8ºc por trás daquela foto

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O Projeto Partindo da leitura do livro Por trás daquela foto, feita pelos alunos do 8º ano, nasceu o projeto interdisciplinar Por trás daquela foto: um olhar sobre Sorocaba, envolvendo as áreas de Português, História e Geografia. Em Por trás daquela foto, os alunos se defrontaram com oito textos produzidos com base em fotografias, escolhidas pelos diversos autores. Neles, ganham espaço questões históricas, geográficas, autobiográficas e literárias, trazidas pela fotografia e traduzidas por meio da escrita de ensaios e contos. No Estudo do Meio Roteiro Histórico-Cultural de Sorocaba, realizado com os professores de História e Geografia, os alunos fotografaram os locais visitados e aprenderam sobre a história da cidade e a geografia de sua região central. Nas aulas de Português, conheceram o gênero conto e foram motivados a escrever textos ficcionais a partir de uma fotografia tirada durante o Estudo do Meio. O resultado, um livro de contos, considera a fotografia como texto visual que, aliada ao texto verbal, desperta memórias, provoca paixões, registra fatos, conta, explica, revela, constrói e desconstrói. Professores Rafael Bochini, Ana Luíza Bastos e Patrícia Souza.



Sumário Confissões............................................................................06 Para sempre.........................................................................09 A história verdadeira de Baltazar Fernandes.................18 Vingança Tropeira..............................................................20 A Ponte de Sorocaba..........................................................24 A peça da escola.................................................................27 A excursão..........................................................................31 Tim.....................................................................................35 Um belo romance...............................................................38 O menino e o tenente.........................................................40 As aparências enganam.....................................................45 Por trás daquela vida........................................................48 Raimundo, o migrante.......................................................51 Viver, morrer, renascer... ...................................................54 Tróia de Sorocaba...............................................................65 A descoberta.......................................................................69 O herói por trás do homem.................................................71 Esperança ardente.............................................................74 Casa comigo? ....................................................................77 Anexo: Fotos e mapas de Sorocaba...................................82


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Confissões

“Ultimamente tem sido difícil dormir, ficar acordada, enfim, viver. Tem algo me incomodando, me desanimando e eu não sei o que é. E eu não tenho com quem conversar. Não tenho amigos em quem posso confiar, meu marido já se foi e meu filho, bom, já é grande e não quer mais saber de mim. Eu tenho tentado me acalmar, tenho tomado meus remédios, tenho tentado me distrair com outras coisas, mas essa sensação ruim não sai. Outro dia, estava no asilo e vi alguém saindo, muito nervosa e ansiosa, e depois ela voltando, um pouco mais calma. Logo descobri que ela tinha ido se confessar. Eu nunca fui então não sei bem como funciona, mas resolvi ir, na esperança de que me ajudasse também, entendeu, padre?”, eu declarei, um pouco nervosa mas tentando manter a calma. Essa era a resposta para a “simples” pergunta que ele tinha me feito anteriormente: o que estava acontecendo. Não tenho como responder isso, afinal, nem eu sei o que está acontecendo. Eu só sei que tem algo me incomodando. Às vezes tem algo a ver com a idade, já estou velha. “Conte-me como foi a sua vida”, indagou o padre calmamente. Sinceramente, eu achei essa pergunta meio estúpida. Eu já tenho mais de oitenta anos e não me lembro nem de metade da minha vida, mas resolvi contar-lhe o que ainda me restava na memória. “Quando era criança, ajudava minha mãe em casa. Cozinhava, limpava, bordava. Mas sabe, padre, minha

Allana Friedrich

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hora preferida era o final da tarde, quando eu podia ir brincar com a minha irmã no quintal, acho que toda criança era assim. Eu tinha quatro irmãos e uma irmã. Eles trabalhavam no campo, ajudando meu pai. Foi lá que eu conheci Geraldo. Um dia, eu fui falar com meu pai e encontrei-o lá, menino de dez anos arando a terra, depois desse dia, ele virou meu melhor amigo.”

“Geraldo. Ele era seu marido, certo?”, perguntou ele. “Sim. A gente se casou há mais de sessenta anos. Eu não me recordo de muitas coisas do dia do nosso casamento, mas foi um dos dias mais felizes da minha vida. A gente se casou na roça mesmo, na casa de um parente dele. Meu pai já tinha falecido então ele não entrou comigo. Eu me lembro do meu vestido, sabe padre, era lindo. Era o mesmo que minha mãe usou em seu casamento.” Enquanto eu contava a ele, meus olhos se enchiam de lágrimas com as memórias que há tanto tempo estavam guardadas. “Eu sinto muito a falta dele, padre, e eu sei que era o tempo dele e também sei que o meu também não vai demorar, mas é difícil, sabe? Eu me sinto tão sozinha às vezes.”. O padre falou aquilo que todos dizem tentando parecer o mais triste possível: eu sinto muito, meus pêsames, e coisas do tipo. Eu sei que é só por educação, afinal, eles falarem não vai fazer nenhuma diferença, mas agradeço do mesmo jeito. Em seguida, ele me perguntou sobre meus filhos. “Eu só tive um filho. Eu me lembro da minha alegria ao vê-lo pela primeira vez. Quando era criança vivia brincando pela rua com os amigos, sempre por aí correndo e pulando. Lembro-me de como ele cresceu tão rápido e logo se tornou um rapaz. Mas, pelo jeito, essas coisas passam, não é mesmo? Agora, ele não se importa mais com a mãe. Mas está tudo bem por mim, ele já tem outras coisas com o que se preocupar”, contei ao padre. Conversamos mais um pouco sobre meu filho e outras coisas, porém, logo o assunto voltou a ser meu marido. Ele queria saber o que e quando tinha ocorrido. Contei a ele que Geraldo falecera fazia um ano. Não sei exatamente o que aconteceu, e também não sei se quero saber, pois assim posso continuar na esperança de que ele não tenha sofrido. “Um dia, a gente estava em casa e ele não estava se sentindo muito bem, a enfermeira que na época trabalhava em casa me disse que era melhor levá-lo a um médico. Ele foi e no final da tarde recebi a notícia de que Geraldo havia falecido. Depois disso, eu fui levada a casa de repouso onde estou. Falaram-me que ele teve algum problema cardíaco, mas eu prefiro acreditar que foi só a velhice”. Ao contar isso, as cenas voltavam à minha mente e eu podia sentir a mesma dor que sentira aquele dia. Logo, percebi que já estava cansada e que não aguentava mais relembrar essas coisas e resolvi que devia voltar. Despedi-me e agradeci ao padre. Ao sair daquela igreja percebi como ela era bonita, trata-se da Catedral. É de arte barroca, de um tom de amarelo e branco. Quando era criança morava perto de lá, mas nunca havia ido, meus pais não se importavam muito com isso. Há várias pinturas em seu interior, lá dentro também está a imagem da padroeira de Sorocaba. Há um sino que soa todo dia, uma vez me contaram que esse sino teve de ficar mudo

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por vários anos por conta de alguns problemas na estrutura, não tenho certeza se é verdade ou não. Eu não sei se conversar com o padre mudou muita coisa, mas, ao sair de lá, senti-me mais leve, como se um peso tivesse saído de minhas costas. Acho que, afinal, o que tanto me entristecia era só a solidão. Fui andando pela rua, em direção a um carro que iria me levar de volta para o asilo. Fiquei um pouco tonta e logo fui me enfraquecendo, como se minha pernas falhassem em tentar me equilibrar. A enfermeira ao meu lado tentou me segurar, inutilmente, pois logo caí no chão. Senti uma pancada em minhas costas e logo meus olhos começaram a se fechar. A última coisa que vi foi o relógio daquela igreja. É, acho que agora chegou a minha hora.

Allana Friedrich

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PARA SEMPRE ANA CAROLINA SILVA MARIANO – AGOSTO DE 2013

— Eu te amo, sabia? – disse Lucy, em voz alta, deitada em sua cama, olhando para o teto

de

seu

quarto

mal

arrumado. “acorda, você está falando com o teto não com o seu namorado, levanta daí e vai atrás dele”, dizia a voz de sua consciência que tanto a perturbava. PÉÉÉÉÉÉ

PÉÉÉÉ,

o

despertador marcava 5h, ela sabia que já estava na hora de ir para a escola, mas estava com preguiça de levantar, foi aí

namorando há mais de um

não parava de pensar no seu

que a voz de sua consciência a

ano,

um

futuro encontro com Kyle , um

lembrou

ele

merece

Josh

seu

presente... – ela trocou de

garoto que havia conhecido

namorado,

estaria

roupa e foi correndo para a

uma noite atrás.

esperando-a,

com

aqueles

escola, nem tomou seu café

olhos castanhos claros, cor de

da manhã que sua mãe havia

inquietação com as pernas e

mel e aquele cabelo que Lucy

preparado

perguntou:

amava bagunçar durante a

carinho.

que

aula. Os dois formavam um

com

todo

o

Chegando na escola,

Josh

percebeu

sua

— Lucy, você está bem ?

avistou Josh à sua espera , ele

— Sim ... — Lucy

tão

estava no portão ansioso pelo

respondeu tão vagamente que

rápido que acabou sentindo

beijo de “bom dia” de sua

Josh desconfiou que estivesse

dores no joelho, sentou-se na

namorada Lucy, ele a abraçou

acontecendo alguma coisa que

beirada da cama novamente

e ela permaneceu quieta até

ele não sabia.

dessa vez mais calma e disse a

entrar na aula.

belo casal. Lucy

si

mesma

levantou

estamos

Durante a aula, Lucy

Na saída da escola, Josh a esperava com o olhar

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fulminantemente lindo.

Lucy pensou eufórica e

disso.

correu para abrir a porta.

— Josh, me desculpe, eu

TRIIIIIMTRIIIIIMTRIIIIIM –

estou com dor de cabeça, à noite

o celular de Lucy tocou – ela

— Oi, L-u-c-y... –

eu te ligo, agora vou para casa –

pegou o celular, era Josh quem

Kyle disse quando ela abriu

ela falou com uma voz rouca que

ligava.

a

parecia falsa demais.

— Oi, Josh, desculpe não

porta,

encantado

ele

estava

com

tanta

– Quer que eu te leve

ter ligado, eu estava assistindo

beleza que até gaguejou

para casa, cabecinha de vento ?

TV e perdi a hora... – Lucy já foi

enquanto suas bochechas

– Josh perguntou com um sorriso

falando sem mais delongas.

estavam ficando cada vez

no

rosto

que

a

deixou

– Tudo bem, eu só liguei

mais vermelhas.

hipnotizada por alguns segundos,

para

havia

– Oi, Kyle... – Lucy

‘’Cabecinha de vento’’ era o

melhorado – Josh disse com uma

disse vagamente, apenas

apelido carinhoso que Josh lhe

voz de inocência.

prestando atenção em seu

saber

se

você

– Eu já estou melhor , só

olhar desafiador e naquela

– Não precisa, eu vou

estou meio cansada – Lucy

jaqueta preta de couro que

sozinha, tchau – Lucy respondeu

respondeu, impossibilitando seu

ele estava vestindo — pode

e logo em seguida beijou seu

namorado de querer sair com

entrar...

namorado, o que quase o deixou

ela naquela noite.

colocar os sapatos e já

dera quando se conheceram.

sem fôlego para falar ‘’tchau’’. Quando Lucy chegou em

– Tchau, cabecinha de

vou

subir

volto, fique à vontade! – Lucy

vento! – Josh falou.

Eu

completou

ao

casa, percebeu que seus pais

– Lucy respondeu ao

perceber que Kyle estava

haviam saído e rapidamente

carinho de seu namorado com

tremendo de frio ou de

subiu para o seu quarto para se

um beijo telepático e desligou o

nervosismo, vai saber.

arrumar para o encontro com

telefone.

Ela voltou para seu quarto.

Quando

estava

Kyle naquela noite. Lucy sabia

Logo Lucy voltou a se

que o que estava a ponto de

arrumar, havia colocado seu

novamente

fazer chatearia Josh se soubesse

vestido vermelho, o que usara

território, ela pegou seu

de

quando

Ela

vidro de perfume e deu

namorada, mas não adiantava

achou que ele poderia gostar de

umas dez esguichadas em

nem as mil e umas palavras que

vê-la vestida assim outra vez.

seu vestido, colocou seu

sua

infidelidade

como

conheceu

Kyle.

em

seu

sua consciência dizia, Lucy estava

TIMDOMMM – tocou a

sapato preto de couro que,

focada em apenas conhecer

campainha – Ah, não, ele já

coincidentemente, combi-

melhor Kyle e que não passaria

chegou e eu nem tô pronta! –

nava com a jaqueta de Kyle, e desceu as escadas como

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uma rainha.

disse que ligaria novamente,

ele há alguns meses. – Lucy

— Então vamos — Kyle

mas não ligou. Lucy dormiu

disse

disse, menos nervoso do que

rapidamente, também estava

quanto tempo atrás começou a

quando entrara porta adentro.

cansada dessa vida dupla que

se encontrar com Kyle.

– Tá – Lucy respondeu

acabara de começar.

sem mais nem menos.

contando

nos

dedos

– Tá, ok, mas eu tenho

Num sábado de manhã,

que aceitar essa sua decisão –

Os dois foram a um

Lucy foi direto para a casa de

Zoe disse, arrependendo-se de

restaurante chamado O Cais,

sua melhor amiga Zoe, a qual

ter falado aquilo.

sentaram-se

contava tudo. Lucy entrou e

– Por quê? – Lucy falou.

logo

as

– Eu preciso te contar

– Você está linda, Lucy!

qualidades de Kyle, mas Zoe

uma coisa, Lucy. Há algum

Ela respondeu:

não sabia do que se tratava e

tempo Josh dizia que estava

— Obrigada, mas você

nem prestou atenção, até Lucy

estudando para a faculdade,

está bem mais bonito do que

dizer que estava apaixonada

não é? Era mentira, ele estava

eu... – isso deixou Kyle nervoso

por outro garoto além de Josh.

se

e

rapidamente

Kyle cortou o silêncio dizendo:

começou

a

falar

encontrando

com

uma

e com as bochechas rosadas

— Quê? Você bebeu

garota.

novamente. Foi quando Lucy

ontem a noite, foi, Lucy? Josh é

Lucy ficou perplexa ao

disse:

seu namorado há mais de um

ouvir aquelas palavras, mas ao

– Desculpe se estou te

ano. Como você pode jogá-lo

mesmo tempo ficou feliz por

deixando nervoso – Kyle sorriu

para escanteio e sair pegando

não trair o namorado sem

e pediu duas bebidas, eles

outro ? – Zoe disse apavorada,

motivo.

conversaram sobre diversas

até perdeu o fôlego.

Quem

é

essa

coisas, a casa de Kyle (ele

— Não é exatamente

morava sozinho), sua banda de

assim, eu amo Josh, mas sem

rock, a escola de Lucy. Entre

querer me apaixonei por Kyle,

– Ela não é cachorra,

eles

de

ele, ele é lindo, eu, eu, ah.... –

sou eu, Lucy, ele estava triste e

diferença, mas Lucy e Kyle

Lucy parou de falar e pensou

deprimido, você não atendia os

nunca se importaram com

no que iria dizer, ela não amava

telefonemas dele e então eu o

idade.

Kyle, ou será que amava ?

consolei, me desculpe, amiga –

havia

um

ano

cachorra? – Lucy perguntou com ódio no coração.

Lucy pegou uma carona

— Lucy, agora falando

Zoe respondeu, arrependendo-

na van de Kyle para voltar para

sério, há quanto tempo você

casa. Quando chegou, sua mãe

conhece esse tal de Gyle, aí? –

– Por mais que eu fique

avisou que Josh havia ligado

Zoe disse um pouco mais calma

chateada com isso, eu também

poucos segundos atrás e que

– É Kyle, e eu conheço

estava traindo ele, você sabe

se completamente.

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disso, mas isso não é motivo

do lado, com um bilhetinho que

para ele me trair também.

dizia: “Com esse violão, irei

Poxa, Zoe, eu confiei em

contar

você...

disse

solidão.” Lucy achou estranho,

calmamente, enquanto Zoe

mas logo identificou: era a letra

parte de mim pertence a

apenas observara sua reação,

de Kyle. Depois de uns dois

você

sem dizer nada. Depois elas

minutos, Kyle chegou, deu um

almoçaram e Lucy voltou para

beijo na testa de Lucy e disse:

Lucy

casa. Quando estava na rua de sua

casa,

recebeu

a

história

sobre

Eu já fui teu sol, fui teu luar Dei tudo de mim pra te

a

convencer De que eu sou o amor e

Mil

vidas

de

amor

pra

continuar

– Você é única na minha

Tentar ser feliz sem fazer

uma

vida, além de ser linda, eu te

sofrer

mensagem de Kyle, dizendo:

amo, Lucy. Você sabia que essa

De volta ao que eu sou, eu

‘’Me encontre na praça dos

praça recebeu esse nome por

renasci pra te merecer

tropeiros às 2h ass. Kyle’’. Lucy

causa

olhou o relógio em seu celular

passavam

e pensou: ‘’Essa não, já são

aquela estatua ali, é de um

emocionou

1:30 e eu tô completamente

tropeiro.

chorou deitada no braço do

dos

tropeiros

em

que

Sorocaba?

Lucy, sem palavras, se

E

tanto

que

até

violão de Kyle

desarrumada’’. Lucy correu até

Lucy ficou sorrindo e

sua casa e desentulhou uma

agradeceu a gentileza de contar

pilha de roupa do seu armário,

sobre

mas

está bem, amor ? — Kyle

colocou tudo em cima da sua

continuou pensando que agora

realmente preocupado com a

cama e vestiu uma por uma.

que

reação dela, perguntou a Lucy.

Na 10000000000ª roupa, ela

também estava traindo, ela

– Eu estou bem, só me

disse ao espelho:

poderia beijar Kyle. Ele sentou

emocionei demais, foi isso.

espelho

do lado dela, pegou o violão e

Kyle, espero te ouvir cantar

meu, tem alguém mais gatinha

começou a cantar a seguinte

mais vezes sobre a história de

do que eu? – obviamente o

canção:

Sorocaba – disse ela com calma

Espelho,

os

tropeiros,

descobriu

que

Josh

– Que foi, Lucy ? Você

espelho não respondeu, mas

Um sentimento vai

e delicadeza, aproximando-se

ela saiu aos pulos até a Praça

Além da vida pra dizer

cada vez mais de Kyle, ficando a

Que nunca é tarde pra tentar

apenas

dos Tropeiros. Chegando lá, recebeu

outra

mensagem:

Um grande amor então viver

“está vendo a árvore do seu

Já fui ferido

lado, me espere aí, ass. Kyle”.

Também

Lucy sentou do lado da árvore e encontrou um violão

um

centímetro

de

distância de seus olhos azuis como o mar.

chorei,

posso

Lucy,

tenho

uma

entender

surpresa para você – disse Kyle,

Mas esse amor além da vida

hesitando em continuar

vamos viver

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— O quê? O quê? O

receber

uma

resposta,

ele

encontrá-la

a

deixando Lucy ainda mais

minutos

Kyle, com um sorriso e com

nervosa.

esquina da rua de Lucy. Ela

– Pensando em você

um

casaco

e

na

saiu

disse Lucy, sem dúvida

correndo até lá. Josh já estava ,

seu violão e Lucy não entendeu

alguma de que aquilo era

ele chegou rápido. Disse a Lucy

o porquê da tal ‘’surpresa’’, até

verdade – É que você já deve

para

que Kyle começou a cantar:

ter percebido... – completou,

calmamente sem nervosismo

Te amo mais do que palavras

deixando um mistério a ser

algum.

podem expressar.

resolvido.

Kyle começou a tocar

pegou

barzinho

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quê??? – perguntou Lucy a

suas bochechas rosas.

no

dali

Esse amor cresce a cada dia Sem você, eu definharia até desaparecer Então,

peço

que

fique

– Percebido o quê,

tudo, me desculpe por te trair,

Lucy? – Kyle começou a ficar

mas você me traiu antes – Josh

nervoso e

disse em um tom de discussão.

Lucy, eu te a-m-o-o-o-o

Lucy

estava

completamente emocionada e chorou mais ainda, mas ela pensou que só quem falava que a amava era Josh. “Mas Josh está com outra, acorda, ele está

irritante falando e falando no ouvido de Lucy. — E aí, Lucy? Gostou? — Kyle estava aflito de tanto medo de Lucy não ter gostado. — Sim, eu gostei muito, é que eu estou pensando... – Lucy disse com a cabeça no mundo da lua. – Pensando no quê, amor?

insistia

tenso com

a

Kyle

em

– Péra aí, você sabe que

– Que, eu, bom, eu...

a gente não estava dando

te amo, Kyle Rucheel – Lucy

certo, você viu, o encanto

disse sorrindo para Kyle e

acabou, Josh – Lucy falou

mentalmente pedindo para

aumentando o tom de sua voz

que recebesse um beijo. Kyle

— sua máscara caiu — Lucy

não falou nada, apenas a

completou, coberta de razão.

beijou,

Josh não queria perder Lucy

deixando-a

sem

fôlego.

com a sua melhor amiga, Lucy”. Novamente aquela consciência

conversassem

– Lucy, Zoe me contou

resposta de Lucy.

comigo para sempre

que

para sempre, então abaixou a Eles foram para a casa

voz e disse:

de Lucy, Kyle não entrou, apenas esperou ela entrar em

– Nós vamos continuar sendo amigos, né, Lucy?

casa, já era muito tarde e sua

— Claro, eu acho – Lucy

mãe avisou que Josh havia

disse com incerteza se seriam

ligado muito preocupado e

amigos ou não, Josh pagou a

que ele já sabia do que Zoe

conta e a levou na porta de sua

havia dito a ela. Lucy subiu

casa.

em direção a seu quarto o mais

rápido

possível

– Lucy, me dá um beijo

e

de despedida? – Josh falou se

trancou a porta, ligou para

sentindo culpado por isso estar

Josh e deixou um recado para

acontecendo.

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Claro

Lucy

Tá,

pode

atingiram como uma adaga

deixar

respondeu e o beijou com força,

entrar, estão faltando meninas

mas sem paixão alguma.

nesta festa – o gerente disse

envenenada. Duas-caras, minha paixão foi assassinada,

No dia seguinte, quando

encarando Lucy. Ela não achou

volte no tempo e apague

Lucy acordou, percebeu que

nem um pouco legal o que ele

toda a minha decepção!

Kyle não havia ligado como

fez, mas entrou sem mais

prometido.

delongas.

Ela

ligou

várias

Lucy não entendeu o

vezes na casa dele, mas ele não

Sentou em uma mesa

que ele quis dizer, mas queria

atendeu, Lucy começou a se

perto do palco e acenou pra

consolá-lo de alguma forma,

preocupar, mas sabia que o

Kyle.

foi quando ele disse: muito

– Tem alguma duas-

convidara para assistir a um

ocupado com o show que nem

caras aqui? Levante e aprenda

show de sua banda.

me viu , depois eu falo com ele,

que não pode despedaçar o

Já era tarde, faltavam 30

ela pensou com um mistério

coração de alguém sem que o

minutos para o show começar,

em sua mente. Na última

mesmo aconteça com você –

ela já estava pronta, mas Kyle

música, Kyle disse ao público:

Kyle encarou Lucy, e sem

veria naquela noite, pois Kyle a

Ele

está

ainda não tinha chegado. Lucy

– Essa música é nova,

querer, uma lágrima escorreu

esperou mais um pouco, mas

nem eles conhecem, por isso

em seu rosto. Ela levantou e

ele não chegou, ela pegou um

vou tocar sozinho — e cantou:

saiu desajeitada pelo meio do

táxi e foi até o restaurante onde

Experimentei um pedacinho

salão, sentou na escada e

a banda de Kyle tocaria. Ela já

do céu,

começou a escrever uma carta

Vi o marejar de águas azuis,

sobre tudo o que acontecera,

estivera lá com Kyle uma vez, então

lembrava

onde

era.

Vi um beijo e um sorriso doce como mel,

sobre a traição, sobre Josh e

Chegando lá, Lucy falou com o

E achei que eram para mim,

Zoe, mas começou a chover e

segurança que não a deixou

Não pensei nos erros, medos

ela foi para casa.

entrar, então mandou chamar o

ou ardor

gerente. – Olá, pois não? – o

Chegou em sua casa

Não pensei em nada além da sua perfeição Simplesmente me joguei de

completamente

ensopada,

subiu

quarto

até

seu

e

continuou escrevendo a carta.

gerente disse com cara de

cabeça no precipício

morto.

amor

Fez uma pilha de papéis

Sem saber que esta seria

amassados em cima de sua

minha perdição

cama, em cada papel ela

– Oi, lembra de mim, a namorada do guitarrista dessa

do

Duas-caras, você partiu meu

banda que está tocando aí? –

coração

ela disse ansiosa para ver Kyle.

Suas palavras de amor me

deixava transparecer sua raiva por Kyle não entender o que

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havia acontecido. Quem tinha

correndo, colocou seu moletom

estava

contado a ele, ela não sabia,

e foi direto ao hospital.

restaurante, mas eu estava

mas essa era a menor de suas

Quando

embora

do

na

muito nervoso e havia bebido

preocupações. Quando a carta

frente do hospital havia uma

demais, foi aí que acabei

ficou pronta, ela aguardou até

floricultura, ela passou lá e

batendo a van e .... você já

a manhã seguinte para deixá-la

pegou um buquê de cravos

sabe o final da história, né? –

na casa de Kyle o mais rápido

laranjas para Kyle , atravessou a

Kyle disse com o olhar triste,

possível.

rua

mas sincero.

Havia se passado uma semana e nenhuma notícia de

e

entrou

chegou

indo

no

hospital

procurando o quarto 232 onde ele estava.

— Mas, como pôde dizer aquelas palavras? – Lucy

Kyle, ela mal conseguia dormir,

Quando chegou, Kyle

estava triste, deprimida e com

estava com um pé engessado

– Eu vi você e aquele

o rosto inchado de tanto

erguido em uma haste que

outro rapaz, Josh, né? Na

chorar. Foi quando recebeu

vinha do teto e com uma

frente da sua casa... – Kyle

um cartão com a foto de um

cicatriz enorme em sua testa.

disse tristemente e percebeu

prédio velho na capa. Dentro

Ele estava dormindo, então ela

que Lucy não estava nem um

tinha uma mensagem, mas a

decidiu esperar no sofazinho ao

pouco feliz — Posso te fazer

letra estava quase ilegível. Foi

lado. Quando os pacientes do

uma pergunta? – completou

aí que viu que o A na

lado começaram a falar alto

rapidamente.

assinatura no final da carta na

demais, Kyle acordou e olhou

verdade era um KY, percebeu

para Lucy:

que era de Kyle e tentou entender, na carta dizia:

– Você vai continuar

‘’Etu om hsptal , qlradro

conclusões erradas sobre você,

me amando com essa cicatriz

232, beng logd , entoh sufisa

desculpe...

disse

horrível na testa? – Kyle disse

desesperadamente assim que

em um tom de riso. Lucy riu e

Lucy levantou do sofazinho.

o beijou na bochecha, Kyle

Mas na verdade queria dizer: ‘’Estou no hospital , quarto

sua

carta,

pensou: “Aí vem bomba !!!’’

tomei

deg vofe’’

li

– Pode, claro, Kyle – Lucy respondeu assustada e

— Lucy, me desculpe, eu

disse.

ele

– Tudo bem, Kyle, eu te

ficou vermelho e disse:

232, venha logo , estou com

desculpo, mas fique calmo e

saudade de você ‘’

me conte o que aconteceu com

Lucy percebeu que o

você, meu amor – falou Lucy,

prédio velho na capa era a foto

mas no final da frase começou

amor, eu te amo pelo que

do hospital onde ele estava.

a gaguejar.

você é por dentro, não por

Ela

levantou

da

cama

— Naquela noite, eu

– Mas e aí? Você ainda não me respondeu. —

Claro

que

sim,

fora — Lucy falou, oferecendo

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um sorriso amoroso a ponto

rido tanto da brincadeira de

de

Lucy

Lucy. Os dois ficaram ali,

sentou do lado do braço de

vivendo o momento como se

Kyle, tomando cuidado para

fosse para sempre.

fazê-lo

desmaiar.

não o machucar mais ainda. – Lucy, você poderia ajeitar o meu travesseiro ? – Kyle falou com tanto amor. Lucy

levantou

e

arrumou o travesseiro torto nas costas de Kyle. –

Obrigado

Kyle

agradeceu a gentileza de Lucy. Lucy novamente sentou na maca e se encostou no rosto de Kyle. – Eu te amo muito, Lucy – Kyle pronunciou com a voz firme olhando fixamente para Lucy. – Você sabe o que eu sinto por você, né? – Lucy disse em um tom de brincadeira. – Ah é? Que que você sente mesmo hein, Lucy? – Kyle

disse,

brincadeira

deixando ainda

a mais

interessante. – Ah, você sabe, né? Eu te amo, seu tolinho – Lucy riu com um sorriso no rosto e com o olhar amoroso. – Ah, tá – Kyle riu e logo sentiu uma dor por ter

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A História Verdadeira de Baltazar Fernandes Ana Clara Mendes Prado

A História verdadeira de

Quem diria que a cidade de Sorocaba

teria tanta história pra contar! Bom, eu já ouvi muitas, mas teve uma que realmente me

Baltazar Fernandes

surpreendeu, então resolvi contá-la para vocês.

Trata-se de uma história relacionada à origem da cidade de Sorocaba. É sobre Baltazar Fernandes, um bandeirante que fundou a cidade. Ele nasceu em São Paulo e cresceu em

A História verdadeira de

Santana

do

Parnaíba,

e

faleceu

aproximadamente em 1667. Depois inauguraram Fernandes.

de

sua

morte,

em

1954,

Baltazar Fernandes

o

monumento

de

Baltazar

vinham. Graziela estava desesperada e

A História verdadeira de

Por muito tempo, alguns habitantes da

parecia que o ouvido da pobre menina iria

cidade de Sorocaba começaram a dizer que

explodir, já que os gritos que ela ouvia

Baltazar Fernandes assombrava a cidade,

aumentavam cada vez mais.

Baltazar Fernandes

principalmente as pessoas que passavam perto de seu monumento. Até que um dia, uma

menina chamada Graziela, muito curiosa, resolveu ir até o monumento de Baltazar, para saber se ele realmente assombrava as pessoas

Quando a menina achou que aqueles

gritos não iriam acabar nunca, alguma coisa de errado aconteceu, eles simplesmente pararam. Graziela sabia que havia alguma coisa de errado, já que a região principal da

A História verdadeira de

que passavam pelo seu monumento.

cidade estava cheia e ninguém parecia estar

No final da tarde, Graziela resolveu ir

incomodado

com

aqueles

gritos

até a região principal de Sorocaba, onde fica o

insuportáveis. Quando a menina olhou para

monumento. Quando chegou, lá não percebeu

trás, deu de cara com o fantasma do próprio

nada de diferente, até que ela começou a ouvir

Baltazar Fernandes.

Baltazar Fernandes

alguns gritos, mas ela não sabia de onde eles Graziela,

muito

assustada,

foi

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correndo para sua casa, e parecia que Baltazar

Logo depois da aula, Graziela, muito

corria atrás da menina. A garota corria sem

assustada ainda com o que havia acontecido

parar, até que chegou em sua casa, trancou a

na tarde anterior, voltou ao monumento de

porta e foi correndo até seu quarto.

Baltazar Fernandes. Quando chegou lá, não

A mãe de Graziela, dona Melissa,

ouviu nenhum grito, o que foi um alívio para a

percebeu que havia algo de errado com a filha,

menina, mas ela tinha uma impressão que algo

e foi até o quarto de Graziela. Assim que

de errado iria acontecer. De repente, a pobre

entrou no cômodo da filha, dona Melissa

garota simplesmente sumiu.

questionou:

Seus pais foram até a polícia, e eles fizeram várias investigações, mas nenhum

— Querida, o que houve?

sinal da pobre menina. Todo mundo que Graziela, muito assustada com o que havia acontecido, replicou:

acontecimento, mas ninguém nunca soube o

— Ah, mãe, eu prefiro nem comentar esse assunto! – afirmou a menina muito aterrorizada com o que havia acontecido.

com a filha, mas percebeu que Graziela queria ficar sozinha, então falou: Ok,

querida,

que realmente aconteceu. Dizem por aí que a menina era louca, outros falam que a menina fugiu para um

Dona Melissa ficou muito preocupada

conhecia Graziela ficou chocado com o

lugar bem distante, mas em si, ninguém sabe o que realmente aconteceu naquela tarde. Dona Melissa se lamenta todos os dias

mas

qualquer

problema, estou disposta a conversar, pode

por não ter descoberto o que realmente havia acontecido com a filha, mas agora já é tarde!

ser? Graziela, contente com atitude da mãe, exclamou: — Ok, mãe, obrigada. A mãe da menina se retirou do quarto e deu um beijo na testa da filha. Logo que Melissa saiu do quarto, Graziela ficou pensativa. Ela achou muito estranho tudo que acontecera, então resolveu que no

dia

seguinte, depois da escola, iria voltar ao monumento de Baltazar para ver se iria acontecer algo de errado.

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DonecEgestasScelerisque dolor:

VINGANÇA TROPEIRA Dominyk Zampier

Por

volta

de

1730,

com

o

surgimento do tropeirismo no Brasil, o comércio de animais no sul do país florescia.

O

destino

final

dessa

comercialização era Sorocaba, por onde os tropeiros, sendo um deles, Antônio Bazin, passavam. Antônio Bazin não era apenas um tropeiro comum, mas ele era conhecido como “Bazin, o destemido”, devido à sua imensa coragem, demonstrada no caminho de cada viagem. Bazin tinha um amigo que sempre lhe acompanhava nas viagens, desde que se conheceram, chamado George Cumpló, que o ajudava a se proteger contra os animais que viviam perto do local, vezes.

onde

eles

passavam

diversas

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Antes de George e Antônio se

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conhecerem em uma viagem voltando juntos para Sorocaba, George

tinha

um

melhor

amigo

chamado

Vincent.

Eles

sempre estavam juntos, até que em uma noite, após o jantar, George viu, apavoradamente, seu melhor e fiel amigo sendo morto à facadas, sem poder fazer nada, pois a porta e as janelas estavam trancadas para que ninguém suspeitasse. George nunca se esqueceu do rosto do maldoso homem que matou seu amigo, podendo reconhecê-lo. Antônio Bazin era o assassino. Assim

que

o

reconheceu

na

volta

para

Sorocaba,

começou seu plano de vingança planejado desde o dia da morte de Vincent. Seu plano era fazer Antônio Bazin sofrer tanto quanto seu amigo sofrera no dia de sua morte. Em mais uma das viagens que George e Bazin estavam juntos, a tropa parou para dar água aos cavalos num lago que havia pelo caminho. Aproveitando a pausa, Antônio Bazin resolveu dar uma soneca. Era a chance que George esperava. Enquanto Bazindomia, George levou-o para o outro lado do lago e em seguida, amarrou-o.

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DonecEgestasScelerisque dolor:

Assim que Antônio Bazin acordou, percebeu que alguém o havia amarrado ligeiramente. Virou-se um pouco, e lá estava ele, quem ele pensava que era seu fiel amigo, era o homem que planejava sua morte durante anos, George Cumpló. George pegou-o e, sem mais nem menos, colocou-o na água, afogando-o cruelmente, pensando o quão doloroso foi para Vincent e para ele próprio a morte dele. Após alguns minutos afundando a cabeça de Bazin na água lamacenta do lago, Vicente foi finalmente vingado. Sem

ninguém

perceber,

George

conseguiu

matar

o

assassino de seu amigo e voltar ao caminho das tropas. Depois de chegarem ao destino final, Sorocaba, os viajantes perceberam que Bazin, o destemido, não estava presente

entre

os

demais

tropeiros,

acharam

muito

estranho, já que ele era famoso por sua coragem e valentia. Com o mistério do “sumiço” de Bazin, muitos homens começaram a procurar pistas e pensar se houvera algum momento em que ele tivesse ficado sozinho com alguém durante a viagem em que ele desaparecera.

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Séculos se passaram desde aquela época. Após o lago onde o homem foi morto afogado secar, historiadores tiveram a confirmação de registros de tropeiros sobre o desaparecimento do homem e encontraram o corpo de Bazin parcialmente desgastado pelo tempo e pela água. Como esta descoberta histórica aconteceu a caminho de Sorocaba, com o apoio da prefeitura sorocabana, foi construída uma estátua em homenagem aos tropeiros que passavam pela cidade de Sorocaba para a comercialização de animais, possuindo, na base da estátua, os restos mortais do tropeiro Antônio Bazin.

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A PONTE DE SOROCABA Guilherme de Almeida do Carmo 8°ano C

O ano é 1842, a Revolução Liberal, liderada por Rafael Tobias de Aguiar juntamente com o padre Diogo Antônio Feijó já começou. Objetivo: combater a ascensão dos conservadores durante o início do reinado de Dom Pedro II.

Dom Pedro II, após realizar seu 1° aniversário de maioridade, ganhara, também em homenagem a Rafael, canhões fundidos na Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema (primeira siderúrgica do Brasil). Estavam todos reunidos no Largo do Rosário, local que servia de espaço para parada dos tropeiros, quando Dom Pedro II ouviu uma voz: — Feliz aniversário, senhor Dom Pedro! – a voz vinha de Luiz Augusto, um dos homens que trabalhava na siderúrgica – Tenho um presente para o senhor que foi também em

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homenagem ao presidente. Os homens da siderúrgica demoraram um pouco, porém finalmente aqui estão os canhões que lá foram fundidos.

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No canhão, havia uma carta, então Dom Pedro II, com um gesto de quem desconfiava de algo, perguntou: — O que isto está fazendo em meu canhão? — Não sei. – respondeu Luiz – Espere um minuto. É uma ameaça ao senhor! — DEIXE ME LER! – gritou Dom Pedro. Então ele leu a carta: “Dom Pedro II, seu reinado finalmente chegou. O seu maior desejo está acontecendo: poder. Você pensa que não há nada que possa atrapalhar seu reinado, porém há. O maior inimigo de qualquer homem poderoso está prestes a acontecer: a guerra. Se eu fosse você, tomaria bastante cuidado, pois quando menos você esperar, pode ser uma vítima da guerra.” Rafael anunciou em voz alta então: — Ninguém pode ameaçar Dom Pedro II! Quem escreveu a carta, apareça agora e terá uma chance de se salvar. Caso contrário, se o autor dessa carta for pego, será enforcado até a morte. Então, a partir daí, a praça virou um tumulto. Homens começaram a brigar uns com os outros, mulheres com outras mulheres. Estavam todos acusando uns

aos outros. Foi quando um homem gritou: — Vamos parar! Somos todos irmãos. Todos filhos de Deus. – o homem era o adorado padre Diogo Antônio Feijó — Se não acreditamos em nós mesmos, como nos ajudaremos se essa tal guerra acontecer? Somos do mesmo exército. Os inimigos foram logo reconhecidos. Eram os conservadores. A guerra que era mencionada na carta finalmente começaria. Uma revolução, liderada por Rafael Tobias de Aguiar e pelo adorado padre Diogo Antônio Feijó. Rafael, Presidente da Província de São Paulo, ordenou ao exército então: — Devemos colocar os canhões no quintal de minha casa, lá é o lugar em que há a melhor visão da ponte, e se não conseguirem passar pela ponte, não conseguirão chegar a Sorocaba. Dom Pedro II, com dúvidas, concordou: — Rafael tem razão. Façam o que ele mandou. Após isso, diretamente a Rafael:

ele

disse 25


— Confio em você, porém se algo der errado, a culpa será sua e você passará o resto de sua vida na cadeia, fui bem claro?

Rafael Tobias, porém conseguiu ser salvo.

não

A PONTE DE SOROCABA

de —Guilherme Sim, senhor. – respondeu Almeida do Carmo Rafael. 8°ano C a partir daí, a Rafael passou, treinar o seu exército o tempo inteiro, pois não sabiam quando a guerra O ano é 1842, Revolução começaria e o aquão grande seria o Liberal, liderada por Rafael exército dos inimigos. Tobias de Aguiar juntamente com O Diogo padre Antônio Diogo Feijó rezava o padre já dias e noites para que combater nada ade mal começou. Objetivo: acontecesse para que não houvesse ascensão dose conservadores fatalidades. durante o início do reinado de Dom Pedro II. Porém, preparo apenas com armas não é o suficiente. O exército Domque Pedro após realizar seu tinha serII,grande e deveriam ter 1° aniversário de maioridade, outras armadilhas, além dos canhões. ganhara, também em homenagem Esconderijos, bombas, armas extras, a Rafael, canhões fundidos na armas de tiros de longa distância... Real Fábrica de Ferro São João Boatos(primeira diziam siderúrgica que Sorocaba de Ipanema seria invadida em 7 de agosto de 1842, do Brasil). Estavam todos oreunidos que não no aconteceu. Largo do Rosário, local que servia de espaço para — Mas que desperdício de parada dos tropeiros, quando tempo! Será que a tal guerra nunca Dom Pedro II ouviu uma voz: ocorrerá? – dizia Dom Pedro II. - Feliz aniversário, senhor Dom Pedro! a voz vinha Luiz – disse — –Acredito nodesenhor Augusto, um dosvamos homensdeixar que as armas Rafael – porém, trabalhava na siderúrgica em seus lugares, pois – caso algo Tenho umestaremos presente para o senhor aconteça, preparados. que foi também em homenagem A vida deOstodos, então, ao presidente. homens da voltou a ser como era antes. Nenhum ataque siderúrgica demoraram um nunca ocorreufinalmente e o homem que pouco, porém aqui ameaçara Dom Pedro se entregou a estão os canhões que láIIforam fundidos.

Ele foi enforcado no dia 19 de setembro de 1842. Apesar da morte desse rapaz, o padre Diogo comemorava, pois nenhuma guerra acontecera.

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A PEÇA DA ESCOLA AGOSTO 2013

Lara Diana Miguel

Os jovens não se interessam mais por histórias de pessoas que já morreram, mas Lucas é diferente de todos eles. Ele é um garoto esforçado, o primeiro da sala, nunca chega atrasado à escola, adora aprender coisas novas e já tem seus quinze anos de idade, mas como nada é perfeito, não tem muitos amigos e é motivo de piada dos colegas por ser o único garoto que não se interessa por esportes ou por nunca ter beijado uma garota. Lucas mora na cidade de Sorocaba e em sua escola todos os anos tem uma peça de teatro. O tema deste ano é sobre Baltazar Fernandes. Lucas nunca tinha ficado mais feliz em sua vida. Esse era o tema que ele tinha sugerido para a peça e era um tema que Lucas estava estudando em História. No dia seguinte, Lucas acordou cheio de ideias na cabeça para a nova peça, ele tinha pensado em tudo: como cada aluno tinha que se vestir, como eles iam apresentar cada personagem, as falas de cada um

Maecenas pulvinar sagittis enim.

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e por aí vai. :

Quando ele chegou à escola, foi correndo falar com a diretora, Dona Ana. Ele chegou correndo na sala dela e quando estava prestes a bater na porta escutou a voz de um de seus melhores amigos: — Mas diretora, esse tema é muito chato, eu não quero fazer uma coisa tão sem graça na peça da escola. Eu sei que cada ano uma pessoa escolhe o tema, mas o Lucas exagerou dessa vez, como a gente vai fazer uma peça com essa ideia maluca dele?? — Tom, querido, eu sei que muita gente não gostou do tema escolhido, mas para cada peça da escola, nós deixamos um aluno escolher o título, e dessa vez foi o Lucas, então trate de aceitar a escolha dele. Sobre como nós vamos fazer essa peça, depois eu comunico vocês. Lucas ficou muito desapontado com o jeito que o amigo se referiu à peça dele e decidiu provar que ele estava errado. Durante alguns dias, ele pesquisou sobre Baltazar Fernandes e começou a se empolgar com a ideia de provar ao seu “amigo” que ele conseguia fazer aquela peça ficar legal. Agora ele teria que inventar uma peça onde Baltazar fosse a personagem principal, e não foi fácil, pois ele teve que criar toda a história sozinho e também arranjar todas as roupas, fazer os testes com os alunos candidatados a cada papel, etc. Ele estava desesperado e ficava pensando que não ia conseguir terminar tudo a tempo de apresentar no mês de novembro, quando acabavam as aulas. Eles estavam no mês de abril. Um dia, uma garota da sala de Lucas, a mais tímida talvez, mas certamente a mais

inteligente e a mais bonita de todas, por quem Lucas tinha uma pequena atração, foi até ele e perguntou: — Lucas, você precisa de ajuda com a peça ou está tudo bem? Ele respondeu na maior sinceridade possível: — Que bom que você apareceu, eu gostaria muito que você me ajudasse! — Ótimo. O que eu faço então? — Ah, Julia. Você podia me ajudar com os figurinos, né?! Já que eu sou um menino e não sei muito bem o que fazer quanto às roupas! — Tudo bem, me mostra no que você tava pensando e eu faço. E eles passaram a tarde inteira conversando sobre as roupas e desenhando cada detalhe. Tinha roupas que ela gostava do jeito que ele tinha feito, tinham outras que ela mudava completamente e, desse jeitinho, cada coisa foi se acertando no seu devido lugar. Ela pediu ajuda à sua mãe, que era uma ótima costureira e logo se empolgou com a ideia. A mãe de Julia deu mais algumas ideias e logo as roupas estavam prontas, agora só faltavam os ensaios começarem. Então Lucas dividiu os textos e abriu as inscrições para sua peça. Mas tinha alguma coisa estranha, pois ninguém além de Julia se candidatou. Passaram-se mais de duas semanas do início dos ensaios e ele ainda não tinha conseguido mais ninguém para a peça. Lucas ficou arrasado e estava quase desistindo da peça quando Julia teve uma brilhante ideia: convidar pessoas de fora da escola para fazer parte do elenco da peça, mas ela não contou a Lucas, simplesmente saiu

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espalhando panfletos pela cidade sobre as inscrições e logo apareceram muitas pessoas na porta da escola para fazer os testes. A diretora não tinha permitido até hoje que pessoas de fora da escola participassem das peças de teatro, mas como ela soube do que aconteceu, decidiu liberar só dessa vez. Os ensaios foram um sucesso, muita gente ajudou a terminar partes do cenário que faltavam e deram mais ideias boas para Lucas. O dia da grande peça estava chegando e os ingressos começaram a ser vendidos. Muita gente comprou ingressos e eles se esgotaram rapidamente. Mas, como nada é perfeito, ocorreu outro problema: não tinha lugar o suficiente dentro da escola para todas as pessoas que compraram ingresso, então a diretora decidiu que eles teriam que alugar um teatro para a peça. Com todo o dinheiro arrecadado e mais um pouco que os pais de Lucas emprestaram, eles conseguiram alugar o teatro para a peça. O grande dia chegou, e com ele todo o nervosismo e os pensamentos negativos, o estresse e Lucas já não queria mais fazer a peça, pois ficava pensando que não ia dar certo. Julia, que até então escondia sua paixão secreta por Lucas, decidiu que era hora de abrir o jogo com ele para ver se conseguia fazê-lo ficar mais tranquilo. Ela foi até ele e tentou conversar com ele, arrastou-o para um lugar mais afastado das pessoas e tentou convencê-lo a ficar mais calmo: — Lucas, relaxa, vai dar tudo certo! Você não trabalhou duro todo esse tempo

pra desistir, né?! Você consegue, todos nós estamos aqui para te ajudar e não deixar que nada de ruim aconteça. E se acontecer, estamos todos aqui para te ajudar a superar as dificuldades! Nós nunca vamos te deixar na mão, EU nunca vou te deixar! Lucas nunca tinha ouvido palavras tão reconfortantes de ninguém, nem mesmo de sua mãe. Ele ficou muito feliz e deu um beijo na garota, que quase desmaiou de felicidade! Eles ficaram conversando para passar logo o tempo e finalmente chegou a hora de ir para o teatro. Lucas já estava mais calmo e confiante. Ele se arrumou e foi até o teatro, onde muitas pessoas já aguardavam o início da peça. As cortinas finalmente foram levantadas e a peça começou. Não se ouvia barulho nenhum da plateia, estava um silêncio total. Só se podia ouvir a voz do “Baltazar Fernandes”: — Olá, boa noite a todos que estão aqui, eu vim aqui para contar um pouco sobre a minha vida e sobre uma das aventuras que vivi, pela qual eu sou lembrado pelas pessoas até hoje. A história da fundação de Sorocaba. Lucas tinha pesquisado bastante, mas não tinha achado muitos dados sobre a descoberta de Sorocaba, então ele juntou as informações que conseguiu com a sua imaginação e criou uma história ainda mais empolgante. — Eu não vim de muito longe, vim de São Paulo, mas passei por muitas coisas até chegar aqui nessa maravilhosa terra onde fundei uma vila, que hoje se tornou uma belíssima cidade. Nasci em São Paulo no ano de 1580, numa fazenda imensa onde hoje é o Parque do Ibirapuera, mas quando eu era muito pequeno, meus pais decidiram se

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mudar para Santana de Parnaíba com toda a : família. Morei lá por muito tempo, me casei com Isabel, minha segunda esposa e quando já tinha filhos grandes, decidi voltar a São Paulo. Trouxe junto comigo minha esposa, meus filhos, meus genros, alguns familiares e cerca de 400 escravos. É, eu tinha escravos, mas ainda não era proibido naquela época. Quando cheguei a Sorocaba, por volta de 1654, era um lugar muito feinho, mas eu sabia que um dia iria se tornar um lugar muito bonito como hoje. Aqui em Sorocaba tinha muitas vacas, bois, cavalos e todo tipo de animais que vocês podem imaginar! Então uma menininha que estava na plateia, de mais ou menos quatro anos, perguntou: — Até um unicórnio? E “Baltazar” respondeu; — Sim, até um unicórnio! A menina deu uma risadinha e logo sentou de volta ao lado de sua mãe. — Comecei a povoar a cidade: construí primeiro um Igreja que se chamava, ou se chama, Igreja Nossa Senhora da Ponte, pena que eu não pude vê-la quando foi terminada, pois já não estava mais aqui, mas me disseram que ela está muito bonita nos dias de hoje. Eu enfrentei muitas coisas aqui em Sorocaba, mais a pior delas foi ter que matar uma velha feiticeira que vivia aqui em Sorocaba bem antes de eu chegar aqui. Ela fazia poções para enfeitiçar jovens garotos e fazer com que eles se casassem com ela. Foi por causa dessa aventura que eu acabei falecendo. A bruxa entrou em cena e, realmente, Julia tinha feito um trabalho incrível com as fantasias e com as maquiagens, pois a bruxa estava perfeitamente feia. Ela tinha todos os

detalhes possíveis e imagináveis. Então Baltazar Fernandes começou a discutir com a bruxa, atacou-a e quando ele estava quase a matando, a bruxa enfiou uma espada no peito dele e ele acabou morrendo, pois já estava velho e não tinha mais tanta força para superar uma facada, coisa que os mais jovens teriam forças. — Baltazar Fernandes morreu em 1667, 13 anos após chegar em Sorocaba, e seu corpo foi sepultado junto ao altar principal da capela em homenagem a ele, que nos dias de hoje é a igreja de Sant’Ana no Mosteiro de São Bento. — disse o narrador da peça quando a cena da bruxa acabou. A peça recebeu muitos aplausos e comentários positivos, o que deixou Lucas ainda mais feliz. Ele agradeceu muito às pessoas que participaram da peça, à mãe de Julia, à Julia e até à diretora da escola que deixou que eles fizessem a peça num lugar maior. Depois da peça de sucesso de Lucas, ele finalmente pediu Julia em namoro, e seus amigos pediram desculpas a ele por tê—lo abandonado quando ele mais precisou. Como Lucas tinha um bom coração, acabou perdoando e eles voltaram a ser melhores amigos. Daquele dia em diante, ele foi a única pessoa que escreveu as peças da escola. Cada ano ele criava uma história diferente e todos os anos suas peças eram um sucesso. Ele virou um grande escritor quando saiu da escola e escreveu muitos livros, peças e até filmes, sempre com a ajuda dos amigos e de Julia.

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A EXCURSÃO Camila Seleguim

— TRIIIIIIMMMM! Logo cedo o telefone toca. — Mãe, atende o telefone! — gritou Kelly do andar de cima. — Kelly, é para você! – respondeu ela. — Já vou! – disse ela, já descendo as escadas. — É a Cindy, filha. Cindy havia faltado da excursão no dia anterior. — Oi! – respondeu Kelly, com o telefone em uma mão e uma maçã na outra. — Oi. E aí, a como foi a The Collector, excursão ontem?

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— Foi ótima, você devia ter ido! Aliás, por que você não foi? – questionou Kelly ao mesmo tempo em que mordia a maçã. — Você não sabe o que aconteceu! – exclamou a amiga. — O quê? — interrogou Kelly, derrubando a maçã no chão. — Quebrei a perna! — Como? – Perguntou ela preocupada. — Eu estava andando de bicicleta e eu não vi o buraco no meio da rua, daí, PLOF, levei um tombo! — Mas está tudo bem ou foi só a perna? — Não se preocupa, está tudo bem, mas médica me pediu para ficar de repouso... — Por quanto tempo? — Sete dias! — Que pena... Mas eu posso ir te visitar! — Claro, venha quando quiser! — Está bem. — Mas e aí, como foi a excursão?

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— Foi ótima! — Onde vocês foram? — Fomos ao Mosteiro de São Bento. Vimos o marco liberal e fomos à Praça do Canhão. — Que legal! Foi divertido? — Foi sim, mas seria melhor se você estivesse lá! — Na próxima, eu prometo que vou! — E se você quebrar o pé de novo? — Há! Há! Há! Muito engraçado! — Eu sei... — Mas eu perdi muita matéria? — Até que não... — O que eles deram? — Foi assim: depois de visitarmos todos os lugares, a professora falou para fazermos um resumo sobre o lugar que nós visitamos e de que mais gostamos. — E sobre que lugar você escreveu? — Perguntou ela curiosa. — Sobre a Praça do Canhão. — Você pode me passar o seu resumo? — Claro! Já volto! – respondeu ela, subindo para pegar seu caderno – Voltei! — Está bem, pode falar que estou anotando. The Collector, 1234 Main Street, Any Town, State ZIP www.apple.com/iwork

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— Os canhões foram assentados na Praça Arthur Fajardo, no Centro, por ocasião da Revolução Liberal, iniciada em Sorocaba em 17 de maio de 1842, depois de acompanharem a Coluna Libertadora até São Paulo. Desde então, o local passou a ser conhecido popularmente como "Praça do Canhão". Estes canhões foram fundidos na primeira siderúrgica do Brasil, a Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, comemorando o 1º aniversário da maioridade de D. Pedro II e homenageando o Presidente da Província de São Paulo. — É isso? — Sim, é só. — Ai, que alívio, pensei que iam ser umas três páginas de história — Exclamou ela aliviada. — Que bom que não são! — Está bem, então! Vai ter mais algum trabalho sobre essa excursão? — Eu acho que vai, mas não tenho certeza, vou pegar minha agenda, já volto. Depois de alguns minutos, Kelly retornou ao telefone: — Voltei! — Pode falar. — Você vai ter que fazer um trabalho de Português, você vai ter que escrever um texto de pelo menos três paginas contando uma história, essa história tem que ser baseada nas fotos que nós tiramos na excursão, se você quiser te passo algumas fotos depois! — Vou querer sim! — Tá bom, depois te mando, beijos! The Collector, — Beijos, tchau!1234

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— Tchau! - disse Kelly, desligando o telefone.

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Tim

FREDERICO SIMÕES

Num final de tarde ensolarada, na cidade de Sorocaba, um avô caminhava com seus três netos na Praça do Tropeiro (onde havia uma estátua em homenagem aos tropeiros que usavam essa cidade como uma última parada), quando: — Vocês sabiam que um parente meu era tropeiro? – questionou o avô. — Não! – responderam os netos, interessados no assunto. — Querem que eu conte a história dele? –

perguntou o empolgado

velhinho,

— Sim!! — Mas vô, qual é o nome da história? – questionou o mais novo — O nome da história?... hum... o nome da história é “Tim, a prova de fogo”, tá, lá vai: “Em 1772, havia um tropeiro...” — Vovô, você não explicou o que é um tropeiro! – interrompeu o mais velho — Um tropeiro é, ou

melhor dizendo, era um homem que levava mulas, burros, bois e cavalos de São José do Norte a Sorocaba – esclareceu o avô – bom, voltando à história: “Em 1772, havia um tropeiro chamado Sebastião Alfredo das Neves, mais conhecido como Tião ou Tim, morava no Paraná ou em São Paulo, fazia longas viagens e já estava acostumado a ir para casa só algumas vezes...” — Por que ele ia para casa só algumas 35


vezes? – indagou o mais novo. — Porque se você tivesse prestado atenção na história, você teria entendido – respondeu o avô com impaciência. O avô repetiu o trecho. “Tim não era muito conhecido, vivia na dele, talvez seja por isso que não fosse casado. Seu chefe não o conhecia, apenas seu supervisor. Seu salário não era expressivo, mas era o suficiente. Seu pai era um homem importante, tinha grandes fazendas de café, era contra o governo de D. Pedro II e também era contra o filho ter virado tropeiro. Eles brigaram quando Tim quis virar tropeiro e a briga foi mais ou menos assim: — Você quer ser rebaixado a uma espécie de bandeirante que toma conta de gado ganhando uma miséria por mês? – começou o pai. — Rebaixado? — questionou o filho – Você fica o dia inteiro sentado nessa cadeira esperando que o café gere lucro. O senhor já está mais gordo que o Imperador. — Não me compare com aquela peste! – bradou o pai. Filho, aqui você tem o conforto para começar a sua vida, casar, ter filhos e eu não fico o dia inteiro sentado nessa cadeira... — Ah! Então é naquela! – retrucou Tião – Pai, nesse meu novo trabalho, eu vou ter liberdade e uma vida saudável. Já vou indo. Pense sobre isso.” — Nossa, então a briga foi feia – afirmou o neto do meio, que é bem calado. — Mas essa é só uma parte da briga – contou o avô. — Conta o resto, vovô?! – gritaram. — Não! Eu não me lembro do resto da briga, além do mais, ela não aparece na história – declarou. “Sete anos se passaram desde que Tim virara tropeiro. Ele estava na cidade de Sorocaba, porque estava tendo protestos para que o prefeito melhorasse as ruas da cidade, já que uns quatro dias antes, um fazendeiro estava andando na rua, tropeçou, caiu e morreu (que situação!) e o povo ficou mobilizado e quis melhorias no calçamento das ruas, mas prefeitura estava endividada e não queria se comprometer com isso. Já que havia protestos, o gado não pôde passar. Contudo, Tião e sua tropa decidiram 36


ficar por lá mesmo. Durante a noite, ficavam numa pousada afastada da cidade e durante o dia ficavam nas ruas e bares de Sorocaba. No segundo dia de estadia, Tim conheceu a filha do prefeito. Ele a achou muito simpática e bonita. Eles se conheceram na padaria. O nome dela era Aline. Com o passar dos dias, foram ficando mais próximos e Tião até conheceu o prefeito. A cada dia, o prefeito estava mais pressionado por causa dos protestos, já que a prefeitura estava sem dinheiro. Um dia, a prefeitura sofreu um incêndio dito como “acidental”. Como não havia Corpo de Bombeiro naquela época, todos ficaram olhando para o prédio, esperando o pior acontecer. Como ninguém fazia nada, Tim tomou coragem, e entrou no prédio, salvou todos que pôde e, é claro, principalmente o prefeito. E, naquele dia, ele foi apelidado de “Tim à prova de fogo”. — E aí, crianças, gostaram da história? – perguntou avô aos seus três netos. — Sim! Responderam todos em um coro só. — Isso que é uma história bem contada! – declarou o mais velho. — Como assim? – questionou o vô. — É que o nosso irmãozinho do meio conta umas histórias sem explicar direito – esclareceu o mais novo. — Pelo menos eu não participei de um incêndio “acidental” – debateu o irmão do meio. — Hahahahahahhahahahahahahahah – todos riram. E lá se acabou mais um dia ensolarado.

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Giovana

Tidei De Marco

UM BELO ROMANCE

Era uma vez um

dessas coisas, então foi cancele esta inscrição, eu

homem chamado Rafael,

tentar avisar seu pai, pois não gosto de cavalaria.

nasceu em Sorocaba e era

ele não queria fazer uma

filho de um coronel.

coisa que ele não gostava.

Um dia, seu pai o

1

encontrou seu pai, ele

de Regime de Cavalaria,

falou:

ele

não

gostava

seu pai olhou em seu rosto e

Na hora em que ele falou:

inscreveu em um Quadro

mas

Neste exato momento,

— Como você não pode gostar disso, sempre li

— Pai, por favor, bastante de livro de cavalaria 38


para você! Quero você fora de casa agora, sempre cuidei de você para você virar cavaleiro e agora você fala que não gosta! Pode sair de casa agora, não quero ver mais a sua cara! Rafael saiu de cabeça baixa, deu um último adeus a seu pai e sua mãe e foi embora. Depois de muitos dias sem comer Rafael estava muito magro e com muita sede. Foi assim que em um belo dia ele não conseguia nem andar direito, então chegou uma moça agachou-se e falou: — Vamos para a minha casa eu vou cuidar de você, a hora que você se curar eu deixo você ir embora. Neste

momento,

Rafael

se

apaixonou perdidamente pela moça e aceitou, mas com uma condição, que ela casasse com ele. Como ela queria muito cuidar dele, ela aceitou. Depois de um ano e meio, os dois já haviam se casado e tinham dois filhos, um chamado João e o outro chamado Victor.

2

39


O MENINO E O TENENTE

Não sei bem como começar esta história, mas como acabamos de sair da guerra e a morte está no meu caminho, minha atitude de tempo atrás merece ser explicada, mas saibam bem, me culpo até hoje por não ter feito

o correto.

cidade seria invadida:

Era uma tarde

— Estão dis-

de 18 de agosto de

pensados, senhores —

1842, o senhor Rafael

falou – nós nos ve-

Tobias

Aguiar

mos no quartel hoje

mostrava para nós, os

ao pôr do sol, para

soldados, os gloriosos

discutirmos a tática.

canhões que ele havia

E, você, — disse

pedido para um ami-

apontando para mim

go fazer, pois haviam

– leve essas preciosi-

dito ao capitão que a

dades no devido lugar

de

40


— Ahh ... O menino

um aviso que Sorocaba

do teste de ontem que foi

será invadida daqui a uma

recusado — respondeu.

semana.

com CUIDADO. — Sim, senhor. — Dispensados.

O garoto que eu esAqui, neste quar-

tava pensando mais cedo,

tel, só os melhores são

mas eu não podia ser fraco:

aceitos, eu sei disso,

se ele fora expulso e ficara,

pois sofri até chegar ao

tinha que ser punido. Juro,

meu cargo de Tenente.

na hora eu não sabia o que

Esses dias houve uma

estava fazendo. — O QUE VOCÊ

crutas, um particular-

minha mente, talvez por ele ser magro, inocente e nenhuma chance nesse ramo...

— bradei enquanto batia

— Ma-mas, senhor,

— Eu não me im-

quanto levava os ca-

embora!

Quem

está

aqui?

mo eu tinha bons reflexos, senti algo atrás de mim e agarrei-o: — Quem é você?

dade pela ponte, então estaremos um pouco mais acima, posicionados com os dois canhões. Tenente,

levar e acionar as armas. — Sim, senhor—

— Saiam agora. Após a reunião, fui até o lugar onde as preciosas armas estavam guardadas para estudá-las.

Larguei-o, e ele saiu correndo pela mata ali perto. Em seguida, continuei

Silêncio, mas co-

atacarão na entrada da ci-

no rosto.

porto com a sua vida. Vá

so posicionamento. Eles

respondi com um sorriso

nele.

ouvi um barulho en-

nhões para os estábulos:

reunidos para discutir nos-

ESTÁ FAZENDO AQUI ?

eu não tenho para onde ir.

Repentinamente,

estamos

você está encarregado de

seleção para novos re-

mente ficou marcado na

Hoje

minha caminhada até os estábulos, deixando de lado o episódio do menino....

era

de

noite

quando me encontrava nos estábulos. Concentrei-me no segundo canhão, era o maior e até uma pessoa caberia dentro dele. Esta-

— Senhores, – co-

va tudo quieto, de repente,

meçou Aguiar – recebemos

escutei um ronco, parecia

41


de alguém que estava

Eu fui encarregado

tempos antes, ele estava

dormindo, mas na hora

de levar os canhões de vol-

dormindo. Quando ia gri-

acreditei que estava com

ta ao quartel.

tar, meu assistente entrou

fome, e fui para o refei-

Após o dia da “bata-

e falou que precisava me

lha”, as coisas na concen-

encontrar com Aguiar para

Havia chegado o

tração ficaram mais rigoro-

discutir sobre o treinamen-

dia 26, nossa cidade se-

sas todo mundo tinha que

to. Obedeci, mas fiquei

ria invadida. Era o que

falar a verdade, se mentís-

pensando no menino a

pensávamos.

semos levaríamos uns ta-

noite inteira.

tório.

O capitão tinha

pas.

Acordei me lem-

dito que na hora do al-

Minha rotina conti-

brando do garoto no ca-

moço lutaríamos. Tudo

nuava a mesma e sempre

nhão, se eu estivesse cer-

estava pronto, canhão,

que era possível, eu ia veri-

to, hoje ele iria...

soldados...

ficar os canhões de noite.

Meus alunos for-

Continuava ouvindo uns

mavam uma fila atrás do

barulhos, que na época

segundo canhão. Félix, o

achava que era fome. Um

soldado que ia atirar pri-

dia, antes de acontecer um

meiro, já estava posicio-

treino com as armas de fo-

nado para dar o disparo.

No fim, não lutamos. Fora alarme falso. Ninguém atacou, ficamos parados ali como bobos, gastamos TUDO

go, eu me encontrava nos

para nada.

estábulos vendo o segundo res,

— Bom, senho-

canhão, examinava tudo,

parece que fomos

pois queria ter certeza que

enganados,

recolham

não tinha nenhum defeito.

tudo e vamos voltar para

Quando cheguei ao buraco

o quartel. — avisou Ra-

por onde sai a bomba, me

fael.

deparei com a cabeça daquele

menino

recusado

Eu me encontrava agachado na frente do tubo a uns 300 metros de distância,

eu

conseguia

ver o menino e ele me via, o soldado recusado sabia o que estava por vir, mas dava para perceber que o

42


garoto tinha uma única

arrependo

esperança :

EU. Não

Quem sabe daqui a pouco

podia fazer nada: a lei

não consigo dizer as mi-

do exército não permite

nhas desculpas e saber o

que os instrutores inter-

seu nome, não aguento

rompam o treino.

mais chamá-lo de MENI-

Ele percebeu, vi

eternamente.

NO.

uma lágrima saindo de seu rosto e depois só dava para sentir o cheiro de carne queimada, ele havia morrido e eu não fizera nada. Comecei a chorar, meus alunos me levaram até a enfermaria, pois havia sangue em mim, que na verdade era do menino, cujo nome nem sabia. Agora estou morrendo, tão doente que só consigo dormir sozinho, achei que já estava na hora de revelar a minha história. Mas saibam, me

43


JULIA FANTI

AS APARÊNCIAS ENGANAM

44


O que acontece é o seguinte: Eu, Antônio Pechincha, não estou acreditando no que vi e ouvi. Eu simplesmente não consigo entender como em pleno ano de 1954 existe tanta falta de inteligência. Veja só, esse monumento é uma farsa. Não, não estou louco e vou esclarecer tudo. A história desse monumento que todo mundo conhece é aquela que diz que o monumento foi uma homenagem aos homens que cruzaram Sorocaba durante 150 anos com o transporte de produtos e com as Feiras de Muares às margens do Rio Sorocaba, onde se comercializavam animais e economias diversas. Pois é, não é nada disso. Eu trabalho na prefeitura há sete anos e nunca tinha visto tanta falsidade e tolice juntas. Era época de primavera em Sorocaba, e todos nós estávamos ansiosos para o Terceiro Centenário da cidade. Os preparativos para a festa eram imensos, o Prefeito mandou serem feitos doces, estavam sendo organizadas peças em homenagem ao centenário, brinquedos de todos os tipos foram colocados para as crianças. E um desses brinquedos que ele mandou colocar era justamente um grande cavalo inflável para as crianças montarem. “Ele tem que ter a força de quem aguenta um tropeiro”, foi isso o que ele disse para os organizadores do centenário. Lembro- me muito bem que tivemos gastos excessivos com a festa. Faltando quase duas semanas para a festa, o prefeito viajou para o Rio de Janeiro para fins políticos, pelo menos foi isso o que ele disse, e deixou tudo no comando de um jovem com o nome mais ridículo possível: Armando Querido Fracasso, que era irmão de Jeremias Morrendo De Dores (farmacêutico e formado em Jardinagem, muito querido pelos moradores do seu bairro). E, foi por causa desses dois que essa história, mais absurda que seja, aconteceu. O prefeito deixou com Jeremias tudo que ele tinha que fazer: organizar as festas, planejar a venda dos doces e salgados e orientar os organizadores sobre os brinquedos. O prefeito pediu com clareza que Jeremias tomasse muito cuidado com os organizadores, por que eles se aproveitavam demais dos preços. Faltando uma semana para o evento, os organizadores vieram para checar se estava tudo bem, conversaram com Jeremias, mediram a largura do chão até certo ponto de uma 45


árvore, anotaram tudo sobre o espaço e o preço saiu entre R$ 12.000,00 a R$ 15.000,00. Ninguém da prefeitura falou nada com ninguém, todo mundo ficou apenas observando para ver no que ia dar. No dia seguinte, os organizadores foram lá de novo para resolver um tal de “transporte da peça”, ninguém perguntou nada nem se intrometeu, e o preço aumentou mais um pouco. Jeremias parecia a pessoa mais orgulhosa, falava que ia ser tudo em bronze, “e vai ser o bronze de melhor qualidade!”. Ninguém falava nada, a gente só queria ver o final, por que na verdade, o prefeito só tinha viajado para não ter que ter nenhum trabalho com a festa e deixar todo trabalho na mão de outro, então a gente só estava quieto pra ver o que ia dar no final, por que cheiro bom isso não tinha. Faltando um dia pra festa, o prefeito apareceu e foi direto pra sua sala, na qual estava Jeremias com o pé em cima da mesa. O prefeito, quando viu só fez gritar com Jeremias. — Como estão os preparativos para a festa? — Bem, tudo da melhor qualidade, o senhor vai se surpreender. Na verdade, ele não ia só surpreender o prefeito, como toda a cidade, e esse acontecimento vai ficar marcado ali, para sempre. Finalmente chegou o dia do Terceiro Centenário da cidade, a praça estava lotada de crianças correndo para ir brincar nos brinquedos e suas mães desesperadas indo atrás. Tudo estava lá, os doces, a peça em homenagem ao centenário estava acontecendo, e os brinquedos estavam lá. Só que o grande cavalo que tinha que ter bastante força para aguentar um tropeiro não estava ali. Ao invés do brinquedo, estava um grande monumento de um cavalo de bronze e um homem montando nele. As pessoas já tinham reparado o monumento que surgiu de um dia para o outro, só não estavam entendendo o motivo. Quando o prefeito chegou e percebeu que o grande cavalo de brinquedo havia sumido e no seu lugar estava um monumento sem nenhum significado, ficou chocado. 46


Lembro-me muito bem de tê-lo visto passar correndo entre as pessoas, estava tão nervoso que parecia que tinha comido um monte de pimenta. Todo mundo que estava no local não entendeu nada, só alguns dias depois é que a gente ficou sabendo da história toda. O que tinha acontecido foi: Jeremias confundiu “ele tem que ter a força de quem aquenta um tropeiro” com um grande cavalo com um tropeiro montado nele, e associou isso a um monumento. E assim se fez um monumento de um tropeiro montado em um cavalo, e com gastos excessivos, e que ficou justamente parecendo culpa do prefeito. O final, final mesmo, foi o seguinte: O prefeito demitiu Jeremias. E Jeremias e seu irmão viraram agricultores. O prefeito, que tinha sobrenome de Melhorança, pagou uma dívida imensa e se mudou para Belo Horizonte, onde virou governador. Depois de um tempo criou-se a ideia de que o monumento era uma homenagem aos tropeiros que foram tão importantes para Sorocaba, e assim ficou.

47


Por trás daquela vida Marina Camanho

Marina Camanho

Me culpo todo dia pelo acontecimento, mesmo que eu não me lembre das minha lembranças, eu me acuso.

1

Mesmo que eu não tenha feito de propósito, aconteceu. Eu causei tudo aquilo inconscientemente. Acordei

em

um

hospital, vários tubos olhares focados em mim, enfiados em mim e umas me sentia um animal de cinco pessoas me zoológico. encarando com olhares Aquele “PI, PI, PI” vazios e faces vermelhas. estava me irritando, então Elas me olhavam pedi que desligassem, mas como se eu estivesse não! Eles me disseram que morta, nem para disfarçar, eu não estava forte o olhar de canto, tinham que suficiente… Ah, qual é! encarar mesmo! Me sentia Sentia-me muito bem, não sufocada com aqueles precisava daquelas

48


máquinas “ajudando”.

idiotas

me

Para piorar a situação, após eles terem feito uma série de perguntas, nem meu nome eu lembrava, meu endereço e nome de parentes muito menos! Depois de quatrocentas questões, entraram duas pessoas (os médicos falaram que eram meus pais) estranhas e velhas que começaram a chorar e me agarrar… Sinceramente fiquei com pena delas, era triste vê-las daquela maneira, mas eu não estava entendendo nada. Por que eles estavam chorando? Por que eu estava naquela cama? Por que eu não podia sair correndo e me esconder?! Depois dessa cena trágica, os médicos me falaram o motivo pelo qual eu estava enfiada naquela cama. Eu tinha sofrido um acidente, o carro tinha capotado e eu tinha batido a cabeça. — Amnésia — disse o doutor. Que ótimo, agora eu sou um ser vivo que não se lembra de nada que aconteceu na vida! Fala sério, não podia ter sido um braço quebrado, deslocamento de qualquer parte do corpo? Tinha que 2ser perda de memória? O médico afirmou que

eu teria que ficar na casa dos meus “pais” até ter uma melhora. Ok, eu vou para a casa de estranhos que eu nem sei se são meus pais mesmo. E se eles forem matadores ou sequestradores e quiserem meu dinheiro? E se eu nem tiver dinheiro? Meus “pais” me levaram pra casa e, enquanto eu investigava o local, eu vi uma foto de uma igreja bonita. Fiquei curiosa, então peguei e fiquei observando-a por alguns minutos. Sentia “Foi nesse exato momento que meu carro capotou, eu perdi a memória e um inocente garoto morreu.” que já tinha visitado ou passado por perto dela.

“Foi nesse exato — Ela foi construída momento que em 1767, pelo mandato do carro padre meu Antônio José de Morais, ele queria capotou, euque a igreja fosse construída em perdi a memória barroco limpo, sem muitos e um Oinocente “enfeites”. sino da torre foi garoto fundido morreu.” em 1940, mas

ele não foi usado por muito tempo, porque o som podia abalar a estrutura da igreja — afirmou meu “pai”. — Ah, ela ainda existe? — questionei com certa curiosidade.

— Claro — afirmou ele — você quer ir lá? A cada canto da cidade, ele me contava uma história sobre minha infância. Comecei a abaixar a guarda, a acreditar que ele era mesmo meu pai. Quis entrar sozinha na igreja, sei lá, só não queria ele por perto um pouco. Quando entrei, senti um calafrio, fiquei parada na porta igual a uma tonta. Até que eu vi a cena mudar, tudo mudou o tempo, as pessoas, tudo. Então eu vi um carro em alta velocidade e uma criança, o carro tentando parar para não bater no menino. O garoto caído e o carro capotando. Sangue, gritos, choro, ambulância, eu. Foi nesse exato momento que meu carro capotou, eu perdi a memória e um inocente garoto morreu. Foi nesse instante que eu comecei a me culpar. Culpar-me por ter matado sem querer matar, me culpar por não prestar atenção e me culpar por ser uma assassina. A memória na verdade não voltou, o quadro não melhorou e eu vivo agora com incertezas, medos e a insegurança de acreditar em pessoas que se dizem meus parentes, amigos, colegas, conhecidos.

49


Queria, ao menos, me lembrar das coisas que aconteceram comigo ou de qualquer mera lembrança existente na minha mente, que agora só se lembra do que causou sua perda, o único acontecimento que deveria ter ficado em branco, na verdade, foi o lembrado. A fotografia foi só mais uma memória, aquele dia, que para muitas pessoas será somente um dia normal, pra mim e pra família do menino será marcado como tragédia e sofrimento. Aquele dia que muitas pessoas, no futuro, não vão dar importância, irá ser um dia normal para todas eles, mas pra mim nunca será fácil abrir os olhos e tentar esquecer o que a mente lembrou e lembrar o que ela esqueceu. Espero que, após um tempo, essa sensação de vazio passe e que a culpa diminua.

3

50


Raimundo, o migrante

PEDRO ERNESTO

Um lindo dia, um

trabalhador

honesto do estado

vontade de sair da

tão

seca, ele resolveu ir

passagem e voltou a

para lá.

trabalhar para poder

do Piauí, na região

comprar suprimentos

Raimundo

nordeste, resolveu

começou a trabalhar

migrar

para

muito

Paulo

fugindo

São da

seca.

dinheiro,

juntar

com

a

finalidade

O

jovem

chamado Raimundo foi até uma vila perto de sua

para

casa

escutou Sorocaba,

falar

e de uma

cidade no interior de São Paulo. Com

comprar

desejada

de

para sua viagem de cinco

dias,

que

começaria

na

próxima semana.

uma

Quando

chegou

passagem de ônibus

em

para São Paulo, onde

começou a procurar

pegaria outro ônibus

um

para

em

conseguir

Em

para

chegar

Sorocaba.

Sorocaba, emprego

dinheiro

comprar

aproximadamente

casa,

um

conseguiu

mês,

enfim,

conseguiu comprar a

garçom

para

mas

uma só ser

de

uma 51


doceria que ficava perto da Praça do Tropeiro. Como ele não ganhava muito dinheiro na doceria e

conseguiria

comprar uma casa em um ano, decidiu construir uma casa em uma árvore na mesma praça onde ficava

a

doceria.

Começou colocando sua

cadeira

da

sorte, que trouxera do Piauí, em cima

Mesmo com o salário

seu

chegou

a e

implorou: Me

um

aumento e adiante meu

salário,

favor.

Eu

por estou

precisando construir

minha

casa. —

Eu

posso

adiantar seu salário, mas

não

vai

dar

para eu te dar um aumento respondeu

não

para

dava

começar

construção.

— seu

a

Pediu

dinheiro? — Não sei, ainda não consegui para

o

te

pagar

Como

ele

ajudar. Esse amigo

impaciente,

disse:

fazer

— Conheço um homem

que

se

chama

Manoel

e

pode lhe emprestar o

dinheiro

emprestou

o

suficiente

para a

casa

era

com

mãos.

a

Um

dia, quando Raimundo voltava à sua casa, ele o agarrou e o levou a um beco escuro. Como

lhe

resolveu

justiça

próprias

necessário.

construir

dinheiro

respondeu Raimundo.

para um amigo lhe

Manoel

chefe —

adiantado,

ainda

da árvore. Ele

você vai devolver meu

chefe.

estava

amarrado

e

desesperado, Raimundo começou a gritar:

inteira, com o prazo

de três meses para

tirem daqui!

a devolução.

Socorro! Me

— Cale a boca! –

Passaram-se

resmungou ele – você

os três meses e,

vai

como

consequências. Vou te

Raimundo

sofrer

não pagou Manoel,

deixar

ele

pensar no que fazer

voltou

para

cobrar o dinheiro. Quando

achou

Raimundo,

e

vou

com você. Enquanto

ele

pensava no que fazer

perguntou: —

aqui

as

com Raimundo, ele se Quando

soltou

das

cordas, 52


fugiu e foi até a

ficaria

polícia.

muito tempo.

Chegando

lá, ele denunciou: —

fui

sequestrado,

mas

consegui fugir. Por favor, me ajudem. Quando ele voltar e descobrir

que

eu

fugi,

vai

vir

atrás

de

mim,

porque sabe onde moro. — Como é o homem?

perguntou o policial — depois me leve ao lugar, porque a essas horas, ele já deve ter voltado. Raimundo contou

lhe com

detalhes como era Manoel e, logo em seguida,

levou

o

policial até o lugar onde

se

encontraram ele.

O

capturou

com

policial e

por

o o

prendeu, mas como ele só sequestrou um homem, ele não

cadeira

à

árvore, no chão da Depois de tudo

— Eu vou me Quando

eu

que

aconteceu,

estiver solto, você

Raimundo

vai

para

ver

mais

sorte

praça.

polícia, ele gritou: vingar!

da

jogada do lado da

Chegando

Eu

ele

preso

sua

coisa

amada

ser

trás

antiga

sua

vida

e

resolveu

despedaçada. Depois

deixou

desse

recomeçar. Continuou

dia, ele nunca mais foi o mesmo. Com

trabalhando

medo de o homem

esforçando-se

ser solto, Raimundo

bastante

não saía de sua tão

finalmente

amada casa, só para

alcançou

ir ao trabalho.

objetivo de ter sua

Meses

se

voltava

e seu

própria casa. A

passaram e, um dia, quando

duro,

cadeira

da

do

sorte continuou em cima

trabalho,

ele

viu

fumaça

e

se

perguntou:

“o

que

da

árvore.

Todas as vezes que ele

passava

pela

será que deve estar

praça,

pegando fogo perto

lembrava

de casa?” Sem se

momentos

preocupar,

que vivera e cada

continuou andando.

vez mais dava valor

Quando

a sua nova vida.

chegou

ele

se dos

difíceis

perto de sua casa, viu-a

queimando

também

viu

e

sua

53


Lígia Andrade Ribeiro

Viver, morrer, renascer... “Eu sei lá, acho que as coisas acontecem na vida com algum propósito para ficarem marcadas para sempre na memória, e para mim descansarão para sempre naquela Igreja... Onde tudo começou...”

54


estava

eu,

sozinha,

eu

adorava

ficar

meu

e

abandonada, com fantasmas e um

mostrando-as

único tesouro. Poderia derrubá-lo?

Charlie, que já chegava correndo no

Sim, poderia, e, com certeza, ele

quarto, com as mãos estendidas para

quebraria. Eu poderia cair? Sim, e

tocar minha barriga, exclamando:

bem fundo.

para

sentindo-as

marido,

— Uau! Querida, cada dia as

Sim, lá estava eu, quase que

batidas são mais fortes! – “É e mais

fazendo malabarismo, equilibrando a

dolorosas

mamadeira, o babador e Thalia,

escondendo uma careta, que não era a

minha prematura filha de um mês e

única coisa que eu vinha escondendo

meio, da maneira que achava que

dele ultimamente, aliás, tinha que

minha mãe fazia (vamos abrir um

avisá-lo... Mas, aí, ele me beijou. Eu

parêntese aqui: eu não fazia a mínima

derretia todas as vezes que ele fazia

ideia de como ela fazia). Eu sei que

isso e parecia que todas as células do

um mês e meio já é tempo suficiente

meu corpo entravam em combustão...

para uma mãe normal perder o

Mas, não, espere, eu tinha que dizer

assombro com a ideia de ter alguém

alguma coisa para ele... Ah, sei lá.

tão frágil dependendo dela. Mas, esse é o problema. Eu não sou normal.

também!”

pensei,

— Vou trabalhar e te encontro na catedral amanhã. – Me beijou de novo e disse, com seu tom mais

Meses antes...

irritante e que eu amava:

— Querido! Querido! Corra! Você

não

pode

perder

isso!

Faltavam duas semanas, só duas, para Thalia nascer. É lógico que eu estava nervosa com a ideia do parto, e tudo o

— Te amo, minha cupcake – Nossa, eu odiava aquele apelido, só me

lembrava

do

como

estava

redondinha, mas também achava tão fofo. Então foi minha vez:

mais, mas eu mal podia esperar que o

— Eu também te amo... Tigrão.

dia chegasse. Era como se ela pedisse

– Ele sorriu me brindando com uma

para sair, todos os dias fazia uma

piscadela

sequência diferente de chutes e

dirigindo-se à porta, abrindo-a e

requebradas na minha barriga, mas

fechando-a atrás de si logo depois,

malandra,

virou-se,

55


trancando-a, como se trancasse a

— Ok, Clara, relaxe, mulher! A

barreira entre nós que jamais seria

Thalia te faz companhia... Não é,

reaberta... Ou, pelo menos, era o que

Thalia? Claro que sim. – Adormeci.

eu sentia desde que tivera aquele sonho.

Infelizmente, Thalia não pôde fazer nada. Tive o mesmo sonho,

Oh, sim, era sobre o sonho que

aquele sonho: Eu, parada, atônita,

eu queria falar com ele! Aquele sonho

arrasada, arrependida, simplesmente

que seguia me assombrando desde o

acabada. Avistava aquela cena, meu

início da semana. Mas era impossível

marido estava no carro, o carro

que ele fosse verdade, não podia ser,

estava destroçado, assim como meus

se fosse... Não. Eu não conseguia me

sentimentos, seu corpo... Não, não,

obrigar a pensar nisso.

não... Não aguento descrever. O pior

Já era tarde quando me dei conta de que precisava dormir. Desliguei a televisão (minha amiga que me distraía de meu nervosismo

era eu; olhava, chorava, gritava... E corria...

Corria

de

encontro

à

parede!... Bum! Meu nariz já era: —

Ai!

Certo,

eu

sou

de pré parto e do vazio que sentia

sonâmbula e acabava de descobrir –

quando Charlie não estava), coloquei

Droga! Acho que estou ficando louca!

meu pijama mais quente e me lancei

Chega, Clara, chega! – eu gritava e

aos travesseiros, evitando olhar para

chorava incontrolavelmente, até que

o espaço vazio ao meu lado, fechei os

uma dor mais forte começou a brotar

olhos. Aí, pronto! Começou tudo de

da minha barriga, então me joguei de

novo:

costas no chão, gemendo:

aquele

correndo

impulso

encontrar

de

Charlie,

sair a

sensação de que eu estava deitada na maca pronta para ter o bebê, e o medo... Medo de ter aquele sonho de novo. Mas então me toquei da besteira que estava fazendo, e pensei alto:

—Ah! Agora sim! É lógico que com todos os últimos treze dias de gravidez, você tinha que escolher logo hoje e agora para me dar uma cólica, filha! Meus parabéns! Ah! Tentei ficar deitada imóvel por uma meia hora para ver se a dor passava, mas adivinhe: ela só piorava.

56


Precisava chegar à cômoda do meu

Muito bem, mãe: “Certo, vamos dizer

marido para pegar o telefone. Não! Na

que nosso, será que posso chamar

minha

o

relacionamento? De mãe e filha, não

remédio... Ah! Droga! Optei por deitar

era do tipo mais amoroso que existe.

na cama e tentar rolar para alcançar

Mas eu tinha que tentar, ela era

as duas cômodas. E lá fui eu com a

minha última esperança.”.

cômoda,

para

pegar

minha barriga mega sarada e quase nada dolorida tentar deitar na cama e rolar de um lado para o outro para alcançar o remédio e o telefone.

Tentei começar a discar o número, mas já era. A dor era forte demais. Desmaiei.

...

Bem, devo dizer que essa é uma daquelas horas que você adverte

A tênue luz do amanhecer

as pessoas: “Crianças, ou melhor,

batia em meus olhos, bem era o que

mães grávidas que estão tendo a

eu achava ser até abrir os olhos, e me

cólica mais forte da sua vida, não

deparar com um céu nublado e

façam

chuvoso. “Ok, se a luz está fraca

isso

porque,

em

casa”,

primeiro:

definitivamente,

não

porque o céu está nublado, já podem

funciona. E segundo: porque sua

ser umas nove horas... Essa não!”,

filhinha talvez não vá ajudar muito.

levantei em um pulo (o mais rápido

Mas acho que também não posso

que pude dar com minha barriga, que,

culpar Thalia, a louca sou eu, não ela.

mais tarde notaria, já não doía mais),

Finalmente, depois da cômoda

agarrei o celular e... Ufa! Oito e meia!

e da minha barriga darem 1000 a 0

Se eu corresse podia chegar a tempo

em cima de mim, ou depois do que

para a missa.

deviam ser uns dez minutos, alcancei

Uma hora mais tarde, eu já

o telefone. Isso! 1000 a 1. Mas, e

estava trocada, pronta e linda (como

agora? Para quem eu ligava?... Charlie:

já era de se esperar), esperando pelo

“Oh! Claro, brilhante ideia Clara, é

táxi, que chegou poucos minutos

claro que ele poderia ajudar muito,

depois, para me levar à igreja.

afinal já deve ter engravidado, o quê? Umas cinco vezes? Não tonta! Só o que você faria seria estressá-lo!”.

57


Tudo aconteceu tão rápido, tão inesperadamente e de uma maneira

toda a minha vida, eu tive certeza de que jamais voltaria a ver outra vez.

tão inacreditavelmente possível que

...

só consegui registrar a cena, aquela que me marcaria para todo o meu insignificante viver.

Os dias que se seguiram foram como o que alguém que acabou de

Lá estava ela, eu, ou como

passar colírio nos olhos enxerga ao

deseje chamar, porque já não faria

sair à luz do dia, borrões. Eu estava

diferença, não era mais eu, jamais

solitária, abandonada no meio de um

voltaria a ser. Eu via, mas não

mundo que jamais saberia sentir a

acreditava. Eu estava lá, mas só havia

dor, o vazio... A culpa que sentia. Um

um grande vazio no lugar onde

mundo

deveria estar um espírito.

demolidor, que tira de você tudo o

Sim. Acontecia. Eu, parada, atônita,

arrasada,

simplesmente

arrependida,

acabada.

Avistava

aquela cena: meu marido estava no carro, o carro estava destroçado,

abalador,

destruidor,

que você tem e mais ama e sai correndo e erguendo o que foi roubado só para esfregar na sua cara que você jamais terá isso de volta, sem olhar para trás. Lembro-me

assim como meus sentimentos, seu

ido

acreditar. Lágrimas eram lançadas

milhões de motivos, mas que não

por

valeram

quase

que

a

pena

e

lugares

à

delegacia

face

vários

ter

corpo... Não, não, não... Não aguentava minha

e

de

nem

por foram

inconscientemente e eu levava a mão

importantes o suficiente para que eu

à barriga, como para impedir que

quisesse me lembrar. Eles não o

minha filha, nossa filha visse aquilo.

trouxeram de volta.

Pessoas me encaravam, eu corria, não de encontro à parede só para descobrir que o que eu via era apenas mais um pesadelo. Não. Eu corria de encontro ao corpo que um dia pertencera a meu marido. Aquele que, no momento mais desesperador de

O que minha mãe dizia serem dois

dias,

mas

que

para

mim

pareciam ser milênios, eu passei trancada, isolada do mundo exterior. Onde eu estava só o que me consolava eram as lágrimas e Thalia, porque o resto era vazio em mim. Ah, sim,

58


Thalia... Cada dia ficava mais e mais

como sofrida, a menos pelo sorriso

pesado carregar aquela barriga, que

que se abriu em seu rosto quando viu

já podia chamar de fardo. Tomei

Thalia, ela correu para a tuba e olhou

minha decisão.

para sua neta; Thalia tinha meus cabelos negros e os olhos claros do

...

meu marido... Ela era igual a ele... Eu

Mais uma vez, me encontro

sabia

que

ainda

teria

me

deitada e a luz tênue do amanhecer

acostumar.

bate em meus olhos... Era o que eu

voavam, até que minha mãe se virou

queria que fosse: uma volta no tempo,

para mim e o sorriso se desmanchou

uma segunda chance de consertar o

de seu rosto, lágrimas escorriam em

que eu causei. Mas quando abro os

sua face, lágrimas que não pude ter

olhos estou estendida, não em minha

certeza que eram de alegria. E com

cama; em uma maca, em um quarto

uma voz fraca, balbuciou:

do hospital.

Meus

que

pensamentos

— Piolhinha... – este é o tipo de

Já não via mais minha barriga

apelido que aparentemente minha

somente erguendo o olhar, e eu só

mãe considera carinhoso, e não me

veria Thalia se olhasse para a tuba ao

pergunte em que ela se inspirou! —

meu lado. Sim, agora eu tinha uma

Eu sei que você jamais sairia de perto

filha prematura, e estava tão insegura

de Thalia e jamais a confiaria a

com a ideia que parte de mim ainda

ninguém a não ser você mesma...

soava o alarme de: “Corra, fuja. Você

Mas... – Eu sabia onde ela queria

não será capaz”, mas a maior parte de

chegar,

mim só pensava em o quanto eu a

esclarecendo:

então

a

interrompi

amava e como eu estava feliz por tê-la

— Mãe, nem tente, eu não vou

(mas me culpava por parte desse

sair daqui, não há nada lá fora para

amor

mim...

existir

porque

ela

era

praticamente a única coisa que me restava dele). Algumas horas mais tarde,

— Filha, o médico já liberou você. Vai tomar um ar... Vá rezar um pouco, vai te fazer bem.

minha mãe entrou no quarto, com uma expressão que quase pude julgar

59


Juro que tentei, mas minha

— Ahn... É, ahn – Lindo. Deu

mãe não é umas das pessoas que

para ver como tenho o dom da

muda de ideia tão fácil, ela sabe como

palavra. Por uma estranha razão, meu

convencer alguém. Bem, de qualquer

marido recém-morto estava parado

maneira, não pude fazer nada, meu

no altar da catedral rindo de mim e eu

corpo era atraído àquela igreja, por

mais que só o que ela me trouxesse

resmungar.

fosse dor.

olhos. Pisquei mais forte. Olhei para o

Passei

pela

soleira

da

imponente porta da catedral, onde eu estivera chorando

algumas e

semanas

vendo

meu

antes marido

conseguia

ficar

Pisquei.

imóvel

e

Esfreguei

os

alto. Bati com a cabeça nos bancos da igreja. Fechei os olhos e contei dois minutos.

Não

funcionou.

Ele

continuava lá.

morrer num acidente de carro na rua

Acho que devia estar bancando

da frente. Nossa! Aquela igreja me

a idiota demais, porque ele não

traz tantas lembranças dele. Avancei

aguentou e começou a rir de mim,

alguns passos tentando me manter

digo, começou a gargalhar mesmo,

firme, não aguentei; cedi os joelhos e

zombando em meio às gargalhadas:

me pus em prantos, era demais para mim. Eu podia sentir como se estivesse de volta ao dia do meu casamento, quando tropecei na barra do vestido no meio do caminho para o altar e também caíra de joelhos chorando, a única diferença é que

— Consegue mesmo me ver? – gargalhadas – sempre sonhei com o dia no qual isso aconteceria, mas nunca imaginei que a pessoa tivesse essa reação. – Ok, aquela fora a gota d’água, indaguei ofendida:

eram

— Charlie, o q... Que está

lágrimas de alegria... Que engraçado,

dizendo? Por que ri enquanto eu

acho que estava ficando sensível

sofro? E desde quando me chama de

demais, eu até podia vê-lo de pé no

pessoa?... — Ele ainda ria. Mas agora o

altar tentando não rir de mim como

sorriso começava a murchar em seu

no dia...

rosto, e começou a me examinar,

naquele

dia

as

lágrimas

Não. Espere... Não era uma memória... Eu o via. Ele estava lá.

como se realmente estivesse em dúvida com relação à minha sanidade

60


mental. Então perguntou, quase que inseguro: — Isto foi divertido. Mas, quem seria Charlie? – “Ele não pode estar perguntando isso, certo, ele deve estar brincando, ele adora fazer isso”. Mas algo em sua expressão confusa me dizia que ele não estava brincando “Ora, como ele pode não saber quem é ele... Espera. Quem é ele?”:

Há! Você pode pensar que eu desmaiei. Bem, seria o que pessoas normais fariam ao se deparar com um espírito, mas é lógico e eu já deixei bem claro que não estou nem perto de ser normal. Minha defesa: sair correndo e gritando para o mais longe possível da igreja, eu não estava nem aí para o que os normais que passavam pela rua pensavam da minha figura enlouquecida. Eu só queria escapar daquele pesadelo.

— Charlie? É você... N... Não sabia? Ah, claro que sabe... Não sabe?— Agora ele me olhava com verdadeira preocupação, e negou:

Ok, cena dramática e tudo o mais, mas no dia seguinte minha opinião sobre escapar do pesadelo já não era a mesma. Sabe aquela

— Não. Até onde saiba, sou

sensação que você tem, quando está

Emanuel Elias. Um escravo infeliz que

sonhando com algo ruim e estranho,

foi soterrado pelos blocos dessa

de que tem que acordar, mas insiste

maldita igreja.

em continuar sonhando por mais

Até o momento em que eu ainda tinha motivos para pensar que fosse algo da minha cabeça, que eu

assustador que isso seja, só pra ver como termina? Era isso que eu sentia. Voltei à igreja.

estava enlouquecendo, ainda aceitei

Mais uma vez, adentrei o

bem a situação. Mas quando se

edifício, dessa vez eu me obrigava a

descobre que espíritos de pessoas

ficar firme, não iria virar motivo de

que morreram em certo lugar podem

piada, não do meu próprio marido,

permanecer lá, tendo aprendido o

que estava mais uma vez parado no

contrário toda a sua vida, bem... Posso

altar

dizer que a situação muda um pouco

espalhadas pela parede. Aproximei-

e você tem que tomar providências

me silenciosamente até que ele mais

um tanto drásticas.

uma vez riu de mim, com menos

olhando

para

as

pinturas

61


exagero dessa vez, ele parecia me achar muito engraçada, questionou: — Você aqui de novo? Não sei o que viu de tão interessante em mim... – Ele permanecia de costas “Como sabe que sou eu?”, mas eu não podia deixar assim, retruquei:

— Como eu já te disse, sou Emanuel Elias Camacho, um escravo que veio de Santos em 1812 para este povoado para ajudar na finalização dessa... Igreja. – pronunciou a palavra com desgosto e fazendo uma careta – Esta igreja maldita que nem tinha recursos para ser construída de uma

— Sim, eu aqui de novo.

vez só, portanto, sua construção

Também não sei o que viu de tão

iniciou-se em 1771, quando a imagem

engraçado em mim se me conhece há

daquela santa... Nossa Senhora da

mais de sete anos – Ele se virou com

Ponte chegou ao país. Sendo em 1783

uma das sobrancelhas erguidas, um

celebrada a primeira missa. Estava

calafrio percorreu minha espinha, eu

tudo ótimo! Até missa conseguiam

tinha esquecido como era tentar

rezar. Mas não, eles queriam finalizar

encará-lo; impossível.

as obras... Foi aí que eu entrei. Eles

— Ei, ei, ei. Vamos deixar algumas coisas bem esclarecidas aqui, pode ser? Eu nunca te vi na vida e jamais esperei que você pudesse me ver, então primeiro: espaço – disse enquanto me empurrava de leve para mais longe de si, eu não percebera mais tinha chegado um pouco perto demais – segundo: Quem é você?

queriam de pedra, é óbvio, e não se pode confiar em ninguém, durante uma noite em que eu e mais alguns poucos estavam construindo, tive que erguer

uma

rocha

que

estava

impedindo a passagem pela lateral da obra. Me ofereci para erguê-la por baixo, mas o meu amigo que erguia pela lateral tinha que se sentir cansado e largar o peso da rocha para

— Bom, desculpe se cheguei

mim e o outro, que também não

perto de mais, mas eu não sou o

aguentou, daí sobrou só para mim...

fantasma aqui, então acho que quem

Bem você já sabe o que acontece

deve alguns esclarecimentos é você. –

depois... Fiquei enterrado lá, eles nem

Ele suspirou exasperado, mas de

para tirar a pedra e me enterrarem de

qualquer maneira, me esclareceu a

uma maneira digna... Não. A rocha

situação:

ficou lá até que em outra reforma da

62


igreja foi retirada... Mas até aí... Eu já

— Clara... Quanto tempo faz

estava condenado a pertencer à igreja

desde que sua filha nasceu? – Ora,

para sempre... Ou é o que eu acho que

porque ele perguntaria uma coisa

seja... Para sempre.

dessas? Como eu não ia saber quanto tempo de vida minha própria filha tinha... Sabia? Para mim era tão óbvio que a resposta devia estar na ponta

Meses depois...

da língua, mas porque não estava? Acho que fiquei em silêncio por Sim, aqui estava eu, cercada de

tempo demais, porque ele ordenou:

fantasmas e com meu único tesouro,

— Clara, olha para mim... –

agora você entende o que eu quis

ergui uma sobrancelha para ele, mas

dizer, mas espere, sente-se, ainda

sua expressão séria dizia que ele não

falta o fim.

estava para brincadeira, olhei-o, ele

Durante esse tempo minha

continuou:

vida se resumiu praticamente em

— Não se enterre como eu fiz

cuidar de Thalia e visitar aquele que

em uma vida apegada ao passado e

até já me acostumara a chamar

que não vale a pena, eu morri... O jogo

apenas de amigo.

para mim já terminou... Mas não para

— Quer dizer que seu apelido

você, você ainda tem um longo tempo

era Macho? – naquele dia em que me

na sua frente, e que você vai passar

encontrei com ele, ele estava mais

como? Vindo ver o espírito de alguém

pensativo que o normal, mas não

porque é igual ao marido que você

pude deixar de me divertir com o

não queria perder? Ninguém nunca

apelido dele, me fazia lembrar o que

quer perder aquele que ama, então

eu dera para Charlie... Ok, talvez eu

não perca duas vezes, viva com sua

também estivesse um tanto pensativa

filha, ela te ama e tenho certeza que

demais

você

naquele

dia.

Meus

também

a

ama.

eu

pensamentos voavam, até que ele me

sinceramente e definitivamente fui

surpreendeu com uma pergunta:

pega de surpresa por essa, mas as palavras dele faziam todo o sentido.

63


Eu queria chorar, abraçá-lo e agradecer por abrir meus olhos, mas por algum motivo apenas sorri, o sorriso de uma mãe que acaba de ver com seus próprios olhos a vida que ela mesma originou.

E em um lugar onde eu pensava que só havia lembranças tristes

e

melancólicas,

agora

acontecia o batismo de minha filha, aquele que ficaria marcado para sempre em mim como uma das melhores lembranças de minha vida... No dia, o fantasma não apareceu, eu sei lá, acho que as coisas acontecem na vida com algum propósito para ficarem marcadas para sempre na memória, e para mim descansariam para sempre naquela Igreja... Onde tudo começara.

64


Tróia de Sorocaba Rafael Bruzon

Setembro 2013

Aulas de história também são interessantes Em algum lugar de Sorocaba, havia

uma

escola

com

ótimos

professores e também bons alunos, porém, quando se falava de aula de história, ninguém queria saber de nada, então as aulas de histórias não rendiam. Alguns meses atrás os alunos haviam feito um passeio por Sorocaba aprendendo sobre conteúdo de história e geografia. A professora de história, que se chama Ana Luíza, estava cansada porque os alunos não prestavam atenção em suas aulas de história,

Capitão Baltazar Fernandes, fundador dos primeiros povoados de Sorocaba.

principalmente porque era sobre Sorocaba, a cidade natal de quase todos

que

estavam

aprendendo. 65


Cansada

de

tentar

fazer

dinâmicas

Por volta de 1654, Baltazar Fernandez

diferentes e não adiantar nada. Decidiu

edificou casa à beira do rio Sorocaba e na

fazer algo que ela nunca tinha visto algum

colina a capela de Nossa Senhora da Ponte,

professor fazer, pelo menos não na série em

local onde hoje é a Catedral Metropolitana

que os alunos se encontravam... Pesquisou

de Sorocaba. A atitude aparentemente

tudo sobre Baltazar Fernandes, desde as

positiva de Baltazar Fernandes em relação à

coisas mais chatas até a suas maiores

Igreja Católica certamente é devido a ele

aventuras.

precisar mascarar sua origem judaica.

No dia seguinte, entrou na sala e pediu

Os alunos começaram a ficar desanimados

para que todos se levantassem, arrumou as

com aquilo, porém a professora sentada em

cadeiras em forma de “u”, os alunos

meio ao “u” de cadeiras continuou:

estranharam,

ela

pediu

que

não

— Deixem-me contar uma história a

conversassem, pois tinha certeza que

vocês, nesses tempos do capitão Baltazar,

adorariam a aula, e perguntou:

houve uma guerra em que o Rei de Portugal

— Alguém se lembra de quem é Baltazar Fernandes? — Não - afirmaram os alunos.

nem sabendo ficou, na verdade Baltazar ficou gravemente ferido em uma pequena batalha dessa imensa guerra que durou dois

Não surpresa, Ana Luíza explicou mais uma

anos, entre o povoado de Sorocaba e outros

vez:

povoados que se uniram a Sorocaba contra

— O capitão Baltazar Fernandes foi

povoados próximos, que até hoje ninguém

fundador e um dos primeiros povoadores de

sabe como houve uma guerra de dois anos

Sorocaba, assim como seu filho, Manuel

sem o governo português soubesse. Muitas

Fernandes de Abreu. Ele nasceu em São

pessoas morreram, desde crianças até idosos,

Paulo e cresceu em Santana do Parnaíba.

tanto os indígenas quanto o povoado de

Era um notável bandeirante, que passava

Sorocaba já haviam cansado daquela guerra,

muitas vezes pelos campos de Sorocaba em

Baltazar muito esperto resolveu usar essa

suas viagens ao sertão. Buscava índios no

insatisfação dos índios a seu favor, quando

Rio Grande do Sul e no Paraguai para

já havia sarado.

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66


Ana Luíza estava muito surpresa pois,

Mais de uma hora de aula e nenhum

já eram 20 minutos de aula e nenhum

aluno havia sequer olhado para o lado,

aluno tinha sequer aberto a boca, todos

todos prestavam muita atenção em Ana

estavam fixados ouvindo sua história,

Luíza, assim continuou ela:

então continuou:

— Bom, dez portugueses foram

— Como os índios tinham uma espécie de

livre

acesso

e

pássaro com álcool, leva-lo para dentro

consequentemente sobre as vilas, desde que

da vila inimiga e convencê-los de que era

não

índio

um pedido de paz. Muitos acharam

aprisionado, ele propôs a eles que

estranho, porém aceitaram a trégua. Os

vigiassem, descobrissem sua rotina e ainda

portugueses deram um sinal e, todos os

conseguissem descrever corretamente a

índios atiram flechas flamejantes no

vila. Como os índios não tinham porque

pombo, que logo começou a pegar fogo.

recusar, aceitaram. Depois de mais ou

Como a vila não era autorizada pelo Rei

menos uma semana desse acordo os índios

de Portugal, os portugueses tiveram que

voltaram a Sorocaba e passaram todas as

construir as casas iguais aos índios

informações

os

faziam, ou seja, o teto das ocas era

portugueses mostraram aos índios o álcool

feitos de folhas e madeira secas, que não

e, juntos fizeram várias flechas que se

demoraram muito para pegar fogo. Foi a

podia pôr fogo para queimar os alvos

maior e melhor estratégia de todos os

delas, todos os índios, homens, mulheres e

tempos, pelo menos a melhor conhecida.

crianças juntos em menos de uma semana

Todos os portugueses de Sorocaba se

fizeram uma espécie de pombo gigante da

reuniram ao redor da vila e os poucos

paz totalmente inflamável. Então, os

que conseguiam sair correndo eram

portugueses e os índios se reuniram perto

mortos por certeiros golpes de espada.

da vila, porém os índios de um lado e os

Em menos de 5 minutos, não restava

portugueses de outro.

mais nada além de cinzas e cadáveres

falassem

a

sobre com

a

mata

encarregados de encharcar o grande

nenhum

Baltazar.

Então

carbonizados. Por essa e muitas outras

67


aventuras

que

Baltazar

Fernandes

ganhou sua estátua aqui em nossa cidade. Gostaram? — Sim!! – proclamaram em coro os alunos felizes. E como se fosse cronometrado, assim que os alunos responderam a sua pergunta, tocou o sinal e todos foram embora.

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A DESCOBERTA Rafael Augusto Alcalai Diniz Foi nesse dia de 15 de agosto de 1654, que pude presenciar aquele pequeno pedaço de terra em que muitos aproveitavam para descansar ou vender suas mulas, na chamada feira de muares, se tornar uma enorme grandeza em que eu mesmo, Capitão e grande bandeirante Baltazar Fernandes, tive a oportunidade de fundar e povoar, dando-lhe o nome de Sorocaba.

Tudo começou quando eu e minha

anunciei:

tropa buscávamos um lugar diferente, um

— Encontramos!!! É aqui!

lugar

Depois disso, a área foi por mim mesmo

novo

descoberto.

que

ninguém

Conforme

ainda

íamos

havia

andando,

anunciada

e

várias

pessoas

começaram

a

muitos de minha tropa já não aguentavam de

frequentar esse local. Foi se formando um

tanto andar, pois estávamos nesse percurso

pequeno lugar para descanso, onde vários

havia horas e estava quase escurecendo, então

tropeiros se encontravam, o que era muito bom,

que mal faria descansar? Passamos a noite

pois

nesse

que

estratégias de conquista, dentre muitas outras

decidimos explorar. Havia um relevo plano e

coisas. Mais tarde, quando uma enorme e

alto, cheio de natureza e muitos animais e

significativa quantidade de gente conhecia este

logo a frente se localizava um rio, onde meus

ponto, lá começou uma onda de comércio, com

homens não resistiram a se banhar. Nesse

destaque para a feira de muares, uma atividade

tempo fiquei pensando, será esse o lugar que

muito frequente na região, onde os tropeiros

procurava? Ou será mais um vale descoberto?

vinham para trocar ou vender suas mulas e

Me fiz essa pergunta durante horas e por fim

animais, época de que tinha muita saudade, pois

pequeno

pedaço

de

terra,

nós

riamos

e

marcávamos

reuniões,

69


ganhava fortunas com isso e havia feito

junto ao rio, deu uma ótima relação, fazendo-se

amizade com muitos mercadores.

possível a alimentação daqui. Bom voltando ao

Além disso, eu era muito conhecido

assunto anterior, essa época também me deixa

tê-la

saudades, pois os banquetes eram uma delícia e

descoberto, que mais tarde se tornaria muito

eu me divertia muito com meus companheiros.

importante. Depois disso, achei necessário

Logo depois isso foi diminuindo, pois de vila se

construir uma igreja, pois onde já se viu um

tornou cidade, e é o que é hoje, carruagens pelas

local tão frequentado não ter pelo menos

ruas, cavalos e poucas festas, pois todo mundo

uma capela? Havia muitos cristãos no local,

se conhece muito pouco, não é verdade?

na

região,

principalmente

por

a maioria católica e, além disso, as outras

Mas mesmo assim fico feliz, pois em

regiões eram muito longe e era preciso ir até

homenagem a mim, fizeram uma estátua, que

elas para rezar. Então, tempos depois, uma

espero que dure muito e me nomearam

igreja foi construída com o nome de

fundador e descobridor de Sorocaba, coisa de

Mosteiro de São Bento, acontecimento

que me orgulho muito, me emociono na hora

histórico para o pequeno ponto, pois foi a

de lembrar no que aquele “pedaço de terra”

partir daí que uma vila começou a se formar,

pôde se transformar, graças a mim, Baltazar

fazendo com que ele fosse conhecido

Fernandes, fundador de Sorocaba, grande

mesmo em outras regiões. Com isso, além

bandeirante, cheio de orgulho, pelo qual passo a

do comércio, uma grande concentração de

você, para dar continuidade e passar por

pessoas que vieram aqui morar se formara,

gerações, orgulho que ao mesmo tempo mostra-

sem mencionar os demais que depois

lhe de que nada se consegue sem esforço e

vieram, fazendo com que fosse necessário

dedicação, somados justamente à força de

aumentá-lo.

vontade.

Demorou, mas ocorreu: mais gente

Espero que você tenha aprendido alguma

chegou ocupando os lugares vagos da vila.

coisa com essa história e lembre-se sempre,

Assim datas comemorativas foram surgindo,

Manuel, orgulho maior é poder te chamar de

como aniversários, dias dedicados a santos,

filho.

feriados, fazendo com que o lugar fosse muito animado, cheio de festas e banquetes. Um fato que me esqueci de contar foi que quando

encontrei

o

local,

pedi

a

companheiros para trazerem sementes para o plantio e animais para a ordenha, que

70


Thiago Coelho Guastini

O herói por trás do homem

1

O que vou lhes contar agora é uma história sobre um importante cavalheiro, cujo nome era Rafael Tobias de Aguiar, mais conhecido como Tobias de Aguiar, e como foi sua participação na história de nossa cidade.

Eram três bandidos e os três usavam sempre a mesma roupa: botas pretas, calças pretas, camisas listradas de branco e preto, uma capa preta, uma máscara branca e usavam um chapéu preto.

Antigamente, no pequeno povoado que existia em torno da feira de muares, estava havendo estranhos ataques de arruaceiros que roubavam grande parte da mercadoria que seria comercializada na feira.

De passagem na cidade estava Rafael Tobias de Aguiar. Na hora em que estava andava sobre seu cavalo, observando a feira de muares, aconteceu o ataque dos arruaceiros. Os três estavam montados em cavalos e, num piscar de 71


olhos, roubaram muito dinheiro. Deixaram a feira revirada e saíram a galope, levando também um relógio que Tobias de Aguiar usava e havia ganhado de seu pai ainda quando criança. Rafael Tobias de Aguiar era importante na época e ocupava um cargo político no Rio de Janeiro. Como grande e corajoso homem que era, ficou espantado e muito preocupado ao ver a tristeza daquelas famílias que tentavam vender seus produtos na feira de muares e foram roubadas, e jurou fazer justiça por ele mesmo. Voltou ao Rio e trouxe a Sorocaba dois amigos de infância que se dispuseram a ajudar a capturar aqueles bandidos. Tobias e seus amigos armaram uma espécie de acampamento próximo à área da feira, onde podiam observar tudo o que acontecia por lá e decidiram que seguiriam os bandidos. Estavam se preparando para almoçar, quando, de repente, os bandidos atacaram a feira e saíram a galope mais uma vez. Tobias e seus amigos mantiveram uma distância segura para não serem percebidos atrás dos homens. Após alguns minutos, perderam os arruaceiros de vista, mas continuaram procurando-os. Já haviam procurado muito pelas redondezas quando um dos 2

amigos de Tobias de Aguiar encontrou o relógio roubado do amigo. Tobias pediu para que seu amigo o levasse ao local em que encontrara o relógio. Após mostrar o local, Tobias revirou algumas folhas e viu que elas na verdade tampavam uma entrada para dentro de uma espécie de caverna. Tobias, Antonio e Joaquim, seus dois amigos, entraram com cuidado na caverna onde os três bandidos se encontravam. Para não serem descobertos, esconderam-se atrás de algumas pedras e lá observaram o que os homens faziam. Após alguns minutos, os bandidos combinaram a data e a hora do próximo roubo; e Tobias e seus dois amigos resolveram armar uma emboscada. Saíram daquela caverna e voltaram ao acampamento para armar a emboscada. Após algumas horas, já tinham o plano pronto e resolveram testá-lo. Obtiveram êxito e esperaram até o dia seguinte para executá-lo. No dia seguinte, Tobias, Joaquim e Antonio armaram a emboscada e esperaram a hora certa para pegá-los. Começava o ataque e os três amigos esperavam para que os arruaceiros fossem pegos. E o plano deu certo. Os cavalos tropeçaram no cordão que Antonio e Joaquim amarraram e os bandidos caíram na rede preparada por

72


Tobias. Tobias de Aguiar, Antonio e Joaquim levaram os arruaceiros até uma pequena delegacia longe dali. Quando morreu, Tobias foi homenageado com uma bonita estátua na cidade, que existe até hoje. O que posso dizer é que, por trás de uma foto, pode haver muitas histórias e, por trás de cada homem, pode haver um grande guerreiro.

3

73


ESPERANÇA ARDENTE VICTOR GABRIEL BASSAN BATTAGLINI

Olhando esta foto, você pode achar que ela não tem nada demais, mas se você soubesse sobre as lendas desse grande monumento de Sorocaba, ficaria surpreso como todas essas histórias cabem em um só monumento. Bem, vamos direto ao ponto. Este monumento é em homenagem aos bandeirantes exploradores paulistas que são responsáveis pela ocupação de muitas áreas no Brasil, mas eu vou lhe contar uma lenda sobre este monumento, a lenda “Esperança Ardente”.

Por volta do ano 1700, Sorocaba estava para ser invadida pelas temidas tropas da Coroa Portuguesa, que havia se indignado com o fato de Sorocaba fornecer poucos tributos a ela. Sorocaba se preparava para a guerra, que nunca foi registrada no papel, somente na linguagem falada. As tropas sorocabanas eram lideradas por um bandeirante pobre, trabalhador e honesto, chamado Dante. Dante sabia da desvantagem numérica de seus homens, sabia da falta de treinamento de seu exército, mas acreditava na determinação dele e

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em sua vontade de vencer. Um dia antes da batalha, Dante preparou suas defesas contra o exército lusitano. Como era um homem esperto, armou armadilhas nas áreas próximas de Sorocaba, que poderiam ser usadas pelo exército inimigo na invasão. Além disso, ele ainda preparou um trunfo final, a principal entrada para Sorocaba era uma ponte, a qual Dante planejava destruir durante a batalha, causando o maior número de mortes inimigas possíveis. Chegado o tão esperado dia, Dante e seu determinado exército estavam preparados para combater com suas vidas o grande e temido exército lusitano. Logo que chegaram, os soldados portugueses amedrontaram a todos por sua grande superioridade numérica, mas Dante manteve a calma e conseguiu acalmar seus homens, lhes dando esperança e dizendo: — Bravos guerreiros, que aqui estão reunidos diante de mim, para lutar contra esse tão assustador exército, gostaria de dizer a todos que treinamos para esse dia, nos preparamos para ele e que a esperança é para todos. Enquanto ela estiver entre nós, sempre poderemos vencer. Enfim, foi um prazer conhecer todos vocês e espero que possamos vencer essa luta, mas se perdermos, pelo menos lutaremos com nossas almas. Após o belo discurso, Dante posicionou seus soldados, dando a entender que lutariam na ponte para atrair o inimigo ao local esperado. Enquanto isso, todos podiam ver que as armadilhas haviam funcionado e ainda estavam, pois diversos soldados inimigos estavam caídos, já fora de combate ou mortos. Os generais lusitanos, ao verem

o exército sorocabano posicionado perto da ponte, fizeram o mesmo e logo em seguida deram a ordem de ataque. Como Dante esperava, um número enorme de inimigos entrou na ponte ao mesmo tempo, assim dando a deixa para Dante destruir a ponte, matando centenas deles. Os sorocabanos, ao verem a esperança cada vez maior e crescendo, usaram as estratégias combinadas, esconderam-se nos bosques e mantiveram-se longe das cidades para proteger os civis. Também obtiveram sucesso na maioria das zonas de combate, pois haviam aniquilado os portugueses, mesmo assim o exército lusitano era muito grande e recuou para uma reorganização. Ao verem que estavam perdendo a batalha, os portugueses, ainda em maior número, mas não tão assustadores como eram antes, decidiram atacar de modo mais organizado, dando a volta e entrando na retaguarda dos sorocabanos. E assim fizeram. Enquanto alguns combatiam na frente da cidade, o restante dava a volta, só não contavam com uma coisa, mais armadilhas que neutralizaram grande parte de seu exército. Dante, vendo a vitória, percebeu que estava fácil demais, e logo mandou uma patrulha atrás de novas informações sobre os inimigos. Lá se foram uma dúzia de soldados atrás de informações, mas apenas três voltaram a tempo de poder informar o ataque surpresa das tropas lusitanas, que estavam aniquilando o exército sorocabano pelas costas. Determinado a vencer aquela batalha, Dante mostrou às suas tropas a esperança, posicionou-os e liderou-os na batalha grandiosa de sua vitória.

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Após a batalha, os sorocabanos viram-se num lugar sombrio, cheio de mortes e com muita tristeza e, ao mesmo tempo, também se viram em um lugar vitorioso, pois se mantiveram firmes mesmo após todo o ocorrido. O grande, honroso, inteligente e merecedor comandante das tropas sorocabanas entrou em acordo com a Coroa portuguesa para que essa guerra, que foi vencida graças à esperança de um homem, não fosse registrada, assim deixando-a somente como uma lenda, para que não causasse mais nenhum conflito no futuro com algum sentimento de vingança ou algo parecido. Após isso, Dante foi nomeado pelo povo e pela Coroa administrador de Sorocaba, pela qual havia batalhado e cuidou com carinho em todo o resto de sua vida, mantendo-a uma cidade pacífica, tranquila para se viver, onde todos sempre tiveram e ainda têm uma esperança que arde em todo o seu corpo e mente.

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CASA COMIGO? Donec Egestas Scelerisque dolor:

Agosto 2013

Victória Ranchin

Sábado à tarde. Lá estava eu na Praça do Canhão, caminhando e admirando a paisagem da cidade. Sentei em um banco e fechei meus olhos. “Por que ele fez isso comigo? O que eu Praça do Canhão, Sorocaba, SP

fiz de tão ruim pra ele me trair?” E lá estava eu, perdida novamente em meus

pensamentos,

torturando-me

uma moça tão bela, sozinha a essa praça? – questionou curioso.

mentalmente sobre o porquê dele ter feito

— Amor. – respondi e senti algumas

tudo aquilo comigo, quando alguém me tirou

lágrimas escorrendo. Droga. Não gosto que

de meu transe:

pessoas me vejam chorando. Me sinto tão...

— Oi! – disse o ser, muito feliz pro meu gosto.

Vulnerável. — Calma. Não fique assim. – disse

— Oi. – respondi sem um pingo de entusiasmo. —

Pedro me consolando. Meu Deus! Que perfume bom! Escorei mais minha cabeça

Nossa,

princesa

gelada,

é?

perguntou o ser desconhecido fingindo-se de ofendido.

em seu peito e comecei a chorar. Ficamos assim por alguns minutos, até que me desencostei dele e comecei a

— Me desculpe! Não estou num bom

contar tudo o que havia acontecido. Eu e

dia. – por que diabos eu estava falando com

Arthur nos conhecemos na escola e tivemos

esse cara? – Espera, eu te conheço?

um longo relacionamento. Muito feliz, diga-

— Acho que não ainda! Prazer, Pedro. –

se de passagem. Um dia, ele me pediu em | 123-456-7890 |

The Collector, 1234 Main Street, Any Town, State ZIP www.apple.com/iwork

ele se apresentou.

casamento, e eu, totalmente apaixonada,

— Prazer, Vivian. — Então, o que traz 77


aceitei. Ficamos noivos por cerca de um

Não consegui conter o riso.

ano e meio. Donec Até Egestas que Scelerisque um dia,dolor: fui ao

— Não tem problema! Foi bom, eu

shopping com minha melhor amiga,

gostei. – sussurrei em seu ouvido.

Kamilla, e o vi beijando a garota, mulher já

Como já estava escurecendo, ele

no caso, que eu mais odiava na época de

me convidou para tomar um café. Fomos

escola.

sai

até o Fran’s Café e terminamos nossa

correndo desesperadamente pelo shopping

conversa lá. Pedro tinha 25 anos, era alto,

e Kamilla atrás de mim. A hora em que o

tinha cabelos pretos, olhos bem azuis e

traste chegou em casa, terminei com ele

era bem musculoso. Já eu era um pouco

enquanto se fazia de inocente. Isso havia

diferente dele. Tinha os cabelos lisos com

acontecido cerca de três meses atrás.

as pontas encaracoladas, que quase

Quando

vi aquela cena,

Quando me dei por mim, eu estava chorando em cima de Pedro novamente. — Desculpa. – falei secando algumas lágrimas que insistiam em cair. — Não fique assim, princesa! Você vai encontrar alguém que te mereça. Não

batiam em minha cintura. Eles eram castanhos avermelhados e meus olhos eram

azuis

bem

clarinhos,

quase

invisíveis. E sem contar que eu era baixinha... Tinha apenas 1,67 de altura. E eu tinha 24 anos.

fique chorando por esse tonto que não

Pedro era uma ótima companhia,

soube aproveitar o que teve. – ele disse,

era atencioso, engraçado, me consolava...

levantando meu rosto com suas mãos

Só tenho medo de me apaixonar e sofrer

macias.

tudo aquilo de novo.

Estávamos tão próximos um do

— Vivian? Você tá legal? – ele

outro que conseguia sentir sua respiração

perguntou, estralando os dedos na minha

quente fazer cócegas em meu rosto. De

frente.

repente, ele me beijou. Foi um beijo calmo, delicado. Tivemos que nos separar, pois o

— Oi? Ah, tô legal sim... Então, vamos? Tá tarde já.

ar se fez necessário.

— Ah, claro! Vou pagar a conta e já

— Ai, meu Deus! Me desculpe! Você deve estar pensando que eu sou um aproveitador! Por favor, não pense isso! – ele declarou The aterrorizado. Collector,

vamos. – disse levantando-se e indo ao caixa. Depois de muita recusa da minha

parte,State ele me 1234 Main Street, Any Town, ZIP www.apple.com/iwork

deu uma carona até | 123-456-7890 | em

78


casa. O caminho só não foi mais Donec Egestas Scelerisque dolor:

— O que você aprontou dessa vez

silencioso porque o rádio estava ligado.

Vivis? – perguntou rindo do meu talento

Chegando em casa, ele estacionou e se

vocal.

virou pra mim.

— Vem correndo pra cá que eu te

— Vivian, eu que... Ãhn... É...

conto! — Ok! Já tô saindo de casa. – disse

Que eu adorei te conhecer. – ai tadinho! Ficou nervoso! Que lindo!

rindo.

— Eu também adorei te conhecer, Pedro. – ok, agora eu com certeza corei. — A gente podia se ver mais vezes. – disse tímido.

— Beijos! —

Beijos,

sua

louca!

e

desligamos. Quando Kamilla chegou, comecei

— Claro! A gente se fala! – falei já

a contar tudo para ela. Quando no meio,

quase saindo carro, quando ele segurou

ela TEM QUE me interromper. Claro,

no meu braço. – Você queria di-... – fui

por que se ela não o fizesse, não seria a

interrompida com um beijo.

Kamilla...

Gente, como esse cara beija bem! Terminamos

o

beijo

quando,

infelizmente, o ar acabou. Por quêêê?!?! — Onde eu estava com.. – HÁ! Agora eu o interrompi e o beijei. — Bom, eu acho melhor eu entrar. – balbuciei por conta da vergonha.

— Ai que fofos! Sério, vocês são perfeitos um para o outro! Deviam se casar... – já começou. — Não viaja, Kamilla! Conheci o cara hoje e você já quer que eu me case? Tô com trauma de casamento! — Ai, Vivis, desculpa! Não queria ter tocado nesse assunto! Desculpa

— Também acho. – gaguejou.

mesmo!

— Boa noite, Pedro.

— Tudo bem...

— Boa noite, Vivian. – e ele selou

Terminei de contar o que tinha

nossos lábios com um selinho.

acontecido e ela vem dar uma de “nerd”

Saí do carro e entrei em meu apartamento saltitando de alegria. Corri para meu quarto e liguei para Kamilla. The Collector, 1234 — Kamilla! – cantarolei

pro meu lado. — Vocês estavam na Praça do Canhão né?

Main Street, Any Town, State ZIPpor | — Sim, www.apple.com/iwork

123-456-7890 | lá quê? Você estava

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também e viu toda a cena e me fez Donec Egestas Scelerisque dolor:

gastar saliva durante duas horas e meia pra te contar tudo o que você já tinha

ladeira Vivian! — Tô brincando amorzinho! Me dá um abraço, vai!

visto e você nem me avisa? Nossa,

Ficamos conversando sobre coisas

como eu te odeio Kamilla! Sua

fúteis até de madrugada e Kamilla

punição virá... – sim, eu tinha que

dormiu em casa.

dramatizar.

Três anos se passaram e eu e

— CALMA VIVIAN! – acho que ela ficou levemente estressada... — Ai, desculpa...

Pedro não podíamos estar mais felizes. Estávamos namorando há dois anos. Era um sábado à tarde e ele me ligou.

— Tá. Não, eu não estava lá. É

— Vivis? Tá em casa?

que o lugar em que vocês se

— Tô sim, por quê?

conheceram,

— Tá a fim de sair pra jantar?

é

um

lugar

muito

histórico aqui da cidade. — Jura? – sim, eu SEMPRE fui

— Vamos sim! Me pega às oito? — Ok!

mal em História... Daí a linda da Kaka

— Tá combinado então!

(ela odeia quando eu a chamo assim),

— Beijos! Te amo tá?

me passava cola para eu ficar com no

— Beijos! Também te amo! – e

mínimo cinco no boletim...

desligamos.

— Sim. A praça tem esse nome,

Liguei para Kamilla e pedi pra

pois nela existem dois canhões que

ela vir me ajudar a escolher uma

foram construídos no século XIV por

roupa e me maquiar. Ah, qual é? Ela

causa da Revolução Liberal, mas não

fez faculdade de moda e me trata

foram utilizados. – disse ela se

como se eu fosse uma Barbie! Bom,

gabando pro meu lado.

ela escolheu um vestido rosa claro que

— Nossa! Que demais... Deixa eu te perguntar uma coisinha? — Claro! — O que isso mudou na minha vida?

ficava preto no final, um salto preto, deixou meus cabelos soltos e fez uma maquiagem bem leve. No restaurante, pedimos nossa comida e enquanto não vinha, ele se

The Collector, 1234 Main Street, Any Town, State ZIP | 123-456-7890 | Ah! Vai catar coquinho na www.apple.com/iwork levantou e me puxou até o meio

do 80


restaurante, pediu atenção de todos e

meu dedo. Voltamos para a mesa,

começou a falar:

jantamos e ele me levou pra casa.

Donec Egestas Scelerisque dolor:

— Vivian, nós nos conhecemos

Kamilla ainda estava em casa, pois a tinha

naquela praça, num sábado à tarde e você

convidado para dormir lá. Entrei em casa

estava bem pra baixo. Você começou a

gritando por ela.

chorar no meu colo e aí eu já me

— KAMILLA! CADÊ VOCÊ?

apaixonei por você. Aí eu não resisti e te

VEM LOGO AQUI EM BAIXO! – era

beijei. Fiquei morrendo de vergonha na

uma cobertura duplex, por isso talvez ela

hora, mas não me arrependo. – com essa

estivesse lá em cima.

frase, o restaurante inteiro riu. – Viramos ótimos amigos e, depois de um ano começamos a namorar. Estamos há dois

— Que foi, Vivian?! Eu não sou surda, tá? – ela desceu me xingando. — EU VOU CASAR! O PEDRO

anos namorando e eu te amo mais do que

ACABOU

tudo nessa vida. Com certeza, você foi a

CASAMENTO! – disse eufórica.

melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu realmente não sei o que seria de mim sem você. – ele se ajoelhou, pegou

DE

ME

PEDIR

EM

— AI, QUE LINDO! – agora as duas estavam gritando. Contei

tudo

o

que

havia

uma caixinha vermelha no bolso e

acontecido no restaurante pra ela e a

continuou. — Então eu te pergunto: quer

convidei pra ser madrinha. Ela como não

casar comigo? – todos os presentes no

é demente, aceitou com toda vontade.

restaurante fizeram um coro de “own”. —

Quê?

perguntei

ainda

processando a informação. — Você quer casar comigo? – ele repetiu nervoso.

Depois de alguns meses, eu e Pedro nos casamos e um ano depois eu estava grávida. Nosso filho nasceu e ele tinha os cabelos iguais aos de Pedro, mas seus olhos eram os meus e seu nome era

— SIM! SIM! SIM! Mil vezes sim!

Harry. Três anos depois, engravidei de

Te amo mais que tudo, Pedro! – então

novo, mas dessa vez era uma menina. Ela

nos abraçamos e nos beijamos enquanto

tinha os cabelos iguais aos meus, mas

todos aplaudiam de pé.

seus olhos eram os de Pedro e

Ele retirou da caixinha o anel mais lindo e

colocamos seu nome de Lux, pois foi

The Collector, 1234 Main Street, Any Town, State ZIP | 123-456-7890 www.apple.com/iwork perfeito do mundo e colocou em Harry quem escolheu.

|

81


Anexo

82


POR: (NOME DO ALUNO)

POR: ARTUR DE MATTOS ANACLETO

PRAÇA DO CANHÃO

Canhão, Praça do Canhão em Sorocaba - São Paulo

Praça Dr. Artur Farjado, Sorocaba São Paulo

Trajeto do Colégio Uirapuru à Praça do Canhão


Felipe Roberto Trinco

MOSTEIRO DE SÃO BENTO

Imagem de Baltazar Fernandes em frente ao Mosteiro de São Bento, em Sorocaba - SP

Largo São Bento, 62 - Centro Sorocaba (SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru ao Mosteiro de São Bento


POR: FILIPE VALENTE FARIA

CATEDRAL

Fachada da Catedral Nossa Senhora da Ponte

Praça Coronel Fernando Prestes

Trajeto do Colégio Uirapuru à Catedral


AN

GUSTAVO FRANCO PINTO CARRIEL

PRAÇA DO CANHÃO

Canhão da Praça Dr. Artur Farjado

Praça Dr. Artur Farjado, Rua XV de Novembro, 273 – Centro, Sorocaba - SP

Trajeto do Colégio Uirapuru à Praça do Canhão


POR: Gustavo Peres P. H. Garcia

PRAÇA DO CANHÃO

Canhão situado na Praça do Canhão

Praça Dr. Artur Farjado, Rua XV de Novembro, 273-285 – Centro, Sorocaba SP

Trajeto do Colégio Uirapuru à Praça do Canhão


POR: Isabella Escanhoela

MONUMENTO AO TROPEIRO

Monumento em homenagem ao tropeiro Baltazar Fernandes

Largo do São Bento, 62- Centro, Sorocaba(SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru ao Monumento ao Tropeiro


POR: José R. L. Neto

PRAÇA DO CANHÃO

Canhão situado na praça do canhão

Praça Dr. Artur Farjado R. Quinze de Novembro-273-288-Sorocaba-SP

Trajeto do Colégio Uirapuru à Praça do Canhão


))

POR: Leo Boa Sorte

PRAÇA DO CANHÃO

Canhões da Praça do Canhão

Praça Dr. Artur Farjado, Sorocaba(SP)

Trajeto do Colégio Uirapuru à Praça do Canhão



Créditos Coordenadora Geral: Maura Maria Morais de Oliveira Bolfer Coordenadora do 8º ano: Flávia Juliana Frasseto Siqueira de Proença Professora de Português: Patrícia Souza da Silva Professor de Geografia: Rafael Bochini Professora de História: Ana Luiza Marques Bastos Edição e finalização: Equipe de Tecnologia Educacional Geografia Alunos do 8º ano: Amanda Serra Lopes, Ana Laura Camargo, Beatriz Cairo Duarte, Beatriz Pinho Ortiz, Bruno Fernando de Jesus Melaré, Caio Fabregat Morelli, Caio Nader Almeida, Celso Henrique Alcalai Diniz, David Furtado Cavalcante Vecina, Diego Lopes Ponce, Felipe Pessato Hungria, Felipe Tanaka Leite, Flávia Lenz Bannitz Guimarães, Gabriel Macedo Montano, Giulia Diniz de Melo, Gustavo de Campos Barros, Gustavo Ribas Sanches Dias, Julia Prinz Sorger, Juliana Paes de Oliveira Chriguer, Júlia Loretti Britto Silva, Leonardo Coelho Ruas, Lorenzo Casana Agelune, Luciano Aguiar Vettorazzo, Luiza Nestori Chiozzotto, Lívia Mathilde Ruiz Cruz, Maria Júlia Militão Bernardes, Murilo Henrique Pedrão Ferreira, Victor Monteiro Guazzelli, Gabriel Rodrigues Rego, Ana Carolina Muñoz Blaitt, Ana Julia Buso Piccinalli Marietto, Arthur Brito Oliveira Camis, Bruno Fernandez Scatuzzi, Bruno Lomonaco Cabral, Daniel Preciado Espitia, Eduardo Magalhães Oliveira, Gabriela Lemos Monteiro, Gabriela Rampim de Freitas Dias, Giovanna Buffo, Guilherme Comparotto Moreira Goes, Hugo Machado Chaves, Isabela Ferreira Viliotti, Laura Moraes Scaranci Fernandes, Letícia Santana Rodrigues, Lucas Monteiro Guazzelli, Lucas Roberto dos Santos, Luís Felipe Akio Amamura, Maria Atalla Belloti, Maria Carolina Silveira Franco, Maria Júlia de Freitas Vantroba, Mateus Seiffert Mattos, Murilo Oséas Crisp, Patrick Esben Lerdrup Olsen, Pedro Pamplona, Pedro Otávio Passos Rapace, Sofia de Figueiredo Galante, Victor Hoefling Padula, Victor Hugo Pumarino, Allana Friedrich, Ana Carolina Silva Mariano, Ana Clara Mendes Prado, Artur de Mattos Anacleto, Camila Isabela Gimenes Seleguim, Dominyk Zampier Vieira de Souza, Eduardo Ancona Mateus, Felipe Roberto Trinco da Silva, Filipe Valente Faria, Frederico Simões Strangis Cumino, Giovana Tidei de Marco, Guilherme de Almeida do Carmo, Gustavo Franco Pinto Carriel Antonio, Gustavo Peres Pereira Hildebrand Garcia, Hana Lukic Mrgan, Isabella Cristina Bisca Escanhoela, José Rodrigues Leite Neto, Júlia Beltran Fanti, Lara Diana Miguel, Leo Boa Sorte Gonzales, Lígia Andrade Ribeiro, Marina Souza Pinto Camanho, Matheus Florio, Pedro Ernesto Provasi Bazzo, Rafael Augusto Alcalai Diniz, Rafael Ferreira Bruzon, Thiago Coelho Guastini, Victor Gabriel Bassan Battaglini, Victória Fernandes Ranchin.




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