogado, revela que essa paixão iniciou em 1981 e transformou o conceito em esporte para ele, que adotou o mergulho como uma atividade especial em sua vida. Ele conta que foi aluno de Schoub, que sua técnica estava voltada para a atividade de recreação e ações da Marinha e que exigia muito dos alunos. Diz, também, que já auxiliou Schoub e Carioca no passado, quando ministravam aulas em alguns clubes, entre eles o Recreativo. Mesquita observa que a partir da década de 90 e até os dias de hoje, as escolas de mergulho trabalham com outra técnica, praticada por quem procura lazer e turismo. “Houve uma evolução dos equipamentos, o que permite, inclusive, a prática do mergulho por deficiente físico e pessoas idosas. O mergulho autônomo pode ser feito de maneira saudável, acompanhado por monitores, sem as dificuldades de tempos atrás. Hoje, as

Hugo Mesquita tem paixão pelo mergulho e imagens fantásticas do fundo do mar

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pessoas têm consciência ecológica o que torna essa prática esportiva mais fascinante”, comenta. A fase de reunir um grupo de 15 pessoas, fretar um barco e sair nesta aventura é coisa do passado, relembra o advogado. “Hoje, você liga para a operadora, reserva lugar numa lancha que oferece refeição e todos os equipamentos que precisar e está pronto para o mergulho. São facilidades que tornam o passeio mais proveitoso. Antigamente era necessário carregar o cilindro nos Bombeiros”, informa Mesquita. Descobrir os mistérios do fundo do mar exerce um fascínio sobre Mesquita, que é associado do Padi – Profissional Association Divers Instructors. “Pelo menos duas a três vezes por ano programo um mergulho em turismo com a família ou amigos. Minha esposa já passou por duas experiências que não a animaram muito a repetir um passeio como este, mas é sempre uma aventura desvendar os mistérios das águas, ficar próximo aos corais, das tartarugas marinhas, de peixes exóticos e

outras espécies subaquáticas”, afirma Mesquita. Das aventuras em alto-mar, Mesquita relembra um passeio ocorrido há 10 anos, a caminho da Ilha de Alcatrazes, São Sebastião, quando o marinheiro passou quase quatro horas navegando, sem encontrar a ilha e, na volta, o barco quebrou. “Houve nervosismo porque ficamos à deriva até o resgate aparecer, horas mais tarde. Mas, quando se está mergulhando nas águas cristalinas, perto de corais e lagostas, o estresse passa bem longe. Aliás, o planejamento do passeio já proporciona um clima diferente. A gente faz contatos com amigos e operadoras, já se imagina vendo o sol nascer. Com certeza, descarregamos todas as energias negativas e temos uma integração total com a natureza. Evidentemente, não podemos esquecer as cautelas e as regras de segurança”, explica. O fascínio de Mesquita é por mergulho noturno. “À noite, a maioria dos animais dorme e nessa hora é possível se aproximar dos peixes e

tartarugas. Você consegue até abraçar e passar a mão neles. Além disso, não tem nada mais belo que a bioluminescência (microorganismos em suspensão na água tornam-se fluorescentes), um fenômeno que só acontece à noite”, comenta Mesquita, que também já mergulhou em cavernas e pegou o mar em todas as condições (calmo, agitado, temporal). “Em São Paulo, a melhor época para mergulhar é de março a julho, quando termina o período de chuvas, o tempo está estável e a água mais quente”. Mesquita revelou que, em meados de 92, pensou em montar uma escola de mergulho em parceria com seu irmão Lúcio Mesquita, mas foi desestimulado pelo amigo Cláudio Gaderbaci, proprietário da Claumar (precursor do mergulho no Brasil). “O Cláudio me convenceu de que as condições climáticas em São Paulo não eram propícias para explorar a atividade náutica comercialmente e me aconselhou a continuar mergulhando. Hoje entendo porque e agradeço. O mundo subáquatico é mágico”, afirma.

Tatiana Soledade

Mergulhador profissional concentração e técnica Mergulhar a uma profundidade de 280 metros. Você acha muito?. Pois bem, esta é a máxima profundidade no mar à qual chegou o mergulhador profissional e engenheiro civil Elso Lino De Pontes, o Carioca. Aos 52 anos, ele já mergulhou muito em sua vida e ainda continua, embora não com tanta freqüência (entre os diversos serviços que executa, inclui-se manutenção em plataformas da Petrobrás). Desde 1994, Carioca é proprietário da Subtec Serviços Ltda, uma empresa prestadora de serviços de mergulho, instalada em Vitória (ES). Ele mora em Guarulhos há 27 anos e descobriu o mergulho na cidade maravilhosa, quando ainda era um adolescente. “Eu convivia com amigos que praticavam mergulho livre, aquele no qual se utiliza apenas máscara, snorkel, nadadeira e

cinto de lastro. Um dia, observando-os, fiquei com vontade de mergulhar também. Eles me orientaram a comprar o equipamento e assim procedi”, recorda. Carioca fez seu primeiro curso de mergulho aos 18 anos (na Marinha) e posteriormente vários outros. Na ocasião em que chegou a Guarulhos ele afirma ter sido seguidor de Rinaldo Schoub, em sua opinião o precursor do mergulho recreacional (voltado ao lazer) no município. “Lecionamos juntos nos primeiros cursos de mergulho livre oferecidos na cidade. Em 1983 ingressei já como mergulhador profissional em uma empresa chamada Subaquática Engenharia. Na seqüência trabalhei em outras duas empresas, sempre como mergulhador profissional, e então montei a minha firma”, diz. Carioca afirma estar realizado em sua

profissão. “Cada mergulho é diferente do outro. Sempre descobrimos algo novo e nos maravilhamos com o que encontramos no fundo do mar”, destaca.

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Aparício Reis


A laje laje de de Santos, Santos, aa 45 45 km km da da costa costa A O Parque Estadual Marinho, sob jurisdição da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Instituto Florestal, tem como principal formação um rochedo com 550m de comprimento e pouco mais de 180m de largura e 40m de altura. Está localizado a 45 km da costa e é considerado um dos melhores pontos de mergulho do litoral brasileiro, com profundidade variando de 18 a 40 m e visibilidade que pode chegar a 40 m. O Parque inclui rochedos e parcéis (rochas submersas). A laje não possui vegetação e tem o formato semelhante ao de uma baleia. Abriga milhares de aves (atobás, gaivotas e andorinhasdo-mar) e um farol de sinalização da Marinha. Alguns dos parcéis pos-

Formado pela quinta turma de Schoub, em 1979, Cláudio Antônio Gualandro (Bolão) se apaixonou pelo mergulho, assumiu a Guasub e já formou, ao lado do sócio Walmir de Freitas, mais de quatro mil pessoas. Com uma equipe de dez monitores, Bolão ministra cursos gratuitos na Associação dos Servidores Municipais de Guarulhos. “Não vivo do mergulho, mas dar aula é um prazer para a Guasub, que ensina crianças a partir de 12 anos e sem idade limite, geralmente até 60 anos”, afirma. Por meio da Guasub, Bolão introduziu o curso de mergulho na Prefeitura, hoje administrado pela escola Free Dizing. Ele conta que aprendeu a mergulhar aos 12 anos e não parou mais. “Descobri que faço parte do mundo dos esportes náuticos, como mergulho, surf, vela e esqui. Se pudesse, passaria mais tempo explorando o fundo do mar. Existem lugares lindos, mas poucas pessoas têm o privilégio de conhecê-los. Já mergulhei do Sul do país até Abrolhos, mas Ubatuba não deixa nada a desejar”, ressalta.

suem grutas que formam labirintos submersos. A laje passou a ser protegida a partir de 1993, por dois biólogos santistas; o governador Fleury aprovou um decreto em 23 de setembro de 1993; o tempo de navegação é de aproximadamente 1h15min, dependendo das condições do mar. A fauna marinha é rica, concentrando-se várias espécies de peixes, tartarugas, invertebrados e, ocasionalmente, as maravilhosas raias jamanta. Pensando na segurança da navegação, na salvaguarda da vida no mar e na preservação da vida marinha, não é permitida ancoragem de barcos com lançamentos de âncoras: foram instalados cabos submersos de atracação diretamente nas rochas do fundo do mar.

De forma saudosa, Bolão relembrou os batismos realizados na “era Schoub”. Ele conta que os batismos eram feitos na ilha Vitória, 36 km da costa e uma viagem que durava de duas a três horas mar adentro. No decorrer do tempo foi escolhida a ilha Anchieta (Ubatuba), de 40 minutos a uma hora da costa. “O local continua sendo o preferido para os batismos e confraternização durante o passeio. Além disso, possui uma história e uma preocupação com a preser vação ambiental”, afir ma Bolão. O presidente da Guasub informa que o primeiro passo para os iniciantes é a aquisição de equipamentos próprios ou locação. “Como existe a necessidade de locação de barco e a aquisição dos equipamentos, o mergulho é um esporte considerado de elite para algumas pessoas, mas existem cursos gratuitos. Um mergulho nunca é igual ao outro. É uma recompensa ver a alegria das pessoas ao sair da água. O passeio é maravilhoso”, ressalta Bolão.

No início o repúdio, depois a paixão pelo mergulho Tatiana Soledade

P

rocurando atividades diferentes – como pára-quedismo, tiro com arco e flecha etc – foi que o engenheiro civil Marcellus Bellezzo, 34 anos, encontrou o mergulho. Desde então já se vão aproximadamente 11 anos praticando mergulho autônomo (no qual se utiliza cilindro de ar comprimido) e, há quatro anos e meio, ele montou uma escola de mergulho chamada “Hidrofobia”, que fica no Jardim Santa Cecília. Bellezzo conta que, no início da carreira, quando fez o curso de mergulho autônomo (no Corpo de Bombeiros), o batismo deu-se em Ilhabela. “Na ocasião não tive uma boa impressão de mergulho, pois a água estava fria e turva. Após isto fiquei

sem mergulhar por quase um ano até que, em uma viagem a Fernando de Noronha, fui convidado a retomar a prática e, a princípio, relutei, mas não consegui resistir por muito tempo. Como Noronha é o melhor lugar do Brasil para mergulhar, acabei me apaixonando definitivamente pelo mergulho. Retornei a Guarulhos e não parei mais de mergulhar, só que passei a ser criterioso, procurando bons lugares”, lembra. Ele também destaca que no decorrer da carreira fez vários outros cursos e, em 2003, passou dois meses trabalhando em Noronha como guia de turismo subaquático. O mergulhador afirma que, quando está no fundo do mar, sente uma paz muito grande. “Mergulho é como vício, difícil de largar. Quanto à sensação de paz, fico tão relaxado que já cheguei a cochilar na piscina

Aparício Reis

de treinamento da escola”, revela. Ele já mergulhou em boa parte da costa brasileira e, agora, acalenta dois sonhos: mergulhar na barreira de corais da Austrália e tornar-se um mergulhador profissional.

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