Ágape : design de bolsas sustentáveis

Page 1

Ă gape



Pontifícia Universidade Católica do Paraná Escola de Arquitetura e Design Curso de Design de Moda

Gabriela Patussi Laura Demarchi Wolf Tayná Ferreira Madureira

Design de Moda Sustentável

Curitiba 2018



Pontifícia Universidade Católica do Paraná Escola de Arquitetura e Design Curso de Design de Moda

Gabriela Patussi Laura Demarchi Wolf Tayná Ferreira Madureira

Design de Moda Sustentável Projeto de Design de Moda Sustentável apresentado a disciplina de Design de Moda sustentável do curso de Design de Moda da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientadoras: Profª Gabriela Garcez Duarte e Profª Vanessa Weiss Roncalio

Curitiba 2018


Lista de Figuras Figura 01: Ação da LCF para chamar atenção ao lixo gerado pelo descarte de roupas | Fonte: Observamoda, 2016. Figura 02: Impactos da industria da moda convencional | Fonte: Autossustentável, 2017. Figura 03: Ciclo de vida de uma peça de roupa | Fonte: Quintaltrends, 2015. Figura 04: Fots campanha drop the size | Fonte: ITV, 2015. Figura 05: Pia com Design Universal | Fonte: Fancy, 2018. Figura 06: Painel semântico persona | Fonte: As autoras (2018). Figura 07: Painel semântico de tendência | Fonte: As autoras (2018). Figura 08: Estampa 01 | Fonte: As autoras (2018). Figura 09: Estampa 02 | Fonte: As autoras (2018). Figura 10: Estampa 03 | Fonte: As autoras (2018). Figura 11: Geração de alternativas 1 | Fonte: As autoras (2018). Figura 12: Geração de alternativas 2 | Fonte: As autoras (2018). Figura 13: Cartela de cores | Fonte: As autoras (2018). Figura 14: Cartela de materiais | Fonte: As autoras (2018). Figura 15: Cartela de estamparia | Fonte: As autoras (2018). Figura 16: Coleção Ágape | Fonte: As autoras (2018). Figura 17: Croqui 01 - Mochila | Fonte: As autoras (2018). Figura 18: Croqui 02 - Pochete | Fonte: As autoras (2018). Figura 19: Croqui 03 - Tiracolo | Fonte: As autoras (2018). Figura 20: Peças pilotos | Fonte: As autoras (2018).

21 25 26 30 33 48 51 53 54 55 58 59 62 63 64 66 68 69 70 74


Lista de tabelas Tabela 01: Análise de Similares - Bolsas em couro | Fonte: As autoras (2018). Tabela 02: Análise de Similares - Bolsas em couro reutilizado | Fonte: As autoras (2018). Tabela 03: Análise de Similares - Design universal | Fonte: As autoras (2018). Tabela 04: Requisitos | Fonte: As autoras (2018). Tabela 05: Ficha Técnica Mochila | Fonte: As autoras (2018). Tabela 06: Ficha Técnica Pochete | Fonte: As autoras (2018). Tabela 07: Análise de Viabilidade | Fonte: As autoras (2018).

40 41 42 56 76 77 81


Resumo O presente projeto tem como objetivo elaborar uma coleção de bolsas utilizando princípios de sustentabilidade e Design Universal, tendo como referência de público uma persona. Desta forma, buscaram-se descobrir os interesses e as necessidades do público através da persona, compreendendo seus critérios de compra e o mapeamento da dificuldade encontrada para essa ação. A metodologia de estudo foi conduzida através de questionário aplicado diretamente com a persona, e de pesquisas bibliográficas da qual pode-se compreender os conceitos de sustentabilidade e Design Universal, para aplica-los nos produtos.

PALAVRAS CHAVES: Moda sustentável; Bolsas; Design Universal.

Abstract This project aims the development of a collection of handbags using principles of sustainability and Universal Design, having as the reference of public a persona. Thus, we sought to discover the interests and needs of the public through the persona, understanding their purchase criteria and the mapping of the difficulty they had for this action. The study methodology was conducted through a questionnaire applied directly to the persona, and bibliographic research from which one can understand the concepts of sustainability and Universal Design, to apply them in the products.

KEY WORDS: Sustainable fashion; Handbags; Universal Design.

ágape . 8


9 . รกgape


Sumário 12 . Introdução 20 . extensão de vida do produto 24 . minimização de recursos 28 . moda inclusiva 32 . design universal

Problematização Hipótese Objetivos

14 16 18


32 . materiais e métodos de pesquisa

Análise Sincrônica Mercado Moda Inclusiva Persona Painel Semântico de persona Pesquisa de Tendências Tema Lista de Requisitos Geração de Alternativas

38 44 46 48 50 52 56 58

60 . resultados

Cartela de cores Cartela de materiais Cartela de estamparia Coleção Croqui Mochila Croqui Pochete Croqui Tiracolo Sistemas de Serviço Processos Produtivos Fichas Técnicas

62 63 64 66 68 69 70 72 74 76

78 . discussão e conclusão

Análise de Viabilidade

80

Referências Apêndice A Anexo A Anexo B

84 86 88 90

82 . considerações finais


~ Introduçao

O pensar no desenvolvimento sustentável se faz indispensável nos dias atuais, a necessidade de encontrar alternativas que amenizem os impactos da produção têxtil na natureza emergem conforme estes efeitos ficam cada vez mais evidentes no dia a dia, e também, à medida que o consumidor começa a colocar a sustentabilidade como critério para escolha de produtos e serviços. Introduzido oficialmente através da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, comandada pela ONU em 1987, o conceito de desenvolvimento sustentável pode ser entendido como um crescimento para todos que integra o meio ambiente ao futuro econômico, social e cultural da humanidade (KAZAZIAN, 2005). Apesar de atualmente muito se fazer na indústria da moda para que esta caminhe junto a sustentabilidade, perdura o desafio de equilibrar os sistemas de produção, modelos de negócios de moda e principalmente o comportamento de quem compra. Decorrente a isso, busca-se através deste trabalho, desenvolver uma coleção de bolsas com matéria prima, mais especificamente o couro, proveniente do descarte na etapa de corte da indústria coureira calçadista da cidade Novo Hamburgo do estado do Rio Grande do Sul. Os conceitos de Design Universal e Moda Inclusiva serão utilizados, para que além de preencher uma lacuna de mercado, apontada pela análise de similares, agregue valor simbólico as peças, visto que, através das pesquisas, mostrou-se necessária a administração da obsolescência ocasionada pela falta de criação de signos estilísticos e emocionais entre o produto e o consumidor, uma vez que 90% das roupas são descartadas antes do fim da sua vida útil.

ágape . 12


13 . รกgape


~ Problematizaçao Na medida em que o tempo passa, o planeta sofre cada vez mais com as consequências das ações humanas. A indústria da moda está em segundo lugar no ranking de indústrias mais poluentes (BBC, 2017), sendo também, o setor têxtil e de vestimenta, o segundo no ranking mundial de consumo (SALCEDO, 2014). Um dos agravantes da insustentabilidade desta indústria, foi a introdução do fast fashion (moda rápida) no mercado. Pode-se dizer que este novo modelo de produção democratizou o acesso a moda. Antes, onde só haviam as opções de prêt-à-porter ou as lojas baratas dos centros comerciais, hoje possuem peças tendências por preços acessíveis nos mesmos centros urbanos em que as marcas de luxo se fixaram. Essa acessibilidade ocasionada por este modelo de “moda rápida”, alterou os significados e sensações causadas por uma peça de roupa. Os consumidores são seduzidos por essa renovação constante do design das peças aliado aos baixos preços, e esta indução ao consumo resulta no aumento da produção de artigos do vestuário e o descarte mais rápido dos mesmos. O fast fashion assume o compromisso de entregar ao consumidor aquilo que ele deseja no presente momento (CIETTA, 2010). Essa tendência de produção de moda cada vez mais rápida, aliada a cadeia produtiva normal (independente da necessidade de rapidez nos processos) faz com que a indústria da moda seja uma das que mais contribuem para a insustentabilidade do planeta (SALCEDO, 2014). A indústria calçadista, principalmente pelo setor coureiro calçadista, dentre as demais indústrias, é a que mais gera poluição (GATELLI; ZEVE; SIKILETO, 2010). No Brasil, segundo o relatório da FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) de 2003, o setor coureiro calçadista ocupa o primeiro lugar em quantidade de resíduos sólidos industriais perigosos gerados pelo setor industrial no estado do Rio Grande do Sul. Segundo Souza (2005) apud Gatelli; Zeve; Sikileto (2010) ‘na transformação de pele em couro, e de couro em sapatos e artefatos, mais de 40% da matéria prima posta em operação é descartada como resíduo junto às águas residuais como em resíduos sólidos’.

ágape . 14

¹ Sistema de produção que começou a se expandir a partir de 1980, que visa potencializar a competitividade e rotatividade dentro da cadeia de produção de moda


15 . ágape

Sob o aspecto ambiental, a indústria calçadista tem grande responsabilidade sobre a insustentabilidade do planeta, visto que esta indústria é altamente poluidora (PLENTZ; TOCCHETTO, 2014). Todas as fases do processo de produção do calçado geram resíduos, estes são os maiores problemas desta indústria. Na etapa de corte das peças dos sapatos, processo subsequente a definição do modelo e modelagem, são gerados a maior parte dos resíduos resultantes da confecção de sapatos (GATELLI; ZEVE; SIKILETO, 2010). Nesta etapa são gerados resíduos como aparas de couro curtido, restos de materiais sintéticos utilizados em cabedais e solados, como EVA e espuma de látex. Os resíduos que contem cromo, ou outros metais pesados, são grandes responsáveis pelo impacto ambiental gerado por esta indústria. Estes resíduos são encontrados nas aparas de couro, em serragem, farelo e pó de couro, e causam, quando descartados irregularmente, contaminação do solo, das águas superficiais e lençóis freáticos. Uma vez extraído das minas, o cromo continua no ecossistema, e sua presença em lençóis freáticos e rios contamina peixes, que consumidos, afetam o bem estar humano. Devido a estas circunstancias, a sustentabilidade ambiental vem se tornando uma preocupação relevante entre os consumidores, fornecedores, compradores e empresários, especialmente em países da Europa para quem o Brasil exporta (PLENTZ; TOCCHETTO, 2014). A necessidade de encontrar alternativas que amenizem os impactos da produção têxtil na natureza, especialmente a da indústria coureira calçadista, emergem conforme estes efeitos ficam cada vez mais evidentes no dia a dia, e também, à medida que o consumidor começa a colocar a sustentabilidade como critério para escolha de produtos e serviços.


Hipótese Idealiza-se criar bolsas e mochilas em couro de descarte oriundos da indústria coureira calçadista da cidade de Novo Hamburgo (RS). Este material será adquirido através do comerciante virtual “couro-shop”, que recolhe os resíduos das industrias de Novo Hamburgo e vende através da internet, ofertando diversos tipos de couro em diferentes tamanhos e espessuras. Além da utilização de um material fisicamente resistente como o couro, deseja-se criar valores intangíveis com o consumidor, através da utilização dos conceitos de Design Universal, de forma a vencer a obsolescência ocasionada pela falta de criação de vínculos estilísticos e emocionais entre o produto e seu comprador, falta esta, que leva o consumidor a descartar suas peças antes mesmo da obsolescência funcional da peça.

ágape . 16


CICLO DE VIDA CRIAÇÃO DO GADO

1 2

RIBEITA E CURTUME

3

RECURTUME

ACABAMENTO DO COURO

Gasto de água

Substâncias tóxicas

4

Poluição

5

INDÚSTRIA CALÇADISTA

Gasto de energia Resíduos para lixo

6

PRODUÇÃO

Transporte

DESCARTE DE RESÍDUOS

7

01 PRODUÇÃO DAS BOLSAS

CONSUMIDOR

DEVOLUÇÃO AO CONSUMIDOR

COMPRA DE RESÍDUOS

02 03

VENDA ONLINE E EM LOJAS COLABORATIVAS

05

DEVOLUÇÃO PARA REPAROS DE FORRO E AUMENTO DA VIDA ÚTIL

04 06

17 . ágape

COURO

ÍNDICE:


Objetivos

Objetivo geral: Desenvolver uma coleção de bolsas com uso do resíduo do couro, em específico das indústrias calçadistas de Novo Hamburgo (RS), com os conceitos de Design Universal e Moda Inclusiva para suprir uma necessidade não só do mercado, como da persona inspiração do projeto.

ágape . 18


Objetivos específicos:

A B C D E

Analisar o ciclo de vida do produto, detectando seus pontos críticos para priorizar a atuação do projeto;

Compreender os conceitos do Design Universal e da Moda Inclusiva;

Otimizar a vida útil do produto na sua etapa de uso;

Utilizar de um processo justo e ético tanto na produção como na precificação;

19 . ágape

Produzir um material digital sobre o desenvolvimento do projeto, de maneira transparente, para que o consumidor esteja ciente de todo o processo e assim possa criar vínculos intangíveis com o produto.


~ Extensao de vida do produto

รกgape . 20


As consequências socioambientais e econômicas do conjunto de inputs e outputs utilizados e gerados ao longo do ciclo de vida dos produtos de moda são intensificadas pela momentaneidade e sazonalidade destes produtos, visto que isto provoca demasiada produção, consumo e descarte (LIMA; VICENTINI, 2012). O ritmo de obsolescência dos produtos de moda está cada vez mais rápido, isto implica no descarte prematuro, muito antes do final da vida potencial das peças. Estudos apontam que 90% das roupas são descartadas antes do fim da sua vida útil (FLETCHER; GROSE, 2011). Esse sistema de consumo rápido se distancia cada vez mais da sustentabilidade. Para uma maior compatibilidade entre os produtos de moda e a sustentabilidade, intervenções ao longo do ciclo de vida se fazem necessárias (LIMA; VICENTINI, 2012).

FIGURA 01: Ação da LCF para chamar atenção ao lixo gerado pelo descarte de roupas

21 . ágape

Fonte: Observamoda, 2016.


Para medir a vida útil de produtos e seus materiais considera-se o tempo que estes podem durar mantendo suas capacidades, características e comportamentos próprios de acordo com o nível padrão pré-estabelecido. A análise desta vida útil varia de acordo com determinadas funções, como a quantidade de uso e a previsão de tempo de vida do produto (MANZINI; VEZZOLI, 2008 apud LIMA; VICENTINI, 2012). Com relação aos artigos de vestuário, para o prolongamento de sua vida útil, necessita-se de intervenções na fase de uso de seu ciclo de vida. A extensão do tempo de uso do produto consequentemente adia o seu descarte. De acordo com Lima e Vicentini (2012, p. 8) ‘A desaceleração do descarte, por sua vez, desacelera também a necessidade de consumo de um novo produto, que acaba desacelerando a necessidade de produção do mesmo’. Na massificação e aceleração dos processos de produção, tornou-se comum a minimização dos aspectos tangíveis do produto, ocorrendo assim a sua despersonalização. Na contemporaneidade, torna-se cada vez mais difícil o consumo apenas pelo valor de uso de determinado produto ou serviço. Os consumidores são motivados a comprar por diversos valores agregados que transformam-se em valores simbólicos e que diferenciam um produto do outro. Tendo isso em mente, e o percentual de roupas ainda em boas condições de uso que são descartadas, pode-se inferir que o descarte não ocorre por obsolescência tecnológica, mas sim pela falta de vínculos simbólicos, estéticos e culturais com o produto (LIMA; VICENTINI, 2012). Essa despersonalização diante a velocidade da produção industrial do sistema de moda, afasta o comprador do fabricante e da origem dos materiais, tornando as roupas objetos inanimados, cumprindo apenas uma meta comercial, como exemplificam Fletcher e Grose (2011, p. 85):

Os significados poéticos perdeu importância, em nome das eficiências de produção, e a estética de uma peça de vestuário reflete não mais que uma atratividade mínima, desenvolvida basicamente para garantir sua venda inicial. As roupas são, nas palavras de Jonathan Chapman “esteticamente empobrecidas”.

ágape . 22


A limitação ou até mesmo a falta de significado e empatia nos produtos de moda, aliado ao baixo custo e facilidade de compra, contribui significativamente para que estas peças sejam descartadas muito antes de estarem gastas. Para que isso se altere, e o âmbito da moda caminhe junto a sustentabilidade, se faz necessário atuar, especialmente, em torno dos elementos constituintes e que influenciam a vida útil de uma peça do vestuário. Geralmente ao se referir a vida útil do produto, o foco é essencialmente físico (materiais resistentes), mas para uma real eficácia na extensão da vida útil do produto, os quesitos estilísticos e emocionais devem ser considerados tanto quanto os materiais, como explicam Fletcher e Grose (2011, p. 85):

A vida útil, ou durabilidade, é muitas vezes entendida como fenômeno primordialmente físico: materiais resistentes e construção robusta. Mas a durabilidade física é uma solução falha quanta a sustentabilidade. Com frequência, na indústria da moda, um produto descartado não é um indicador de baixa qualidade, mas de uma relação fracassada entre o produto e o usuário. Se é verdade que a falta de durabilidade física em um item funcional, como um zíper, pode resultar no descarte de uma peça, estudos revelam que 90% das roupas são jogadas fora antes do fim de sua vida útil. Produtos fisicamente duráveis ainda permanecem sujeitos à lógica do consumo cíclico ditada pela sociedade e pela cultura “ocidentais”. E, “quando os materiais físicos sobrevivem a nosso desejo por eles, o resultado é o descarte”; quando o produto está no aterro sanitário, a durabilidade física torna-se um passivo, em vez de um ativo.

“ 23 . ágape

Pensar sobre o consumo de moda e como alinhar toda a cadeia desta indústria as práticas sustentáveis é ir além do produto, sua produção e seu ciclo de vida. Se faz necessário administrar a obsolescência produzida não apenas pelo desgaste do produto, mas principalmente a que é ocasionada pela falta de criação de signos entre consumidor e produto, e que condiciona os produtos ao fim de vida precoce, visto que são descartados mesmo tendo suas funções ainda válidas (KAZAZIAN, 2005 apud CHAVES; AZEVEDO; NORONHA, 2016).


~ Minimizaรงao de recursos

รกgape . 24


O excesso de produção, consumo e descarte de produtos em geral estabelece um sistema incompatível com a sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Visto a vasta cadeia produtiva e a multiplicação de inputs e outputs ao longo da fabricação e ciclo de vida de produtos de moda, esta indústria apresenta-se em destaque na contribuição da construção deste sistema insustentável (LIMA; VICENTINI, 2012). De acordo com Fletcher e Grose (2011, p.66) ‘as noções de sustentabilidade têm raízes profundas no uso criterioso dos recursos’, isso se dá ao fato de que a maioria dos recursos são finitos, e seus impactos podem ser decisivos para a manutenção dos ecossistemas e continuidade dos mesmos no planeta. Ao buscar diminuir os impactos ambientais oriundos dos produtos industriais, chega-se ao processo de “minimização de recursos”, que pode ser entendido rapidamente como um processo de redução de consumo de matéria e energia para a fabricação de um produto ou realização de um serviço (MANZINI; VEZZOLI, 2005 apud SILVA; SOUZA, 2008). FIGURA 02: Impactos da industria da moda convencional

25 . ágape

Fonte: Autossustentável, 2017.


Reduzir os recursos utilizados também é uma forma de evitar a produção de lixo e o desperdício nas indústrias. As estratégias de minimização de recursos podem ser aplicadas em diversas etapas do ciclo de vida do produtos, tanto na pré-produção, quanto no uso. Pensar em formas de reduzir o conteúdo material de um produto, as perdas e refugos, a energia para a produção e o consumo de recursos no desenvolvimento dos produtos, são formas de minimizar a utilização de recursos na produção e pré-produção. Ao pensar nas embalagens e transporte, com intuito de reduzir o consumo de ambos, possibilita-se a minimização de recursos na distribuição. Propor o uso coletivo, verificar e refletir sobre a eficiência do produto e seu consumo passivo, são pontos importantes para a minimização de recursos na etapa de uso (ibid). A função do design como interventor ao longo do ciclo de vida dos produtos de moda, e minimizador da utilização de recursos, se dá principalmente na escolha e utilizações de materiais com nível reduzido de insumos de produção (como água e energia), que resultam em produtos fabricados com baixo consumo de energia, menor desperdício de inputs e outputs e/ou procedentes da reciclagem, restauração e reutilização de resíduos da indústria e do consumidor (FLETCHER; GROSE, 2011). FIGURA 03: Ciclo de vida de uma peça de roupa

ágape . 26

Fonte: Quintaltrends, 2015.


27 . ágape

A reciclagem, restauração e reutilização, impedem que recursos sejam destinados aos aterros sanitários, reinserindo-os assim, ao processo industrial como matérias primas. Desta forma o fluxo linear de materiais do sistema industrial é desacelerado. Apesar dos benefícios e popularidade destes três caminhos, vale ressaltar que por mais que estes ajudem a tratar os resíduos e controlar seus efeitos negativos, a reutilização e a reciclagem não chegam a raiz do problema, não evitam a produção de resíduos e nem modificam o sistema industrial de desperdício e insustentabilidade da moda, apenas minimizam seus efeitos nocivos. Entretanto, estas estratégias apresentam (bons) resultados a curto prazo e fortalecem e geram confiança para se trabalhar com sustentabilidade na moda, o que aliado a outras formas de agir, pode significar um início de transformação no setor (FLETCHER; GROSE, 2011).


Moda inclusiva

รกgape . 28


29 . ágape

De acordo com o IBGE (2011), o Brasil possui 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 23,9% da população brasileira. Apesar deste número expressivo, a ausência de produtos e serviços de moda que atendam as pessoas com deficiência ainda se apresenta como uma realidade agravante. As novas formas de se produzir moda, como a introdução do “fast-fashion”, acelerou a velocidade das produções e a competitividade entre os preços, ocasionando a busca de valores cada vez menores para a produção de artigos de moda. Estes fatores determinantes para os negócios de moda distanciam-se da possibilidade de se abranger variantes corporais dentro das grades de produção (SANTOS; SOUZA, 2016), visto que o padrão de fabricação do setor é baseado em corpos hegemônicos, buscando assim, maior lucratividade. Com a evolução dos debates sobre acessibilidade da moda e uma constante busca por igualdade na sociedade, diversos movimentos, principalmente nas redes sociais, começaram a surgir nos últimos anos, apontando questionamentos dos consumidores e demonstrando suas insatisfações. A moda situa-se entre as artes e a indústria, influenciando não apenas a economia e o consumo, como também a cultura. Por ter também cunho artístico, a moda não se restringe ao simples produzir objetos, pois ela gera símbolos, criando peças portadoras de significados (GODART, 2010). A indústria da moda e da beleza, influencia diretamente na construção da autoimagem de seus consumidores. Os padrões de comportamento criados por essa indústria e propagados pelos meios midiáticos podem ser apontados como responsáveis pela sustentação de diversos estereótipos e preconceitos na sociedade. A indumentária é uma forma de representação e constituição da identidade do sujeito, porém quando a moda é utilizada na mídia, acaba produzindo discursos de fracionamento, excluindo o corpo que destoa do padrão construído por meio de publicidades e propagandas que reafirmam esse discurso, moldando hábitos e comportamentos (MATTOS, 2013). Pode-se notar que as imagens de moda transmitidas pelos veículos de comunicação fixam-se nos padrões predeterminados pelo setor de forma a excluir o corpo com alguma deficiência, especialmente comparado a outros setores que também divergem do padrão, como o plus size e o agênero, evidenciando a invisibilidade dos corpos com deficiência diante a cadeia têxtil (SANTOS; SOUZA, 2016).


As manifestações, principalmente através das redes sociais, como a criação da hashtag “Drop the Size”, que discute a utilização do termo plus size pela indústria da moda, evidenciam que a atual imagem proposta como ideal de beleza já não é mais aceita e desejada por todos. FIGURA 04: Fotos campanha Drop the Size

Fonte: ITV, 2015.

É através da moda que o indivíduo se apresenta, comunica e se firma no seu círculo social. O vestuário é capaz de contribuir com sua narrativa não-verbal na construção identitária dos indivíduos e dos grupos sociais. O ato de vestir-se carrega sensações e significados não apenas sociais, como culturais e psicológicos, causando no indivíduo noções de identidade, pertencimento e diferenciação (CASTILHO, 2009). O fazer ver, tornar-se visível ao outro é um meio de estabelecer relações e buscar aceitação. Sentir-se incluído em algum grupo social, através da indumentária, traz satisfação e também distancia o indivíduo das angústias geradas pela exclusão. ágape . 30


31 . ágape

Visto o corpo como veículo comunicador e meio fundamental para a construção da auto identidade, a indústria da moda apropria-se desta informação usando o vestuário como maior artifício de representação deste discurso, encontrando também outras formas de potencializar o caráter comunicativo do corpo e sua construção de identidade, como através da fotografia, lançamento de tendências, estudo de proporções e colorações, entre outras vertentes que permitem inúmeras possibilidades ao consumidor (SANTOS; SOUZA, 2016). Ao relacionar moda ao corpo classificado como deficiente, percebe-se que essas infinitas opções não se aplicam a estes usuários, visto que a imagem deste corpo não corresponde ao que é regularmente trabalhado pelo setor. A estigmatização da pessoa com deficiência implica na rotulação desses indivíduos como não consumidores, principalmente no âmbito da moda. Ao observar as questões como acessibilidade em lojas, modelagens das peças ou a representação da pessoa com deficiência em campanhas publicitárias e outros canais de comunicação de moda, pode-se concluir a irrelevância desse grupo como cliente (ibid). Apesar da falta de roupas que realmente atendam as especificidades das pessoas com deficiência, nos últimos anos algumas marcas passaram a introduzir em suas campanhas modelos com deficiência. Essa atitude apesar de não ofertar nem suprir a demanda por produtos de moda inclusiva, oportuniza visibilidade e provoca reflexões sobre o tema (SOUZA; XAVIER; ALBUQUERQUE, 2017). A moda inclusiva surge com a finalidade de inserir os corpos com deficiência no mercado, visto que a indústria hoje não os contempla. Na Europa e nos Estados Unidos da América, este assunto já é tema de alguns estilistas e designers. No Brasil, apesar da espera por este investimento, o nicho de moda inclusiva ainda está em processo de desenvolvimento, e depende, principalmente, da compreensão do papel do designer em relação a inclusão do usuário deficiente como consumidor destes produtos, sendo o design e os designers, importantes agentes do processo de dizimar o preconceito em relação ao deficiente físico (MELLO; REIS, 2015).


Design universal

รกgape . 32


É em 1987 que a terminologia “Universal Design” (Design Universal) é criada pelo americano Ron Mace, arquiteto e cadeirante. Esse termo definia a elaboração de produtos e ambientes passiveis de utilização pela maior parte possível de pessoas. De acordo com Mello e Reis (2015, p. 317):

Compreender o papel do designer em relação à inclusão de usuários em potencial de determinados produtos é essencial ao processo resolutivo de questões enraizadas na sociedade, que a impedem de extinguir o preconceito em relação ao deficiente físico. Devem-se buscar mudanças para afastar o prejulgamento em relação ao diferente, daqueles que possuem deficiência ou redução motora, e lutar para que o estigma seja cada vez mais dissolvido na sociedade.

Os esforços de Mace no Design Universal fulminaram a discussão sobre o assunto em diversos países, inclusive no Brasil, tendo repercussão e influência sob a aprovação da legislação nacional que proíbe a discriminação das pessoas com deficiência (SANTOS; SOUZA 2016). Isto evidencia o valor do design como agente de mudanças na sociedade. Tendo em vista a função que o Design Universal emprega, a elaboração de produtos deve contemplar características de usabilidade e conforto, considerando as especificidades e limitações que o usuário possa ter. A essência para a eficácia da aplicação do Design Universal é a utilização da ergonomia. Através dela viabiliza-se a adaptabilidade dos produtos a diferentes tipos de usuários (BRUNO; BERALDO, 2016).

Fonte: Fancy, 2018.

33 . ágape

FIGURA 05: Pia com design universal.


São 7 os princípios básicos que constituem o Design Universal:

1 2 3 4 5 6 7

Uso equitativo: fornecer os mesmos meios de utilização para todos os usuários, idênticos sempre que possível ou equivalentes quando não;

Uso flexível: o projeto adequa às múltiplas preferências e habilidades individuais, facilitando a precisão e exatidão, proporcionando adaptabilidade de mobilidade e permitindo o acesso e uso (direita e esquerda); Uso simples e intuitivo: o projeto é compreensível e legível independentemente da experiência, conhecimento, habilidades de linguagem ou níveis de cognição e concentração, eliminando complexidades desnecessárias, atendendo as expectativas e intuições dos usuários; Informação perceptível: o projeto possui a informação necessária para o uso, independente das condições ambientais e capacidades sensoriais do usuário, sendo legível, empregando múltiplas modalidades para comunicar, sejam verbais, táteis ou pictóricas; Tolerância ao erro: o projeto minimiza as consequências perigosas derivadas de ações acidentais ou não intencionais, proporcionando elementos de segurança diante dos erros;

Mínimo esforço físico: o projeto pode ser usado de maneira eficiente, cômoda, com um mínimo de fadiga, reduzindo a necessidade de repetir ações; Dimensões adequadas: proporciona espaço e dimensões para uso e interação, tais quais que garantem a flexibilidade, alcance, manipulação e uso independentemente do tamanho, postura e mobilidade do usuário. ágape . 34


35 . ágape

Embasado nesses princípios, o Design Universal age de forma determinante na concepção de espaços, artefatos e produtos que propõem-se a atender todos, considerando suas diferenças antropométricas e sensoriais, de maneira autônoma, segura e confortável, visando soluções que compreendem a acessibilidade. Ao propor-se projetar para todos, estima-se criar produtos e ambientes que atendam pessoas com algum tipo de deficiência, seja elas temporárias ou permanentes, pessoas sem deficiências, ou que tenham alguma dificuldade na utilização de produtos ou ambientes, relacionada a condições do ambiente em que se encontram (FRANCISCO; MENEZES, 2011).


Materiais e mĂŠtodos de pesquisa

ĂĄgape . 36


37 . รกgape


Análise Sincrônica

ágape . 38


39 . ágape

A análise sincrônica consiste num levantamento de produtos similares já existentes no mercado, observando suas características como cores, modelagens e preços. Neste projeto foram realizadas três análises: a primeira exclusivamente de bolsas em couro (TABELA 01), a segunda de bolsas sustentáveis em couro reutilizado (TABELA 02) e a terceira sobre artigos de moda com Design Universal (TABELA 03). Primeiramente objetivou-se que esta terceira análise fosse sobre bolsas com Design Universal, entretanto, com as pesquisas, encontrou-se apenas uma bolsa dita como Design Universal, por isso estendeu-se para artigos em geral.


Análise Sincrônica tabela 01: análise de similares - bolsas em couro Imagem

Produto

Mochila trendy straps preta

Marca

Schutz

Preço

R$890,00

Mochila de couro feminina Cavezzale R$579,90 com matelassê

Mochila média ZZ pool

Mochila tressê preta

Bolsa média

Arezzo

R$699,90

Fechamento

Zíper

Zíper

Zíper

Capodarte R$590,00

Zíper

Luz da lua R$899,90

Zíper

ágape . 40

FONTE: As autoras (2018).

Observações

Alças removíveis, feitas em material esportivo com logo da marca. Couro texturizado e bolso externo frontal com zíper.

Bolso frontal na parte de baixo da frente da bolsa, fechamento com zíper. Texturização do couro feita com o matelassê.

Bolso grande frontal com fechamento em zíper.

Dois bolsos nas laterais, abertos, e bolso frontal com fechamento de zíper. Detalhe agregado ao couro através do tressê do material.

Recortes e acabamentos feitos a mão. Zíper frontal.


tabela 02: análise de similares - bolsas em couro reutilizado Produto

Bolsa columbia

Marca

Uni.co

Preço

R$209,90

Fechamento

Observações

Zíper

Bolso interno. A alça, quando presa em diferentes ganchos, altera a regulagem e modelo da bolsa.

Bolsa sally

Lepreri

R$380,00

Imã

Além do couro reaproveitado, também usa como matéria prima couro de tilápia em curtimento vegetal. Possui bolso interno com zíper, porta chaves e forro com estampa personalizada.

Mochila tipo saco

PP

-

Gorgurão superior e zíper lateral

Fundo redondo, zíper na lateral para facilitar acesso.

Bolsa regata

Mole bags

-

Sem fechamento

Bolsa lateral, se encaixa ao corpo. Possui bolso interno.

FONTE: As autoras (2018).

41 . ágape

Imagem


tabela 03: análise de similares - design universal Imagem

Produto

Marca

Preço

Fechamento

Observações

Bolsa lado B preta

Lado B moda inclusiva

R$19,00

Corda – bolsa tipo saco

Indicadas para cadeirantes, não possui um design inovador.

Nike LeBron Zoom Soldier 8 Flyease

Nike

-

Velcro e cadarço de elástico

O principal objetivo era ser fácil de vestir

Eone Bradley Classic Black Mesh

Eone

U$310.00

Fechamento comum de relógio

Relógio tátil através de duas esferas. Design minimalista e moderno.

FONTE: As autoras (2018).

Após o estudo das peças e a análise dos similares, pode-se perceber, em primeira instância, que em se tratando de uma matéria prima com alta durabilidade e valor agregado, os artigos de couro possuem um preço mais elevado. Além disso, os fechamentos, em sua maioria, são feitos por zíperes que dependendo do seu material é de fato resistente e cumpre muito bem sua função como fecho. Mas, no caso do vigente projeto tem de ser pensado no cursor deste zíper e se é de fácil manuseio. A partir das análises também notou-se como o mercado de acessórios é superficial quanto ao design universal e que mesmo que algumas invistam Após anicho, análise pode-se em primeiracom marcas nesse depoisdos de umsimilares, tempo eles retiram isso do perceber, mercado, ou não se preocupam instância, que se tratando de uma matéria prima com alta durabilia aparência.

dade e valor agregado, os artigos de couro possuem um preço mais elevado. Além disso, os fechamentos, em sua maioria, são feitos por zíperes que dependendo do seu material é de fato resistente e cumpre muito bem sua função como fecho. Mas, no caso do embasamento do Design Universal, proposto neste projeto, tem de ser pensado no cursor deste zíper e se é de fácil manuseio. A partir das análises também notou-se como o mercado de acessórios é superficial quanto ao Design Universal e que mesmo que algumas marcas invistam nesse nicho, depois de um tempo elas retiram seus produtos do mercado, ou não se preocupam com a aparência.

ágape . 42


43 . รกgape


Mercado Moda Inclusiva De acordo com o Censo do IBGE de 2010, o Brasil possui 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Mesmo representando 23,9% da população brasileira, a ausência de uma indústria que atenda com eficiência a pessoas com deficiência na Moda ainda é marcante (MS DOS SANTOS, 2016). A rotulação desses indivíduos como não consumidores é quase sempre sugerida. Quando analisadas as questões como acessibilidade em lojas, modelagens ou identificação dos deficientes com o que é publicado pelas mídias da área, pode-se evidenciar a irrelevância desse grupo como clientes. O mercado da moda é mais importante do que se estima e depende-se dele muito mais do que é evidenciado. O vestuário vai muito além da vaidade, ele reflete a personalidade da pessoa e cumpre funções sociais, como o sentimento de pertencimentos a grupos e culturas. Além disso, está diretamente ligado a autoestima e bem-estar do usuário, como explica Daniela Auler (2012, p.15):

Experiências recentes e conversas com especialistas, feitas pela equipe criadora do projeto Moda Inclusiva, têm constatado que a moda, quando feita sob medida, melhora a auto-estima das pessoas com deficiência. Não é difícil entender. Se uma pessoa que tem atualmente facilidade em se vestir (porque não possui nenhum tipo de deficiência) se sente bem com uma roupa que lhe caia bem, na pessoa com deficiência a felicidade duplica. Porque com a roupa certa ela não adquire apenas beleza, mas um valor precioso que é a autonomia de conseguir vestir-se sozinha.

ágape . 44


45 . ágape

Lojas online destacam-se no mercado da moda inclusiva pois reduzem os gastos de adequação na infraestrutura e no treinamento dos funcionários. Além disso, desta forma os clientes não precisam se deslocar até a loja evitando as dificuldades causadas pela falta de acessibilidade nas cidades (SEBRAE, 2015). Investir no setor de roupas adaptadas tem sido a proposta de empresários que têm expectativas de crescimento do segmento. Com o crescimento da classe média e da inclusão das pessoas com deficiência, o mercado de moda inclusiva tende a crescer mais e mais (SANT’ANNA, 2018). Infelizmente no Brasil as empresas ainda não perceberam o grande potencial do mercado. De acordo com Vitoria Cuervo, uma das autoras do livro “Um olhar diferente sobre a moda” para o Estadão, as empresas ainda nem notaram a real necessidade ‘até porque nenhuma grande empresa já está fazendo, mas acredito que quando a primeira der o primeiro passo e, claro, for sucesso, daí todas irão querer fazer. Porque quando se fala em dinheiro, daí vira superinteressante, mas se falamos apenas em necessidade, daí não é ‘problema deles’.


Persona

Para o desenvolvimento do projeto optou-se por trabalhar com Persona, principalmente devida a intensão de aplicar conceitos de Design Universal nas peças. Esse tipo de produto (com Design Universal) propõem-se a ser usável para o maior número de pessoas possível, sendo de fácil entendimento e manuseio para adultos, idosos e pessoas com deficiências temporárias ou permanentes. No âmbito da moda observa-se a falta de produtos pensados para pessoas com deficiências. Apesar de a maioria das alterações serem simples e de fácil execução, a indústria da moda tanto na elaboração de seus produtos quanto de sua publicidade, ignora a existência de pessoas com deficiências, projetando assim, artigos para um corpo padrão praticamente inalcançável e inexistente. Pensando nisso, o escopo desse projeto baseia-se em uma Persona com deficiência física. Helen Pereira Sippel, nascida em 23 de março de 1997 (21 anos), possui uma deficiência congênita, já nasceu sem os dois braços. Sua relação com a deficiência, segundo Helen, foi de início de “renegar quem eu realmente era”. Quando criança, ela não se via como deficiente mas sim como “especial”, e sua criação contribuiu para este pensamento. A mudança da sua autoimagem se deu quando ela virou atleta em um clube só de deficientes. Ao entrar em um espaço só com pessoas com deficiência, que se aceitavam plenamente, sua percepção sobre si e sobre o outro mudaram radicalmente, desconstruindo preconceitos que Helen tinha com si mesma e com os outros. Atualmente Helen é estudante de Design Gráfico na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e trabalha na área de administração em uma empresa que entrou antes da Universidade. Sua rotina baseia-se em ir para aula de manhã – alguns dias começa às 7h30, outros as 9h30 – de ônibus ou então de UBER se está chovendo. Após a aula, almoça no Restaurante Universitário da UFPR, e vai andando até o trabalho que fica poucas quadras de distância, onde permanece até as 18h trabalhando. Nas terças feiras sai do trabalho e vai a sua psicóloga no bairro Água Verde, e nas sextas feiras vai para o curso de inglês que é próximo ao Shopping Curitiba. Volta para casa de ônibus na maioria das vezes, utilizando UBER principalmente em dias de chuvas. Além da rotina da semana de estudo e trabalho, Helen também realiza atividades de lazer como sair com amigos e ficar com sua família.

ágape . 46


47 . ágape

Com a escolha de trabalhar com bolsas no presente projeto, focou-se em compreender as dificuldades que Helen encontra na hora de comprar e utilizar estes acessórios, para que possa ser projetadas bolsas que supram essas carências. Uma das maiores dificuldade na hora de utilização de mochilas, se dá pela falta da adaptabilidade das alças com relação aos seus ombros. Esse fator é agravado de acordo com a mudança das peças de roupas, que facilitam ou dificultam que as alças escorreguem sobre o ombro e então a mochila caia do corpo. Para que situações como esta não aconteçam, Helen e sua mãe costumam fazer adaptações nas alças das mochilas após compra-las. Essas adaptações consistem em estreitar a largura da alça, melhorando o uso e evitando que elas deslizem facilmente. Outro ponto importante é a impermeabilidade das peças, visto a dificuldade de utilização de guarda chuvas. Ainda focado em mochilas, Helen ressalta a preferência por peças transversais, por mais segurança na utilização, evitando que caia como as mochilas tradicionais. Mas salientou que as opções de mochilas transversais geralmente se restringem a forma triangular, o que esteticamente não lhe agrada. Um quesito indispensável também, é a possibilidade de passar pela catraca do ônibus utilizando as bolsas. Todas essas questões devem ser consideradas para a elaboração das peças.


Painel semântico de persona

FIGURA 06: painel semântico de persona Fonte: As autoras (2018).

ágape . 48


49 . รกgape


Pesquisa de tendência As micro tendências, além de agregarem traços específicos as peças, tornam estas ultrapassadas em um curto período de tempo. A maior parte da cadeia produtiva da indústria da moda é baseada na renovação constante de peças e coleções, motivando o consumo e descarte em curto prazo. Visando um produto capaz de sobreviver a obsolescência percebida do consumidor, muito influenciada pela sobreposição constante de novos modelos, optou-se por trabalhar com uma macrotendência apontada pelo Relatório de Inteligência do SEBRAE de maio de 2018: “Moda Atemporal”. Este movimento vem potencializando-se conforme a preocupação socioambiental aumenta. Com os efeitos das ações humanas na natureza cada vez mais evidente, o mundo tem sido questionado sobre suas práticas de consumo. Os consumidores cada vez mais conscientes, passam a repensar o seu dia a dia e tudo que ele engloba, incluindo o consumo de artigos de moda. Em paralelo a forma ainda dominante de produção e consumo, descrita no primeiro parágrafo, tem-se com este movimento de Moda Atemporal a busca de produtos com matéria prima de boa qualidade, longevidade e o consumo consciente das peças. Um produto atemporal trata-se de produtos que “nunca saem de moda”, como os clássicos que se perpetuaram através da história. Trabalhar com peças atemporais é propor a quebra de um (curto) ciclo, baseado em tendências que caem na obsolescência sempre que uma nova é lançada. Este conceito encaixa-se na proposta de trabalho, e almeja-se atingir e refletir essa contemporaneidade nas peças da coleção.

ágape . 50


as macrotendência

FIGURA 07: painel semântico de tendência

51 . ágape

Fonte: As autoras (2018).


Tema Devido a escolha de trabalhar com estética atemporal como forma de vencer a obsolescência das peças ocasionadas pelo uso de micro tendências, optou-se por trabalhar com tema apenas na geração de estampas dos forros das bolsas. Pensando na continuidade do projeto e sua comercialização, cada coleção de bolsa vem acompanhada de uma cartela de coleção de estampas, ficando a critério do comprador a escolha. Para a primeira coleção de estampas decidiu-se trabalhar com a abstração semiótica através de conceitos de Peirce. Escolheu-se uma música de apreço da persona para realizar essa abstração e através dos princípios de primeiridade, secundidade e terceiridade, foi possível analisar a música e chegar em seu DNA, três frases/palavras básicas que resumem os sentimentos e conceitos expressos na música. A música escolhida chama-se “Thinking Of a Place” da banda The War On Drugs, de estilo Indie Rock. Trata-se de uma música longa (11:12), seu ritmo é constante, não apresentando mudanças bruscas de ritmo e tom. O som é contínuo com solos instrumentais e apresenta um estilo “mecânico” e hipnótico no início e final da música através destes solos. A partir da análise e elaboração do DNA, foi possível criar uma tabela de signos em que se explica o significado de cada conceito e associa-se estes as cores e formas (ex: melancolia = preto e branco, formas abstratas que não se podem moldar...). Através da tabela de signos foi possível definir as formas e cores para as estampas, para que então, pudesse começar o processo de design de superfície. Para a criação das estampas começouse com desenhos manuais com caneta nankin e aquarela. Então as estampas foram digitalizadas, tratadas e transformadas em rapport. O resultado foram três estampas inspiradas nos conceitos: melancolia leve (sem angústia); anseio por liberdade e serenidade. A análise completa encontra-se no apêndice A.

ágape . 52


FIGURA 08: estampa 01

53 . รกgape

Fonte: As autoras (2018).


FIGURA 09: estampa 02 Fonte: As autoras (2018).

รกgape . 54


FIGURA 10: estampa 03

55 . รกgape

Fonte: As autoras (2018).


Lista de Requisitos Com o propósito de auxiliar nas gerações de alternativas, e consequentemente no resultado final da coleção, foi gerada uma tabela de requisitos funcionais e estéticos e classificados entre desejáveis e obrigatórios. Os primeiros poderão ou não estarem contidos nas peças, e os segundos, como o próprio nome sugere, deverão obrigatoriamente integrar a coleção. tabela 04: requisitos Maior parte em couro de descarte Costuras visíveis (pesponto) Atenda completa ou parcialmente os conceitos de D.U. Peças atemporais Etiqueta com vínculo simbólico Fácil desmontagem do forro Bolsos internos

Fonte: As autoras (2018).

X X X X X X X

ágape . 56


57 . รกgape


~ Geraçao de alternativ

ágape . 58

FIGURA 11: geração de alternativas 1 Fonte: As autoras (2018).


FIGURA 12: geração de alternativas 2 Fonte: As autoras (2018).

59 . ágape

vas


Resultados

รกgape . 60


61 . รกgape


Cartela de Cores bolsas C: 0 M: 0 Y: 0 K: 100

forro C: 8 M: 96 Y: 31 K: 0

C: 74 M: 99 Y: 7 K: 1

รกgape . 62

FIGURA 13: cartela de cores Fonte: As autoras (2018).

C: 80 M: 36 Y: 54 K: 13

C: 46 M: 18 Y: 32 K: 0

C: 58 M: 49 Y: 47 K: 15


FIGURA 14: cartela de materiais Fonte: As autoras (2018).

63 . รกgape

Cartela de Materiais


Cartela de Estamparia

estampa liberdade Ref. 001

รกgape . 64

FIGURA 15: cartela de estamparia Fonte: As autoras (2018).

estampa serenidade Ref. 002

estampa melancolia Ref. 003


65 . รกgape


~ Coleรงao

รกgape . 66


FIGURA 16: coleção ágape

67 . ágape

Fonte: As autoras (2018).


Mochila

รกgape . 68

FIGURA 17: croqui 01 - mochila Fonte: As autoras (2018).


FIGURA 18: croqui 02 - pochete Fonte: As autoras (2018).

69 . รกgape

Pochete


รกgape . 70

FIGURA 19: croqui 03 - tiracolo Fonte: As autoras (2018).


71 . รกgape


Sistemas de Serviço

O presente projeto tem como escopo superar a obsolescência ocasionada pela falta de criação de vínculos estilísticos e emocionais entre o produto e seu comprador. As pesquisas apontam que 90% das roupas são descartadas antes do fim de sua vida útil, e a ausência de signos entre consumidor e peças podem explicar este descarte. Tendo isso como base, apenas a utilização de materiais resistentes e bons acabamentos não se faz suficiente. Desenvolveu-se a coleção buscando alcançar estética atemporal, de forma que estas bolsas não tornem-se obsoletas devido ao surgimento de uma nova bolsa inspirada em micro tendências, por exemplo. A aplicação do tema se deu nas estampas do forro, de forma a criar vínculo com o consumidor de forma sútil e intimista, visando não comprometer a vida útil do produto devido a possibilidade da obsolescência estética caso as estampas fossem utilizadas no exterior das bolsas. Pensando que o couro animal, matéria prima principal da coleção, é extremamente resistente e capaz de suportar anos de uso, e o tecido do forro (gorgurinho) já não apresenta esta mesma característica, o serviço pensado para a presente coleção é justamente o da possibilidade de troca do forro, tanto devido a estragos quanto por vontade de adquirir uma nova estampa. Desta forma, ao comprar uma bolsa da coleção Ágape, está intrínseco no valor da peça a troca futura de 2 forros. Os forros são fixados através de velcro na parte interna da bolsa, desta forma, além de facilitar a retirada para o descarte/troca, o consumidor pode utilizar-se disto para a limpeza da peça, podendo retirar o forro com facilidade para lavagem. Ao optar trabalhar com a fixação em velcro, reduz-se o custos do serviço, desta forma não se é necessário a devolução da bolsa para efetuar a troca, e o envio pode ser feito através de carta registrada do correio, poupando assim o frete de vinda da peça para a empresa, e então o de sua devolução. ágape . 72


SISTEMA DE SERVIÇO

BOLSA EM COURO

Compra do produto

Consumidor enjoa do forro ou o mesmo estraga

Disponibilização de 2 trocas de forro inclusas aumentando a vida útil da bolsa

Forro aplicado com velcro facilitando para o cliente a retirada/troca

FORRO O consumidor podendo trocar sozinho poupa o transporte da bolsa até a empresa

73 . ágape

Envio dos forros feito pelo correio


Processos Produtivos

Após definido os modelos das bolsas, posteriormente as gerações de alternativas, começou o processo de confecção. Optou-se por confeccionar as pilotos e terceirizar as peças finais. Desta forma, com as pilotos feitas, a troca de informação entre as autoras e facções seria facilitada. Para a confecção das pilotos, primeiro foi traçado os diagramas em papel craft. As modelagens são simples, baseiam-se em retângulos com pontas arredondadas. As bases inicialmente foram retangulares com triângulos em cada ponta menor. Após a finalização dos diagramas, traçou-se os moldes em outro pedaço de papel craft e acrescentou-se margem de costura. Optou-se por trabalhar com algodão cru nas pilotos. Apesar de não assemelhar-se ao couro, devido as formas básicas das bolsas, a textura e caimento do algodão cru não possui grande influência no resultado final desejado. Os moldes foram cortados no algodão cru e em nylon (forro), costurado em máquina caseira reta, tendo os acabamentos em viés.

ágape . 74

tabela 20: peças pilotos

FONTE: As autoras (2018).


75 . ágape

Após a prova da persona, ajustes se fizeram necessário. Estas mudanças foram anotadas, algumas até mesmo modificadas nas pilotos (com auxílio de alfinetes) e então repassadas aos confeccionistas das peças finais. As principais mudanças foram com a mochila, ficando para a pochete apenas a redução da largura. A mochila para melhor estruturação no corpo, teve o “fim” da alça deslocada para a lateral. O tamanho do triangulo na parte superior foi diminuído, as laterais e a largura da alça também. A confecção que realizou a produção reformou os moldes de forma a ficarem melhores para a confecção em couro. Para a confecção das peças finais foi utilizado maquinário específico para costurar couro, sendo eles máquina de costura com transporte duplo, máquina de coluna, máquina de virar tira, máquina de “desgaste” do couro para costurar em cima e máquina manual de pregar rebite e ilhoses. Primeiramente foi definido o molde das partes frontais, tanto da bolsa quanto da pochete, que será a parte principal das peças. O fole é cortado com o recorte do zíper ao meio, costurado o zíper e então aplicado com o vivo nas partes frontal e traseira da bolsa. A alça de 4cm é cortada com 6cm e tem 1cm dobrado de cada lado para dentro e pespontada, assim deixando ela dupla e mais firme. Ela é dividida em duas partes para poder encaixar a fivela de ajustes. Depois de costurada a alça, são feitos os furos e aplicado o ilhós em uma das alças e a fivela na outra. Finalmente as alças são presas nas partes indicadas do fundo da bolsa.


Fichas Técnicas FICHA TÉCNICA DE PRODUTO

MODELO REFERÊNCIA

MOCHILA 001

COLEÇÃO

01/2019

TECIDO/COMPOSIÇÃO Retalho de couro / ANIMAL

APLICAÇÃO Todo

FORNECEDOR Couro shop

CÓD COR 0001 (preto)

LARGURA (Varia retalhos)

PREÇO R$45,00/kg

CONSUMO 1,3 kg

Gorgurinho / 100% PES

Forro

Torre V. Decor

LIBERDADE (01)

1,4 m

R$11,00/m

1,5 m

AVIAMENTOS

COMPOSIÇÃO

FORNECEDOR

COR

TAMANHO

PREÇO

CONSUMO

Ilhós

100% METAL

Altero

Prata

15mm

R$0,06/uni

4

R$0,24

Fivela

100% METAL

Altero

Prata

50mm

R$2,20/uni

1

R$2,20

Vivo

100% PES

Roma Avi.

Preto

Padrão

R$0,50/m

1,4m

R$0,70

Zíper visível

Nylon

TR Distribuidora

Preto

Em metro

R$1,30/m

1m

R$1,30

Velcro

100% PES

TR Distribuidora

Preto

Em metro

R$2,60/m

2m

R$5,20

E.V.A

100% BORRACHA

Atacado BF

Preto

R$8,00/m²

50cm

R$4,00

Frente

ágape . 76

tabela 05: ficha técnica mochila FONTE: As autoras (2018).

Costas

TOTAL


FICHA TÉCNICA DE PRODUTO

MODELO REFERÊNCIA

POCHETE 002

COLEÇÃO

01/2019

TECIDO/COMPOSIÇÃO Retalho de couro / ANIMAL

APLICAÇÃO Todo

FORNECEDOR Couro shop

CÓD COR 0001 (preto)

LARGURA (Varia retalhos)

PREÇO R$45,00/kg

CONSUMO 0,7 kg

Gorgurinho / 100% PES

Forro

Torre V. Decor

LIBERDADE (01)

1,4 m

R$11,00/m

0,5 m

AVIAMENTOS

COMPOSIÇÃO

FORNECEDOR

COR

TAMANHO

PREÇO

CONSUMO

Ilhós

100% METAL

Altero

Prata

15mm

R$0,06/uni

4

R$0,24

Fivela

100% METAL

Altero

Prata

50mm

R$2,20/uni

1

R$2,20

Vivo

100% PES

Roma Avi.

Preto

Padrão

R$0,50/m

0,7m

R$0,35

Zíper visível

Nylon

TR Distribuidora

Preto

Em metro

R$1,30/m

0,4m

R$0,52

Velcro

100% PES

TR Distribuidora

Preto

Em metro

R$2,60/m

0,8m

R$2,08

E.V.A

100% BORRACHA

Atacado BF

Preto

R$8,00/m²

30cm

R$2,40

Costas

tabela 06: ficha técnica pochete

FONTE: As autoras (2018).

77 . ágape

Frente

TOTAL


~ Discussao e ~ Conclusao

รกgape . 78


79 . รกgape


Análise de Viabilidade Com a análise de similares efetuada na parte inicial do projeto, criou-se uma expectativa quanto ao valor do produto final. Visto que a matéria prima possui um preço elevado, e que também na sua manipulação são utilizados maquinários e mão de obra específicos para a confecção do produto final, seria incomum esperar que o preço deste fosse muito a baixo da média do mercado. Existe, ainda, um aumento causado pelo desejo de colocar o tema expresso nas estampas do forro. Além do custo deste tecido, há a despesa devido a estamparia, neste caso a sublimação, e frete, já que o processo é efetuado em outra cidade (Jaraguá/SC). Assim, conclui-se que o preço resultante é elevado, mas não inviável comparado aos produtos semelhantes no mercado. Sabe-se também que produtos dedicados ao design universal são escassos e, por isso, pessoas que desejam adquiri-los estão dispostas a pagar mais pela sua funcionalidade.

ágape . 80


total

pochete

R$60,00

R$30,00

R$20,00

R$10,00

R$14,00

R$7,00

R$450,00

R$300,00

R$113,30

R$73,90

R$566,50

R$369,50

R$22,50

R$22,50

tabela 07: análise de viabilidade FONTE: As autoras (2018).

81 . ágape

custo material (couro) custo material (forro) custo sublimação custo fabricação custos gerais lucro

mochila


Considerações Finais

ágape . 82


83 . ágape

Este trabalho teve como escopo a criação de um projeto de design sustentável no segmento de bolsas com foco na minimização de recursos e extensão de vida útil do produto. Buscou-se aliar conceitos de Design Universal visando criar vínculos com o consumidor e assim diminuir as possibilidades de descarte devido a obsolescência percebida. Iniciou-se com pesquisas para compreender o ciclo de vida das peças de vestuário para que então pudesse escolher as etapas de intervenção a fim de criar uma coleção de peças, neste caso bolsas, mais sustentáveis ecológica e socialmente. Com a problemática escolhida, aprofundou-se através de pesquisas teóricas nos temas de minimização de recursos e extensão de vida. Ao aprender sobre estes temas, percebeu-se que trabalhar com o Design Universal não é apenas uma questão de sustentabilidade social mas também ambiental, visto que através dos signos criados entre produtos com Design Universal e compradores, diminui-se o descarte precoce destas peças. Aliou-se os conceitos adquirido durante a trajetória acadêmica com os novos conhecimentos sobre sustentabilidade para desenvolver uma coleção de bolsas com Design Universal feitas em couro de descarte da indústria calçadista do Rio Grande do Sul. A confecção das peças trouxe ricas experiências sobre a produção de artigos em couro, podendo compreender a complexidade do processo produtivo, e principalmente, a complexa tarefa de interagir com fornecedores com a finalidade de obter os melhores resultados possíveis. Trabalhar com persona é sempre um exercício de humildade em que ocorre uma troca significativa de ambas as partes. Neste projeto em especial, o contato com uma pessoa com deficiência além de enriquecer o trabalho e reforçar a função do designer de desconstruir preceitos sociais, oportunizou as autoras grande crescimento pessoal.


Referências ABIACAV. Mercado de bolsas e acessórios registra bom desempenho na Francal 2016. Disponível em: <http://www.abiacav.org.br/ noticias/mercado-de-bolsas-e-acessorios-registra-bom-desempenho-na-francal-2016>. Acesso em: 20 set. 2018. BRUNO, Amanda Pilla; BERALDO, Isabella Pezzo. Aplicação do design universal em produto de moda para pessoas com acondroplasia. In: 12º Colóquio de Moda – 9ª Edição Internacional 3º Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Design e Moda 2016. CASTILHO, Kathia. Moda e linguagem. rev. São Paulo: Ed. Anhembi Morumbi, São Paulo, n. 2, jul. 2009. CIETTA, Enrico. A revolução do fast-fashion: estratégias e modelos organizativos para competir nas indústrias híbridas. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010. FLETCHER, Kate; GROSE, Lynda. Moda & sustentabilidade: design para mudança. São Paulo: SENAC São Paulo, 2011. FRANCISCO, Paulo César Moura; MENEZES, Alexandre Monteiro de. Design universal, acessibilidade e espaço construído. Construindo, Belo Horizonte, v.3, n.1, p.25-29, jan./jun. 2011 GATELLI, Elisia; COL ZEVE, Carlos Mário Dal; SIKILERO, Claudio Bastos. Impacto ambiental da cadeia produtiva do setor calçadista do vale do rio dos sinos. In: XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a 15 de outubro de 2010.

ágape . 84


LIMA, Verena Ferreira Tidei De; VICENTINI, Cláudia Regina Garcia. Novas propostas de produtos de moda e a sustentabilidade: a percepção do consumidor. IN: 13º Colóquio de moda – 10ª Edição Internacional, 4º Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Design e Moda, 2017. PLENTZ, Natália Debeluck; TOCCHETTO, Marta Lopes. O Ecodesign na Indústria de Calçados: proposta para um mercado em transformação. Revista do Centro do Ciências Naturais e Exatas UFSM, Santa Maria Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental - REGET e-ISSN 2236 1170 - v. 18 n. 3 SetDez 2014, p.1022-1036 SALCEDO, Elena. Moda ética para um futuro sustentável. São Paulo: G. Gili, 2014. SANTOS, Michele Simões dos; SOUZA, Josenilde. #MEUCORPOÉREAL: um olhar sensível para a moda inclusiva. In: 12º Colóquio de Moda – 9ª Edição Internacional 3º Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Design e Moda 2016. SILVA, Kelenson; SOUZA, Aline Teixeira De. Minimização dos recursos e o design: desenvolvimento de cama infantil com redução dos consumos de matéria e energia. Ensus, Vale do itajai, v. 2, abr. 2008.

85 . ágape

SOUSA, Rosângela Elisa De; XAVIER, Lucyana Azevedo; ALBUQUERQUE, Suellen Silva De. Moda inclusiva: reconhecendo a necessidade da criança cadeirante. M o d a p a l a v r a e - p e r i ó d i c o. Ano 10, n.19, jan-jun 2017. ISSN 1982-615x.


Apêndice A - Análise Música Tema APÊNDICE A – ANÁLISE MÚSICA TEMA 1- Escolha da música A música retrata dependência emocional em um relacionamento. Em que quando ele – o relacionamento – acaba, o dependente sente-se arrasado, como se estivesse morrendo. Retrata saudade, da tristeza de um coração partido e a vontade de ter de volta. 2- Análise conceitual 2.1 – PRIMEIRIDADE Ritmo constante, sem mudanças bruscas de ritmo e tom. O som contínuo com solos instrumentais e apresenta um estilo “mecânico” e hipnótico no início e final da música através destes solos. Voz rouca solo. 2.2 – SECUNDIDADE Música da banda The War On Drug, da Filadélfia, Pensilvânia. Estilo: Indie Rock Presença de violão, guitarra, bateria, teclado, saxofone e baixo. 2.3 – TERCEIRIDADE A música fala sobre um amor lúdico. O locutor pensa em um lugar em que essa relação exista, como se houvesse um relacionamento hoje já não existe. Sobre estar passando pelo escuro e pensar em outro lugar, deixa a entender que está muito triste sozinho, lembra do(a) amado(a) e continua sofrendo de amor.

ágape . 86


CONCEITO

SIGNIFICADO

CORES

FORMAS

Melancolia leve (sem angustia)

Lembrança Nostalgia Desânimo

Cores opacas, preto e branco

Mole, algo que não se pode moldar

Anseio por liberdade

Vontade Aspiração Desejo de independência

Cores alegres, cores claras/pastéis como verde, azul, rosa e tons do pôr do Sol

Formas orgânicas e naturais, algo que não se pode moldar, abstrato

Cores claras, tom pastel, verde, azul

Formas contínuas, sem pontas (mais arredondadas, menos “agressivas”), florais abstratos, abstratos sem formas definidas (lembrando mármore, mas mais suave).

Serenidade

Calma Manso Tranquilo

87 . ágape

TABELA DE SIGNOS


Anexo A - Letra da Música Tema

ágape . 88


89 . รกgape


Anexo B - Traduçâo da Música Tema

ágape . 90


91 . รกgape


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.