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OBRAS CADÁVERES Arthur Bispo do Rosário, Estamira, Jardelina, Violeta e o Deus do Reino das Coisas Inúteis
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© Ademir Demarchi
Capa, projeto gráfico, diagramação e editoração: Márcio Barreto
Demarchi, Ademir
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Obras Cadáveres / Ademir Demarchi – São Vicente: Edições Caiçaras, 2011. 44p. 1.Ensaio I. Título Impresso no Brasil
2011 Edições Caiçaras Rua Benedito Calixto, 139 / 71 – Centro São Vicente - SP - 11320-070 www.edicoescaicaras.blogspot.com mb-4@ig.com.br 13-34674387 / 13-91746212
Ademir Demarchi
Obras Cadáveres
Arthur Bispo do Rosário, Estamira, Jardelina, Violeta e o Deus do Reino das Coisas Inúteis
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Edições Caiçaras São Vicente /SP Dezembro de 2011
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A presente edição é inspirada nos trabalhos desenvolvidos na América Latina através de Sereia Ca(n)tadora (São Vicente, Santos – Brasil), Dulcinéia Catadora (São Paulo – Brasil), Eloisa Cartonera (Argentina), Sarita Cartonera (Peru), YiYi-Jambo (Paraguai), Yerba Mala (Bolívia), Animita (Chile) e La Cartonera (México). Edições Caiçaras é uma realização do Instituto Ocanoa, Projeto Canoa e Imaginário Coletivo de Arte. Capa feita a mão com material reciclado. Contato: mb-4@ig.com.br 13-91746212 13-34674387
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para Marcelo Ariel e Juliano Garcia Pessanha
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Homem algum pode viver sem um barco (1)
Estátuas humanas
Em afinidade com a prática de assemblages na obra de Arthur Bispo do Rosário, poderia-se começar a tratar dele aqui por meio de uma assemblage textual, através das palavras iniciais do romance Nome de Guerra, de Almada Negreiros, para cujo narrador
"Cada um tem o destino universal de fazer consigo mesmo o modelo de mais uma estátua humana. E esta fabrica-se apenas com íntimo pessoal. O nosso íntimo
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pessoal é inatingível por outrem. E é este o fundamento de toda a humanidade, de toda a Arte e de toda a Religião. O nosso íntimo pessoal é de ordem humana, estética e sagrada. Serve apenas o próprio. É o seu único caminho. O melhor que se pode fazer em favor de qualquer é ajudálo a entregar-se a si mesmo. Com o seu íntimo pessoal cada um poderá estar em toda a parte, sejam quais forem as condições sociais, as mais favoráveis e as mais adversas. Sem ele, nem para fazer número se aproveita ninguém (2).
Pode-se sugerir com isso que o melhor que se fez a Arthur Bispo do Rosário, tendo ele sido recolhido a um hospício psiquiátrico, foi ajudá-lo a entregar-se a si mesmo, permitindo que, numa tentativa de controlar a loucura, ainda que não se livrasse dela, fizesse o gesto espontâneo de adesão a um sistema de ordem e, com isso, firmasse uma subjetividade possível, considerando a precariedade a que estava submetido. Tal adesão remete à observação freudiana de que a repressão aos instintos, exacerbados com a loucura, se conseguida possibilita alguma forma de inserção social, compreensão essa que somente foi possível graças às mudanças então em curso na psiquiatria, que “inventou” a arte dos pacientes como elemento de estudo da psicose (3). Assim, uma das características mais evidentes
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da obra realizada por Arthur Bispo do Rosário, tendo conseguido “aderir a um sistema de ordem”, é justamente a das representações de ordenamentos que incluem divisões do exército com os soldados alinhados, tabuleiros de xadrez, parques de diversão e utensílios domésticos como canecas. A obsessividade ordenatória ultrapassa a mera reunião de objetos para abranger também textos com nomes, datas, lugares, pesos, medidas, regiões, países, cidades, ruas, bairros, casas, igrejas, navios de guerra, caravelas, regatas, ofícios e profissões, brinquedos infantis,
marcas,
símbolos, sinais,
códigos, bandeiras, corpo diplomático, jogos e festas e misses, conforme discriminação feita por Frederico Morais. Morais, além de ser um dos primeiros estudiosos da obra de Arthur Bispo do Rosário, foi o curador da sua primeira exposição, uma coletiva com trabalhos de doentes mentais, presidiários, velhos e crianças, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1982. Foi, também, o curador da primeira exposição individual, em outubro de 1989, quatro meses após a morte de Bispo do Rosário, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, exposição essa que percorreria diversas cidades brasileiras como Belo Horizonte e São Paulo, promovendo a incorporação dele ao cânone da arte brasileira (4).
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Assim, é provável que a prática de ordenamentos tenha se configurado graças à vivência de Arthur Bispo do Rosário na Marinha, onde o sentido de ordem é uma regra. Essa vivência foi longa, durou quase nove anos no Corpo de Marinheiros Nacionais, no Rio de Janeiro. Mas, ainda que assim fosse, Bispo do Rosário não se enquadrava totalmente à caserna, tornando-se um lutador de boxe pela Marinha, da qual se afastou após ter sido punido diversas vezes com prisão, acusado de insubordinação.
Rosebud, beija-flores e loucos pairando no ar
Sendo
tomado
por
esquizofrenia paranóide e internado definitivamente na Colônia Juliano Moreira, a busca de superação da loucura por Arthur Bispo do Rosário acaba por ser motivada pelo interesse e paixão por uma estagiária de psicologia, Rosângela, cujo nome ele inscreve em vários objetos, como barco, abajur e até nome de rua. Rosângela passa a ser como a Rosebud de Cidadão Kane, uma palavra-chave que abre sua memória e passa a ser estampada, inscrita, bordada, em objetos que ele cata do lixo elaborando essa obra que depois viríamos a conhecer. Sua cela, com o acúmulo de objetos que se
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relacionam com sua memória, se transfigurou numa Xanadu concentratória de signos e em suspensão na imaginação onde, balbuciando a palavra Deus e sua rosângela-rosebud, ele também pairava – “os doentes mentais são como beija-flores, nunca pousam, ficam a dois metros do chão” (5).
Essa paixão, somada à experiência de vida sob a ordem da caserna, sendo possível essa hipótese, acabou sendo útil para a busca de ordenamento e sentido para uma existência esvaziada dele.
Construir
sua
Xanadu, um paraíso em que viveria com sua amada, organizar a memória, a experiência de uma vida que se perde com o tempo que passa, consubstancia-se, assim, numa forma de narrar que vai delineando um mundo, logo nominado por Rosário como Reino. O que conhecemos como sua obra artística, os “Registros de minha passagem pela Terra”, já incorporados com ele ao sistema cultural brasileiro, não tinham em sua feitura a intenção estética, mas antes um caráter messiânico, que orientava a construção do Reino em que se daria sua redenção. A ordenação de objetos e de todas as coisas estava, assim, submetida à idéia desse Reino em que haveria um Deus
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no topo, num trono, que se confundia com o próprio Arthur Bispo do Rosário.
Não
deixam
de
ser
curiosas as associações passíveis disso, de um bispo, um bispo popular, bispo do rosário, profano, que seria entronado como Deus. Ordenar esse Reino, portanto, seria ordenar a si próprio, e, num outro sentido da palavra, ordenar-se a si mesmo Deus, encontrar um lugar no mundo onde fizesse sentido existir, encontrar-se a si mesmo em sua subjetividade e tornar-se, segundo aquela
boutade de Almada Negreiros, “modelo de mais uma estátua humana”.
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Loucos guiados por cadรกveres
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É
interessante
notar
também a negatividade que orientava a ação de Arthur Bispo do Rosário, certamente uma característica que possibilitou depois seu reconhecimento como artista. Refiro-me à negatividade que se exige de todo artista e que o pensamento de Cioran bem definiu como necessária para realizar um ato de barbárie de forma que não se tenha dúvida de que a morte está presente e não se pode negá-la, nem ocultá-la, estabelecendo-se um combate com o senso comum e com a sociedade de consumo que buscam sublimar a finitude e vender em cada produto a vida eterna (6).
Assim, Bispo do Rosário dizia que “o louco é guiado por um cadáver. E só fica bom quando se livra desse morto” o que, na prática, poderia significar que antes que ele mesmo se tornasse um morto, era preciso transformar aquela sombra que guia o louco numa obra-cadáver ofertada à sociedade. A idéia de finitude se espalhava por sua obra, desde aquelas serializações em que elencava os nomes dos pracinhas que tombaram mortos na guerra, nas faixas de misses
esvaziadas dos belos corpos dos quais fariam parte, já comidos pelo
tempo, até
os
carrinhos-fichários,
eles
mesmos
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serializados, com uma imensidão de nomes engolidos pelo tempo, chegando à obra narrativa do Manto e da Nave que é ao mesmo tempo esquife, leito nupcial, navio e continente, em que se misturam desejo sexual, anseio de poder, conhecimento e salvação divina (7).
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O partido das coisas
Aquele entregar-se a si mesmo e buscar nos objetos inúteis uma forma de expressão poderiam traduzir-se, de tão cabíveis, nas seguintes palavras deste poema de Francis Ponge:
“Por muito tempo eu me fiz as perguntas mais difíceis. Aplico-me atualmente às coisas mais simples. Trata-se para mim de fazer falar as coisas, pois eu mesmo não consegui falar, isto é, justificar-me por meio de definições e de provérbios. Tratarei, pois, de formar as coisas em noções práticas. Mas práticas em quê? Para a conversa mais terra-a-terra. Desistindo de modificar-me a mim mesmo, nem, aliás, as coisas, - desistindo igualmente de conhecer-me a mim mesmo, a não ser aplicando-me às coisas. Formando-me do mundo uma imagem, noções práticas. Não me conhecerão, não terão uma idéia de mim senão através de minha concha, de minha morada, de minhas
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coleções; ou antes, pois são armas, de minhas panóplias. Através do acento de minha representação do mundo” (8).
A singeleza expressional de um se corresponde com o ato expressional presente na obra do outro. Internado
na
Colônia
Juliano Moreira, Arthur Bispo do Rosário como que repete pela arte o percurso de Francis Ponge: passou a colecionar e classificar objetos inúteis do meio circundante, fazendo sua incorporação a um sistema psíquico, um mundo imaginário, no qual ele mesmo se inclui e a que esses objetos dão sentido, tornando-os
parte
de
sua
vivência.
A
experiência,
impossibilitada no meio social normal, anulada no mundo contemporâneo, que já não a valorizava e isolava o louco por dele destoar, poderia ser realizável apenas no estado de loucura, motivo mesmo da separação, tornando-se somente possível, nesse caso, através de objetos do lixo, mercadorias já espúrias, inutilizadas pelo sistema de consumo.
Há aí uma identidade entre lixo e louco, uma associação potencializadora e redentora, que
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dá novo uso aos objetos descartados no lixo, e ao louco, descartado numa instituição psiquiátrica, os quais se transformam em arte e artista, como que sendo recuperados e novamente incorporados ao sistema que os separou para a zona fantasma
dos dejetos inúteis. Reciclados graças à
acumulação simbólica de sentidos que lhes dão o status de arte e artista, ambos passam para outro campo de circulação onde a estranheza é aceita como valor positivo e, renovadamente negociáveis, geram novos valores e lucros, ainda que meramente simbólicos.
A obra de Arthur Bispo do Rosário se consolida sobre o paradoxo de que só há vida psíquica reconhecível, aceita socialmente, se ela estabelecer relação, estender-se, aos objetos. Tal situação é tida como natural na sociedade de consumo, onde pessoas têm sentido e valor se associadas a objetos adquiridos também por seu sentido e valor. No caso de um louco, a condição socialmente aceita, via relação com as coisas, é, porém ironicamente tornada natural por seu sentido especular negativo. Ou seja, um indivíduo como Arthur Bispo do Rosário, fora do sistema de consumo, que aproveita os objetos já esvaziados de valor, também eles fora do sistema de consumo, os recoloca em circulação já não para serem usados individualmente para
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o que foram criados, mas faz isso para serem olhados, admirados, interrogados e vistos como imagem da sociedade que se mira neles e vê em si mesma todo seu sentido de inutilidade e morte. O sentido de humanidade, assim, somente é recuperável se passar pelas coisas inúteis e descartadas. Ponge, insatisfeito com o humanismo apodrecido de sua época, destruído por duas guerras mundiais, chegou à descoberta das coisas que se apresentaram sob seu olhar como que imantadas, fascinando e exercendo forte atração sobre esse que passava a olhá-las para enveredar pela linguagem. Foi, assim, sob a necessidade de redefinir o sentido de humano que Ponge descobriu os objetos. Em sua obra, a primazia desse olhar sobre o objeto busca afastá-lo de sua função primária, de uso, e enfatiza, com isso, sua forma, possibilitando uma experiência estética renovada que, em consequência, afasta o sujeito da forma dominante de ideologia, permitindo, com isso, sua crítica. O objeto, por sua própria condição de não-humano, por ser uma projeção idealizada do humano, leva ao encontro de um outro humano desvendado pela linguagem.
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De lixo a peça de museu
Ainda que os artistas busquem e o consigam, essa parece ser uma ação que combina muito melhor com os loucos. Se algum outro artista fizesse as mesmas obras que Arthur Bispo do Rosário, talvez não atingisse a potencialização de sentidos por ele conseguida – isso ocorre porque temos em sua obra uma afinidade de homem e meio produzindo sentidos a partir dele, com raros objetos estranhos a ele, como as cartolinas com que montou uma obra/cavalete.
É
realmente
extraordinário que ele tenha conseguido o que conseguiu estando
numa
instituição
psiquiátrica:
sobreviver,
construir uma obra (ou, antes, para ele, um conjunto de coisas que lhe desse uma identidade, o qual, somente
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depois passou a ser chamada “obra”) com a qual obteve efeitos estéticos, sobretudo a partir da precariedade.
Estar numa instituição psiquiátrica (em que o sentido de normalidade está em jogo e para quem, para ser aceito socialmente mas também para encontrar sentido na existência, necessita de
um grande esforço de ordenamento da razão), expressar-se a partir de objetos precários, encontrados no ambiente em que se vive, definir um método (ele o tinha), elaborar um discurso narrativo e procurar desentranhar a memória pessoal relacionando-a com o mundo em que vivia (militarismo, história, religião, geografia...), dão a noção da importância desse conjunto de obras de Arthur Bispo do Rosário.
Num
dos
artigos
do
Catálogo da exposição Ordenação e Vertigem feita pelo Centro Cultural Banco do Brasil, Renato Janine Ribeiro perguntava-se como quem viveu desvalido vira, depois, peça de museu, obra em galeria, valor agregado, apropriado? Digase que foi um longo percurso, pois Arthur Bispo do Rosário, negando que o que fazia era arte, pois na verdade sua obra tinha para ele outro sentido, passou por uma fase no meio
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artístico em que era questionado se era artista ou louco, equação que se resolveu com o tempo na junção das duas coisas: não é porque ele era artista que fez arte, mas porque fez arte que se tornou artista, sendo incorporado com sua carga simbólica
ao
sistema,
independentemente
de
sua
intencionalidade.
Tudo o que é imaginário existe, e é, e tem
Como Cidadão Kane, portanto, Arthur Bispo do Rosário é um homem que balbucia palavras através de sua coleção. A experiência passa pela coleta, acúmulo e escolha de objetos, gerando um processo em que se constrói um passado imaginário situado sobre o contexto do fetiche da mercadoria pela sociedade de consumo, consubstanciando um outro fetiche, agora sentimental, projetado no objeto, logo depois fetichizado como arte.
O
Reino
por
ele
imaginado, portanto, está aí oferecido para nós, narrado
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em seus objetos e, tal como disse uma outra louca, “sabia que tudo o que é imaginário existe, e é, e tem?”, é um perfeito registro do mundo em que vivemos, estabelecido sob consumo e sobre lixo, imantado pela sombra da morte.
A autora da frase acima, por sua vez, é Estamira Gomes de Souza, salva do descarte feito pela sociedade de consumo através do fotógrafo carioca Marcos Prado, que, por uma década, a acompanhou fotografando-a e ao cotidiano dos catadores de lixo do aterro Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro onde são depositadas as sete toneladas de lixo que os cariocas produzem diariamente. A partir desse trabalho Prado fez o livro Jardim Gramacho, publicado pela editora Argumento, e o transformou num filme focado na história de vida dessa catadora de lixo que lá era conhecida como a “Bruxa do Lixão” (9).
Como Arthur Bispo do Rosário, “Estamira não tem nada de comum”, observa-nos a reportagem. A história de certa forma se repete, pois temos novamente a descoberta de uma pessoa com problemas mentais que, apesar disso, apresenta uma espécie de lucidez que atrai os normais que estão bem integrados ao meio social.
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A vida regrada e esvaziada de significação imposta pela sociedade acaba por dar um sentido peculiar aos loucos e ao que eles dizem porque as regras consensualmente aceitas deixam de ter importância para eles. Alheios a esse ordenamento social, apresentando um comportamento atípico, passam a interessar estudiosos da sociedade, artistas e críticos que se esforçam por entendê-los e incorporá-los aos seus trabalhos como crítica e como ânimo artístico.
Loucura parangolérica
Assim, do mesmo modo que Arthur Bispo do Rosário despertou interesse por sua obra e Estamira chama a atenção por suas tiradas de cunho filosófico, uma outra louca de nome Jardelina chamava a atenção no interior do Paraná por se comportar como uma top model da marginalidade. Morando numa cidade cercada por campos de soja, Bela Vista do Paraíso, cuja denominação curiosamente se ligava às suas fantasias messiânicas, logo as teve associadas a uma “energia solar, glauberiana, parangolérica” que “remete imediatamente ao Bispo do Rosário”, com “uma missão
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indiscutível, a mando de entidades que não pode controlar, ela costura cuidadosamente incríveis vestidos com estampas coloridas, saias de folhas de samambaia, camisas de tonalidades berrantes, adornadas com fitas, lantejoulas, luvas fosforescentes, colares e contas. Uma estilista de moda, um Alexandre Herchcovitch parido do ventre do inconsciente popular” (10).
Aspectos como o aspecto messiânico e a idéia do Reino presentes em Arthur Bispo do Rosário de certa forma também estão em Jardelina assim como naquela mulher de 60 anos, Estamira, que “perdeu a fé completamente” logo que apareceram os primeiros sinais de insanidade e que diz que “a minha missão, além de ser a Estamira, é revelar a verdade, somente a verdade”, sendo essa uma de tantas outras frases “estranhas e muitas vezes impressionantes que se ouve ao longo do filme” “e torna espantosas certas declarações, de uma profundidade que intriga”, conforme diz a repórter e também o fotógrafo, para quem “aquele linguajar não é comum”.
Ela, ao seu modo, também se filiou ao “partido das coisas” como catadora de lixo para reciclagem, pois “trabalhar no lixão, seguramente o pior lugar da sociedade civilizada, foi o que devolveu certa dignidade a
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Estamira, depois de um período em que ela mendigou nas ruas”.
“Não é lixo, caramba!”
Em
julho
de
2006,
quando se deu a primeira escrita deste texto, tivemos outro episódio que aproximava louco e lixo, no que se poderia dizer ser uma imensa instalação artística que em muito seria associável às cracas gigantes feitas por Nuno Ramos(11). Flagrada com toneladas de entulho em casa, Violeta Martinez Rodriguez explicou a uma delegada que
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“só coleciona coisas bonitas”. Conforme se noticiou, ela ficou famosa depois de ir parar na cadeia, denunciada por vizinhos incomodados, por juntar 250 toneladas de lixo no sobrado de dois andares e quatro quartos onde então morava, no Itaim Bibi – “bairro nobre paulistano”, destaca-se numa reportagem... “Em meio a tanto lixo, ficou impossível passar de um cômodo a outro – e a dona da casa só conseguia se movimentar por túneis e frestas abertos entre as camadas de detritos”. Violeta Rodriguez
acumulou
uma
quantidade
Martinez realmente
impressionante de lixo: “da garagem que começa no portão de acesso à rua até à sala de estar, por exemplo, havia uma picada de 20 centímetros. Da sala até a cozinha ou até a escada que leva ao andar de cima, duas outras passagens. Da escada até os quartos, mais um pequeno beco”. Eis sua explicação para isso: "Dizer que pego lixo é mentira... Não gosto é de ver coisas boas jogadas na rua. Cresci na guerra civil espanhola, passei fome na infância, cheguei a comer grama. Me dói o coração ver frutas no chão depois da feira, vou lá pego e lavo. Também levei umas cadeiras bonitas, umas caixas, uns papéis para casa. Mas dizer que é lixo... não é verdade. Vieram aqui e jogaram tudo fora. Perdi um óculos, uma mala de blusas, um exame médico" (12).
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Visto de modo diverso, porém, teríamos aqui uma outra experiência que, se é inconsciente para o louco, para nós que estamos fora dela e a constatamos e a incorporamos como fato social, passa a ter sentido deliberadamente estético. Assim, sendo um fato estético ao nosso olhar, que logo se transforma em discurso num evento performático textual, a instalação de Violeta pode, neste momento, ser colocada em similaridade, para além da obra de Nuno Ramos, com a obra de outra artista, Rachel Whiteread. As obras dessa britânica são criadas pelo negativo das casas ou instituições, ou seja, seu interior é preenchido por concreto e a casa ou instituição, sua casca de tijolos e teto, retirada, restando apenas o interior exposto, preenchido pelo concreto, transmitindo sensação de inacessibilidade. Uma de suas mais importantes obras é a do Memorial do Holocausto, na Judenplatz, em Viena, realizada em 2000, que é se constitui no molde do interior, em tamanho natural, de uma biblioteca destruída, estilizado como mausoléu. interior exposto, preenchido pelo concreto, transmitindo sensação de inacessibilidade. Uma de suas mais importantes obras é a do Memorial do Holocausto, na Judenplatz, em Viena, realizada em 2000, que é se constitui no molde do
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interior, em tamanho natural, de uma biblioteca destruída, estilizado como mausoléu (13). Essa
associação
por
similaridade entre o ato de Violeta e a arte de Rachel potencializa os sentidos do ato simbólico de acumular lixo numa sociedade de consumo e de segregação, sugerindo que, se tirássemos os invólucros da casa de Violeta teríamos a mesma massa que não respira, pelo contrário, retira o ar de quem a olha expondo de modo visceral a claustrofobia da sociedade tal como ela é, baseada sobre irracionalismo e acúmulo de coisas inúteis, ou em desuso, e lixo.
O Deus Lixo do Reino das Coisas Inúteis
Depois
de
todas
essas
observações, há uma constatação ainda a ser feita, que me parece das mais sugestivas que podemos ler na narrativa de
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Arthur Bispo do Rosário: em meio aos ordenamentos e associações conseguidos por ele, talvez uma das mais instigantes tenha sido a de associar Deus à mercadoria, imaginando um Deus profano que rege o Reino das Coisas Inúteis, um Deus pária, oposto àquele outro Deus da Mercadoria prevalecente na sociedade de consumo. É possível que haja nele uma nostalgia de um mundo ordenado por um Deus, num Reino em que o indivíduo tenha segurança e sentido, daí sua tentativa de reordená-lo a partir do lixo em que o humano se perdeu. Porém, para nós que o olhamos de fora, sua utopia está mesmo na subversão de sugerir que não há dois mundos, o de Deus e o do Capital, mas apenas um, com divisões de circulação e deposição de humanos e de objetos, tal como sinonímias que se associam a lixo, cujas condições, que se confundem, de definhamento, finitude e uso descartável são dissimuladas por uma mistificação divinizada que ainda vende
um Deus e nele um outro lugar que não esse em que lixo e humanos se espelham. Para nós, assim como para Arthur Bispo do Rosário, a idéia de um deus, assim como
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sua própria concretização imaginária, somente é possível no Reino das Coisas Inúteis, onde sua máxima potencialização de inutilidade enfim se configuraria como plausível.
Santos, julho-agosto/2006; agosto/2009; outubro/2010
Notas 1
“Homem algum pode viver sem um barco. O homem que não tiver um barco estará perdido” – dito comum de Arthur Bispo do Rosário, cf. MORAIS, Frederico, “Uma história de amor”, in: Registros de minha passagem pela Terra – Arthur Bispo do Rosário – Catálogo da exposição realizada na Escola de Artes Visuais – Parque Lage, de 18 de outubro a 5 de novembro de 1989.
34
2
NEGREIROS, Almada. Nome de guerra. In: Obra Completa. Org. Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. (O trecho citado está à p. 254). 3
SEVCENKO, Nicolau, “A ordem e o ‘sinistro’, p. 46 e AQUINO, Ricardo, “Arthur Bispo do Rosário: artista”, p. 77. Aquino menciona a idéia de invenção da arte dos pacientes pela psiquiatria com base no estudo de Mc GREGOR, John M. The discovery of the art of the insane. Princeton/New Jersey, Princeton University Press, 1992, p. 164. In: Ordenação e vertigem, catálogo da exposição realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil, com curadoria geral de Jane de Almeida e Jorge Anthonio e Silva, de agosto a outubro de 2003, volume “Ideias/Palestras”. 4
MORAIS, Frederico. Registros de minha passagem pela Terra – Arthur Bispo do Rosário – Catálogo da exposição realizada na Escola de Artes Visuais – Parque Lage, de 18 de outubro a 5 de novembro de 1989; “A reconstrução do universo segundo Arthur Bispo do Rosário”, in: Registros de minha passagem pela Terra, Catálogo da exposição do MAC – Museu de Arte Contemporânea da USP, realizada de 8 de março a 22 de abril de 1990; “Bispo do Rosário conjuga arte e loucura”, in: O Estado de São Paulo, Caderno 2, sábado, 4 de fevereiro de 1996, p. D-12.
5
Arthur Bispo do Rosário, citado por MORAIS, Frederico, “A reconstrução do universo segundo Arthur Bispo do Rosário”, in: Registros de minha passagem pela Terra – Arthur Bispo do Rosário – Catálogo da exposição realizada na Escola de Artes Visuais – Parque Lage, de 18 de outubro a 5 de novembro de 1989. 6
CIORAN, E. M. Breviário de decomposição. Trad. José Thomaz Brum, Rio de Janeiro: Rocco, 1989.
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7
Estas últimas observações sobre a Nave devo a Ana Mae Barbosa, presentes no Catálogo da exposição do MAC – Museu de Arte Contemporânea da USP, realizada de 8 de março a 22 de abril de 1990. 8
PONGE, Francis. O partido das coisas. Org. Ignacio Antonio Neis e Michel Peterson. São Paulo: Iluminuras, 2000. O trecho citado é do poema “Introdução ao partido das coisas” (no livro, à p. 39), traduzido pelos organizadores. 9
A história de Estamira foi assunto da reportagem “Uma mulher de peito”, na revista TPM n.º 56, de agosto/2006, escrita por Micheline Alves a propósito do lançamento do filme documentário sobre ela dirigido por Marcos Prado. In: http://revistatpm.uol.com.br/56/estamira/home.htm 10
PILEGGI, Rubens. “Rabo-de-sangue, mourão-de-ferro, marabá: Jardelina, muito prazer!”, in: Medusa – Revista de Poesia e Arte, Ano 1, n.º 1, Curitiba, novembro de 1998, pp. 26-9. Jardelina faleceu neste ano de 2006. Ricardo Corona, que editou a revista Medusa, onde se publicou esses comentários sobre Jardelina, incorporou os ditos dela num
poema e num espetáculo nominado por uma expressão dela, “Tá viva a letra!”, apresentado pelo país. 11
“Craca”, 1995, apresentada na XLVI Biennale Internazionale D´Arte, Veneza, Itália; Bienal de Gravura de Curitiba, Curitiba, Brasil; Contrastes e Confrontos, Londrina, Brasil. In: http://www.fortesvilaca.com.br/artistas/nuno_ramos/cur_02.ht ml
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12
SANTA CRUZ, Angélica. “Não é lixo, caramba!” – Reportagem em que se registra entrevista feita com Violeta Martinez Rodriguez, in: O Estado de São Paulo, Caderno Aliás, Domingo, 16 julho de 2006. 13
Rachel Whiteread teve exposição de parte de sua obra no MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, na Grande Sala, de 18 de março a 2 de maio de 2004. No catálogo da exposição Ann Gallagher observa que “ao utilizar a técnica tradicional da moldagem, ela dá um sentido inovador à escultura moldando o espaço negativo entre os objetos; o espaço debaixo de uma cadeira ou uma mesa, o vazio debaixo de uma escada, o interior de uma sala ou quarto. Suas esculturas derivam dos objetos básicos que nos rodeiam na vida e até na morte – banheiras, estantes de livros, camas, lajes mortuárias”.
SUMÁRIO
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38
Estátuas humanas
07
Rosebud, beija-flores e loucos pairando no ar
10
Loucos guiados por cadáveres
13
O partido das coisas
15
De lixo a peça de museu
19
Tudo o que é imaginário existe, e é, e tem
21
Loucura parangolérica
23
“Não é lixo, caramba!”
25
O Deus Lixo do Reino das Coisas Inúteis
28
Notas
30
Ademir Demarchi nasceu em Maringá-PR, em 1960, e reside em Santos-SP. Formado em Letras/Francês, com Mestrado (UFSC-1991) e Doutorado (USP-1997) em
Literatura
Brasileira, é editor das revistas BABEL, de poesia, crítica e tradução, e Babel Poética (1.° lugar no Programa Cultura e Pensamento 2009/2010) e da editora cartonera Sereia Ca(n)tadora. Éscritor, autor de Os mortos na sala de jantar (Realejo Livros, 2007); Passeios na floresta (Editora Éblis, 2008); Do sereno que enche o Ganges (Dulcineia Catadora, 2007); O amor é lindo (Sereia Ca(n)tadora, 2011) entre outros. Contato com o autor: ademirdemarchi@uol.com.br EDIÇÕES CAIÇARAS São Vicente Brasil
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A Edições
Caiçaras
é
uma
pequena
editora
independente artesanal inspirada nas cartoneras da América Latina, principalmente na Sereia Cantadora de Santos e na Dulcinéia Catadora de São Paulo. Nasceu pela dificuldade homérica e labiríntica em publicar meus livros em uma editora convencional. É uma forma de reavivar o ideal punk do “faça você mesmo”, incentivando a auto-gestão e o uso da habilidade manual , algo que está se perdendo em nossa sociedade tecnocrata. Assim, de fato, começa a tomar forma a filosofia da Edições Caiçaras, mais do que um caráter social, nos interessa, ousar na forma e no conteúdo. Na forma é um aprimoramento das técnicas das cartoneras - os livros são feitos com capa dura, costurados com sisal e presos com detalhes em bambu, e no conteúdo, priorizamos um diálogo profundo com a Internet e com as literaturas locais do Brasil. Márcio Barreto CATÁLOGO COMENTADO
O Novo em Folha (poesia) Márcio Barreto
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“Pode-se ler O novo em folha, de Márcio Barreto, como parte de um todo maior relacionado à Arte Contemporânea Caiçara, proposta que relaciona imagens, palavras e sonoridades numa ótica que mescla fontes da literatura, música e filosofia, sustentando o diálogo entre o ancestral e o contemporâneo. Também é possível ler cada volume como uma manifestação artística dentro das experiências no Brasil e no exterior de realizar obras únicas com capas feitas à mão e com material reciclado. Ressalta-se assim o valor do artífice na construção de cada livro que chega às nossas mãos. No entanto, talvez o mais fascinante esteja em deixar um pouco de lado esses dois fatores e mergulhar numa poesia que tem como principal característica justamente uma provocação permanente. As palavras se articulam para gerar indagações constantes no sentido de não aceitar saberes instituídos, estabelecendo dúvidas. O poema”Quando o mar” (“Vivamos/Que a vida passa/Célere como a onda// Que faz do recuo seu avanço”) encerra, por exemplo, uma poesia que traz o novo em folhas de papel, mas amparado por uma concepção da realidade que se propõe a sempre oferecer surpresas. (Oscar D’Ambrosio) - doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil). Atro Coração (dramaturgia) Márcio Barreto
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“Um retrato do amor que mistura os textos Romeu e Julieta e Otelo (Shakespeare), Lua na Sarjeta (David Goodis) e partes dos filmes O Colecionador (baseado na obra de John Fowles) e Cenas de um Casamento (Ingmar Bergman). Assim é Atro Coração, peça escrita por Márcio Barreto que coloca dois personagens míticos em uma situação limite: Lilith após ser expulsa do paraíso invade os sonhos do anjo Gabriel e o seduz. Para puni-los Deus os lança a Terra como homem e mulher. Destituídos de suas memórias vagam separados até que o acaso os une novamente. De um lado o amor não correspondido, do outro o amor que nasce do medo da morte. Uma peça que discute os limites do amor através das relações de medo, desejo, sonho, posse, loucura e realidade. Uma história que nos faz pensar que não importa o que é o amor, mas o que fazemos com ele.” (O Autor) Nietszche ou do que é feito o arco dos violinos (poesia) Márcio Barreto "A loucura, não em seu contexto patológico, mas como um campo propício para novas inspirações e idéias, onde valores e costumes são facilmente rompidos e a genialidade e a sabedoria misturam-se com universos muita
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vezes desconhecidos. Nietzsche, importante filósofo alemão do séc. XIX, possuía grande paixão pela música, como vemos em O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, O Caso Wagner, um Problema para e Nietzsche contra Wagner (dezembro 1888). De certo modo, a filosofia encontra na música um riquíssimo campo para reflexão. Poderíamos comparar, como faz a física quântica, a gênese do universo às cordas do violino quando vibram tocadas pelo arco. Acreditase que as menores partes do universo agem assim, vibrando e criando a sua volta. Nietzsche enlouqueceu em janeiro de 1889, em Turim, quando seus olhos enevoados pela miopia se chocaram com o espancamento de um cavalo. Aos prantos deixou-se ficar abraçado comovido com seu sofrimento. Nunca mais esteve lúcido. O arco do violino é feito da crina do cavalo; antes da loucura Nietzsche era veemente contra a compaixão." (O Autor) Pequena Cartografia da Poesia Brasileira Contemporânea (poesia) - Marcelo Ariel (Org.) "O mais interessante é que este livro é uma obra em processo, saber que ele nasceu na Internet e foi incorporado aos processos artesanais de fabricação de livros, através da reciclagem de matérias, é uma coisa importante. O
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pensamento por trás da própria criação da rede há uma grande teia artesanal de compartilhamento e irradiação de informação e conhecimento. Este é para mim, o paradigma que deu origem, não só a idéia deste livro, isto está no cerne das questões da poética contemporânea. Quem ler o livro, perceberá isso, é uma espécie de viagem até os poemas, o livro está conectado a um site e o site por sua vez, é ele mesmo, uma obra do artesanato mental. Não explico muita coisa, mas ao abrir o livro, as coisas podem ficar mais nítidas e menos enevoadas. Se produz poesia de qualidade nos dias de hoje e isso passa ao largo do chamado mercado editorial, mas não é ignorado pelas revistas eletrônicas de cultura, que cada uma delas se torne um livro, é uma idéia interessante, que espero, ajudar a disseminar com esta edição artesanal de textos e poemas anteriormente publicados no blog-revista.” (Marcelo Ariel) IMAGINÁRIO COLETIVO
O Imaginário Coletivo de Arte agrega artistas do litoral paulista em suas diferentes linguagens e tem como proposta fortalecer e propagar a “Arte Contemporânea Caiçara”, valorizando nossas raízes e misturando-as à contemporaneidade. Formado em fevereiro de 2011, é
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resultado de anos de pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas que culminaram na busca de uma nova sintaxe através da reflexão sobre os processos criativos na Arte Contemporânea Caiçara. Seus integrantes convergem da dança, eutonia, teatro, circo, música, literatura, história, jornalismo, filosofia e artes visuais. Estão diretamente ligados à experimentação através de núcleos de pesquisas desenvolvidos no grupo Percutindo Mundos – música contemporânea caiçara (2008), no Grupo de Câmara Quatro Quartos (2010), Núcleo de Pesquisa do Movimento - dança contemporânea (2011), no Espaço de Consciência Corporal Célia Faustino - eutonia (2003), na Cia. Etra de Dança Contemporânea (2001), no Projeto Canoa e Instituto Ocanoa – pesquisa da Cultura Caiçara (2007). Em seu repertório constam, além de “Ácidos Trópicos”, os seguintes trabalhos: “Atro Coração – uma livre adaptação sobre o amor” (teatro), “Homo Ludens – fluxos, lugares e imprevisibilidades” (dança contemporânea), “Percutindo Mundos – universo em Gentileza” (música), “Quatro Quartos - Chuva no Mar” (música de câmara), Rota Literária (teatro), “Mantramar” (música) e “Trio Kaanoa – pontes e praias” (música). Ao longo do tempo realizou encontros, oficinas e palestras, tais como o "Sarau Caiçara" - Pinacoteca Benedito Calixto - Santos /SP, "Mostra de Arte Contemporânea Caiçara" - Casa da Frontaria Azulejada - Santos/SP, "Itinerâncias - Encontros Caiçaras" - Casa da Cultura de Paraty - Paraty /RJ, "Sarau Filosófico" - SESC Santos Santos /SP e "Virada Caiçara" - São Vicente /SP. Seu trabalho está presente em universidades, escolas públicas e instituições de cultura através de cursos,
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apresentações e palestras, além de inserir sua proposta artística em espaços públicos.
www.edicoescaicaras.blogspot.com www.youtube.com/projetocanoa www.percutindomundos.blogspot.com www.myspace.com/percutindomundos
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Obras Cadåveres foi impresso sobre papel reciclado 75g/m² (miolo). A capa foi composta a partir de papelão e sacolas de papel.
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