COLÉGIO UIRAPURU - ANUÁRIO 2019

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ANUÁRIO 2019


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Sumário 06 APRESENTAÇÃO

8PROJETOS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

10 CUIDAR, BRINCAR E EDUCAR, NOSSO COMPROMISSO COM VOCÊ 15 EXPLORAÇÕES CORPORAIS NO INFANTIL 2: O APRENDER COM O CORPO TODO, DA CABEÇA AOS PÉS 20 OS PORQUINHOS 25 "AQUI ESTAMOS NÓS..AQUI ESTOU EU... NOTAS SOBRE A MINHA EXISTÊNCIA" 29 A INTEIREZA DO EU – DO CORPO ÀS EMOÇÕES

34 LÍNGUA E PRODUÇÃO:

PROCESSOS DE LEITURA E ESCRITA

36 ORALIDADE: RECONTO DOS CLÁSSICOS 39 FORMAÇÃO LEITORA FRENTE ÀS NOVAS DEMANDAS DO CURRÍCULO 42 LÍNGUA E PRODUÇÃO

46 ANUÁRIO 2019

ARTE: A CULTURA BEM PERTO DE NÓS

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48 MUSICALIZAÇÃO INFANTIL 51 CINEMA: A DIREÇÃO DE ARTE COMO RECURSO DIDÁTICO 55 ARTE E MUNDO CONTEMPORÂNEO 58 A CULTURA INDÍGENA EM DIFERENTES LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES 64 FESTIVAL DAS LETRAS: CONEXÕES LITERÁRIAS EM BUSCA DE UM OLHAR ARTÍSTICO-CULTURAL 74 RELATOS DE UM SARAU... UM SARAU HISTÓRICO, A HISTÓRIA DE UM SARAU

86 CIÊNCIAS: O CAMINHO PARA A EVOLUÇÃO

88 O QUE PODEMOS APRENDER COM OS POVOS INDÍGENAS? 91 APRENDIZAGEM E ENSINO DE CIÊNCIAS: GEEKIE ONE 95 FINANÇAS PESSOAIS E EMPREENDEDORISMO

98 LÍNGUA INGLESA: TRABALHO DIVERSIFICADO

100 ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM 102 CAN YOU READ IN ENGLISH? 105 AUTHENTIC LEARNING: O QUÊ E POR QUÊ? 107 CARING DRIVE

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ATIVIDADE FÍSICA: DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO MÉDIO

112 A CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL 117 ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE: PESQUISA SOBRE PRÁTICAS ESPORTIVAS 121 TREINAMENTO ESPORTIVO, AÇÃO, FORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO 124 ATIVIDADE FÍSICA ALIADA À BOA ALIMENTAÇÃO: O EQUILÍBRIO PARA UMA VIDA SAUDÁVEL

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TRABALHO EM GRUPO, AULAS INTEGRADAS E APRENDIZAGEM CRIATIVA

128 MICROMUNDO: UMA IMERSÃO NA CAPACIDADE CRIATIVA 133 APRENDIZAGEM CRIATIVA 137 TRABALHO EM GRUPO: A IMPORTÂNCIA DOS PAPEIS PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO


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OLIMPÍADAS: APROFUNDAMENTOS E ESTUDOS

168 OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA: DO CONJUNTO DOS NATURAIS ÀS VIVÊNCIAS REAIS 172 OLIMPÍADAS DE HISTÓRIA PARA O ENSINO MÉDIO

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PROTAGONISMO E PARTICIPAÇÃO

176 COLÉGIO UIRAPURU: LUGAR DE MEMÓRIAS, PERTENCIMENTO E IDENTIDADE 183 UIRAMUN 186 ASSEMBLEIA ESCOLAR: PROTAGONISMO JUVENIL, DIALOGIA E CIDADANIA 189 O ESTUDO GUIADO E A MONITORIA – UM PROJETO DE SUCESSO ENTRE EX-ALUNOS E ALUNOS

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ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: ACOMPANHANDO DE PERTO O DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS

194 RELAÇÃO ESCOLA E FAMÍLIA: UM COMPROMISSO DIALÓGICO, DEMOCRÁTICO E RESPEITOSO NUMA PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO HUMANA INTEGRAL

197 ESPAÇO DE ESCUTA: ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 200 ATIVIDADE AVALIATIVA 2º ANO: INICIANDO A ROTINA DE ESTUDO 204 MOMENTO DE PASSAGEM: A IDA PARA O ENSINO MÉDIO

208 FORMAÇÃO CONTINUADA: APRENDENDO SEMPRE 210 ABRIR OS OLHOS... OLHAR PARA O QUÊ? TORNANDO VISÍVEL O QUE NOS FAZ VER! 214 TRILHA DE CONVERGÊNCIA: FORMAÇÃO, CURRÍCULO, PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO 224 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO ENSINO FUNDAMENTAL II. O TEU OLHAR MELHORA O MEU? 227 FORMAÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO MÉDIO 229 A EXPERIÊNCIA É O QUE NOS PASSA 233 NOVOS TEMPOS, NOVAS DEMANDAS, NOVOS OLHARES – SABERES E FAZERES DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL, A PARCERIA QUE DÁ CERTO

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AVALIAÇÃO: RECONHECENDO COMO ESTAMOS E ONDE PODEMOS CHEGAR

254 WORKSHOP: ACOMPANHAMENTO DA APRENDIZAGEM: O QUE OS DADOS DIZEM? 257 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: OLHARES INTERNOS E EXTERNOS

282 FORMANDOS DO ENSINO MÉDIO 2019

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142 TRABALHO EM GRUPO: A IMPORTÂNCIA DO RECURSO VISUAL NAS AULAS DE MATEMÁTICA 145 TRABALHO EM GRUPO 149 AULA INTEGRADA: DE BRUMADINHO A CULTURA INDÍGENA. UMA AULA, MUITOS SIGNIFICADOS 154 AULA INTEGRADA: PRA LÁ DA AULA... 159 A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DO ALUNO NO TRABALHO EM GRUPO 163 ABRAÇANDO O ANO INTERNACIONAL DA TABELA PERIÓDICA

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ANUĂ RIO 2019

Pluralidade de ideias e propostas para o melhor desenvolvimento humano e social dos educandos.

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Cui bono, a quem interessar. 2019 foi um grande ano para nosso colégio. Os projetos desenvolvidos ao longo deste ano foram o rosto e o espírito do corpo docente, das suas coordenações e da direção. Sem temer o exagero, com estas propostas conseguimos nos transformar, como instituição, na primeira Alma Mater dos nossos alunos, certamente a mais querida e a mais recordada nas suas memórias juvenis. Um dos maiores intelectuais da América do Sul no século XIX, Andrés Bello, disse alguma vez que a educação deveria ser um espaço onde todas as verdades se tocassem, sem que uma se impusesse sobre as outras, algo que um século mais tarde foi complementado por Camus, que disse que a dúvida deveria seguir a convicção como uma sombra. Nosso objetivo, a educação e a formação cidadã, deveria ser de interesse de todos. E digo deveria, pois, transversalmente na sociedade, muitos não se interessam, nem se relacionam com os processos e os objetivos desta área. Um elemento de conhecimento fundamental para o envolvimento amplo da comunidade neste assunto estratégico da nação, passa pela ciência do artigo 206, capítulo III da nossa constituição, que indica que o ensino deve ser ministrado sob o princípio do pluralismo de ideias. É justamente este ponto um dos principais alicerces das propostas pedagógicas que nutriram nossos alunos neste ano de 2019. Uma pluralidade não só nas ideias pedagógicas, formativas, mas também nas propostas para o melhor desenvolvimento humano e social dos educandos. Em um momento histórico onde a memória e a reflexão foram ofuscadas por um mundo movido pelo futuro e por expectativas, pelo desejo de um oásis que pode ser muitas vezes só uma miragem, nos preocupamos em proporcionar um leme que possa dirigir e prender firmemente o rumo dos estudantes na consecução dos seus objetivos.

Um feliz ano de 2020 para todos . Eduardo Torres Professor de História do Ensino Médio

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Este leme construído com pluralidades de pensamento e abordagens, com ciência e artes, com poemas, filosofia e olimpíadas de conhecimento, com debates, cinema e cultura, será uma marca indelével e constitutiva na alma de cada sujeito da nossa comunidade Uirapuru.

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PROJETOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL


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OS PROJETOS SE CONFIGURAM EM UMA DAS MODALIDADES ORGANIZATIVAS DAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL. ELES CONTEXTUALIZAM O TRABALHO, ENVOLVEM AS CRIANÇAS, PROMOVEM ENCANTAMENTO EM MUNDO DE DESCOBERTAS. CONSIDERANDO OS DIREITOS DE APRENDIZAGEM, INDICADOS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: CONVIVER, BRINCAR, PARTICIPAR, EXPLORAR, EXPRESSAR E CONHECER-SE. OS PROJETOS SEMPRE TÊM COMO PANO DE FUNDO UMA HISTÓRIA ENVOLVIDA, COMO MOSTRAM OS TEXTOS A SEGUIR.

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Cuidar, brincar e educar, nosso compromisso com você Fernanda Rodrigues Coordenadora Pedagógica do Berçário

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Este ano de 2019, o Colégio Uirapuru faz 30 anos e tem como seu tema central: O compromisso com você. Visando isto, o Berçário se coloca de maneira muito clara e segura, que nosso principal compromisso com os bebês se concentra em três ações indissociáveis: Cuidar, Brincar e Educar. “Os bebês são seres ativos e, por meio das interações que estabelecem com o seu meio e com seus pares, aprendem e se desenvolvem. Cuidado, educação e brincadeira são aspectos indissociáveis. O cuidado físico no berçário deve estar inserido em um contexto rico em experiências significativas para as crianças, consideradas desde cedo protagonistas de suas aprendizagens” (Instituto Avisa-Lá).

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A criança que é bem cuidada, tem segurança em experimentar e consegue ter

experiências significativas na construção do conhecimento. O cuidado não pode ser pensado apenas no físico, mas principalmente no emocional, pois a criança que se sente acolhida, amada, confiante e segura, constrói estruturas que possibilitam seu desenvolvimento, enfrentando novas situações, frustrações, novas descobertas e momentos de alegria com maior tranquilidade. Um dos momentos de muita troca afetiva e grandes aprendizagens acontece na hora do banho ou das trocas, pois o toque, a conversa, os olhares, o carinho, o afeto, fazem destes momentos, um agradável e prazeroso aprendizado. Após o banho, no momento de enxugar, a brincadeira de esconder e achar, pode ser bem divertida, cobrindo e descobrindo


o rosto do bebê com a toalha de banho. O esconde-esconde é uma das primeiras brincadeiras dos bebês. Logo em seguida, descobrem o próprio corpo. Há muita exploração visual, pois o bebê descobre as suas mãos e percebe que pode mexê-las, levantá-las e colocá-las na boca. Assim é que o bebê experimenta e conhece o mundo. Pouco depois, ele descobre os pés e passa a brincar com mãos e pés. “ESTA É UMA VIAGEM FASCINANTE: OS CORPOS QUE BRINCAM, OLHOS NOS OLHOS, AS MÃOS QUE SE TOCAM, OS SORRISOS E OS SONS” (MALDONADO, 2014, P. 86).

Pensando nesse processo, intencionalmente, proporcionamos momentos de muitas brincadeiras para nossos bebês.

Notamos nitidamente o quanto os bebês aprendem nos momentos de exploração sensorial. Por isso, aqui no Berçário, temos um trabalho forte com os experimentos e as sensações (móbiles com tecidos, fitas, colheres de pau e metal, papéis com diversas texturas, caixas sensoriais, melecas, tintas caseiras, massinhas de farinha e areia) enfim, tudo o que possa estimular esta exploração sensorial. A criança que brinca aprende a se relacionar com os outros, com espaços diferentes,

com situações diversas e desenvolve a imaginação, criatividade, organização espacial e temporal, se adaptando a novos ambientes e novas situações da sua rotina. O tempo todo que estamos com as crianças, desenvolvemos os hábitos de higiene, alimentação, rotina, momentos de socialização, permitindo, que a criança aprenda nas relações com o outro, com os objetos de interesse e através da brincadeira. Tudo é muito lúdico. O ambiente também contribui para este aprendizado, por isso, criamos espaços temáticos, proporcionamos caminhos e situações lúdicas para a brincadeira. Quando o ambiente é pensado, organizado, lúdico e desafiador, a criança se envolve, demonstrando interesse e consegue aprender muito, pois tem a oportunidade de explorar, descobrir e brincar livremente.

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Acreditamos que inventar brinquedos, criar brincadeiras com tecidos, caixas, potes plásticos, utensílios de cozinha, pedaços de madeiras, papelão, enfim diversos materiais que fazem parte dos ambientes, estimulam a criatividade e a imaginação e possibilitam muitas aprendizagens, pois as crianças exploram, criam situações, experimentam e brincam com grande interação e imaginação.

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Para atingirmos de uma maneira mais global todas estas situações do desenvolvimento dos bebês, neste ano, trabalhamos com os livros infantis do Bibo no Sítio, Bibo no Mercado e Bibo na Praia, de Silvana Rando. Estes livros mostram situações do dia a dia, lugares diferentes, os cuidados com o outro, a família unida, animais do sitio, as brincadeiras, o faz de conta e muito mais! A partir da história, entramos num mundo da fantasia, fazendo com que as crianças vivam esses momentos de maneira lúdica, incentivando o contato com os livros de histórias, as dramatizações, a ampliação do vocabulário e da sequência de pensamentos. Essas vivências permitem que se desenvolvam, dando “asas” a imaginação, criatividade e grandes aprendizagens! Para essas vivências montamos cenários do sítio para que as crianças conhecessem os animais, além de comerem ovos e pães caseiros!

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Na nossa rotina, toda segunda-feira, temos um encontro com um biólogo do Sítio Reino Animal, que enriquece nossos projetos com histórias, músicas, trazendo para perto, a natureza, os bichos e muitas aprendizagens significativas às crianças do Berçário.

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Construímos nossa horta divertida, com alface, rabanete, cenoura entre outros, com a intenção de cuidar, regar e comer o que plantamos. As crianças puderam desfrutar de momentos prazerosos que enriqueceram suas descobertas! Um momento muito rico, foi quando desenvolvemos com as crianças, atividades do “CUIDAR”. Criamos ambientes e situações para dar banho, alimentar, trocar


Cada vez mais, temos a certeza de que através do “brincar livre”, garantimos aprendizagens significativas e valiosas!! Vemos isto quando uma criança organiza espaços, cria novas maneiras de explorar o brinquedo, transporta situações vividas e que, diante de alguma situação-problema,

pensa e resolve da maneira mais simples e inteligente algo que ninguém falou como fazer!!! Para que isto aconteça, é muito importante oferecer brinquedos menos estruturados, sem muitos detalhes, para que a criança tenha liberdade de transformá-los em outra coisa, de acordo com o tema da sua brincadeira. Alguns destes brinquedos não estruturados são: utensílios de cozinha, argolas de cortina de madeira, bolinhas sensoriais, tecidos, elementos da natureza, sementes, folhas grandes, areia, macarrão tingido, grãos em geral, potes de diversos tamanhos (com tampas ou não), objetos de alumínio ou inox. Todo tipo de material que possa ser transformado ou criado pela criança no momento de brincar e imaginar o que aquilo pode ser: um tecido azul pode ser um rio ou uma piscina, uma caixa

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bonecos, vivenciando a rotina do dia a dia delas. A imitação e o faz de conta, nesta idade do Berçário, são muito presentes e importantes, pois permitem interações e cumplicidades que favorecem o aprendizado com o outro, além de desenvolver as linguagens corporal e verbal e de vivenciar papéis e situações do dia a dia, como por exemplo: brincar de supermercado, de cozinheira(o), de dar banho nos bonecos e nos bichos, de lavar os carros, enfim, representar situações do faz de conta de maneira muito livre e criativa.

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de sapato pode ser um berço para um nenê, duas colheres de pau podem ser um instrumento musical, vários copos de plástico podem ser empilhados e transformados em um prédio, e assim por diante.

feitas com sagu cozido, massas de amido grossa ou fina, quente ou fria, pois assim a criança pode experimentar muitas situações que ajudarão nas suas escolhas, garantindo sua memória afetiva e aprendizagens significativas!

As crianças precisam desse brincar livre e da exploração do ambiente com seu corpo, descobrindo as sensações pelo tato e olfato. Para estas atividades utilizamos massinhas de farinha, pinturas com tintas caseiras (beterraba, cenoura, espinafre e outros), cheiros diferentes, tanque de areia, melecas

“A ATIVIDADE AUTÔNOMA É UMA NECESSIDADE, DESDE A MAIS TENRA IDADE. DESCOBRIR O MUNDO A PARTIR DA PRÓPRIA VONTADE DE COMPREENDER E ATÉ DE EXPERIMENTAR CONSTITUI O CENTRO DA VIDA COTIDIANA DE UM BEBÊ. A MOTRICIDADE LIVRE OFERECE OS MEIOS PARA ISTO” (FEDER, 2014, APUD: SOARES, 2017, P. 46).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: MALDONADO, Maria Tereza. Os Primeiros anos de vida, pais e educadores do século XXI, São Paulo: Martins Fontes, 2014. RANDO, Silvana. Bibo no Mercado. São Paulo: A Semente, 2012. RANDO, Silvana. Bibo na Praia. São Paulo: A Semente, 2012. SOARES, Suzana Macedo. Vínculo, movimento e autonomia, educação até 3 anos. São Paulo, editora Omniência, 2017.


Explorações Corporais no Infantil 2: o aprender com o corpo todo, da cabeça aos pés Professora Monize Machado

Há um passado no meu presente Um sol bem quente lá no meu quintal Toda vez que a bruxa me assombra O menino me dá a mão

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Há um menino Há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança Ele vem pra me dar a mão

(Bola de Meia, Bola de Gude. Milton Nascimento)

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É na infância que descobrimos o sabor azedo da laranja, a textura da grama tocando a planta dos pés, o barulho dos cachorros latindo em côro na vizinhança. Descobrimos o olhar sorridente do amigo, as gargalhadas que surgem ao brincar de bola e a dor de um galo na testa que insiste em cantar. Uma infância feita de descobertas e encantamento em tudo que vê, tudo que sente, que toca, que ouve. Ao respeitarmos e acreditarmos nessa infância quase mágica, que caminha entre o possível e o impossível, tudo se modifica.

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Dentro do Infantil 2 do Colégio Uirapuru caminhamos ao encontro com o que Carla Rinaldi (2014, p. 42) diz, “a escola, ainda que da criança pequena, também é lugar educativo, de educação. Lugar onde se educa e nos educamos; lugar de transmissão de valores e saberes, mas, sobretudo, lugar de construção de valores e saberes”. Compreendemos que todo tempo este ambiente é de aprendizagem, de troca, de se reconhecer e conhecer o outro.

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Ao se reconhecer a criança entra em contato com um autodescobrimento valioso, iniciando um processo de individualização, de singularização. Não em uma concepção egoísta, mas de se reconhecer como um ser único com vontades e com seu próprio tempo de desenvolvimento. Descobre suas limitações e as superações delas, como a percepção do que não se fazia há um mês, percebe que agora é capaz de fazer com maestria, como a conquista de saltar com os dois pés do chão. Algumas autonomias são alcançadas, como conseguir comunicar em palavras suas necessidades e vontades, se alimentar sozinha, escovar seus dentes e guardar seus brinquedos. Descobre que é possível experimentar com o corpo todo, passando tinta nas pernas, melecas nos braços e o quente nos pés ao tocar um piso banhado pelo Sol. A criança descobre também sua força ao conseguir escalar um brinquedo, carregar uma caixa ou arremessar uma grande bola pelos ares.


Na troca com o outro a criança se desafia para o novo e se motiva pela possibilidade do outro. Todavia, também se frustra caso não consiga, por exemplo, se pendurar em um galho com tanta maestria quanto o amigo, mas até essa frustração traz um imenso aprendizado, levando a criança a seguir tentando e adaptando o movimento conforme o seu corpo e as suas possibilidades. É no encontro com o outro que a criança refina sua empatia, aprendida com seus pais, possibilitando um estender de mãos para ajudar o amigo a se levantar e, também, para um convite à brincadeira.

O conforto em perceber que existem outras crianças com as mesmas dificuldades de comunicação que as suas, mas compartilhando as mesmas conquistas de linguagem, de expressão e boa comunicação apenas pelo olhar, também é um aprendizado. O aprender com o diferente é enriquecedor para o desenvolvimento da criança, o compreender as limitações do outro sem julgamento, buscando juntos um meio de superação ou adaptação para a brincadeira não deixar de acontecer. Não importa como, esse encontro é sempre carregado de emoção ao observarmos cada pequena conquista. Dentro de nossa rotina diária, durante as simples movimentações entre um local e outro, conseguimos enxergar esse lugar de aprendizagem no trocar entre infâncias. Quando adentramos em um ambiente vazio com algumas crianças, é como se aqueles corpos nos falassem: “Agora tem eu! E o outro!”. A infância ocupa aquele ambiente com a brincadeira surgindo de uma troca de olhares, em um entrelaçar de mãos para uma corrida coletiva, sem a necessidade de saberem para onde estão indo, pois ali o que mais lhes interessa é o caminhar juntos, não onde vão chegar. Essa compreensão do que é meu, do que é do outro para a criança pequena a faz enxergar momentos que o brincar com outras crianças é o maravilhoso, assim como o brincar sozinha também pode ser. É um respeitar e ser respeitado. Para isso acontecer, o exemplo precisa ser dado. Nós, educadoras, nos atentamos diariamente para esse respeito acontecer primeiramente na troca entre o adulto e a criança, para assim ela perceber a sensação de ser respeitada, fazendo com que queira que seu amigo sinta também.

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Já as descobertas que ocorrem ao unir esse autoconhecimento com o conhecer o outro, são outras. Acreditamos que um dos maiores aprendizados que a escola pode trazer é esse encontro com pares similares em idade, tendo cada um suas individualidades e uma mediação que entenda esse rico encontro e o valorize.

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Para finalizarmos a reflexão e compreensão do aprender na primeira infância, um convite: você pai, mãe ou adulto que convive com crianças, tire um momento (ou vários!) para aprender com a criança o modo que ela aprende. Durante esse processo você perceberá o quanto utiliza esses conhecimentos adquiridos na infância até os dias de hoje, a leitura de emoções, as percepções de sabores, dores e cores. Sugerimos que compre potinhos de guache e ouse deixar a criança te ensinar como pintar os braços, os pés e a barriga, sentindo a temperatura dessa tinta e a sensação que traz quando seca na pele. Ouse dançar e pular junto ao som de uma música, acompanhando os passos que a criança te ensinar. Observe como aquele corpo expressa a rapidez de uma música, o pisar forte da passada de um gigante ou elefante, ou o deslizar leve do corpo em uma música de ninar. Proporcione diferentes estilos e ritmos musicais e perceba como o corpo da criança dança livre em todos eles, guiada pela liberdade de não ter medo de ser julgada.

Seja o filhinho em um faz de conta e descubra coisas sobre nós, adultos, que você jamais pensou, mas o automático te faz repetir diariamente. A inversão de papéis durante brincadeiras pode ser enriquecedora para ambos os lados. É possível criar uma meleca simples, rápida e divertida só misturando amido de milho com um pouco de água. As mudanças de textura é ao mesmo tempo divertida, relaxante e curiosa, beirando a magia que tanto permeia a infância. Mas o mais importante e imprescindível durante essas atividades: esteja presente, de corpo, alma e ouvidos bem abertos para se atentar a tudo. Escutar com verdadeiro interesse o que a criança nos diz tem o poder de criar fortes laços. Que aprendamos a aprender com nossos corpos como as crianças o fazem com tanta maestria e delicadeza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

PETRELLA, Paulo (Org.). Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. São Paulo: Summus, 2006. p. 121-130. RENGEL, Lenira. Fundamentos para análise do movimento expressivo. In: MOMMENSOHN, Maria; ZERO, Project. Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem individualmente e em grupo. Reggio Children. São Paulo: Phorte, 2014.

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BECCHI, Egle [et al.]. Ideias orientadoras para a creche: a qualidade negociada. Campinas: Autores Associados, 2012.

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Os porquinhos Professora Carla Jorge

EU VOU SOPRAR E SOPRAR... ATÉ A SUA IMAGINAÇÃO AFLORAR EU VOU SOPRAR E SOPRAR... ATÉ A SUA EMOÇÃO TOCAR

No último trimestre do ano, os alunos do Infantil 3 tiveram a oportunidade de conhecer as aventuras de três irmãos cheios de coragem: Os três porquinhos!

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A história dos três porquinhos envolveu as crianças em um maravilhoso mundo encantado, emocionante, brilhante e muito significativo, despertando em nossos alunos habilidades de grande valia para toda vida de maneira lúdica e prazerosa.

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A atenção e a concentração durante a leitura da história era notável, os olhinhos brilhavam e as feições mudavam a cada página virada no livro. O envolvimento das crianças era tão grande que, com frequência, pediam para contarmos “só mais uma vez”. Contávamos uma, duas, três... nunca era suficiente!

“NA EDUCAÇÃO INFANTIL, É IMPORTANTE PROMOVER EXPERIÊNCIAS NAS QUAIS AS CRIANÇAS POSSAM FALAR E OUVIR, POTENCIALIZANDO SUA PARTICIPAÇÃO NA CULTURA ORAL, VISTO QUE É NA ESCUTA DE HISTÓRIAS, NA PARTICIPAÇÃO EM CONVERSAS, NAS DESCRIÇÕES, NAS NARRATIVAS ELABORADAS INDIVIDUALMENTE OU EM GRUPO E NAS IMPLICAÇÕES COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS QUE A CRIANÇA SE CONSTITUI ATIVAMENTE COMO SUJEITO SINGULAR E PERTENCENTE A UM GRUPO SOCIAL” (BNCC, 2017, P. 42).

Para fortalecer esses conceitos, fomos conhecer a fundo um personagem que as crianças tanto apreciam: o porco. Nosso


Descobrimos que, além de terem nariz e rabo enrolado, os porquinhos comem grama, ração, capim, cenoura e outras coisas que podem ser encontradas no seu habitat. Nessas descobertas, a matemática surgiu ao encontrarem na história algumas formas geométricas como: triângulo, quadrado, retângulo e círculo. Descobriram o que é vértice e aprenderam a diferenciá-lo quando a espessura de uma forma é mais grossa que a outra. Depois de muitas descobertas e apropriações de alguns conceitos, construíram suas próprias casinhas com as formas geométricas.

Após descobrirmos algumas características dos porcos pesquisamos sobre o local onde moram. Nesse momento, utilizamos como referência de moradia aquela que aparece na história dos Três porquinhos: casa de palha, madeira, tijolo e a floresta que compõe a ilustração dos livros. Curiosidades sobre os porcos apareciam todos os dias, assim como sobre a sua alimentação... Pesquisamos sobre as comidas dos porcos e colocamos a mão na massa fazendo comidas para eles.

O brincar é o principal modo de expressão da infância, é uma das atividades mais importantes para que a criança se constitua como sujeito de cultura. O desenvolvimento da criança acontece por meio do lúdico, ela precisa brincar para crescer (PIAGET, 1971). Os porquinhos apresentaram para os nossos alunos algumas brincadeiras como: pega o rabo do lobo, aumenta aumenta, corra para a forma geométrica, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento global, auxiliando na aprendizagem e facilitando o processo de socialização, comunicação, expressão e construção do pensamento. Por meio das brincadeiras, favorecemos o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade, do senso rítmico, da imaginação, da memória, da concentração, da atenção, do respeito ao próximo, da socialização e da afetividade.

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primeiro contato foi no Quintal Uirapuru. Um dia, ao chegarmos, nos deparamos com esse bichinho e com muitos questionamentos dos alunos! “Será que ele gosta de brincar na lama?”, “A orelha dele parece uma coxinha!”, “O pé dele parece um dente!”, “O rabo dele é enroladinho igual o meu cabelo”, “O que ele come? Por que ele tem o rabo enroladinho? Olha! O nariz dele é diferente!”

Nas brincadeiras de faz de conta, o reconto esteve presente e os alunos verbalizaram partes da história a partir de lembranças do texto original. Contavam com clareza e coerência fatos e acontecimentos presentes no livro.

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Por fim, investigamos sobre o medo dos porcos e sabe o que descobrimos? Que eles temem os lobos que assopram suas casas até derrubar.

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Após investigações e descobertas preparamos o espaço do Quintal para uma nova experiência. Seguindo pistas, que saiam do Colégio até chegar neste espaço, os alunos se depararam com uma surpresa maravilhosa... o livro: "A verdadeira história dos três porquinhos", um exemplar para cada criança.

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Fomos para mais uma aventura de exploração nessa bela história. Nos deparamos com um lobo forte, grande, coberto de pelos, porém, não tão feroz como todos imaginavam. Assim, iniciamos uma jornada de investigação, conhecendo cada detalhe da história e pesquisando todos os passos do

lobo e dos três irmãos porquinhos. As crianças são curiosas, partimos da curiosidade e do interesse pelo assunto e investimos no imenso potencial que possuem, para que construíssem seus próprios conhecimentos. Neste projeto, os alunos foram os agentes de sua própria aprendizagem, expondo o que sabiam, ouviam e pensavam. Enfrentaram problemas, consideraram informações apresentadas pela professora e demais colegas e, a partir de tudo isso, produziram e aprenderam. A maior parte das situações de aprendizagem vividas nessa etapa foi organizada para proporcionar aos alunos experiências de troca com pares, em pequenos grupos ou com a turma inteira, o que é importante para que aprendam a trabalhar em equipe e a compartilhar seus conhecimentos.


Apresentamos para os alunos ilustrações de outros livros, aumentando o conhecimento de mundo ao mostrar-lhes uma variedade de lobos e suas características. As crianças, já bem interessadas no assunto, relataram que o lobo é coberto de pelos, com unhas grandes, um focinho comprido e orelhas em pé e adora comer porquinhos. Mas será que o lobo só come porquinhos? Realizamos, junto às crianças, uma pesquisa e elas relataram que ele come também grama. Para essa experiência utilizamos de várias texturas e fizemos muitas melecas. Onde o lobo mora? A curiosidade aumentava a cada dia! Nos relatos dos alunos, surgiu que moravam em florestas, então, fomos em busca de saber um pouquinho sobre as florestas dos lobos.

A enciclopédia do lobo foi ao encontro dessa deliciosa narrativa em que as crianças descobriram coisas inimagináveis, inclusive que o lobo só derrubou as casas dos porquinhos por estar resfriado e precisando de uma xícara de açúcar para fazer o bolo de aniversário para sua querida e amada vovozinha. Dando continuidade ao processo investigativo, descobriram algumas características desse temido personagem como: unhas afiadas, dentes compridos, orelhas em pé e um rabo bem peludinho.

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Pedimos aos pais que nos enviassem folhas e com elas realizamos um painel que ficou exposto em sala. Após explorarem bem todas as folhas, perceberam que cada uma tinha um tom de verde e um formato diferente. Com tinta verde, em diferentes tons, capricharam em um desenho representando a floresta do lobo.

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Ah, descobriram também que, segundo o próprio lobo, ele nem é tão mau assim! Bem, foi depois de muitas infladas e bufadas, descobertas e aprendizagens, trocas de experiências e conhecimentos que os alunos do Infantil 3 desenvolveram habilidades e avançaram na produção de seus desenhos. Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita. Ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos portadores textuais que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo.

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As histórias infantis são instrumentos potentes que contribuem para o conhecimento de mundo e de si mesmo.

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No decorrer do projeto “Os porquinhos”, de forma lúdica e por meio das trocas sociais, as crianças ampliaram seu repertório de comunicação e oralidade, promoveram o interesse pelos gêneros orais e escritos e descobriram assim, de maneira inusitada, a função da escrita.

Como fechamento do projeto, realizamos um reconto no qual os alunos realizavam os relatos e a professora era a escriba. Em um clima de confiança e afeto, os alunos adquiriram segurança em sua própria capacidade expressiva, cognitiva, motora, afetiva e social em relação aos outros e ao conhecimento e tiveram inúmeras oportunidades de desenvolver sua criatividade e o apreço pela descoberta. O projeto “Os porquinhos” auxiliou progressivamente no desenvolvimento das habilidades manuais, na aquisição de controle para um desenho mais refinado ampliando aspectos motores, sensoriais, visuais, emocionais, orais, sociais , assim como a percepção da criança em seu meio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: MEC. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança, imitação, jogo, sonho, imagem e representação de jogo. São Paulo: Zanhar, 1971. SCIESZKA, Jon. A verdadeira história dos três porquinhos! São Paulo: Companhia das letras, 2005.


“Aqui estamos nós... Aqui estou eu... Notas sobre a minha existência” Professora Juliana Hum

Ler, contar e ouvir histórias são atividades pelas quais as crianças podem conhecer diferentes formas de falar, viver, pensar e agir. Além de um universo de valores, costumes e comportamentos de sua e de outras culturas situadas em tempos e espaços diferentes do seu. A Educação Infantil tem a responsabilidade de resgatar e organizar o repertório das histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que frequentam, uma vez

que essas histórias se constituem em uma rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções. Isso contribui para a construção da emoção e da sensibilidade delas. O projeto, “AQUI ESTAMOS NÓS... AQUI ESTOU EU... NOTAS SOBRE A MINHA EXISTÊNCIA”, iniciou com a chegada de um livro misterioso e diferente na biblioteca.... Ainda havia um recado dizendo que os livros eram para as crianças do Infantil 4. O livro “Aqui estamos nós”, de Oliver Jeffers, conta de maneira compreensível para as crianças sobre tudo, aliás, sobre quase tudo que existe em nosso planeta, desde a existência dos seres vivos até o imenso espaço sideral e todos os planetas.

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Desde cedo as crianças têm contato com livros através de histórias. A criança sente a satisfação que as histórias provocam, aprende a estruturação de um texto e passa a ter consideração pela unidade e sequência do texto.

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Em meio a montanhas, constelações e planetas as crianças tiveram a oportunidade de obter ainda mais conhecimentos. A cada dia era uma nova descoberta. A cada página lida uma nova curiosidade nos levava a refletir nos momentos de roda de conversa.

O intuito de registrar diretamente no livro é justamente pelo fato de fazer mais sentido para as crianças e pelo prazer de poder usar o livro e explorar todas as páginas com muito carinho, usando diferentes materiais como: caneta retro, marca texto, gliter, marcadores post-it, caneta hidrocor etc.

ALUNO 1 Tia, no livro não fala como surge o raio... Como ele aparece?

Dentre tantas descobertas, estimuladas pela leitura e exploração do livro, voltamos um pouquinho no passado e relembramos quando ainda éramos bebês, o que fazíamos, o que precisávamos e como era essa rotina. Lembramos de tudo sobre nossas vidas desde que nascemos. Para esse momento ser ainda mais marcante nós fomos até o Berçário para conhecer de perto a rotina dos bebês dentro do colégio... Que momento incrível!

ALUNO 2 Muito fácil, quando está chovendo as nuvens batem uma na outra e sai primeiro o raio e logo depois o trovão. Diariamente nas rodas de conversa, trazíamos uma situação semelhante para que as crianças refletissem e pudessem falar sobre determinado assunto. A roda de conversa é um momento de criação de espaço e diálogo, em que as crianças podem se expressar e, sobretudo, escutar o outro e a si mesmo. O objetivo é estimular a construção da autonomia por meio da problematização, da troca de informações e da reflexão para a ação. Além disso, as crianças fazem conexões com suas vivências e, ainda, contribuem com a linha de raciocínio umas das outras, além de obter novos conhecimentos e aumentar o vocabulário de palavras.

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EXPLORANDO O LIVRO

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As crianças aprenderam a usar marcadores nas páginas do livro, aprenderam a função do “post-it” e após cada leitura e reflexão desenvolvida na página, elas poderiam marcá-las. Os registros foram feitos de maneira diferente: diretamente no livro e em folhas soltas, que depois se constituíram um “caderno” com todos esses momentos.

Depois de conhecer, relembrar e, até mesmo, brincar com os bebês participamos de uma divertida e animada roda de música, onde nós fomos presenteados com um lindo boneco, acompanhado de mochila de maternidade com fralda, lenço umedecido e um termómetro de brincadeira. As crianças puderam observar através do boneco, o tamanho que elas nasceram, e isso tornou-se mais significativo quando trouxeram para o colégio uma roupa de quando eram bebês. As crianças se surpreenderam. “Serviu direitinho!”, era o que ouvíamos delas. No Berçário conheceram de perto a rotina, observaram todos os espaços, entraram em todas as salas: Sala do sono, sala espelhada e sala de brinquedos. Viram onde tomam lanche e trocam a fralda e, ainda, brincaram no parque junto com os bebês. “Para que seja incorporada pelas crianças, a atitude de aceitação do outro em suas


Uma das escolhas de se trabalhar o livro de Oliver Jeffers, foi justamente para abordar as questões de respeito à diversidade. Cada pessoa tem um tamanho, uma cor de cabelo, um tom de pele e um conjunto de características que torna cada um singular. Todos esses elementos foram abordados com os alunos. “Existem pessoas de inúmeros formatos, tamanhos e cores. Podemos até parecer diferentes, agir diferente e falar diferente... mas não se engane: somos todos gente” (JEFFERS, 2018, p. 13 e 14). O projeto despertou a independência e a autonomia das crianças, pois no Infantil 4 já conseguem fazer diversas coisas sozinhas como: vestir e despir, guardar os materiais, servir-se no lanche, fazer pequenos favores. “A capacidade de realizar escolhas ampliase conforme o desenvolvimento dos recursos individuais e mediante a prática de tomada de decisões. Isso vale tanto para os materiais a serem usados como para as atividades a serem realizadas” (RCNEI, 1998, p. 40). As crianças já fazem suas próprias escolhas, como sentar-se em um determinado lugar ou até mesmo na hora de realizar uma atividade. Elas têm a independência de opinar em diversas situações. Através dessas ações que as crianças desenvolvem ainda mais a oralidade. Os espaços para a realização das atividades também foram pensados de acordo com o que queríamos desenvolver nas crianças, tudo depende da maneira que são organizados.

VALORIZAMOS O ESPAÇO DEVIDO A SEU PODER DE ORGANIZAR, DE PROMOVER RELACIONAMENTOS AGRADÁVEIS ENTRE PESSOAS DE DIFERENTES IDADES, DE CRIAR UM AMBIENTE ATRAENTE, DE OFERECER MUDANÇAS, DE PROMOVER ESCOLHAS E ATIVIDADE, E A SEU POTENCIAL PARA INICIAR TODA A ESPÉCIE DE APRENDIZAGEM SOCIAL, AFETIVA E COGNITIVA. TUDO ISSO CONTRIBUI PARA UMA SENSAÇÃO DE BEM-ESTAR E SEGURANÇA NAS CRIANÇAS. TAMBÉM PENSAMOS QUE O ESPAÇO DEVE SER UMA ESPÉCIE DE AQUÁRIO QUE ESPELHE AS IDEIAS, OS VALORES, AS ATITUDES E A CULTURA DAS PESSOAS QUE NELE VIVEM (MALAGUZZI, 1984, P. 148).

O ambiente escolhido funciona como um terceiro educador, um espaço acolhedor de maneira que favoreça a aprendizagem das crianças, por isso cada atividade e ambiente são pensados no desenvolvimento dos alunos. Em uma das atividades trouxemos o Globo Terrestre, para que as crianças pudessem observar e explorar com clareza todos os detalhes de onde vivemos. Sendo assim surgiram mais algumas curiosidades e descobertas por parte das crianças: ALUNO 1: Sabia que onde é verde quer dizer que é floresta? ALUNO 2: Como você sabe disso? ALUNO 1: Ué, porque as florestas são verdes e o planeta é dividido em duas partes: Terra e Mar... lembra que vimos no livro?

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diferenças e particularidades precisa estar presente nos atos e atitudes dos adultos com quem convivem na instituição” (RCNEI, 1998, p. 41).

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O trabalho com o livro de Oliver Jeffers foi tão intenso e significativo que as crianças lembravam todos os detalhes de maneira prazerosa. Os momentos de leitura em roda foram inesquecíveis, ainda mais porque as crianças manusearam e marcaram o seu próprio livro. Além disso, percebe-se um grande avanço no desenho, pois o desenho é uma das principais linguagens das crianças, ele é um processo criativo articulado principalmente por meio da sensibilidade.

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Uma de nossas funções neste projeto, foi estimular o desenvolvimento do desenho para que se tornasse mais elaborado, fazendo com que as crianças pudessem se comunicar através dele. Através do desenho as crianças brincam, se expressam, experimentam ideias, emoções e pensamentos, representam o mundo a partir das relações que estabelecem com o outro e com o meio em que vivem.

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A criança tem seu jeito próprio de compreender o mundo e é partindo de

observações e estabelecendo relações com a realidade, e com o meio, que ela aprende que se faz a construção de sua identidade. Neste processo de construção, em busca de sua autonomia a criança percorre diversos caminhos. Este projeto contribuiu para desenvolver cada vez mais a identidade das crianças, que é um processo contínuo e quanto mais autoconhecimento possuem, melhor se dará este desenvolvimento. Ter consciência de si, do nosso papel, da importância da origem e história é o que nos permite ser atuantes no meio em que vivemos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: MALAGUZZI (1984 apud Edwards C., Gandine L., Forman G., p 148.) EDWARDS, Carolyn. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999. MEC. Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil. Brasília, MEC, 1998. JEFFERS, Oliver. Aqui estamos nós. São Paulo: Salamandra, 2018.


A Inteireza do eu Do corpo às emoções Professora Eliene Barbosa

(BERT HELLINGER)

Em meio a brincadeiras e percepções do próprio corpo em construção, a criança interage no mundo e com o mundo, constituindo assim sua imagem, ainda que inconsciente desse corpo, a partir do contato com o outro. Ao nascer, percebese como uma extensão dos pais e aos poucos se reconhece e é identificada por si mesma em suas ações, vocalizações e emoções. Dentro da rotina escolar, em interações com o outro e segundo suas intenções, a criança estabelece relação de conhecimento e crescimento; Dado este aspecto, o professor proporciona pesquisas e indagações que trazem experiências e possibilidades de aprendizagem e ensino aos pequenos grupos em formação, inserindo e corroborando os diferentes espaços da escola aos aprendizados dos alunos. O esquema corporal constitui-se pela comunicação que a criança faz com o mundo, representando inconsciente, préconsciente e conscientemente esse corpo no local em que está. Quando ligado às suas vivências (linguagem – corporal ou verbal) é estabelecida sua imagem corporal.

ANUÁRIO 2019

“O OUTRO SOU EU. ELE É O OUTRO PARA MIM APENAS ENQUANTO NÃO O PERCEBO E RECONHEÇO COMO PARTE MINHA, EM PRINCÍPIO, NADA NO MUNDO PODE ESTAR FORA DE MIM. TUDO ME AFETA DE ALGUMA MANEIRA, E MESMO À DISTANCIA, ME INFLUENCIA. INVERSAMENTE, TAMBÉM EU, PELO MEU SER, PERTENÇO AO OUTRO, À PLENITUDE DE SUA EXISTÊNCIA”

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Sustentados por esses aspectos descritos, as crianças do Infantil 5 iniciaram processos de pesquisa sobre suas identidades corporais, relacionando seus aspectos físicos e emocionais. Espelhos, lupas, bonecos articulados e livros foram instrumentos importantes na descoberta das próprias características. Elementos que motivaram as crianças em suas pesquisas sobre o corpo humano, e as ações deste sobre o mundo em que vivem. Em pequenos grupos, as crianças descobriram curiosidades sobre si, apresentaram suas especulações e averiguações feitas em grupos:

"QUANDO ESTOU BRAVO MEUS OLHOS FICAM FECHADOS E BEM APERTADOS.” “EU DESENHEI ESSE TIPO DE BOCA PORQUE ACHEI QUE COMBINA COM ESSE OLHO BRAVO.”

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“MINHA BARRIGA TEM UM FURINHO.”

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Durante o processo, a elas eram fornecidos materiais com os quais pudessem “expressar de maneira intuitiva seu interior, exteriorizando-se nesses materiais” (ARCE, 2002, p.59). Gesso, massinha, acetato, biscuit, câmeras fotográficas, lupas digitais, microfones foram explorações que auxiliavam no registro desses novos conhecimentos adquiridos através dos quais “as crianças inventam veículos autônomos de liberdade expressiva, de liberdade cognitiva, de liberdade simbólica e vias de comunicação” (Edwards, 2016, p.124).

Discorremos sobre as diferentes formas corporais (alguns são baixos, outros altos) nossas várias expressões faciais, como nos vemos e podemos representar nossas várias posições corporais: de frente, de costas, uma pessoa vista de cima, uma pessoa de perfil. Tais percepções ao longo do tempo foram também registradas em um caderno de rascunhos o qual acumulava não somente rascunhos de um desenho, mas um livro de resgate para reflexão de desenhos posteriores.


Por diversas vezes, para uma análise mais minuciosa, as crianças utilizavam o espelho e a lupa para um olhar mais afinado, quando faziam observações mais rigorosas do próprio corpo. Com eles analisamos os diferentes tons de pele e as peculiaridades das mãos e dos pés e descobrimos até pontos inimagináveis pelo mundo adulto, como vemos a seguir:

ALUNA 1 Tia, com a lupa percebi que temos uma pele enrugadinha nos dedos. PROFESSORA E por que temos essa pele assim? Por que ela não é lisinha como a pele do braço e das mãos? ALUNA 2 Acho que essa pele [das articulações dos dedos das mãos] é enrugadinha, porque se ela fosse esticada os dedos não poderiam dobrar. ALUNO 3 Tia, a pele do nosso cotovelo é do mesmo jeito!

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Nos pequenos grupos, as crianças buscavam respostas às seguintes indagações: “Como cuidamos do nosso corpo?”, “Como é meu corpo por dentro e por fora?”, “Nossos corpos são diferentes entre si?”, “Como ficamos quando estamos bravos?”, “O que fazemos quando estamos felizes?”, “Por que ficamos tristes?”, “Por que sentimos medo?”, “Como nosso corpo fica quando estamos com medo?”, entre outras apurações.

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Assim, percebendo o eu, o outro, nossas vivências e emoções trilhamos para aquilo que acreditamos também ser parte integrante e importante da construção do conhecimento: o belo, a alegria, o humor e a poesia (Projeto Zero, 2014). Através da percepção do próprio corpo nas diferentes interações dentro da escola e pesquisas em grupo as crianças se constroem e se expressam no cotidiano, narrando suas vivências através de inúmeras linguagens.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARCE, Alessandra. Friedrich Froebel: o pedagogo dos jardins de infância – Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. COZENZA, Ramon M. & GUERRA, Leonor B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. EDWARDS, Carolyn, GANDINI, Lella & FORMAN, George. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Penso, 2016. SIEGEL, Daniel J. & BRYSON, Tina Payne. O cérebro da criança. São Paulo: Versos, 2015. ZERO, Projeto. Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem individualmente e em grupo. São Paulo: Phorte, 2014. MEC. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://basenacionalcomum. mec.gov.br/. Acesso em: 15 de ago. 2019.

ANUÁRIO 2019

Resgatando, memórias anteriores e moldando-as conforme as percepções atuais (Siegel & Bryson, 2015), caminhamos para a construção do corpo como um todo; Após os ensaios pictóricos de cada parte de suas estruturas físicas, as crianças partiram dos desenhos planos para a concepção do corpo em 3ª dimensão: utilizando arame as crianças foram convidadas a construir corpos em pequena escala, formando os contornos vistos durantes os estudos. Após essa construção, utilizando a massa de biscuit, fizeram o preenchimento dessa estrutura, partindo para a finalização da construção.

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LÍNGUA E PRODUÇÃO: PROCESSOS DE LEITURA E ESCRITA


ANUÁRIO 2019

“LER, ESCUTAR E PRODUZIR TEXTOS ORAIS, ESCRITOS E MULTISSEMIÓTICOS QUE CIRCULAM EM DIFERENTES CAMPOS DE ATUAÇÃO E MÍDIAS, COM COMPREENSÃO, AUTONOMIA, FLUÊNCIA E CRITICIDADE, DE MODO A SE EXPRESSAR E PARTILHAR INFORMAÇÕES, EXPERIÊNCIAS, IDEIAS E SENTIMENTOS, E CONTINUAR APRENDENDO” É UMA DAS COMPETÊNCIAS A SER DESENVOLVIDA NA ESCOLA EM LÍNGUA PORTUGUESA, CONFORME A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. OS TEXTOS AQUI APRESENTADOS REVELAM PARTE DO NOSSO TRABALHO AO DESENVOLVERMOS ESSA COMPETÊNCIA: ORALIDADE E RECONTO, FORMAÇÃO LEITORA E LÍNGUA E PRODUÇÃO.

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Oralidade: reconto de clássicos Professoras Gisele Prado e Poliana Gomiero

ANUÁRIO 2019

A oralidade vai além da prática da leitura em voz alta, individual ou coletiva. Mais do que isso, é proporcionar ao aluno diferentes contextos de comunicação, saber posicionar-se em suas opiniões, experiências e sentimentos.

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“RECONTO É A RECONSTRUÇÃO ORAL DE UM TEXTO JÁ EXISTENTE. TAL PROCEDIMENTO IMPLICA RECONTAR PARECIDO COM O QUE ESTAVA NO LIVRO, NO JORNAL, NO ENCARTE, OU COMO SE FOSSE O AUTOR. NA RECONSTRUÇÃO DO TEXTO, O QUE SE BUSCA É A APROPRIAÇÃO DO MODELO, COM POUCA FLEXIBILIDADE PARA CRIAÇÕES E MODIFICAÇÕES QUE SE DISTANCIEM DELE”. (SÁ, RECONTO).

No mundo em que vivemos, a expressão oral tem sido cada vez mais valorizada e, com frequência, é o critério decisivo para o sucesso profissional de muitas pessoas. Contudo, em algumas situações, as práticas sociais de linguagem são regradas e aqui, na escola, desempenhamos um importante papel na criação de vivências que permitam o conhecimento e a apropriação de falas alinhadas à norma culta e pertinentes ao contexto de uso. É o caso dos gêneros orais públicos, como a discussão em grupo, a exposição oral, o seminário, a entrevista oral, o debate regrado e muitos outros. O fato de uma criança falar muito e ter desenvoltura para falar não garante necessariamente que, na fase adulta, ela tenha facilidade para falar em todas as circunstâncias profissionais e sociais.


Vários estudiosos, preocupados com o uso adequado da linguagem contribuem enormemente para nós, professores, desenvolvermos o trabalho com a oralidade, realmente como conteúdo. Dentre eles destacamos Marcuschi, o qual enfatiza que, “a oralidade não será substituída por nenhuma tecnologia. Sendo própria dos humanos, é fator de identidade” (2005, p. 36). Quando pensamos em trabalhar a oralidade na sala de aula buscamos, através dela, fazer com que os nossos alunos ampliem também suas capacidades de leitura e escrita. FALAR OU ESCREVER BEM NÃO É SER CAPAZ DE ADEQUAR-SE ÀS NORMAS DA LÍNGUA, MAS É USAR ADEQUADAMENTE A LÍNGUA PARA PRODUZIR UM EFEITO DE SENTIDO PRETENDIDO NUMA DADA SITUAÇÃO. (...) PARA DIZER DE OUTRO MODO EM OUTRA MODALIDADE OU EM OUTRO GÊNERO O QUE FOI DITO OU ESCRITO POR ALGUÉM, DEVO INEVITAVELMENTE COMPREENDER O QUE ESSE ALGUÉM DISSE OU QUIS DIZER. (MARCUSCHI, 2005, P. 09 E 47).

Diferente da leitura oral, o reconto é uma apresentação de memória, e possibilita o desenvolvimento do aluno, ampliando a capacidade de expressar-se e relacionar-se com a comunidade escolar. Assim como a escrita é para um leitor, o reconto é para um ouvinte. Ser compreendido é de extrema relevância e para que isso ocorra, o aluno é convidado a refletir alguns tópicos: • CLAREZA NA FALA; • FOCO NO ASSUNTO; • PRONÚNCIA CORRETA DAS PALAVRAS; • VOLUME ADEQUADO DA VOZ; • EXPRESSÃO FACIAL; • GESTOS CORPORAIS; • EVITAR MARCAS DE ORALIDADE. Por outro lado, é necessário que o ouvinte tenha uma escuta ativa para que facilite sua compreensão: Assim, nasceu nosso projeto de recontos a partir da leitura de contos. Diversas ações foram pensadas e desenvolvidas, em sala de aula. Inicialmente propusemos uma leitura silenciosa e uma leitura em grupo, seguida de discussões sobre o texto. Uma atividade sem supervisão direta e imediata de nós professores, com o intuito de fazer com que os alunos se responsabilizassem por seu trabalho. Ainda em grupo, tiraram suas dúvidas em relação à interpretação do conto. Após ser concluída a compreensão do texto, propusemos aos grupos que recontassem ao restante da classe a história que tinham acabado de conhecer, uma vez que cada grupo recebeu um conto diferente. Ao ensaiarem seus recontos, os alunos perceberam as diferenças de pronúncia e escrita e a adequação delas ao contexto de uso.

ANUÁRIO 2019

EM UMA SOCIEDADE EM QUE A FALA VEM GANHANDO UM ESPAÇO IMPORTANTÍSSIMO, VISTO QUE ELA ESTÁ PRESENTE EM GRANDE PARTE DAS RELAÇÕES COMUNICATIVAS, NÃO CABE MAIS À ESCOLA APENAS ENSINAR O ALUNO A LER E ESCREVER. (SERAFIM, 2011, P. 28).

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OS GÊNEROS DO DISCURSO ORGANIZAM NOSSA FALA DA MESMA MANEIRA QUE A ORGANIZAM AS FORMAS GRAMATICAIS (SINTÁTICAS). APRENDEMOS A MOLDAR NOSSA FALA ÀS FORMAS DO GÊNERO E, AO OUVIR A FALA DO OUTRO, SABEMOS DE IMEDIATO, VEM NAS PRIMEIRAS PALAVRAS, PRESSENTIR-LHES O GÊNERO, ADIVINHAR-LHE O VOLUME (A EXTENSÃO APROXIMADA DO TODO DISCURSIVO), A DADA ESTRUTURA COMPOSICIONAL, PREVER-LHE O FIM. (BARKHTIN, 2011, P. 283).

Durante as apresentações dos recontos dos grupos, pudemos perceber o quanto essas atividades proporcionaram a possibilidade de construir a realidade narrada, incluindo a estrutura narrativa necessária à aprendizagem da vida em sociedade.

(utilização de frases compostas por todos os elementos, recurso a adjetivos, entonação e ritmo das palavras). Deste convívio com a língua, os alunos extraíram as regras fonológicas, sintáticas, morfológicas, semânticas e pragmáticas que abarcam o domínio da linguagem.

Os alunos nessa etapa do trabalho, perceberam a importância de utilizar-se de variação e vocabulário mais elaborados, ou melhores estruturados, em momentos mais formais em sua vida

Ao escutar e relatar histórias, os alunos foram distinguindo o essencial do secundário, criando resumos seletivos do texto original, manifestando interesse pela estética das palavras, formando diálogos com perguntas e respostas, argumentando e aprendendo a respeitar opiniões distintas da sua.

Além disso, o reconto contribuiu para a apropriação de construções gramaticais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BAKHTIN, Mikhail. Os Gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. A estética da criação verbal. 6 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

ANUÁRIO 2019

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização 6. ed. São Paulo, Cortez, 2005.

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Formação leitora frente às novas demandas do currículo Professoras Gabriella Gomes, Maria Teresa Sugahara, Patricia Silva e Tatiana Pasin

Não há como precisar quando nasce um leitor. Tampouco há receita pronta para que isso aconteça - ensinar alguém a gostar de ler. Mas se pararmos para pensar, ao ouvirmos relatos de leitores vorazes, há geralmente um traço em comum: a maioria deles teve alguém que os adentrou nesse universo - pais que liam antes de dormir, avós que contavam histórias, um professor que mediava a leitura em classe. A descoberta da leitura acontece de forma diferente para cada um, é fato; mas a escola, como um espaço privilegiado de fomento à cultura, ao conhecimento, à fruição estética, não pode se furtar a uma tarefa tão primordial: ensinar a ler. Ler a vida, o mundo, tecer sentidos, (re)construir conceitos, principalmente num tempo em que as demandas do currículo se adensam e exigem cada vez mais do aluno. O Colégio Uirapuru, trabalhando de forma alinhada à BNCC (o documento oficial que regulamenta e organiza as competências e habilidades que os estudantes devem

possuir em todos os âmbitos do conhecimento), estrutura seu trabalho no eixo de Leitura de modo a permitir uma profunda reflexão e reconstrução das condições de produção e recepção dos textos, nos mais diferenciados gêneros e que circulam nos diferentes campos de atividade humana. E como bem coloca Bazerman (2011, p.23), os gêneros textuais não são apenas formas mais ou menos estáveis, são “formas de vida, modos de ser. São ambientes para a aprendizagem. São os lugares onde o sentido é construído. Os gêneros moldam os pensamentos que formamos e as comunicações através das quais interagimos”. Com isso, entendemos que a leitura dos mais diversos gêneros da esfera humana, através de toda sua multiplicidade de suportes e semioses, é um processo de significação entre interlocutores, num misto de tarefa individual e diálogo, com o propósito de construir sentidos pelo leitor através de um trabalho consistente, de modo a fazer com que os alunos se tornem leitores

ANUÁRIO 2019

“A LEITURA DO MUNDO PRECEDE A LEITURA DA PALAVRA, DAÍ QUE A POSTERIOR LEITURA DESTA NÃO POSSA PRESCINDIR DA CONTINUIDADE DA LEITURA DAQUELE. LINGUAGEM E REALIDADE SE PRENDEM DINAMICAMENTE” (FREIRE, 1989, P. 9).

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competentes, capazes de fazer análises críticas do que leem, de construir bons textos e que possam principalmente desenvolver o hábito e o prazer pela leitura.

ANUÁRIO 2019

Diante dessa perspectiva, a leitura é uma forma contínua de atribuição de significados. Quando o aluno lê, os sentidos e valores que carrega sobre os fatos do mundo, da vida e das pessoas entram em contato com os valores e sentidos veiculados nos textos. Devido a isso, o trabalho com a leitura na sala de aula serve para o aluno aprender a participar das práticas sociais leitoras que acontecem em todos os espaços onde circula. É, portanto, papel da escola propiciar o contato do aluno com os mais diversos gêneros, em todas as suas manifestações, as quais estão em constante processo de atualização, à medida que, ao longo de sua formação leitora, o aluno frequentemente reatribui sentido a práticas de linguagem, admitindo, inclusive, novos veículos de comunicação e novos gêneros textuais.

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Decorrentes do desenvolvimento tecnológico, ferramentas aliadas das habilidades leitoras começam a integrar as vivências dos alunos. As plataformas digitais, repletas de recursos semióticos que permitem compreender enunciados, textos, imagens, mídias, de forma integrada e significativa, modificam a forma como os alunos interagem no mundo e participam dele. Essa diversidade de gêneros - o multiletramento - muito tem a acrescentar às práticas dos alunos, uma vez que interlocuções provenientes de fontes de linguagem múltiplas passam a incorporar seu metaconhecimento e são capazes de potencializar as capacidades reflexiva e crítica. Segundo Rojo (2012, p. 11), “o prefixo “multi” aponta para duas direções: multiplicidade de linguagens e mídias nos

textos contemporâneos e multiculturalidade e diversidade cultural.” Soma-se a isso o fato de grande parte dos recursos dessa esfera possibilitarem a seus usuários o trânsito entre áreas e temas que lhes interessam e com os quais têm maior identificação, contribuindo para estimular a prática da leitura com vistas à apropriação dos recursos tão necessários à produção de significados. O professor deve oferecer leituras de qualidade, diversidade de textos, modelos de leitores e práticas de leituras eficazes, formando, consequentemente, leitores competentes. Nos anos iniciais do fundamental II, 6º e 7º anos do colégio, os alunos desenvolvem um olhar diferenciado para realizar a leitura de notícias interdisciplinarmente. Adotado pelo colégio, o jornal JOCA, o único jornal para jovens e crianças, tem sua leitura mediada por todos os professores, que ensinam aos alunos o múltiplo olhar sobre a mesma notícia, ampliando a leitura de mundo pela leitura da palavra. Na mesma linha de trabalho interdisciplinar, os alunos de 8º e 9º anos são motivados à leitura de textos jornalísticos por meio da plataforma digital Guten News, que oferece conteúdos da atualidade a partir de estratégias que envolvem gamificação e interatividade, transformando a atividade em um momento prazeroso e significativo.


Os alunos do 7º ano, por sua vez, revisitam os comentários de Internet e adentram no universo do Fanclip e do Vlog como forma de divulgação de resenhas críticas do objetos culturais trabalhados. Esses gêneros digitais consistem em vídeos produzidos pelos alunos com um simples recurso tecnológico: uma câmera qualquer. O professor tem como uma das funções principais auxiliar o aluno na transposição do texto escrito para o texto oral digital, mostrar que a cultura digital tem suas características e suas exigências, além de tudo a sua importância na contemporaneidade. No 8º ano, os alunos tomam contato com a ressignificação de sentidos dos memes, considerados como gêneros

textuais que dão voz a uma necessidade da sociedade digital. Nessa mesma perspectiva de adequação à demanda por letramento digital, os estudantes são motivados a realizar um projeto de escrita colaborativa de verbetes que compõem uma enciclopédia étnica, elaborados após a discussão de temas relacionados ao eixo diversidade. Para isso, utilizam softwares de escrita colaborativa, como o Google Docs. O 9º prioriza as atividades de formação e tomada de posicionamentos, construção crítica de argumentação, elaboração e refutação de argumentos. Assim, discussões sobre pós-verdade e proliferação de fake news, comportamento em redes sociais, influenciadores digitais, como youtubers e vloggers, são uma constante ao longo das aulas, de maneira que os alunos sejam inseridos, de maneira eficaz e significativa, no ambiente digital e nele saibam interagir. Desse modo, se os gêneros assumem um papel central na construção do letramento escolar, o mesmo ocorre com os gêneros digitais, no âmbito do letramento digital. Ler, na atualidade, ultrapassa as páginas dos livros e atinge as páginas da Internet. Cabe à escola oferecer aos nossos navegantes as ferramentas necessárias para que possam navegar por águas nem sempre tranquilas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BAZERMAN, Charles. Gênero, Agência e Escrita. São Paulo: Cortez, 2011. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 12ª ed. São Paulo: Cortez, 1989.

ANUÁRIO 2019

Atualmente, a leitura não se faz mais presente apenas no livros em sala de aula. Os alunos são introduzidos aos gêneros digitais, ao multiletramento e ao desenvolvimento da habilidade da leitura em textos não lineares. A leitura de tabelas, gráficos e infográficos deixou de fazer parte apenas das aulas de Matemática e foi incorporada às aulas de Língua Portuguesa. Os alunos do 6º ano são apresentados ao blog e aos comentários de Internet no contexto de sala de aula, por exemplo. A leitura mediada do blog resgata a ideia de que este surgiu com a função de ser uma espécie de diário virtual, isto é, um espaço que os internautas utilizam para relatar fatos do cotidiano, pensamentos e opiniões, e que também são utilizados como meio de divulgação de trabalhos de muitos profissionais. Em consequência, os alunos conhecem o gênero comentário de Internet existentes nos blogs como um meio de não só criticar algo, mas também como um meio de adicionar informações, correções, sugestões e elogios.

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Língua e Produção Professora Ana Carolina Benzoni

Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

ANUÁRIO 2019

Olavo Bilac

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O conhecido poema de Bilac, A um poeta, remete-nos à busca incessante dos parnasianos pelo texto perfeito: o rigor da forma, a metrificação cuidadosa dos versos, as rimas e o ritmo impostos pela palavra eram características valorizadas por todo bom poeta parnasiano no momento de produção. Séculos depois, porém, é possível olhar para a imagem criada por esse poema e atribuir a ela um olhar transcendente ao momento em que foi escrito. É possível nos identificarmos com os Beneditinos, que, embora não-poetas nem parnasianos, enfrentamos, por vezes, nossas próprias batalhas diante da produção de textos, quer sejam eles escritos ou orais. Para Beaugrande (1997, p.10 apud MARCUSCHI 2017, p. 72), “o texto é um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas”.

Essa definição defende que a principal função de um texto é a comunicação; para isso, há o predomínio dos recursos linguísticos, embora os extralinguísticos possam ser utilizados na composição da mensagem. Por muito tempo, foi papel da escola, no que concerne ao ensino formal de Língua Portuguesa, apenas descrever o funcionamento das regras que ditam a norma padrão. Aos alunos, nesse contexto, cabia a tarefa de decorar e reproduzir as regras em perguntas isoladas e descontextualizadas de sua situação de produção. Contudo, avanços nos estudos da Linguística mudaram esse olhar ao defender que a língua não se restringe a um conjunto de normas e regras; é o que encontramos nesta definição de Marcuschi (2017, p.56), por exemplo, “a língua é um conjunto de práticas sociais e cognitivas historicamente situadas”.


Diante dessa concepção de língua, que não despreza seu conjunto de normas, mas o coloca como um dos aspectos a serem observados e ensinados aos alunos, foi necessário repensar a forma de olhar para a condução do ensino formal de Língua Portuguesa. Mostrá-la como uma manifestação social, com marcas da sociedade que representa, quer sejam elas históricas, ideológicas ou comunitárias é um passo importante para ampliar o olhar do aluno sobre o universo de possibilidades que podem descortinar-se à frente dele. Sob essa ótica, aprender uma nova língua não é simplesmente decorar vocabulários e compreender estruturas fonológicas, morfológicas ou sintáticas, é também aprender uma nova cultura, novos valores e nova forma de olhar o mundo.

O ensino da língua, então, passa, necessariamente pela ampliação do conceito de “língua” que o próprio aluno traz consigo. Ela é seu instrumento de interação desde a mais tenra idade, usada na maior parte do dia, em diversos contextos e com diversos propósitos. Cabe, ao aluno do Ensino Médio, desenvolver o olhar crítico para situações em que a Língua Portuguesa está envolvida; quer seja no dia a dia - na música ouvida no Spotify, na tira lida no jornal ou na propaganda veiculada no Youtube - quer seja em contextos mais formais, como o discurso de abertura de um evento, a construção de uma manchete, um conto literário, etc. Sob essa óptica, a primeira “produção” que esse jovem deve fazer é desenvolver a capacidade de leitura crítica daquilo que o cerca: perceber que as mensagens veiculadas por um texto ultrapassam, muitas vezes, aquelas explícitas nas palavras grafadas, gravadas ou faladas; apreender as entrelinhas da leitura, associando saberes, olhares e valores para compor um sentido completo da ideologia que cada texto carrega em si e que só pode ser desvendada quando o leitor se dispõe a mergulhar em sua tessitura. Para isso, olhar para a língua enquanto fenômeno social é fundamental. Dentro dessa lógica, que concebe a língua em sua instância social, é fundamental compreender também como a leitura figura esse espaço discursivo, entre a ideia "senso comum", que ainda entende o ato de ler como pura decodificação de signos, e outra sobre processo linguístico efetivo. Nosso papel, enquanto educadores, é mediar o conhecimento e instrumentalizar a ação de ler como uma tomada de responsabilidade ativa e dona do maior dos poderes: a liberdade de pensar. Para isso, o sujeito, inicialmente alfabetizado e constantemente

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Olhar para a língua dessa forma é compreender que todas as variedades linguísticas de um país têm seu valor e seu propósito. É compreender também que uma produção textual feita na década de 1950 - por exemplo, música, propaganda, conto, charge, etc. - trará escolhas lexicais e semânticas que revelarão muito sobre os valores sociais vigentes na época. Esse olhar permite perceber, por exemplo, que abordar variedades linguísticas em um livro de gramática não é “ensinar o português errado”, mas sim ampliar o conhecimento dos jovens sobre a língua sobre as produções culturais resultantes dela. Da mesma forma, o contato com as marcações consideradas racistas em Monteiro Lobato não pode ser visto como prejudicial à formação de nossas crianças, mas sim como uma oportunidade de mostrar a elas, através dessas marcas discursivas, o olhar da sociedade brasileira do início do séc. XX para o negro e, a partir daí, proporcionar discussões sobre aspectos e valores sociais, amparadas pela linguagem e pela história.

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letrado, associa os conhecimentos linguísticos a outros extralinguísticos, interagindo com o que lê, conferindo ao texto um significado, fazendo inferências, percebendo a ironia que pode estar presente. A atividade bem-sucedida da leitura é o primeiro passo de um trabalho ativo com a língua; aquele que vai olhar para as normas ditadas pela gramática como uma das ferramentas para produção de enunciados e sentidos específicos pretendidos pelo autor do texto a serem compreendidos por um leitor perspicaz. Além disso, é também essa leitura ativa e plural, quando se pensa em várias fontes e vários gêneros, que vai ampliar o conhecimento de mundo e a capacidade de associação entre os diversos saberes que nos circundam. Essa capacidade de leitura é uma construção progressiva, que requer prática diária e dedicação; ela vai além da leitura mecânica de decodificação de signos porque pressupõe interação entre autortexto-leitor através de um uso consciente da língua portuguesa.

para a compreensão do que é exigido naquele contexto de produção. Antes de a produção aparecer, por completo, escrita no papel, seu autor deve ter apreendido que o texto é uma forma de comunicação e, como tal, ele deve cumprir a um propósito específico, destinado a um interlocutor e pertencer a um gênero discursivo, que justifica a sua prática social. Em suma: o que escrever, para quem escrever e com que propósito são os três primeiros aspectos que vão nortear qualquer situação de escrita, por mais simples e intuitiva que ela pareça.

Da mesma forma que o ato de ler não é apenas o de decodificar as palavras apresentadas na sequência em um texto, o ato de escrever, não é apenas o de colocar o que se pensa no papel. Exige-se do escritor mais do que isso. Ao olharmos para a atividade de produção escrita, é preciso entender que ela é uma etapa de um processo complexo que tem início no uso das ferramentas linguísticas necessárias

Falar ou escrever sobre um tema requer planejamento; requer conhecimento prévio daquela questão - construída através da leitura; requer organização e curadoria “o que selecionar, dentre tudo o que se sabe sobre o assunto, para que o produto final sirva ao propósito enunciativo?”; requer estratégia previamente definida – “como organizar as ideias para conduzir o leitor pelo caminho desejado?”; requer

É, então, uma outra função do ensino de Língua Portuguesa tornar esses três pilares da escrita fatores conscientes e previamente pensados pelos escritores. Apenas quando se tem definidas com clareza essas questões é que é possível traçar um plano de texto considerando os aspectos da língua como ferramentas usadas a serviço do projeto de texto a ser desenvolvido.


conhecimento do gênero discursivo pedido - “como é estruturado esse gênero?" e requer conhecimento linguístico - “que tipo de variedade usar? Como interligar as ideias de forma clara, coesa e coerente?” Essa sequência de etapas revela uma série de habilidades que precisam ser acionadas pelo autor antes de o texto, oral ou escrito, surgir de forma efetiva. Ao contrário dos conhecimentos adquiridos por repetição de um modelo, a produção de um texto nunca será uma repetição do que foi feito anteriormente e, exatamente por isso, demanda dedicação do seu autor e é analisada, no âmbito escolar, considerando todos os aspectos que esse processo complexo envolve.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANTUNES; I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. ROJO, R.; BARBOSA, J Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos. 1.ed São Paulo: Parábola Editorial, 2015. MARCUSCHI, L. A Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

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Marcuschi (2017) defende que a produção textual é uma prática social e, em virtude disso, não pode ser vista como um jogo unilateral, no qual valem apenas as regras do escritor. Sob essa perspectiva, o texto é o momento em que os saberes do escritor - sobre a língua e sobre o mundo – devem se encontrar e se revelar ao seu leitor de forma única e precisa. Por isso mesmo não há receita, não há modelo, não há fórmula mágica. Como tão brilhantemente descreve Bilac, o trabalho com a escrita e - por que não dizer? - com a oralidade em situação formal, é um trabalho que demanda dedicação, paciência e suor. É o propósito final de nossa Língua que, em última instância, é também nossa Identidade.

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ARTE: A CULTURA BEM PERTO DE NÓS


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“VALORIZAR E FRUIR AS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS, DAS LOCAIS ÀS MUNDIAIS, E TAMBÉM PARTICIPAR DE PRÁTICAS DIVERSIFICADAS DA PRODUÇÃO ARTÍSTICOCULTURAL” É UMA DAS DEZ COMPETÊNCIAS PRESENTES NA BASE NACIONAL CURRICULAR COMUM E É CONTEMPLADA EM DIVERSAS AÇÕES PEDAGÓGICAS NO UIRAPURU. A ARTE ESTÁ PRESENTE EM SUAS MAIS DIVERSAS MODALIDADES: MUSICAL, PLÁSTICA, CÊNICA, CINEMATOGRÁFICA, FOTOGRÁFICA, LITERÁRIA COMO VEREMOS NOS TEXTOS A SEGUIR.

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Musicalização Infantil Professora Marina Fernandes

Não poderíamos iniciar este texto sobre iniciação musical, sem antes apresentarmos alguns conceitos a respeito do desenvolvimento cerebral e as diversas formas de aprendizagens. Segundo a neurociência, as “janelas de oportunidades” são os períodos nos quais a estrutura neurobiológica do cérebro humano encontra as melhores condições para desenvolver determinada função ou aprendizado, assim, é durante este período de “abertura” das janelas, que tal estimulação e desenvolvimento se dão de forma mais eficiente (Antunes, 2002; Gardner, 1983).

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Estudos conduzidos por especialistas indicam que o período mais sensível do desenvolvimento cerebral está entre o final da gestação e os dois primeiros anos de vida, Portanto: “A MÚSICA FARÁ O MILAGRE DE ORDENAR A MASSA, AGRUPÁ-LA DE ACORDO COM DETERMINADA ORDEM, APAZIGUÁ-LA, INSTRUMENTALIZÁLA, E ORQUESTRÁ-LA SEGUNDO OS PRINCÍPIOS DOS RITMOS NATURAIS, POIS A MÚSICA É A EMANAÇÃO DE ASPIRAÇÕES E VONTADES”

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(DALCROZE, PREFÁCIO, 1919, IN 1965, P.8).

A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS EM UM AMBIENTE SENSORIALMENTE ENRIQUECEDOR DESDE A MAIS TENRA IDADE PODE TER UM IMPACTO SOBRE SUAS CAPACIDADES COGNITIVAS E DE MEMÓRIA FUTURAS. A PRESENÇA DE COR, MÚSICA, SENSAÇÕES (TAIS COMO A MASSAGEM DO BEBÊ), VARIEDADE DE INTERAÇÃO COM COLEGAS E PARENTES DAS MAIS VARIADAS IDADES, EXERCÍCIOS CORPORAIS E MENTAIS PODEM SER BENÉFICOS (DESDE QUE NÃO SEJAM EXCESSIVOS). (CARDOSO; SABBATINI, 2000).


O hábito de cantar e dançar com bebês e crianças, presentes em praticamente todas as culturas do mundo, auxilia no aprendizado musical, no desenvolvimento da afetividade e socialização e, também, no progresso da aquisição da linguagem. Quando a criança está em idade escolar, o aprendizado musical, além de ter o valor em si mesmo, exerce uma segunda função, que é o ensino e o aprendizado de conceitos, ideias, formas de socialização e cultura, sempre através das atividades musicais. Cantar canções em aula, bater ritmos, movimentar-se, dançar, balançar partes do corpo ao som de música, ouvir vários tipos de melodias e ritmos, manusear objetos sonoros ve instrumentos musicais, reconhecer canções, desenvolver notações espontâneas antes mesmo da leitura musical, participar de jogos musicais, acompanhar rimas e parlendas com gestos, são algumas das atividades que fazem parte das aulas de musicalização do Colégio Uirapuru.

Cada fase possui objetivo específico, buscando ao desenvolvimento integral da faixa etária correspondente. No Infantil 2 as aulas apresentam um caráter bem lúdico, com apreciação musical de gêneros musicais brasileiros e instrumentais. Utilizamos objetos sonoros, instrumentos de pequena percussão e atividades de locomoção dirigida e espontânea. A vivência musical interage com a vivência visual, com a utilização de fantoches e objetos característicos presentes nas canções, como a “presença” de um jacaré que as crianças levam passear durante a música. Ao transferir o jacaré para outra criança, trabalham também socialização. No infantil 3 iniciamos o trabalho de ostinatos rítmicos, por imitação e por livre execução, bem como atividades de locomoção, favorecendo a lateralidade e a psicomotricidade. Com pequenos gestos corporais, a criança inicia o processo de autonomia no empréstimo de instrumentos musicais às demais crianças do grupo. No infantil 4 trazemos o trabalho de percepção sonora, a apresentação dos parâmetros do som, através de jogos musicais, a utilização de outras línguas nas canções, principalmente o inglês e o espanhol. Continuam fazendo a utilização dos instrumentos de pequena percussão e atividades de locomoção. Iniciamos o processo de improvisação rítmica. No

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A partir disso é de suma importância a realização de estímulos, tanto ao feto, como à criança, sendo este um dos principais objetivos da utilização da música nesse período.

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infantil 5 as crianças já iniciam a preparação para atividades de cirandas e danças circulares, dentro do campo de locomoção, preparação para a voz na execução de melodias em formato de canto-coral, aprimoram as improvisações rítmicas e aumentam as possibilidades de canções de outros países. Cada mudança de fase, ocorre de forma sutil e conforme o desenvolvimento do grupo. Os objetivos são traçados conforme o perfil de cada turma e as atividades e os jogos musicais podem ser repetidos nos diferentes grupos, porém com propostas e objetivos modificados para o melhor aprendizado e desenvolvimento de cada criança. Cabe ainda ressaltar que, na musicalização, o professor tem um olhar totalmente diferenciado para a criança. Seus conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil o ajudam a adequar da melhor maneira possível, a canção, o instrumento ou o material selecionado, de modo a alcançar o objetivo previamente definido. Ele estará atento para trabalhar situações específicas, caso a criança demonstre alguma limitação eventual.

ISSO SE DÁ PORQUE ATRAVÉS DA MÚSICA A CRIANÇA SE EXPRESSA DE DIFERENTES FORMAS, O QUE POSSIBILITA AO PROFESSOR REALIZAR ESSAS OBSERVAÇÕES. EXISTE UM CUIDADO (OU, PELO MENOS, DEVERIA EXISTIR) COM AS REFERÊNCIAS DE TIMBRE OFERECIDAS À CRIANÇA, PORQUE, NO CASO DE UM BEBÊ, POR EXEMPLO, O QUE ESTAMOS FAZENDO É LITERALMENTE FORNECERLHE SUAS PRIMEIRAS REFERÊNCIAS SONORAS. NÃO PODEMOS, ENTÃO, LHE DAR UMA MARACA CUJO SOM MACHUQUE O SEU OUVIDO (QUE ESTARÁ EM FORMAÇÃO ATÉ OS 2 ANOS). (PENNA, HELEN, 2019).

Enfim, todo trabalho envolvido na musicalização é diferenciado de uma “recreação musical”, onde esta, busca apenas entreter e divertir as crianças com música, sem um plano traçado para alcançar um alvo que seja, de fato, relacionado com as competências musicais. Na musicalização encontramos, de forma lúdica, possibilidade para aprender e vivenciar momentos e brincadeiras com sons e músicas, que muitas vezes estão fora do cotidiano das crianças, fazendo com que inspirem-se e passem a apreciar também essa cultura tão rica existente no meio musical.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas: Papirus, 2002.

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ALMEIDA, C. M. G.; OLIVEIRA, F. A., SANTOS, L. M. e SANTOS R. A. S. Resenha: A importância da música para as crianças. Revista da ABEM 9 (2003), p. 99-100.

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DALCROZE, Émile Henri Jaques. Rítmica, Música e Educação, 1919. GARDNER, H. As artes e o desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 1997. ILARI, Beatriz Senoi. Bebês também entendem de música: a percepção e a cognição musical no primeiro ano de vida. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 7, 2002, p. 83-90.


Cinema: a direção de arte como recurso didático Professoras Denise Lopes e Marina Tranquilin

"O CINEMA ERA APENAS UMA MÁQUINA DE IMPRIMIR TEATRO, DE VISUALIZAR A MÚSICA, DE ILUSTRAR A LITERATURA. HOJE, ATRAVÉS DO AVANÇO DA TECNOLOGIA, O CINEMA É UMA GRANDE MÁQUINA DE FAZER ILUSÕES, FICÇÃO, ROMANCE E VIAGENS" (TIM BURTON, 2009).

Na busca por diferentes práticas envolvidas na amplitude que o cinema pode proporcionar ao olhar do aluno, tanto dentro como fora da sala de aula, criamos um projeto que contempla a direção de arte no cinema em todas as séries do Ensino Fundamental II (6º, 7º, 8º e 9º anos).

O objetivo do projeto é contemplar a direção de arte de forma completa, dividindo-a em diferentes funções e linguagens nos diferentes anos do ensino fundamental para que assim, os alunos gradualmente, recebam um treinamento do olhar tanto para filmes importantes na história do cinema, como para perceber detalhes que englobam a concepção artísticas de um filme ou produto audiovisual. O diretor de arte é o profissional que gerencia, cria e executa a parte visual e artística de um projeto. Ele combina diferentes elementos visuais que resultam na estética de um filme. Dentro das atribuições que lhe cabe, podemos citar a cenografia, a produção de figurino, a produção de objetos, a caracterização de personagens, a maquiagem, a paleta de cores, e é a partir da divisão dessas funções que o projeto contempla todas as séries do ensino fundamental II.

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Os elementos fundamentais do cinema são divididos no papel do diretor, do diretor de fotografia, do roteirista, do diretor de arte, do diretor de produção e da produção executiva.

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O 7º ano tem a proposta da Caracterização de personagem e produção de figurino. Para apresentar o assunto utilizamos como referência o filme Alice no país das Maravilhas (2010), com a direção de Tim

Burton. Como atividade, os alunos devem criar o esboço de uma cena de um filme escolhido por eles em que mostrando detalhes como: Locação, set (onde a cena se passa), quais são os objetos necessários, qual a época, pesquisar contexto, história, ideias e depois descrever e desenhar personagens, caracterizando-o detalhadamente, o que gosta de vestir, o que gosta de fazer. O 8º ano aprofunda a pesquisa, criação e Produção de Objetos. Para tanto, os alunos conhecem o trabalho de produção de objetos em filmes como: O ano em que meus pais saíram de férias (2006) e Cleópatra (1963). Como atividade criativa, os alunos escrevem uma cena e, em grupo, analisam os elementos da cena e produzem esboços considerando como podem contextualizá-la através da cenografia e objetos. Com os esboços feitos, os alunos partem para a “caça ao tesouro” de objetos

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O 6º ano, como série introdutória do projeto, conta com uma apresentação mais detalhada sobre a amplitude da direção de arte no cinema, para que os alunos se sintam contextualizados. O foco da direção de arte para essa série é a Maquiagem e os Efeitos Especiais, e são apresentados aos alunos making of e trechos dos filmes O Labirinto: a magia do tempo (1986) e O Labirinto do Fauno (2006). A ideia é mostrar trabalhos plásticos realizados manualmente na produção de bonecos, adereços, máscaras, sem o efeito da computação gráfica. Como exercício prático e parte do processo criativo, os alunos produzem maquiagens nos próprios corpos.

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criando uma paleta de cores. Ainda com os grupos, os alunos discutem os motivos das escolhas cromáticas pelo diretor de arte tendo, para isso, referências semióticas do uso das cores. Assim, concluída a análise, os alunos compartilham com os demais grupos as suas descobertas, enriquecendo os olhares acerca da temática. Como produção final, os alunos do 9º ano criam uma cena que tenha um ponto de virada e, para apresentá-la usam a paleta de cores como recurso.

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que possuem em casa ou para a produção de objetos inexistentes. Em sala de aula, os alunos montam o cenário e recriam a cena com o apoio dos objetos selecionados e produzidos.

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Como série final do projeto, o 9º ano analisa a Paleta de Cores na produção cinematográfica. Assim, em uma aula no Espaço Cultural, os alunos sentam em grupos para uma atividade de análise trechos selecionados de filmes como: O Show de Truman (1998), Avatar (2009), A Invenção de Hugo Cabret (2011), Edward Mãos de Tesoura (1990) e Viva (2017). Após assistir aos trechos, os alunos criam amostras das principais cores usadas pelos diretores de arte em softwares gráficos,

Faz-se necessário, portanto, ressaltar o trabalho com o cinema nas aulas de arte não apenas como recurso de ilustração mas, também, de criação, especialmente no estudo da direção de arte. Dessa forma, os alunos conseguem atentar seus olhares para a forma como o diretor de arte atua quando se trata da produção de figurino, produção de objetos, contextualização de personagens e paleta de cores, possibilitando também a amplitude da apreciação da linguagem cinematográfica dentro e fora da sala de aula.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo, Pioneira, 1980. AUMONT, Jacques. O olho interminável: Cinema e Pintura. São Paulo, Cosac & Naify, 2004. FARINA, Modesto. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 5ª. Ed.,São Paulo, Editora Edgard Blucher, 2000. GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo, Editora Escrituras, 2008.


Arte e Mundo Contemporâneo Professoras Fabiola Notari e Marina Tranquilin

(CUNHA, 2017, P. 15).

O QUE É ARTE? O QUE É ARTE CONTEMPORÂNEA? É DESENHO? É PINTURA? É INSTALAÇÃO? É PERFORMANCE?

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“NA ARTE CONTEMPORÂNEA, ALÉM DE TRANSFORMAR O ORDINÁRIO EM EXTRAORDINÁRIO, PASSAMOS A TER O NOVO NÃO MAIS CENTRADO NA OBRA EM SI, MAS NOS PENSAMENTOS QUE PODERÃO DESENCADEAR NOS ESPECTADORES. A GRANDE “NOVIDADE” DA ARTE CONTEMPORÂNEA É, ENTÃO, TRANSFORMAR OS SUJEITOS, ANTES ESPECTADORES PASSIVOS, EM SUJEITOS CRIATIVOS, ATIVOS, QUE PARTICIPAM E EXPANDEM SEUS PENSAMENTOS E IMAGINAÇÃO A PARTIR DAS OBRAS”

A eletiva de Arte e Mundo Contemporâneo teve como objetivo trazer possibilidades da arte a partir da linguagem poética e ampliar nos alunos seus olhares e a investigação de novos caminhos dentro desse universo. Nesse trajeto algo que se tornou relevante como ponto de partida foram as questões:

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Cunha (2017), quando reflete sobre tais questões e sobre a transitoriedade que acontece na arte a partir do século XX afirma: “MUITO MAIS DO QUE A JUNÇÃO DE MATERIAIS EXTRAPICTÓRICOS COMPONDO UMA OBRA, BRAQUE E PICASSO DESENCADEARAM OUTRO PENSAMENTO SOBRE OS MATERIAIS E QUESTIONARAM OS TERRITÓRIOS DA ARTE: PINTURA, DESENHO E ESCULTURA, A TRÍADE CLÁSSICA CONSIDERADA COMO AS MAIS IMPORTANTES MODALIDADES DA ARTE ATÉ O INÍCIO DO SÉCULO XX. ENTÃO, A PINTURA QUE, JUNTO COM A ESCULTURA FOI CONSIDERADA COMO O MODO “SUPERIOR” DA EXPRESSÃO ARTÍSTICA, PASSA A SER ADULTERADA EM SEUS MATERIAIS, FORMA E TÉCNICA, E ESSES NOVOS OBJETOS ROMPEM AS FRONTEIRAS RÍGIDAS ENTRE AS DIFERENTES MODALIDADES DA ARTE“ (P. 17).

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Também como busca de respostas, a eletiva de Arte e Mundo Contemporâneo trouxe aos alunos diferentes contextos na história da arte moderna, para que pudessem assim, ao percorrer essa trajetória, entender e vivenciar melhor a arte contemporânea e relacionar suas práticas dentro do cotidiano de cada um.

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Na presente transitoriedade das linguagens nas artes, a pintura se mistura com a instalação, com a vídeo arte, com o desenho, com a escultura e, nesse caminhar, a arte busca no espectador uma postura mais ativa, participativa e não só contemplativa. Essa postura mais ativa também pode ser notada no decorrer das aulas e do processo de criação dos alunos, que foram se tornando mais independentes com seus caminhos e os resultados foram enriquecidos junto da linguagem poética. Ao longo de 2019, quatro professores universitários percorreram alguns quilômetros para estar presentes na eletiva

de artes, que se tornou uma disciplina instigante proposta aos alunos do primeiro ano do Ensino Médio que resultaram em reflexões e práticas sobre arte contemporânea a suas diversas linguagens. A cada encontro, um tema. Diferentes abordagens e práticas artísticas foram propostas com o objetivo de fazer o aluno secundarista desenvolver um pensamento crítico sobre a produção artística moderna e contemporânea, transformando ideias e desmistificando preconceitos sobre o assunto. Para além do lugar comum, as aulas foram construídas e apresentadas pautadas em metodologias ativas, provocando o aluno a uma participação mais intensa em sala e uma postura mais independente no desenvolvimento das atividades propostas para além da sala de aula. As aulas ministradas foram: “Arte, um olhar especial (antropológico)”, “A sociedade burguesa do século XIX e as artes”, “A invenção da máquina fotográfica e seus impactos”, “Os precursores da mudança”, “O impressionismo e as vanguardas artísticas”, “Isso é arte? O mictório e Duchamp”, “A fotografia e as belas artes”, “Os EUA e o nascimento do Jazz”, “O momento do Blues”, “Estudo de caso: o entre guerras e o olhar de Picasso”, “A fotossecessão e a fotografia de vanguarda”, “A fotografia e os meios de comunicação de massa”, “O cinema expressionista alemão”, “O Brasil e o nascimento do Samba”, “Arte, mídia, política e Guerra Fria”, “O Tropicalismo, o Cinema Novo e a literatura”, “Fotografia etnográfica e humanista: documentação de povos indígenas”, “O cinema de Serguei Eisenstein”, “O Rock e o Cinema da Nova Hollywood”, “Festivais, MPB, Bossa Nova e Jovem Guarda”, “Arte contemporânea: o mercado


Além de contar com a diversidade de olhares de professores de diferentes formações, os alunos da eletiva de Arte e Mundo Contemporâneo contaram com duas visitas ao Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo, nas unidades

de Sorocaba e de São Paulo. Nas visitas puderam conhecer as salas, os estúdios, e o ateliê de gravura, pintura e fotografia, vivenciando tanto o espaço como um breve olhar do cotidiano universitário. Assim, entre aulas, visitas e diferentes formas de aprendizagem, formamos o primeiro ano da eletiva de Arte e Mundo Contemporâneo com a alegria da conquista de conseguir contemplar uma amplitude no desenvolvimento do olhar poético dos alunos dentro e fora da sala de aula.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: CUNHA, Susana Rangel Vieira da Cunha. Arte contemporânea e educação infantil: crianças observando, descobrindo, criando. Editora Mediação, Porto Alegre, 2017.

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da arte”, “Fotografia contemporânea I: movimento subjetivo, Pop Art e fotografia conceitual”, “Fotografia contemporânea II: performance, pós-produção e fotografia desconstruída” e “Rock Brasileiro dos Anos 70, 80 e 90”.

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A cultura indígena em diferentes linguagens e representações Professora Adriana Pacheco

POR MEIO DA ARTE É POSSÍVEL DESENVOLVER A PERCEPÇÃO E A IMAGINAÇÃO, APREENDER A REALIDADE DO MEIO AMBIENTE, DESENVOLVER A CAPACIDADE CRÍTICA [...] PERMITINDO AO INDIVÍDUO ANALISAR A REALIDADE PERCEBIDA E DESENVOLVER A CRIATIVIDADE DE MANEIRA A MUDAR A REALIDADE QUE FOI ANALISADA

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(BARBOSA, 2003, P.18).

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Este projeto foi desenvolvido pelos professores Adriana Pacheco, Marina Tranquilin e Rafael Marques. Ao iniciarmos o estudo da arte brasileira, testemunhamos a construção de uma evolução do homem. Desde o início da história da humanidade a arte sempre esteve presente em praticamente todas as formações culturais. O homem que desenhou um bisão numa caverna préhistórica teve que aprender, de algum modo, seu ofício e, da mesma maneira, ensinou para alguém o que aprendeu. Assim, o ensino e a aprendizagem da arte fazem parte, de acordo com normas e valores estabelecidos em cada ambiente cultural, do conhecimento que envolve a produção artística em todos os tempos (BRASIL, 1997). Ao esculpir, pintar e desenhar, o indígena retrata a sua realidade, mas muitas vezes ele inventa outras possibilidades de construção da realidade e a época em que vive. Com a arte o homem passa a transmitir seus anseios, seus desejos, suas frustrações, enfim, sua personalidade.

Os indígenas se expressam através de múltiplas linguagens, nas expressões gráficas e plásticas, a criatividade estética do índio brasileiro se estende, além do corpo, à ornamentação e construção de adornos. Trata-se de uma reiteração de motivos e significados semânticos aplicados ao embelezamento da cerâmica, à estrutura dos tecidos e trançados, à pintura dos

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Quando propusemos aos alunos o estudo da arte indígena, foi com o intuito de aprofundar e resgatar a importância de diversos povos que por vezes estão coadjuvantes em nossa cultura e cotidiano, mas que também fazem parte da nossa identidade brasileira.

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utensílios de madeira e dos implementos de trabalho. Dessa forma, podemos notar que os indígenas demonstram uma preocupação estética para além do valor de uso dos objetos produzidos por eles. Além disso, percebermos que na arte indígena, cada tribo cria identidade própria e esta quase sempre se mostra ligada à vida cotidiana e a elementos rituais, como por exemplo as pinturas corporais, que fazem com que cada grupo ou povo indígena se torne diferente de uma da outra.

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Ainda relacionado à pintura, podemos afirmar que o estudo sistemático das representações gráficas (grafismos) funciona como uma linguagem visual, ou seja, identifica a tribo a qual seu grupo pertence, e assim atuam como códigos de comunicação entre os grupos indígenas.

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Baseados em estudos de diversas culturas indígenas, aplicadas a diferentes práticas pedagógicas em sala de aula, no ateliê de artes e em outros espaços do colégio, oferecemos aos alunos das séries iniciais atividades para que eles pudessem experimentar a construção de grafismos, confecções de instrumentos musicais, pinturas com pigmentos naturais à base de frutos sementes e carvão. Estudamos o simbolismo das máscaras na cultura indígena e resgatamos através da música instrumentos musicais. Adotamos o livro A Floresta Canta de Magda Pucci e Berenice de Almeida para os terceiros anos, a proposta do nosso trabalho foi de aprofundar e mergulhar no universo da cultura indígena e na pesquisa sonora com as autoras.


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Dessa forma, os alunos puderam se apropriar mais da cultura e do significado de movimentos, melodias e ritmos que nos causa estranheza, pelo fato de não ser algo comum em nosso cotidiano. A partir de uma visita em nosso colégio, as autoras proporcionaram um bate papo com os alunos do terceiro ano. As mesmas contribuíram muito com nossos alunos ao contar como foi “viver”, mesmo que durante um período determinado, dentro de várias aldeias. Essa pesquisa baseada no conteúdo do livro, fez com que toda a comunidade refletisse a partir do próprio idioma que falamos, o Português. Tantas palavras, tantos hábitos, tantos alimentos que estão em nosso cotidiano que mal sabemos que são resgates de uma cultura tão importante o qual devemos defender e respeitar, a cultura indígena. Com o olhar musical, durante este período foram desenvolvidos alguns instrumentos que remetem à duas reflexões: A preservação do meio ambiente e a criatividade indígena.

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A partir da construção de Agogôs com recursos alternativos como bambu e latas

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de metal, os alunos puderam entender que nesse instrumento havia a natureza (bambu) e o amor pela natureza (o reaproveitamento), o que fez apropriar-se ainda mais dessa reflexão e desse projeto. Aproveitando essa abordagem, os alunos também confeccionaram os Maracás, que tiveram muito destaque na apresentação da festa junina com a canção Zana Makatipa do povo Kambeba. Com os quintos anos, um dos projetos realizados foi o da confecção da tinta com urucum e da pintura sobre tecido de algodão com representações criadas pelos alunos a partir de estudos sobre as diversidade da cultura indígena. O projeto interdisciplinar de ciências e arte foi desenvolvido em espaços fora da sala de aula. A produção da tinta de urucum foi realizada no espaço do quintal, junto com a professora Renata (Ciências) e o desenho e pintura do tecido foi feito nas aulas de arte com a professora Marina. Como resultado final, os alunos tiveram seus trabalhos estampados em camisetas e estas foram utilizadas por estes no evento da festa junina, no momento da dança, que também contou com a temática da cultura indígena.


Estampas pintadas com tinta de urucum e de terra, confeccionadas pelos alunos dos quintos anos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação: leitura no subsolo. 6ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2005. BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2003. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte/Secretaria de Educação Fundamental.- Brasília: MEC/SEF, 1997. BUORO, Anamelia Bueno. O Olhar em Construção. Uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. 6ªed. São Paulo: Cortez, 2003.

ESTATUTO DOS POVOS INDÍGENAS: Proposta da Comissão Nacional de Política Indigenista. Brasília, 5 de junho de 2009. Disponível em http://www.funai.gov.br/arquivos/conteudo/presidencia/pdf/EstatutodoIndio_CNPI/Estatuto_Povos_Indigenas-Proposta_CNPI-2009.pdf, acessado em 10 de dezembro de 2015.

ANUÁRIO 2019

CALABRIA, Carla Paula Brondi. Arte, história e produção: arte brasileira. São Paulo: FTD, 1997.

PUCCI, Magda; de ALMEIDA, Berenice - A Floresta Canta! - Uma expedição sonora por terras indígenas do Brasil; Editora Peirópolis.

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COLL, César; TEBEROSKY, Ana. Aprendendo Arte. São Paulo: Ática, 1999. DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Por que arte educação? São Paulo: Papirus, 1991.


Festival das Letras: Conexões literárias em busca de um olhar artístico-cultural

ANUÁRIO 2019

Coordenadora Pedagógica Patricia Pegoraro

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O Concurso, parte do Festival das Letras, visou estimular nossos alunos a expressarem sua criatividade por meio da poesia, gênero literário aberto, de amplitude simbólica, valorizado na matriz curricular do Colégio e na Base Nacional Comum Curricular. (BNCC, 2018) Além do concurso de poesias, o Festival contou com exposições, apresentações lítero-musicais, sarau, declamação de poemas, apresentações de teatro, dança e coral. A noite foi o resultado de um trabalho construído ao longo do ano a muitas mãos: os projetos literários foram detalhadamente pensados e definidos no início do ano pelos professores e pela coordenação pedagógica, embasados no currículo das diferentes disciplinas e nas 10 competências gerais elencadas na BNCC. No decorrer do ano, os alunos puderam colocar em prática, além das habilidades construídas nas aulas de Língua Portuguesa e Inglesa, as habilidades desenvolvidas nas

aulas de Arte, Música, e Cultura Maker, valorizando o aprender a aprender. No Ensino Fundamental II, as competências gerais da Base Nacional estão presentes em habilidades, atitudes e valores a serem trabalhados dentro de cada área do conhecimento e componentes curriculares específicos. Quando transpomos essas competências e habilidades a um projeto interdisciplinar como o Festival, transformamos os alunos em protagonistas de suas ações e autores de suas próprias produções. Uma das competências desenvolvidas neste projeto é o Repertório Cultural, em que “Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural”, se faz presente em todo o projeto. Para promover isso, precisamos exercitar outra competência, também elencada na Base, a Empatia e a Cooperação. O trabalho em grupo precisa “Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendose respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza”.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: BRASIL. Base Nacional Comum Curricular, 2017. Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov. br/. Acesso em 15/11/2019.

ANUÁRIO 2019

O Festival das Letras se configurou como um espaço de livre circulação de ideias, em que seus participantes puderam valorizar a leitura e a escrita nas línguas Portuguesa e Inglesa. Sob o tema “Conexões literárias”, em 2019, o Festival contou com a participação dos alunos e de suas famílias, professores, equipe de gestão e toda a comunidade escolar.

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CATEGORIA EFII (6º ano) 1º LUGAR

2º LUGAR

Caroline Alcântara Rubio

Isadora Gomes Morad

6º ano C (Albatroz1232)

6º ano B (claraboia 990)

RECANTO DE FADAS

COMO A VIDA PASSOU?

Contos de fadas são histórias encantadas Lugares e personagens fora de realidade Mas suas lições e ensinamentos Transmitem muita verdade

Há dois minutos eu nasci Em trinta segundos já cresci. O que acabou de acontecer, Estou perto de esquecer.

Branca de Neve, por exemplo, foi descuidada Aceitou de uma estranha, um presente fatal Comeu a maçã que estava envenenada E caiu para sempre em um sono mortal

Como o tempo voou? Como o momento passou?

Um rei muito vaidoso, quis sua vaidade mostrar O melhor tecido, ele queria comprar Dois trapaceiros conseguiram o enganar Pelas ruas, o rei foi nu a desfilar Pinóquio, o boneco de madeira Só se metia em confusão Passou por vários apuros Por não ouvir a voz da razão Dois porquinhos preguiçosos não quiseram se esforçar Usaram palha e madeira para as casas construir Queriam logo terminar para poder brincar O lobo, com um sopro, conseguiu tudo destruir

ANUÁRIO 2019

Todo final começa com um “era uma vez” O importante é entender cada recado Colorim, colorado Este poema está terminado!

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Ao olhar no espelho sinto desespero, Quando olho fotos que dizem ser antigas Mal me reconheço. Como a infância passou? Como recuperar o que se perdeu? Na montanha russa que é a vida, De tudo perco, de tudo ganho. Mal percebo meu tamanho. Olha mãe eu já sou grande, Olha pai eu já cresci, Mas com vocês eu aprendi Que tem que aproveitar cada minuto, Cada segundo, cada momento E aprender com o aperto. Como deixei a vida passar? Agora meu próprio rumo eu vou tomar.


3º LUGAR

4º LUGAR

Laura Capriotti Camargo Barros

Letícia Marques Bastos

6º ano A (Amanda)

6º ano D (Likeala)

Telas, tintas e pincéis em abundância Entre eles existe uma bela semelhança Todos são usados por gente criativa Tantas obras, algo que cativa Um artista normalmente se supera Um céu, estrelas, melhor uma constelação Quem sabe no museu irá “morar” Ou em um grande leilão será vendido por milhões Mas se na casa dele ficar... Ele não desiste, continua a tentar Pois uma hora, o dia dele vai chegar Ele entende Que é uma pessoa um passo à frente Que muda a expressão de cada gente Que tem um dom diferente Muitas coisas em sua cabeça Uma paisagem ou algo que pareça... Certos quadros demostram tanta beleza Muitos se emocionam com certeza Transmitem tantos sentimentos diferentes Que podemos ver nas lágrimas de muita gente O artista tem muito o que pintar Pois uma de suas obras você vai amar E naquele dia triste, ao olhar uma delas, Seu coração cheio de emoções irá ficar E não precisará de mais nada, na verdade, Para sentir felicidade...

ONDE ENCONTRAR O AMOR? Alguns andam com amor Eu só carrego a dor Meu coração machucado Sempre estará quebrado Existe amor verdadeiro? Não, só interesseiro Será que já existe uma pessoa Que é verdadeiramente boa? Todo meu coração Foi algo criado em vão Alguns falam de beleza Eu represento a tristeza Quando penso na vitória Nos momentos de glória Começo a chorar Será que eles nunca vão voltar? Acho que nunca mais Não sou mais capaz, Pois não penso em alegria Apenas na minha triste covardia

ANUÁRIO 2019

O ARTISTA PLÁSTICO

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CATEGORIA EFII (7º ano) 1º LUGAR Maria Luiza da Silva Freitas 7º ano B (Chico Buarque)

CRIANÇA Perdi-me na fraqueza de seu olhar, e desse maravilhoso mundo não quero retornar... Seus olhos são estrelas que me guiam até o fim do mar mais distante onde as temperaturas caem e nossos caminhos se desviam. Não quero voltar ao mundo real. A esse mundo cheio de dor, Ódio, discórdia e temor. Onde indivíduos se julgam por sua individualidade. Não quero voltar a esse mundo de preconceito, onde pessoas se odeiam apenas por conceitos onde não há respeito, e a opinião alheia é tratada com despeito. A franqueza no olhar de cada criança, me traz cada vez mais esperança, por ver a sinceridade em seu olhar, vendo que um dia, a justiça e a paz irão chegar.

ANUÁRIO 2019

Cantos e cantos por todos os lados, brincadeiras no queimar do asfalto. Ser criança é algo mais importante do que parece. Deveríamos deixar nossa “criancice” falar mais alto, assim a felicidade estaria em sobressalto.

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Como Chico Buarque disse: “Guarda-me, Como a Menina dos seus Olhos. Ela é a Tal, Sei que Ela pode ser Mil, Mas não existe outra igual”. Não existe nada igual, que aquilo que guardas nos olhos. Deixe o interior fluir, pois ele sim é o tal. Em relação ao preconceito, precisamos ter mais respeito. Precisamos ter nosso lado criança para poder viver, mas também é preciso crescer para aprender, e ter um compromisso com você.


2º LUGAR

3º LUGAR

Sofia Farinelli Gonçalves

Isabela Cersossimo Davis

7º ano D (Docinho)

7º ano B (Ocean)

MELHOR AMIGO

AMIZADE VERDADEIRA

Melhor amigo É aquele que está sempre ao seu lado Em momentos bons ou ruins Fazendo o certo ou o errado

Uma amizade verdadeira, é aprender a confiar, é ser leal, é saber a hora de perdoar.

Melhor amigo É aquele que só amigo não é Mas sim irmão de outra mãe, não é?

Estar ao lado nos momentos bons e ruins. Dar um tempo para respirar. Uma amizade verdadeira, é nunca abandonar.

Melhor amigo É aquele que te entende só pelo olhar Que nem o tempo ou a distância vai separar É aquele que vai fazer você rir para não chorar Melhor amigo É aquele que se um dia magoar No próximo já vai ter voltado a te amar Melhor amigo É aquele que você conversa por horas E nem vê o tempo passar Disso não tem como não gostar

Amigos reais, nós temos poucos. São aqueles que te fazem sorrir todo dia, os que você tem medo de perder. Amizades assim, podem te surpreender. Trazem amor, felicidade e risadas. Te fazem feliz. Amizades não precisam ser perfeitas, apenas verdadeiras.

ANUÁRIO 2019

Melhor amigo É aquele que nunca vai te abandonar E a sua vida, vai marcar

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4º LUGAR

5º LUGAR

Júlia Castelo Branco Pombo

Aya Sofia Scholtens

7º ano D (Florzinha)

7º ano D (Lindinha)

SONHOS Sonhos são parte da minha rotina Para mim não existe o impossível Todo sonho pode ser cumprido Se meu sonho é voar Vou criar asas e sair pelo ar Se meu sonho é sonhar lúcido Vou sonhar que controlo o mundo Se meu sonho é ser uma sonhadora Vou sonhar que os dias são noites E que as noites são dias Que o possível Torna-se possivelmente impossível

ANUÁRIO 2019

Um sonho não se desperdiça Se luta Se conquista Sonhe mais Sonhe que você é capaz

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NOSSO MUNDO, NOSSA RESPONSABILIDADE Nesse mundo há a guerra e a paz E na situação de hoje, não aguento mais É tanta violência O mundo está em subsistência Tem tantas qualidades Mas estão destruindo nossas cidades O nosso problema é a desigualdade Mas as florestas não vamos deixar pela metade A terra vai morrendo E assim ela vai me dizendo Vamos lá, o que temos a perder O nosso planeta temos que defender


CATEGORIA EFII (8º/ 9º ano) 1º LUGAR

2º LUGAR

Gabriel Felipe Oliveira da Silva

Manuella Rozette Pires

9º ano D (Lil Sabs)

8º ano C (Li)

Ser ou não ser? Eis a questão Era o que sempre se perguntava João Menino pobre que vivia de água e pão Mas comia todo dia? Dia sim, dia não Sempre dizia: algum dia eu terei minha razão! Sonho de criança, triste, ilusão... Nasceu na periferia Perfeita correria Carro? Só se for na carroceria Nessa situação ele quase vira ateu Mas o moleque ainda confia em um Deus Preto desde nascença, escuro de sol Tava pra ver ali igual no futebol Ficava pedindo dinheiro no farol Qualquer coisa, podia ser até um lençol E sua mãe? Ele não sabe Nasceu na rua, vê se cabe Originado da favela Mas não, ele nunca usou droga Não apela Pela vida dos outros ele zela Chegou nos 12, a vida complicou Num tiroteio ele se meteu Foi ajudar o velho que se envolveu E acabou que ele se matou Sua vida não foi nada boa Nasceu pra viver atoa

REALI(SOCIE)DADE olho para o lado uma confusão total tiroteio na escola, roupa no varal às vezes me pergunto: será esse o inferno real? crianças trabalhando a biodiversidade acabando e os outros se matando, pois não estão se aceitando tem algo errado com o mundo a compaixão caiu em um buraco bem profundo ninguém mais se respeita a única coisa que querem é fingir que tem uma vida perfeita homofobia, racismo, roubo, traição começaram a olhar para dinheiro pararam de olhar para o coração a sociedade é doentia uns queimam a floresta outros dão tiro na testa agora eu te pergunto: o que ainda nos resta?

ANUÁRIO 2019

SER OU NÃO SER

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3º LUGAR

4º LUGAR

Luiza Rajczuk Quége

Gabriela Ribeiro Balas

8º ano B (Dr. Semana)

8º ano B (Doce de outono)

GAIOLA

D DE DESIGUALDADE

O passarinho na gaiola, O poeta sem amar, O leigo na escola, O pulmão sem ar.

Tudo no começo era um só Mas com a semente da desigualdade o mundo se dividiu Por disputa de poderio.

O passarinho na gaiola, A curva linear, O músico sem viola, O sofisticado senso vulgar. O que falta nesta história? Sonho, ousadia ou dança? O que falta é esperança.

Sempre tendo os subalternos que sofrem aos seus pés Escravos, indiscretos escancarados Será mesmo que foi esse o mundo que o homem construiu? E a semente por aqui se plantou E assim começa a história do rico e pobre que se alastrou Eles fingem que são esfinges Só para não ver a desigualdade que já está a acontecer. Enquanto uns têm tudo aos seus pés todos os dias Outros não têm dinheiro para o pão de cada dia Sapato plataforma pra pisar em você 24 horas por dia sem descanso, só trabalho, esse é o horror que vivemos dia a dia.

ANUÁRIO 2019

Tudo sujo, tudo limpo, dois mundos em um só Um marginalizado e um exaltado Todos nós vivemos juntos, porém segregados Pedimos ajuda por favor Será que nesse mundo ainda há amor?

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5º LUGAR Maria Luiza da Silva Freitas 9º ano C (Pérola)

CORAÇÃO DE ESTUDANTE Há tempos, O tempo constrói caminhos para o vento, Verdadeiras estradas a serem trilhadas, Basta foco, Basta ação, Basta percepção É árduo, requer perseverança Mas, é dessa aliança Que se alcança o sonho.

ANUÁRIO 2019

E, o sonho... Ah! Esse viaja no tempo, Requer sentimento Mas, na hora certa, lá está ele no vento Que o tempo nos mandou, Para trilharmos os caminhos, Que nos deixa ir Realizar nossos sonhos e seguir.

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Relatos de um sarau…Um sarau histórico, a história de um sarau

ANUÁRIO 2019

Coordenadora Pedagógica Daniela Almenara

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Trabalho em equipe. Grupo. Interdisciplinaridade. Trânsito. Talentos em sintonia. Nunca as palavras dos documentos e das teorias fizeram tanto sentido quanto na realização do Sarau 2019 do Ensino Médio. Desde as primeiras reuniões, ocorridas no início do ano, até a data das apresentações, o sentimento e as ações de partilha dominaram todas as etapas de

concepção e execução do evento. Por isso, este relato introdutório é breve. É apenas o apontamento do quão imensa será a construção que se descreve a seguir. Para os gestores e colaboradores, fica o registro do sentimento de gratidão e dever cumprido. Orgulho e emoção. O Sarau 2019 estará sempre na história do colégio e de cada um.


APRESENTAÇÕES Professora Adriana Paiva

Na primeira etapa, conversas, reflexões e escolhas sobre quais apresentações realizar. Uma sugestão de dança aqui, seleção de música ali, versos que foram saindo de diversos poros… Uma vez aviadas as combinações e os ensaios realizados, hora das apresentações, estas que simbolicamente foram abertas com a leitura da lenda do Uirapuru, narrativa mítica que descreve a história da jovem indígena que, sofrendo por não ver concretizado seu amor por um guerreiro de sua tribo, teve seu pranto transformado em canto ao ser transfigurada em um pequeno pássaro com grande poder: trazer felicidade a quem o ouve. Leitura que foi enriquecida com uma apresentação de balé elaborada e executada pela aluna Ana Laura Bellini que, representando o Uirapuru, “o pássaro que não é pássaro”, encantou a todos com seus movimentos suaves e perfeitamente sincronizados com a composição homônima de Villa Lobos. A noite seguiu com leitura de versos que abordaram a história e a identidade indígena. Poemas que compreenderam nomes tanto

de poetas consagrados, como Gonçalves Dias, quanto de novos poetas: nossos próprios alunos. Diferentes versos que foram declamados por meio de jograis e leituras que uniam fala, canto e percussão que buscaram representar a força indígena. A junção palco, meia luz e muitas vozes ainda contou com interpretações de diferentes composições que abordaram a relação entre os portugueses e indígenas e o resultado brutal desse encontro. Além de um momento de reflexão sobre a questão do desmatamento em território indígena e de dança que buscou por meio de movimentos, pintura corporal, adornos e leituras, prestar uma homenagem a diferentes etnias indígenas presentes em diversas regiões, como América do Sul e Oceania. E o que ficou explícito durante todo o processo de elaboração e execução da apresentações de palco foi a união: uma voz que se uniu a outra, um violão que se harmonizou com o baixo, leitura que se juntou ao canto, versos que sincronizaram com percussão, leituras que se entrelaçaram com dança clássica e contemporânea. Pequenas costuras que formaram uma grande colcha que conseguiu envolver a todos que estavam presentes no Sarau 2019. Costuras que não apenas salientaram as diversas habilidades artísticas de nossos alunos, como também o quanto são sensíveis, conscientes e reflexivos acerca da identidade cultural de seu país.

ANUÁRIO 2019

Colcha de retalhos é o que bem define as apresentações de palco do Sarau 2019. Uma vez decidido o tema que guiaria o evento, os alunos foram se unindo e pensando em pequenas apresentações que conseguissem sensibilizar a todos sobre a necessidade de se valorizar cada vez mais a cultura indígena de nosso país.

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ALGUNS POEMAS DECLAMADOS Lenda do Uirapuru (autor anônimo) “Numa linda ave lhe transformarei. Voarás pela floresta e seu pranto, agora transformado em canto, terá o dom de curar a sua própria tristeza e de todo aquele que o escutar”. Agora Uirapuru, “pássaro que não é pássaro”, voa, voa... e quando canta, toda a floresta silencia para seu pranto/canto admirar.

Seivoso sangue (aluna Larissa G. Rosa) 22 de abril de 1500 Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Brasil. Descobrimento? Eurocêntricos. A terra já nos pertencia. 5 milhões de Tupinambás, Tupiniquins e Aimorés. Monte Pascoal nos revelara. Pedro, seu desvio custou nossa paz. Seu desígnio era Índia, Calicute. Espelhos, apitos, espadas, ferro. Cativados, artefatos foram motivos de agrado. Tal compensação foi a árdua faina extrativista da marcante cor retida em árvores que dispúnhamos.

ANUÁRIO 2019

O bote indígena (aluna Ana Cristina Henrique)

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1, 2, 3 indiozinhos, Mais de 305 etnias. 4, 5, 6 indiozinhos, A sensação é de pura agonia. 7, 8, 9 indiozinhos, Perdendo a sua cidadania. 10 no pequeno bote, Percebe a ironia? Como demarcar no direito, Porcentagens para quem ocupava o Brasil inteiro? Como negar o histórico, De uma exploração notória?


Nem tudo são flores. Não mais. (alunas Laura Marcello, Luísa Nogueira, Luiza Facciolli e Sophia Rubel) Nossas vidas antes eram coloridas muitas plumas e ornamentos hoje o que sobra são lágrimas escorridas e o sangue de nossos ferimentos. Em chamas, reduzida está nossa casa cada vez menor o quintal da nossa história por mais agressiva que seja a dor da brasa nenhuma supera a de perder memória. Violência e escravidão vestidos com camisa de urucu a única coisa que nos restou foi o triste canto do uirapuru. Hoje vivemos num mísero território já que o resto nos foi tomado por acaso se orgulham de ver que quase nada nos tenha restado?

Identidade (aluno Henrique Pereira)

Tentaram me cobrir Extrair minha essência Mas mirar alma tão nua Outrora vestida No espelho que me foi atirado Aquilo não me convinha Eu almejava identidade Concebi, então, a resistência.

ANUÁRIO 2019

As cores transcendem minha pele É em minha arte que me vê o mundo

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ESPAÇOS ARTÍSTICOS Professora Denise Sarmento Sabemos da relevância e contribuição dos povos indígenas para a constituição daquilo que entendemos como Arte, assim como compreendemos que o espaço escolar é terra fértil para grandes discussões e enriquecimento cultural como forma de ir muito além do imaginário e estereotipagem construída através do silenciamento dos povos indígenas. Na performance artística “Pajé-Onça”, o artista indígena Denilson Baniwa, denuncia as escassas páginas destinadas à produção artística ameríndia nos livros mais tradicionais da história da arte. Analisando essa performance, o conjunto da obra do artista que tanto nos inspirou e os questionamentos por ele levantados, surge o fio condutor do trabalho do SARAU para as aulas de arte: “Uirapuru é terra indígena”, uma alusão à performance “Terra Indígena”, do mesmo artista, apresentada em diversas cidades no Brasil.

ANUÁRIO 2019

Assim, com a intenção de “mudar a lente” e jogar luz no protagonismo artístico indígena, as aulas de Arte percorreram caminhos e criaram conexões entre o tradicional e o contemporâneo.

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Por meio de uma divisão das turmas e escolha dos temas, os alunos realizaram pesquisas das diversas manifestações artístico-culturais indígenas, levando em conta as mais de trezentas etnias existentes em nosso país e procurando entender como essas manifestações acontecem, respeitando as suas diversidades. Para materializar essa pesquisa os alunos criaram instalações em mesas artísticas que ocuparam o saguão da entrada do nosso

SARAU, convidando o visitante a interagir com as mesas, sentindo seus cheiros, texturas, sabores, sonoridades, cores e formas. Um espaço de criação coletiva foi montado com a representação de tartarugas em argila criada por todos os alunos do primeiro e segundo ano do Ensino Médio. A tartaruga é símbolo de sabedoria e longevidade para diversas etnias indígenas e, assim, com o feitio de cada tartaruga, celebramos os conhecimentos vindos de nossos antepassados com essa poética instalação. O acesso ao segundo pavimento do SARAU foi palco para mais um trabalho coletivo: os degraus da escada foram cobertos por desenhos produzidos pelos alunos que remetiam às pinturas corporais indígenas. Para essa construção, os alunos usaram a mesma paleta de cores tradicionais obtidas na extração de pigmentos do jenipapo e urucum. Assim, texturas em preto e vermelho emolduravam a frase principal, onde a grafia do nome do colégio foi alterada para o guarani “Wirapu’ru” como forma de convidar o visitante a também refletir sobre a origem do nome da nossa escola.


ESPAÇO DE ARTE E MUNDO CONTEMPORÂNEO Professora Marina Tranquilin Entre aulas dialogadas e processos criativos variados, os alunos da eletiva de Arte e Mundo Contemporâneo criaram um espaço composto por poemas e imagens, elaborado a partir de aulas com os professores de Arte, de Fotografia e de Música, que juntos trabalharam atividades relacionadas à temática do Sarau. O envolvimento dos alunos tanto nas atividades que antecederam o Sarau como no dia da montagem e no momento das apresentações ajudaram a tecer essa colcha de alegrias, habilidades e talentos que resultaram nesse evento envolvido pela poesia, passeando pelas artes visuais, pela dança, pelo teatro e pela escrita.

condição indígena que não poderiam ser ignorados em nosso trabalho. Todo o processo de elaboração foi colaborativo. Dada a ideia embrionária “vamos fazer uma Escape Room”, outras mais elaboradas começaram a surgir nas discussões em sala de aula. Contudo, era preciso, antes, definirmos temas e equipes e para isso contamos com o apoio da tecnologia, fizemos votações online entre os alunos da 2ª série do Ensino Médio, responsáveis pelo projeto. De tudo que foi debatido em aula, restaram os 04 temas vencedores: 1 - Povos extintos, 2 - Povos no Brasil hoje, 3 - Indígenas e a Constituição, 4 - Terras indígenas: demarcação e proteção.

ESCAPE ROOM Professora Ana Carolina Benzoni

Tema rico e paradoxal, tão parte de nossa raiz e matriz cultural e tão distante de nossa realidade. Como, então, trazer à tona essa multiplicidade de aspectos envolvidos na questão indígena em nosso país: as diversas línguas, as diversas etnias, as diversas culturas? É preciso “conhecer” para desenvolver a empatia; quando o outro nos é “estranho”, seu problema não é nosso porque não nos identificamos com ele. A Escape Room surge, então, como resposta ao desafio de aproximar alunos-autores e público do Sarau a aspectos ligados à

Divididos os grupos entre os temas, o desafio foi aprofundar estudos e pensar em uma forma de elaborar os enigmas de modo a trazer ao público algum conhecimento sobre cada assunto. Nossa sala não deveria servir “apenas” ao entretenimento, ela precisaria colocar o público em contato, mesmo que breve, com cada uma das temáticas.

ANUÁRIO 2019

Quando definimos, no início do ano letivo, a temática do nosso Sarau, houve um misto de expectativa e preocupação. Há muito o que se falar sobre Cultura e Povos indígenas, se não quisermos cair no lugar comum das generalizações equivocadas que, ao invés de clarear as mentes, contribuem para obscurecê-las ainda mais.

Do processo de pesquisa à montagem da sala, tudo foi feito pelos alunos que se

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responsabilizaram pelo projeto. Em reuniões após as aulas, socializamos as pesquisas e os protótipos dos enigmas, idealizamos como eles estariam dispostos na sala, em qual ordem deveriam ser resolvidos. Para tornar a ideia viável, recorremos mais uma vez à tecnologia como aliada, e o “passo a passo” dentro escape room foi ditado por um formulário elaborado na plataforma Google; ele dava a ordem de comando para decifrar o enigma em cada mesa e aceitava apenas a resposta correta como chave para liberar a próxima ordem.

ANUÁRIO 2019

Esse trabalho envolveu mais de uma área do conhecimento e diversas habilidades: leitura e compreensão de textos, pensamento estratégico, raciocínio lógico, empatia, saber ouvir e compreender o que o outro tem a dizer, capacidade de expressar-se oralmente e por escrito. Como já disse Lygia Fagundes Telles, a espera para o baile é muito mais emocionante do que o baile em si; assim foi com a nossa Escape Room: sua idealização, formatação e elaboração proporcionou aos alunos envolvidos oportunidade de lidar com novos desafios, resolver problemas e despertou neles o orgulho de mostrar sua obra ao mundo.

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Essa foi a sensação que ficou ao final desse projeto: levamos ao Sarau textos e imagens sobre um lado dos indígenas que nem sempre visto e que foge dos estereótipos envolvendo cocares e arcos e flechas. Para conseguirmos isso, foi preciso antes mudarmos nosso próprio olhar, “quebrarmos” as barreiras invisíveis que não só separam as áreas do conhecimento, mas também nos separam de uma parte da nossa própria história. O saldo de toda essa dedicação é, sem dúvida, positivo. E, se os meninos se orgulharam do projeto finalizado

que mostraram ao mundo, nós, como educadores, nos orgulhamos do que eles se tornaram durante todo o processo.

TEATRO Professor Gustavo Vieira O teatro do indígena. O teatro dos alunos. O teatro do Sarau. Sinônimos não idênticos de um processo de emancipação e profunda reflexão. A princípio, quem somos? O que somos? Por que somos? Na sequência, um uníssono e ensurdecedor coro ecoou: somos frutos de uma tragédia! Nisso nasceu aquilo que por todos foi batizado de “O encontro de dois mundos” (indígena/português). Todavia, o processo incomodava... inquietava... e uma pergunta não calava: como encenar uma tragédia? Como encenar a tragédia de si mesmo? E não foram as respostas, mas as perguntas, que fizeram o elenco se permitir e encontrar, imerso em dores, marcas e empenho, uma expressão que, para além do verbo, valorizasse os sentimentos.


CARTA ABERTA Professora Mônica Miliani Martinez a carta estava longa e, em um mutirão linguístico, reescrevemos o texto que julgávamos final, ou seja, vivemos a oficina de texto em toda sua tensão e potencialidade. Essa é a nossa língua: viva, feita por relações entre interlocutores, que precisam se compreender minimamente para o ato enunciativo acontecer - e nós realmente tínhamos apenas um objetivo: fechar o sarau de forma a agradecer a oportunidade de discutir os povos e a cultura indígena. No ensaio final, então, a magia aconteceu e conseguimos ritmar nossas falar, modular nossas sentenças e unir nossas vozes em nome de um evento que marca o ano letivo do Ensino Médio. O resultado foi espetacular, caloroso e cheio de Vida, pois somos outras pessoas após esse processo e honramos o que defendemos: exercitamos uma educação democrática, inclusiva e, especialmente, afetiva.

ANUÁRIO 2019

Foto: Susana Costa (mãe da aluna Ana Luiza Costa Neder)

A elaboração da carta aberta foi, desde sua concepção primeira, pensada em grupo, tanto em seu aspecto verbal como em seu aspecto imagético, pois a aluna Ana Luiza desenhou uma mandala com temática tribal e cada um dos escritores coloriu a ilustração com seus sentimentos. O texto nasceu de uma situação de produção coletiva e ganhou forma a partir dos pilares que regem o curso de redação do Colégio Uirapuru. Primeiramente, escrevemos um projeto de texto, dividindo a carta em temáticas capazes de guiar a audiência pelo percurso dos nossos argumentos. Em um segundo momento, exercitamos a reescrita, em alguns encontros presenciais e à distância, para discussões sobre a melhor linguagem, as estruturas sintáticas mais potenciais para a proposta, além da escolha lexical precisa, entre a sensibilização e o impacto socioemocional. Em um terceiro momento, no ensaio inicial, notamos que

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CARTA ABERTA Escritores: Amanda Kappke Lucano, Ana Luiza Costa Neder Serafini, Ana Paula Guzzela Maluf Dias, Bernardo Henrique Mendes Corrêa, Daniela Annunziata Masaro, Gabriela Garcia Blanco, Giovanna Mazuqui Lourenço, Juliana Latuf, Laura de Almeida Mendes, Maria Luiza Tenório de Aguiar, Santiago de Matos Fernandez Perez, Thaís Ayumi Birque (estudantes da Terceira Série do Ensino Médio) e professora Mônica Miliani Martinez

ANUÁRIO 2019

Nove de outubro de 2019. Colégio Uirapuru. Encerramento de um sarau que ofereceu a todos, alunos e professores, a chance de homenagear nossos antepassados. Pedimos que ouçam nossa carta aberta, dedicada aos povos indígenas, honrando sua tradição majoritariamente oral; aproveitem para exercitar os ouvidos e o coração…

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"Já de início é preciso contestar o imaginário social do "índio" - ou indígena brasileiro - e a representação (equivocada) sobre esse sujeito na sociedade brasileira. Essa representação social dos povos indígenas é permeada por um discurso colonial que lhes destina um espaço subalterno, periférico e marginal. O resultado é uma visão hegemônica estereotipada e distorcida: povos indígenas são atrasados, primitivos, preguiçosos, entraves ao desenvolvimento social e econômico do país. E o que índios são e podem ser de fato? Advogados, médicas, professoras, enfermeiros, cineastas, músicos, políticos, guardiões da floresta, mulheres, crianças, homens, líderes, gente comum. São e podem ser, enfim, tudo o que cabe na diversidade da sociedade brasileira. Afrontar a ideia do índio incivilizado, incapaz de acompanhar as tendências e mudanças do mundo, é fundamental".

Abrimos essa carta aberta com a voz de uma das principais lideranças da luta pelos direitos dos indígenas, Sônia Guajajara, da terra Arariboia, no Maranhão. Abrimos essa leitura e unimos as vozes, já que somos o povo brasileiro, um povo que acredita na educação democrática e transformadora capaz de reconectar nossa ancestralidade, trazendo a cultura para o centro, para assim reconhecer nossa diversidade. Nessa noite/, o objetivo central dessa reflexão/ é pensar a integração dos povos como cura/, não como domínio e silenciamento. A diversidade cultural indígena não é acessada por aqueles que não pertencem (ou fingem não pertencer) a essa lógica: o homem branco considera a vida indígena como feita a partir de uma única cultura, desconsidera suas diferenças, suas particularidades, elementos que fazem da aura indígena um universo particular de extrema beleza. Talvez seja por isso, como nos contou Daniel Munduruku, que a palavra "índio" - um apelido generalista/, carregado de uma memória excludente foi imposta como uma maneira de afastálos da sociedade brasileira. Não existem índios no Brasil - há, sim, o povo Guarani, o povo Kaingang, o povo Munduruku, o povo Tupinambá, o povo Yanomami, entre tantos outros.


O que se pode notar, com clareza, é que o bilinguismo, entre o português e a língua geral, tinha uma função central: incluir os índios na civilização desde que as diferenças socioculturais fossem apagadas. Sim, apagadas.Tão apagadas que, em termos históricos, aos portugueses é natural e óbvio ter a língua portuguesa como

língua nacional: português tanto designa o povo quanto a nação. Na colônia Brasil, no entanto, não se reproduziu exatamente a naturalização do que havia na metrópole, embora a colonização estivesse voltada exatamente para tal reprodução. Chega! Chega! Chega de apagamento! Porque a terra é um direito de todos! Terra é força. Terra é história. Terra é cultura. Terra é vida. O direito indígena à terra é, antes de mais nada, a sua sobrevivência e a nossa responsabilidade, e a invasão das suas terras é, assim, uma violação aos direitos. A infração de terras indígenas é uma involução em nossa história, é desconsiderar conquistas, é desumanizar, é desconstruir, é romper. É disseminar a violência e o ódio, assim como foi no passado, justamente por não rememorar a história, por não trabalhar a memória coletiva, tornando-a distante, efêmera, esquecida. E erros esquecidos/ estão fadados a serem repetidos. Em tempos de revisionismo científico, contestação e obscurantismo histórico, é mais que necessário, é um dever lembrar, relembrar para manter, construir e reconstruir. Sob o peso da história/, somos réus. Somos também sujeitos e objetos, regemos e somos regidos, construímos e somos construídos, portanto, somos também responsáveis.

ANUÁRIO 2019

E, debruçados sobre a nossa história como nação, perguntamos: existe uma ação mais violenta que impedir um povo de falar sua própria língua? Não, não existe. A nossa língua, que deveria se chamar Língua Brasileira, têm caráter híbrido e multifacetado. Até o século XVIII, a linguagem, enquanto elemento simbólico e constitutivo de qualquer comunidade linguística, era um elemento de diferenciação da colônia brasileira relativamente à metrópole portuguesa: de um lado, o Português, como língua da administração, das autoridades, dos donos das capitanias, dos religiosos; de outro, as inúmeras línguas indígenas, entre elas a língua Tupinambá, falada na costa, genericamente chamada de língua brasílica, e a língua geral, com fins de catequese, na tentativa de padronizar uma comunicação que por si só é excludente, pois o Brasil nunca foi uma unidade - ele sempre foi/, é/ e será/ diverso.

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ANUÁRIO 2019

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, consta no Artigo 4°: "a escravatura/ e o trato dos escravos/, sob todas as formas/, são proibidos". No passado de nosso país, tratamos como selvagens o diferente, exploramos suas riquezas e suas fraquezas, escravizamos em nome do lucro. Sob a égide da Constituição Federal de 1988, o Artigo 231, os índios são tardiamente reconhecidos pela "sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam", competindo, ainda, "à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens".Embora essa lógica seja garantida por lei, a prática aponta para uma realidade sombria: esse direito/ não passa de um privilégio…

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Aqui, em 2019, abrimos a caixa de pandora da destruição com a seguinte pergunta: por que/, então/, devemos demarcar as terras indígenas? Demarcar para assegurar direitos. Demarcar para relembrar a história. Demarcar para garantir o futuro. Deve-se demarcar legalmente, porque contribui para o ordenamento fundiário do Governo Federal e dos entes federados, procurando integrar para atender às necessidades e políticas indígenas. Deve-se demarcar humanitariamente, porque há a promoção

da diversidade cultural e étnica para uma sociedade plural, garantindo que não haja calcificação do ódio cego, do obsoleto preconceito e de intenções enviesadas em nosso desenvolvimento. Deve-se demarcar eticamente, porque devolve ao dono da terra o seu direito primeiro de ali existir. A demarcação é uma ação política que assegura a dignidade indígena e respeita o processo cultural que nos trouxe até aqui… Nesse contexto tão sensível, é imprescindível o reconhecimento do nosso passado perturbador, marcado pela violência e pela destruição. Por isso, pedimos perdão por invadir as terras indígenas, as quais mantinham o meio ambiente preservado e próspero para a sobrevivência de novas gerações; PEDIMOS PERDÃO POR INVADIR AS TERRAS INDÍGENAS, AS QUAIS

pedimos perdão pela grande quantidade MANTINHAM O MEIO AMBIENTE PRESERVADO PRÓSPERO PARA de laços culturais Edestruídos, cujos A SOBREVIVÊNCIA NOVAS costumes e tradições DE foram apagadas; GERAÇÕES;

pedimos perdão por todos os nossos PEDIMOS PERDÃO PELA GRANDE irmãosQUANTIDADE mortos emDEguerras e conflitos; LAÇOS CULTURAIS DESTRUÍDOS, CUJOS COSTUMES E

pedimos perdãoFORAM pelas mortes inaceitáveis TRADIÇÕES APAGADAS; causadas pela luxúria da terra, da posse, PEDIMOS PERDÃO POR TODOS do dinheiro; OS NOSSOS IRMÃOS MORTOS EM

GUERRAS pedimos perdãoE CONFLITOS; pelo desmatamento na


PEDIMOS PERDÃO PELO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA, PELA ESCRAVIDÃO DE MULHERES INDÍGENAS, PELA APROPRIAÇÃO CULTURAL INDEVIDA; E PEDIMOS PERDÃO PELO GENOCÍDIO INDÍGENA, PELO DISCURSO DESCABIDO E IRRESPONSÁVEL DE ALGUNS GOVERNANTES.

Infelizmente, não há como voltar no tempo, mas há como aprender com a resultante desses crimes, que atacaram nossos antepassados - aprender com o passado é uma forma de evitar falhas no presente, como já dito. Por isso, pedimos perdão, em nome de toda a história do povo brasileiro, cuja existência jamais teria atingido os níveis atuais sem a existência indígena. Somos gratos porque ainda podemos bloquear a repetição desses erros, sendo o primeiro passo para isso o reconhecimento que falhamos humanitariamente. Precisamos defender

Obrigada pela chance de escrever esse texto, de ler sobre a nossa cultura e de dividir esse momento com todos vocês. Obrigada UNESCO, por eleger as línguas indígenas como marco das homenagens em 2019. Obrigada aos ouvidos que escutam e não apenas ouvem. Obrigada pela oportunidade de encerrar o sarau 2019 com uma mensagem de força e de esperança, que anseia por dias melhores. Desejamos que esse grito ecoe não apenas em nossa escola, mas em todos os lugares onde a humanidade existir. Porque hoje: o Uirapuru é terra indígena!!!

ANUÁRIO 2019

PEDIMOS PERDÃO PELAS MORTES INACEITÁVEIS CAUSADAS PELA LUXÚRIA DA TERRA, DA POSSE, DO DINHEIRO;

a nossa jovem democracia, pois ela está longe de ser apenas um valor imaterial: ela retrata a soberania popular no respeito à reivindicação e à proteção dos direitos do cidadão, pois é nela que construímos os verdadeiros laços de solidariedade ao próximo.

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CIÊNCIAS: O CAMINHO PARA A EVOLUÇÃO


ANUÁRIO 2019

A HISTÓRIA DA HUMANIDADE REVELA QUE AS CIÊNCIAS - SEJAM AS HUMANAS OU AS DA NATUREZA - SÃO UM CAMINHO PARA NOSSA EVOLUÇÃO. DAÍ A IMPORTÂNCIA DE CONHECER SOBRE OS PRIMEIROS HABITANTES DO BRASIL, DE SE BENEFICIAR DA TECNOLOGIA PARA DESCOBRIR O INCRÍVEL MUNDO DAS CIÊNCIAS DA NATUREZA E DE ENTRAR NO CAMPO DAS FINANÇAS PESSOAIS E DO EMPREENDEDORISMO.

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O que podemos aprender com os povos indígenas? Professora Juliana Cares

O que vem à sua mente ao ler a palavra indígena?

ANUÁRIO 2019

Se você logo pensou em cocares, pessoas nuas e uma língua desconhecida, você não está só. Embora os povos indígenas tenham sido os primeiros habitantes das terras brasileiras, a imposição de uma cultura estrangeira vinda da Europa criou muitos estereótipos e infelizmente, preconceitos, envolvendo pessoas com culturas e personalidades tão ricas. Os indígenas são muito mais.

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Antes da colonização, eram 1400 povos. Atualmente, são 252 comunidades indígenas vivendo no Brasil. Dados do censo IBGE 2010, indicam que cerca 900 mil pessoas se declaram indígenas, estando a maior parte, mais de 60% vivendo em 505 terras de área preservada a esses povos. “A cultura indígena está presente em nossa vida cotidiana, mas raramente nos apercebemos dela. Nomes de alimentos, ruas, cidades, parques, praias, rios, assim como alguns hábitos indígenas foram incorporados à nossa rotina ao longo dos séculos”, explicam Pucci e Almeida (2017, p. 20).

Nos bancos escolares pouco se aprendeu sobre o passado das comunidades indígenas, como também pouco se descobriu sobre como essas pessoas vivem em meio a globalização. A cultura imaterial vive em constante transformação, sendo resultado das relações criadas com o ambiente e também com outras culturas. Para os moradores do Araguaia Xingu, a relação de troca cultural não é justa. A antropóloga Lilian Brandt (2019), colaborada da AXA (Articulação Xingu Araguaia), grupo de preservação da cultura local, explica o impacto do modo de vida das comunidades brasileiras


Pensando nisso, o Colégio Uirapuru ampliou o debate sobre a cultura indígena e a representatividade dos povos indígenas. Os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental I discutiram sobre essas influências culturais a partir do material didático de História e Geografia. Eles aprenderam sobre como nossas casas possuem referências das moradias indígenas, bem como a culinária, como o açaí, a tapioca e a mandioca, protagonistas de pratos salgados e doces. A cultura indígena, riquíssima, foi apresentada através da música, forma de expressão que encanta a todos.

Através do livro “A floresta canta”, de Magda Pucci e Berenice de Almeida, os professores discutiram a regionalidade das comunidades, características da língua e o uso de instrumentos a partir de materiais da natureza. Observar como eles agradeciam à natureza pelas conquistas na colheita, na pesca e na caça, fizeram com que os alunos refletissem sobre como vivem atualmente e como a necessidade dessas tarefas estão distantes deles. “As palavras do tronco linguístico tupi foram as que mais impregnaram a língua portuguesa: jacu, urubu, seriema, saúva, baiacu, trará, piaba, lambari, piranha, jararaca, sucuri, jabuti, jiboia, tamanduá” (PUCCI e ALMEIDA, 2017. p. 46). Para compartilhar as descobertas sobre a influência indígena na língua portuguesa, os alunos fizeram gravações com palavras utilizadas no dia a dia e seus significados além do uso rotineiro. O produto final foi compartilhado com a comunidade em geral através de QRCodes e cartazes.

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em geral na vida dos indígenas. “Reflete diretamente, de forma que hoje já não há a mesma fartura e biodiversidade que se tinha em 1500. O rio está contaminado por agrotóxicos, a floresta foi derrubada e a quantidade de peixe e de caça foi drasticamente reduzida. Neste sentido, a incorporação de elementos de outra cultura é também uma estratégia de resistência” (BRANDT, 2019).

Através do encontro com as autoras do

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livro, os alunos experimentaram os sons produzidos por instrumentos indígenas, compreenderam os fonemas e entonações de voz em uma canção e, ainda, se divertiram aprendendo algumas danças típicas de povos visitados pelas autoras. Outro encontro que enriqueceu o repertório dos nossos alunos foi com o professor Laerte, da aldeia Xavante, que contou sobre a rotina e o costume de seu povo. Ele explicou sobre as pinturas corporais, a necessidade dos meninos serem valentes, como são as escolas indígenas e o que se aprendem e sobre o uso de tecnologias e acesso às coisas que nossos alunos estão habituados a usar.

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“Desde pequenas, as crianças indígenas, aprendem a língua Xavante. A língua portuguesa é ensinada apenas na escola, a partir do Ensino Fundamental. Muitos de nós saem para estudar e trazer conhecimento para melhorar a vida na comunidade. Temos TV, energia elétrica e internet. Essas coisas facilitam nosso dia a dia, mas elas não apagam as tradições e histórias contadas pelo meu povo, que foram trazidas dos nossos antepassados”, explicou Laerte.

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Nas aulas de músicas, os alunos aprenderam a canção “Zana makatipa, Kurupira”, do povo Kambeba, cantando uma mistura da letra Kambeba e do português. Essa cantiga, segundo Pucci e Almeida (2017), traz o ser mitológico que vive na floresta, protege a mata e os animais, personagem também conhecido pelas crianças. As crianças também confeccionaram os maracás, instrumentos indígenas, com material reciclado para compor a melodia. Unindo isso às aulas de Educação Física, elas aprenderam coreografias envolvendo

passos indígenas de povos que vivem na região. O resultado de todo esse processo foi a festa junina, que misturou uma festa típica brasileiras com costumes típicos de um povo também brasileiro. “É importante estimular o respeito às diferenças, isto é provocar um exercício de aproximação com o ‘outro’, deixandose ambientar pelas expressões culturais dos diferentes povos indígenas” (PUCCI e ALMEIDA, 2017, p. 13). A partir de todo esse aprofundamento, nossos alunos puderam compreender que o indígena é um ser atuante no país, é brasileiro, produz cultura, que tem um papel fundamental na preservação das riquezas naturais, com histórias a serem compartilhadas, e que, principalmente, merece ser respeitado por ser modo de viver. Gerar a empatia, pensar no outro e se preocupar com as pessoas ao seu redor, é a chave para uma sociedade que avança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Censo 2010: população indígena é de 896,9 mil, tem 305 etnias e fala 274 idiomas Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-cens o?busca=1&id=3&idnoticia=2194&t=censo-2010poblacao-indigena-896-9-mil-tem-305-etniasfala-274&view=noticia. Acesso em 28 de agosto de 2019. BRANDT, Lilian. As 10 mentiras mais contadas sobre os indígenas. Disponível em: http://axa.org. br/2014/12/as-10-mentiras-mais-contadas-sobreos-indigenas/. Acesso em: 28 de agosto de 2019. Mirim: Povos indígenas do Brasil. Disponível em: https://mirim.org/terras-indigenas. Acesso em: 19 de julho de 2019. PUCCI, Magda; e ALMEIDA, Berenice de. Cantos da Floresta: iniciação ao universo musical indígena. São Paulo: Peirópolis, 2017.


Aprendizagem e ensino de Ciências: Geekie One Professores Claudia Marques, Eric Bernardo e Karla Oliva

Anteriormente, a divisão realizada nesta área de conhecimento compreendia o estudo do meio ambiente no 6° ano, os seres vivos no 7° ano, o corpo humano no 8° ano e findava com as áreas da Física e da Química ao longo do 9° ano. Segundo a interpretação de Rico (2019), ao escrever na Revista Nova Escola, esta nova base criada é focada na progressão da aprendizagem, sendo que a cada ano há o

desenvolvimento de certas habilidades, com grau crescente de complexidade em todo o Ensino Fundamental. Segundo este novo documento, a área de conhecimento de Ciências ao longo do Ensino Fundamental, está dividida em três grandes eixos: Vida e Evolução; Terra e Universo; e Matéria e Energia. Em Vida e Evolução, há o desenvolvimento de temas sobre os seres vivos, incluindo a espécie humana; o ambiente em que vivem e todas as relações existentes, bem como é discutida a importância da manutenção da biodiversidade no nosso planeta. No eixo Terra e Universo, as temáticas desenvolvidas compreendem a caracterização do planeta Terra, do Sol, da Lua, e de outros corpos celestes, mas

ANUÁRIO 2019

Evolução, um conceito tão difundido e apreciado pelos especialistas de Ciências da Natureza, também está presente no ensino desta grande área do conhecimento. Mas o que mesmo significa evolução? Evolução significa mudança, transformação; e o ensino de Ciências em 2019 sofreu grandes alterações e adaptações, a fim de se adequar à nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC) acerca do ensino de Ciências da Natureza.

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também são trabalhadas as construções sobre processos como o efeito estufa, a camada de ozônio, a chuva ácida, os terremotos, os tsunamis, dentre outros fenômenos naturais. Já em Matéria e Energia, há o estudo de toda constituição da matéria, os fenômenos e processos envolvidos, bem como a compreensão do uso dos recursos energéticos pela espécie humana, e a importância nas alternativas renováveis e conscientes. Além disso, a abordagem investigativa e o uso do método científico passou a ser o eixo central do processo de ensino-aprendizagem durante as aulas de Ciências. Desta forma, há o desenvolvimento do letramento científico ao longo de leituras, exposições, interpretações de dados através do uso de artigos e textos científicos.

ANUÁRIO 2019

No Ensino Fundamental II do Colégio Uirapuru, para que houvesse uma boa adequação a todas essas mudanças, foi escolhida a plataforma digital Geekie One para contribuir neste processo. Esta plataforma é inovadora e, com a assessoria Geekie, trouxe grande apoio e facilidades para a evolução no ensino de Ciências nas séries deste segmento. O Geekie One é apoiado em três pilares: conteúdo significativo, digital e flexível; aprendizagem ativa com foco no aluno, e dados para facilitar diálogo e decisões pedagógicas. Assim sendo, esta parceria enriqueceu e disponibilizou recursos, com o intuito de adequar e realizar o processo de transição à nova Base Nacional Curricular Comum.

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Segundo a equipe Geekie, o material é focado, além de atender a nova BNCC,

em ensinar baseado em competências e habilidades, e também contribui com o entendimento e uso da tecnologia, sendo que o recurso digital proporciona ao cotidiano de estudo mais dinamismo e organização. Outro ponto importante no uso da tecnologia é fornecer à equipe escolar a identificação de pontos fortes e fracos dos alunos, de forma que o tempo, que originalmente seria gasto para corrigir atividades, passa a ser utilizado nas análises e no plano de ação para a melhoria da qualidade pedagógica. A fim de preparar a equipe do Colégio, a Geekie trouxe formação pedagógica aos professores e gestores do segmento, para que, após o domínio do recurso, houvesse um planejamento engajado, baseado em competências e habilidades a serem trabalhadas, sendo também, este planejamento, bastante flexível e personalizado, já que há os 7°, 8° e 9° anos representam anos de transição da nova Base Nacional Curricular Comum. Além disso, pensando na educação no século XXI e em preparar os alunos para os desafios do futuro, é urgente a necessidade de utilizar recursos digitais na sala de aula, a fim de tornar o ensino mais dinâmico, flexível e, principalmente, educar os alunos em relação a outras utilidades da tecnologia, que não sejam apenas entretenimento, como é costume desta geração atual (Guten News, 2018). A diversidade que o uso de recursos tecnológicos traz à sala de aula é extremamente rica, já que amplia o leque de atividades e exposições diferenciadas que podem ser utilizadas em sala de aula, e também em casa, a fim de envolver e engajar os alunos no processo de


As gerações atuais fazem parte de um mundo onde os algoritmos os mantêm clicando e navegando em um ritmo frenético e a habilidade em envolver este aluno e obter a concentração destes, é um grande desafio (Mancall-Bitel, 2019) . Visto esta situação, mesclar recursos educacionais tradicionais, como lousa e caderno, a recursos tecnológicos, como plataformas digitais e aplicativos, é muito relevante neste momento da história da educação. Através do uso destes recursos tecnológicos, é possível educar os alunos, enfatizando que a tecnologia apresenta benefícios, contribuindo para a obtenção de conhecimento e desenvolvimento de habilidades, sem que os recursos tradicionais, como escrever à mão, sejam abandonados, já que são super relevantes ao desenvolvimento do cognitivo de crianças e adolescentes. Com a atual geração, criada em um mundo dominado pela tecnologia, tornase difícil imaginar que possa haver alguma resistência por parte dos alunos na implementação de recursos digitais em sala de aula. Mesmo assim, pensando nesse contexto, foi preciso preparar os alunos para receber a novidade, focando no uso da tecnologia na educação. Dessa forma, em 2018, a equipe Geekie One apresentou a plataforma digital para os alunos do Colégio Uirapuru, assim como os objetivos e as ferramentas disponibilizada. Esse encontro foi de grande valia e repleto

de expectativas, tanto por parte da equipe escolar quanto por parte dos alunos. Ao longo do ano de 2019, o uso da Plataforma Digital Geekie One foi bastante produtivo, sendo que foi possível adequar o ensino de Ciências no 6° ano, de acordo com a nova Base Nacional Curricular Comum, e nos 7°, 8° e 9° anos foi realizado o período de transição para a nova Base. Ainda, a ferramenta digital foi fundamental no desenvolvimento dos projetos científicos produzidos para o Encontro de Cientistas do colégio, que contou com a escrita de mais de 50 projetos envolvendo os novos eixos temáticos da BNCC. O uso de ferramentas de pesquisa online, contando sempre com a orientação dos docentes para a busca criteriosa de fontes com validade científica, forneceu uma base de dados e estudo para os jovens pesquisadores. Há mais dois pontos extremamente relevantes nesta nova fase no ensino de Ciências no fundamental II, sendo o primeiro a flexibilidade no material didático, já que os docentes indicaram melhorias ao conteúdo, que prontamente foram realizadas. E o ponto posterior consiste na educação digital realizada com os alunos, que no cotidiano da sala de aula, foi refletida e discutida inúmeras vezes, mostrando aos mesmos, a importância tecnológica também no processo de ensino-aprendizagem e não somente em momentos de lazer e diversão. Acredita-se que o uso de recursos digitais seja uma forma útil para engajar mais os alunos, além de tornar o conteúdo mais atrativo e aproximar os professores do universo dos discentes. Além disso, os professores têm a chance de ensinar e orientar aos alunos a usarem a tecnologia de uma forma correta e responsável.

ANUÁRIO 2019

aprendizagem. Além disso, torna as aulas mais atualizadas pois os recursos disponíveis de forma online podem ser atualizados instante a instante, trazendo ao docente e aos alunos um material condizente com o constante nível de novas informações e dados.

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O uso da tecnologia na educação é observado em escolas que procuram inovação e atualização com as mais modernas tendências pedagógicas. Porém, para que a tecnologia não se torne banalizada, é preciso estudar as melhores formas de se utilizá-la, com intuito de promover benefícios para os alunos, aumentado a motivação e interesse em sala de aula.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Base Nacional Curricular Comum. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em 15/10/2019. GEEKIE One. Disponível em: https://www.geekie. com.br/geekie-one/. Acesso em 07/08/2019. Guten News. Como usar a tecnologia na sala de aula para beneficiar seus alunos? 25 de junho de 2018. Disponível em: https://gutennews.com.br/blog/2018/06/25/ como-usar-a-tecnologia-na-sala-de-aula-parabeneficiar-seus-alunos/. Acesso em 07/08/2019. MANCALL-BITEL, N. Como educar uma geração digital com tanta dificuldade para se concentrar? BBC News. 3 abril 2019. Disponível em: https:// www.bbc.com/portuguese/vert-cap-47701908. Acesso em 07/08/2019.

ANUÁRIO 2019

RICO, R. O que muda no ensino de ciências com a BNCC?. Revista Nova Escola. Disponível em: https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/61/oque-muda-no-ensino-de-ciencias-com-abncc?download=true. Acesso em 07/08/2019.

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Finanças pessoais e empreendedorismo Professor Lucas Caiuby

Apesar da reconhecida perenidade da Escola, essa também passa por mudanças e adaptações em seu currículo, cuja estrutura pode até parecer a mesma num primeiro olhar, mas certamente é impactada pelas demandas e novos desafios a serem enfrentados pela sociedade. Com o objetivo de considerar inclusive as ideias daqueles que são os mais impactados pelas atividades desenvolvidas no Colégio, realizou-se uma pesquisa de opinião junto aos alunos do Ensino Médio em 2018, em que se buscou entender assuntos e

disciplinas que estes mesmos gostariam de ver agregadas ao currículo escolar de forma eletiva. Os temas ligados à Finanças Pessoais e Empreendedorismo ficaram entre os mais citados. Assim, introduziu-se a disciplina eletiva de Finanças Pessoais e Empreendedorismo para os alunos da 2ª série do Ensino Médio a partir de 2019, com o objetivo de oferecer um primeiro contato a eles com esses temas, notadamente relevantes para o futuro financeiro individual e familiar. Em um modelo inovador, o Colégio firmou uma parceria com a Fundação Dom Cabral, uma das mais renomadas instituições de Ensino Superior Executivo do país, para a formulação e acompanhamento da disciplina ao longo de 2019, cujos objetivos iniciais foram fixados em:

ANUÁRIO 2019

O ambiente em que vivemos passa por transformações constantemente. Pessoas e organizações precisam manter-se atentas ao que ocorre em seu entorno para monitorar e acompanhar as mudanças em todas as áreas: tecnologia, negócios, cultura, entre outros.

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1. TRANSMITIR TÉCNICAS E BOAS PRÁTICAS SOBRE COMO GERENCIAR DE MANEIRA ADEQUADA AS FINANÇAS PESSOAIS, PRIORIZANDO POUPANÇA E INVESTIMENTOS, CONTROLANDO O ORÇAMENTO DOMÉSTICO E EVENTUAIS DÍVIDAS ADQUIRIDAS; 2. DESENVOLVER A CAPACIDADE DE REFLETIR SOBRE O VALOR DO TRABALHO E DO DINHEIRO, DE MODO A EXPLORAR E FUNDAMENTAR SUAS ESCOLHAS PROFISSIONAIS; 3. DESENVOLVER E APLICAR HÁBITOS EMPREENDEDORES, COM FOCO NA CRIAÇÃO DE UM PROJETO/NEGÓCIO PRÓPRIO, MAS QUE TAMBÉM SE APLICAM EXTENSIVAMENTE NA CARREIRA EM AMBIENTE EMPRESARIAL E PARA PROFISSIONAIS AUTÔNOMOS. Os métodos utilizados para atingir os objetivos propostos foram diversos, desde as tradicionais aulas expositivas, passando por exercícios e discussões plenárias em sala, recebendo a visita de profissionais e empreendedores para dividir suas experiências com a turma.

ANUÁRIO 2019

No tema Finanças Pessoais, primeiro a ser trabalhado na disciplina, os alunos tiveram contato com ferramentas para controle e acompanhamento de seus gastos pessoais, notadamente uma planilha – simples em sua construção, enorme em sua importância – onde podem registrar

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todas as despesas de seu dia-a-dia, para posteriormente analisar como tem sido o uso desses recursos em grandes grupos: alimentação, lazer, moradia, entre outros. A maioria dos alunos demonstrou ter bons conhecimentos sobre o valor do dinheiro e a compreensão da importância de se reservar recursos para determinados tipos de despesas (como alimentação e moradia) frente outras, que podem ter menor recorrência ou consumirem uma parcela menor do orçamento mensal (lazer, compras). Nitidamente, a preocupação em construir um futuro estável entre os alunos é grande – não somente por suas ambições profissionais, mas também pelo interesse que demonstraram pelo tema Previdência. A efervescência de notícias em torno da Reforma em discussão no Congresso Nacional levou, inclusive, à realização de uma aula exclusivamente sobre esse tema, tamanhos os questionamentos levantados pelos alunos ao longo do ano. O tema Empreendedorismo, que ocupou a maior parte das aulas, foi desenvolvido numa sequência de trabalhos em grupos de alunos que se repetiram ao longo das diversas atividades, como se fossem os “sócios” de um determinado projeto. Cada uma dessas atividades espelhou uma tarefa a ser realizada por um empreendedor no planejamento de sua nova empreitada: concepção do negócio, teste de conceito,


pesquisa com consumidores, análise competitiva, plano de negócios e apresentação para investidores. Além disso, alguns Empreendedores foram convidados a participar de uma aula e contar um pouco sobre suas jornadas – abordando as experiências bem-sucedidas, claro, mas também aquelas que não sobreviveram ao mercado e hoje fazem parte da alarmante estatística do SEBRAE de que aproximadamente 25% dos negócios abertos no Brasil encerram suas atividades em menos de dois anos. Os fracassos empresariais são ótimas fontes de pesquisa para os novos empreendedores conhecerem a realidade do mercado e evitarem os erros mais comuns que prejudicam seus negócios. Os projetos de novos negócios desenvolvidos pelos alunos apresentaram grande variedade de temas e interesses. Na medida das informações e ferramentas disponíveis, foram academicamente bem estruturados – somente o mercado real poderia atestar se isso é suficiente para que tais projetos se tornem, de fato, negócios bem-sucedidos.

ANUÁRIO 2019

Por outro lado, fica claro que a disciplina cumpriu com seus objetivos para 2019 e voltará em 2020 carregando todo o aprendizado de seu primeiro ano de existência, visando colaborar de maneira ainda mais efetiva para a transformação dos alunos em cidadãos financeiramente responsáveis e potenciais empreendedores.

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LÍNGUA INGLESA: TRABALHO DIVERSIFICADO


ANUÁRIO 2019

O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA, SEJA NO ÂMBITO CURRICULAR OU NOS CURSOS LIVRES, PROPORCIONA A AQUISIÇÃO E A APRENDIZAGEM DE DIFERENTES ELEMENTOS, ESTRATÉGIAS E HABILIDADES, COM VISTAS AO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS COMUNICATIVAS - LER, ESCREVER, FALAR - AO LONGO DA ESCOLARIDADE. AQUI TRATAREMOS DOS ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM, DOS PROCESSOS DE INVESTIGAÇÃO E LEITURA, DA APRENDIZAGEM AUTÊNTICA E DOS PROJETOS.

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Espaços de aprendizagem Coordenadora Pedagógica Lilian Krieger

“A EDUCAÇÃO É UM PROCESSO SOCIAL, É DESENVOLVIMENTO. NÃO É A PREPARAÇÃO PARA A VIDA, É A PRÓPRIA VIDA” (JOHN DEWEY).

ANUÁRIO 2019

Educadores consagrados como Maria Montessori, Pestalozzi e Loris Malaguzzi trazem aspectos relacionados ao tema espaço nas suas obras.

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“Loris Malaguzzi, precursor da Abordagem Reggiana, no livro As Cem Linguagens da Criança (1999), coloca que o ambiente é visto como algo que educa a criança. Para Malaguzzi, tudo o que cerca as pessoas na escola e aquilo que usam - os objetos, os materiais e as estruturas - não são vistos como elementos passivos, mas pelo contrário, são elementos que condicionam e são condicionados pelas ações dos indivíduos que agem nela”, segundo a autora Fabiane Vitiello de Oliveira. Dewey e Loris Malaguzzi falam do “Terceiro Educador”. O terceiro educador é o ambiente físico. Os espaços de aprendizagem do Lively Bird foram planejados por arquitetos e pedagogos,

pensando nos aspectos mencionados acima. É um espaço acolhedor, onde os alunos conseguem estabelecer um vínculo. São seis salas que permitem uma flexibilidade e muitas funções ao mesmo tempo. O espaço permite incentivar o trabalho em grupo, dupla ou até mesmo individual, pelo tamanho das salas e formato das mesas que compõem cada ambiente. A transformação dos espaços faz com que os alunos trabalhem mais a criatividade, a inovação e com a resolução de problemas. Para o aluno ser protagonista e partícipe, é preciso que este ambiente reflita esta concepção de aprendizagem. O espaço de aprendizagem não é limitado à sala de aula, qualquer lugar pode cumprir a função de educar. O importante é criar um ambiente que o aluno sinta-se interessado em aprender. No Uirapuru, temos vários espaços de aprendizagens que são usados pelos alunos do Lively Bird, por exemplo,


Estes novos espaços de aprendizagem, permitem um modo mais dinâmico de ensinar. O professor torna-se mais um mentor e um guia e os alunos sentem-se mais à vontade para expor suas ideias. É importante o educador compreender as necessidades dos alunos que compõem o ambiente. O educador deve encorajar que o aluno faça perguntas, pois são as perguntas que irão instigar a criatividade e o pensamento crítico. Os alunos tendem a mostrar-se mais motivados a aprender algo que eles escolheram aprender. No Lively, trabalhamos com PBL (Project Based Learning), que é uma metodologia que permite a aprendizagem ativa. O PBL estimula os diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos; estímulo ao

raciocínio lógico e as discussões; incentivo aos estudantes para que investiguem mais a fundo os problemas apresentados a fim de encontrar soluções práticas para eles; permite a interdisciplinaridade e a troca de informações entre elas. Qualquer lugar pode cumprir a função de educar, seja dentro da sala de aula ou além dos muros da escola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DE OLIVEIRA; F., VITIELLO. Disponível em: ww.dialogosviagenspedagogicas.com.br/blog/ espaços-que-transformam-e-se-transformam Acesso em: 21/08/2019. http://pedagogiaeinfancia.com.br/educacaoinfantil-uma-janela-com-visibilidade-e-aberturacontinua-ao-aprendizado/ Acesso em: 02/09/2019

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o Quintal, Espaço Cultural, Praça Uirapuru, sala de culinária e o pátio.

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Can you read in English? Professoras Amanda Francatto, Fabiana Hahmann e Gilliale Jeremias

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O que é, de fato, ser capaz de ler em uma língua estrangeira? Ocorre leitura quando o texto é somente discutido? Quais os tipos de textos apropriados para cada idade e/ou série? Essas questões são frequentemente levantadas por educadores, professores e mesmo familiares que pensam a leitura em um segundo idioma como uma ferramenta de formação e proficiência.

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Segundo alguns teóricos como MAYBIN (1993), NUTTAL (1996) e ZANOTTO (1997), a criança que é capaz de ler em Língua Inglesa, por exemplo, apresenta alguns pontos em comum a serem considerados no processo de aquisição dessas novas habilidades, como a habitual prática de exercer a leitura naquele idioma em contextos sociais múltiplos e interagir com aquilo que é lido logo após os primeiros contatos com o texto, seja ele lido ou discutido. A interação leitor x texto consegue formar e tornar proficiente a partir do momento que ambos estabelecem um diálogo frequente entre si. Neste contexto, a leitura é um processo social interativo e dialógico. O leitor dialoga com


Explorar e investigar a leitura em situações de interação pode ser uma primeira tomada de consciência acerca do processo. O leitor é capaz de ler em língua estrangeira não somente quando decodifica a palavra, ou

seja, quando é capaz de compreender o idioma que se lê, mas quando é capaz de perceber o que está escrito e implícito ao próprio texto. O sentido que decorre do processo de leitura é abrangente a ponto de incitar discussões sobre a história, as personagens que ali se encontram e assuntos extratextuais, como atualidades, História, Literatura, Psicologia etc. Essa capacidade de discussão a partir do texto é, nela mesma, a própria leitura. Ao lermos e assumirmos posturas variadas em nossa prática, estamos reconhecendo que a literatura é plural e significativa para a nossa formação cultural e social e, assim sendo, requer de nós leituras igualmente plurais e significativas que objetivam

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seu texto e recebe desafios, impasses e novos caminhos para outras leituras possíveis e, a partir disso, o conhecimento se constrói em um processo dialógico, mas que não perde a sua importância ao ser relido e retomado pelos seus leitores. Seja através da oralidade, da reescrita, dos desenhos, das pinturas e até das novas tecnologias que a criança está cada vez mais habituada no século XXI. A leitura vai além do texto escrito ou lido pela voz de um adulto.

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reflexão e produção de conhecimento. O leitor se apropria da leitura em Língua Inglesa quando ele lê o texto uma ou mais vezes e retoma esse processo em diálogos, questionamentos ou produções artísticas, isto é, ele reescreve o texto em outros formatos, sendo essas diferentes formas de narratividade.

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Ao incluir a leitura dos livros de literatura e informativos nas aulas de Inglês, acreditamos que a aquisição de linguagem ocorre em situações comunicativas reais, o que pressupõe o desenvolvimento das quatro habilidades comunicativas – compreensão auditiva, expressão oral, leitura e escrita – situações essas que são fruto de convívio humano em ambientes autênticos aos da cultura estrangeira. Por serem linguisticamente adaptados ao nível de cada série, o trabalho com esses livros favorece as práticas sociais em Inglês desde a leitura dos grandes clássicos até os projetos interdisciplinares instigando, assim, a assimilação do idioma de forma natural.

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Garantir um amplo repertório de leitura permite que o aluno entre em contato também com diferentes gêneros literários, vivenciando suas principais características em um segundo idioma. Os gêneros textuais permitem ampliar, diversificar e enriquecer a capacidade do aprendiz de produzir textos orais e escritos porque o estimula a analisar e produzir estruturas linguísticas mais complexas. Também o instiga a fazer mais inferências, elaborando suas próprias teorias sobre elas ao comparar elementos da língua estrangeira com os da materna à medida que amplia seu repertório e desempenho linguístico.

Acreditamos que a experiência vivenciada pelo aluno é aquilo se torna a parte legítima do conteúdo aprendido. Nesse sentido, ampliar horizontes de comunicação, favorecer o intercâmbio cultural e linguístico, assim como formar sujeitos críticos, capazes de expressar e partilhar informações, experiências, ideias, sentimentos em diferentes contextos, são vias que não somente favorecem o ensino e aprendizagem da Língua Inglesa, mas que promovem o entendimento mútuo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BLOOME, D. Reading as a social process. Advances in Reading/Language Research, San Jose (USA), v. 2, p. 165-195, 1983. GOUGH, P. B. One second of reading. In: KAVANAGH, V. F.; MATTINGLY, I. G. (Ed.). Language by ear and eye: the relationships between speech and reading. Massachusetts: MIT, 1972. MAYBIN, J.; MOSS, G. Talk about texts: reading as a social event . Journal of Research in Reading, Washington (USA), v. 16, n. 2, p. 138-47, 1993. NUTTAL, C. Teaching reading skills in a foreign language. Oxford: Heinemann, 1996. OXFORD. Looking at language learning strategies. New York: Newbury House, 1989. ZANOTTO, M. S. T. A leitura como evento social para um enfoque humanístico do ensino de línguas. In: CONGRESSO MUNDIAL DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE PROFESSORES DE LÍNGUAS VIVAS, 19., Recife, 1997. Anais... Recife: FIPLV, 1997.


Authentic Learning: o quê e por quê? Coordenadora Pedgógica Renata Vaccari

A teoria e pesquisa apóiam essa afirmação. Mas como nós educadores nos planejamos para essa realidade? Como podemos projetar o processo de aprendizagem para que seja uma experiência significativa? Como podemos garantir que os alunos sejam participantes ativos e engajados em sua aprendizagem? O QUE É AUTHENTIC LEARNING? Authentic Learning é o aprendizado projetado para conectar o que os alunos aprendem na escola com questões, problemas e aplicações no mundo; as experiência de aprendizagem devem espelhar as complexidades e ambiguidades da vida real. Os alunos trabalham para produzir discursos, produtos e atividades que têm significado além da escola. Essa é a abordagem do aprender fazendo.

"A educação é o que sobrevive quando o que foi aprendido foi esquecido“ (New Methods and New Aims in Teaching, 1964). Experiências que não incentivam os alunos a fazer sentido de sua aprendizagem serão rapidamente esquecidas. Qualquer experiência de aprendizagem deve ter como objetivo a autenticidade em cada tarefa, lição e unidade para garantir habilidades de resolução de problemas e confiança em sua própria aprendizagem. Somente com essa confiança é que os alunos são capazes de usar as habilidades e os conhecimentos aprendidos além das paredes da sala de aula. O authentic learning traz alguns elementos que representam a sua essência. Cada experiência vivida pelo aluno deve preparálo para o mundo real. Deve também ajudálo a fazer escolhas de carreira, conectando habilidades e aumentando a criatividade. Deve também melhorar a capacidade de pensamento crítico, aumentando o engajamento e a motivação, enquanto

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Sabemos bem que a aprendizagem é melhor através de experiência - aprender fazendo é mais do que aprender ouvindo ou apenas observando.

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melhora a retenção de informações. O authentic learning promove a colaboração e o trabalho em equipe, fornece múltiplas perspectivas para a mesma questão, enquanto ajuda a construir as habilidades do século XXI. POR QUE O AUTHENTIC LEARNING É BENÉFICO?

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Todos os dias, tanto na vida pessoal como profissional, vivemos situações desconhecidas nas quais temos que resolver problemas, adaptar comportamentos e tomar decisões. Fazemos isso utilizando o conhecimento que já temos, aproveitando nossas experiências e habilidades para guiar nossas escolhas e nos ajudar a determinar nossos próximos passos dentro do contexto da situação que nos encontramos.

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O authentic learning fornece aos alunos habilidades essenciais para a vida, que mostram a ligação entre aprendizagem e vida real com habilidades de resolução de problemas exigidas na vida além da escola. As experiências autênticas na escola dão ao alunos a oportunidade de adquirir conhecimento, dar significado às suas descobertas e transferir esse conhecimento para situações reais. Os professores assim se tornam mediadores do processo de descoberta e não apenas fornecedores de conteúdo e/ou atividades. Além disso, o authentic learning é capaz de mudar a dinâmica do ambiente de aprendizagem, para "quebrar" as barreiras da sala de aula e encorajar tanto a criação de comunidades de aprendizagem quanto conexões dentro de toda a comunidade escolar. É por exemplo, aprender junto

com os alunos sobre um tópico, que pode não ser tão familiar, de uma maneira diferente de outras abordagens pedagógicas tradicionais. Authentic learning ajuda também os professores no processo de avaliação. Permite a avaliação contínua do alunos, assim como a autoavaliação pelos próprios alunos; essa se torna parte do processo de aprendizagem, uma ferramenta que ajuda a determinar os próximos passos. Acima de tudo, o authentic learning gera engajamento dos alunos com o conteúdo sendo trabalhado. Pense nisso - quantas vezes você se perguntou: "Por que estamos aprendendo isso?” ou “Quando vou usar isso na vida real?”. A autenticidade proporciona relevância para a jornada de aprendizagem; e relevância incentiva engajamento e entusiasmo. A escola deve preparar o aluno para o sucesso na vida pessoal e profissional educação e vida não devem ser isoladas entre si. No entanto, não podemos ensinar tudo a nossos alunos. O que podemos fazer é ensinar nossos alunos a serem pensadores adaptáveis e criativos que são capazes de utilizar as habilidades e os conhecimentos que eles têm para criar novas soluções para problemas. Ao darmos aos alunos a oportunidade de aprender de maneira autêntica e real com experiências de aprendizagem relevantes, estamos dando-lhes a capacidade de colocar sua aprendizagem em prática, aprender fazendo, para se adaptar e mudar, e para adquirir hábitos necessários para fazer isso com sucesso em suas vidas além da escola.


Caring Drive

O programa Middle School Global Leaders visa a formação de líderes e agentes de mudanças na própria comunidade e no mundo. O Grade 8 é um ano de consolidação dos conhecimentos adquiridos no sexto e sétimo anos de curso, mas é também um ano de desafios pois as ferramentas exploradas precisam ser postas em prática abordando temas controversos e buscando soluções reais para os problemas da sociedade. Em Grade 6 “Voices” alunos aprenderam a se expressar e ouvir um ao outro com empatia; em Grade 7 “Environment” aprenderam a relação entre o ser humano e o meio ambiente, a filosofia e ética “Ubuntu: eu sou porque nós somos” baseada na cooperação, solidariedade e interdependência dos seres no planeta; finalmente no Grade 8 guiados por esses princípios e aprendizados, buscam soluções práticas primeiro analisando e pesquisando o que está sendo feito no mundo, depois estudando os desafios da própria comunidade para buscar, debater e pôr em prática soluções criativas em “Humanity”. Por que “Humanity”? O programa Middle School elaborado pela universidade do Missouri é norteado pelos temas de desenvolvimento sustentável da ONU e traz consigo valores típicos da sua cultura, entre eles o sentido de comunidade e da

importância da cooperação para alcançar um bem maior. Reconhecer que existimos como indivíduos, mas também como sociedade e por isso precisamos de leis e princípios, como a declaração de direitos humanos que na sala de aula orienta nossos projetos e ações. Quem escreveu a declaração internacional de direitos humano? Como ela veio à tona, e como organizações internacionais trabalham para garantir que esses direitos sejam respeitados no mundo? Todas essas questões são abordadas no curso mas uma, a mais importante sobressai: “O que eu, adolescente de treze anos, posso fazer em relação a isso?” É assim que começa a discussão e a prática para que nossos alunos percebam que todos temos um papel importante na sociedade e eles, com as ferramentas de liderança adquiridas ao

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Professora Cecilia Sbernini

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longo do curso, podem ir além do debate e pôr em prática suas ideias onde mais se necessita de intervenção direta.

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É assim que nasce o Caring Drive. O processo é feito em três etapas, os temas do desenvolvimento sustentável da ONU são abordados e discutidos, exemplos mundiais são analisados e pesquisas feitas em quatro maiores eixos: saúde, comida, população e educação. Todo ano exploramos ações que possam impactar nossa comunidade, por isso a palavra “drive”: guiar o entusiasmo e liderança onde precisa e ao mesmo tempo ser guiado pelas necessidades específicas da nossa cidade. Existem diversos tipos de drive, todo ano nossos alunos escolhem as instituições que serão beneficiadas e desenvolvem o projeto pensando nas exigências deles. Este ano foi escolhida a palavra “caring” justamente por ter percebido

a importância de cuidar das pessoas, crianças e idosos, duas fases vulneráveis da vida cuja proteção é contemplada nas declarações de direitos internacionais e mais importante, ter reconhecido a importância de cuidar de todo setor da sociedade como fator essencial pelo seu desenvolvimento e prosperidade. Ao longo do processo de pesquisa entrevistamos profissionais da área de projeto e impacto a comunidade, assistentes sociais e diretores de instituições, isso para ter certeza que nosso projeto fizesse sentido no papel e na prática. No mundo observamos que muitas instituições de sucesso, ao prover serviços ou ajudas, conversam com a comunidade certificando-se que as ideias sejam alinhadas às necessidades. Ao longo deste processo alunos do Grade 8 aprendem que todo tipo de ajuda precisa ser pensada e ajustada, que nossas expectativas podem ser frustradas, que uma boa pesquisa


O processo de preparação é a fundação da segunda fase, a divulgação do projeto na escola, família e cidade, afinal ideias boas precisam ser compartilhadas. Aqui alunos aprendem princípios de marketing pensando como podem sensibilizar pessoas com imagens e frases de impacto, explorando diferentes usos da língua, escrita e falada, criando material de divulgação na forma de cartazes, vídeos e apresentações ao vivo. Esses momentos se tornam valiosos para a aprendizagem, na prática testamos nossas ideias e nos damos conta do quanto pode ser difícil ser ouvido ou quanto um discurso de impacto pode convencer e mobilizar pessoas para fazer uma doação. Nos relatos após terminar o projeto muitos alunos disseram que todo o trabalho das fases de preparação foi pago pela sensação de realização ao ver as pessoas contribuir com doações nos pontos de coleta. A campanha do “Caring Drive” arrecadou 966 itens de higiene pessoal ao longo de duas semanas (entre xampus, sabonetes, escovas e pastas de dentes, barbeadores e fraldas geriátricas), e conseguiu a ajuda de uma escola de cabeleireiros para oferecer cortes profissionais no dia. Finalmente chegava a terceira e última fase: a hora de entregar para as instituições as doações e desenvolver nossas atividades; para a “Oficina Céu Azul” foi organizado um dia de cuidado pessoal para crianças e adolescentes e para a “Vila dos Velhinhos” um bingo com prêmios confeccionados artesanalmente. Esses dois dias de atividades foram cheios de emoções, tensão e diversão, os alunos foram responsáveis por organizar e aplicar seus conhecimentos,

mas também proporcionar carinho para as pessoas. Aqui aprenderam que um planejamento detalhado é essencial, sobretudo para lidar com imprevistos; nesses momentos é preciso ter empatia e rapidez na solução de problemas para que a atividade continue com sucesso. A reflexão sobre a atividade e suas fases é importante tanto quanto o planejamento, aqui entendemos os erros cometidos, as expectativas frustradas, mas também as vitórias. O grupo terminou com sentimento de satisfação e dever cumprido, podendose orgulhar com a felicidade no rosto das pessoas que atendemos nesse dia e saber que nossas doações fizeram a diferença. Nas palavras da aluna Elisa Corrêa: “I think it's very important to make donations to people who need our help, you end up contributing not only to them but to yourself and the world. If each of us help by doing their part, it is one step towards a better world”. É assim que podemos afirmar ter formado líderes e agentes de mudanças mundiais. Quando o resultado traz a consciência de que somos parte de algo maior, aprendemos que nossas ações podem nos beneficiar enquanto beneficiam aos outros, que “eu sou porque nós somos”.

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se baseia em fontes atendíveis e que o contato direto com a comunidade é essencial.

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ATIVIDADE FÍSICA: DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO MÉDIO


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“CONHECER-SE, APRECIAR-SE E CUIDAR DE SUA SAÚDE FÍSICA E EMOCIONAL” ESTÁ ENTRE AS DEZ COMPETÊNCIAS DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E TAMBÉM NAS ATIVIDADES QUE ENVOLVEM A EDUCAÇÃO FÍSICA NO COLÉGIO. PASSANDO PELA LUDICIDADE, CAMINHANDO NA ORGANIZAÇÃO PELAS REGRAS DOS ESPORTES E DOS JOGOS COOPERATIVOS, NAS COMPETIÇÕES QUE PERMITEM EXPERIMENTAR O GANHAR E O PERDER E LIDAR COM AS EMOÇÕES, NA ASSOCIAÇÃO À ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E À QUALIDADE DE VIDA ENCONTRAMOS AÇÕES DESDE A EDUCAÇÃO INFANTIL ATÉ O ENSINO MÉDIO.

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A contribuição do brincar nas aulas de Educação Física Infantil Professor Leon Lopes

“A CRIANÇA APRENDE O MUNDO COM AS MÃOS, PÉS, CHEIROS, SONS, O CORPO TODO”

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(DOCUMENTÁRIO MIRADAS).

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É a partir desta ideia que iniciaremos uma jornada pelo olhar pedagógico sobre a importância do brincar para crianças de todas as idades, inclusive as adultas. Para isso vamos voltar um pouco no tempo e tentar entender um pouco do aspecto histórico do brincar. Nas brincadeiras e jogos, a criança se desenvolve, pratica, imita, escolhe, aceita ou rejeita os papéis

que lhes são apresentados. É por meio das brincadeiras que a criança aprende muito dos conceitos morais e dos padrões comportamentais. Ao longo do tempo encontramos vários conceitos de infância, os quais envolvem as relações sociais, culturais e históricas do brincar.


povos primitivos é a imitação. Nos primeiros anos de vida a imitação é inconsciente. As crianças brincam com pequenas reproduções dos instrumentos utilizados pelos adultos. Numa próxima etapa a imitação torna-se consciente, as crianças participam das atividades dos adultos e aprendem por imitação. Esta etapa tem início quando se começa a exigir trabalho da criança, ela aprende, pouco a pouco, as diversas ocupações da tribo: construção de utensílios; a pesca e a caça; guarda do gado; trabalhos agrícolas; entre outros (PILETTI; PILETTI 1986).

Segundo Monroe (1983), nas sociedades primitivas, quando ainda não haviam escolas nem métodos de educação conscientemente reconhecidos como tais, ainda assim existia Educação, cujo objetivo era promover o ajustamento da criança ao seu ambiente físico e social por meio de aquisição da experiência de gerações passadas. Uma das formas pelas quais a criança adquire os conhecimentos necessários entre

Atualmente, quando pensamos na infância, nos lembramos do jogo, do faz de conta e de tudo aquilo que enriquece a imaginação da criança. Consideramos principalmente que a criança é um ser lúdico e que brinca para interagir com o meio em que vive. Porém, se observarmos a história da brincadeira, perceberemos que nem sempre foi esse o pensamento que norteou a sociedade, embora as crianças sempre tenham demonstrado interesse pelo brincar. Wajskop (1995) afirma que, durante muito tempo, a infância não tinha o seu próprio espaço social e, dessa forma, as crianças não eram vistas como seres que necessitavam de cuidados próprios e de uma educação voltada inteiramente para elas. Wajskop acrescenta ainda que, na época que antecede a sociedade industrial, o período da infância limitava-se apenas

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O jogo e o brincar são tão antigos quanto o próprio homem, na verdade eles fazem parte da essência dos mamíferos, são necessários ao nosso processo de desenvolvimento e têm função vital para o indivíduo, principalmente como forma de assimilação da realidade, além de ser culturalmente útil para a sociedade como expressão de ideias comunitárias (TELLES, 2012).

A brincadeira surgiu de forma natural entre as crianças, é uma atividade que desenvolve a identidade e a autonomia. Desde o início das civilizações brincar é uma atividade para qualquer idade. Antigamente as crianças participavam de festas que tinham jogos e lazeres com os adultos, mas ao mesmo tempo tinham seus espaços separados (BRASIL, 1998).

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à mais tenra idade, quando a criança necessitava dos cuidados básicos essenciais à sua sobrevivência. Tendo suas condições físicas garantidas, a criança passava então a dividir o mesmo espaço social com os adultos, entre jogos e brincadeiras, sob o pretexto de uma melhor socialização. Durante muito tempo, o brincar foi visto apenas como uma recreação ou um momento em que se livrava a criança das preocupações do mundo adulto.

As brincadeiras favorecem o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e socioafetivo. Elas são parte integrante da infância e contribuem para a formação e construção global das crianças, despertando a imaginação e a criatividade. O lúdico é uma forma prazerosa, onde a criança aprende a organizar o mundo real. A organização do espaço para o lúdico na educação infantil mostra que o desenvolvimento da criança passa pela brincadeira, e que elas querem um lugar onde possam brincar sozinhas ou acompanhadas de outras crianças e/ou de adultos. Por meio dos jogos e brincadeiras, a criança adquire o conhecimento e exercita toda a sua fantasia, imaginação e curiosidade, sendo que a mesma precisa brincar, inventar, jogar, criar para crescer e manter seu equilíbrio com o mundo, com a

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Com o passar dos anos a sociedade tem visto a brincadeira com outro olhar, se antes ela era tida como instrumento de inclusão da criança à sociedade, hoje ela é vista como atividade de grande valia na formação e desenvolvimento integral das crianças e sua importância vem sendo cada vez mais reconhecida.

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realidade. O jogo e a brincadeira possuem um caráter excepcional de fantasia, desafio e encantamento, onde ficam suspensas muitas regras do mundo sério construindo e desconstruindo, estruturas de tempo e espaço da vida social.

SUGESTÃO COMPLEMENTAR

As aulas de Educação Física do Colégio Uirapuru são planejadas e pensadas com muito carinho e cuidado, se tornando assim uma grande aliada para a realização de inúmeros jogos e brincadeiras, visando sempre contemplar tanto aspectos motores quanto sociais. Os materiais diversos também estão presentes nas aulas, servindo como ferramentas de experimentação de texturas, tamanhos e pesos diferentes. Aqui cada um pode ser o que desejar, nada é impossível e todas as maneiras de brincar serão vivenciadas.

Documentário: MIRADAS – 0h31min

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No decorrer do ano letivo os professores também experimentam diferentes tipos de sensações com as crianças, a cada desafio superado um novo surge, e podemos sentir junto com elas um pouquinho de cada sensação. Observar com olhar atento, tanto no coletivo quanto no individual também é de grande importância. É desta forma que o professor identifica dificuldades e facilidades que surgem durante o dia a dia.

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Por meio destas aulas a criança tem a possibilidade de experimentar, auxiliar e ser auxiliado, a cada dia um novo começo, se todas as aulas fossem as mesmas ainda assim encontraríamos resultados diferentes, erros e acertos distintos, com a criança é assim, tudo muda o tempo todo, e é o olhar delas que observa coisas que os adultos nem sempre conseguem.

Documentário: TARJA BRANCA – 1h20min Data de lançamento: 19 de junho de 2014 (Brasil); Direção: Cacau Rhoden; Produção: Juliana Borges; Edição: André Finotti; Roteiro: Marcelo Negri.

Data de lançamento: Junho de 2019 (Brasil); Direção: Renata Meirelles e Sandra Eckschmidt.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL, M. E. D. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. MONROE, P. História da Educação. São Paulo: Nacional, 1983. PILETTI, C.;PILETTI, N. Filosofia e História da Educação. São Paulo: Ática1986. TELLES, C. Jogos e Brincadeiras de Faz-de-Conta no Processo Pedagógico. Disponível em https:// www.webartigos.com/artigos/jogos-e-brincadeirasde-faz-de-conta-no-processo-pedagogico/16437/. Acesso em : 03/09/2019. WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. São Paulo, Cortez. 1995.


Atividade Física e Saúde: pesquisa sobre as práticas esportivas Professora Vania Souza

(ALUNOS)

A cada ano um projeto é realizado e no ano de 2019 estamos desenvolvendo o projeto “Consciência Corporal e Estilo de Vida: Uma Educação para a Saúde”. Assim, temáticas referentes aos benefícios da atividade física na infância e adolescência, a percepção da imagem corporal e representações sociais do corpo: autoestima e confiança, distúrbios da

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ANA LAURA MOLINA BELLINI, ANNA LUIZA AMORIM MOURA, BRUNO AYROSA GRIGOLLI, CAIO CAVICHIOLI, SCHUERMANN DE BARROS, EDUARDA GUITTE CONCATO CARNEIRO FARHAT GUILHERME VENDRAMIN MAZUCA, IZABELLA KIMEL PESSATO HAN, JOÃO GABRIEL GARCIA MORENO, LARISSA GOUVEIA ROSA, LÍVIA BRANÇAM, DE FREITAS FARTO, LUCAS MENDES CASTANHO XAVIER DE FREITAS, MARIA CLARA PEREIRA LIAUSU, CAVALCANTI, MARIA EDUARDA DE BARROS E ALVES, PEDRO ANDRADE RIBEIRO, RAFAEL HIPOLITO DE ABREU, ROBERTO BRANDÃO GALVÃO NETO

A eletiva Atividade Física e Saúde, oferecida no 1º ano do ensino médio, tem como objetivo conscientizar os alunos sobre a importância da atividade física para a promoção da saúde física e mental. Para tanto, contempla conhecimentos teóricos e práticos sobre o funcionamento do corpo humano, suas capacidades físicas, habilidades motoras e a importância de cuidar da saúde mental, a fim de lidar com as emoções e desafios do mundo, buscando a resiliência mental e a estabilidade física.

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alimentação e do sono foram discutidas. Igualmente, com o objetivo de maximizar o entendimento sobre a importância de hábitos de vida saudáveis e como as práticas esportivas podem colaborar com o bem-estar mental, os alunos realizaram uma pesquisa com os alunos do ensino fundamental II do colégio. A pesquisa investigou se os nossos alunos realizam práticas corporais, por qual(is) motivo (s), qual frequência e local, por que e o tipo de prática. A amostra da pesquisa foi constituída por, 50 (cinquenta) meninos e 50 (cinquenta) meninas na faixa etária entre 11 e 14 anos de idade. Os resultados apontaram que, entre os meninos, 49 praticam atividade física e 1 não prática nenhuma atividade. Dos 49 alunos, 30 praticam as atividades físicas oferecidas no colégio, 8 alunos praticam dentro e fora do colégio e 12 alunos praticam fora do colégio.

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Já, entre as meninas, 47 praticam atividade física e 3 não praticam nenhuma atividade. Das 47 alunas, 20 praticam as atividades física oferecidas no colégio, 15 alunas praticam dentro e fora do colégio e 15 alunas praticam fora do colégio.

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Entre as práticas esportivas apontadas pelos meninos, destacam-se os esportes de quadra (futebol, basquetebol, voleibol e handebol), seguidas por natação e artes marciais. Quanto as meninas, os esportes de quadra também foram destacados, bem como o Ballet e outras atividades voltadas as danças, apontando ainda, em menor escala, ginástica artística e artes marciais. Quanto a frequência de prática, identificamos que ela ocorre entre 2 a 4 vezes por semana. Todos alunos pesquisados afirmaram que realizam as práticas esportivas porque gostam, sonham em conquistar o mundo, faz bem para a saúde e alivia a pressão dos estudos. Os que praticam atividade dentro do colégio acrescentaram que as práticas realizadas são de qualidade e em local seguro. E, por último, os que não praticam nenhuma atividade justificaram afirmando que têm preguiça e/ou não gostam. Após a coleta e análise dos resultados, os alunos realizaram uma pesquisa bibliográfica e descreveram, com as próprias palavras, a importância das práticas esportivas, em geral.


NA MINHA OPINIÃO, AS ATIVIDADES QUE REALIZO ME AUXILIAM NA DISPOSIÇÃO PARA ENFRENTAR PROBLEMAS NA ESCOLA, E DA MINHA VIDA PESSOAL, ALÉM DE ME DEIXAR MAIS TRANQUILA. (ANÔNIMO) “A ATIVIDADE FÍSICA PROPORCIONA O INTERESSE PELA PRÁTICA DOS ESPORTES E ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS. POR ISSO, ACHAMOS IMPORTANTE A REALIZAÇÃO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A OFERTA DOS ESPORTES PELO COLÉGIO.” (GUILHERME VENDRAMINI MAZUCA, PEDRO ANDRADE RIBEIRO, BRUNO GRIGOLLI E JOÃO GABRIEL MORENO) “AS ATIVIDADES ESPORTIVAS AJUDAM NO COMBATE A OBESIDADE E O ESTRESSE. ESTUDAMOS MUITO E TEMOS QUE ALIVIAR A PRESSÃO” (LÍVIA BRANÇAM DE FREITAS FARTO) DESDE A INFÂNCIA, A ATIVIDADE FÍSICA NO COLÉGIO TEM NOS AJUDADO, TANTO COM PROBLEMAS SOCIOEMOCIONAIS QUANTO NO NOSSO DESENVOLVIMENTO COMO PESSOA. TRABALHOS EM EQUIPE, LIDAR COM DERROTAS E APRENDER A LIDERAR, POR EXEMPLO, SÃO ALGUMAS DAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS PARA CONVIVÊNCIA EM SOCIEDADE QUE APRENDEMOS NOS EXERCÍCIOS E NAS ATIVIDADES FÍSICAS. (LUCAS MENDES CASTANHO XAVIER DE FREITAS E EDUARDA GUITTE CONCATO CARNEIRO FARHAT) “O ESPORTE É CAPAZ DE ATIVAR MUITAS ÁREAS DO SEU CONHECIMENTO, POR EXEMPLO, SABER LIDAR COM VITÓRIAS E DERROTAS, SABER LIDAR COM TRABALHO EM GRUPO E ELABORAR ESTRATÉGIAS. COM ISSO, É POSSÍVEL SE EXERCITAR MUITO MAIS, INCLUSIVE MELHORAR A CONCENTRAÇÃO E A ATENÇÃO DENTRO DE SALA DE AULA. AO MELHORAR O EXERCÍCIO CEREBRAL, TAMBÉM ESTOU MELHORANDO MINHA CAPACIDADE DE PENSAR E SOLUCIONAR PROBLEMAS.” (ROBERTO GALVÃO BRANDÃO) “A FALTA DE ATIVIDADES FÍSICAS ATROFIA O MÚSCULO E FAZ COM QUE OS MOVIMENTOS FIQUEM LIMITADOS, PARA COMBATER ISSO É NECESSÁRIO UMA MELHOR ALIMENTAÇÃO E PRÁTICA DE EXERCÍCIOS”. (PEDRO ANDRADE RIBEIRO)

“A ATIVIDADE FÍSICA ABRANGE DIVERSAS MELHORAS EM RELAÇÃO À SAÚDE E DEVE SER ACESSÍVEL E VARIADA. O COLÉGIO DEVE INCENTIVAR SEMPRE.” (LARISSA ROSA) “PARA MIM, A ATIVIDADE FÍSICA NO COLÉGIO NOS PROPORCIONA MUITAS CAPACIDADES SOCIAIS E PESSOAIS DIFERENTES DAQUELAS QUE TEMOS DENTRO DA SALA DE AULA. QUANDO PRATICAMOS ESPORTES DE QUALQUER TIPO, NOS SENTIMOS CONFIANTES, EM UM AMBIENTE SEGURO E COM PROFESSORES QUALIFICADOS E AMIGÁVEIS. ALÉM DISSO, CONHECEMOS NOVAS PESSOAS, INTERAGIMOS UNS COM OS OUTROS, PASSAMOS MAIS TEMPO FORA DA INTERNET E, AO MESMO TEMPO, NOS EXERCITAMOS E ALIVIAMOS O STRESS DE PROVAS E AULAS DA ESCOLA. A GINCANA TAMBÉM É UM MOMENTO QUE EXIGE MUITA PARTICIPAÇÃO E MUITO ESFORÇO DE NÓS, MAS É MUITO GRATIFICANTE PODER JOGAR E PARTICIPAR DESSE EVENTO AO LADO DE AMIGOS E PROFESSORES DO COLÉGIO, INDEPENDENTEMENTE DOS RESULTADOS DA COMPETIÇÃO”. (MARIA EDUARDA DE BARROS E ALVES) NO MEU PONTO DE VISTA, O ESPORTE QUE É OFERECIDO NA ESCOLA É EXTREMAMENTE IMPORTANTE, SEJA PARA A MINHA SAÚDE OU MESMO POR SER UM TEMPO DE DESCANSO DA VIDA ESCOLAR PESADA QUE LEVAMOS ATUALMENTE. MAS COM A QUANTIDADE DE TAREFAS, AFAZERES E A EXTENSA CARGA HORÁRIA A PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS FICA MAIS DIFÍCIL DEVIDO A LIMITAÇÃO DE TEMPO. A ESCOLA TAMBÉM DEVERIA ESTIMULAR MAIS A PRÁTICA DE ESPORTES NA MESMA, VISTO QUE UMA PEQUENA PORCENTAGEM DE ALUNOS FAZEM ATIVIDADES FÍSICAS AQUI, UM EXEMPLO DE ESTÍMULO QUE JÁ É REALIZADO AQUI É A GINCANA PROPORCIONADA PELA ESCOLA NO COMEÇO DE TODOS OS ANOS”. (MARIA CLARA PEREIRA LIAUSU CAVALCANTI) “A ATIVIDADE FÍSICA NÃO SÓ ALIVIA O ESTRESSE COMO TAMBÉM MELHORA A QUALIDADE DE VIDA E REDUZ O RISCO DE DOENÇAS.” (IZABELLA KIMEL) “A ATIVIDADE FÍSICA É UM MEIO DE EDUCAÇÃO, ELE PODE SER UMA MANEIRA ALTERNATIVA E GRATIFICANTE DE DESENVOLVER CRIANÇAS E JOVENS.” (RAFAEL HIPÓLITO) “NA MINHA OPINIÃO, A SAÚDE É UM DOS BENS MAIS VALIOSOS E UMA DOENÇA PODE MUDAR MUITO NA VIDA DA PESSOA. POR ISSO, PARA A MANUTENÇÃO DA NOSSA SAÚDE É NECESSÁRIO A ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E A PRÁTICA DE UMA ATIVIDADE FÍSICA DESDE A INFÂNCIA. ASSIM, AUMENTAMOS A POSSIBILIDADE DE EVITAR DOENÇAS E COMBATEMOS A OBESIDADE INFANTIL”. (ANA LUIZA AMORIM MOURA)

ANUÁRIO 2019

“EU CONSIDERO A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES FÍSICAS ALGO ESSENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEL DO ORGANISMO. CASO TIVESSE MAIS TEMPO, EU CERTAMENTE O DEDICARIA PARA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA, ENTRETANTO, MINHA ROTINA DE ESTUDOS, O TEMPO QUE LEVO PARA CHEGAR EM CASA E AS TAREFAS QUE REALIZO AUXILIANDO COM OS CUIDADOS DA MINHA CASA, ME IMPEDEM.” (CAIO CAVICHIOLI)

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De acordo com os resultados analisados, podemos concluir que as práticas corporais são de suma importância para o desenvolvimento integral (físico, cognitivo, social e emocional) das crianças e jovens. Por isso, as nossas atividades, desde a educação física escolar até as práticas das modalidades esportivas, são organizadas e conduzidas por profissionais qualificados, que se mantêm em constante atualização e têm um olhar mais humano aos alunos, respeitando os limites, os sonhos, os objetivos, as expectativas e as dificuldades de cada um. No que tange aos benefícios emocionais das práticas esportivas, é preciso um melhor entendimento para não associar estas práticas apenas ao desempenho esportivo, pois o engajamento dos nossos alunos em uma das atividades oferecidas pelo colégio são determinantes para as relações que se constituem a partir de tal ação, para a criação de novos vínculos de amizade e para o sentimento de pertencimento.

ANUÁRIO 2019

Igualmente, “[...] trazem benefícios psicossociais como o aumento da autoestima, redução da depressão, manutenção da autonomia, o alívio do estresse, consequentemente aumentando o bem-estar social, melhora da autoimagem e a redução do isolamento social” (COSTA, 2011, p. 2).

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Entendemos, que ao realizar a pesquisa, não estamos apenas quantificando locais, números ou esportes, mas dando voz aos nossos alunos e proporcionando que eles se sintam prestigiados e valorizados. No colégio Uirapuru as nossas relações são construídas através da confiança e estabelecidas por meio do diálogo e das demonstrações de afeto e respeito e é com

estes sentimentos que todos trabalhamos para que os nossos alunos se sintam parte de uma história construída há 30 anos. Obrigada a todos os(as) alunos(as) da eletiva Atividade Física e Saúde e os que gentilmente disponibilizaram parte do seu tempo para participar desta pesquisa. Vocês foram incríveis! REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: COSTA, G. P. B. O benefício do esporte na vida das crianças na idade escolar. Disponível em: <https://repositorio.ucb. br/jspui/bitstream/10869/1207/1/O%20 Beneficio%20do%20Esporte%20para%20as%20 Crian%C3%A7as.pdf.> Acesso em: 22 de agosto de 2019.


Treinamento esportivo, ação, formação e transformação

Escrever sobre treinamento esportivo para crianças e jovens é sempre um tema desafiante e ao mesmo tempo empolgante. A prática esportiva para esta população é deveras importante, principalmente nos dias de hoje onde o celular é parte integrante do cotidiano dos jovens. Estudos revelam que os jovens passam em média 4,5 horas por dia trocando mensagens ou em jogos online. Jean M. Twenge, professor de psicologia da Universidade Estadual de San Diego estuda os adolescentes há 25 anos e concluiu que os efeitos dessa superconectividade faz com que os jovens passem menos tempo, pessoalmente, com os seus amigos,

consequentemente, aumentando os casos de ansiedade, depressão e solidão. Além disso, constatou que os jovens que agora chegam ao mercado de trabalho são mais dependentes e com maiores dificuldades nas tomadas de decisões. Este é um dilema que nós professores, pais e toda a comunidade educacional, nos deparamos e procuramos buscar soluções para reverter esta tendência comportamental. É nesta visão de mudança que entra o esporte. O Colégio Uirapuru, atento a este fenómeno digital, é inovador nas metodologias educacionais, conciliando o que há de melhor do ensino tradicional com o ensino moderno. Sempre atento às necessidades dos alunos e inspirados nos quatro pilares da educação definidos

ANUÁRIO 2019

Professora Crisálida Gonçalves

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pela UNESCO: Aprender a Ser, Aprender a Conviver, Aprender a Conhecer e Aprender a Fazer, o Colégio, desenvolve o treinamento esportivo numa vertente educativa. Trabalhar com a formação integral e crítica do ser humano, além da construção e ampliação dos conhecimentos técnicos e táticos dos jovens praticantes, prioriza a cooperação, a participação, a solidariedade e a criatividade dos alunos, os quais são os protagonistas desse processo educativo, e não meros reprodutores da modalidade esportiva praticada.

ANUÁRIO 2019

Sabendo que o treinamento esportivo praticado com qualidade, eleva as capacidades físicas dos jovens praticantes, existindo um aumento do crescimento ósseo, uma diminuição da massa gorda, um aumento das capacidades condicionais, tais como a força, a velocidade, a resistência, a flexibilidade e a agilidade contribuindo, desse modo, para o desenvolvimento saudável do praticante, o Colégio Uirapuru através do treinamento esportivo procura desenvolver não apenas a dimensão física, mas também os aspectos cognitivos, emocionais e psico-sociais dos participantes.

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Mas o esporte envolve outras variáveis, como a vitória e a derrota, que se não forem pensadas, avaliadas e cuidadas sob um olhar crítico, positivo e amplo, podem ser prejudiciais ao desenvolvimento de crianças e jovens. Assim, promover o autoconhecimento é também uma meta que pretendemos alcançar, por meio da


O treinamento esportivo e particularmente o Voleibol, modalidade que me formou como pessoa, permitiu-me desenvolver capacidades de superação, de resiliência, de cooperação, de persistência, entre outras. As competências que mais marcaram a minha essência foram o respeito e a disciplina. Respeito no seu sentido mais abrangente, não só pelas hierarquias dos grupos, pelos(as) colegas, pelos torcedores, mas também por mim própria, pelo outro e por tudo o que me rodeia. A disciplina na organização e na estruturação do meu cotidiano. Aprendi a dividir o meu dia entre os estudos, a família, o trabalho, os amigos e o esporte, pois no meu tempo não existiam os “smartphones”. Aprendi a separar o que é importante do que é irrelevante, do que é certo e do que é errado. O esporte, o qual pratiquei desde os meus 12 anos de idade até aos 30 anos, jogando 98 vezes pela Seleção Nacional Portuguesa e onde obtive vários títulos pessoais e nacionais, não me impediu de estudar, de

graduar-me numa universidade pública portuguesa onde concluí a licenciatura e o mestrado, de constituir família e de seguir uma carreira profissional. A minha experiência pessoal é corroborada por vários estudos nacionais e internacionais, que mostram os beneficios da prática esportiva. Alguns deles revelam que as crianças que praticam exercícios têm melhor desempenho escolar. Há estudos que concluem que a formação acadêmica não interfere com a performance esportiva dos atletas e que é possível conciliar as duas atividades, assim como verificam que não existe uma influência nefasta do esporte no percurso escolar dos atletas. Constata-se, deste modo, que a prática esportiva é uma escola fantástica, onde as conquistas não são obras do acaso, mas sim o fruto de muito trabalho, dedicação, abnegação, empenho e estudo. Com o esporte o aluno amplia o foco, a disciplina, a organização, a rapidez de raciocínio, criando estratégias cognitivas para ultrapassar os obstáculos e desenvolvendo ferramentas que o irão ajudar na solução dos seus problemas. É desta forma que visualizamos o treinamento esportivo, como um catalizador de aprimoramento do aluno, transformando o jovem, num Homem de sucesso, não só academicamente, mas em todas as suas vertentes integrais sejam elas físicas, sociais, e emocionais.

ANUÁRIO 2019

prática esportiva, porque é crucial que o jovem praticante saiba reconhecer as suas qualidades e as suas limitações para que possa adaptar-se às suas expectativas e evitar frustrações, ou seja que aprimore a sua conscientização tornando-se capaz de perceber criticamente a dialética entre ele e o objeto, construindo, como diz Paulo Freire, a compreensão crítica do indivíduo como ser existente no mundo e com o mundo.

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Atividade física aliada à boa alimentação: o equilíbrio para uma vida saudável Professor Roberto Vazatta

ANUÁRIO 2019

Atualmente muito se fala em qualidade de vida e a promoção da saúde. Há o consenso de que para ter saúde, é necessário o equilíbrio entre a prática da atividade física e uma alimentação saudável (SMELTZER & BARE, 2006, p. 57).

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Mas como alcançar esse propósito? Primeiro precisamos pensar se realmente estimulamos a saúde e o bem-estar. Com relação à alimentação ou atividade física, justificativas surgem como a falta de tempo, praticidade em consumir produtos industrializados, não gostar de treinar e outros. Precisamos ter a consciência que estaremos praticando saúde se tivermos uma vida fisicamente ativa associada à alimentação saudável. A boa forma física não está associada somente ao exercício físico. Os bons hábitos alimentares, com o equilíbrio da qualidade e quantidade, podem oferecer ao organismo

a energia necessária para realizar as tarefas diárias, assim como suprir as necessidades energéticas do exercício físico. No Uirapuru desenvolvemos ao longo do ano o projeto Vida Saudável abordando diversos temas desde a Educação infantil até o Ensino Médio. Assuntos como cuidados com acidentes em casa, sistema digestório, sistema respiratório, alimentação, higiene corporal, bactérias, alterações hormonais, bebidas isotônicas e energéticas, gravidez na adolescência, álcool, drogas e cidadania são abordados para conhecimento, abertura de conversas e reflexões com os alunos. Os alunos do 2º e 4º anos do Fundamental I tiveram a oportunidade de sentir o próprio coração com seus batimentos em repouso e logo após uma corrida no campo, já bem mais acelerado. Com a utilização de vídeos e conversas em sala de aula, pudemos


Os alunos do 6º ano ouviram sobre os cuidados com a ingestão de bebidas isotônicas. Estas realmente repõem os sais minerais, porém, o uso indiscriminado, simplesmente para acabar com a sede ou porque tem algum sabor, pode ser prejudicial ao corpo aumentando o trabalho renal. Também tiveram oportunidade de conhecer quais são as alterações no organismo para quem consome bebidas energéticas. Elas possuem uma grande quantidade de cafeína, açúcar e outros ingredientes que podem desencadear sérios efeitos colaterais como insônia, aceleração ou irregularidade dos batimentos cardíacos, irritabilidade, agitação etc. E será mesmo que crianças e adolescentes precisam mesmo de “um ganho de energia” como são vendidos estes produtos? Muitos assuntos são abordados com os alunos e acreditamos que são importantes para o conhecimento e formação pessoal. O equilíbrio da atividade física com

a alimentação deve ser observado e incentivado com muita atenção pelos pais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma boa qualidade de vida devemos ser fisicamente ativos, que quando quantificado em números, gira em torno de 150 minutos de exercícios físicos semanais. Esses minutos podem ser distribuídos de forma conveniente. Pode ser desde andar de bicicleta, patins, caminhar com o cachorro, correr ou praticar um esporte. Vale ressaltar a importância que o esporte seja desenvolvido por um profissional de educação física qualificado. Para ter uma boa qualidade de vida, precisamos manter o equilíbrio entre as fontes de energia em todas as refeições e em todos os dias da semana. A boa alimentação passa pela oferta e dosagem de cerais, fibras, legumes, verduras, proteínas e carboidratos (BRASIL, 2006, p. 22-23). Sabemos que é praticamente impossível manter-se totalmente regrado sempre, porém é importante ressaltar que somos o resultado de nossos hábitos. Portanto, se temos hábitos saudáveis, seremos pessoas saudáveis e, assim, podemos dar o exemplo para aqueles que amamos e aprendem conosco.

ANUÁRIO 2019

explicar porque o coração tem esse ciclo de batimentos e qual a sua função. Aproveitamos para falar que o coração é treinável com a atividade física e que a boa alimentação é fundamental para mantê-lo sempre saudável.

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ANUÁRIO 2019

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TRABALHO EM GRUPO, AULAS INTEGRADAS E APRENDIZAGEM CRIATIVA


ANUÁRIO 2019

TRABALHO EM GRUPO, AULAS INTEGRADAS E APRENDIZAGEM CRIATIVA ESTÃO PRESENTES QUANDO FALAMOS ESCOLA CENTRADA NA APRENDIZAGEM E QUE BUSCA METODOLOGIAS QUE TÊM COMO FOCO A PARTICIPAÇÃO ATIVA DOS ALUNOS. SE CONFIGURAM COMO MUDANÇA DE PARADIGMA PELA SUA INTENCIONALIDADE E ABORDAGEM. EXIGEM COMPARTILHAR CONHECIMENTOS, EXPERIÊNCIAS E RELAÇÕES INTERPESSOAIS E TORNAM A APRENDIZAGEM MAIS SIGNIFICATIVA.

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Micromundo: Uma imersão na capacidade criativa Professora Raquel Avena

ANUÁRIO 2019

No início de 2019 o Colégio realizou parceria com a Faber-Castell no programa de aprendizagem criativa, o denominado Micromundo. O objetivo deste programa é fazer com que os alunos explorassem materiais, ideias, trabalho em grupo junto com muita diversão e magia. Mas qual o motivo deste trabalho?

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Muito simples, a intenção é fazer com que os alunos sejam criativos, e usem essa criatividade para ultrapassar as barreiras da idade e dos muros do Colégio, tornandoos cidadãos seguros, confiantes, que se expressam e deixam suas marcas por onde passarem. De acordo com Vigotski (2018, p. 16) “é exatamente a atividade criadora que faz do homem um ser que se volta para o futuro, erigindo-o e modificando seu presente”.

As experiências de vida trazidas pelos alunos acabam por revelar uma sociedade marcada por mudanças rápidas de uma era digital altamente complexa, onde o que é pronto e industrializado tornam os objetos e, principalmente, as relações mais voláteis, descartáveis. Dá-se muita importância ao imediatismo do consumo, que está diretamente ligado à tecnologia e ao rápido desenvolvimento desta, e se a mesma não for inovadora, fantástica e que supra as necessidades do ser humano, como num passe de mágica, é trocada por outra mais complexa. Percebe-se que este é um movimento mundial, todas as nações estão em busca cada vez mais de alta tecnologia, mas acaba-se perdendo alguns sentidos de vida que muitos almejam. Estar junto, discutir, criar, ter momentos de boas risadas, frustrações e recomeços. É


assim que o Programa de aprendizagem criativa chega ao Colégio Uirapuru, com o intuito de oferecer aos alunos oportunidades para explorarem materiais, colaborarem e interagirem com os colegas e, principalmente, viverem de forma envolvente um ambiente em que possam se expressar, pesquisar, testar e enriquecer cada vez mais suas próprias experiências. “A criação, na verdade, não existe apenas quando se criam grandes obras históricas, mas por toda parte em que o homem imagina, combina, modifica e cria algo novo” (VIGOTSKI, 2018, p. 17). Seguindo esta prerrogativa, apontada por Vigotski (2018), entende-se claramente o conteúdo da aprendizagem criativa: imaginar, combinar, modificar e criar. E, assim o Micromundo foi criado, para dar possibilidades aos alunos imergir num mundo de fantasia, onde podem ser o que quiserem, construir o que desejarem e, acima de tudo, criar o que a imaginação mandar.

Entendemos que a infância é considerada a época em que a fantasia é mais desenvolvida, e à medida que esta criança se desenvolve a sua imaginação e a força de sua fantasia diminuem (VIGOTSKI, 2018, p.46). Por este motivo é tão importante fazer com que as crianças tenham acesso, condições, vivências e estímulos para assim, tornarem-se criativas. O Micromundo chega para que todas estas possibilidades aconteçam de forma real e

ANUÁRIO 2019

Quanto mais se amplia as experiências de vida das crianças, mais se vê, se ouve e se vivencia, maior a assimilação de toda a realidade, tornando-as mais produtivas e, consequentemente, mais significativa será a sua capacidade de imaginação.

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significativa na vida escolar das crianças e que elas possam levar essas experiências para além da escola, compartilhando com seus familiares e alimentando cada vez mais o imaginário e, consequentemente, o processo de criação. Este processo acontece em um espaço do colégio, para ser modificado e explorado pelos alunos transformando-o em um ambiente repleto de cores, sons, aromas e formas. Estes espaços foram pensados previamente, para que pudessem receber os materiais necessários para sua transformação e, assim, a beleza do ambiente e o desafio dos objetos ali presentes devem estimular a criança a agir, o que é fundamental para que este ambiente seja harmonioso e colorido, e que convidasse as crianças a interagirem, brincarem e trabalharem (HORN, 2004, p. 32). A proposta do Micromundo é dividida em narrativas fantásticas, as quais possuem um enredo altamente encantador, repleto de magia, mistério e missões. Coube às professoras tornar estes momentos ainda mais especiais, misturando a realidade com a imaginação. As narrativas trabalhadas foram: Aventuras na Floresta Encantada, Explorações Submarinas e O sumiço das obras de artes. Cada temática aborda um cenário diferente a ser explorado, criado e vivenciado.

ANUÁRIO 2019

A incrível fábrica de criação está pronta, sintam-se encorajados a imaginar...

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AVENTURAS NA FLORESTA ENCANTADA A chegada de uma carta, de um grupo de pesquisadores que viajava em um balão deixou as crianças em estado de euforia. Na carta, os pesquisadores diziam que passaram por uma tempestade e que o balão não resistiu à força da chuva e acabou caindo. O balão ficou preso na copa

das árvores e, assim, os pesquisadores conseguiram descer, mas perceberam que estavam em lugar completamente desconhecido, em meio a uma floresta, mas a floresta não era comum, era encantada... Os pesquisadores precisavam da ajuda das crianças para explorarem este mundo mágico. Juntamente com a carta, chega uma maleta, que continha materiais necessários para que todas as explorações tivessem sucesso: um lápis perfeito, uma lupa, um alicate, uma régua, um porta objetos para armazenar os elementos coletados. Pronto, assim começa a história das Aventuras na Floresta Encantada. Fadas, pós mágicos, galhos, folhas, animais, bruxas e muitas criaturas fizeram parte deste micromundo. As crianças tiveram a missão de criar a Floresta Encantada pelos corredores do Colégio, transformando um simples espaço cotidiano em um lugar mágico, com cheiros, criaturas imaginadas por elas, formas e muitas cores. O corredor se tornou uma passagem para a fantasia. Ali puderam brincar, interagir, vivenciar experiências e, acima de tudo, criar suas próprias histórias. EXPLORAÇÕES SUBMARINAS Escutou um barulho de mar?... Sim, e também sons das gaivotas, o cheiro da maresia e um papagaio que insiste em enganar os alunos com pistas falsas para não encontrarem o tesouro que afundou junto com a navio do Barba Ruiva. Foi nesse clima de suspense, que o Barba Ruiva deixou suas marcas pelo Uirapuru. Com um mapa e certas orientações os alunos precisaram construir embarcações e


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ANUÁRIO 2019


equipamentos de mergulho para recuperar o tesouro antes deste intrigante pirata. O resultado foi uma explosão de criatividade e imaginação, com gostinho de quero mais…

fizeram deste momento único. Trouxe aos alunos a certeza de que são capazes de criar obras tão importantes e belas quanto os artistas famosos.

O SUMIÇO DAS OBRAS DE ARTE

Nosso museu ficou repleto de cores, formas e realismo jamais visto antes por aqui!!!!

Ei, “cadê” as obras do museu???????? Os alunos receberam uma ligação muito importante do curador de um famoso Museu de Obras de Artes. Um mistério envolvia o sumiço das obras de arte de artistas famosos como Monet, Calder e Vik Muniz.

ANUÁRIO 2019

E o grande problema era que o Museu abriria suas portas ao público em poucos dias e as paredes das salas de exposição estavam vazias!!!!!

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Mãos à obra pequenos grandes artistas… Os alunos foram os responsáveis em preencher o museu com suas produções, estudaram cada artista, se aprofundaram nas técnicas de pintura e se arriscaram em criar explendorosas obras de artes!!! Cada observação, pincelada e dedicação

Foi assim, que os alunos do 1º ano entraram em contato com o Micromundo, dando a eles oportunidades de produzirem coisas magníficas, elaborarem instrumentos revolucionários e, o mais importante, serem felizes e muito criativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BURD, Leo. Programa de aprendizagem criativa: 1º ano do Ensino Fundamental: Guia do Professor. coordenadora Patricia Monteiro. 2.ed. São Paulo: Evoluir, 2019. VYGOTSKI, L. S. (Lev Semenovitch), Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico. São Paulo: Expressão Popular, 2018. HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores, sons e aromas: a organização dos espaços na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.


Aprendizagem criativa Professoras Ana Paula de Souza, Cleisi Tezzotto e Marina Alves

Ser criativo não se resume a ter uma ideia legal, muito menos a obter um bom resultado em algo. A criatividade é um processo, é o caminho que percorremos da ideia inicial até os resultados. São os erros e as decisões que tomamos para contornálos, os acertos e seus aprendizados e, acima de tudo, os relacionamentos que desenvolvemos ao longo do percurso.

“NOSSOS ESFORÇOS DEVEM DIRIGIR-SE PARA A CRIAÇÃO DE UM NOVO AMBIENTE ESCOLAR, UM AMBIENTE DE APRENDIZAGEM VIVO E ESTIMULANTE, DE TRABALHO EM COMUM SOBRE O CONHECIMENTO, UM AMBIENTE DE CURIOSIDADE CIENTÍFICA E DE PARTICIPAÇÃO”

O conceito de Aprendizagem Criativa baseia-se em pilares, que ajudam a direcionar a forma como as atividades são propostas e colocadas em prática, os 4 P`s: Projects (Projetos), Passion (Paixão), Peers (Pares) e Play (Pensar brincando).

(ANTÓNIO NÓVOA)

Os micromundos são ambientes educacionais que estimulam a exploração

ANUÁRIO 2019

A criatividade nos permite analisar qualquer problema por expectativas diferentes e explorar soluções além das convencionais.

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livre, a colaboração e o desenvolvimento de projetos pessoalmente significativos para os alunos, têm como objetivo central transformar a sala de aula em micromundos de aprendizagem que alimentem a extraordinária capacidade de inovação e expressão criativa das crianças. Estendemos o conceito de micromundo para além das tecnologias digitais e usamos materiais comumente disponíveis como papelão, tecidos e diversos outros capazes de transformar a sala de aula em ambientes ricos e propícios à construção e exploração como norteadoras do aprendizado.

ANUÁRIO 2019

O Colégio Uirapuru em parceria com a Faber-Castell e o pesquisador Leo Burd do MIT Media Lab, elaborou um conjunto de estratégias conectadas à BNCC (Base Nacional Comum Curricular) que define habilidades e competências a que todos os estudantes têm direitos. Dentre elas destacamos ensinar a criatividade, pensamento crítico, colaboração, empatia, responsabilidade, e cidadania. O micromundo possui um terreno fértil para o desenvolvimento dessas habilidades. Para que todas essas habilidades fossem atingidas foi necessário revisitar o planejamento para repensar em ações potentes para promover a aprendizagem criativa.

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Neste ano os alunos do 2º ano do Fundamental I do Colégio Uirapuru foram convidados a mergulhar em sua criatividade para criar projetos inovadores e transformar suas ideias em realidade no micromundo. O primeiro micromundo vivenciado foi “Jovens Arquitetos” e, através da leitura da narrativa (leitura que convida os alunos a participarem do micromundo) os alunos foram convocados a participarem da equipe de projetos emergenciais , pois uma forte tempestade atingiu um vilarejo da


Antes mesmo de entrarem no estúdio de arquitetura as crianças já recebiam um cartão de identificação do arquiteto para se incorporarem à proposta. Ao entrarem no micromundo o encantamento aumentou, pois o ambiente foi todo pensado para envolver as crianças, despertar a criatividade e fazer com que se sentissem realmente em um estúdio de arquitetura. Desde a entrada, com uma placa na porta com os dizeres: “Estúdio de arquitetura”, plantas baixas expostas, ferramentas utilizadas em construções como pá, tijolos, conduítes, capacetes de segurança, óculos de proteção, sons de construção, entre outros elementos, foram usados para dar vida a este micromundo. A primeira estação de atividade as crianças tiveram a oportunidade de criar personagens que serviram como guia para os demais projetos desse micromundo. E nesse momento, já deveriam pensar em alguns aspectos, como: meus futuros projetos poderão suprir as necessidades do meu personagem? Do que ele precisa? A estação de atividades “Abrigos temporários” convidou os alunos a projetar e criar abrigos para seus personagens, e enquanto a casa dos sonhos não ficava pronta, as crianças colocaram a mão na massa para criar, em grupos, seus abrigos. Nossos arquitetos receberam um kit estrutural para inspirá-los na criação dos abrigos e realizaram testes até chegar na estrutura mais resistente possível. E por falar em casa dos sonhos, conhecer um pouco mais da função de um arquiteto

foi uma das etapas deste trabalho. A entrevista com a arquiteta Fernanda Caiuby ajudou os alunos a entender mais sobre essa profissão e despertou ainda mais o interesse em desenvolver os próximos projetos. Como um dos desafios era construir a casa dos sonhos para as famílias atingidas pela tempestade, foi necessário aprender quais eram os materiais utilizados na construção de uma casa e, para isso, no Quintal do Uirapuru, munidos de equipamentos de proteção como capacetes, luvas e óculos de proteção nossos jovens arquitetos fizeram misturas com cimento, cal e areia e exploraram alguns materiais, como tijolo, pá, madeira, entre outros. Por fim, na estação “A casa dos sonhos” é chegada a hora da mudança para a casa dos sonhos. Nessa estação os alunos criaram uma casa dos sonhos utilizando uma variedade de materiais, dentre eles um kit de design de interiores, que serviu como um ponta-pé inicial para experimentações em papel na construção de casas. Além disso, os alunos também trabalharam em escalas, medindo os objetos ao seu redor e tentando recriá-los em outros tamanhos. No segundo micromundo, “Viagem ao centro do livro”, os alunos adentraram em um novo universo, o universo dos livros! As crianças mergulharam na história e encantaram-se com personagens reais, inspiradas pela obra “Alice no país das Maravilhas”, de Lewis Carroll, anteriormente lida de maneira compartilhada em sala de aula. Para a primeira estação de atividades “Bem-vindos ao país das maravilhas”, o convite de boas-vindas ao mundo da ficção foi realizado pela personagem Alice. Em seu tamanho real, convidou os alunos com a

ANUÁRIO 2019

cidade e inúmeras pessoas perderam suas casas. Por isso nossos jovens arquitetos precisavam desenvolver projetos para a construção de abrigos e casas para as famílias atingidas pela forte chuva.

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narrativa 1. “Vocês viram um coelho passar apressado? Acredito que ele entrou em sua toca! Vocês teriam coragem de entrar também?”. Alice entregou papéis e solicitou que os alunos desenhassem suas hipóteses sobre o que encontrariam após descer pela toca do coelho. Juntos chegaram ao local que a personagem havia avistado o coelho pela última vez. Para entrar na pequenina toca foi preciso beber uma poção de uma garrafinha com os dizeres: BEBA-ME, assim como na história do livro.

ANUÁRIO 2019

Ao entrarem engatinhando pela toca do coelho a história se tornou real! Chegaram ao “País das Maravilhas” ao som da trilha sonora do filme. No cenário encontraram mais associações ao livro. Bules, xícaras de chá, mapas, árvores e elementos da história que interagiram com o mundo imaginário das crianças. Colocaram seus papéis em um painel e puderam verificar suas hipóteses. Ainda neste primeiro momento, os alunos foram convidados a desenhar sua parte favorita da história.

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papelão, sacos de papel, retalhos de papel e tecido em chapéus, cartolas, coroas e fantasias. Na estação de atividades seguinte “ A fábrica de jogos da Rainha de copas” os alunos puderam explorar e criar jogos envolvidos pela narrativa da Rainha de Copas. A personagem lembrou que a festa de desaniversário do Chapeleiro se aproximava e convidou-os a planejar momentos de diversão para o grande dia! Quais brincadeiras e jogos poderiam ter? Como seriam as regras? Em grupos, planejaram, discutiram, testaram e criaram os mais diversos jogos e brincadeiras. A finalização desse micromundo aconteceu com a festa de desaniversário do Chapeleiro. Na oficina de bolos, os alunos manusearam a pasta americana e confeitaram seus próprios bolinhos. Adereços, bolos e jogos finalizados! Tudo pronto para a festa! Em clima de descontração e entusiasmo as crianças brincaram e se deliciaram nesta viagem ao centro do livro.

No segundo momento, a estação “A oficina do Chapeleiro Maluco” foi vivenciada após o convite do Chapeleiro Maluco. “Vocês foram convidados para a minha festa de desaniversário! Todos devem passar por uma oficina para criar suas fantasias! Qual personagem você será? Você será um personagem que já existe na história ou criará um personagem só seu? Me acompanhem nessa criação!”

Duas vivências riquissímas, cheias de criatividade e significados! Vamos fazer do mundo um lugar mais criativo!

Os alunos realizaram um pequeno esboço do personagem que foi criado. Após o esboço colocaram a mão na massa para a confecção dos acessórios de seus personagens. Na oficina de adereços usaram a criatividade para transformar limpadores de cachimbo, pratinhos de

BURD, Leo. Programa de aprendizagem criativa: 2º ano do Ensino Fundamental: Guia do Professor coordenadora Patrícia Monteiro. São Paulo: Evoluir, 2019.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

_________ Revista Por dentro da BNCC, Material de Referência Pedagógica, Educação Infantil e Ensino fundamental, Editora Moderna, 4ª versão.


Trabalho em grupo: a importância dos papeis para a formação do cidadão Professora Juliana Cares

A frase acima, escrita por Rachel A. Lotan (2019), uma das autoras do livro Planejando o Trabalho em Grupo, define uma das características para uma sala de aula equitativa. Vive-se hoje em uma sociedade em que crianças e adolescentes possuem acesso facilitado a diversos meios tecnológicos e de obtenção de informação. Além disso, o mundo torna-se cada vez mais competitivo. O reflexo disso em sala de aula é que não se pode mais conceber a

métodos de ensino que não acompanhem essas mudanças. É preciso ter um olhar nas habilidades de cada aluno e nas possibilidades que a escola oferece para que várias áreas sejam desenvolvidas. De acordo com Goleman e Senge (2015), os adultos do futuro devem vivenciar situações de aprendizagem social e emocional em sala de aula, desenvolvendo integralmente o foco interno (autoconhecimento), o foco externo (empatia) e a inteligência sistêmica (compreender o todo). Surge então, a proposta: como proporcionar aos alunos a possibilidade de desenvolver inteligências múltiplas garantindo uma formação além dos livros didáticos? O trabalho em grupo vem para auxiliar nessa questão.

ANUÁRIO 2019

Imagine o seguinte cenário: "Uma sala onde todos os alunos conseguem enxergar uns aos outros como colegas e pares, competentes e contribuintes para o aprendizado comum enquanto estão engajados em atividades e conteúdos sérios”.

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ANUÁRIO 2019

Os alunos do 3º ano estavam habituados a realizar trabalhos coletivos, com diferentes formações e abordagem de conteúdos variada. Entretanto, eles nunca haviam se colocado em funções dentro de um grupo, tornando cada integrante essencial para a execução do produto final. Não havia o papel de liderança, já que todos os integrantes eram responsáveis por sua contribuição para alcançarem o objetivo.

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No primeiro momento, estabeleceu-se em sala de aula as normas de comportamento, como por exemplo: “ninguém terminar até que todos terminem” e “todos têm o direito de pedir ajuda e o dever de ajudar”. Era importante que os alunos entendessem que não havia o mais ou o menos sabido, que aquele espaço era a oportunidade de construírem juntos o aprendizado e chegarem a soluções para os problemas apresentados. “As crianças chegam nas escolas com um repertório muito rico, do qual nunca tiramos vantagem, com o qual nunca nos importamos, ao qual não damos valor e não

damos uma chance para que elas mostrem o quão inteligentes são – e elas são, de fato, incrivelmente inteligentes” (LOTAN, 2019). No segundo momento, os alunos tiveram contato com os papéis a serem desenvolvidos no grupo. Cada uma com funções diferentes: facilitador, repórter, harmonizador, controlador do tempo e monitor de recursos (confira os detalhes no box). Sem o empenho de cada um, não havia como executar a tarefa. Cartazes com as funções de cada papel foram fixados na sala para que eles pudessem consultar sempre que necessário. E, então, partiram para a execução da atividade. Com base no conteúdo trabalhado em Ciências, os alunos realizaram uma pesquisa sobre diversos animais aquáticos (modo de vida, alimentação, reprodução e curiosidade). As professoras fizeram a divisão dos grupos e indicação dos animais a serem pesquisados, para que elaborassem cartazes que posteriormente seriam compartilhados com a comunidade escolar.


Enquanto a pesquisa foi realizada individualmente como tarefa de casa, a compilação dos dados e a elaboração do cartaz foram coletivas, apresentando as descobertas sobre os animais e planejando a execução da tarefa, lembrando dos papéis executados por cada um. Todos eram responsáveis pela criação do produto final e cada função deveria garantir que a realização da atividade tivesse sucesso. Nesta proposta, mais do que o produto final, as professoras observaram como os alunos desempenhavam seus papéis no grupo e quanto de autonomia eles tinham para se colocarem e posicionarem sobre a tarefa. Ao invés de uma aula expositiva, os alunos aprenderam sobre o conteúdo esperado na disciplina de maneira interativa e autônoma. Ao final, cada grupo contou para os colegas as descobertas sobre os animais. Já a comunidade escolar pode conferir o resultado através da exposição dos cartazes nos corredores.

As respostas foram as mais variadas. "Minha função era ser facilitador. Foi legal, porque foi fácil realizá-la. Todo o grupo soube o que era para fazer e essa era uma das minhas funções", disse a aluna G., oito anos. Em outro grupo, a aluna M., oito anos, foi monitora de recursos. "Eu achei legal porque tinha que entregar os materiais. Eu adorei desenhar e escrever, e o bom foi que não tinha sujeira". No segundo semestre, um projeto que destacou o trabalho em grupo e os

ANUÁRIO 2019

Como encerramento da atividade, cada aluno respondeu perguntas que analisaram o desempenho deles diante das funções distribuídas e como isso contribuiu, ou não, para a realização do que foi proposto.

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papéis desempenhados pelos alunos foi o micromundo “Alcançando as estrelas”. A partir de narrativas bem elaboradas, cenários e personagens como astronauta e extraterrestre, os alunos desvendaram os mistérios do universo além da galáxia conhecida pelos humanos. Em grupo, participaram de discussões sobre assuntos relacionados ao tema e criaram seus exoplanetas a partir de material reciclado. Durante todo o processo, os alunos tiveram os papéis definidos para garantir um produto final de qualidade e com o jeito da turma. Para compartilhar as criações, foi realizada uma exposição para os alunos do 4º ano, na qual cada grupo tinha que contar sobre as características e curiosidades dos seus exoplanetas. Mas por que a distribuição dos papéis foi tão importante para os alunos do 3º ano?

ANUÁRIO 2019

Entre as habilidades esperadas para os profissionais que ingressarão ao mercado

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de trabalho no futuro não tão distante, estão resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade e gestão de pessoas, segundo dados do Fórum Econômico Mundial, em 2016. E é na escola que essas habilidades podem ser desenvolvidas, através do trabalho em grupo, por meio da interação na resolução de diversas propostas. A partir de um planejamento eficiente, podese proporcionar aos alunos ambientes de aprendizagem nos quais eles serão os protagonistas na construção do conhecimento, sempre respaldados pela professora, que como mediadora, auxiliará no caminho dessas descobertas. Quanto mais interação, maior a aprendizagem. A interação e empatia com o colega na sala de aula, que nem sempre é o melhor amigo, prepara-os de forma tranquila, para a vida adulta. Afinal, as crianças de hoje têm todas as cartas nas mãos para fazerem do futuro, um lugar muito melhor.


O QUE SÃO OS PAPÉIS DENTRO DO TRABALHO EM GRUPO? O FACILITADOR DEVE GARANTIR QUE: • Todos compreendam as instruções. • O grupo fique focado sempre. • Papéis estejam sendo desempenhados. • Todos anotam os aprendizados sobre a tarefa.

REPÓRTER TEM A FUNÇÃO DE: • Garantir que o produto final do grupo esteja completo. • Verificar se o produto do grupo é representativo do esforço do grupo. • Garantir que todos saibam explicar a resolução do problema. • Organizar e cuidar da apresentação do relatório final para a turma. MONITOR DE RECURSOS DEVE GARANTIR QUE:

CONTROLADOR DEVE GARANTIR QUE: • O grupo produza o produto final no tempo dado. • O grupo mantenha o foco. • O trabalho seja feito em grupo. • Lembrem da necessidade de um planejamento antes do início do trabalho em grupo. HARMONIZADOR DEVE: • Incentivar a manutenção da disciplina, mantendo a unidade do grupo na tarefa. • Reforçar o uso das normas. • Ajudar o grupo a chegar e a formular um consenso. • Reconhecer o esforço e as contribuições individuais. • Atentar se ao bom clima do grupo, preocupando-se com as relações interpessoais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: COHEN, Elizabeth G. e LOTAN, Rachel A. Planejamento o trabalho em grupo: estratégias para sala de aula heterogêneas. Porto Alegre: Penso, 2017, 3ª ed. GOLEMAN, Daniel e SENGE, Peter. O foco triplo: uma nova abordagem para a educação. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. LOTAN, Rachel A. No que acreditamos: quanto mais interação, mais aprendizagem. Disponível em http://www.sidarta.org.br/instituto/no-queacreditamos/acreditamos-2/. Acesso em: 20 de agosto de 2019. PATI, Camila. 10 competências de que todo profissional vai precisar até 2020. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/10competencias-que-todo-professional-vaiprecisar-ate-2020/ Acesso em: 10 de agosto de 2019.

ANUÁRIO 2019

• Haja consenso no uso dos materiais antes de ir buscá-los. • Os materiais que o grupo precisar estejam disponíveis. • A preservação dos materiais e sua devolução. • O grupo trabalhe de maneira limpa e organizada.

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Trabalho em grupo: a importância do recurso visual nas aulas de Matemática Professoras Francileide Cunha e Myrna Carone

ANUÁRIO 2019

Na década de 1930, o suíço Jean Piaget, um dos mais importantes psicólogos do mundo, rejeitou a ideia de que a aprendizagem era uma questão de memorizar procedimentos. Ele assinalou que a verdadeira aprendizagem depende de uma compreensão de como as ideias se encaixam. Propôs que os estudantes possuem modelos mentais que mapeiam o modo como as ideias se encaixam, e quando os seus modelos fazem sentido, eles se encontram em um estado que ele chamou de equilíbrio (Piaget, 1958, 1970).

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Quando estão diante de novas ideias, os estudantes se esforçam para encaixá-las em seus atuais modelos mentais, mas quando elas parecem não se encaixar, ou seu modelo existente precisa mudar, eles entram em um estado que Piaget denominou desequilíbrio. Uma pessoa em desequilíbrio sabe que a nova informação não pode ser incorporada a seus modelos

de aprendizagem, mas também não pode ser rejeitada, porque ela faz sentido, e assim ela trabalha para adaptar seus novos modelos. O processo de desequilíbrio parece desconfortável para os aprendizes. Todavia é o desequilíbrio, segundo Piaget, que leva à verdadeira aprendizagem. Desequilíbrio e erros têm imensas implicações para as aulas de Matemática, não apenas em relação ao modo de lidar com erros, mas também nas tarefas prescritas aos alunos. Se quisermos que os alunos cometam erros, precisamos dar a eles tarefas desafiadoras que sejam difíceis e provoquem desequilíbrio. Esse trabalho deve ser acompanhado por mensagens positivas sobre erros, mensagens que permitam aos alunos sentirem-se confortáveis ao trabalhar com problemas mais difíceis, cometer erros e prosseguir.


Através dos encontros pedagógicos, ampliamos nossas competências sobre inteligências matemáticas. A leitura do título “Mentalidades matemáticas” da autora e pesquisadora Jo Boaler (2018), foi base para as nossas discussões, formulações e reformulações de hipóteses e conhecimentos sobre essa grande e desafiadora área do conhecimento. “Uma mentalidade matemática fixa significa que você acredita que a sua capacidade não pode se desenvolver ao longo do tempo. Já uma mentalidade matemática progressiva é aquela em que as pessoas acreditam que podem melhorar suas habilidades, através do seu esforço e dedicação (BOALER, 2018). Acreditando na total existência de mentalidades matemáticas progressivas, encorajamos nossos alunos a pensar, construir e reconstruir hipóteses numéricas,

geométricas, de probabilidade e estatística e ainda noções de grandezas e medidas. Procurar diferentes soluções para situações - problema que envolvem a matemática, como um conceito que não está apenas e tão somente nos livros didáticos, mas em nossas casas, em nossas relações, inerente ao que sabemos, ao que ainda não sabemos, que iremos ou estamos aprendendo, nos leva a perceber a Matemática na vida! Coisas incríveis aconteceram no 4º ano quando os alunos foram encorajados a trabalhar com ideias multiplicativas, levando-os a pensar coletivamente sobre uma situação, tendo que, além de falar, saber ouvir e compartilhar conhecimentos prévios. Em grupo, foram convidados a examinar algumas representações visuais frente a diferentes problemas envolvendo a ideia de multiplicação e depois se organizarem para a elaboração de registros escritos e apresentações, fazendo registros visuais de algumas expressões matemáticas.

ANUÁRIO 2019

Quando a Matemática é ensinada como uma disciplina aberta e criativa, relacionada a conexões, aprendizagem e crescimento, e erros são encorajados, coisas incríveis acontecem.

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Essa maneira de calcular é trabalhosa, mas é fundamental para que os alunos possam entender o algoritmo convencional mais adiante. O recurso visual do material quadriculado auxilia a compreender a decomposição. Outro momento de grande importância durante todo o processo de realização deste trabalho, refere-se à socialização dos mecanismos utilizados por cada grupo. A tarefa consistia em observar atentamente cada explanação, acompanhando e ampliando o repertório das estratégias utilizadas. Validando todos os caminhos encontrados, foi proposto ao grupo um painel de soluções das produções, favorecendo que seus respectivos autores explicassem os caminhos percorridos e os resultados encontrados. Visível e acessível a todos por um tempo determinado, esses registros contribuem para aqueles que têm facilidade ou não de registrar o que pensam.

ANUÁRIO 2019

Para a realização dessa atividade foi sugerida leitura silenciosa do problema apresentado no exercício “Decompor para multiplicar”, que segue na imagem.

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A técnica por decomposição favorece a compreensão da organização do Sistema de Numeração Decimal e a ampliação do repertório de estratégias de cálculo mental. A codificação por cores é também muito importante e ajuda os alunos a fazerem conexões entre os números e as representações visuais. Esse primeiro momento, favoreceu organização de pensamento, coleta de dados apresentados no problema, leitura e interpretação. Partindo deste princípio novos exercícios foram propostos, possibilitando apropriação de conhecimento.

O objetivo deste trabalho, foi interpretar não só como o conhecimento se procede, mas compreender que todos, passam por um processo de construção do conhecimento, que todos são capazes de entender e se fazer entendido, e que há diferentes caminhos para se chegar a uma mesma solução.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: BOALER; Jo; MUNSON, Jean e outros. Mentalidades matemáticas na sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2018.


Trabalho em grupo Professores Luiza Falcato, Marlon Mendes e Vinícius Salvestro

Trabalhos em grupo fortalecem e desenvolvem habilidades sociais, tal como preparar os alunos para situações que necessitem de cooperação. É através

dos questionamentos e das sugestões propostas por eles que irão desenvolver estratégias para resolver o problema sempre respeitando a opinião do outro, logo é criado um ambiente de aula equitativo, ou seja, todos colaboram e participam independentemente de suas habilidades. Sem assumir que crianças, adolescentes e até mesmo adultos saibam como trabalhar em conjunto de maneira efetiva é preciso instruí-los através de comportamentos cooperativos e estabelecer regras que favoreçam a atuação do indivíduo de forma produtiva. Ao saber como devem se comportar, os mesmos irão assumir as suas responsabilidades perante o grupo, e tendo em vista a real necessidade coletiva se sentirão responsáveis pela trajetória, para que todos alcancem, de forma ativa, o objetivo final.

ANUÁRIO 2019

Cohen (2017) define trabalho em grupo como pequenos grupos de alunos com tarefas claramente atribuídas em que todos colaboram no resultado final sem o auxílio direto do professor. Ao propor uma atividade em grupo, o professor permite que os alunos se esforcem sozinhos e se tornem responsáveis pelos seus trabalhos, inclusive pelos seus erros. Assim, o professor assume o papel de supervisor, podendo avaliar os alunos individualmente durante a execução da proposta e avaliar o produto final entregue. Desta forma, os alunos ficam livres para executar e cumprir suas tarefas da maneira que acharem melhor.

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Neste ano, através do curso “Trabalho em Grupo” oferecido pelo Colégio, foi aperfeiçoado uma estratégia de aula onde os alunos são os protagonistas da sua própria aprendizagem. Baseados nas teorias estudadas e nas definições de Cohen (2017) foi desenvolvido com os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II uma atividade que pudesse aplicar os conhecimentos adquiridos no curso, usando como referência a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) foi trabalhado a competência: Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela. Para auxiliar a aquisição da competência foi utilizada a habilidade: demonstrar propriedades de quadriláteros por meio da identificação da congruência de triângulos. Os grupos foram separados de maneira aleatória. Foi comunicado que cada um teria uma tarefa atribuída, podendo ser: REPÓRTER que será o comunicador e relator de toda a atividade; FACILITADOR que fica responsável pelo começo e conclusão da proposta; HARMONIZADOR que cuida da boa relação dos integrantes;

ANUÁRIO 2019

CONTROLADOR DO TEMPO fica responsável por administrar o tempo destinado para cada parte da tarefa;

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MONITOR DE RECURSO que vai providenciar todo material usado.

As tarefas também foram atribuídas de maneira aleatória, mesmo a contragosto dos alunos, pois o trabalho em grupo permite que possam desenvolver características não predominantes neles, e fica claro que “os participantes precisam uns dos outros para completar a atividade” (Cohen, 2017), desenvolvendo a cooperação e o senso de coletividade. Para que o trabalho em grupo seja eficaz, a comanda precisa ser clara e com todas as informações necessárias para que a realização da tarefa aconteça de maneira autônoma e favoreça o protagonismo dos alunos. Em tarefas conceituais, os alunos interagem de maneira a ajudar a solucionar equívocos, a aplicar e a comunicar ideias. “Os pesquisadores têm demonstrado que a interação do grupo tem um efeito favorável sobre a comunicação da compreensão em matemática (COSSEY, 1997), a construção de entendimentos científicos (BIANCHINI, 1997) e a adesão a princípios científicos (HOLTHUIS, 1998)”. A atividade aplicada, consiste em identificar todas as características que reconhecem nos quadriláteros notáveis, paralelogramo, retângulo, losango, quadrado e trapézio. Os grupos precisavam relatar o que conseguem reconhecer nos quadriláteros, informações relacionadas aos ângulos, lados e diagonais, após discutir, analisar, justificar e provar os elementos identificados, o grupo validava ou não a afirmação, para depois fazer o registro no relatório final.


(COHEN, 2017)

É notável o engajamento dos alunos no desenvolvimento do trabalho, através do diálogo tentam expor sua maneira de raciocínio afim de contribuir positivamente, nesse processo, o professor se torna mediador, acrescentando pontos que contribuam para um aprofundamento conceitual das habilidades desenvolvidas. Após a discussão sobre as características dos quadriláteros é preenchida a ficha com as observações do grupo, para na sequência cada grupo socializar um dos quadriláteros, com contribuições dos demais grupos (momento de interação entre os grupos). A atividade é finalizada com a criação

ANUÁRIO 2019

O TRABALHO EM GRUPO É UMA TÉCNICA EFICAZ PARA ATINGIR CERTOS TIPOS DE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM INTELECTUAL E SOCIAL. É EXCELENTE PARA O APRENDIZADO CONCEITUAL, PARA A RESOLUÇÃO CRIATIVA DE PROBLEMAS E PARA O DESENVOLVIMENTO DE PROFICIÊNCIA EM LINGUAGEM ACADÊMICA. SOCIALMENTE, MELHORA AS RELAÇÕES INTERGRUPAIS, AUMENTANDO A CONFIANÇA E A CORDIALIDADE. ENSINA HABILIDADES PARA ATUAR EM EQUIPE QUE PODEM SER TRANSFERIDAS PARA MUITAS SITUAÇÕES, SEJAM ESCOLARES OU DA VIDA ADULTA. O TRABALHO EM GRUPO É TAMBÉM UMA ESTRATÉGIA PARA ENFRENTAR PROBLEMAS COMUNS NA CONDUÇÃO DA SALA DE AULA, COMO MANTER OS ALUNOS ENVOLVIDOS COM SUA ATIVIDADE.

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e resolução de um exercício usando as propriedades dos quadriláteros. Ao delegar funções para cada integrante em um trabalho em grupo os alunos passam a ter mais autonomia durante todo o processo participando mais ativamente e demonstrando mais interesse em colaborar com os colegas para a realização da atividade, sendo a atribuição dessas funções aleatória os alunos passam a desenvolver outras habilidades que talvez não sejam predominantes. A prática do trabalho em grupo nos moldes descritos por Cohen contribui de diversas formas para o processo de aprendizagem, visto que, uma vez que estimula a autonomia, a criatividade e o desenvolvimento de novas habilidades torna o estudante mais preparado para diversas situações futuras, tanto nos estudos quanto na vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BIANCHINI, J. Where knowledge construction, equity, and contexto intersect: student learning of Science in small groups. Journal of Research in Science Teaching, v. 34, n. 10, p. 1039-1065. In: In: COHEN, Elizabeth G.; LOTAN, Raquel A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula heterogêneas; tradução: Luís Fernando Marques Dorvillé, Mila Molina Carneiro, Paula Márcia Schmaltz Ferreira Rozin; revisão técnica: Mila Molina Carneiro, José Ruy Lozano. - 3 ed. - Porto Alegre: Penso, 2017. p.11 1997 BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/ Secretaria de Educação Básica, 2018. COHEN, Elizabeth G.; LOTAN, Raquel A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula heterogêneas; tradução: Luís Fernando Marques Dorvillé, Mila Molina Carneiro, Paula Márcia Schmaltz Ferreira Rozin; revisão técnica: Mila Molina Carneiro, José Ruy Lozano. - 3 ed. - Porto Alegre: Penso, 2017.

ANUÁRIO 2019

COSSEY, R. Mathematical communication: issues of access and equity. In: In: COHEN, Elizabeth G.; LOTAN, Raquel A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula heterogêneas; tradução: Luís Fernando Marques Dorvillé, Mila Molina Carneiro, Paula Márcia Schmaltz Ferreira Rozin; revisão técnica: Mila Molina Carneiro, José Ruy Lozano. - 3 ed. - Porto Alegre: Penso, 2017. p.11. 1997. Dissertação (Mestrado) – Stanford University, Stanford, 1997.

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HOLTHUIS, N. Scientifically speaking: identifying, analyzing, and promoting Science talk in small groups. In: COHEN, Elizabeth G.; LOTAN, Raquel A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula heterogêneas; tradução: Luís Fernando Marques Dorvillé, Mila Molina Carneiro, Paula Márcia Schmaltz Ferreira Rozin; revisão técnica: Mila Molina Carneiro, José Ruy Lozano. - 3 ed. - Porto Alegre: Penso, 2017. p.11. 1998. Dissertação (Mestrado) – Stanford University, Stanford, 1998.


Aula integrada: de Brumadinho a cultura indígena. Uma aula, muitos significados Professoras Amanda Francatto, Flávia Corrêa, Renata Viotto e Sílvia Ambrózio

Linguagem é o ponto de partida das aulas integradas. E, sabendo-se que a área da linguagem contempla as práticas sociais de leitura e escrita, como comunicação e interação, na escola a trabalhamos em forma de aprendizagem significativa. Uma das competências a ser atingida pelos alunos do ensino básico, de acordo com a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é: “utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, e escrita), corporal, visual, sonora e digital, bem como conhecimentos das linguagens artística,

ANUÁRIO 2019

O 5º ano do Colégio Uirapuru recebeu uma novidade neste ano: as aulas integradas. Nelas os alunos de diferentes classes se integram e os assuntos são discutidos e trabalhados com os diversos professores.

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matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo” (MEC, 2018, p. 9). E, pensando que as práticas de linguagens contemporâneas trazem novos gêneros textuais e multimodais (que envolvem modalidades visuais e verbais e podem, ou não, circular em ambientes da Web), o Colégio Uirapuru sentiu a necessidade de aproximar cada vez mais, o ensino da linguagem à tecnologia. Trazendo-a para a sala de aula como uma aliada, agregando os conhecimentos que os alunos trazem de casa e fazendo-os agentes do saber e não meros espectadores. Durante as aulas integradas - Matemática/ Língua Portuguesa e Ciências/Língua Inglesa - são promovidas práticas de reflexão, que levam os estudantes a ampliarem seu conhecimento e capacidade de uso da língua/linguagem.

ANUÁRIO 2019

No trabalho de Linguagens nas aulas integradas, discute-se também, as esferas de circulação de cada texto.

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O jornal impresso, um dos meios de circulação de notícias e reportagens, é explorado em aula. Além da comparação da notícia veiculada em jornais on-line e televisivos, periódicos brasileiros e da imprensa internacional, procura-se desenvolver no aluno uma postura crítica em relação às informações lidas nos textos e à checagem da validade dessas informações. No primeiro bimestre, o estudo foi o rompimento da barragem de Brumadinho, iniciado a partir da leitura e discussão da notícia de capa do Jornal Joca (jornal para crianças e adolescentes).

O segundo momento foi a escrita de cartas e recados de apoio para serem enviadas aos alunos de escolas da região do acontecido. Em outra aula, foi trazido para os alunos reportagens on-line em inglês, mostrando a repercussão internacional da tragédia. E os alunos pensaram em legendas para as fotos selecionadas nesses jornais. Os números, como a capacidade da barragem (metros cúbicos), a velocidade com que os rejeitos destruíram aquele espaço (minutos, segundos), a quantidade de pessoas ainda desaparecidas (porcentagem, fração), a altura de lama acumulada (metros, centímetros), entre outros, também foram tratados nessas aulas. O assunto de Ciências do bimestre foi a mineração, considerando as etapas de extração dos minérios até a sua transformação em produtos do dia a dia. Contudo, nas aulas integradas, foi explorado o assunto da mineração com responsabilidade, da importância do minério para a sociedade, seu valor monetário (a exportação e importação) e as interferências ambientais e sociais Nos momentos de leitura, de produção de diversos tipos de textos (escritos, orais e visuais) e da análise linguística, os alunos foram incentivados a perceber de forma crítica as novas práticas de linguagem e produção. O assunto Fake News apareceu durante as discussões, pois uma foto de um bombeiro de Minas Gerais abraçando um homem cheio de lama circulou na rede como se fosse de Brumadinho, mas na verdade a imagem era de um acidente em Patos de Minas (MG) em 2001. Outras Fake News


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foram pesquisadas pelos alunos e trazidas para debate nas aulas integradas. Para conversar com os alunos sobre as mentiras e exageros que circulam na Web, a diretora executiva do Jornal Joca, Stéphanie Habrich, participou de uma videoconferência, conectando-se da redação do Jornal em São Paulo, diretamente com os alunos, em Sorocaba.

Por fim, nossos alunos receberam as cartas das escolas de Brumadinho, que agradeceram com carinho as palavras das crianças do 5º ano. A leitura das cartas foi repleta de emoção e esperança de dias melhores para as famílias da cidade afetada pela tragédia. No 2º bimestre, o 5º ano tinha uma missão, a de confeccionar um dicionário português-


línguas indígenas para ser distribuído na Festa Junina do Colégio, pois um dos temas da festa abordava sobre as lendas indígenas, como a do pássaro Uirapuru. Para isso, as crianças fizeram o estudo da cultura de povos indígenas, sua língua e sua arte. Durante as aulas integradas analisaram o mapa do Brasil e as regiões onde viviam e onde ainda há tribos indígenas, fazendo o estudo de Geografia e História. Estudaram povos norte-americanos: suas vestimentas, moradias e cultura. Perceberam as diferenças com as tribos brasileiras, fazendo a leitura em Inglês. A partir do estudo da simetria, conteúdo já visto nas aulas de Matemática, fizeram a ilustração das capas dos dicionários, utilizando assim o “grafismo” (desenho indígena) com movimentos simétricos. Utilizando o estudo da língua, pesquisaram algumas palavras, previamente escolhidas, em sites e dicionários de línguas indígenas. Aprenderam a pronunciá-las e confeccionaram os dicionários. Todo esse trabalho pôde ser apreciado durante a festa, com os dicionários fazendo parte da decoração. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Base Nacional Curricular. Brasília: MEC/ Consed/ Undime, 2018. Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdfhttp:// basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base . Acesso em agosto de 2019.

ANUÁRIO 2019

Assim, nós, os professores do 5º ano, ficamos satisfeitos e realizados com o resultado das aulas integradas. Pois, além de articular diferentes áreas do conhecimento e oferecer aos alunos a possibilidade de desenvolver habilidades e conceitos diversificados, essas aulas ampliaram a autonomia e as percepções sobre o mundo em que vivem.

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Aulas integradas: para lá da aula... Professores Ana Bastos, Gustavo Marichal e Vivian Pretti

ONE OF THE MOST SIGNIFICANT QUESTIONS THAT WE CAN ASK ABOUT SCHOOLING IS WHETHER EDUCATION CAN CHANGE SOCIETY.

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(HESS E MCAVOY 2015)

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Se a educação escolar pode vir a mudar a sociedade, eis a mais significativa das questões. Vamos começar por pensar a mudança como força para trans-formar e, assim, imaginarmos mais de uma forma de ser e de estar, pois trans quer dizer em latim além, para lá de, depois de... Ora, ora, voltemos então lá em 2018, mais precisamente, a duas ações institucionais que vêm influenciando nosso percurso. A primeira ação aconteceu ao longo do ano de 2018, foi o início das atividades do Grupo de Trabalho ÉTICA, no qual lemos a obra da epígrafe: The political classroom. Professores de diferentes áreas do conhecimento foram convidados, pelo

Diretor Arthur Fonseca Filho, a discutirem a proposta de formação política democrática através da problematização de temas cotidianos. Essa leitura deixou claro que precisávamos buscar novas formas de fazer acontecer o aprendizado, repensar as situações de aprendizagem para que o/a aluno/a venha a ser protagonista e co-autor do processo educativo escolar. A escola precisa se dedicar à formação de sujeitos autônomos, que lá na vida adulta saibam lançar mão dos recursos oferecidos pela educação e tomar decisões que fortaleçam laços de solidariedade e respeito mútuo. A segunda ação institucional foi oferecer às professoras Ana Bastos e Maria


Ao retornarmos em 2019, soubemos que o GT ÉTICA continuaria com um grupo mais reduzido e com atividades voltadas para os alunos, e que as aulas de Educação Digital seriam integradas. Como assim? Dois professores com duas turmas e fora da sala de aula convencional… Assustou, não podemos negar. Mas o obstáculo deve ser visto como oportunidade de aprendizado,

artifício que usamos continuamente em nossas sequências didáticas. Era hora de encararmos uma nova forma de lecionar, ensinar, aprender, formar e transformar. Estamos engatinhando no que almejamos, ou seja, estruturar uma rede de aulas integradas de diferentes áreas do conhecimento científico, literário, digital entre outras. Se toda caminhada carece do momento de repouso, no qual paramos para avaliar êxitos e fracassos, propomosnos nesta notícia anuária refletir um pouco sobre o que fizemos em 2019. Vamos dividir a notícia em dois blocos. O primeiro, sobre as atividades do GT ÉTICA e a oferta de dois Minicursos para os alunos do Ensino Médio. O segundo, sobre as Aulas de Ciências Humanas/Educação Digital. O formato dos minicursos é diferenciado. Trata-se de duas sessões de estudo sobre tema atual e polêmico, postas em sequência (foram duas quintas-feiras seguidas no último horário da tarde). As sessões promovem a convergência da fala

ANUÁRIO 2019

Carolina Scudeler um curso de formação em Educação Digital na GEEKIE. Já sei que você pensou: aula de informática! falar dos perigos da WEB! ensinar a programar! Mas, se fosse isso, não seria melhor mandar a equipe da Tecnologia na Educação? O curso não foi nada disso que nossas antigas formas de pensar o mundo digital sugeriram… Trata-se de problematizar o mundo digital a partir de 3 pilares: RISCOS (há ameaças e perigos que precisamos conhecer) + DESAFIOS (como no mundo real, há dilemas morais que precisam ser enfrentados, discutidos) + OPORTUNIDADES (podemos aperfeiçoar, colaborar e intervir por meio das mídias digitais).

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de especialistas, da pesquisa individual dos/as alunos/as e do debate regrado do problema proposto. O colégio oferece um certificado de 20 horas de formação para os alunos que participam de ambas as sessões.

ANUÁRIO 2019

O primeiro Minicurso chamou-se MÍDIAS SOCIAIS E IMAGEM PESSOAL, e foi oferecido em maio de 2019. A primeira sessão foi com o professor Tiago Souza do Instituto Belas Artes, que fez um batepapo com os alunos sobre a construção da imagem pessoal em mídias digitais; a segunda, foi uma discussão com as professoras Aline Aquino (Geografia EM) e Ana Bastos (História EFII) quanto às possibilidades de autonomia do sujeito frente aos padrões vindos de redes sociais, propaganda de produtos, filmes, novelas, ou seja, dos meios de comunicação de massa (digitais e impressos). Houve pouca adesão dos/as alunos/as e a discussão ficou esvaziada. Então, nos reunimos e organizamos o II Minicurso, já revendo as falhas do primeiro, como por exemplo, divulgação e escolha do tema.

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O II Minicurso chamou-se DESAFIOS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO BRASIL, e foi oferecido em agosto/setembro de 2019. Na divulgação tivemos o auxílio da professora Denise Sarmento (Artes EF II e EM), que produziu um belo e atraente cartaz com as informações sobre as sessões. Houve maior procura já no primeiro dia de inscrição. A primeira sessão foi um conjunto de pequenas palestras sobre a produção agrícola brasileira: Aline Aquino (Geografia EM): O impacto das commodities agrícolas na balança comercial brasileira; Daniela Almenara (Coordenação pedagógica e professora na área de Ciências da Natureza EM): O que é agrotóxico: desmistificação de discursos; Vivian Pretti (Geografia EF II):

Produção orgânica. A segunda, foi o debate regrado da seguinte moção Agricultura no Brasil: é possível reduzir o uso de agrotóxicos, mediado pela professora Patrícia Sousa (Português EFII). A adesão de alunos foi significativamente maior, contudo, o número de alunos na sessão de debate das ideias e das informações foi novamente reduzido. Sendo assim, a meta 2020 do GT ÉTICA é aprimorar os Minicursos para que consigamos cumprir a proposta de formação política democrática integralmente: ouvir os especialistas, estudar as informações, posicionar-se de modo argumentativo frente aos problemas do cotidiano. As aulas de Ciências Humanas/Educação Digital foram aplicadas nas quatro séries finais do Ensino Fundamental, conforme o material proposto pela GEEKIE e os conteúdos disciplinares. A dinâmica das aulas é a do encontro para estudar e discutir, o professor permanece como mediador dos processos cognitivos e socioafetivos. É muito comum pensarem que o professor mediador da aprendizagem é alguém que se aparta da responsabilidade sobre o processo ensino-aprendizagem. Felizmente não é bem assim. O professor mediador promove a aprendizagem enquanto apropriação coletiva do conhecimento e da cultura. Ele é responsável por construir situações de aprendizagem que implicam a desestabilização e a reestabilização do/a aluno/a frente algo novo. Isso significa que o professor se transforma em inquietador de sujeitos em formação. Em todas as aulas integradas, são feitos registros para sistematização das discussões, para evidenciarmos que a conversa, o diálogo e a oralidade integram o processo educacional do mesmo modo que o exercício escrito.


No 6º ano, sob responsabilidade dos professores Gustavo Marichal (Geografia EFII e EM) e Maria Carolina Scudeler (História EFII e EM). Os temas foram: A REGRA DO JOGO: NEM SÓ OS GAMES TÊM REGRAS A partir da tecnologia, reconhecer a função das regras sociais e da imagem social que se forma de cada indivíduo. COMO BUSCAR O MELHOR TUTORIAL Momento de reflexão sobre a melhor forma de identificar fontes de conteúdos confiáveis e não confiáveis, bem como encontrar tutoriais úteis e evitar os inúteis. Os temas discutidos abordaram as regras sociais partindo daquilo que é mais próximo à realidade dos alunos, como as regras de jogos em geral, visando chegar à observação da necessidade dos limites individuais para uma melhor interação com família, amigos etc. Num segundo momento, a preocupação é orientar os alunos com relação a todo tipo de conteúdo recebido por redes sociais, partindo de experiências pessoais junto às fake news e orientando como se portar caso haja dúvidas com relação à origem e/ou credibilidade do material. No 7º ano, as professoras Vivian Pretti (Geografia EFII) e Maria Carolina Scudeler (História EFII e EM) eram as responsáveis e os temas foram: ESPELHOS DIGITAIS: QUEM SOU EU? Entender a construção da identidade nos ambientes virtuais e associar a imagem que temos de nós mesmos e à que passamos para quem nos vê.

ESPELHOS DIGITAIS: MINHAS ATITUDES SÃO MINHAS OU DO MEU GRUPO? Identificar maneiras pelas quais é possível mudar o comportamento por meio da influência de amigos e expressar a necessidade de manter a própria individualidade e autonomia. Estes temas têm a intenção de propiciar a reflexão dos alunos sobre a influência que o ambiente virtual pode ter na formação dos adolescentes e o quanto isto se manifesta em suas ações, virtuais ou não. Utilizando exemplos de situações reais, os alunos foram convidados a pensar como agem diante de determinadas situações e, assim tentar identificar as influências que recebem. No 8º ano, professores Ana Bastos (História EFII) e Vivian Pretti (Geografia EFII), e no 9º ano, professores Ana Bastos (História EFII) e Gustavo Marichal (Geografia EFII e EM). Nessas aulas, promovemos um encontro entre as séries e outro entre as turmas da mesma série. Os temas foram: DETOX DE CONTEÚDO: DESPADRONIZANDO A BELEZA Refletimos sobre a origem dos padrões de beleza, quais interesses econômicos engendram o padrão comercial, como o padrão comercial invade nossas emoções. IMAGEM VIRTUAL VERSUS IMAGEM REAL: O QUE QUERO PARECER SER VERSUS QUEM SOU? A proposta era pensar como nos apresentamos nas redes sociais: será que há tanta felicidade assim na vida das pessoas? Dissimulamos nossas fraquezas durante uma postagem? O que queremos de fato ao postar algo? Houve ainda, só para o 9º ano, uma aula de Ciências Humanas sobre o

ANUÁRIO 2019

Durante o primeiro semestre, foram discutidos os seguintes conteúdos em cada série.

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conceito de genocídio, pois os alunos estavam estudando as guerras mundiais e precisávamos pensar a violência contra as populações civis. Exercício: APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE GENOCÍDIO E HOLOCAUSTO EM FATOS HISTÓRICOS. Vale lembrar, que esses encontros tiveram por objetivo central o desenvolvimento da seguinte habilidade estabelecida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): apresentar argumentos e contra-argumentos coerentes, respeitando os turnos de fala, na participação em discussões sobre temas controversos e/ou polêmicos.

ANUÁRIO 2019

Depois disso, você até pode nos perguntar: vocês então acreditam na força de transformação da educação escolar?

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O acúmulo e a diversidade de conhecimentos e de acesso à informação experimentados nesse início de século XXI,

inviabiliza desacreditar na mudança das formas, modos e práticas de agir, pensar e sentir. Contudo, é fundamental termos clareza e serenidade frente à tensão entre conservação e mudança em educação. Primeiro, porque devemos reconhecer que toda educação precisa preservar e passar para as gerações futuras bens culturais. Ter o polegar opositor não nos faz humanos, aprender a usá-lo sim, e isso só se dá por meio da educação! Segundo, porque os seres humanos são seres mutantes e insatisfeitos, estão sempre à procura de algum sentido para lá de o aqui e agora. A educação do novo milênio assume-se demasiadamente transformadora em seus processos de perpetuação dos bens de cultura, porque, por um lado, enraíza-se no protagonismo do/a aluno/a em formação contínua e ininterrupta, por outro, critica e discute sobre quem somos e como faremos para vivermos juntos e cada vez melhor (para todos).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: HESS, Diana E. e McAvoy, Paula. The political classroom. Evidence and Ethics in Democratic. New York: Routledge, 2015.


A importância do papel do aluno no trabalho em grupo Professoras Flávia Corrêa e Sílvia Ambrózio

“A INTERAÇÃO, A CONVERSA E O TRABALHO CONJUNTO FORNECEM AOS ALUNOS OPORTUNIDADES DE PARTICIPAR E AGIR COMO MEMBROS DE UMA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM”

Nas aulas do 5º ano, atividades em que o trabalho em grupo é estimulado pelos professores são frequentes. Os alunos sentam-se agrupados em duplas, trios ou quartetos e discutem com os pares, sobre o assunto da aula, para depois responderem às atividades pedidas. As crianças aprendem a escutar, assimilar a ideia do outro, colocar suas observações, explicar para outros suas descobertas, fazer perguntas, para depois concordar ou discordar, usando de argumentações.

A professora chega na classe, distribui papeizinhos coloridos com a numeração de 1 a 5, cada criança pega um e se dirige ao agrupamento de mesas em que há o mesmo algarismo sorteado.

Mas neste dia tudo começou de uma maneira diferente...

Cada vez mais curiosos, os alunos vão imaginando qual será o seu papel...

Grupos formados, neste dia, de maneira aleatória, os alunos aguardam as orientações da professora. Contudo, desta vez a descrição da atividade começa com uma explanação dos “papéis” a serem seguidos por cada membro do grupo.

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(COHEN E LOTAN, 2017, P. 11).

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As crianças que têm o perfil de líder, se encaixam no papel de facilitador, aquele que deve garantir que o grupo inicie o trabalho rapidamente, passa para o grupo a atividade pedida, organiza o grupo e mantém todos unidos para que possam completar a atividade. Já a criança mais extrovertida e organizada, percebe que ser monitor de recursos é fácil para ela, pois deve coletar materiais e recursos necessários para a realização da atividade; cuida, organiza e devolve os materiais utilizados e tira as dúvidas com o professor, sendo o porta-voz do grupo. O aluno que gosta de pontualidade, faz tudo rapidamente sem postergar, vai gostar de ser controlador do tempo, pois deverá monitorar o tempo, o avanço do trabalho do grupo em relação ao tempo restante e verificar se o grupo será capaz de terminar todas as tarefas a tempo.

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As crianças falantes, com certeza, pedirão para serem repórteres, pois seu papel será o de informar aos professores o progresso do grupo, certificar-se de que todos do grupo estejam fazendo suas anotações e registrando as informações da pesquisa. O repórter também deve organizar e apresentar o resultado do projeto/pesquisa, garantir que o trabalho esteja organizado e completo, além de assegurar que todos os membros do grupo saibam explicar todas as etapas do trabalho.

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Os alunos mais calmos, mas não menos desafiadores, irão querer ficar com o papel de harmonizador. Assim como o nome diz, suas responsabilidades são de harmonizar os conflitos do grupo, reforçar as regras, fazer com que todos os membros sejam ouvidos, garantir que todos participem com suas ideias e opiniões.


Algumas incertezas nos rostinhos e lhes é explicado que cada papel é muito importante para a produtividade do grupo. Que um time não marca gol, se todos os integrantes não se articularem, que um quebra-cabeça precisa de todas as peças para ser montado. Então os alunos leem a respeito de seus papéis, para relembrarem qual é a responsabilidade de cada um. Há um certo barulho na classe, por conta da leitura e discussão dos papéis. Mas logo os olhos dos alunos procuram a professora para saberem o próximo passo a ser seguido. As crianças recebem um impresso em que o problema ou estudo deve ser resolvido/feito. Alguns se esquecem de que quem deverá ler as instruções, deve ser o facilitador, mas os colegas relembram rapidamente. No andamento da aula, não se vê mais um dos integrantes pesquisando e os outros conversando ou apenas copiando. O que se vê são crianças aprendendo a lidar com responsabilidades, percebendo que sua participação é fundamental para o sucesso da equipe. Alunos interagindo, fazendo perguntas, compartilhando ideias, dando sugestões, ouvindo propostas, concordando, discordando, decidindo coletivamente. Cada criança a seu tempo vai internalizando qual o seu dever no grupo. E busca fazê-lo com exatidão.

Além do aprendizado da matéria a ser estudada, ter sido apreendido por todos, o grupo pôde se escutar. Aquele que menos fala, teve sua ideia ouvida, ou explicou sua pesquisa aos outros. Aquele que sempre fala, teve que aprender a escutar e compreendeu a opinião do colega. Aquele que faz tudo sozinho, teve a oportunidade de dividir papéis e não se sobrecarregar. Aquele que não acredita que pode, vai ensinar aos outros a sua parte do trabalho... A professora circula entre os grupos, observando cuidadosamente as discussões e ajudando, se for chamada. Ela também observa e chama a atenção para que os integrantes relembrem suas obrigações. Contudo, não é mais somente sua a responsabilidade de encontrar erros e corrigi-los. Agora, essa também é uma responsabilidade dos alunos, pois são incumbidos de garantir que a tarefa seja realizada com eficiência. No final da aula, é chegado o momento da explanação dos grupos, todos se agitam, correm para verificar se o repórter conseguirá passar à classe tudo o que discutiram e aprenderam. As apresentações começam, os alunos, com a ajuda de seus pares, expõem o que fizeram. Neste momento, os grupos têm a possibilidade de expor suas conclusões e ouvir diferentes soluções e pontos de vista, permitindo a ampliação de suas próprias concepções e entendimentos. Percebe-se um nível de engajamento maior por parte dos alunos. Nota-se que há equidade na aprendizagem daquele assunto pelos integrantes do grupo. Pois quando a criança ensina e comunica aos colegas o que aprendeu, ela está aprendendo também.

ANUÁRIO 2019

A professora encerra sua explicação. O que mais se vê são olhinhos brilhando na expectativa de saber qual papel lhe será atribuído. A professora diz que entregará a cada componente do grupo uma folha na qual será determinado o papel de cada um e que a escolha não será possível.

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Após a apresentação, cada grupo expõe suas impressões sobre o seu “papel”, falando da experiência, das dificuldades e de sua desenvoltura para o que era esperado de cada um. O relato demonstra a satisfação das crianças com esse tipo de atividade e a vontade de vivenciar outros “papéis”. Todos percebem que a produtividade aumenta e a oportunidade de aprender conteúdos e desenvolver linguagem é aprofundada, possibilitando retornos construtivos que envolvem uma aprendizagem ativa. Ao final da aula, nota-se que, socialmente, o grupo demonstra ter maior habilidade para atuar em equipe e mostra o aumento do respeito e a confiança para com o colega e em si mesmo. Neste momento, todos se beneficiam da interação. A professora percebe que seu trabalho foi altamente recompensador, tanto para ela, quanto para os alunos. A motivação esteve em toda a aula e a tarefa foi realizada de maneira eficaz e com a cooperação de todos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

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COHEN E.; LOTAN R.. Planejando trabalho em grupo: estratégias para salas de aula heterogênea. Porto Alegre: Penso, 2017.

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Abraçando o Ano Internacional da Tabela Periódica

Em evento realizado no mês de dezembro de 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2019 como o Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos, por ocasião dos 150 anos do que é considerado ano da descoberta do Sistema Periódico de classificação (1869). Durante quase dois séculos, diferentes cientistas ao redor do planeta se dedicaram a organizar os elementos conhecidos com base em propriedades possíveis de serem determinadas com os recursos disponíveis: massa do átomo, pontos de fusão e ebulição, reatividade, estado físico em temperatura ambiente, entre outros. Esses mapas de relações entre os elementos viajaram por representações gráficas diversas: pequenas tabelas, escalas (como as de notas musicais) e até mesmo espirais, como o “parafuso” químico proposto pelo geólogo francês Alexandre Chancourtois.

proposta ordenava os elementos por massa atômica (hoje, são ordenados pelo número atômico - quantidade de prótons no núcleo do átomo). A tarefa de classificar foi árdua. O objetivo era unir em grupos os elementos que se comportavam de forma semelhante quanto às suas propriedades químicas, solução que não era atingida pela métrica das massas atômicas. Persistente, o russo encontrou a inspiração para a tabela atual nas cartas. Seguindo o raciocínio por trás do Jogo da Paciência, Mendeleiev associou os elementos e suas propriedades a naipes e números do baralho, ordenando-os segundo as regras do jogo. A “paciência” química era imperfeita, mas o químico confiou em seus instintos e seguiu com o seu esquema de organização. Hoje, os espaços em branco deixados na tabela de Mendeleiev foram completados com elementos descobertos ou sintetizados pelo homem, totalizando 118 elementos químicos.

Apesar das diferentes tentativas, é comum encontrarmos o nome do russo Dimitri Mendeleiev associado ao título de inventor ou “pai” da tabela periódica atual. Sua

O Ano Internacional da Tabela visa celebrar a ciência, o trabalho dedicado e o resultado atingido: a tabela representa uma conquista das mais importantes e

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Professores Daniela Almenara, Denise Lopes e Carlos Vaz

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ANUÁRIO 2019


A tabela periódica é trabalhada com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio devido à sua importância, uma vez que é utilizada no estudo de Química para identificar informações fundamentais sobre os elementos que servirão como base para a aprendizagem de outros conceitos. Entretanto, seu estudo é considerado complexo por grande parte dos alunos. É consenso entre a maioria dos pesquisadores em educação que o ensino de Química se torna mais atrativo a partir do momento em que se passa a relacionálo com o próprio cotidiano. Porém, nem todos os conteúdos estudados permitem ao educador que tal abordagem se dê de maneira efetiva, o que dificulta a alguns estudantes a assimilação de certos conceitos em que predominam aspectos teóricos, como é o caso de tabela periódica. Deste modo, faz-se necessário o desenvolvimento de atividades que possibilitem que tais conceitos se tornem mais prazerosos. Essas formas alternativas de ensino, além de tornar o objeto de estudo mais próximos à realidade do estudante, despertam o interesse e o aprofundamento na busca pelo aprendizado. Assim, surgiu a ideia da tabela periódica ilustrada. Para concretizar o projeto, o envolvimento das disciplinas de Química, Laboratório e

Arte foi fundamental. Nas aulas de Arte os alunos analisaram produções de tabelas periódicas criativas e ilustradas, sortearam um elemento químico e deram início ao processo de ilustração com base em pesquisas realizadas e orientadas nas aulas de Química. A ilustração produzida pelos alunos tinha como objetivo apresentar o elemento químico de uma forma criativa e de fácil relação com o elemento criado. Após esse processo, os alunos usaram o Espaço Maker da escola para o corte na máquina a laser das letras e números correspondentes ao seu elemento químico. Em uma divertida e dinâmica aula, os alunos colaram as ilustrações em peças de azulejos além do número atômico e símbolo de cada elemento. Assim, uma enorme tabela periódica foi criada, processo feito por muitas mãos que deixaram o espaço escolar mais colorido e ajudaram a difundir um conhecimento científico acumulado e em construção. A construção da tabela periódica ilustrada com os alunos do primeiro ano, além de celebrar o ano internacional da tabela periódica e permitir aos alunos desenvolver certa autonomia nos próprios estudos, torna os elementos químicos e seus complicados nomes aplicáveis no cotidiano ao representar, de maneira clara e objetiva, onde esses podem ser encontrados, sendo de fácil assimilação até mesmo para os mais leigos no assunto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: TOLENTINO, M.; ROCHA FILHO, R.; CHAGAS, A. P. Alguns Aspectos Históricos da Classificação Periódica dos Elementos Químicos. Química Nova, Nº 20, 103 – 11, 1997. https://www.iypt2019.org/ - acesso em 30 de agosto de 2019.

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influentes da ciência moderna, sendo essencial para estudos não só da Química, mas da Física, Biologia e outras áreas da ciência. Celebrando essa realização científica, cria-se a oportunidade de refletir sobre os muitos aspectos envolvidos na sua manutenção: o papel das mulheres na pesquisa científica, as perspectivas sobre a extinção de alguns elementos e as ações de sustentabilidade necessárias, os caminhos para a produção de materiais inovadores, entre outros.

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OLIMPÍADAS: APROFUNDAMENTOS DE ESTUDOS


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AS OLIMPÍADAS TÊM SUA ORIGEM NA ANTIGA ATENAS, INSPIRADAS NOS FAMOSOS JOGOS OLÍMPICOS. GANHOU DESTAQUE NOS INSTITUTOS DE CIÊNCIAS, RAPIDAMENTE CONQUISTANDO JOVENS QUE GOSTAM DA ÁREA E QUEREM APROFUNDAR SEUS ESTUDOS, ALÉM DO ESPÍRITO COMPETITIVO.

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Olimpíadas de Matemática: do conjunto dos naturais às vivências reais

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Professores André Luigi da Silva e Eric Bernardo

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A expressão Olimpíada de Matemática é formada pelo termo Matemática, do grego ‘matemathikos’, o qual é composto por ‘máthema’= compreensão, explicação, ciência, conhecimento, aprendizagem; ‘thike’=arte. E Olimpíada, ou Jogos Olímpicos, referindo-se a uma cidade da Antiga Grécia chamada de Olímpia na qual eram praticados jogos esportivos nos momentos de trégua entre uma guerra e outra. Portanto, as olimpíadas de matemática são competições realizadas ao redor do mundo que, por meio da resolução de problemas têm como objetivo estimular o estudo, identificar talentos e despertar o interesse dos amantes dessa arte.


OLIMPÍADA DE MATEMÁTICA CANGURU

(BOURBAKI APUD KNEEBONE, 1963, P. 4)

A linguagem matemática é universal, permite desvendar e compreender os mais diversos problemas a partir da abstração dos mesmos. Aliando-se isso a um rigor próprio, a Matemática permite que problemas sejam visualizados sob os mais diversos pontos de vista, servindo não apenas como base, mas como uma ‘língua’ para as mais diversas ciências. Entender essas diferentes formas, padrões lógicos e abstrações, requer estudo, paciência e, sobretudo, criatividade, e são essas características que têm sido estimuladas em nosso polo olímpico. No decorrer desse ano, nossos alunos participaram de várias olimpíadas nacionais e internacionais. Dentre elas a Olimpíada Internacional de Matemática Canguru, a Olimpíada Paulista de Matemática, a Olimpíada Brasileira das Escolas Públicas e a Olimpíada de Matemática da Unicamp, as quais são conceituadas competições para alunos desde o oitavo ano do Ensino Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio, que miram tanto a resolução de problemas complexos quanto a difusão da matemática. Jogos Olímpicos: conhecendo as competições.

OLIMPÍADA DE MATEMÁTICA DA UNICAMP Em 1984, o Instituto de Matemática, Estatística e Computação Gráfica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) criou a primeira olimpíada de matemática da Unicamp, a chamada OMU. Desde então, milhares de alunos de todo o Brasil competem para resolver problemas dissertativos ao longo de três fases de competição. Alunos desde o 8º ano do Ensino Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio devem usar uma base conceitual elegante com artifícios criativos para a resolução dos problemas expostos. Exemplos disso não faltam: alunos chegaram até a dobrar as folhas das provas

ANUÁRIO 2019

"MATEMÁTICA É SIMPLESMENTE O ESTUDO DE ESTRUTURAS ABSTRATAS OU PADRÕES FORMAIS DE ASSOCIAÇÃO"

No início dos anos 80, um professor de Matemática australiano, Peter O’Haloran, desenvolveu uma prova digital de Matemática para que vários alunos, espalhados pela Austrália, pudessem desenvolver o gosto pelo desafio lógicomatemático. Onze anos depois, dois professores, André Deledict e Jean Pierre Boudine, decidiram aplicar essa prova para alunos franceses e, em homenagem ao colega australiano, deram o nome de “Kangourou”. Assim nascia uma das maiores e mais importantes olimpíadas internacionais de Matemática do mundo, a competição Canguru. O desafio consiste em questões de múltipla escolha, divididas em graus de dificuldade crescentes. Nesse desafio predomina a lógica Matemática, o encadeamento lógico e, o mais importante, a criatividade do aluno para resolução de problemas. Atualmente já estão inscritas mais de 2.000 escolas, somando mais de 300.000 alunos competindo ao longo do mundo e, principalmente, divulgando o gosto pela matemática.

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para visualizar o problema geométrico proposto! Criativo, não? A essência da prova da OMU é exatamente essa: não há limites que impeçam o desenvolvimento da lógica Matemática para os alunos. Vale ainda ressaltar que a própria Unicamp já começou a adotar critérios de seleção para o seu vestibular que pondere as conquistas olímpicas dos alunos, valorizando ainda mais a divulgação das olimpíadas no meio acadêmico.

em todo o Brasil, de ensino fundamental e médio. Dentre esses alunos, os novos talentos podem contar com bolsas de iniciação científica júnior, participação em olimpíadas internacionais, entre outros reconhecimentos. Dessa forma, a OBMEP funciona como um catalisador de novos talentos matemáticos, mudando a vida de milhares de jovens alunos.

OLIMPÍADA BRASILEIRA DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Criada em 1999, a Olimpíada Paulista de Matemática figura entre as competições mais elegantes e elaboradas. Em associação com a Sociedade Brasileira de Matemática, a olimpíada é composta por cinco problemas discursivos de alta complexidade, exigindo uma base formal apurada e uma bela dose de criatividade na leitura dos problemas. Dividida em duas fases, os competidores devem lançar mão de todo seu conhecimento, de seu poder de interpretação algébrico e geométrico, para conseguir elaborar respostas coerentes para os desafios propostos. É justamente esse o diferencial dessa competição: desenvolver no aluno a maturidade intelectual para discutir problemas complexos e gerais.

ANUÁRIO 2019

Criada em 2005 para divulgar e promover o ensino da matemática entre os alunos das escolas públicas, a OBMEP opera como uma base para o reconhecimento de novos talentos. Realizada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada IMPA e a Sociedade Brasileira de Matemática SBM, a competição abriu as portas para as escolas particulares em suas últimas edições. Composta por duas fases, uma objetiva e outra dissertativa, os problemas envolvem raciocínio lógico matemático, álgebra, geometria, aritmética, e claro, muita criatividade. Na última edição participaram mais de 18 milhões de alunos

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OLIMPÍADA PAULISTA DE MATEMÁTICA


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: https://www.cangurudematematicabrasil.com.br/ quem-somos/historia acesso em 08/09/2019, às 19:11. https://www.ime.unicamp.br/administracao/ institucional/historia/2008 acesso em 08/09/2019, às 19:30. http://www.obmep.org.br/apresentacao.htm acesso em 08/09/2019, às 19:30. http://www.opm.mat.br/var/www/html/opm.mat. br/web/ acesso em 08/09/2019, às 20:00. Kneebone, G.T. Mathematical logic and the foundation of mathematics. Nova Iorque, Van Nostrand, 1963.

ANUÁRIO 2019

Para atender essa demanda plural de problemas e questões, os professores da área de exatas são grandes incentivadores da participação dos alunos nas aulas preparatórias, as quais são opcionais em nossa grade curricular complementar. Para as competições olímpicas de matemática, as aulas focam na resolução de problemas de forma criativa e plural, contemplando a base e o rigor formal matemático. Além de garantir medalhas em diversas competições (em 2019 tivemos 123 alunos participantes da olimpíada internacional de Matemática Canguru, entre eles: 49 medalhistas, 29 alunos aprovados para a segunda fase da olimpíada de matemática da UNICAMP, seguindo de 13 aprovações para terceira fase desta, além de mais 10 alunos classificados para última fase da OBMEP), nossos alunos desenvolvem a capacidade de raciocínio, de lógica intelectiva e aprendem como essa arte pode ser bela e principalmente desafiadora.

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Olimpíadas de História para o Ensino Médio Professor Eduardo Torres

ANUÁRIO 2019

Em um momento em que debates históricos reaparecem com força, nem sempre com a qualidade e a responsabilidade esperada, surgiu recentemente uma competição de conhecimentos históricos promovida por uma das melhores faculdades do país, com o intuito de ampliar a formação critica e reflexiva dos futuros cidadãos brasileiros

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A Olimpíada Nacional em História do Brasil – organizada anualmente pela Universidade Estadual de Campinas – teve sua primeira edição em 2009. Preocupados por esta formação histórica responsável, iniciamos nossa participação no ano 2018, ou na 10ª edição desta competição nacional. Nessa oportunidade contamos com uma empolgada turma de 48 alunos, divididos em 16 equipes, cada uma com um nome que homenageasse seus interesses históricos. Em 2019 continuamos nossa participação com 14 times, totalizando 42 alunos entusiasmados com a possibilidade de

colocar em prática seus conhecimentos, além de aprender com as provas preparadas pelos professores da UNICAMP, de refletir, de discutir e de conquistar uma medalha, pois ao final das contas não perdemos o foco de que se tratava de uma competição. Nossa alegria foi constatar a presença de times de 8ª e 9ª série que, gostando da disciplina História, se inscreveram e ombro a ombro – ou melhor, cabeça com cabeça – compartilharam os encontros com as turmas do Ensino Médio, trocando comentários, soluções e abordagens sobre os conteúdos dos assuntos propostos nesta olimpíada. Desta importante experiência, podemos destacar como impagável o espírito de equipe e o conhecimento adquirido pelos garotos e por mim, professor. Ao trazer para a sala de aula as informações e saberes aprendidos durante as longas etapas da prova, pois as mesmas traziam uma proposta inovadora de como estudar a história do Brasil, abordamos temas fundamentais a partir de documentos


Um dos temas tratados na primeira edição da qual participamos e que provocou o alívio dos competidores ao perceberem como estudar nos dias de hoje pode ter algumas vantagens foi o sistema de educação lancasteriano, precisamente os castigos que eram utilizados para “educar” as crianças em Minas Gerais no século XIX, por exemplo, podemos citar um trecho dos instrumentos e modos deste método "Algumas vezes se põe os meninos dentro de um saco ou cesta, suspensos no teto da sala, à vista de todos os outros, que frequentemente se estão rindo dos pássaros na gaiola. Este castigo é o mais terrível que se pode dar aos discípulos de senso de habilidade; sobretudo é temido pelos decuriões. O seu nome é bastante, e por tanto poucas vezes se usa dele". [...] "Poucos castigos são tão eficazes como a prisão depois da aula; contudo é seguido de uma circunstância desagradável. Para prender os meninos na sala da aula logo que ela se conclua, muitas vezes é necessário que o mestre ou algum substituto esteja na aula para estarem quietos. Este inconveniente se evita amarrando-os às escrivaninhas ou tendo-os nas gonilhas, de sorte que se não possam mover. Estas variações de inevitáveis castigos produzem o seu efeito, de qualquer forma que eles sejam. Qualquer sorte de castigo, cujo uso seja constante, perde o seu efeito por isso mesmo que se torna familiar"1.

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Conjuntamente ao dito anteriormente, a olimpíada também mobilizou temas interdisciplinares que dialogam permanentemente com a História (geografia, literatura, arqueologia, urbanismo, atualidades), o que trouxe um impacto muito positivo na leitura, compreensão e escrita dos estudantes participantes. Um exemplo disto foi a análise da obra de Júlia Lopes de Almeida “A falência”, escrita em 1901 e na qual as equipes tiveram que observar o Brasil que passava da Monarquia para a República, com a libertação dos escravos, mas dava continuidade ao racismo, com a falta de autonomia das mulheres, algo caro para a escritora, a manutenção e permanência das desigualdades sociais e a hipocrisia da sociedade do novo país que nascia na trilha da ordem e do progresso. Outro exemplo foi a análise histórica dos estatutos do visconde da Cachoeira conhecida como Lei de 11 de agosto de 18272, sobre a criação de cursos de direito em São Paulo e Olinda, os graus obtidos e quem pode ser considerado Doutor, o que rendeu amplas discussões que enriqueceram o olhar dos nossos alunos. Enfim, uma prova rica e muito agradável de ser desenvolvida, pois ao estar recheada de propostas múltiplas, promove a confraternização da garotada e eu, o professor responsável por guiar estes estudos. Hoje, a Olimpíada Nacional em História do Brasil se projeta no colégio como uma das tradicionais competições nas quais participam nossos jovens, junto à de Matemática e Biologia, um espaço que as Ciências Humanas a nível nacional, há algum tempo perseguia e que agora ocupa com muito orgulho.

Para ver o documento analisado < http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/40943 > Para acessar o conteúdo desta Lei < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM.-11-08-1827.htm >

ANUÁRIO 2019

históricos, imagens, mapas, textos acadêmicos e literários, pesquisas inéditas e debates historiográficos; também propunha músicas de denúncia entre as que destacamos nesta ocasião uma dos Racionais MC ou a música “Elevação mental” de Triz Rutzats.

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ANUÁRIO 2019

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PROTAGONISMO E PARTICIPAÇÃO


ANUÁRIO 2019

O PROTAGONISMO JUVENIL NO UIRAPURU PRETENDE ESTIMULAR OS ALUNOS À PARTICIPAÇÃO SOCIAL, QUE ENVOLVE SEU PRÓPRIO DESENVOLVIMENTO ENQUANTO PESSOA E CIDADÃO E TAMBÉM DA COMUNIDADE. ISSO CONTRIBUI PARA SUA FORMAÇÃO AUTÔNOMA E COMPROMETIDA COM O MEIO SOCIAL, INCORPORANDO VALORES DE SOLIDARIEDADE E DE RESPEITO. AQUI COMPARTILHAMOS DEPOIMENTOS DOS ALUNOS, QUE NOS MOSTRAM QUE O PROTAGONISMO É UMA CONSTRUÇÃO PERMANENTE E QUE COMEÇA QUANDO AINDA SÃO PEQUENOS; A REALIZAÇÃO DA SIMULAÇÃO DA ONU, TOTALMENTE ORGANIZADA PELO ALUNOS; AS ASSEMBLEIAS, PARTE DO MOVIMENTO PROMOVIDO PELOS REPRESENTANTES DE CLASSE; E O TRABALHO DE MONITORIA REALIZADO PELOS EX-ALUNOS.

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Colégio Uirapuru: lugar de memórias, pertencimento e identidade Orientadora Educacional Gláuci Mora

“ESCOLAS QUE SÃO ASAS NÃO AMAM PÁSSAROS ENGAIOLADOS. O QUE ELAS AMAM SÃO PÁSSAROS EM VOO. EXISTEM PARA DAR AOS PÁSSAROS CORAGEM PARA VOAR. ENSINAR O VOO, ISSO ELAS NÃO PODEM FAZER, PORQUE O VOO JÁ NASCE DENTRO DOS PÁSSAROS. O VOO NÃO PODE SER ENSINADO. SÓ PODE SER ENCORAJADO.”

ANUÁRIO 2019

(RUBEM ALVES)

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Partindo do pressuposto de que a escola é um lugar de memórias, pertencimento e identidade, em função das suas características históricas e relacionais, o presente escrito tem como objetivo trazer algumas vivências de alunos do Ensino Médio que estudam no colégio desde muito pequeninos. Esses estudantes foram convidados a registrarem de forma espontânea suas emoções, experiências e histórias. Dessa forma, aqueles que sentiram vontade de se tornarem escribas de suas vivências escolares, fizeram o registro.


A escola para eles nunca foi só espaço de aprendizagem acadêmica, mas sim aprendizagem para uma vida cidadã em

sociedade cujos valores reafirmam “os direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, em que a justiça e o respeito possam ser mantidos e promover o progresso social e melhores condições de vida!” (A Carta das Nações Unidas. Disponível em https://nacoesunidas.org/ carta/). É aqui que a socialização, a emoção, o comprometimento, o fazer prático, a frustração, a interação e acolhimento das diferenças dialogaram e dialogam, preparando seres humanos para a prática do coexistir, cônscios do estar no mundo. As palavras de nossos alunos, por meio de relatos, vão marcar de forma significativa o que seja o sentimento de pertencimento e identidade que o Uirapuru desenvolveu.

ANUÁRIO 2019

O Colégio Uirapuru ao longo da trajetória escolar, desde o berçário até findos da 3ª série do Ensino Médio constituiu alunos como seres humanos autônomos, protagonistas do seu tempo, do seu projeto vital. O estar no Uirapuru proporcionou e proporciona sentimento de pertencimento e identidade que transformam e constroem valores e ações. Para que esses sentimentos sejam despertados fez-se necessário tocar o coração dos alunos, fosse pelos amigos, professores, inspetores, coordenadores e orientadores, enfim todos os envolvidos no cotidiano escolar. Muitas vezes, um sorriso, uma palavra ou mesmo uma bronca resgatavam e resgatam nosso aluno do seu interior para descortinar o seu melhor.

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BRUNA FREDDO LEONOTTI (3ª SÉRIE ENSINO MÉDIO/2019)

LARA FONSECA (2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019)

A escola é um espaço de convivência diária, você vê as mesmas pessoas todos os dias, os mesmos professores toda semana, come no mesmo lugar e passa pelo menos cinco horas do seu dia lá. Isso pode parecer exaustivo, mas na realidade faz parte de um processo mais importante: o crescimento pessoal de cada aluno.

Lembro-me como se fosse hoje, do meu primeiro dia quando fui estudar na parte da manhã. Eu me sentia totalmente sozinha, pois minha vida toda estudei à tarde. Até que um dia umas meninas vieram conversar comigo e perguntar se eu queria ser amiga delas, foi ali que entendi o sentimento de fazer parte de algo e de como família não significa apenas ter o mesmo sangue. Todos os anos temos um tema sobre o qual refletimos, naquele ano foi o tema “um por todos e todos por um”. Esse tema me causou uma comoção tão grande que fiquei semanas contando aos meus pais como o Uirapuru era o ambiente que eu mais amava em toda minha vida.

Amigos, amores, confidentes, risadas e sorrisos são o que realmente importam, o que cada pessoa vai levar para o resto da vida. Além disso, as viagens de formatura e estudo do meio, a gincana, as idas a São Paulo para assistir a peças de teatro e as festas para professores são os momentos em que as amizades se formam e se fortalecem. Esses são os momentos em que você realmente sente que faz parte de algo maior, de uma comunidade que pode até não ser perfeita a todo momento, mas que estará lá sempre por você. Cada momento que eu passei no Uirapuru foi um aprendizado, uma experiência que me fez crescer e me tornar mais resiliente, seja através de raiva ou de risadas. Eu sou extremamente grata pelos anos que eu passei aqui e tenho certeza de que tudo de bom que esse lugar me ofereceu servirá como motivação para eu crescer cada vez mais.

ANUÁRIO 2019

MATHEUS FRANCISCO OLIVEIRA (1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019)

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Desde o Maternal que eu venho crescendo nesta escola, durante todos meus anos aqui, além de aprender com os melhores professores que eu possa imaginar, descobri uma segunda família, pessoas sempre dispostas a me ajudar. Com o passar dos meus 16 anos no Uira, vi tudo mudar, se transformar, se tornando cada vez mais e mais, um ambiente melhor e significativo para nossa vida cidadã em sociedade. Essa trajetória vem me moldando alguém melhor! Tenho tantas lembranças boas de tudo e de todos no colégio, cada torneio de Jogos Uirapuru, cada Super Dia e cada Gincana estarão pra sempre na minha memória, assim também como amigos que vou levar pra vida toda!

Conforme crescemos, vamos nos esquecendo daquele antigo amor que nutrimos durante toda nossa formação, mas ao mesmo tempo lá no fundo, esse amor aumenta cada vez mais. Hoje me encontro terminando o segundo ano do Ensino Médio e me preparo para uma das mais importantes fases na vida de um jovem adolescente. Nesse preparo, é necessário que eu passe mais tempo na escola do que em minha própria casa e, apesar do cansaço e das reclamações, só tenho boas memórias de todo esse tempo que passei no Colégio Uirapuru, minha segunda casa. Cada funcionário e aluno da escola tem um lugar especial em meu coração, eles me acolheram e me ajudaram a descobrir quem eu sou nesse mundo incrivelmente grande. O Uirapuru não significa apenas um colégio, significa amor, empatia, segurança e lar. Eu nunca vou me esquecer de cada dia de brinquedo, cada gincana, cada atividade em grupo, que me ajudou muito a me tornar a pessoa que sou hoje. Só tenho a agradecer.

VITÓRIA SWAIN MÜLLER SANTOS (3ª SÉRIE ENSINO MÉDIO/2019) Entrei no Uirapuru aos dois anos. Desde então, estudo aqui e esse ano é o meu último na escola. Não tenho dúvidas de que tive o melhor ensino, tive os melhores professores e que estou preparada para meu futuro profissional. Mas hoje vejo que o que fica são as tantas outras coisas que aprendi por aqui que vão muito além disso. Falo sobre o respeito que me ensinaram a ter, os laços que fiz ao longo desses anos e a criticidade que construí. Sou grata pelo colégio por ser parte de quem sou hoje. Me formo esse ano com a consciência de que tive a oportunidade de estudar no melhor lugar possível.


ISABELLA CABRELLI RUSCONI (2ª SÉRIE DO MÉDIO/2019)

LAURA CAMIS (1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019

Eu costumo dizer que o Colégio Uirapuru é a minha segunda casa. Foi nele onde eu fiz minhas primeiras amizades, onde eu aprendi a ler, onde eu aprendi a estudar, onde eu tive minhas primeiras decepções e também foi nele onde eu conquistei muitas coisas das quais tenho orgulho até hoje… O Colégio Uirapuru fez eu ser quem eu sou agora, e eu serei eternamente grata por isso! Ele me mostrou que, mesmo no meio de muitos alunos, cada um aqui tem um lugar especial e único, e não tem sentimento melhor do que esse! Depois de uma longa caminhada e de muitos aprendizados, hoje eu estou no fim do segundo ano do Ensino Médio e tenho muito orgulho de ter feito parte da história dessa escola!

Eu, Laura Camis, cheguei nesta escola, Colégio Uirapuru , com apenas 3 anos. Era pequenininha e fui recebida de braços abertos , pelos professores, funcionários e toda equipe da coordenação com muito amor e carinho. Esses que, aliás, sempre me assistiram e compreenderam quando precisei.

Muito obrigada, Colégio Uirapuru, por tudo o que você já me proporcionou e tudo que eu tenho certeza que me proporcionará!

E tudo foi mudando: dos acantonamentos do Fundamental às gincanas do Ensino Médio; das brincadeiras de criança para as complexas provas do colegial; o número de amigos cresceu, o de professores também. Eu tive o privilégio de crescer neste ambiente, onde eu sempre senti acolhida, valorizada e respeitada, onde me identifiquei com os professores e troquei grandes experiências. Consegui me expressar e fui ouvida. Isso foi fundamental para meu crescimento, pois aprendi a colocar-me no meu lugar não só como aluna, mas também como ser humano. E agora ... eu estou indo para a 2ª série do Ensino Médio! Com uma responsabilidade ainda maior, preparada para os novos desafios... Em parte, muito triste em saber que o tempo passou voando, que só restam mais dois anos... Mais dois anos de Colégio Uirapuru!!! Sim, daqui 2 anos estarei em uma nova fase, mas tenho certeza que nunca esquecerei de certas pessoas, as quais foram determinantes para meu crescimento, minha evolução e meu aprendizado. Elas , levarei para o resto da vida! Eu, Laura Camis, sou quem eu sou e vocês, Colégio Uirapuru, foram, são e, sempre, serão de extrema importância na minha vida, na minha história pessoal! Sou grata por tudo!

ANUÁRIO 2019

Quando cada aluno entra no Colégio Uirapuru, ele é uma folha em branco, e depois de cada momento, cada aula, cada amizade, cada sorriso, cada abraço, ele vai colorindo seu papel, até formar sua história… uma história que cada um desse colégio leva para o resto da vida. Aqui eu aprendi que todos nós devemos lutar, acreditar, conquistar, perder, desejar, esperar, alcançar. Eu aprendi que podemos ser tudo o que nós queremos e que nenhum sonho é grande demais para ser alcançado. Todos nós, alunos do Colégio Uirapuru, sonhamos com a certeza de que um dia nossos sonhos irão se tornar realidade, pois recebemos a melhor educação, os melhores professores, as melhores aulas que qualquer criança/adolescente poderiam receber! Somos todos muito sortudos por estudar em uma escola privilegiada como a nossa!

Os anos se passaram...Aquela “escolinha” se tornou o “império” Uirapuru.

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LUIZ FELIPE CAMARGO NAKAZONE (2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019)

TAÍS ALFREDO (1ªSÉRIE DO ENSINO MÉDIO/201)

Desde do meu primeiro ano de vida estudo no Uirapuru, onde eu cresci, fiz amizades, amadureci e me formarei. Com certeza, o colégio teve uma influência significativa em quem eu sou hoje. Ele me apresentou valores, conhecimento, ética, educação, disciplina, empatia e respeito. Estar aqui todos os dias pode não ser a melhor coisa do mundo, mas as pessoas com as quais você convive fazem disso uma experiência muito gratificante, pois no final apenas as boas lembranças ficam. É por isso que um dos melhores presentes que a escola me deu são meus amigos. Estar com eles todos os dias, dar risada, me divertir são as coisas que sou mais grato.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que entrei pelos portões do Tio Cacá, acho que nunca me senti tão apavorada, tinha só dois anos, e tudo ali era novo. Mas essa sensação não demorou para logo ser substituída por outra, o pertencimento.

Discordo plenamente quando alguém fala que nós, alunos do uirapuru, somente estudamos. A escola vai muito além disso. Nosso lado humano é estimulado, nossas amizades se fortalecem, nossos sentimentos se desenvolvem e nossas paixões florescem. Desde já, agradeço a todos os professores, funcionários, coordenadores e alunos que me abrirão diversas oportunidades no meu futuro. No final, sei que vou carregar tudo que aprendi aqui, como estudante, amigo e cidadão para o meu futuro, carregando as memórias e experiências e valores e conquistas na minha essência. Pretendo levar as amizades que comecei aqui para o resto para lembrar cada risada, abraço, escolha, elogio e história que vivi aqui.

ANUÁRIO 2019

LEONARDO GARCIA CARVALHO INFANTI (2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019)

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Estudei minha vida toda no Uirapuru, estou desde os meu 5 meses de vida, basicamente cresci aqui! Grande parte da minha formação e de quem eu sou hoje é graças aos esforços, dedicação e carinho de cada integrante dessa grande família que é essa escola, todos aqui dentro, mesmo que não se lembrem de mim, jamais irão sair do meu coração. Sou muito grato a tudo e a todos que me proporcionaram sempre o melhor para que eu pudesse aprender, viver, conquistar meus sonhos e sempre me fazerem sentir parte dessa família. Obrigado, Uirapuru, por me apoiar desde o primeiro fio de cabelo, até o meu primeiro capelo.

Quando entrei no Uirapuru ele, assim como eu, ainda era pequeno havia só um prédio, o parquinho era de madeira e ao invés do Quintal Uirapuru, íamos ao Nanu. Porém, com o tempo crescemos juntos, Colégio e alunos, um sempre aliado ao outro. Dentro desta instituição pude me desenvolver enquanto pessoa, trilhando uma história que só seria possível junto às pessoas que conheci aqui e com as oportunidades que ela me deu. Dentro desta escola aprendi a ler, a cuidar e a sonhar. Foi nesses corredores que eu sofri os meus primeiros tombos, assim como as minhas primeiras vitórias. Esta escola não conta somente com um corpo docente de excelência ela conta com a história de todos os alunos que já passaram e que irão passar por aqui. Foi durante o meu tempo no Uirapuru que eu entendi o real significado da amizade, assim como o quanto ela é importante para as nossas vidas, pois o que realmente faz do Colégio Uirapuru um espaço de aprendizagem não é somente o conhecimento que adquirimos dentro da sala de aula, mas sim a convivência e as experiências que o Colégio nos proporciona fora dela. Hoje, após 14 anos de Colégio, percebo o quanto esse lugar se tornou a minha casa e como as pessoas que conheci aqui, sendo elas funcionários ou amigos, se tornaram minha família. Assim agradeço pelas boas lembranças e pelas sinceras risadas que eu pude dar dentro desta instituição e espero que todos os demais alunos que trilhem esse caminho possam usufruir de momentos tão significativos quanto os que eu vivi aqui.


JOÃO PEDRO TAVEL BOSSOLLA (1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019)

MARIA VITORIA PACE (1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019)

Estudei aqui minha vida toda, desde os 4 anos de idade. Hoje em dia, vejo que esta escola me transformou. Comecei a estudar aqui quando quase ninguém tinha celular, quando não se falava de Youtube, quando a Marvel não tinha lançado nenhum de seus famosos filmes. Hoje vemos todos com celulares, todos assistindo Youtube e todos adorando um filme de super herói. Vi modas virem e modas passarem, vi a seleção vencer e vi o 7X1 (vish). Eu aprendi com a escola e ela aprendeu com os alunos. Vi o mundo se transformando, vi tudo mudando, assim como eu. Sempre com o auxílio desta escola. Sempre com a companhia dos meus amigos. Sempre com o apoio dos professores. Sempre com os anos que me fizeram dar cada vez mais de mim. Sempre com o Uirapuru. Então, posso dizer que essa escola sempre fez e fará parte da minha vida.

Desde que me conheço por gente estudo no Uirapuru, Cresci, aprendi a ler e escrever, construí minhas primeiras amizades e minha essência nesse colégio. Poderia enumerar muitos outros aprendizados que tive e tenho até hoje, mas para isso precisaria de muito mais do que uma página.

PAOLA MORA DIAS (1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO/2019)

Olhando para trás tenho muita nostalgia e saudades, um aperto no coração, pois tudo o que foi já não volta mais. Brinco que o colégio cresceu junto conosco, antes era somente o prédio do Fundamental, pequeno comparado ao “Império” que hoje é o Uirapuru, mas acolhedor e que definitivamente carrega muitas histórias. Nunca irei me esquecer das segundas-feiras com os “Super dias” e idas à piscina. A formatura do prézinho que com certeza foi um marco para muitos, a primeira vez que dormiríamos fora de casa, na escola ainda por cima! Das inúmeras risadas e dinâmicas, até as milhares de aulas de educação física dentro do banheiro, não me julguem...haha !

Em relação à aquisição do conhecimento somos privilegiados, mas essa escola vai muito além disso. Acredito que uma coisa que nunca poderão extrair do ser humano é o conhecimento e suas lembranças, e aqui estou repleta das melhores. Me lembro até hoje do dia em que podíamos levar brinquedos brinquedos para a escola, das aulas de natação, “super dia”, de formaturas, de viagens, de gincanas, e tantas outras que podia fazer um livro. Sou extremamente grata por todos esses anos aqui! Nessa escola ficará apenas as melhores lembranças de minha infância, com uma enorme saudade.

Admito que muitas vezes também não foi fácil, a cada ano vi muitos dos amigos meus indo embora, pela dificuldade e disciplina que o colégio exige. Entretanto, percebo o quanto essas situações proporcionaram justamente que eu estreitasse os laços com as amizades que tenho hoje, e sempre buscasse me reinventar e conhecer pessoas novas. Mais do que uma escola, o Uirapuru é um lar pra mim, um lugar em que me sinto plenamente acolhida e amparada, ao lado dos melhores profissionais e amigos, uma verdadeira família.

ANUÁRIO 2019

Quando entrei no Uirapuru tinha apenas três meses, quase inacreditável pensar, mas depois de ter passado quase uma vida aqui dentro, percebo o quanto foi gratificante ter crescido nesse ambiente. Hoje, estando no primeiro ano do Ensino Médio com amigos que me acompanham desde o berçário, vejo o quanto a escola se tornou uma segunda família e um pertencimento.

Sou muito grata a tudo que me aconteceu e o Uirapuru me proporcionou, tenho muito orgulho de ter concluído tantas fases ao lado dessa enorme família. Agora, finalizando o primeiro ano do Ensino Médio, vejo o quanto amadureci e o quanto a escola teve papel fundamental na pessoa que eu sou hoje. Depois de quase 14 anos estudando no colégio, tenho a certeza de que mais do que uma instituição de excelência, com professores extremamente qualificados e uma infraestrutura de impressionar, o Uirapuru transforma, transforma pessoas, dá vida a sonhos, proporciona desde as mais leves risadas ao mais profundos aprendizados, um colégio que inspira.

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Após os relatos das memórias dos alunos, importante fazer algumas considerações sobre a importância da identidade e do pertencimento em um contexto de grandes transformações, mudanças radicais e irreversíveis que afetaram e afetarão os diversos campos da vida humana. Ter identidade e pertencimento é ter sentimento de amor às relações sólidas, aos ambientes harmoniosos e educativos, à cultura e à arte e, consequentemente, um sentimento de autovalorização e autoconhecimento. Eis as habilidades fundamentais em tempos em que as novas condições de trabalho, a produção cultural, as relações entre o eu e o outro, constituem a sociedade contemporânea que é perpassada pela revolução do conhecimento, da informação e de novas tecnologias.

ANUÁRIO 2019

Eis o importante sentimento de pertença que solidifica princípios e valores de um viver cidadão, responsável, protagonista e harmonioso.

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Uiramun Professores Aline de Aquino e Eduardo Torres

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos.

Após a criação da ONU, em outubro de 1945, modelos das Nações Unidas com simulações passaram a ser realizadas em vários países. Um dos modelos mais antigos é o Harvard Model United Nations que realizou sua primeira conferência em 1953. Desde então, os MUN´s, ou seja, os modelos de simulação de negociações internacionais, têm se espalhado pelo mundo todo.

1

Preâmbulo da Carta das Nações Unidas

As organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas, são espaços de discussões e busca soluções relacionadas aos problemas coletivos, pois têm capacidade jurídica para que direitos e deveres sejam respeitados e implantados de acordo com a legislação vigente. Portanto, as simulações das organizações internacionais são verdadeiros laboratórios das ciências humanas para elaboração de

ANUÁRIO 2019

RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES OBJETIVOS.(1)

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ANUÁRIO 2019

discursos e defesas de política externa. É importante ressaltar que, o Brasil faz parte da ONU e suas ações e resoluções interferem direta ou indiretamente no dia a dia da população brasileira.

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O modelo das Nações Unidas (MUN) é melhor descrito como uma simulação operacional que imita as ações de um corpo diplomático realmente existente – as Nações Unidas. Os participantes assumem funções de embaixadores de países que se envolvem com questões contemporâneas de grande relevância para as Nações Unidas. Conjuntamente com outros países aprendem a negociar, a construir planos de ação sob a forma de resoluções. Philips e Muldoon (1996) descrevem o modelo das Nações Unidas como forma de ensino e aprendizagem sobre questões transnacionais, diplomacia e governança global. A estrutura de simulação é altamente flexível e pode ser entregue a uma variedade de contextos e níveis de aprendizagem. Cada simulação tem sua própria duração e estruturação de pauta de

discussão. Para apoiar o preparo dos alunos há uma riqueza de textos e publicações na rede acadêmica e na ONU. Além disso, a participação em simulação provoca transformações pessoais que influenciam na postura profissional e pessoal. A primeira simulação da ONU do colégio Uirapuru foi realizada em 2017. O nome dado à simulação, seguindo os critérios da Organização das Nações Unidas, foi UIRAMUN (Uirapuru Model Nations). A iniciativa veio por parte de alunos que participavam de modelos de simulação externos. Houve um engajamento muito grande por parte dos discentes, tanto para a preparação quanto para a movimentação, concessões e formulação das resoluções. É uma proposta pedagógica que atende aos princípios construtivistas de aprendizagem ativa, reflexiva e autenticamente contextualizada. Além disso, estimula o pensamento complexo (LIMA, 2003). Os modelos de simulação estão ganhando destaque no Brasil. Do ponto de


Para a internacionalização, há uma necessidade de preparar estudantes para uma cultura mais diversificada e sua inserção no mundo. Os modelos de simulação oferecem aos alunos a oportunidade de debater e produzir conhecimentos que representam pontos de vista, paradigmas e crenças. Os alunos apresentam um alto grau de engajamento devido à natureza diplomática da simulação e debatem temas interdisciplinares. Os modelos de simulação colaboram com uma sala de aula política, com alunos ativos que têm capacidade de argumentação e trabalho em equipe. O Uiramun foi composto por alunos do colégio (8º e 9º anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio) e por alunos do colégio OSE COC (alunos do Ensino Médio). O número de alunos envolvidos no evento foi muito grande:

por volta de 200 alunos. A vinda de um colégio diversificou muito as experiências diplomáticas de representar os interesses políticos e econômicos de um país. Houve estímulo à sociabilidade, o desenvolvimento da capacidade de argumentação, o desafio da elaboração de medidas para conflitos já pensados por “verdadeiros” diplomatas e a abertura dos horizontes da percepção, quando a política externa do país defendido diverge da opinião pessoal. A contextualização de um ambiente formal propicia também ao participante aprender a se comportar e se impor em situações diplomáticas. A contribuição do projeto depende de como cada participante absorve a experiência. No geral, há aprimoramento da retórica, da capacidade de negociação, da expressão em público e do respeito a opiniões divergentes. A Simulação permitiu, além de conhecer melhor os colegas de outras salas e de outro colégio, um aprendizado de modo interativo e não tradicional, sendo uma ferramenta de ensino alternativo bastante eficaz. A participação no evento, permitiu aos alunos conhecerem questões de interesse global e a leitura de temas sempre atuais (o que auxilia, e muito, na preparação para o ENEM e outros vestibulares).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: LIMA, G.F. da Costa. O discurso da sustentabilidade e suas implicações para a educação. Campinas: Ambiente & Sociedade, NEPAM/UNICAMP, vol. 6, nº 2, jul/dez. 2003. PHILIPS, M.J. e MULDOON, J.P. The Model United Nations: a strategy for enhancing global business education. Journal of Education for Business, 71 (3), 1996.

ANUÁRIO 2019

vista pedagógico os modelos da ONU desenvolvem competências e habilidades e permitem conhecer melhor assuntos de grande relevância internacional e das organizações internacionais, no que se refere à própria estrutura da organização bem como as normas jurídicas e seu peso nos contextos nacionais.

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Assembleia escolar: protagonismo juvenil, dialogia e cidadania Orientadora Educacional Gláuci Mora Alunos Aimée Chaves Aranha, Ana Sofia Toscano, Bruna Freddo Leonotti, Danilo de Castro Satiro Aragão, Giulia Conti Fruet, Isabella Cabrelli Rusconi e Luiz Felipe Camargo Nakazone

O CONFLITO É PARTE NATURAL DE NOSSAS VIDAS E APENAS ISTO JÁ SERIA SUFICIENTE PARA CONSIDERÁ-LO COMO IMPORTANTE TEMA DE ESTUDO. DE FATO, TODAS AS TEORIAS INTERACIONISTAS EM FILOSOFIA, PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO ESTÃO ALICERÇADAS NO PRESSUPOSTO DE QUE NOS CONSTITUÍMOS E SOMOS CONSTITUÍDOS A PARTIR DA RELAÇÃO DIRETA OU MEDIADA COM O OUTRO, SEJA ELA DE NATUREZA SUBJETIVA OU OBJETIVA

ANUÁRIO 2019

(ARAÚJO, 2019, P. 1)

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Para uma educação transformadora de vida, é fundamental refletir sobre o protagonismo juvenil em que o jovem é sempre agente principal em ações que dizem respeito a problemas concernentes ao bem comum. A escola é o espaço privilegiado para esse exercício de cidadania, proatividade e liderança, já que é uma das mais importantes instituições produzidas e estruturadas pelas sociedades e cultura humana. É espaço de aprendizagem não apenas acadêmica, mas também onde se desenvolvem habilidades importantes para a vida. Para dar conta

da missão que os tempos impõem, o ser humano deve ser capaz de organizar-se em torno de quatro grandes eixos/pilares da educação, propostos por Jacques Delors (2003) aprender a ser; aprender a conviver; aprender a fazer; aprender a aprender. Eis por onde nossos jovens devem saber caminhar como protagonistas, motivado ao ser e, ao conviver na escola e consequentemente, em sociedade, cônscio do estar no mundo e por ele ser corresponsável.


MAS O QUE SÃO ASSEMBLEIAS ESCOLARES? AS ASSEMBLEIAS SÃO O MOMENTO INSTITUCIONAL DA PALAVRA E DO DIÁLOGO. O MOMENTO EM QUE O COLETIVO SE REÚNE PARA REFLETIR, TOMAR CONSCIÊNCIA DE SI MESMO E TRANSFORMAR TUDO AQUILO QUE OS SEUS MEMBROS CONSIDERAM OPORTUNO (PUIG APUD ARAÚJO, 2019, P. 118).

De acordo com Araújo (2004), a matériaprima das assembleias escolares são os conflitos cotidianos do trabalho educativo que oportunizam a aprendizagem do

diálogo, no fortalecimento do protagonismo social e na construção coletiva das regras de convívio visando à justiça, à ética e à democracia. Vale lembrar a reflexão de Araújo (2019), quando pondera que nós nos constituímos e somos constituídos a partir da relação direta ou mediada com o outro, seja ela de natureza subjetiva ou objetiva. Para o autor, É NESSA RELAÇÃO QUE NOS DEPARAMOS COM AS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS QUE NOS OBRIGAM A COMPARAR, DESCOBRIR, RESSIGNIFICAR, COMPREENDER, AGIR, BUSCAR ALTERNATIVAS E REFLETIR SOBRE NÓS MESMOS E SOBRE OS DEMAIS. O CONFLITO TORNA-SE, PORTANTO, A MATÉRIA PRIMA PARA NOSSA CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA, COGNITIVA, AFETIVA, IDEOLÓGICA E SOCIAL. (2019, P.2).

No Colégio Uirapuru, a Assembleia Estudantil foi criada com o intuito de facilitar a comunicação entre os alunos do Ensino Médio e a coordenação, visando aliar os interesses de ambas as partes e aumentar a participação estudantil no ambiente escolar. A iniciativa, vinda de um grupo de alunos da 2ª série do Ensino Médio em 2018, estendeu-se não apenas para todo o Ensino Médio, mas também para o 9º ano do Ensino Fundamental. Ao longo do tempo, este movimento reuniu diversos estudantes engajados com o espírito de melhoria e liderança, para assim mudarem a realidade do corpo discente. Todo semestre, cada sala escolhe, por meio do voto, dois representantes responsáveis por comparecer às reuniões da assembleia, propagar as propostas de sua respectiva sala e discutir diversas ideias, também propostas por outros representantes. As reuniões são feitas quinzenalmente, nas quais as sugestões de cada sala são discutidas, selecionadas conforme o grau de importância e efetividade, para então serem enviadas para a coordenação.

ANUÁRIO 2019

Nesse contexto, refletimos sobre a gestão democrática dentro da escola que é amparada pela legislação brasileira: a Constituição Federal assim como a Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 (LDB) que consideram um princípio básico a participação dos alunos, assim como de todos os profissionais da escola em de uma gestão mais democrática. Desta forma, a assembleia estudantil é uma ferramenta fundamental no processo de construção de valores democráticos e cidadãos, que primam pela cultura da tolerância e do diálogo e também desenvolvem habilidades fundamentais para o viver em sociedade, para atuar como profissionais competentes e éticos. Ulisses Araújo, professor da Escola de Artes e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, há mais de 15 anos se dedica à temática, fortalecendo a implementação de assembleias em espaços educativos como forma a desenvolver a participação crítica dos jovens no espaço escolar: trabalhar em equipe, organizar reuniões e elaborar documentos oficiais, atas, dialogar entre os pares e diferentes para a elaboração de solicitações estudantis para o interesse comum, principalmente em relação a uma aprendizagem mais significativa. Mas afinal qual instrumento podemos utilizar na escola para desenvolver tais habilidades: assembleias escolares.

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ANUÁRIO 2019

Devido a muito esforço e dedicação, várias conquistas foram alcançadas, como: maior suporte aos alunos que querem prestar faculdades no exterior trazendo a empresa Daquiprafora para falar com os mesmos e aplicar simulados; maior frequência de simulados como o ENEM; eletivas anuais e organizadas com maior diversidade de opções, mais voz na organização dos eventos escolares como a gincana e a jornada de profissões; melhoramentos na infraestrutura do colégio. No geral, a voz estudantil tomou mais força, resultando em tais significativas melhorias.

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Com a formação dos grupos de cada semestre, os participantes puderam compreender como se dá a representação de um grupo diverso - objetiva e respeitosamente - e qual é a importância da participação política do indivíduo, mesmo que em uma escala micro, na escola. Durante os encontros, as discussões são guiadas pelos próprios alunos, desenvolvendo liderança, protagonismo, autonomia e responsabilidade nos mesmos. Nós, alunos, Ana Sofia Toscano (3ª série C), Isabella Cabrelli Rusconi (2ª série C),

Luiz Felipe Camargo Nakazone (2ª série B) e nossa Orientadora Educacional, Gláuci Mora, desejamos que essa iniciativa tenha continuidade e se aprimore ao longo dos anos, reverberando para as futuras gerações de alunos do Colégio Uirapuru, jovens protagonistas do seu tempo!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARAÚJO, Ulisses F. Respeito e Autoridade na escola. In: AQUINO, J. (org). Autoridade e autonomia na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1999. ____________ . Assembleia escolar: um caminho para a resolução de conflitos. São Paulo, Moderna, 2004. ____________. Resolução de conflitos e assembleias escolares. Disponível em https:// periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/ article/viewFile/1743/1623, acessado em 26/10/2019. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2ªed. São Paulo: Cortez,Brasília, DF: MEC/ UNESCO, 2003. PUIG, Josep. Democracia e participação escolar. São Paulo: Moderna, 2000.


O Estudo Guiado e a Monitoria - um projeto de sucesso entre ex-alunos e alunos

O processo de aprendizagem no contexto escolar é facilitado através de atividades que garantam uma aproximação entre aluno, professor e disciplina, portanto, o projeto de monitoria tem como objetivo minimizar as dificuldades no processo de aprendizagem e ao mesmo tempo gerar oportunidades para que os alunos exercitem outras formas de envolvimento escolar. A finalidade é a melhoria da qualidade de ensino, através do auxílio dos alunos-monitores, egressos do Ensino

Médio e estudantes universitário nos processos de ensino e, assim, criar uma perspectiva que possibilite aos alunos monitorados a oportunidade de tirar dúvidas, rever as dificuldades e conquistar aprofundamentos teórico-práticos dos conteúdos associados à disciplina por parte dos alunos-monitores e supervisão do professor orientador, conforme a organização do planejamento a ser executado no período que transcorre a atividade de monitoria.

ANUÁRIO 2019

Ex-aluna e Estagiária Giovana Alves Cabral Ex-aluno e Estagiário Leonardo Coelho Ruas Professora Kátia Regina Yabiku

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O APRENDIZADO PELA MONITORIA EM SALA DE AULA PARTE DO PRINCÍPIO DE QUE A APRENDIZAGEM ACONTECE PELA INTERAÇÃO E PELA RELAÇÃO COM OUTROS ALUNOS E PROFESSORES, ASSIM, OS ALUNOS LEVANTAM HIPÓTESES, TROCAM INFORMAÇÕES, HAVENDO ESSE TIPO DE INTERAÇÕES PELO CONHECIMENTO EM SALA DE AULA, O CONHECIMENTO FICA EM CONSTANTE CONSTRUÇÃO, POIS A TROCA DE EXPERIÊNCIAS É DE GRANDE IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO.

ANUÁRIO 2019

(SCHNEIDER, 2008, P.78).

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O programa Estudo Guiado, destinado aos primeiros e segundos anos do ensino médio, e a Monitoria, destinada aos oitavos e nonos anos do ensino fundamental, sendo ministrados por ex-alunos do Colégio Uirapuru, hoje universitários do curso de engenharia, demonstram como a relação entre ex-alunos e alunos proporciona o enriquecimento no processo ensino aprendizagem.

Seguindo o mesmo pensamento, a primeira intenção do projeto no Colégio Uirapuru, tanto para o Estudo Guiado quanto para a Monitoria, é apoiar os alunos através do desenvolvimento de atividades que têm como objetivos a revisão de conteúdos (já vistos nos anos anteriores), estimular a participação ativa dos alunos e aproximar a teoria matemática ao real.

O Instituto Dom Barreto, colégio particular de Piauí líder no ranking do Enem 2018, aponta como um dos fatores para a posição alcançada a monitoria com ex-alunos, com carga horária ampliada. “A coordenadora do ensino médio, vice-diretora e ex-aluna Marcela Rangel, afirma que a cultura do colégio é dar atenção ao aluno por meio de atividades extras como reforço em disciplinas ou atendimento através de monitores que foram alunos da instituição. ‘Isso faz diferença’, diz.”

Visto que o trabalho desenvolvido se mostrou positivo, ou seja, os alunos superaram as dificuldades encontradas no início do ano letivo, foi iniciada, com o apoio do orientador (professor), uma nova fase no processo, revisar e tirar dúvidas referentes ao conteúdo ministrado em sala de aula, tornando os alunos mais autônomos e eficientes na resolução, organização e interpretação de problemas que envolvam a matemática.


A METODOLOGIA

RESULTADOS

O Estudo Guiado e a Monitoria ocorrem semanalmente, com duração de 1h30, no contra turno das aulas regulares e para que seja possível ajudar da melhor maneira possível, é preciso partir, primeiramente, da iniciativa do aluno em desenvolver as tarefas e trazer as dúvidas em exercícios que serão discutidos e resolvidos em aula, através do levantamento de diversas estratégias para a resolução dos problemas propostos.

Ao longo do ano letivo, foram alcançados resultados satisfatórios, constatando que alunos que participam regularmente mostram habilidades compatíveis com resultados cada vez melhores, com alguns até mesmo conseguindo ótimos desempenhos nas avaliações institucionais. Existem casos de alunos que, mesmo após não serem mais convocados devido à melhora no rendimento acadêmico, continuam comparecendo todas as semanas, afirmando o quanto esse contato interpessoal e próximo de suas realidades ajudou no seu desenvolvimento em sala de aula.

Este processo é enriquecedor, dado que coloca todos, até mesmo os alunos convocados, na posição de professor e aprendiz, visto que, comumente, após terem suas dúvidas saciadas, os alunos explicam exercícios e conteúdos uns aos outros, pois quanto mais se ensina mais se aprende. Além disso, com professores ex-alunos, é possível compartilhar também a experiência e vivência na instituição, propiciando o crescimento intelectual e interpessoal de ambos os envolvidos.

Para um ano inicial, houve um excelente retorno, sendo assim, ampliar ainda mais esse método de ensino pode ajudar a desenvolver um novo ritmo de estudos mais eficaz e produtivo para os alunos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: SCHNEIDER, M. S. P. S. A Produção de conhecimento e a Ambientação de Formação de Professor. 2008. 224 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2008. FOLHA DE S. PAULO. Colégio no topo do Enem aposta em monitoria e carga horária ampliada. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/06/ colegio-no-topo-do-enem-aposta-em-monitoriae-carga-horaria-ampliada.shtml. Acesso em: 14 out. 2019.

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As dúvidas chegam, de forma individual ou coletiva, e são trabalhadas de acordo com a necessidade e/ou dificuldade do aluno, sempre sendo estimulado a expressar-se matematicamente através dos conceitos e estratégias previamente estudadas em sala de aula.

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ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: ACOMPANHANDO DE PERTO O DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS


ANUÁRIO 2019

A PRINCIPAL ATRIBUIÇÃO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL É FAZER UMA MEDIAÇÃO QUALIFICADA QUE PROPORCIONE REFLEXÃO SOBRE O DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM DOS ALUNOS. POR ISSO, A PARCERIA, A TROCA E O DIÁLOGO QUE ESTABELECE COM A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA, COM OS PROFESSORES E COM AS FAMÍLIAS SÃO FUNDAMENTAIS PARA MELHOR ORIENTAR OS ALUNOS. JUNTOS PODEM ENCONTRAR AS MELHORES ESTRATÉGIAS PARA QUE OS ALUNOS GANHEM AUTONOMIA EM SEU PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, EM SEUS HÁBITOS DE ESTUDOS E EM SUAS RELAÇÕES INTRA E INTERPESSOAIS.

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Relação Escola e Família: um compromisso dialógico, democrático e respeitoso numa perspectiva de formação humana integral

ANUÁRIO 2019

Orientadoras Educacionais Michele Leite e Sabrina Del Campo

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“Gosto de ser gente”, relata Paulo Freire (2011) em “Pedagogia da autonomia”, uma gente que se revela como inacabada. Ao longo de sua reflexão faz pensar sobre o “ser humano”, sobre as relações que se estabelecem, sobre o percurso das ideias, sobre as experiências e oportunidades que lhes são dadas ao longo da vida. Oportunidades que, conforme a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), têm

como premissa a formação humana em suas múltiplas facetas e a partir dela, articular conhecimento, habilidades, atitudes e valores para lidar com as demandas do cotidiano. A escola é o lugar do encontro dessas “gentes”. Gente que se alimenta do convívio, das interações e das inúmeras possibilidades que o ambiente escolar pode favorecer.


Tão importante quanto essa equipe que se responsabiliza pela formação dos alunos está a família. Não há como pensar em escola sem pensar na parceria com as famílias, visto que é o núcleo principal em que a criança recebe o amor, o cuidado e, também, a sua história. É quando a criança entra na escola que essas duas instituições, família e escola, se encontram, se aproximam, se diferem e se completam. CADA FAMÍLIA ALIMENTA EXPECTATIVAS DIFERENTES EM RELAÇÃO AO PAPEL DA ESCOLA. O MESMO OCORRE COM A ESCOLA EM RELAÇÃO À FAMÍLIA. SURGE ENTÃO, COMO CONDIÇÃO BÁSICA PARA QUE POSSAM SER CUMPRIDAS AS FINALIDADES EDUCACIONAIS, A NECESSIDADE DO CONHECIMENTO MÚTUO ENTRE AMBAS PARA A COMPATIBILIZAÇÃO DAS EXPECTATIVAS E DA INTEGRAÇÃO ENTRE DUAS INSTITUIÇÕES (GIACAGLIA, 2018, P. 150).

A parceria Escola e Família pressupõe o compromisso e o engajamento dessas instituições no processo ensino/aprendizagem dos educandos, considerando-os numa concepção humana integral. A educação partilhada e sincronizada possibilita a discussão e a reflexão sobre o contexto atual, contemporâneo, em que globalização, novas tecnologias e novas formas de se estabelecer em sociedade, trazem à tona a necessidade

de que esses núcleos se fortaleçam mutuamente, mediando valores a partir dessa convivência. Essa relação supõe, como ponto de partida, o aluno e as suas especificidades, neste contexto, com o objetivo de promover o desenvolvimento de indivíduos críticos, reflexivos, autônomos, que dialogam, que cooperam de maneira solidária e empática, reconhecendose como parte integrante de uma coletividade. Cada sujeito tem a sua história que esbarra em outras histórias, mas que se constitui única na sua proposta e intensidade (GRINSPUN, 2011, p. 84). A cultura escolar transpassa por áreas distintas e interligadas seja na questão do conhecimento, dos valores, das emoções e da rede de intercâmbios simbólicos sociais. Conforme Vigotski (2015), o desenvolvimento da apropriação do conhecimento se dá de acordo com as relações reais, com o mundo, determinadas pelas condições históricosociais e de como a vida acontece neste contexto. AS INTERAÇÕES SOCIAIS DE MODO GERAL E AQUELAS QUE OCORREM PARTICULARMENTE NO ÂMBITO ESCOLAR VÊM SENDO APONTADAS COMO UM CAMINHO PARA INCREMENTAR OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO, TORNANDO MAIS PRODUTIVO O IMPACTO DA ESCOLA NA TRAJETÓRIA DE VIDA DO SUJEITO (PALANGANA, 2015, P. 12).

Compreende-se, portanto, que a ação educacional coletiva é uma tarefa amplamente desafiadora visto que todos, educadores, famílias e comunidade, também se desenvolvem ao atuar como parte desta engrenagem que se modifica a partir das relações estabelecidas,

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É nesse cenário que a comunidade escolar se constitui. Formada pelas “gentes” que, direta ou indiretamente, transformam o espaço da escola em espaço de vida. Alunos, professores, inspetores, gestores, colaboradores... todos em prol de um único objetivo que é a formação plena do sujeito nos aspectos físicos, sociais, congnitivos e emocionais.

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proporcionando o desenvolvimento cada vez mais significativo, consistente e consciente às gerações que surgem. Neste cenário, a Orientação Educacional, na Educação Infantil, exerce o papel mediador, articulador e integrador, valorizando as dinâmicas das relações humanas, respeitando cada criança, na singularidade vislumbrando um novo universo, ao iniciar a jornada acadêmica; uma encantadora oportunidade de experimentações, de sensações, de afetos, de significados, de vida! Da mesma maneira, esse novo mundo (vida escolar dos filhos) a desbravar, é mais uma das peculiares atribuições dos pais que, por um longo período, confiarão à escola os bens mais preciosos, partilhando com ela uma nova jornada da vida. Cabe a nós todos, escola e família, a parceria que oportuniza essa grande experiência! De acordo com Aldo Fortunati (2009), que nos esforcemos por uma formação multifacetada como explicitada nos versos a seguir:

Por uma ideia de criança Por uma ideia de criança rica, na encruzilhada do possível, que está presente e que transforma o presente em futuro. Por uma ideia de criança ativa, guiada, na experiência, por uma extraordinária espécie de curiosidade que se veste de desejo e de prazer. Por uma ideia de criança forte, que rejeita que sua identidade seja confundida com a do adulto, mas que a oferece a ele nas brincadeiras de cooperação. Por uma ideia de criança sociável, capaz de se encontrar e se confrontar com outras crianças para construir novos pontos de vista e conhecimentos. Por uma ideia de criança competente, artesã da própria experiência e do próprio saber perto e com o adulto. Por uma ideia de criança curiosa, que aprende a conhecer e a entender não porque renuncie, mas porque nunca deixa de se abrir ao senso do espanto e da maravilha. ALDO FORTUNATI (2009, P. 47)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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FORTUNATI, Aldo. A educação infantil como projeto da comunidade – Crianças, educadores e pais nos novos serviços para a infância e a famíliaA experiência de San Miniato. Artmed, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 16ª ed. São Paulo: Paz e terra, 2011. GIACAGLIA, Lia Renata Angelini e PENTEADO, Wilma Millan Alves. Orientação Educacional na prática – Princípios – Histórico – Legislação – Técnicas – Instrumentos. 6ª edição revista e ampliada, São Paulo, Cengage, 2018.

GRINSPUM, Mírian Paura S. Zippin. Supervisão e orientação educacional – Perspectivas de integração na escola. São Paulo, Cortez, 2015. PALANGANA, Isilda Campaner. Desenvolvimento e aprendizagem Piaget e Vigotski - A relevância do social. 6ª edição, São Paulo, Summus, 2015. UNESCO. Série práticas educativas 2 http://basenacionalcomum.mec.gov.br


Espaço de escuta: orientação educacional Orientadoras Educacionais Cristina Sato, Liliane Moraes e Thais Soares

“SE SEU OBJETIVO FINAL É ... PARA AS CRIANÇAS APRENDEREM DETERMINADAS LIÇÕES QUE PODEM SER RECITADAS AO PROFESSOR, A DISCIPLINA DEVE SE CONCENTRAR EM GARANTIR QUE ESSE RESULTADO SEJA ALCANÇADO. MAS SE SEU OBJETIVO É DESENVOLVER UM ESPÍRITO DE COOPERAÇÃO SOCIAL E VIDA COMUNITÁRIA, ENTÃO A DISCIPLINA DEVE NASCER E ESTAR RELACIONADA A ESSE OBJETIVO”.

A Escola, como facilitadora do processo ensino e aprendizagem, deve buscar criar um ambiente escolar harmônico e compreensivo e que contribua para o desenvolvimento de uma personalidade ética dos indivíduos. De acordo com Dewey (1943), é preciso desenvolver um espírito de cooperação social e vida comunitária em nossas crianças. Pensando sobre essas questões, a equipe de Orientação Educacional do Colégio

Uirapuru passou a utilizar as chamadas Práticas Restaurativas, como um espaço de escuta dos alunos, para a gestão dos conflitos da comunidade escolar. Baseamonos nos estudos da autora Belinda Hopkins (2011), cuja metodologia busca desenvolver um ambiente escolar em que as pessoas cuidam umas das outras, desenvolvendo bons relacionamentos, respeito mútuo e um sentido de pertencimento que fortalecem a cultura do aprender e ensinar. Esta proposta educacional convida todos

ANUÁRIO 2019

(DEWEY, 1943).

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a se responsabilizarem pela construção de uma convivência segura e justa, pautada em princípios, valores de igualdade, responsabilidade, inclusão, pertencimento, reconhecimento e valorização. Portanto, as práticas restaurativas, ao invés de tratar problemas como indisciplina ou conflitos entre alunos unicamente com métodos retributivo como advertências e suspensões, aplicam os círculos restaurativos visando a construção dessa nova cultura escolar.

ANUÁRIO 2019

No cotidiano escolar há uma rede complexa de atores que se relacionam: alunos, professores, equipe pedagógica, monitores de alunos, diretores, entre outros. Diante dessa complexidade de relações, a adoção da metodologia da prática restaurativa, como espaço de escuta pode contribuir para que as relações se tornem mais efetivas, harmoniosas, justas e que os resultados se tornem mais satisfatórios, em relação à conscientização dos atores envolvidos nos conflitos que permeiam o espaço escolar. O objetivo da implantação de tais práticas visa a incorporação de uma nova cultura, uma mudança de paradigma, onde o clima educacional se torne positivo, com bons relacionamentos interpessoais, em que cada um se sinta pertencente à comunidade escolar, que haja respeito, e a responsabilização coletiva com foco no bem-estar de todos, ou seja, quebrar o paradigma da violência, dos conflitos e resgatar a qualidade das relações que ocorrem na escola.

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De acordo com a metodologia das práticas restaurativas de Belinda Hopkins (2011), utilizamos como técnicas de uma escuta atenta dos nossos alunos os círculos restaurativos, as conversas restaurativas e os círculos de classe. Os círculos restaurativos, desenvolvidos a partir da sabedoria ancestral de povos tradicionais, que buscam comunitariamente a resolução

de seus conflitos; foram estudados e resgatados por pesquisadores americanos, preocupados com a espiral crescente de conflitos e violência em sua sociedade. Os povos tradicionais entendem que quando um membro da comunidade sofre um dano, toda a comunidade é afetada e todos são responsáveis por restabelecer a ordem e a harmonia comunitária. Neste sentido, organizam-se por meio do círculo como forma de engajamento em busca do processo de cura e harmonização social. Na metodologia dos círculos restaurativos, os envolvidos no conflito são chamados e dispostos em círculo, que é a forma tradicional das sociedades tradicionais se organizarem para resolver seus conflitos. O facilitador do círculo, que é um membro da equipe pedagógica ou professor, desempenha, ao mesmo tempo, o papel de participante e mediador dos conflitos. A ele cabe o papel de chamar à reflexão os envolvidos no conflito, além de garantir o direito de que todos falem, sem serem interrompidos. Os facilitadores utilizam, para a mediação dos conflitos, perguntas e conversas restaurativas, por meio de sua habilidade de articulação emocional, empatia, abertura mental, escuta ativa e sem julgamento, o que permite uma conexão maior entre os envolvidos, visando a construção e sustentação de relações mais harmoniosas. O diálogo restaurativo permite aos envolvidos no conflito explicar como eles veem a situação, dando voz aos seus sentimentos e reconhecendo suas necessidades, e entender seus comportamentos e o dos outros alunos. Em seguida, os participantes do círculo entram em negociação, mediada pelo facilitador. A negociação é tida como a melhor forma de resolver o conflito. Na maior parte das vezes, os discentes em conflito encontram nesse diálogo a solução do conflito e, após, o círculo restaurativo, o problema é resolvido definitivamente.


As conversas restaurativas são utilizadas para resolução de conflitos mais simples. Implica em uma conversa com os envolvidos no conflito e um interlocutor que faz o papel do mediador na resolução do conflito. Utiliza-se nessa conversa perguntas restaurativas, como por exemplo: O que aconteceu? O que você estava pensando? Como você se sentiu? O que você pode fazer para que as coisas voltem a ficar bem? A intenção das perguntas é de proporcionar aos envolvidos no conflito a compreensão de seus sentimentos, quais são suas necessidades, o que estavam pensando no momento do conflito e a busca de soluções para restaurar a harmonia entre todos os envolvidos.

relação recíproca, complementar entre fatores orgânicos e socioculturais que está em constante transformação e é nela que se constitui a pessoa. Para Penzani (2019), “escutar é abrir um espaço interno em que o outro pode entrar. Escuta é sensibilidade àquilo que nos conecta ao outro”. Assim, ao criar esse espaço de acolhimento inserimos também um espaço de escuta na escola, escuta essa que permite uma conexão com o outro. Assim quem escuta também será ouvido, e com isso mostramos que a relação com o outro se constrói na reciprocidade, na emoção e na coletividade.

Os círculos de classe baseiam-se em reuniões nas quais os membros tomam decisões, discutem temas de interesse em comum, podendo ou não ser relacionados a conflitos. O objetivo dos círculos de classe é manter ou recuperar a harmonia e o respeito e desenvolver o olhar para o cuidado com os seres humanos da comunidade que fazem parte. Os círculos de classe são conduzidos pelos princípios de cooperação e responsabilização coletiva. Além disso, estes permitem ao grupo criar o sentimento de pertença, estimulando seus integrantes a desenvolver uma ética de cuidado e responsabilidade perante ao outro.

HOPKINS, Berlinda. Práticas restaurativas na sala de aula. 2011. Disponível em:< http://www. palasathena.org.br/downloads/praticasrestaurativas nasaladeaula.pdf>. Acesso em 20/03/2019. MAHONEY, A. e ALMEIDA, L. A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2016, p.14. PEDROSO, H. H., e BURG, M. Metodologia para o contexto educacional: Belinda Hopkins. In A. GRECCO, C. P. A. ASSUMPÇÃO, C. BERNARDES, C. Cleaver, C. A. MEIRELLES, D. Petresky, H. H. PEDROSO, J. R. MARKOVITZ, M. M. Faria, M. R. Marioni, M. BURG, S. M. RENBERG, S. GUEDES, V. C. YAZBECK, e V. Daou. Justiça Restaurativa em Ação: Práticas e reflexões. São Paulo: Dash, 2014. PENZANI, Renata. Pedagogia da escuta: a escola sob uma perspectiva Malaguzziana. Disponível em: < https://lunetas.com.br/pedagogia-da-escuta >. Acesso em 02/09/2019.

ANUÁRIO 2019

Além dos conflitos, os alunos procuram as orientadoras para outras situações. A sala da Orientação Educacional tornou-se referência para eles, que cada vez mais utilizam esse espaço de acolhimento. Assim, Orientadora Educacional e aluno, estabelecem uma relação de confiança e respeito, que contribui para os avanços dele no contexto escolar, uma vez que, para Mahoney e Almeida (2016) é essa relação da criança com o seu meio, uma

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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Atividade Avaliativa 2º ano: iniciando a rotina de estudo Orientadora Educacional Liliane Moraes

ANUÁRIO 2019

O processo avaliativo vivenciado pelos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental do Colégio Uirapuru, contribui para a construção da autonomia da criança e também na inserção da rotina de estudo, que nesse primeiro momento é orientada e acompanhada por um adulto, porém com o jeito da criança. Ações simples como, colar o roteiro de estudos na agenda, é valorizada para que os alunos entendam o sentido daquela ação, criem a responsabilidade e a percepção de que aquilo pertence a eles também e não somente aos pais e/ou responsáveis.

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A entrada no 2º ano do Ensino Fundamental vem acompanhada de mudanças que geram alegrias e algumas angústias na família. Um sentimento que as crianças estão crescendo e com isso as responsabilidades estão chegando. Por isso, a importância de ajudá-las e apoiálas nessa nova etapa que se inicia. Um dos objetivos desse formato de avaliação é o desenvolvimento da autonomia, que segundo Fraiman (2013), é um processo construído gradativamente, na medida em que nos relacionamos com as pessoas e com o meio em que convivemos. Para que aconteça de maneira saudável, precisa ser acompanhada pelo adulto para gerar bons frutos no futuro. Todo processo de construção da autonomia gera na criança um sentimento de pertencimento e de segurança, que faz com que ela se arrisque nos diferentes ambientes por quais transita, quanto mais autônoma, mais segura será a criança.


Com os alunos do Colégio Uirapuru a rotina de estudo começa a ser constituída lá no 1º ano do Ensino Fundamental, quando diariamente eles levam a “tarefa de casa”. Nesses momentos, já existe uma reflexão sobre o espaço adequado e a rotina da criança para a execução dessa simples tarefa. A partir do 2º ano, isso se intensifica e junto com a lição de casa, vem o momento do estudo. Para essa nova experiência, temos algumas paradas e conversas da Orientadora Educacional com os alunos, para reflexão sobre como proceder nessa situação. Como as famílias participam ativamente desse processo, tivemos uma parada com elas também, com o intuito de esclarecer esse novo momento que se inicia. Deixamos algumas orientações que contribuem, para que possamos incentivar as crianças, além de compreender quais são as expectativas reais em relação a essa nova etapa:

1. DAR AUTONOMIA Para a criança sentir-se segura, e com isso se arriscar nas situações vivenciadas em sala de aula e na escola, se faz necessário o investimento da família em relação à autonomia. Quanto mais autônoma é a criança, mais confiante se apresenta no seu dia a dia, assumindo algumas responsabilidades e demonstrando grande iniciativa. Em casa, permita que a criança realize algumas tarefas sozinha, como por exemplo, trocar de roupa, colocar a roupa suja no cesto para lavagem, ajudar na organização da mesa do almoço ou do jantar, tomar banho sozinha, alimentar-se sozinha, guardar seus sapatos e brinquedos no lugar certo, abastecer o potinho de água e de ração do animal de estimação, entre outras situações que a família pode incentivar diante da organização familiar de cada casa. 2. ORGANIZAR A ROTINA A família precisa adotar hábitos e regras para que o funcionamento da casa aconteça de maneira tranquila. A rotina estabelecida contribui para que a criança se sinta segura, entenda como o seu dia está organizado e quando será o término ou início de uma atividade. Fazer uma tabela com os dias da semana e as atividades que a criança realiza durante o dia com os horários, é uma dica valiosa para ajudar os pequenos. Deixe isso em um espaço da casa em que as crianças tenham acesso, como por exemplo, na porta da geladeira, na parede do quarto, com isso, elas podem gerenciar e verificar quais são as atividades do seu dia, além de passar de uma atividade para outra com mais tranquilidade.

ANUÁRIO 2019

A autonomia é um processo gradativo, que traz para o adulto, em algumas circunstâncias, um sentimento de estar deixando de lado a criança, porém, não é assim que isso se reflete na prática, pois nessa idade o adulto pode contribuir muito mais orientando as crianças na organização das tarefas do que fazendo por elas.

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3. CONVERSAR COM O FILHO

Temos alguns relatos dos pais sobre a expectativa desse momento:

Estabelecer o diálogo em casa entre pais e filhos gera um sentimento de pertencimento na criança, além de estreitar os laços, de estabelecer uma relação de confiança, respeito e intimidade. É, também, uma maneira de resolver os conflitos que surgirão no caminho da vida.

Depoimento 1: “Poder saber contribuir da forma exata, sem cobrar em excesso e sem ser omisso por outro lado. Ajudálo a entender as responsabilidades e a necessidade de organização”.

Escutar a criança com atenção e carinho é ser solidário ao que ela está expondo naquele momento, é se colocar no lugar dela e entender seu ponto de vista, não somente para responder de um jeito ágil e pronto para criticar. Portanto, estabeleça sempre uma escuta ativa e cuidadosa, se mostrando atento ao que ela tem para dizer. Será um aprendizado para ambos, tanto para quem fala como para quem ouve. 4. PROPORCIONAR MOMENTOS DE LEITURA

ANUÁRIO 2019

O hábito de leitura deve fazer parte da rotina da casa, tanto para as crianças como para os pais. Quando essa postura é incentivada, possibilitamos que a criança aprimore a sua comunicação, tanto verbal como escrita, além de construir repertório para argumentação de ideias, com isso ela consegue expor melhor suas opiniões. É preciso gostar de ler, isso só se constrói com incentivo e desenvolvimento de hábito.

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5. SER EXEMPLO Estamos sendo sempre observados pelas crianças. Elas replicam nossas ações nas situações cotidianas que vivenciam. Diante disso, seja gentil e utilize palavras de respeito com o próximo, pois nas relações que elas estabelecem sempre se colocarão da maneira como fazemos.

Depoimento 2: “Acredito que seja apenas uma forma para avaliar como a criança está evoluindo, ou não, em sala de aula. A ansiedade está mais presente nos pais do que nas crianças. Pelo vídeo que assistimos agora é notável que as crianças encaram de uma forma natural”. Depoimento 3: “Eu espero que ele consiga alcançar a média do esperado e que o ajude a crescer e se desenvolver mais com responsabilidade e entender que tem tempo de brincar e tempo de estudar”. Depoimento 4: “O processo avaliativo é um momento tranquilo e natural na minha casa. Sei que no início terei que ajudar minha filha na leitura, mas aos poucos, com a evolução da alfabetização, realizará os estudos sozinha, agregando responsabilidade e alegria com os resultados”. Depoimento 5: “Estabelecer uma rotina de tempo para os estudos, em que meu filho tenha responsabilidade sobre seus deveres e que seja um processo prazeroso”. Depoimento 6: “Acho importante a realização do processo tanto para avaliação em si, quanto para o desenvolvimento do hábito de estudo”. Depoimento 7: “Estamos tranquilos em relação à avaliação, pois entendemos o momento de transição. Esperamos apenas passar essa tranquilidade a P. para que possa evoluir de forma natural”.


Depoimento 9: “Acredito que será uma introdução a rotina de estudo de forma leve, tranquila e sem cobranças. Estimulando a responsabilidade e organização da criança”. Através dos depoimentos podemos perceber o quanto se faz necessária a parceria escola e família. Para Wagner (2011), é importante criar, entre família e escola, um espaço de acolhimento, de ajuda e de aprendizado mútuo de estratégias produtivas e eficazes no crescimento e na educação do jovem e da criança. Depois das conversas com as famílias, partimos para a próxima etapa, com as crianças. Começamos pelo momento em que os alunos têm a oportunidade de pegar o material e separar aquilo que eles levarão para a casa para dar início ao estudo. Mas, antes a orientação sobre o ambiente adequado e o tempo de estudo são relembrados pela orientadora e com isso vários alunos relatam a experiência para o grupo dessa nova vivência. Dessa maneira, um contribui com a aprendizagem do outro, pois o que deu certo para o meu colega pode ser que para mim também funcione, e assim eles seguem aprendendo uns com os outros. Após o reforço sobre o ambiente, vem o momento de conversa sobre o estudo. O roteiro é colado no caderno de estudos pelos alunos, junto com a orientadora, realizam a leitura e tiram dúvidas sobre os itens que ali estão listados.

Algumas crianças se arriscam e realizam os primeiros estudos, seja um breve texto do que entenderam sobre o assunto, ou então, registros dos cálculos matemáticos. E é dessa maneira, respeitando o tempo de maturidade das crianças, que vamos construindo juntos, escola, alunos e família, repertório que ajudará a criança nesse caminho escolar que se inicia agora e que seguirá com ela para a vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: FRAIMAN, Leo. Como ensinar bem a crianças e adolescentes de hoje teoria e prática. São Paulo: Editora Esfera, 2013. WAGNER, Adriana. Desafios psicossociais da família contemporânea pesquisas e reflexões. Porto Alegre: Artmed, 2011.

ANUÁRIO 2019

Depoimento 8: “Espero que seja um processo de aprendizagem bem natural e, acima de tudo, prazeroso para a minha filha e o resultado alcançado, a soma de seus esforços na execução de suas atividades”.

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Momento de passagem: a ida para o Ensino Médio Orientadora Educacional Flávia Proença

ANUÁRIO 2019

A vida de um estudante é marcada por importantes períodos de transições, mas a passagem do 9º ano para o Ensino Médio é, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes.

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Nesta fase, os alunos estão consolidando a adolescência e lidam com grandes expectativas sobre este novo momento escolar, por isso, o trabalho intensivo sobre autoconhecimento se faz necessário para que os adolescentes consigam administrar as novas demandas com responsabilidade, equilíbrio e autonomia.

A passagem para o Ensino Médio representa um mundo novo, onde maiores compromissos e atividades passam a fazer parte da vida cotidiana do estudante. Esse período de transição é visto como uma conquista pelos adolescentes, onde terão mais liberdade e autonomia para ser quem é, compreendendo que precisa abandonar a infância de vez e encontrar a sua própria identidade. Apesar das inevitáveis tensões inerentes a toda transição, aprendemos que se trata de mais uma etapa, com seus sabores e


dissabores, como tantas outras que virão, deixando marcas memoráveis nos corações. A maturidade, o maior nível de consciência e a consequente responsabilidade contribuem para este misto de sentimentos. Com a intenção de atenuar os anseios dos estudantes do 9º ano, quanto ao ingresso no Ensino Médio, o Colégio promoveu um momento surpresa para nossos adolescentes com a participação de alunos, que já passaram e ainda passam pelo mesmo processo que os alunos do 9º ano enfrentarão no próximo ano letivo. O novo sempre gera insegurança e ansiedade, além de mais responsabilidade. O objetivo de antecipar algumas informações foi para que os alunos possam chegar em 2020 mais seguros, mais confiantes e com referências da equipe que vai acolhê-los.

Neste encontro especial, resgatamos memórias afetivas com uma apresentação teatral preparada pelo Prof. Gustavo, juntamente com alguns alunos da 1ª série. Neste momento, os alunos foram surpreendidos com cenas que fizeram parte do cotidiano escolar do 6º ao 9º ano e contagiados pela emoção ao assistirem um vídeo preparado com muito carinho, com momentos do grupo desde o berçário até os dias de hoje, reconhecendo as vozes das pessoas que passaram pela vida escolar, com falas, trechos de músicas que despertaram no grupo gargalhadas, lágrimas, emoções e muitos abraços.

ANUÁRIO 2019

Alunos e professores do Ensino Médio compartilharam suas experiências deste rito de passagem, apresentando o que avaliam como positivo, assim como o que consideram maus costumes e hábitos que dificultam o desenvolvimento acadêmico.

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ANUÁRIO 2019


O principal é a escola manter um ambiente agradável e receptível e mostrar que a

mudança da fase escolar é algo natural e motivo de orgulho. Trata-se de uma conquista! A função da escola é caminhar junto com os alunos nesse processo de transição com o propósito de diminuir as angústias, orientando-os a planejar suas trajetórias e realizar suas escolhas pessoais de formação, estudo e interesse com segurança para que o próximo passo acadêmico seja também marcado como um rito de passagem inesquecível na vida de cada estudante.

ANUÁRIO 2019

Mas o processo de transição continuou ao longo do 2º semestre. Convidados pela Profa. Denise, os alunos vivenciaram momentos prazerosos visitando os espaços do Berçário, da Educação Infantil e Quintal, onde finalizamos com uma reflexão sobre este sentimento de pertencimento ao Colégio, conversamos sobre as amizades que aqui fizeram, sobre os valores que levarão para a vida e também sobre o período de mudança que está por vir.

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ANUÁRIO 2019

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FORMAÇÃO CONTINUADA: APRENDENDO SEMPRE


ANUÁRIO 2019

CLAUDE DUBAR (1997) NOS FALA DE UMA FORMAÇÃO CONCEBIDA COMO “UNIDADE COMPLEXA DE APRENDIZAGENS”. É ASSIM QUE CONCEBEMOS AS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES E DA EQUIPE PEDAGÓGICA (COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL) QUE ACONTECEM NO COLÉGIO. ALÉM DE ABORDARMOS TEMAS DIRETAMENTE LIGADOS À DOCÊNCIA, TRABALHAMOS OUTROS QUE VISAM CONTRIBUIR PARA A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL, PARA O DESENVOLVIMENTO DE SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO À INSTITUIÇÃO. É SEMPRE UMA FORMAÇÃO FOCADA PARA ATENDER MAIS E MELHOR À FORMAÇÃO ACADÊMICA E HUMANA, PRESENTE EM NOSSA MISSÃO, BEM COMO APROXIMAR AS TENDÊNCIAS ATUAIS DE EDUCAÇÃO.

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Abrir os olhos... olhar para o quê? Tornando visível o que nos faz ver!

ANUÁRIO 2019

Coordenadora Pedagógica Gabriela Plens Orientadora Educacional Michele Leite

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“...QUANDO SOMOS CRIANCINHAS NÃO PRECISAMOS DE CONTOS DE FADAS: SÓ PRECISAMOS DE CONTOS. A VIDA PURA E SIMPLES É SUFICIENTEMENTE INTERESSANTE. UMA CRIANÇA DE SETE ANOS SE IMPRESSIONA QUANDO LHE CONTAM QUE TOMMY ABRIU A PORTA E VIU UM DRAGÃO. MAS UMA CRIANÇA DE TRÊS ANOS SE IMPRESSIONA QUANDO LHE CONTAM QUE TOMMY ABRIU A PORTA.” (CHESTERTON IN L’ECUYER 2015. P 7)


Para ampliarmos as possibilidades do nosso olhar e aprendermos a olhar compartilhando o momento sem intervir, só olhando, como sugere Lino de Macedo (2015), ao longo de 2019 nos reunimos (equipe pedagógica da educação infantil), para dialogarmos sobre as diferentes possibilidades do olhar. Para compor o nosso grupo de estudos, ganhamos parcerias importantes, vindas da equipe de Educação Física, da coordenação do Berçário, das professoras do 1º ano do Ensino Fundamental e dos professores especialistas em Música e Artes. Uma grande equipe foi formada com propósitos de aperfeiçoamento, de troca de experiências e de pertencimento à instituição que, consciente do seu papel transformador, inova a cada dia. Os encontros aconteceram mensalmente, com formato de compartilhamento de ideias e das experiências, aportadas teoricamente pelo livro “Tornando Visível a Aprendizagem” sob a organização de Carla Rinaldi (2014). Para Rinaldi (2014), a aprendizagem é o surgir daquilo que não havia, é uma pesquisa do único, do Outro, dos Outros que se encontram em volta de um assunto e é na escola que cada um tem a possibilidade de ser si mesmo, na sua rica originalidade e inteireza. De acordo com sua colocação, passamos a planejar nossas ações valorizando a ação docente e discente num percurso de transformação do olhar.

Tornar visível o que vemos, o que fazemos, o que descobrimos e o que aprendemos, nos faz caminhar para um mundo de relações em que a interação se torna fundamental. O professor sai do papel de detentor do saber e passa a ser o encorajador das múltiplas aprendizagens. A criança, extraordinária em suas capacidades, ganha novas possibilidades para descobrir o mundo. REGISTRANDO... Desde o início, o nosso principal objetivo, assim como descreve Rinaldi (2014) era participar de um grupo de aprendizagem, o qual é considerado uma oportunidade para promover as competências e descobertas individuais; assim aprender que a especificidade de cada pessoa traz benefícios e é valorizada pelo diálogo com outras pessoas. Além do diálogo, que se fez de extrema importância em todo o processo, valorizamos os registros escritos, pois acreditando que por meio deles a reflexão se torna visível. É por meio da escrita que o professor se distancia da sua ação, do que foi vivido e passa a analisar e refletir sobre aquilo que se viveu. Um processo que aprimora e significa a prática em sala de aula, pois traz à consciência as didáticas e as maneiras de afetar ou não o outro, no sentido da apropriação do conhecimento. Paulo Freire (1996), educador brasileiro que também inspira as abordagens da educação da primeira infância na Itália, já dizia que o professor se forma constantemente na prática e na reflexão da prática. Um processo possível também pela escrita, vivida regularmente ao longo do ano neste modelo de formação.

ANUÁRIO 2019

Não é de hoje que buscamos um olhar diferente, um olhar para enxergarmos cada vez mais límpido nossos alunos como protagonistas do seu conhecimento, sem tirar do professor a importância do propor, do investigar, do pesquisar, junto às crianças, as maravilhas do aprender.

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Ainda segundo Freire (1996), quanto mais assumimos e entendemos o motivo pelo qual somos, mais temos a possibilidade de mudar. Passamos de um estado de curiosidade ingênua, de senso comum, para uma curiosidade epistemológica.

Foram nas noites dos encontros que, reconhecemos as nossas incompletudes, que percebemos que as concepções pedagógicas do outro podem construir novas possibilidades de agir, de ser não somente estar professor.

Assim, a cada encontro, os professores ora em parcerias, ora individualmente, escreviam sobre suas práticas e possíveis ações tendo como referência as reflexões apresentadas no livro “Tornando visível a aprendizagem” (2014). Processo que possibilitou, a cada, um conforme o seu tempo e sua visão, um conhecimento maior sobre suas ações junto às crianças.

Compreendemos que as escolhas os fazem querer ser sempre agentes de transformação na vida dos nossos parceiros profissionais. Decidimos não estar professor por um tempo, por uma jornada diária. Assumimos responsavelmente ser, assumimos olhar pelas janelas que se abrem na busca de novos horizontes.

COMPARTILHANDO… Algumas professoras viram dragões… outras viram nos vazios possibilidades de se ressignificar. Foi na visão de uma e de outra que o olhar se tornou mais sensível e a escuta mais atenta. Um compartilhamento generoso, em que a experiência de uma é a base para a produção de uma nova cultura de si mesmo. Todos como sujeitos de um processo que é de ensino, mas também de aprendizagem.

ANUÁRIO 2019

Paulo Freire (1996) também nos ensinou que não existe um professor que não seja um aluno, que não há possibilidade de um ensino em que não se aprenda.

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Somos inacabados e incompletos, vamos nos completando com a completude e incompletude do outro. Viver essa realidade é se mostrar humilde e compreender que estamos nos tornando melhores pessoas, melhores professores, melhores cúmplices das necessidades das crianças, melhores parceiros de trabalho.

Assumimos que a porta tem diferentes paisagens e que juntos, Berçário, Educação Infantil, Música, Artes e Educação Física, podemos olhar para nossas práticas e ver nelas o reflexo das crianças que nos fazem acreditar que o mundo pode ser um lugar incrível para se viver.


ACOLHENDO…

TRANSFORMANDO...

“É muito melhor aprender e ensinar quando existe afeto envolvido. (...) Afeto é afetar. É o compromisso de transformar o outro. O coletivo. Afeto é desafiar, abrir caminhos. Dar as mãos. É parceria. Afeto é generosidade" (Bueno, 2018, p. 53).

As transformações aconteceram com todos, mesmo que em tempos diferentes e não terminam com a conclusão desse estudo. Elas serão apenas o início da metamorfose de professores, coordenadores e orientadores envolvidos no caminhar de um novo olhar para a educação, para a escola e principalmente para os alunos.

O registro escrito inspirou-nos a deixarmos marcas da nossa história, o compartilhamento das experiências, a situarmos nossa equipe nos contextos da escola e o acolhimento, a cuidarmos dos gestos, das palavras, do toque e do olhar para cada um dos nossos parceiros de trabalho.

Cada um que viveu conosco essa história só se transformou no que lhe foi possível naquele momento. Continuaremos envolvidos uns com os outros no aperfeiçoamento das nossas ações, mas agora amparados pela certeza de que juntos construiremos um lugar melhor para a magnitude do saber. Acreditamos que, mesmo que leve tempo, todos os envolvidos sairão dessa experiência transformados, uns se “impressionarão porque Tommy abriu a porta e viu um dragão... outros porque Tommy abriu a porta!”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BUENO, Marcelo Cunha. No chão da escola: por uma infância que voa. Cachoeira Paulista, SP: Editora Passarinho, 2018. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 16ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. L’ECUYER, Catherine. Educar na curiosidade: como educar num mundo frenético e hiperexigente? 2ª ed. São Paulo: Edições Fons Sapientiae, 2015. MACEDO, Lino. Revista avisa Lá. nº 63. Agosto/2015. ZERO, Project. Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem individualmente e em grupo. 1ª ed. São Paulo: Phorte, 2014.

ANUÁRIO 2019

Com afeto e muito respeito às particularidades de cada um dos envolvidos no processo de formação, nos constituímos como um grupo reflexivo e afetivo, capaz de partilhar não só sucessos, mas também angústias e aflições.

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Trilha de convergência: formação, currículo, planejamento e avaliação. Coordenadora Pedagógica Andrea Vazatta

Acreditamos que o papel da Educação seja inspirar educadores rumo aos desafios encontrados e ações eficazes que auxiliem os alunos a reconhecerem sua singularidade e a superarem suas dificuldades para que possam atingir seu pleno potencial com tranquilidade, desenvolvendo o pensamento crítico, analítico, humano, criativo e lógico.

ANUÁRIO 2019

Os passos dados pelo Colégio Uirapuru envolvem a trilha de convergência entre formação, currículo, planejamento e avaliação.

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Vamos compreender como cada etapa é desenvolvida no Colégio e quais impactos revelam a composição de sua estrutura educacional. Iniciaremos pela formação de professores na qual acreditamos ser o marco primordial para a compreensão e construção de todas as outras etapas.

O ATO DE REFLETIR É LIBERTADOR PORQUE INSTRUMENTALIZA O EDUCADOR NO QUE ELE TEM DE MAIS VITAL: O SEU PENSAR. EDUCADOR ALGUM É SUJEITO DE SUA PRÁTICA SE NÃO TEM APROPRIADO A SUA REFLEXÃO, O SEU PENSAMENTO. NÃO EXISTE AÇÃO REFLEXIVA QUE NÃO LEVE SEMPRE A CONSTATAÇÕES, DESCOBERTAS, REPAROS, APROFUNDAMENTO. E, PORTANTO, QUE NÃO NOS LEVE A TRANSFORMAR ALGO EM NÓS, NOS OUTROS, NA REALIDADE ( FREIRE, 1996, p. 22).


No primeiro bimestre os professores foram divididos em grupos por série em que lecionam, receberam capítulos do livro “Mentalidades matemáticas em sala de aula” de Jo Boaler (2018), leram, analisaram, ampliaram o repertório com outras referências bibliográficas indicadas, estabeleceram relações com os alunos e apresentaram suas práticas reflexivas para todo grupo de professores do fundamental. Reflexões dos educadores mencionadas em seus depoimentos.

“Durante a discussão dos grupos, percorri a sala e observei os argumentos e participação dos alunos, estimulando a participação e envolvimento de todos” (E1). “Turno de fala deve ser respeitado, assim a professora consegue validar todas as diferentes opiniões e instigar seus alunos a continuarem o questionamento. Não necessariamente uma maneira de pensar é correta, mas há um compartilhamento de ideias/raciocínios. A Professora deve sempre andar pela sala e fazer contato visual com os alunos” (E2). “Fiquei muito satisfeita com essa aula e explico o motivo. Começo pela aceitação e envolvimento dos alunos. As anotações realizadas no caderno, estavam pertinentes ao que foi solicitado, claro que há alunos no processo, mas percebi um avanço significativo nesse sentido. Durante a socialização dos grupos, percebi a troca de informações, a fala de cada um sendo respeitada e alguns completando seus textos, com as falas dos amigos. Não estavam preocupados com que acontecia no grupo ao lado, preocupam-se apenas com as trocas entre eles” (E3). “A estratégia de Mapa Conceitual pode ser ampliada, deixando os alunos (individualmente) utilizarem o(s) recurso(s) que sejam mais “confortável” para si, seja através de desenhos, listas, frases, enfim, que ele demonstre livremente o que pensa sobre aquele assunto. Depois de alguns dias, cada um deve ter esse material em mãos novamente para comparar, revisar, alterar se necessário sobre o que ficou daquele assunto” (E4).

ANUÁRIO 2019

A coordenação pedagógica planeja os assuntos e seleciona referências bibliográficas que são estudadas pelos professores, aplicadas e discutidas ao longo do ano. Nesses encontros de formação nos debruçamos em aspectos metodológicos variados e na sua verdadeira eficácia na aplicação.

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“Temos que fazer boas perguntas para que os alunos justifiquem suas respostas” (E5). “A elaboração de uma aula envolve muita criatividade e busca de sentido” (E6). “A professora deve se posicionar frente à turma e também se locomover perto dos alunos que estão falando, indo até a lousa para anotar as ideias e se voltando aos alunos para colher mais informações” (E7). “O painel e soluções é essencial para estimular o raciocínio dos alunos, levando a classe a refletir partindo da ideia do outro” (E8). “Os erros são valiosos quando há mentalidade e crescimento” (E9). “Trabalhamos com o erro, quando percebiam que tinha algum número fora da sequência ou que faltava, conversavam e chegavam a um senso comum, justificando as escolhas” (E10).

ANUÁRIO 2019

“Nossos alunos não são como nós em nossa época escolar, são mais ativos e querem construir o conhecimento juntos. Precisam de direcionamento e atenção, e o papel do professor é fundamental nessa construção reflexiva da aprendizagem” (E11).

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“É muito importante que os alunos pensem profundamente e conceitualmente sobre as ideias” (E12). “Devemos garantir em nossas aulas o tempo para o registro das ideias, imagens e ajudá-los na organização de suas anotações para compartilharem e se apropriarem do assunto”(E13).

As reflexões realizadas pelos professores só foram possíveis, pois além da ampliação teórica, puderam aplicar em suas aulas e tiveram um tempo garantido nos encontros de formação para apresentação, análise e discussões de suas práticas com o corpo docente. Caminhando ainda pela nossa formação mantivemos foco em ampliar os olhares para a reconstrução do nosso currículo escolar, adequado à BNCC, reconhecer as suas múltiplas concepções, distinguir currículo, formal, oculto, real, relacionando esses conceitos aos diversos aspectos que moldam a experiência escolar dos alunos.


CURRÍCULO FORMAL

CURRÍCULO REAL

CURRÍCULO OCULTO

É aquele estabelecido pela escola, a partir de marcos legais e ou diretrizes curriculares oficiais, em que se estabelecem objetivos de aprendizagem, conteúdos das áreas ou disciplinas de estudos. É fundamentalmente documentado.

É aquele que de fato acontece na sala de aula. Decorre da percepção e do uso que os professores fazem do currículo formal. E também se refere ao que fica na percepção dos alunos e ao que eles aprendem de fato. É mediado pelos materiais didáticos, pela formação inicial e continuada, pela estrutura organizacional etc.

Diz respeito aos diversos aspectos implícitos da vivência escolar, que afetam a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores. Decorre da experiência cultural e dos valores praticados na escola e também dos oriundos do meio social em que se inserem educadores e alunos.

Compreendemos a estrutura da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), recriamos nosso currículo, articulamos nossos planejamentos as competências gerais, competências específicas, aspectos cognitivos, aspectos não cognitivos, unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades.

ANUÁRIO 2019

“A chave para um bom ensino, para uma gestão de classe com propósito e o sucesso de um progresso educacional sustentado, está no planejamento eficaz” (BUTT, 2009, p.15).

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EDUCAÇÃO BÁSICA COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

EDUCAÇÃO INFANTIL

ENSINO FUNDAMENTAL

ENSINO MÉDIO

Área do conhecimento

Área do conhecimento

Competências específicas de área

Competências específicas de área

Direitos de aprendizagem e desenvolvimento

Campos de experiência

Computadores curriculares

Língua Portuguesa

ANUÁRIO 2019

Competências específicas de componente

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Bebês (01a6m)

Crianças bem pequenas (1a7m3a11m)

Crianças pequenas (4a5a11m)

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

Anos Iniciais

Anos Finais

Unidades Temáticas Objetos de conhecimento Habilidades

Habilidades

Matemática


ESTRUTURA DO CURRÍCULO UIRAPURU 1º ANO

2º ANO

3º ANO

4º ANO

5º ANO

(EF35LP03)/ (Descritor 06 - SAEB) Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.

(EF35LP03) / (Descritor 06 - SAEB) Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.

(EF35LP03)/ (Descritor 06 - SAEB) Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.

TODOS OS CAMPOS DE ATUAÇÃO

(UIRA 04) Identificar a ideia central do texto, com ajuda do professor.

(UIRA 03) Identificar a ideia central do texto, com certa autonomia.

Não esperado para esta fase

Não esperado para esta fase

(Descritor 08 SAEB) Estabelecer relação causa/ consequência entre partes e elementos do texto.

(Descritor 08 SAEB) Estabelecer relação causa/ consequência entre partes e elementos do texto.

(Descritor 08 SAEB) Estabelecer relação causa/ consequência entre partes e elementos do texto.

Não esperado para esta fase

Não esperado para esta fase

Não esperado para esta fase

Não esperado para esta fase

(Descritor 11 SAEB) Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.

(Descritor 14 SAEB) Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.

(Descritor 14 SAEB) Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.

Não esperado para esta fase

Não esperado para esta fase

Não esperado para esta fase

ANUÁRIO 2019

1.6. COMPREENSÃO

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ESTRUTURA DE PLANEJAMENTO UIRAPURU

SEMANA AULA

Semana 1 (Aula 1)

1º MOMENTO: - Retomaremos o que foi estudado na aula anterior sobre reprodução de plantas (mostrar que, como as plantas e qualquer outro ser vivo, os animais se reproduzem e possuem características específicas durante essa etapa da vida); - resgataremos o conhecimento prévio dos alunos em relação às fases de vida dos seres humanos. Para isso, discutiremos sobre a figura e as questões das páginas 114/115. Os alunos serão estimulados a exporem seus conhecimentos sobre as etapas de desenvolvimento do ser humano e de outros animais.

ESTRATÉGIAS E RECURSO(S) DIDÁTICOS

2º MOMENTO: -Por se tratar da reprodução de animais vertebrados, apresentaremos brevemente sobre o que são vertebrados e, com o auxílio dos alunos, serão listados os exemplares mais conhecidos de vertebrados; - Apresentaremos as características comuns aos vertebrados em relação à reprodução: órgãos que produzem as células de reprodução (espermatozoides – machos e óvulos – fêmeas) e o processo de fecundação (dentro ou fora do corpo da fêmea) com formação de um novo ser; - Partindo da explicação anterior, serão apresentadas as particularidades de cada grupo de animais vertebrados: peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, e como as formas de reprodução podem estar relacionadas com o ambiente em que vivem e seu modo de vida; -Para auxiliarmos na compreensão das etapas de reprodução, analisaremos esquemas, imagens e vídeos explicativos sobre cada grupo (apresentação em slides); -Os vídeos utilizados serão: 1. Vídeo - Tartaruga botando ovo (disponível em: https://youtu.be/hA1jgsjbd10) 2. Vídeo - Filhotes de tartaruga (disponível em: https://youtu.be/1oiximotlME) 3. Vídeo - Ave saindo do ovo (disponível em: https://youtu.be/-hvDBdyQYfs) 4. Vídeo – Metamorfose dos anfíbios (Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=h6nCTmMhJp0) Construiremos uma tabela comparativa na lousa com as principais características dos grupos de vertebrados estudados. 3º MOMENTO: -Em sala de aula, em duplas, os alunos farão os exercícios da página 120 que se referem ao processo de metamorfose ocorrido no desenvolvimento dos anfíbios. A atividade será corrida em sala.

ANUÁRIO 2019

4º MOMENTO: -Tarefa da casa: os alunos lerão o texto e responderão as questões das páginas 122 e 123 sobre a migração de aves na cidade de São Paulo e algumas características de sua reprodução.

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Semana 1 (Aula 1)

COMPETÊNCIA(S) RELACIONADA(S)

Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural, social e tecnológico (incluindo o digital), como também as relações que se estabelecem entre eles, exercitando a curiosidade para fazer perguntas, buscar respostas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das ciências da natureza.

HABILIDADE(S) A SER(EM) DESENVOLVIDA(S)

(EF03CI04) Identificar características sobre o modo de vida (o que comem, como se reproduzem, como se deslocam, etc.) dos animais mais comuns no ambiente próximo; (EF03CI05) Descrever e comunicar as alterações que ocorrem desde o nascimento em animais de diferentes meios terrestres ou aquáticos, inclusive o homem; Ampliar noções sobre fecundação, relacionando-a à formação de novos indivíduos.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

UNIDADE 7 – A REPRODUÇÃO DOS ANIMAIS VERTEBRADOS (Páginas 114 a 139) Capítulo 1: Fecundação e Desenvolvimento de Filhotes (Páginas 116 a 123).

FORMA(S) DE AVALIAÇÃO

-Participação em sala de aula; -Cooperação em atividades em grupo; -habilidades de leitura e interpretação, localização de informações no texto; -Realização das atividades propostas em sala de aula e para casa.

MATERIAL (USADO E DE REFERÊNCIA)

- Coelho, Geslie. Faça Ciências! São Paulo: FTD, 2016. - Textos, vídeos e sites indicados pela autora do livro ou outros pertinentes ao tema estudado. https://youtu.be/hA1jgsjbd10) https://youtu.be/1oiximotlME) https://youtu.be/-hvDBdyQYfs) https://www.youtube.com/watch?v=h6nCTmMhJp0)

ANUÁRIO 2019

SEMANA AULA

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ANUÁRIO 2019

A implementação de um currículo ajustado, em função da BNCC, constitui uma oportunidade para aprimorar o modelo lógico, revisitando-se problema, causas, ações, resultados, produtos e pressupostos.

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Utilizamos bimestralmente instrumentos criados em ferramentas Google como o Forms, que é inserido no Classroom e aplicado em nossos alunos no decorrer do ciclo. Imediatamente recebemos dados de acertos e erros em relação às habilidades esperadas, favorecendo a avaliação formativa, onde rapidamente podemos intervir nos planejamentos bimestrais e no atendimento personalizado dos alunos. Conforme nos debruçamos na análise de desempenho de nossos alunos, fomos percebendo que para criar o perfil do aluno teríamos que realizar o cruzamento das

habilidades trabalhadas não só em uma área do conhecimento, mas sim em todas as áreas. Despertou na escola um grande desafio! Como analisar em tempo real a grande quantidade de dados gerados em Geografia, Matemática, Português, História e Ciências, comparando o resultado por aluno, entre alunos e de todos os alunos por sala ou por série? Fizemos o levantamento de todas as planilhas criadas no bimestre, exportamos para uma macro, consolidamos os dados, abrimos janelas no Data Studio para análises por número de acertos e erros, habilidades esperadas por matéria específica, habilidades pelo cruzamento de mais de uma área de conhecimento, por sala, individual, por ano, para que tanto


o professor, a coordenação, a direção pudessem não só terem dados de análise na avaliação formativa, mas também na avaliação somativa e prognóstica.

Há um grande esforço por parte de toda equipe na aplicação da teoria de ação que é um pressuposto na forma “se então...” conectando ações e resultados relacionados com formulação do planejamento bimestral, anual, reorganização do currículo, aprimoramento do material pedagógico e na eficaz aprendizagem do aluno. Nosso Colégio foi reconhecido no início deste semestre pelo trabalho pioneiro em inovação na Trilha de convergência: formação, currículo, planejamento e avaliação pela empresa GOOGLE que nos deu a grande certeza de que estamos no caminho certo para atingirmos a equidade na aprendizagem dos nossos alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BOALER, Jo. Mentalidades matemáticas na sala de aula: ensino fundamental. Porto Alegre: Penso, 2018. BOALER,Jo. Mentalidades Matemáticas: estimulando o potencial dos estudantes por meio da matemática criativa, das mensagens inspiradoras e do ensino inovador. Porto Alegre: Penso, 2018. FREIRE, Madalena. “Educando o olhar da observação – Aprendizagem do olhar”. In Observação, registro e reflexão. Instrumentos Metodológicos I. 2ª ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996. NEVO,David. Avaliação por diálogos: Uma contribuição possível para o aprimoramento escolar. In: Anais do Seminário de Internacional de Avaliação Educacional. Coordenador: Alejandro Tiana. Brasília: Instituto Nacional e Pesquisas Educacionais, 1998. BUTT,Graham.O planejamento de aulas bemsucedidas. São Paulo: Special Book Services Livraria e Editora, 2009. 2ª edição. RUSSELL, Michael K. Avaliação em sala de aula (recurso eletrônico): conceitos e aplicações. Porto Alegre: AMGH, 2014, 7ª edição.

ANUÁRIO 2019

A AVALIAÇÃO É O PROCESSO DE COLETAR, SINTETIZAR E INTERPRETAR INFORMAÇÕES QUE AJUDAM NA TOMADA DE DECISÕES. A AVALIAÇÃO É UMA PARTE CONTÍNUA DA VIDA NA SALA DE AULA. OS PROFESSORES E A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DEVEM OBSERVAR, MONITORAR E REVISAR CONTINUAMENTE O COMPORTAMENTO E O DESEMPENHO DOS ESTUDANTES DE MODO A TOMAR DECISÕES (RUSSELL, 2014, P.12 E 13).

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Formação de professores no Ensino Fundamental II. O teu olhar melhora o meu? Coordenadora Pedagógica Patricia Pegoraro

"O seu olhar lá fora O seu olhar no céu O seu olhar demora O seu olhar no meu O seu olhar seu olhar melhora Melhora o meu"

ANUÁRIO 2019

(O Seu Olhar, Arnaldo Antunes)

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Sabiamente, em sua canção, Arnaldo Antunes traz a beleza da formação humana: seu olhar melhora o meu. Um olhar complacente, compassivo, em processo, em ebulição. Que dialoga, conversa, combina. Que olha, reflete e ensina. Que vê no outro inúmeras possibilidades educativas. O processo de formação seja na escola ou na vida aponta caminhos para essa incessante e eterna busca do ser humano: a sua própria (trans) formação. (Trans)formar-se nunca foi tarefa fácil, requer labuta, requer labor. Por isso a importância do outro, do olhar do outro, da escuta ativa do outro, do colo, do ombro daquele que se predispôs a tornar esse caminho mais reflexivo e dialógico.


Nos encontros de formação de professores, desenvolvidos pela coordenação pedagógica, foram estudados temas relacionados ao currículo, ao mindset de crescimento, às estratégias de aula desenvolvidas a partir do trabalho em grupo e do cinema. Pensando nisso, o trabalho foi iniciado propondo uma retomada ao currículo das diversas áreas do conhecimento - português, matemática, história, geografia, ciências, inglês, arte alinhado às competências, habilidades e expectativas de aprendizagem da BNCC - Base Nacional Comum Curricular. A BNCC (2017) é um documento de caráter normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Robinson e Aronica (2019), colocam que o currículo contém uma base que os alunos devem saber, entender e serem capazes de fazer. Para essa adequação ao currículo, foram consideradas como premissa do trabalho docente, as dez competências gerais elencadas pela Base Nacional (2017) e tomadas como ponto de partida do trabalho docente: Conhecimento, Pensamento científico, crítico e criativo, Repertório Cultural, Comunicação, Trabalho e projeto de vida, Argumentação, Autoconhecimento e Cuidado, Empatia e cooperação, Responsabilidade e Cidadania.

Foi pensando nisso, que atribuiu-se ao currículo escolar um olhar reflexivo e ampliado, visando experiências além das exigidas nacionalmente. Tomando como base as competências gerais, foram pensados investimentos com relação ao trabalho em grupo. Para Cohen e Lotan (2017, p. 39), "a primeira etapa ao introduzir o trabalho em grupo na sala de aula é a de preparar os alunos para situações de trabalho cooperativo.", sendo assim, preparar os professores para os desafios desse trabalho tornouse imprescindível. Retomando a ideia de homologia de processos, anteriormente citada, é preciso construir comportamentos cooperativos com os próprios professores, somente depois, transpor para o cotidiano da sala de aula. Alinhado ao repertório cultural citado nas dez competências gerais da BNCC, o trabalho com cinema, buscou ampliar a visão dos professores culturalmente, mostrando novas formas de trabalhar a sétima arte em sala de aula. Além da reestruturação das estratégias e roteiros, a formação com o cinema ampliou o olhar para as saídas pedagógicas, repaginando essas visitas e tornando-as essencialmente culturais. No segundo semestre, ainda na perspectiva do currículo e das competências da BNCC (2017), a formação de professores retomou a ideia de mindset de crescimento, tanto para docentes quanto para alunos, afinal todos são seres aprendentes. Dweck (2017) coloca que se você acreditar que é capaz de se aperfeiçoar, estar aberto a informações exatas sobre as suas capacidades atuais e trabalhar com perseverança e resiliência, estará desenvolvendo o seu mindset de crescimento.

ANUÁRIO 2019

Pensando nesta perspectiva de trabalho, o processo de reflexão e formação de professores do EFII baseou-se na concepção da homologia de processos (SCHÖN, 2000), e toda a formação desenvolveuse pensando numa espécie de simetria invertida, buscando estratégias e processos educativos em que o professor, naquele momento na posição de aprendente, pudesse transportar os aprendizados daquela vivência para sua sala de aula.

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Nesta perspectiva, aproveitando-se da avaliação institucional docente, foi proposto um trabalho de autoavaliação, em que os professores puderam entrar em contato com as habilidades que os alunos os avaliaram, revendo-se em muitas situações. Após esse contato, os professores refletiram sobre sua trajetória, em todos os estudos realizados na formação e elencaram 3 situações de aprendizagem que eles consideravam importantes, escolhendo uma delas para investir em situações de crescimento de seu mindset e, consequentemente, do mindset dos alunos.

ANUÁRIO 2019

Para garantir seu papel formativo, a escola deve ser centrada na aprendizagem, garantindo que professores e alunos aprendam mutuamente. Para isso, o professor precisa construir coerência e pertinência em suas propostas de ensino, visando uma aprendizagem significativa na escola. (Andrade e Sartori, 2018)

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Ao longo do ano, os docentes experimentaram situações diversas de formação: nas reuniões pedagógicas, nas reuniões por área de conhecimento, na formação com profissionais de temas específicos e pertinentes ao cotidiano escolar, na formação com a coordenação pedagógica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Metaforicamente, pode-se comparar a formação de professores à Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa: assim como a personagem, os professores, em algum momento de sua trajetória, precisam de uma terceira margem, assumindo um papel de observador de sua própria vida e formação. Encontrar-se em um não lugar, em nenhuma margem, para quem sabe, posteriormente, buscar as tão sonhadas respostas de seu processo de (trans) formação.

ANTUNES, Arnaldo. O seu olhar. Álbum Ninguém, 1995.

ANDRADE, Julia Pinheiro; SARTORI, Juliana. O professor autor e experiências significativas na educação do século XXI: estratégias ativas baseadas na metodologia de contextualização da aprendizagem. In BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora - uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular, 2017. Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov. br/. Acesso em 30/09/2019. ROBINSON, Ken; ARONICA, Lou. Escolas Criativas: a revolução que está transformando a Educação. Porto Alegre: Penso, 2019. ROSA, Guimarães. A Terceira Margem do Rio. In Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1962.


Formação Pedagógica no Ensino Médio

Ensino Médio. Considerado a última das etapas da Educação Básica no Brasil, abarca um conjunto de três anos dos quais, tradicionalmente, esperava-se a concretização, o aprofundamento e o detalhamento dos conhecimentos adquiridos nos anos iniciais. Preparação para o mercado de trabalho. Habilitação para ser aprovado no vestibular. Porta de entrada da vida adulta. Definições simplificadas como estas não mais resumem esses tão intensos três anos da vida dos adolescentes, suas famílias e seus parceiros do dia a dia: os professores. Talvez nunca o fizessem completamente, mas falamos de tempo em

que as vozes eram mais baixas. No século XXI, todo adolescente se faz ouvir ou ler, bombardeando informações compartilhadas enquanto são cobertos por um guardachuvas de tantas mais. O mundo não quer só trabalhadores, o trabalho não quer só reprodutores e os comunicadores de internet dizem que você talvez trabalhe em uma carreira que ainda não existe… e para isso faça um processo seletivo que ainda não foi criado. Como acolher, nos anos ditos finais, esse turbilhão de possibilidades e sentimentos? Como não se perder, como professor, em uma trilha de tantas possibilidades?

ANUÁRIO 2019

Coordenadora Pedagógica Daniela Almenara

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Não há dúvidas que essa transformação do mundo adolescente, da estrutura legal do currículo e das demandas da sociedade evidenciadas nos últimos anos atinge diretamente aqueles que, diariamente, exercem seu trabalho junto a esses jovens. O professor de Ensino Médio, autoridade capaz em sua área de conhecimento, precisa (também) se transformar.

ANUÁRIO 2019

As propostas do chamado “Novo Ensino Médio” estabelecem alteração da carga horária e da distribuição do tempo do estudante na escola. O currículo, mais flexível, apresenta os chamados itinerários formativos, que permitem que os alunos escolham em qual área do conhecimento desejam se aprofundar. São sugeridas algumas rotas: Linguagens e suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnologias; Ciências Humanas e Sociais aplicadas e formação técnica e profissional.

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Dentro dessa perspectiva, são inúmeros os desafios da coordenação pedagógica. Os professores precisam repensar suas cargas horárias, os conteúdos comuns obrigatórios, as ementas e os materiais para os itinerários. Precisam compreender um público de objetivos mais diversos que o vestibular, de carências mais abrangentes que a de uma boa aula, que se comunica através de outras mídias e linguagens. E a coordenação? Apoiar todo esse processo e dar maneiras e tempo para as adequações se concretizarem. Primeiramente, é válido pensar que altos índices de aprovação ainda são importantes para os alunos e suas famílias. Os professores continuam sendo atores

de excelência para que a aprovação de um aluno em uma universidade seja uma expectativa real. O incentivo e a promoção à atualização na área de atuação de cada professor é, portanto, uma responsabilidade da coordenação. Formações complementares são igualmente importantes. Para guiar os alunos em diferentes possibilidades, o professor precisa também conhecer tecnologia, metodologias ativas de ensino-aprendizagem, cultura geral. Com a coordenação promovendo um terreno fértil em possibilidades, muitas ideias que surgem em sala de aula podem florescer em ações interdisciplinares, ricas em habilidades que vão muito além dos exames de ingresso no ensino superior. Também emerge como papel da coordenação, cuidar de trazer para os professores as novidades propostas pelas instituições de ensino superior e seus exames de ingresso, orientando-os a respeito da elaboração de avaliações diferenciadas, focadas em competências diferentes das tradicionais apropriações de conteúdo. Sobretudo, falamos de formar profissionais que já são experientes e competentes em um modelo anteriormente bem sucedido, realizar com um grupo de grande proficiência profissional o movimento de repensar sua prática e algumas de suas premissas - antes tão seguras. (Trans) formar professores no Ensino Médio é um caminho que passa pelo reconhecimento de que aprender é contínuo e conciliar no mesmo trilho gerações de indivíduos, metas e ideias é a competência de maior relevância a ser alcançada.


A experiência é o que nos passa Coordenadora Pedagógica Gabriela Plens

(...) A EXPERIÊNCIA, A POSSIBILIDADE DE QUE ALGO NOS ACONTEÇA OU NOS TOQUE, REQUER UM GESTO DE INTERRUPÇÃO, UM GESTO QUE É QUASE IMPOSSÍVEL NOS TEMPOS QUE CORREM: REQUER PARAR PARA PENSAR, PARAR PARA OLHAR, PARAR PARA ESCUTAR, PENSAR MAIS DEVAGAR, OLHAR MAIS DEVAGAR, E ESCUTAR MAIS DEVAGAR, DEMORARSE NOS DETALHES, SUSPENDER A OPINIÃO, SUSPENDER O JUÍZO, SUSPENDER A VONTADE, SUSPENDER O AUTOMATISMO DA AÇÃO, CULTIVAR A ATENÇÃO E A DELICADEZA, ABRIR OS OLHOS E OS OUVIDOS, FALAR SOBRE O QUE NOS ACONTECE, APRENDER A LENTIDÃO, ESCUTAR AOS OUTROS, CULTIVAR A ARTE DO ENCONTRO, CALAR MUITO, TER PACIÊNCIA E DAR-SE TEMPO E ESPAÇO” (JORGE LARROSSA).

São as vivências cotidianas que nos afetam, que se transformam em experiências e estas, que se transformam em aprendizado. É acreditando nisto, que o Colégio assume um compromisso com a formação social de sua comunidade, um percurso trilhado por coordenadores, professores e auxiliares de sala. Paulo Freire (2001, p. 40) disse certa vez “ninguém nasce feito, é experimentandonos no mundo que nos fazemos”, professores não nascem feitos e com dons, professores se formam numa circularidade sem fim. Professores são transformados dia a dia pelas experiências advindas do contexto escolar, mas também das reflexões

ANUÁRIO 2019

“A EXPERIÊNCIA É O QUE NOS PASSA, O QUE NOS ACONTECE, O QUE NOS TOCA. NÃO O QUE SE PASSA, NÃO O QUE ACONTECE, NÃO O QUE TOCA.

Larrosa (2002, p. 21 e 24), na epígrafe que abre este texto, nos presenteia com a sua reflexão acerca da experiência, de um conhecimento que passa, que atravessa, que transforma, que nos educa a aprender a olhar de outra forma, talvez, de uma não vista antes.

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construídas a partir do entrelaçamento da teoria e da prática.

com o professor entendendo o que deve ser aprendido e como deve ser ensinado”.

É desta concepção, das práxis, que cada vez mais o corpo docente do Colégio Uirapuru se consolida. De pessoas que buscam uma prática intencional e carregada de significado.

A faculdade Wlasan tem por princípio a “residência docente”, na qual as alunas do curso de Pedagogia são co-participantes do processo de ensino-aprendizagem de uma professora em atuação em sala de aula. A residência docente estabelecida nesta faculdade tem como princípio a formação plena das alunas, de modo que possam articular as reflexões obtidas nas aulas do ensino superior à prática em sala de aula da Educação Básica.

Também foi nesta concepção que a função residente-docente[1] foi concebida. O Colégio assume uma responsabilidade com a formação de seus alunos e, da mesma forma, com a formação inicial do professor.

ANUÁRIO 2019

Uma formação que visa a transformação do ser humano em sua vida pessoal e profissional. Que, assim como diz Cortella (2013), forme sujeitos que tenham uma obra, uma missão e um legado.

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Para Larrosa (2002), a educação poderia ser vista como relação entre ciência e técnica ou teoria e prática ou ainda na sua perspectiva, como experiência e sentido. Um processo amplo, mas ao mesmo tempo, peculiar e restrito, que revela não só a coletividade do grupo, mas a experiência individual que se dá na interação dos sujeitos da aprendizagem. Um processo que se dá na docência, cujas aprendizagens são, não só, dos conceitos e das didáticas, mas também nas vivências que se transformam em experiências de aprendizagens de naturezas diversas: cognitivas, afetivas, sociais e até emocionais. Entender como os professores iniciantes aprendem a ensinar é uma das tentativas de promover estudos e ações que aproximem as teorias e as práticas de uma sala de aula. Sobre isso, Shulman (2015, p. 205) diz que “o ensino necessariamente começa

No contexto escolar em que estão inseridas, as alunas residentes acompanham o planejamento construído pelas professoras de uma mesma fase/série, participam dos momentos de cuidado e socialização dos alunos, além de terem a oportunidade de se colocarem à frente de uma determinada proposta pedagógica sustentada pela professora titular da sala de aula. Numa concepção ética, política, ideológica e estética, professoras se formam para formar sujeitos comprometidos com a sua própria existência no mundo em que atuam. Numa dimensão ética, que contempla a relação do sujeito com seus pares e com o objeto de investigação, cujas ações impactam a si mesmo e ao outro ao redor. Na política de conhecer a si mesmo como um sujeito dotado de potencialidades, mas também de fragilidades. Numa perspectiva ideológica de que a formação vai além do conhecimento cognitivo, mas também de ordem emocional e social, entendendo a estética no sentido das estesias como a capacidade de sentir e apreciar o produto do homem e da natureza.


A residência contribui para a construção de uma autonomia no pensar e no agir, promovendo habilidades emocionais de resiliência, discernimento e empatia. O auto-governo, a conduta flexível diante de situações inesperadas, as adaptações para o sucesso e o bom andamento da sala de aula se constrói em parceria com muitos outros pares. Contribui para o processo de compreensão da aluna residente acerca do conteúdo a ser vivenciado com os alunos. Entender como um determinado saber pode ser articulado a muitos outros. Articula a interseção entre conteúdo e pedagogia como uma competência, pois envolve a capacidade de transformar um conteúdo em práticas pedagógicas altamente potentes para as vivências, experiências e saberes construídos pelos alunos. Qualquer professor, seja ele iniciante ou não, precisa estabelecer uma relação entre teoria e conhecimentos, de modo que estes se transformem em ideias, que se sustentam também pelas concepções de ensino, aluno/criança. O entendimento sobre uma determinada reflexão teórica é algo bastante subjetivo e, o professor deve encontrar o caminho entre o que entendeu, e as particularidades dos alunos, considerando aqui sua faixa etária e necessidades. O professor reflete sobre o conteúdo e seleciona aspectos fundamentais para o conhecimento/

experiência do aluno e, a partir disso, encontra estratégias para que as propostas possam ser vivenciadas. Na residência docente as alunas universitárias têm a possibilidade de contemplar a prática de um professor mais experiente e analisar como é que este aproxima os conteúdos e conceitos das crianças nas diferentes faixas etárias. Um outro aspecto que diz respeito à prática é o da gestão da sala de aula, compreendida pela organização, pela transformação do espaço em ambientes de aprendizagens (terceiro educador[2]), pela clareza da comunicação, pela mediação e problematização dos “conceitos”, enfim..., pela vida que se estabelece no dia a dia do cotidiano escolar. É a reflexão que possibilita ao professor aprender com a experiência do vivido. É por meio da reflexão do ensinoaprendizado que se reconstrói, se reorganiza as propostas, as abordagens, os meios e os fins para se planeje as novas abordagens. Pretende-se uma articulação entre teoria e prática, ou nas palavras de Larrosa (2002, p. 25-26), entre experiência e sentido, afinal, “É experiência aquilo que ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e, ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação”. É nessa perspectiva, a da transformação, que o curso de Pedagogia pretende formar professores em constante transformação das práticas e pelas práticas.

ANUÁRIO 2019

Isso revela que, explícita ou implicitamente, cada instituição de formação de professores tem um perfil de professor ao qual deseja formar, que deseja deixar como legado para a sociedade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARBOSA, M. C. S., Organizar as práticas pedagógicas a partir dos campos de experiência. Notas pessoais de palestra. Centro de Estudos e Conexões Pedagógicas. Campinas, 2018. CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra?: inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. 20ª ed. Vozes. Petrópolis, 2013. DINÂMICA – Centro de Desarrollo Profesional. A sala de aula, espaço de investigação: o ambiente como terceiro educador. Peru, 2018. LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. Nº 9, Jan/Fev/Mar/Abr, 2002. FREIRE, P. Política e educação: ensaios. 5ª ed. Cortez. São Paulo, 2001. MEC. Base Nacional Curricular Comum. Brasília: MEC, 2018 (Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/ Acesso em 15/08/2019.

ANUÁRIO 2019

SHULMAN, L. S. Conhecimento e ensino: fundamentos para a nova reforma. Cadernos Cenpec. Vl. 4. Número 2. Págs. 196-229. Dez. 2014.

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[1] Residência docente: processo no qual alunos do curso de Pedagogia são imersos no ambiente escolar e se tornam colaboradores das práticas ali estabelecidas. O aluno residente é acompanhado por um professor experiente que conduz as ações com os alunos e dá visibilidade aos processos vividos pelas crianças, articulando as teorias exploradas na universidade com o contexto da sala de aula. [2] Ambiente como terceiro educador: “Alfredo Hoyuelos (2004) usa a metáfora para se referir ao ambiente, ele nos diz que o ambiente é uma linguagem, e como tal, comunica. É uma linguagem muito forte e um fator condicional. Embora seus códigos não sejam sempre explícitos e reconhecíveis, os percebemos e interpretamos desde uma idade muito precoce. Em um ambiente compartilhado, cada um constrói um significado pessoal do espaço, criando assim um território individual que está fortemente afetado por variáveis de gênero, idade e sobretudo cultura. As crianças mostram de maneira inerente um alto nível de sensibilidade perceptiva e competência com relação ao ambiente que os rodeia”, Dinâmica, p. 6, 2018


Novos tempos, novas demandas, novos olhares – saberes e fazeres da Coordenação Pedagógica e da Orientação Educacional, a parceria que dá certo

ANUÁRIO 2019

Coordenadora Geral Maura Bolfer

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Toda vez que um novo ano se inicia me proponho a estruturar um conjunto de dez encontros para formação da equipe pedagógica – Coordenação Pedagógica e Orientação Educacional. O objetivo primeiro, é sempre manter o alinhamento dessas duas frentes de atuação e, consequentemente, a unidade institucional. Na sequência, nosso propósito é estudar e refletir sobre temáticas que contribuem para a realização de nossas atividades.

ANUÁRIO 2019

Vale esclarecer que, já há alguns anos, definimos atribuições específicas à Coordenação Pedagógica e à Orientação Educacional com o objetivo de

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potencializar a atuação mais direta com os professores, no âmbito pedagógico, e com os alunos, no âmbito educacional. Entendemos que há uma linha muito tênue que distingue essas atribuições, afinal, a atuação do professor no desenvolvimento de ações de ensino e aprendizagem incide diretamente no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos, daí a necessidade de total sintonia nas atividades da Coordenação Pedagógica com a Orientação Educacional. Os quadros a seguir descrevem algumas dessas atribuições, no que se refere aos professores, aos alunos e aos pais.


PROFESSORES COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Definir currículo e material didático, considerando as orientações dos documentos oficiais, bem como tendências educacionais atuais; Acompanhar os professores na elaboração dos planos de ensino, subsidiando-os com indicadores que fazem parte dos componentes curriculares; Acompanhar o desenvolvimento dos conteúdos e projetos planejados pela equipe docente, intervindo, pontuando momentos que não acontecem ou mesmo que não estão adequados à proposta pedagógica; Orientar os procedimentos de verificação do rendimento escolar e de avaliação da aprendizagem, com vistas à implementação de um processo de aprendizagem contínuo;

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Promover atividades relacionadas à orientação educacional dos alunos; Cooperar com o professor, estando sempre em contato com ele, auxiliando-o na tarefa de compreender o comportamento das turmas e dos alunos em particular, levando em consideração a aprendizagem; Realizar estudos sobre o rendimento dos alunos e tarefas educativas conjuntas que levem ao alcance dos objetivos comuns; Manter articulação com a Coordenação Pedagógica sobre o desempenho escolar dos alunos.

Divulgar e facilitar o acesso no que se refere às metodologias de ensino e ao uso de recursos tecnológicos; Sugerir alternativas de atividades que favoreçam uma melhoria na aprendizagem, principalmente, nos aspectos detectados e observados como dificuldade, sempre que observa que alguma coisa não está indo bem; Cooperar com o professor, estando sempre em contato com ele, auxiliando-o na tarefa de compreender o comportamento das turmas e dos alunos em particular, levando em consideração o ambiente de aprendizagem; Estabelecer parceria para que os professores desenvolvam no aluno a consciência de sua autonomia, senso crítico, responsabilidade e o pleno uso de sua cidadania, durante as reuniões pedagógicas e quando necessário para conversa individual; Incentivar trabalho de equipe, promovendo sua integração, incrementando trabalho coletivo, coerente e articulado com a proposta pedagógica do Colégio; Promover reuniões que figurem como espaço para reflexão crítica sobre a prática de sala de aula com troca de experiências, dúvidas e inquietações; Analisar os relatórios de resultados de instrumentos de avaliação da aprendizagem com vistas à orientação dos professores; Solicitar junto com os professores materiais de uso comum nos Laboratórios à Direção Administrativa;

Identificar lacunas nos saberes docentes e sugerir temas de estudo e orientação das literaturas estudadas; Estimular a iniciativa do docente, buscar novos caminhos, pesquisar e criar novos recursos do ensino.

ANUÁRIO 2019

Conversar e discutir com a Orientadora Educacional as questões pertinentes ao desempenho escolar do aluno;

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ALUNOS COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Realizar estudo, juntamente com a Orientação Educacional, sobre o rendimento dos alunos e tarefas educativas conjuntas que levem ao alcance dos objetivos comuns;

Instrumentalizar os alunos para a organização eficiente do trabalho escolar, tornando a aprendizagem mais eficaz;

Conversar e discutir com a Orientação Educacional, as questões pertinentes ao desempenho escolar do aluno; Conversar com os alunos, sempre que necessário.

Apoiar os alunos na análise de seu desempenho escolar e no desenvolvimento de atitudes responsáveis em relação ao estudo; Ajudar os alunos a identificarem suas potencialidades, características básicas de personalidade e limitações preparando-os para futuras escolhas; Motivar, orientar e organizar os alunos para atividades de reforço e recuperação de estudos necessários à melhoria da aprendizagem; Trabalhar preventivamente em relação a situações e dificuldades, promovendo condições que favoreçam o desenvolvimento do aluno; Ganhar confiança e cooperação dos alunos, ouvindo-os com paciência e atenção; Dar suporte aos alunos durante a realização das provas; Acompanhar alunos ao hospital em casos de urgência, quando autorizado pelos pais; Atender alunos quando excluídos de sala por indisciplina; Realizar atendimento, individual ou coletivo, sempre que for necessário, para análise e reflexão dos problemas encontrados em situações de classe, recreios, desempenho escolar, pontualidade, cuidado com material de uso comum, relacionamento com os colegas de classes e outros alunos do colégio, respeito aos professores e funcionários;

ANUÁRIO 2019

Registrar conversas com alunos e atualizar no sistema.

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PAIS COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Apresentar currículo escolar e objetivos de ensino e aprendizagem;

Propiciar aos pais o conhecimento de características do processo de desenvolvimento dos alunos;

Informar e justificar a definição de material didático;

Refletir com os pais o desempenho de seu filho na escola e fornecer as observações sobre a sua integração social na escola, verificando variáveis externas que estejam interferindo no comportamento do aluno, para estudar diretrizes comuns a serem adotadas;

Esclarecer sobre metodologias de ensino e aprendizagem adotadas pelos professores; Comunicar sobre eventos, saídas pedagógicas que impliquem participação dos alunos e/ou das famílias; Comunicar cronograma de provas e atividades especiais. Atender os pais, sempre que necessário.

Estar disponível para prestar esclarecimentos aos pais, bem como atendimento de equipe multidisciplinar; Orientar pais, sempre que necessário, nas questões relativas à orientação de estudos e desempenho dos alunos; Garantir o nível de informações a respeito da vida escolar dos alunos; Interpretar e encaminhar dúvidas, questionamentos; Estabelecer elo entre alunos, famílias e Coordenação Pedagógica no que se relaciona às questões de comportamento e atitudes; Orientar pais sempre que necessário;

Identificadas as principais atribuições da Coordenação Pedagógica e da Orientação Educacional e das relações diretas que estabelecem no dia a dia do Colégio, se faz necessário pensar em ações que as constituam em equipe pedagógica de trabalho, numa concepção dialógica que permite a estruturação de atividades coletivas mais assertivas e significativas na materialização do projeto pedagógico institucional.

acadêmica, sem descuidar da formação de seres autônomos, independentes do ponto de vista individual, e colaborativos, participativos e responsáveis do ponto de vista social. Por isso nosso foco é trabalhar com os conhecimentos de forma que sejam desenvolvidas habilidades intelectuais de compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação, garantindo a formação acadêmica e a formação humana de nossos alunos.

Acreditamos na importância da articulação dos profissionais que compõem a equipe pedagógica para que possam definir e implementar estratégias individuais e coletivas que se configurem na realização da missão institucional que é proporcionar excelente formação

Juntos estabelecemos cinco valores que norteiam a atuação e o comportamento de nossos profissionais para o alcance das finalidades explicitadas em nossa missão: ética, formação de vínculos, conhecimento acadêmico, transparência e responsabilidade social.

ANUÁRIO 2019

Registrar conversas com pais e atualizar no sistema.

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A FORMAÇÃO CONTINUADA DA EQUIPE PEDAGÓGICA

Tecendo a manhã Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

ANUÁRIO 2019

(João Cabral de Melo Neto, 1966)

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Tendo como referência o poema de João Cabral de Melo Neto, que anuncia a possibilidade de um novo dia pela articulação do grito de muitos galos, num movimento de acordar o sol e tecer a manhã é que este ciclo de formação foi “batizado”: “Novos tempos, novas demandas, novos olhares – saberes e fazeres da Coordenação Pedagógica e da Orientação Educacional: a parceria que dá certo”! É essa nossa crença: o projeto pedagógico do Colégio é pensado e realizado por muitos profissionais que estudam regularmente, que refletem coletivamente, que analisam a realidade, que identificam as fragilidades e as potencialidades, que compartilham ideias, que planejam juntos, que executam juntos, que avaliam juntos e que se propõem a articular suas ações. Nesse processo, a Coordenação Pedagógica e a Orientação Educacional têm papel fundamental, se trabalharem articuladamente.

Durante este ano, ao longo dos encontros, conhecemos e experimentamos diversas estratégias pedagógicas vinculadas ao aprendizado ativo, mobilizando conhecimentos e habilidades necessários para uma realidade diversificada e complexa que é a educação escolar, exercitando uma prática pedagógica que vislumbra o desenvolvimento de competências e não simples ações de ensino. Para isso estudamos e aplicamos o conteúdo do livro “A sala de aula inovadora”, de Fausto Camargo e Thuinie Daros (2018). Fomos experimentando “a mudança na prática e o desenvolvimento de estratégias que garantam a organização de um aprendizado mais interativo e intimamente ligado com as situações reais” (CAMARGO e DAROS, 2018, p. 4). Entendemos que nós, equipe pedagógica, precisamos vivenciar, experienciar as metodologias ativas, pois só assim podemos incentivar tais práticas com os professores e eles com os alunos, de modo a estruturarmos aprendizagens mais significativas. Essa inovação permite articular criatividade e produção de novas ideias que implicam uma concepção de educação que articula o protagonismo do professor e dos alunos, fazendo com que a experiência educacional seja inovadora e processual, promovendo reflexão-ação, engajando, personalizando o ensino, oportunizando aprofundamento de estudos e estabelecendo relações entre diferentes saberes. Esse movimento “converte a escola em lugares mais democráticos, atrativos e estimulantes; estimula a reflexão teórica sobre as vivências, experiências e diversas interações das instituições educacionais; (...) amplia a autonomia pedagógica e gera um foco de agitação intelectual contínuo;


A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA Entender a relação família-escola é de fundamental importância para a equipe pedagógica, uma vez que juntos assumimos (co)responsabilidades na educação e formação dos alunos.

Podemos dizer que o processo de inovação educacional será significativo e efetivo se houver intercâmbio e permanente trabalho cooperativo dos profissionais envolvidos. Para isso, não bastam os recursos tecnológicos de informação e comunicação, mas é fundamental a articulação dos diferentes atores – coordenador pedagógico, orientador educacional e professores – que incorporam novos saberes, que estabelecem relações entre as competências, as habilidades e os conhecimentos e as situações reais, gerando uma aprendizagem mais significativa e enriquecedora. A partir das metodologias ativas, enquanto estratégias de formação continuada da equipe pedagógica, abordamos a relação família-escola; as rodadas pedagógicas mostrando que o trabalho em redes melhora o ensino e a aprendizagem; mindset fixo e mindset de crescimento orientando a aprendizagem; aprendizagem invertida impactando no dever de casa; o professor autor e as implicações das metodologias ativas; o papel da garra, da curiosidade e da personalidade na aprendizagem e educação e inteligência artificial.

Toda essa convivência familiar também é mediada pelo uso das tecnologias da informação e da comunicação que, muitas vezes, fragiliza os relacionamentos. Por isso tudo, precisamos “não apenas entender os desafios presentes no envolvimento dos pais, mas também estar conscientes das maneiras pelas quais as famílias e as escolas podem trabalhar juntas” (WEINSTEIN e NOVODVORSKY, 2015, p. 143). Estudando esse cenário e a situações vividas no âmbito escolar, realizamos potentes reflexões, das quais destacamos alguns aspectos presentes em nossa rotina, quando o foco envolve a participação

ANUÁRIO 2019

traduz ideias, práticas e cotidianas, mas sem se esquecer nunca da teoria” (CAMARGO e DAROS, 2018, p. 7).

Bem sabemos que os tempos mudaram, assim como as configurações das famílias. A família modelo patriarcal, com autoridade centrada na figura do pai, já não é tão comum. Hoje muito se compartilha na família: as responsabilidades no que se refere à educação dos filhos, mas também as do âmbito financeiro, fruto da inserção da mulher no mercado de trabalho. Também há filhos criados só pelo pai ou pela mãe, ou pela guarda compartilhada, nos casos de pais separados. Também encontramos famílias ampliadas, pela nova união do pai e/ou da mãe, que muitas vezes implica em nova convivência com os filhos que cada um traz e/ou filhos da nova união. Encontramos também famílias resultantes da união de dois homens ou de duas mulheres.

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das famílias, que podem contribuir favoravelmente com o desenvolvimento e a aprendizagens dos alunos e consequente sucesso escolar: • esclarecimentos quanto à fase de desenvolvimento (biológico, cognitivo, afetivo, emocional, motor) dos alunos; • informações sobre objetivos pedagógicos e metodológicos da fase/série; • informações sobre o currículo, as rotinas e as políticas da fase/série/escola; • esclarecimentos quanto ao rendimento escolar dos alunos; • reconhecimento dos esforços dos alunos, valorizando a melhora e não esperando a nota perfeita; • garantia de que a comunicação escrita é de fácil compreensão e acolhedora; • escuta atenta às percepções da família sobre o desenvolvimento e a aprendizagens dos alunos e suas experiências em casa e na escola;

ANUÁRIO 2019

• agendamento de reuniões em horários flexíveis de modo a facilitar a participação dos pais;

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• definição prévia dos assuntos que podem ser tratados coletivamente e os de âmbito particular; • preferência por atendimentos presenciais, buscando personalização que não é possível por telefone, e-mail ou WhatsApp; • apoio ao envolvimento familiar contínuo.

AS RODADAS PEDAGÓGICAS MOSTRANDO QUE O TRABALHO EM REDES MELHORA O ENSINO E A APRENDIZAGEM As rodadas pedagógicas partem da ideia de que a observação intencional do trabalho docente ou da equipe pedagógica gera possibilidade de reflexão sobre a ação, o que implica em definição de fragilidades e potencialidades a partir de visão compartilhada. “Deixam clara a importância de se construir uma linguagem comum, ou seja, um consenso a respeito do que cada conceito [ação] significa para se poder intervir de forma objetiva e concreta” (CITY et al, 2014, p. 11). Vale lembrar, que esse alinhamento se sustenta na fundamentação teórica, no rigor metodológico e no compromisso político que melhore a atuação profissional e a aprendizagem dos alunos. Estudar sobre este tema nos possibilitou pensarmos em três movimentos que indicam o caminho para as rodadas pedagógicas: convocar a rede, reunir e gerenciar recursos e estabelecer expectativas e normas iniciais, como vemos na imagem abaixo, produzida por um dos grupos participantes. Isso nos faz lembrar do gato, personagem do livro Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, quando responde à Alice que se ela não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve. Só a clareza dos objetivos é que permite dar o primeiro passo para a caminhada.


profissionalização docente, construindo modos de aprender descrever e a ver, de se pensar sobre o que se faz e o que não se faz, num processo de desconstrução e de construção contínuo.

Nas rodadas, os participantes falam de suas práticas, de seus problemas reais que enfrentam nos processos de ensino e aprendizagem com os alunos. A meta é sempre aprender sobre o ensino, partindo da “premissa de que o bom ensino (e a boa liderança) é um conjunto de práticas profissionais que pode ser aprendida pela maioria das pessoas. A fim de apoiar a melhoria, as redes precisam aprender a reconhecer, a nomear e descrever essas práticas – sem serem distraídas por personalidade, estilo ou vieses pessoais. As redes também precisam tornar explícito que aprender novas formas de fazer as coisas é possível e se ocorre com prática e esforço” (CITY et al, 2014, p. 99-110). Nesse movimento se concretiza a articulação teoria-prática na busca da

MINDSET FIXO E MINDSET DE CRESCIMENTO ORIENTANDO A APRENDIZAGEM Carol Dweck (2017) nos apresentou dois conceitos importantes para nosso desenvolvimento pessoal e profissional: mindset fixo e mindset de crescimento. Os minsets representam nossas mentalidades, nossos modos de pensar. São esses modos de pensar que “modelam” a imagem que temos de nós mesmos e também a imagem que os outros, que convivem conosco, fazem de nós. Normalmente, as pessoas de mindset fixo criam “a necessidade constante de provar a si mesmo seu valor” (DWECK, 2017, p. 14). Aqui, está presente a crença de que nossas qualidades são imutáveis. Perguntas como “Terei sucesso ou fracassarei? Farei papel de tolo ou me mostrarei inteligente? Serei aceito ou rejeitado? Vou me sentir vencedor ou derrotado?” (DWECK, 2017, p. 15), está sempre buscando confirmação da Inteligência.

ANUÁRIO 2019

As rodadas pedagógicas estimulam um trabalho em rede, isto é, um trabalho cooperativo, que permite que diferentes grupos (professores da mesma série, ou disciplina, ou segmento...) se observem, se responsabilizem pelo compromisso assumido, formando uma rede de aprendizagem. O trabalho realizado nas rodadas pedagógicas é baseado no núcleo pedagógico e nas teorias de ação, construindo mecanismos de aprendizagem contínua aos participantes.

As rodadas são sempre mediadas por um facilitador, que tem como uma de suas tarefas “buscar que porção crítica da aprendizagem promova o conhecimento e a habilidade da rede e, então, planejar a experiência de aprendizagem em uma estrutura de tempo limitada” (CITY et al, 2014, p. 163). Pode estar aí uma das atribuições da Coordenação Pedagógica articulada à Orientação Educacional na formação reflexiva dos professores a partir de situações do cotidiano escolar.

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As pessoas de mindset de crescimento têm a “crença de que é capaz de cultivar suas qualidades básicas por meio de seus próprios esforços. (...) Acreditam que o verdadeiro potencial de uma pessoa é desconhecido (e impossível de ser conhecido): que não se pode prever o que alguém é capaz de realizar com anos de paixão, esforço e treinamento” (DWECK, 2017, p. 15). Acreditar que podemos desenvolver habilidades desejadas promove desejo pelo aprendizado, motiva a enfrentar os mais difíceis desafios.

ANUÁRIO 2019

Enquanto o mindset fixo paralisa, o mindset de crescimento assume riscos, se esforça para vencê-los. Isso nos mostra que comportamentos são passíveis de aprendizagem, de desenvolvimento, que a perseverança e a resiliência estão bem presentes no mindset de crescimento, transformando o sentido do esforço. Portanto, somos capazes de mudarmos nosso mindset, na busca de nosso crescimento e aperfeiçoamento.

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“Quando as pessoas acreditam em traços imutáveis, estão sempre achando que correm o risco de serem avaliadas em termos de fracasso. O fracasso pode defini-las de maneira permanente. Por mais inteligentes ou talentosas que sejam, essa atitude parece incapacitá-las para o uso de seus recursos de reação. Quando as pessoas acreditam que suas qualidades básicas podem ser desenvolvidas, os fracassos podem ser dolorosos, mas não as define. E, se é possível expandir as capacidades – se as mudanças e o crescimento são possíveis –, então ainda há muitos caminhos para o sucesso” (DWECK, 2017, p. 47-48). Após leitura prévia dos capítulos “Os mindsets”, “Por dentro dos mindsets” e “A verdade sobre aptidão e realização”, assistimos a animação “Mentalidade fixa e

mentalidade de crescimento” (disponível no link: https://www.youtube.com/ watch?v=KUWn_TJTrnU), que dinamiza os textos que lemos. É a crença na constante capacidade de aprender, na motivação, aliada ao esforço, que nossa equipe pedagógica – Coordenação e Orientação – leva como aprendizado que contribuirá para o exercício profissional, junto aos professores e alunos. Vejamos: ENCARAR OS RENDIMENTOS QUE NÃO FORAM SATISFATÓRIOS COMO PROCESSO DE MELHORIA E MOTIVAÇÃO PARA ENCONTRAR MELHORES CAMINHOS (ANDREA). APRENDIZADO RIQUÍSSIMO PRINCIPALMENTE PARA O DESENVOLVIMENTO DO NOSSO EXERCÍCIO PROFISSIONAL, O QUANTO PODEMOS AJUDAR NOSSOS ALUNOS UTILIZANDO ESSA TÉCNICA E EM NOSSOS ATENDIMENTOS JUNTO AOS PAIS QUE TAMBÉM PODEM SER ORIENTADOS PARA AJUDAR SEUS FILHOS NESSE PROCESSO (CRIS). NA COORDENAÇÃO ENFRENTA-SE DIARIAMENTE O ESTÍMULO DA MOTIVAÇÃO DA EQUIPE DE PROFESSORES E DOS ALUNOS. CONHECIMENTOS SOBRE COMPORTAMENTO HUMANO E SOBRE AS POTENCIALIDADES DOS INDIVÍDUOS AJUDAM E ESTIMULAR A EQUIPE A SE CONHECER MELHOR E SE MOTIVAR A APRENDER COISAS NOVAS. ESSA MOTIVAÇÃO ACABA SENDO EXEMPLO PARA OS ALUNOS, COMO SÃO OS EXEMPLOS “FAMOSOS” DO TEXTO (DANI). ADOREI, VOU ME INTEIRAR CADA VEZ MAIS E APLICAR COM MEU GRUPO. MUITAS COISAS JÁ FAÇO, COMO MINDSET DE CRESCIMENTO, MAS NÃO SABIA QUE ERA ISTO (FERNANDA). CONTRIBUI DIRETAMENTE PARA AS MINHAS AÇÕES / REFLEXÕES JUNTAMENTE AOS ALUNOS, ATENDIMENTO AOS PAIS, PLANEJAMENTO DAS MINHAS ESTRATÉGIAS DE TRABALHO COM O GRUPO DE ALUNOS ATRAVÉS DOS PROJETOS EDUCACIONAIS E ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS (FLÁVIA).


A REPENSAR ALGUMAS ATITUDES OU AÇÕES, POIS ME DEPARO MUITAS VEZES COM MUDANÇAS QUE ACONTECEM E TENHO RECEIO DE MUDAR, AS VEZES POR CRENÇAS LIMITANTES. AO PESQUISAR SOBRE O TEMA NA INTERNET, ME DEPAREI COM A SEGUINTE FRASE “NEW MINDSETS, NEW RESULTS” (LILIAN). COMO ESTOU DIRETAMENTE EM CONTATO COM OS ALUNOS E PRINCIPALMENTE AS FAMÍLIAS, FAZ COM QUE ESSE CONHECIMENTO AMPLIE MEU REPERTÓRIO E QUE AS CONVERSAS COM OS PAIS SEJAM MAIS PRODUTIVAS NO SENTIDO DE TRAZER OUTRAS POSSIBILIDADES DE INVESTIMENTOS EM RELAÇÃO AOS ESTUDOS E AOS ESFORÇOS QUE CADA UM PODE DESEMPENHAR, PENSANDO EM DESENVOLVER ISSO EM OUTRAS PESSOAS (LILI). EM SABER PONTUAR, FOCAR E DESENVOLVER MELHOR NOVOS SABERES E HABILIDADES (LUCIANE). PRIMEIRAMENTE ACHO QUE DEVERÍAMOS TRABALHAR COM OS PROFESSORES ESSES CONCEITOS, PARA QUE OS PROFESSORES POSSAM AJUDAR OS ALUNOS NESSE PROCESSO E TAMBÉM A OLHAR MELHOR PARA AQUELES ALUNOS QUE NÃO ALCANÇAM O RESULTADO ESPERADO (CAROL). TRABALHANDO COM AS ORIENTADORAS NA PERCEPÇÃO DAS NECESSIDADES DE CADA ALUNO PARA O SEU DESENVOLVIMENTO (FLORA). PRIMEIRO VAI ME AJUDAR COMO PESSOA, POIS ME FAZ ACREDITAR NA POSSIBILIDADE DE MUDANÇA E DE APRENDIZAGEM SEMPRE. NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL AJUDARÁ A ENCONTRAR ESTRATÉGIAS NO TRATO COM AS PESSOAS PARA

QUE TAMBÉM POSSAM CAMINHAR POR MAIS TEMPO NO MINDSET DE CRESCIMENTO (MICHELE). ACHEI FANTÁSTICO PENSAR EM QUAIS SITUAÇÕES PODEMOS INVESTIR EM NOSSO MINDSET DE CRESCIMENTO E COMO AJUDAR PESSOAS A AVANÇAREM NESSE PROCESSO. ISSO REQUER UM ESTUDO MUITO MINUCIOSO DOS PROFESSORES, ALUNOS E DE NÓS MESMOS (PATRICIA). ACREDITO QUE PODE AUXILIAR MUITO NA OBSERVAÇÃO DOS ALUNOS E PROFESSORES PARA AUXÍLIO NA TRANSFORMAÇÃO DO CRESCIMENTO DE SUAS CAPACIDADES (BETO). ESSE APRENDIZADO CONTRIBUI, EM PRIMEIRO LUGAR, NO MOVIMENTO DE REFLEXÃO E ANÁLISE CRÍTICA DA MINHA PRÓPRIA ATUAÇÃO. EM SEGUIDA, COMO AS MINHAS AÇÕES E O ENVOLVIMENTO COM A EQUIPE PODEM CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DELA (SABRINA). ESSE APRENDIZADO ME PERMITIU COMPREENDER O QUE É O MINDSET E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A APRENDIZAGEM. ENQUANTO ORIENTADORA PENSO QUE PERCEBER O MINDSET DOS ALUNOS, AJUDÁ-LOS A MODIFICÁ-LOS DE FORMA QUE BUSQUEM SUPERAR DESAFIOS, LIDAR COM PROBLEMAS, PERSEVERAR E SABER LIDAR COM AS FRUSTRAÇÕES DE FORMA A CRESCER COM ELAS (THAIS).

Para socializarmos e refletirmos os conceitos e as ideias de cada um usamos a técnica “Giro colaborativo” (CAMARGO e DAROS, 2018, p. 68-69), que coleta ideias sobre um tema específico. Os participantes trabalham em pequenos grupos para tratar de ideias, aspectos sobre um tema. Essa estratégia promove avaliação de modo colaborativo das ideias dos outros grupos. O “giro colaborativo” também permite que os participantes acessem a opinião – a sua e a dos outros – por meio de post-its, e considerem as informações que mais pertinentes.

ANUÁRIO 2019

GOSTEI MUITO DOS TEXTOS, ME VI MUITAS VEZES NOS PARÁGRAFOS… ESPERO QUE EU CAMINHE NA MINHA TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL PELO MINDSET DE CRESCIMENTO. QUE EU POSSA, ACIMA DE TUDO, CONTRIBUIR PARA QUE A EQUIPE COM QUEM COMPARTILHO OS MEUS DIAS (ORIENTADORAS, PROFESSORAS, CRIANÇAS, AUXILIARES DE COORDENAÇÃO E CLASSE, INSPETORES) DECIDAM CRESCER E SE APERFEIÇOAR SEMPRE, SABENDO QUE O ESFORÇO É PARTE DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM (GABI).

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AO FINAL DO ENCONTRO, CADA SEGMENTO SAIU COM PROPOSTAS DE AÇÕES PARA FORMAÇÃO CONTINUADA DE SEUS PROFESSORES.

EDUCAÇÃO INFANTIL • Estudo/reflexão de textos que abordem mindset; • Filmagem da aula (por tema); • Problematização e discussão em grupo; • Vivências em pequenos grupos.

ENSINO FUNDAMENTAL I COM PROFESSORES • Apresentar vídeo para iniciar o assunto; • Leitura do texto em casa; • Responder formulário no Classroom, em casa; • Dinâmica do “giro colaborativo”; • Instrumento de avaliação. COM OS ALUNOS • Apresentar o tema mindset, usando um vídeo para 2º e 3º anos e outro para 4º e 5º anos; • Trabalhar os temas esforço, fracasso e erro; • Dinâmica do “giro colaborativo”; • Usar o esporte como exemplo.

ANUÁRIO 2019

ENSINO MÉDIO

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• Autoavaliação antes da apresentação do conceito de mindset e das perguntas que estão na página 21 do livro; • Introdução dos conceitos de mindset, usando vídeo; • Leitura de textos e reflexão compartilhada; • Trabalho em grupo; • Planejamento de algumas ações que podem envolver ensino investigativo, diferentes caminhos; valorização do erro e do processo.

ENSINO FUNDAMENTAL II ENCONTRO 1 • Assistir ao vídeo; • Levantar conhecimentos prévios; • Leitura do texto; • Responder perguntas sobre o texto; • Identificar seu mindset e pensar em uma estratégia para colocar em práticas nos próximos 15 dias. ENCONTRO 2 • Socialização das estratégias; • Cada um fala como se sentiu colocando em prática seu investimento.


Como motivar a realização da lição de casa e desenvolver a cultura do estudo regular? Qual é o papel da lição de casa na sequência didática? Como é possível estimular nossos professores (e a nós mesmos) a trazermos a aprendizagem invertida para que o dever de casa seja cada vez mais significativo no desenvolvimento de habilidades e conhecimentos de nossos alunos? Essas perguntas deram início às nossas reflexões sobre lição de casa. Bergmann (2018) nos ajudou a pensarmos em algumas respostas para essas perguntas, a partir da leitura que realizamos de seu livro “Aprendizagem invertida para resolver o problema do dever de casa”. Ele nos apresenta alguns problemas relacionados ao dever de casa: “aparentemente têm pouco significado e utilidade; tarefas levam muito tempo para serem concluídas; tarefas que muitos alunos não concluem; professores mandando os alunos para casa com tarefas para as quais eles estão mal preparados para concluir; tarefas e deveres de casa ineficazes” (BERGMANN, 2018, p. 3). Estudos que realizou revelam que o dever de casa ensina os alunos a “se ressentirem, sabotando a paixão da aprendizagem” (BERGMANN, 2018, p. 3). Quando tratamos de lição de casa, é preciso pensá-la a partir de três premissas: a quantidade, a qualidade e a eficácia. Nessa perspectiva pode ser considerada uma boa ferramenta para aprendizagem e/ou sistematização da aprendizagem, pois “quando realizado com significado e planejamento, ajuda os alunos a melhorarem seu apro-

veitamento. O dever de casa tem de ser relevante e significativo e ensinado em um nível proporcional à capacidade do aluno. (...) Se torna uma atividade que prepara os alunos para aprenderem profundamente e se tornarem participantes ativos na experiência da sala de aula” (BERGMANN, 2018, p. 6). A proposta de Bergmann (2018) para dever de casa invertido tem como referência a taxonomia de Bloom invertida, no formato de diamante (p. 10) para que o professor esteja junto aos alunos nas camadas mais difíceis, assim, em casa, eles sedimentam a compreensão e os conhecimentos básicos.V Nesta perspectiva, as aulas estariam centradas fortemente em duas habilidades: aplicar e analisar os conceitos, os conteúdos, focando a aula em projetos, sob supervisão direta do professor, uma vez que os processos cognitivos envolvidos são de maior complexidade. Estamos aqui, diante de uma mudança de paradigma, de mentalidade sobre o ato de ensinar e aprender, sobre o protagonismo do aluno e do professor. Bergmann nos apresenta cinco diferenciais do dever de casa potente: “finalidade, eficiência, apropriação, competência e apelo estético” (2018, p. 21). Como finalidade, podemos pensar em apresentação de um novo tema, uma pesquisa orientada, uma prática sobre o que já aprenderam para sistematização; eficiência estrutura o aproveitamento do tempo; apropriação envolvendo o contexto das relações significativas e positivas, possibilitando escolhas; competência revela como articulam as habilidades já desenvolvidas com conhecimentos na resolução de uma situação; apelo estético diz respeito à qualidade, ao cuidado com o visual.

ANUÁRIO 2019

APRENDIZAGEM INVERTIDA IMPACTANDO NA LIÇÃO DE CASA

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Foram esses cinco referenciais que Coordenação Pedagógica e Orientação Educacional levaram para refletir e aprofundar estudos com os professores, uma vez que há um ano estão em formação sobre sala de aula invertida e organização do trabalho em grupo.

artificial. É preciso usar isso a nosso favor, uma vez que toda essa tecnologia não substitui as relações humanas. Vivemos no mundo da inovação e precisamos nos reinventar para continuarmos sendo protagonistas e autores da educação escolar que nos propomos a oferecer.

O PROFESSOR AUTOR E AS IMPLICAÇÕES DAS METODOLOGIAS ATIVAS

A leitura do texto “O professor autor e experiências significativas na educação do século XXI: estratégias ativas baseadas na metodologia de contextualização e aprendizagem”, de Andrade e Sartori (2018), nos mostrou o valor do conhecimento poderoso, como já nos disse Michael Young, e seus desdobramento, como revela a Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental I, Andrea, no esquema abaixo.

ANUÁRIO 2019

Já nos diz António Nóvoa, que a escola que se pretende no século XXI é uma novidade, não pode continuar se configurando como era no século passado. A terceira revolução industrial modifica o mundo e, consequentemente, a escola. Vivemos a convergência entre a robótica, o digital, a inteligência

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Partindo desse estudo, nosso foco foi pensar em como articular melhor as atividades da Coordenação Pedagógica e da Orientação Educacional para obtenção de melhores resultados da ação docente e da aprendizagem dos alunos. O caminho escolhido foi a metodologia de contextualização da aprendizagem, a partir de quatro ações: EXPLORAR, INVESTIGAR, SOLUCIONAR E AVALIAR. A proposta envolveu ações individuais e em grupos, organizados pelos segmentos, conforme descrição abaixo.

EXPLORAR:

SOLUCIONAR:

1. PAINEL DE FACILIDADES, DE FRAGILIDADES E DE SONHOS

1. DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS QUE VIABILIZEM A ARTICULAÇÃO DAS ATIVIDADES DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PARA OBTENÇÃO DE MELHORES RESULTADOS DA AÇÃO DOCENTE E DA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS.

2. COMO ME VEJO DIANTE DESSAS FACILIDADES E FRAGILIDADES? 3. QUAIS FERRAMENTAS (HABILIDADES, CONHECIMENTOS E ATITUDES) UTILIZO PARA VIVENCIAR ESSAS FACILIDADES E FRAGILIDADES?

2. DEFINIÇÃO DE PLANO PARA IMPLANTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS.

4. QUAIS RECURSOS TENHO PARA INVESTIR NESSES SONHOS?

AVALIAR:

INVESTIGAR:

1. DEFINIÇÃO DE INSTRUMENTOS PARA AVALIAR A IMPLANTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS.

1. LEITURA DE TEXTOS INDICADOS E DE OUTROS PESQUISADOS.

2. DEFINIÇÃO DE CRONOGRAMA DE ACOMPANHAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS.

2. REALIZAÇÃO DE MAPA DOS TEXTOSLIDOS.

MELHOR COMUNICAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS

TEMPO

SONHOS

FRAGILIDADE

CRUZAR INFORMAÇÕES ENTRE ENSINO E APRENDIZAGEM

CONSEGUIR COMPARTILHAR PLANEJAMENTO

ARTICULAÇÃO

RELAÇÃO DA EQUIPE

FACILIDADES

COMUNICAÇÃO

SINTONIA RÁPIDA PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS

PARTILHAR OS MESMOS IDEAIS

ANUÁRIO 2019

Algumas sínteses, elaboração pela equipe do Ensino Fundamental I, mas que representam os demais segmentos.

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O PAPEL DA GARRA, DA CURIOSIDADE E DA PERSONALIDADE NA APRENDIZAGEM

• PARA COMEÇAR A REFLETIR: estímulo ao diálogo e à reflexão de um tema/conceito.

Com foco na construção do pensamento, recorremos a Paul Tough, que é jornalista e colaborador de alguns jornais e revistas americanos e autor de diversos textos sobre caráter, educação e política. Lemos o texto “Como pensar” (2017), a fim colocarmos em prática a rotina do pensamento. Também nos apoiamos no infográfico das 10 competências propostas pela Base Nacional Comum Curricular (2018, disponível em (http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ images/BNCC_AS_DEZ_COMPETENCIAS. mp4) e na análise de um projeto desenvolvido por uma professora Patrícia Barreto, vencedora do prêmio Educador Nota 10 de 2019 (disponível em https://fvc.org.br/ especiais/10-vencedores-2019/).

Lemos o texto de Paul Though (2017), analisamos o infográfico da BNCC e assistirmos ao vídeo da Profa. Patricia. A professora Patrícia pediu aos alunos dos 3ºs anos que registrassem, por meio de uma foto, um problema social da cidade onde vivem. Em paralelo, trouxe para a sala de aula imagens que representavam denúncias de questões sociais. Pediu aos alunos para observá-las, identificando temas e apresentando justificativas para os diferentes pontos de vista que vinham à tona. Percebeu que os jovens falavam dos temas de forma genérica e superficial e por isso planejou estratégias que tinham como foco a argumentação e a produção de um artigo de opinião. Por meio de um jogo criado pela professora, o Argument(ação), as turmas aprenderam diferentes tipos de argumentos e pensaram em soluções para os problemas sociais apontados. Também foram lidos e analisados artigos de opinião escritos por estudantes para a Olimpíada de Língua Portuguesa de 2016. Terminada a produção escrita, os alunos prepararam um podcast para divulgar suas ideias e evidenciar o protagonismo juvenil.

Tendo como referência as duas ideias a seguir, apresentadas por Tough (2017), iniciamos uma vivência de “rotina de construção do pensamento”.

ANUÁRIO 2019

FUNÇÕES EXECUTIVAS: “Duas funções executivas mais importantes são a flexibilidade cognitiva e o autocontrole cognitivo. A flexibilidade cognitiva é a capacidade de identificar soluções para os problemas, de pensar além dos parâmetros previsíveis, de administrar situações inusitadas. O autocontrole cognitivo é a capacidade de inibir uma reação instintiva ou habitual, substituindo-a por outra mais eficaz e menos óbvia” (TOUGH, 2017, p. 145).

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PAPEL DO ERRO: “aprender com eles [os erros], sem ficar obcecados sem se punir por isso. (...) Perder [errar] é algo que fazemos, não algo que somos” (TOUGH, 2017, p. 147). A “rotina do pensamento” foi estruturada em quatro ações:

Organizados em grupo por segmento, coordenação pedagógica e orientação educacional refletiram sinergia da situação apresentada com as ideias de Paul Tough e as dez competências da BNCC. • VER, PENSAR, PERGUNTAR: incentivo à observação cuidadosa e à interpretação bem pensada, estimulando a curiosidade. O que vemos? O que pensamos sobre o que vemos? A partir da situação apresentada, quais perguntas podemos fazer para nosso cotidiano? Foram as perguntas que nortearam a segunda ação.


GRUPO

O QUE VEMOS?

O QUE PENSAMOS SOBRE O QUE VEMOS?

A PARTIR DA SITUAÇÃO APRESENTADA, QUAIS PERGUNTAS PODEMOS FAZER PARA NOSSO COTIDIANO?

GRUPO 1

Possibilidades: conhecimento, engajamento, modificações no ensino-aprendizagem.

Inspiração com grande possibilidade de aplicação. Importância de planejar atividades com o aluno protagonista.

O que queremos para o nosso aluno além do que é cobrado pelos vestibulares? Como intervir? Quanto?

GRUPO 2

Inúmeras possibilidades de intervenção.

É possível promover uma aula diferenciada desde que o professor planeje situações para que o aluno seja protagonista e ele o mediador.

Como trabalhar para que o professor transforme sua cultura de pensamento, abarcando estratégias ativas e inovadoras em sala de aula?

GRUPO 3

Vivência, trabalho cooperativo, valorização do projeto de vida, possibilitando autonomia e empatia.

A importância de compartilhar vivências para reflexão da nossa prática e poder alinhar com as competências gerais da BNCC.

Como despertar no aluno um olhar de pertencimento e ao mesmo tempo motivar o professor neste processo?

GRUPO 4

Oportunidade de desenvolvimento

Possibilidade de reflexão e desenvolvimento a partir da prática e da troca de experiências vividas para oferecer ao aluno o exercício protagonista.

Em que medida a clareza dos conceitos de competências e habilidades podem contribuir com o exercício/reflexão/ prática do professor?

- Manchete: capturando a essência do assunto/conceito e chegando ao modo de resumir a ideia-chave.

GRUPO 1

Para além do vestibular: gestão do Ensino Médio comprometida com a formação do sujeito.

GRUPO 2

CP e OE promovem ações didáticas para protagonismo de professores em Sorocaba

GRUPO 3

Protagonismo: CP e OE promovem formação continuada para o desenvolvimento do projeto de vida de seus alunos!

GRUPO 4

Mentalidade Reflexiva: As competências e habilidades contribuindo no desenvolvimento da inteligência integral.

- O que te faz pensar sobre: justificativa e racionalização com evidências, estimulando o compartilhamento de interpretações. Justificando o pensamento: protagonismo coordenação / protagonismo orientação <>protagonismo docente / protagonismo discente.

ANUÁRIO 2019

Como anunciar as ideias-chave envolvidas, nas ações articuladas de Coordenação Pedagógica e Orientação Educacional que respondam às perguntas elaboradas? Foram as perguntas que encaminharam a criação da manchete de cada grupo.

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GRUPO 1

Professor protagonista para além da sua disciplina - trabalhar mais a missão da escola, as habilidades de projeto de vida e cidadania, cedendo protagonismo ao aluno. Gestão: liberdade e respaldo, busca e compartilhamento de novas propostas.

GRUPO 2

Construir um processo em que a CP trabalhe as competências e habilidades do currículo aliadas às práticas cotidianas (estratégias de aula, avaliação - rubricas, provas e atividades -, atividades para o grupo de apoio pedagógico) voltadas para o protagonismo e autoria dos alunos. Já a OE fará o acompanhamento e verificação das habilidades atingidas, parcialmente atingidas e não atingidas, compartilhamento com as famílias e alinhamento com os professores e CP.

GRUPO 3

Alinhar no Colégio a competência “Empatia e cooperação” em todos os segmentos fazendo com que coordenadores, orientadores, professores e alunos trabalhem para exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de problemas e a cooperação, criando um ambiente onde o protagonismo esteja presente e praticado dentro e fora da sala de aula. “Um galo sozinho não tece uma manhã…” João Cabral de Melo Neto

GRUPO 4

Como seres inacabados e em constante transformação, sendo impactados pelos indivíduos que nos completam nessas relações do cotidiano, é imprescindível a busca por conhecimento, compartilhamento de experiências e ideias, reflexão contínua sobre o fazer e o seu impacto na comunidade. Sabendo que somos capazes e protagonistas de nossa própria história a qual esbarra e se completa com as dos outros sujeitos. Um fazer histórico o tempo todo. “Um galo sozinho não tece uma manhã…” João Cabral de Melo Neto

ANUÁRIO 2019

EDUCAÇÃO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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Esta proposta reuniu leitura prévia dos capítulos (Tecnologia, automação e educação; Educação no mundo contemporâneo; Aprendizagem ativa e experimental; Currículo por competências; Competências atitudinais na educação 3.0; Como será a educação superior na próxima década) escritos por Rui Fava no livro Trabalho, educação e inteligência artificial: a era do indivíduo, publicado pela Editora Penso, em 2018; estabelecimento de relações com a missão do Uirapuru e com o impacto em nosso trabalho, além da elaboração de um esquema com as ideias principais. Para iniciar nossa reflexão sobre a pergunta (Futuro da educação ou educação do futuro?) proposta por Rui Fava, na terceira parte de seu livro, assistimos a um vídeo sobre o Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci (https://www.youtube.com/watch?v=WP9Q7SbNWj4).

Como cada grupo de participantes leu um dos capítulos do livro, usamos a técnica “quebra-cabeça” (CAMARGO e DAROS, 2018, p. 105): compartilhando ideias dos textos, relações com nossa missão e práticas, impactos no nosso trabalho. Essa técnica é interessante porque promove a interdependência positiva entre os participantes, uma vez que são os responsáveis pela aprendizagem dos colegas, criando ambiente favorável à troca de informações permeada pelos conteúdos definidos pelo professor. Nossas reflexões se concentraram em três eixos possibilitaram nos apropriarmos do nosso “caminhar no presente olhando para o futuro”: 1. Como me vejo e como nos vemos em relação às ações das inteligências necessárias para indivíduos da Era Digital (FAVA,


2. Como me vejo e como nos vemos em relação às habilidades do indivíduo versátil (FAVA, 2018, p. 115), que é capaz de aplicar conhecimentos em diferentes situações, num equilíbrio de profundidade (especialista em um conteúdo/sistema, pensamento analítico, resolução de problemas) e amplitude (artes liberais, raciocínios indutivo e dedutivo, síntese, pensamento crítico, trabalho em equipe, criatividade e empatia). 3. Criar imagem, respondendo às questões: Quais seriam os novos arquétipos de aprendizagem e de práticas curriculares que podem fazer a diferença nos processos de aprendizagem dos alunos, considerando as dez competências da BNCC, no contexto da educação do futuro? Qual nosso papel? CHEGANDO AO FINAL... O QUE APRENDEMOS? Aprendemos que sozinhos, pouco fazemos. Juntos somos capazes de empreender uma escola que faça sentido aos profissionais que nela atuam e aos alunos que aqui estão. Como nos diz Hattie (2017, p. 152) “precisamos colaborar para construir uma equipe, trabalhando em conjunto para solucionar os problemas de aprendizagem, para, coletivamente, dividir e criticar a natureza e a qualidade de evidências que mostrem nosso impacto sobre a aprendizagem dos alunos e para cooperar no planejamento e na crítica das aulas, das intenções de aprendizagens e dos critérios de sucesso, de modo regular”. Percebemos que o trabalho em conjunto é um processo, que considera o tempo,

o espaço, as relações e os conhecimentos. Por isso, aprendemos que “um galo sozinho, não tece uma manhã”, como nos disse João Cabral de Melo Neto. E, ainda, saímos como algumas perguntas a serem respondidas: Como podemos aprofundar nosso conhecimento profissional e refinar nossas habilidades? Como os impactos de nossos encontros estarão presentes em nossas ações?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BACICH, Lilian e MORAN, José (orgs). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. BERGMANN, Jonathan. Aprendizagem invertida para resolver o problema do dever de casa. Porto Alegre: Penso, 2018. CAMARGO, Fausto. A sala de aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre: Penso, 2018. CITY, Elizabeth A. e outros. Rodadas pedagógicas: como o trabalho em redes pode melhorar o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Penso, 2014. DWECK, Carol S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. São Paulo: Objetiva, 2017. FAVA, Rui. Trabalho, educação e inteligência artificial: a era do indivíduo. Porto Alegre: Penso, 2018. HATTIE, John. Aprendizagem visível para professores – Como maximizar o impacto da aprendizagem. Porto Alegre: Penso, 2017. TOUGH, Paul. Como as crianças aprendem: o papel da garra, da curiosidade e da personalidade no desenvolvimento infantil. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017. WEINSTEIN, Carol Simon. Gestão da sala de aula: lições da pesquisa e da prática para trabalhar com adolescentes. Porto Alegre: AMGH, 2015, 4ª edição.

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2018, p. 120): cognitiva (pensar: razão, raciocínio, reflexão e síntese), emocional (sentir: sentimento, sensação, emoção, empatia), volitiva (agir: fazer, transformar, aplicar) e decernere (discernir: solucionar, escolher, decidir).

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AVALIAÇÃO: RECONHECENDO COMO ESTAMOS E ONDE PODEMOS CHEGAR


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AVALIAR PARA MELHORAR O DESEMPENHO DOS ALUNOS, PARA APRIMORAR A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES E PARA BUSCAR MAIS EFICIÊNCIA DOS OBJETIVOS INSTITUCIONAIS. ESTES SÃO OS PRINCIPAIS OBJETIVOS PARA NOSSOS PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO, SEJA PELOS INSTRUMENTOS DE VERIFICAÇÃO DO RENDIMENTO ESCOLAR DOS ALUNOS OU PELOS QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS POR TODA A COMUNIDADE ESCOLAR (ALUNOS A PARTIR DO 6º ANO, PROFESSORES, EQUIPE PEDAGÓGICA E PAIS). AQUI APRESENTAMOS O DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTAS DO GOOGLE - FORMULÁRIO, PLANILHAS E DATA STUDIO - PARA COMPILAR DADOS, PROMOVER ANÁLISES MAIS ASSERTIVAS E ENTENDER NOSSAS FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES.

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Workshop Acompanhamento da aprendizagem: o que os dados dizem?

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Coordenadora Pedagógica Andréa Vazatta Coordenadora de Tecnologia Educacional Luciane Vellozo

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Boas ideias e soluções devem ser compartilhadas, e foi isso que aconteceu no dia 14 de agosto de 2019 na sede do Google em São Paulo no evento chamado “Inovar para Brasil”, onde a coordenadora do Ensino Fundamental I, Andréa Furtado Vazatta, apresentou no Workshop: “Acompanhamento da aprendizagem: o que dizem os dados?” soluções encontradas utilizando as ferramentas Google para melhorar o desempenho dos alunos. O Workshop aconteceu num formato de uma atividade prática e contou com a ajuda dos alunos tutores de tecnologia Google do Colégio que participaram auxiliando as

pessoas presentes no evento no uso do Chromebook e da atividade proposta no Workshop. Com a ajuda da Nuvem Mestra, parceira do Colégio na implantação das ferramentas Google, em especial do Marciel de Oliveira Rocha, Gestor de Novas Experiências de Aprendizagem, que ouviu a necessidade da coordenadora Andréa, quanto à análise dos dados gerados através dos formulários Google, e da equipe de Tecnologia Educacional do Colégio, que juntos, pensaram e encontraram soluções através do uso de planilhas e do app Data


Studio para gerar relatórios e gráficos de uma forma mais rápida e prática sobre as habilidades, as competências, os descritores da BNCC e outros dados importantes para acompanhar o desempenho da turma e assim gerar o perfil do aluno. “A avaliação em sala de aula assume muitas formas e ajudam os professores a tomarem muitas decisões” (Russel, 2014, p. 15).

Nos 2º, 3º, 4º e 5º anos, os alunos realizam instrumentos de verificação de aprendizagem, antes das avaliações bimestrais, que têm o objetivo de diagnosticar habilidades que ainda não foram atingidas pelos alunos. Estes instrumentos são feitos no Formulários Google e os professores coletam as informações de cada formulário gerando uma planilha. Todas estas informações são armazenadas em uma única planilha com a ajuda das assistentes Kauane, Michele e Quedma e as informações são processadas em uma macro criada pela Nuvem Mestra que armazena todas as informações necessárias como: questões do formulário, acertos e erros, habilidades e competências da BNCC, descritores, provas, enfim, e os instrumentos de verificação realizados pelos alunos, de todas as áreas de conhecimento.

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Três ferramentas do Google foram exploradas neste processo de analisar os dados: Formulário, Planilhas e Data Studio. Com a união do uso das três ferramentas e da equipe inovadora de professores foi possível colocar em prática uma ação para descobrir: o que dizem os dados?

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Por fim, esta planilha é importada para o Data Studio onde é possível criar relatórios e gráficos com estes dados e analisar as informações de forma mais rápida e eficiente, descobrir o que dizem os dados e partir para outras ações.

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No Workshop, a coordenação pedagógica apresentou todo este processo, da necessidade do trabalho em grupo, em ter uma equipe inovadora e em acreditar na progressão dos alunos para realizar este trabalho. Colocou também sobre a importância da formação dos professores e o envolvimento de todos no processo. para inserirmos ações de aperfeiçoamento em nossos planejamento em tempo real, visando a melhoria da aprendizagem de nossos alunos.

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Os professores do Ensino Fundamental I aperfeiçoaram suas práticas com a Nuvem Mestra no uso da ferramenta Data Studio e enviaram os relatórios para análise da coordenação. O Colégio Uirapuru continua buscando soluções para saber afinal, o que dizem os dados?...e melhorar o desempenho do aluno em sala de aula. Parabéns para toda a equipe do Fundamental I em procurar novas soluções e trazer a tecnologia como sua aliada na melhor busca dos resultados. Agradecemos também ao Marciel por abraçar a ideia e construir com o Colégio novos caminhos para a Educação.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: RUSSELL, Michael K. e AIRASIAN, Peter W. Avaliação em sala de aula (recurso eletrônico): conceitos e aplicações. Porto Alegre: AMGH, 2014, 7ª edição.


Avaliação institucional: olhares internos e externos Coordenadora Geral Maura Bolfer

Para atender a essa situação, é preciso que as instituições de ensino estejam aparelhadas, em todos os sentidos, para formar pessoas capazes de progredir por si, dentro de um ambiente em constante mudança. Necessitam, antes de tudo, valorizar o aprender a aprender, formando pessoas participantes ativas do processo social, no mundo do trabalho. Assim, a resposta às perguntas ‘para que’ e ‘por que’ avaliar uma Instituição de Ensino reside, essencialmente, na busca da forma pela qual ela deve atuar, a fim de preparar

seus alunos para a dinâmica social, cada vez mais acelerada e complexa, da sociedade. Nesse contexto, impõe-se a necessidade de um processo permanente de avaliação, tanto pela própria instituição, quanto pela sociedade mais ampla, que busque respostas aos questionamentos que se fizerem presentes. Para conhecer como a nossa comunidade entende essas questões, nos dispomos a ouvir o que pensam os pais, os alunos, os professores e a equipe pedagógica sobre nossas ações e infraestrutura para avaliar o desempenho das atividades acadêmicas e administrativas, por meio de um levantamento de opiniões, sugestões e informações. Esses levantamentos contêm questões que refletem nosso desempenho na área pedagógica, bem como nas atividades administrativas em todos os níveis.

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O panorama global da atualidade apresenta novas necessidades e exigências, nos mais diversos setores, por estarmos sendo confrontados com realidades cercadas por novas tecnologias e novos estímulos, os quais, rapidamente, estão mudando o mundo tal como o conhecíamos, o mundo com o qual estávamos acostumados.

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A avaliação da nossa instituição promove informações seguras que fundamentam as prioridades, objetivos e metas futuras. O Colégio Uirapuru é avaliado como um todo com critérios construídos a partir do referencial teórico em que associa a avaliação com políticas institucionais, projetos pedagógicos, programas acadêmicos e administrativos.

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As estruturas e ações acadêmicas e administrativas do Colégio Uirapuru são avaliadas levando-se em consideração referências de qualidade institucionalmente estabelecidas. Temos por princípio que, como resultado da avaliação, decorre o entendimento das peculiaridades da instituição no contexto, bem como sua área de influência, ou seja, o conhecimento das reais potencialidades ou fragilidades, para eventuais intervenções necessariamente coerentes com o planejamento da institucional.

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A partir de estudos da literatura atual de avaliação institucional elencamos alguns princípios fundamentais – credibilidade, transparência, participação, legitimidade, objetividade, intencionalidade educativa, globalidade e continuidade – para a constituição de um processo de autoavaliação que se identifique com a nossa missão, bem como com a nossa proposta pedagógica. Esses princípios fazem com que a autoavaliação seja um momento de reflexão e de estudo crítico, sobre suas diversas dimensões, resultando num relatório que reflete a percepção de si mesma, que possibilita um projeto de desenvolvimento, pelo qual a comunidade institucional participa do processo se mostrando identificada e comprometida.

A avaliação, por ser um instrumento para a melhoria das ações acadêmicas e administrativas, tem seus resultados considerados e analisados no planejamento e gestão da instituição em seus diversos níveis: acadêmico, pedagógico, administrativo e gerencial. Dessa forma, a avaliação passa a fazer sentido na rotina da instituição, a partir do envolvimento da comunidade institucional. Temos como objetivo geral o reconhecimento das relações, dos processos, das funções e das atividades inerentes ao funcionamento pedagógico e administrativo do Colégio Uirapuru. Este objetivo situa a avaliação como uma atividade estruturada que permite o julgamento da qualidade institucional, no sentido de sua responsabilidade com o social e no redimensionamento das ações da própria instituição. Sendo assim, ressaltamos como característica da avaliação ser um processo. A ideia de processo, por sua própria definição, significa o que tem prosseguimento, que não tem um término demarcado, que se realimenta no próprio proceder. Aqui, o processo avaliativo não é um modismo, uma etapa burocrática a ser cumprida, mas parte do contínuo repensar sobre os fins e propósitos da Instituição.Ela é também uma forma de assegurar a necessária prestação de contas para a comunidade, de todas as atividades desenvolvidas, constituindo-se assim em importante ferramenta para o planejamento e a gestão escolar. A seguir estão sínteses dos resultados e fica o convite para que a participação dos pais se amplie no próximo ano.


O COLÉGIO NA VISÃO DOS PAIS

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Concordam (C); Discordam (D); Não sabem responder (NS)

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O COLÉGIO NA VISÃO DO CORPO DOCENTE

Corpo Docente

9% 6%

17%

Professores participantes

26%

74%

Professores não participantes

25%

22%

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20%

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Participação dos professores de cada segmento Educação Infantil

Ensino Médio

Fundamental I

Uschool

Fundamental II

Educação Física


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A COORDENAÇÃO/ORIENTAÇÃO NA VISÃO DOS PROFESSORES

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AVALIAÇÃO DO COLÉGIO NA VISÃO DOS ALUNOS

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Sempre (S); Às vezes (AS); Sem Resposta (SR)

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AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES PELOS ALUNOS

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FORMANDOS DO ENSINO MÉDIO 2019 Corpo Docente Adriana Antonia de Paiva (Literatura) Aline de Aquino (Ciências Humanas e suas Tecnologias) Ana Carolina Alecrim Benzoni (Gramática) Ana Luiza Marques Bastos (Ciências Humanas e suas Tecnologias) Eduardo Andrés Ruz Torres (História) Eduardo Gentile Rosa (Fisiologia) Fábio Holtz de Paula (Ciências e suas Tecnologias) Fabio Vilar de Menezes (Genética) Fátima Medina Pachelli Weber (Química Orgânica) Flávio Garibaldi Barreto (Inglês)

Grazielle Katyane dos Santos Silva (Linguagens, Códigos e suas Tecnologias) Gustavo de Souza Barros Vieira (Filosofia) Gustavo Pereyra Marichal (Geografia) Kátia Regina Yabiku (Geometria Espacial) Marcelo Márcio Morandi (Álgebra) Mônica Miliani Martinez (Redação) Murilo Akio Murakami (Eletricidade) Renato Antonelli Toledo (Geometria Analítica) Sérgio Orsi Filho (Físico-Química) Suzana Bernardes Tridapalli (Mecânica)

Direção

Representante 3ª Série A

Arthur Fonseca Filho Arthur Fonseca Neto Renato Machado de Araújo Fonseca

Prof. Sérgio Orsi Filho

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Coordenação Geral

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Maura Bolfer

Coordenação Pedagógica

Representante 3ª Série B Profa. Mônica Miliani Martinez

Representante 3ª Série C Prof. Gustavo de Souza Barros Vieira

Daniela Peres Almenara

Oradores

Orientação Educacional

3ª A - Valentina Silva Gagliardi 3ª B - Valentina Ferro Antunes de Oliveira 3ª C - Flávia de Almeida Padilha

Gláuci Helena Mora

Paraninfo Prof. Eduardo Andrés Ruz Torrez


AIMÉE CHAVES ARANHA AMANDA KAPPKE LUCANO AMANDA ZOCCA THOMAZETTI ANA CAROLINA BRAND ANA LAURA GIMENEZ REBELLO DOS SANTOS ANA LUIZA COSTA NEDER SERAFINI ANA PAULA GUZZELA MALUF DIAS ANA SOFIA TOSCANO ANDRESSA RAMOS BORSATTO ANDREW MICHAEL RODRIGUES ANNA CAROLINA DEMARZO LOPES ARTHUR MIGUELLONE LUCIO MARTINS BÁRBARA BORONI BORCHARDT BERNARDO HENRIQUE MENDES CORRÊA BERNARDO STEINLE MATIUCI BRIANA ALEXANDRA MOREIRA BRUNA FREDDO LEONOTTI BRUNO BRITO OLIVEIRA CAMIS BRUNO NYARI CARLA OLIVEIRA QUINTANS GRAÇA CAROLINA PATELLI RAMOS DOS SANTOS DANIELA ANNUNZIATA MASARO DANILO DE CASTRO SATIRO ARAGÃO EMILLY JAMILLE FERREIRA DE FREITAS ENRICO OLIVEIRA DEMARCHI ENZO SPINARDI DE CARVALHO FELIPE RIBEIRO AYRES MAGALHÃES FLÁVIA DE ALMEIDA PADILHA GABRIEL FERNANDES MARTINEZ GABRIEL NARCIZO MARCHIOLI GABRIEL PRIGENZI PERONDI GABRIEL RUIZ FERNANDES GABRIELA GARCIA BLANCO GABRIELA ISHIDA IGARASHI GABRIELA MIYUKI MORI GABRIELA VALLADARES DE TOLEDO CORRÊA GIOVANNA MAZUQUI LOURENÇO GIULIA CONTI FRUET GUILHERME PEREIRA PIVETTA GUILHERME VÖLKER ROZA HELIO ROMANO NETO HENRIQUE CAMARGO PADOVANI IGOR GUITTE CONCATO CARNEIRO FARHAT ISABELA ALEIXO DE CAMARGO PINTO ISABELLA FURTADO CAVALCANTE VECINA ISABELLA PERES FELIZZOLA ISADORA GUADAGNINI BARBOSA JOÃO CLÁUDIO DAFFRE LEITE PINTO

JORGE HENRIQUE DE PROENÇA SILVEIRA JULIA CARDOZO SILVEIRA JULIANA LATUF LAÍS TAMY KONNO LARISSA FERREIRA CAMPOS LAURA DE ALMEIDA MENDES LAURA GUN LEONARDO CARVALHO SANTIAGO LEONARDO RUSSO WALTER LÍVIA DE FIGUEIREDO GALANTE LÍVIA TRUCHARTE COSTA LUANA CAVALCANTI AGUIAR LUCAS GALLERANI TREVIZAN LUCAS MARQUES SEIXAS LUCCAS SANTOS BENETON LUÍS HENRIQUE SEGAMARCHI PEREIRA LUIZA FERREIRA MACHADO MANUELA BRAGA DE OLIVEIRA MARCELO DE MARCO MATTIAZO MARIA EDUARDA BARROS SANTOS MARIA EDUARDA DUARTE RODRIGUES MARIA GABRIELA CERQUEIRA GUIMARÃES MARIA LUIZA TENORIO DE AGUIAR MARIANA ZANOTTO TARDELLI MATHEUS CEREZER QUIBÁO MATHEUS GOULART ZANARDI MATHEUS HENRIQUE NUNES DE CARVALHO MATHEUS SPINARDI MURILO REIS TOCCHETON NATASHA BRUNO CHEBRAT NICOLE DE PALMA GOMES RAFAEL MACIA BORRÁS RAFAEL SOARES SIMONÉTI RAPHAEL AUGUSTO JARDINI ANDRADE REBECA COMENALE AZEVEDO FUZETTI RODRIGO ALEXANDRE BLESSA DUARTE RODRIGO PRADO ZÚCOLO RODRIGUES FERNANDES SANTIAGO DE MATOS FERNANDEZ PEREZ SOFIA TIEMI IGNACIO MORO SOPHIA CASTAGNET REDIS TAÍS DE ANDRADE CARACANTE THAIS AYUMI BIRQUE VALENTINA FERRO ANTUNES DE OLIVEIRA VALENTINA SILVA GAGLIARDI VITOR EDUARDO GOOS DA COSTA VITÓRIA SWAIN MÜLLER SANTOS VITTÓRIA DE SOUZA CARMONA

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ALUNOS

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Fica registrado aqui o discurso realizado pelo paraninfo da turma na cerimônia de encerramento do Ensino Médio "Senhor diretor, senhora coordenadora geral, senhora coordenadora do Ensino Médio, pais, mães, professores, prezados todos. Queridos alunos. Prestem atenção. Tudo tem seu tempo e sua hora, garante a antiga palavra de Eclesiastes. A hora da sua formatura, desde os tenros olhares infantis, custou a chegar. Mas hoje estamos aqui, celebrando.

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Foi no tempo preciso, depois de construir uma bela história. Hoje, vocês são o fruto amadurecido, que enverga o galho, desta primeira etapa formativa, a mais humana, a mais delicada, a mais frágil.

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Vocês elegeram um chileno para realizar este discurso, algo que à luz dos acontecimentos que se suscitam no meu país pode ser, no mínimo, incendiário. No entanto, nasci em terra de poetas e o que hoje direi a vocês não cheira fumaça, pneu queimado ou bomba lacrimogênea. É simplesmente um outro tipo de manifestação, um ato de agradecimento, uma declaração de amor. Sou professor e Ser professor – me valendo das palavras do meu orientador e suas metáforas – é uma aposta no futuro, educamos no presente para o futuro. Somos movidos por esperança e por acreditar que vem algo melhor. Persistimos na vontade de que o futuro seja de conhecimento e reconhecimento; de liberdade e democracia; de racionalidade e de igualdade.


Ser professor é acreditar que aquele ser humano que está diante de nós, sem ser uma tábula rasa, não sabe o que eu sei, muitas vezes sem estabilidade pessoal para saber o que pode saber, e nós com cuidado e carinho, regamos permanentemente essa semente até fazermos germinar um novo ser humano, que surgirá deste esforço e desta dedicação. Nós professores somos especialistas em bonsai, nunca em agronegócio, sempre dedicados ao individuo, ao sujeito que a cada dia temos à nossa frente: cada um com dores, penas, alegrias, com uma história que deve ser respeitada e compreendida. Ser professor é acreditar que nesses encontros diários, semanais, somos capazes de iluminar ou pelo menos acender uma luz no interior de cada aluno, para assim construir uma sociedade mais cidadã e menos preconceituosa. Mas, devemos ser prudentes e saber que as transformações que queremos para nossa comunidade, para nosso país, deveriam tomar Mahatma Gandhi como conselheiro, quem disse: eu devo ser a transformação que quero ser no mundo, eu devo ser a transformação que eu desejo ver no mundo. Nós não temos o poder de transformar o país inteiro ou a sociedade inteira para o que eu desejo, mas posso com meus atos, com minhas palavras e atitudes fazer a diferença em uma sala de aula, posso tornar esse espaço menos preconceituoso, mais cidadão, mais democrático, mais pluralista, onde o senso comum pode ser contrastado com conhecimentos práticos e técnicos que mostram diferentes parâmetros.

Hoje aqui, nós, seus professores, depositamos em vocês a confiança de transformar este país, pois nestes 12 anos de dedicação, o que fizemos - parafraseando o professor da UNICAMP Rubem Alves - foi plantar carvalhos, não eucaliptos. Meus alunos. Nestes 12 anos, desde o Ensino Fundamental, eu gostaria de prestar uma aberta homenagem a quem os alfabetizou, àquelas professoras, principalmente, que tomaram seus dedinhos, segurando um lápis e que com profundo amor, afeto e carinho, guiaram suas primeiras curvas formando as primeiras vogais.

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Nossa profissão é fascinante, pois, trabalhamos com jovens, ávidos de saber, de conhecimentos, sempre atentos à descoberta e onde eu sei que minha responsabilidade é passar o que eu conheço, porque se isso não acontecer, talvez nunca mais haja a possibilidade de que esses jovens, estes jovens vejam o que perderam. Como dizia Paulo Freire, professores bons marcam a vida de um aluno, mas professores ruins, também.

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Esse primeiro contato foi, talvez, uma experiência quase xamânica que deu início ao processo de descobertas e ideais que estava dentro de cada um, transformando-os para todo sempre, e para muito melhor. Esses professores alfabetizadores foram os primeiros gigantes que ofereceram seus ombros, para que vocês subissem e olhassem cada vez mais longe. Eu os conheci no Ensino Médio, no segundo ano para ser mais preciso, e já nesse primeiro momento notei que a grande maioria de vocês estavam feitos do mesmo material dos sonhos e estavam rodeados de sonhos. Hoje, ao final desta viagem, posso afirmar que todos estão feitos e estão rodeados destes sonhos, motores desse porvir. No entanto, não se confundam, sonhar às vezes custa caro, e não é necessariamente um projeto de felicidade assegurado. Se eu pudesse desejar algo para vocês, certamente não seria o fardo que a procura da felicidade implica, não diria para vocês “sejam felizes”. Diria e desejaria de coração aberto que possam encontrar o sentido da vida. Que viver tenha um motivo e uma razão. Esse seria meu desejo. Esta noite quem está diante de vocês não é só o professor Eduardo, é a minha história, é minha mãe Ana, é minha avó Luisa, sou Catalina e Isabel, sou meu pai Eduardo e meu avô Sergio, sou Juan e sou José. Sou neto de um mineiro do salitre, que trabalhou longas décadas com as costas voltadas ao sol escaldante do deserto de Atacama; Sou neto, também, de um operário industrial, que trabalhou até se aposentar em uma fábrica de cimentos, encarregado dos fornos que queimavam além dos 1000 graus Celsius.

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Os dois a sua maneira, vivendo um inferno particular, pois havia que comer, havia que viver. Minhas avós não tiveram uma vida mais fácil ou com menos preocupações, tinham que cuidar das suas crianças e fazer uso da imaginação com os escassos recursos disponíveis.

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Quem está aqui, também, diante de vocês e através de mim, é todo o corpo docente que contribuiu para enriquecer esta história nossa, minha e de vocês. Eu me pergunto: O que seria hoje de mim se eu negasse a história, a minha história, se negasse a existência ou as experiências resilientes dos meus antepassados? Um navio sem leme, que se move segundo as arbitrariedades do vento e da maré, forças poderosas frente as quais não teríamos forma de resistir. Precisamente, não conhecer A HISTÓRIA é como não conhecer os nossos avós, aos nossos pais, assim de absurdo pode ser. É quase um ato de negação das nossas origens, trazendo com isto, a maldição de Sísifo, onde como o personagem mítico,


arrastamos sofridamente e a duras penas nosso avanço. Mas em dado momento tudo se desmorona e somos obrigados a começar uma vez mais, expondo assim, todos os problemas de desigualdade e violência que nos assolam como sociedade, pelo simples fato de não conhecer o passado, expondo-nos a essas forças manipuladoras e arbitrárias que nos convencem de falsas ilusões, como o cantar das sereias. Por que acontece isto? Porque ignoramos nossa história e quando não, relutamos frente a sua presença. A história nos ajuda a discernir, a decidir com liberdade, é educação para a vida, formação para a vida, pois nos ajuda a valorizar a experiência de outros para que as pessoas possam ser mais generosas, mais solidárias, para termos um país mais justo e menos desigual. Meu orientador de mestrado e doutorado na UNICAMP, o professor Leandro Karnal, uma vez disse: a história está aí para nos ensinar, mas só poderemos aprender desde que a gente queira. A história apresenta os efeitos gerados pela violência, pela desigualdade, pelas injustiças, pelos regimes ditatoriais e seus apologistas, pelas guerras. Mas depende de nós querermos saber e principalmente apreender para dizer basta, nunca mais. Para aprender com nossos erros e não cometê-los de novo. Shakespeare, no século XVII, já tinha muito claro isto. Ele escreveu no ato III, da segunda parte da sua obra Henrique IV:

Formandos do Colégio Uirapuru, como última lição de casa eu peço: não ignorem nossa história, aprendamos dela, queiram, por intermédio dela, mudar nossa rua, nosso bairro, nossa sociedade, nosso país. Lembremo-nos de Vitor Hugo e os miseráveis. Vocês pertencem a essa classe social que pode realizar estas transformações. Queiram como futuros carvalhos frondosos, oferecer sombra a seus netos, para que eles possam viver em um país melhor, onde a pátria seja o outro. Tudo tem seu tempo e sua hora. É nossa hora de dizer adeus, talvez seja nosso tempo de iniciarmos uma nova história. Viva o Brasil e seus estudantes. Muito obrigado. Eduardo Torres"

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“Há uma história na vida de todos os homens, Descobrindo a natureza dos tempos passados, Aqueles que, observados, permitem a um homem comentar, Com mira certa, sobre o rumo principal das coisas Que ainda não vieram a nascer, mas que em suas sementes E débeis inícios já se encontram guardadas”

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3º ANO ENSINO MÉDIO 2019


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ANUÁRIO 2019


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COLÉGIO UIRAPURU ANUÁRIO 2019 Diretor Geral: Arthur Fonseca Filho Diretor Administrativo: Arthur Fonseca Neto Diretor Financeiro: Renato Machado de Araujo Fonseca Coordenadora Geral: Maura Bolfer Jornalista Responsável: Priscila Castilho – Mtb 40.222/SP Produção Gráfica e Tratamento de imagens: bëwe - building brands


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Emília

18031-005


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