ADOTAR
UM ATO DE COMPAIXÃO EMPREENDER
uma entrevista exclusiva com o empresário Thiago Rodrigues
SUPERAÇÃO
três irmãos que veem a vida de outra maneira
HAITIANOS
a história de quem busca um recomeço revista
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Av. Bar達o do Rio Branco 198 Apolo Center Segundo Piso
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O PROJETO
A revista Panorama foi criada com o objetivo de resgatar histórias de caçadorenses e narrar a cidade de um jeito que você ainda não viu. A busca por temas sensíveis e de grande relevância, aliada a profundidade e literalidade jornalística dão as matérias um toque especial. O objetivo da Panorama é, literalmente, tratar um mesmo tema sob todos os ângulos e trazer ao leitor informações que ampliam a sua visão sobre o assunto. Como publicação bimestral procura suprir as lacunas deixadas pelas publicações diárias e semanais e traz conteúdos amplamente pesquisados e textos envolventes que proporcionam uma leitura agradável e prazerosa a quem dispuser de algum momento do dia para aprender, se emocionar e se surpreender. Além das matérias, a publicação também dispõe de colunistas – especialistas em suas áreas – que escrevem sobre curiosidades e temas atuais relacionados à sua especialidade.
QUEM FAZ
O NOME
Panorama, ao pé da letra, significa vista ampla e abrangente sob todos os ângulos de coisas ou assuntos. Ou ainda, grande quadro circular, disposto de forma que o espectador, colocado no centro, veja os objetos como se estivesse no topo de uma montanha, dominando todo o horizonte em volta. É desta forma, que imaginamos o nosso leitor. Submerso em páginas que levam a ele todas as informações pertinentes a cada assunto. Não é Karoline Bertotto - Jornalista a toa que algumas pautas ocupam de cinco a dez páginas. A exemplo de revistas nacionais, como a Piauí, acreditamos que matérias com uma ou duas páginas não dariam o panorama necessário que envolve cada pauta. E é assim, como o nome, que queremos que a revista seja: um panorama de assuntos variados selecionados especialmente para o nosso leitor.
Caçador e região de um jeito que você ainda não viu
PÚBLICO ALVO
A Panorama traz assuntosMais com social e ler, humanista e procura darRio do Peixe vai fazer você rir, quefoco o simples ato de a primeira edição da Revista profundidade aos temas osaprender, abordando em seus diversos aspectos. A revista, chorar, se surpreender e, sobretudo, conhecer a história de vida de caçadorenses em sua maioria, traz textos jornalisticamente literários e – por trazer diversos que, talvez, serem pessoas para simples e comuns, nunca tiveram suas histórias estampadas ângulos de um mesmo tema- dispõepormais páginas uma mesma matéria nos folhetins e jornais locais. do que revistas convencionais. Portanto, seu público é, especialmente, admiram a empreendedor boa e Deficientes visuais, pessoas imigrantes que haitianos, um jovem da moda, crianças em velha leitura, e, mais do que isso, se propõem a tirar um momento para abrigos, pais na fila para adoção, atletas cadeirantes... apreciar as histórias. O que os difere da grande massa não é exatamente a situação em que se encontram, Leituras rápidas, em que os olhos correm pelas páginas, não funcionarão mas a ousadia, capacidade que têm em vencer com a Panorama. Porém, um de nossospersistência objetivose é exatamente cativar esteos obstáculos. Cada um à sua maneira, eles conquistaram o seu espaço e hoje merecem destaque, seja pela forma como público arredio e o formar leitor, fazê-lo se identificar com as histórias de pessoas da terrinha e criarresolveram nele o gosto apreço pela leitura encarareasodificuldades da vida, ou pormais teremelabenxergado nelas a possibilidade de orada. moldar seu próprio destino. A Revista Rio do Peixe tem como objetivo resgatar histórias de caçadorenses e narrar a CONTATO QUEM SOMOS cidade de um jeito que você ainda não viu. A busca por temas sensíveis e de grande relevânPara fazer a Panorama contamos com a colaboração de muitas pessoas. cia,que aliada a profundidade e literalidade jornalística dão as matérias um toque especial. Entre elas, nossos colunistas escrevem de forma voluntária e contribuem Comoabrangente publicação trimestral procura suprir as lacunas deixadas pelas publicações diárias para a publicação ser ainda mais e interessante. O setor comercial e financeiro, é oamplamente que movepesquisados a revista eeatextos faz envolventes que proporcioe semanaisque, e trazafinal, conteúdos existir é comandado pelo empresário Eduardo Bassegio. nam uma leitura agradávelAntonio e prazerosa a quem dispuser de algum momento do dia para Todo o design, diagramação e estilo gráfico da Panorama é realizado aprender, se emocionar e se surpreender. por Kevin Lemes. Kevin despertou o gosto pela criação ainda adolescente e das matérias, a publicação tambémedispõe de colunistas – especialistas em suas aprendeu de forma autodidataAlém a trabalhar com os programas ferramentas áreascomo é o caso da médica veterinária, Paula Lichtenberg, e da nutricionista Keila Pada área. A produção das matérias e aque edição finalsobre ficacuriosidades por contaeda jornalista Karloschi, escrevem temas atuais relacionados à sua especialidade. oline Bertotto.Karol é formadaNós, emdaJornalismo pelo Centro Universitário de Revista Rio do Peixe, acreditamos em um novo estilo de jornalismo de revista União da Vitória (Uniuv) e trabalha em meios de comunicação desde os 17 para a região e aproveitamos este espaço para agradecer a todos aqueles que também acreanos. Não satisfeita com o jornalismo atual realizado pelos jornais e sites ditaram ede colaboraram para quenovo o projeto pudesse se que tornarela realidade. de notícia se aventurou e entrou cabeça neste projeto, em Desejamos a todos uma excelente leitura! utiliza como método o jornalismo narrativo e pode extravasar a criatividade e vontade de usar o jornalismo como uma ferramenta da sociedade e uma possibilidade de romper as barreiras entre um mundo ainda muito desumano e desigual. revista
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SUMÁRIO
REDAÇÃO Karoline Bertotto CRIAÇÃO / DIAGRAMAÇÃO Artur Mendes de Oliveira DESIGN / PUBLICIDADE / ANÚNCIOS Artur Mendes de Oliveira
• 10 - BRASIL: A segunda mãe dos filhos do Haiti • 18 - EMPREENDER: Planejamento, visão e persistência • 24 - ADOTAR: Um ato de amor ao próximo • 34 - Reino Animalia • 36 - Limitação X Superação • 42 - Nutrindo ideias
DEPARTAMENTO COMERCIAL Thiago Cavalett Helton Ferreira FOTOGRAFIA Karoline Bertotto Oliveira Fotografias Jaqueline Padilha Morgana Prebianca
Todas as matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores. A opinião das pessoas que publicam nessa revista, não refletem necessáriamente a opinião da revista. Todas as publicidades são de inteira responsabilidade de seus anunciantes
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• 06 - TRÊS IRMÃOS que veem a vida de outra maneira
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açadorenses com orgulho, Iolanda, Juceli e Josoel afirmam que são bisnetos de Francisco Correa de Mello, fundador e primeiro morador de Caça-
dor.
POR KAROLINE BERTOTTO FOTOGRAFIA KAROLINE BERTOTTO
Cegos de nascença, os irmãos não sabem ao certo porque nasceram assim. “As informações são muito contraditórias, alguns dizem que isso aconteceu porque nossos pais eram primos, outros afirmam que isso não tem nada a ver”, conta Juceli do Nascimento, a caçula dos três. Iolanda é a mais velha e está com 70 anos. Os outros dois irmãos, Josoel de 62 anos e Juceli de 52, afirmam que a irmã não foi apenas irmã, mas assumiu, junto da mãe, o papel de matriarca. A cegueira dos filhos aconteceu de maneira intercalada. Iolanda, Josoel e Juceli têm mais quatro irmãos, todos eles enxergam. Os três irmãos cegos tiveram atrofia no nervo ótico, problema, provavelmente, ocorrido
SUPERAÇÃO Três irmãos que veem a vida de outra maneira. No lugar da visão, a perseverança e alegria de viver
durante a gestação. Os pais procuraram ajuda em todos os médicos, curandeiros e macumbeiros existentes, até que um dia, na cidade de Curitiba (PR), um médico alertou que a patologia dos irmãos não tinha cura, caso eles não fossem cegos, teriam problemas mentais. O médico orientou, porém, que se eles fossem educados, poderiam dar mais alegrias aos pais, do que se enxergassem. Dessa maneira, ainda crianças, eles foram mandados a Porto Alegre. Os pais passaram a acreditar que com estudo, as coisas seriam menos complicadas aos filhos. “Com certeza, se não tivéssemos ido, não seríamos tão independentes”, revela Iolanda. Os irmãos frequentaram o Instituto Santa Luzia, um internato direcionado à educação de cegos. Lá, conforme contam, além de aprenderem a ler e escrever em braile, também aprenderam música, costura e outras técnicas. “Nos deram educação de 1° mundo”,
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R E P O R TA G E M afirma Iolanda sobre o Instituto. Josoel foi o único que não concluiu os estudos. “Sempre fui meio preguiçoso”, brinca ele, que seguiu a carreira de músico. “Atravessava do bairro ao centro carregando o meu acordeom”, lembra. Josoel trabalhou anos como músico de rua em Porto Alegre. “Vivi um tempo de música e conseguia me manter, lá o pessoal nos considera artistas de rua, aqui já falam que estamos pedindo esmola”, relata. Aprendeu a dedilhar o instrumento sozinho. Aos quatro anos já tocava gaitinha de boca. Enquanto isso, as irmãs Iolanda e Juceli passaram por diversas carreiras. Telefonista, massoterapeuta, vendedora. Sempre juntas, elas se viravam como podiam. Josoel casou-se e foi morar com a esposa. Em 2002, Iolanda retornou a Caçador. “Já tinha me aposentado, e a vida tornou-se muito violenta lá”, conta. Também aposentada, em 2005 Juceli voltou a Caçador para morar com a irmã. No ano seguinte, Josoel ficou viúvo e não pensou duas vezes antes de retornar. “Aqui é um paraíso”, revela comparando a segurança de Caçador com a capital gaúcha.
AMOR VIRA-LATA Os irmãos contam que já foram bastante enganados por estarem na condição de cegos. “Temos que ter cuidado da pessoa que se aproxima porque ela sempre quer tirar algum partido”, afirma Juceli. Além dos irmãos, uma cadela sem raça definida, de oito anos, é o xodó dos três. “A Mel não é uma guia, mas se fosse treinada para isso, com certeza seria excelente”, afirma Josoel. A inteligência de Mel, de acordo com ele, só não é adestrada. “Quando atravessamos a rua, ela quer andar ligeiro, então temos de segurá-la”, comenta rindo. Mel é uma típica vira-lata. Quando nos aproximamos da casa, ela cumpriu com o seu papel e fez questão de farejar todas as visitas para se certificar de que não havia perigo aos donos. “Ela sabe que não enxergamos e quando estamos passando ela sai da frente”, conta Juceli. “Quando voltei de Porto Alegre, abalado com a morte de minha esposa, a Mel ficou do meu lado lambendo as minhas lágrimas”, afirma Josoel. Às 17h, horário em que inicia a missa na TV Aparecida, é Mel quem arrebanha todos para a sala para ouvirem o programa. “É
uma pena que não pudemos adestrá-la, ela é vira-lata, mas tem uma capacidade acima da média”, ressalta Juceli. O carinho que sentem por Mel ultrapassa o simples gostar. Mel é a companheira dos irmãos. “Ela dá alegria e sentido às nossas vidas. Eu não desacredito no amor humano, mas acredito mais quando ele é universal”, comenta Juceli sobre o significado que Mel tem em sua vida. Os irmãos sonham com um mundo melhor, com mais acessibilidade para todos. Sobre sonhos, aliás, os três têm muitos. “Eu tenho muita vontade de ver o por do sol, é simples, mas é impossível para mim”, comenta Juceli. “Já eu gostaria de ser motorista, mas aí os postes teriam que ser de borracha”, ri Josoel. Iolanda conta que sempre quis ser enfermeira. Sonhos a parte, os irmãos asseguram: “Somos felizes, nos aceitamos e a nossa união e convívio é saudável”. O entrosamento e felicidade dos três são visíveis e passam a sensação de lição, por todas as vezes que não nos contentamos com a vida e tudo o que ela nos oferece.
Mel e os três irmãos são inseparáveis revista
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BRASIL
A SEGUNDA Mテウ DOS FILHOS DO HAITI
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ra quase cinco horas da tarde na capital haitiana de Porto Príncipe, quando a jovem falante, de trancinhas no cabelo, sentiu o prédio em que morava se movimentar. Ela e os irmãos saíram rapidamente à procura da saída. Poucos segundos depois, o edifício de sete andares veio inteiramente abaixo. Outra irmã, porém, que estava no banho no momento em que a terra se movimentou, não conseguiu sair. A terra continuava a contorcer-se furiosamente. “Tenho vontade de chorar quando lembro. Eu queria entrar nos escombros e ajudar ela a sair de lá, porém eu sentia muito medo”, revela a haitiana Mirlande Dasmar, hoje com 24 anos. “Não era o seu dia”, afirma em um português um tanto embaralhado. De acordo com ela, um vizinho, que estava no local, viu sua irmã no meio das ruínas e a retirou do lugar por um estreito buraco, puxando-a pela mão. “Ela havia perdido toda a roupa, estava apenas de calcinha”, lembra Mirlande. Quando aquele 12 de janeiro passou, todos os sobreviventes haitianos foram orientados a deixarem suas casas. “Tínhamos muito medo de permanecer lá e também nem tínhamos onde dormir, pois tudo estava destruído”, revela. Assim como dezenas de outras famílias, a de Mirlande ficou abrigada em um alojamento da capital. “Um amigo meu deu à minha irmã um casaco”, conta. Em menor escala, mas insistentemente, os tremores continuaram ainda por alguns dias. “Esse fenômeno me traumatizou, tenho crises apenas por lembrar”, desabafa. O país, que já sofria com a pobreza e falta de perspectivas, agora se transformara em um verdadeiro campo de guerra, em que todos os combatentes (moradores) encontravam-se nas ruas, e por ali mesmo dormiam, se alimentavam e esperavam a ajuda de países estrangeiros. O Haiti, país mais pobre do continente, tornava-se o cenário de um assustador desastre natural. Um terremoto, com intensidade de 7 graus na escala Richter acabava com o pouco e o muito que aquelas pessoas haviam construído durante toda uma vida.
A ESPERANÇA DE UM NOVO AMANHÃ Quatro anos depois do terremoto que sacudiu o pequeno país do caribe e matou milhares de pessoas, a vida no Haiti não dava sinal de melhorar. “Em fevereiro de 2014 eu deixei o meu país”, afirma Mirlande. Assim como ela, Wisguer Jean, Stanley Baptiste, Gina Moïse, revista
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R E P O R TA G E M Augustin Beaucical e tantos outros haitianos viram no Brasil a possibilidade de um futuro melhor. “Viemos para trabalhar, no Haiti não tem trabalho”, resume Baptiste sobre o motivo que levou a maioria deles a se aventurarem em terras tupiniquins. O Brasil, assim como muitos outros países, se disponibilizou a auxiliar a população haitiana a se reconstituir. Um acordo realizado entre a presidente Dilma Roussef e o presidente Michel Martelly para deter a imigração ilegal garantiu aos haitianos a possibilidade de emprego e vida digna no país.
NO CAMINHO, NEM TUDO ERAM FLORES Quatro mil dólares americanos era o preço a ser pago por uma viagem que prometia lhes trazer de volta a dignidade. “Morei por treze anos na República Dominicana e por oito anos trabalhei em uma fábrica de roupas. Em 2013, fiquei sabendo que muitos haitianos vinham para o Brasil, pois aqui havia mais empregos e oportunidades. Quando saí da empresa em que trabalhava, recebi 74 mil pesos – cerca de sete mil reais- e usei este dinheiro para vir para cá”, explica Augustin Beaucical, justificando como a maioria dos haitianos conseguiu o dinheiro para as passagens e demais despesas: com o suor do próprio trabalho. São aproximadamente 24 horas de avião. Eles embarcam na República Dominicana, país vizinho do Haiti, seguem até o Panamá, passam pela Colômbia, Equador e Peru. De lá, seguem mais cinco dias - de ônibus- até o estado do Acre, no Brasil, onde solicitam refúgio à Polícia Federal e permanecem em abrigos até se ajeitarem em outras cidades brasileiras. Em filas quilométricas na cidade de Brasiléia, eles esperam o alimento do dia, que é fornecido pelo governo brasileiro. O alojamento onde ficam não tem paredes e a única proteção que oferece aos refugiados é uma lona, que faz o papel do telhado. Também usado por centenas de pessoas é o banheiro, sempre muito sujo e com mau-cheiro. A falta de higiene no local é a principal lembrança dos haitianos que hoje vivem em Caçador. “Os colchões, os banheiros, tudo era muito sujo. A
sujeira era tanta que nos deixava doentes. Quando eu estava no abrigo peguei gripe, febre e outras infecções”, lembra Mirlande. “Era um lugar para ficar animais”, comenta Wisguer, tímido com a definição certeira que havia encontrado. Apesar de toda a precariedade e desumanidade oferecida pela cidade acreana, a luz no fim do túnel parece vir acompanhada das diversas companhias brasileiras, ou melhor, de seus representantes, que cruzam o Brasil e desembarcam no Acre à procura de imigrantes para empregar. Uma delas, a Corfio Fios e Cabos Elétricos, que tem sua matriz em Caçador, acolheu cerca de 50 haitianos. “Eles são muito dedicados e competentes no trabalho que desempenham. Isso não significa que os demais funcionários não sejam, mas eles aceitam vagas, que não conseguimos fechar com pessoas daqui”, comenta Leatrice Tesser, gerente de Recursos Humanos da empresa. Conforme explica, assim como todos os empregados, após contratados, os imigrantes passam por treinamento e ficam três meses em experiência para então serem registrados, de acordo com as leis brasileiras. “A empresa está satisfeita com o trabalho prestado pelos haitianos, todos são muito educados e, principalmente, comprometidos com o emprego”, destaca. Uma das maiores e mais unânimes frustrações dos imigrantes caribenhos parece ser a falta de horas extras, ou melhor, a impossibilidade de cumprirem horários em mais de uma empresa. Barrados por leis trabalhistas, os haitianos reclamam que o salário é pequeno e há muitas despesas a serem pagas. “Esse tempo que eu não trabalho, o que vou ficar fazendo? Dormir, passear, fazer limpeza?”, questiona Mirlande, com tom de revolta. “Os haitianos gostam de trabalhar muito, entende? Se eu vim aqui para trabalhar, então é isso que tenho que fazer”, acrescenta. Augustin, que tem duas filhas e esposa para sustentar no Haiti acrescenta. “Nós gostamos quando tem hora extra, mas isso depende do dia, quando tem serviço, tem hora extra”. A sede por trabalhar mais e, proporcionalmente, ganhar melhor, é típica da necessidade que têm em, além de se
sustentarem, mandarem dinheiro para os familiares que ficaram no Haiti.
DO OUTRO LADO DO OCEANO Há quase 15 milhas de distância está Blues. O menino de seis anos é filho de Mirlande e mora no Haiti com a avó paterna. Mirlande não o vê há mais de um ano. “Sinto muitas saudades, todo dia, a cada segundo”. Esse é mais um caso em que a razão precisou estar à frente da emoção. Mirlande, o marido e a cunhada moram juntos no bairro Martello, em Caçador. Os três vieram ao Brasil para trabalhar e mandam dinheiro mensalmente aos filhos e familiares que ainda estão no Haiti. “Preciso pagar a escola do Blues e lá no Haiti as escolas são muito caras. Para mandar
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R E P O R TA G E M dinheiro a ele, preciso comprar dólar americano”, explica. O haitiano Augustin é um dos imigrantes que mais se comunica em português, devido aos treze anos em que morou na Republica Dominicana e aprendeu o espanhol. Para ele, a situação é ainda mais complicada. “Tenho duas filhas e esposa no Haiti. O aluguel da minha casa lá são três mil pesos e as escolas das filhas mil pesos, o que dá 100 reais”. Conforme a professora Silvana Baldissareli, que conviveu com os imigrantes há quase um ano, é difícil o haitiano que não manda dinheiro. “Se não manda para os pais, manda pro filho”. A vontade que eles têm é de trazerem os familiares para cá, porém, eles não têm o visto permanente para irem e virem. Os familiares poderiam vir clandestinos, mas aí teriam de desembolsar mais quatro mil dólares, dependendo da agência. Wisguer também sente saudades. Ele tem uma filha de quatro anos. O haitiano era um dos alunos mais dedicados e menos faltosos do projeto da Cáritas. Ele estuda e deseja que aprendendo português consiga melhores oportunidades no Brasil. Wisguer mora em uma casa com outros oito haitianos. Aqui no Brasil, todos eles dividem moradia. Chegam a viver em mais de dez em pequenas casas. Dessa forma, o aluguel não pesa tanto nas despesas a pagar no final do mês.
PROJETO SOCIAL OFERECE AULAS DE PORTUGUÊS A IMIGRANTES HAITIANOS Não existem pesquisas específicas, mas por meio dos cadastros feito pela Cáritas Diocesana é possível afirmar que há em Caçador mais de cem haitianos. Foi pela presença massiva de imigrantes na cidade, e também pelo trabalho já desenvolvido com imigrantes pela rede internacio-
“FOI A MELHOR EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL QUE JÁ VIVI”
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nal, que a Cáritas Diocesana de Caçador organizou um projeto visando auxiliar essas pessoas. “Outro motivo, que nos fez refletir sobre essa questão, foi o tema da campanha da fraternidade de 2014, que falava sobre tráfico humano, trabalho escravo. Tudo isso foi se juntando a necessidade de termos um trabalho mais efetivo com eles”, comentou a secretária da Cáritas Diocesana de Caçador, Estela Maia. Conforme Estela, a necessidade de efetivar o projeto casou com a presença de professoras aposentadas, voluntárias da Cáritas, que queriam ajudar a desenvolver o trabalho. Com a ajuda de Nosilien Tenesier, haitiano que está há quase dois anos em Caçador, foi realizado o cadastro de cerca de 60 imigrantes haitianos. “Em maio, iniciamos as aulas de português, que era uma das primeiras necessidades deles. Posteriormente, nós percebemos que, enquanto entidade de Assistência Social, poderíamos fazer mais por eles e foi então que a gente criou um projeto que envolve encontros de cultura entre haitianos e brasileiros. Além disso, outra coisa que eles têm muita dificuldade é com relação à documentação, procurar visto, residência.
E nós entramos em contato com a Polícia Federal para ver o que é possível fazer para ajudá-los. Nós também não sabíamos como agir e tivemos de buscar essas informações para suprir essa necessidade deles”, afirmou. De acordo com Estela, há também uma mobilização para que os imigrantes sejam cadastrados no Cáritas Solidariedade. Cadastrados no programa, eles recebem auxílio com alimentação, vestimentas, móveis e outros itens. O projeto “Eu era estrangeiro e me acolheste” é desenvolvido pela Cáritas e apoiado pelo Fundo Nacional de Solidariedade. Para este ano, o objetivo do projeto é formalizar o trabalho e fazer com que a Cáritas se torne referência para os haitianos que chegam à cidade. As aulas de português, encontros culturais e orientações são inteiramente gratuitas. Para a professora contratada, Silvana Baldissarelli, ensinar português aos haitianos soou em um primeiro momento algo difícil e um tanto assustador. “No princípio eu tinha receio, pois não falo inglês, não falo francês, não falo libras (risos), pensava em como eu iria me comunicar com eles”, relembra.
Mas, toda vez em que encontrava um grupo de imigrantes rindo e conversando pela rua era consumida pela curiosidade de estar com eles. “Até o dia em que a Estela me ligou convidando, eu nem titubeei. Pensei que seria uma experiência diferente, mas resolvi encarar. Em termos de experiência profissional foi a melhor que eu já vivi”, admite. A professora conta que esperava ansiosa pela sexta-feira para trabalhar com eles. “É muito gratificante e não é difícil, a gente só tem que ter um pouco de paciência para ouvir, eles falam devagar, ainda tem dificuldade”. Silvana afirma que sua concepção sobre os imigrantes mudou totalmente. “Muitas pessoas pensam que por serem haitianos e virem de um país pobre são ignorantes. É totalmente o contrário, eles sabem tocar instrumentos, sabem inglês, francês, espanhol. Às vezes, a gente os classifica como coitadinhos e não é bem assim”, adverte. A paixão deles, a professora revela: “Conjugar verbos! Se eu passasse a aula todinha conjugando verbos, eles estariam no paraíso. Eles trazem uma listinha dos verbos que querem conjugar no dia. Eles são muito dedicados. Anotam tudo, todas as palavras”, conta.
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INFORME PUBLICITÁRIO
CAÇADOR 81 ANOS SEGMENTOS RELIGIOSOS SÃO HOMENAGEADOS PELO LEGISLATIVO
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mbalada pela Orquestra Júbilo Celeste e pelo coral Melodias do Rei, a noite do dia 18 de março foi marcada pelo encontro de diversos segmentos religiosos, que participaram ativamente da construção e crescimento de Caçador. Desde a década de 1930, quando Caçador desmembrava-se de Campos Novos para tornar-se município, algumas instituições religiosas como as Igrejas Luterana e Metodista já formavam os seus pequenos rebanhos de pessoas, que movidas pela fé ajudaram a construir a nova cidade. Em 1947, surgia a Igreja da Assembleia de Deus, que realizou o seu primeiro culto em uma residência na rua Luiz Tortatto. Neste mesmo ano, a Igreja Adventista do Sétimo Dia chegou em Caçador por meio dos irmãos Carpes. O primeiro grupo, dirigido por eles, reunia-se em cultos de adoração e louvor, estudo da Palavra de Deus e confraternizações na casa de Pedro Porto, outro adventista pioneiro da região. Já na década de 1960, as Igrejas Batista e Quadrangular organizavam-se com seus fieis em grupos de oração, orientação familiar e campanhas sociais. Apesar da primeira igreja católica no município ter sido a Paróquia São Francisco de Assis, criada em 1º de janeiro de 1934, foi apenas no final da década de 1960, mais precisamente, a partir de 1969, com a criação da Diocese de Caçador, que a Catedral São Francisco de Assis, passou ser a Igreja mãe da Diocese, formada pelas paróquias Nossa Senhora Rainha e Cristo Redentor. Mais recentemente, em 1988 instalou-se em Caçador a Igreja Universal do Reino de Deus,
que, atualmente, conta duas igrejas e mais de 400 fieis. Todas estas denominações religiosas participaram da homenagem e receberam mensagem de reconhecimento pelos anos de dedicação à fé e aos caçadorenses. “Certamente este momento fará parte da história de Caçador, quando as sociedades políticas, religiosa e civil se unem para homenagear o município pelo seu aniversário”, afirmou a vereadora Cleony Figur, representando o legislativo. O presidente da Câmara Municipal, Flávio Henrique dos Santos, aproveitou a oportunidade para agradecer todas as igrejas pela forma como ajudam a engrandecer e melhorar Caçador. “Cremos que todas ainda têm muito a oferecer para nossa sociedade”, disse. Já o Bispo Dom Severino Clasen, que discursou em nome dos representantes religiosos, afirmou que a fé deve ser o fio condutor do município. “Não é possível imaginar a história de Caçador sem a fé. Se pegarmos a suma das virtudes e belezas de cada religião nós teremos a perfeita sociedade em Caçador. Se Caçador hoje tem 81 anos e é prospera é porque temos a colaboração das religiões no desenvolvimento do nosso município”, afirmou.
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PLANEJAMENTO, VISÃO E PERSISTÊNCIA Três palavras que fazem a diferença no mundo dos negócios
O espaço ‘Empreender, da Revista Rio do Peixe, foi criado com o objetivo de dedicar algumas páginas de cada edição para contar um pouco da história profissional e de vida de pessoas que obtiveram destaque em Caçador e região. Seja por meio do empreendedorismo, carreira profissional, por uma ação social, ambiental ou mesmo pela forma ousada como resolveram encarar a vida e mostrar para o mundo que nasceram para vencer. As suas histórias estampam o ‘Empreender’, dão exemplo e estimulam outras pessoas a sonharem e irem à luta! O primeira empreendedor a ocupar este espaço da Panorama é o empresário, administrador e consultor de moda, Thiago Rodrigues. Thiago é proprietário da loja Thiago Modas e presta serviços de consultoria e marketing na área já há três anos. O caçadorense de 26 anos revela que se identificou com o ramo ainda quando era funcionário de uma loja de confecções, dez anos atrás. Qual foi o seu primeiro emprego? Thiago: Trabalhei em uma loja de confecção por sete anos. Era uma loja de fora aqui na cidade. Nesta época, eu comecei a minha faculdade de Administração. Me identifiquei muito com o ramo, apesar de que em 2005 não entendia praticamente nada . Mas, sempre fui atrás do conhecimento. Fiz o meu projeto de conclusão de curso sobre marketing de moda para a loja que eu trabalhava. Não tinha nem um livro na faculdade sobre o assunto. Então, eu fui para São Paulo, fui estudar lá também, fiz alguns cursinhos. Porque escolheu o ramo da moda? Thiago: Eu até trabalhei durante seis meses na empresa do meu pai no setor administrativo, no ramo industrial, mas escolhi o ramo da moda por identificação. Lembro-me do primeiro dia da faculdade (de Administração), eu não entendia nada, porém me identifiquei bastante com as feiras em que participei. Participei das feiras em Gramado (RS) e São Paulo (SP) para saber das tendências e me identifiquei muito. Decidi aliar a faculdade de Adminis-
tração com o ramo da moda, principalmente, pela questão do marketing. A partir de que momento decidiu ter seu próprio negócio? Thiago: A loja em que eu trabalhava acabou fechando, indo embora, e eu resolvi abrir o meu próprio negócio. Foi próximo ao fim da faculdade, em 2011. O projeto que desenvolvi para a conclusão de curso estimulou o meu espírito empreendedor. Já faz três anos. É bastante desafiador, mas eu já tinha o feeling e já estava batalhando na área. Qual importância o curso superior teve em sua carreira/empreendimento? Quando eu não tinha curso superior, pensava que tudo era fácil, que era só o glamour da moda, como muita gente pensa. A gente faz desfiles, ensaios de moda com os clientes e todo
“Planejamento estratégico é fundamental”
mundo quer participar, é uma correria. O que todo mundo olha muito é a cobertura do bolo. Mas quando você conclui o curso superior e tem o seu próprio negócio, você vê camada por camada e percebe que o glamour é só um enfeite. O curso me auxiliou muito, principalmente, na área de marketing e finanças. Aproveitando que você comentou sobre as camadas por trás da cobertura do bolo, qual a maior dificuldade em se manter em alta no mercado? A maior dificuldade é se manter em uma cidade pequena, onde a maior parte do público não compõe o meu público, digamos assim. Fidelizar o cliente e formar o teu público. Você não pode abranger todos, infelizmente. Aqui na cidade você não pode vender um produto tão caro, mas a minha loja também não tem peças tão populares. O maior desafio é manter fidelizado esse tipo de cliente. E lógico, sempre atendê-los para que não se dispersem.
Qual a principal dica que você daria para alguém que pretende ter seu próprio negócio? Planejamento. Planejamento estratégico é fundamental. A maioria das pessoas fazem empréstimos e ficam ansiosas por estarem abrindo o próprio negócio, e pensam que é tudo fácil. Naquele primeiro ano que você fez todos os investimentos e todos os empréstimos, você precisa lembrar que vai ter impostos, funcionários, mercadorias, estoque, marketing, para pagar, então, planejamento é tudo! É ter uma visão holística e fazer um planejamento de tudo o que você vai gastar, principalmente, no primeiro ano, que é o mais difícil. Além disso, não desistir nas primeiras dificuldades. Ter um bom relacionamento e respeito com os concorrentes, manter uma boa relação para que haja troca de ideias e experiências. Como ter sucesso no ramo escolhido? É uma batalha diária. Não se pode desistir. No ramo da moda, cada estação é um desafio. Nós nunca sabemos se vai dar frio ou calor suficiente para as pessoas irem às compras. Mas o importante é se planejar e manter o foco. Quais são seus objetivos e ambições futuras? A gente pretende manter nosso público. E sempre estar inovando e buscando as últimas tendências para colocar em primeira mão para a cidade nos próximos anos. As pessoas se iludem em pensar que algumas lojas não são acessíveis, há essa ilusão. Esse também é um dos nossos desafios. Muitas pessoas pensam que por causa da organização, decoração, layout interno e externo, marketing visual, não tem condições de comprar, mas depois percebem que os preços e as condições são bacanas. Fazemos um trabalho gigantesco de marketing digital nas redes sociais. Mais de 50% das nossas vendas são feitas pela internet. Postamos diariamente e convidamos os clientes a participarem desse processo. Assim, criamos uma relação não apenas comercial com nossos clientes, mas também de confiança por estar trabalhando junto. Não queremos nos fechar, mas sempre estar com a mente aberta para todo tipo de ideia.
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INFORME PUBLICITÁRIO
FIGHT CAMP é a novidade do momento
A nova modalidade é exclusiva do Centro de Treinamento e Kombate (CTKO) de Caçador
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Fight Camp é a sensação do momento no Centro de Treinamento e Kombate (CTKO), em Caçador. A modalidade, exclusiva da CTKO e direcionada para mulheres, mescla artes marciais e treinamento militar. “Qualquer pessoa pode fazer. As aulas iniciam conforme o nível do aluno e vão de acordo com a necessidade de treino de cada um”, explica o professor e sócio proprietário da CTKO, Michel Cavalett. Michel salienta que a modalidade pode ser praticada por mulheres de todas
as idades, de crianças a idosas. Assim como as patentes do exército, na Fight Camp, as praticantes iniciam a graduação como recrutas e a cada três meses, passam por uma avaliação prática para poderem subir de nível. Conforme a evolução, dentro da modalidade o aluno torna-se soldado, cabo, tenente e assim por diante. Também baseado no uniforme militar são as vestes camufladas das atletas. Nos treinos, um misto de golpes de luta, com saltos, rastejo e movimentos de circuitos militares são desempenhados pelas alunas. Vale ressaltar que Fight Camp não é igual ao circuito funcional.
Na Fight Camp, os treinos são realizados dentro e fora da academia. Externamente, eles acontecem no gramado do pátio da CTKO. BENEFÍCIOS Além da perda de peso, principal objetivo das participantes, as aulas de Fight Camp também auxiliam no alongamento, condicionamento físico, melhora do estresse e da qualidade do sono. “É uma aula bem completa, em que você descarrega a pressão que teve durante o dia. Somos uma equipe muito unida, que se ajuda e ajuda na socializa-
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ção das pessoas”, afirma o professor. De acordo com ele, atualmente a CTKO conta com um time de cinco professores qualificados para esse tipo de treinamento. OUTRAS MODALIDADES
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Além da Fight Camp, a CTKO mantem aulas em outras cinco modalidades que contam com turmas de todas as idades. Na Kids, de 4 a 11 anos, são disponibilizadas as modalidades de Judô, Taekwondo, MMA e Muay Thai. Todas estas modalidades, incluindo o Boxe e o Jiu Jitsu, também estão disponíveis para a categoria adulto. O Centro de Treinamento e Kombate é credenciado pela Nova União, equipe dos renomados lutadores do UFC, José Aldo e Renan Barão. O CTKO é a única academia da região que possui ringue. Além disso, os alunos ainda contam com dois tatames, todos os equipamentos necessários, amplo vestiário e estacionamento privado.
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POR KAROLINE BERTOTTO FOTOGRAFIA KAROLINE BERTOTTO e JAQUELINE PADILHA
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Os meninos e meninas da Casa Lar são iguais a todos os meninos e meninas que possuem um lar. Eles estudam em um período e no contraturno participam de diversas oficinas realizadas nos projetos da Aceias.
TRÊS
crianças semivestidas permaneciam ao lado de fora de uma casa velha e pequena. Uma delas, mais próxima da rua, brincava com um vira-lata. As outras duas estavam sentadas com a panela do cachorro e disputavam entre elas para comer as sobras dos ossos. Fazia frio, o vento era gélido, típico de uma manhã do inverno caçadorense. Só de bermudas e descalças, as crianças permaneciam ao lado de fora da casa, como se aguardassem a vinda de alguém. Naquela manhã gelada, a psicóloga Ecilda Maria Padilha acompanhou a Assistente Social da creche que as crianças frequentavam em uma visita a casa desta família, pois as crianças estavam muito faltosas. “Aquela cena me marcou muito, acho que nunca sairá da minha cabeça. A gente toda agasalhada e eles ali, só de bermudinha, pé descalço, tremendo de frio”, relembra Ecilda. Da casa, as lembranças também marcaram. “Tinha roupas podres jogadas pelo chão, comida podre, embolorada”. À noite, o frio voltou e as lembranças também. “Eu em casa, com várias cobertas, pensava: ‘Meu deus, aquelas crianças estão lá, passando frio!’ A vontade que eu
tinha era de sair dali pegar uma coberta e levar lá para eles”. Na manhã seguinte, percebeu que não era a única que não havia dormido. “O motorista que nos acompanhou também não tinha conseguido dormir pensando na mesma cena, em como estavam aquelas crianças. Eles viviam da forma deles, com falta de tudo, não era só falta da obrigação da mãe em mandá-los para aula, mas faltava tudo ali”, constatou a psicóloga. A partir daquela visita, os acompanhamentos àquela família se intensificaram. A família passou a ser acompanhada pela Rede de Atenção e Proteção à Criança e ao Adolescente, em que diversos
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C A PA órgãos, entre eles: Cras, Creas e Caps se organizam em prol da restituição daquela família. Apesar de todo o apoio, a família não conseguiu manter as orientações dos programas sociais. O pai das crianças tinha problemas com drogas e álcool, a mãe era negligente. Desta forma, o Conselho Tutelar interviu excepcionalmente e encaminhou os seis irmãos à Associação Caçadorense de Educação Infantil e Assistência Social (Aceias). “Eles chegaram em sete, porém o menino mais velho fugiu, pois tinha medo. A família e as pessoas falavam que a Casa Lar era um lugar ruim, em que batiam nas crianças, deixavam no escuro, era como um castigo, aí ele fugiu do Conselho e voltou para casa”, conta a assistente social e diretora da Aceias, Janete Rodrigues.
A ACOLHIDA Era 2005. O grupo de irmãos chegava à Aceias e, como de praxe, todos os profissionais da instituição, preparavam-se para acolhê-los. “Para a criança é um momento muito difícil, por mais que a família não tenha correspondido. Durante os primeiros momentos no abrigo, eles ficam inseguros, com sentimento de culpa, castigo, muitos se perguntam: “O que eu fiz de errado?”. Eles não entendem que são as vítimas”, explica Ecilda, psicóloga da Aceias. Para que eles entendam o que os levou ao acolhimento, a psicóloga faz o atendimento individual de cada criança. “Realizamos trabalho em grupo e familiar, orientação para entender toda a sua história de vida”. Assim que a criança ou adolescente chega ao serviço de acolhimento, a equipe técnica, em conjunto com as pessoas envolvidas no trabalho (educadoras, profissionais de outros programas em atendimento à família) iniciam a elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA), documento previsto na Lei 12.010. O Plano de Atendimento tem como objetivo orientar o trabalho de intervenção durante o período de acolhimento, visando à superação das situações que levaram ao acolhimento. De acordo com a proposta pedagógica da Aceias, o acolhimento é medida temporária, uma vez que a permanência prolongada leva a consequências danosas
para a criança, a família e a sociedade, como também fere o que prevê o Estatuto da criança e do Adolescente no que se refere a que “Toda criança e adolescente tem direito a Convivência familiar e comunitária”.
LUTA PELA FAMÍLIA Enquanto os menores permanecem acolhidos no abrigo, inicia- se uma verdadeira batalha em busca de restituir os vínculos de afeto da família. São dezenas de profissionais envolvidos para que as crianças e adolescentes possam retornar à família de origem e viver com dignidade. As causas da destituição familiar são problemas sociais, quando a criança tem que ser retirada da sua família biológica, por razão de alcoolismo, abandono, negligência e situações mais graves, como abuso sexual. De acordo com o Promotor de Justiça, Glauco Rifflel, as denúncias chegam por diversos órgãos ou mesmo pelas partes. “Quase sempre é o Conselho Tutelar que vai intervir pela família, quando tem alguma situação de risco. A destituição do poder familiar é extrema, o certo é intervir junto à família, orientar os pais. Mas, se mesmo com todas as orientações a família não progride, aí a criança merece uma família que lhe dê dignidade”. O Juíz de Direito da 1° vara cível da Comarca de Caçador, André Milani, também é uma destas pessoas que luta e acredita na restituição das famílias. “Muitas pessoas confundem essa destituição do poder familiar como algo certeiro, que vai ser uma sentença lá no final. Os números da Comarca indicam que tivemos casos interessantíssimos de reaproximação, e ela só é deflagrada quando órgãos como o Cras, Creas, Conselho Tutelar e toda uma rede se reúne para ajudar essa família, que não consegue se reestruturar por conta própria”. De acordo com ele, que cumula a responsabilidade de estudar e julgar todos os casos da área da Infância e Adolescência da Comarca de Caçador, o processo de destituição, em sua essência, é um ato contra a vontade do pai e da mãe. “A destituição familiar é o último ato, a última razão de um processo. Ela retira juridicamente o afeto e a maternidade dessa criança, e para chegar lá, no fim do processo, tanto o pai ou mãe sempre tem a ampla defesa, e o que é mais importante, várias oportunidades para que
a família seja orientada e reestruturada”, explica. São laudos técnicos, documentos, e centenas de páginas de estudos e avaliações, tanto dos pais, quanto dos filhos, que ajudam nessa decisão. “Toda a equipe técnica, todos os profissionais atuam para que sejam considerados vários fatores. Para se chegar a destituição é um longo caminho, é o último!”, enfatiza Milani. A amplitude para decidir se uma criança é destituída ou não do poder familiar ultrapassa expectativas e prazos. “A legislação nos dá um prazo ínfimo de que do início ao fim do processo deve-se transcorrer no máximo 120 dias. Porém, a equipe técnica não consegue trabalhar nesse prazo, pois se dá prioridade ao restabelecimento dos vínculos e é humanamente impossível restituir totalmente uma família nesse período. Por isso demora-se, na maioria das vezes, muito mais que esses 120 dias”, admite o Juíz.
APTOS PARA A ADOÇÃO A família de seis irmãos que chegou ao abrigo ainda em 2005, recebeu - no ano seguinte - após diversas tentativas de restituição, a confirmação da destituição do poder familiar. Agora, eles estavam à espera de uma família ou de alguém, que lhes dessem cuidados e, principalmente, amor. A rotina dos irmãos na Aceias, assim como de todas as crianças que já estiveram lá, segue algumas regras. Uma delas é o atendimento psicológico individual. Ecilda, que foi psicóloga do projeto há quase dez anos, era responsável pelo atendimento da família. “Eu vi, participei do desenvolvimento dela, mas sem o olhar de mãe ou de pretendente, com olhar de profissional mesmo”, revela sobre a empreitada que passou desde o momento em que percebeu que havia algo além do “psicóloga/paciente”, entre ela e Katlin, a mais velha das meninas. Durante os cerca de cinco anos em que permaneceram no abrigo, todos os irmãos foram abrigados por famílias acolhedoras. A Família Acolhedora é um programa da Aceias desenvolvido há quase dez anos. O programa cadastra e prepara famílias da comunidade para acolherem provisoriamente crianças e adolescentes. Em 2011, Katlin foi encaminhada a uma destas famílias. “Eu lembro que fui levá-la até essa família e disse brincando:
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‘Vocês querem acolher uma indiazinha?’ Fiz todas as orientações profissionais para família, porque ela era bem teimosa na casa. Mas era uma questão muito profissional mesmo, nem me passava pela cabeça que um dia eu ia ser a mãe dela”, relembra a psicóloga Ecilda. Foram apenas alguns dias para Katlin sentir saudade dos irmãos e querer voltar para o abrigo. A menininha, que entrou pela primeira vez na Casa Lar aos cinco anos, agora era uma mocinha de doze, que entrava em conflito com a própria história. Semanalmente, Katlin e Ecilda encontravam-se para a terapia. Em uma das técnicas utilizada por Ecilda, monta-se um álbum da história de vida da criança acolhida. Nele, registra-se toda a sua história, abordando questões básicas como: quem eu sou, de onde eu vim, as minhas características, o que eu participo. “Teve uma vez
que ela desenhou, nesse álbum, a casa da Ecilda e do marido da Ecilda e disse que um dia aquela casa ia ser dela também. Que uma família, do mesmo jeito da gente, iria adotar ela. Ela não conhecia o meu marido, mas já estava idealizando aquela família para ela. Sempre quando estava orientando, eu percebia que ela colocava uma pitadinha de desejo que eu a adotasse. E ela foi me conquistando, fui pega mesmo! É como se ela tivesse me escolhido, eu sentia isso”. A cada sessão, os vínculos foram se intensificando e aquela criança, que até então era igual a todas as outras, passou a ter um significado mais especial.
SÍNDROME DA INSTITUCIONALIZAÇÃO “Eu quero uma mãe, eu preciso de uma família, eu não aguento mais ficar na Casa Lar”, essas eram as frases mais repetidas pela
menina, sempre quando tinha oportunidade de desabafar. Katlin já estava abrigada na Casa Lar por seis anos e demonstrava profundo cansaço emocional. Conforme explica Ecilda, quando a criança permanece por muito tempo em um abrigo, ela passa a sofrer da síndrome da institucionalização. “Na Casa Lar existem várias crianças com várias histórias. Cada uma vem com a sua bagagem, algumas de dor, de sofrimento, e as histórias começam a se misturar. Chega uma hora que a criança não aguenta mais, ela fica saturada, então, tudo o que oferecem a ela não tem mais graça, não preenche aquele vazio”, explica. No Dia das Mães, Katlin chorava aos prantos por não ter a quem entregar a homenagem que havia feito na escola. O sofrimento vivido pela menina passava a mexer com o emocional de Ecilda também, que começou a se perguntar: “Eu não posso ter filhos biológicos. Eu posso dar esse lar que ela tanto quer. Porque não ser a mãe dela?”.
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A DECISÃO Disposta a adotar, a psicóloga, primeiramente, conversou com o marido, Paulo, que de início não concordou com a ideia. “Ele achava que ia ser um banditismo separar os irmãos, ele sabia de toda a história deles. Mas eu argumentei se era pior separar os irmãos, dar uma família para cada um e eles continuarem se visitando, ou, deixar eles ficarem no abrigo até 21 anos?”. Aos poucos, Paulo se convenceu de que não haveria outra maneira de proporcionar uma vida melhor sem separar os irmãos e se mostrou interessado em conhecer a menina. “A Ecilda sendo a minha companheira há tantos anos, não era eu que iria impedir de realizar o desejo dela de ser mãe”, afirma Paulo. Era um domingo de sol muito quente, Ecilda levou os seis irmãos para casa. “Aí foram os seis indiozinhos pra dentro da piscina. Num banco, de longe, meu marido sentou e ficou observando com um olhar para Katlin, ele já sabia de toda a história, que ela ficava tentando me seduzir. Ele ficou interessado, disse que ela era linda, uma menina doce, ficou encantado”. Depois daquele dia, Ecilda tratou de esclarecer o que estava acontecendo à Malu, diretora da instituição, que sugeriu à Ecilda que conversasse com o juiz e o promotor responsável. “A minha primeira reação não foi muito boa. Eu achei que não seria correto, porque ela participou do processo, acompanhou a família diretamente”, relembra o promotor Glauco. O Juíz André, por sua vez, determinou que a Aceias colocasse outra profissional para atender o grupo de irmãos. Algum tempo depois, o promotor refletiu sobre o caso e voltou atrás em sua opinião. “Eu acho que teria problema se tivesse algum indício de má fé, se desde o início do processo, quando ela começou a atender essa família, ela já pensasse em adotar. Mas foi natural, foi nascendo. Acho que todo mundo que trabalha com criança e adolescente fica sujeito a isso. Talvez eu falhei na minha primeira reação, mas dei parecer favorável à adoção, se fosse hoje faria de novo”, afirmou. Para o Juíz André, Ecilda é um exemplo prático de que o amor se manifesta de várias formas. “Quando ela chegou aqui, veio com um olhinho de mãe, de paixão. O amor que ela desenvolveu mesmo sendo profissional
dentro do abrigo ultrapassou as barreiras. Ela começou a ver na adolescente uma pessoa carente e pensou que precisava estender o passo, porque o que estava sentindo não era um amor de simples trato profissional”. A psicóloga deixou de avaliar para ser avaliada. Ela foi substituída por outra profissional, que passou a atender o grupo de irmãos. As outras crianças continuaram sendo atendidas por ela. “Eu encerrei os atendimentos, expliquei, fiz toda uma passagem, enalteci o trabalho da nova profissional, alguns não aceitavam”, conta. Katlin não podia saber da intenção de Ecilda em adotá-la. O sigilo era uma forma de evitar a frustação, caso o processo de adoção não desse certo. Ecilda foi orientada de que não podia aproximar-se da Casa enquanto os irmãos estivessem lá, pois isso poderia interferir no processo. Durante a semana, a psicóloga ligava constantemente para as educadoras perguntando se Katlin estava bem. Porém, em alguns momentos, o sentimento de mãe aflorava e ela corria escondida até o abrigo para vê-la.
ME TIRA DAQUI! Sentada no colo de Ecilda, Katlin chorava e dizia: “Eu vou fugir dessa casa, Deus não me ouve, não vem família”. Ecilda já tinha feito o pedido de adoção dela, mas não podia contar. “Lembro que eu peguei ela no colo, abracei, beijei, e meu marido ao lado. A vontade que eu tinha era de segurar ela grudada em mim e sair dali”, lembra. Depois de algum tempo impedida de visitá-la, Ecilda recebeu do Fórum, o direito de visita. Período em que Katlin passou a ficar em sua casa todos os finais de semana. No domingo, quando o final de tarde se aproximava, Katlin corria até a janela para ver se já estava escurecendo. Roendo as unhas, muita nervosa, a menina sempre tentava arrumar um motivo para não ir embora dali. “Nessa época, ela ainda não sabia que poderia ser adotada. Eu não podia revelar, colocar essa expectativa. Eu dizia que ela ia passear e no dia seguinte ia uma outra criança”, explica. Enquanto o processo de adoção corria, Ecilda e Katlin estabeleciam cada vez mais os vínculos, que já estavam bastante evidentes. “Eu lembro que eu dava umas fugidinhas quando ela estava dormindo pra ver como ela estava, nem que fosse pra dar um beiji-
nho e cobrir”, conta a psicóloga. Os pouco mais de seis meses à espera do veredito foram uma eternidade para as duas, que não podiam mais esperar. “Às vezes, de longe, eu enxergava a Casa Lar, aquilo parecia que rasgava e as horas não passavam, era tudo muito difícil”, relembra. No dia 28 de maio de 2012, quando Ecilda recebeu o registro de adoção de Katlin pensou aliviada: “Agora ela é minha de verdade e ninguém tira”. A comemoração junto da filha marcava o início de uma nova história. Katlin agora se chamava Katlin Padilha Scheuer.
ADOÇÃO TARDIA Apesar do apoio que recebeu do marido, Ecilda enfrentou algumas provações e caras feias quando contou aos amigos e familiares a decisão de adotar uma adolescente. “Muitos diziam que eu era louca de adotar uma menina com 12 anos, na fase da adolescência, da rebeldia. Eles concordavam que eu adotasse, mas que fosse um bebezinho. Pra mim, não tem diferença nenhuma”, afirma. Assim como pensavam alguns amigos e familiares de Ecilda, também pensam 95% dos casais que esperam na fila de adoção. A Assistente Social Forense, Rosane Schmidt Schü afirma que a fila de casais pretendentes para crianças até cinco anos é proporcional a fila das crianças maiores para adoção. “Se você for a um abrigo vai ver poucas crianças pequenas, são mais adolescentes e crianças com deficiência”, revela. A preferência por bebês faz com que os abrigos do Brasil inteiro estejam cheios de adolescentes sem perspectivas de serem adotados. “A maioria dos casais prefere crianças menores porque querem passar pelas fases de criação, e eu não os culpo por isso, é compreensível”, pondera o juiz André Milani.
“ADOTAR A KATLIN MUDOU TUDO EM MINHA VIDA” Do abrigo para a casa de Paulo e Ecilda muita coisa mudou, porém a adaptação de Katlin foi rápida e tranquila. “Foi como se ela já tivesse vindo da nossa família, não teve dificuldades. Ela se adaptou fácil no colégio, fez amizades rapidamente”, comenta Ecilda. A mudança maior ocorreu na vida do casal. “Ela trouxe para nós mais energia, mais vida. Antes a gente fazia as coisas se desse para fazer, não tinha importância se não desse. Hoje nós temos uma motivação, revista
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C A PA que a gente quer proporcionar coisas boas pra ela”, afirma a psicóloga. Enquanto profissional, Ecilda também sentiu um grande amadurecimento. “Hoje sou uma profissional mais madura, vejo o lado da família que está ali, entendo melhor os sentimentos, a expectativa e a ansiedade que o casal vive à espera”. E é vivendo a experiência da maternidade, que Ecilda vivencia momentos gratificantes. Em um deles, Paulo, Ecilda e Katlin assistiam televisão, quando Katlin, naturalmente, fez um comentário e finalizou com uma palavra inesquecível. “mãe”. “Eu não sabia se eu olhava, se eu respondia, aí eu continuei vendo televisão”, conta a mãe. Mas Katlin resolveu insistir e continuou: “Sim, eu te chamei de mãe, tá? E não é assim que tem ser? Eu não sou sua filha e você minha mãe?” Com os olhos já encharcados de lágrima, Ecilda respondeu que sim. Paulo, que observava as duas, também não resistiu ao momento e se emocionou com a nova realidade da família. “O amor que eu sinto pela Katlin não tem como mensurar, ele é indescritível, incondicional. Um amor gratuito, que cresce a cada dia, é natural. É uma energia, uma coisa que consome, que envolve a gente, não tem explicação”. Katlin admite que não estava se sentindo muito feliz lá na Casa Lar e depois que foi efetivamente adotada pelo casal sua vida Pai e filha compartilham amor por passáros
tornou-se mais animada. “Quando fiquei sabendo que eles iriam me adotar, fiquei muito feliz”, revela. Sobre o significado de Paulo e Ecilda em sua vida, a menina não titubeia: “Eles significam a minha felicidade, são tudo pra mim”. Assim como Katlin, seus irmãos também ganharam novas famílias e seguiram rumos diferentes. Quatro deles foram morar com a mesma família no Rio de Janeiro, o mais novo foi adotado por uma família de Itá, em Santa Catarina. “A adoção dos quatro irmãos foi um caso inédito”, considera Ecilda. Atualmente, além das visitas, os seis mantêm contato frequentemente via internet. A mãe biológica mudou-se para outra cidade e retornou pouco tempo depois dos filhos serem adotados. A mulher tinha mudado de vida, se tornado evangélica. “Obedeça bem ela, cuide dela, porque se você cuidar bem da tua mãe, ela cuidará de você”, essa foi a última frase que Katlin ouviu da mãe biológica. Paulo afirma que eles não irão proibi-la de ver a família biológica. “Se ela quiser visitá-los, nós vamos juntos. Nunca iremos tirar esse direito dela”, salientou. O pai coruja ainda fez questão de comentar sobre os dons da filha caçula. “A Katlin tem dois dons: desenhar e ler, ela devora livros. Admiro muito ela e o amor que sinto por ela é igual o que sinto pelas minhas duas filhas biológicas, não há diferença”, frisou.
EU QUERO ADOTAR Em uma simples folha de papel pode ser feito um requerimento de adoção. Porém, não tão simples quanto a folha e o requerimento é a decisão de adotar. “Antes de qualquer coisa, a pessoa ou casal que quer adotar uma criança deve se decidir”, ressalta a Assistente Social Forense, Rosane. Para a psicóloga, Ecilda Maria Padilha, a gestação adotiva começa quando o casal tem a intenção de adotar. “Quando ele decide adotar é a concepção, está gerando o filho, porém a gestação biológica é, normalmente, nove meses, já a gestação adotiva pode levar anos”. Durante esta gestação adotiva, alguns passos devem ser seguidos. Para o cadastro, documentos básicos são solicitados, entre eles, um atestado de saúde física e mental, antecedentes criminais e cíveis (consultados pela internet), comprovante de renda e residência, além de uma foto 3x4 e documentos pessoais (RG e CPF). “O único documento que a pessoa não tem em mãos é o atestado mental e físico do médico. Com relação à renda, não existe uma renda mínima para adotar, não é um critério para não eleger, porém a pessoa tem que ter uma condição financeira razoável para que possa oferecer o básico à sua família. Ter um processo na área criminal faz com que ela seja descartada na hora”, comenta Rosane sobre os pré-requisitos. Todos esses documentos vão para análise do promotor e do juiz, após o trânsito em julgado de 15 dias, se a sentença for favorável, então ele é incluso no Cadastro Estadual de Adoção, o CUIDA, bem como, no Cadastro Nacional de Adoção. “Uma vez habilitada em Caçador, a pessoa fica habilitada no Brasil inteiro, se for do seu interesse. Ela quem decide a abrangência que vai ter. A partir daí, ela fica aguardando a vez para adoção e essa vez é por ordem de distribuição do processo e por ordem de sentença, então, quem distribuiu hoje terá prioridade para quem distribuir o processo amanhã”, explica. Enquanto aguardam, os casais são encaminhados a um curso preparatório. Com este curso têm-se, basicamente, dois objetivos principais. O primeiro deles é evitar as adoções frustradas. “A pior coisa, tanto para criança quanto para o casal, é a rejeição. Ambos saem frustrados e é um revés muito grande psicologicamente e afetivamente para criança se isso ocorrer. A gente tenta evitar com os cursos e o próprio cadastro essa
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ela, hoje já não há mais preferência por cor. Após o curso, os casais ainda passam por uma bateria de estudos técnicos sociais e psicológicos. É um processo rigoroso e até angustiante para alguns, mas extremamente importante para todos. “Quando existe aquela criança apta para adoção, não vamos indagar se o casal é apto a adotar ou não, pelo contrário, aquele casal já passou por um processo que o habilitou a adoção, nós só tomamos cuidado com relação ao perfil para evitar uma adoção frustrada”, revela Milani sobre como é decidida a concessão de adoção. Conforme o juiz, cada momento que a criança fica sem alguém para lhe amar acarreta em mais um problema em sua personalidade. “De um ano para o outro é um abismo. A personalidade dela avança rapidamente e ela precisa de celeridade”, comenta.
UM ATO DE AMOR
frustração. À medida que as crianças entram para adoção, a gente faz um paralelo com os casais que estão na fila”, afirma o Juiz André Milani. Para o promotor de justiça, Glauco Rifflel adoções mal conduzidas podem causar danos irreparáveis. “Uma adoção bem feita é linda, mas uma adoção mal conduzida é terrível. As pessoas se encantam por um bebezinho, mas a adoção é para sempre. Hoje é um bebê, mais fácil de lidar. Amanhã ou depois chega à adolescência e começa incomodar um pouco, o pai e a mãe tem de estar preparados para isso”, pondera. Além de esclarecer aos casais a motivação para a adoção, a revelação de sua origem de
vida, entre outras questões, o segundo objetivo que se tem com o curso é ampliar o perfil da criança. “Fazemos essa abertura e tentamos preparar os casais para adoção tardia, para tirar aquele foco da adoção só de bebê. A cada ano na vida de uma criança, o sonho de ser adotada passa a ficar cada vez mais distante”, ressalta Rosane. Porém os resultados desse trabalho ainda estão muito aquém do que se deseja. “Quem tem a intenção de adotar uma criança e tem o sonho de viver a maternidade, não abre mão de crianças menores”, admite. Rosane afirma que o biótipo mais procurado são meninas com idade entre zero a, no máximo, cinco anos de idade. De acordo com
Ao contrário dos turbulentos e tumultuados processos de destituição familiar, há também, em escala bastante inferior, a entrega espontânea da criança ao Fórum. Para o promotor Glauco, entregar o filho para adoção é um ato altruísta. “É algo que não é egoísta. Entregar é admitir: ‘Eu amo tanto que sei que não posso cuidar e sei que têm muitas famílias que podem cuidar bem’. Isso é um ato de amor”, avalia. De acordo com ele, se a mãe ou o pai tiveram o filho e não tem condições de criar, não tem nenhum problema. “Ela pode vir ao Fórum, ela vai ser ouvida, respeitada, ninguém vai julgar. Se for esse o caso, nós estamos aqui de braços abertos e temos várias famílias para encaminhar essas crianças”, considera. Para a Assistente Social Forense, Rosane, entregar é um ato tão sublime quanto adotar. De acordo com ela, quando a mãe sinaliza interesse em entregar para adoção, inicia-se um trabalho de manutenção da criança na família de origem, caso o desejo ainda persista, ela é encaminhada ao juiz e ao promotor e assina um documento, que dá liberdade de já iniciar a procura por casais pretendentes a adoção. “Infelizmente, em Caçador são pouquíssimos os casos em que os pais apresentam as crianças para o fórum, entregando para adoção. Atualmente, a grande maioria dos casos é de destituição”, afirma. Outro fator que influenciou, significarevista
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tivamente, na entrega para a adoção, conforme Rosane foi a mudança econômica das classes baixas. “Existem bem menos crianças para adoção, porque os programas sociais estão atingindo as pessoas mais pobres. A mãe que entregava seu filho para adoção não era uma mãe de classe média ou classe alta, era uma mãe socialmente menos privilegiada. A ascensão econômica aliada à questão dos métodos contraceptivos mais disponíveis e do maior acesso à informação fez diminuir esse número de crianças”.
ADOÇÃO DIRETA: PRÁTICA COMUM EM CAÇADOR Além da destituição familiar, outra realidade bastante comum em Caçador é a adoção direta. “As adoções diretas são o maior problema de Caçador. É aquela em que os pais não entregam oficialmente para adoção, eles preferem entregar para conhecidos cuidarem. Muitas vezes a mãe dá a criança antes mesmo de amamentar. Ela delega o amor e carinho a terceiros”, relata o juiz. Nestes casos, de acordo com ele, a criança passa muitos anos com a família sem a guarda regularizada. Quando os pais adotivos procuram o poder judiciário já se passaram anos. “Aí essa criança cria um vínculo de pai e mãe, e, em quase todos os casos é concedido o pedido de adoção”.
O promotor Glauco chama atenção para o fato de que famílias que não estão cadastradas para adoção não recebem o preparo necessário para adotarem. “Quando a mãe entrega a criança sem passar pelo fórum, viola o direito das pessoas que estão na fila de adoção. Além disso, essas famílias que recebem direto, não tem treinamento e, muitas vezes, não vão saber lidar com toda essa situação”, salienta. Outra situação, esta considerada ilegal, é a chamada “adoção brasileira”. Na adoção brasileira, a mulher aceita que o marido registre o filho de outra mulher e criam a criança como filho legítimo.
A VIDA NO ABRIGO As capas dos colchões foram rasgadas e a espuma arrancada de dentro fica à mostra. Em uma das camas, um dos meninos acolhidos está deitado de bruços com a cabeça mais abaixo do travesseiro, deixando os pés - ainda com tênis- para fora da cama. Ele não responde ao cumprimento da psicóloga, tampouco a simples pergunta: “Você está bem?” Esconde-se com o capuz da blusa, que tenta puxar o máximo para esconder além da cabeça, o rosto. Na parede do quarto dos meninos, palavras que fazem referência a drogas e siglas de grupos de adolescentes foram pichadas por dois dos acolhidos. A exemplo dos lençóis, as
cortinas foram rasgadas e a decoração ganhou um clima pouco infantil. Em contraste com o ambiente hostil encontrado no quarto de uma das casas, em outra casa, o ambiente transpira companheirismo e ingenuidade. “Tipo assim, aqui todos são irmãos por parte de Jesus”, a definição é dada por um dos meninos, de 9 anos, que já está há dois anos no abrigo. Assim como ele, a maior parte das crianças está lá há um bom tempo. Do primeiro dia em que chegaram até hoje, os pequenos já passaram por muitas fases. “O primeiro dia que eu cheguei aqui foi estranho, não conhecia ninguém, senti vergonha”, comenta um deles. Mas o tempo dentro do abrigo passou e ali também foram nascendo as amizades, ou melhor, a família. Um menino de 11 anos resolve adotar outro de três, e, a partir de então, o chama apenas de filho. Quando perguntado por que quis adotar o colega, responde ingenuamente: “Foi por causa do amor”. De acordo com Ecilda, ele projeta no colega de abrigo a necessidade e vontade que sente de ter um pai para si. As educadoras, carinhosamente chamadas de tias, fazem, na verdade, o papel de verdadeiras mães, e, por isso, recebem em troca o amor incondicional e a confiança, que somente os filhos têm pelas mães. Para eles, o abrigo é um lugar bom. Não é perfeito, mas não é o pior lugar do mundo. “Eu gosto das comidas boas, do risoto que a tia faz”, afirma a menina. É a voz dela que ressoa ao fundo, quando pergunto sobre quererem uma nova família. No meio de todos os sins, uma voz solta um “não”, quando indagada novamente, a moça assegura: “Quero voltar para a minha família”. A mãe bebia, o pai usava drogas, mas o laço afetivo com os pais faz a adolescente não pensar duas vezes: se tivesse de escolher entre ficar no abrigo e voltar a viver com sua família biológica, escolheria a família.Os meninos e meninas da Casa Lar são iguais a todos os meninos e meninas que possuem um lar. Eles estudam em um período e no contra turno participam de diversas oficinas realizadas nos projetos da Aceias. Talvez, a única diferença deles esteja no brilho que existe no olhar de cada um, um brilho de esperança. “Eu rezo todo dia pra que apareça um pai e uma mãe pra mim”. “Eu também”, revela mais um.
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“FOMOS AGRACIADOS”, afirma casal que adotou irmãos
Darci e Janete sempre tiveram vontade de adotar e há sete meses concretizaram o sonho Quando se conheceram, Darci e Janete Thomazi não imaginavam que pudessem compartilhar, além do amor um pelo outro, a vontade de realizar uma adoção. “Nós optamos por não ter filhos e fazer algo a mais por crianças maiores desprovidas dos pais”, afirma Janete. Em 2013, casados já há 16 anos, o casal decidiu fazer o cadastro de adoção no Fórum da Comarca de Caçador. “Realizamos o cadastro, fizemos o curso preparatório e entramos para a fila de espera” conta a mulher. Durante pouco mais de um ano, o casal, assim como os outros que aguardam na fila, esperou ansioso e com muita expectativa o momento em que, finalmente, iriam adotar. “É muita expectativa porque você nunca sabe quando a hora vai chegar”, comenta Darci. Darci e Janete marcaram a data e, até mesmo, horário em que a assistente social do Fórum, Rosane Schmidt Schü acompanhada da Psicóloga do Abrigo Ecilda Padilha os chamaram para conversar. Apesar de Rosane não ter ido direto ao assunto, Janete já pressentia que o momento
havia chegado. “Era 15h quando ela ligou. Fiquei anestesiada, perdi as forças, chorei, é uma energia muito forte”, descreve. Da ligação da assistente até o momento em que foram a Casa Lar buscar os irmãos Erik Sabrina e Erika Rafael, pouco mais de duas horas se passaram. “Eles vieram passar o final de semana aqui em casa. Quando chegaram, foi uma explosão de energia. Tocavam peça por peça, entrando no clima da casa, querendo pertencer ao ambiente”, lembra Janete. Como há um período de adaptação da criança, o casal não pode criar expectativas com relação à adoção, a criança também precisa aceitar que eles sejam seus pais. Janete e Darci foram agraciados. “Chegou o momento que eles pediram se nós queríamos adotá-los”, conta emocionada sobre o primeiro final de semana juntos.
O casal, então, percebeu que, finalmente, realizaria o seu maior desejo: adotar e ser reconhecido paternal e maternalmente. “Avisamos a assistente social que queríamos ficar com as crianças e elas também tinham o desejo de permanecer com a gente”, conta. Apesar do pouco tempo em que estão juntos, a família já passou por momentos divertidos e emocionantes. “Eles queriam muito mostrar os pais para os colegas da escola e a primeira vez que os levamos foi emocionante”, lembra. Os irmãos, de acordo com o casal, são crianças saudáveis, e muito inteligentes e surpreendem os pais a cada dia. Quando perguntados sobre o que mais gostaram na nova casa, eles responderam, unanimemente, que o melhor de toda a mudança é o amor que recebem dos pais. “O que eu mais gostei foi do beijo, do abraço e do colo”, afirma Erika. Erik concorda com a irmã e acrescenta: “Da vó, do sítio e de pescar”.
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REINO ANIMALIA Paula Lichtenberg CRMV 06590SC
Graduada em Medicina Veterinária pelas Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu de União da Vitória. Apaixonada pelos animais, mas amante de gatos e cavalos, ela pretende se especializar e atuar na área de Reprodução em Equinos.
O PODER DA EQUOTERAPIA A equoterapia é uma terapêutica que utiliza cavalos para tratar os mais diversos problemas. Alguns meses atrás, acompanhei uma reportagem que despertou minha atenção pelo sorriso daquelas crianças em cima do cavalo. Nela, mostraram a evolução de uma garotinha com paralisia cerebral leve. A criança não apresentava nenhuma limitação para caminhar somente uma sutil dificuldade na fala. Segundo a especialista entrevistada, o tratamento pode durar até dois anos, porém quando o repórter perguntou para a garota se ela queria parar a resposta foi firme, mas com um sorriso nos lábios: “não!”. Andar a cavalo promove uma grande movimentação de grupos musculares e articulações, eu diria do corpo todo, inclusive de órgãos. A partir do momento que é necessário manter equilíbrio e postura em cima do animal, a pessoa precisa desenvolver concentração, força, relaxamento e coordenação motora. O contato, desde escovar o cavalo, montar, alimentar, dar banho desenvolve no paciente autoestima, autoconfiança, socialização, afeto e bem estar. Conversando com meu professor de equitação, Arizoli
Brum, do Centro Hípico Caçador, conheci a história de um rapaz que ficou tetraplégico em um acidente automobilístico. Na sua primeira aula de equoterapia ele apresentava uma limitação enorme na movimentação dos braços, não conseguindo erguê-los acima da linha do ombro. Logo na quarta aula, começou andar a cavalo sozinho e seus braços já tocavam sua cabeça como em um movimento de se espreguiçar. A equoterapia é extremamente completa proporcionando os mais diversos benefícios tanto para recuperação física quando psíquica, sensitiva e social. A prática requer, pelo menos, um auxiliar guia e auxiliares nas laterais, um fisioterapeuta e psicólogo, mas outros profissionais como fonoaudiólogo, pedagogo e educador físico podem estar envolvidos dependendo muito das necessidades e particularidades de cada paciente. Por experiência própria posso acrescentar: é o melhor e mais amplo exercício. Dá prazer, satisfação e é ótimo perceber nossa evolução. Recomendo!
POSSO DAR CHOCOLATE COMO RECOMPENSA PARA O MEU CÃO? Não pode! Com certeza, alguns de vocês já ouviram falar que o chocolate é tóxico para cães (e gatos!). Existem outras opções que podem ser oferecidas como recompensa para os animais, hoje em dia, os pets shops são repletos de guloseimas para eles (esses dias encontrei CupCake para cães em um pet). O chocolate possui cafeína e teobromina, substâncias que podem causar arritmia, taquicardia, aumento da pressão arterial, chegando ao ponto de causar convulsões e até morte. Portanto, escondam aquele chocolatinho que ficou em cima da mesa para os espertinhos não alcançarem, preservem a vida dos seus animais!
GATOS CURIOSOS! Quem tem gatos sabe que esses fofos gostam de ficar “amassando pãozinho” em tudo quanto é coisa: as nossas barrigas, o cobertor, o travesseiro... Mas, por quê? Vocês, leitores e fanáticos por gatos, podem ter reparado que, quando filhotes, os gatinhos ficam massageando a barriga de suas mamães enquanto mamam, justamente, para o leite ser ejetado (a minha gata ainda massageia e mama no cobertor!). Dessa forma, o felino associou esse ato a algo bom, a carinho, afeto, alimentação, conforto e proteção, ou seja, quando fazem isso em nós estão tranquilos, se sentindo amados e seguros além de querer marcar seu território: nós! Já ouviram falar que somos como gatos gigantes para eles!? Aproveitando a brecha, uma pequena observação sobre o ronronar. Pessoas já me questionaram se os gatinhos delas estavam com asma, com gripe ou engasgados porque faziam aquele barulho. Nada disso! Esse barulhinho delicioso para os ouvidos dos amantes de gatos é produzido pela vibração de uma cartilagem na garganta (laringe) do animal. Um show de demonstração de amor e carinho por seus donos!
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X SUPERAÇÃO LIMITAÇÃO
POR KAROLINE BERTOTTO FOTOGRAFIA KAROLINE BERTOTTO
Essas são as principais adversárias quando o Spartacus - time de basquetebol adaptado do Sesc - entra em quadra. Olhos enfurecidos e braços ágeis giram as rodas e levam a cadeira ao encontro do adversário e da bola. O característico estrondo ao bater dos ferros de duas cadeiras é bastante típico em uma partida de basquetebol adaptado. A garra e força de vontade dos atletas transbordam no suor que se forma na pele. As limitações dão lugar à superação e os jogadores transmitem a essência do que vivem sobre uma cadeira de rodas. revista
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ORIGEM
Certo dia, Maximino da Silva e Valmir Fernandes decidiram pedir auxílio à unidade do Serviço Social do Comércio (Sesc) de Caçador. “Eles vieram me procurar com a ideia de que o Sesc proporcionasse qualquer atividade física, estavam querendo melhorar a qualidade de vida”, lembra o então Técnico de Atividades do Sesc, Cristiano Drager. Na época, o Técnico os respondeu com incerteza. “Eu disse que teria que levar aquilo pra frente. Não tinha como dar uma resposta naquele momento”. Acostumados com esse tipo de reposta, os dois saíram decepcionados do local, com poucas esperanças de que o pedido se efetivasse. Algum tempo se passou e houve um dia em que Cristiano ligou para Max e Valmir. “O projeto que vocês vieram procurar vai sair e nós vamos abrir uma equipe de basquete, topam?”.
Nem Max, nem Valmir esperavam um retorno, ainda menos, positivo. “Topamos, claro”, responderam os dois, completamente surpresos com a boa notícia. E foi assim, em julho de 2013, que começou a ser formado o Spartacus, time de basquete adaptado de Caçador. O projeto é coordenado pelo Sesc. “Como a gente já tinha um projeto piloto parecido lá em Brusque, ficou realmente mais fácil. Nesse meio tempo, nós corremos atrás do pessoal para ver como funcionava, qual era a viabilidade, e eles nos motivaram a ponto de encararmos esse novo projeto”, comenta Cristiano. Muitos dos atletas que iniciaram no basquete já eram velhos conhecidos de outros esportes paradesportivos como a bocha, handebol e o atletismo. Porém, o basquete era uma novidade para todos. “O Valmir, que foi uma das pessoas que veio atrás da modalidade, demorou seis meses para começar a treinar. Ele ficou receoso achando que não ia conseguir jogar”, lembra o Técnico.
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SPARTACUS Inspirados no escravo Spartacus, líder da mais célebre revolta de escravos na Roma Antiga, o time de cadeirantes, assim como o exército espartano, deseja a superação de todas as batalhas, das mais simples às maiores e mais temíveis. O time nasceu da vontade de dois amigos praticarem alguma atividade física. O desejo dos dois criou forma e ganhou outros adeptos. A rotatividade de atletas no time é grande, porém oito deles persistem aos treinos e vestem uma camisa que não se vê no corpo, mas nos olhos de todos: a da superação. “O esporte para nós é tudo. Se eu ficar em casa sem treinar, acho falta”, admite Valdir. Essa dedicação rendeu ao time um título nos Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc) em 2014, além de algumas vitórias em amistosos regionais. Fugindo à média nacional, em que a maioria dos casos de paraplegia e tetraplegia é por acidente de trânsito, no Spartacus são três
patologias e quatro acidentes de trabalho. Mas o técnico, Cristiano, adverte: “Nós temos uma cultura um pouco diferente com relação ao esporte. Sempre damos ênfase nas eficiências e não nas deficiências. As dificuldades, é claro, que elas existem, mas nós devemos enfatizar sempre o positivo”. E o que há de positivo em praticar esporte? “Tudo”, respondem os espartanos. “Melhora condicionamento físico, mobilidade... vai melhorando tudo”, afirma Thiago. João praticava atletismo e bocha, mas chegou a ficar quase dois anos sem praticar esporte.“Quando eu fiquei sabendo que eles jogavam basquete eu pensei: ‘Mas será que dá? Será que não vou sentir muita dor?’ Eu estava em casa parado, começando a atrofiar tudo, logo nos primeiros treinos senti meu condicionamento físico melhorar bastante”, conta. Thiago comenta que fazer transferência de uma cadeira para outra, antes de praticar basquete era bastante difícil. “Depois que comecei a treinar, a gente corre, se esforça e a nossa saúde melhora também”, diz. Para Cristiano, a saúde é a palavra chave de todas essas mudanças. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende três pilares principais para a saúde, que são o bem estar
físico, mental e social, e nesse caso em especial, nós podemos vivenciar bem esses pilares”, afirma. Segundo o professor, a evolução física, como todos afirmam, é, realmente, visível e notória, contudo, o lado social é ainda mais desenvolvido. “Eu arrisco dizer que é a parte mais importante”. Ainda de acordo com ele, existe o fator psicológico. “O esporte é uma forma de extravasar também. Eles se veem no meio de outras pessoas com problemas semelhantes e isso acaba refletindo bastante na saúde, de um modo geral. Eu percebo neles, e em mim também, essa melhora bem acentuada”, destaca.
AS CADEIRAS À primeira vista elas parecem todas iguais. Rodas afastadas, acentos mais baixos, próprias para o esporte. Porém, cada detalhe difere uma cadeira da outra. “Cada cadeira tem a sua particularidade, é exclusiva”, afirma o técnico. Conforme explica, a cadeira é projetada para a pessoa que vai usar. “Esse é um problema que nós temos. Essas cadeiras não são projetadas para quem está usando, elas estão sendo reutilizadas”, revela. Para projetar a cadeira, é preciso tirar revista
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R E P O R TA G E M todas as medidas do atleta e analisar cada particularidade, tanto da deficiência, quanto das capacidades que apresenta. A altura do encosto é diferente, existem os encostos para medular com lesão alta e baixa. Diferente das cadeiras convencionais, nas esportivas, o desenho das rodas também é diferente, justamente, para aumentar a agilidade. “Quanto mais afastadas as rodas, mais ágil é a cadeira, o atleta consegue trocar a direção mais facilmente”, explica.
PONTUAÇÃO Assim como as cadeiras, a pontuação funcional é exclusiva da modalidade. “Existe uma pontuação para que a modalidade não seja tão excludente. O mais habilidoso, o melhor fisicamente é aquele que sempre joga. Para diminuir isso e favorecer as lesões e patologias mais graves foi criada a pontuação funcional, que capacita os medulares, por exemplo, jogarem junto com os amputados”. A pontuação de cada atleta é feita por um profissional especializado. O atleta amputado tem pontuação máxima, que é 4,5. Já um lesionado medular pontua de 1 a 1,5. “Com a limitação deles, se fizerem um movimento e o tronco cair, eles não têm musculatura suficiente para voltarem sozinho, precisam apoiar a mão para voltar. Quando apoiam a mão, não conseguem manipular a cadeira, nem a bola, é um ponto negativo. Já o atleta que tem essa pontuação mais alta é aquele que está livre
na cadeira, ele pode manipular, passar a bola, por isso a diferença da pontuação”, explica Cristiano. São cinco jogadores e o máximo de pontos que um time pode ter em quadra é 14, ou seja, o técnico deve optar por diversificar o time, equilibrando os pontos dentro de quadra. “Se eu colocar o Thiago que é medular e tem pontuação 1 e o Edson que tem pontuação 1,5, nós temos 2,5 em quadra, então, eu ainda posso colocar dois amputados”, exemplifica. “Ter um atleta habilidoso, que é o caso do Edson, e com pontuação baixa é o que todo time quer”, Segundo ele, normalmente, o jogador com pontuação alta é o pivô do time, aquele que permanece bem próximo à tabela e consegue pegar os rebotes.
INCLUSÃO SOCIAL EM HORÁRIO NOBRE Quando o Técnico de Atividades, Cristiano Drager, arrisca em dizer que o lado social é o mais importante do esporte, fala com propriedade. “Nós defendemos uma política, que difere um pouco do que já era feito. O tradicional do basquete ou qualquer modalidade paradesportiva eram treinos isolados, em locais isolados com grupos isolados. Era lá no fim do mundo, em um horário péssimo, muitas vezes, nem se reuniam, praticavam individualmente”, afirma. No Sesc, o Spartacus treina às quartas-feiras, 18h, e nos sábados das 17h às 19h. “São os horários mais procurados, em que o Sesc
está cheio e não compensaria cedê-los para uma atividade gratuita”, admite. O objetivo de realizar a atividade em momentos assim é, justamente, integrar os paratletas e apresentar o esporte à comunidade. “Mostrar que eles também fazem parte dessa sociedade”, completa.
INCLUSÃO SOCIAL NA INFÂNCIA O Sesc também realiza um processo de educação que inicia na infância. Conforme conta Cristiano, as mesmas cadeiras utilizadas pelo time Spartacus são utilizadas com crianças – pelo menos- uma vez por semana para atividades de vivência, em que elas interagem usando as cadeiras. A primeira vez que a atividade foi inserida aos alunos as reações foram de estranhamento e desprezo. “Não, mas isso é pra deficiente, a gente não pode sentar”, diziam. “Elas tinham um conceito já formado pelos pais ou pela sociedade, era uma coisa discriminatória mesmo. A partir do momento que eles sentaram nas cadeiras e viram que aquilo podia ser um brinquedo, que eles conseguiam se divertir, o conceito mudou totalmente”, conta Cristiano. Atualmente, as cadeiras são um sucesso entre a molecada, especialmente, no projeto de final de ano “Brincando nas férias”. “Elas já chegam perguntando quando irão brincar com as cadeiras”, afirma o Técnico. Para ele, esse trabalho de vivência auxiliou as crianças a desmistificarem as
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deficiências. “As crianças vem para o Sesc, veem os cadeirantes chegando e encaram com naturalidade”, pontua. Para os espartanos, o mundo hoje já oferece mais oportunidades às pessoas com deficiência. “Eu acredito que hoje, o pessoal está nos vendo com um olhar diferente. Antigamente, éramos os coitados, hoje as pessoas acreditam mais em nós, deficientes”, afirma Valdir. Obviamente, eles ressaltam que muitas coisas ainda têm de ser mudadas para que haja uma inclusão social efetiva. “Aqui em Caçador há um número reduzido de vagas de estacionamento para cadeirantes e todas estão na avenida Barão do Rio Branco. Além disso, as rampas
ficam na frente do veículo, quando elas teriam que estar ao lado, e por isso ficam inúteis. Há apenas uma vaga, na frente do Banco do Brasil, que tem a rampa ao lado, mas muitas vezes, quando cadeirantes precisam utilizar, elas estão sendo utilizadas por pessoas que não são cadeirantes”, desabafa Max. Lojas, padarias, mercados, lanchonetes. Segundo Max, com raras exceções, o comércio não oferece nenhum tipo de acesso, como rampas móveis, para que o deficiente tenha o direito de ir até a loja e poder consumir. “Não é uma crítica, mas queremos a conscientização do comércio, pois sempre temos de comprar pela internet ou pedir para alguém”, afirma.
Dados do último senso do IBGE dão conta de que existem em Caçador sete mil pessoas com dificuldade de mobilidade, o número gira em torno 10% da população. Em Caçador, uma iniciativa dos próprios cadeirantes foi levada à Câmara de Vereadores e culminou na criação do Selo Social. A ação tem o objetivo de reconhecer os proprietários de estabelecimentos da cidade, que estão adequando seus comércios às normas de acessibilidade. “A ideia principal dessa mobilização é tentar pregar uma teoria nova de que as coisas não precisam ser adaptadas, mas construídas para todos”, destacou Cristiano. De acordo com eles, várias entidades estão participando e demonstrando interesse pelo assunto.
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NUTRINDO IDEIAS Keila Paloschi
Graduada em Nutrição pelas Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu – Uniguaçu. Atualmente é Responsável Técnica pelo Serviço de Nutrição e Dietética (SND) do Hospital Maicé – Caçador/SC - CRN/SC 4122
Suplementação de ácido fólico (vitamina B9) na gestação Muitas mulheres nem desconfiam ainda da gravidez e uma verdadeira revolução já está acontecendo dentro delas. A produção de alguns hormônios cai, outros, específicos da gestação, passam a ser fabricados, a placenta começa a se formar e, rapidamente, o bebê desenvolve os principais órgãos. Tudo acontece num piscar de olhos. É preciso estar atenta, pois essa também é a fase mais crítica para abortos e malformações decorrentes de doenças e deficiências nutricionais maternas. Então, não descuide: se você está tentando engravidar ou desconfia que o sonhado filho já possa estar a caminho, confira os exames que deve fazer, entre numa dieta adequada e adote hábitos mais saudáveis. Como forma passível de prevenção dessas malformações é indicado o uso terapêutico de ácido fólico, encontrado em forma de suplementação medicamentosa e alimentos fortificados como pães e farinhas. Mulheres em idade fértil também devem ser orientadas quanto à ingestão de ácido fólico. Esta revisão visa avaliar a prevalência da carência de ácido fólico, assim como a ingestão e biodisponibilidade desde micronutriente essencial para o desenvolvimento fetal. A biodisponibilidade do folato é em grande parte controlada pela absorção intestinal, e o estado nutricional depende também de sua disponibilidade nos alimentos, da digestão e absorção. O folato dos alimentos é altamente sensível a agentes físico-químicos como: oxidação, calor, cozimento e luz ultravioleta. As fontes naturais do ácido fólico são: os miúdos animais, vegetais folhosos verde-escuros (espinafre), brócolis, couve de bruxelas, aspargos, milho, amendoim, feijão, frutas cítricas e também os cereais integrais. A fortificação de alimentos com ácido fólico é uma intervenção inquestionável na prevenção primária dos defeitos do tubo neural e foi acertada a decisão de torná-la obrigatória no Brasil. As recomendações nutricionais da ingestão de ácido fólico são de 400µg (0,4mg), uma vez ao dia. Então, se você está pensando em engravidar ou já está no começo da sua gestação, procure seu médico para que sejam dadas as devidas orientações!
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