Revista Teletime - 145 - Julho 2011

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Ano 14

n0 145

jul2011

www.teletime.com.br

ameaça oculta Smartphones começam a sofrer ataques de vírus e trojans. Especialistas recomendam sistemas de proteção similares aos do computador. ENTREVISTA Luciani conta como a TIM garantiu seu share com o serviço de voz

STFC Concessionárias perdem 5,4 milhões de linhas, mas serviço cresce no País.




Presidente Rubens Glasberg Diretores Editoriais André Mermelstein Claudiney Santos Samuel Possebon (Brasília) Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski

Editor Samuel Possebon Editora Adjunta e Editora de Projetos Especiais Letícia Cordeiro Editor de Mobilidade Fernando Paiva Redação Daniel Machado, Wilian Miron Helton Posseti (Brasília) Consultor Especial Cláudio Dascal Arte Edmur Cason (Direção de Arte); Rubens Jardim (Produção Gráfica); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica); Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora) Departamento Comercial Ivaneti Longo (Assistente) Assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente) Circulação Patricia Brandão (Gerente) Marketing Harumi Ishihara (Diretora) Gisella Gimenez (Assistente) Administração Vilma Pereira (Gerente) TELETIME é uma publicação mensal da Converge Comunicações - Rua Sergipe, 401, Conj. 603 - CEP: 01243-001 - Telefone: (11) 3138-4600 e Fax: (11) 3257-5910 - São Paulo, SP. Sucursal SCN - Quadra 02 Bloco D, sala 424 – Torre B - Centro Empresarial Liberty Mall - CEP: 70712-903 - Fone/Fax: (61) 3327-3755 - Brasília, DF. Jornalista Responsável Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão Ipsis Gráfica e Editora S.A. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem autorização da Glasberg A.C.R. S/A CENTRAL DE ASSINATURAS 0800 0145022 das 9 às 19 horas de segunda a sexta-feira Internet www.teletime.com.br E-mail assine@convergecom.com.br REDAÇÃO (11) 3138-4600 E-mail cartas.teletime@convergecom.com.br PUBLICIDADE (11) 3214-3747 E-mail comercial@convergecom.com.br Instituto Verificador de Circulação

FOTO: arquivo

.:Editorial

Samuel Possebon

samuca@con­ver­ge­com.com.br

Só o começo

O

governo e as concessionárias de telefonia anunciaram as condições de um termo de compromisso para a oferta em nível nacional de banda larga a R$ 35, por uma conexão de 1 Mbps. Foi o resultado do esforço de negociação que vem desde dezembro, quando se adiou a assinatura dos contratos de concessão na perspectiva de se conseguir metas de banda larga. O resultado do esforço do governo pode ser considerado um primeiro passo positivo, mas é muito tímido em relação ao que as próprias empresas já oferecem hoje, e certamente será inexpressivo em relação ao que comercialmente estará disponível em 2014. Como já dissemos aqui, era evidente que a negociação, sem que o governo pudesse sinalizar com uma contrapartida mais atraente, seria pouco expressiva. O lado positivo do acordo é que ele ajudará a equalizar as ofertas de banda larga em todo o Brasil, acabando com grandes distorções em relação aos valores mínimos cobrados. Do outro lado, o maior risco é acomodar as empresas, que podem não oferecer nada melhor do que isso por valores menores quando não houver competição. E é preciso lembrar que muita gente não tem R$ 35 sobrando para gastar em banda larga. O acordo com as empresas não resolve o problema da banda larga no Brasil. O País ainda é muito deficiente em termos de infraestrutura, tanto que as próprias concessionárias precisaram recorrer ao acesso 3G no compromisso firmado. A rede móvel é importante nesse cenário, mas no mundo da banda larga ela é complementar, já que as velocidades garantidas são insuficientes para aplicações mais relevantes de educação, saúde e entretenimento online. Um dos esforços do governo deveria ser, justamente, fomentar o desenvolvimento de novas redes de telecomunicações fixas, e de preferência redes competitivas onde hoje a concessionária é a única alternativa. Para isso, é preciso aprimorar as regras de compartilhamento e oferta no atacado, é preciso desonerar investimentos em novas redes e é fundamental rever a questão dos direitos de passagem e uso da infraestrutura urbana. Ao final das negociações com as teles, o ministro das Comunicações, Paulo 4 Teletime jul_2011

Bernardo, comemorou o fato de não ter sido incluído sequer um centavo do governo como parte do acerto. Isso mostra, por outro lado, que o governo ainda não encara a infraestrutura de telecom como um investimento estratégico, como faz com a construção civil e energia, por exemplo. Isso é ruim. Em todos os outros grandes planos de banda larga do mundo há pesados investimentos do Estado. Mesmo nos EUA, a destinação imediata dos fundos setoriais para o uso em projetos de banda larga está garantida. Aqui, não há nem perspectiva disso acontecer. Por fim, é preciso agora ter todo o foco na atuação da Anatel. A garantia da qualidade na banda larga que está sendo ofertada, o leilão das novas faixas, tudo isso passa pela agência reguladora. Seria saudável que a partir de agora a agência passasse a agir com mais transparência em suas decisões, que conversasse mais com a sociedade e que fosse mais célere em seus processos.

• Outro assunto que não pode deixar de ser registrado é a iminência da entrada das empresas de telecomunicações no setor de TV a cabo. Seja pela aprovação do PLC 116 no Senado (que estava pendente no fechamento dessa edição, mas era cada vez mais concreta), seja pela “reforma regulatória” promovida pela Anatel, o fato é que tudo indica que nesse segundo semestre as teles poderão operar TV a cabo. De novo, caberá à Anatel e ao governo assegurar que essa entrada se reflita em uma infraestrutura melhor e de acesso mais barato, e no surgimento de novos competidores. Também será interessante ver como o PLC 116, se aprovado, se comporta na prática. Será que haverá produção de conteúdo suficiente para atender às cotas de programação sem que isso represente mais concentração no setor de conteúdo? Será que o acordo para que grupos de comunicação e empresas de telecomunicações se restrinjam aos seus mercados de origem, sem atuar na praia do outro, fará sentido no ambiente convergente e será respeitado? As teles levarão a oferta de TV por assinatura a pequenas e médias cidades também? São dúvidas que a prática do mercado logo tratará de responder.


145 Número

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STFC

8 Sacodindo a poeira

Enquanto as incumbents perdem grandes fatias de suas bases de assinantes, outras teles garantem o crescimento do serviço no País. Telefônica, no entanto, se reinventa e dá a volta por cima.

Capa

14 Móveis e perigosos

Massificação dos smartphones cria um novo mercado: o de antivírus e outras ferramentas de segurança para celulares, o mais novo alvo dos cybercriminosos.

Fornecedores

18 Tragédia anunciada

Série de equívocos e erros estratégicos da Nokia ao longo dos últimos anos coloca a liderança global da empresa em risco. Mas nem tudo parece estar perdido.

Entrevista

24 O maestro 18

24

Considerado o líder da virada da TIM no País nos últimos anos, Luca Luciani revela as motivações e os resultados da ousada estratégia da empresa para retomar receita e market share.

TV por assinatura

28 Cabo em crise

Plataformas online de distribuição de vídeo, como Netflix, desencadeiam queda de faturamento das empresas de TV paga nos Estados Unidos.

Internet

32 As regras da banda larga

Seminário TELETIME Broadband discute a regulação da Internet, a isonomia e os gargalos das redes e a oferta de serviços cada vez mais móveis e convergentes.

Regulamentação

32

38

35 E agora?

Governo bate o martelo com as teles para viabilizar a oferta nacional de banda larga popular. Oferta conjunta e franquia de tráfego geram controvérsia.

Tecnologia

38 Bits por hertz

Enquanto novas faixas de espectro não vêm, operadoras buscam tecnologias capazes de extrair a melhor eficiência espectral possível com as faixas já existentes.

Editorial 4 | Ponto de Vista 41 | Ponto & Contraponto 42 ilustração de Capa: Thank You/Albert Ziganshin/shutterstock/Editoria de arte converge

jul_2011 Teletime 5


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J O R N A L P RO PA G A N D A & M A R K E T I N G - E D I TO R A R E F E R Ê N C I A


.:STFC

Letícia Cordeiro*

leticia@convergecom.com.br

Morta, mas nem tanto

Migração para os serviços móveis, competição e evolução tecnológica têm minado as bases de telefonia fixa das incumbents, mas o serviço ainda pode ter vida longa. FOTOS: divulgação

“para cada cliente que a gente perde, seis entram em nossa base, trazendo os números das operadoras antigas.” Ricardo Sanfelice, da GVT incluem linhas corporativas e residenciais em serviço. Vários aspectos podem ter contribuído para o cenário. A falta de inovação na proposta de valor da telefonia fixa por parte das concessionárias é um deles. Não é difícil ouvir o argumento de que as incumbents estavam muito confortáveis com o seu mercado reservado, tendo a maior parte de suas receitas asseguradas pela assinatura básica dos telefones fixos num ambiente de pouca concorrência. O avanço da concorrência, portabilidade numérica e planos móveis mais agressivos, no entanto, começaram a fazer a diferença. E o mercado pode crescer ainda mais se levarmos em consideração o fenômeno de ascensão de uma nova classe média, que ainda tem no telefone fixo um objeto de status, e os esforços do governo para massificar o serviço telefônico fixo com o novo AICE (Acesso Individual Classe Especial),

Linhas fixas em serviço 50

40

em milhões

E

ngana-se aquele que acha que a telefonia fixa está com os dias contados. É fato que incumbents de todo o mundo, a cada ano, assistem dolorosamente à perda de fatias importantes de suas bases de assinantes. Mas isso é menos uma indicação de uma morte anunciada e mais o reflexo das mudanças do mercado, com competidores trazendo ofertas mais atrativas em pacotes de serviços com banda larga e TV por assinatura. Tem-se observado também globalmente uma tendência de migração do fixo para o móvel, isto é, pessoas abrindo mão de ter um telefone fixo para ficar apenas com seu número celular. Mas essa migração está longe de ameaçar a longevidade dos serviços de telefonia fixa. Especialmente quando analisamos o mercado brasileiro. Nos últimos cinco anos, enquanto as concessionárias do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) perderam um total de 5,4 milhões de assinantes, o total de linhas fixas em funcionamento no País cresceu 2,3 milhões de linhas, passando dos 39,8 milhões em dezembro de 2005 para 42,1 milhões em dezembro de 2010, segundo dados da Anatel. Telefônica, Oi (que une as áreas de concessão da Telemar e Brasil Telecom), Sercomtel e CTBC desceram do patamar dos 37,6 milhões de linhas em serviço para 32,1 milhões entre 2005 e 2010, enquanto no mesmo período a base de assinantes das operadoras autorizadas se expandiu de 2,2 milhões de linhas em serviço para cerca de 10 milhões de assinantes ao final do ano passado. Essa expansão se concentrou principalmente nas operações da Embratel/Net Serviços, com seus 6,38 milhões de linhas fixas em serviço ao fim de dezembro último (sendo 3,1 milhões Net Fone); da GVT, com sua base de 2,08 milhões de clientes fixos; e, em menor escala, da TIM/Intelig, que em 2010 totalizou 519 mil assinantes de telefonia fixa. Os números da Anatel

2,2

3,1

4,4

6,6

8,1

10

37,6

35,7

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34,6

33,4

32,1

dez/05

dez/06

dez/07

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dez/09

dez/10

30 20

10

0

Autorizadas

Concessionárias

Fonte: Anatel.

8 Teletime jul_2011

voltado especificamente para famílias de baixa renda, que fazem parte de planos sociais do governo. “Nos últimos três anos o mercado de telefonia fixa ficou praticamente estável, com 41 ou 42 milhões de assinantes. Mesmo assim, se compararmos esses dados com a quantidade de assinantes da época anterior à privatização, a quantidade de linhas instaladas no País teve aumento superior a 70%, um salto expressivo”, observa o diretor de marketing e produtos da GVT , Ricardo Sanfelice, ao analisar o mercado desde 1998. “Temos ganhado clientes mês a mês nas cidades onde atuamos. Para se ter uma ideia de como está este segmento para a GVT, podemos pegar como base a troca de clientes da portabilidade numérica: para cada cliente que a gente perde, seis entram em nossa base trazendo os números das operadoras antigas”, comemora Sanfelice. Ele explica que o modelo de negócios da GVT trabalha a telefonia fixa em conjunto com a banda larga, assim como ocorrem com os telefones da Embratel, que mantém parceria com a Net Serviços. “Quando o cliente assina a banda larga leva a linha também. Aí oferecemos pacotes de minutos vantajosos, não baratos, mas com boa relação custo/benefício e qualidade. Segundo o executivo, de certa maneira os papéis se inverteram, e hoje o serviço de telefonia fixa está muito mais para um serviço de valor adicionado à banda larga na prática do que a classificação clássica original da banda larga como um serviço de valor agregado às redes fixas. “Como a GVT é uma empresa nova, com dez anos de mercado, nossas redes são mais novas e desenhadas para banda larga, vídeo e outras necessidades atuais. Não precisamos correr para atualizar a rede como as operadoras mais antigas, temos que nos preocupar apenas em ampliar a cobertura”, observa.


“Vamos continuar batendo muito nas concessionárias e abocanhando esse mercado com perspectiva de crescer ainda mais do que os 65% do último ano.” infraestrutura tradicional de cobre – uma ótima oportunidade de negócios. “Com a licença STFC e usando nossa rede celular, conseguimos levar o telefone fixo a áreas mais remotas, sem assinatura básica e com as tarifas diferenciadas da TIM, nos modelos pré-pago, sem compromisso de recarga mensal, e também no modelo Infinity Controle”, conta Marquez. Assim, a TIM apostou na oferta do telefone fixo para comunidades menos favorecidas. “Começamos um trabalho no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, com vendedores porta-a-porta, e conseguimos socializar boa parte da comunidade na medida em que o telefone fixo significa a oportunidade de ter um comprovante

Concessionárias perdem base 50 43,6

45

42

40

44

41,8 35,2

35 (Em milhões)

Quebrando paradigmas A TIM, que se estabeleceu desde o início da abertura do mercado brasileiro como uma operadora móvel, decidiu se aproveitar do potencial e da conveniência da plataforma celular para se lançar também no segmento de telefonia fixa. “Aqui na TIM a gente tem o desafio de pensar fora da caixa e mesmo num mercado mais tradicional como o de telefonia fixa achamos um nicho e temos tido sucesso”, celebra o diretor de marketing da Intelig/TIM, Rafael Marquez. Ele explica que como a empresa é uma nova entrante, tem muito pouco a perder e qualquer receita nova é bem-vinda. “Como ainda não temos uma participação relevante nem uma receita muito grande para defender, podemos nos arriscar e fazemos hoje um ataque duplo à ‘vaca leiteira’ das concessionárias: com os nossos custos de ligação por minuto, pacotes e promoções, trazemos não apenas muitos clientes da telefonia fixa para a base móvel como também para o nosso serviço de STFC, porque há aquelas pessoas que não podem abrir mão de um número fixo”. A TIM também encontrou no segmento que ainda não tinha telefone fixo – ou porque considerava o serviço caro ou porque faltava cobertura da

Rafael Marquez, da TIM

34,7

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Julho/07

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Acessos fixos instalados 400 345

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Acessos fixos em serviço 369

300 250 (Em mil)

Sanfelice aponta também que, embora haja crescimento expressivo na telefonia celular, a linha fixa ainda é muito atraente por conta do preço. “O minuto da telefonia fixa pode chegar a custar R$ 0,20 ou menos, enquanto a tarifa na telefonia móvel pode superar R$ 0,60”. De acordo com dados do balanço financeiro relativo ao primeiro trimestre, a GVT encerrou março com 4,7 milhões de acessos. No final de 2009 eram 2,8 milhões; e 4,2 milhões em dezembro de 2010, crescimentos de 68% e 12%, respectivamente. Nesses números, estão contabilizados linhas do serviço fixo tradicional, voz sobre IP, e também acessos banda larga. A Anatel, entretanto, contabilizava ao final de 2010, cerca de 2,1 milhões de linhas fixas para a operadora, que cobre cem cidades em todo o Brasil.

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Acesso Individual Classe Especial (AICE)

Fonte: Anatel.

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de residência para conseguir crédito ou abrir conta bancária”, detalha. Os agentes, muitas vezes, são pessoas da própria comunidade que podem explicar com calma o funcionamento e as vantagens tarifárias do serviço da TIM, como ligações gratuitas para telefones móveis da operadora. Segundo Marquez, esse contato direto de agentes é a melhor forma de divulgar o serviço. “Nossa es­­ tra­­tégia é das trincheiras. Vamos para a mídia para falar de móvel, mas na fixa é mais no corpo a corpo, além de usarmos nossas lojas físicas. Depois da aquisição da Intelig, passamos a usar a rede de canais de venda e o 0800 do televendas para oferecer o TIM Fixo”. A aposta, que começou de forma efetiva em novembro de 2010, deu resultados e hoje 30% das vendas totais do serviço de telefonia fixa vêm desse tipo de ação. Vale destacar ainda que a maior parte das novas adições de telefonia fixa da TIM não vem da portabilidade numérica. A maioria das vendas vem de pessoas que não tinham ou não trouxeram o número fixo. “Com a ascensão dessa nova classe média, o Brasil deixou de ser uma pirâmide social para virar um losango. Tem muita oportunidade de negócio para atacarmos, estamos vendendo muito smartphone para essa turma e é lá que estamos apostando no fixo. Não temos nada a perder, apenas a ganhar; e não há muita concorrência, estamos nadando de braçada”, pontua Marquez. O serviço de telefonia fixa é visto com um cenário futuro muito próspero pela TIM. “Claro que há uma tendência de que o mercado diminua em relação ao tamanho de hoje, principalmente pela substituição fixo-móvel, da qual somos grandes incentivadores, mas ele não vai morrer”, enfatiza o executivo. Entre maio de 2010 e maio de 2011, a TIM afirma ter aumentado sua base de telefonia fixa em 65%. “E tenho certeza que este ano vai ser muito melhor para o nosso negócio fixo, com os canais da Intelig bem estruturados e mais vendedores na rede parceira. Vamos continuar batendo muito nas concessionárias e abocanhando esse mercado com perspectiva de crescer ainda mais do que os 65% do último ano.”


.:STFC Sacode a poeira A TIM não foi a primeira a adotar a iniciativa de venda porta-a-porta. A estratégia foi implementada pela Telefônica ainda em março do ano passado e foi, inequivocamente, o principal fator para não apenas estancar a sangria de assinantes fixos da base da tele, mas fazê-la voltar a crescer. De acordo com diretor de marketing fixo da Telefônica, Henrique Freire Moraes, que liderou esse projeto da operadora no ano passado, a tele vinha perdendo em média 0,5% da planta de telefonia fixa ao ano nos últimos anos, isto é, cerca de 400 mil linhas fixas desconectadas ao ano. A tele colocou cerca de 700 vendedores nas ruas para fazer essa venda de porta em porta nas regiões mais periféricas das cidades. “Contratamos pessoas das próprias comunidades, para chamar o cliente no portão e explicar com calma as tarifas, os planos, e quando era mais conveniente usar o fixo ou o celular”, conta Moraes. A venda porta-a-porta já representa de 25% a 30% das novas vendas de telefonia fixa da Telefônica. Outra ação da concessionária foi investir na retenção dos atuais clientes com a melhoria da qualidade do serviço e da qualidade da venda, para que o

Acessos fixos em serviço Concessionária Oi Telefônica CTBC Sercomtel Total

Acessos 20.018.382 11.308.448 620.790 163.246 32.110.866

Fonte: Anatel. Base: dez/2010.

cliente entenda melhor o que comprou, não tenha susto com a conta no final do mês e não cancele o serviço. Sem revelar valores, o diretor de marketing fixo garante que isso garantiu à concessionária o menor índice de churn dos últimos cinco anos. “Com a estratégia de venda porta-a-porta e os esforços para redução do churn ganhamos cerca de 100 mil novos acessos de abril a dezembro do ano passado, o que nos garantiu um saldo positivo de 40 mil novas linhas fixas em 2010”, comemora Moraes. “Foi algo único. Das maiores incumbents do mundo, apenas a Telefônica conseguiu ampliar a base de telefones fixos”, acrescenta.

A mudança estratégica, como explica o executivo, passou por uma mudança filosófica dentro da empresa. “A lógica seria aceitarmos a tendência de mercado de perda de base para a telefonia móvel, mas acreditamos na convivência dos dois serviços e decidimos agir”, conta. Moraes afirma que muitos clientes que tinham apenas celular pré-pago não tinham linha fixa porque acreditavam ser algo muito caro para eles, que a assinatura básica era muito cara. “Alguns até tiveram telefone fixo, mas não tinham controle e se assustavam com as contas no final do mês. Assim, criamos planos alternativos para atender à demanda dos clientes, com um gasto fixo que coubesse no seu bolso”, explica. A Telefônica tem planos a partir de R$ 29 ao mês, com minutos locais de fixo para fixo inclusos; mas que necessitam de compra de créditos em separado para a realização de chamadas de longa distância ou para números móveis. “E o cliente não vê isso como uma restrição, mas sim como um controle sobre sua conta telefônica”, comenta. Na visão do executivo, o futuro dos serviços fixos de voz é sólido: as pessoas vão continuar falando ao telefone e esperam que o serviço seja confiável

VoIP se reencontrou no mercado corporativo

N

os últimos anos, as companhias competitivas de telefonia que optaram por utilizar a tecnologia de voz sobre IP (VoIP) tiveram que reinventar seu modelo de negócios e focar no público empresarial para se manter no mercado. As operações, inicialmente focadas na venda de minutos de ligações de baixo custo para clientes residenciais, levaram as empresas deste nicho rapidamente a passar por dificuldades, por conta da pouca qualidade nas chamadas, quando utilizavam a rede pública de Internet, e pela chegada de gigantes como Skype, oferecendo comunicação gratuita entre os usuários pelo computador. “O cliente pessoa física nem sempre está muito preocupado com a qualidade quando ele tem um serviço de graça, que pode atendê-lo em casos de ligações internacionais ou interurbano e, para o restante das ligações, ele pode conversar pelo telefone fixo comum”, afirma o diretor de marketing da GVT, Ricardo Sanfelice. Ele credita o fracasso do modelo de negócios de parte das primeiras empresas de VoIP do Brasil ao fato de elas terem vendido a tecnologia como serviço. “Muitas operadoras mantêm parte de suas redes de transporte com a tecnologia IP, mas você não precisa rotular como VoIP para vender outro serviço; para o usuário final o importante é ter a telefonia e realizar as chamadas”. O presidente da TellFree, Daniel Duarte, observa que as baixas velocidades da banda larga brasileira também impediram o serviço de decolar no início da década. No entanto, Duarte faz prognósticos positivos para o VoIP, por conta da melhora na qualidade das redes. “O universo poderia ser melhor? Sim, mas com o avanço da banda larga e agora com os projetos de quarta geração (4G) da banda larga móvel, acredito que tem tudo para melhorar”. De acordo com ele, a saída das operadoras de telefonia IP foi se consolidar com

negócios voltados para prestação de serviços às pequenas e médias empresas. “Hoje, mais de 90% da nossa receita vem deste segmento”, comentou o executivo. Para o diretor de marketing e produtos da Transit Telecom, Marco Jordan, a previsão de um novo ciclo de investimentos em redes para banda larga deve colocar o serviço novamente em evidência nos próximos anos. De olho na melhora dos acessos e na possibilidade de oferecer ligações com qualidade melhor, há um ano a Transit projeta voltar à carga com a venda de VoIP para o usuário residencial. “O VoIP está voltando a ter importância no mercado por conta da melhora na qualidade dos acessos”, afirmou o executivo. Frente à nova oportunidade de negócios, a empresa estuda relançar seu modelo de telefonia IP. “Recuamos um pouco com este serviço em meados de 2006, mas, com os avanços da qualidade do acesso e uma conexão cada vez mais parruda, estudamos voltar com a oferta a partir de setembro ou outubro”, revela Jordan. De acordo com o executivo, o modelo de negócios do novo VoIP da Transit está em análise, “mas deve ser parecido com o serviço prestado hoje pela Skype”, adianta, referindo-se ao projeto que colocará a operadora como concorrente direta da antiga parceira na oferta de telefonia IP. Atualmente, Skype e Transit brigam pelos números locais dos usuários do SkypeIn, até então fornecidos pela Transit para recebimento de chamadas dos clientes Skype. Embora tenha evitado comentar diretamente o caso, o executivo disse que, nos últimos dias, a empresa criou um serviço de ‘call-me’ para atender gratuitamente aos usuários do serviço prestado anteriormente pela Skype. No entanto, Jordan não descarta a possibilidade deste projeto ser incorporado ao portfólio da Transit. “Está disponível por tempo indeterminado”. (WM)

10 Teletime jul_2011


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.:STFC e barato. Dessa forma, a receita é: “planos com controle para as classes menos abastadas e planos ilimitados com preços convenientes para classes mais altas”. Além do empacotamento, a sinergia entre as plataformas fixa e móvel, agora que a Telefônica tem o controle total da Vivo, tende a trazer benefícios para o consumidor. E agora, com os planos negociados com o governo para a oferta de banda larga popular, a Telefônica empacotará o serviço de voz e a banda larga de 1 Mbps por R$ 65, o que deve impulsionar a venda do serviço de telefonia. Combos Como tem acontecido em todo o mundo, a entrada da operadora de TV a cabo no mercado de telefonia se provou bem sucedida ao unir a oferta aos pacotes de serviço de TV paga e banda larga de alta velocidade. A Net Serviços, que tem como acionista a Telmex/América Móvil, controladora da Embratel, lançou em parceria com a tele o Net Fone Via Embratel em maio de 2006, e ao final de 2010 o número de linhas fixas em serviço chegava a 3,1 milhões, crescimento de 23% em relação a 2009, com 596 mil novas linhas conquistadas. E, ao que tudo indica, esse crescimento não dá nem sinais de diminuição de ritmo. Com base em informações do balanço da holding América Móvil é possível calcular que ao final do março a base de telefonia fixa da Net já alcançava cerca de 3,38 milhões de linhas em serviço. “Quando entramos na telefonia fixa, o mercado coberto por nossas redes, essencialmente o de classes A e B, já estava saturado, com uma penetração alta do serviço, e tivemos que oferecer uma alternativa com produtos inovadores e mais vantajosos, sem assinatura básica, com os serviços inteligentes sem custo adicional e vantagens nas tarifas para poder conquistar mercado”, lembra o diretor de gestão e estratégia operacional da Net Serviços, Rodrigo Marques. “Ganhamos clientes porque nossa proposta de valor é boa”. Exatamente por conta dessa cobertura, a maior parte dos assinantes de telefonia da Net veio de outras operadoras. “Em geral, quando chegamos a um prédio novo ou a uma nova rua, as

“Podemos inovar com uma integração maior, combinações entre telefonia fixa e móvel, caixa postal unificada, videoconferência etc. Não podemos deixar o serviço perder valor.” Rodrigo Marques, da Net Serviços pessoas já têm telefones fixos, e quando percebem as diferenças dos planos e os benefícios dos pacotes de serviço migram para a Net”. Há também alguns casos de clientes que decidiram ficar apenas com o telefone celular e, com a chegada da Net, voltaram a assinar um serviço de telefonia fixa. Na matemática da portabilidade, segundo Marques, para cada assinante que pede para sair da Net para outra operadora, dez assinantes portam seus números para a Net. “É a maior relação de portabilidade do mercado”, celebra o diretor. A Net tem investido também na expansão da rede e dos serviços, saindo

Acessos fixos em serviço Autorizada

Acessos

Embratel GVT TIM/Intelig Transit CTBC* Oi* Sercomtel*

7.063.433 2.084.700 519.161 157.440 99.043 40.666 20.843

Telefônica*

18.815

Tmais Local Telecom Global Crossing Engevox Trinn IDT DSLI Suporte BBS Options Aerotech Alpha Nobilis Total

6.504 5.341 5.205 3.022 2.637 671 510 301 179 60 45 10.028.576

* Inclui apenas os telefones fixos em serviço fora da área de concessão da incumbent. Fonte: Anatel. Base: dez/2010.

das áreas mais nobres para áreas com poder aquisitivo menor. “Estamos construindo rede em cidades onde não operávamos. São redes HFC, com muita capacidade para oferecer, num primeiro momento, banda larga de altíssima velocidade e telefonia, até que a gente consiga obter novas licenças de TV a cabo da Anatel”, pontua o executivo. Niterói, Recife e Salvador foram as primeiras cidades em que a Net ainda não tem licença de TV a cabo a receber as novas redes e os novos serviços. O serviço de voz da Net funciona com base no protocolo IP, mas não se deve confundir com os serviços de voz sobre IP (VoIP) que trafegam pela rede pública de Internet. “Hoje todas as operadoras usam voz sobre IP em algum nível do transporte da voz, mas o nosso serviço é oferecido em cima de uma rede privada, temos 100% do controle da rede e, por isso, conseguimos dar qualidade ao assinante”, explica Marques. Na estratégia de pacotes de serviços, quanto maior o número de produtos adquiridos, maior a quantidade de benefícios que o cliente recebe, mas a Net também vende só o serviço de telefonia, se o cliente não quiser os demais produtos. “Conectamos o serviço em nossa rede de dados através de um MTA e o cliente não precisa assinar a banda larga, se não quiser. É raro, mas temos alguns assinantes que só têm voz”, conta. Para Marques, ainda é possível trazer muita inovação para o mercado de voz. “Podemos inovar não apenas com novos planos ilimitados e tarifas, mas também com uma integração maior entre produtos. Podemos fazer combinações entre telefonia fixa e móvel, como ‘home zones’, caixa postal unificada; encaminhamento automático de chamada para a tela da TV, videoconferência com a televisão etc. Não podemos deixar o serviço perder o valor”, conclui.  *Colaborou Wilian Miron

12 Teletime jul_2011


e d a d i l i s b o Mo egóci n

+

e e s e m grand a r g o Pr a este par nto! eve

COM O AVANÇO DA BANDA LARGA MÓVEL, DA VIRTUALIZAÇÃO DAS APLICAÇÕES E DE DISPOSITIVOS COMO SMARTPHONES E TABLETS, A MOBILIDADE CORPORATIVA GANHOU NOVAS DIMENSÕES. ESSAS NOVAS POSSIBILIDADES E OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS SERÃO DISCUTIDAS NO FORUM MOBILE +.

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Fernando Paiva, de Helsinque*

fernando.paiva@convergecom.com.br

Smartvirus

Popularização mundial de smartphones atrai cybercriminosos. Mais de mil diferentes vírus foram identificados. Mercado de antivírus e outras ferramentas de segurança para celulares está em franca expansão.

FOTOs: divulgação

Thank You/Albert Ziganshin/shutterstock/Editoria de arte converge

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os últimos dois anos, praticamente dobrou a quantidade de códigos maliciosos (malwares) para dispositivos móveis identificados por empresas de segurança de dados. Hoje, são mais de mil variantes espalhadas pelo mundo, entre vírus, trojans, worms, spywares e até botnets (veja glossário abaixo). Ou seja: as mesmas ameaças do mundo dos computadores estão migrando para smartphones e tablets. Conforme esses aparelhos se popularizam e passam a armazenar ou trafegar dados valiosos de consumidores e corporações, o mundo móvel se torna um espaço cada vez mais atraente para crimes virtuais. Como resposta, os desenvolvedores de antivírus para PCs, como F-Secure, Kaspersky, McAfee e Symantec criaram versões para dispositivos móveis e agora se esforçam para convencer os clientes da importância de proteger seus aparelhos. Os malwares para dispositivos móveis podem se espalhar de diversas formas, desde Bluetooth até mensagens de texto (SMS), mensagens multimídia (MMS) e e-mails. Os aplicativos móveis também se tornaram vetores de transmissão. Os malwares vêm disfarçados de jogos e utilitários e, não raro, estão disponíveis para download em lojas de aplicativos renomadas. “Já encontramos casos de vírus para celular disfarçados de jogos de poker e xadrez, mas também em aplicativos pornográficos e em utilitários, como calculadoras”, relata Mikko Hypponen, diretor de pesquisas da F-Secure, na Finlândia. Um exemplo era um trojan para Android que vinha embutido em um aplicativo chamado “Google SSearch”, ou seja, quase o mesmo nome do software original do próprio Google.

Quanto mais popular é um sistema operacional, mais malwares são escritos para atacar seus usuários. É assim no mundo dos desktops e no mundo dos celulares. Se para PCs a maioria dos vírus é criada para atingir o Windows XP, nos terminais móveis os alvos preferenciais até o momento foram Symbian e Java (veja quadro abaixo). Os vírus pioneiros para celular foram descobertos em 2004, criados para Symbian. Na época, tal como os primeiros malwares escritos para PCs, o objetivo não era econômico, mas apenas chamar a atenção, ou provocar confusão. Um dos mais conhecidos foi

“Estamos no limiar da reunião entre o crime digital e o crime real.” Claudio Martinelli, da Kaspersky 14 Teletime jul_2011

o CommWarrior, que infectou algumas dezenas de milhares de celulares Symbian Série 60 em 2005. O que ele fazia era enviar por MMS arquivos contidos na memória para todos os números da agenda. Agora, o alvo preferencial começa ser o Android. Em razão do rápido crescimento de sua base de usuários, o sistema operacional do Google deve ocupar o primeiro lugar em quantidade de ameaças dentro de alguns anos, preveem especialistas. O Android é uma das plataformas mais abertas existentes no mercado, o que facilita o trabalho dos cybercriminosos. Uma das brechas reside na possibilidade de os usuários baixarem aplicativos em lojas independentes. Todavia, nem mesmo o Android Market, loja de aplicativos oficial do Google, está seguro. Em março deste ano foi descoberto um vírus chamado DroidDream, que estava escondido em mais de 50 aplicativos disponíveis para download no Android Market. O malware era capaz


“Já encontramos casos de vírus para celular disfarçados de jogos de poker e xadrez.”

ainda é pequeno. A baixa de enviar quaisquer dados proteção aliada à massificacontidos no aparelho para um ção do hábito de leitura de servidor, inclusive os números e-mails e o acesso a redes que identificam o telefone sociais em celulares e tablets (IMEI e IMSI), além de controMikko Hypponen, da F-Secure representa uma porta escanlá-lo remotamente, o que é o carada para a prática do indício de criação de uma phishing. os cybercriminosos interbotnet, ou rede de smartphones “zumA privacidade também rompem o serviço, apagam bis”, tal como acontece entre PCs. está em jogo, e a interceptaas pistas e partem para Essas botnets são utilizadas para disção de dados pessoais pode outra frente. seminar spams ou sobrecarregar serser valiosa para os criminoOutro golpe que começa a vidores com múltiplos acessos simulsos virtuais. De acordo com o gerente ganhar força em celulares é o phishing. tâneos, com o objetivo de tirar um site de engenharia de sistemas da Trata-se do envio de e-mails falsos do ar, tal como feito recentemente com Symantec no Brasil, Vladimir com o objetivo de extrair informações as páginas de alguns órgãos governaAmarante, já foram encontrados pessoais, tais como senhas de banco mentais brasileiros. O Google reconhedois casos de “snoopwares” para ou de cartão de crédito. É uma ameaça ceu a falha, tirou os aplicativos malismartphones. “O snoopware é um sofque independe de sistema operaciociosos do Android Market e removeu tware capaz de ligar a câmera ou o nal. “Golpes que envolvem engenharia remotamente os malwares dos aparemicrofone do aparelho e transmitir social estão entre os mais comuns em lhos infectados ao redor do mundo. seus dados sem o cliente perceber. Ou dispositivos móveis no momento”, Já foram identificados malwares seja: o celular se torna um espião”, afirma Mariano Sumrell, diretor de para Windows Mobile, mas a incidênexplica Amarante. marketing da AVG Brasil. Nos desktops cia está diminuindo. Para iPhone, até as pessoas estão razoavelmente proteagora só foram encontrados dois Contra-ataque gidas contra o phishing: se não poscasos, mas ambos funcionavam Não foram apenas os cybercriminosuem um firewall ou uma ferramenta somente nas versões crackeadas, tamsos que se atualizaram e migraram antispam, às vezes o próprio navegabém co­­ nhecidas como jailbreak, do para o mundo móvel. Os desenvolvedodor bloqueia o acesso a sites suspeitos. produto da Apple. A restrição de res de soluções de segurança correm Nos dispositivos móveis, contudo, o download de aplicativos apenas na atrás. F-Secure, Kaspersky, McAfee e uso de tais ferramentas de segurança App Store da fabricante torna mais difícil a proliferação de vírus, mas não impossível. “Todos os sistemas operacionais são igualmente vulneráveis. Se é possível escrever um programa para um OS, é possível também escrever Botnet Rede de computadores “zumbis” controlados por terceiros sem que seus donos saibam. um vírus para ele”, afirma Claudio Essas redes são usadas comumente para envio de spams ou para sobrecarregar Martinelli, gerente de vendas para o servidores, tirando sites do ar por excesso de requisições. varejo na América Latina da Kaspersky. Segundo dados da F-Secure, até o Malware momento 15% dos malwares identifiAbreviação de malicious software. Trata-se de um código malicioso desenvolvido para cados pela empresa para dispositivos atacar sistemas, corrompendo seu funcionamento ou roubando dados. Vírus, trojans, worms e spywares são malwares. móveis foram criados com a finalidade de gerar lucro. Um dos golpes mais Phishing comuns é o código malicioso forçar o Tentativa de extrair dados sigilosos, como senhas de banco e números de cartão de telefone a realizar ligações ou enviar crédito, enganando as pessoas por meio de emails falsos ou mensagens em redes mensagens de texto para serviços presociais, geralmente tentando se passar por alguma instituição renomada. mium, que depois vêm cobradas na conta telefônica. Aproveitando-se Spyware Malware que coleta informações do computador infectado. Geralmente é instalado sem da desatenção das pessoas, que raraquerer pelo usuário ou secretamente por alguém que deseja espioná-lo. mente checam a fatura com a devida atenção, geralmente esses malwares Trojan Horse (ou Cavalo de Troia) Malware que se disfarça de um software são programados para fazer ligações inofensivo para ser instalado pelo usuário em seu sistema. Uma vez dentro do curtas ou enviar poucas mensagens computador, pode executar diversas ações indesejadas, como apagar ou roubar dados. por mês. Em vez de tirar muito dinheiVírus ro de uma só pessoa, preferem Malware que se requer alguma ação do usuário para se disseminar. Entra em tentar tirar um pouco de muitas. determinado programa e os corrompe. No exterior, é fácil criar rapidamente serviços de valor adicioWorm nado (SVA) com large accounts Malware que se espalha por conta própria dentro de uma rede de (grandes contas), inclusive usancomputadores, sem a necessidade de intervenção do usuário, aproveitando-se de alguma vulnerabilidade do sistema. do laranjas. Ao menor sinal de que o esquema foi descoberto, Albert Ziganshin/shutterstock

Glossário

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.:capa

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os últimos 20 anos, o perfil dos desordeiros virtuais mudou. Se antigamente a maioria era de garotos inteligentes com tempo ocioso à procura da fama, agora são aproveitadores cuja principal motivação é financeira. Muitos sequer conhecem programação de sistemas, mas contratam técnicos para aplicar seus golpes. Existem até mesmo sites mafiosos que se dispõem a pagar por computadores infectados das chamadas botnets, ou redes de computadores zumbis. “Dependendo da localização do computador, seu preço varia. Os mais valiosos são PCs dos EUA e da Europa Ocidental”, afirma Mikko Hypponen, diretor de pesquisas da F-Secure. O objetivo mais comum é o roubo de dados de cartões de crédito. Uma vez detendo essas informações, os criminosos realizam uma triangulação de transações, para evitar serem pegos. Uma delas envolve portais de venda de mercadorias usadas, como o eBay. O bandido anuncia a venda de um determinado produto ainda novo, dentro da caixa, a um preço abaixo do praticado no mercado. Um incauto se interessa, faz um lance e ganha. O bandido então usa um cartão de crédito roubado para comprar o produto em uma loja virtual (Amazon, por exemplo) e bota como endereço de entrega a casa da pessoa que fez o lance no site de venda de usados. Fica combinado o seguinte: a pessoa só precisa pagar depois que receber. Alguns dias depois o produto é entregue, novo, na caixa, conforme prometido. O pagamento então é feito através de algum serviço de remessa internacional de dinheiro em espécie, como Western Union, por exemplo. O golpe é descoberto quando o dono do cartão recebe a sua fatura, reclama com a administradora, que reclama com a loja virtual, que dá o endereço do incauto que não sabia que sua compra foi feita na verdade com os dados do cartão de um terceiro. O golpe é feito em larga escala e mundialmente. Raramente os cybercriminosos são presos.

“É necessário educar as pessoas, tal como feito no uso de PCs.” Mariano Sumrell, da AVG opções, algumas gratuitas e outras, mais completas, pagas. Algumas já ultrapassaram a marca de 250 mil downloads no mundo. O preço gira em torno de US$ 10. Existe também a oferta por meio das operadoras móveis. Este é o modelo adotado pela F-Secure: sua ferramenta de segurança é comercializada com a marca das teles. Neste caso, a cobrança é feita por meio de uma assinatura mensal, que é dividida entre as partes. A Vivo foi a primeira operadora móvel brasileira a adotar a solução da F-Secure, no mês passado. Outras 36 operadoras estrangeiras seguiram o mesmo caminho. Albert Ziganshin/shutterstock

Crime virtual, lucro real

mita vasculhar e analisar os arquivos dos iPhones. A produção de vacinas para vírus de dispositivos móveis é feita de maneira bem similar àquela para PCs. Amostras são coletadas diariamente no mundo inteiro, providas pelos próprios assinantes dos serviços ou por telefones que servem de isca. Uma primeira análise é realizada de maneira automatizada nos laboratórios. Se o malware for simplesmente uma variante de uma família previamente conhecida, provavelmente já existe uma vacina disponível. “Tal como a vacina da gripe nos protege contra três ou quatro cepas da doença, o mesmo vale para os vírus de computadores”, explica Martinelli, da Kaspersky. Se a amostra não se encaixar em nenhuma família conhecida, é preciso que um especialista humano analise o arquivo. Ainda assim, a solução costuma vir rapidamente, em questão de horas, ou no máximo um ou dois dias. Somando as amostras relativas a ameaças para PCs, as empresas de antivírus costumam analisar algumas centenas de milhares de arquivos suspeitos diariamente. No laboratório central da F-Secure, na Finlândia, foi montada uma sala especial para a análise de vírus para dispositivos móveis. Ela parece o cofre de um banco: suas paredes impedem a transmissão de dados em qualquer radiofrequência. Ali, em meio a diversos telefones, os cientistas podem realizar os testes necessários. A distribuição dos antivírus costuma ser feita através das lojas de aplicativos. Só no Android Market há mais de dez FOTOS: DIVULGAÇÃO

Symantec, dentre outros, já oferecem antivírus para diversos sistemas operacionais de smartphones, principalmente Android, Symbian e Windows Mobile. O iPhone é exceção: não há venda de antivírus na App Store porque a Apple não libera uma API (application programming interface) que per-

O Android é uma das plataformas mais abertas existentes no mercado, o que facilita o trabalho dos cybercriminosos.

“Com um snoopware, o celular se torna um espião.” Vladimir Amarante, da Symantec 16 Teletime jul_2011

Segurança extra A preocupação não se limita ao risco de contaminação por malwares. Um dos maiores problemas relativos à segurança de dispositivos móveis não é virtual, mas real: a perda ou roubo do equipamento, repleto de dados pessoais e corporativos valiosos. Uma pesquisa da Kaspersky indica que 25% das pessoas que têm celular no mundo já tiveram um aparelho perdido ou roubado. E mais de 50% não costumam proteger o terminal com senha, de acordo com pesquisa da McAfee, o que facilita o acesso a seus dados. Pensando nisso, alguns dos softwares de segurança disponíveis no mercado incluem ferramentas para localização, bloqueio e limpeza de dados remotos de um celular roubado ou perdido. Geralmente os comandos são enviados por SMS de outro celular, mediante a inclusão de uma senha. Em


FOTOS: DIVULGAÇÃO

alguns casos, é possível até mesmo fazer com que o telefone roubado emita um alarme. Na versão da Kaspersky, se o bandido trocar o simcard, o dono é informado do número novo. Há também opções de privacidade e de controle parental. É possível criar listas brancas ou negras de contatos e sites que podem ser acessados. Mercado corporativo Segundo especialistas, o mercado corporativo está mais ciente do que o consumidor final da necessidade de proteger os dispositivos móveis de seus funcionários. A preocupação cresce conforme aumenta a integração desses terminais com os sistemas de TI das grandes corporações. O quadro se agrava quando se leva em conta que boa parte dos empregados utilizam os celulares do trabalho também para fins pessoais, instalando aplicativos que podem representar uma ameaça para os sistemas da empresa. Isso abre outro nicho para os desenvolvedores de antivírus: ferramentas de gestão e controle de dispositivos móveis corporativos. “Oferecemos soluções para as empresas aplicarem suas políticas de segurança em smartphones e tablets. Elas podem, por exemplo, bloquear o acesso a determinados sites ou a instalação de certos tipos de aplicativos”, explica José Antunes, gerente de engenharia de sistemas da McAfee. Especialistas preveem que outros golpes ainda restritos ao mundo dos PCs migrem mais cedo ou mais tarde para dispositivos móveis. É o caso dos trojans sequestradores, ou ransom trojans, que codificam os dados do computador, tornando-o refém. Em troca

Tela de análise de código malicioso

Computadores usados para testar vírus recebem adesivo de alerta no laboratório da F-Secure, na Finlândia

de uma chave para reaver seus dados, o usuário paga um resgate, ao preço de US$ 100, aproximadamente. Se não tiver backup, a única saída é aceitar a chantagem e desembolsar o dinheiro para o cybercriminoso. Hypponen, da F-Secure, acredita que uma versão de ransom trojan voltada para o sequestro de smartphones e tablets pode aparecer a qualquer momento. Outro perigo a se temer é a junção entre crimes reais e virtuais. “Estamos no limiar da reunião entre o crime digital e o crime real. Essa é nossa maior preocupação no momento. Já encontramos um malware que informa onde você está pelo GPS”, comenta Martinelli, da Kaspersky. É de se esperar também que os dispositivos móveis comecem a ser usados por “hacktivistas” e por gover-

Malwares identificados para dispositivos móveis Plataforma J2ME Symbian Windows Mobile Android iPhone OS Total

Famílias de malwares 45 74 16 7 1 143

Sala protegida contra transmissões sem fio no laboratório de análise de vírus para celulares da F-Secure

nos, em guerras digitais, como já acontece hoje em computadores. Pior ainda será o uso por cyberterroristas. A única saída é prevenir. Mas, para tanto, é preciso conscientizar os consumidores da necessidade de proteger seus smartphones e tablets contra esses ataques virtuais. “É necessário educar as pessoas, tal como feito no uso de PCs”, recomenda Sumrell, da AVG. Hypponen, da F-Secure, está confiante que isso acontecerá: “No futuro, todos teremos antivírus instalados em nossos celulares.”  * O jornalista viajou a convite da F-Secure

Classificação por tipo

Variantes 613 311 54 15 2 995 Fonte: F-Secure, junho de 2011

Fonte: Kaspersky, relatório de dezembro de 2010

jul_2011 Teletime 17


.:Fornecedores

O inverno da Nokia

Após queda das ações, perda de market share e desvalorização da marca, empresa tenta se reerguer. Analistas avaliam os principais equívocos da companhia e os caminhos para voltar a crescer.

viewgene/shutterstock

H

á três anos, a Nokia vive um longo e tenebroso inverno. Depois de alcançar quase 40% de participação no mercado mundial de telefones celulares em 2008, a gigante finlandesa viu seu market share cair para 25% no primeiro trimestre de 2011, de acordo com dados do instituto Gartner. Sua liderança, que parecia incontestável, agora está sob ameaça. Nesse período, o valor das ações despencou, o CEO foi trocado, houve demissões em massa e foram realizadas guinadas estratégicas. Em uma carta aberta aos funcionários que entrou para história do setor de telecomunicações, o novo CEO, Stephen Elop, comparou a Nokia a uma “plataforma em chamas”. Os analistas mais otimistas acham que a Nokia está entrando nos eixos e logo reverterá essa situação. Os mais pessimistas, contudo, preveem um futuro mais negro, até mesmo com a venda da companhia. A Nokia tem mais de 130 anos de existência, tendo exercido atividades diversas, de geração de energia à fabricação de galochas de borracha. A decisão de concentrar sua atuação apenas em telecomunicações aconteceu em 1992, em um movimento que levou a companhia a se tornar uma das maiores multinacionais do planeta, com faturamento anual superior a 40 bilhões de euros e mais de 120 mil funcionários.

Sua marca foi alçada à lista das dez maiores do mundo, chegando a ocupar a quinta posição em 2008, quando valia US$ 35,9 bilhões, segundo estudo da Interbrands. Trata-se da principal empresa na economia finlandesa e era, até alguns anos, sinônimo de inovação no setor de telecom. O sucesso foi conquistado durante a segunda geração (2G) de telefonia celular e a introdução dos primeiros modelos digitais, no final da década de 90. Enquanto a Motorola fiava a sua liderança de mercado no sucesso do StarTAC, um telefone móvel analógico que era campeão de vendas, a então

pouco conhecida Nokia surgiu com celulares digitais que logo caíram no gosto popular. Duas qualidades chamavam a atenção dos aparelhos da Nokia na virada do novo milênio: a durabilidade e, principalmente, o menu de navegação intuitivo e simples. Essa fórmula de sucesso acompanhou a Nokia por quase dez anos. Em seu auge, a empresa vendeu 472 milhões de terminais, em 2008. Para especialistas, o fato que marca o começo do declínio da Nokia foi o lançamento do iPhone, em 2007. “O maior erro da Nokia foi sua falta de habilidade de ser competitiva no segmento high end. O iPhone elevou o nível do que um smartphone deveria ser”, comenta Tuong Nguyen, analista do Gartner. O produto da Apple trazia a inovação da tela sensível ao toque, uma interface muito mais amigável que aquela da Nokia e o conceito de aplicativo móvel, trazendo a reboque um novo modelo de negócios, o das app stores. A Nokia não tinha nada disso em seu port­ fólio e nem mesmo nas pranchetas. Enquanto isso, vários fabricantes, como Samsung, LG, Motorola e HTC perceberam rapidamente que o padrão Apple era o caminho a ser seguido. A Nokia demorou um pouco mais. “A Nokia superestimou sua própria marca, acreditando que poderia vender qualquer coisa, por mais feia que fosse”, critica

A evolução da marca 2004 - Lançou 36 telefones, a maioria já com tela colorida e câmera.

2005 Lançou 42 modelos, dentre eles o seu primeiro “music phone”, o Nokia 3250. Registrou a venda de 40 milhões de telefones com MP3 player.

2006 - Lançou 39 modelos, entre os quais o N95 e o N93, seu primeiro com zoom óptico.

18 Teletime jul_2011

2007 - Lançou a marca Ovi e seu primeiro telefone dedicado a games, o N-Gage.


FOTOS: divulgação

Hartmut Leuschner, analista e editor-chefe de telecomunicações da empresa de pesquisas OTR Global. “A Nokia perdeu algumas das grandes tendências do mercado, dos aparelhos com flip às telas sensíveis ao toque, passando por tablets e terminais dual SIMCard”, completa o analista. A fabricante tardou a lançar seu primeiro modelo touch screen e, quando o fez, optou pela tela com tecnologia resistiva, já ultrapassada e que deixa a desejar em termos de experiência para o usuário, pois nem sempre o toque é captado. Outro erro apontado por analistas foi ter persistido tanto tempo com o sistema operacional Symbian, enquanto o iOS da Apple e o Android da Google se mostravam superiores. “A Nokia não foi capaz de aperfeiçoar sua interface com o usuário. O Symbian S60 não era competitivo”, afirma Nguyen, do Gartner. Desde então, houve várias reviravoltas na estratégia de desenvolvimento do Symbian, o que transmitia ao mercado a impressão de que a Nokia não sabia bem para onde ir. Primeiro a empresa tentou transformar o Symbian em uma plataforma aberta, passando seu controle para uma organização sem fins lucrativos, a Symbian Foundation. Paralelamente, era acelerada a criação das versões Symbian 3 e Symbian 4, que acabaram sendo adotadas em poucos terminais. Em novembro de 2010 o controle sobre a plataforma voltou para as mãos da Nokia e, alguns meses depois, em 2011, seu desenvolvimento foi terceirizado para a Accenture. Como se não bastassem as idas e vindas do Symbian, a Nokia investia em outro sistema operacional, o Maemo. Este era mais avançado e prometia ser o futuro dos smartphones da companhia.

2008 - Fechou acordo com a Qualcomm para fim dos litígios judiciais. Lançou o serviço Nokia Comes With Music. Adquiriu a Navteq.

da China. Huawei e ZTE estão brigando por espaço nessas faixas, trazendo para o mercado aparelhos cada vez mais baratos e incrementados. Junto com eles, vêm os chamados “white boxes”, terminais produzidos na Hartmut Leuschner, da OTR Global China para levarem as marcas de terceiros, como operadoras móveis. Foram esses pequenos fabricantes que mais roubaram Entretanto, foi adotado em participação da Nokia entre 2009 e apenas um produto, o N900, 2010, segundo dados do Gartner. antes de se fundir com o Moblin, sistema Enquanto nesse período o share da operacional móvel da Intel, e se tornar o Nokia caiu de 36,4% para 28,9%, a parMeeGo. Novamente, muita esperança e ticipação de pequenos OEMs subiu de investimento em pesquisa foram deposi16,5% para 30,6% (veja tabela abaixo). tados em uma nova plataforma móvel Ao mesmo tempo, existe a competique talvez venha ao mundo natimorta. O ção do mercado negro, que não aparece N9, a ser lançado no fim deste ano, pronos números do Gartner. Em países vavelmente será o primeiro e último emergentes, como Brasil e Índia, há uma modelo da Nokia com MeeGo, já que a enxurrada de celulares contrabandeados empresa tomou a decisão de adotar o com marcas falsas. Embora sejam fráWindows Phone como plataforma de geis e de má qualidade, além de não seus próximos smartphones. oferecerem garantia ou suporte técnico, A Nokia também demorou a se acerseus preços baratos agradam aos consutar quanto ao conceito de loja de aplicatimidores de baixa renda, o que tira receivos. A sua versão, batizada de OVI Store, ta dos players tradicionais. “Sabemos ainda não faz o mesmo sucesso das que existem cópias baratas da gente. Isso concorrentes. Um dos erros foi ter mistué um desafio. O importante é mantermos rado, em seu início, aplicativos com cona qualidade dos nossos produtos”, teúdos diversos, tais como ringtones e comenta a vice-presidente de marketing wallpapers. Houve também dificuldades da área de telefones móveis da Nokia, na promoção da loja junto aos consumiBlanca Juti (leia abaixo a entrevista com dores e na construção de um modelo de a executiva). negócios atraente para os desenvolvedoMesmo na gama baixa a Nokia cheres. Enquanto os catálogos da App Store gou atrasada em certas tendências (Apple) e do Android Market ficavam importantes, como os aparelhos dual cada vez mais cheios de novidades, a OVI SIMCard. Há mais de dois anos esse Store avançava a passos lentos. tipo de celular faz sucesso em mercados emergentes. Samsung e LG foram Low end os primeiros a perceber. A Nokia entrou As ameaças não se limitam ao segapenas em 2011. Sobre o atraso, mento de smartphones. No mercado de Blanca explica: “Houve muitas razões. celulares intermediários e básicos, onde Uma delas é que temos um forte relaa Nokia sempre foi forte, também há cionamento com nossas operadoras pressões. Neste caso, os inimigos vêm

“A Nokia perdeu algumas das grandes tendências do mercado, dos aparelhos com flip às telas sensíveis ao toque.”

2009 - Lançou o Nokia Life Tools na Índia e na Indonésia; o N900, seu primeiro smartphone com Maemo; o Nokia Booklet 3G, seu primeiro netbook; e a Ovi Store, sua loja de aplicativos.

2010 - Lançou o N8, primeiro aparelho com Symbian 3. Liberou a navegação gratuita no OVI Maps. Stephen Elop foi escolhido como novo CEO.

jul_2011 Teletime 19

2011 - Parceria com a Microsoft para uso do Windows Phone. Corte de gastos, e demissão 4 mil funcionários, lançamento do N9, seu primeiro terminal com MeeGo. Acordo com a Apple para fim dos litígios judiciais envolvendo quebra de patentes.


.:Fornecedores Receita com celulares*

(em bilhões de euros)

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Lucro operacional da unidade de celulares

Nº de celulares enviados para lojas e operadoras

3,79 3,6 4,1 5,43 5,81 3,31 3,3

207,7 265 347,5 437 472 431,8 452,9

(em bilhões de euros)

18,51 20,81 24,77 25,08 35,01* 27,85 29,13

(em milhões)

*A partir de 2008 as áreas de terminais e de multimídia foram unidas em uma unidade batizada de “Terminais e serviços”. Fonte: Nokia.

parceiras e a maioria não tinha interesse em dual SIM”. As consequências pelo acúmulo de erros vieram logo. Junto com a referida queda no market share, as ações da companhia desabaram. Entre 2007 e 2011, a desvalorização foi superior a 70%. Para se ter uma ideia, no dia 1º de outubro de 2007, o papel da Nokia na Bolsa de Nova Iorque fechou cotado a US$ 39,72. Em 1º de julho deste ano, estava valendo US$ 6,39. No mesmo período, houve reflexos negativos no valor da marca Nokia. Em 2008, ela era a quinta mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 35,9 bilhões, segundo o Interbrands. Em 2010, caiu para a oitava

posição e teve uma desvalorização de 18%, valendo US$ 29,5 bilhões. Em alguns mercados relevantes, a Nokia perdeu a liderança em market share no ano passado. Foi o caso do Brasil, onde a Samsung tomou a dianteira, segundo dados da GfK. O vice-presidente de telecomunicações da Samsung no Brasil, Silvio Stagni, lista os fatores que, na sua opinião, possibilitaram ultrapassar a Nokia: “Fomos os pri-

“O maior erro da Nokia foi sua falta de habilidade de ser competitiva no segmento high end.” Tuong Nguyen, do Gartner

Ordem na casa Embora abalada, a Nokia não está derrotada. Stephen Elop, o novo CEO, foi contratado no fim do ano passado para reverter o cenário negativo e pôr a empresa de volta nos trilhos. Uma de suas primeiras missões é cortar custos. O executivo tem como meta reduzir em 1 bilhão de euros os gastos operacionais anuais da empresa até 2013. Isso inclui medidas drásticas, como a demissão de 4 mil funcionários. Analistas de mercado viram com bons olhos as medidas, lembrando outros casos de sucesso de reviravoltas em empresas de tecnologia nas quais houve troca de CEOs e significativo corte de gastos, como a Xerox, entre 2002 e 2005, e a HP, entre 2005 e 2008. Como parte das mudanças, especula-se que a Nokia poderia vender sua participação na Nokia Siemens Networks, empresa de infraestrutura de redes móveis. Há propostas de grupos de investidores sendo analisadas no momento. A ideia é concentrar seus esforços em telefones móveis. No segmento de smartphones, o plano de Elop consiste em apostar todas as fichas na adoção do Windows Phone FOTOS: divulgação

A Nokia em números

meiros a lançar Android no Brasil e temos o modelo mais barato com esse sistema operacional, o Galaxy 5, vendido a R$ 399. Além disso, trazemos todos os lançamentos mundiais no mesmo mês para o País.”

O mercado mundial de celulares (em milhões) Unidades vendidas em 2009 Nokia Samsung LG RIM Apple Sony Ericsson Motorola ZTE HTC Huawei Outros Total

440,88 235,77 121,97 34,35 24,89 54,96 58,48 16,03 10,81 13,49 199,62 1.211,24

Market share em 2009 (%)

Unidades vendidas em 2010

36,4 19,5 10,1 2,8 2,1 4,5 4,8 1,3 0,9 1,1 16,5 100

461,31 281,07 114,15 47,45 46,6 41,82 38,55 28,77 24,69 23,81 488,57 1.596,8

Market share em 2010 (%)

Fonte: Gartner.

20 Teletime jul_2011

28,9 17,6 7,1 3 2,9 2,6 2,4 1,8 1,5 1,5 30,6 100

Unidades vendidas no 1º tri de 2011 107,56 68,78 24 13 16,88 7,92 8,79 9,83 9,31 7 154,77 427,85

Market share no 1º tri de 2011 (%) 25,1 16,1 5,6 3 3,9 1,9 2,1 2,3 2,2 1,6 36,2 100


como sistema operacional. Um dos argumentos para ter preterido o Android foi que já havia muitos fabricantes ligados à plataforma da Google e, portanto, a Nokia não agregaria tanto valor. Com o Windows Phone, a parceria é benéfica para ambos os lados: a Nokia trará escala para o OS da Microsoft que, por sua vez, dará um desconto significativo no preço de licenciamento para a Nokia. A decisão foi recebida com algum ceticismo pelo mercado. “Será um caminho difícil. É como um casamento: leva tempo para se ajeitar”, comenta Nguyen, do Gartner. Leuschner, da OTR Global, critica: “Talvez tivesse sido melhor adotar o Android no curto prazo e focar no Windows Phone no longo prazo”. Ele reconhece que a Microsoft possui ativos valiosos que podem ser

integrados com sua plataforma móvel, como o Xbox e o Bing. Mas pelas previsões da Pyramid, a escolha pode ter sido acertada: a empresa projeta que o Windows Phone será o sistema operacional líder de mercado já em 2013. Há mudanças à vista também na OVI Store. A loja trocará de nome, adotando a marca Nokia. A principal estratégia tem sido fechar acordos com as teles, para oferecer a cobrança através da conta telefônica. Tais acordos levaram tempo para serem negociados, mas começam a surtir efeito, principalmente em mercados emergentes, onde a penetração de cartão de crédito é baixa. Em junho a OVI Store alcançou a marca de 6 milhões de downloads por dia, o que representa um crescimento de 300% em 12 meses. A loja tem

acordos de billing com mais de 120 operadoras ao redor do mundo. Enquanto isso, a Nokia quer manter sua liderança nas gamas baixa e média. Para esse público, a fabricante divide seus aparelhos em três tipos: dual SIMCard, “toque e tecle” (terminais com tela sensível ao toque e teclado numérico tradicional), e qwerty (terminais com teclado alfanumérico completo), lista Blanca. Para analistas, a Nokia continuará a perder share este ano e provavelmente no começo de 2012. Os efeitos da nova estratégia aparecerão em meados do ano que vem e se espera que sejam positivos. Caso contrário, o destino pode ser a venda da empresa. Ou, quiçá, trocar de ramo, como a Nokia fez outras vezes em seus mais de 130 anos de vida.

O desafio do bom e barato A Nokia divide seu portfólio de telefones celulares em dois grandes grupos: smart devices e mobile phones. O primeiro é composto por smartphones, com sistema operacional Symbian S60 ou superior. Os aparelhos de gama baixa e média e com preços de até 100 euros ficam concentrados na unidade de mobile phones. Blanca Juti, vice-presidente de marketing da unidade de mobile phones, falou à Teletime sobre os planos da Nokia para esse segmento. Teletime - A Nokia está passando por um momento difícil. Qual é a sua avaliação da performance da empresa nesse segmento de gama baixa e média? Blanca Juti - Tradicionalmente so­­ mos fortes nesse segmento. Estamos nele desde o começo. O que é fantástico é que Stephen Elop (CEO) reconhece a importância desse mercado. Ele rearrumou a Nokia em três pilares: Nokia com Windows; o próximo um bilhão de pessoas conectadas; e tecnologias futuras. Esses são os três caminhos que vamos seguir. Isso dá visibilidade à nossa unidade, mas também nos pressiona. No Brasil, há forte competição por parte de celulares vendidos no mercado negro, sem marca, geralmente contrabandeados. Como a Nokia está lidando com esse problema? Sabemos que existem cópias bara-

tas da gente. Isso é um desafio. O importante é mantermos a qualidade dos nossos produtos. Nos mercados aonde vou, os consumidores dizem que preferem comprar um produto com mais qualidade, mesmo que custe mais caro. O celular é algo em que investem boa parte de sua renda, portanto, é algo que querem que dure. A margem no segmento de gama baixa é pequena. Por isso, alguns fabricantes optaram por trabalhar apenas no high end, como Sony Ericsson e Motorola. A Nokia poderia seguir o mesmo caminho? Isso não passa pela nossa cabeça. Vemos vantagem em ter escala e forte presença de marca. Mas é um segmento difícil e precisamos ser ágeis. A Nokia demorou muito a lançar seu primeiro modelo com dual SIMCard. Por que isso aconteceu? É verdade. Houve muitas razões. Uma delas é que

“Sabemos que existem cópias baratas da gente. Isso é um desafio.” Blanca Juti, da Nokia jul_2011 Teletime 21

temos um forte relacionamento com nossas operadoras parceiras e a maioria não tinha interesse em dual SIM. Agora, em alguns mercados, as teles até gostam. Na Índia, percebemos que se não entrássemos perderíamos uma grande parcela do mercado. Lá, na faixa entre US$ 30 e US$ 35, 70% do mercado é dual SIM. No resto do mundo não chega a tanto, mas é um grande fenômeno na Ásia e agora está chegando à África. Na América Latina, é uma tendência mais restrita ao Brasil até agora. Sobre o lançamento na Índia, recebo mensagens a cada meia hora de nossa equipe lá dizendo que as pessoas estão adorando. O que elas veem de bom é o fato de ter o nome da Nokia. Elas estavam esperando por um Nokia dual SIM. No Brasil, há celular com três ou mesmo quatro entradas para SIMCards. A Nokia não planeja um aparelho com mais de duas entradas? Essa não é a ideia no momento. O foco está na facilidade de trocar de SIMCard no mesmo aparelho. No Nokia X1 você pode trocar o SIMCard sem desligar o dispositivo. Chamamos isso de “easy swap”. Estamos focados em oferecer uma experiência fácil e simples. Fernando Paiva


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a eficiência na cadeia

O Fórum de Saúde Digital discutirá , que envolve a gestão hospitalar, troca de informações e transações entre hospitais, operadoras de saúde e laboratórios de análises clínicas, tanto para a área privada quanto pública, que exige uma série de procedimentos legais e de compliance.

de valor da saúde

mobile health

, onde soluções e Outro importante tema será o integração com dispositivos móveis (tablets) estão cada vez mais sendo adotadas para administração de pacientes, serviços de home care e de atendimentos de emergências. Vai abordar ainda a integração dessas tecnologias com a de exames clínicos e laboratoriais.

segurança e privacidade dos pacientes também estão em implantação, com

Novas iniciativas de

uso de certificação digital.

gestão de

O Fórum Saúde Digital também, abordará a (paperless hospital), prontuário eletrônico do paciente, rastreabilidade de medicamentos, business intelligence, infraestrutura, soluções de relacionamento com pacientes e redes sociais para a área de saúde.

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ENTRE OS DIVERSOS PALESTRANTES, ESTE ANO O EVENTO TRAZ A KEYNOTE SPEAKER DA IBM

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MICHELE O’CONNOR é diretora sênior da prática

de Healhtcare e Chief Privacy Officer da IBM. Tem mais de 15 anos de experiência em sistemas de informação de saúde, tanto em setores públicos como privados. MPA (Master Public Administration) pela Health Services Administration da Fairleigh Dickinson University (EUA). Professora convidada da AHIMA - American Health Information Management Association, onde já foi presidente em New Jersey e hoje atua como uma das lideres da entidade. Autora de vários artigos e apresentações sobre tópicos relevantes para profissionais de Sistemas de Informações de Saúde.

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.:entrevista

Samuel Possebon

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Caminhos diferentes

Com uma estratégia comercial agressiva e uma política diferenciada de roll-out, a TIM colhe os frutos de sua ousadia e, segundo seu presidente, se orgulha de ser popular.

TELETIME Como você avalia o desempenho da TIM nos últimos meses? Luca Luciani Somos a empresa que tem crescido mais na Bolsa este ano. Crescemos 41% no primeiro semestre, que por coincidência é nosso código de longa distância. Esse crescimento decorre do turn around que fizemos de popularizar o serviço, de um lado, e crescer na longa distância com o código 41. A aposta da TIM nos últimos anos foi no básico, na operação de telefonia. A marca da TIM é ser uma operadora de apelo popular? Se a gente vendesse um produto de luxo, chamar de popular seria uma coisa negativa. Mas como temos um produto de massa fundamental, como é hoje impossível pensar o mundo moderno sem celular, ser popular é alavancar as possibilidades das pessoas. Nesse sentido, para mim, ser popular é a melhor coisa que existe. E, de verdade, esse foi o nosso DNA. Trouxemos o GSM com o roaming internacional, com o fim da clonagem, foi uma inovação incrível que a TIM trouxe, popularizou o chip, o roaming. O que mudou, me parece, foi o estímulo ao uso do telefone. Essa segue sendo a prioridade? Foi transformar o recebedor em chamador. Essa é a missão que a gente tem.

lo. Sabíamos que a componente core, de voz, era a mais importante. Ainda hoje, muitos anos depois do GPRS, EDGE, 3G, a receita de voz ainda é 75% das operadoras na Europa. E se tirar os SMS, dados cai para 20% das receitas. No melhor dos casos, vai chegar a 30%. Ou seja, o negócio é, ainda, a componente da voz. Não nos inspiramos em ninguém, porque ninguém estava fazendo isso. Estávamos só olhando os mercados maduros. Hoje, algumas operadoras copiam nosso modelo de negócio, que é venda de serviços por um lado e venda de produto desbloqueado por outro. Nós inventamos isso porque vimos que o Brasil é grande, com muita demanda reprimida e onde as pessoas queriam falar muito. O consumo médio no Brasil era de 80 minutos por mês, contra 300 minutos no mundo. Aquela era a transformação que a gente tinha que acompanhar. Hoje temos 128 minutos por linha por mês.

foto: divulgação

A

TIM é a operadora de telefonia móvel brasileira que mais inovou em termos de planos de serviço, ao oferecer a possibilidade de o usuário pagar apenas pelo primeiro minuto e usar a rede por horas. A introdução do Infinity Web, uma opção pré-paga para acesso de baixo custo à Internet, é um fato comemorado por Luca Luciani, presidente da operadora, nesta entrevista exclusiva. Ele também destaca a importância que o Nordeste desempenha hoje nos planos de expansão da operadora, além da redução da VU-M. A recém-anunciada compra da AES Atimus, por R$ 1,6 bilhão, é mais um passo desta estratégia.

Luca Luciani

Pegar a tecnologia e levar isso para todos, em voz, DDD, Internet, serviços adicionais e construir uma comunidade. O telefone móvel é um negócio de massa. Houve algum modelo em que vocês tenham se inspirado? Porque a TIM foi no caminho oposto em relação às outras, que estavam priorizando o aumento do ARPU e serviços mais caros. Tomamos essa decisão porque já tínhamos vivido essa onda. Quando no começo de 2009 falávamos que o core era mais importante do que o roll-out do 3G, muitas pessoas entenderam que aquilo era um second best. Mas não foi isso. Fomos a primeira empresa na Europa a lançar 3G e já tínhamos vivido tudo aqui-

Vocês sentiram a falta de backhaul quando lançaram o 3G e agora existe um problema de rede que começa a aparecer, inclusive com decisões judiciais suspendendo as vendas em alguns locais no Nordeste. São os efeitos negativos desse crescimento? Quero deixar claro que não existem aspectos negativos, e quero esclarecer umas coisas sobre essa questão da qualidade que você fala. Como a gente investiu de forma pesada na capacidade da rede 2G, temos a melhor rede do Brasil. Se olharmos as metas de rede da Anatel, temos 100% das metas ao longo de muitos meses, e mesmo com um crescimento de 11 milhões de clientes no ano, 128 minutos por mês por linha, mantemos a melhor qualidade pelos parâmetros da Anatel, pelas reclamações em call center, em que não houve crescimento, reclamações nos Procons,

Quando no começo de 2009 falávamos que o core era mais importante do que o roll-out do 3G, muitas pessoas entenderam que aquilo era um second best.” 24 Teletime jul_2011


que caíram 10% no ano de 2010. São 190 mil reclamações no nosso call center, para uma base de 55 milhões. E dessas reclamações só 9 mil são reclamações de rede. Na Anatel há 1,5 mil reclamações de rede, e no Procon, 50. Os números não mostram um problema de rede. O que cresce é uma reclamação na Anatel sobre cobranças, que são 48% das ligações. Há situações mais complicadas no interior do Nordeste e Norte, onde somos como uma incumbent, a principal operadora, sendo que não somos a concessionária. Depois tem a dispersão geográfica, e a cobertura nem sempre é suficiente. Nesses locais vocês são cobrados como se fossem a operadora fixa, é isso? Isso. Do ponto de vista legal, não temos essa obrigação de cobertura, mas na percepção do cliente sim, então teremos que atender. Existem situações limitadas de qualidade de rede por conta da cobertura ainda insuficiente. O que esse processo de crescimento da TIM mostrou sobre a realidade brasileira? Acho que o Brasil está agora mostrando a sua realidade e sua possibilidade, para crescer três, cinco vezes em relação há alguns anos, sobretudo no Nordeste e Norte, que têm um crescimento de classe C e do PIB muito forte. Para acompanhar esse desenvolvimento, temos que investir muito, investir mais. Investimos 45%, 50% da nossa capacidade no Nordeste e no Norte. Nos últimos dez anos essa região sofreu de falta de investimento geral. Não tinha infraestrutura de transmissão compartilhada, a capilaridade era limitada. Agora temos que recuperar esse atraso. No País temos 11 mil antenas, 33 mil células. O Nordeste tem 5 mil células, excluindo Bahia e Sergipe. O Norte tem 2,4 mil células. A ideia é dobrar a capacidade de rede dessas regiões em dois anos. No Sul vocês têm uma participação muito pequena. Existe um plano? Sim, porque se olharmos nossa situação de participação total, é uma área com atraso. Em São Paulo tivemos um crescimento incrível na capital, mas tem espaço no interior. No Rio crescemos muito. O Rio Grande do Sul é o que está mais sofrendo, e para mudar colocamos uma regional dedicada; estamos investindo na cobertura e na rede comercial.

Como você sustenta um crescimento e rentabiliza o investimento na rede fazendo com que as pessoas falem muito tempo e pagando só o primeiro minuto? Na realidade, temos um equilíbrio de três coisas com esse modelo. O consumidor ganha porque pode falar mais. Antes do Infinity, a duração média da chamada era de 46 segundos. Hoje é de 5 minutos, gastando um pouco mais do que gastava, mas agora tem longa distância, o que até um tempo atrás era inacessível ao usuário de pré-pago. O segundo ganho é o nosso, porque antes só o pós-pago fazia DDD, e o pré-pago só recebia. Com o conceito de um País, uma tarifa, ganhamos a longa distância. O terceiro ganho é do setor, que tendo quatro ou cinco operadoras não ganha valor com as estratégias tradicionais de subsídio, queda de tarifas. O que dá valor é trazer a longa distância. Quem pagou esse modelo nosso foi a rede fixa, que estava sentada numa posição confortável na longa distância,

Compramos a Intelig com 15 mil quilômetros de rede, trocamos capacidade com Embratel e Oi e hoje temos 28 mil quilômetros. Para ter uma infraestrutura boa de banda larga, todos precisam investir mais. É um absurdo que nós estejamos compartilhando nossa rede com todas, mas ainda não haver um processo de compartilhamento estruturado de rede existente, no atacado. Se isso acontecer, o PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) acelera, o rendimento total do setor cresce, o investimento cai em um terço, e quem ganha é o cliente. Todas as empresas que usam a grande estrutura construída no regime de concessão precisam ter garantias de qualidade, precisam ter garantias de expansão dessa rede e um custo daquela linha adequada a uma situação competitiva. Você acha que a reclamação da TIM está fazendo algum efeito? O cenário está mudando? Muito mais do que nosso esforço é a pressão da demanda reprimida por Internet. Ter um País com 26 milhões de pessoas que usam a Internet sem acesso próprio, que precisam ir a Lan-houses etc, pagando R$ 1 por hora, é uma pressão terrível. O processo de abertura é uma forma inevitável de evolução de um setor que precisa oferecer Internet para todos.

Nossa filosofia é coerente: qualquer coisa que pode compartilhar nós vamos fazer. MVNO é um exemplo. A Intelig já está alugando capacidade.” sem concorrência. Transformamos o que era um mercado fixo-fixo em um mercado móvel-móvel. A longa distância se tornou parte da telefonia móvel. Temos 50% a mais de tráfego de longa distância do que a Embratel e a diferença segue aumentando. A reação dos concorrentes não está mudando isso? Se olharmos o setor de telecomunicações, as receitas são 50% móvel, 50% fixo. A tendência é que o País passe a ter mais receita móvel e que a relação fique 70/30, e boa parte disso vem da longa distância. Vocês têm levantado a bandeira da abertura das redes de transmissão. Por que isso é tão importante para a TIM? Não valeria investir mais em rede própria? Isso é fundamental para criar competição. Aquela questão de qualidade de que falamos passa por isso também. Abrir as redes de transmissão, que são monopólios naturais, construídas com a contribuição dos clientes em regime de concessão, oferece a possibilidade de reduzir os gastos. Possibilita a necessidade de duplicar investimentos em rede. jul_2011 Teletime 25

Se vocês não tiverem essa abertura, vão construir a rede necessária? Sem dúvida, e isso já está sendo feito. Assim como estamos fazendo consórcios com outras empresas para construir redes compartilhadas. Da nossa parte serão 4 mil quilômetros de rede compartilhada. Vamos construir 2 mil quilômetros de rede no interior da Amazônia e chegar até Manaus, e vamos compartilhar isso com outras operadoras. É uma fibra de 75 pares, com uma capacidade incrível, que fica pronta em 18 meses. Se ganharmos a disputa da AES Atimus (a entrevista foi dada antes da aquisição), teremos uma rede ainda maior em São Paulo. A postura de não compartilhar, de fechar o mercado de atacado, não pode prevalecer. E o compartilhamento da infraestrutura de acesso? Vamos ampliar muito a cobertura de 3G, passando de 2 mil municípios nos próximos 20 meses. Além disso, também podemos compartilhar a rede de


.:entrevista vemos média de 15% de penetração de smartphones em 2011. Queríamos passar de 18% no fim do ano, mas já chegamos nisso. E temos 85% dos clientes de smart­ phones com pacote de dados, contando os que têm o Infinity Web. Temos smartphones para a faixa médio-alta, mas a grande força são os smartphones de entrada, que estão chegando a R$ 200. Essa experiência a gente trouxe da Ásia. Tudo com zero subsídio. O desconto no aparelho vem da escala com que compramos, de um milhão de handsets por mês.

foto: divulgação

acesso. Não estamos querendo compartilhar para cobrir o gap que hoje temos. Temos 11 mil antenas no País, mas precisamos de 30 mil antenas. Então a necessidade é muito grande e compartilhar faz sentido. Claro que isso precisa ser feito de forma simétrica, na qual os dois lados ganhem. Vocês não têm mostrado nenhuma resistência ao modelo de MVNOs, muito pelo contrário. A TIM aposta nesse mercado? Nossa filosofia é coerente: qualquer coisa que pode compartilhar nós vamos fazer. MVNO é um exemplo. A Intelig já está alugando capacidade. Esse mercado de operadoras móveis virtuais pode ser rentável? Acho difícil. Para nós sim, mas para uma MVNO, só se ela trouxer uma tecnologia adicional, porque só para voz acho que não viabiliza. A pressão das margens é muito grande. Na Itália tem hoje 15 ou 20 casos de MVNO, mas o único grande é o correio, a Posta Italiana. Estamos conversando com o Ministério das Comunicações, como parceiros privilegiados do governo, e estamos acompanhando essa questão do compartilhamento da infraestrutura e de um modelo de operador virtual para os Correios, e isso está avançado. Como você avalia o acordo das concessionárias com o governo para a banda larga popular? Acho que ainda não existe no contrato um capítulo sobre como desenvolver o PNBL no futuro. Acho que essa discussão ainda demora um tempo. Mas vamos desenvolver com a Telebrás um produto de banda larga popular, estamos finalizando as conversas. Vamos oferecer aquilo que for objetivo do governo. Há um ano, quando as concessionárias foram para a Justiça, nós não compartilhamos daquela visão. Essa postura de defesa não dá. A exigência do governo é muito importante, e temos que resolver isso. Se o sindicato não vai nesse caminho, nós vamos. Se o setor compartilha infraestrutura de base e oferece competição, dá para oferecer banda larga de 1 Mbps a R$ 35. Com essa visão é que nós assinamos com a Telebrás. Assim como oferecemos a voz para todos, vamos fazer isso para a Internet.

O modelo de negócios da Apple, agora replicado pelo Google, agrega alguma coisa para o operador móvel? Temos que olhar de duas maneiras. De um lado, eles estão popularizando muito o conceito de Internet pelo celular, fazendo as pessoas usarem mais. Mas temos que fazer uma reflexão sobre o impacto que isso tem na rede, porque existe um desafio. Acredito que haverá uma negociação para que esse uso intenso da rede seja remunerado.

Temos hoje só no Infinity Web 8,5 milhões de usuários ativos. As duas concessionárias, Oi e Telefônica, têm menos de 8 milhões de usuários de banda larga fixa.” O plano Infinity Web é uma iniciativa nesse sentido? A ideia foi de popularizar a Internet no pré-pago, por R$ 0,50 ao dia. É o maior programa de massificação de Internet no País. Temos hoje só no Infinity Web 8,5 milhões de usuários ativos. É um crescimento da ordem de 40% em seis meses. Isso será um case tão importante quanto a invenção do pré-pago, tenho certeza. E o mais impressionante é que a cada duas novas linhas de pré-pago, uma tem o Infinity Web. As duas concessionárias, Oi e Telefônica, têm menos de 8 milhões de usuários de banda larga fixa. O Infinity Web passa as duas. Somando os clientes pós-pagos, vamos a 11 milhões de clientes de Internet. E esses usuários ficam conectados muito tempo porque estão sempre ligados a redes sociais, o que é ótimo, porque o tráfego é baixo. E o mercado de smartphones e tablets, qual a perspectiva para vocês? A Vodafone declarou outro dia que a base de smartphone cresceu oito pontos percentuais em dois anos. A gente está crescendo isso em seis meses. Se olharmos o Globalmatrix da Merryl Lynch, 26 Teletime jul_2011

A entrada da Apple e do Google fez a TIM mudar a estratégia de Serviços de Valor Adicionado? O mercado de VAS é muito importante. O mundo do conteúdo vai ter um impacto forte, isso já está acontecendo. Redes sociais, mesma coisa. É impossível ter um operador móvel que só vive de Internet, pois a voz é preponderante no mundo todo, exceto no Japão. Acreditamos que a grande força do desenvolvimento será a substituição do acesso fixo pelo móvel. A Internet será complementar. Temos como chegar a 30% da receita com dados e VAS dependendo do crescimento. Por fim, não posso deixar de perguntar sobre interconexão. Vocês ainda são dependentes da VU-M? Não, na verdade não. A componente EBITDA dependente de interconexão era perto de 45% há dois anos. Agora é pouco mais do que 20%, a metade. Temos uma situação equilibrada como móvel puro. Tem que abaixar a VU-M? Sim, assim como tem que cair o custo de uma linha alugada no atacado. Tem que haver proporcionalidade. Tudo tem que ser junto: criar o mercado do atacado, baixar regras de qualidade e reduzir a carga tributária. 


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.:tv por assinatura

Samuel Possebon, de Chicago samuca@convergecom.com.br

Cabo em crise (nos EUA)

Modelo de TV por assinatura fica em xeque com a chegada de plataformas online de distribuição, como NetFlix. Debates entre programadores e operadores por novos modelos de empacotamento e menores custos ganham força.

A

Liz Claman, âncora do Fox Business Network, discutiu estratégias para futuro com os principais executivos da Comcast Cable Communications, Cox Communications, Viacom, News Corporation, Time Warner Cable e Time Warner.

te (DirecTV e Dish), pela disputa com empresas de telecomunicações e, agora, com a NetFlix. Novo modelo Mais do que uma disputa pelo bolso do consumidor, o que a NetFlix trouxe para o mercado norte-americano ao passar a distribuir conteúdos online foi um novo modelo de negócio, que aparentemente está agradando mais ao consumidor do que o tradicional modelo de TV por assinatura. Em lugar de contratar pacotes de canais, o usuário paga pelo conteúdo que quer ver, sob demanda. É claro que não são ainda modelos excludentes, já que a NetFlix não transmite eventos ao vivo de peso (esportes e notícias). Mas para o conteú­ do “frio”, que pode ser assistido a qualquer momento, como séries e fil-

“Nós geramos esse caos ao criar uma plataforma de banda larga. Esse caos cria oportunidades. Temos que buscar novos modelos de negócio, os que já existem e os que não existem.” Patrick Esser, da Cox 28 Teletime jul_2011

mes, o modelo parece estar se sobrepondo bem ao modelo tradicional. E para piorar, o intenso tráfego de dados na Internet gerado pela distribuição dos conteúdos da NetFlix está pesando diretamente sobre as redes de banda larga, boa parte delas operada pelas empresas de cabo. Esse cenário tem gerado uma incerteza latente sobre o futuro do modelo de TV paga nos EUA. Quem melhor sintetizou a situação foi o CEO da Cox, Patrick Esser, durante o debate de abertura do Cable Show 2011. “Nós criamos esse caos ao criar uma plataforma de banda larga. Esse caos cria oportunidades. Temos que buscar novos modelos de negócio, os que já existem e os que não existem. Mas infelizmente não controlamos tudo. Só controlamos uns 60% do que acontece nesse ambiente, e o resto não está conosco”, disse, ao comentar o fato de que a própria banda larga trazida pelos operadores de TV a cabo é quem mais está abrindo a oportunidade para empresas como Google, Amazon, Apple, NetFlix, Facebook e outras se tornarem proFOTOS: divulgação

TV por assinatura está em crise existencial em seu principal mercado, os EUA. E o maior sintoma disso é que a palavra mais pronunciada durante o Cable Show, realizado em junho em Chicago, foi NetFlix, cujo conceito operacional e crescimento vertiginoso, ao lado de outros serviços over-the-top (OTT), estão causando o maior estrago já visto nas mais de seis décadas desse mercado de cabo nos EUA. Apenas para contextualizar quem não é familiarizado com o cenário, o Cable Show é o maior evento de TV por assinatura do mundo, organizado há 60 anos pela NCTA, poderosa associação de TV a cabo norte-americana. O encontro reúne os principais grupos de mídia e os principais operadores e programadores de TV paga dos EUA. Só a indústria de cabo fatura US$ 24 bilhões ao ano, sem contar programadores, fornecedores e operadores que operam em outras tecnologias. O cabo tem 65% do mercado de TV paga dos EUA (que por sua vez chega a 95% dos lares norte-americanos), e 60% do mercado de banda larga. Já a NetFlix é uma empresa que em 2010 faturou US$ 2,1 bilhões, e tem como principal negócio o aluguel de conteúdos. Começou como uma locadora de DVDs por correio, e hoje é pioneira na distribuição digital para PCs e, principalmente, por meio de dispositivos conectados, como televisores ligados à Internet, aparelhos de DVD e Blu-ray conectados, media centers e consoles de videogames. A NetFlix tem cerca de 23 milhões de clientes, que pagam US$ 8 ao mês para terem acesso ilimitado a filmes e episódios de TV. A NetFlix cresceu quase 3,5 milhões de clientes apenas no primeiro trimestre de 2011, enquanto as operadoras de TV a cabo perdem assinantes seguidamente há dez anos, seja pela competição com a TV paga via satéli-


vedoras relevantes de conteúdos para o consumidor final. Confrontados com esse novo modelo de negócios, em que os conteúdos são vendidos individualmente e não mais em pacotes, e pressionados a dar uma resposta semelhante, os operadores de TV a cabo passaram a pressionar justamente os programadores para rever o modelo. Se para os programadores questões que no passado assustavam deixaram de ser um problema, como conteúdos gerados pelo usuário ou fragmentação da audiência, por outro começou uma forte pressão pela redução dos custos do conteúdo. “O que a NetFlix oferece é um conteúdo barato que as pessoas querem. É sem dúvida uma grande aplicação de banda larga, que realmente exige nossa infraestrutura e para nós é bom que as pessoas precisem da nossa rede”, disse Robert Marcus, COO da Time Warner Cable. Para ele, o conteú­ do da NetFlix não compete ainda com a TV paga, pois não tem a mesma janela de conteúdo nem a programação ao vivo e de esportes. “No momento em que os nossos conteúdos também forem distribuídos pelo NetFlix, eles terão que pagar os preços que nós pagamos, e não vão conseguir manter o mesmo modelo”, disse. Modelo sólido Para Philippe Dauman, CEO da Viacom, o quadro, ainda assim, é positivo: “A televisão é a fundação dos modelos que temos hoje, os programadores continuam com um papel fundamental em engajar e envolver os consumidores”, disse, referindo-se à demanda ainda crescente por conteúdos originais e de qualidade. Sobre a relação com os operadores, Dauman disse: “as duas partes da nossa indústria, programadores e operadores, fizeram a torta crescer, e estaremos juntos daqui para frente”. Hoje empresas de distribuição digital como NetFlix e Apple dependem do conteúdo dos grandes estúdios, mas recentemente sinalizaram, sobretudo a NetFlix, a possibilidade de criar conteú­ dos originais. Para a Viacom, essa sinalização não preocupa. “NetFlix é um serviço de acervo com quem temos uma relação de distribuição. A programação original não é o negócio principal deles e não é algo simples para eles fazerem. Da nossa parte, estamos

“O set-top continua necessário para entregar o conteúdo de TV. O que acontecerá é que ele deve ser menor e mais barato com o tempo.” Brian Roberts, da Comcast

100% focados em programação, pensando no consumidor”. Não foi o que fez a programadora Showtime, que retirou os conteúdos da NetFlix quando se viu ameaçada por uma atuação concorrente, e não apenas de distribuição. Para Jeffrey Bewkes, CEO da Time Warner Inc. (programadora), a NetFlix está claramente inserida no contexto do modelo já conhecido de subscription VOD. “Isso existe em muitas plataformas de TV por assinatura, mas é fato que eles oferecem algo que o consumidor quer, o que é adequado para quem

a NetFlix cresceu quase 3,5 milhões de clientes no primeiro trimestre de 2011, enquanto as operadoras de TV a cabo perdem assinantes há dez anos. não consegue pagar uma taxa de programação constante. Mas não oferecem conteúdos locais, o que o cabo oferece”, argumentou. “O que as empresas de software como Apple e Amazon estão fazendo é buscar uma distribuição de conteúdos multiplataformas. É isso que precisamos fazer também”, disse Neil Smit, CEO da Comcast. Cable cutters Os operadores de TV a cabo ainda desdenham da possibilidade de que alguns consumidores estejam optando por desconectar seus serviços de TV a cabo para ficar apenas com a banda larga, pela qual têm acesso às plataformas de conteúdos digitais. O fenômeno, chamado de cord cutters, ou cable cutters, foi identificado em algumas pesquisas e é preocupação de analistas jul_2011 Teletime 29

financeiros de TV paga. Mas para os principais executivos da indústria, esse fenômeno está mais ligado à recessão norte-americana e à diminuição no número de domicílios do que a uma mudança de hábito. Para Glenn Britt, CEO da Time Warner Cable, “a quantidade de pessoas que está se desconectando para pegar o conteúdo pela Internet é quase imensurável”, disse ele. Para Patrick Esser, da Cox, a explicação para a perda de base da TV a cabo registrada nos EUA, sobretudo no ano de 2010, é apenas a economia. Segundo ele, a economia está em um ambiente diferente de cinco anos atrás. “Isso afeta a disposição de gasto do consumidor”. Para Britt, da Time Warner Cable, nunca o mercado norte-americano viu um percentual tão grande de casas vazias em função da recessão. “E nosso negócio é conectar lares, então a perda de base era inevitável”, disse. Pode até ser que eles tenham razão, mas o tema preocupa. “Dois anos antes da crise de 2008, os bancos diziam que apenas 2% dos clientes de hipotecas estavam inadimplentes e que 98% eram bons pagadores. Mas era só o começo da crise imobiliária”, lembrou a jornalista Liz Claman, da Fox News Business. Um outro motivo de preocupação dos operadores de cabo é que os dispositivos domésticos estão ficando cada vez mais conectados e capazes de reproduzir conteúdos online. Brian Roberts, CEO da Comcast, não acredita que o principal ponto de contato entre o operador e o consumidor, que é o set-top box, vá desaparecer e ser substituído por um simples aplicativo na TV, sem a necessidade de um intermediário. “O set-top continua necessário para entregar o conteúdo de TV, ainda mais com o desejo crescente dos usuários pela possibilidade de gravação (DVR). O que acontecerá é que ele deve ser menor e mais barato com o tempo”, disse. Pelo sim, pelo não, a corrida dos operadores de cabo é por ter alternativas a esse possível novo hábito de consumo por demanda que está surgindo. Mas para operadores de cabo, que há décadas oferecem seus conteú


.:tv por assinatura dos empacotados e cobram muito por isso, mudar de paradigma não é simples. A começar pela relação comercial com os programadores, que é baseada nesses modelos tradicionais. “O conteúdo não vai ficar mais barato”, alertou o presidente e COO da programadora Starz, Bill Myers. “Com todas as mudanças que aconteceram nos últimos anos, uma coisa não mudou, que foi a necessidade de inves-

tir e aprimorar a programação de qualidade”, completou. Para ele, o desafio agora é encontrar uma forma de tornar esse conteúdo rentável em mais de uma plataforma. Bridget Baker, presidente da unidade de distribuição de TV da NBC Universal, concorda. Para ela, conteúdos de grande valor, como esportes e conteúdos em alta definição, são caros e não devem ficar mais baratos. “O que tende a cair de preço é o uso das

bibliotecas de conteúdos”, disse. A NBC Universal tem sido criticada pelos elevados preços pagos pelos direitos esportivos, sobretudo Jogos Olímpicos. Para Baker, esses valores se justificam. “Esses grandes eventos esportivos são uma oportunidade única de colocar milhões de pessoas em frente à TV ao mesmo tempo para uma experiência completamente única, e isso tem o seu preço”, justificou.

No Brasil, disputas no horizonte a GVT assegure ter 90% de seus acordos firmados. Nos 10% que faltam está justamente a dificuldade de acertar a vida com a Globosat, maior programadora brasileira e responsável por alguns dos conteúdos mais prestigiados, como os eventos esportivos. A mesma coisa tende a acontecer com Oi e Telefônica no momento em que estiverem liberadas para entrar no setor de TV a cabo. Com a iminência de aprovação no começo de julho do PLC 116/2010, que cria novas regras para o mercado de TV paga, a entrada das teles no setor de cabo deve ser sacramentada e então as empresas de telefonia precisarão se posicionar com uma alternativa competitiva às ofertas tradicionais existentes hoje. Esse deve ser um dos primeiros desafios de Francisco Valim, futuro presidente da Oi (ele assume em setembro) e que é um dos executivos mais experientes no mercado de TV a cabo (presidiu a Net Sul e a Net Serviços). Sem falar no fato de que a Portugal Telecom, nova controladora da tele, estabeleceu TV paga como prioridade número um nos negócios da Oi, a exemplo do que fez em Portugal. Para o governo, nas palavras do ministro Paulo Bernardo, “a abertura do mercado de cabo é uma prioridade, porque são empresas que podem agregar muito ao mercado de banda larga”. Enquanto isso, a Anatel discute FOTOS: arquivo

S

e a indústria de cabo dos EUA vive um período complicado, em que os novos modelos de distribuição digital são um desafio aos operadores tradicionais e à manutenção do modelo de TV paga tradicional, baseado em grandes pacotes de canais, no Brasil o debate é esse e mais um pouco. Por aqui, há vários anos já se questiona, junto a programadores, o modelo de pacotes de canais cada vez maiores e os custos de programação. Nos próximos dois anos, essa discussão deve se intensificar, porque a maior operadora de TV a cabo brasileira, a Net Serviços, começa a negociar a renovação de seus principais contratos de programação. Esse processo coincide justamente com o momento em que a Net e outras operadoras buscam alternativas de distribuição não-linear, como vídeo sob demanda e distribuição pela Internet. Mas coincide também com o momento em que as empresas de telecomunicações buscam se posicionar para entrar no mercado de cabo. Quem está sofrendo com essa situação, segundo fontes de mercado, é a GVT, que pretende entrar na TV por assinatura com um modelo pioneiro de empacotamento, muito mais flexível e próximo de uma venda de canais individualizada. Segundo apurou esta reportagem junto a programadores, as linhas gerais até avançaram, mas está complicado fechar os contratos, ainda que

uma nova regulamentação para o serviço, não sem enfrentar polêmicas. Para o presidente da Net, José Antônio Félix, da forma como está escrito, o novo regulamento proposto pela Anatel “favorece abertamente a Oi”. Sua principal reclamação é contra o fato de a Net poder ser considerada uma empresa com poder de mercado significativo (PMS) em TV por assinatura, o que a obrigará a cumprir uma série de metas de cobertura, enquanto as exigências para os novos entrantes serão mais leves. “Desse jeito, os novos entrantes poderão atacar apenas o filé mignon do mercado. Duvido que entrem em cidades pequenas ou mesmo de porte médio”, protestou. “Se temos PMS é porque fomos competentes vendendo TV por assinatura, o que as teles não foram”, acrescentou o executivo, referindo-se à oferta de TV paga por DTH que as teles já praticam. Ele disse não ter nada contra a competição nesse serviço, mas entende que o governo deveria estimular a entrada de novas operadoras de cabo de pequeno e médio porte, como é feito nos EUA. Paulo Martins, diretor da Blue Interactive, controladora da operadora Viacabo, que opera em 15 cidades pequenas e médias, lembra que as teles são as donas dos links nas pequenas cidades e têm acesso mais fácil aos postes de energia, o que lhes permite lançar o serviço de forma mais rápida e até mais barata que um pequeno competidor. “Temos que discutir questões estruturais do setor, como a questão dos  postes”, afirma ele.

“Se temos poder de mercado significativo é porque fomos competentes vendendo TV por assinatura, o que as teles não foram.” José Félix, da Net Serviços 30 Teletime jul_2011


Temos um encontro marcado em Copacabana.

DIAS 6 E 7 DE OUTUBRO DE 2011 R I O O T H O N PA L A C E H O T E L Copacabana, Rio de Janeiro, RJ

A reunião de toda indústria de satélites da América Latina. Sempre renovado e relevante, o Congresso Latino-Americano Satélites 2011, discutirá importantes assuntos do setor, como: • Papel do satélite na universalização da banda larga. • O crescimento explosivo do DTH. • A entrada de grandes indústrias brasileiras no segmento aeroespacial • Novas aplicações em comunicações marítimas, meteorologia, imagem, sensoriamento remoto.

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O futuro da banda larga

Seminário debate o PNBL e as condições técnicas, políticas e regulatórias para a expansão da banda larga no País.

Palto/shutterstock

A

não fique restrita ao STFC. Para o executivo, ela é um instrumento jurídico importante, que garante isonomia, neutralidade de rede e acesso de empresas independentes das teles no mercado de acesso. É, portanto, uma regra fundamental para o setor. “A empresa de telecom tem de se restringir ao seu negócio, que é a rede de telecomunicações. Foi por falta de uma regulação semelhante na Argentina que saímos de lá. O mercado (de acesso à Internet) ficou monopolizado entre o Speedy (Telefónica) local e a Telecom Italia, e não se desenvolve mais, ao contrário do mercado brasileiro”, revelou. O que ninguém comentou foi que a Norma 4 gera discussão antes mesmo de sua aplicação. Baseados no princípio da “ordem escalonada”, há

“A empresa de telecom tem de se restringir ao seu negócio, que é a rede de telecomunicações.” Gil Torquato, do UOL/Diveo 32 Teletime juL_2011

advogados e juristas que questionam inclusive sua existência legal. Toda norma, para existir, dizem, precisa ser baseada em alguma lei. Como o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117/62) era o marco legal que dava sustentação à Norma 4 e foi revogado em parte pelo artigo 215 da Lei Geral de Te­­le­­comunicações, essa norma, segundo esses especialistas, “não existe mais” desde 1997. O governo não pensa assim e continua considerando a existência legal da Norma 4. Neutralidade Um ponto consensual no seminário foi a importância da neutralidade das redes de telecomunicações no fornecimento do serviço de Internet. Mas isso não significa reconhecer que não há problemas. Recentes pesquisas apontam que nos Estados Unidos o volume de dados gerado somente pelo Netflix (locadora de filmes online) supera 50% do tráfego das redes das operadoras de cabo em horáFOTOS: MarceLO KAHN

Internet está no centro do debate sobre os serviços de telecomunicações. Mas, curiosamente, ela em si não é definida sequer como um serviço. Isso é um problema? Está na hora de rever esses conceitos? Esta foi uma das polêmicas levantadas no Seminário TELETIME Broadband, realizado no final de junho. E o debate sobre o futuro da regulamentação acabou remetendo a uma questão passada não resolvida: como regular a Internet? Para o procurador da Anatel, Marcelo Bechara, trata-se indiscutivelmente de um serviço de valor adicionado, mas ele reconhece que, no futuro, será necessário voltar à discussão sobre a Norma 4/95, que regulamenta o uso de meios da rede pública de telecomunicações para o acesso à Internet, de modo que se chegue a um ambiente normativo mais próximo da realidade atual, evitando que as diferenças de meios de transmissão impliquem regras diferentes. A Norma 4 estabelece expressamente que Internet é serviço de valor adicionado, não serviço de telecom. Isso passou a fundamentar a chamada “venda casada” de serviços de Internet entre os provedores de acesso e empresas de telecomunicações. “O modelo foi criado em 1995 e é válido apenas para as prestadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC). Defendo a norma, pois ela está em vigor, porém o mercado evoluiu e seria interessante uma ampla reavaliação por parte do Minicom, Ministério Público, órgãos de defesa do consumidor e outros setores diretamente interessados. Ou o modelo vale para todos ou para ninguém”, diz Bechara “Há algumas assimetrias aí. Além do mais, nenhuma norma é intocável”, acrescenta. O presidente da UOL/Diveo, Gil Torquato, ratificou a posição do procurador da Anatel, mas para ele a revisão precisa ser no sentido de que a Norma 4/95


rios de pico. A média per capita mensal de seus usuários é de 11 horas. Outra operação over-the-top (OTT), o YouTube, alcança um pico de 30% do volume de dados nessas redes, com 140 milhões de usuários únicos por mês e média mensal de 2 horas e 23 minutos, por usuário. Mesmo diante desses números, Torquato se manteve firme à favor da neutralidade de rede e disse que esses dados não devem servir de pretexto para as teles. “Se o negócio delas é telecom, que se preparem para o tráfego de dados”, resume. Bechara também defende a neutralidade, porém lembra que as operadoras e provedores de conteúdo estão livres para alinhavar acordos comerciais entre si. “Nenhuma barreira pode ser colocada à neutralidade, porém não há nenhum impedimento de parceria entre os dois. O tratamento (de utilização da rede) têm de ser isonômico; mas nada impede, do ponto de vista publicitário, um acordo entre provedores e teles. Existe até oferta de teles remunerando provedores”, acrescenta. O executivo do UOL/Diveo mantém uma postura contrária à participação das teles no negócio dos provedores de conteúdo. “Cada um no seu quadrado. Penalizar a empresa (de conteúdo) por estar conseguindo um bom tráfego não faz sentido. Quem vai navegar muito é o usuário. Aumente, então, o preço final do consumidor”, acrescenta. O diretor geral do Terra, Paulo Castro, acredita em ajustes na relação

com as teles. “Acho que a neutralidade de rede é uma virtude que deve ser preservada. Por outro lado, existe espaço para ofertas diferenMarcelo Bechara, da Anatel ciadas de qualidade de serviço quando isso fizer sentido”, tablet foi praticafinaliza. O Terra, vale lembrar, é conmente três vezes trolado pela Telefônica. maior, mesmo sendo mais caro”, diz. Futuro Mas os smartphones, segundo ele, Segundo Jesper Rhode, diretor de continuarão em alta, principalmente com inovação da Ericsson para a América a queda de seu custo final. “Estimamos Latina, um dado relevante do mercado que cerca de um bilhão de pessoas pode de telecomunicações é que, somandocomprar um smartphone atualmente. -se as linhas fixas e móveis disponíveis Dentro de quatro a seis anos, esse poder no mundo, já se tem hoje uma penetrade compra vai se estender a até 4 bilhões ção mundial superior a 100%. “Há 5,5 de pessoas no mundo”. bilhões de conexões celulares e cerca E, segundo Rhode, a América La­­ de 2 bilhões de linhas fixas”, lembrou. tina é a região onde os serviços móveis Ele lembrou ainda, para exemplificrescerão mais no futuro.

“Defendo a norma 4, mas seria interessante uma revisão, pois o modelo hoje é válido somente para o stfc.”

NOS EUA, A NETFLIX GERA 50% DO TRÁFEGO DAS REDES DAS EMPRESAS DE PAY-TV NOS HORÁRIOS DE PICO.

car o processo de transformação por que passa o mercado e que terá impactos significativos no mercado de banda larga, que em 28 dias, um milhão de iPads foram vendidos nos Estados Unidos. O iPhone levou 78 dias para chegar nisso. “Ou seja, a venda do

Mais espectro As operadoras móveis brasileiras pedem mais espectro. Em sua palestra, o gerente de soluções e marketing da Alcatel-Lucent, Roberto Falsarella, diz que apenas isso não é suficiente. De acordo com ele, as teles precisam investir mais em cobertura e inteligência de rede. “A questão passa por mais estações radiobase (ERBs), ainda em número muito pequeno se compararmos o Brasil a outros países de dimensões territoriais semelhantes, como os

Sua empresa plugada com o mercado: vem aí o Especial Casa Conectada. A oferta de serviços digitais na casa dos usuários está cada vez mais complexa. Pensando nisso, a edição de agosto da revista Teletime trará um encarte especial com uma análise sobre os diferentes provedores, dispositivos mais avançados e convergentes e as novas oportunidades de negócios.

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.:Internet FOTO: MarceLO KAHN

Estados Unidos”, diz. Outra solução, segundo Falsarella, é o uso de tecnologias mais eficientes, que aproveitem o espectro em todo o seu potencial de transmissão, como os hotspots e femtocélulas. “Essas células resolvem os problemas a curto prazo nas regiões com alta demanda de dados e gargalos de transmissão. Algumas operadoras consomem de 6 Gbps a 10 Gbps por dia nesses tipos de área, o que representa um custo muito alto”, destaca o executivo, que também apontou as redes móveis virtuais (MVNO) como outra opção eficiente para a redução dos gargalos de transmissão. O diretor da Alcatel-Lucent destacou ainda a necessidade de mais investimento por parte das operadoras, mais qualidade nos serviços prestados e uma melhor engenharia de infraestrutura, que leve em consideração, entre outras coisas, o crescimento das sinalizações geradas pelos smartphones. “As redes precisam ser mais flexíveis e inteligentes”, finaliza.

“Cada vez mais as pessoas postam fotos e vídeos, e as redes não estão totalmente preparadas para o tráfego nesta direção (upload).” Paulo Castro, do Terra Killer aplication De fato, é bom que as operadoras coloquem a mão no bolso e invistam pra valer em suas redes, não apenas móveis como fixas. Paulo Castro, do Terra, apresentou alguns dados sobre a audiência de serviços de vídeo no portal para exemplificar por que, do seu ponto de vista, essa continuará sendo a aplicação mais desafiadora para as redes de banda larga no futuro. Segundo Castro, o Terra teve 1,5 milhão de usuários diferentes na América Latina que assistiram ao show de Paul McCartney transmitido pelo portal. Desses, 80% eram do Brasil. Aproximadamente 10% dos acessos vieram de dispositivos móveis, e mais de 50 mil pessoas assistiram ao show em um streaming HD. “Isso dá a dimensão da demanda por vídeo existente”, disse.

Ele lembrou ainda que já existem no Brasil mais de 2,5 milhões de televisores conectados comercializados, e que hoje o grande desafio para as redes de Internet é a ‘consumerização’ do tráfego. “Um cliente residencial hoje tem uma demanda maior do que o de uma agência bancária, por exemplo”. Além disso, há o desafio do tráfego de upstream, provocado pelos conteúdos postados em redes sociais. “Cada vez mais as pessoas estão postando fotos e vídeos, e as redes não estão totalmente preparadas para o tráfego nesta direção”, ponderou Castro. O executivo também citou a questão dos dispositivos móveis e da pressão que eles exercem também sobre a rede de banda larga fixa. “Uma recente pesquisa feita pela Telefónica na Espanha, Alemanha e Inglaterra mostrou que, surpreendentemente, 67% do tráfego de dados gerados por tablets e smartphones acaba trafegando por redes Wi-Fi conectadas à rede fixa”. Ele lembrou ainda que um desafio às redes que no passado parecia mais ameaçador hoje parece estar sob controle. Trata-se do acesso P2P, que estacionou em 20% do tráfego das redes. “Por outro lado, o tráfego máquina-máquina tende a aumentar muito”.  Colaborou Samuel Possebon

RNP investe R$ 60 milhões em expansões e evolução de sua rede

A

Rede Nacional de Pesquisa (RNP) está expandindo seu cidades do Norte ainda é precária”, diz. backbone no País. Contratada pelo Governo Federal para A RNP interliga 47 núcleos operacionais da Rede manter, operar e desenvolver a Internet nas áreas de pesUniversitária de Telemedicina (Rute) e até o final de 2011 incluiquisa, educação e cultura, a RNP está investindo cerca de R$ 20 rá mais dez unidades. A rede metropolitana da instituição milhões em um projeto que envolve a expansão da cobertura e da (Redecomep) também crescerá: seis redes operacionais se somacapacidade de transmissão de rede e a integração de diversas rão às outras 21 redes até o final deste ano, no Rio de Janeiro, instituições desses setores. Belo Horizonte, Alagoas, Piauí, Tocantins, Rondônia e Porto Segundo o diretor de pesquisa e desenvolvimento da RNP, Velho, em um total de 1,65 mil quilômetros de cabos ópticos. Michael Stanton, em abril último foi concluída a primeira fase do Cerca de R$ 40 milhões estão sendo investidos neste projeto. projeto, de 29 mil quilômetros de fibra óptica, compartilhada com A integração do interior também está na pauta das expana Oi. “Até fevereiro, tínhamos quatro capitais com links de 10 sões da RNP. A instituição atualmente interliga 470 campi e uniGbps e seis com 2,5 Gbps. O restante dispunha de redes SDH dades de pesquisa. Só no interior, há 288 interligados e mais 70 (abaixo de 200 Mbps)”, links em contratação. E cerca de diz. A partir de agora, 323 universidades e institutos de revela, a rede 10 Gbps pesquisa serão interconectados até (DWDM) da RNP está o final de 2011. presente em 16 capitais Para Stanton, o grande desafio brasileiras e outras da banda larga de alta capacidade nove capitais contam no Brasil, que hoje é a principal com links de 3 Gbps. As demanda da RNP, é conseguir checapitais Manaus (200 gar além dos grandes centros. Mbps), Macapá (36 “Para as principais cidades, há Mbps) e Boa Vista (20 capacidade no mercado, mas quanMbps) ainda dispõem do vamos para o interior, o problede redes SDH. “A prema de infraestrutura de alta capasença das teles nessas cidade é crítico”. (D.M.) Michael Stanton, da RNP

“Para as principais cidades há capacidade no mercado, mas quando vamos para o interior, o problema de infraestrutura de alta capacidade é crítico.” 34 Teletime juL_2011


.:Regulamentação

Helton Posseti e Samuel Possebon, de Brasília

helton@convergecom.com.br e samuca@convergecom.com.br

Um novo PNBL

A

s operadoras de telefonia deverão iniciar a oferta de banda larga de 1 Mbps por R$ 35 até o final de setembro. O produto foi anunciado pelo governo como uma conquista da sociedade depois de meses de intensas negociações com as teles, que se recusavam a aceitar a ampliação do backhaul nas metas do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU III). De fato, é controversa a tese jurídica que comprova que metas de ampliação do backhaul poderiam constar do PGMU III - documento vinculado ao Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC), que é prestado em regime público. Para contornar a questão, teles e Ministério das Comunicações (Minicom) concordaram que as operadoras poderiam, através de ofertas voluntárias, atender às demandas do governo. Essa oferta voluntária se materializou em um termo de compromisso com ofertas para o atacado e varejo e acabou se tornando o pilar principal do PNBL. Mas será que o governo pode cantar vitória nessa queda de braço? A mais nova “conquista da sociedade”, como definiu o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao falar do que foi acertado, vem carregada de restrições. A primeira delas, e talvez a mais relevante para o consumidor, são os limites de tráfego. No caso da Telefônica, a velocidade de 1 Mbps só é garantida até o cliente atingir 300 MM de tráfego, volume que será ampliado para 600 MB em 2012 e, finalmente, para 1 GB em 2013. Ultrapassado o limite, a empresa poderá reduzir a velocidade de conexão a patamares que “não impeçam a fruição do serviço pelo consumidor”. O texto vago comprova que o governo não conseguiu garantias firmes de que a velocidade não será reduzida drasticamente. Na oferta da Oi, o limite começa com 500 MB e é

Spectral-Design/shutterstock

Depois de seis meses, governo firma compromisso com as teles para a oferta de banda larga de 1 Mbps por R$ 35. Franquia de tráfego e possibilidade de oferta conjunta são pontos negativos.

ampliado para 1 GB. Na conexão móvel, em ambos os casos, os limite são metade dos da rede fixa. O curioso é que a Vivo tem um plano de Internet móvel de 1 Mbps com franquia de 150 MM - a mesma, portanto, da sua oferta voluntária - que custa R$ 29,90. A não inclusão de garantias mais firmes de velocidade demonstra o recuo do governo neste aspecto. Sabese que a presidenta Dilma exigia garantias de qualidade, mas acabou

Através dos termos de compromisso, as empresas se comprometeram a levar a banda larga a R$ 35 a todos os municípios do Brasil em uma escala de atendimento. Não se sabe os termos exatos da proposta das teles porque até o fechamento desta edição, o governo não havia divulgado os termos de compromisso e nem as teles, especialmente a Oi, haviam anunciado seus planos detalhados. O cronograma de atendimento das cidades também é tratado com sigilo pelo governo e pelas empresas. A justificativa é que as concessionárias pediram sigilo dos seus cronogramas para não revelar a chegada do plano de banda larga aos concorrentes. Há ainda no termo de compromisso a previsão de uma oferta abrangente de banda larga a 5 Mbps até 2014, mas sem metas ou preço estabelecidos. Na verdade, o governo ainda não tem esse cronograma, porque como revelou o secretário-executivo do Minicom, César Alvarez, ele será apresentado 30 dias antes do início do cumprimento de cada fase anual. A disponibilização da oferta será acompanhada, por amostragem, trimestral

O texto vago comprova que o governo não conseguiu garantias firmes de que a velocidade não será reduzida drasticamente. aceitando que a Anatel estabelecesse posteriormente essas garantias. A Anatel, por sua vez, se comprometeu a regulamentar essa questão até 31 de outubro. Se a ideia for acabar com a prática do mercado de garantir apenas 10% da velocidade contratada, é certo que a agência deverá enfrentar resistência das teles para aprovar esse regulamento. juL_2011 Teletime 35


.:Regulamentação

FOTO: arquivo

mente pela Anatel. Segundo Alvarez, as condições gerais para o escalonamento do atendimento já foram definidas: deverá haver uma “razoável” distribuição geográfica, equilíbrio entre cidades pequenas e grandes e entre cidades com 3G ou não. A primeira fase começa em 90 dias, contados do dia 30 de junho, quando os termos foram assinados. Assim, as metas serão divididas anualmente com vencimento em todo último dia de cada mês, sendo que ao fim de junho de 2014 a oferta deverá estar disponível a 100% dos municípios brasileiros. Alvarez explica que a quantidade de cidades que determinada empresa não atender será transferida em dobro para o próximo período. Se a empresa insistir no descumprimento, haverá multa diária, cujo valor, na verdade, será usado na antecipação de investimentos. Para a oferta de varejo foi estipulada multa de R$ 20 mil ao dia para cada localidade, com teto anual de R$ 25 milhões. Se o teto for ultrapassado, a empresa perde o direito de antecipação de investimentos. No atacado o sistema é o mesmo com multa de R$ 10 mil por dia e teto de R$ 25 milhões por ano. O governo permite que as empresas ofereçam a banda larga popular em conjunto com outros serviços. O produto poderá ser oferecido, na rede fixa, acompanhado do telefone fixo, mas o preço não poderá ser superior a R$ 65. Esse valor não inclui os minutos de ligação nem serviços adicionais. Para garantir que não use só a rede móvel para fazer a oferta, a operadora terá que entregar a oferta popular pela rede SCM em 15% da base de assinantes residenciais do STFC, e a oferta deverá estar disponível em todas as localidades em que já existe a oferta de serviço a 512 kbps. Mas as operadoras estão mesmo apostando na rede móvel como forma de entregar o que prometeram ao governo. Tanto é que a Telefônica, que já deu um pouco mais de detalhes sobre o que fará, já anunciou que a oferta apenas de banda larga a R$ 35 só acontece com o acesso móvel. A oferta fixa será acompanhada do serviço e de telefonia e o

preço do pacote ficará em R$ 65. Atacado A oferta de atacado das concessionárias resume-se a um preço supostamente mais vantajoso para os pequenos provedores. A Oi se comprometeu a vender um link de 2 Mbps por R$ 1,2 mil e a Telefônica, por R$ 1,1 mil. Nesse caso, não se trata apenas da conexão entre dois pontos (como é o caso da EILD), mas também da saída para a Internet. “Criamos um pacote em que o pequeno provedor vai ter tudo que ele precisa”, afirma Cesar Alvarez. A oferta nessas condições é válida para as empresas com licença de SCM optantes pelo Simples. É vedado a essas empresas revenderem capacidade, como fazem

as concessionárias pediram sigilo dos seus cronogramas para não revelar a chegada do plano de banda larga aos concorrentes. algumas associações do setor. Alvarez afirma, entretanto, que não há restrições à compra de capacidade por consórcio de provedores. Conforme apurou Teletime junto a fontes que tiveram contato com os termos de compromisso, há limites de venda de capacidade de acordo com o tamanho do município. Em municípios com menos de 20 mil habitantes, a capacidade máxima que a concessionária se compromete a oferecer é de 32 Mbps, sendo não mais do que 20% da capacidade máxima ou 20 Mbps (o que for maior) para uma mesma empresa. Ou seja, considerando que cada empresa solicitante contrate o mínimo de 2 Mbps, no máximo 16 empresas poderiam ser contempladas por esta oferta no atacado. Em municípios com entre 20 mil e 40 mil habitantes, o teto é de

“Criamos um pacote em que o pequeno provedor vai ter tudo que ele precisa.” César Alvarez, secretário executivo do Minicom 36 Teletime jul_2011

64 Mbps por município; em municípios até 60 mil habitantes, o teto é de 128 Mbps; e em municípios acima de 60 mil habitantes, o teto é de 256 Mbps por município. Numa cidade de grande porte, portanto, no máximo 128 empresas seriam contempladas pela oferta no atacado. Telebrás Vale lembrar que a Telebrás cobra cerca de R$ 150 pelo link de 1 Mbps. Alvarez, contudo, lembra que a rede da estatal ainda é muito restrita. “A Telebrás ainda não consegue atender à demanda de atacado nacionalmente, por isso precisamos da oferta das concessionárias”. Pelas estimativas do Minicom o preço do link de 2 Mbps no mercado gira em torno de R$ 1,8 mil. O Minicom articula mudanças mais profundas no papel da Telebrás. As conversas ainda são preliminares, mas a determinação da presidenta é que se concentre a oferta estatal de rede de telecom em uma única empresa. “Sejam um único vendedor público brasileiro”, teria dito a presidenta nas palavras de Cesar Alvarez. Provavelmente a empresa responsável pela comercialização seria a Telebrás, segundo Paulo Bernardo. A formatação jurídica e técnica desse arranjo ainda está em discussão. “As engenharias para fazer isso são as mais diversas”, diz Alvarez, descartando a possibilidade da injeção pura e simples de recursos da Eletrobrás na Telebrás. A concretização do acordo, explica o secretário, seria uma maneira de viabilizar a utilização das demais fibras da Eletrobrás que estão apagadas. Ele lembra que também existem as redes estaduais de posse da Eletrobrás e as redes de comunicação da Petrobras, que também podem entrar no acordo. Sobre os acordos que a Eletrobrás já tem com as teles, Alvarez explica que, em se concretizando essas negociações, “há uma tendência” de que eles fiquem com a Telebrás. Paulo Bernardo também colocou a possibilidade de ser criada uma empresa na qual a Eletrobrás e a tele estatal sejam sócias, ajudando nos investimentos em fibra necessários. PGMU As principais mudanças estabelecidas pelo Executivo no texto final


do PGMU imposto às concessionárias de telefonia fixa referem-se a questões do ajuste financeiro das metas. Também foram retirados os artigos do PGMU propostos pela Anatel que previam o acompanhamento dos custos de implantação das metas rurais e a possibilidade de uso do ônus da concessão para cobertura dessas obrigações. Também caíram os artigos que previam a possibilidade de licenciamento da faixa de 450 MHz às concessionárias para ajudar no cumprimento das metas rurais. Por outro lado, as metas rurais agora dependem do sucesso da licitação da faixa de 450 MHz, que pelo decreto do PGMU deverá acontecer até 30 de abril de 2012. O novo PGMU é claro ao dizer que todas as obrigações de cobertura rural das concessionárias só valem a partir do momento que a empresa detentora da outorga de 450 MHz completar a cobertura da área. Ou seja, se não houver interessados na faixa de 450 MHz, não haverá cobertura rural compulsória por parte das teles. O governo, contudo, está confiante de que haverá interessados pela faixa, mesmo com a obrigação de que parte dela seja cedida às concessionárias “a baixo custo” para que elas possam cumprir as metas de atendimento do campo. De acordo com o secretário de telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano Mar­ ti­ nhão, a atribuição da faixa definida pela Anatel em quatro portadoras de 1,25 MHz (a faixa tem 7 MHz + 7 MHz) permite destinar uma portadora ao cumprimento das metas do PGMU e as demais poderão ser exploradas comercialmente pelas vencedoras do leilão. “Em termos de capacidade, não há dúvida de que dá para fazer voz e banda larga”, afirma ele. Na tecnologia atual para a faixa, o CDMA 2000, a velocidade poderia chegar a 512 kbps, mas Martinhão diz que com a evolução da tecnologia a velocidade “no limite” poderia chegar a 1 Mbps. Ele explica que o preço de aluguel de uma porção deste espectro à concessionária daquela região – no caso da faixa não ser adquirida pela própria concessionária – será critério para a definição do vencedor do certame. Foi essa a engenharia encontrada para que os participantes sejam estimulados a baixarem o preço da cessão

de parte do espectro às concessionárias e assim a determinação de “baixo custo” seja cumprida. Toda a metodologia de cálculo de como isso vai acontecer será definida pela Anatel no edital de licitação da faixa, bem como a divisão de áreas do leilão. O Minicom não trabalha com a hipótese de não haver interessados pela faixa, o que colocaria em risco o cumprimento das metas de acesso

de acordo com o novo regulamento, se não houver interessados na faixa de 450 MHz, não haverá cobertura rural compulsória por parte das teles. rural, que são vinculadas a ela. Martinhão lembrou dos suecos da Acces Industries, que recentemente se reuniram com o ministro Paulo Bernardo para mostrar como a empresa usa essa faixa para oferecer banda larga em áreas rurais em outros lugares do mundo. Metas O decreto do PGMU apenas estabelece que as concessionárias deverão disponibilizar acesso individual rural

em áreas distantes a menos de 30 quilômetros da sede do município atendido com STFC. Os prazos, metas de cobertura e outros detalhes serão definidos em regulamentação específica, sendo que a concessionária tem até 31 de dezembro de 2015 para estar apta a atender todas as solicitações. Além disso, deverão ser atendidas com banda larga todas as escolas públicas em área rural. Segundo o decreto, entretanto, essa meta só será exigível a partir da cobertura da área pela rede da empresa vencedora da faixa de 450 MHz. O PMGU também traz a reformulação do Acesso Individual Classe Especial (AICE), que passa a ser um serviço voltado para os cidadãos inscritos no Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico). O preço do serviço, de acordo com proposta da Anatel que já passou por consulta pública, será de R$ 9,50 (sem impostos). Haverá também a redução da densidade de Terminal de Uso Público (TUPs) de 6 para 4 por mil habitantes. O Ministério das Comunicações e a Anatel, entretanto, preferem chamar de racionalização da teledensidade de orelhões, uma vez que ela passará a ser contabilizada por município e não mais por área do PGO, o que permitirá a realocação de terminais subutilizados em áreas como shopping centers, por exemplo.

Telefônica atenderá 230 cidades este ano

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extensa cobertura da rede 3G da Telefônica/Vivo mostra-se de grande valor para o cumprimento do Termo de Compromisso assinado com o governo. A empresa tem o 3G em aproximadamente 1,4 mil municípios no Brasil e já tem um plano de Internet móvel até mais vantajoso do que o assinado com o governo – 1 Mbps por R$ 29,90 e 150 Mb de franquia, a mesma do termo de compromisso. O presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Antônio Carlos Valente, entretanto, descarta o interesse da empresa em ofertar formalmente o plano do PNBL fora da área de concessão da Telefônica (estado de São Paulo, com exceção de alguns municípios da região de Franca, que pertencem à Algar Telecom). Segundo ele, serão atendidas até o final do ano 230 cidades. Em 2012 os planos são de chegar a 370, depois 531 em 2013 e, finalmente, 622 até o final de 2014. Valente disse que a Telefônica ainda não fechou a previsão de investimentos para esses compromissos, mas certamente haverá gastos. A maior incidência, contudo, não será em 2011 nem em 2012. A oferta de banda larga popular da Telefônica, segundo comunicado emitido pela empresa, será feita independente de outros serviços apenas quando for ofertada na tecnologia 3G da Vivo. A oferta fixa, por meio de ADSL, custará R$ 35 e será combinada com a oferta de telefonia fixa de R$ 30, totalizando um custo de R$ 65 para o consumidor. No comunicado, a Telefônica não detalha como combinará essa oferta com o programa de banda larga popular que goza de isenção de ICMS já ofertado pela empresa. Até o fechamento desta edição, a Oi ainda não havia divulgado o seu planejamento para cobrir as cerca de 5 mil cidades em que atua.

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.:Tecnologia

Driblando a falta de espectro

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FOTOS: divulgação

m dos principais desafios das operadoras móveis – se não o principal – chama-se eficiência espectral. Em outras palavras, transportar o maior número possível de bits por hertz pelo ar. E é fácil de se entender o porquê: o espectro radioelétrico é um bem universal finito que, como tal, não pode ser desperdiçado. Há um limite de concessão de faixas de radiofrequência por operadora e a Anatel estuda regras ainda mais rígidas para o uso eficiente desse espectro pelas empresas de telecomunicações. Não é por acaso que cada pedaço do espectro gera debates sobre quem pode disputar a faixa, em que condições e com que objetivos. No final do primeiro trimestre deste ano, a associação 4G Américas, que representa a família 3GPP de tecnologias, divulgou um relatório no qual destaca a urgência da liberação de novas faixas para a banda larga móvel. Segundo a associação, a implementação de uma nova alocação de espectro pode levar até cinco anos e, por isso, é necessário que o trabalho comece já. Uma das principais bandeiras da associação é o fim do limite de espectro para cada operadora, além da criação de licenças com maior largura de banda. A solicitação se baseia no número de assinaturas para a banda larga móvel, que cresce constantemente e em 2008 ultrapassou o número de assinaturas da banda larga fixa. No fim de 2009, o serviço de banda larga móvel somou 640 milhões de assinaturas, enquanto a banda larga fixa totalizou 490 milhões. Segundo a Informa Telecoms & Media haverá 1,3 bilhão de assinaturas de banda larga móvel no mundo inteiro até o final de 2011, e 4,2 bilhões até dezembro de 2012. Es­­

ArchMan/shutterstock

O volume de tráfego móvel deve crescer trinta vezes no mundo entre 2010 e 2015. Enquanto novas faixas de espectro não são licenciadas, novas tecnologias móveis permitem extrair mais bits por MHz.

O segundo motivo é o alto custo das faixas de frequências. No último grande leilão, no final do ano passado, a Nextel desembolsou R$ 1,2 bilhão para arrematar onze lotes da banda H e se tornar a quinta operadora do Serviço Móvel Pessoal (SMP).

ti­­ma­ti­vas da Anatel apontam que para atender os novos serviços móveis e a crescente demanda por banda larga móvel serão necessários mais 980 MHz até 2015 e 1060 MHz até 2020. Porém, mais do que vender faixas de frequência, é fundamental que o processo de licenciamento do espectro daqui para frente dê conta da complexidade do que significa o universo da banda larga wireless. Para que não se repita o que aconteceu com a terceira geração dos serviços móveis, em que o espectro ficou disponível, as operadoras implementaram a tecnologia 3G mas planejaram mal o backhaul de suporte para o serviço.

“Se o usuário gastar dez vezes mais bytes, é certeza que a receita das teles não acompanhará esse crescimento.” Jesper Rhode, da Ericsson 38 Teletime jul_2011

Enquanto isso... Enquanto as licitações de novas faixas de espectro, como as de 2,5 GHz e 3,5 GHz, caminham dentro da burocracia típica de leilões polêmicos, é preciso trabalhar com o que se tem. Por isso, para as teles, a eficiência espectral é bem mais do que uma exigência legal. É uma questão de sobrevivência. Um estudo da Bell Labs revela que o volume de tráfego móvel agregado crescerá 30 vezes entre 2010 e 2015 (300 vezes a partir de 2005), com o serviço de vídeo representando 70% de toda essa vazão de bits nos próximos quatro anos. Já um levantamento da Ericsson estima que os serviços de Internet móvel crescem 92% ao ano. A mesma pesquisa revela que cada smartphone consome aproximadamente 300 Mb por mês. E que em 2015 essa média será de 3 Gb. Se estiver certa a previsão da consultoria Parks Associates, de que nos próximos quatro anos 2 bilhões de pessoas terão smartphones no mundo, é só fazer as contas. “Se cada usuário gastar dez vezes mais bytes, é certeza de que a receita das operadoras não acompanhará esse crescimento”, diz Jesper Rhode, diretor de inovação da Ericsson para a América Latina. O executivo acredita que mais espectro facilitaria muito a vida das operadoras, uma vez que elas não precisariam ampliar tanto o número de estações radiobase (ERBs). “Neste caso, bastaria instalar mais equipamentos por site. É uma alternativa atrativa, pois apenas 15% dos custos de implantação de uma ERB vêm da base eletrônica. O restante é da locação e preparo do terreno, estrutura da


antena, ar condicionado etc.”, diz. Mas, mesmo assim, ele acredita que para evitar o gargalo nas redes móveis não basta mais espectro, é preciso também novas tecnologias de transmissão de dados, mais estações radiobase (ERBs), mais capacidade e capilaridade de backhaul, redes complementares e uma gestão da planta mais flexível e inteligente.

FOTO: arquivo

Espectro Um dos expedientes mais utilizados pelas operadoras para aproveitar ao máximo o espectro já existente é o conceito da alta modulação. Ou seja, com a mesma faixa de frequência amplia-se consideravelmente o throughput (taxa de transferência de dados) apenas alterando a modulação de 16 QAM para 32 QAM ou até para 64 QAM. “Esse é um recurso comum, porém esbarra na disponibilidade de terminais. No Brasil ainda são poucos os aparelhos HSPA+, que suportam a modulação de 64 QAM”, explica Leonardo Ribeiro, gerente de marketing de redes móveis da Huawei. Outra solução interessante para aproveitamento do espectro é conhecida como MIMO (multiple-input, multiple-output). Traduzindo, é um sistema de múltipla transmissão e múltipla recepção que, na mesma faixa frequên­ cia, transmite sinais diferentes. “Tratase de um sistema de codificação que torna o sinal mais robusto e menos suscetível a interferências. Os sinais transmitidos pelas antenas são diferentes. É como se tivéssemos mais caminhos para a transmissão dos dados”, explica Fabbryccio Cardoso, pesquisador da área de redes sem fio do CPqD. “O sistema escolhe automaticamente entre o sinal mais robusto, se você está perto da ERB, ou aumento da vazão de dados, se estiver mais distante. Tudo isso é feito pelo modem da antena, digitalmente”, acrescenta. Para Leonardo Ribeiro, da Huawei, a codificação MIMO é capaz de dobrar o throughput de 14 Mbps para 28 Mbps, tanto no downlink quanto no uplink. “Ou posso combinar os dois, a modulação 64 QAM com o sistema MIMO, para aí chegar em 42 Mbps”, diz. “Há também o sistema de multicarrier (multiportadoras, em portu-

“Trata-se de um sistema de codificação (MIMO) que torna o sinal mais robusto e menos suscetível a interferências. É como se tivéssemos mais caminhos para a transmissão dos dados.” Fabbryccio Cardoso, do CPqD guês), no qual se utilizam várias portadoras, com largura de 5 MHz cada, em paralelo”, lembra Jesper Rhode. Tecnologias Impossível falar de eficiência espectral sem citar as novas tecnologias que estão saindo dos laboratórios e ajudando as teles a reduzir o custo por volume de bits, tanto para serviços de dados (3G) quanto para os de voz. Além do custo operacional propriamente dito. No início deste ano, a AlcatelLucent apresentou uma nova arquitetura para a rede de acesso móvel que pretende reduzir consideravelmente o tamanho das torres celulares, principalmente as que poluem visualmente os grandes centros urbanos. Batizada de LightRadio, a solução consiste em um pequena caixa de rádio, de apenas 300 gramas, e outra, igualmente pequena, que realiza a função de processamento e que não precisa necessariamente estar no mesmo site. O dispositivo de rádio, internamente chamado de “cubo” pelos técnicos da Alcatel-Lucent, é capaz de transmitir em qualquer frequência de 400 MHz a 4 GHz e operar em padrões de 2G, 3G e 4G simultaneamente. “Dentro deste cubo está a antena e o rádio. Em uma ERB normal, a antena muitas vezes se encontra no topo e o rádio na base da estrutura, o que gera uma dissipação de energia de 1 mil a 1,5 mil watts, em média. No LightRadio esses elementos estão a centímetros de distância, gerando

uma redução de consumo aproximadamente dez vezes maior”, explica Roberto Falsarella, gerente de soluções e marketing da Alcatel-Lucent. De acordo com o gerente, a solução também é interessante para áreas rurais e periféricas, onde a maioria das teles não se interessa tanto em atender. “Nestes casos, a operadora não precisa construir uma ERB, basta instalar o cubo no topo de um prédio ou no ponto mais alto da cidade. Dentro de uma ‘caixa de sapato’ você tem tudo”, compara. “E ainda é possível alterar o formato de propagação dos sinais, direcionando o sinal de radiofrequência mais para a direita ou esquerda, de acordo com a demanda geográfica por banda. Tudo remotamente”, diz. Desenvolvida pelo Bell Labs, braço de pesquisa e desenvolvimento da Alcatel-Lucent, e com parcerias da HP e Freescale em áreas específicas, a solução LightRadio gerou mais de 200 novas patentes e três grandes operadoras (China Mobile, Verizon e Orange) devem lançar serviços comerciais com a tecnologia ainda em 2011. Essa gestão remota do espectro ocorre graças a uma tecnologia baseada no conceito “software defined radio”. Embora não seja novo, o sistema tem evoluído bastante e vem ganhando muito espaço nas redes móveis ultimamente. Trata-se de um sistema de radiofrequência no qual alguns componentes (transceptores, filtros, modems), hardwares que antes eram instalados e gerenciados em campo, são agora administrados via software, remotamente. É exatamente essa modernização que a TIM iniciou no último mês de junho. Segundo Janilson Bezerra, gerente de inovação tecnológica da operadora, nos próximos três anos a empresa espera “virtualizar”

“Somos pioneiros na virtualização e centralização da rede em larga escala.” Janílson Bezerra, da TIM jul_2011 Teletime 39


.:Tecnologia 75% de todas as suas ERBs espalhadas pelo País, já considerando o crescimento da planta até lá. “A TIM é a pioneira na Roberto Falsarella, da Alcatel-Lucent virtualização e centralização da rede em larga escala”, comemora. nar é preciso grande capacidade A TIM utiliza o sistema multi stanno backhaul para a interligação dard radio (MSR), que permite a ativadas ERBs. “Teria de separar o sistema ção remota de tecnologias de transde banda-base do modulador de missão como GSM, WCDMA e UMTS radiofrequência para que houvesse (HSPA e HSPA+) sobre uma mesma essas pequenas caixas espalhadas. infraestrutura. “É uma caixa plugada Mas para interligar essas duas partes na ERB que se torna um grande servié preciso fibra óptica, e essa instalador de aplicações, como o TRX (transção em larga escala é um trabalho de ceptor), portadoras de terceira geramédio prazo, uns três anos mais ou ção, etc. Antes, para ampliar a capacimenos”, destaca o executivo, que não dade de transmissão de determinado considera isso conservadorismo, mas local, era preciso levar o TRX até o uma questão de “timing”. local, instalá-lo, configurá-lo, testá-lo Para Rhode, a estratégia de roll-out e, ao final disso, liberar o acesso ao é essencial. “A gente enxerga claracliente. Agora basta ativá-lo de uma central de operações, remotamente, como um software”, diz. E o especialista já prevê a próxima etapa do projeto de modernização da rede da TIM. “O próximo passo pode ser a implantação de soluções como o LightRadio (da Alcatel-Lucent), sistemas de maior centralização de capacidade”, antecipa. A Vivo tem uma estratégia de evolução semelhante à de sua concorrente mente a diferença entre as teles que se em alguns pontos. Segundo o diretor preparam bem para ter uma infraesde planejamento e tecnologia da trutura robusta e parruda. É fácil ver a Telefônica/Vivo, Leonardo Capdeville, diferença. E uma das razões da falta 100% da planta já está preparada para de capacidade nas redes móveis se o HSPA+, o próximo salto evolutivo explica, entre outras coisas, por ser antes da quarta geração de telefonia mais rentável para algumas teles posmóvel (LTE), e todas as ERBs trabalhatergar certos investimentos, aguarrão com sistemas 2G e 3G. “Até o final dando que os equipamentos mais de 2011, nossa cobertura 3G estará avançados fiquem mais baratos”, diz o em 2.852 cidades. A ideia é que os executivo da Ericsson. smartphones utilizem Internet móvel Bezerra garante que este não é o em 3G e não mais em 2G, pois isso caso da TIM. “As teles postergam compromete os serviços de voz. Além investimentos, mas estamos fazendo disso, essa evolução melhora a experidiferente, apostando em uma rede à ência do nosso assinante”, explica. prova de futuro desde já. Hoje você No entanto, o diretor da Vivo se encontra diferença de cobertura entre mostra mais conservador no que diz as operadoras, mas no futuro a tenrespeito a novas tecnologias de virtudência é que as coberturas se tornem alização e centralização de rede. idênticas. O que vai prevalecer é a “Esses conceitos como o que a Alcatelestratégia de backhaul, de gestão de Lucent está trabalhando ainda são capacidade, a forma como você lida iniciais, carecem de estudo e aprofuncom a tecnologia, o que vai impactar damento”, diz. Além disso, o executidiretamente no time-to-market e nos vo alerta que para o sistema funcioserviços prestados ao assinante”, diz.

“A operadora não precisa construir uma ERB, basta instalar o cubo no topo de um prédio ou no ponto mais alto da cidade. Dentro de uma ‘caixa de sapato’ você tem tudo.”

é preciso trabalhar com o que se tem. Por isso, para as teles, a eficiência espectral é bem mais do que uma exigência legal. É uma questão de sobrevivência.

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Capdeville discorda frontalmente: “a cobertura é o primeiro passo do jogo. Se não tiver grande cobertura, você não joga. A Vivo está chegando em 1,5 mil cidades com cobertura 3G. Meu concorrente mais próximo tem 400”, compara. Outra tecnologia utilizada para melhorar a eficiência espectral é o rádio cognitivo. Apesar de seu conceito ter mais de dez anos, há pouco tempo vem sendo mais comentado no mercado. A solução possui inteligência para se reconfigurar e se adaptar ao meio ambiente, a fim de executar a tarefa necessária à sua função. Ele é capaz, por exemplo, de alocar o espectro geograficamente a usuários fixos, possibilitar uso compartilhado em períodos determinados por diferentes usuários ou serviços (alocação dinâmica de espectro). ERBs, backhaul e subredes “A maior parte da demanda do tráfego se dá via backbone e backhaul, por isso a necessidade de ampliar suas capacidades de transmissão”, diz Janilson Bezerra. Para Falsarella, da Alcatel-Lucent, também há um problema sério de ERBs no País. “Temos de ampliar a quantidade de antenas no Brasil que, comparativamente a outros países de semelhante dimensão territorial, tem poucas ERBs”, diz. Outra estratégia para aliviar o acesso é a utilização de femto, pico e micro células, antenas de menor porte. As femto células ainda dependem de questões regulatórias, pois ainda não se definiu se esta seria homologada como ERB ou terminal, uma vez que a antena seria instalada pelo próprio usuário, dentro de sua residência ou escritório. “Nas femto células, o backhaul utilizaria a banda larga fixa do usuário (xDSL ou cabo) como backhaul, o que aliviaria muito a rede. Nas pico e micro células, instaladas, por exemplo, no pavimento de um prédio ou em um poste na rua, utilizaria o mesmo sistema de transmissão das ERBs tradicionais”, explica Maurício Higa, gerente de marketing de redes móveis da Huawei.  Daniel Machado


Marcello Martins*

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.:pontodevista

marcello@centurybr.com.br

A faixa de 3,5 GHz e a banda C

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ma polêmica foi levantada durante a consulta pública do edital da faixa de 3,5 GHz. Trata-se da interferência provocada pelo uso da faixa nas condições propostas pela Anatel sobre a recepção dos sinais da banda C dos satélites. Muitas pessoas ainda desconhecem o tema, mas esse é um assunto que tem grande impacto para a população brasileira. Os satélites de comunicações são artefatos em órbita no espaço a serviço da humanidade há décadas. Funciona aqui no Brasil desde os anos 80, motivado pela nossa grande extensão territorial e também pela expansão das redes de TV. Nestes anos, milhões de aparelhos (antenas parabólicas domésticas e receptores via satélite) foram instalados, principalmente nas casas de consumidores finais, bancos, lotéricas, postos de gasolina, hipermercados, emissoras de rádio e televisão, escolas e pelo governo. A conhecida banda C opera na frequência de recepção entre 3,4 GHz e 4,2 GHz, faixa que foi escolhida acertadamente pelo Brasil, assim como em tantos outros países tropicais como o nosso. As chuvas são mais intensas e frequentes nos países tropicais e podem prejudicar ou até interromper a recepção via satélite. Entretanto, a banda C tem se mostrado eficiente e mais robusta do que satélites que usam frequências mais altas (como na banda Ku, de 10 GHz a 12 GHz). Com o avanço da tecnologia e da mobilidade, alguns países adotaram a tecnologia WiMAX para a transmissão da banda larga wireless justamente com as frequências de portadora igual a 3,5 GHz. Devido à proximidade das suas antenas omnidirecionais, instaladas em terra, terão maior amplitude de sinal se comparado àquele vindo dos satélites. Assim, temos um conflito técnico de convivência se tais equipamentos de banda larga wireless (seja WiMAXou outras tecnologias) forem instalados indiscriminadamente, ou mesmo

forem autorizados a usar potência de transmissor de 2,4 watts ou 30 watts, como sugere a Anatel. Alguns testes de campo no exterior (Austrália, Bolívia, Hong-Kong, In­­do­­ nésia, Paquistão, África Equatorial) já comprovaram isso. E inclusive no Brasil, em teste realizado em agosto de 2008 no INPE-LTE, em São José dos Campos, foi provado que existe o risco real de interferência. Atualmente temos milhões de antenas parabólicas em funcionamento, que no geral funcionam com alto ganho, como característica intrínseca a esse refletor. Associado à antena está o LNBF (conversor e amplificador de microondas), que é ligado no ponto focal dessas

Quando decidiram usar essa frequência, criou-se certamente um conflito eletromagnético que nenhum filtro disponível poderá corrigir ou reparar adequadamente. antenas. Tal conjunto de dispositivos tem a função principal de aumentar em muito o ganho do baixo sinal proveniente dos satélites geoestacionários sob a linha do equador e distantes da Terra a 36 mil quilômetros. Vale lembrar que a antena e o LNBf foram projetados para trabalhar juntos (ambos somados têm altíssima sensibilidade de recepção de sinais eletromagnéticos) nessa faixa de microondas. Quando decidiram usar essa fre­ quência de 3,5 GHz (Resolução 537/2010 da Anatel), permitindo o uso da faixa de 3,4 GHz a 3,6 GHz e maior potência de transmissão em relação aos sinais vindos dos satélites, criou-se certamente um conflito eletromagnético que nenhum filtro disponível poderá corrigir/reparar adequadamente. E mesmo que houvesse um filtro “mágico”, quem jul_2011 Teletime 41

iria pagar pelo produto e subir no telhado de milhões de casas para instalar tal artefato? Além disso, para complicar, temos também a frequência autorizada em banda estendida (abaixo de 3,7 GHz) e que opera ainda mais próxima das frequências dos canais de banda larga, sofrendo, portanto, maior interferência. Os próprios canais públicos federais (NBR, TV Senado e TV Câmara) serão diretamente prejudicados, pois transmitem sinal digital de TV nessa banda estendida. Para sistemas de Rx analógicos, o conflito entre banda C e 3,5 GHz já é muito grande, visto que temos algumas estações de banda larga wireless funcionando e que ignoraram os testes práticos. Em se tratando de recepção de sinais digitais, o problema é ainda maior. Se empresas de telecom querem de fato incluir um novo serviço em 3,5 GHz, deverão levar em conta que ganhando tais licitações para uso desse espectro devem se adaptar à realidade do mercado brasileiro local, e não o contrário, como apregoam. A realidade aqui é outra. Com 25 milhões de parabólicas instaladas, o Brasil é um caso ímpar. É a maior base de recepção via satélite banda C do mundo em funcionamento. Com preços em torno de R$ 300, são cerca de 250 mil kits de recepção produzidos e vendidos mensalmente. Acreditamos que Anatel e Minicom e seus bons profissionais terão o bom senso para reconsiderar a Resolução 537/2010. Esperamos que se apresentem publicamente testes comprobatórios que demonstrem que não teremos prejuízos ou interferências indesejáveis nessa faixa de 3,5 GHz. Isso deve ser feito antes de se abrir a licitação.  *Engenheiro eletrônico desde 1986, especializado em telecomunicações, com MBA na Inglaterra, membro da SET e associado ao Fórum SBTVD. Atualmente, é diretor industrial da Century.


Cláudio Dascal

cartas.tele­ti­me@con­ver­ge­com.com.br

FOTO: ARQUIVO

.:ponto&contraponto

Novos horizontes

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emos duas concessionárias locais, Telefônica e Oi, as duas com operações móveis e de banda larga e com planos ambiciosos para TV. As duas são também agentes para levar a banda larga popular a todos os lugares do Brasil, conforme acordo firmado recentemente entre elas e o Ministério das Comunicações. São empresas convergentes, com processos de fusão avançado, no caso da Oi, e no início, no caso da Telefônica, com diferentes abrangências no caso da telefonia fixa, mas com cobertura nacional móvel. Sua estratégia de levar banda larga de qualidade para todo o País deve se basear nas soluções móveis de terceira geração (3G), compromissos de cobertura aliás já pré-existentes quando do leilão da faixa de 3G. Soma-se às metas já estabelecidas o compromisso adicional que vem em contrapartida de uma movimentação do governo de transformar em fatos a entrada da Telebrás, com a assinatura dos primeiros contratos de fornecimento de infraestrutura. O fato é que muito precisa ser feito nos próximos anos, com o horizonte de 2020, para que possamos ter uma infraestrutura que alavanque o nosso desenvolvimento e a condição social do país. E, neste esforço, em muito deveria ser trabalhada a cooperação entre as partes, pois possivelmente, com o nível de retorno esperado para a banda larga popular, nenhuma entidade pública ou privada isoladamente pode enfrentar a demanda de investimentos. Um trabalho integrado e somando esforços deveria ser a tônica não apenas do lado público, com a anunciada cooperação entre Eletrobras e Telebrás, mas de todos os agentes envolvidos e os interessados em participar para que, em conjunto, se consiga atingir o audacioso objetivo que é dar banda larga decente a todo o mercado. Se agora falamos de 1 Mbps, devemos pensar em 10 Mbps em dois a três anos e 100 Mbps para 2020. A questão de retorno destes investimentos também deve ser tratada de forma global e cooperativa, não devendo o poder público usar seu poder de barganha para apenas impor e exigir cumprimento de metas do setor privado, pois se isso fosse economicamente viável em termos de retorno, a iniciativa privada já o teria feito.

Assim, algo deve ser feito para viabilizar economicamente este plano, e ideias têm sido lançadas, mas não levadas a termo. A mudança de cenário das organizações com as fusões e aquisições ocorridas nos últimos dois anos, associadas às novas metas adquiridas com os compromissos do PNBL que estão sendo adicionadas às metas de cobertura 3G das operadoras móveis pré-existentes e o PGMU III fazem com que as então operadoras fixas e móveis, hoje operadoras convergentes com o mesmo acionista controlador, sejam levadas à situação de que é preciso repensar as organizações, pois o atendimento destes objetivos pode passar por soluções multidisciplinares diferentes, requerendo mudanças estruturais na Telefônica e no novo direcionamento gerencial da Oi com o novo acionista, a Portugal Telecom.

Se agora falamos de 1 Mbps, devemos pensar em 10 Mbps em dois a três anos e 100 Mbps para 2020. Neste repensar, o mais difícil é decidir por onde começar, para que as coisas façam sentido. A primeira conclusão, que pode parecer óbvia, é que as metas e obrigações devem ser analisadas à luz de todos os recursos e técnicas disponíveis, para que a soma das partes seja maior que o todo. Evitar a sobreposição de investimentos, que seria o caminho lógico de cada uma das operações, implica isoladamente numa visão integrada de planejamento e no desprendimento de soluções históricas ou pré-estabelecidas. A Telefônica está começando um processo de reorganização com a integração da Vivo, cujo processo deve ser lento, mas deve caminhar na direção de oferta integrada múltipla de serviços em relação aos clientes, e que em termos de organização será mais complicada, pois a empresa não tem cobertura nacional em todas as modalidades. Assim, mobilidade em 2G e 3G é ofertada para todos os mercados, enquanto que telefonia e banda larga fixa são ofertadas apenas no Estado de São Paulo e esporadicamente no resto do Brasil. Em termos de organização, São Paulo deve ter um tratamento diferente do resto do Brasil, e as questões de 42 Teletime jul_2011

investimentos e priorização seriam tratadas integradamente, com risco de se preterir iniciativas importantes para cada segmento, e introduzindo fatores não técnicos e econômicos nas decisões de priorização. Já a Oi tem uma situação geográfica inversa, pois tem uma extensa presença nacional de telefonia fixa com exceção apenas no Estado de São Paulo, onde tem o serviço móvel massificado e o serviço fixo apenas no segmento corporativo. O histórico da Oi é diferente também, pois desenvolveu sua presença na telefonia móvel alavancada sobre os clientes de telefonia fixa, com ênfase na penetração em detrimento do ARPU. Agora, depois da aquisição da Brasil Telecom e da entrada da Portugal Telecom, vem um momento de consolidação da organização e busca de maior rentabilidade. Completar a oferta de serviços com televisão deve ser também uma prioridade para a Oi nos próximos anos. O fato é que depois de muitos anos de consolidação em várias etapas e níveis, primeiro na Brasil Telecom e na Telemar e nos últimos dois anos na Oi, o desafio é criar uma identidade de mercado, onde não basta uma marca forte, pois todas as marcas no mercado têm a sua força e muitas já com tradição. É necessário montar uma equipe que esteja alinhada com o futuro, e não apegada ao passado, que é cheio de realizações, acertadas para aquele momento, mas os desafios de mercado, tecnológicos, a concorrência e as exigências dos clientes são diferentes agora. Além disso, é relevante entender outro aspecto: a dinâmica do negócio de celular, de banda larga, de TV por assinatura e de infraestrutura de rede fixa são completamente diferentes, e que o cliente é o mesmo e a concorrência é cada vez mais agressiva. Assim, tratar as decisões e priorizações dos diferentes negócios dentro de uma mesma estrutura de planejamento fica muito complicado e exige novas cabeças e novas mentalidades, de preferência sem vínculo ou preferência por nenhum dos segmentos, e sem apegos ao passado. Num mercado aquecido e com falta de recursos, passa a ser uma tarefa difícil para os executivos que estão aceitando este desafio. Resta saber se eles terão o tempo necessário e se os acionistas terão paciência. 


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