Entrevista: Cavalcanti conta
as propostas do Conselho de Comunicação Social
Produção de dez DVDs
do Oficina resgata a história do teatro no Brasil
Pequenas produtoras preocupadas com a cobrança da Condecine
Cinema Acompanhe as notícias mais recentes do mercado www.telaviva.com.br
A alta tecnologia das câmeras digitais ano11nº120SETEMBRO2002
N達o disponivel
editorial Alguns meses de funcionamento e muita discussão depois, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) ainda tem diversas arestas a aparar dentro do mercado de produção audiovisual. Desta vez são os pequenos que levantam a voz. Produto-
rubensglasberg glasberg@telaviva.com.br
ras de comerciais de baixíssimo custo reclamam que a cobrança da Condecine fixa para o registro de obras, ainda que chegue a valores tão baixos quanto R$ 100, pode até inviabilizar seus negócios. Pode parecer exagero, mas para uma microprodutora fora do eixo Rio/SP cujos filmes chegam a custar até R$ 500, a taxa de registro pode simplesmente engolir toda a margem de lucro, como mostra matéria nesta edição. A proposta destas empresas é simples, mas pode enfrentar problemas de aprovação porque mexeria diretamente na lei que institui a agência: que se faça a cobrança proporcional ao valor dos filmes, a exemplo do que acontece com os impostos. Seria adotada, digamos, uma alíquota de 1% sobre o valor da produção. A Ancine já enfrentou contestações como essa. Na implantação da agência os radiodifusores conseguiram se livrar da contribuição de 4% sobre seu faturamento. A TV por assinatura também se articulou e chegou a uma equação com a agência que satisfazia a ambas as partes. Cabe agora aos pequenos também se mobilizarem. Certamente, como nos casos anteriores, a agência lhes dará ouvidos. Afinal, por menores que sejam, estas empresas também fazem parte do mercado, consomem equipamentos e serviços, empregam técnicos e artistas e ajudam a criar massa crítica no audiovisual brasileiro.
Após um longo período de trabalho conjunto, deixamos de contar com a valiosa contribuição de nossa amiga e colaboradora Edylita Falgetano. Ela deixa a editoria geral de Tela Viva, projeto para o qual devotou sempre grande dedicação e entusiasmo. Edylita parte para novos desafios profissionais, nos quais acreditamos e apostamos que terá, como em tudo que faz, um grande sucesso.
Diretor e Editor Rubens Glasberg Diretor Adjunto André Mermelstein Diretor de Internet Samuel Possebon Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski Gerente de Marketing Mariane Ewbank Circulação Dominique Normand Administração Vilma Pereira (Gerente), Gilberto Taques (Assistente Financeiro)
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Arte Claudia G.I.P. (Edição de Arte e Projeto Gráfico), Cyntia Levy (Assistente) Rubens Jardim (Produção Gráfica), Geraldo José Nogueira (Editoração Eletrônica), Guilherme Gonçalves Rizzo (Ilustração de capa) Departamento Comercial Almir Lopes (Gerente), Alexandre Gerdelmann (Contato), Ivaneti Longo (Assistente)
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CAPA
18 Cinema sob a óptica digital A alta tecnologia das câmeras disponíveis no mercado
ano11nº120SETEMBRO2002
ENTREVISTA
14
Os primeiros passos do CCS
José Paulo Cavalcanti, presidente do Conselho de Comunicação Social
EQUIPAMENTOS
26
Baterias nota dez
Como escolher e manter esse acessório caro e indispensável
BROADCAST
32 TECNOLOGIA
Como entrarão os dólares?
Está pronto o projeto que define como o capital estrangeiro entrará nas empresas de comunicação
produção
Emissora digitaliza seu arquivo musical
CONDECINE
Dez peças que fizeram a história do Oficina, de São Paulo, viram DVD pelas mãos de Tadeu Jungle
Taxa de registro de publicidade assusta pequenas produtoras
42.
Conteúdo para todos
Porta Curtas vincula curtas nacionais a conteúdo editorial na Internet
upgrade 10
38
Heroína para uns, vilã para outros
CINEMA
8
A nova máquina de clipes da MTV
36
Teatro digital
SCANNER
30
figuras
12
produtora
40
Do fundo do mar
Canal Azul amplia sua atuação no setor de documentários
making of
34
agenda
46
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Cacá Diegues restaurado Num projeto que envolve R$ 3 milhões, a TeleImage vai telecinar para alta definição toda a obra de Cacá Diegues. A intenção é relançá-los no circuito cinematográfico, incluindo projeção nas salas digitais de cinema, e em DVDs. A iniciativa pretende atingir também os públicos europeu e asiático. O trabalho de Diegues vai contar com legendas em inglês, francês, alemão e japonês.
No papel A Ulbra, Universidade Luterana do Brasil, vai montar uma emissora educativa aberta no Rio Grande do Sul. Os estúdios serão no campus de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, e na capital gaúcha. O projeto ainda está em elaboração. Na parte técnica, poucas decisões já foram tomadas. A emissora deve funcionar com câmeras digitais IMX, da Sony.
Mais patrocínio Estão abertas as inscrições, até o final de setembro, para a 5ª seleção do Programa Petro bras Cinema. Os interessados podem acessar o regulamento e fazer sua inscrição pelo site www.petrobras.com.br.
Cinema em Ribeirão O curta “Homem Voa?”, de André Ris tum, é a primeira produção do Núcleo de Cinema de Ribeirão Preto. O filme conta a história do aviador Santos Dumont, que viveu na cidade dos sete aos 18 anos. A idéia é criar um pólo de produção na cidade, situada em uma das regiões mais ricas do Brasil.
Fora da ordem
Ao aprovar a Medida Provisória 2228/01, ninguém se lem brou do “cinema cultural”. A omissão foi admitida pelo diretor da Ancine, Gustavo Dahl, e pelo secretário do audiovisual do Minicom, José Álvaro Moisés, no Encontro Nacional da ABD, durante o 13º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo. Eles argumentaram que o “lapso” foi motivado pela pressa em aprovar a MP, num momento em que o Con gresso Nacional começava a se mostrar refratário. Por “cinema cultural” entende-se o fomento à produção de curtas, documentários e primeiro e segundo longas, a formação de platéia (programas de exibição e apoio a festivais), a formação profissional (incluindo universidades e bolsas de estudo) e a preservação do patrimônio. O fomento continua ainda sem espaço.
MTV em festa A MTV registrou a marca de 4,1 pontos (cada ponto corresponde a 48 mil domícilios na Grande São Paulo) de média no Ibope com a transmissão do VMB 2002, no dia 22 de agosto, com pico de 6 pontos. Isso colocou a emissora em quarto lugar no ranking das redes abertas. A Academia de Filmes foi a produtora que levou mais prêmios: três pelo clipe de “Epitáfio”, dos Titãs (melhor do ano na categoria rock para o público e para o júri), além de melhor edição por “Tem Alguém Aí”, de Gabriel, o Pensador. Francisco e Oscar Rodrigues Alves assi nam a direção de “Epitáfio” e a edição de “Tem Alguém Aí”. Outros dois prêmios técnicos foram para Jarbas Agnelli, da AD, pela direção e também pela direção de arte do clipe de “Instinto Coletivo”, do grupo O Rappa. Uli Burtin, da Dueto, levou o prêmio de melhor fotografia com o clipe de “Todo Errado”, de Caetano Veloso e Jorge Mautner.
Correção
tela viva setembro de 2002
O cargo correto de Walter Duran na Eletros, citado na seção Figura da última edição de Tela Viva, é coordenador do grupo de TV digital, e não presidente.
Regionalização A Rede Globo e suas afiliadas realizaram entre os dias 20 e 22 de agosto, em São Paulo, a 6ª Feira de
Eventos e Projetos Regionais. O evento foi dirigido ao merca do publicitário nacio nal e teve como objeti Octávio Florisbal vo buscar o interesse superintendente comercial dos anunciantes de da Rede Globo São Paulo e Rio de Janeiro para os proje tos realizados em todo o Brasil pelas emisso ras da Rede Globo. As 113 emissoras afiliadas apresentaram seus mais importantes projetos para o próximo ano. São ações ligadas a even tos que movimentam a economia local, geram grandes audiências, são rentáveis e proporcio nam visibilidade aos anunciantes.
Fotos: divulgação
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Unity LANshare EX A Avid anunciou o sistema de armazenamento compartilhado Avid Unity LANshare EX v3.0. A solução conta com até 2,9 terabytes de espaço. Além disso, trabalha simultaneamente com redes Fibre Channel e Ethernet, suporta até 20 micros clientes e até quatro clientes trabalhando em alta definição. O Avid Unity LANshare EX custa a partir de US$ 40 mil nos Estados Unidos. www.avid.com
Adobe Premiere com DVDit! O Adobe Premiere 6.5 para Windows agora vem com o DVDit! LE, da Sonic Solutions, incorporado. Trata-se de um autorador de DVD, que conta com uma interface intuitiva e capaz de trabalhar com “arrastar e soltar”. O software trabalha com DVD RW, pode autorar discos com número ilimitado de menus, suporta Windows XP e faz transcodificação em tempo real. www.adobe.com/premiere www.sonic.com
Media 100 i chega à versão 8
Power Mac G4 Dual
O Media 100 i para Mac OS X chegou à versão 8. Desenhada para tirar maior proveito das funções do sistema operacional da Apple, a nova versão do sistema de edição é uma solução nativa do OS X e acompanha todas as configurações do Media 100 i, inclusive o Media 100 i/DV. Entre as novidades da nova versão estão uma melhora no workflow com até oito faixas de gráficos, saída em vídeo componente que permite ver um preview do trabalho em monitores broadcast, integração com o Boris FX, processamento de áudio que permite até 24 faixas em tempo real. www.media100.com
A Apple lançou uma nova linha de computadores Power Mac G4 bi-processada. Os modelos são o dual 1,25 GHz, dual 1 GHz e dual 867 MHz. Todos os modelos trazem, pré-instalado, o novo Mac OS X versão 10.2, conhecido como “Jaguar”. Além disso, podem conter até 2 Mb de DDR avançado no backside cache nível 3 por processador, suporte para 256 Mb ou 512 Mb de memória DDR SDRAM de 266 MHz ou 333 MHz com suporte para até 2 Gb. Na parte gráfica, podem vir equipados com placa ATI Radeon 9000 Pro com 64 Mb de DDR SDRAM ou NVIDIA GeForce 4 MX com 32 Mb de DDR SDRAM, ambas com suporte para dois monitores. Outra mudança foi no gabinete, que agora conta com quatro baias internas para drives, sendo que cada uma suporta discos rígidos de até 120 Gb ATA/100, e duas baias para drives ópticos (CD RW, Combo ou SuperDrive). Os novos modelos estarão disponíveis para o mercado brasileiro no início de outubro. www.apple.com.br tela viva
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Fotos: Divulgação
NOVOS EFEITOS NO MAYA 4.5 A Alias|Wavefront lança em setembro a ções, como virar a cabeça para o lado, versão 4.5 do software de animação 3D partindo da animação base. Maya. Esta é a sétima versão do software, Já o Shader, que especifica como deve que pela primeira vez é lançado simultanea comportar-se a sombra dos objetos ilumi mente para todos os sistemas operacionais nados, não ganhou apenas um novo efei — Windows, Linux, Mac OS X e Irix. to, mas sim a possibilidade de criar seu O Maya conta com as versões Unlimi próprio efeito. Isso porque agora todas as ted e Complete, com menos recursos. especificações são customizáveis, como O Complete ganhou agora recursos que cor, dégradé, projeção, ângulo, intensida eram exclusivos do Unlimited, como as de, textura, profundidade etc. ferramentas de modelagem avançada e de Outras novidades ajudam a incrementar integração hierárquica de superfícies. a nova versão: agora é possível importar Já o Maya Unlimited ganhou várias novas imagens vetoriais de outros programas, funções que afetam a produção de uma como o Adobe Illustrator ou o FreeHand; animação em vários níveis. o movimento de um objeto Já na tela inicial do pro ou de uma face deste obje grama aparece uma janela to pode ser vinculado ao com sete filmes ensinando movimento de outro obje os movimentos e coman to ou face; os objetos da dos básicos do programa. tela podem conter agora Além disso, os tutoriais e a anotações lembretes. tela de novidades “what’s Mas o maior avanço que new” são bem elucidativas. o Maya 4.5 traz é o Fluid Isso não faz com que qual Dynamics, capaz de repro quer um tenha intimidade duzir com perfeição o com com o programa, mas ajuda Shader permite especificar portamento de qualquer os usuários experientes a comportamento da sombra tipo de fluído. situarem-se na nova versão dos objetos iluminados. “As possibilidades são e oferece ainda uma boa fantásticas, pode-se até ajuda para quem está apren simular uma explosão dendo. atômica”, conta Alceu Outra novidade é um tipo Batistão, sócio diretor da de edição não-linear para Vetor Zero, que está usan personagens, o Character do uma versão preliminar Setup Tracks. Com isso, do software. uma animação contínua de Segundo Batistão, já exis um personagem caminhan tiam plug-ins capazes do, por exemplo, pode ser de reproduzir o compor salva e usada como base tamento de fluídos, mas em diferentes trechos do É possível “arredondar” eram difíceis de usar e o os polígonos dos objetos filme. Além disso, o perso resultado não era tão rea nagem pode sofrer altera 3D sem renderização. lista. “Os controles e as
O software 3D traz como destaque o Fluid Dynamics, capaz de reproduzir o comportamento de qualquer tipo de fluído. nomenclaturas desses controles são mais
Recurso permite criar com perfeição simulações de líquidos e gases. inteligíveis no Maya”, explica. As texturas podem ser de fumaça, água, fogo etc. Ainda dentro do Fluid Dyna mics, o efeito Ocean Shader é capaz de reproduzir o movimento das ondas do mar com espuma e com as mudanças na coloração conforme a incidência de luz. Batistão conta que usou o Fluid Dyna mics no comercial do tempero Sazon, no qual a fumaça que sai da panela forma um coração. “O filme chegou às 22h00 para ser entregue às 15h00 do dia seguinte. Até seria possível fazer sem o Fluid, mas não no mesmo tempo”, conta. Além da nova versão, a Alias|Wavefront anunciou a redução nos preços do Maya Complete, de US$ 7,5 mil para US$ 1,999 mil, e do Maya Unlimited, de US$ 16 mil para US$ 6,999 mil. www.aliaswavefront.com fernandolauterjung
O filho de libaneses Gassan Abdouni é um dos profissionais mais especializados da área de finalização em vídeo. Seu trabalho consiste, basicamente, em retocar imagens filmadas, em uma atividade conhecida como rotoscopia. Ou seja, na hora da filmagem são utilizadas traquitanas, fios de náilon e outros recursos que não podem ficar na tela. E Gassan apaga tudo, frame a frame, em um trabalho artesanal no qual é mestre.
Gassan Abdouni O músico e produtor Apollo9 (1), a produtora Julia Petit (2) e o finalizador e pós-produtor Dante Savi (3) se reuniram para montar a Ludwig Van, produtora de trilhas. O primeiro trabalho da Ludwig foi a cam panha “Bebê” para o McDonald’s. Em seguida, pela Almap, criou a trilha dos filmes da Embratel; a campanha da Audi, rodada em Mônaco (também Almap); do Governo Federal, (Salles); da Telesp Celular (DPZ); e, mais recentemente, para a Siemens (J.W.Thompson). Além da publicidade, a Ludwig produziu o segundo disco do cantor Otto e finalizou o CD em tributo ao músico Suba, na voz da cantora Cibelle, suces so nos EUA e Europa. A Ludwig trabalha em parceria com diversos músicos, produtores e letristas, contando com uma 1 2 3 equipe de aproximadamente dez pessoas.
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A
produtora Andréa Musatti (8) acaba de
8 Atualmente membro da equipe da Vetor Zero, sua trajetória começou no desenho, com lápis e papel. Sempre demonstrei interesse pela arte de desenhar. Era fã incondicional de his tórias em quadrinhos, filmes e séries de aventura e ficção científica. Nessa época já imaginava como seriam realiza das as trucagens dos filmes.
Seu interesse pelas artes chegou ao teatro amador, atividade que desenvolveu durante cinco anos. Na mesma época, meados da década de 80, cursou Artes Plásticas na FAAP. Em 1988, ingressou no mercado de trabalho na área de animação, na Animation Studios, empresa de Naildo de Brito, ao lado de José Villa Nova Conceição. Sua estréia na área de finalização aconteceu em 1991, na New Vision, de Alex Pimentel e Domingos Orlando. Lá tive a opor tunidade de trabalhar na primeira estação de composição digital do mercado, a DF/X. Nessa época já comecei a fazer retoques em filmes de efeitos especiais.
A especialização, porém, veio após sua chegada à Vetor Zero, em 1995. Durante anos, a Vetor Zero foi conhecida como a produtora mais especializada em computação gráfica 3D. Percebendo as mudanças e necessidades do mercado, os sócios Sérgio Salles, Alceu Baptistão e Alberto Lopes decidi ram montar um departamento de computação e finalização 2D. Então eles me chamaram para trabalhar no software de composição Flint e no de pintura Matador.
As ferramentas foram se aprimorando e hoje Gassan tem um arsenal de programas à sua disposição. Com eles, é possível resolver praticamente qualquer problema que envolva rotoscopia ou retoque. Apesar da complexidade dos pro blemas e dos prazos sempre curtos, gosto muito do meu trabalho. Cada um soluciona os problemas à sua maneira e cada filme exige uma forma diferente de trabalhar. Mas hoje acredito que estou capacitado a resolver os problemas, independente de quanto a cena é complicada.
Os EstudiosMega reestruturaram seu departamento comercial. Agora a casa terá uma área de atendimento única, e não mais uma para cada departamento. O novo time tem a liderança de Patríc ia Sacom (4) e traz ainda Gilva n a Viana (5), Rita Grimm (6) e Crist in a Villar (7) para otimizar os novos negócios da finalizadora.
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Fotos: Gerson Gargalaka (Gassan Abdouni) e divulgação
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assumir o cargo de direto ra de elenco da Sentimental Filme. Andréa, uma profissio nal consagrada no meio publi citário e que esteve à frente do mesmo departamento na TVC por cerca de 11 anos, será responsável pela criação e desenvolvi mento da área de elenco da Sentimental. O repórter do Canal Brasil Kiko Molli ca se prepara para dirigir seu primeiro curta. O roteiro de “Seu Pai já Disse que Isso não é Brinquedo” foi premiado pelo último concurso de curtas do Programa Petrobras Cinema. A história é inteira contada pelo ponto de vista de câmeras de vigilância, web cams e outras lentes que invadem nosso cotidiano. A produção é de Paulo Boccato. Mollica, mineiro radicado em São Paulo, já realizou vários vídeos premiados em eventos como VídeoBrasil e Festival do Minuto.
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Rodrigo Astiz (9) é o
novo gerente de produ ção e diretor de documentá rios da produtora Canal Azul. Ele trabalhou durante dois anos no canal de TV paga CMT (Country Music Televi sion) e em seu sucessor, o MusicCountry, como roteirista e diretor de programas (“A Hora do Cachor ro Louco”, “Cantarolando” e “MCine”). Com o fim das operações do canal no Brasil foi para a produtora Canal Azul. Neste ano, Astiz dirigiu em parceria com Lawrence Wahba a série “Biota”, exibida em junho últi mo na TV Cultura. O curta-metragista Marcos Fábio Katudjian, diretor de “Artigo 25” (1995) e “Ano Novo” (1999), trocou as câme ras pelas letras. Em final de agosto, lançou o romance “Snuff movie - Depois do Fim do Mundo”, pela editora Casa Amarela. O livro conta a história de um jovem que se envolve numa qua drilha que produz os snuffmovies, filmes pornográficos que mostram assassinatos reais, encomendados por milionários. Os diretores José Eduardo Belmonte (DF), Flavio Frede rico (SP), Eduard o Nunes (RJ), Camilo Cavalcante (PE) e Gust av o Spolidoro (RS) lançaram em agosto o projeto do longa “Fuga #”, que terá direção conjunta e produção da cario ca Moema Müller. O filme é sobre um personagem que acorda sempre num lugar diferente, para viver uma nova realidade.
entrevista
Os primeiros passos do CCS
D
José Paulo Cavalcanti,
Durante breve visita ao Rio de Janeiro para uma palestra, o pre sidente do recém-criado Conselho de Comunicação Social (CCS), José Paulo Cavalcanti, conversou com Tela Viva sobre os desa fios do setor de audiovisual brasileiro e o início dos trabalhos do CCS. Diplomático, ele espera convergir as posições dos conselhei ros, estreitar os laços com as comissões técnicas do Congresso e lutar para institucionalizar o mais rápido possível a atuação do órgão. As duas principais bandeiras do conselho para este primei ro ano de trabalho já foram levantadas: regionalização da produ ção e digitalização dos meios. “Vamos nos concentrar nestes dois temas, pois não seria bom dispersar a discussão por enquanto”, afirmou. Sobre a escolha do padrão de TV digital, Cavalcanti revelou que o CCS estudará também o modelo chinês, além dos já tão comentados modelos americano, europeu e japonês. Tela Viva: A lei que determinou a criação do Conselho de Comunicação Social (CCS) data de 11 anos atrás, mas ele só foi implementado recentemente. Qual foi o moti vo desse atraso? José Paulo Cavalcanti: Há duas versões: a pessimista
presidente do Conselho de Comunicação Social, conta como funcionará o órgão, criado com 11 anos de atraso.
dos meios de comunicação ou que teria havido receio do Congresso em legislar. A otimista sugere que não era o momento próprio e que o momento seria agora. Eu, como sou otimista, fico com a segunda opção.
e a otimista. A primeira sugere que teria havido pressão
TV O mandato dos atuais conselheiros se encerra em março de 2003, ou seja, menos de um ano após eles terem tomado posse e, portanto, contra riando o que prevê a lei. O CCS pretende tomar alguma provi dência para que a lei seja cumprida? JPC Até outubro o Congresso não funciona bem, por causa das eleições.
A intenção é tratar dessa matéria a partir de outubro. TV Já foram realizadas três reuniões do CCS. Como o senhor ava lia o andamento dos trabalhos até agora? JPC Avalio com a convicção de que o primeiro passo é mais da metade
do caminho. A idéia é institucionalizar o CCS e prepará-lo para que esteja à altura das altas responsabilidades que o esperam.
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TV Foram criadas duas comissões no âmbito do CCS: uma para discutir a regionalização da pro dução e outra, a digitalização dos meios. O senhor poderia explicar a importância des ses dois temas? Foto: BGPress
fernandopaiva
do Rio de Janeiro fernando.paiva@teletime.com.br
JPC No caso da comissão que estuda a
regionalização, o debate irá além deste ponto, pois envolverá também questões como a das rádios comunitárias e da reno vação das concessões. A garantia de um mínimo de regionalização é fundamental para a afirmação de uma cultura brasilei ra. A digitalização dos meios é um tema igualmente importante. Já recebemos, por sinal, uma recomendação do Congresso para produzir estudos a este respeito. Há três possibilidades de padrões a serem adotados: o americano, o japonês e o euro peu. Mas nós entendemos que há uma quarta opção: o modelo chinês, chamado DMB. Mas, antes de nos decidirmos, será preciso examinar as possibilidades de con vergência digital e de interação de tecno logias digitais, como Internet e outras pla taformas. E, quem sabe, pensar em uma plataforma única. Ademais, essa escolha tecnológica deve levar em conta o impacto econômico. O Brasil precisa de emprego e renda. Portanto, devemos escolher um padrão que permita que todos os equipa mentos sejam fabricados no País. Eu não posso aceitar que precisemos novamente importar televisões de Taiwan produzidas por alguma subsidiária americana. TV Quais são as vantagens do mode lo chinês? JPC Antes de mais nada, vale lembrar que
a televisão chinesa está bastante desenvol vida: tem uma malha de 70,1 mil transmis soras e retransmissoras; uma cobertura de 92,5% da população; e milhões de assinantes de TV a cabo. Desde 1996 há grupos de pesquisa na China estudando a TV digital. A primeira transmissão em circuito fechado de HDTV foi realizada em setembro de 1998. E o primeiro teste de broadcast de HDTV aconteceu em outubro de 1999. Em 2000, zonas de teste foram montadas pelo governo para trans missão nas três maiores cidades. Depois
de analisar os sistemas existentes, os chi neses perceberam que poderiam desenvol ver um sistema próprio. Seria um sistema melhor que os demais, que contemplasse transmissão de multimídia, recepção por terminais móveis; e integração com redes celulares GSM. TV As primeiras reuniões das duas comissões já apontam possíveis caminhos para estas discussões? JPC Por enquanto as primeiras reuniões
apontam apenas para um estilo de traba lho. Um estilo no qual não se abre mão das diversas posições dos conselheiros, mas se compreende a necessidade da busca pela convergência. Não haverá decisões parciais. Enquanto eu estiver ali, vamos buscar sempre a convergência. TV Existe previsão de criação de outras comissões? JPC No que depender de mim, vamos
nos concentrar em poucas coisas neste começo. Daremos passos curtos, mas segu ros. Institucionalizar o CCS, por exemplo, demanda um grande esforço. TV Como será o relacionamento do CCS com comissões do Congresso, como a de Ciência e Tecnologia? JPC Excelente. Vou tentar transformá-lo
em um relacionamento íntimo! Temos que trabalhar juntos. TV Qual é a sua visão a respeito do setor de radiodifusão do País? JPC Está na hora de nos sentarmos
para redefinir esse sistema. Em primei ro lugar, acredito que o fenômeno das rádios comunitárias não pode ser ignora do. A legislação e a burocracia do setor de rádio são incompatíveis: o Minicom só consegue atender a mil solicitações por mês, mas há oito mil pendentes. Outro ponto interessante: o interior do
“Vamos nos concentrar em poucas coisas neste começo. Daremos passos curtos, mas seguros.”
Brasil está cheio de rádios sem qual quer operário. Será que queremos rádios assim, em um país que precisa gerar mais emprego e mais renda? E não há qualquer compromisso das rádios com a regionalização. Algumas não têm nem locutor. Portanto, outra questão que estu daremos será a respeito do mínimo de regionalização a ser exigida. Quanto ao segmento das TVs, nos preo cupa a crise pela qual as televisões bra sileiras estão passando. Elas perderam 18% do seu faturamento no ano passado. Em dólar, perderam 25%. A entrada do capital estrangeiro talvez recupere parte dessas perdas, mas o apoio de grandes cor porações de outros países precisa ter uma contrapartida de interesse coletivo. TV O senhor acredita que a proprie dade no setor de TV está demasiada mente concentrada? JPC Eu acho que no mundo todo esta
mos caminhando para uma concentração absurdamente alta. Isso não é opinião, é constatação. TV E isso é maléfico? JPC Quando você constata, sua opinião
não vale nada. Claro que se eu pudesse construir tudo de novo do zero não iria construir assim. TV Como o senhor vê o aumento do número de TVs e rádios sob proprie dade de igrejas? JPC Isso acontece no mundo todo. Não é
um problema local. TV Fala-se muito em rádios comuni tárias. Existe a possibilidade de se criar TVs comunitárias? JPC Sim. A questão é qual modelo deve
mos seguir. No modelo americano, as TVs são públicas e não deixam de ser comu nitárias por causa disso. Eu proponho que discutamos o modelo a partir das nossas carências, nossa realidade. Se nos preocuparmos apenas em reprodu zir experiências de outros países, ficare
>>
“uma das questões que estudaremos será a respeito mos ainda mais dependentes e pobres. TV Como poderia ser o modelo brasileiro? JPC É preciso reconhecer as nossas
carências, como educação e emprego. O modelo deve ser de uma TV mais bra sileira e mais educativa, sem perder de vista a competição internacional. TV Há canais que conseguem mesclar uma programação inte ligente e lucro: a BBC por exem plo. JPC Pois é... mas o programa mais pres
tigiado da BBC ou da National Geogra
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do mínimo de regionalização a ser exigida” phic não compete com “Roletrando”! TV Como o senhor avalia o setor de TV por assinatura no Brasil? JPC É um setor em crise. O Minicom
havia dimensionado o mercado em 5,6 milhões de assinantes. As corporações foram ainda mais otimistas e estimaram em seis milhões. Na prática, o número parou em 3,6 milhões. E não sobe. TV Com o aumento da exibição de violência e pornografia em horá rios acessíveis a crianças, voltou à tona, nos últimos anos, a dis cussão acerca da possibilidade de se estabelecer algum tipo de censura na programação. O que o senhor pensa a esse respeito? JPC A minha posição é de que a violên
cia ficcional não produz uma sociedade mais violenta. O telespectador tem um código íntimo que o faz compreender que “Tom & Jerry” ou um bangbang têm uma dimensão lúdica. O
problema é quando a televisão reproduz uma sociedade que é violenta. A televisão é sobretudo espelho de uma sociedade violenta. TV O programa do Ratinho exi biu, em horário nobre, as cenas daquele pediatra pedófilo estu prando seus pacientes... JPC Essa é uma violência que ofende.
Admito que a questão da censura está em aberto, mas, a princípio, eu preferiria seguir outro caminho para resolver o pro blema, como, por exemplo, aumentar o nível da educação escolar. TV Qual foi a cena mais violenta que o senhor já viu na TV? JPC A cena não tinha sangue. Eram pes
soas fechando as portas de casas e lojas na Tijuca, Rio de Janeiro. Aparecia então um policial dizendo: “Pode deixar aberto que eu garanto”. Mas as pessoas fechavam assim mesmo, na cara do policial. Era a representação do medo.
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Cinema sob a As diferenças tecnológicas entre as câmeras para cinema digital presentes no mercado.
O
O Brasil começa a conhecer o futuro do cinema digi tal. Aos poucos, a mais recente geração de câmeras de alta definição chega ao País. Durante a Broadcast & Cable, realizada em São Paulo no início de agosto, a Panasonic apresentou a AJ-HDC27F e, antes do final do ano, está prevista a vinda de uma câmera Viper FilmStream, da Thomson, para demonstração. Ao mesmo tempo, a câmera HDW-F900, da Sony, está sendo utilizada na produção do próximo filme da apresentadora e dublê de atriz Xuxa, com lançamento previsto para o mês de dezembro — a mesma câmera foi usada em “Xuxa e os Duendes”, arrasa-quarteirão da rainha dos baixinhos lançado no verão passado. O cinema brasileiro entra, assim, na alça de mira da tecnologia futu rista. As novidades são quentes: a Viper, por exemplo, foi lançada na última NAB e, até agora, manuseada por pou cos mortais — Mr. George Lucas, arauto do cinema digital, está apenas começando a testá-la. É muito cedo para qualquer previsão sobre o que essas novas tecnologias significarão para o cinema do País — são equipa mentos caríssimos, com uso ainda restrito a produções com muito dinheiro e repletas de efeitos especiais, carac terísticas que são exce ção na cinematografia doméstica. Porém, não custa nada analisar os conceitos que estão por trás dessas novas tecnologias, por vários motivos. Primeiro, porque a cap tação de imagem é a última fronteira a
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A Viper FilmStream, da Thomson, deve chegar ao País até o fim do ano.
ser conquistada pela via digital no mundo da “realização cinematográfica como a conhecíamos” — aquela que, depois do advento do som e da película em cores, passou por poucas transformações radicais durante uns 50 anos. Segundo, porque, justamente por isso, as baterias do exército digital vão se concentrar com todas as forças, nos próximos anos, em conquistar essas fronteiras. Terceiro, porque os avanços nessa área costumam ser fulminantes — o exemplo mais óbvio é o que aconteceu com o som em cinema e com os processos de edição nos últimos dez anos. Quarto, porque a via digital começa a extrapolar a realização cinematográfica e avança rumo a uma transformação das etapas de distribuição e exibição. Finalmente, por que os conceitos em que hoje se baseiam esses caríssi mos equipamentos poderão chegar a custos ao alcance do bolso — a exemplo do que ocorre com as ferramen tas de áudio e edição. adrão HD P O padrão internacional para HD digital, adotado em 1999, é de 1920 x 1080 linhas de resolução, com aspec to de tela widescreen 16:9. O que pode variar é a frame rate, respeitando as diferenças regionais entre 50 Hz (25 quadros por segundo, como no sistema PAL) ou 60 Hz (30 quadros por segundo, como nos sistemas NTSC e PAL-M). Uma das grandes novidades tecnológicas que possibilitaram o surgimento de câmeras digitais volta das para o uso em cinema foi o desenvolvimento do escaneamento progressivo de imagem, com captação a 24 fps, a velocidade padrão para projeção em cinema. A maioria das câmeras de vídeo trabalha com entre laçamento de imagens — cada frame corresponde, na verdade, a duas imagens sobrepostas. Assim, uma cena capturada a 30 fps (frames por segundo) con tém 60 imagens entrelaçadas (60i) em um segundo,
Fotos: divulgação
óptica digital pauloboccato
paulo@telaviva.com.br
o que é um grande complicador para o processo de transferência para pelícu la. Nesses casos, a parte do processo de transfer (passagem de digital para filme) na qual ocorre a eliminação de fotogramas, faz a redução de 60 fps — e não 30 fps — para 24 quadros por segun do. O entrelace também explica grande parte dos artefatos que podem surgir numa imagem convertida de vídeo para película. Com o escaneamento progressivo, quesito fundamental das câmeras HD, esse problema desaparece, já que cada frame corresponde à totalidade da ima gem. Se a câmera opera a 24p, não há necessidade de conversão durante o pro cesso de transferência; por outro lado, operando a 30p, a redução se restringe a seis frames por segundo, sem risco do aparecimento de artefatos. Entre as citadas, a grande novidade conceitual vem da Viper FilmStream LDK-5490/00, câmera fabricada pela francesa Thomson Multimedia, empre sa que recentemente comprou o grupo norte-americano Grass Valley. Com três CCDs de 9,2 megapixels cada, num total de 27,6 milhões de pixels, a câmera traba lha sem compressão da imagem (4:4:4), for necendo um stream puro e sem nenhum processo adicionado. A idéia é operar como uma câmera de cinema 35 mm, evitando as correções e manipulações de detalhe, gama, matriz e outros processos comuns no vídeo tradicional. Assim, as imagens são captadas na forma eletrônica com as mesmas características daquelas captadas em película, prescindindo de qualquer tipo de filtragem e capturando cada bit de informação que uma deter minada cena tem a oferecer. O material bruto é armazenado em hard disk ou em gravadores D6 da Thomson, usando um
dual HD-SDI Link como carrier, a uma taxa de dados de 2,978 Gbps — o que significa que a Viper não funciona como camcorder, ou seja, os sistemas de captu ra e gravação da imagem não estão agrupa dos em um mesmo equipamento. Já que nenhuma informação é perdida durante a captação, as ferramentas de pósprodução são capazes de reconhecer cada um dos fótons que compõem a imagem armazenada em disco — exatamente como cada um dos grãos do negativo fílmico reage quando exposto à luz. Assim, é pos sível manipular uma determinada cena de diversas maneiras do mesmo modo que se trabalha com película, com todas as corre ções feitas na pós-produção.
True-film-like Em resumo, durante a captação, o dire tor de fotografia deve se preocupar ape nas com enquadramento e exposição de íris, deixando os demais settings para o ambiente de pós-produção. Não se ajusta gamma, detail, knee, matriz e nenhum outro parâmetro. Esses ajustes, irrever síveis, estão presentes nas câmeras de vídeo tradicionais porque são necessários para exibição nesse formato, mas muitas vezes dispensáveis quando a produção se destina ao transfer para cinema — as respostas que o vídeo oferece normal mente se perdem durante esse processo, onde as características da imagem são bastante transformadas. O único ajuste feito durante a captação com a Viper é justamente o que pode influir na hora da transferência: o de curva log Cineon para simulação de resposta em película. A Viper é cambiável para vários for matos: 1920 x 1080p (23,98; 24; 25; 29,97 e 30 fps — formatos de A câmera da Thomson trabalha como se fosse saída psf — e 23,98 fps, com uma 35 mm, com um stream puro para o servidor.
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A Sony HDW-F900 é a única camcorder e conta com um cartão que grava todos os settings.
pull down 3:2 interno disponível como 1080i59,94), 1920 x 1080i (50; 59,94 e 60 Hz) e 1280 x 720p (23,98; 24; 25; 29,97 e 30 fps, com repetição interna de frames dis ponível como 59,94; 60; 50; 59,94 e 60 Hz respectivamente, e 50; 59,94 e 60 fps). A câmera também tem um obturador mecâni co para evitar o efeito “smear”. Este último permite a realização de slow motion em relação a 24/25/30p, com uma velocidade duas vezes mais lenta. Como os filmes mui tas vezes são feitos em aspectos ainda mais largos do que o standard widescreen 16:9, a câmera Viper também oferece relações de aspectos de tela até 2,67:1, sem compromis so com a resolução vertical. Os aspectos mais largos são formados pela combinação de menos pixels por linha, mas o núme ro de linhas totais permanece o mesmo, mantendo-se a mesma resolução. Assim, três pixels são combinados resultando em 1440 linhas — ao usar 1080 linhas ativas,
glossário 1080i Resolução da HDTV, corresponde a 1080 linhas horizontais entrelaçadas 24p Captação a 24 quadros por segundo, com varredura progressiva 60i Captação a 60 quadros por segundo, com varredura entrelaçada 720p Resolução da HDTV, corresponde a 720 linhas horizontais progressivas Aspecto Proporção entre a largura e a altura de uma tela. A convencional é 4:3. Na TV digital e no cinema usa-se o aspecto widescreen, na proporção 16:9 CCD Charge Coupled Device. Chip sensível à luz que converte imagens em sinais elétricos fps
Frames (quadros) por segundo
Gbps Gigabits por segundo Frame Número de imagens que aparecem rate por segundo num vídeo, medido em fps
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pode-se trabalhar em aspecto de tela 2,37:1 e, no caso de 720 linhas ativas, em 2,67:1. Os sinais da Viper são capturados, desde o puro black até a saturação de CCD, com conversores de 12-bit A/D, sendo depois convertidos para dados RGB através de cálcu los logarítmicos. Esses cálculos possibilitam uma saída “true-film-like”, com gama dinâmica completa em cada CCD (vermelho, verde e azul). Em pósproduções robustas, o conteúdo da Viper pode ser processado em sistema Specter Virtual DataCine, da mesma maneira que os filmes escaneados para resolução 2K. Os usuários podem configurar a saída para o sistema Specter de qualquer formato de vídeo SD ou HD, a qualquer frame rate. O sistema também provê um deriva tivo de dados 2K para transferência para película. Frame rate variável A nova câmera da Panasonic, AJ-HDC27F Varicam, traz novos conceitos para as câmeras de alta definição fabricadas pela empresa japonesa: a possibilidade de tra balhar com velocidades variáveis step por step, de quatro a 60 frames por segundo — um recurso semelhante ao disponí vel em muitas câmeras cinematográficas — e a inclusão modo de captura Cine Frame rotaveldo variável Gamma, que permite ao diretor de fotogra fia emular curvas de gama semelhantes às da película. A câmera é projetada para uso misto, em broadcast e cinema, e sua velocidade variável permite trabalhar efei tos de fast motion e slow motion em alta definição. A Varicam é uma câmera nativa 720p, mas suas imagens podem ser convertidas para 1080/24p ou 1080/60i, bem como para sistemas NTSC ou PAL. Isso porque, para conseguir os efeitos de variação de velocidade, as informações precisam ser captadas com escaneamento progressivo, para evitar ruídos, como artefatos, no momento da reprodução. A captação pode ser feita em 33 diferentes frames rates, selecionados step por step entre quatro e 33 fps, além das taxas de 36, 40 e 60 fps; mas as imagens são gravadas sempre a 60 fps, o que permite edição offline em VTRs
HD convencionais. O software desenvol vido marca os chamados “active frame frags” na fita gravada a 60 fps. Por exem plo, se a câmera opera a 30 fps, cada novo frame é gravado duas vezes; operando a 24 fps, é utilizada a taxa de conversão 3:2 (um frame gravado três vezes e o seguinte gravado duas vezes). Essa técnica gera, portanto, frames redundantes registrados diretamente na fita. As imagens devem passar por um recor der (AJ-HD150 VTR) para serem carre gadas em um equipamento denominado
A AJ-HDC27F, da Panasonic: captação em até 33 frame rates diferentes.
AJ-FRC27 Frame Rate Converter, que reconhece os “frags” e armazena as infor mações em um hard disk, necessárias para se obter os efeitos de fast motion ou slow motion desejados. Após essa passagem, o material retorna para o recorder, resul tando em materiais 720/24p com “frags” marcados em 60p. A partir daí, podem ser carregados em uma ilha não-linear para edi ção offline, diretamente através do recor der próprio ou com passagem por um VTR DVCPro convencional (nessa etapa, é feito o “downconvert” para NTSC), de onde o editor tira uma EDL (Edit Decision List) já com todas as marcações de variações de velocidade necessárias para a finalização. O mesmo material intermediário (720/24p over 60p) passa por uma conversão de for mato para 1080/24p, que pode ser feito no próprio Frame Rate Converter ou no AJUFC1800 (Universal Format Converter), resultando em uma fita D5 para a edição
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N達o disponivel
online, onde também entra em ação o disquete com a EDL resultante do processo de offline. A Varicam também é capaz de emu lar a performance da imagem para um eventual transfer para película, através do recurso do Cine Gamma. Essa função aumenta o range dinâmico da câmera, especialmente em áreas tradicionalmen te limitadas, como nas altas luzes e nas áreas de sombra. O triplo papel desempe nhado pela Varicam (24 fps — para cine ma; 60 fps — para vídeo convencional; frame rate variável — para efeitos especiais) e sua múltipla capacidade de conversão de formatos e velocidades de reprodução na pós-produção deve torná-la bastante requisitada como substituto de câmeras 16 mm e 35 mm na produção de comerciais e video clipes. A Panasonic também se prepara para lançar a primeira câmera mini-DV de 3 CCDs a 24p e formato 16:9, a AGDX100, que deve custar em torno de US$ 4 mil.
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A Sony HDW-F900 é a camcorder HD mais utilizada em cinema digital e pioneira na capacidade de gravação/playback em 1080 linhas de resolução a 24p/25p/30p ou 50i/60i. Essa câmera emprega CCDs de 2,2 milhões de pixels e foi desenhada espe cificamente para cinema digital e produção em HD/SDTV. O modelo foi utilizado para o filme “O Ataque dos Clones”, de George Lucas, mas não inteiramente como camcor der — em algumas situações, a câmera foi acoplada a um deck externo para eliminar a compressão. Um de seus recursos mais importantes é o Memory Stick, que elimina a necessidade de fazer vários set-ups quan do se utiliza mais de uma câmera para a mesma cena. O Memory Stick também per mite que, uma vez definido o set-up para um filme, este possa ser enviado via Inter net para a configuração de outras câmeras HDW-F900. Praticidade A câmera, na verdade, é a ponta de um conceito que a Sony batiza de CineAlta, que inclui uma linha de produtos que faz a ponte entre cinematografia e tecnologia
digital em alta definição. A idéia é aliar praticidade, prescindindo da utilização de decks externos, à versatilidade do sinal eletrônico característico do vídeo e à quali dade próxima à da película. A HDW-F900 busca inserção no nicho de mercado onde o processamento de imagens na pós-produ ção é essencial. Um exemplo são as produ ções que incluem muitos efeitos especiais; nesses casos, o uso da câmera HD barateia custos ao propiciar a avaliação da imagem em alta definição em real time, no próprio set de filmagens, além de mais de 400 dife rentes opções de ajustes e capacidade de gravação de até 50 minutos por fita BCT40HD (a 24p; para 60i, o tempo de fita é de 40 minutos). Além disso, a sensibilida de do CCD, quando a câmera é operada a 24 fps com velocidade do obturador em 1/48 segundos (equivalente a 180 1?4 em câmeras de cinema), possibilita um índice de exposição próximo de 300 ASA, permitindo registrar imagens em áreas de pouca luz. No esquema de compressão das câmeras HD da Sony, cada frame do sinal é tratado indivi dualmente, numa taxa de 4:4:1, com transfe rência de dados a 185 Mb/s a 60i.
N達o disponivel
N達o disponivel
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equipamentos
Baterias nota dez
A
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A bateria é um acessório de câme cionamento é de 11 volts, por exem ra que pode facilitar ou arruinar plo, a capacidade total da bateria uma gravação. Qual é o tipo mais nunca será utilizada pois sua vol adequado? Como evitar o “efeito tagem mínima (10 volts) é menor memória”? Qual é a voltagem que a do equipamento (11 volts). apropriada? Diversas são as dúvi Quando a bateria atingir uma volta das ao escolher uma bateria para gem menor que 11 volts, a câmera uso profissional. Mas, antes de se desligará e não utilizará 100% esclarecer estas dúvidas, o usuá da capacidade da bateria. Assim, rio deve responder a questões a bateria continua com a sua capa relativas às suas próprias neces cidade total inalterada, mas não sidades e hábitos de gravação. é o tipo mais adequado para essa Por exemplo: durante as grava câmera. ções, qual será a média de tempo A solução seria o uso de uma bate de utilização da câmera? Deve-se Cuidados na escolha e ria com voltagem mínima igual ou considerar também a utilização de superior a 11 volts. A incompatibi recursos como o zoom ou a repro manutenção garantem lidade de voltagem entre a câmera dução de cenas já gravadas no e a bateria é um dos fatos que a preservação da vida visor (viewfinder), pois todos esses normalmente são associados ao recursos consomem mais energia útil deste caro acessório. “efeito memória”, percebido nas e implicam diretamente no tempo baterias do tipo NiCd. de duração da bateria durante uma A denominação “efeito memória” gravação. está errada, pois o fato não está A primeira etapa para a definição do tipo de bateria ligado a uma “memória”, mas sim à correta voltagem de a ser utilizada é descobrir a voltagem da câmera à qual uma bateria para uma determinada câmera. O nome ade ela será acoplada. Esse valor, que na realidade não é um quado, portanto, é depressão de voltagem. único número e sim uma faixa de variação com volta Um outro fato também denominado de forma errada gem mínima e máxima, é chamado de taxa de voltagem como “efeito memória” é a transformação do NiCd num nominal. Uma câmera cuja voltagem nominal é de 12 metal secundário, o que ocorre devido à sobrecarga da volts, por exemplo, funciona se receber energia numa bateria. Quando uma bateria do tipo NiCd totalmente voltagem entre 11 e 17 volts. Com menos de 11 volts, carregada permanece no carregador, ela continua rece ela pára de funcionar e, com mais de 17, podem ocorrer bendo uma pequena carga para evitar o autodescarrega danos na câmera. mento. A próxima etapa é identificar qual bateria oferece Após um período, essa carga pode transformar porções uma variação de voltagem suficiente para atender suas de níquel-cádmio num metal secundário. Enquanto uma necessidades. No exemplo acima, uma bateria com volta NiCd normal tem voltagem nominal de 1,2 volts por célu gem nominal de 14 ou 14,4 volts seria o ideal, uma vez la, esse metal secundário apresenta uma taxa nominal de que sua variação está entre 12 e 17 volts (veja a Tabela aproximadamente 1,08 volts por célula. Uma bateria com 1). Uma bateria de 12 volts, por sua vez, não poderia ser voltagem nominal de 12 volts (dez células) que foi sobre utilizada, pois seu limite mínimo de voltagem é 10 volts. carregada apresenta parte de sua estrutura inalterada (12 volts) e uma outra parte com porções do metal resultante O mito do “efeito memória” da transformação (10,8 volts). O limite mínimo de voltagem da bateria é chamado de Quando essa bateria for ligada a uma câmera que EODV (End Of Discharge Voltage). Se uma bateria de necessite voltagem mínima de 11 volts, por exemplo, ela NiCd (níquel-cádmio) com uma taxa nominal de 12 volts funcionará bem durante o tempo em que a primeira parte for ligada a uma câmera cuja voltagem mínima para fun da carga (12 volts) for consumida. Quando o equipamen
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Ilustração: Claudia GIP a partir de fotos de divulgação
emersoncalvente telaviva@telaviva.com.br
to tentar utilizar a segunda parte (altera da para 10,8 volts), ele se desligará, pois sua voltagem mínima necessária é maior que a presente na bateria. O “efeito memória” gerou o mito de que as baterias precisam ser totalmen te descarregadas antes que seja feito um novo carregamento. A porção da bateria que foi alterada (10,8 volts) per manecerá dessa maneira, não podendo ser descarregada sem que seja ligada a um equipamento com voltagem mínima menor ou igual a ela. Capacidade A capacidade de uma bateria é a quan tidade de energia que ela pode oferecer quando totalmente carregada, grandeza medida em watts hora. Segundo o Video Battery Handbook, da Anton Bauer, um guia distribuído desde 1993, o período de tempo ideal para a duração de uma bateria é de duas horas. Para escolher um modelo que consiga fornecer energia durante esse tempo, o usuário deverá saber qual é a quantidade de watts consu mida pela câmera na qual ela será ligada.
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Tabela 1 A variação de voltagem
Taxa nominal 12 volts 13 ou 13,2 volts 14 ou 14,4 volts
Variação 10 a 14 volts 11 a 15,5 volts 12 a 17 volts
Fonte: Video Battery Handbook, da Anton Bauer
Tabela 2 A relação watt hora x peso
Tipo de bateria NiCd NiMh Li-Ion
W x h x kg 25 40 150
Fonte: Ricardo Kauffmann e Thais Nascimento, da Techkit
Comparação técnica dos modelos Marca
Se o equipamento consumir 20 watts, a bateria deverá ter capa cidade mínima de 40 watts (2 horas x 20 w). Segundo Ricardo Kauff mann, engenheiro e diretor da Techkit, única distribuido ra autorizada dos produtos da IDX System Technology no Bra sil, “uma camcorder digital ou analógica consome em modo de gravação contínuo, sem movi mentar a zoom, cerca de 25 watts em uma hora”. Toman do-se como exemplo uma grava ção externa com seis horas de duração, o usuário precisaria de 6 kg de baterias do tipo NiCd, 4 kg do tipo NiMh ou apenas 1 kg de Li-Ion (veja a Tabela 2).
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mas, desde julho de 2002, a Sony Corporation deixou de fabricá-lo. Isso se deve a seus principais elementos serem agressores da natureza após sua inutilização. Esta descontinuidade já estava preestabelecida junto ao crono grama da norma ISO 14001, na qual a Sony do Brasil é certificada desde 2001. “Em substituição a este modelo, a Sony indica as baterias das famílias BP-L e BP-M”, completa Fabichak. As baterias de NiMh têm prati camente o mesmo peso das do tipo NiCd, com a vantagem de armazena rem mais energia em cada célula que compõe sua estrutura. Apresentam a mesma taxa de voltagem por célu la (1,2 volts), mas a quantidade de watts (potência) é em média 20% maior. Toleram mudanças de tem peratura e agridem menos o meioambiente, custando um pouco mais que as baterias do tipo NiCd. Fonte: Ricardo Kauffmann e Thais Nascimento, da Techkit As baterias de íon de lítio, mais leves que as demais, têm a menor limitações que as tornam inviáveis. taxa de autodescarregamento, aproxima Leves e com longo tempo de duração, a damente 10% por mês. Fabichak garante vida útil das baterias NiCd é maior que que “as baterias de Li-Ion normalmente a de qualquer outro tipo de bateria. são as preferidas dos proprietários de As baterias de níquel-hidreto metá câmera. Estas oferecem aproximadamen lico e de íon de lítio podem oferecer te o dobro da capacidade de uma bateria o mesmo tempo de duração ou mais, NiMh com o mesmo tamanho físico”. Não mas com altos custos de operação e são suscetíveis ao fenômeno da depressão vida útil menor. de voltagem e são recarregadas mais rapi Apesar de ser uma ótima opção, as bate damente, em torno de uma hora. No entan rias NiCd apresentam algumas desvan to, são mais caras que as outras. tagens, como o fenômeno da depressão Kauffmann, da Techkit, discute a ques de voltagem. Para evitar esse fenômeno, tão com propriedade: “A opção por bate o usuário deve tomar alguns cuidados rias a base de íon de lítio deveria ser a como não sobrecarregar a bateria ou da maioria, pois apesar de serem as mais descarregá-la completamente. Não se caras na hora da compra, elas se revelam deve colocar uma bateria que foi desen como a melhor e mais econômica das esco volvida para ser carregada de maneira lhas, pois são mais leves e geram muito gradual (geralmente 12 horas) num mais energia. carregador rápido, que reduz o tempo de duração da carga. Seu desempenho Carregadores também é afetado em temperaturas Após escolher o tipo de bateria mais ade extremas. No frio, elas trabalham mais quada para determinada câmera, um fator lentamente. Quando aquecidas, podem decisivo para o bom desempenho da bateria não aceitar carregamento total. é a escolha correta do carregador. Uma deci Segundo Luis Fabichak, chefe de são errada poderá causar danos significati marketing da Sony do Brasil, “as bate vos à vida útil da bateria e ao seu desempe rias de NiCd provavelmente são as nho. Não é recomendado utilizar baterias e mais comuns no mercado”. O modelo carregadores de tipos diferentes. mais conhecido da Sony é o NP-1B, Segundo Ricardo Kauffmann, se um Voltagem Watts
Sony
BP-L40 BP-L60 BP-L90 BP-M50 BP-M100 Anton Performer Bauer Trimpac 14 DIG. Trimpac PRO PAC 14 DIG. PRO PAC Hytron 50 Hytron 100 Dionic 80 IDX E-50 E-50S E-80 E-80S Aspen NHP-50 NHP-65
Tipos de baterias Há diversos tipos de baterias, que podem ser diferenciadas quanto à classificação de suas células, do material químico ou de sua formu lação. Para decidir entre um ou outro tipo, o usuário deverá observar alguns fatores como: vida útil, capacidade, compatibilidade com carregadores e custo. Entre os tipos mais utiliza dos estão as baterias de níquel-cád mio (NiCd), níquel-hidreto metálico (NiMh) e íon de lítio (Li-Ion). Há também baterias do tipo Lead-acid/ Gel Cells ou Silver Zink, mas estes dois tipos não são os mais recomendados para câmeras de vídeo. O único atrati vo de uma bateria Lead-acid/Gel Cell é o custo, geralmente mais baixo que o das demais. Porém, sua vida útil é bem menor, o que a torna relativamen te mais cara que uma NiCd, mais leve e menor. Além disso, se não utilizada durante longos períodos de tempo, as baterias do tipo Lead-acid/Gel Cells tendem a perder voltagem, causando danos muitas vezes irreparáveis à sua estrutura. As baterias do tipo Silver Zink, por sua vez, são três vezes mais caras que uma NiCd e o ciclo de vida é 75% mais baixo. Requerem também uma série de procedimentos de operação e impõem
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Descrição
Modelo
14,4 14,4 14,4 13,2 13,2 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4 14,4
43 60 90 49 98 30 45 45 65 65 50 100 80 48 48 82 82 50 65
Peso* Elementos
1,17 1,98 2,87 1,81 3,38 1,87 2,65 2,65 5,07 5,07 1,94 5,51 1,70 1,16 1,10 1,64 1,54 2,00 2,50
Li-Ion Li-Ion Li-Ion NiMh NiMh NiCd NiCd NiCd NiCd NiCd NiMh NiMh Li-Ion Li-Ion Li-Ion Li-Ion Li-Ion NiMh NiMh
Principais cuidados Escolher a bateria adequada à câmera, considerando-se os limites mínimos de voltagem. Carregar adequadamente, não utilizando baterias e carregadores de tipos e mar cas diferentes. A sobrecarga deve ser evitada. Nunca descarregar uma bateria completa mente. Isso poderá ocasionar reversão da polaridade, causando danos irreparáveis à sua constituição. Uma bateria do tipo NiCd descarregada a 0 volts poderá inclu sive explodir. Não expor a bateria ao calor ou carregála até ficar quente. O calor poderá reduzir sua vida útil em até 80%. Evitar choques físicos, como quedas ou toques nos conectores da bateria. Manter as baterias em locais secos e ventilados.
carregador destinado a baterias do tipo NiCd for utilizado para carregar uma bateria de Li-Ion, o número de ciclos de carga e descarga irá diminuir, ou seja, sua vida útil será afetada conside ravelmente. A Anton Bauer recomenda que o usuário não ligue uma bateria a um carregador se ambos não forem do mesmo fabricante: “Isso pode oferecer enormes chances de incompatibilidade e inclusive de operações perigosas”, alerta o manual. A mais recente novidade no merca do de carregadores são os sistemas de carregamento interativos (InterActive battery/ charger systems). A essência desta tecnologia é a criação de um sis tema de carregamento que integra num só equipamento a bateria e o carrega dor, permitindo a interação de ambos. A bateria apresenta diversos sensores eletrônicos que monitoram os parâ metros de carregamento. Dados como voltagem, formulação da célula e capa cidade são inseridos no microprocessa dor integrado ao carregador, que pode
aplicar o melhor método de carregamento para aquela bateria. Nas palavras da pró pria Anton Bauer, criadora desse sistema, “a bateria controla o processador de carga dizendo ao carregador quem ela é e como ela deseja ser alimentada”. Há ainda os carregadores rápidos que têm como objetivo diminuir o longo tempo usual de carregamento, que dura cerca de 12 horas. A Anton Bauer considera ultrapassado o conceito de que as baterias devem ser carregadas de maneira lenta, e aponta o principal motivo: tempo. Car regamentos lentos (que podem chegar a até 16 horas) são impraticáveis na área de vídeo profissional, que necessita de agili dade em todas as atividades. O período de tempo ideal gasto no carregamento de uma bateria deve ser de uma hora. As modernas formulações das baterias NiCd apresentam excelente aceitação a carregamentos cujo tempo de duração é de uma hora. Em car gas lentas, as baterias são mais aquecidas, podendo chegar a temperaturas entre 45ºC e 60ºC. Esse aumento de temperatura pode causar erros fatais, pois o calor é um dos maiores inimigos das baterias.
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tecnologia
A nova máquina de clipes da MTV
A
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A MTV começa a utilizar neste segundo semestre seu novo sistema de exibição automatizada de clipes e comerciais. Desde sua fundação no Brasil, a emissora trabalha com um sistema de exibição digital. Após 11 anos, resolveu trocar o velho Ampex CR255, um sistema robotizado com 250 fitas e quatro VTs, por algo que diminuísse o custo de manuten ção e se adequasse melhor às suas necessidades. Uma das primeiras mudanças aconteceu há um ano e meio, quando a emissora passou a usar um sistema de exibição de comerciais baseado em um servidor Profile, da Grass Valley/Thomson, e no software Digimaster, da 4S. Mas ainda antes, há cerca de dois anos, o diretor técnico e operacional da MTV, Valter Pascotto, já havia começado a trabalhar com a Videodata para implantar um sistema que pudesse automatizar não apenas os breaks comer ciais, mas também a programação de clipes. A experiência com a exibição de comerciais baseada em servidor, a impossibilidade de upgrade no sistema da Ampex e as conversas com a equipe da Videodata direcio navam a opção de Pascotto. Mas foi durante a última NAB que ele se certificou que o sistema com servidores era o melhor caminho. “Além disso, após a feira fui visitar a MTV americana e vi que eles já trabalhavam assim.” Finalmente optaram por montar um sistema misto, baseado em servidores online e, além do offline em VT, uma etapa near-line, com um rack de DVDs robotizado. Para o sistema online foram escolhidos dois servido res Profile PVS 1026 com capacidade de 300 horas de programação cada e que trabalham espelhados, para que haja uma redundância em casos emergenciais. A rotati vidade de clipes na emisso ra é grande, cerca de mil vídeos diferentes são veicu lados todos os meses. Foi isso que pautou a equipe técnica da MTV e a Video data na escolha da capaci dade dos servidores. Deixar parte dos video clipes em servidores ainda soluciona o problema do custo de manutenção do
emissora passa seu arquivo de videoclipes para DVD RAM e usará servidores na exibição de comerciais e clipes.
Ampex CR255, que usa fitas relativamente caras. Opta ram ainda por usar DVDs ao invés de fitas como nearline. Foi escolhido o Rorke Data, um equipamento do tamanho de meio rack para armazenamento de dados baseado em 250 discos de DVD RAM - que tem a mesma capacidade do DVD RW (regravável), mas pode ser apaga do e gravado novamente mais de 100 mil vezes e tem taxa de transferência de 22,16 Mbps, enquanto o RW pode ser regravado cerca de mil vezes e conta com transferência de 11,08 Mbps. O offline continua em fitas reproduzidas em VTs “carregados” manualmente. As necessidades da emissora, um estudo da programa ção e o fluxo de trabalho (incluindo o número de funcioná
Servidor Profile e torres de DVD RAM: acesso rápido
Fotos: divulgação
fernandolauterjung fernando@telaviva.com.br
Software da Harris faz o gerenciamento da exibição e envia informações para cobrança e direitos autorais.
rios disponíveis na área de exibição e em quais horários) foram os fatores levados em conta na escolha de todos os equipa mentos. Mas isso de nada serviria sem a automação desse fluxo. Era necessário automatizar, ao mes mo tempo, três programações diferen tes. Isso porque os sinais de São Paulo, do Rio de Janeiro e nacional são todos gerados em São Paulo. Como nem sempre a programação é a mesma,
principalmente no que se refere aos breaks comerciais, são necessários três sinais distintos. Além disso, os servidores precisam “conversar” com os DVDs para buscar a parte da programação que ainda não está em seus hard disks. Para administrar a programação, então, será usado o software Harris Automation Solution, já programado para não permitir concorrência entre comerciais (veiculação seqüencial de comerciais de duas marcas concorren tes) e repetição de videoclipes (dois cli pes de um mesmo artista). Além disso, o sistema cria um log (registro) dos comer ciais veiculados, para o departamento de cobrança da emissora, e outro dos clipes veiculados, enviado à administra ção de direitos autorais. Cada vez que a programação é estipu lada ou alterada, o sistema busca o que ainda não está no servidor nos DVDs RAM. Para isso, a Harris Automation Solution conversa com o software Strea Mine, da própria Rorke Data, que admi
nistra o conteúdo nos DVDs RAM. Parceria Segundo Valter Pascotto, a MTV inves tiu US$ 600 mil FOB para montar o novo sistema, que deve chegar em outu bro e entrar em funcionamento efetivo até o final do ano. A parceria entre a equipe técnica da MTV e a Videodata foi fundamental para o desenrolar do projeto. “Não foi apenas uma venda de equipamentos”, diz Leonel da Luz, gerente de marketing e vendas da Videodata. “Acompanhamos todo o fluxo do trabalho da equipe de exibição. O número de funcionários, a logística etc. Assim pudemos desenvolver juntos a melhor solução para a rede”, completa. A garantia de upgrade não foi deixada de fora. Para mudar todo o sistema para HD, basta trocar o encoder e o decoder do servidor. Isso era fundamental, porque “é um momento difícil para se investir em tecnologia, principalmente porque ainda não sabemos quando o HD pode fazer falta”, conclui Pascotto.
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broadcast
Como entrarão os dólares?
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Minicom finaliza projeto que define de que maneira o capital estrangeiro poderá
epois da TV digital, o assunto que mais tem preocupado os D entrar nas empresas de comunicação. radiodifusores brasileiros é a entrada do capital estrangeiro nas empresas de comunicação. O Minicom fez a sua parte e preparou o projeto de lei que regulamenta tante do artigo 28 do Decreto 52.795/63, que o parágrafo 4º do artigo 222 da Constitui foi resgatado na minuta colocada em consulta ção, definindo regras para a entrada do pública. Mas a medida não foi bem digerida capital estrangeiro nas empresas jornalís pelas empresas. Para a Abril, a aprovação ticas e de radiodifusão. Depois de subprévia de diretores e gerentes é uma exigência meter o projeto ao crivo dos interessados “retrógrada e burocrática”, e o Minicom deve através de consulta pública, o ministro ria apenas exigir uma comunicação, com com Juarez Quadros cumpre a promessa feita provações de nacionalidade, que poderiam ser aos radiodifusores e ainda em setembro verificadas pelo ministério a qualquer momen envia o projeto à Casa Civil, que é res to. Esta sugestão também foi defendida pela ponsável por enviá-lo ao Congresso. A Bandeirantes, que alegou que a implantação questão agora é saber se após o resultado da TV digital criará uma grande demanda por das eleições, com parte dos parlamentares funcionários estrangeiros. A Abert chegou a não reeleitos, haverá tempo e disposição sugerir que a aprovação prévia se restringisse política para que Câmara e Senado apre O ministro Juarez aos diretores estatutários e sócios-gerentes. ciem o projeto ainda este ano. O Minicom preferiu abrir mão da aprovação Quadros enviou o Apesar do tema despertar grande inte prévia e determinar apenas que os nomes de projeto à Casa Civil. Após resse, o número de contribuições não foi diretores e gerentes sejam comunicados. dos mais altos. Das empresas de mídia, a apreciação, Em compensação, as negociações em bolsa apenas Abril e Bandeirantes apresenta só faltará a aprovação do devem mesmo ficar prejudicadas, pois o pro ram comentários. O restante do setor de Congresso. jeto de lei manteve a determinação de que rádio e TV foi representado pela Abert as modificações societárias e transferências (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televi de controle só poderão acontecer com anuência prévia do são). O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF tam Ministério das Comunicações, conforme determinação bém mandou suas considerações. Os demais comentários do artigo 38 da Lei 4.117/62, e terão que ser comunica partiram de pessoas físicas, escritórios de advocacia e uma das ao Congresso Nacional, de acordo com determinação empresa de consultoria. constitucional. Esta talvez tenha sido a maior derrota das No texto final que vai para o Congresso, o Minicom acatou empresas. A Abril sugeriu que apenas as alterações que algumas sugestões da consulta pública, especialmente aque implicassem mudanças no controle precisassem da apro las que não contrariavam o espírito do projeto, segundo um vação prévia. A Abert também pediu que esta exigência dos técnicos que analisou as propostas. Deste modo, alguns fosse flexibilizada, temendo justamente que as negocia pontos, cuja modificação era considerada crucial para os pla ções em bolsa acabassem prejudicadas. nos futuros das empresas, foram mantidos. Outro artigo que acabou cortado do projeto definitivo é o que trata da participação dos fundos de pensão nas empresas. Aprovação prévia O projeto inicial previa que os recursos captados junto Na queda de braço em relação à aprovação prévia pelo a fundos de pensão, fundos de investimento e entidades Minicom dos nomes de diretores e gerentes das emissoras, de previdência privada seriam considerados investimen ganharam as empresas do setor. Esta é uma exigência cons tos financeiros e regulamentados posteriormente. O
Foto: arquivo
raquelramos carloseduardozanatta raquel@paytv.com.br
item foi bastante criticado, principalmen te, por ter uma redação imprecisa e até mesmo incorreta. O ministério preferiu evitar conflitos e simplesmente deixou de fora o artigo. Restrições de propriedade Também ficaram mantidas no projeto as referências ao artigo 12 do Decreto 236/67, que estabelece limites de proprie dade para quem tem concessão ou permis são de radiodifusão. Abert e Bandeirantes pediram modificação. Para a associação, este assunto foge do escopo da lei em ques tão, que é a presença do capital estrangei ro, e o assunto deveria ser tratado por lei específica. A Bandeirantes foi mais longe e defendeu que o artigo fosse revogado e que os procedimentos administrativos abertos para verificar os limites de propriedade fossem arquivados. O Minicom não con cordou e manteve o que estava escrito ori ginalmente mudando apenas o parágrafo 3º do artigo 12, que passará a determinar que, quando os limites estabelecidos forem atingidos, as entidades das quais façam
parte direta ou indiretamente acionis tas ou cotistas que integrem o quadro social de outras empresas de radiodifusão ficam impedidas de ter concessões ou per missões. Esta modificação foi feita para garantir que seja verificado o controle da empresa através das diversas cadeias socie tárias possíveis. O capital A minuta de projeto colocada em consul ta pública trazia uma definição do que era considerado capital estrangeiro. Esta definição foi modificada porque a Lei 4.131/62 já traz uma definição, que foi absorvida pelo Minicom: “Consideram-se capitais estrangeiros, para os efeitos desta lei, os bens, máquinas e equipamentos, entrados no Brasil sem dispêndio inicial de divisas, destinados à produção de bens ou serviços, bem como os recursos finan ceiros ou monetários, introduzidos no País, para aplicação em atividades econô micas desde que, em ambas as hipóteses, pertençam a pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no
de brasília
zanatta@paytv.com.br
exterior”. Na consulta pública, a Abert havia manifestado sua preocupação de que a definição de capital estrangeiro estabelecida no projeto poderia dar mar gem para que uma multinacional estabe lecida no País utilizasse seus recursos em reais para investir em grupos de mídia, por exemplo. O ministério consi dera que com a nova definição não há espaço para que se tente burlar a lei. De modo a tornar mais clara a verificação do respeito ao limite de 30% de capital estrangeiro, foi feita uma pequena modi ficação no parágrafo 2º do artigo 2º, que define o que é capital estrangeiro na proposta. Na versão final do projeto de lei fica determinado que na apuração dos limites estabelecidos na lei serão observados os diversos níveis de parti cipação no capital social das empresas, calculando-se o percentual final por intermédio da composição das frações percentuais de participação em cada pessoa jurídica do encadeamento.
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m aking of P intur a e metamorfo s e A campanha de lançamento do Ford Fiesta contou com dois teasers de 30 segundos, um filme de dois minutos de veicula ção única e este de um minuto, que apresenta o conceito cen tral da campanha. O filme faz uma analogia entre as escolhas que são feitas na vida e as opções de caminhos, representadas pelas bifurcações na estrada. A partir disso, o filme apresenta o novo carro como opção ao consumidor.
O comercial mostra, portanto, o carro em uma estrada, filmado de todos os ângulos em plano-seqüência. As bifurcações são representadas por grafismos desenvol vidos pela equipe da Lobo Filmes, similares aos que já haviam sido utilizados em outras peças da campanha. Cada vez que a imagem pára, a cena é pintada e uma metamorfose acontece.
P e s q u i s a s à e x a u s t ã o O diretor e fotógrafo Sergio Amon conta que o filme foi rodado no Estado do Rio Grande do Sul, depois de uma exaustiva pesquisa fotográfica. As cenas aéreas foram feitas com o flying cam, um equipamento de cinema 35 mm acoplado a um helicóptero para filmagens aéreas de grande impacto. O sistema foi trazido de Los Angeles e utilizado em uma diária. “Propus o uso desse equipamento para tirar mais proveito das locações grandiosas”, conta o diretor. O uso dessa locação fez parte de uma série de propostas feitas pela produtora em cima da idéia original do filme. “Existe uma tendência a se repetir locações em filmes de carro, por isso aprofundamos a pesquisa”, diz Amon.
G r a f i s m o s m a r c a m e s c o l h a s
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Dentro do conceito das múltiplas escolhas sugeridas pela estrada, o filme tem um final que não se resolve. “Isso indica que a estrada e as escolhas que se faz na vida são sempre novas e múltiplas”, comenta Amon. Segundo o diretor, do ponto de vista estético, o uso dos grafismos nos momentos-chave das escolhas do personagem que dirige o carro foi fundamental. “Essa linha de tratamento visual já havia sido proposta e desenvolvida na campanha anterior, mas sofreu ajustes e evoluiu nesta peça, em função do envolvimento da equipe da Lobo Filmes. Tanto agra dou que acabou gerando o pack shot final”, explica.
lizandradealmeida lizandra@telaviva.com.br
Retoque artesanal A questão técnica mais complexa do filme, porém, exigiu uma boa dose de rotoscopia para o acabamento final. Enquanto o carro desliza sobre a estra da, a câmera faz uma pan de 360º em torno dele. Para captar essas imagens, foi desenvolvido um equipamento batizado de “zero cam”: uma grua instalada sobre o carro, com um longo braço ao qual foi acoplada a câmera. Assim, era possível filmar o carro em movi mento e ao mesmo tempo circundá-lo, dando a impressão de que ele estava sendo filmado de longe em 360º. A traquitana foi instalada sobre o carro com bastante firmeza, mas mesmo assim a imagem precisou de uma boa dose de esta bilização com o módulo stabilizer do Flame, para que fossem retiradas as vibrações, trepidações e variações decorrentes da filmagem em movimento. Entrou em cena, então, o lento pro cesso de retoques feitos por Gassan Abdouni, da Vetor Zero. “Trabalha mos quadro a quadro para retirar os reflexos do equipamento sobre o carro, depois tivemos de recompor as informações que não existiam, ou seja, o que estava por trás das inter ferências das sombras e oculto pela traquitana”, explica o especialista. Com o giro, o ângulo do cenário se alterava bastante, criando defor mações que dificultaram o trabalho. “Cada elemento do cenário realizava um movimento próprio. Além disso, a imagem ainda sofria interferências das mudanças de luz, distorções da lente e deformações sobre a lataria do carro, o pára-brisa e o capô”, descreve Gassan. “O que facilitou o trabalho foi a rapidez da cena, que esconde maiores problemas.” A traquitana refletia sobre o carro e por isso reflexo e equipamento foram apagados na rotoscopia. Em seguida, o céu e o cenário foram recompostos.
f icha técnica Cliente Ford Motors • Prod ut o Ford Fiesta • Agênc ia J. W. Thompson • Direç ão de Cria ção Cássio Faraco • Produtora Zero Filmes • Direç ão Sergio Amon • Fotog raf ia Sergio Amon • Graf ism os Lobo Filmes • Finalização Vetor Zero
produção
Teatro digital
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pequenas produtoras temem
Na década de 60, um teatro ficou famoso por suas mon quebradeira caso seja mantida a tagens de peças como “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, e “Pequenos Burgueses”, de Máximo Górki. cobrança da taxa fixa por título. Comandado por José Celso Martinez Correa, o Teatro Oficina inovou a linguagem teatral no Brasil. Mas, apesar de serem comentadas até hoje, é praticamente impossível escolhidas foram “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues, e um registro audiovisual de alguma dessas montagens. “Cacilda!”, sobre a vida da atriz Cacilda Becker, escrita pelo Foi pensando em preservar a história do teatro nacional que próprio Zé Celso. Segundo o produtor da empresa, Fábio a Academia de Filmes se lançou no projeto de transformar em Zavala, a amizade de Jungle com Zé Celso facilitou o suces DVD dez montagens importantes do Oficina. “É preciso pensar so da empreitada, pois fazia com que o videomaker tivesse na memória viva. Não só resgatar coisas, mas também pensar “muita familiaridade com o estilo do Oficina”. com a mesma intensidade na memória que está aqui”, diz o O passo seguinte foi colocar o projeto nos padrões videomaker da produtora, Tadeu Jungle e maior responsável da Lei Rouanet. Depois de aprovado pelo Ministério da pelo projeto. Foi ele quem deu a idéia para a Academia de Cultura, entrou no edital da Petrobrás e recebeu patrocí Cultura, “braço cultural” da Academia de nio de R$ 1,305 milhão para as duas Filmes que viabiliza projetos culturais dos primeiras peças. diretores da casa e de amigos. Artista e comunicador que atual A realização mente trabalha na direção de docu Com o dinheiro em mãos e os deta mentários, filmes publicitários e video lhes burocráticos resolvidos, era hora clipes, Jungle chegou à conclusão de de partir para a ação propriamente que deveria transpor essas peças para dita: a remontagem das peças e sua um DVD a partir de uma idéia inicial filmagem. “Boca de Ouro” e “Cacil de Marcelo Drummond, o principal da!” ficaram em cartaz por quatro ator e produtor do Oficina. Drummond semanas. Tadeu Jungle assistiu aos pretendia organizar um festival com ensaios, gravou-os e fez a decupa remontagens das principais peças do gem, para já ter noção precisa de grupo nos anos 90 e registrá-las para o onde posicionar as câmeras. arquivo do Oficina. Quando Drummond Algumas mudanças em relação à contou sua idéia a Zé Celso, o diretor montagem original foram necessárias teatral logo pensou em falar com Jun para facilitar as filmagens. “A TV tem gle. Eles eram amigos e Jungle inclusi uma outra estética. Então, por exem ve havia registrado em vídeo algumas plo, o figurino e o cenário tiveram de peças do Oficina nos anos 80. ser melhorados”, diz Fábio Zavala. Além de uma oportunidade de pre Um diferencial do prédio ocupado servar a história do teatro brasileiro, pelo Teatro Oficina, no bairro paulis Jungle cita outra razão que o motivou tano do Bixiga, acabou facilitando a a ir além da idéia inicial de Marcelo filmagem. Como sua arquitetura não é Drummond: o fato de poder fazer com convencional - não há palco italiano, que um público maior tenha acesso à mas um imenso corredor -, o teatro obra de Zé Celso, um dos maiores dire já tinha algumas câmeras e dezenas tores teatrais brasileiros. de monitores para que o público A iniciativa de Jungle foi pronta veja o que acontece em todos os mente aprovada pela Academia de pontos. Assim, atores e público, que Técnica da “câmera-carne” permitiu a Filmes. Optou-se por lançar os DVDs Jungle (acima) uma interação perfeita se senta em balcões ao lado do cor de dois em dois. As primeiras peças com o diretor Zé Celso (alto). redor, já estavam acostumados à
arquivo Fotos:Foto: divulgação
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UM TEMPLO DO TEATRO O Oficina nasceu em 1958, criado por
1971. Os espetáculos foram dirigidos por
um grupo de estudantes da Faculdade de
José Celso Martinez Corrêa, um dos funda
Direito do Largo São Francisco, em São
dores do Oficina. As montagens de Zé Celso
Paulo. Sua fama surgiu na década seguin
sempre foram consideradas inovadoras,
te, quando ficou conhecido por absorver
polêmicas, cheias de energia.
tendências estrangeiras e adaptá-las à
O prédio do Teatro Oficina, desenhado pela
estética brasileira. Nessa época, algumas
arquiteta Lina Bo Bardi (que também proje
peças viraram ícones do teatro brasileiro:
tou o MASP), apresenta um palco diferente
“Pequenos Burgueses” (1963), de Máximo
do convencional. As encenações se desen
Górki; “Andorra” (1964), de Max Frisch; e
rolam em um corredor. Em 1982, o teatro
depois “O Rei da Vela” (1967), de Oswald
foi tombado pelo Patrimônio Cultural do
de Andrade, que inclusive virou filme em
Governo do Estado de São Paulo.
intervenção de câmeras. Mesmo com toda a preparação de Jungle para as filmagens, as primeiras experiências práticas levaram a algumas modificações no plano inicial. “Boca de Ouro”, por exemplo, foi gravada em seis dias. “Mas percebemos que isso era loucu ra, e ‘Cacilda!’ foi captada em dois dias”, explica Zavala. Foram utilizadas 13 câme ras no total. Uma delas, que ficava na mão do próprio diretor, era Mini DV e foi usada como “câmera-carne” (câmera levada na mão e que quase tocava os atores). Havia ainda seis câmeras do tipo Beta Digital, e seis Mini DV espalhadas pela platéia, para recolher as reações do público. Também foi usada uma grua Dibi Dibi. A captação do som ficou a cargo da Audio Mobile, que levou ao teatro 16 microfones, captando em 64 canais. Apro vei-tando a estrutura, a Rádio Cultura fez acordo para transmitir a peça. E o UOL transmitiu ao vivo pela Internet, registran do cerca de 24 mil acessos ao todo.
f icha técnica Título Boca de Ouro | Mídia DVD 9 | Duração 4h10 | Legendas Sínteses (português, inglês, espanhol e francês) | Câmeras 6 Beta Digital + 7 Mini DV | Som Dolby Digital Stereo 5.1, captado pela Audio Mobile, com 16 microfones em 64 canais | Menu Academia de Filmes, com Photoshop | Edição Academia de Filmes, com Avid XL 100 On Line | Autora ção Estúdios Mosh, com Sonic Solution
Não é possível pensar em um DVD sem extras. E já que esse projeto pretendia preservar a memória do teatro, por que não produzir extras que também registrassem um pouco da história do Oficina? “Afinal, esse é um documento histórico sobre o teatro”, conta o produtor Zavala. Foram, então, produzidos um documen tário sobre o Teatro Oficina, entrevistas com Zé Celso, Marcelo Drummond e com os atores de cada peça. Também foram gravadas cenas de bastidores e um mani festo do grupo Oficina pela preservação do espaço em torno do teatro. Além disso, em “Boca de Ouro”, há um texto sobre Nelson Rodrigues, autor da peça. Para “Cacilda!”, foram preparados um vídeo com Cacilda Becker e comentários de Maria Thereza Vargas sobre a peça. Mas o grande destaque dos extras de “Cacilda!” é a opção “Comentários do dire tor”. Com ela, o áudio principal da peça é substituído por comentários de Zé Celso, que fala sobre cada cena, explicando o por quê dos detalhes, enriquecendo ainda mais a interpretação do texto. A finalização Depois de filmada a peça, são escolhidas as melhores cenas. O mesmo acontece com os extras. Então o material é monta do e editado. Nessa parte, o som é mixado e também é feito o menu. Finalmente, manda-se tudo para a autoração, feita no Estúdio Mosh. É aí que se junta o som, a imagem e o menu. Esse processo todo leva cerca de sete meses. Das duas primeiras peças filmadas,
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“Boca de Ouro”, que foi captada em março de 2001, já está pronta e com lançamento previsto para outubro. A Academia de Fil mes negocia com a Abril a distribuição do DVD, que deve ter tiragem inicial de cinco mil cópias e distribuição por cinco anos. Além disso, eles também serão vendidos em Portugal e na França, países em que Zé Celso conta com muitos admiradores. Fora os DVDs, também serão produzidos 200 VHS para serem doados a escolas, bibliotecas e institutos culturais. As outras peças que ganharão remonta gem e virarão DVD são: “As Bacantes”, de Eurípedes; “Ham-let”, de William Shakespea re; “Mistérios Gozozos”, de Oswald de Andra de; “Pra Dar um Fim no Juízo de Deus”, de Antonin Artaud; “Ela”, de Jean Genet; “Tani ko”, de Zenchiku; “As Boas”, de Jean Genet; e “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade. Sobre o resultado final, Jungle afirma que a intenção não era apenas fazer “teatro filmado”, mas sim “uma tradução”. “Assistir ao DVD não é como assistir ao vivo. Por conta da câmera-carne, que ia até o ator, interagia com ele, chegou-se a uma leitura com um grau de detalhamento maior do que no teatro. Se ao vivo há uma situação de envolvimento, no DVD há detalhes e cenas que a platéia não viu.” Assim, ele espera ter atingido uma pretensão nada modesta de Zé Celso, que declarou ser seu sonho pro duzir uma “arte perfeitamente integrada entre teatro e TV”.
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Heroína para uns, vilã para outros
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A Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cine matográfica (Condecine), criada para financiar produções independentes, pode gerar desemprego e até falências no mercado publicitário. O alerta é das pequenas produtoras de publicidade. Enquanto os produtores de cinema inde pendente comemoram a criação da Ancine e da contribui ção que pode financiar seus filmes, nestas pequenas pro dutoras o clima é de apreensão. Elas vêem na cobrança fixa por registro de peça publicitária uma forma perigosa de inviabilizar o próprio negócio e esperam mudanças na lei que criou a Condecine, além das isenções já determina das no primeiro ajuste. Depois de promulgada, a lei que cria a Condecine passou pela primeira modificação em julho, após pedido da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão). Alegou-se que a maior parte da publicidade de televisão no Brasil é feita “no varejo” e que, em cidades do interior e mesmo nas capitais, este tipo de negócio perfaz o total da receita de muitas produtoras. A Ancine, que havia estabelecido taxas a partir de R$ 500, recuou e emitiu uma instrução normativa reduzindo os valores iniciais. Assim, nos municípios com mais de um milhão de habitantes, o recolhi mento seria de R$ 100 para produções abaixo de R$ 10 mil e R$ 1 mil para produções acima de R$ 10 mil. Ainda assim a medida não foi suficiente para animar os donos das pequenas produtoras instaladas em cidades com mais de um milhão de habitantes. Estes vêem poucas possi bilidades de atender ao pagamento mínimo de R$ 100 por peça publicitária, quando a maior parte dos comerciais “de varejo” vale entre R$ 350 e R$ 500, como é o caso da Bahia.
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Características regionais “Nosso mercado não tem como absorver mais um tribu to. Nós já pagamos uma série de impostos. A maior parte da nossa produção é dos chamados VTs de cartela, de baixo custo. Se formos pagar R$ 100 sobre um VT de R$ 400, que é a média do que produzimos, seremos inviabilizados”, alerta Fernando Mota, dono de uma produtora em Salvador. Para Mota, a Ancine não observou as peculiaridades regionais ao estabelecer uma cobrança fixa. “Existem muni cípios do interior, como São José do Rio Preto (SP), que têm menos de um milhão de habitantes mas uma renda per capi
pequenas produtoras temem quebradeira caso seja mantida a cobrança da taxa fixa por título. ta maior que capitais como Salvador. Enquanto lá existem produções mais caras que as nossas, nós somos obrigados a pagar um valor determinado, sem observar uma proporção em relação ao lucro, como é o caso dos impostos.” Com a tabela de preços congelada desde o início do Plano Real e o preço dos equipamentos indexados ao dólar, Fernando Mota tem visto sua empresa lucrar cada vez menos e teme que a Condecine seja uma pá de cal num negócio já em baixa: “Se começarmos a pagar um valor arbitrário como o que estão propondo, vamos ter que reduzir custos. Assim, um comercial que teria apresentador passa a ter apenas narrador. Noutras situações vou ter que economizar com o próprio locutor. Então é uma medida que pode provocar desemprego e até falência dos pequenos porque não se observaram as diferentes realidades de cada região. Enquan to uma agência do Sudeste faz um comercial de cerveja por R$ 50 mil, pagando R$ 1 mil de contribuição e fica tranqüila, nós ficamos sem saber de onde tirar os R$ 100”. O segmento das pequenas produtoras de publicidade em Salvador está tentando se organizar de forma corpora tiva, para fazer frente à proposta da Condecine. Vinte delas deram início ao embrião do que será uma associação de clas se que irá discutir a contribuição em nível institucional. “É estranho que o governo queira financiar produções de cinema com dinheiro da publicidade. Por que essa contri buição não é cobrada da TV aberta, do teatro ou do próprio cinema, sobre o lucro das bilheterias? Ou de serviços de dublagem e legendagem, que lidam diretamente com pro dução cinematográfica? Vejo uma confusão de segmentos nessa cobrança. Como trabalhamos com TV, não seria mais lógico que esse dinheiro fosse investido em produções para a televisão? Para financiar o cinema já existe a Lei Roua net”, questiona Mota. Cobrança proporcional Para o presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual do Rio Grande do Sul, Cícero Aragon, a cobrança de uma taxa Foto: arquivo
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fixa é muito pesada para as pequenas pro dução, aumentariam o interesse no paga dutoras. Ele acha que o ideal seria cobrar mento, evitando motivos para sonegação”, um percentual sobre os valores das peças diz um trecho da carta do sindicato. veiculadas, como com os impostos. Em encontro com publicitários, Dahl Através de uma carta elaborada pelo falou da importância da Condecine para o sindicato, a idéia foi proposta ao diretor- cinema e apresentou os primeiros números presidente da Ancine, Gustavo Dahl, num de arrecadação do novo tributo: em junho, debate sobre a Condecine realizado duran no primeiro mês de vigência da contribuição, te o Festival de Cinema de Gramado (RS). foram arrecadados R$ 430 mil. Em julho a Entre as propostas está a arrecadação chegou a R$ sugestão de que orçamen 730 mil. A expectativa é de tos inferiores a R$ 10 mil crescimento progressivo ao sejam isentos do pagamen longo do ano. to da contribuição. Às críticas ao modelo “Estamos dispostos a de cobrança atual, Dahl contribuir com o desen respondeu que uma nova volvimento do audiovisual instrução normativa será nacional, por outro lado acrescentada à lei que temos convicção de que cria a Condecine, e esta o problema da Condecine vai isentar as cidades do está na forma de cobran interior. Para Aragon, “isso ça, na falta de uma base resolve apenas 70% do pro de cálculo justa feita em Gustavo Dahl, da Ancine, diz que blema. Para resolver 100%, cima de percentuais cobra uma instrução normativa isentará somente com a cobrança as cidades do interior. dos sobre o valor de produ proporcional aos ganhos. ção e não sobre a mídia. O Não somos contrários à fator de prova seria a nota contribuição, mas à forma fiscal, com a manutenção do devido sigilo como ela foi criada. Do jeito que está, ela é dos valores de produção dos produtos justa com os grandes e muito injusta com audiovisuais por parte da Ancine. Entende os pequenos, que pagarão mais do que mos que a forma de resolver imediatamen podem. As isenções podem facilitar a vida te o absurdo da tabela é a regulamentação de parte do mercado, que entende essa da lei existente, mas não abrimos mão de solução como provisória. Mas a lei ainda é que em breve a lei seja alterada. Taxas injusta”, disse à Tela Viva. Na conversa com mais justas, como 1% sobre o valor de pro a Ancine, os produtores da Região Sul con
seguiram outra vitória: a anistia dos DARFs emitidos até a promulgação da lei, evitando que as produtoras de peças publicitárias de baixo valor desembolsassem as taxas previs tas nas primeiras versões da Condecine. Mudanças A assessora da presidência da Ancine, Vera Zaverucha, informa que a Instrução Norma tiva nº6 já modifica a geografia da Condeci ne, instituindo a cobrança apenas em cida des com mais de um milhão de habitantes e determinando arrecadação diferenciada a partir de solicitações do setor. A instrução fala sobre publicidade de pequena veiculação e isenção, prevista no inciso 4 do artigo 39 da medida provisória. “A lei determina e a medida provisória não permite promover qualquer alteração em relação à cobrança porque elas seguem uma tabela”, explica. Sobre a cobrança de taxa fixa, Vera diz que “neste momento não existem perspectivas de modificar o tipo de cobrança feito junto à publicidade, que está prevista em lei. Para modificar a forma de cobrança, só modificando a lei”. Na Abert, o clima é de expectativa. A diretoria da associação informou, através de sua assessoria de imprensa, que já estão em andamento negocia ções junto à Ancine sobre a Condecine. Entre as negociações, está a criação de um dispositivo para isentar as produ ções de até R$ 1 mil.
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cinema produtora Especializada em produções submarinas, a Canal Azul buscou novas parcerias e abriu seu leque de temas para documentários.
Do fundo do mar
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Há seis anos a produtora Canal Azul surgiu para suprir a necessidade por documentários do canal de TV por assina tura GNT, que encomendou dos sócios Lawrence Wahba e Ricardo Aidar algumas produções subaquáticas. Desde então, a produtora foi se especializando em docu mentários sobre a natureza e aumentando suas parcerias. Em 2000 a Canal Azul ganhou mais um sócio, o produtor execu tivo Marcelo Bresser Pereira, e começou a atuar em novas áreas: documentários sobre cultura e variedade. Uma das primeiras produções submarinas foi a série coproduzida com o GNT “Dive Adventures”, com 13 documen tários de 50 minutos cada. A série, que retrata o mergulho e o modo de vida das pessoas de diversos locais do mundo, é apresentada pelo próprio Lawrence Wahba e documentou com exclusividade a reabertura do Atol de Bikini, 50 anos após os testes nucleares norte-americanos. Com o GNT, co-produziu também a série “Planeta Ocea no”. Com oito documentários de 26 minutos cada um, a série sobre o fundo do mar foi filmada em 18 países, utilizando animais marinhos como personagens, revelando aspectos de seu cotidiano e flagrantes da luta pela sobrevivência. Após tantos trabalhos, a equipe da produtora aprendeu a ter paciência e a contornar as dificuldades de produções tão específicas. “As produções submarinas são mais difíceis do que parecem”, diz Ricardo Aidar. “Talvez o maior proble ma seja o ator. Não dá para dirigir um tubarão”, brinca. Mas foi a experiência em produções submarinas que ajudou a Canal Azul a conquistar novas parcerias e a partir para novas áreas de atuação. Uma das parcerias mais importantes foi com a Natu ral History New Zealand – NHNZ –, especializada em tra balhos sobre a natureza. Com eles produziram a série de dois programas de 52 minutos “Pantanal”, que apresenta
a fauna e flora da região pantaneira e as mudanças que ocor rem ao longo do ano na paisagem da região. Exibida no Brasil pelo GNT, essa co-produção foi veiculada em mais de 25 países e em emissoras como a France 5 e o Discovery Channel. Com financiamento do Grupo das Escolas Particulares de São Paulo, através da Lei Mendonça, a produtora fez outra série abordando a natureza, intitulada “Expedição Caiçara”. Exibida pela TV Cultura, a série mostra uma via gem de um grupo de adolescentes a bordo de uma escu na pelo litoral do Brasil redescobrindo o povo, a cultura e as exuberantes belezas naturais. Novos rumos Sem abandonar a natureza, os três sócios resolveram bus car novos assuntos a serem explorados. “Viver só de docu mentários no Brasil é uma grande aventura. Usar só a natureza é loucura”, argumenta Marcelo Bresser Pereira. A variedade de temas que a Canal Azul passou a abordar foi grande. A produtora fez a série “Destino Exportador - USA”, de três documentários, em parceria
“Atol Esquecido” documenta o Atol das Rocas, único do Atlântico Sul.
Fotos: divulgação. Claudia GIP Fotos: Lisandro de Almeida Ilustração: e Marcelo Skaf (corais)
lizandradealmeida lizandra@telaviva.com.br
“Expedição Brasil Oceânico” apresenta as mais distantes ilhas oceânicas do litoral brasileiro
com a Pólo de Imagem e exibida na Rede Cul tura. Encomendada pela Câmara Americana de Comércio e pela Agência de Promoção de Exportações (Apex), os programas retratam características e aspectos culturais das várias etnias que formam o povo norte-americano e falam sobre as oportunidades de exporta ção para os produtos brasileiros, a partir das características dos consumidores norte-ame ricanos e suas diversas origens étnicas. Também com a Pólo de Imagem, foi produzido “Sampop: A Nova Cena”. Com declarações de jornalistas, músicos, produ tores musicais, formadores de opinião e dos novos talentos musicais surgidos na cidade de São Paulo, o documentário tenta definir o termo “música pop”. O mais recente lançamento da Canal Azul é uma volta às origens. Divididos em dois episódios narrados pelo ator Lima Duarte, o documentário “Expedição Brasil Oceânico” apresenta as mais distantes
“Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, é um dos filmes disponíveis no Porta Curtas.
ilhas oceânicas do litoral brasileiro. No pri meiro episódio, “Oásis do Atlântico”, a expe dição liderada por Lawrence Wahba parte para as mais inóspitas ilhas do Brasil – Trin dade e Penedos de São Pedro e São Paulo – desconhecidas para a maioria dos brasilei ros. Em “Atol Esquecido”, a mesma equipe faz uma viagem de exploração no Atol das Rocas, o único atol do Atlântico Sul. O documentário foi feito em parceria com a 20th Century Fox e a NHNZ e está sendo distribuído em DVD e VHS neste mês de setembro. Negócios Além da produção de documentários, a Canal Azul buscou novos mercados para atuar. Além de comercializar um vasto banco de imagens, com destaque para cenas sub marinas, a produtora abriu em 2000 um novo braço: a produtora de áudio Vox Mundi. Aproveitando-se do know-how obtido com as produções sobre a natureza, a Vox Mundi especializou-se em dublagem para documen tários, principalmente para o canal de TV por assinatura Discovery e para a TV Cultura. Outra área de atuação que a Canal Azul conquistou foi a distribuição. Muitos de seus documentários são distribuídos na América Latina pela própria produtora. Além disso, a empresa firmou recentemente parceria com a TV Cultura para a distribuição de documen tários sobre pintura e literatura produzidos pela inglesa RM Associates.
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fernandolauterjung
cinema
Conteúdo para todos
A
42 tela viva
setembro de 2002
Desde o dia 26 de agosto está no ar
A Synapse Digital, produtora de conteúdo para a Inter o Porta Curtas, uma iniciativa de net ligada à distribuidora Synapse, lançou no último dia 26 de agosto o Porta Curtas, primeira iniciativa exibição que pretende vincular consistente de utilizar a web como mídia para o curtametragem brasileiro. O Porta Curtas não é exatamente curtas-metragens nacionais a um site, apesar de estar apoiado em um. A idéia fun damental é aumentar a veiculação de filmes de curta conteúdo editorial na Internet. duração, sugerindo a inserção de links gratuitos para filmes a serem colocados em sites de conteúdo. “O Porta Curtas oferece um “Outro exemplo foi o curta ‘Françoise’, curta-metragem como a azeitona para de Rafael Conde, primeiro filme estrelado a empada dos sites”, resume o diretor por Débora Falabella. Quando a revista da Synapse, Julio Worcman. Marie Claire publicou uma entrevista Tudo começou em 2000, quando o com a atriz, oferecemos o filme para ala goleiro Barbosa, da Seleção Brasileira vancar o site da revista.” A proposta do de 1950, morreu. Worcman ofereceu Porta Curtas, portanto, é gerar links para para a diretora de conteúdo do portal filmes junto a conteúdo editorial, dando UOL o curta homônimo (“Barbosa”), de um upgrade nos sites e ao mesmo tempo Jorge Furtado, como complemento à fomentando o formato. Serviço começa com matéria sobre a morte do jogador. “Con 30 títulos digitalizados. versei com o Furtado e ele liberou os Porta de entrada direitos. Em cinco dias, 27 mil pessoas assistiram o curta. Worcman prefere chamar o site de “front” do curta-metra Foi então que tivemos a idéia de montar uma estratégia gem. “Não se trata de um portal, mas de um site que de exibição diferente.” carrega curtas. O site em si existe apenas para que as A idéia só pôde ser viabilizada com o patrocínio da ferramentas possam funcionar. Quando um internauta Petrobrás. A empresa entrou com R$ 360 mil, utilizados para acessa o link, cai diretamente no pop up que traz o filme. a aquisição dos direitos de exibição por um ano de cem Nesse pop up estão praticamente todas as funções do curtas e montagem da estrutura do projeto na Internet. “Pro site, incluindo o mecanismo de busca que incorporamos”, pusemos R$ 500 para cada curta, da seguinte forma: R$ 250 explica. como garantia mínima e o restante de acordo com o acesso. Segundo Gabriela Dias, editora executiva do portal, Partimos do princípio de que todos os filmes teriam direitos este mecanismo permite localizar os 1,4 mil curtas cadas iguais, sem privilegiar este ou aquele diretor, e bolamos um trados por qualquer uma das funções técnicas, elenco mecanismo de recompensar quem tivesse mais acessos. ou até mesmo por linhas de diálogo, já que haverá uma Depois de um ano, vamos computar todos os acessos e transcrição dos diálogos de cada filme. O sistema permite dividir o resto do dinheiro proporcionalmente para todos as mais variadas combinações para que se encontre o os diretores. Todo mundo topou”, completa. Em sua estréia, filme desejado. o Porta Curtas sai com 30 filmes digitalizados e em pouco A tecnologia utilizada permite que o filme seja visto tempo pretende incluir os demais. em banda larga com alta qualidade. Utilizando os servi
Fotos: divulgação. Ilustração: Claudia GIP
lizandradealmeida lizandra@telaviva.com.br
“Quando a Marie Claire publicou uma entrevista com a Débora Fallabella, oferecemos o filme ‘Françoise’ para alavancar o site da revista.” Julio Worcman, da Synapse
ços da empresa Content Delivery Network (CDN), os filmes foram colocados em 17 servidores de todo o Brasil, especialmente nos grandes provedores, para tornar o aces so mais rápido. “Se a pessoa tem Speedy, por exemplo, ela puxa o filme direto do backbone do provedor”, conta Worcman. Quando o filme é associado a algum conteúdo que gere uma visitação acima do limite suportado pelo Porta Curtas, a única exigência é que o próprio provedor hospede o arquivo. Logo que o internauta entra no link do filme, surge o pop up do Porta Curtas, que inclui um banner do site original. Todo o processo pode ser feito pelo editor do site pela própria Internet. Assim como o espectador, que pode entrar para assistir o filme e usar o site para criar sua lista de preferidos, o editor pode se cadastrar e incluir o link automaticamente, navegando pelo Porta Curtas. Para o diretor Bruno Vianna, que tam bém faz parte da equipe do Porta Curtas, “a Internet é um meio muito propício de exibir o curta-metragem, que tem pouco espaço na TV e no cinema. Só este ano foram produzidos 200 filmes novos e poucos deles terão chance de ser exibidos”. Além de promover o formato e inaugurar um novo canal de exibição, que é ainda mais conveniente devido à sua associação com conteúdo editorial, o Porta Curtas trabalha de forma transparente com o curta-metra
“Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, é um dos filmes disponíveis no Porta Curtas.
gista, proporcionando um intercâmbio com os espectadores. “Os diretores e produtores têm uma senha que permite o acesso à caixa de direitos autorais. Sempre que chega um comentário de espectador a respeito de um filme, uma cópia vai direto para a caixa. Lá eles também podem controlar os acessos”, explica Worcman. Essa relação direta entre o realizador e o espectador será muito interessante para ambas as partes, acredita Vianna. O contrato assinado com a Petrobrás tem duração de um ano, o qual pode ser renovado. O conteúdo pode ainda começar a gerar recursos por si só. Julio Worcman, porém, não acredita muito na capacidade de retorno direto da Internet. “Seria ótimo podermos licenciar os curtas diretamente para os sites, mas por enquanto não vemos possibilidade de retorno dessa forma. Por isso optamos pelo patrocínio”, analisa. Interesse internacional A Synapse é uma distribuidora com 14 anos de experiência na venda de progra mação independente e de curtas-metra gens para o exterior. Durante algum tempo, na década de 90, a empresa também se dedicou a comprar progra mação estrangeira para as emissoras brasileiras, diante da pequena produção nacional. Desde 99, a produção vem crescendo e com ela o interesse interna cional pelos filmes brasileiros. Essa experiência fez com que a dis tribuidora também fosse contatada pelo Canal Brasil, para que negociasse os direitos dos curtas a serem exibidos pelo canal. O contrato de experiência, com duração de um ano, prevê que a Synapse será responsável pela aquisição dos filmes que ainda não têm contrato com o canal. As renovações e os filmes adquiridos a partir do prêmio Canal Brasil, que selecio na curtas para exibição em festivais de todo o País, continuam sendo feitas direta mente com a emissora. Tanta intimidade com o formato tem ajudado sua difusão pelas mais diferentes mídias. O objetivo, agora, é que o Porta Cur tas se consolide como veículo virtual.
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