PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO COORDENAÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC
RELATÓRIO FINAL
PRÁTICAS DE VIDA E CONSUMO EM PARQUES URBANOS DE CURITIBA TAISA VIEIRA SENA
CURITIBA 2019
TAYNÁ FERREIRA MADUREIRA TAISA VIEIRA SENA
DESIGN DE MODA - EAD BOLSA PIBIC – Fundação Araucária
PRÁTICAS DE VIDA E CONSUMO EM PARQUES URBANOS DE CURITIBA
Relatório Final apresentado ao Programa Institucional
de
Bolsas
de
Iniciação
Científica, Pró-Reitoria de Pesquisa, PósGraduação
e
Inovação
da
Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, sob orientação do(a) Prof(a). Dra. Taisa Vieira Sena.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Exemplo quadrado semiótico. ...................................................... Erro! Indicador não definido. Figura 2: Painel 5 cores mais utilizadas nas roupas em cada parque ......................................... 13 Figura 3: Nível fundamental dos parques .................................................................................... 14 Figura 4: Quadrado semiótico tipologia do consumidor ............................................................... 14
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Informações sobre os 4 parques. ............................................... Erro! Indicador não definido.
Nenhuma entrada de índice de ilustrações foi encontrada.Tabela 3: Tipologia do consumidor .............................................................................................. 15
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................1
2.
OBJETIVOS ..............................................................................................................................2 2.1 Objetivos específicos .................................................................................................................... 2
3.
REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................................................3
4.
MATERIAIS E MÉTODO ...........................................................................................................5
5.
RESULTADOS ..........................................................................................................................7 5.1 Artigo Colóquio de Moda ................................................................................................ 16
6.
DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 17
7.
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 23
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 24 ANEXOS.......................................................................................................................................... 25
RESUMO
Introdução: Na contemporaneidade a maior parte da população do mundo vive em cidades ou próximo delas. No Brasil, de acordo com o IBGE (2010), 84,4% da população vive em áreas urbanizadas. Com mais de um milhão e meio de habitantes, Curitiba é conhecida como uma das melhores cidades para se viver no país. Acreditase que a cidade é um conjunto de linguagens sincréticas que formam um sistema de significação. Neste contexto, a presente pesquisa visa analisar as práticas sociais (vida e sentidos) que circundam quatro parques urbanos da capital paranaense: o Passeio Público, o Parque Barigui, o Jardim Botânico e o Parque Bacacheri. Este estudo faz parte do grupo de Tendências em Design, integrada à linha de pesquisa em produção e consumo, que busca desenvolver material com seu cerne em tendências relacionadas à produção e ao consumo de bens e serviços. Objetivos: Verificar atributos sensíveis dos parques analisados, visando identificar e nomear uma tipologia de modos de vida e consumo dos mesmos através do desenvolvimento de um cronograma de observações. Materiais e Método: A pesquisa foi desenvolvida a partir do cumprimento do cronograma, realizando estudo teórico e de campo, tendo como base teórica e de análise a Semiótica discursiva de Greimas e seu desdobramento com a sociossemiótica de Landowski, e os apontamentos de semiótica e moda de Castilho e Martins. Utilizou-se também da volta à literatura base para complementar os dados coletados, além de embasar o desenvolvimento teórico. Resultados: As características de cada local influenciam na forma de interação do indivíduo com o ambiente, e estes aspectos estão intrinsicamente ligados a maneira com que o sujeito se apresenta e comporta em cada espaço. Através das observações, anotações e pesquisas, executou-se o mapeamento das práticas de vida e consumo em cada parque analisado. As informações coletadas foram substanciais para a estruturação do nível fundamental do corpus de análise da semiótica discursiva: o quadrado semiótico, que consiste na representação visual das oposições semânticas percebidas. A partir do nível fundamental foi possível nomear quatro tipos de consumidores dos parques da capital: o consumidor Influenciado(r), o Contagiante, o Conveniente e o Prático, e assim, definir suas oposições semânticas. Considerações Finais: A percepção e criação da tipologia possibilitou a identificação dos consumidores principais de cada parque e também como estes apropriam-se de todos os outros locais, mesmo que em menor quantidade, promovendo deste modo, abertura a novos estudos sobre a pluralidade de consumidores em cada parque da capital. Palavras-chave: Consumidores. Parques Urbanos. Curitiba.
0
1. INTRODUÇÃO Este relatório final é referente ao projeto “Práticas de vida e consumo em parques urbanos de Curitiba” que trata de uma pesquisa teórico-prática, com o escopo de desenvolver uma tipologia do perfil do consumidor de moda em parques da cidade de Curitiba. Este estudo faz parte do grupo de Tendências em Design, integrada à linha de pesquisa em produção e consumo, que busca desenvolver material com seu cerne em tendências relacionadas à produção e ao consumo de bens e serviços. Na contemporaneidade a maior parte da população do mundo vive em cidades ou próximo delas. No Brasil, 84,4% da população vive em áreas urbanizadas (IBGE, 2010). Com mais de um milhão e meio de habitantes, Curitiba é conhecida como uma das melhores cidades para se viver no país e como modelo de planejamento urbano, tendo, a partir da década de 1970, introduzido o conceito de aproveitamento de áreas verdes como espaços de lazer e recreação, além de indicadores de qualidade de vida na cidade (CASTELNOU, 2006). Acredita-se que a cidade é um conjunto de linguagens sincréticas que formam um sistema de significação. Neste contexto, a presente pesquisa visa analisar as práticas sociais (vida e sentidos) que circundam a cidade de Curitiba. A própria existência do indivíduo na cidade, e seus tipos de interações, são responsáveis pela construção do sentido, sendo possível edificar uma representação semântica do estilo de vida na urbe através da análise destas interações. Tendo como base teórica e de análise a Semiótica discursiva de Greimas e seu desdobramento com a sociossemiótica de Landowski, e os apontamentos de semiótica e moda de Castilho e Martins, trouxe-se através deste projeto, uma noção de tipologia de consumo de moda na cidade de Curitiba, por meio do mapeamento das práticas de vida em quatro parques urbanos (Barigui, Bacacheri, Jardim Botânico e Passeio Público) de posicionamento de uso e interação dos sujeitos e públicos diferentes.
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2. OBJETIVOS
Identificar e organizar (nomear) uma tipologia de modos de vida e consumo nos parques da cidade de Curitiba.
2.1 Objetivos específicos •
Verificar atributos sensíveis dos parques propostos no projeto e como tais
desencadeiam as práticas de vida de seus consumidores; •
Desenvolver um roteiro de observação e a sua aplicação como observação não
participante; •
Analisar e mapear os diferentes hábitos de consumir moda em parques
curitibanos; •
Verificar como o consumo pode ser um sistema de significação de estilo de vida
e relação entre o sujeito e a cidade.
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3. REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura traz abordagens teóricas da semiótica discursiva desenvolvida por Algirdas Julien Greimas, através de textos de Eric Landowski, Kathia Castilho e Marcelo Martins. Landowski também é utilizado por suas abordagens sobre sociossemiótica, desdobramento da semiótica de Greimas. Todas buscam analisar empírica e descritivamente a emergência do sentido nas enunciações cotidianas. A semiótica discursiva, ou semiótica do discurso, surgiu da necessidade de suprir as lacunas que outros ramos (como linguística, fonologia e sintaxe) não preenchiam, a fim de demonstrar como se desenvolve a geração de significado além da frase, através de uma fundamentação empírica e descritiva que almeja dar conta das atribuições sintáticas e semânticas que geram o sentido de textos. Contrária a gramática narrativa clássica que se fundamenta na análise das conjunções e disjunções para estudos de significado e ações dos actantes, a sociossemiótica considera as interações sujeito-objeto e/ou sujeito-espaço. A forma analítica desse campo da semiótica possibilita ir além de unicamente estudar o texto ou o discurso, ampliando as possibilidades de estudo do sujeito em relação as suas práticas cotidianas, sejam elas socialmente ou em relação ao ambiente em que se encontra inserido e executa suas ações. A construção de uma ciência do sentido é o embasamento do atual estudo, pois auxilia no planeamento semântico e sintático das maneiras que o indivíduo interage com o ambiente (os parques), e também como ele se relaciona com o momento de consumo destes locais (atividades realizadas, roupas utilizadas, compras nos locais, entre outras). Landowski (1992) em Sociedade refletida, tratou dos regimes de visibilidade. Nesse contexto, a abordagem semântica nas práticas sociais se refere à determinação de classes funcionais nas esferas culturais, configurando as visibilidades, tanto do público como do privado, acerca da não visibilidade que se relaciona com a dimensão privada. O semioticista elucida sobre a oposição semântica, considerando o “privado” oposto do “público”, e o “individual” versus o “coletivo”. Essa perspectiva possibilita na correlação dos termos e no embasamento para definição do termo “ver” e seus desdobramentos. 3
As interações sociais são baseadas em “ver” e “ser-visto”, e este entendimento também é explanado nos livros Moda e Linguagem de Kathia Castilho (2009) e Discursos da Moda: semiótica, design e corpo de Castilho e Marcelo Martins (2005). Enquanto através da leitura de Landowski (2009) entende-se a relação do indivíduo com o espaço e suas interações coletivas e individuais, com essas outras leituras consegue-se, através da semiótica, fazer relações também com a interação do sujeito com seu corpo e com a moda. Tanto no livro só de Castilho como no dela e Martins, os autores afirmam que é através da moda que o indivíduo se apresenta, comunica e se firma no seu círculo social. O vestuário é capaz de contribuir com sua narrativa não-verbal na construção identitária dos indivíduos e dos grupos sociais. O ato de vestir-se carrega sensações e significados não apenas sociais, bem como culturais e psicológicos, causando no indivíduo noções de identidade, pertencimento e diferenciação. O fazer ver, tornar-se visível ao outro é um meio de estabelecer relações e buscar aceitação.
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4. MATERIAIS E MÉTODO
A pesquisa foi desenvolvida a partir do cumprimento do cronograma (ANEXO A), realizando estudo teórico e de campo, incluindo também a volta à literatura base para complementar os dados coletados, além de embasar o desenvolvimento teórico. Como proposto no cronograma do plano do aluno, foi organizada uma agenda de observações dos parques (ANEXO B), distribuindo durante os meses propostos dias específicos para observação e coleta de dados. Inicialmente pensou-se em realizar os registros através de áudio, gravando através da fala o que se observava em cada parque, porém, o caráter de observação não participativa poderia ser prejudicado, tanto por não conseguir estar tão próximo das pessoas quanto por chamar a atenção das mesmas devido a fala. Desta forma então, foram realizadas as coletas através de anotações (pelo celular e caderno) e registros fotográficos, os quais alguns encontram-se no ANEXO C. Buscou-se observar no mínimo 1 hora em cada período (manhã, tarde e noite), dos dias programados para a pesquisa de campo. No Parque Barigui, cada observação por período levou no mínimo 2 horas devido ao tamanho do parque. Nos dias de calor e movimento, as observações variaram de 4 a 6 horas no Barigui, e 2 a 3 horas nos demais. O período noturno foi o mais difícil de observação, especialmente pela sensação de insegurança da autora ao andar desacompanhada. Desta forma, as observações noturnas ocorreram em apenas alguns dias, quando era possível ter uma companhia (masculina) para tal, principalmente no Parque Barigui. A quantidade de assédio sofrido durante as observações, especialmente no Passeio Público e no Barigui, fez que alguns cuidados como este para observação noturna fossem adotados. Aliado à pesquisa de campo, o levantamento de dados também ocorreu através de pesquisas virtuais, como para o conhecimento da história dos parques, notícias relacionadas a eles, e também para complementar as informações coletadas nas pesquisas de campo. A fim de evidenciar as diferenças de cada parque, e assim embasar a tipologia identificada, adotou-se o quadrado semiótico de Greimas, que de acordo com Floch 5
(2014), é a representação visual das relações que existem entre as características distinguíveis. Essa metodologia, pertencente a primeira fase do estudo através da semiótica discursiva, identifica a rede de relações de sentido referentes aos níveis narrativos e discursivos. Nela se estabelece os atributos observáveis do objeto estudado, visando categorizar suas oposições semânticas e embasar as características norteadoras para geração de sentido. Após estipular essas características, o pesquisador deve estabelecer as relações de contrariedade e contradição de modo a levantar quais propriedades são contradizentes e quais são contrárias as já observadas no universo estudado, sendo que, as mesmas características de contrariedade e contradição (não-reciprocas) devem possuir relação de complementariedade entre si (implicação). Figura 01 – exemplo quadrado semiótico.
Fonte: Adaptada de Greimas e Courtés (2008).
A noção de semelhança e de diferença é essencial para o entendimento dos elementos constituintes do nível fundamental do trajeto formador do sentido. Alicerçado em um universo de sentido, efetua-se uma análise de seus componentes, colocando-os em relação de oposições e de implicações. O quadrado semiótico consiste na representação visual desta articulação lógica do universo de sentido, como exemplificado na figura 01. 6
5. RESULTADOS
Compreender a história de cada parque analisado se fez importante devido as funções pensadas e implementadas na construção de cada estarem diretamente ligadas as práticas realizadas neles. Através do site da Prefeitura Municipal de Curitiba foi possível levantar um pouco sobre a história de cada um dos parques, e obter informações
complementares
as
observações.
Esses
levantamentos
foram
organizados em formato de tabela, como apresentado na Tabela 1. Tabela 1: Informações sobre os 4 parques.
PASSEIO PÚBLICO O Passeio Público é o mais antigo parque municipal da capital. Ele foi implementado em 1886, e a partir de sua inauguração tornou-se o mais tradicional ponto de encontro dos curitibanos, cumprindo com a finalidade para qual foi projetado. Seus portões são históricos e foram inspirados no portão do Cemitério de Cães de Paris. O parque foi palco de diversos acontecimentos importantes para a história de Curitiba, como por exemplo, ser o primeiro local da cidade a acender uma lâmpada incandescente de luz elétrica, em 19 de dezembro de 1887. Foi cenário também em 1909 do ponto de partida de Maria Aída para o seu voo de balão sobre a capital, sendo inclusive o primeiro a ser realizado na cidade. Nos dias atuais, o Passeio Público funciona como sede do Departamento de Proteção e Conservação da Fauna e abriga os pequenos animais que permaneceram quando o Zoológico foi transferido para o Parque Iguaçu em 1982. ÁREA
69.285 m²
BAIRRO
Centro
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO
1886
ACESSO
Gratuito Sabiá, tico-tico e canário-da-terra, coleirinha,
FAUNA
chupim, pica-pau, sanhaço, pombo, joão-de-barro e garça branca.
7
Árvores nativas e exóticas como o carvalho, o FLORA
cipreste, a paineira, o jacarandá, o plátano, o ipêamarelo, a canela e o eucalipto. Restaurante, play-ground, aquário, terrário,
EQUIPAMENTOS
sanitários, ponte pênsil, posto da Polícia Militar, pedalinhos, pista para caminhadas, ciclovia, bicicletário, mesas de xadrez, academia ao ar livre.
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO
Terça-feira a domingo, das 06 às 20 horas. PARQUE BARIGUI
Seu local era uma antiga “sesmaria” e pertencia a Mateus Martins Leme. Em 1972 foi transformado em parque pelo então prefeito Jaime Lerner. Por sua localização, próximo ao centro da cidade, e sua infraestrutura, o Barigui é o parque mais frequentado de Curitiba. É o maior parque da cidade e dentro de sua área está a sede da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. ÁREA
1.400.000 m²
BAIRRO
Bigorrilho, Mercês, Santo Inácio e Cascatinha
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO
1972
ACESSO
Gratuito Garça-branca, gavião carcará, quero-quero, tico-
FAUNA
tico, sabiá, biguatinga, preá, capivara, cutia e gambá. Araucária, erva-mate, pitangueira, vassourão-
FLORA
branco, bromélia, orquídea, mirta, guabirotuba e guabiroba. Pavilhão de exposições; Museu do Automóvel; Restaurante Maggiore; Salão de Atos e Centro de Convenções; Sede da Secretaria Municipal do Meio Ambiente; Bistrô da Fundação de Ação
EQUIPAMENTOS
Social; Academia Municipal Professora Judith Passos; Canchas esportivas (2 de futebol de areia, 1 de Footsack, 2 de Vôlei de areia e 1 poliesportiva); Pista de corrida (Percurso total de 5,2 quilômetros; Percurso da volta ao lago de 3,28 quilômetros); Ciclovia e pista de uso misto 8
(Percurso equivalente ao da pista de corrida); Trilhas nos bosques; Sanitários públicos; Sanitários pagos (Administrados pela URBS); Pista de patinação; Pista de Aeromodelismo; Heliponto; Parquinho infantil; Churrasqueiras; Lanchonetes (Do Farol, Do Lago e Lanchonete Barigui); Equipamentos para exercícios físicos e treinamento esportivo: (2 conjuntos de barras em troncos; 3 conjuntos de barras em aço inox e 2 academias ao ar livre); Área destinada para a prática de Slackline; Sede do Grupo Escoteiro Tapejara; Estacionamentos (são 3 estacionamentos com capacidade para 1950 veículos); Rampas de acessibilidade para acesso às pistas de corrida e caminhada; Rede WI-FI gratuita HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO
O parque não é fechado. Fica aberto ininterruptamente. JARDIM BOTÂNICO
Inaugurado em 1991, o Jardim Botânico foi construído com a finalidade de oferecer uma área protegida construída por coleções de plantas vivas, com o propósito de estudo, pesquisa e documentação do patrimônio florístico do país, e através disto promover educação ambiental à população aliada a experiência de lazer. ÁREA
178.000 m²
BAIRRO
Jardim Botânico
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO
1991
ACESSO
Gratuito Gambá, tatu, caxinguelê, preá, cutia, pequenos mamíferos, sapo, perereca, rã, bem-te-vi, João-de-
FAUNA
barro, ananaí, sabiá-laranjeira, sabiá-cavaleiro, sanhaço, pomba asa-branca, chupim e gralhapicaça.
FLORA EQUIPAMENTOS
Araucária, imbuia, cedro, aroeira, pimenteira, pitangueira, bromélias e orquídeas. Estufa, Museu Botânico Municipal/Herbário, bistrô, jardim em estilo francês, Jardim das 9
Sensações, lagos, fontes, pista de caminhada, sanitários públicos, loja, Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e estacionamentos. Jardim Botânico De segunda-feira a domingo. - verão: das 6h às 20h. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO
- inverno: 6h às 19h30 Jardim das Sensações De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 17h (podendo ser interrompida a visitação em caso de chuva ou condições climáticas adversas). PARQUE BACACHERI
Localizado em bairro de mesmo nome, até 1970 era conhecido como “Tanque do Bacacheri”, formado pelo Rio Bacacheri. Funcionava como local de recreação e balneário e o proprietário da área, Manoel Fontoura Falavinha, alugava barcos e remo para passeios no lago. Porém, o assoreamento do tanque levou ao esgotamento do lago e a sua desativação. Este local, posteriormente foi declarado como de utilidade pública e, em 1988, foi inaugurado o Parque Bacacheri, beneficiando os moradores da região com uma área de lazer. ÁREA
152.000 m²
BAIRRO
Bacacheri
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO
1988
ACESSO
Gratuito
FAUNA
Frango-d’água, marreca-pé-vermelho, jaçanãs, saracuras, garças, socós. Pinheiro do Paraná, canelas, aroeiras, açoita-
FLORA
cavalos, constitui-se de eucaliptos, pinus, ipês amarelos, acácia-mimosa, nêspera, uva-japão, corticeiras. Cancha de futebol de areia, churrasqueiras,
EQUIPAMENTOS
playground, pistas de caminhada, canchas de vôlei, portal e lanchonete.
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Todos os dias, das 06 às 22 horas. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO Os sanitários funcionam das 08 às 17 horas.
Fonte: A autora (2019).
Através das observações e anotações, mapeou-se as práticas de vida e consumo em cada parque. Nelas incluem-se os esportes e atividades realizadas em cada ambiente, as roupas e os tecidos mais utilizados e os comércios presentes nos locais. Como forma de facilitar a visualização, organizou-se todas essas informações em uma tabela (Tabela 02). Tabela 2: Resumo observações.
PASSEIO PÚBLICO ESPORTE - Caminhada; - Corrida; - Xadrez; - Academia ao ar livre.
ATIVIDADES DIVERSAS - Descanso na grama; - Almoço marmita; - Parquinho; - Zoológico; - Serpentário; - Artista fazendo retrato; - Feira aos sábados;
ROUPAS - Camisa social; - Calça social; - Calça jeans; - Uniforme escolar (CEP e CET); - Uniforme de trabalho (obras, zeladores) - Bonés e chapéus; - Roupa casual e sem marca para prática de exercício; - Ecobag; - Mochilas de viagem.
TECIDOS - Jeans; - Tricoline; - Alfaiataria; - Malha de algodão; - Nylon.
COMÉRCIO - Pipoca; - Sorvete; - Feira no sábado; - Foodtruck no sábado; - Vendedor ambulante de artesanato; - Caricatura.
PARQUE BARIGUI ESPORTE - Caminhada; - Corrida; - Ciclismo; - Skate; - Longboard;
ATIVIDADES DIVERSAS - Descanso na grama; - Piquenique; - Yoga;
ROUPAS - Legging; - Tops exercício físico; - Pochete; - Bolsa tiracolo;
TECIDOS - Jeans; - Viscolycra; - Malha de algodão; - Nylon;
COMÉRCIO - Caldo de cana; - Água de coco; - Churros; - Pipoca; - Bar; 11
- Patins; - Patinete; - Slackline; - Personal trainer; - Futebol; - Volei; - Basquete; - Academia ao ar livre.
- Passeio com cachorro; - Pipa; - Drones; - Carrinho de controle remoto; - Parquinho; - Churrasco; - Roda de violão; - Ensaio fotográfico; - Música alta no carro; - Narguilé; - Chimarrão.
- Mochilas p/ corrida; - Mochilas convencionais; - Shorts e calça jeans; - Camisetas de malha; - Roupas casuais.
- Suplex.
- Tapiocaria; - Vendedor ambulante de artesanto; - Vendedor ambulante doces; - Milho; - Cachorro Quente; - Algodão doce; - Bebidas e sorvete; - Lanchonete; - Restaurante.
JARDIM BOTÂNICO ESPORTE - Caminhada; - Corrida; - Yoga.
ATIVIDADES DIVERSAS - Descanso na grama; - Piquenique; - Estufa; - Ensaio fotográfico; - Feira de artesanato; - Roda de violão;
ROUPAS - Camisetas de poliéster estampadas com sublimação; - Legging; - Bermuda; - Roupas casuais; - Mistura de estampas; - Ecobag; - Mochilas; - Tiracolo.
TECIDOS - Jeans; - Tricoline; - Alfaiataria; - Malha de poliéster; - Nylon; - Suplex; - Cóton.
COMÉRCIO - Água de coco; - Caldo de cana; - Churros; - Lanchonete.
PARQUE BACACHERI ESPORTE - Caminhada; - Corrida; - Ciclismo; - Skate; - Patins; - Patinete; - Futebol; - Volei; - Basquete; - Academia ao ar livre.
ATIVIDADES DIVERSAS - Descanso na grama; - Piquenique; - Passeio com cachorro; - Pipa; - Parquinho; - Churrasco; - Roda de violão; - Chimarrão.
ROUPAS - Jeans; - Shorts; - Bermuda; - Legging; - Camiseta de malha; - Agasalho moletom; - Roupas casuais; - Bolsa tiracolo; - Mochila.
TECIDOS - Jeans; - Malha de algodão; - Nylon; - Cóton.
CORES - Lanchonete.
Fonte: A autora (2019).
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Como forma de visualizar as diferenças de cores presentes no vestuário dos consumidores de cada parque, criou-se o seguinte painel:
Figura 2: Painel 5 cores mais utilizadas nas roupas em cada parque.
Fonte: a autora (2019).
A elaboração destas tabelas facilitou a estruturação do nível fundamental do corpus de análise da semiótica discursiva: o quadrado semiótico. Através dessas representações gráficas evidenciou-se as diferenças e proximidades entre cada objeto de estudo, norteando assim suas oposições semânticas. Desta forma, organizou-se o primeiro quadrado representando os usos de cada parque (Figura 3). As características de cada local influenciam na forma de interação do indivíduo com o ambiente, e estes aspectos estão intrinsicamente ligados a forma com que cada sujeito se apresenta e comporta em determinado espaço.
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Figura 3: Nível fundamental dos parques.
Fonte: a autora (2019).
A partir da elaboração do nível fundamental e as observações, foi possível mapear os estilos de vida e planear quatro formas de consumir moda em parques urbanos de Curitiba, organizando-os em oposições semânticas como apresentado na figura a seguir: Figura 4: Quadrado semiótico tipologia do consumidor.
Fonte: a autora (2019).
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Essas quatro formas de consumir têm como base as interações que os indivíduos têm com cada parque e a arte de consumir nesses ambientes. Nesse contexto, mediante análises semióticas, pode-se estipular a fundamentação de sentido que constroem esses hábitos de consumir moda em parques urbanos de Curitiba. A tabela a seguir apresenta o resultado da proposta tipológica: Tabela 3: Tipologia do consumidor.
CONSUMIDOR INFLUENCIADO(R) (BARIGUI) O consumidor interage com o espaço pelo regime de Manipulação, por intencionalidade de umas das partes, ele deseja que o outro deseje. Movido pelos valores existenciais e de vida, ao escolher frequentar o local, o consumidor já possuí a noção que irá encontrar atributos diversos, como lazer, entretenimento, serviços, entre outros. E, por isso, o regime de sentido é construído pela significação, dando sentido ao ato de consumir. Suas intervenções sociais são baseadas em contratos, baseados em troca e transferência, em que se tem um beneficiador e um beneficiário. Esse consumidor oferece o uso dos produtos e espera como troca sensações de status e pertencimento que preenchem seus valores existenciais. CONSUMIDOR CONTAGIANTE (J BOTÂNICO) O indivíduo interage pelo regime de Ajustamento, que se trata de um regime entre iguais, em que os actantes coordenam suas relações pauteadas na sensibilidade. Os sujeitos buscam a admissão a uma identidade, e o principal fundamento desse regime é a reciprocidade. A relação entre o sujeito e o ambiente é de ordem não-utilitária, por negar parcela dos valores práticos. O consumo nesse caso é predisposto pela fruição de fazer-se consumidor, ou seja, de uma competência modal e estésica de poder se fazer consumidor, e depende da presença do outro, podendo ser representado pela vontade de se constituir vínculos decorrentes do convívio.
CONSUMIDOR CONVENIENTE (BACACHERI) A interação que ocorre entre o sujeito e o espaço é de ordem da Conveniência, pleiteado sob os princípios do regime de Programação, pois também é fundamentado na regularidade. Entretanto, diferentemente do consumidor prático, o consumidor conveniente não utiliza o espaço por transição, mas sim pela comodidade e facilidade, visto que o maior público do parque é provindo do mesmo bairro de sua localização. Os valores que envolvem esse consumidor são os de ordem prática e utilitária, baseadas em causalidades físicas, e sem a preocupação com o outro. Ocorrendo o consumo de forma individual e para benefício próprio.
CONSUMIDOR PRÁTICO (PASSEIO PÚBLICO) A principal forma de interação entre o indivíduo e o espaço é através do regime de Programação, pois é alicerçado na regularidade. Os valores que envolvem esse consumidor são os de ordem prática e utilitária. O indivíduo é frequentador do local pela transição em períodos de intervalos de escolas ou do expediente do trabalho, usando o espaço para descanso e passagem do tempo. O uso pela passagem do tempo é motivado também pela rotina, fazendo parte dos hábitos a estadia no local durante as tardes, sem a obrigatoriedade do momento de transição. O regime de sentido é qualificado na insignificância, pois utiliza dos mesmos sentidos para consumir.
Fonte: a autora (2019).
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5.1 Artigo Colóquio de Moda
Como presente no cronograma do plano de aluno, foi escrito um artigo para o 15º Colóquio de Moda referente a esta pesquisa de iniciação científica. O artigo intitulado “CONSUMO DE MODA EM PARQUES URBANOS DE CURITIBA” apresenta um recorte desta pesquisa, dando enfoque a observações de interação do indivíduo com o espaço através da sua forma de vestir-se. O artigo submetido e aprovado pela banca avaliadora do 15º Colóquio de Moda será publicado no 15º ANAIS
do
Congresso
e
estará
disponível
no
site
do
evento
<
http://www.coloquiomoda.com.br/>.
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6. DISCUSSÃO
Como elencado no item anterior, através dos quadrados semióticos (Figuras 3 e 4) e já evidenciado nos resultados parciais no primeiro relatório, cada parque apresenta um discurso próprio, que além da diferenciação de estrutura e atividades realizadas, os públicos também são divergentes. Entretanto, estes fatores não excluem a possibilidade destes públicos transitarem entre todos os parques, assumindo novos discursos ou não pertencendo ao discurso geral percebido. As próprias observações demonstraram essa eventualidade, visto que, apesar da maioria do público consumidor de cada local ser a descrita na tipologia, é possível encontrar em parcelas menores os quatro consumidores nos quatro parques. As diferenciações estruturais também não excluem a possibilidade de realizar as mesmas atividades em cada parque, porém, através das observações pode-se notar como um mesmo objeto tem discurso diferente de acordo com o ambiente que ele é posicionado e por qual pessoa ele é consumido. Um exemplo é o uso dos bancos, em especial os do Parque Barigui comparado aos do Passeio Público. Os bancos de madeira espalhados pelo Parque Barigui são usados em sua maioria para descanso entre o percurso do parque na hora de realizar alguma atividade física. As pessoas não costumam ficar muito tempo paradas, é o tempo de sentar e beber uma água, ou então consumir um pacote de pipoca. Já no Passeio Público, a “função” percebida sobre os locais para sentar dentro do parque (tirando os bancos de concreto no entorno do parquinho), são de intermédio entre homens e prostitutas. Ocorre de duas formas essa interação: ou o homem senta na ponta do banco e um pouco depois alguma mulher senta ao seu lado e eles trocam algumas palavras e saem juntos, ou a mulher que se encontra sentada e o homem é quem se aproxima. Dificilmente outra forma de interação com o objeto acontece. Em todos os dias de observação, não foi registrada nenhuma mulher desacompanhada, com atributos que demonstrem que ela está lá de passagem (como roupa de trabalho ou sacolas do shopping), sentando em algum dos bancos. Essas mulheres, mesmo que em duplas, utilizam o chão para repousar.
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Esse caráter de utilização do parque torna o ambiente um lugar inseguro para mulheres. Entre os quatro parques observados, o Passeio Público foi o qual a autora mais sofreu assédio, e menos se sentiu segura em transitar desacompanhada por ele. Pôde-se observar que as mulheres que passam pelo parque sozinha estão sempre apressadas. E talvez, esse seja um dos motivos. Na prática de esporte (caminhada e corrida), em todas as observações, apenas uma ou duas mulheres estavam sozinhas por dia. No geral elas estão sempre acompanhadas de outras mulheres ou um homem. Essa sensação de risco ou precaução, já não é percebida no Barigui, ambiente onde muitas mulheres desacompanhadas praticam esportes. Outro exemplo de artigo com discurso diferente é o uso de bicicletas. No Parque Barigui, em sua maioria, elas assumem a função esportiva. Essa especificação pode ser elucidada devido a vestimenta que o ciclista utiliza, que baseia-se em luvas, capacete, óculos protetor, legging própria para ciclismo (pois possui um design pensado no conforto ao sentar no banco), e blusa de manga comprida, com proteção solar e muitas delas apresentam estampas de patrocinadores e eventos associados ao esporte. Já as utilizadas no Passeio Público são de uso rotineiro para fins básicos de locomoção. As roupas também são fatores influentes para essa constatação. Em sua maioria, as pessoas que se encontram com bicicleta nas dependências do Passeio Público, apresentam-se com roupas simples e até mesmo gastas como calças jeans com manchas de tintas, e uso de chinelos. Essas características podem ser interpretadas como pessoas em trânsito entre casa e trabalho. O uso da bicicleta no Passeio é permitido apenas em seu entorno, para além dos limites dos portões. Entretanto, não é proibida a entrada com a bicicleta “a tira colo”, sendo empurrada e não pedalada. Aqui destaca-se uma diferença comparada ao Jardim Botânico em que não se pode entrar com ela, mesmo que carregando-a e não pedalando. No Parque Bacacheri o principal uso deste objeto é por crianças e adolescentes, caracterizando uma prática por lazer. Entretanto, comparado ao Parque Barigui em que a bicicleta assume a função esportiva (profissional), no Bacacheri, quando usada por adultos, é uma prática de exercício focada no bem-estar. Essa diferença é apontada pelas roupas escolhidas: são de uso geral para realização de 18
exercício como legging convencional e camiseta de malha. Os ciclistas do parque não utilizam luvas nem capacete, tão pouco peças exclusivas para a prática, como a legging adaptada e os óculos de proteção. A forma de consumir um local está intimamente ligada a forma de vestir-se e vice e versa, pois, além das competências funcionais como roupas propícias para praticar esporte, é através da moda que o indivíduo se apresenta, comunica e se firma em seu círculo social (CASTILHO, 2009). Através dos conhecimentos da semiótica discursiva, adquiridos pelas leituras bases do projeto, pôde-se compreender a narrativa não-verbal do vestuário nos casos supracitados, e nos demais observados. A presença tão significativa de ciclistas esportivos no parque Barigui evidenciam a importância deste ambiente para essa comunidade do esporte e também aos adeptos ao estilo de vida fitness1. Ao comparar as peças de roupas utilizadas por pessoas que praticam esportes no Barigui as dos outros três parques, as vestimentas do primeiro são dotadas de tendências específicas do ramo, como uso de cores neons e pochetes. Em sua maioria são de marcas referências na prática de esportes, como Nike e Adidas, e que atribuem certo status a quem as usam. As roupas possuem aspecto visual de novas, dando espaço para duas interpretações: zelo excessivo com cada produto, ou então, a constante atualização dos mesmos. Ao perceber a assiduidade deste grupo no parque, pôde-se entender a sua posição semântica de acordo com os estudos de Greimas e Landowski, posicionando os consumidores do Parque Barigui através do querer-ser-visto pautado no regime de Manipulação. O
regime
de
Manipulação
é
consolidado
sobre um
princípio
de
intencionalidade no qual se impõem as motivações e as razões do sujeito (LANDOWSKI, 2005). Ela ocorre através de um indivíduo capaz de avaliar valores e que sabe o que quer, que usa ações persuasivas sobre o outro. O sujeito manipulador é aquele que quer que o outro queira. O consumidor definido como Influenciado(r) busca estabelecer relações através de escolha de roupas que o tornem visível aos outros. As peças com características atuais, com uso de tendências e essência “fashion” (está na moda),
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O termo ‘fitness’ está atribuído a busca/obsessão por uma boa forma física.
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transparecem sua necessidade de sentir-se incluído naquele grupo, tanto na forma de consumir o que é bem visto pelo grupo (influenciado), como na forma de querer persuadir outros a consumir igual (influenciador), por demonstrar-se atualizado com o que é vendido como belo àquele nicho. Próximo a ele, há o consumidor definido como Contagiante. Localizado no quadrado semiótico como complementar ao Influenciado(r). Esse consumidor interage com o ambiente pelo regime de Ajustamento, onde o sujeito busca se relacionar de forma recíproca (e não unilateral), através da sensibilidade (LANDOWSKI, 2005). Eles buscam a admissão de uma identidade em grupo e isso é evidenciado pela homogeneidade nas roupas utilizadas. Composto majoritariamente por grupos de turistas, o consumidor do Jardim Botânico apropria-se de roupas iguais ou combinando com seus parceiros para sentirse inserido e buscar aceitação. Seu consumo depende da presença do outro, e busca através dele [consumo], construir vínculos maiores com o grupo. Desta forma, este consumidor não-quer-não-ser-visto, e consome para sentir-se incluído. Através das observações foi possível identificar ligações entre os consumidores de cada parque, como por exemplo, pode-se sugerir uma junção entre o consumidor Contagiante e o Influenciado(r). Notou-se a presença de alguns casais praticando exercício no Parque Barigui com roupas combinando. Inseridos num ambiente significativo para a comunidade fitness, praticando esporte, mas, se relacionando de forma recíproca na hora da escolha da roupa. Essa escolha também ocorre com intencionalidade da visibilidade, visto que roupas combinando entre casais é uma tendência (que foi transferida também para as roupas de animais de estimação) e que é utilizada como forma de demonstração pública de afeto. E essa relação com o público está intrínseco ao querer-ser-visto. Em oposição aos consumidores supramencionados, encontram-se os consumidores Conveniente e Prático. Ambos não buscam visibilidade, e isto é evidenciado através da forma em que estes relacionam-se com o ambiente e com a moda. O consumidor Conveniente e o Prático interagem com o espaço através do regime de Programação. Como exemplifica Landowski (2014, p. 19) ‘A condição para a existência do regime de interação denominado em sociossemiótica programação é 20
o princípio fundado na regularidade’, deste modo, o sujeito age conforme um programa de comportamento determinado. A principal diferença entre o consumidor Conveniente, do Bacacheri, e o Prático, do Passeio Público, é que o primeiro utiliza o espaço para lazer e bem-estar pela comodidade da localização, enquanto o segundo, se apropria do ambiente em períodos de transição nos intervalos de escolas ou expediente de trabalho. Com relação a forma de consumir moda, ambos são envolvidos por valores de ordem prática utilitária, consomem de forma individual e para benefício próprio, sem se importarem com terceiros. Desta forma, sua visibilidade é a de querer-não-ser-visto (Conveniente) e não-querer-ser-visto (Prático), de modo a não estarem procurando aprovação dos outros para sentirem-se pertencentes ao local ou não. Como demonstrado na cartela de cores (figura 2), o Passeio Público possui os tons mais sóbrios entre os parques. Isso pode ser justificado diante dois motivos, o primeiro é que o maior público frequentador são homens da terceira idade. Suas roupas são simples e conservadoras, a maioria utiliza camisa e calça social. Não há nenhum teor inovador ou senso de moda nas vestimentas. Estas são, como delimitadas na tipologia, apenas de uso prático e provavelmente são usadas a muito tempo. O segundo motivo é por ser um parque de passagem e central, envolto por grandes construções de poucas cores, muitas das pessoas estão vestidas com uniformes de colégio ou profissionais, ou então, com roupas casuais para trabalhar. Visto o conceito popular de que os Curitibanos são mais reservados, suas roupas não exploram diversidades de cores e estampas. Uma sustentação para essa suposição ocorre ao compararmos o Passeio Público, e inclusive os demais parques, ao Jardim Botânico. Frequentado predominantemente por turistas, o Botânico é o parque mais colorido entre os quatro quando nos referimos as roupas de seus usuários. Considerando a quantidade de estampas e cores exploradas no vestuário, comparado a sobriedade dos demais, podemos presumir que quem mora em Curitiba tende a vestir-se de forma mais neutra e com cores escuras. Curiosamente, inclusive as roupas infantis, especialmente no Passeio Público, eram de cores escuras. Nos dias de frio e chuva observados, a presença de cores se fazia ainda menos evidente. 21
Os fatores estruturais e de localização de cada parque são grandes influentes na interação do usuário com o espaço. O vestuário é capaz de contribuir com sua narrativa não-verbal na construção identitária dos indivíduos e dos grupos sociais. O ato de vestir-se carrega sensações e significados não apenas sociais, como culturais e psicológicos, causando no indivíduo noções de identidade, pertencimento e identificação (CASTILHO, 2009). O fazer ver, tornar-se visível ao outro é um meio de estabelecer relações e buscar aceitação. As condições climáticas apresentaram forte influência do consumo do espaço. De acordo com a Gazeta do Povo (2018), os dias de sol e calor aumentam as ocupações dos parques. Os dias mais quentes de setembro fizeram com que muitas pessoas lotassem os parques de Curitiba mesmo em dias da semana, como na segunda-feira (24) em que a capital chegou à temperatura de mais de 30º. Neste dia, ainda de acordo com a Gazeta, as vendas de água de coco e caldo de cana no Parque Barigui aumentaram 30% comparado às últimas segundas-feiras. A influência direta do clima com as práticas nos parques demonstrou-se um fator relevante para observação. Devido a isto, com o predomínio de chuva no mês de outubro optou-se por começar as observações em novembro e não no mês anterior, como previsto no cronograma. Mesmo em novembro, os dias de frio e chuva se fizeram constantes, em razão disso, decidiu-se realizar as observações também nestes dias para não comprometer o desenvolvimento do projeto. As observações tanto em dias de frio e/ou chuva, como dias quentes e de calor, provaram essa influência no consumo. O volume de pessoas em finais de semana de frio comparados aos de calor é mais que o dobro. Em uma observação no dia 14 de outubro (domingo) de 2018 no Parque Barigui, época que estava tempo fechado para chuva, em uma pausa para a observação de um vendedor de água de coco e caldo de cana, apenas duas pessoas comprar algo para beber no período de 12 minutos. Enquanto, no mesmo local, no dia 10 de março (domingo), em que o céu estava encoberto de nuvens mas fez calor, em um período de 15 minutos, 7 casais pararam comprar agua de coco. Não desconsiderar os dias de frio e chuva trouxeram benefícios aos resultados do projeto, pois foi possível detectar as funções inerentes ao tempo, como a prática de caminhada/corrida no Barigui e o turismo no Botânico, e também, comprovar a influência do clima nas práticas de vida e uso dos espaços na capital. 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como escopo identificar e nomear uma tipologia de modos de vida e consumo em quatro parques urbanos da cidade de Curitiba. Cada objetivo foi essencial para a delimitação e o crescimento da pesquisa, e beneficiaram diretamente os resultados presentes neste relatório. A partir da elaboração e cumprimento do roteiro de observações foi possível reconhecer os atributos sensíveis dos parques propostos e como estes influenciam as práticas de vida de seus usuários (consumidores), para que assim, se conseguisse mapear os diferentes hábitos de consumir moda. O modo que o consumidor interage com o espaço é a intercessão em que o sujeito determina o seu ser, enquanto ator social e indivíduo consumidor. Através dessa relação são caracterizadas construções significantes, e a partir do ato de consumir o indivíduo opera o seu sentido e o significado. Os levantamentos de dados através de pesquisa de campo oportunizaram a autora conhecimentos e percepções complementares as adquiridas através das leituras bibliográficas. As observações distribuídas em diversos dias enriqueceram o projeto e proporcionaram possibilidades de novas pesquisas associadas como continuação desta, referente aos subgrupos de consumidores observados em cada local, sendo possível inclusive criar oposições semânticas através do quadrado semiótico dentro de cada parque, ou a presença dos mesmos consumidores (mas em menor quantidade) em todos os quatro. No desenvolver do projeto pôde-se notar a evolução pessoal da autora e o desenvolvimento de seu caráter acadêmico como pesquisadora. A Iniciação Científica tornou-se um portal para novas descobertas, proporcionando uma visão mais clara do poder comunicativo da moda e como a escolha do que vestir esta associado ao ambiente frequentado e influencia diretamente nas noções (e sensações) de pertencimento a grupos e espaços.
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REFERÊNCIAS
BERTÃO, Naiara. Brasil já é um dos maiores mercados “fitness” do mundo. Disponível em: < https://exame.abril.com.br/revista-exame/brasil-ja-e-um-dosmaiores-mercados-fitness-do-mundo/ >. 2016. CASTELNOU, A. M. N. Parques urbanos de Curitiba: de espaços de lazer a objetos de consumo. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 13, n. 14, p. 53-73, dez. 2006. Disponível em: < http://www4.pucminas.br/documentos/arquitetura_14_artigo04.pdf >; acesso em: 06/05/2018. CASTILHO, Kathia. Moda e linguagem. 2. ed., rev. São Paulo: Ed. Anhembi Morumbi, 2009. 207 p. FLOCH, J. M. A contribuição da semiótica estrutural para o design de um hipermercado. Galaxia (São Paulo, Online), n. 27, p. 21-47, jun. 2014. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/19610/14665>. Acesso em: 29 mai. 2019. LANDOWSKI, Eric. A sociedade refletida: ensaios de sociossemiótica. São Paulo: EDUC, 1992. 213 p. LANDOWSKI, Eric. Les interactions risquées. Nouveaux Actes Sémiotiques, n° 101103, Limoges: Pulim, 2005. _____ Presenças do Outro. Ensaios de Sociossemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2002. LANDOWSKI, E. Sociossemiótica: uma teoria geral do sentido. Galaxia (São Paulo, Online), n. 27, p. 10-20, jun. 2014. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/198225542014119609 >. CASTILHO, Kathia; MARTINS, Marcelo M. Discursos da Moda: semiótica, design e corpo. São Paulo: Ed. Anhembi Morunbi, 2005. 112 p. PREFEITURA DE CURITIBA. Parques e bosques: Jardim Botânico. Disponível em: < http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/jardim-botanico/287 >. Acesso em: 10/11/2018. PREFEITURA DE CURITIBA. Parques e bosques: Parque Bacacheri. Disponível em: < http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/parques-e-bosques-parque-bacacheri/291 >. Acesso em: 10/11/2018. PREFEITURA DE CURITIBA. Parques e bosques: Parque Barigui. Disponível em: < http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/parques-e-bosques-parque-barigui/292 >. Acesso em: 10/11/2018. PREFEITURA DE CURITIBA. Parques e bosques: Passeio Público. Disponível em: < http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/parques-e-bosques-passeio-publico/324 >. Acesso em: 10/11/2018. 24
ANEXO A – Cronograma do plano do aluno
ANEXO B – Cronograma de observações
ANEXO C – Registros fotográficos das observações PASSEIO PÚBLICO
JARDIM BOTÃ&#x201A;NICO
PARQUE BACACHERI
PARQUE BARIGUI