PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, ARTES E DESIGN — FAMECOS
TATIANE CROSS SILVEIRA
DO PLANEJAMENTO A IDENTIFICAÇÃO: O USO DAS MÍDIAS SOCIAIS NA TRAJETÓRIA DA BANDA INDEPENDENTE DE ROCK HELLSINKI
Porto Alegre 2018
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TATIANE CROSS SILVEIRA
DO PLANEJAMENTO A IDENTIFICAÇÃO: O USO DAS MÍDIAS SOCIAIS NA TRAJETÓRIA DA BANDA INDEPENDENTE DE ROCK HELLSINKI
Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Relações Públicas pela Graduação da Escola de Comunicação, Artes e Design — Famecos — PUCRS.
Orientadora: Profa. Dra. Neka Machado
Porto Alegre 2018
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TATIANE CROSS SILVEIRA
DO PLANEJAMENTO A IDENTIFICAÇÃO: O USO DAS MÍDIAS SOCIAIS NA TRAJETÓRIA DA BANDA INDEPENDENTE DE ROCK HELLSINKI
Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Relações Públicas pela Graduação da Escola de Comunicação, Artes e Design — Famecos — PUCRS.
Aprovada em: _______de____________________de________
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________ Profa. Dra. Ana Luisa Baseggio
___________________________________________________ Prof. Dr. Diego Wander Santos da Silva
___________________________________________________ Profa. Dra. Neka Machado
Porto Alegre 2018
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Dedico este trabalho àquela pessoa que, embora não esteja aqui fisicamente, sei que sempre estará comigo de alguma forma. Essa é a pessoa que nunca duvidou do meu potencial e me fez acreditar que todos os meus sonhos são possíveis: minha mãe.
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RESUMO
Este trabalho tem o intuito de abordar a importância do planejamento para a divulgação e imagem de uma banda independente de rock, e como as relações públicas podem contribuir neste processo. A ascensão das bandas independentes e as mudanças do mercado fonográfico, principalmente após o surgimento da internet, são temas relevantes deste estudo. A necessidade de identificação dos públicos com as bandas, para criação de vínculos, é tratada como um dos principais meios para se obter sucesso nas redes sociais, além disso, são apontadas as principais plataformas online utilizadas pelas bandas e como podem favorecer a divulgação e imagem das bandas. A partir dos métodos de pesquisa bibliográfica, documental, observação participante e entrevistas, são apresentadas as definições e estabelecidos vínculos com o objeto de estudo, a banda de independente de rock, Hellsinki. Por fim, é realizada uma análise da sua trajetória e apontadas melhorias que podem ser realizadas para aprimorar a divulgação.
PALAVRAS-CHAVE: Planejamento. Relações Públicas. Identificação dos públicos. Imagem organizacional. Redes Sociais. Hellsinki.
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ABSTRACT
This work intends to address the importance of planning for the dissemination and image of an independent rock band, and how public relations can contribute to this process. The rise of independent bands and changes in the music market, especially after the emergence of the internet, are relevant themes of this study. The need to identify the public with the bands to create links is treated as one of the main means to achieve success in social networks, in addition, it is pointed out the main online platforms used by the bands and how they can promote the dissemination and image of the bands. From the methods of bibliographic research, documentary, participant observation and interviews, the definitions and established links with the object of study, the rock independent band, Hellsinki, are presented. Finally, an analysis of its trajectory is carried out and improvements are pointed out that can be made to improve the dissemination.
KEY-WORDS: Planning. Public relations. Identification of audiences. Organizational Image. Social networks.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 2 O PLANEJAMENTO COMO ASTRO DAS ORGANIZAÇÕES
9 13
2.1 UM INSTRUMENTO VALIOSO PARA AS ORGANIZAÇÕES
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2.2 AS RELAÇÕES PÚBLICAS E A CONEXÃO COM OS PÚBLICOS
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2.3 AS BANDAS INDEPENDENTES DE ROCK E SEU CONTEXTO
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3 COMPORTAMENTO E REPERCUSSÃO NAS REDES SOCIAIS
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3.1 A IDENTIFICAÇÃO DO PÚBLICO E O COMPORTAMENTO COLETIVO NO MUNDO DA MÚSICA
26
3.2 AS TAIS REDES SOCIAIS
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3.2.3 YouTube
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3.2.1 Facebook
30
3.2.2 WhatsApp
31
3.2.3 Facebook Messenger
32
3.2.4 Instagram
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3.2.5 Spotify
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3.3 AS REDES SOCIAIS A FAVOR DA DIVULGAÇÃO E IMAGEM DAS BANDAS 4 HELLSINKI E A SUA RELAÇÃO COM AS REDES SOCIAIS 4.1 QUEM É A HELLSINKI?
34 40 40
4.1.1 História
40
4.1.2 Estilo
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4.1.3 Localização geográfica
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4.1.4 Materiais lançados pela banda
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3.1.5 Shows e apresentações
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4.1.6 Concursos e editais
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4.1.7 Organização da banda
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4.1.8 Objetivo da Hellsinki
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3.2 HELLSINKI E SUAS REDES SOCIAIS
50
4.2.1 YouTube
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4.2.2 Facebook
53
4.2.3 Instagram
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4.2.4 Spotify
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8
4.3 E AGORA, O QUE FAZER?
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
61
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A — Entrevista com Edu Santos — Loop Reclame
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APÊNDICE B — Entrevista com Niper Boaventura — Ego Kill Talent
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1 INTRODUÇÃO
A importância do planejamento de redes sociais, realizado pelo relaçõespúblicas, para a divulgação e imagem de uma banda independente de rock é o tema central desta monografia. Para isso, é apresentado um panorama do mercado fonográfico atual, discorre-se sobre identificação e comportamento dos públicos e como as redes sociais podem apoiar a construção dos vínculos com a banda. É notório que os meios digitais têm se tornado grandes aliados nas estratégias de comunicação, a internet está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, principalmente com a utilização smartphones. Observa-se que nas mídias digitais as bandas independentes de rock encontraram espaço para divulgar seu trabalho, de forma mais acessível. Podendo, ainda, personalizar as mensagens que chegam para os públicos de acordo com seus interesses e sem limites geográficos para a disseminação da informação. Contudo, apesar da facilidade nos dias atuais, de produzir e divulgar o material por conta própria, tornou-se cada vez mais difícil se destacar em meio ao lançamento de tantas outras bandas. É a partir deste ponto que a imagem e a identificação do público se tornam vitais. O planejamento estratégico se torna crucial, pois este é o instrumento responsável por determinar as ações e o rumo que uma organização irá seguir. Sim, um grupo musical é uma organização. O intuito desta monografia é apresentar a relevância do planejamento para a divulgação e imagem da banda de rock de Gravataí, Hellsinki, e como a falta dele reflete nas redes sociais. O objeto de estudo foi escolhido por se tratar de uma banda pouco conhecida pela indústria musical, que produz seu trabalho de forma independente e que tem aproveitado as mídias digitais para se promover. Pretendese responder os seguintes questionamentos ao longo desta pesquisa: ● Como o planejamento pode auxiliar na identificação dos públicos com uma banda independente de rock? ● Qual a relação do comportamento nas redes sociais com a divulgação e imagem de uma banda independente de rock?
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● Como a banda Hellsinki está usando as redes sociais e o que ela precisa melhorar em seus processos?
Estes questionamentos são alinhados para que se chegue aos objetivos propostos, que são compreender como o planejamento pode intervir na divulgação e imagem de uma banda independente de rock; identificar as principais redes sociais e como podem ser utilizadas na divulgação das bandas independentes de rock; analisar as redes sociais utilizadas pela Hellsinki e apresentar os pontos a serem melhorados. Também nesta perspectiva e para atingir os propósitos deste estudo, são aplicadas as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental e, ainda, a observação participante. A pesquisa bibliográfica é fundamental, pois segundo Fonseca (2002, p. 32) “qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto”, assim pode-se entender o cenário atual do mercado fonográfico em relação às bandas independentes de rock. Ainda para Fonseca (2002, p. 32): a pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc.
O acesso aos arquivos particulares da banda possibilita uma análise do material já existente, a fim de compreender a sua trajetória e comportamento ao longo dos anos. Foi adotada, também, a técnica de observação participante, que conforme May (2001, p. 177) é: [...] um processo no qual um investigador estabelece um relacionamento multilateral e de prazo relativamente longo com uma associação humana na sua situação natural com o propósito de desenvolver um entendimento científico daquele grupo.
Assim, podendo acompanhar o dia a dia da banda, em suas atividades como shows, ensaios e reuniões do grupo, colhendo informações diretamente das fontes
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pesquisadas, através de entrevistas informais, além de observar como os meios digitais são utilizados. O período de estudo considerado para o acompanhamento e evolução dos meios digitais é entre dezembro de 2014, início das atividades da banda, e junho de 2018, para que se possa mensurar e avaliar os dados coletados. Buscou-se fontes secundárias como informações sobre o mercado da música e pesquisas sobre redes sociais. Como auxílio nas análises e maior entendimento do mercado e dia a dia dos músicos, esta monografia conta com a entrevista de um produtor musical e de uma outra banda de rock, similar à estudada, porém com maior expertise. A fim de reforçar a importância do planejamento no contexto organizacional, resgata-se a visão de Almeida (2012) e Baseggio (2012); o papel do profissional de relações públicas na elaboração e aplicação do planejamento, por Kunsch (2006) e Nassar (2006); a conceituação do que é uma banda independente de rock e como pode ser considerada uma organização, bem como atualização sobre o mercado fonográfico, são referenciados Edu Santos1 (2018), Herschmann (2011) e Paludo (2010). Para dar apoio, no que diz respeito a identificação do público e comportamento, temos Cuche (2002), Edu Santos (2018) e Maheirie (2002). A fim de contribuir nos assuntos relacionados às redes sociais e utilização destes meios na comunicação, divulgação e imagem, estão Arens (2013), Ferrari (2010), Herschmann (2011), Paludo (2010), Recuero (2009), Souza e Quandt (2008) e Torres (2009). No segundo capítulo é abordado o planejamento estratégico e como ele é importante para as organizações. O papel do profissional de relações públicas na elaboração e aplicação do planejamento. Apresenta-se o conceito do que é uma banda independente de rock e como ela pode ser considerada uma organização. Além de expor o mercado fonográfico atual e as mudanças que ele teve nos últimos anos, com a ascensão das bandas independentes e a acessibilidade da internet. O terceiro capítulo discorre sobre a identificação dos públicos e comportamento coletivo no mundo da música. Busca-se a compreensão sobre as redes sociais e
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Edu Santos prefere ser chamado por sua assinatura completa, nesta monografia será respeitado isso.
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apresenta-se as plataformas online mais utilizadas. E, ainda, aborda-se como as redes sociais podem ser usadas a favor da divulgação e imagem das bandas independentes de rock. No quarto capítulo, apresenta-se o objeto de estudo: a banda independente de rock, Hellsinki, sua trajetória e meios que utiliza para divulgação. É exposta a análise das suas redes sociais e um breve apontamento de melhorias que podem ser realizadas. Por fim, são apresentadas as considerações finais desta pesquisa, que tendem a resolver as questões apontadas. Este estudo procura demonstrar a importância das relações públicas e do planejamento para qualquer tipo de organização, a partir de um estudo de caso, com uma banda independente de rock.
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2 O PLANEJAMENTO COMO ASTRO DAS ORGANIZAÇÕES
Este capítulo aborda o planejamento de modo amplo, a fim de reforçar sua importância no contexto organizacional de um trabalho. Para tanto, o suporte teórico abordado, resgata neste momento a área de relações públicas, a partir da aplicação do planejamento estratégico (na visão de Alessandro Almeida2 (2012) e Ana Luisa Baseggio (2012) como parte do papel do relações-públicas na elaboração e aplicação do planejamento, por Margarida Maria Krohling Kunsch (2006) e Paulo Nassar 3 (2006); e, ainda, busca a partir da conceituação sobre o que é uma banda independente de rock e como ela pode ser considerada uma organização, a partir da construção deseu lugar no mercado fonográfico atual, sob a ótica de Edu Santos4 (2018), Micael Herschmann (2011) e Ticiano Ricardo Paludo (2010).
2.1 UM INSTRUMENTO VALIOSO PARA AS ORGANIZAÇÕES A palavra organização, ou seja, “o ato ou efeito de organizar” traz pistas que para esta estrutura funcionar é importante haver o mínimo de planejamento. Por outro lado, ressalta-se que “a referência do termo estratégia denota a capacidade que a organização desenvolve de examinar cenários e definir posicionamentos baseados em necessidades de adaptação de ambiente externo, com vistas à geração de vantagem competitiva”, conforme considera Baseggio (2012, p. 19). É possível, então, afirmar que planejar ações coerentes com os objetivos de uma organização, seja um dos fatores de maior importância para o seu sucesso. Ainda para Baseggio (2012), durante o processo do planejamento, as determinações direcionam esforços para o cumprimento de metas, ordenando, desta forma, ideias e estabelecendo métodos e prazos a fim de alcançar uma realidade pretendida. Em outros termos, não é um esforço que busca trazer retorno imediato,
Almeida é autor do artigo “Relações Públicas e Marketing no Planejamento Empresarial”, Capítulo 2 da obra “Relações públicas: planejamento e comunicação”, organizada por Dornelles e Baseggio (2012). 3 Paulo Nassar é autor do artigo “O uso das novas tecnologias de acesso ao virtual”, Capítulo 12 da obra “Obtendo resultados com relações públicas”, organizada por Kunsch (2006). 4 Edu Santos prefere ser chamado por sua assinatura completa, nesta monografia será respeitado isso. 2
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mas a médio ou longo prazo, o que acaba garantindo a estabilidade da organização. Segundo a autora “rata-se de um processo de tomada de decisões, o planejamento constitui-se em um instrumento de trabalho norteador e de gestão, que propõe caminhos para o alcance de um estado futuro desejado (2012, p. 19). Dentre as estratégias de uma organização estão as formas de se comunicar. Para Baseggio (2012, p. 15): a comunicação propõe desenvolver o diálogo e o entendimento na relação organização-públicos ao estabelecer relacionamentos favoráveis, a organização assegura credibilidade, aceitação e legitimidade, gerando valor e diferenciação.
Pensar na organização é entender que ela é composta de pessoas e depende do relacionamento entre elas, uma vez que “um público pode facilitar ou impedir a capacidade de uma empresa para atingir seus objetivos”, de acordo com Kunsch (2003, p. 93). E cada vez mais a comunicação tem se tornado uma aliada neste processo, conforme defende Baseggio (2012, p. 22): A comunicação nas organizações abrange todas as formas e práticas de comunicação nas empresas e identifica seu conceito público e sua imagem. [...] A organização não existe sem públicos, sendo importante identificá-los e conhecê-los, classificando-os e os segmentando a fim de melhor apropriar suas ações de comunicação (linguagem, canais, estratégias, etc.). A base da existência dos públicos é a relação, a necessidade de troca de experiências entre as pessoas.
Deste modo, seguindo o raciocínio de Baseggio, o planejamento estratégico da comunicação nada mais é que o ato de pensar acerca da realidade organizacional e suas definições de políticas, diretrizes e ações de comunicação, e como devem ser seguidas. Este é, segundo a autora (2012, p.16): [...] um instrumento de trabalho que indica, antecipadamente, prioridades, objetivos, procedimentos e recursos e sinaliza, igualmente, métricas e indicadores que viabilizem o acompanhamento e o ajuste permanente da implementação das ações sugeridas.
Embora o planejamento estratégico preveja acontecimentos e ações, existem inúmeras variáveis que podem interferir, pois trata-se de hipóteses, mas mesmo que haja um esforço em antecipar os mais variados cenários, não deve ser considerado como absoluto. Mas, para que isso não seja um impeditivo para a realização dos
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objetivos, é preciso considerar a flexibilidade e entender que o planejamento tem a possibilidade de ser alterado ao longo de sua implementação. Baseggio (2012, p. 18) defende que: Planejar é a decisão antecipada sobre o que fazer, como fazer e quando fazer, disciplinando esforços e racionalizando atividades, atitudes, cientes de que é processo que nunca finda. Dinâmico, sofre ajustes e adaptações enquanto está sendo implementado, com variações que podem ser constantes (variáveis que vão sendo adaptadas). Todo planejamento convive com riscos e incertezas.
Almeida (2012) vem ao encontro com a informação anterior, quando afirma que o resultado nem sempre é como o esperado. Porém, acredita que se a constância dos acontecimentos aumentar, a possibilidade de acerto é maior, assim como o fato de que o aumento das incertezas dão mais chances para que alguma delas impacte no resultado. Para facilitar essa avaliação de variáveis, “a organização dos dados normalmente é feita através de uma análise chamada de SWOT, de strongness (forças), weekness (fraquezas), oportunities (oportunidades) e threats (ameaças)”, (ALMEIDA, 2012, p. 29). Planejar e traçar estratégias está mais próximo das pessoas do que elas imaginam. Almeida (2012, p. 27) explica que: O planejamento está presente no dia a dia de todas as pessoas. Sempre que alguém está se preparando para um acontecimento futuro, está realizando um planejamento. [...] O importante é estar preparado para o acontecimento que está por vir e analisar o máximo de fatores que possam estar envolvidos para conseguir obter o melhor resultado.
Embora faça parte do cotidiano de qualquer pessoa, é necessário ressaltar que planejar a comunicação de uma organização é mais complexo, então é preciso que quem o faça esteja qualificado. Neste aspecto Almeida (2012, p. 32) pondera: [...] o Plano de Comunicação é utilizado para a preparação de toda a comunicação da empresa, sendo o profissional de Relações Públicas o mais adequado para realizar esta atividade, devido à preparação que recebe ao longo do curso com enfoque na gestão da comunicação nas empresas.
É a partir deste ponto que entra o papel da atividade de relações públicas no planejamento estratégico de comunicação, conforme apresenta-se a seguir.
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2.2 AS RELAÇÕES PÚBLICAS E A CONEXÃO COM OS PÚBLICOS
Ainda é comum encontrar empresas que enxergam o setor de comunicação como despesa ou, em muitos casos, nem ao menos possuem um profissional da área de comunicação no quadro de funcionários. Kunsch (2006) acredita que as relações públicas agregam valor para a organização e precisam ser vistas como uma função estratégica, contendo valor econômico, não periférico, cosmético e dispensável. A proximidade entre públicos e organizações nos dias de hoje faz com que as empresas alterem a sua forma de se comunicar, tornando-se mais humanas e abrindo espaço para o diálogo. Para Kunsch (2006, p. 44), “o planejamento, o pensamento estratégico e a gestão estratégica podem, sem dúvida alguma, ser considerados o melhor caminho para se buscar a comunicação excelente”, e os objetivos da organização alinhados às necessidades dos públicos de interesse. Para que isso seja possível, é necessário o acompanhamento por um gestor para todo o processo, ou seja, este é o papel do relações-públicas, profissional da Comunicação Social que tem dentre suas habilidades, o cuidado da imagem organizacional, projetando o que a organização espera demonstrar e administrando as interpretações dos públicos atingidos. Kunsch (2003, p. 103) afirma que “na prática, as relações públicas buscam criar e assegurar relações confiantes ou formas de credibilidade entre as organizações e os públicos com os quais elas se relacionam”. No mundo em que se vive, no qual a confiança das pessoas nas empresas está cada vez mais abalada, é fundamental que a comunicação seja a ponte entre essa relação, mostrando que por trás de uma marca, há pessoas. Kunsch (2003, p. 124) reforça que “as atividades de relações públicas se traduzem por influências discretas, não vendedoras, mas cujas consequências são valiosíssimas sobre o desejo de compra do consumidor”. E vão além disso, as relações públicas são responsáveis, por tornar as organizações mais humanizadas, gerir crises, e administrar os mais variados públicos que de uma empresa possui. O avanço tecnológico por que passam as telecomunicações, imprensa, rádio, televisão
e
internet,
força
“a
sociedade
a
um
novo
comportamento,
e
conseqüentemente (SIC), a um novo processo comunicativo social com inúmeras implicações técnicas, éticas e morais”, de acordo com Kunsch (2006, p. 35). A
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facilidade de se ter a internet nas próprias mãos, através de aparelhos smartphones, a transmissão de informações se tornou mais rápida e universal, a comunicação não possui barreiras geográficas, aumentando seu poder. Para Nassar (2006, p. 151-152): Nos campos das tecnologias digitais de informação e comunicação, as organizações têm à sua disposição redes de computadores, cada vez mais convenientes e móveis, e telefonia móvel, que dão suporte para a comunicação e transmissão de dados entre pessoas da própria organização, e também constituintes de públicos [...] Em menos de quarenta anos, a Internet se firmou como grande suporte digital para a veiculação das principais mídias de nosso tempo.
As redes sociais ganham força todos os dias, pois é a partir delas que os públicos se interligam e podem trocar informações sobre as marcas que se relacionam ou gostariam de se conectar. O relações-públicas precisa estar atento e se inserir nesses meios, a fim de aproximar-se cada vez mais desses públicos. Mas não basta apenas estar presente, é necessário interagir, fazer parte da rede, saber o que está sendo dito sobre a sua organização e entender as necessidades de seu público. Nassar (2006, p. 151-153) afirma que: O aspecto da Internet mais relevante para as estratégias de relações públicas está em seu poder dialógico, que estabelece conexões entre desiguais, dando algum poder de negociação para os mais fracos e potencializando de forma exponencial as redes virtuais de públicos.
Assim como essas redes podem ser grandes aliadas da comunicação e ajudar a trazer uma boa imagem organizacional, neste mundo chamado internet, onde quem consome conteúdo também o cria, existe a possibilidade de desencadear uma grande crise organizacional apenas com palavras ou uma foto, por isso, é preciso estar atento. As marcas obrigam-se a conectar-se e ficar de olho nas novidades tecnológicas. Com o auxílio de um profissional qualificado, “a incorporação da tecnologia e das novas ferramentas digitais no planejamento de relações públicas e de comunicação organizacional é rápida e se dá praticamente em todas as suas etapas”, completa Nassar (2006, p. 150). Uma vez compreendida a importância do profissional da comunicação, é imprescindível explorar mais profundamente o mundo organizacional para entender o
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porquê de bandas independentes de rock também possam ser consideradas organizações, conforme apresenta o tópico a seguir.
2.3 AS BANDAS INDEPENDENTES DE ROCK E SEU CONTEXTO
Perceber como se movimenta o mercado onde a organização está inserida, quem são seus públicos e que canais eles acompanham, são informações fundamentais para que a comunicação organizacional seja direcionada e bemsucedida. Kunsch (2003) defende que o planejamento estratégico em comunicação auxilia a organização a definir objetivos e direcionar os esforços através de estratégias adequadas, utilizando os recursos disponíveis para isso, e permitindo que as ações realizadas sejam constantemente avaliadas e revistas ao longo do processo de execução. O planejamento de ações é essencial para o sucesso de qualquer organização, e não é diferente com uma banda de rock, uma vez que, para Maximiano (2000, p. 91), “uma organização é uma combinação de recursos que procura deliberadamente realizar algum tipo de objetivo (ou conjunto de objetivos)”. Ainda para o autor, as pessoas são os principais recursos das organizações. Desta forma, um grupo musical, deve ser considerado e comportar-se como tal. Diferente das empresas comerciais e organizações não-governamentais (ONGs), que precisam ter o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) para serem formalizadas, não há uma obrigatoriedade de registro para que uma banda de rock ou qualquer tipo de grupo musical seja reconhecido, embora isso seja recomendado pela OMB5 (Ordem dos Músicos do Brasil), a fim de assegurar sua identidade. Assim, os grupos musicais que desejam ter a propriedade do nome ou da marca que utilizam, devem requerer o seu registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), através de um representante da banda, quando pessoa física, munido de CPF (Cadastro de Pessoa Física) e algum outro documento que comprove o exercício da profissão de músico (carteira da OMB ou do Sindicato ou a autonomia
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OMB-RS. Disponível em <http://www.omb-rs.com.br/>. Acesso em 17 de março de 2018.
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do INSS — Instituto Nacional do Seguro Social), ou pessoa jurídica com Contrato Social e CNPJ. Ainda que não exista uma exigência legal para registro de grupos musicais, bem como para o exercício da profissão por músicos amadores (que não possuem formação acadêmica na área), a OMB é a autarquia federal que regulamenta a profissão e os interesses da classe, e de acordo com a Lei Nº: 3.857, de 22 de dezembro de 1960 publicada no diário oficial da União de 23 de dezembro de 1960: Todo aquele que, mediante anúncios, cartazes, placas, cartões comerciais ou quaisquer outros meios de propaganda se propuser ao exercício da profissão de músico, em qualquer de seus gêneros e especialidades, fica sujeito às penalidades aplicáveis ao exercício ilegal da profissão, se não estiver devidamente registrado.
Diante desta afirmação, qualquer apresentação musical exigiria dos músicos, incluindo os amadores, o cumprimento da legislação, e teriam que possuir a licença da OMB para atuar. Porém, na prática, Borges (2002) alega não acontecer desta forma, e entre os músicos existe uma discussão, se realmente esse artigo deveria se aplicar a shows e espetáculos, além da especulação de que a OMB seria “inconstitucional”. A partir desta associação entre bandas de rock e organizações, destaca-se a forma de “viver” de bandas independentes. E para uma melhor compreensão, Herschmann (2011, p. 155), traz sua visão sobre as mudanças no cenário: [...] cria-se uma situação absolutamente nova no cenário fonográficomusical brasileiro: os artistas não precisam das gravadoras para produzir suas obras e levá-las ao mercado. Não apenas eles podem gravar suas músicas como também escolher como distribuí-las – se através de discos físicos ou meios digitais – utilizando, para tanto, canais alternativos de distribuição (distribuidoras independentes, Internet, etc.). Isso significa que as empresas fonográficas se tornaram, enquanto “gravadoras”, dispensáveis para a comunidade artística.
A afirmação anterior demonstra a realidade em que as bandas atuais vivem e como o cenário independente está em expansão. Mas isso não significa que as bandas não precisem de um norteador, a facilidade que existe hoje, de chegar até os públicos sem depender de gravadoras, é o que torna importante o pensamento estratégico das ações de comunicação. Ao mesmo tempo em que os recursos são
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mais acessíveis, maior é a quantidade de bandas disputando o mesmo espaço. Se a comunicação não for bem direcionada, a chance de atingir os públicos adequados é muito pequena. Durante a entrevista6 apresentada no APÊNDICE A do presente trabalho, realizada, com o CEO Edu Santos, ele afirmou que a produção de músicas se tornou muito mais acessível, pois nos anos 80 havia uma dependência de estúdios, levava muito tempo para ficar pronto e custava muito caro. Paludo7 (2010, p. 148) reforça o que foi dito por Edu Santos: O principal ponto de mudança dentro da atualização da produção é que ampliam-se os recursos disponíveis para produção. Estes recursos são bem mais acessíveis do que eram no período compreendido entre as décadas de 1950 e 1990, devido à redução de custos dos instrumentos de produção musical. A partir dos anos 2000, com a inclusão massiva da informática na produção musical acessível a um número considerável de produtores, o produtor agora pode produzir o seu material em casa, fato impensável para a grande maioria das pessoas até bem pouco tempo atrás.
Paludo, em sua citação, se refere a produtores, mas hoje a produção está ainda mais acessível para todos, não apenas para eles. Além dos instrumentos terem seu preço reduzido, a internet permite que qualquer pessoa tenha a qualidade dos equipamentos de um estúdio, em um computador. Edu Santos (2018) comenta que hoje as gravações são feitas em casa e muitos discos chegam nas gravadoras prontos para serem lançados. Contudo, reforça que “uma banda sozinha até pode funcionar muito bem, mas a estrutura de planejamento e de estratégia, muitas vezes não vem do artista”. A Loop Reclame é composta por uma equipe multimídia, com profissionais da comunicação e músicos, que estão sempre “antenados” às tendências, festivais e novas tecnologias, e isso faz com que a margem de erro diminua, mesmo que ela ainda exista. Estes relatos de Edu Santos, comprovam o que Paludo (2010, p. 156) já havia notado como mudança nos anos 2000 e defende em sua dissertação: Entrevista concedida por Edu Santos o CEO da Loop Reclame — agência de música especializada em produção de áudio, conteúdo, desenvolvimento artístico, licenciamento e novos negócios, de Porto Alegre, e que possui filiais em São Paulo, Los Angeles e Montevideo —, através de entrevista presencial, na sede da agência, em Porto Alegre/RS, no dia 13 de abril de 2018. 7 Ticiano Paludo é doutor em comunicação social pela PUCRS, produtor musical, compositor, multiinstrumentista e remixer internacionalmente e nacionalmente premiado. 6
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Até a proliferação dos selos musicais (que se expandem consideravelmente entre o final da década de 1990 e os anos 2000), o produtor musical limitava-se meramente a atuar apenas produzindo o material sonoro. Com o avanço da internet e da informática, os produtores começaram gradualmente a romper barreiras de tempo e espaço e a trabalharem conectados com artistas, estúdios e outros produtores pelos quatro cantos do mundo. Alguns produtores começaram a desenvolver competências extra-musicais, especializando-se em áreas como marketing, promoção, publicidade e propaganda, assessoria de imprensa e comunicação social.
Até o final dos anos 90 uma gravadora era integrada por uma equipe de profissionais com papéis delimitados — o produção executiva, produção fonográfica, A&R8 e divulgação. Hoje temos o que Paludo chama de “atualização do produtor musical”, o E-Producer9, um profissional multidisciplinar que assume a postura de uma gravadora. Então, na visão de ambos, o papel dos empresários e produtores não vai acabar, nem mesmo as gravadoras, mas aos poucos irão se modificando e se moldando às necessidades do mercado. Para Edu Santos (2018), essa evolução é muito importante, principalmente por reduzir os “atravessadores” no processo de produção musical. Ele acredita que um dia existirá, inclusive, uma certificação mundial, virtual, onde tudo estará registrado, e não precisará passar por escritórios de arrecadação, por exemplo, como é hoje: a gente ainda tem ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), UBC (União Brasileira de Compositores), etc. [...] para licenciar uma música, tem que ligar para cinco editoras, pagar a editora, para ela pagar o músico.
Completando a fala anterior, Edu Santos ainda comenta que com essa certificação, no momento em que a música é comprada, o dinheiro já será distribuído para os “lugares” certos e todos receberão sua parte. Mas, ele ainda pondera, “são coisas que a gente tá vendo e talvez demore um pouquinho, alguns aninhos ainda”.
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A&R é a sigla para Artista e Repertório, também conhecido como diretor artístico. Tinha como papel cuidar das questões que envolviam planejamento estratégico, escolha de repertório, produção musical, estética e atitude perante público e mídia. (PALUDO, 2010, p. 157). 9 O “E” significa “Eletronic” (do inglês, eletrônico”) e“Producer” significa “Produtor”. (PALUDO, 2010, p. 157).
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Sobre a divulgação, Edu Santos (2018) menciona que ela é pulverizada. Quando uma música é lançada na rede, ela compete com todas as outras bandas do mundo. No mesmo palco estão tocando artistas renomados e uma banda independente, disputando o mesmo espaço. [...] se a informática representou uma libertação, possibilitando a utilização de uma imensa gama de matéria-prima sonora, os computadores ligados em rede possibilitaram um intercâmbio cultural musical que desconhece limites, ambiente no qual a música do mundo encontra-se em permanente acesso para todos aqueles que tiverem um computador conectado e ouvidos atentos e abertos. (PALUDO, 2010, p. 162)
A partir do lançamento da música na rede, a canção começará a ser ouvida pelos amigos próximos dos músicos, que irão disseminá-la, e depois, o caminho que ela percorrerá vai depender da própria banda, muitas vezes da sorte, e do investimento que é realizado, afirma Edu Santos (2018): o investimento ainda, com certeza, faz a coisa crescer, se tu colocar (SIC) uma grana num projeto, ele vai aparecer mais, se botar mais dinheiro em mídia e redes sociais, ele aparece para mais pessoas. Então tem coisas que não adianta, tem coisas que vão ao natural, e tem coisas que vão com grana.
Paludo (2010, p. 171) reconhece que “parece cruel entender que o mercado musical e artístico é um negócio”, mas defende que isso não é nenhum demérito, pois “construir um artista, mesmo que ele seja legítimo, custa caro [...] e tudo que é investido pressupõe retorno, é lógico que este retorno acabava por vir da venda dos álbuns desses artistas”. Estes fatos foram os que sustentaram o mito de que as gravadoras exploravam os artistas, pois elas investiam alto para alavancar e construir uma carreira musical e recuperavam o valor, com um “extra”, após atingir o objetivo. Paludo ainda alerta, “vivemos em um mundo capitalista e sabe-se que a base do capitalismo é o lucro”, e é isto que se espera de qualquer negócio. Herschmann (2011, p. 20-21) volta a discussão para o digital e reforça: nota-se que as receitas do negócio no ambiente digital não provêm de pagamento pela compra de música, mas são alcançadas através de publicidade e, em alguns casos, mediante o pagamento de assinaturas mensais.
A partir do momento em que os discos físicos (Vinil e CDs) passam a perder
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espaço para as formas digitais de se consumir música (através de sites e aplicativos especializados, chamados streamings10), a publicidade online se torna cada vez mais importante, já o planejamento e investimento nestes meios passa a ser essencial. Herschmann (2011) relembra que, nos primórdios, quem determinava o tipo de música que estaria em pauta era a mídia tradicional (rádio e televisão) e que a distribuição das músicas, papel das gravadoras. As únicas exceções ficavam por conta dos casos em que os veículos de comunicação não tradicionais, associados à chamada cultura alternativa ou underground, faziam intervenções, em escala menor, mas não menos eficientes. Assim, a grande mídia e as majors decidiram durante muito tempo o que deveria chegar ao conhecimento dos consumidores. A Web 2.011, no entanto, está complexificando este processo e tem servido para que as gravadoras conheçam a viabilidade de investir ou não em algum artista ou banda, dependendo do sucesso que fazem nas redes sociais. (HERSCHMANN, 2011, p. 57)
Edu Santos (2018), constata que hoje o que valem são os números, e que para comprovar que um artista é realmente bom, não basta ele alegar, é preciso mostrar os números nas redes sociais e plataformas de streaming. Para o selo da Loop Reclame, interessa artista com mais de vinte mil visualizações, menos que isso, não. Paludo (2010, p. 193) já havia se manifestado sobre o assunto em sua dissertação quando ressalta: se o espectador do ciberespaço deixou de ser passivo e, inclusive, assumiu o papel de emissor (papel este que antes pertencia apenas ao artista, às grandes gravadoras e aos meios de comunicação de massa), isto pode implicar na morte do artista.
Ainda segundo o autor, esta questão é um dos lados negativos da “Era Digital”, pois “os artistas que mais sofrem com isso são aqueles que encontram-se em
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O streaming é uma tecnologia que envia informações multimídia e que possibilita ao usuário reproduzir mídia, como músicas e vídeos, que são sempre protegidos por direitos autorais, de modo que não viole nenhum desses direitos. É uma plataforma online que disponibiliza conteúdos em áudio para serem ouvidos em “tempo real”. Disponível em <https://www.significados.com.br/streaming/>. Acesso em 21 de maio de 2018. 11 De acordo com Herschmann (2011), a Web 2.0 é um termo criado por Tim O’Reilly, em 2005, para designar o local, virtual e online, onde a comunicação acontece de forma unidirecional, mas que pode criar um espaço próprio de interação e participação. Podemos citar como características da Web 2.0: interatividade, participação, intercâmbio, colaboração, redes sociais, bases de dados, usuários e plataformas (como blogs). A Web 2.0 também é conhecida como computação social.
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processo construtivo de sua carreira”. Ele explica que o mercado fonográfico era, até os anos 2000, dividido em dois pólos mainstream e underground. No primeiro estavam os artistas contratados por grandes gravadoras, que contavam com investimentos, profissionais de diversas áreas e veiculavam nas mídias tradicionais (rádio, TV, jornal e revista). Já os do segundo pólo eram os artistas de pequenas gravadoras e até mesmo sem contrato algum, não tinham suporte de imagem e marketing, e não apareciam nos meios de comunicação massivos. Após o surgimento da web e a criação do mercado de consumo virtual, as bandas dos pólos citados foram aos poucos se adaptando e ocupando esses meios. Tais bandas já tinham sua identidade e um público conquistado, mesmo que artista e fã tenham a mesma “voz” no mundo virtual. Acontece que os novos artistas surgiram em meio ao novo cenário digital e não tiveram tempo de construir suas “raízes” fora da web, têm uma maior dificuldade em se destacar. Paludo (2010, p. 194) ainda salienta o enfraquecimento da Indústria Fonográfica em seus negócios, os artistas passaram a lançar seus trabalhos de forma “independente” e abandonaram as gravadoras. O autor usa aspas ao mencionar o termo independente, pois para ele é mera ficção: De fato, todos dependem de todos dentro da cadeia produtiva musical. Sem público, não há carreira artística que se sustente. Para que a carreira exista, uma gama de profissionais deve atuar dando suporte ao artista. Para que eles sejam remunerados, deve haver venda. Para haver venda, deve haver interesse. (PALUDO, 2010, p. 194)
A falta de interesse é muito provável que tenha ocorrido por não existir identificação do público com o artista. Mas para minimizar isso, é necessário que o músico utilize de meios de aproximação dos públicos, isso garantirá sua sobrevivência no mercado. O que difere um músico profissional de um amador, não é o fato do primeiro possuir uma técnica musical superior ao segundo. Deve-se entender como profissional aquele artista que vive de sua arte, ou seja, que utiliza a sua arte como fonte principal de renda e sustento econômico. O artista necessita de condições e meios (quer sejam físicos, virtuais ou a combinação de ambos) para dar vida à sua criação e colocá-la em circulação na corrente sanguínea do mercado consumidor. Este processo envolve um grande número de atores sociais. Assim sendo, tudo depende de tudo para funcionar. (PALUDO, 2010, p. 195)
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São nítidas as mudanças no mercado fonográfico, principalmente com a ascensão das bandas independentes e surgimento do mundo digital, e isso afeta diretamente a forma de divulgação e comunicação das bandas com seus públicos. As redes sociais digitais estão cada vez mais em foco e serão apresentadas e exploradas no capítulo a seguir.
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3 COMPORTAMENTO E REPERCUSSÃO NAS REDES SOCIAIS
Este capítulo aborda o comportamento dos públicos nas redes sociais e a repercussão das bandas nestes canais de comunicação. Com finalidade de dar apoio, no que diz respeito a identificação do público e comportamento, temos Denys Cuche (2002), Edu Santos12 (2018) e Kátia Maheirie (2002). A fim de contribuir nos assuntos relacionados às redes sociais e utilização destes meios na comunicação, divulgação e imagem, estão William F. Arens (2013), Pollyana Ferrari (2010), Micael Herschmann (2011), Ticiano Ricardo Paludo (2010), Raquel Recuero (2009), Queila Souza e Carlos Quandt (2008) e Cláudio Torres (2009).
3.1 A IDENTIFICAÇÃO DO PÚBLICO E O COMPORTAMENTO COLETIVO NO MUNDO DA MÚSICA
Ao discorrer sobre as mídias digitais, é fundamental que se tenha um entendimento prévio sobre a motivação dos seguidores de um grupo, o porquê de escolherem aquele e não outro qualquer. Cuche (2002, p. 177), explica: Todo grupo social tem uma identidade que corresponde à sua definição social. A identidade social é ao mesmo tempo inclusão e exclusão: ela identifica o grupo (são membros do grupo os que são idênticos sob um certo ponto de vista) e o distingue dos outros grupos (cujos membros são diferentes dos primeiros sob o mesmo ponto de vista). Nesta perspectiva, a identidade cultural aparece como uma modalidade de categorização da distinção nós/eles, baseada na diferença cultural.
A afirmação evidencia que o grupo na qual a pessoa se insere está diretamente relacionado com a identificação do indivíduo e o meio. O ser humano procurará estar próximo aos seus iguais e, mesmo que respeite e entenda as diferenças, não reconhecerá como membro de seu grupo aqueles que forem distintos de alguma forma. Cuche (2002), ainda defende que a identidade social de um sujeito se caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em um sistema social: vinculação a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma classe social, a uma nação, etc. 12
Edu Santos prefere ser chamado por sua assinatura completa, nesta monografia será respeitado isso.
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Isso permite que a pessoa se localize em um sistema social. Com a música não é diferente, Maheirie (2002, p. 42) assegura: a música é mais que um elemento expressivo, é um elemento construtor de identidades. Carregadas de significações coletivas, as músicas provocam experiências emocionais intensas que são vividas no singular. Ao reagir a uma canção de forma afetiva, o sujeito se identifica com os músicos/artistas e com o público/fãs daquelas canções, formando laços que se unificam na construção de uma identificação comum.
Desta forma, é possível afirmar que as pessoas ouvem música, pois através dela conseguem experimentar emoções estando sozinhos ou em grupo, o que vai muito além de apenas se expressar, é possível compartilhar esses sentimentos. Assim, as pessoas criam conexões com os demais seguidores e as bandas, neste caso, muitas vezes idolatrando-as. Então, a medida que as bandas mostrarem verdade no que fazem e forem espontâneas com seus públicos, através do sentimento que buscam despertar e à experiência que o seu espetáculo proporciona, maior será identificação coletiva. Maheirie (2002, p. 50) completa: O prazer de fazer parte deste processo é elemento integrante desta fusão, e o sujeito muda as condições de sua atividade psíquica, na intimidade com os outros e com a música. Assim, os shows podem ser considerados como lugares de bons encontros, “lugares com calor”, “lugares identitários”, que aproximam os homens, podendo superar a dicotomia entre o singular e o universal, entre o indivíduo e a coletividade, pois se constituem como espaços nos quais os sujeitos podem falar a respeito de si próprios.
E para que a identificação ocorra, é importante que a banda possua um propósito, um motivo pelo qual “viver”. É o que defende Edu Santos (2018), durante a entrevista, quando diz que no momento político em que vive o Brasil, onde “o país tá caindo” e a educação está ruim, as bandas com propósito e que “põem o dedo na ferida” são as que estão sendo adotadas pelo público, porque se posicionam, questionam as coisas que estão acontecendo na sociedade, e quem não fizer isso, passa despercebido. E para que este posicionamento seja disseminado, os principais meios são as redes sociais. A seguir, estas redes são apresentadas, a fim de um maior
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entendimento sobre a forma como são utilizadas pelos públicos e qual a importância para a divulgação e imagem das bandas independentes de rock.
3.2 AS TAIS REDES SOCIAIS
Para compreensão das funcionalidades das redes sociais e como se comportam os públicos dentro delas, primeiramente, é preciso entender que essas redes existem muito antes da internet e que podem ser utilizadas de forma online ou offline. “Redes sociais são estruturas dinâmicas e complexas formadas por pessoas com valores e/ou objetivos em comum, interligadas de forma horizontal e predominantemente descentralizada” (SOUZA e QUANDT, 2008, p. 34). Já para Raquel Recuero (2009), a partir da leitura do texto de Boyd et al. (2007), um site de rede social de relacionamento apresenta as seguintes características: permite a construção de uma identidade através de um perfil ou página pessoal; proporciona a interação através de comentários; e, oportuniza a exposição pública da rede social de cada ator. Já as mídias sociais, segundo Torres (2009, p. 113), são “o conjunto de todos os tipos e formas de mídias colaborativas”. Portanto, pode-se depreender que dentro do ambiente das mídias digitais, são formadas as redes sociais, meios utilizados pelo indivíduo para realizar as interações. Contudo, as redes não dependem exclusivamente das mídias para que ocorram. Recuero (2009 p. 29) explica que: “A rede social é gente, é interação, é troca social. É um grupo de pessoas, compreendida através de uma metáfora de estrutura, a estrutura da rede social”. Ainda para Recuero (2009), as redes sociais são compostas por dois elementos principais: os atores sociais, “nós”; e suas conexões, que são os laços sociais e interações. E tais interações, conforme registradas anteriormente, podem ocorrer simultaneamente em espaços físicos e virtuais. É possível afirmar que as redes sociais estão diretamente relacionadas à identificação do público que a utiliza. Dentro destas redes, formam-se grupos com características semelhantes, como é o caso das bandas de rock e seus seguidores. Para este estudo, o foco está direcionado às mídias e redes digitais, mesmo que elas interfiram nas relações offline.
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Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 201613, realizada pelo instituto IBOPE Inteligência, a internet é o segundo meio de comunicação mais utilizado no Brasil. A mesma pesquisa mostra que 91% dos brasileiros acessa internet via celular e 65% através de computadores. De acordo com um levantamento, realizado em agosto de 2016, da Kantar IBOPE Media14, 44% da população brasileira admite que sua principal fonte de entretenimento é a internet. Entre as atividades preferidas dos internautas, 83% alegam navegar em suas redes sociais, 69% assistem ou baixam vídeos e 38% escutam músicas online. Já especificamente sobre as redes sociais mais usadas no Brasil, segundo o relatório Digital in 201715, promovido pela agência We Are Social em parceria com a plataforma Hootsuite, o YouTube lidera o ranking de novos usuários conectados, seguido do Facebook, WhatsApp, Facebook Messenger e Instagram. No cenário mundial, segundo a mesma pesquisa, é um pouco diferente, porém as mesmas redes ocupam posições entre as dez mais usadas. Embora a maioria dos serviços de streaming de música não sejam considerados redes sociais, por não permitirem interação entre usuários, o Spotify já anunciou que é, sim, uma rede social16. Esta é a plataforma com maior número de usuários no mundo, são mais de 140 milhões de pessoas escutando músicas17. Estes dados fortalecem o que é dito por Edu Santos (2018): “Spotify e YouTube é onde os contratantes olham. O cara vai no teu Spotify e no teu YouTube e vê o teu poder, e no Instagram ele dá uma olhadinha também, se tem influência.”
3.2.3 YouTube O YouTube18 é uma plataforma online para compartilhamento de vídeos.
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Disponível em <http://pesquisademidia.gov.br>. Acesso em 2 de junho de 2018. Disponível em <https://www.kantaribopemedia.com/acessar-redes-sociais-e-uma-das-atividadespreferidas-dos-internautas-brasileiros-2/>. Acesso em 2 de junho de 2018. 15 Disponível em <https://wearesocial.com/special-reports/digital-in-2017-global-overview>. Acesso em 2 de junho de 2018. 16 Disponível em <https://link.estadao.com.br/noticias/geral,spotify-vira-rede-social,10000044430>. Acesso em 2 de de junho de 2018. 17 Disponível em <https://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/02/20/qual-e-o-plano-da-spotifypra-continuar-lucrando.htm>. Acesso em 2 de junho de 2018. 18 Disponível em <https://www.youtube.com/>. Acesso em 30 de maio de 2018. 14
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Qualquer indivíduo pode acessar vídeos publicados por outras pessoas ou empresas, sem precisar criar uma conta. Porém, para ter um “canal”, como é chamada a conta para publicação de vídeos, é preciso cadastrar-se, mas sem pagar nada por isso. Esta rede social possibilita a interação dos usuários através de comentários. Os vídeos podem ser compartilhados e incorporados em sites e outras redes sociais, aumentando a visibilidade e alcance.
3.2.1 Facebook O Facebook19, de acordo com o próprio site, tem como missão dar às pessoas o poder de construir uma comunidade e aproximar o mundo. As pessoas usam o Facebook para manter contato com amigos e familiares, descobrir o que está acontecendo no mundo, compartilhar e expressar o que é importante para elas. A rede social permite que empresas e artistas criem páginas comerciais, diferentes dos perfis individuais, para a divulgação de sua marca. Ambas as contas são customizáveis pelo o usuário, possibilitando a inserção de elementos como foto, para reconhecimento da pessoa ou marca; uma capa, para inserção de uma foto ou vídeo; descrição de “quem sou eu” ou, no caso das páginas de marcas, um campo para dizer quem é a empresa e o que ela oferece; informações relativas a relacionamento, vínculos familiares, gostos pessoais, trabalho, estudo e o que mais o usuário desejar compartilhar em sua página pública. O acesso a uma conta, seja particular ou corporativa, é gratuito. Os usuários acompanham as publicações, de seus amigos e das páginas que seguem, através do seu próprio feed — formato de dados usado em formas de comunicação com conteúdo atualizado frequentemente. As histórias e notícias que aparecem no feed são selecionadas pelo algoritmo do Facebook, que é uma série de códigos de programação que filtra os conteúdos de acordo com os interesses do usuário. O Facebook prioriza as histórias de pessoas, portanto, o que você verá com mais frequência são as publicações de perfis individuais e cada vez menos conteúdos de páginas20. Para que as páginas tenham maior visibilidade, é preciso que utilizem o
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Disponível em <http://www.facebook.com/facebookbrasil>. Acesso em 31 de maio de 2018. em < https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/facebook-muda-feed-de-noticiaspara-aumentar-posts-de-amigos-e-parentes.ghtml>. Acesso em 13 de junho de 2018. 20Disponível
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serviço de patrocínios, disponível na plataforma. O Facebook permite que sejam compartilhados textos, fotos, vídeos e links de outros sites, para gerar comunicação entre os usuários. Além disso, é possível mencionar amigos e páginas nas publicações, de forma que eles recebam uma notificação e a mensagem fique visível na linha do tempo deles também e seus amigos vejam, comentem, compartilhem ou tenham reações. Cada conteúdo compartilhado motiva o usuário a expressar uma reação: Curtir (gostar), Amei, Haha (risada), Uau (surpresa), Triste e Grr (bravo). Diferente dos conteúdos publicados na linha do tempo, como é chamado o histórico das publicações em um perfil ou página, existem os compartilhamentos de histórias, que são mensagens contendo vídeos e fotos, que ficam disponíveis apenas por 24h e após este período são excluídas automaticamente. Estas mensagens temporárias são utilizadas pelos usuários para registrar momentos que não desejam manter histórico e não permitem comentários públicos, apenas interações de forma privada, através do Facebook Messenger.
3.2.2 WhatsApp O WhatsApp21 é um aplicativo para telefones celulares. Começou como uma alternativa ao sistema de SMS, mas agora oferece suporte ao envio e recebimento de uma variedade de arquivos de mídia: fotos, vídeos, áudios, documentos, compartilhamento de localização e também textos e chamadas de voz. O aplicativo permite a criação de grupos de pessoas, para uma maior interação entre os usuários, através de compartilhamento de mensagens dentro de uma “sala virtual”. Além das mensagens de texto, os usuários podem compartilhar ícones que representam sentimentos, chamados de emojis — a palavra é a junção das expressões japonesas “e” (imagem) e “moji” (personagem). O WhatsApp juntou-se ao Facebook em 2014, porém continua operando como um aplicativo independente e com o foco direcionado em construir um serviço de
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Disponível em <https://www.whatsapp.com/about/>. Acesso em 2 de junho de 2018.
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mensagens que seja rápido e que funcione em qualquer lugar do mundo. Recentemente lançou a versão para empresas, expandindo suas funcionalidades para o mundo corporativo, chamado WhatsApp Business22. Desenvolvido para atender as necessidades de uma pequena empresa, facilita a interação com os clientes, fornecendo ferramentas para automatizar, classificar e responder rapidamente a mensagens. O perfil comercial, diferente do aplicativo pessoal, permite que a organização disponibilize informações como endereço, descrição da empresa, endereço de e-mail e website. As mensagens podem ser classificadas com etiquetas customizáveis. Já a função
Respostas
Rápidas
permite
que
sejam
cadastradas
mensagens
frequentemente utilizadas para que com apenas um toque sejam enviadas ao cliente. É possível, ainda, cadastrar uma mensagem automática, que será enviada para o cliente quando nenhuma pessoa da empresa puder responder. Por fim, pode-se retirar relatórios de mensagens enviadas, entregues e lidas.
3.2.3 Facebook Messenger O Facebook Messenger23, assim como o WhatsApp, é um aplicativo smartphones, que possibilita a interação entre usuários através de mensagens de texto, áudios, compartilhamento de arquivos, links e localização, chamadas de vídeo e voz. Também permite a criação de grupos de bate-papo. Além disso, oferece jogos dentro da plataforma, envio de gifs — imagens animadas — e emojis, para ajudar os usuários a se expressarem e aumentarem sua interação. O aplicativo ainda conecta pessoas com marcas e empresas, através da função “descubra”. O Facebook Messenger, apesar de fazer parte do Facebook, não obriga que o usuário tenha conta na rede social para usá-lo, são aplicativos independentes.
22 23
Disponível em <https://www.whatsapp.com/business/>. Acesso em 16 de junho de 2018. Disponível em <https://www.messenger.com/features>. Acesso em 2 de junho de 2018.
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3.2.4 Instagram Instagram24 é uma plataforma online, em que os usuários cadastrados podem compartilhar imagens e vídeos. Cada perfil, como é chamada a conta do usuário, pode ser acessada por seus seguidores (se a conta for pública) ou apenas por amigos (se a conta for restrita). É considerada uma rede social por permitir a interação de usuários, através de comentários nas publicações e mensagens pessoais, além da possibilidade de criação de uma rede de amigos. O aplicativo é gratuito está disponível para smartphones. Esta rede social não proporciona muita customização no perfil, apenas um espaço para foto principal e biografia, que pode conter apenas um link externo. Seu objetivo é a publicação de imagens e vídeos dos próprios usuários com legendas, não permitindo o compartilhamento de mensagens apenas textuais e links externos. Também possui a criação de histórias, com duração de 24h. O diferencial desta rede é a utilização de hashtags nas legendas. Representada pelo ícone #, hash, em inglês, é sinônimo de “jogo da velha”, enquanto tag significa “etiqueta”, e tem a função de categorizar os conteúdos criados na web. Ao utilizar este recurso, a palavra escrita após o símbolo #, se transforma em um link e conecta as outras publicações que contenham o mesmo termo. Isso facilita a conexão entre usuários que ainda não são amigos, ou não seguem um ao outro, pois qualquer perfil público que use a mesma hashtag de outro perfil público, verá a mensagem em seu feed. Evidentemente, perfis privados não compartilham hashtags com perfis públicos, apenas com sua rede de amigos. As hashtags ajudam o algorítmo do Instagram a entender os interesses dos usuários, então a partir do que é publicado ou “amado”, serão alteradas as informações que aparecerão em seu feed. Mais um ponto positivo desta rede é que o feed apresentado não distingue empresas e pessoas, o que aumenta a entregabilidade dos conteúdos dos perfis corporativos, sempre vinculados ao interesse do usuário. O Instagram também faz parte das redes adquiridas pelo Facebook, possibilita integração entre as duas contas, o usuário tem a opção de compartilhar os mesmos
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Disponível em <https://www.instagram.com/about/us/>. Acesso em 30 de maio de 2018.
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conteúdos publicados no Instagram, instantaneamente no Facebook. Porém, o contrário não é permitido.
3.2.5 Spotify Spotify25 é, basicamente, um streaming de músicas, mas por incentivar a interação entre os usuários, através de compartilhamento e recomendação de músicas e criação de playlists colaborativas, acabou se tornando uma rede social. Os usuários podem ver em tempo real o que os amigos estão escutando e possui integração com outras redes sociais, como Facebook, para compartilhamento de conteúdos. Esta rede reúne músicas, de forma online, dos mais variados estilos e o usuário pode criar listas de reprodução a seu gosto. É acessível através de telefones, computadores, tablets e outros, basta ter um cadastro e pagar uma taxa mensal de uso. Poucas pessoas sabem, mas o Spotify, além de músicas e áudios em geral, ainda possui vídeos.
3.3 AS REDES SOCIAIS A FAVOR DA DIVULGAÇÃO E IMAGEM DAS BANDAS
A partir das redes sociais digitais, a barreira geográfica já não é um obstáculo e os grupos não precisam estar, fisicamente, no mesmo local para se comunicar. Ferrari (2010, p. 27) acredita que: Podemos dizer que o avanço da narrativa digital [...] representa o mais novo território de disputa e luta na sociedade. Esses movimentos sociais utilizam-se da possibilidade que oferece a web, de troca individualizada de informação, para fortalecer a cibercultura atual.
O que reforça a ideia de que as redes são muito utilizadas para transmitir ideais, posicionamento e gerar discussão acerca de assuntos sociais. E vai além disso: Trocar narrativas num ambiente multiusuário nos permite equipará-las de sentimento, de poesia, de resgate histórico de um momento que ficou no passado, que pode ser compartilhado ou mesmo continuado por outro usuário. Essas narrativas garantem ao homem o mínimo de
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Disponível em <https://www.spotify.com/br/about-us/contact/>. Acesso em 30 de maio de 2018.
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estabilidade em relação ao pluralismo da experiência vivida. (FERRARI, 2010, p. 28)
As experiências trocadas ficam registradas na web e são compartilhadas entre indivíduos, mesmo que não tenham vivenciado. O sentimento pode ser transmitido, gerando empatia entre os usuários das redes. É o que Recuero (2009, p. 22) esclarece: Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros. É o surgimento dessa possibilidade de estudo das interações e conversações através dos rastros deixados na Internet que dá novo fôlego à perspectiva de estudo de redes sociais, a partir do início da década de 90. É, neste âmbito, que a rede como metáfora estrutural para a compreensão dos grupos expressos na Internet é utilizada através da perspectiva de rede social.
A autora ainda reforça que “há um processo permanente de construção e expressão de identidade por parte dos atores no ciberespaço” (RECUERO, 2009, p. 26), em que estes ambientes passam por atualizações diárias, como uma representação do “eu” no ciberespaço, mas que é ao mesmo tempo privado, por ser um espaço “meu”, e público, pois outras pessoas podem acessar. “Essa individualização dessa expressão, de alguém ‘que fala’ através desse espaço é que permite que as redes sociais sejam expressas na Internet”, completa Recuero (2009, p. 27). Ferrari (2010, p. 35-36) concorda com Recuero ao descrever o comportamento que se inicia nos anos 90: A geração 90, conhecida como morna e sem opinião na visão dos conservadores, foi a grande responsável pelos blogs, fotologs, comunidades — todo um ferramental de luta, mas uma luta que é travada à margem da mídia tradicional, que vai pelas bordas corroendo os grandes conglomerados e, dia após dia, ganhando novos leitores e adeptos.
A autora reconhece a necessidade do público em ter um local, onde possa se expressar, sem que seja mediado pela mídia tradicional, ela ainda acrescenta que “[...] sai a informação como vetor e entram em cartaz as redes sociais como processo de troca de conhecimentos e conteúdos.” (RECUERO, 2010, p. 45). Diferente da mídia
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tradicional que é unilateral, as redes sociais permitem que o usuário expresse e interaja com maior facilidade e sem censura. E além disso, Recuero explica que o Google26 e do Facebook, por exemplo, são capazes de conectar pessoas por meio de poucos links, através de compartilhamento de informações, que podem vir até mesmo dos canais online das mídias tradicionais, gerando discussões que talvez não aconteceriam quando a informação era transmitida apenas pela televisão. Paludo (2010) discorre sobre a criação de perfis de artistas e bandas nas redes sociais. Embora existam redes exclusivas para músicos, é preciso estar presente em outras que não foram criadas para essa finalidade, pois nestas estão os demais públicos a serem atingidos. O Facebook, por exemplo, permite a criação de perfis pessoais, uma para cada artista, e uma página para a banda: Assim, outros artistas e os consumidores podem se comunicar individualmente com cada membro do grupo, ou ainda com o grupo como um todo, de forma específica e dirigida. Assim, a banda “se humaniza”. [...] Ao criar o perfil como banda, a banda personifica o “produto banda”. Desse modo, os outros usuários do site que estabelecerem laços com a banda, assim como são amigos de outros usuários, serão amigos da banda. (PALUDO, 2010, p. 223)
As redes sociais, observando a importância da expressão da identidade dos públicos através destes meios, passou a permitir customizações dos seus ambientes, tornando-os cada vez mais próximos do “eu” que o indivíduo quer representar, e para Herschmann (2011, p. 32) “a música é talvez o meio perfeito para socialização, motivos pelos quais tantos sites das redes sociais incluem de forma destacada o gosto musical como característica dos perfis dos usuários”. O autor ainda crê que: [...] a música sempre foi uma experiência social, que sempre esteve presente na vida humana (como trabalho, ritual, vinculação social, arte e assim por diante). [...] As novas tecnologias interativas da Internet reforçam esses aspetos sociais da experiência musical.
(HERSCHMANN, 2011, p. 42) Com base nestas informações, é legítima a afirmação de que as novas tecnologias, as mídias e as redes sociais mudaram o mercado fonográfico, tanto na O Google é um mecanismo de busca online e tem como premissa “organizar as informações do mundo e torná-las mundialmente acessíveis e úteis”. Disponível em <https://www.google.com/about/>. Acesso em 31 de maio de 2018. 26
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forma como produzir e distribuir música quanto na comunicação e disseminação dela. De acordo com Edu Santos (2018), o mundo da música é cruel e os números em canais como Spotify e YouTube são o que determinam se uma banda toca ou não em determinados festivais. Nestas mídias, os contratantes verificam a quantidade de execução das canções, se elas possuem volume significativo, a banda pode ser contratada. “Com 100 mil plays27, ainda é pouco, mas já consegue entrar em alguns festivalzinhos, menos que isso não existe, e para o Lollapalooza28, tu coloca (SIC) em um milhão”, completa. O Instagram também é citado por Edu Santos (2018) como um grande destaque, pois nesta rede social é medida a influência da banda, através da quantidade de seguidores. Ferrari (2010, p. 71) concorda com Edu Santos (2018) quando declara que “aqueles que não estiverem preparados para a linguagem da web, serão engolidos pela concorrência e, inclusive, por outros usuários”. Isso mostra a força que os meios digitais têm na comunicação e na influência do consumo atual. Arens (2013, p. 341342) destaca que “as mídias digitais são verdadeiramente revolucionárias com relação ao seu efeito sobre nossa vida cotidiana [...] O público da internet não apenas consome conteúdo on-line; ele interage com esse conteúdo e ajuda a criá-lo”, e os feedbacks dos consumidores, oferecidos de forma instantânea e em tempo real por meio de mídias alternativas, como a internet, ditam as regras do mercado e qual será o próximo produto de consumo em evidência. A partir destas afirmações, é nítida a importância da web e das redes sociais para a imagem e divulgação das bandas, de forma geral. Paludo (2010, p. 11) vem ao encontro a isso, quando relata: [...] o músico deixa de ser apenas músico. Ele agora precisa utilizar todos os recursos técnicos e tecnológicos disponíveis para auxiliá-lo a seduzir o público. Sites pessoais, blogs, MP3, YouTube, iPod, sites de redes sociais diversas (em franca expansão e proliferação), comunicadores instantâneos, ubiquidade, mobilidade e uma vasta gama de novidades e facilidades tecnológicas surgiram para 27
Play é a expressão popularmente utilizada para se referir às vezes que as canções foram clicadas e ouvidas, execuções. 28 Segundo o criador do festival, Perry Farrell, o Lolla é um “estilo de vida alternativo”. Lollapalooza é um festival de música, de âmbito internacional, que teve início nos anos 80, mas teve sua primeira edição no Brasil em 2013. O Lollapalooza 2018 aconteceu em São Paulo, teve três dias de shows e recebeu em média 100 mil pessoas em cada um dos dias. Disponível em <https://www.lollapaloozabr.com/experiencia-2018/>. Acesso em 30 de maio de 2018.
38
transformar radicalmente a maneira como as obras são produzidas, divulgadas e comercializadas.
Embora as bandas possuam perfis ou canais próprios nas redes sociais, o músico também tem um perfil individual. Quando ele compõe um grupo, também, carrega a responsabilidade da imagem de uma marca, de uma organização. Desta forma, o que for publicado pelo artista em sua rede individual, poderá refletir na imagem organizacional. Assim como estes recursos podem ser grandes aliados para a “sedução” dos públicos, conforme dito por Paludo, também podem ser prejudiciais, caso não haja uma gestão apropriada. Paludo (2010, p. 172) considera que: o artista atinge realmente o status de Artista quando pessoas que o desconhecem por completo começam a admirar a sua obra. E no momento em que este artista passar para o outro plano, será julgado, amado, admirado ou odiado por aquilo que produziu.
O músico, ao se tornar artista, tem sua vida exposta em uma vitrine, onde todos podem vê-lo. Essa exposição é perigosa quando não administrada adequadamente. Paludo (2010, p. 189) vai além disso: As vitrines virtuais são tão amplas quanto a diversidade de conteúdo e informação que circula no ciberespaço. As interfaces de criação e inserção de conteúdo são relativamente amistosas. Porém, aqui começa a aparecer um problema que pode passar despercebido a um olhar mais desatento: inserir conteúdo não significa comunicar. O fato de um artista novato criar uma página em algum site de rede social voltado à música não implica diretamente na audição massiva de sua obra musical. Por outro lado, se este artista figurar como atração de um programa de TV aberta, sua obra será ouvida (recebida) por um número considerável de pessoas.
Portanto, não basta estar nas redes sociais e “despejar” conteúdo nelas, é necessário planejamento e relacionamento dentro delas. Os artistas precisam saber o que publicar, quando publicar e ainda comunicar-se de maneira efetiva com os públicos. Isso mostra a real importância da intervenção de um profissional qualificado nestes meios. No que diz respeito à comunicação social, ela pode (e deve) ser utilizada como instrumento construtor para alavancar e promover carreiras musicais, artistas e produtores musicais. (PALUDO, p. 273)
39
Ao entender como o mercado fonográfico modificou e atualizou-se ao longo do tempo, adaptando-se para a era digital e às redes sociais, percebeu-se que a comunicação é fundamental nos processos. Também foram identificadas as principais redes sociais e a sua importância para a divulgação e imagem das bandas independentes de rock. No próximo e último capítulo, é apresentada a banda Hellsinki, objeto de estudo desta monografia, e uma análise das redes sociais que ela utiliza.
40
4 HELLSINKI E A SUA RELAÇÃO COM AS REDES SOCIAIS
Neste capítulo, desenvolve-se a relação entre as definições apontadas e o objeto de estudo, a banda independente de rock, Hellsinki. Para tanto, apresentamos os dados coletados durante as diferentes técnicas de pesquisa e os relacionando com os autores citados, bem como a entrevista realizada com a banda Ego Kill Talent, que possui características similares à estudada nesta monografia.
4.1 QUEM É A HELLSINKI?
A fim de compreender o uso das mídias digitais na trajetória da banda independente de rock, Hellsinki, é utilizada pesquisa documental, pois, de acordo com Fonseca (2002), ela recorre a diversas fontes como relatórios, documentos oficiais, vídeos, programas de televisão, etc., que não tenham sido analisados pela banda. O acesso a estes arquivos particulares possibilita uma investigação mais aprofundada do material já existente, com o propósito de considerar melhorias futuras. Além disso, a técnica de observação participante é praticada para coleta de informações e acompanhamento do dia a dia da banda. Conforme May (2001), este processo auxilia o investigador a estabelecer um relacionamento mais natural, facilitando o entendimento científico do grupo.
4.1.1 História Fundada em 2014, em Gravataí-RS, a Hellsinki “vem formando sua identidade sem se preocupar com estilos e rótulos, criando suas melodias com naturalidade e independência”29, é o que declara a banda em seu site oficial. Sua formação permaneceu praticamente a mesma até o início de 2018, porém em fevereiro deste ano, saíram os dois guitarristas, precisando passar por uma reformulação. Hoje é composta por cinco integrantes: André Buchfink, vocalista; Bruno Vargas, baixista; Gabriel Pezone, guitarrista; Maikon Borne, guitarrista; e Tiago Barros, baterista. As
29
Disponível em <http://hellsinki.com.br/hell/sobre/>. Acesso em 17/03/2018.
41
composições são em inglês, os integrantes acreditam na música como uma arte universal, que o contexto artístico é o fator mais importante e a língua não é uma barreira. Além disso, pensam que isso ainda favoreça sua aceitação de forma global. Durante a entrevista30 realizada como parte de diálogo do presente estudo, com Niper Boaventura31 (APÊNDICE B), integrante da banda Ego Kill Talent, comentou que a língua é um empecilho cada vez menor para as bandas, porém, é fundamental que a banda entenda que no Brasil a aceitação será menor, e que se a Hellsinki planeja atingir apenas o mercado brasileiro, seria melhor que as letras fossem em português. Edu Santos (2018) concorda ao dizer que “o povo quer ver mais coisa do Brasil, cada vez mais”, principalmente no Rio Grande do Sul, um estado muito “bairrista”. Ele ainda sugere que a banda faça um teste com uma música em português, que mesmo com a voz grave do vocalista, dá pra fazer algo mais acústico, “atrai primeiro uma galera, atrai! Vai brincando”, completa. Paludo (2010), conforme já mencionado, acredita que os artistas, por desacreditarem na Indústria Fonográfica, têm produzido seus materiais de forma independente. Ao encontro disso, a Hellsinki, não possui produtora, gravadora ou empresário. É um grupo que trabalha a música a sua maneira, faz as próprias gravações, produz e edita seus videoclipes, administra os canais digitais e cria o material gráfico. Logo, é uma banda com gestão colaborativa. Os integrantes estão envolvidos nas produções, e, por vezes, contam com a contribuição de amigos e familiares. A Hellsinki possui identidade visual para a marca, composta do nome da banda e o elemento gráfico, um triskelion32. A concepção é de Andre Buchfink, a adaptação e criação para a logo é de Tiago Barros e a arte-finalização é de Tatiane Cross (Figura 1).
Entrevista concedida por Niper Boaventura, integrante da Ego Kill Talent — banda autoral brasileira, cujas canções são em inglês, e está conquistando o mercado internacional —, por meio do WhatsApp, através de trocas de áudios com as perguntas e respostas, entre os dias 2 e 9 de maio de 2018. 31 Niper Boaventura prefere ser chamado por sua assinatura completa, nesta monografia será respeitado isso. 32 Triskelion é um símbolo solar de origem céltica, simbolizava os princípios da criação, destruição e preservação e a tripla divindade. Também está ligada ao constante movimento de ir, representando: a ação, o progresso, a evolução, a criação e os ciclos de crescimento. 30
42
Figura 1 — Logo da banda Hellsinki
Fonte: Arquivo da banda, acesso em 9 de junho de 2018.
4.1.2 Estilo
O rock possui diversos estilos, que muitas vezes acabam se misturando, e tornando cada vez mais difícil rotular uma banda, pois algumas vertentes se assemelham muito. Paludo (2010, p. 162) discorre sobre a complexibilidade de classificação de gêneros musicais na atualidade: No que tange à questão estética, se foi possível estabelecer-se gêneros predominantemente associados à passagem do tempo, como o rock (na década de 1950), a música psicodélica (na década de 1960), o rock progressivo (na década de 1970), a disco music (na década de 1980), o grunge (na década de 1990) e a e-music (na década de 2000), hoje o que parece existir é uma coexistência de estilos musicais, multifacetada, que bebe de diferentes fontes. A face da música atual é uma face hibridizada, misturada e, em muitos casos, de difícil classificação.
Embora a Hellsinki não se auto-rotule como sendo do grunge, a banda já foi comparada com o estilo. Fabio Pitombeira, produtor de shows em Teresina-Piauí, apresentou a banda como “o mais novo representante do Grunge nacional”, em resenha para o Portal Whiplash33. Já Alex Viana, do portal ReiDjou34, enfatizou as
33
Disponível em <https://whiplash.net/materias/cds/255735-hellsinki.html>. Acesso em 5 de maio de 2018. 34 Disponível em <http://www.reidjou.com/resenhas/hellsinki-accelerate-2016>. Acesso em 5 de maio de 2018.
43
“nítidas referências ao Pearl Jam e congêneres da cena Grunge estadunidense, da segunda metade da década de noventa”. De acordo com a publicação de José Augusto Lemos, Jornalista e ex-diretor de redação da revista Bizz, no site Mundo Estranho35, o grunge nasceu na década de 80, em Seattle, cidade no noroeste dos Estados Unidos. O termo significa “sujeira” ou “imundície” em inglês e descreve tanto o estilo visual (cabelo bagunçado, roupas velhas e folgadas) quanto o som saturado e distorcido das guitarras usadas nas melodias. É uma mistura de punk36 e heavy metal37, e teve sua ascensão nos anos 90, quando Nevermind, segundo álbum do trio Nirvana, tirou o posto de Michael Jackson do primeiro lugar nas paradas americanas. O grunge segue vivo. A banda Pearl Jam, que também teve origem nos anos 90 e foi impulsionada, na época, pela música Ten, e o Foo Fighters (fundado pelo exbaterista do Nirvana, Dave Grohl), são exemplos de sucesso do gênero ainda hoje. Já a Hellsinki se enquadraria na variação estilo, denominado post-grunge, vertente que imitava as atitudes e a música grunge, porém, com um som mais amigável comercialmente. Por não ter um estilo definido, a Hellsinki é influenciada pelos mais diversos estilos de rock e vive em um mosaico contemporâneo musical, que vai do blues38 ao grunge.
4.1.3 Localização geográfica
A Hellsinki tem como berço a cidade de Gravataí, situada no estado do Rio Grande do Sul. Sua atuação acontece basicamente na capital e Região Metropolitana, 35
Disponível em <https://mundoestranho.abril.com.br/cultura/o-que-e-grunge/>. Acesso em 7 de maio de 2018. 36 O punk rock surgiu nos anos 70, trazendo em suas letras a insatisfação com a sociedade, palavras de protesto e desafiava todas as normas da época. Era caracterizado pela rebeldia e estilo de roupa e cabelos mais ousados. Disponível em <https://www.uppermag.com/rock-and-roll/>. Acesso em 5 de maio de 2018. 37 Na década de 60 o heavy metal começa a aparecer no mundo da música, derivado do hard rock, que era um som mais pesado, muito semelhante ao blues. O heavy metal tem uma sonoridade dissonante e crua, com vocais virtuosos e com foco em solos de guitarra. A vestimenta também tem uma característica própria, com muito couro e jeans. Disponível em <https://www.uppermag.com/rock-androll/>. Acesso em 5 de maio de 2018. 38 O blues vem da tradição musical africana, desde as canções de trabalho até espirituais. É um gênero e forma musical originado por afro-americanos no extremo sul dos Estados Unidos em torno do fim do século XIX. O blues foi precursor do rock n’ roll.
44
onde já fizeram algumas apresentações. Porém, de acordo com as informações obtidas na página oficial da banda no Facebook, dos 2.592 seguidores, 1.841 são do Rio Grande do Sul, 171 de outros estados brasileiros e 290 são de outros países, como mostram as Figuras 2 e 3. Figura 2 — Seguidores da página de Facebook da Hellsinki por país
Fonte: Elaborado pela autora, com base nas informações obtidas no Facebook da banda, em 14 de abril de 2018.
Figura 3 — Seguidores da página de Facebook da Hellsinki por estado brasileiro
Fonte: Elaborado pela autora, com base nas informações obtidas no Facebook da banda, em 14 de abril de 2018.
45
A partir da localização geográfica, ela já começa a criar uma identificação com seus públicos, o que justifica a concentração de seguidores da banda nas regiões próximas.
4.1.4 Materiais lançados pela banda
A Hellsinki teve sua formação no final de 2014 e passou por um período de planejamento, reuniões e composições de suas primeiras músicas. O single “Accelerate” foi o primeiro trabalho a ser gravado e teve lançamento, ainda em versão demo39, em fevereiro de 2016. Ainda no mesmo ano, em agosto, o segundo single, “I Left It All Behind”, foi lançado. Ao longo de 2016 trabalharam na criação de novas canções e ao final do ano começaram as gravações. Em março de 2017 foi lançado o primeiro EP homônimo da banda (Figura 4), contendo quatro composições autorais, até então inéditas, e regravações dos primeiros singles, já lançados em formato demo. Em junho de 2017 gravaram o primeiro videoclipe, para “Catch On Fire”, música de trabalho do EP. Figura 4 — Capa e contracapa do EP 2017 da Hellsinki
Fonte: Arte de Tatiane Cross. Arquivo da banda, acesso em 9 de junho de 2018.
39
Demo é a expressão usada para gravações musicais demonstrativas. Produzidas de forma amadora, feita em estúdio ou não.
46
3.1.5 Shows e apresentações A Hellsinki contabiliza 40 apresentações musicais, até o momento 40, em nove cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre. Listadas no Quadro 1. Quadro 1 — Lista de apresentações da banda Hellsinki
40
SITUAÇÃO
DATA
CIDADE
DESCRIÇÃO — LOCAL
CACHÊ
REALIZADO
02/12/2015
Gravataí
Afudê Rock Festival — Seven Club
R$ 0,00
REALIZADO
20/12/2015
Porto Alegre
Rock na Rua de Natal — Natus Fera
R$ 0,00
REALIZADO
13/03/2016
Porto Alegre
3ª Festa Sede POA — Abutres MC
R$ 0,00
REALIZADO
26/03/2016
Porto Alegre
Hellsinki e Terceiro — Frankenhaus
R$ 0,00
REALIZADO
17/04/2016
Porto Alegre
Em Tempos de Vinil — CCMQ
R$ 0,00
REALIZADO
24/04/2016
Porto Alegre
Hellsinki — Garagem 319
R$ 0,00
REALIZADO
13/05/2016
Gravataí
Confraria das Máquinas
R$ 0,00
REALIZADO
15/05/2016
São Leopoldo
CBGB São Hell — Bar Bellas Artes
R$ 0,00
REALIZADO
28/05/2016
Butiá
Indiana Rock e Hellsinki — Adrenaline Rock Bar
R$ 0,00
REALIZADO
26/06/2016
Gravataí
Acordes que Aquecem — Lechiguana
R$ 0,00
REALIZADO
02/07/2016
Porto Alegre
The Bornes e Hellsinki — Frankenhaus
R$ 0,00
REALIZADO
16/07/2016
Porto Alegre
Projeto Acalanto — CCMQ
R$ 500,00
REALIZADO
17/07/2016
Novo Hamburgo
Programa Vale a Pena — ValeTV
R$ 0,00
REALIZADO
30/07/2016
Gravataí
Confraria das Máquinas
R$ 400,00
REALIZADO
03/08/2016
Porto Alegre
OpenStage
R$ 0,00
REALIZADO
21/08/2016
Novo Hamburgo
Expoclassic — Fenac
R$ 0,00
REALIZADO
11/09/2016
Porto Alegre
7ª Festa Sede POA — Abutres MC
R$ 0,00
REALIZADO
14/10/2016
Porto Alegre
Hellsinki — Frankenhaus
R$ 0,00
REALIZADO
22/10/2016
Gravataí
Halloween
R$ 0,00
10 de junho de 2018.
47
REALIZADO
03/12/2016
Gravataí
Minuzzo's Birthday
R$ 0,00
REALIZADO
16/12/2016
Gravataí
Hellsinki e Terceiro — Denver PUB
R$ 0,00
REALIZADO
24/03/2017
Gravataí
Lançamento EP#2017 — Confraria das Máquinas
R$ 600,00
REALIZADO
05/04/2017
Gravataí
Intervalo Cultural — Faculdades QI
R$ 0,00
REALIZADO
15/04/2017
Porto Alegre
Hellsinki e Hempadura — Frankenhaus
R$ 0,00
REALIZADO
22/04/2017
Sapucaia do Sul
Estúdio Holliday
R$ 0,00
REALIZADO
24/04/2017
Porto Alegre
Programa Radar — TVE
R$ 0,00
REALIZADO
06/05/2017
Porto Alegre
Inauguração da Nova Sede — Abutres MC
R$ 0,00
REALIZADO
26/05/2017
Cachoeirinha
Boteco do Ronaldinho
R$ 0,00
REALIZADO
14/06/2017
Canoas
Simuca Contra o Frio
R$ 0,00
REALIZADO
18/06/2017
Gravataí
Acordes que Aquecem — Sputnik
R$ 50,00
REALIZADO
30/07/2017
Porto Alegre
Parque Marinha — Tricotaço
R$ 0,00
REALIZADO
20/08/2017
Gravataí
Show de Fraldas — Confraria das Máquinas
R$ 0,00
REALIZADO
08/09/2017
Sapucaia do Sul
Bebedeira ou Morte — Holliday
R$ 0,00
REALIZADO
05/11/2017
Porto Alegre
Cidade Baixa Rock em Alta
R$ 0,00
REALIZADO
19/11/2017
Sapucaia do Sul
IV Holliday Rock Festival
R$ 0,00
REALIZADO
23/11/2017
Porto Alegre
Projeto Acalanto — CCMQ
R$ 500,00
REALIZADO
10/12/2017
Esteio
Rock na Praça
R$ 0,00
REALIZADO
09/06/2018
Gravataí
Festival Brasil Independente
R$ 0,00
MARCADO
16/06/2018
São Leopoldo
Embaixada do Rock
R$ 0,00
MARCADO
20/07/2018
Porto Alegre
Signus Pub — Metal Tribute
R$ 0,00
Fonte: Elaborado pela autora, com base nas informações obtidas com a banda, em 5 de junho de 2018.
Conforme pode-se observar no quadro, apenas cinco shows tiveram pagamento de cachê41, sendo dois deles, apresentações realizadas a partir de participação em editais. Segundo a banda, muitos bares costumam fazer o “pagamento” na forma de
41
Expressão utilizada para remuneração que o músico recebe por apresentação.
48
permuta, em geral, os integrantes ganham algumas entradas gratuitas para os acompanhantes e bebidas para consumir no local do show. Ainda alegam ouvir com frequência frases como esta: “Estamos dando oportunidade para que mostrem o seu trabalho”, e que são poucos os locais que pagam cachê ou oferecem algum tipo de ajuda de custo para bandas iniciantes ou pouco conhecidas. Edu Santos (2018) ao ser questionado em entrevista sobre as casas não abrirem as portas para bandas novas: Mas como é que vai abrir pra uma banda que não tem nem mil plays? Vai dar prejú pra minha casa. Boto um DJ que vai tocar um monte de coisa conhecida e vou ser mais feliz. Tô fazendo papel de advogado do diabo, entendeu? Ninguém te conhece, vou abrir a minha casa? Tu vai pagar quanto pra tocar aqui? Porque eu vou ter que abrir a casa, vou gastar com funcionário, com não sei o que. Aí tu vai trazer 50 pessoas, 100? (SIC)
Edu Santos (2018) reafirma que o mercado é cruel com as bandas e que é difícil mesmo. O amor à arte acaba no momento em que não tem dinheiro, sentencia.
4.1.6 Concursos e editais
A Hellsinki procura participar de concursos e editais, a fim de adquirir reconhecimento e ter algum retorno monetário por suas apresentações. Por duas vezes consecutivas (2016 e 2017) foram selecionados para participar do Projeto Acalanto na CCMQ. Realizado pela Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ), tem o objetivo de divulgar a produção musical e promover o acesso à cultura. Selecionando grupos ou artistas por meio de chamada pública. Para o público a entrada é gratuita. Os músicos selecionados neste projeto recebem uma ajuda de custo para realizarem a apresentação. Em 2017 participaram do concurso 3º LOL Festival de Música dos Bancários, promovido pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região. O júri técnico do concurso escolheu os melhores talentos musicais em quatro categorias: melhor música (inédita), melhor letra de música (inédita), melhor cover ou parodia e videoclipe mais criativo e original. Os três melhores em cada categoria receberam troféus e prêmio em dinheiro. A Hellsinki participou com as canções “Catch On Fire” e “I Left It All Behind”, bem como seus respectivos videoclipes, porém, não foi premiada.
49
4.1.7 Organização da banda
O vocalista, André Buchfink, estudante de jornalismo, é o representante e portavoz do grupo. Responsável por fazer contato com as casas de shows e eventos diversos em que participarão, gerenciar e criar conteúdos para as mídias digitais, além de “pensar” nos assuntos relacionados a organização e divulgação da banda. Tatiane Cross, autora desta monografia, contribui com a criação de arte dos materiais gráficos e digitais, faz os registros fotográficos dos shows e demais imagens oficiais, e participa das reuniões de pauta. Buchfink possui listas de tarefas a serem executadas (Figura 5), que contemplam desde como serão os ensaios e músicas a serem tocadas pela banda até a divulgação e comunicação. Mas, de fato, não há um planejamento detalhado, nem mesmo registrado formalmente, as ideias são compartilhadas nos ensaios, em um grupo de Facebook, e a decisão é tomada coletivamente. Figura 5 — Exemplos de listas de tarefas da Hellsinki
Fonte: Print screen de materiais disponíveis no grupo de Facebook da Hellsinki, em 9 de junho de 2018.
50
Percebe-se a inexistência de prazos para as metas ou para conclusão das tarefas, o que deixa margem para serem postergadas. Ou seja, sem cronograma e planejamento é difícil estabelecer estratégias consistentes. Apesar disso, pode-se notar que a banda tem consciência da importância da comunicação para a sua divulgação. Toda segunda-feira a Hellsinki se reúne para o ensaio semanal. São duas horas, em estúdio, dedicadas a ensaiar o repertório dos shows, compor novas canções e discutir as próximas ações.
4.1.8 Objetivo da Hellsinki
Segundo Buchfink, a banda Hellsinki não almeja sucesso, embora demonstre não ficar triste se por ventura isso acontecer, mas espera ao menos ter retorno financeiro com os trabalhos musicais. Todos os músicos da banda são profissionais em outras áreas, não dependendo da Hellsinki como fonte de renda. Atualmente a maioria dos shows não possui cachê, é preciso que os integrantes paguem as despesas de deslocamento e possíveis gastos extras. O porta-voz da banda lamenta a realidade atual e tem expectativa de em breve conseguir com que a banda “se pague” e possivelmente tenha lucro com os shows.
3.2 HELLSINKI E SUAS REDES SOCIAIS
A Hellsinki é uma banda presente nos mais diversos meios digitais, possuem um site oficial, canal no YouTube, página no Facebook, perfil no Instagram, e suas músicas estão em todas as plataformas de streaming, incluindo o Spotify. Constatase no Gráfico 1 que o maior volume de seguidores da banda encontra-se no Facebook, seguido do Instagram.
51
Gráfico 1 — Redes sociais onde estão os seguidores da Hellsinki
Fonte: Gráfico do relatório extraído do site “Playax”42, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
No Gráfico 2 observa-se uma tendência dos seguidores da Hellsinki no Instagram. Embora o período do gráfico seja de apenas uma semana, é possível considerar a evolução. Gráfico 2 — Evolução agregada de seguidores nas mídias digitais da Hellsinki
Fonte: Gráfico do relatório extraído do site “Playax”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018. 42
Playax é uma plataforma de desenvolvimento de audiência que oferece tecnologias e ferramentas de monitoramento, análise de dados, divulgação e relacionamento com o público para artistas e profissionais da música. Disponível em <https://www.playax.com/about>. Acesso em 10 de junho de 2018.
52
Conforme mencionado anteriormente por Edu Santos (2018), as bandas são avaliadas no Spotify, YouTube e Instagram, a Hellsinki está presente nas três redes, porém, sem números significativos. A seguir são apresentados os dados do progresso nas redes sociais utilizadas pela banda, desde a data em que foram criados os perfis, em 1 de junho de 2015 até o dia 10 de junho de 2018, data de análise dos relatórios.
4.2.1 YouTube
Pouco explorado pela Hellsinki, atualmente o canal de YouTube da banda possui 30 vídeos publicados, 106 inscritos e recebeu 7.492 visualizações, incluindo pessoas não-inscritas. Estes números são relativos às pessoas que viram o canal, mas não necessariamente assistiram algum vídeo. Quanto aos números correspondentes aos vídeos publicados no período de análise, estão apresentados na Figura 6. Figura 6 — Relatório geral das postagens no canal de YouTube da banda
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”43, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
Na Figura 7 estão os vídeos mais populares e com maior engajamento. Percebese que as duas listas possuem em comum o vídeo oficial da música “Catch on Fire”. Além de ser a música de trabalho do EP lançado em 2017, ele foi compartilhado nas demais redes sociais e recebeu patrocínio, consolidando o que já foi dito por Edu Santos (2018), o investimento é primordial para o alcance de públicos dentro dos meios digitais.
43
O Reportei é uma ferramenta que gera relatórios profissionais das mídias sociais. Disponível em <https://reportei.com/>. Acesso em 10 de junho de 2018.
53
Figura 7 — Relatório de vídeos mais populares e com maior engajamento no canal de YouTube
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
4.2.2 Facebook
O Facebook é a rede social mais utilizada pela Hellsinki e possui 2.677 curtidas na página. No período de três anos, a página teve um alcance de 263.147, mesmo que elas não sejam seguidoras, viram as publicações em sua linha do tempo ou compartilhamento de amigos. Destes, 16.822 se engajaram, ou seja, interagiram com a banda através de reações, comentários, compartilhamentos de publicações ou cliques em anúncios. O número de seguidores e o alcance da página seguem uma uniformidade, mas é possível notar na Figura 8, em ambos os gráficos, alguns picos, sendo o maior deles em um dia em que uma publicação foi patrocinada, reafirmando a fala de Edu Santos (2018), “o Facebook só pagando, tem que pagar. Pagou. Funciona!”.
54
Figura 8 — Relatório de curtidas, alcance e engajamento do Facebook
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
Na Figura 9 pode-se acompanhar as “histórias criadas” pelos usuários, que envolveram a banda. O Facebook considera uma “história” qualquer citação, comentário, check-in, curtida, avaliação ou postagem da página que apareça na linha do tempo dos usuários, permitindo a pessoas que não seguem a página, também vejam e interajam. Figura 9 — Relatório de “histórias criadas” no Facebook
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
Ao longo do período, foram realizadas 229 postagens na página, o que gerou o volume de 769 compartilhamentos, 174 comentários, 8.765 reações e 18.495
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interações. Na Figura 10, estão estes dados e a média de cada tipo de interação por postagem. Figura 10 — Relatório de postagens e tipo de interação no Facebook
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
A Figura 11 apresenta as cinco principais postagens da Hellsinki. A publicação que está em primeiro lugar foi responsável pelo pico de curtidas e alcance da página, ela teve patrocínio. Além disso, teve um alcance superior às demais, pois foi uma homenagem ao Chris Cornell, cantor falecido no dia anterior. De qualquer forma, quatro das cinco publicações que mais fizeram sucesso foram patrocinadas, reforçando mais uma vez a importância do investimento nesta rede. Figura 11 — Lista das cinco principais postagens da Hellsinki no Facebook
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
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Sobre o alcance da página no Facebook (Figura 12), os acessos via dispositivos móveis são quatro vezes maiores que os acessos através de computadores, seguindo a tendência da Pesquisa Brasileira de Mídia 2016. No segundo gráfico são expostos os horários do dia, com maior engajamento e alcance das publicações. Estes dados são fundamentais para o planejamento de ações na rede. Figura 12 — Relatório de alcance da Hellsinki no Facebook
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
4.2.3 Instagram
O Instagram por muito tempo foi pouco explorado pela Hellsinki, porém, desde março de 2018, procurou-se aproveitar mais suas funcionalidades, visto que esta rede possui um alto potencial, uma vez que o seu alcance orgânico44 tem sido melhor que o do Facebook. Atualmente a banda possui 866 seguidores, mas, segundo Buchfink, pretende melhorar este número nos próximos meses. Até o momento foram realizadas 107 postagens na rede, tiveram um volume total de 3.154 curtidas e 67 comentários nas publicações. Números observados na Figura 13.
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Expressão usada para determinar que o alcance aconteceu de forma gratuita, sem patrocínio.
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Figura 13 — Relatório da repercussão das postagens da Hellsinki no Instagram
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
As publicações com maior destaque são as que a banda passou a usar hashtags, antes destas, não vinham explorando esta funcionalidade. Embora seja preciso aprimorar o uso, já é um indicativo de que realmente fazem a diferença nas publicações. Figura 14 — Postagens com maior destaque no Instagram
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
4.2.4 Spotify
A Hellsinki passou a utilizar as plataformas de streaming para divulgar suas músicas a partir do lançamento do primeiro single, em 2016, mas a divulgação destas plataformas foi intensificada apenas em 2018. Desta forma, o Spotify não possui uma quantidade relevante de seguidores, ao todo são 54. A música mais acessada é “Accelerate”, versão demo, com 1.100 visualizações (Figura 15).
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Figura 15 — Postagens com maior destaque no Instagram
Fonte: Relatório extraído do site “Reportei”, com base nas informações das redes sociais, em 10 de junho de 2018.
4.3 E AGORA, O QUE FAZER?
A partir dos dados coletados e da observação diária, fica evidente a falta de planejamento da banda. Buchfink reconhece isso, e, embora seja da área da comunicação, por estar envolvido em todos os processos, desde composição das músicas até a organização de apresentações, alega não conseguir pensar estrategicamente. Como afirmado por Edu Santos (2018), o músico não conseguirá ter a mesma visão de um profissional dedicado a isso. Durante a entrevista na Loop Reclame, ele lembra que no mesmo dia teve uma reunião de duas horas com uma banda, no qual conversaram sobre passos e planejamento, e que este diálogo foi responsável por mudar as ideias e o que os artistas tinham pensado em fazer, pois confiam na competência da agência. O integrante da banda Ego Kill Talent, Niper Boaventura (2018), relata que trabalham com uma empresa de comunicação, a Approach Pass. Segundo ele, a
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parceria é importantíssima, e que se não fosse o plano de comunicação elaborado pela agência, a EKT45 não atingiria a repercussão obtida durante a turnê do Foo Fighters, onde foi banda de apoio. “São profissionais. Assim como a gente procura o melhor técnico de som, melhor técnico de luz, temos que encontrar o melhor RP46 possível”, declara, Niper Boaventura. A falta de planejamento e pensamento estratégico, são pontos que precisam ser trabalhados na Hellsinki, para que possam alavancar. Niper Boaventura (2018) expõe a realidade que a EKT também vive: Quando tu lança (SIC)47 uma música, há necessidade de atenção entre tantos outros lançamentos. Tem dias que eu recebo cinco ou seis lançamentos de bandas novas, apesar que tentar ouvir elas, é difícil botar a atenção em uma só, o teu julgamento fica meio superficial. Então a briga é muito mais ferrenha, pela quantidade e justamente pela facilidade de produzir conteúdo hoje em dia. Agora ser relevante é um grande problema.
Mas para ser relevante, é preciso diferencial, algo que, ao ouvir a Hellsinki, Edu Santos (2018) lamenta: “tem um monte de banda gringa f*** (SIC) nesse estilo, muitas”. Ele ainda questiona, “quer viver de música ou quer que seja hobby? Se quer hobby continua ali”, se referindo ao tipo de som e as canções em inglês. Quanto às redes sociais, tanto Edu Santos (2018) quanto Niper Boaventura (2018), foram unânimes ao citar as redes que mais dão retorno, em termos de comunicação: Spotify, Youtube, Instagram, Facebook e WhatsApp. Enquanto as três primeiras servem para mensuração, as duas últimas são mais utilizadas para criar uma conexão com os públicos, principalmente o WhatsApp. Edu Santos (2018) alega que tem dado muito resultado o envio de materiais diretamente pelo aplicativo, as pessoas recebem a mensagem com o link do Spotify e já ouvem, é muito rápido. Niper Boaventura (2018) conta um pouco da estratégia que a EKT usa: você manda o número e nome completo, a gente te cadastra e tu recebe, diretamente no celular, novidades, notícias, promoções, vantagens. É como se fosse um fã-clube, onde a nossa base é o WhatsApp. E ao mesmo tempo, tem um mailing list que vai se formando organicamente através disso. A gente manda os vídeos, que são exclusivos, em turnê, através dos grupos de transmissão. E a 45
Sigla para Ego Kill Talent. Sigla para relações-públicas. 47 Optou-se, neste estudo, por respeitar literalmente a fala dos entrevistados em suas citações. 46
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gente iniciou um grupo também, que eles se chamam de EgoKillers, que é administrado por este celular e mais umas duas ou três pessoas, e lá é um grupo de discussão aberto. (SIC)
Niper Boaventura (2018) reforça que os grupos funcionam bem e que isso aproxima muito o público da banda. Além disso, explica que ao divulgar algo novo, envia para todos os meios de comunicação que a banda possui e sempre tenta agregar um vídeo ao lançamento de áudio, reconhece que é uma das estratégias fixar a atenção do ouvinte. Por fim, Edu Santos (2018) salienta que o principal ponto é a banda fazer música que as pessoas gostem, porque é assim que começa a identificação. Ele ainda relembra que a realidade é dura no mundo da música, e reforça: A pessoa da comunicação, que no caso é tu48, tem que clarear os caras, dizer “Ô! Vamo vê as bandas do nosso estilo aqui? No Brasil, quantos plays elas têm?” Todas têm mais de mil. Prepara uma apresentação pros caras, dá um choque de realidade. Tripudia, pisa com os dois pés, até doer, até chorar. Porque só isso vai mexer na pessoa. Só quando ela entende que “Bah! F***u”, consegue virar, outros desistem e vão fazer outra coisa. Mas é melhor do que ficar perdendo tempo. (SIC)
Estas contribuições corroboram com a análise realizada para as redes sociais da Hellsinki, demonstrando que a banda precisa investir mais em planejamento e utilizar melhor as funcionalidades que elas oferecem. E ter um profissional da comunicação na banda, não é suficiente, é crucial que ele esteja focado no cumprimento das ações. A Hellsinki precisa repensar sua trajetória e traçar objetivos e metas, encontrar uma identidade e buscar um propósito para sua existência. Assim alcançará a identificação com os públicos que almeja. Em meio ao surgimento de tantas bandas independentes e a facilitação que as redes sociais trazem, é imprescindível a utilização profissionalizada das redes sociais e de estratégias para atingir com excelência a comunicação com estes públicos. Através da construção de um planejamento estratégico, será possível determinar os próximos passos da banda, tornando viável atingir o objetivo apresentado por Buchfink: ter lucro com os shows. 48
.
Referindo-se a entrevistadora.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta monografia tem como tema central a importância do planejamento de redes sociais, realizado pelo relações-públicas, para a divulgação e imagem de uma banda independente de rock. A partir deste tema, estabeleceu-se que as bandas também são organizações, percorreu-se a história da indústria fonográfico e o lugar que as bandas independentes ocupam neste mercado. Observou-se que as bandas independentes, de fato, dependem dos públicos para que possam “sobreviver”, desta forma, constatou-se que a construção de uma imagem é primordial. A atividade de relações públicas se mostra essencial, no momento em que “vende” a marca, de forma que os públicos se sintam parte dela, através da identificação e empatia. A partir deste ponto, foi possível responder o primeiro questionamento proposto por este estudo, que é compreender como o planejamento pode intervir na divulgação e imagem de uma banda independente de rock. Através do planejamento a banda passará a conhecer melhor seus públicos e criar vínculos, que são formados a partir da identificação com a banda. A música é um elemento construtor de identidades, e a imagem que os artistas carregam, é o que vai definir se as pessoas gostarão de pertencer àquele grupo ou não. A divulgação positiva de uma banda só será possível se o público seguir os propósitos propostos por ela e assim disseminar suas ideias. Com a internet, a “distância” não existe e é possível buscar relacionamentos e ainda criar vínculos com pessoas e organizações que estão do outro lado do mundo. Tornando cada vez mais complexas as relações e sua administração. A vida já não acontece apenas no “mundo real”, existe, também, um vasto “mundo virtual” a ser explorado, e que muitas vezes se confundem. Desta forma, com tantas pessoas conectadas, o desenvolvimento do planejamento se torna fundamental para que a divulgação e interação nas redes sociais, sejam elas online ou offline, estejam alinhadas, do início ao fim. A identificação das principais redes sociais online é o segundo objetivo proposto. Através desta pesquisa, pode-se destacar as três mais relevantes para as bandas: YouTube e Spotify, que são os canais onde a banda publica seus videoclipes e músicas, e a quantidade de plays é decisiva para o seu sucesso; e o Instagram, que
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a partir da quantidade de seguidores, é medido o nível de influência que a banda têm sobre os públicos. Constatou-se que o investimento de tempo e dinheiro nestas redes é crítico, uma vez que a comprovação de que a banda é “boa”, vem do alcance gerado nestas redes. Hoje, não é mais a mídia tradicional que aponta o artista da vez, é o público que utiliza as redes sociais e se identifica com a marca, com os princípios e a história da banda. É esta conexão que vai acabar se transformando nos números que o mercado exige: quantidade de plays nas músicas do YouTube e Spotify, seguidores no Instagram. No que se refere ao terceiro objetivo, que é analisar as redes sociais utilizadas pela Hellsinki, percebeu-se a falta de organização e planejamento estratégico. Embora a banda possua como porta-voz um integrante da área da comunicação, não conseguiu afirmar, até o momento, uma personalidade. O que compromete a afinidade com os públicos e dificulta a relação através das redes sociais. Desta forma, é preciso que a banda repense sua trajetória, a fim de traçar um perfil coerente com os valores e propósitos dos músicos. Após este primeiro passo, é vital que sejam traçados planos e estratégias, para melhor aproveitamento das redes sociais. Levando em consideração os principais apontamentos realizados nas análises: um profissional de RP dedicado a estas redes, orientando a banda para que siga o planejamento proposto; e investimento monetário para o maior alcance das publicações. Dentre as principais constatações desta pesquisa, destaca-se a identificação do público, como fator principal para o sucesso de uma banda de rock nas redes sociais. E para que seja alcançado isso, é preciso ter um administrador deste relacionamento, o relações-públicas. Que por sua vez, utiliza como principal instrumento, o planejamento. E desta forma, é possível chegar ao objetivo que a Hellsinki busca: a remuneração por seus shows. Esta pesquisa comprometeu-se, com a banda, a atuar como assessora em seus próximos passos. Este trabalho é apenas o começo de uma parceria. Desta forma, é possível que haja uma continuidade deste estudo em uma pós-graduação, aprofundando ainda mais sobre os assuntos relacionados a construção de imagem e identificação dos públicos, que foram abordados de forma muito ampla, por ora.
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Esta monografia apresenta a realidade de uma, das diversas bandas independentes de rock, que surgem todos os dias. Espera-se que esta pesquisa auxilie estudantes, profissionais da comunicação que atuam no meio da música e outras bandas, a entenderem a importância da relação com os seus públicos e como isso pode ser decisivo para a sua trajetória. Bem como a importância de pensar estrategicamente nessa organização e ter um profissional da comunicação direcionando as estratégias. A abordagem utilizada e os resultados apresentados, não são absolutos e podem modificar-se de acordo com a realidade de cada objeto estudado. Isso possibilita a retomada do tema e a obtenção de desfechos diversos. Posta esta contribuição para a academia, abre-se margem para discussão acerca dos assuntos tratados.
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APÊNDICE A — Entrevista com Edu Santos — Loop Reclame
Edu Santos é cofundador e CEO da Loop Reclame, uma agência de música especializada em produção de áudio, conteúdo, desenvolvimento artístico, licenciamento e novos negócios, de Porto Alegre, e que possui filiais em São Paulo, Los Angeles e Montevideo. A entrevista presencial foi realizada no dia 13 de abril de 2018, na sede da Loop Reclame, em Porto Alegre. Segue transcrição de áudio da entrevista:
Tatiane: Quem é Edu Santos e quem é a Loop Reclame? Edu: Eu sou quase publicitário, quase administrador de empresas, quase Relações Públicas. Sempre tive reação com música, desde pequeno minha vida começou pro lado da música, aí eu consegui um emprego na Ipanema (rádio FM), na época de operador, colocando vinil, na época era vinil, depois com a grana de operador eu não conseguia pagar minhas contas, eu tentei começar a vender comerciais para a rádio, pra ver se eu conseguia uma grana que conseguisse me manter. E quando eu comecei a vender esses comerciais eu já vi que as pessoas às vezes não tinham o que botar no ar, então comecei a inventar spots, jingles, e comecei a me desenvolver nisso. E eu sempre trabalhei com rádio, com música e na paralela com publicidade, então os meus primeiros estágios eu consegui em produtoras de áudio e enquanto isso eu estava na Ipanema (FM). Depois eu fui pra Felusp (rádio FM) e continuava estagiando em produtora de áudio, então eu sempre fui dividindo entre a produção de áudio e a rádio, que são duas coisas que se completam, apesar de serem diferentes, uma é um veículo e o outro era um gerador de um conteúdo publicitário para o veículo. E na verdade hoje tudo se misturou, porque hoje o conteúdo é uma coisa só, os veículos são conteúdos, e conteúdos são veículos, distribuídos em multiplataformas. Então é isso, sou um cara ligado à música. E a Loop começou há treze anos, antes eu tinha a Deff (Reclame), na verdade eu comecei a Deff quando eu fiz, em 2002, um jingle para a Coca-Cola, pra Copa do Mundo, que o Toni Garrido gravou, foi um free que eu fiz com um estúdio de São Paulo, de um amigo meu, do Dudu Marote. E aí quando aquela música, o Brasil foi campeão da Copa e a CocaCola usou aquela música pra caralho e eu ganhei uma grana, eu comprei um Voyage
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preto e um teclado. Com o teclado eu me associei ao Fornasi, ao Flu, porque na época eles tinham uma produtora, mas eu tinha um Wing Sonic, que era um tecladão f***, aí eu comecei a montar uma produtora paralelo à rádio. E depois veio a Loop que tem doze anos. A Loop começou como uma produtora de material publicitário pra rádio. A gente fazia muita coisa pra Ipanema, pra outras rádios, a gente começou a colocar atendimento dentro de agência de publicidade, pra tentar vender mais pra outras coisas, pra atender comercial, aí começou a fazer trilha pra cinema, começou a fazer um monte de coisas sonoramente falando, áudio em geral, era uma oficina sonora. Depois que eu saí da Ipanema, há oito anos atrás, eu foquei muito na Loop e resolvi fazer um selo também pra produzir a galera daqui que já tocava, comecei a produzir bandas, e comecei a produzir um monte de coisas ligadas à música, e a gente se tornou com o tempo uma agência de música. Hoje a gente faz qualquer coisa ligada à música. Então a gente pode fazer curadoria de um festival, a gente pode fazer uma música, produzir uma música de um artista, a gente pode fazer estratégia, planejamento de carreira para um artista, a gente pode fazer música pra marketing, a gente pode fazer qualquer coisa que tenha música, arte e publicidade. Tatiane: Hoje a Loop é composta de profissionais de diversas áreas? Edu: Multimídia, a gente tem psicóloga, a gente tem jornalista, a gente tem publicitário, a gente tem um monte de músico, pessoal de planejamento, que vem muito da comunicação. Tatiane: Agora que a gente já entendeu como é a Loop, queria saber um pouco mais sobre o mercado fonográfico. Qual a visão da Loop quanto ao mercado fonográfico atual — mundial, regional, brasileiro, um panorama geral? E se está mais fácil de as bandas se lançarem e fazerem sua própria divulgação, ou se não está? Edu: Ficou mais fácil de produzir o material, mais acessível. Quando eu tinha banda nos anos 80, só tinha um lugar para gravar música em Porto Alegre, era a ISAEC de 8 canais, que as bandas que não tinham grana gravavam, e as que tinham grana, gravavam no de 24 ou gravavam na Fit ou outros lugares mais caros. As bandinhas, em geral, gravavam na ISAEC de 8 canais. Então era difícil, era caro, fazer uma música demorava, gastava uma grana, que normalmente tu não tinha. E hoje, moleque grava em casa, chega discos que eu lanço, que os caras fizeram sozinhos em casa. Então a produção facilitou. A divulgação, ela é pulverizada, tu tá num
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universo só, é um mercado só, é o mundo. Tu lança a música para o mundo quando tu sobe ela na rede e aí tu vai ter uma geolocalização que vai te facilitar, os teus amigos próximos talvez sejam os primeiros a ouvir, eles vão disseminar e aí o caminho que ela vai fazer, depende dela, e da sorte, muitas vezes de investimentos, não adianta, o investimento ainda, com certeza, faz a coisa crescer, se tu colocar uma grana num projeto, ele vai aparecer mais, se botar mais dinheiro em mídia e redes sociais, ele aparece para mais pessoas. Então tem coisas que não adianta, tem coisas que vão ao natural, e tem coisas que vão com grana. Tatiane: Com a facilidade de as próprias bandas fazerem a gravação das próprias músicas, produzir um material online, tu acredita que é o fim das produtoras? Das gravadoras e empresários? Ou justamente por ter essa facilitação, que as bandas vão precisar de ter esse produtor para norteá-las? Edu: Não tem como. Uma banda sozinha até pode ir , pode funcionar muito bem, mas a estrutura de planejamento, de estratégia, isso muitas vezes não vai vir do artista. A gente acabou de fazer uma reunião de duas horas, com uma banda aqui, conversando sobre passos, planejamento, a gente mudou toda a ideia que eles tinham, que iam fazer. Pode até dar tudo errado, mas a gente está atrás disso, a gente está indo atrás de tudo que é festival do mundo, a gente está antenado, a gente tava no SSW, fomos ano passado para o Grape Escape, a gente participa de eventos ligados à música, à tendência, à tecnologia, então a nossa margem de erro diminui um pouco, mas claro que ela existe. Não vai acabar gravadora, produtor e empresário. Talvez, lá na frente, isso diminua alguns atravessadores, que antes eram muitos. Por exemplo, hoje a gente ainda tem escritórios de arrecadação, ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), UBC (União Brasileira de Compositores), etc., talvez com o Blockchain, fique tudo lá. Essa certificação mais mundial, a gente vai conseguir colocar lá direto, sem passar por ECAD e não sei o que, todo mundo vai ficar lá, mas são coisas que a gente está vendo ainda e talvez demore um pouquinho, alguns aninhos ainda. Tatiane: Desculpa meu amadorismo, mas o que seria isso (Blockchain)? Edu: O Blockchain é uma certificação digital de tudo, do mundo, ele nasceu muito por causa do Bitcoin, criaram umas moedas (virtuais) e quem fiscaliza essa p****? Também tem que ser uma certificação digital, também tem que ser máquina,
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monstros, robôs, mas que realmente… é tipo um selo de certificação de tudo. Então, remédio vai estar registrado no Blockchain, as empresas vão ter que ter esse certificado, não é um ISO 9000, mas é uma coisa maior que tudo isso. Ele tá em desenvolvimento ainda. Mas as moedas já estão mostrando isso, as moedas virtuais. E pelo que a gente viu no SSW deste ano, muitas palestras falando disso, muita gente pesquisando isso, e a música vai ser um passo bem próximo de se distribuir, licenciar. Porque hoje para licenciar uma música, tem que ligar pra cinco editoras, pra não sei o que, aí tu tem que pagar a editora, pra pagar o músico. Ali, no momento que tu comprou aquela música, as granas já vão para os lugares certos, todo mundo já vai receber a sua parte, é bem louco. Tatiane: Hoje, quais os maiores desafios das bandas independentes de rock, como um todo? Edu: Ah! Elas… tem que conseguir alguma coisa que só ela tem. Se chegar uma coisa parecida com outra coisa que já existe, o cara vai ouvir o original sempre, acho que o grande desafio é a banda ser original. Se diferenciar. Se não, por que eu vou ouvir a mina cantando em inglês, uma coisa que parece Strokes, se tem o Strokes? Eu vou ouvir o Strokes, porque é muito melhor. As pessoas não tem mais tempo pra perder tempo, e a fila que as pessoas estão atrasadas em ouvir, ver, é muito grande. Todo dia alguém te indica uma série, um disco, e tu não consegue acompanhar, nem as dicas dos teus amigos. Eu tenho vinte séries para ver, por que eu vou ouvir uma banda, que imita uma outra banda? Não vou ouvir! Vou ouvir, vou atrás do original. Esse é o problema. As bandas chegam aqui muito parecidas com outras bandas. É falta de diferencial. Qualidade tem, qualidade hoje tem. Tem gente que canta bem, tem gente que toca muito bem, mas tu vai dizer “Tá! Tem um monte de coisa parecida com isso, mais legal, né?”. Tatiane: Tu acredita que é por isso que muita banda que não é tão boa, surge no mercado e faz sucesso, por ser diferente? Edu: Sim! Sim! Total! A coisa original já abre mais espaço. As pessoas hoje buscam diferenças, todo mundo quer ouvir uma coisa diferente, por mais bizarro que possa parecer. E outra coisa que uma banda tem que ter, e que uma marca, e qualquer outra coisa tem que ter, é propósito. Qual o propósito desta banda? O país tá caindo, a educação tá f****, aí os rockeiros… Por que o Rap tá crescendo? Porque é o único
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que questiona. Os roqueiros não falam mais p**** nenhuma, nada com nada. A MPB só canta amor, amor, amor. Os sertanejos só amam também, ou só têm dor de cotovelo. Aí o Hip Hop que põe o dedo na ferida, a molecada tá aderindo, no mundo inteiro. É um movimento mundial, que, tudo bem, falam merda pra caralho também, principalmente nos Estados Unidos, mas são os únicos caras que questionam as coisas que estão acontecendo na sociedade. As pessoas querem propósito. Aí tu pega bandas que tem propósito da nova geração, Francisco, el Hombre, BaianaSystem, são bandas que têm um discurso. Se tu ver uma entrevista da BaianaSystem, ela boa! Russo Passapusso (vocalista da banda), é f***! Bota o dedo na ferida, é “Fora Temer”, é não sei o que, se posiciona! Se não se posicionar, tá fudido. Se ficar em cima do muro, passa despercebido. Tatiane: A Hellsinki, que é o objeto de estudo do projeto, tem todas as canções em inglês, tu acha que isso dificulta? Edu: No Brasil, totalmente dificulta. A gente faz vários discos em inglês, o novo disco do Erick, ele é todo em inglês e tem uma música em português. Essa música em português, se tu for no Spotify ouvir, tu vai ver que tem 127 mil plays, e as outras ficam em 2 ou 3 mil plays. No Brasil, o povo quer ver mais coisa do Brasil, cada vez mais. A nova geração… por que o BainaSystem cresce? Por que Francisco, el Hombre, cresce? Por que essas bandas estão voando e ganhando público? Porque elas são brasileiras, as pessoas valorizam, a nova geração valoriza muito as coisas que são daqui. Porque tem muita banda em inglês lá fora, bem melhor que as daqui. Não tem como uma banda em inglês daqui, ser tão boa quanto a lá de fora, não tem, é humanamente impossível. Porque o sotaque não vai ser o mesmo, a referência cultural não é a mesma. Por mais que tu viva num mundo paralelo, de internet, séries, não sei o que, e isso te inspira para fazer tuas músicas, tu nunca vai bater as bandas de lá. As bandas que cantam em inglês, geralmente elas vão e caem, vão e caem no Brasil, qualquer banda é assim. A gente tem a Geo que vai e “boom”, estabiliza lá embaixo depois de novo. Não tem, me diz uma banda em inglês que consegue se manter mais de cinco anos. Não existe! Cansei de Ser Sexy, cantava em inglês, acabou. Dá aquele “boom” e “plá!”. Tatiane: E lá fora elas também não sobrevivem? Edu: Não, não sobrevivem. Porque lá fora os caras já tem. A gente fez uma
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reunião no Metrópole, lá em Londres. Eu levei um monte de bandas pros caras lá. E eles: “Meu, essas bandas que cantam em inglês, nem me mostra. Primeiro porque o sotaque tá todo torto… não dá, eu vou comparar com uma banda daqui, entendeu? Fudeu! Vai perder sempre. Me mostra as coisas brasileiras aí”. Todas as reuniões que a gente fez agora em Austin, o que eu fiz? Eu lancei uma mina de Austin, aí, sim! Beleza, ela é de lá e não alguém imitando, ser alguma coisa que não é. Mas isso também é questionável, só digo assim, como um negócio, não é um bom negócio, pode até dar certo, o mundo é muito louco, mas talvez dê mais certo lá fora, mas daí tu vai concorrer com os caras lá de fora, então é difícil. Tatiane: Tem a banda nova do Jonathan Corrêa, a Ego Kill Talent, ela tá bem fortinha… Edu: Tá, abrindo um monte de show. Ela só abre show, ela não faz show. E se faz, faz nos lugares pequenininhos aqui, que qualquer um faz. Mas é difícil, é difícil isso. Isso que o Jonathan já tinha toda uma rede forte de internet, já é um cara que já tá mais em evidência, imagina quem não tem isso? O Jonathan eu não sei quantos seguidores ele tem, mas deve ter mais de 150 mil, aí tu arranca. Mas se tu é uma banda em inglês, que tem 1.500 seguidores, esquece! Não vai passar muito disso. Tatiane: Outra banda que tá bem em evidência, é Far From Alaska, né? Edu: O Far From Alaska, sim! É o novo Cansei de Ser Sexy. Então sempre precisa de uma coisa meio assim, que os modernos hipsters de São Paulo adotam pra ser… Ela vai, é uma banda que se sustenta, só não sei até quando, é uma banda que tá estável. Claro que tem, mas surgem muito mais bandas brasileiras, no Brasil. Tatiane: Quais os meios de divulgação online que vocês percebem serem mais usados e que dão mais retorno para as bandas? Edu: Por incrível que pareça, nos últimos tempos eu tenho usado bastante o WhatsApp, é o que mais tem funcionado. Eu mando pra galera os sons, os links de Spotify, e a galera mais ouve. Mas é um corpo a corpo, mas pra mim tem ajudado bastante. Eu acho que o Instagram depois. E o Facebook só pagando, tem que pagar. Pagou. Funciona! Tatiane: Como a Loop Reclame percebe as bandas que possuem ou não possuem um profissional da comunicação? Se dá pra perceber quando tem? Edu: Bah! Dá pra perceber. Primeiro, se não tem, tu pede um release da banda,
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vem qualquer p**** mal escrita, umas foto cachorra. Aí se tem alguém de comunicação, normalmente ele já tomou esse cuidado, a foto já é boa, o release já tá legal, já manda os links direitinho, tu só clica e vai, já deu essa filtrada no jeito de comunicar do artista, já criou uma estética, já pensou como vai ser a direção de arte de um palco, como vai ser o figurino, como vai ser tudo. Isso faz uma diferença inacreditável, tem que ter. É nítido total. Porque tem muita banda que já tem esse profissional no meio de comunicação em banda, tipo, o cara da banda que é diretor de arte, já é outro material gráfico. Se é um jornalista, já tem um material mais organizado. Eu acho que é fundamental, não tem como não ter.
Nesta parte da entrevista Edu abre o Spotify da banda para dar uma breve analisada e ouvir o som e mostrar algumas referências.
Edu: Tem um monte de banda gringa f*** nesse estilo (da Hellsinki), muitas. Faz em português uma das músicas pra tu vê. Vou te dar aqui um exemplo puro, Erick Endres, umas p*** música afudê em inglês, 22 mil plays, a única em português 127 mil plays. Tá entendendo o que eu tô dizendo? Uma música em português no disco do piá, olha a diferença que fez. Ele não queria colocar a música, eu convenci ele a colocar, e agora tá aí, vai virar uma estrela em português. Tem 18 anos o guri também, né? Ele tem uma música que eu acho bem POP, mas é inglês, não anda. Tem um monte de banda gringa que parece isso. Facilmente tocaria num Beco da vida pro pessoal dançar, mas esquece, vão tocar uma gringa. Aí tem umas coisas fora da curva, tem umas Gelpi da vida (banda brasileira com músicas apenas em inglês), que daí eles pegam a surfistada, mas mesmo assim, ele vai a 376 mil plays e as outras 19, 20, 21, mantêm um equilíbrio nos plays. É que essa aqui caiu no gosto da galerinha hipster de São Paulo e Rio, pessoal que vai pra um lual e acorda do lado de uma fogueira, é pop né? É uma banda que se cantar em português vai a mais de um milhão de plays. É hipster, né? Tatiane: É que a Hellsinki diz que as músicas em português não ficam muito legais, não ficam encaixadas. Edu: Troca a letra! Tem que mexer, é difícil, tu vê que os guris não têm nem mil plays.
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Tatiane: A banda é nova, tem um ano e meio. Edu: P****! Mas mesmo assim. O disco do Erick também não tem um ano. Eles têm que olhar número. O mundo é cruel. E tu trabalha com comunicação, tu vai lá chegar prum festival “Olha a minha banda”, mas quem são eles? O Erick a gente conseguiu colocar num festival porque o guri tem 127 mil plays. A Gelpi toca em Portugal, em tudo quanto é lugar, mas pô, 300 mil play. Tem marca que quer no mínimo um milhão de plays. Tatiane: E tu acha que o Spotify, é o que vai determinar? Edu: Spotify e YouTube, são os dois, é onde os contratantes olham. O cara vai no teu Spotify e no teu YouTube e vê o teu poder, e no Instagram ele dá uma olhadinha também, se tem poder com influência. Se tu tem ali, 100 mil seguidores no Instagram, 100 mil plays aqui (Spotify) e uns 100 mil plays no YouTube, é pouco ainda, mas tu já consegue entrar em uns festivalzinhos, já consegue te mexer, menos que isso não existe. E pra outro nicho, pra um Lollapalooza da vida, tudo em um milhão. Bota um zero a mais aí. Um milhão de seguidores, um milhão de plays no Spotify, um milhão de plays no YouTube, pra esses festivais maiores. Não tem! Se não o cara vai levar o quê pra lá? Vamo lá, Francisco El Hombre, três milhões de plays, 880 mil plays. Aí vai tocar em tudo que é festival do Brasil. Vai varrer o Brasil. Baiana System, dois milhões de plays, dois milhões e trezentos. Vai tocar em tudo que é festival do Brasil também. Eu faço a curadoria do Pepsi (On Stage), então se eu mandar pra Ambev uma banda que não chegou no terceiro dígito aqui, os caras me mandam pra rua! Atração local, beleza, eu consigo argumentar, pra impulsionar as atrações locais, a gente bota umas coisas menores. Mas atração nacional, os caras vão pagar passagem pra vir pra cá e não tem um milhão de plays, eu tô botando o dinheiro dos caras fora. A gente tá apostando agora no Rincon Sapiência, um cara que é novo ainda, mas olha aqui, rap. Que que eu te falei? Cinco milhões de plays, porque é quem tem legitimidade com a galera. Cinco milhões, é um artista pequeno ainda. Criolo, onze milhões, nove milhões. Aí o cache é 50 mil. Depois de 10 milhões teu cachê aumenta pra 50, 60 mil. Tudo é número, cara! Não tem chute mais! Hoje com a internet acabou o chute. Minha banda isso, minha banda aquilo. Comprova! Ah, tá, legal… Vamo vê o que que é legal aí, então. Então é esse tipo de coisa que a gente tem, não adianta. A gente tava vendo essa banda aqui, tava em uma reunião com os guris. Cuscobayo, uma banda de
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Caxias do Sul, mas ó, 55 mil, 64 mil… pô! Pro meu selo interessa esses números deles aqui. Pô, vou trazer eles pro selo, entendeu? Eu tenho até menor que isso no selo, mas pra mim aqui já interessa. A música é de 1º de dezembro de 2017 e já tem tudo isso de acesso, entendeu? Daí tu vai me dizer assim, o cara tem a voz mais grave, daí faz uma coisa mais acústica em português, sabe? Atrai primeiro uma galera, atrai! Vai brincando. É f***! Tirar isso da cabeça do metaleiro, né, cara! Mas… Pergunta pro cara “Tu quer viver de música ou quer que seja hobby?”, se quer hobby continua ali. Mas um projeto paralelo, inventa uma outra coisa pra teste. “Não quero queimar a Hellsinki”, beleza! Inventa assim, qualquer nome, e faz umas músicas em português mais acústicas, com essa vibe, com essa voz. Não custa experimentar. Tatiane: Outra dificuldade que eles encontram são as casas de show que não se abrem pra bandas novas. Edu: Mas como é que vai abrir pra uma banda que não tem nem mil plays? Vai dar prejú (prejuízo) pra minha casa. Boto um DJ que vai tocar um monte de coisa conhecida e vou ser mais feliz. Tô fazendo papel de advogado do diabo, entendeu? Ninguém te conhece, mano, vou abrir a minha casa? Tu vai pagar quanto pra tocar aqui? Porque eu vou ter que abrir a casa, vou gastar com funcionário, com não sei o que. Aí tu vai trazer 50 pessoas, 100? O Opinião é uma casa, que agora só, tudo que o Opinião põe pra tocar ali, ele analisou aqui (apontando Spotify). A não ser que tu pague 18 paus de aluguel. Tatiane: Mas daí as bandas menores nem tem dinheiro pra pagar isso. Edu: Não tem porque não tem público pra pagar o ingresso. Porque se tu é uma banda grande, tu aluga, pega toda a bilheteria pra ti e faz 50 pau de porta. Sai dali com 40, 32. Tudo questão de percepção. Não adianta! O amor a arte, nãnãnã...É legal, mas e aí? E o dinheiro, cadê? Tatiane: Eu vejo que os guris se puxam bastante, até tento ajudar no que eu sei de arte, e tal, e até na comunicação, mas tá difícil de tirar eles do rock autoral em inglês. Edu: É difícil, não tem um mercado no Brasil. Talvez se eles forem pra Argentina, eles se dêem melhor, que tem mais mercado pra eles. No Brasil, talvez São Paulo, num gueto lá, sabe? Mas, cara, Rio Grande do Sul, não tem o que dizer. É um estado bairrista, é f***! É difícil. Tu vê a Fresno como é que tá aqui, dois milhões, quatro
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milhões. Essa é uma das bandas que tão vivas ainda, fazendo show. Já não tá mais tanto em evidência, mas ainda existe. Olha aqui, 17 mil seguidores, aí entrou numa playlist que tem 280 mil. Eles (Hellsinki), têm que entrar em playlists. Esse mundo é cruel, a internet tá aí, eles tão no mesmo palco dos Rolling Stones, a chance deles é a mesma. Tem fazer música que as pessoas gostem. Se tiver música que as pessoas gostem, já começa. As bandas que eu te mostrei aqui são pequenas, elas só fizeram música que as pessoas gostam. Elas não são os Rolling Stones, são uns indie diabo, mas conseguem chegar. Eles têm que fazer o que eles gostam, mas eles tem que entender o tamanho que vão ter se eles fizerem aquilo ali. Eles gostam de fazer isso? Beleza! Isso é pra menos de mil pessoas. OK, vou sempre tocar em lugarzinho pra 50 pessoas. Tá, legal, esse é o meu tamanho, não vou tocar em festival grande porque eu não vou ter gente pra chamar. Beleza! Pode continuar fazendo. OK, não, quero viver de música. Quero que 5 mil pessoas escutem a minha música. Tá, por enquanto eu não consegui fazer pra nem uma. Então o que eu vou fazer pra chegar a isso. É o contrário, inverte. É f***, é difícil. Se eu tivesse a fórmula, eu tava rico. Não existe fórmula pra isso. Bem, se tu quer trabalhar com bandas, procura outras bandas (risos), qual a faixa etária deles? De 25 a 30? Tu vê, já passaram! Pensa que os piá de 19, 20, já tão fazendo isso aí, cara com milhões de plays e a p*** que pariu. É f***! A realidade é dura no mundo da música. Nada impede que os caras façam coisas ali mais pra frente, mas tem que ter estratégia! E a pessoa da comunicação, que no caso é tu, tem que clarear os caras, dizer “Ô! Vamo vê as bandas do nosso estilo aqui, no Brasil, quantas tem?” Tudo tem mais de mil. Prepara uma apresentação pros caras, dá um choque de realidade. Tripudia, pisa com os dois pés, até doer, até chorar. Porque só isso vai mexer na pessoa. Só quando ela entende que “Bah! Fudeu”. Aí alguns conseguem virar e outros desistem e vão fazer outra coisa. Mas é melhor que ficar perdendo tempo.
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APÊNDICE B — Entrevista com Niper Boaventura — Ego Kill Talent
A Ego Kill Talent (EKT) é uma banda autoral brasileira, cujas canções são em inglês, e está conquistando o mercado internacional. É formada por Theo van der Loo (guitarra / baixo), Niper Boaventura (guitarra / baixo), Jonathan Correa (vocal), Raphael Miranda (bateria / baixo) e Jean Dolabella (bateria / guitarra), músicos experientes de bandas como Diesel / Udora, Sepultura, Reação em Cadeia, Pulldown e Sayowa. Formada em dezembro de 2014 em São Paulo, Brasil, a sede da banda é a Family Mob Studio, onde gravaram o material que está sendo lançado em uma série de 3 EPs (Sublimated, em 2016; Still Here, em 2016; e Ego Kill Talent, em 2017) com o produtor americano Steve Evetts, que já trabalhou com artistas como The Cure, Sepultura e The Dillinger Escape Plan. EKT já tocou no Lollapalooza Brasil, em 2016 e fez muitos shows o país para apoiar seus 3 EPs. A banda também se apresentou no Festival Maximus no Brasil ao lado de Rammstein, Marilyn Manson, Disturbed, entre outros. Internacionalmente, a EKT é representada pelo agente americano Ian Fintak, da ICM Partners, que organizou turnês nos EUA e na Europa em 2017. Eles foram nomeados pelo Google como um dos vinte maiores avanços de 2017. A EKT gravou uma música com a banda Far From Alaska, banda também brasileira e com canções em inglês. No Brasil se apresentar no Rock in Rio Festival 2017. Em 2018 foram banda de apoio na turnê do Foo Fighters e Queens of the Stone pelo Brasil. Atualmente estão em turnê européia, chamada "Euro Tour 2018". 49 A entrevista, a seguir, foi realizada com Niper Boaventura. Por estarem se preparando para turnê internacional, na Europa, a interação se deu por meio do WhatsApp, através de trocas de áudios com as perguntas e respostas, entre os dias 2 e 9 de maio de 2018. Segue, transcrição de áudios:
Tatiane: Qual a visão de vocês sobre o mercado fonográfico atual (mundial,
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Informações extraídas do site oficial da banda. Disponível em <https://www.egokilltalent.com/>. Acesso em 10 de junho de 2018.
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brasileiro e regional)? Está mais fácil de as bandas se lançarem e fazerem sua própria divulgação? Niper: Eu vou falar a minha opinião, mas todos os cinco caras da banda têm experiência nessa parte fora do palco também, então o que eu vou falar aqui é muito a minha opinião, e eu sempre compartilho com eles e a gente sempre chega nos acordos. Por isso, também, que eu acho que o nosso backstage é tão interessante para os nossos trabalhos. Eu acho que tá fácil de produzir, tá fácil de tu colocar na grande rede de computadores, porém, ser relevante é uma coisa que está mais difícil. Talvez pelo número, né? E aquela teoria da curva da cauda, dos nichos, se formaram muitos nichos, é difícil ter agora um grande hit. Então, eu acho que não tá mais fácil, eu acho que tá mais difícil, justamente por causa disso. Quando tu lança uma música, a necessidade de atenção entre tantos outros lançamentos. Tem dias que eu recebo cinco ou seis lançamentos de bandas novas, apesar que tentar ouvir elas, é difícil tu botar a atenção em uma só ou uma outra, então o teu julgamento, ele fica meio superficial. Então a briga é muito mais ferrenha, pela quantidade e justamente pela facilidade de produzir conteúdo hoje em dia. Agora ser relevante é um grande problema. Antigamente era mais nichado, precisava de mais dinheiro, precisava de mais profissionais. E profissionalismo é uma coisa muito interessante, o nível das produções, o nível do conteúdo, não só artisticamente, mas de um produto parrudo, um produto f***, é difícil de encontrar hoje em dia e ainda assim, exige muito investimento. Falando do mercado brasileiro, a gente vai falar mais de rock, né? Então você precisa entender que você tá jogando num campo que é muito hostil, é um mercado que não tem a cultura Rock, a gente tá no país do Samba. Existe muita gente que gosta de rock, não é atoa que o Foo Fighters lotou cinco estádios aqui no Brasil, Metallica vem e lota estádios. Então essa é a grande esperança das bandas de rock no Brasil, né? E mundialmente a briga é muito grande. A briga que a gente tá comprando e é o que a gente se colocou a fazer. Eu acho que primeiro de tudo, seria definir qual vai ser o objetivo da banda, qual é a briga? O Ego Kill Talent se dispôs a brigar para ser uma banda mundial. Então o mercado brasileiro é importantíssimo, afinal a gente mora aqui ainda, mas é no mundo que a gente foca. E falando mundo, a gente foca muito na Europa e Estados Unidos, que é onde a coisa acontece, é ali que reverbera para o resto do planeta.
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Tatiane: A banda Hellsinki é autoral e todas as suas canções são em inglês, assim como vocês. Como é a aceitação do público brasileiro? Isso facilita ou dificulta a aceitação da banda no mercado? Como tem sido a experiência de vocês, dentro e fora do país? Niper: Sobre a língua, é um empecilho cada vez menor, a grande maioria das coisas que a gente consome já tem em inglês, inglês é uma língua global, está presente nas nossas vidas diariamente. O público que eles (Hellsinki) provavelmente vão atingir que já atingem, é um público que já tá ligado ao inglês, então acho que isso não é um problema. Apesar de que, a comunicação com a grande massa, que é quem vai fazer eles terem um produto rentável, de poder viajar, de poder fazer, ainda em sua grande maioria, não fala inglês. Infelizmente o Brasil não tem essa cultura, do inglês inserido. Eu lembro que quando eu tava no colégio eu tinha a cadeira de inglês, mas era muito fraca. Mas eu acho que é viável, sim. Desde que o foco deles seja fora. Afinal, quando você fala em inglês, você quer se comunicar com o mundo, e não com o Brasil. Se você quer ficar no Brasil, se pretendem fazer alguma coisa no Brasil, acredito que cantar em português seja o grande lance. E a decisão de cantar, nossa por exemplo, não foi o que tu perguntou, mas a nossa decisão de cantar em inglês foi mais por textura, muito mais musical e artística mesmo, não foi nada, não foi pensado, sabe? A música que a gente ouviu a vida inteira foi em inglês e a gente resolveu compor dessa maneira e tem dado certo. Tem rolado com a gente, mas ao mesmo tempo, muita gente nos coloca como uma banda gringa, né, inclusive, até no Rock In Rio foi interessante, que muita gente pensou que a gente era americano, e o vocalista falava muito bem português. A aceitação tá sendo boa, mas não sei, não tem muito a ver com a língua não. Acho que é o produto geral. A banda tem que definir qual é o almejo deles, se eles querem o mercado mundial, o mercado internacional, ou o mercado brasileiro. Eu focaria em cantar em português se eles não planejam sair do país. Mas a nossa experiência, dentro e fora do país, tem sido ótima, o respaldo fora do país é o que nos ajuda muito aqui. Infelizmente o Brasil tem essa cultura que tem que ter aprovação internacional antes de ele aceitar. A turnê que a gente fez na Europa ano passado ajudou muito os brasileiros abrirem os olhos pra nós. Tatiane: Quais os meios de divulgação online que vocês usam e dão mais resultados para a banda?
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Niper: Eu acho que na ordem é o Facebook, Instagram e Twitter. São os que dão mais resultado pra gente. Apesar de os nossos números não serem muito expressivos, são todos orgânicos e o resultado que a gente tem das publicações faz muito jus ao número de seguidores. Não é aquela coisa que você tem um milhão de seguidores e 200 curtidas. O nosso aproveitamento é muito bom, é muito grande. O Facebook ainda é a nossa base e o Instagram, também. Twitter é muito grande e a gente dá muita atenção lá, mas eu acho que a gente precisa melhorar um pouquinho ainda, mas tá rolando. Tatiane: Por fim, vocês possuem algum profissional da comunicação (Publicidade, Relações Públicas, Jornalista) para cuidar da imagem e divulgação da banda? O que levou a banda a ter um profissional de comunicação e como esse profissional auxilia vocês? Niper: Sim, a gente tem. A gente trabalha com a Approach Pass, que é uma empresa aqui de São Paulo. E a gente acompanha muito de perto tudo isso, muito! Tudo o que a gente faz, a gente tá em cima, ajudando, corroborando e planejando. E acho que essa é a base pra ti continuar mantendo a sua identidade. Acho importantíssimo! Mas não é necessário também, tem muitas empresas que você pode largar na mão delas e elas te apresentam um plano, foi o nosso caso, foi uma parceria que tem dado muito certo. Vide o barulho que a gente conseguiu fazer com a turnê do Foo Fighters e com os Lollapalooza daqui, Approach Pass fez um trabalho excelente junto com a gente. Já o que leva as bandas a terem um profissional de comunicação é o simples fato de eles terem as portas abertas pra estas coisas, são profissionais, assim como a gente procura o melhor técnico de som, melhor técnico de luz, então a gente tem que encontrar o melhor RP possível. E a gente tá trabalhando com pessoas na Europa e nos Estados Unidos também, começando trabalhos, na Europa tá bem mais avançado. A Janis (van Lokven) tem uma empresa lá, a Janissimo, que nos ajuda muito lá e tá fazendo todo o terreno pra gente fazer toda imprensa por lá, durante a turnê pela Europa agora em junho. Ah! Acho interessante falar, que a gente usa esse número, e se tu me permitir, eu te coloco nesse canal de comunicação, esse telefone, esse número, é uma ideia que a gente teve, como se fosse um fã clube. O WhatsApp é uma rede muito interessante. Talvez ela entrasse naquela tua pergunta das redes, porque o WhatsApp é o meio mais rápido de comunicação e compartilhamento de
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arquivos e tudo mais. Então a gente tem um cadastro, que através do WhatsApp, @EgoKillTalent.com, você manda o teu número e o teu nome completo e a gente te cadastra neste telefone que eu tô falando aqui contigo, e tu recebe diretamente no teu celular, novidades, notícias, promoções, vantagens. É como se fosse um fã-clube, onde a nossa base é o WhatsApp. E ao mesmo tempo, tem um mailing list que vai se formando organicamente através disso. Então a gente manda os vídeos, que são só, exclusivos, a gente tá em turnê e fica mandando vídeos aqui nos grupos, através dos grupos de transmissão. E a gente iniciou um grupo também, que eles se chamam de EgoKillers, que é administrado por este celular e mais umas duas ou três pessoas. E lá é um grupo de discussão aberto, que a gente não modera, mas, porém, já foi moderado, e foi colocado algumas arestas, algumas regras pra eles não se passarem. E funciona bem, porque aproxima muito. E a gente tá tentando dividir isso por estado, tá ficando muito grande a lista. Tatiane: Ah! Ainda sobre a aceitação da banda no mercado, vocês acreditam que a Ego teve uma melhor aceitação por ser composta por músicos já conhecidos no mercado brasileiro através das bandas Reação em Cadeia e Sepultura, por exemplo? Niper: Eu acho que sim, todos nós tivemos experiência e tocamos muito por aí, claro, dando destaque para o Jean e o Jonathan, mas o Theo e o Rapha também, eles eram donos e organizadores de um festival muito grande aqui em São Paulo, fizeram vários eventos, tiveram sempre contato com pessoas do mercado e da indústria mundial. Eu dei meus pulos por aí. E com certeza, quando junta tanta gente respeitada no mercado assim, chama atenção de alguma forma, as pessoas querem saber como. Porque a gente tá junto, significa um respeito muito grande um para o outro. E se alguém vê, por exemplo, eu tocando com o Jean, o Jean tocando com o Jonathan, é curioso, né? A gente, depois de tanto tempo na estrada, com outros projetos, se juntar é por algum motivo muito especial que chama atenção mesmo. Tatiane: Mais especificamente sobre o público que já acompanhava a Reação em Cadeia, como vocês perceberam a aceitação deles com o Jonathan Correa cantando em inglês e fazendo um som mais pesado? Niper: Sobre o Reação. A Reação tem uma legião de fãs muito bonita, né? Uma história maravilhosa que o Jonathan escreveu com os meninos todos. E como todo fã,
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tem aquela impressão, aquela resistência, digamos assim, aos novos trabalhos, ao novo. As pessoas naturalmente tem resistência ao novo. E quando isso faz parte da tua paixão e faz com que a tua paixão seja um pouco substituída. Porque o Jonathan se dedica em tempo integral a Ego Kill Talent agora, então rola uma dor, mas depois ela passa. Várias situações de shows que a gente fez com os meninos do Reação, o Dani, o Vinni, o Elias. Todos os caras que tocaram na Reação foram até o show, são nossos amigos, acompanham a gente. A gente se fala direto, não tem um tipo de nada. Aí o fã fica se perguntando “Putz, se até o Dani, até os meninos que tinham a Reação em Cadeia com o Jonathan, tão numa boa, aceitaram, e viram que o Jonathan tá feliz com esse projeto novo, por que nós não?”. Então isso diminuiu muito já. Muita gente cobra uma volta e compara o Ego Kill Talent com a Reação em Cadeia, isso é natural, mas muitos, muitos fãs do Reação estão do nosso lado. E não é muito mais pesado que o Reação em Cadeia não, eu não acho, o Reação em Cadeia cantava em português, era mais acessível, talvez para o nosso país, tinham mais músicas acústicas, mais músicas populares tocando em rádio, mas eu não vejo muita diferença não.O show do Reação em Cadeia era bem pesado e o Jonathan, pode ter certeza, ele tá muito feliz, ele se encontrou. A voz dele nunca soou melhor, tá incrível. Ele tá muito feliz, isso que interessa, né? E a gente por estar com ele, que é um gênio e um vocalista absurdo. Tatiane: Sobre as mídias digitais, o Spotify e o YouTube têm sido importantes para a divulgação do trabalho de vocês? Niper: Sim, como eu tinha falado na outra resposta, Spotify, Youtube, Facebook e Twitter são os nossos principais meios de divulgação. E normalmente quando a gente divulga algo, sai tudo em tudo. A gente sempre tenta agregar um vídeo ao lançamento de áudio, que é uma das nossas estratégias pra chamar mais atenção possível e fixar a atenção do ouvinte.