Orientações, teorias e reflexões

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Agosto 2014

Orientações, teorias e reflexões Processo de Adolescência e “adolescimento” das famílias

Coletânea de textos: Adolescência: como agir? Conhecendo os tipos de pais Convivendo com filhos adolescentes

As leituras aqui sugeridas têm o objetivo de ajudar na compreensão do processo de adolescência e “adolescimento” das famílias. Os textos oferecem orientações, teorias e reflexões que podem contribuir para o entendimento do contexto familiar e processo da adolescência.

Praticando o pensar Reflexões sobre família e adolescência I Reflexões sobre família e adolescência II Teoria das Redes Sociais

Questões para reflexão após leitura:  Meu filho me vê como rede de apoio? Qual é o meu papel na rede de apoio dele?

 Quem faz parte da rede de apoio de meu filho?

 Como eu percebo o papel da escola inserida como rede de apoio?

 As redes de apoio de meu filho têm contribuído para o crescimento dele?

Elaboração Ana Cristina Amado Luiza Dutra Maria Flora Fonseca Marina Fernandes Maura Bolfer


Sugestões de vídeos: Desarrollo de un adolescente: http://www.youtube.com/watch?v=M8FDlPfpn2I Café Filosófico – com Dr. Paulo Gaudêncio falando sobre Adolescência: http://www.youtube.com/watch?v=v9V-QssIl-E


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ADOLESCÊNCIA: como agir? Nesta fase, em que o adolescente tenta se afastar dos pais para explorar sua própria identidade, é preciso que a família se mantenha próxima e procure, como aconselha Haim Ginott (apud Gottman e DeClaire): essas pessoas em quem seu filho Aceitar que a adolescência é a pode confiar quando estiver longe época em que os filhos se de vocês ou precisando de separam dos pais: adolescente precisa de privacidade, de respeito orientação e apoio. às suas inquietações e aos seus descontentamentos. “Ouça-o com Estimular o adolescente a decidir sozinho e continuar calma e cabeça aberta. (...) Deixe sendo seu preparador que as roupas, as músicas, os gestos e as gírias componham uma emocional: permita que seu filho faça o que está preparado para afirmação dizendo: ‘Sou diferente de meus pais e me orgulho disso'.” fazer, que tome decisões insensatas, mas não arriscadas. “Aceite e legitime suas Mostrar respeito pelo adolescente: a relação entre pais experiências emocionais. Quando surgir um problema, escute com e filhos é complexa e não é “Mostrar respeito pelo empatia e sem críticas. Seja seu necessariamente uma relação de adolescente...” aliado quando ele vier lhe pedir amigos, mas ambos merecem o ajuda”. mesmo respeito que dedicamos aos amigos. É preciso transmitir Saber esperar: a adolescência é valores sem querer ser moralista. uma etapa da vida que tem Quando o comportamento for motivo de atrito, não rotule, “refira- começo e fim. se a atos específicos dizendo que o Saber negociar: os pais que ele fez afetou-os”. precisam “saber proibir e castigar, Proporcionar uma comunidade a mas também firmar compromissos com o jovem”. seu filho: os pais precisam conhecer as pessoas que convivem com seus filhos – os amigos deles Saber não comparar: ao e seus pais. É necessário “garantir repreender é importante não comparar com irmão(s) ou outro que seus filhos tenham acesso a adolescente que tenha outros adultos que tenham os comportamento exemplar. Esse mesmos valores éticos e os caminho coloca o adolescente em mesmos ideais que você”. São concorrência com um modelo, desencorajando-o e até humilhando-o. Texto elaborado a partir das seguintes referências: GOTTMAN, John e DECLAIRE, Joan. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1997. NASIO, Juan-David. Como agir com um adolescente difícil? – um livro para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.


Conhecendo os tipos de pais Pais negligentes: “oferecem poucas regras e limites, dão pouco afeto e não se envolvem na vida dos filhos. Não têm muito tempo para educar as crianças. (...) Acreditam que outros podem fazer esse papel (de educadores) para seus filhos” (p. 38).

Pais permissivos: “são os pais “amiguinhos”. (...) Oferecem poucas regras e limites, dão muito afeto e se envolvem bastante na vida dos filhos. (...) Sentem-se frequentemente sobrecarregados e, assim, cedem com facilidade aos pedidos e chantagens”.

O FÁCIL Aceitar notas medianas na escola. Deixar bater/maltratar o outro (irmão, amigo) e não se manifestar. Falar mal do cônjuge para o filho.

Deixar viajar em grupo, sem nenhum adulto por perto. Cortejar os amigos do filho, ou sair junto para a balada.

AS CONSEQUÊNCIAS Pode gerar na criança a crença de que é incapaz. Pode gerar na criança a ideia de que é pela força física que se resolvem os conflitos. Pode levar os filhos a viverem um dilema doloroso: de que lado devem ficar? Pode gerar sequelas perigosas no senso de identidade do filho que cresce sem saber quem é e se sabe confiar em suas próprias percepções. Pode abrir oportunidade para grandes problemas: abuso de bebida, episódios de assédio sexual e acidentes. Os pais podem se ridicularizar tentando se igualar ao filho. Podem perder a autoridade e deixar de ser figura de referência.

(p. 46-47)

Pais autoritários: “oferecem muitas regras e limites, mas pouco afeto e pouco envolvimento na vida dos filhos. (...) Em nome da obediência, vale chinelada, grito, ameaças ou até agressões” (p. 54). Onde impera o autoritarismo pode gerar a “formação da apatia ou de seu oposto, a ganância sem medida” (p. 59).

Pais participativos: “estão atentos aos interesses do filho; (...) exploraram as oportunidades de mostrar como esse interesse pode ser aproveitado; (...) procuram outros adultos para conversar com seu filho sobre o interesse percebido; (...) pesquisam a aplicabilidade e as novas formas de usar o que o filho gosta de fazer para melhorar algo na sociedade; (...) percebem que se envolver é uma coisa, mas falar nisso todos os dias... ninguém merece” (p. 61). Sabem o que querem e ficam firmes em seus valores e princípios. São firmes e flexíveis.

Texto elaborado a partir das seguintes referências: FRAIMAN, Leo. Meu filho chegou à adolescência, e agora?. São Paulo: Editora Integrare, 2011. NASIO, Juan-David. Como agir com um adolescente difícil?. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.


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Convivendo com filhos adolescentes É importante considerar que a família, assim como a sociedade como um todo, passa por diversas transformações na atualidade e alguns aspectos precisam ser levados em conta no momento de compreender um pouco mais sobre o próprio desenvolvimento humano, especialmente no que tange ao período da adolescência. Seguem algumas questões essenciais nesta compreensão.

“Com isso ele perde um pouco suas referências da vida adulta...”

O grupo familiar tem se alterado e parte desta alteração é a própria diminuição do convívio dos adolescentes ou crianças com o mundo adulto. Com isso, ele perde um pouco suas referências da vida adulta e, na adolescência, a dificuldade de compreender o que é esperado pode acentuar-se.

Essa ausência do grande grupo familiar não permite que a criança ou o adolescente perceba as relações entre os pais e seus genitores, o que o deixa sem parâmetros ou mesmo sem avaliação das questões que poderiam ser consideradas normais nesta situação.

Sabendo que o ser humano é um dos animais mais dependentes que existem e considerando a situação de isolamento, citada anteriormente, é fácil imaginar que o desamparo e a carência poderão apresentar-se em algum momento do desenvolvimento, sendo então a adolescência (como momento em que se constitui como adulto em formação) a hora mais propícia para que surjam esses questionamentos e sentimentos.

“O adolescente questiona e “coloca em cheque” o papel e as ações dos pais...”

O adolescente questiona e “coloca em xeque” o papel e as ações dos pais, mesmo sem saber explicar o porquê e, assim, os pais também se sentem invadidos e apresentam dificuldades para lidar com essa nova situação. Até determinado momento, os pais são “super-heróis” de seus filhos e assim considerados pelos filhos (e muitas vezes por si mesmos), mas, de repente, esse papel é questionado e os pais podem sentir- se feridos no seu “narcisismo”, provocando ainda maior intensificação dos conf


conflitos e das crises da adolescência que atingem toda a família. Os pais se afetam diretamente pelas crises do filho adolescente e parecem ter os mesmos sentimentos, os irmãos, quando presentes, afetam-se também por esses sentimentos e demonstram certa “inveja”, repetindo alguns comportamentos ou apresentando alguns sentimentos semelhantes àqueles que o adolescente demonstra. 

É preciso compreender que faz parte do processo normal que os pais sejam “desvalorizados” por seus filhos para que ele construa sua própria identidade. Somente realizando este processo, o adolescente poderá ter a sensação de que pode “afastar-se dos pais sem perder muito”.

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A necessidade de buscar uma identidade própria fará do adolescente um questionador e ele apresentará comportamentos que antes não tinha. A família fica de tal forma afetada pela situação que alguns comportamentos dos pais podem ser também modificados diante da nova postura de seus filhos, o que os faz pensar sobre seu papel e sobre suas expectativas. Alguns conceitos e elaborações que pareciam estabelecidos passam a ser repensados e talvez até mesmo modificados.

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Diante de todos estes aspectos, é importante compreender que algumas questões deverão se manter, inclusive porque é o adolescente que está se formando e buscando novos caminhos, mesmo que os pais não sejam impedidos também de tal possibilidade. É essencial a compreensão de que a reorganização de seu papel e o estabelecimento de novos vínculos com a família e com a sociedade em geral faz parte do desenvolvimento normal do adolescente, que deixa o modelo infantil de ação e convivência para assumir seu papel de adulto – isso é uma “tarefa básica da adolescência”.

Texto elaborado a partir da seguinte referência: OUTEIRAL, José. A adolescência e a família. In: Adolescer. 3ª edição revisada, atualizadas e ampliada. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2008.


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Praticando o pensar Seja qual for o desafio com a nossa rotina e família, quanto mais exercitamos as vivências e experiências e refletimos sobre elas, maior a probabilidade de crescimento. “A prática de pensar a prática é a única maneira de pensar certo.”, segundo Paulo Freire. (apud CORTELLA, 2014, p.15) É importante considerar que o pensar certo deve estar aliado à cautela. Esse cuidado promove observar, refletir, conversar e dialogar. Entretanto, toda reflexão precisa levar à prática e o ímpeto encarrega a ação. Cada mudança que acontece no percurso pessoal e social altera o cenário em que estamos. As relações que existem nesse meio são situações que reorientam o processo de trabalho e de novas ações. O mundo digital é o meio que traz as informações e facilita as mudanças. Ao mesmo tempo em que temos a facilidade de receber uma informação da qual precisamos, assim também chegam mensagens das quais desconfiamos. Muitas vezes, tornamo-nos reféns delas porque nelas acreditamos. Então, surge a preocupação - o quanto nos alimentamos de informações supérfluas? – seguida do conflito: acompanhar a modernidade é saber proteger e levar adiante o que chamamos de ‘tradicional’, descartar e abandonar o chamamos de arcaico, porque falta conexão à realidade. Segundo Cortella (2014, p.91), “amorosidade, lealdade, integridade, disciplina, esforço honesto” são valores tradicionais que devem se manter na sociedade. Parece-nos que a velocidade da mudança e a modernidade carregaram

“a lógica do afrouxamento da disciplina.” (Cortella 2014, p. 91) As condutas sobre o esforço e dedicação para atividades de estudo ou realização de tarefas eram melhor aderidas no passado, em comparação aos dias atuais, em que os facilitadores tecnológicos de recursos nos abdicam dessa responsabilidade. Como a unidade afetiva da família sobrevive? É necessário ainda somar à prática de pensar certo, equalizar ao ímpeto e também à cautela o amor, a exigência e a responsabilidade... “Sempre que amo alguém e nada dele exijo, eu o subestimo. Todas as vezes que eu exijo sem amor, evidentemente eu o agrido, ofendo, porque estou numa relação unilateral” (CORTELLA, 2014, p. 98). A vida em família precisa ser de reciprocidade, em que o amor respeita e exige compromisso, direitos e deveres. O compromisso com esse amor envolve a necessidade de partilha, como um motor que precisa de suas engrenagens para trabalhar no mesmo compasso, o que requer trabalho e tempo. Se as peças pai e mãe são substituídas para cumprir o trabalho, o desempenho do motor será comprometido. Esse momento é arriscado, porque de longe, perde-se a visão do funcionamento do motor, desconhecem-se falhas, se houver. Atuando como engrenagem, estamos construindo valores, pois “(...) nos permitem encontrar, um sentido para nossa vida (...), esses valores ajudarão nossos filhos adolescentes a entender, aceitar e amar mais, não só a si mesmos, mas as demais pessoas” (TIERNO, 2007, p. 86).

Texto elaborado a partir das seguintes referências: CORTELLA, Mário Sérgio. Educação, Escola e Docência novos tempos, novas atitudes. São Paulo: Cortez, 2014 TIERNO, Bernabé. A psicologia dos jovens e adolescentes de 9 a 20 anos. São Paulo: Paulus, 2007.


Reflexões sobre família e adolescência I

“Os adultos têm um papel central neste processo..."

O período da adolescência se constitui como uma fase de transição do indivíduo, da infância para a idade adulta, evoluindo de um estado de intensa dependência para uma condição de autonomia pessoal e de uma necessidade de controle externo para o autocontrole. Este momento corresponde a uma etapa de descobertas dos próprios limites, de questionamentos dos valores e das normas familiares além de intensa adesão aos valores e normas do grupo de amigos. Desse modo, é uma etapa de rupturas e aprendizados, um tempo caracterizado pela necessidade de integração social, pela busca de autoafirmação e da independência individual, como também da definição de sua identidade sexual. Os adultos têm um papel central neste processo, pois oferecem a base inicial aos mais jovens, a bagagem de regras e normas essenciais para o social, bem como atuam como modelos introjetados, geralmente como ideais, cujas atitudes e comportamentos serão transmitidos às gerações que os sucedem. A adolescência começa na biologia e termina na cultura, no momento em que menino e menina atingiram razoável grau de independência psicológica em relação aos pais. Nessa etapa do desenvolvimento, o indivíduo passa por momentos de desequilíbrios e instabilidades extremas, sentindo-se muitas vezes inseguro, confuso, angustiado, injustiçado, incompreendido por pais e professores, o que pode acarretar problemas para os relacionamentos do adolescente com as pessoas mais próximas do seu convívio social. Entretanto, essa crise desencadeada pela vivência da adolescência é de fundamental importância para o desenvolvimento psicológico dos indivíduos, o que faz dela uma crise normativa. Ela costuma ser, geralmente, um período de conflitos e turbulências para muitos. No entanto, há pessoas que passam por essa fase sem manifestarem maiores problemas e dificuldades de ajustamento. Além disso, é necessário ressaltar que o processo de adolescência não afeta apenas os indivíduos que estão passando por este período, mas também as pessoas que convivem diretamente com eles, principalmente a família. Isso porque a adolescência dos filhos tem influência direta no funcionamento familiar, constituindo-se como um processo difícil e doloroso tanto para os adolescentes quanto para seus pais, uma vez que a família não é constituída pela simples soma de seus membros, mas um sistema formado pelo conjunto de relações interdependentes, no qual a modificação de um elemento induz a do restante, transformando todo o sistema, que passa de um estado para outro. p r e c


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Quando um grupo familiar possui um filho adolescente, o grupo como um todo parece adolescer. O aumento dos conflitos geralmente está acompanhado de uma diminuição na proximidade do convívio, principalmente em relação ao tempo que adolescentes e pais passam juntos. Contudo, um conflito bem negociado pode levar a um crescimento para os filhos e para os pais. Por esse motivo o diálogo nessa etapa do desenvolvimento assume um papel ainda mais importante, apesar de muitas vezes os adolescentes buscarem se fechar em seu “mundo”. A conversa com os membros da família, neste momento da vida, é essencial, pois é justamente nesse período que eles mais necessitam da orientação e da compreensão dos pais, sendo que todo o legado que a família transmitiu a eles desde a infância continua sendo relevante.

“...a família deve procurar buscar desde cedo estabelecer relações de respeito, confiança, afeto e civilidade entre seus membros "

Nesse contexto, pode-se refletir que, além do recurso do diálogo, a família deve buscar estabelecer relações de respeito, confiança, afeto e civilidade entre seus membros, desde cedo, o que auxiliará a lidar com essa fase do desenvolvimento de uma maneira mais adequada e com menos dificuldades. É interessante salientar que a instituição familiar em particular tem passado por inúmeras transformações que acabam produzindo modificações relevantes no que diz respeito às vivências, à percepção e à construção que os adolescentes produzem de seus aspectos socioafetivos, bem como de seus projetos de vida. Assim, pode-se dizer que, apesar das transformações significativas vivenciadas pela família nas últimas décadas do século XX e início do XXI, o homem continua depositando nessa instituição a base de sua segurança e bem-estar, o que por si só é um indicador da valorização da família como contexto de desenvolvimento humano.

Texto elaborado a partir das seguintes referências: PRATTA, Elisângela Maria Machado Pratta e SANTOS, Manoel Antonio dos. Família e Adolescência: A influência do contexto familiar no desenvolvimento psicológico de seus membros. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a05, acesso em 14/08/2014.


Reflexões sobre família e adolescência II A adolescência é um momento, um período, portanto, é passageira. Porém, tanto o adolescente quanto os adultos ao seu redor parecem não se recordar ou não querer se conscientizar deste fato. O ambiente acaba por sintonizar-se com o adolescente. Surge uma ligação intensa entre o que acontece com ele e o seu ambiente e sua família. O ambiente fica constantemente afetado por suas crises e ele é um constante reflexo de seu ambiente e de sua família. A alternância de sentimentos e a complicada “vida emocional” do adolescente geram uma instabilidade e um revezamento de emoções, alternando entre a rebeldia e a dependência, de forma confusa e rápida. Além de ter que lidar com todas estas emoções o adolescente vive num mundo de agrupamentos de seres isolados, pois eles são isolados “por natureza” e acabam avaliando suas posturas e sua percepção do outro nesse processo de fechamento. Ainda neste complexo mundo de convivência e emoções, o adolescente precisa lidar com sua sexualidade o que segundo D. W. Winnicott, muitas vezes ela se manifesta mais como alívio de tensões ou como uma forma de se livrar da própria sexualidade e não como uma experiência plena e realmente desejada. Lidar com toda essa carga emocional e com seu novo papel na sociedade não é tarefa fácil para o adolescente e, por isso, é exigido dos adultos, especialmente dos pais, uma grande carga de tolerância e cuidados. Apoiar o adolescente no seu processo de adolescer não é tarefa simples, e exige também um confronto com aspectos emocionais e cognitivos de sua própria constituição como adultos e como pais. A chamada “cura da adolescência” e a possível solução das questões emocionais (ou de parte delas) surgem apenas com o passar do tempo. Talvez essa seja a questão mais complicada de todo o processo, pois o que o adolescente (e sua família, também afetada pela adolescência) menos quer é esperar que o tempo passe para que os aspectos do desenvolvimento se estabeleçam e se resolvam ou, pelo menos, fiquem esclarecidos. O adolescente passa então por uma dificuldade maior, pois ele busca estas “soluções rápidas”, mas em todas elas percebe a existência de algo falso ou no qual não confia


Página 11 de 14 totalmente na sua capacidade de solução. Para o adolescente esse processo é doloroso e parece infinito, como se nunca mais sua vida fosse voltar “ao normal”.

A grande questão que se apresenta está na medida correta ou adequada para o adulto (e mais uma vez especialmente os pais) em poder agir no sentido de lidar com este momento. Talvez algumas dicas podem ser discutidas e repensadas:

1. Não é possível ignorar a problemática e imaginar que apenas é um momento que não afeta nada ou ninguém e que, com o tempo, resolve-se sem interferência no ambiente ou nas pessoas que estão ao seu redor. 2. Dar apoio incondicional também não significa aceitar todas as ações e sentimentos do adolescente como se fossem adequados e naturais, como se não necessitasse de avaliação e questionamento. 3. Lamentar e apenas criticar tudo o que se passa com o adolescente sem a devida compreensão também não resolverá nada ou nem mesmo o ajudará a passar esse momento. 4. Ajudá-lo a compreender o momento, sendo tolerantes e atuantes, ao mesmo tempo pode ajudá-lo nesse processo de constituição de sua identidade, sem que, para isso, ele tenha a necessidade de enfrentar a todos como ameaças ao seu processo de individualização.

É preciso que o adolescente descubra que parecer-se com o outro não significa perder sua individualidade e que o amadurecimento o fará descobrir em quais aspectos é identificado ou diferenciado do outro, sem que seja totalmente diferente ou uma cópia de seus pais.

Texto elaborado a partir das seguintes referências: WINNICOTT, D. W. Adolescência: transpondo a zona das calmarias. In: A família e o desenvolvimento individual. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. 4ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2011. WINNICOTT, D. W. Família e maturidade emocional. In: A família e o desenvolvimento individual. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. 4ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2011.


Teoria das Redes Sociais “A rede” é o conjunto de pessoas com quem o sujeito interage de maneira regular e que compõe sua rede social pessoal, ou seja, é a soma de todas as relações que o sujeito percebe como representativas ou define como diferenciadas da massa anônima da sociedade (SLUZKI, 1997). Existem diferentes tipos de redes das quais as pessoas fazem parte e, para cada tipo de rede, há também diferentes funções desempenhadas na vida dessas pessoas.

As relações sociais contribuem para dar sentido à vida de seus membros, favorecendo a organização da identidade por meio do olhar e da ação dos outros: “existimos para alguém”, “servimos para alguma coisa”. Só é possível sermos autônomos por intermédio do outro, de nossa relação com o mundo externo, de nossas construções em rede... Nunca sozinhos! Neste sentido, compreende-se que as redes sociais são espaços transicionais que permitem a convergência das emoções e a mutualidade de interesses que, quando articulados, constituem espaços informais de suporte e apoio (SUDBRACK, 1996).

Sluzki (1997) propõe um mapa da rede social pessoal, que permite conhecer e avaliar a rede de um indivíduo em determinado momento de sua vida, pois inclui todos aqueles com quem ele interage. O mapa, como ilustrado ao lado, é composto por quatro quadrantes (família, amizades, escola/trabalho e comunidade) - que são considerados neste mapa como segmentos da rede pessoal - e três círculos concêntricos, determinando a proximidade e o distanciamento com os membros da rede e apontando o grau de intimidade, a frequência e o compromisso das relações.


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O mapa oferece a possibilidade de uma exploração aprofundada da rede social do indivíduo, tornando-a visível para aqueles que a estão explorando, pois o ato de nomear a rede, de falar sobre ela, é uma forma de se ter contato com ela, de refletir sobre ela, o que permite às pessoas construírem ideias e atividades no sentido de ativá-la, mobilizá-la ou desativá-la, de acordo com o que estão vivendo, abrindo, assim, espaço à mudança e a novas formas de articulação social (SLUZKI, 1997). Na exploração do mapa, para estabelecer a fronteira da rede e definir seus integrantes, pode-se utilizar perguntas como: “Quem são as pessoas importantes de sua vida?”; “Com quem você conversou ou encontrou nesta última semana?”; “Quando você está com vontade de visitar alguém, para quem você liga?”; “Quando você está com problemas, quem você procura?”; “Com quem você se encontra regularmente?”; Para saber o movimento dessas pessoas na sua vida, se estão se aproximando cada vez mais ou se afastando, podem-se utilizar perguntas como: “Em que direção você acha que a sua relação com esta pessoa está indo?”; “Em direção a um aumento de intimidade ou redução de intimidade ou sem mudanças previsíveis?” (SLUZKI, 1997).


As redes sociais podem ser compreendidas e avaliadas a partir de três eixos: características estruturais da rede; funções da rede e atributos do vínculo” (p. 9-10). Características estruturais da rede: com relação ao tamanho (número de pessoas); à densidade (conexão entre os membros); à composição (membros: família, escola, trabalho, amigos, comunidade); à dispersão (distância geográfica entre os membros); à homogeneidade ou heterogeneidade (características das pessoas segundo idade, sexo, cultura, nível socioeconômico). Funções da rede: o mapa (PEREIRA, 2009) ilustra as funções (p. 14)

Atributos do vínculo formado na rede: função predominante (caracterizam de maneira predominante o vínculo); multidimensionalidade (número de funções desempenhadas por cada membro); reciprocidade (refere-se ao fato do indivíduo desempenhar ou não, para as pessoas com quem se relaciona, os mesmos tipos de função que elas desempenham para ele); intensidade (grau de intimidade entre os membros); frequência dos contatos (manutenção ou não dos contatos com as pessoas); história da relação (história do vínculo entre o indivíduo e os membros). Texto elaborado a partir da seguinte referência: NUNES, Sandra Eni Fernandes. Crianças e adolescentes em contexto de vulnerabilidade social: articulação de redes em situação de abandono ou afastamento do convívio familiar. Disponível em www.aconchegodf.org.br/biblioteca/artigos/artigo01, acesso em 14/08/2014.


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