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3 1 A concepção
O Elevado Presidente João Goulart, que nasceu como Elevado Presidente Costa e Silva em homenagem ao segundo presidente do Brasil na Ditadura, hoje é popularmente conhecido como Minhocão. É um trecho de 3,5 km de via elevada, uma gigantesca estrutura viária, que faz ligação entre as regiões Leste e Oeste da Cidade de São Paulo.
Foi idealizado pelo então indicado prefeito da cidade de São Paulo, Paulo Maluf, para aumentar a velocidade de deslocamento de veículos. A proposta fazia parte do Plano de Avenidas de Prestes Maia, que foi concebida em 1930. A sua construção levou apenas 15 meses, entre outubro de 1969 e dezembro de 1970, sendo inaugurada no início de 1971, quando esse tipo de construção viária já era questionada e abandonada em outros países. A construção nesse período era tratada pelo seu idealizador, Paulo Maluf, como uma obra luxuosa e moderna, um progresso à cidade.
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Foi construído no auge do planejamento urbano funcionalista, quando o carro era sinônimo de progresso e a cidade de São Paulo passava por uma série de intervenções baseadas em um projeto rodoviarista, pautado pela mobilidade individual e motorizada. Durante um regime ditatorial, sem levar em conta a realidade social, priorizando o uso do automóvel acabou trazendo resultados negativos para região.
A infraestrutura possui largura variável de 15,5m e 23m, com quatro faixas para carro, sem acesso para pedestres ou ciclistas. A sua altura é de cerca de 6,5m da cota viária, o que resulta na altura do 1º e 2º pavimentos das edificações lindeiras, a distância entre estes é de cerca de 5m, o que começou a sinalizar desde sua obra o desconforto para vizinhança.
Já em 14 de janeiro de 1971, começava-se a questionar a obra e criticar seus efeitos, como mostra um trecho do Jornal O Estado de São Paulo, “obras barulhentas, sujas e de turnos interruptos e famílias que mesmo antes da construção estar acabada já moravam debaixo do viaduto” 4 .
Assim os efeitos começaram a ser sentidos quase de imediato. O barulho excessivo, a poluição
poluição gerada pelos carros, a falta de privacidade, principalmente com seu funcionamento de 24 horas. Também o lugar inóspito e escuro que se gerou na parte inferior do viaduto. Com os moradores insatisfeitos desencadeou-se um processo de abandono da população de classe média e média alta, assim a desvalorização imobiliária seguida pela degradação do espaço. Foi
"como se o sonho modernista de uma cidade multinivelada, de tráfegos independentes e desimpedidos, se desdobrasse em pesadelo (...) passaram a tratar a região central como mero nó de articulação e passagem na estrutura viária da cidade, priorizando a circulação em grande escala em detrimento das áreas atravessadas. O Minhocão, em especial, resultou numa desvalorização drástica e imediata do entorno, mesmo situando-se em região até então muito procurada para empreendimentos verticais." 5