Revista Teletime - 150 - Dezembro 2011

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Ano 14

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www.teletime.com.br

neutralidade de rede Regulamentação da Internet ganha destaque no País e opõe teles e empresas de conteúdo

infraestrutura Chegada da Telebras mexe no mercado de cabos submarinos e aquece ainda mais o setor

Serviços móveis Anatel impõe metas de qualidade para envio de mensagem de texto no celular



Presidente Rubens Glasberg Diretores Editoriais André Mermelstein Claudiney Santos Samuel Possebon (Brasília) Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski

Editor Samuel Possebon Editora Adjunta e Editora de Projetos Especiais Letícia Cordeiro Editor de Mobilidade Fernando Paiva Redação Daniel Machado, Fernando Lauterjung, Wilian Miron, Helton Posseti (Brasília) Consultor Especial Cláudio Dascal Arte Edmur Cason (Direção de Arte); Rubens Jardim (Produção Gráfica); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica); Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora) Departamento Comercial Bruna Zuolo (Ger. de Negócios) Ivaneti Longo (Assistente) Inscrições e Assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente) Circulação Patricia Brandão (Gerente) Marketing Harumi Ishihara (Diretora) Gisella Gimenez (Assistente) Administração Vilma Pereira (Gerente) TELETIME é uma publicação mensal da Converge Comunicações - Rua Sergipe, 401, Conj. 603 CEP: 01243-001 - Telefone: (11) 3138-4600 e Fax: (11) 3257-5910 - São Paulo, SP. Sucursal SCN Quadra 02 Bloco D, sala 424 – Torre B - Centro Empresarial Liberty Mall - CEP: 70712-903 - Fone/ Fax: (61) 3327-3755 - Brasília, DF. Jornalista Responsável Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão Ipsis Gráfica e Editora S.A. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem autorização da Glasberg A.C.R. S/A

CENTRAL DE ASSINATURAS 0800 0145022 das 9 às 19 horas de segunda a sexta-feira Internet www.teletime.com.br E-mail assine@convergecom.com.br REDAÇÃO (11) 3138-4600 E-mail cartas.teletime@convergecom.com.br

Samuel Possebon

FOTO: arquivo

.:Editorial

samuca@con­ver­ge­com.com.br

O (primeiro) ano da banda larga

E

ssa edição 150 de TELETIME fecha os nossos trabalhos ao longo de 2011. Foi um ano que começou com a posse de um novo governo e uma prioridade colocada pelo ministro Paulo Bernardo em seu discurso de posse: a prioridade seria a banda larga. Do ponto de vista político, foi isso o que aconteceu. Começando com as negociações em torno das metas de universalização, que giraram sobre a questão da banda larga, passando pelo novo marco legal da TV por assinatura, a Lei 12.485/2011, que veio com a promessa de impulsionar as redes de banda larga, passando pelas metas de qualidade na banda larga fixa e móvel, os debates sobre as novas regras para o Serviço de Comunicação Multimídia, o Marco Civil da Internet enviado pelo Ministério da Justiça ao Congresso, a entrada da Telebras no mercado e os projetos de satélites e cabos submarinos... Tudo orbitou ao redor da banda larga. E será assim ainda por muitos anos. Nesse sentido, 2011 foi apenas uma amostra do que está por vir, já que algumas questões extremamente relevantes ainda estão pendentes e devem esquentar 2012. Começando pelo tema da reportagem de capa desta edição: a neutralidade de redes. Os jogadores estão apenas entrando em campo. Teles e empresas de infraestrutura de um lado, provedores de conteúdo e de Internet do outro, sociedade civil, fornecedores globais, todos terão que estar em posição em 2012, quando o debate deve esquentar no Congresso e na Anatel. Há alguns anos que destacamos esse tema em editoriais e matérias, mas agora a discussão sai do campo teórico e vai para a prática. O mesmo vale para as políticas de

PUBLICIDADE (11) 3214-3747 E-mail comercial@convergecom.com.br Instituto Verificador de Circulação

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espectro, cada vez mais disputado e precioso e que coloca interesses e argumentos igualmente relevantes de lados opostos. Alheio aos meandros políticos, contudo, o mercado se desenvolve. Mais pessoas estão conectadas, mais pessoas têm TV por assinatura, mais pessoas falam ao telefone e a dinâmica de evolução das tecnologias de rede e, sobretudo, dos dispositivos, revolucionam diariamente os modelos de negócio. Já dissemos isso em outras ocasiões, mas nunca é demais repetir: nesse jogo competitivo, em que novos players entram no mercado de telecomunicações por todos os lados, cabe às teles tradicionais reinventar seus modelos, rever seus planos de investimento e sair da defensiva. É o que se impõe a elas em todo o mundo. Não há dúvida de que isso não significa que elas abandonarão o front regulatório, onde seus movimentos são quase sempre de defesa, e nem abrir mão de direitos conquistados. No debate sobre neutralidade, as teles têm uma argumentação sólida sobre a necessidade de preservar e viabilizar investimentos. Mas a batalha de opinião pública só será vencida se elas provarem que estão dispostas a renovar as suas redes em larga escala, com investimentos pesados, que precisam acontecer já, independente de como serão as regras no futuro. O próximo ano será de debates ainda mais acirrados em relação a todos os temas referentes à banda larga. Começando com as questões político/ regulatórias, passando pelos modelos de negócio e pelas tecnologias. Mas uma coisa é certa: as pessoas continuarão buscando conexões melhores, mais rápidas, mais baratas e com mais conteúdos. E na regra de mercado, se existe essa demanda, alguém se encarregará de atendê-la.


150 Número

w w w . t e l e t i m e . c o m . b r

Ano 14 | Dez11

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Capa

6 Sem romantismo

Na nova era da Internet regulada, discussão sobre neutralidade de rede ganha corpo no Brasil, e coloca teles e empresas de conteúdo em lados opostos.

Entrevista

14 O futuro da rede

O VP mundial de políticas de tecnologias globais da Cisco, Robert Pepper, fala sobre o futuro da banda larga no mundo. A competição entre as teles, segundo ele, deve ocorrer nas redes.

Redes

18 Remédio amargo

Anatel define metas de qualidade para banda larga fixa e móvel. E, sob protesto, operadoras estudam como adequar suas operações e investimentos para atender às novas regras.

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Regulamentação

22 Polêmica fiscal

Teles celebram desoneração tributária na construção de novas redes, mas alegam que a medida ainda não é suficiente para a massificação da banda larga. Para Ipea, setor não precisa de incentivos adicionais.

TV por assinatura

24 Mãos à obra

Ancine divulga os instrumentos que utilizará na regulamentação que cria o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC), apresenta cronograma e abre espaço para contribuições dos setores envolvidos.

Infraestrutura

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30 Tormenta em alto mar

Setor de cabos submarinos é chacoalhado pelo anúncio do projeto de links internacionais próprios da Telebras, que gera polêmica entre provedores. Parcerias em âmbito sul-americano também são esperadas.

Serviços móveis

34 Celular regulado Após impor uma série de exigências para a oferta de conteúdos móveis no ano passado, Anatel volta a surpreender, exigindo agora metas de qualidade para serviços de mensagens de texto.

Editorial 3 | Ponto & Contraponto 38 Capa: Igrik / Péter Gudella/shutterstock

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Imagine as vantagens que uma altura maior pode oferecer.


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Samuel Possebon, de Brasília samuca@convergecom.com.br

Neutro para quem?

Debate sobre neutralidade de rede, que aparece na regulamentação do SCM e no Marco Civil da Internet, chama a atenção para necessidade de investimentos opõe teles e empresas de conteúdo e mostra que não existe mais romantismo na discussão. intervir sobre a rede de acordo com a sua conveniência sem maiores repercussões. O problema é que esse modelo, que até hoje foi mais ou menos equilibrado, está com os dias contados. Um estudo realizado pela consultoria AT Kearney sobre o mercado de Internet na Europa é taxativo: “Existe uma expectativa generalizada entre formuladores de políticas públicas que a Internet continuará funcionando bem e suportando o seu próprio crescimento. Mas essa expectativa será frustrada por níveis de investimentos significativamente maiores. Estes aportes não devem se materializar sem mudanças no modelo econômico. O recente crescimento do tráfego na Internet e as projeções de médio prazo são impressionantes, mas levantam sérios desafios em relação à viabilidade do atual modelo da Internet no futuro”.

Igrik/ Péter Gudella/shutterstock

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tempo de uma Internet sem regras acabou. Começou a era da Internet regulada, também no Brasil. Trata-se da imposição de regras que visam, de um lado, garantir direitos dos usuários e, de outro (e principalmente), permitir ou limitar determinados modelos de negócios abusivos. Nesse ambiente, há pelo menos três temas centrais: neutralidade de rede, qualidade de serviço e registro de informações trafegadas, seja para garantir o cumprimento das leis do país, seja para permitir a viabilização de modelos publicitários. E não existe muito mais romantismo ou ideologia na discussão desses temas. Qualquer que seja a posição defendida, alguém ganhará e alguém perderá. O debate sobre neutralidade de redes é talvez o mais importante. Ele começou formalmente este ano no Brasil em duas frentes: na nova regulamentação do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), colocada em consulta pública em setembro, e no Marco Civil da Internet, que em agosto foi na forma de Projeto de Lei ao Congresso Nacional. O conceito clássico de neutralidade é, de alguma maneira, aquele que vem sendo defendido pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br) há alguns anos: as intervenções e privilégios impostos ao livre fluxo de bits na rede deve se dar apenas por questões técnicas e éticas, e nunca por razões políticas, comerciais, religiosas, culturais ou outras formas de favorecimento ou discriminação. Seria uma definição mais ou menos pacífica, se não fosse a palavra “comerciais”. A Internet chegou a um ponto de maturidade econômica em que ela dificilmente conseguirá ficar de fora das regras e acordos de mercado. De um lado, o acesso à rede está se tornando um importante negócio de empresas de telefonia fixa, pretadoras de TV por assinatura e operadoras de telefonia móvel. O percentual das receitas que cada uma dessas indústrias tem com produtos que consis-

tem, basicamente, na conectividade à Internet é crescente. Entre as celulares, o percentual da receita com serviços de dados já vai de 12% a 20% no Brasil, dependendo da operadora. Entre as fixas, já passa de 20%; e na TV por assinatura, estima-se que esteja no mesmo patamar. Do outro lado, a Internet se tornou um ambiente de desenvolvimento de negócios fundamental para empresas de comunicação produtoras de conteúdo e, sobretudo, para empresas como Google, Amazon, Apple, Netflix, Microsoft e tantas outras que surgiram no ambiente digital. O modelo atual, no qual o livre fluxo de informações na Internet não tem regras, é positivo para as empresas de mídia ou do universo digital, cujos conteúdos trafegam livremente. E de certa forma é bom também para as empresas de infraestrutura, porque não havendo regras a serem cumpridas, elas podem 6 Teletime dez_2011

Quem paga a conta? No Brasil, a primeira vez que esta posição foi colocada publicamente por um dirigente de empresa de telecomunicações aconteceu em 2005. De lá para cá o debate ganhou corpo. Antônio Valente, presidente da Telefônica e da Telebrasil, tem sido um dos mais enfáticos arautos da questão. “É inegável que o tráfego vem crescendo a taxas cada vez maiores e que as receitas não acompanham esse crescimento. Alguma solução para essa equação precisará ser encontrada”, disse em conversa com TELETIME. A preocupação também é crescente na Oi e é um dos principais itens da pauta do atual presidente da operadora, Francisco Valim. Durante a Futurecom, em setembro, o diretor de assuntos regulatórios da Oi, Paulo Mattos, já havia ponderado a posição da empresa sobre o tema: para ele, o consumidor precisa ter direito de escolha do conteúdo, direito de escolher operadoras, direito de acessar qualquer informação e direito de conectar qualquer dispositivo a essa rede. Mas precisamos fazer uma diferenciação de alocação de custos, o que não fere os


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“o tráfego vem crescendo a taxas cada vez maiores e as receitas não acompanham. Alguma solução precisará ser encontrada.”

ção seja complexa porque muitas vezes um investimento em core de rede pode estar diretamente relacionado à capacidade nas pontas. O valor estimado de investimento necessário para ampliação da capacidade das redes fixas é de 3,1 milhões de euros por Petabyte por mês. No caso das redes móveis, o investimento é muito maior, porque implica a ampliação no número de sites e em backhaul, e está na ordem de 192 milhões de euros por Petabyte por mês. Com base nesses números, e calculando o crescimento projeto de tráfego nas redes fixas e redes móveis, a consultoria aponta para uma necessidade de investimento da ordem de 10 bilhões de euros adicionais apenas para suprir a crescente demanda por tráfego nas redes fixas até 2014 (sem contar os investimentos regulares), e outros 31 bilhões de euros também até 2014 para as redes móveis. O tráfego incremental na Europa será da ordem de 12 Exabytes por mês no período 2010-2014, segundo o estudo Visual Network Index (VNI), realizado pela Cisco e utilizado pela AT Kearney. Grosseiramente, o mesmo cálculo da AT Kearney para o caso europeu pode ser transposto para o Brasil, considerando, é claro, que aqui as redes estão em uma condição bem diferente de amadurecimento. Apenas a ampliação do tráfego de Internet geraria uma necessidade de investimentos da ordem de 5 bilhões de euros, ou cerca de R$ 13 bilhões até 2014, além dos investimentos normais em expansão da rede. Analistas do setor de telecomunicações, contudo, apontam para números muito maiores, porque aqui a rede de backbone e backhaul está bem menos desenvolvida do que na Europa e há uma quantidade consideravelmente menor de estações radiobase (ERBs). Vale lembrar que, pelos cálculos feitos pela LCA a pedido da Telebrasil, seriam necessários R$ 144 bilhões para triplicar o volume de acessos banda larga até 2020. Hoje, no Brasil, 54% do tráfego de Internet já são gerados por serviços de vídeo (sobretudo YouTube); isso porque o Netflix ainda tem penetração reduzida no País. A FOTO: arquivo

direitos de escolha do consumidor”, disse, destacando que quem está gerando mais tráfego na ponta deve assumir uma parte dos custos de infraestrutura. O problema está no conAntônio Valente, da Telefônica ceito do que está sendo discutido como regra atual. Na proposta do regulamento do Trata-se do PL 2.126/2011, Serviço de Comunicação Multimídia que que tramita na Câmara e possifoi submetida a consulta pública, no velmente será objeto de uma Artigo 59, a Anatel propõe que seja “vedacomissão especial de análise em 2012, do à prestadora realizar bloqueio ou tradada a complexidade da matéria. O Marco tamento discriminatório de qualquer tipo Civil proposto pelo governo sugere que a de tráfego, como voz, dados ou vídeo, questão da neutralidade seja tratada da independentemente da tecnologia utilizaseguinte maneira, conforme consta em da”. Diz ainda que tal vedação “não impeseu Artigo 9º: de a adoção de medidas de bloqueio ou “O responsável pela transmissão, gerenciamento de tráfego que se mostracomutação ou roteamento tem o dever rem indispensáveis à garantia da segude tratar de forma isonômica quaisquer rança e da estabilidade do serviço e das pacotes de dados, sem distinção por conredes que lhe dão suporte” e que “os criteúdo, origem e destino, serviço, termitérios para bloqueio ou gerenciamento de nal ou aplicativo, sendo vedada qualquer tráfego devem ser informados previamendiscriminação ou degradação do tráfego te a todos os assinantes e amplamente que não decorra de requisitos técnicos divulgados a todos os interessados”. Diz, necessários à prestação adequada dos por fim, que “o bloqueio ou gerenciamenserviços, conforme regulamentação”. to de tráfego deve respeitar a privacidade Além disso, o Artigo propõe que na “prodos assinantes, o sigilo das comunicações visão de conexão à Internet, onerosa ou e a livre, ampla e justa competição”. gratuita, é vedado monitorar, filtrar, anaA proposta das empresas de telecolisar ou fiscalizar o conteúdo dos pacotes municações em relação a este Artigo, de de dados, ressalvadas as hipóteses admium modo geral, foi no sentido de ampliar tidas em lei”. as possibilidades de restrição. Telefônica, De um lado, as teles têm um probleOi, Claro, Embratel, Net, CTBC e o próprio ma: precisam investir para cobrir o tráfeSindiTelebrasil fizeram sugestões similago explosivo na rede de dados. De outro, res à consulta. Essencialmente, estas estão pressionadas, seja pela concorrênempresas e a entidade propuseram que cia, seja pela própria dinâmica da relação seja permitido às presptadoras “oferececom os usuários, a oferecer cada vez mais rem serviços customizados que atendam banda cobrando no máximo o mesmo a perfis de consumo específicos e adotar preço por isso. medidas para gestão e diferenciação de tráfego, inclusive aquelas que envolvam Na ponta do lápis diferenciação de custos, preços e priorizaSegundo o estudo da AT Kearney, em ção de tipos de tráfego, desde que tais mercados como o Europeu, tipicamente medidas não afetem a liberdade de esco20% dos investimentos são voltados para lha dos assinantes nem a livre competia expansão da capacidade da rede de ção”. A TIM foi mais longe e propôs que a banda larga, ainda que isso Anatel retirasse qualquer resvarie muito de operadora para trição à diferenciação de tráfeoperadora, e que a contabilizago, mantendo apenas a impossibiliodade de bloqueio. Já empresas como a GVT e a associação dos operadores competitivos Telcomp acharam melhor que esse assunto não seja tratado no regulamento do SCM, já que está em discussão o Marco Civil da Mário Girasole, da Tim Internet no Congresso.

“o desenvolvimento das redes só acontecerá se houver regulação eficiente no atacado e garantias de retorno dos investimentos em expansão.”

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Problema inexistente Jeff Campbell, diretor senior da Cisco para assuntos governamentais relacionados a políticas tecnológicas e comerciais, é categórico ao afirmar que o caminho que alguns países do mundo estão seguindo em relação ao tema tende a desestimular investimentos em redes e inovação. Entre esses países que seguem um caminho preocupante estão os EUA, diz ele. “O

“parece arriscado alterar um modelo existente e fundamental para a democratização da comunicação por um novo que não se sabe se vai preservar os princípios e conquistas da Internet.” João Brant, da Intervozes modelo que nos parece mais razoável é o europeu, onde há uma tendência a regular menos a questão da neutralidade e deixar que os órgãos antitruste corrijam, posteriormente, eventuais distorções”, diz. Para ele, o “problema” da neutralidade de rede é algo que ainda não existe. “Alguns países, como os EUA, estão regulando um problema que ninguém sabe se surgirá”. Na visão da Cisco, não existe nenhuma polêmica em relação aos princípios básicos de uma rede neutra. “Se o seu conceito é o de que neutralidade é o livre acesso a conteúdos e aplicações e a possibilidade de conectar qualquer dispositivo à rede, desde que isso não seja uma ameaça à integridade física do sistema, não acho que ninguém seja contra. A polêmica começa quando se discute se por trás da neutralidade está a proibição de que os provedores de rede estabeleçam níveis diferenciados de qualidade de serviço”. Para a Cisco, a diferenciação destes níveis de qualidade é que estimula o surgimento de novos serviços e modelos de negócio, e proibir isso é desestimular a inovação. “O problema do modelo norte-americano, por exemplo, é o excesso de justificativas que você precisa apresentar toda vez que vai colocar algum limite na rede”, diz ele.

Crescimento de tráfego no Brasil 1.9 EB

Em Exabytes - EB

previsão da Cisco é de que em 2015 nada menos do que 76% do tráfego serão vídeo. A não ser que as teles passem a desempenhar um papel central na exploração comercial desses conteúdos, essa pressão toda sobre a rede estará sendo feita para beneficiar algum outro segmento econômico, e as teles querem rachar a conta. Elas comparam sua posição à dos Correios, que cobram preços diferenciados para modalidades diferentes de entrega. Uma carta comum, que chega sem data marcada, custa bem menos do que um Sedex que chega no dia seguinte. Assim, o serviço Netflix, ou o YouTube, ou o Xbox da Microsoft, ou o Apple TV ou qualquer outra plataforma de vídeo teria que pagar uma espécie de pedágio para transitar seus bits com qualidade na rede das provedoras de infraestrutura. Caso contrário, ficariam relegadas ao “melhor esforço” da rede. Mas a regulamentação, como proposta pela Anatel, não permite esse tipo de acordo. Mas como dar isonomia de tratamento na rede a diferentes serviços? Um serviço de IPTV de uma determinada operadora de banda larga teria vantagens sobre serviços de distribuição de vídeos concorrentes que trafeguem na mesma rede? O mesmo vale para um serviço de VoIP, e o exemplo até já existe: o serviço de telefonia Net Fone operado pela Net/ Embratel é um serviço IP, que trafega na mesma rede de banda larga pela qual trafegam similares como Skype, por exemplo. Mas a Net garante uma qualidade de serviço no telefone muito maior do que nos serviços regulares de Internet. Pela nova regra, isso poderá acontecer? Isso para não mencionar serviços de monitoramento remoto, machine-to-machine, telemedicina, transmissões ao vivo e determinadas aplicações corporativas, entre outros, que exigem níveis de qualidade e priorização na rede.

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Fonte: Cisco VNI 2011.

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Outro problema, segundo o executivo da Cisco, é que a premissa por trás do argumento de que a rede deve ser absolutamente neutra, sem nenhuma diferenciação de qualidade, é que o consumidor sempre terá que pagar a conta. “Se você não permite acordos comerciais para diferenciar a qualidade dos serviços, a conta da rede será sempre paga pelo usuário final apenas”. Na visão da Cisco, que é alinhada à das grandes operadoras de telecomunicações, seria justo que os grandes provedores de conteúdo, que sustentam seus serviços com publicidade, pagassem uma parte da conta também. Ressalte-se que a Cisco, assim como outros fornecedores, tem interesse em vender equipamentos de monitoramento da rede. A Alcatel-Lucent foi outra empresa fornecedora que se manifestou na consulta pública da Anatel sobre o regulamento de SCM mais ou menos na mesma linha da Cisco, defendendo a possibilidade de oferta de serviços gerenciados pelas teles. Para Mário Girasole, diretor de assuntos regulatórios da TIM, “o desenvolvimento das redes só acontecerá se, de um lado, houver uma regulação eficiente na oferta de atacado e, de outro, se houver garantias de retorno dos investimentos feitos em expansão”. Para ele, não permitir acordos para a exploração da rede de maneira diferenciada é limitar as oportunidades de negócio. Duas Internets Mas se as empresas operadoras e fornecedoras de telecomunicações estão praticamente fechadas em torno dos mesmos argumentos, existe uma gama de argumentos no sentido contrário que estão sendo colocados por empresas de conteúdo. Sabe-se que uma das empresas que mais tem trabalhado nos bastidores pela causa da neutralidade é o Google, não por acaso um dos maiores geradores de tráfego. No Brasil, os representantes do Google preferiram não se manifestar sobre a questão, mas sabe-se que nos EUA, em 2010, o gigante da Internet chegou a defender, ao lado da operadora Verizon,



um princípio de “gestão razoável da rede” (reasonable network management). A manifestação do Google, de agosto de 2010, é em essência uma sugestão para que se desenvolvam dois níveis de serviços de Internet. Um seria para os serviços tradicionais, em que não seriam aceitas priorizações ou discriminação de tráfego, inclusive por questões comerciais. O outro nível permitiria aos provedores de banda larga oferecer serviços adicionais e diferenciados ao acesso à Internet, tais como serviços de saúde, smart grids, serviços de educação, entretenimento, jogos e outros. Os grupos locais de comunicação também são defensores da tese da neutralidade de rede sem restrições que não sejam por questões técnicas e legais, estritamente. Para o UOL, controlado pelo grupo Folha de S. Paulo, regras de gerenciamento de tráfego não podem de maneira alguma permitir a discriminação entre diferentes provedores de conteúdos e serviços, e por isso o portal sugeriu à Anatel que em sua regulamentação seja explícita sobre o que pode ser admitido como “gestão técnica” da rede. Curiosamente, o grupo Globo, principal conglomerado de mídia brasileiro, nunca manifestou formalmente sua posição sobre a questão da neutralidade. Mas ao longo da apuração desta reportagem, TELETIME conversou com dois dos principais executivos do grupo e obteve, sem a autorização para citar os nomes, mas com autorização para colocar as

“Se você não permite acordos comerciais para diferenciar a qualidade dos serviços, a conta da rede será sempre paga pelo usuário final.”

Alocação de Capex em redes fixas...

Jeff Campbell, da Cisco posições como as posições formais do grupo, uma síntese do que a Globo pensa. E ela defende a tese da neutralidade plena da rede, sem possibilidade de acordos comerciais que possam gerar qualquer tipo de discriminação do livre fluxo de conteúdos. A exceção aceitável diz respeito a gestões sobre a rede necessárias à segurança da própria infraestrutura e ao cumprimento das leis brasileiras; e mesmo assim isso tem que ser fiscalizado por alguém, na visão do grupo. Qualquer outra coisa, entende a Globo, seria um risco. Para a Globo, permitir que as empresas de telecomunicações cobrem dos provedores de conteúdo para assegurar a qualidade de determinados conteúdos em detrimento de outros seria, nas palavras de um executivo, “privatizar a Internet”. Segundo este executivo, “os pacotes de dados têm que sair e chegar com a mesma qualidade e isonomia de tratamento”. Para o grupo Globo, assim como acontece no consumo de energia, quem precisa de mais qualidade e quantidade no serviço pagará a mais por isso. “Nenhuma empresa de energia cobra

...e em redes móveis 24%

25%

20%

6%

Outros ativos que não rede, principalmente TI

21%

Atualização de rede Expansão de rede

20%

Atualização de rede Expansão de rede

Relativo à Internet

Relativo à Internet

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Fonte: AT Kearney 2010.

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FOTO: divulgação

.:capa uma taxa do fabricante de chuveiro ou de microondas por serem equipamentos que exigem mais da rede”, ilustra o executivo. Para a Globo, é justamente essa demanda dos usuários (e a disposição de pagar por mais qualidade) que financiará a expansão nas redes de telecomunicações.

Questão de princípio Para a Globo, o princípio da neutralidade de rede deve ser uma regra absoluta, sem exceções. “Provavelmente, o grupo Globo até tivesse vantagens se fechasse acordos de qualidade com as teles, mas por princípio defendemos a neutralidade”, explica a fonte. “Não admitimos que as empresas de telecomunicações monitorem e registrem o que os nossos usuários estão fazendo na Internet”, completa. A posição da Globo é curiosamente parecida com o de muitos movimentos de defesa da Internet livre e aberta, que muitas vezes têm a Globo como antagonista. Estes movimentos, contudo, ainda estão amadurecendo as posições sobre neutralidade. É o caso do Coletivo Intervozes. Segundo João Brant, um dos coordenadores do movimento, neutralidade é um tema complexo em que, evidentemente, o interesse dos usuários pode ser afetado de diferentes maneiras, seja ao ter o seu direito à informação e ao livre uso da rede restrito, seja ao ter seu serviço onerado em demasia em função dos investimentos em rede. “O certo é que parece muito arriscado alterar um modelo existente hoje e que é fundamental para a democratização da comunicação por um novo modelo que não se sabe se vai preservar os princípios e conquistas da Internet”, diz Brant. Para a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Fazenda, já é necessário haver uma regulamentação em relação às regras de neutralidade. “Se o preço cobrado dos provedores de conteúdo pelos detentores de rede for suficientemente alto, alguns daqueles decidirão não pagar; se a diferença de banda disponível entre pagantes e não-pagantes for grande, isso poderia levar a uma degradação do tráfego para os que não pagam, o que, no limite, fragmentaria a própria Internet”, diz a SEAE em contribuição à Anatel, apoiando a iniciativa de regular o assunto da forma proposta.



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Big brother na rede do shopping-center, ou navegantes que visitam com frequência páginas relacionadas a viagens, ou a internautas que pesquisam com frequência sobre preços de computador, ou pessoas que costumam entrar em listas de discussão sobre tecnologias. Segundo os críticos da plataforma Phorm, absolutamente tudo o que o usuário faz na Internet pode ser monitorado, e

mmaxer/shutterstock

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lém da discussão sobre quem paga o custo de expansão da rede para dar vazão ao tráfego crescente de bits e das discussões sobre eventuais parcerias comerciais entre provedores de conteúdos e empresas de infraestrutura, outro debate fundamental em tempos de políticas para Internet diz respeito à privacidade dos dados dos usuários. Mais uma vez, para onde se olha, seja para o lado das teles, seja para os lados dos provedores de conteúdos, a complexidade impera. Olhando primeiro do lado das teles, dois exemplos recentes mostram que o monitoramento do tráfego que elas alegam ser necessário para manter uma gestão razoável da rede traz em si riscos potenciais. Há algumas semanas, um desenvolvedor de aplicativos chamado Trevor Eckhart revelou que muitos aparelhos com Android (e há suspeitas de que o mesmo aconteça no iOS, dos iPhones e iPads) rodavam um aplicativo secreto chamado CarrierIQ. Nada mais é do que uma ferramenta de monitoramento de tráfego que registra absolutamente todos os detalhes da navegação de um usuário de smartphones, incluindo textos digitados, endereços acessados e tempo de navegação. As empresas de telefonia celular dizem que esse monitoramento é fundamental para a gestão da rede e que os dados são coletados anonimamente, mas surgiram suspeitas de que as teles poderiam estar fazendo uso comercial destas informações. É uma acusação na mesma linha da já feita à Apple e ao próprio Google, que estariam coletando secretamente, através dos smartphones com seus respectivos sistemas operacionais iOS e Android, informações de geolocalização dos usuários. Outro exemplo é o da plataforma de “data mining” (coleta e análise de informações) Phorm, que basicamente é um software de coleta de dados instalado na rede da operadora e que registra todo tipo de informação possível sobre o uso da rede de banda larga, para depois oferecer, com base em uma análise dos dados, informações mais precisas ao mercado anunciante, de modo a gerar publicidade customizada a determinados segmentos. Por exemplo, pessoas presas em um congestionamento próximas a um determina-

outra, porque a alocação dos anúncios não pode ser feita por operadora, e sim por perfil demográfico. A argumentação parece não estar convencendo o Cade (o caso ainda estava em julgamento no fechamento desta edição). O conselheiro relator, Fernando Furlan, mostra muitas preocupações com todas estas questões em seu voto e, se por um lado recomenda a aprovação da parceria com a Telefônica, diz que isso só pode acontecer se a Phorm desfizer a parceria com a Oi, caso contrário estaria caracterizada uma associação anticoncorrencial entre Oi e Telefônica na disputa do mercado de publicidade online. Do outro lado, portais de Internet também registram os logs de navegação dos seus usuários, muitas vezes com objetivos comerciais. O Google é um dos principais usuários desse método: de um lado, dá os aplicativos, conteúdos e até mesmo sistemas operacionais inteiros (como o Android e o Chrome OS) gratuitamente. De outro, registra os padrões de uso dos usuários e exibe publicidade, não raro customizada. O próprio Google admite isso ao detalhar as condições de uso de sua plataforma de email: “Os anúncios no Gmail são semelhantes aos exibidos nos resultados de pesquisa do Google e em páginas de conteúdo da web. No Gmail, os anúncios estão relacionados ao conteúdo das suas mensagens. (...) A segmentação de anúncios no Gmail é completamente automatizada e nenhuma pessoa lê seus e-mails para segmentar anúncios ou informações relacionadas”. Da mesma forma, plataformas de vídeo como Netflix ou de compras como Amazon baseiam suas recomendações na análise detalhada de tudo o que o usuário faz ou demanda dos serviços. Cada compra, cada vídeo assistido é usado para alimentar algorítimos complexos de análise cognitiva que “ensinam” o que quer o usuário, tal como a análise dos padrões de uso da rede das teles. Estes são alguns exemplos que mostram que para além da questão da neutralidade, o debate sobre regulação da Internet é muito mais complexo do que ser a favor de uma ou outra posição. 

Monitoramento e coleta de toda a navegação do usuário na Internet via computador ou smartphone colocam privacidade em xeque. a tele que abriga a plataforma ganha uma vantagem competitiva imensa na disputa pelo mercado de publicidade online. No Reino Unido, a parceria entre a British Telecom e a Phorm se tornou um escândalo de privacidade em 2008 e até hoje existem investigações em andamento. A Phorm já está no Brasil. Em 2010 a empresa anunciou uma parceria com a Oi e este ano anunciou parceria semelhante com a Telefônica. O assunto está sendo discutido no âmbito do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça e contou com manifestações de empresas concorrentes e potencialmente afetadas, como UOL e Globo.com. Ambas apontam riscos relevantes na parceria entre a Phorm e as teles, sobretudo na obtenção de informações sobre os hábitos de navegação dos usuários. Para o Globo.com, por exemplo, há violação, inclusive, de informações trocadas entre os portais e seus usuários, algo que não tem nada a ver com a tele. As teles e a Phorm se manifestam alegando que existe anonimato nas informações coletadas e que não existe garantia de que a publicidade decorrente do uso dessas informações privilegiará uma tele ou 12 Teletime dez_2011



.:entrevista

Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

O futuro e as políticas

Roberto Pepper, vice-presidente de Global Technology Policy da Cisco, comenta as tendências globais de políticas para banda larga e de novas tecnologias e sentencia: a competição entre redes é o melhor caminho

TELETIME – No mundo todo vemos um movimento claro de políticas públicas de Internet, regulação de Internet... afinal, isso é algo bom ou ruim? Robert Pepper – O que está por trás desses movimentos é que tradicionalmente, quando se olha a literatura tradicional sobre desenvolvimento, água, energia e transporte são as principais referências de infraestruturas viabilizadoras. Mas avançando nesses princípios, e acho que isso está claro para a Comissão de Banda Larga dos EUA, que encampou esta causa, a conectividade também deve ser incluída. Está claro que é preciso haver uma disponibilidade global de infraestrutura de banda larga, o mais perto de

tecnologias e, sobretudo, uma mudança na forma como pensamos em comunicações. Hoje sabemos da importância disso para o desenvolvimento social no mundo.

foto: divulgação

C

ertas questões políticas e regulatórias passam, cada vez mais, por um complexo jogo global de convencimento e argumentação, em que o papel dos grandes fornecedores acaba sendo central. Quando o assunto é banda larga, um dos principais players desse mercado é a Cisco, responsável por equipamentos por onde passam hoje cerca de 80% do tráfego global de dados. A pessoa responsável pelas estratégias globais da Cisco no que diz respeito a políticas tecnológicas é Robert Pepper, um ex-funcionário do órgão regulagulador das telecomunicações dos EUA (FCC) que por 16 anos cuidou da formulação de políticas de espectro, novas tecnologias, TV digital e Internet. Na Cisco desde 2005, hoje Dr. Pepper, como é chamado por seus colegas, é vice-presidente de Global Technology Policy e tem como papel acompanhar, em todo o mundo, de que maneira que diferentes governos estão estabelecendo suas políticas tecnológicas. Nesta entrevista, Robert Pepper fala sobre competição, neutralidade de rede e o cenário de evolução tecnológica.

Robert Pepper

uma presença universal possível. Para isso, são necessárias políticas, mas não necessariamente regulação. No final dos anos 80, havia a meta de que ninguém no mundo deveria estar a mais do que um dia de caminhada de um telefone. Naquela época, se alguém falasse em ter um telefone em cada vilarejo já seria inconcebível, ainda mais um telefone em cada bolso. E é o que se tem hoje, ou quase. O que possibilitou isso foram mudanças nos modelos de negócio, mudanças nas

Isso é claro, mas o que se viu no mundo desde que a Internet se tornou comercialmente disponível, em 1994 ou 1995, foi um estupendo desenvolvimento sem nenhum tipo de ação política, de regulação... Sim, mas eu estou falando de políticas de Internet. E você coloca o ponto exato onde eu quero chegar. Há um bilhão de pessoas com banda larga e cinco bilhões com celular. Como se consegue fazer com que a Internet viva esse milagre da mobilidade? A questão é qual o comportamento esperado dos governos para se chegar a esse desenvolvimento. Se olharmos para a história da Internet e da mobilidade, elas são similares. Começaram em plataformas analógicas, se tornaram digitais, ganharam abrangência, ganharam capacidade e robustez. Assim como o mundo dos celulares foi das redes analógicas para o GSM, na Internet começou com a conexão discada e foi para a banda larga. A questão agora, no caso da Internet, é quais políticas são necessárias e quais não são necessárias para que tenhamos uma rede ubíqua; e os investimentos necessários para que estas infraestruturas sejam cada vez melhores. E quais seriam as políticas adequadas, na sua opinião? Do lado da abrangência, tendo a ver da seguinte forma: os orçamentos governamentais são em geral limitados, e o governo em geral não é tão

Em algumas regiões, não existe backbone, não existe banda larga e levará muito tempo até que chegue lá por meio do mercado. É preciso incentivos e mesmo atuação direta do governo para levar as redes até lá.” 14 Teletime dez_2011


bom quanto o setor privado em gerir essas redes. Então, do meu ponto de vista, o preferível é criar o ambiente que traga investimentos privados para construir essas redes. Hoje, muitas políticas e regulamentações de neutralidade cumprem o papel contrário, de desestimular esses investimentos. Sobre a urgência dessas medidas, por outro lado, muitas vezes o setor privado não consegue fazer os investimentos necessários dentro de um tempo razoável por conta dos modelos de negócio, o que abre um espaço para parcerias com os governos para expandir essa capacidade. Nesse sentido, a Telebras, no Brasil, é um ótimo exemplo. Em algumas regiões, não existe backbone, não existe banda larga e levará muito tempo até que isso chegue lá por meio do mercado. É preciso incentivos e até mesmo atuação direta do governo para levar as redes até lá, é preciso criar competição onde for possível e acredito que o caminho para esses objetivos é pensar em redes wireless. Algum modelo específico parece mais exitoso hoje? O modelo australiano, com uma estatal de infraestrutura, ou o norte-americano, com metas e pouca atuação estatal, ou ainda o brasileiro, com a Telebras... As circunstâncias são diferentes em cada país. O modelo australiano, e isso foi dito pelo ministro (da Comunicação da Austrália) Stephen Conroy durante a última conferência da União Internacional de Tele­ co­ municações (UIT) em Genebra, talvez não seja um modelo para nenhum outro país; por conta de sua geografia única e da relação entre governo e a incumbent Telstra... Nos EUA o modelo é eficiente, entrega para o setor privado o core das redes e o backbone, mas assume um papel mais objetivo ao levar as redes intermediárias às áreas rurais e promover a competição nessas áreas. Um modelo que ainda não sabemos se terá sucesso, e que é parecido com o do Brasil, é o da Índia, com a diferença que a estatal criada para isso por lá, segundo o governo, será privatizada mais adiante. O plano é levar fibra a todo o país, e os números são impressionantes. São 600 mil localidades na Índia, e existem 250 mil aglomerados dessas

localidades, e essa nova empresa tem como meta levar fibra a cada um desses aglomerados. Na Índia tem muita fibra nos grandes centros, mas há uma área rural imensa sem nada. Então, fica claro que não existe modelo único. Mas as políticas de universalização são necessárias? Sim, acho que alguns princípios estão claros quando se fala de universalização da Internet. Primeiro, se você não tem um plano, não chega a lugar nenhum. Ter um plano de banda larga é essencial, e isso o Brasil tem. Depois, acredito que a parceria entre o poder público e a iniciativa privada para corrigir as deficiências de cobertura é o melhor modelo. Em terceiro lugar, é preciso ter políticas de espectro que permitam a cobertura das regiões

é o mesmo padrão em praticamente todos os países e mesmo em regiões remotas, áreas rurais, o padrão de crescimento do tráfego é o mesmo. Sem dúvida é preciso ter espectro de cobertura nacional. E mais espectro é ainda mais necessário nos grandes centros. E, por fim, seja qual for a conexão wireless, se será 4G, Wi-Fi, qualquer uma delas precisa estar ligada a uma rede de fibra. Sem falar na necessidade de uma rede de fibra residencial. Exatamente. Com mais dispositivos conectados dentro de casa, será preciso um acesso de fibra em cada lar. Eu tenho fibra na minha casa, com um serviço de baixa latência, 20 Mbps de downstream e 8 Mbps de upstream, baixa latência e sem limites, e eu posso fazer o que quiser. Originalmente eu era cliente da Comcast, mas surgiram outros competidores e hoje eu tenho essa qualidade de serviço como o “best effort” da minha operadora. O que criou essa possibilidade foi a concorrência entre as empresas.

O custo de uma competição baseada em redes diferentes é muito maior, são dois business cases diferentes competindo e há uma duplicação de esforços e investimentos. Mas o benefício é que se tem diferenciação de tecnologias e serviços.” rurais e dos grandes centros também. Isso inclui a migração do GSM para 3G, para o HSPA e para o LTE; e inclui, também, usar o dividendo digital, o espectro de 700 MHz, que deixará de ser usado para broadcasting, e utilizá-lo para banda larga. É preciso recuperar esse espectro tão logo ele deixe de ser necessário para TV. Essa é uma preocupação que já existe até mesmo na África. Mas essa quantidade de espectro é realmente necessária em todos os lugares? No caso dos 700 MHz, é uma faixa necessária, sobretudo fora dos grandes centros. Não estamos falando de redes móveis. Estamos falando de redes fixas onde as pessoas é que se movem. Hoje mesmo, 85% dos dispositivos móveis são utilizados com seus usuários em casa ou quando estão sentados. A conectividade wireless é que é necessária. Os nossos levantamentos mostram que a explosão no tráfego de dados não se restringe ao “norte industrializado”. O que vemos dez_2011 Teletime 15

E políticas de qualidade de serviço, são comuns? Como elas se aplicam nesse caso? Há três variáveis que ficam claras quando se fala de qualidade de serviço: uma é a demanda e a competição, em geral entre uma telco e uma operadora de cabo; outra variável é a transparência da operadora, de modo que eu possa checar a qualquer momento a qualidade daquilo que estou recebendo; e depois a própria qualidade das aplicações que eu quero usar. Se eu quero ter em casa um serviço de vídeo ou telepresença pela Internet e ele não funciona, meu provedor não é bom o suficiente. Nada disso vem de uma determinação do governo. A Verizon melhorou por conta da competição e a transparência melhorou o que ela considera melhor esforço. O fato é que o “best effort” das operadoras está melhorando na medida em que elas competem mais entre si. O modelo de venda de Internet sem limites é algo sustentável tanto para redes fixas quanto wireless? Minha resposta é não, mas com um grande porém. Aqui estamos falando de congestionamento, é isso que obri


.:entrevista

E as redes de cabo? As redes de cabo têm uma situação interessante, porque elas têm grandes capacidades de downstream, mas são limitadas no upstream, são muito assimétricas. Porque não foram pensadas para operar nesse sentido, exceto em casos de telemetria, pequenas interações e billing. Isso começa a ser corrigido com DOCSIS 3.0, e por isso vemos tantas operadoras nos EUA e mesmo no Brasil seguindo esse caminho. Nos EUA, as operadoras de cabo não querem perder clientes para as teles. Muitas migraram suas tecnologias por conta da Verizon. É a competição. Eles não precisariam migrar para uma rede totalmente de fibras para competir? Não é necessário. Em distâncias pequenas, o cabo coaxial é um excelente meio de transmissão. Eles já fazem “fiber-to-the-neighborhood” hoje e podem ampliar a penetração da fibra, mas o acesso final ainda é em cabo coaxial. E isso é uma vantagem, porque o maior custo de uma rede de fibra é justamente dentro da casa do assinante. O cabo coaxial é plenamente competitivo. Mais do que a solução do U-Verse, da AT&T, que está combinando fibra com um acesso ao assinante que utiliza vários pares de cobre. Isso já chegou ao limite para eles. Só a Verizon optou por um fiber-

naturalmente limito o que eu posso prover ao que a rede do meu competidor pode oferecer. Como eu me diferencio nessas condições? No mundo das redes de cobre, fazer o unbundling da infraestrutura de par trançado é muito limitado. O compartilhamento de bitstream também nada mais é do que revenda do serviço de um terceiro, comprando no atacado e vendendo no varejo, sem agregar nada. Mas se estamos falando de redes que chegam a regiões mais complexas, menos atrativas, com a atuação do Estado, aí sem dúvida só o open access é que garante a competição. Mas ainda acho que o ideal é ter múltiplas redes, e onde não for possível, aí sim políticas de open access são importantes.

foto: divulgação

ga as operadoras móveis a colocarem um limite de download. Precisamos de um modelo de preços que preveja esse tipo de gestão das redes, e é ingenuidade pensar que essa gestão não existe hoje, a Internet é gerenciada nos roteadores. Entendendo onde estão os congestionamentos em horários de pico, é possível permitir o uso irrestrito das redes sem grandes limitações. Hoje isso é feito em redes corporativas, mas não para os usuários em geral. Se a rede está livre em um determinado momento, não há porque não usar, mas se tentarmos usar telepresença no horário de pico, é impossível. Isso requer ferramentas mais inteligentes de gestão da rede, sobretudo em redes móveis, onde o limite de espectro é um problema. As redes móveis são naturalmente mais limitadas, assim como o xDSL é mais limitado do que uma rede de fibra e por aí vai.

Em distâncias pequenas, o cabo coaxial é um excelente meio de transmissão. E isso é uma vantagem, porque o maior custo de uma rede de fibra é justamente dentro da casa do assinante.” -to-the-home pleno, como forma de ser à prova de futuro. Falando de competição, como você vê as políticas de open access, unbundling e outras políticas que visam o compartilhamento em lugar da construção de redes paralelas? Depende de caso para caso. O que vemos é que competição entre redes diferentes em geral funciona melhor. Existem prós e contras, é claro. O custo de uma competição baseada em redes diferentes é muito maior, ter uma rede de cabo, outra de fibra, são dois business cases diferentes competindo, mas há uma duplicação de esforços e investimentos. O benefício é que se tem diferenciação de tecnologias e serviços. Se o que eu faço é apenas revender a rede de um terceiro, eu 16 Teletime dez_2011

E no mercado de redes wireless? Muitos custos podem ser otimizados, como o compartilhamento de torres, como fazem a American Tower e outras. No mundo wireless, há muita infraestrutura compartilhável, e 80% do custo está ligado a esse tipo de infraestrutura. A competição fica, basicamente, no rádio, na infraestrutura ativa. Qual a sua leitura sobre os resultados das políticas europeias de open acess? A política de open reach do Reino Unido com a British Telecom (BT) tem sido exitosa até aqui no mundo das redes de cobre, ainda que a BT não tenha implementado uma rede de fibra de maneira consistente até agora. Os recentes movimentos nesse sentido no Reino Unido ficaram mais por conta da operação da cabo da Virgin, e isso é que está forçando a BT a se mexer. Quando a política de open reach foi anunciada, a BT teve que se dividir sem que houvesse uma plataforma competitiva. Olhando para o Brasil, as mudanças na legislação de TV por assinatura podem ser uma mudança importante porque isso pode estimular o surgimento de novas redes, que é o fundamental. Isso é muito saudável e a política é um passo importante, se for bem executada. A preocupação com a competição com serviços over-the-top (OTT) é crescente entre operadores de cabo e banda larga. Você acha que eles estão efetivamente em risco com


esses novos modelos de negócio que estão surgindo? Sem dúvida é uma competição disruptiva, que está forçando fornecedores e operadores tradicionais a repensar seus modelos. Já estudei muito sobre a regulação do cabo, desde a legislação de cabo em 1984, e acompanho muito de perto essa indústria. O modelo tradicional já havia mudado com o vídeo sob-demanda para competir com o home-video. A banda larga também se tornou uma parte fundamental do negócio de TV paga nos EUA e hoje representa uma receita tão forte quanto de vídeo. A pergunta é qual será a próxima mudança de modelo. Não chamo os OTTs de ameaça. Eles são competidores, e isso levará os operadores de cabo a se adaptar. A Verizon, que é a minha provedora de cabo também, já começou a ampliar a sua oferta de conteúdos on-demand, estão indo para um modelo de TV Everywhere e por aí vai. Em cinco anos, tenho certeza de que a indústria de cabo será extremamente bem sucedida ainda, mas será muito diferente da atual, muito mais focada no usuário, que pagará mais para ter o conteúdo em qualquer lugar.

conteúdos brasileiros. E é preciso haver um ambiente adequado para o desenvolvimento desses serviços OTT; serviços como o Netflix, por exemplo, precisam negociar conteúdos para o Brasil e os provedores brasileiros precisam ter acesso à rede. E, sobretudo, os provedores OTT precisam assegurar a qualidade para seus clientes no Brasil. Isso não virá sem um nível necessário de gestão da rede. Aliás, a rede de banda larga sempre foi controlada. Ela é monitorada e gerida hoje e continuará sendo sempre. A questão é se permitiremos esse controle de modo a potencializar os novos serviços e a viabilização das redes. Mas qual o modelo ideal entre detentores de redes e provedores de conteúdo? Digamos que o ideal é um modelo em que os dois ganhem. Pense num

A rede de banda larga sempre foi controlada. Ela é monitorada e gerida hoje e continuará sendo sempre. A questão é se permitiremos esse controle de modo a potencializar os novos serviços e a viabilização das redes.”

E os players OTTs, estarão onde? É uma boa pergunta. Recentemente vimos um anúncio de que o Google TV estará nas TVs da Samsung. Ainda não tenho a menor ideia do que será exatamente isso, mas o Google está buscando de qualquer maneira emplacar seu Google TV e está lutando um pouco com isso. A questão é quais conteúdos únicos o Google terá para fazer com que as pessoas deixem seus provedores tradicionais para usar apenas o over-the-top. Veremos ainda uma mudança no modelo de assinatura e nas lógicas comerciais. Não se trata de ter uma coisa ou outra. Haverá uma combinação de modelos.

serviço de discagem para uma companhia aérea: o usuário faz a ligação de graça, a companhia aérea ganha com a venda do bilhete e a companhia telefônica ganha por ter alugado aquele serviço à companhia aérea. Esse é o modelo ideal para a Internet. Uma regulação de neutralidade rigorosa proibiria um modelo como esse. Essas coisas precisam estar ligadas: de um lado, garantir investimentos na rede, a correta gestão da rede e a possibilidade de todos os serviços trafegarem.

Isso passa pela regulação da questão da neutralidade? Dependendo de como for essa regulação, não veremos essas mudanças de modelo de negócio. Os modelos OTT precisam ainda se resolver na questão dos conteúdos locais e linguagens locais. No Brasil, é preciso haver

Como você define neutralidade de rede? Acho que neutralidade de rede hoje significa coisas diferentes dependendo de com quem se fale e na verdade não significa nada. É uma escolha falsa dizer que a rede é gerenciada ou não, porque ela sempre será. As pessoas dez_2011 Teletime 17

precisam da rede, e os provedores locais precisam ter acesso ao seu próprio mercado, os provedores OTT precisam de redes que funcionem. Estamos em um momento em que mais investimentos em rede são necessários? Sem dúvida, precisamos de muito mais investimentos em redes e, ao contrário dos anos 90, em que houve um boom de investimentos em redes ópticas, agora precisamos investir também em redes móveis. Por isso a questão do espectro é cada vez mais crítica. A discussão de 700 MHz é necessária para a quarta geração, é preciso pensar em modelos para levar as redes de fibra mais longe, para cada bairro, até porque isso é necessário também para as redes móveis. Já se sabe que modelos de negócio viabilizarão esses investimentos? Quem paga a conta? Essa é a questão. Esse é o momento de se experimentar esses diferentes modelos de negócio, até que se descubra quais os mais eficientes, e por isso é necessário haver, do ponto de vista regulatório, um certo grau de liberdade de experimentação. Competição certamente é algo que estimula esses experimentos, novos provedores OTT também trazem novos desafios. A questão é que as pessoas estão pagando o mesmo ou menos pelos serviços, que ficam cada vez mais avançados. E os modelos tradicionais estão ruindo. A cobrança tradicional por minuto, usada na voz, está deixando de fazer sentido. A venda de pacotes de vídeo está mudando com o modelo sob demanda. É um tempo de transição. Qual o papel que novos players, como Amazon, Google, Apple e mesmo a Microsoft terão no mercado de infraestrutura? Não sei se eles serão exata­ mente provedores de rede, mas sem dúvida são parte do ecossistema convergente. Eles estão conduzindo o lado das aplicações, conteúdos, interfaces e dispositivos, e estão colocando a competição nessas áreas em um novo patamar. Redes, conteúdos e dispositivos são a chave de toda a competição que teremos daqui para frente.


.:redes

Helton Posseti, de Brasília helton@convergecom.com.br

Metas na prática

Metas de qualidade impostas pela Anatel para a banda larga exigirão investimentos. Há quem acredite que teles poderão não elevar velocidade dos planos em cidades pequenas. “Estamos com investimentos contratados para essas três áreas (última milha, core e links internacionais).” Hans Müller, da Sercomtel vel cumprir as metas aprovadas. “É impossível cumprir as metas da Anatel. A tendência é que a agência perceba que fez um regulamento sem eficácia”, afirma Paulo Mattos, diretor de regulamentação da operadora. A Oi ainda não tem uma resposta concreta sobre como pretende tornar sua rede capaz de entregar uma banda larga com a qualidade definida pela Anatel. “Estamos estudando a melhor forma de resolver o problema que o regulador criou sem resolver o problema do consumidor. A Anatel criou regras estáticas para um mundo que é dinâmico”, critica Mattos. Se as previsões do executivo se confirmarão ou não, só o tempo dirá. O fato é que outras empresas já estão estudando quais serão os investimentos necessários para que a rede esteja apta a entregar as velocidades exigidas pela

CGI.br, o candidato natural

O

Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) parece ser o candidato natural a ser escolhido pelas empresas para ser a Entidade Aferidora da Qualidade exigida na regulamentação de banda larga. Isso porque o CGI é a única instituição que tem alguma experiência com teste de velocidade da banda larga no País. O órgão fez uma medição em três capitais em parceria com o Inmetro, divulgada em junho. O método usado pelo CGI – que prevê um equipamento dedicado na casa do assinante - acabou sendo o adotado pela Anatel nos novos regulamentos. Além da experiência prévia, a escolha da entidade conta com o apoio declarado da Oi. “A Oi, se tiver que contratar, vai contratar o CGI, porque não há um órgão tecnicamente tão habilitado quanto ele”, afirma Paulo Mattos, diretor de regulamentação da operadora. O diretor de projetos do Nic.Br, braço técnico do CGI, Milton Kaoru, afirma que está sendo desenvolvido um equipamento que elimina das medições o período em que o usuário usa o computador, o que dá mais precisão aos testes. O novo equipamento já será usado na pesquisa TIC Domicílios do ano que vem, mas não exclusivamente. Alguns domicílios terão a medição feita por software. Isso porque, segundo ele, é grande a resistência das pessoas em relação à instalação de outro equipamento em suas residências. “Esse tipo de know how só quem tem se mete a fazer. Na teoria muita coisa funciona, mas na prática é diferente”, afirma.

18 Teletime dez_2011

Anatel (veja quadro). A Telefônica/Vivo, por exemplo, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que foi formado um grupo técnico de trabalho para estudar o assunto. Alguns fornecedores acreditam, entretanto, que as novas regras farão com que as empresas sejam obrigadas a diminuir o número de assinantes que compartilham a mesma rede. Para os mais pessimistas, as operadoras poderão até discutir no âmbito da sua associação – a Telebrasil – uma diminuição coordenada da velocidade dos planos ofertados. Ou ofertarem apenas planos de velocidades baixas nas localidades mais remotas e com baixo poder aquisitivo. O fato é que, segundo os especialistas, nenhuma empresa está preparada hoje para entregar até 80% da velocidade média contratada ao final de três anos e 20% da velocidade instantânea, como determina a norma. Lembrando que no primeiro ano, a meta de velocidade média já é de 60%, também considerada pelas operadoras fora da realidade. FOTO: divulgação

N

ão adianta mais chorar. As metas de qualidade para a banda larga fixa e móvel foram aprovadas pela Anatel e agora as empresas começam a estudar o que fazer para atender às novas regras. A parte mais complicada do regulamento que foi aprovado pela agência – aquela que estabelece as metas de velocidades instantânea e média – entra em vigor um ano após a publicação, ou seja, em outubro de 2012. As empresas, portanto, ainda têm um bom tempo para se adaptar. Uma coisa é certa: as operadoras terão que fazer investimentos tanto na rede móvel quanto na fixa. No caso da rede fixa, a situação talvez seja ainda mais complexa, já que as incumbents têm uma extensa malha de rede legada de cobre. A situação é especialmente mais complicada para a Oi, já que ela tem o serviço de banda larga por xDSL (que usa a rede de cobre) na maior parte dos mais de 5 mil municípios brasileiros, muitos deles com baixo poder aquisitivo e, portanto, retorno de novos investimentos mais lento. A operadora fez intensa oposição ao texto durante todo o período de consulta pública, e agora sustenta que é impossí-

Software A pequena Sercomtel, concessionária do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) em Londrina e Tamarana, no interior do Paraná, saiu na frente das concorrentes ao adotar o software desenvolvido pelo Comitê Gestor de Internet (CGI.br) para a medição da velocidade. Assim, a concessionária se antecipa à obrigação colocada pelo novo regulamento de qualidade do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) e do Serviço Móvel Pessoal (SMP). De acordo com os novos regulamentos, entretanto, as empresas deverão contratar uma entidade – a Entidade Aferidora de Qualidade – que deverá desenvolver o software, cujas medições não serão usadas no cálculo


Investimento Müller explica que para atender aos novos parâmetros da Anatel é preciso fazer investimentos na última milha, no core de rede e na saída de tráfego internacional. “Estamos com investimentos contratados para essas três áreas”, afirma ele. Mesmo sendo uma operadora regional, a Sercomtel está conectada aos Pontos de Troca de Tráfego (PTT) de São Paulo, Curitiba e Londrina. Com a conexão aos PTTs, é como se a Sercomtel trouxesse para dentro da sua rede todos os conteúdos que também estão conectados a eles, explica o executivo. Para a última milha, a estratégia é encurtar a rede de cobre, levando o centro de fios – onde ficam os DSLAMs – para mais perto dos clientes. Para o diretor de marketing e produtos da Huawei, Marcelo Motta, haverá uma onda de substituição dos DSLAMs ATMs para os modelos IP e upgrade no backhaul e backbone. “Hoje as redes estão preparadas para entregar 10% da velocidade contratada. Subir para 60% (e depois para 80%) significa um investimento cavalar em transmissão”, afirma ele. O executivo explica que a garantia de banda varia de acordo com o tipo de

“Estamos estudando a melhor forma de resolver o problema que o regulador criou sem resolver o problema do consumidor. A Anatel criou regras estáticas para um mundo que é dinâmico.” Paulo Mattos, da Oi conteúdo que o usuário demanda. No caso de vídeo, que é o tipo de conteúdo que mais cresce, é impossível a operadora compartilhar a mesma informação com outros clientes, como ela faz com outros conteúdos. “Esse fator de compartilhamento não vai ser mais o mesmo”, afirma. Outra consequência será o aumento da adoção das plataformas de Content Delivery Network (CDN), que permitem à operadora armazenar em servidores mais próximos do usuário aqueles conteúdos mais acessados. À primeira vista, o cenário pode levar a um aumento no nível de investimentos das operadoras, mas a Huawei não acredita que isso vai acontecer. Motta afirma que normalmente o investimento das teles segue um percentual do faturamento líquido. E, nesse caso, as novas metas de qualidade não vão levar as empresas a faturar mais. O diretor regulatório da Huawei, Eugênio Vasconcelos, acrescenta que as empresas poderão adotar uma política de não oferecer velocidades altas em cidades afastadas dos grandes centros, onde a infraestrutura de rede é mais deficiente. Assim, com velocidades mais baixas, seria mais fácil cumprir as metas da Anatel. Vasconcelos especula que as teles poderiam até combinar entre elas de não elevar as velocidades dos seus atuais planos de serviço. Para a banda larga móvel, Motta afirma que o regulamento “não faz sentido”. Isso porque hoje as empresas não comercializam planos por velocidade, mas sim por capacidade. O diretor de tecnologia da Nokia-Siemens, Wilson Cardoso, explica que quanto mais longe o assinante está da central telefônica, maior é a interferência entre os pares de cobre – fenômeno chamado de diafonia – e, portanto, dez_2011 Teletime 19

mais difícil será garantir elevados percentuais de velocidade contratada. “Isso é um grande problema para a Oi por causa da distância (da última milha) e pela rede antiga”, afirma ele. Segundo Cardoso, para a banda larga móvel a situação é ainda mais difícil, já que os usuários nunca estão sempre no mesmo lugar. A mesma opinião é compartilhada pelo diretor da Oi, Paulo Mattos. O vice-presidente de estratégia e marketing para América Latina e Caribe da Ericsson, Lourenço Coelho, acrescenta que além dos investimentos em acesso, backhaul e backbone, as empresas precisarão investir também em serviços de otimização de rede. Olhando para o futuro, o executivo afirma que é provável que as ampliações de rede das empresas aconteçam através da rede móvel. Isso porque a instalação da rede fixa exige as mais diversas autorizações municipais para a passagem dos cabos pelas ruas. Além disso, é muito mais cara a instalação de uma rede fixa, que exige uma quantidade muito maior de obras civis do que a instalação de uma antena em uma torre que provavelmente já existe. “Se essas operadoras precisarem crescer, elas vão para a banda larga móvel, porque não precisa arrebentar rua, passar cabo nem tirar licença na prefeitura”, afirma ele. Além disso, Lourenço destaca que com o LTE as operadoras poderão atender às exigências  da Anatel com um custo menor.

Mircea Maties/shutterstock

FOTOS: arquivo

dos indicadores de rede. Essa é a principal razão para que a operadora não faça uma divulgação sobre a existência do link para o SIMET (sistema de medição criado pelo CGI.br) na página na Internet. O diretor de engenharia e operações da Sercomtel, Hans Muller, explica que a divulgação ainda não foi feita porque as discussões sobre o assunto no Grupo de Implantação de Processos de Aferição da Qualidade (GIPAQ) poderá levar ao uso de um outro software. Apesar da pouca divulgação, a adoção do SIMET tem trazido benefícios para a Sercomtel. Isso porque, em caso de reclamação, os técnicos da companhia podem provar ao cliente que o problema não é na rede da Sercomtel, quando for o caso. Segundo o executivo, muitas vezes o problema está na rede interna, que pode estar velha ou deteriorada pela umidade, por exemplo. Os técnicos podem fazer a medição isolando a rede interna. Outra gargalo comum é o uso de roteadores Wi-Fi que, de acordo com as suas especificações técnicas, podem atuar como um estrangulador de banda.


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MARÇO

6a

Pioneiro na discussão da internet 2.0 em todos seus aspectos: tecnologia, negócios, marketing, comunicação, mobilidade, tendências e redes sociais.

Debate anual sobre as perspectivas políticas e regulatórias do setor de comunicações e a política industrial para o setor de TICs no Brasil.

dias16e17

Centro de Convenções Frei Caneca São Paulo, SP

11

a

Encontro que discute modelos de negócio, conteúdos e aplicações móveis voltadas ao usuário final.

dias4e5

Centro de Convenções Frei Caneca São Paulo, SP

JUNHO

11a

13a

O ponto de encontro entre quem faz, distribui e exibe programas de TV. Um evento dinâmico com foco em negócios. EDIÇÃO

Fórum Saúde Digital

EDIÇÃO

dia22

Hotel Paulista Plaza São Paulo, SP

Fórum

dias31/07a02/08

1a

As tendências e diretrizes EDIÇÃO tecnológicas na área de banda larga, mobilidade, redes convergentes e sistemas para operadoras de telecomunicações.

Transamérica Expo Center São Paulo, SP

3a

Debate sobre tendências, inovações e soluções de mobilidade para a área de saúde. EDIÇÃO

AGOSTO

ABRIL

7a

EDIÇÃO

EDIÇÃO

MAIO

FEVEREIRO

Nobile Lakeside Convention & Resort Brasilia, DF

Amcham Business Center São Paulo-SP

Centro de Convenções Frei Caneca São Paulo, SP

EDIÇÃO

dias14e15

dias3e4

dias15e16

20a

O maior encontro de mídias convergentes do país. Congresso e área de exposição de tecnologia e conteúdo para o mercado de TV por assinatura, vídeo on-demand, banda larga e serviços digitais avançados. EDIÇÃO


dias19e20

Centro de Convenções Frei Caneca São Paulo, SP

7a

Discute e apresenta soluções e tecnologias envolvendo toda a cadeia de atendimento B2B e B2C.

dias25e26

EDIÇÃO

Centro de Convenções Frei Caneca São Paulo, SP

dias13e14

Royal Tulip Rio de Janeiro Rio de Janeiro-RJ

5a

Apresenta as inovações e soluções de mobilidade para negócios: M-Marketing, M-Payment, M-CRM, M-commerce, M-banking entre outros. EDIÇÃO

dia08

12a

Único evento de satélites da América Latina, para debater os temas mais importantes do setor. EDIÇÃO

dia30

Hotel Paulista Plaza São Paulo, SP

2a

Discute a sustentabilidade para os negócios de TIC. EDIÇÃO

NOVEMBRO

Hotel Paulista Plaza São Paulo, SP

OUTUBRO

SETEMBRO

l

A Converge Comunicações apresenta o calendário de eventos 2012, para você aumentar a sinergia do seu plano de ações e expandir o relacionamento junto ao público qualificado e tomador de decisão do seu mercado. Converse com nossa equipe comercial sobre as novidades e possibilidades de negócios que virão por aí.

4a

Debate as perspectivas para o Cloud Computing, Virtualização, Software as a Service (SaaS) e Comunicação como Serviço (CaaS). EDIÇÃO


.:Regulamentação

A boa notícia

Mercado comemora o anúncio de desoneração tributária para construção de novas redes de banda larga, mas há dúvidas sobre o aumento efetivo de investimentos. Ipea aponta que setor não precisa de incentivos adicionais.

C

FOTO: arquivo

omo não poderia deixar de ser, o mercado recebe com muito bons olhos a medida de desoneração tributária para novas redes de banda larga anunciada pelo Ministério das Comunicações em setembro, ainda que tal desoneração dependa da publicação de uma Medida Provisória (MP). No entanto, fica o sentimento de que falta muito por fazer em termos de desoneração tributária, já que o ICMS, principal “sócio” das empresas, continua intacto e não está claro até que ponto a medida poderá elevar o nível de investimento das operadoras no Brasil. O Ministério das Comunicações anunciou que irá isentar a cobrança de PIS e Cofins dos investimentos em novas redes de banda larga, tanto na aquisição dos equipamentos quanto no serviço de instalação e obras civis. Trata-se de uma desoneração de cerca de 10%, o que pode representar dezenas de milhões reais de economia para as teles. As operadoras que quiserem o benefício, contudo, terão que ter o projeto homologado pelo Minicom, e serão considerados planos de investimento que contemplem regiões carentes em infraestrutra de telecom. Com a homologação, as companhias poderão solicitar a isenção fiscal junto ao Ministério da Fazenda. Para as empresas regionais, a regra tende a ser mais branda, ou seja, não será exigido investimento em áreas onde elas não atuam, por exemplo. Até o fechamento desta edição, não havia certeza sequer se a ação a ser implementada viria por meio de uma Medida Provisória ou Projeto de Lei. O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, não esconde que torce para que seja Medida Pro­vi­só­ria, até porque os projetos de lei costumam levar anos

“Hoje estamos beirando as raias do confisco. A arrecadação está aumentando bem mais do que o PIB.”

plano que contemple também localidades carentes em infraestrutura. “Vamos pedir que a empresa apresente um projeto para investir em áreas que atendam ao princípio da diminuição das desigualdades regionais”, Helio Bampi, da Abeprest explica Martinhão. Haverá também um escalonapara serem aprovados no mento do benefício concedido para os Congresso Nacional, o que equipamentos que são desenvolvidos e poderia frustar os planos do Ministério de produzidos no Brasil e para aqueles fomentar a antecipação dos investimenque são apenas produzidos, de acordo tos já nos próximos três anos. O fato é com as regras do Processo Produtivo que a proposta já está há quase três Básico (PPB). Produtos importados não meses na Casa Civil, o que colocou por serão beneficiados. água abaixo a expectativa do ministro de Martinhão afirma que as regras para que o benefício já pudesse estar em vigor a concessão do benefício serão muito em outubro ou novembro. Paulo claras e por esse motivo as contrapartiBernardo, ao justificar o atraso, explicou das de investimento não serão objeto de que o governo optou por esperar a resonegociação entre Minicom e as emprelução de alguns temas importantes no sas. Após a publicação da MP, será Congresso Nacional antes de enviar um publicado um decreto regulamentando novo projeto. a medida que conterá todos os requisitos que deverão ser atendidos pelas Mecanismo empresas. “Vai haver um formulário O secretário de telecomunicações do padronizado no qual a empresa vai Ministério das Comunicações, dizer como ela pretende atender às conMaximiliano Martinhão, explica que a trapartidas estabelecidas na regulamenmedida estabelecerá um patamar mínitação”, explica ele. mo de velocidade das redes cabeadas Para cada projeto aprovado será para a concessão do benefício, patamar publicada uma portaria com a homoloeste que ainda está sendo decidido. gação do Minicom e, a partir daí, a Para as redes móveis, entretanto, a empresa poderá dar entrada ao pedido decisão já está tomada. Serão desonede desoneração junto ao Ministério da rados apenas os investimentos em Fazenda. Um detalhe importante é que redes de terceira geração em diante. No haverá cerca de um ano e meio de prazo caso de backbone e backhaul, a prestapara que as companhias pleiteiem o dora deverá apresentar um benefício, que deverá se encerrar em junho de 2013. As companhias, por outro lado, terão de 4 a 5 anos para concluírem os investimentos. A expectativa do Minicom é que a desoneração atinja cerca de R$ 1,2 bilhão por ano de benefício. Maximiliano Martinhão, do Minicom O secretário ga­­

“Em função de todas essas iniciativas (leilão de frequências, Lei do SeAC e termo de compromisso para a banda larga), as operadoras vão antecipar seus investimentos. Fizemos a coisa casada.”

22 Teletime dez_2011


Rodrigo Abdalla, do Ipea rante que a adesão ao programa será grande, já que com a nova Lei do SeAC (TV por assinatura) as concessionárias podem explorar plenamente o mercado de TV a cabo. Além disso, os termos de compromisso do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) exigirão das empresas a ampliação de suas infraestruturas em algumas localidades e, por fim, em 2012 devem acontecer os leilões das faixas de 2,5 GHz, 3,5 GHz e 450 MHz. “Em função de todas essas iniciativas, as operadoras vão antecipar seus investimentos. Fizemos a coisa casada”, afirma o secretário. Contraponto Mas o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta o outro lado da moeda. Se o mercado por si só tem fortes razões para ampliar os investimentos em rede, seja de TV por assinatura – que também entrega banda larga –, seja móvel, através dos leilões de frequência, por que o governo haveria de criar novos incentivos com recursos públicos? Esse é o cerne da crítica do Ipea. Rodrigo Abdalla, pesquisador da instituição, afirma que o governo faz uma aplicação ruim do dinheiro público ao incentivar uma área em que a nova Lei do SeAC e os leilões de radiofrequência já são um incentivo por si só. Há um problema na desoneração horizontal de infraestrutura, porque ela pode gerar ineficiências, uma vez que os próprios operadores privados tenderiam a ampliar a rivalidade e por isso aumentar o investimento em infraestrutura ”, afirma ele. Para Abdalla, os mesmos recursos que o Ministério das Comunicações calcula que serão concedidos em benefícios fiscais nos próximos 4 ou 5 anos seriam melhor empregados em outros mecanismos de compensação que contemplassem as deficiências dos mercados de baixa renda. Mercado O próprio mercado é cético em relação à eficácia da medida, embora reconheça

que a desoneração é bem-vinda. O vice-presidente de estratégia e marketing da Ericsson, Lourenço Coelho, coloca argumentos que estão alinhados com a opinião do Ipea. Segundo ele, se as operadoras móveis não fizerem nada para a Copa do Mundo, “as redes delas entrarão em colapso”. “Elas terão que investir”, sentencia. Lourenço prevê um nível de investimento em 2012 maior que 2011, simplesmente pelo fato de o PIB crescer. É o chamado crescimento orgânico. Daqui para frente, existe uma série de fatores que vão favorecer que o investimento seja acima do orgânico, como os eventos esportivos que acontecerão no Brasil, as metas de qualidade para a banda larga e o leilão de 2,5 GHz. “Toda vez que surge uma tecnologia nova é um motivo especial para a operadora investir. Fazer a mesma coisa mais barato é outro motivador de investimento”, afirma. Lourenço considera positiva a desoneração de PIS e Cofins para novas redes, mas, segundo ele, não será suficiente para preencher os gaps de banda larga que o País tem hoje. “Ainda tem o problema dos impostos estaduais que são mais difíceis de mexer. A pergunta é se é suficiente”, questiona o executivo. O diretor de marketing e produtos da Huawei, Marcelo Motta, afirma que com a desoneração a operadora poderá comprar mais com a mesma quantidade de dinheiro. “Isso gera um impacto positivo no mercado mesmo com os níveis de investimento atuais. Se vai aumentar o nível de investimento das operadoras, eu não sei”, diz ele, também colocando em dúvida a eficácia do projeto do governo.

A maior operadora do País classificou a medida como “convergente” com os objetivos da companhia. “Essa medida veio em bom momento porque a Oi vai intensificar os seus investimentos a partir do ano que vem e por isso ela é convergente com os objetivos da companhia”, afirma Paulo Mattos, diretor de regulamentação da operadora. Mattos considera o incentivo fiscal o mecanismo “clássico e correto” de incentivo ao investimento. Mas ele também lamenta a falta de um acordo com o Confaz para redução do ICMS, que geraria benefício direto na fatura dos consumidores. O executivo não se mostra preocupado com a notícia de que o benefício será concedido apenas se a empresa apresentar um plano que contemple regiões carentes de infraestrutura. Ele diz que por a Oi atuar nacionalmente, não é difícil cumprir esse requisito. “A Oi chegou com banda larga no Brasil inteiro, com exceção do mundo rural. Teremos facilidade para cumprir os requisitos desta medida”, afirma ele. Vale lembrar que o Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) celebrado em 2008 já havia obrigado a concessionária a levar o backhaul a todas as sedes municipais até o final de 2010. Depois, com a compra da Brasil Telecom, ela foi obrigada a oferecer o serviço de xDSL Velox em todos os municípios da sua área de atuação. Mattos, com esses dados, critica a postura das outras empresas de se concentrarem no “miolo do filé mignon”. “A Oi fez a sua parte”. O outro elo da cadeia que será beneficiado pela desoneração é o setor de instalação das redes. O diretor de relações institucionais da Abeprest, Helio Bampi, comemora a medida, mas lembra que a arrecadação está crescendo a taxas maiores que o PIB. Além disso, o excedente tributário (a diferença entre a arrecadação estimada pelo governo e o que foi de fato arrecado) significa que há espaço para desonerações ainda maiores. “Hoje estamos beirando as raias do confisco. A arrecadação está aumentando bem mais do que o PIB”, protesta Bampi.  FOTO: joão viana/ipea

“Há um problema na desoneração horizontal de infraestrutura, porque ela pode gerar ineficiências, uma vez que os próprios operadores privados tenderiam a ampliar o investimento.”’

“a desoneração gera um impacto positivo no mercado mesmo com os níveis de investimento atuais. Se vai aumentar o nível de investimento das operadoras eu não sei.” Marcelo Motta da Huawei dez_2011 Teletime 23

Helton Posseti


.:TV por assinatura

Regras para o conteúdo

aquisição de eventos e talentos, sanções e das regras de transição. Outra instrução normativa tratará das regras de credenciamento para produtores, as regras editoriais de classificação dos conteúdos dentro dos critérios estabelecidos por lei e outras questões relacionadas diretamente aos produtores de conteúdo. O terceiro regulamento será apresentado em forma de uma Resolução de Diretoria Colegiada (RDC), e deve tratar do recolhimento da Condecine pelas empresas de telecomunicações. O fato gerador desta Contribuição começa em janeiro de 2012 e o recolhimento efetivo deve se dar até março do próximo ano. Além disso, as novas regras devem mexer com pelo menos três instruções normativas já vigentes: a IN 30, que trata da fiscalização por parte da Ancine; a IN 60, que trata da Condecine; e a IN 91, que trata do recolhimento da Condecine. Conforme Manoel Rangel, da Ancine: agência está se reestruturando para gerenciar e fiscalizar a nova realidade do mercado.

24 Teletime dez_2011

apurou esta reportagem, outros pontos devem ser tratados oportunamente, demandando re­visões em outras INs ou a edição de novas instruções. Titularidade Um dos temas espinhosos que pode ter sua discussão adiada é a questão da titularidade sobre obras audiovisuais com recursos incentivados ou que sejam usadas para o cumprimento de cotas. Durante o evento, o advogado Fábio de Sá Cesnik levantou a questão dos direitos patrimoniais. A dúvida se refere principalmente em relação ao conteúdo que será usado para cumprir as cotas de obra de produção independente. A questão é se a obra será considerada de produção independente pelo fato de ter sido produziFOTOS: marcelo kahn

A

Agência Nacional do Cinema (Ancine) definiu que instrumentos usará na regulamentação da Lei 12.485/2011, que cria o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC). Em evento organizado em novembro pela Converge Co­­mu­­ni­­ca­­ ções em parceria com o Museu da Imagem e do Som de São Paulo, Manoel Rangel, diretor-presidente da agência reguladora, apresentou o cronograma que a Ancine segue e afirmou que serão editados três regulamentos (ou instruções normativas, como são chamados os principais atos regulatórios da agência) para balizar a nova lei. Na primeira exposição pública sobre a Lei 12.485/2011 após a sua publicação, Rangel aplacou a ansiedade dos setores de produção de conteúdo e de programação e operação de TV por assinatura ao enfatizar que haverá um momento no processo de construção dos regulamentos para que todos sejam ouvidos. Ao mesmo tempo, representantes da agência acompanharam atentamente o evento, ouvindo as primeiras impressões e demandas de produtores, programadores e operadores. As normas que vêm sendo desenhadas na Ancine serão apresentadas, segundo Rangel, em meados de dezembro, e ficarão em consulta pública durante 45 dias. Além disso, duas audiências públicas serão realizadas para ouvir de perto as preocupações e demandas dos envolvidos. As audiências devem ser realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. A primeira instrução normativa, chamada pelo presidente da Ancine de “O regulamento”, tratará da exploração da atividade audiovisual pelas operadoras do SeAC. Este será o principal regulamento, que tratará dos princípios gerais, da classificação dos conteúdos e da aferição das cotas de programação e de canais, das regras de relacionamento entre setores, informações a serem colocadas na Internet,

CCat82/ Alex Mit/shutterstock

Ancine prepara a regulamentação da Lei 12.485/2011, que cria o Serviço de Acesso Condicionado, e abre espaço para contribuições dos setores envolvidos.


da por uma produtora independente ou pelo detentor de sua titularidade. Atualmente, no caso de obras que usem recursos públicos, a titularidade deve ser da produtora independente (em pelo menos 51%). Questionado sobre a viabilidade de mudanças nesta regra, Manoel Rangel diz que o tema não é objeto de estudo neste momento e que valem as regras vigentes. Servidores da agência apontam que a Ancine deve se debruçar sobre o assunto, passado o período de regulamentação da Lei 12.485 e do novo Fundo Setorial do Audiovisual, e então preparar uma IN específica sobre o tema. “Em alguns casos, os recursos incentivados são minoria”, comenta uma fonte na agência.

Para Marcos Amazonas, do Grupo Bandeirantes e da NeoTV, a nova lei não levou em consideração os operadores em pequenas localidades, sem recursos para digitalizar as redes.

binado em cerca de R$ 400 milhões ao ano, segundo estimativas da Ancine, em função da contribuição que será paga pelos operadores de telecomunicações. A regulamentação do novo FSA é esperada para agosto de 2012, segundo Manoel Rangel. Apesar de haver mais tempo, a Ancine optou

as novas regras devem mexer com pelo menos três instruções normativas já vigentes: IN 30; IN 60; e IN 91.

Dinheiro novo Além da regulamentação do SeAC em si, a Ancine trabalha para regulamentar o novo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que é o principal mecanismo de fomento e que será tur-

por manter um grupo de trabalho desde já, para que todas as regulamentações sejam feitas em sintonia. Segundo Rangel, essa nova contri-

buição representará um desafio para a Ancine e para as empresas. “Apesar de já haver uma rotina para o pagamento da TFF conhecida pela Anatel, o que temos agora um recolhimento novo”, explica o presidente da Ancine. Segundo Manoel Rangel, esse montante de R$ 400 milhões praticamente quadruplica o que se tem disponível hoje no Fundo Setorial do Audiovisual para fomento, e representa 150% a mais em relação a todos os recursos incentivados disponíveis para esse fim hoje no Brasil. Caberá ao Comitê Gestor do Fundo Setorial Audiovisual estabelecer os critérios para aplicação desses recursos, mas são esperadas diretrizes que fomentem especificamente a produção para TV por assinatura. Parte desses recursos serão utilizados também para fomento da atividade cinematográfica, diz Rangel, mas serão tomados cuida


Gina Sanders/shutterstock

.:TV por assinatura

Fernando Magalhães, da Net reestruturação da própria agência também será levada ao Executivo para permitir que a Ancine seja adequadamente aparelhada para atender às demandas da Lei 12.485/2011. Segundo Rangel, a área de fomento da agência passou por uma reorganização no último ano, para se preparar para as

Segun­do ele, na prática, o impacto da nova regra é administrável. “Por enquanto, vamos ter que au­ men­ tar a distribuição de alguns canais já distribuídos pela Net”, disse. No prazo de três anos, admitiu que terá de acrescentar “cinco ou seis canais” ao line-up. “Praticamente todas as cidades estão com as redes digitalizadas, diminuindo a dificuldade de incluir estes canais”, afirmou. Marcos Amazonas, do Grupo Bandeirantes, e também presidente da associação de operadoras NeoTV, discorda de Magalhães. Ele diz que a nova lei não levou em consideração os pequenos operadores, que operam pequenas localidades. O executivo lembra que nestas operações é economicamente inviável digitalizar as redes e que o line-up das redes analógicas não é tão flexível. Para uma operadora do tamanho da Net é mais fácil negociar programação e falar de valores, prazos e demandas. “Eu não diria que é um passeio, mas um agradável rali FOTO: marcelo kahn

“O impacto não será tão grande nas cidades onde a rede está digitalizada.”

Alex Mit/shutterstock

dos para garantir que essa produção cinematográfica seja aproveitada também no setor de televisão. O presidente da Ancine adiantou que o fomento para a TV deve ser mais abrangente, podendo haver crédito para o desenvolvimento de formatos, por exemplo. Completou ainda que o fundo buscará conteúdo de alto valor agregado, ou “conteúdo de estoque, e não de fluxo”. A afirmação vai ao encontro dos critérios atualmente adotados pela agência para liberar recursos através do Artigo 39 da MP 2.228/01, evitando os chamados “conteúdos de grade”. Segundo Rangel, a operação desses recursos exigirá da Ancine e do fundo uma “outra mecânica, mais ágil na seleção de projetos e prazos mais curtos para a entrega de obras”. Rangel reconhece que existe um grande desafio para a Ancine em relação à sua estruturação, e já foram iniciados estudos sobre as necessidades da agência. Nesse momento, alguns estudos referentes à reestruturação do Fundo Setorial Audiovisual já foram passados ao governo, e futuramente uma proposta de

Além da regulamentação do SeAC, a Ancine trabalha para regulamentar o novo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). novas funções. “Em linguagem popular, nós ‘limpamos a área’ para o novo momento do setor”, disse. Operação O diretor de programação da Net Serviços, Fernando Magalhães, minimizou o impacto das cotas de programação criadas na Lei 12485/2011.

Sobrou para a Justiça

O

partido Democratas (DEM) entrou com Ação Direta de Inconstitu­ cionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de medida liminar contra diversos dispositivos da Lei 12.485/2011. Veja os pontos questionados pelo partido: O DEM questiona os poderes que foram atribuídos à Ancine, afirmando que a Constituição “veda que uma lei estabeleça princípios de atividades de comunicação e, em seguida, delegue a uma agência reguladora a implementação destes princípios”. A ação questiona a criação de cotas de programação, sob o argumento de que estas cotas são restrições “às atividades de comunicação resultam em restrição da liberdade da atividade econômica, da livre iniciativa, do direito do consumidor, do direito de comunicação e da propriedade intelectual”. Também é questionado o must carry dos canais de radiodifusão, sob o argumento de que estaria sendo ferido “o direito autoral das empresas de radiodifusão ao conteúdo por elas gerado”.

Questiona-se ainda a obrigatoriedade de migração para o SeAC sem que se avalie a eventual existência de eventuais prejuízos aos atuais operadores de cabo, MMDS e DTH. O DEM questiona a ausência de licitação para o processo de autorização do SeAC. Segundo a inicial da Ação de Inconstitucionalidade, “ainda que se entenda que o serviço de acesso condicionado deva ser prestado sob o regime privado, a licitação revela-se necessária em face da escassez dos meios físicos para a prestação dos serviços e pela evidente desigualdade de condições entre os competidores”. Curiosamente, o DEM não questionou dois dos aspectos que são considerados mais graves do ponto de vista constitucional: a criação de novas atribuições de uma agência reguladora por meio de lei originada no Legislativo e a alteração de regras tributárias também por lei que não seja do Executivo. Também não é questionada a separação de mercados entre empresas de distribuição e produção de conteúdos, previstas nos Artigos 5 e 6 da Lei 12.485, que é justamente um dos pontos considerados mais conflitantes com a liberdade de iniciativa prevista na Constituição.

26 Teletime dez_2011


O principal evento de Políticas de (Tele)comunicações agora tem um “plus”. Venha discutir também a política de TICs. O debate anual com empresários, acadêmicos e representantes da sociedade civil sobre as perspectivas políticas e regulatórias do setor. Entre os temas em debate: A agenda política de 2012 para as (Tele)comunicações A agenda regulatória da Anatel para 2012 A agenda regulatória da Ancine para 2012 Radiodifusão e telecom: O desafio da convivência O setor de TICs e a política industrial As políticas de inclusão digital Os projetos estratégicos de infraestrutura Programa Brasil Maior para desenvolvimento e exportação de software e serviços Programa de incentivo para fabricação de componentes e semicondutores Programas de desoneração para fabricantes de TI Apoio

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14 e 15 de fevereiro de 2012

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.:TV por assinatura

Programação Os programadores no evento apontaram algumas preocupações em relação à regulamentação da nova lei. Para a Globosat, maior programadora brasileira de TV por assinatura, não será nada simples esse processo. Na opinião de José Francisco de Araújo Lima, diretor de assuntos institucionais das Organizações Globo e representante da Globosat, ainda há uma grande quantidade de incertezas sobre o que virá na regulamentação. Araújo Lima disse ser um “alívio” ver que a Ancine fará audiências públicas para ouvir o setor. “Estamos preparados para participar ativamente”, disse. Ele finalizou sua participação lembrando que entre a publicação da Lei do Cabo, em 1995, e sua regulamentação, em 1997, o então presidente

FOTO: divulgação

“Talentos da TV aberta perceberam a criação de um novo mercado e acredito que muitos não renovem seus contratos de exclusividade com os canais abertos.” Denise Gomes, da BossaNovaFilms Fernando Henrique Cardoso criou uma regulamentação por decreto que, por trazer “diversos absurdos”, teve que ser revogada. Araújo Lima apontou uma série de consequências da nova legislação. “Por exemplo, ela cria centenas de programadoras, já que todo canal local, todo canal comunitário e todo canal estrangeiro terá que estar vinculado a uma programadora, o que não necessariamente acontece hoje”, disse. Isso significa, lembra o advogado, que todos terão que se credenciar junto à Ancine.

Alex Mit/shutterstock

de fim de semana”, brincou. “No nosso caso é uma travessia do deserto carregando a bagagem a pé.” Amazonas cobrou dos reguladores uma atenção especial aos pequenos operadores. Mesmo a Net concorda que expandir o line-up em algumas de suas operações pode ser complicado. “Vamos ter problemas nas cidades analógicas pequenas, onde a conta não fecha para a digitalização”, disse Fernando Magalhães. A Sky mantém sua posição sobre a nova lei. A operadora, seguindo o exemplo do partido Democratas (veja box), entrou na Justiça questionando a Lei 12.485/2011. A operadora de DTH, que desde a tramitação da Lei no Congresso vinha se manifestando criticamente em relação a algumas das propostas do novo marco legal, ingressou na Justiça Federal de São Paulo contra a Ancine e a União questionando a Constitucionalidade da Lei. Especificamente, a Sky questiona os dispositivos que estabelecem a obrigatoriedade de cotas. A Sky não fez nesse pedido de nenhuma medida liminar, pois entende que como a regulamentação não foi concluída, não há risco iminente, mas isso pode acontecer futuramente, explicou o diretor jurídico da operadora, Ricardo Lagreca, a esta reportagem.

Segundo ele, as indefinições e as dúvidas que pairam sobre as novas regras já estão impactando negativamente no trabalho das programadoras, que já estão criando as grades de programação de março, quando começam a vigorar as novas regras. Outro ponto apontado por Doyle é em relação ao licenciamento de conteúdos. O executivo teme que as cotas inflacionem o mercado brasileiro. “A Ancine terá de nos ajudar para garantir que o preço pago seja justo. Não sei qual é o valor correto, mas precisa ser viável”, disse.

As normas que vêm sendo desenhadas na Ancine serão apresentadas em meados de dezembro, e ficarão em consulta pública durante 45 dias. Ele também lembrou a questão da repetição de conteúdos e contestou a possibilidade de que isso seja limitado pela regulamentação. “Isso faz parte da característica da TV paga. Não tem nada na Lei dizendo que não possa haver reprise de conteúdos”, disse. Araujo Lima também questionou a figura do empacotador criada pela Lei e disse temer que as empresas de distribuição de TV paga, a partir de agora, passem a exercer esse papel e controlar o empacotamento dos canais. Para Anthony Doyle, da Turner, o setor de programação está trabalhando para se adequar à Lei. “Há um esforço para interpretar a Lei. Temos pouco tempo para isso”, disse o executivo.

Fator psicológico A aprovação da Lei, mesmo sem ter entrado em vigor ainda, pelo menos no que se refere às cotas de conteúdo e canais, já gerou uma “movimentação positiva” na relação entre programadoras e produtoras. Segundo a produtora Denise Gomes, da Bossa Nova Filmes, há um fator psicológico na aprovação da Lei que fez com que as programadoras se aproximassem mais das produtoras independentes. “Pela primeira, foram os canais que nos procuraram, e não o contrário”, disse. Segundo ela, a expectativa da mudança no mercado mexe com toda a cadeia. “Talentos da TV aberta perceberam a criação de um novo mercado e acredito que muitos não renovem seus contratos de exclusividade com os canais abertos”, disse.  Fernando Lauterjung e Samuel Possebon

“A Ancine terá de nos ajudar para garantir que o preço pago seja justo. Não sei qual é o valor correto, mas precisa ser viável.” Anthony Doyle, da Turner 28 Teletime dez_2011



.:Infraestrutura

Daniel Machado

daniel@convergecom.com.br

Mares revoltos

serão arcados pela Telebras e o restante por empresas parceiras. No entanto, o gerente de tecnologia e inovação da Telebras, Paulo Kapp, rebate a crítica de maneira curta e grossa: “Quem sabe onde temos de gastar somos nós”. Kapp justifica o investimento alegando que esta é a única forma de se reduzir drasticamente o custo por megabit da banda que chega ao Brasil e assim viabilizar as operações da estatal. “Quase metade do tráfego nacional anual, de aproximadamente 1,8 Tbps, vem dos Estados Unidos (EUA) e o custo médio é de US$ 35 a US$ 37 por Mbps. Isso é um cartel”, dispara. “A diferença do preço se dá dentro do Brasil (redes terrestres) e ganha quem tem acesso local, como Embratel, Telefônica e Oi”. O custo considerado razoável pela Telebras é de US$ 15 por Mbps na saída

“Corre-se um grande risco de investir muito dinheiro (da Telebras) para depois se chegar à conclusão de que é necessário contratar outras empresas.” Yuri Menck, da Level 3 30 Teletime dez_2011

de Fortaleza, menos da metade do preço cobrado atualmente pelas operadoras de cabo submarino. “A Telebras é carrier de carrier e nosso principal objetivo, ao construir o cabo submarino, é o de baixar esse preço e inundar o País todo de banda larga”. O projeto, anunciado recentemente pela estatal, prevê uma saída para os EUA (chegada em Miami, Jacksonville ou Virgínia), passando pelo Caribe e conectando com os países da fronteira Norte (Colômbia e Venezuela); uma outra saída para a Europa, passando por Cabo Verde, na África, e chegando na Inglaterra, Holanda ou França (as opções ainda estão em estudo, mas a preferência é Amsterdam); um terceiro cabo ligando Fortaleza e Angola; e uma outra derivação para os países do Cone Sul (Uruguai e Argentina). A ideia é implantar uma rede de capacidade máxima de 32 Tbps, mas com capacidade inicial de 2 Tbps. Pelas projeções da Telebras, o tráfego brasileiro é hoje de 1,8 Tbps. “Uns 500 Gbps desse total é acessado via redes internacionais por meio dos cabos submarinos existentes. Teremos de ter também um backbone de uns 500 Gbps e, a partir daí, evoluir esse tráfego”, calcula Kapp. O objetivo da estatal é se tornar uma operadora Tier 1, ou seja, com capacidade de conexão direta aos principais pontos de troca de tráfego sem precisar passar por intermediários. Com isso, a Telebras teria a possibilidade de trocar tráfego com operadores de cabos que cruzam o continente africano e assim ter uma saída direta para a Ásia, sem passar por Europa ou EUA, como acontece hoje. FOTOS: divulgação

O

ano foi de forte turbulência no mercado de cabos submarinos. Aquisições, ampliações e o esperado anúncio do projeto da Telebras no mercado de links internacionais geraram dúvidas e dividiram opiniões, sobretudo entre os players do setor. Para os representantes da Level 3, empresa norte-americana de serviços que recentemente adquiriu a Global Crossing e tornou-se um dos maiores provedores de comunicação intercontinental do mundo, a maior competição deve ser positiva. “Há uma parte (da rede submarina) que a Telebras deve construir, mas eu diria que a grande maioria será composta pelo backbone de empresas já estabelecidas, ou seja, poderemos usufruir dessa capacidade para chegar em locais de difícil acesso, como a região Norte. E, em contrapartida, a Telebras precisará de banda”, prevê Orlando Neves, diretor de produtos da Level 3. Já Yuri Menck, diretor de marketing da empresa, não vislumbra um horizonte tão bom assim. “Esse é um processo que está começando (a ser discutido) agora e será implantado daqui a alguns anos, por isso corre-se um grande risco de investir muito dinheiro para depois chegar-se à conclusão de que era necessário contratar outras empresas”, diz. Mitsuo Shibata, diretor geral da Telefónica Whole Sale (TIWS), subsidiária do grupo Telefónica e provedor global de comunicação, vê ambiguidade no debate. “É saudável num ponto, pois pode estimular o crescimento dos backbones brasileiros e da banda larga como um todo. Mas não há carências nos links internacionais, pelo contrário, acho que o Brasil já está muito bem servido nessa área. Além do mais, a Telebras tem investimentos mais importantes por fazer, como em infraestrutura terrestre”, diz. O projeto de instalação dos cabos submarinos está orçado em R$ 2,5 bilhões, dos quais 40%

Four Oaks/shutterstock

Telebras anuncia ingresso no mercado de cabos submarinos e muda a dinâmica competitiva do setor. Parceria com estatais também é estudada para a integração terrestre e marítima dos países sul-americanos.

América do Sul Mas a intenção da Telebras de derrubar o custo do megabit dos links internacionais não se restringe à implantação de cabos submarinos


próprios. Aliás, o debate extrapola as fronteiras nacionais e está sendo tratado no âmbito sul-americano. A missão é interligar, por terra e mar, a infraestrutura de telecomunicações dos países sul-americanos, ação coordenada pela União de Nações Sul-Ame­ ricanas (Unasul) com doze países da Região. Atualmente, a comunicação entre os países da América do Sul só ocorre por meio de cabos submarinos ligados a outros continentes, principalmente aos Estados Unidos. O anel óptico pretende promover a integração das telecomunicações na Região, além de torná-la menos dependente do tráfego transcontinental. O negócio é tão sério que, pela primeira vez, os ministros de comunicação dos países sul-americanos se reuniram em Brasília para conversar, no final de novembro, tendo esse assunto em pauta. A nova infraestrutura abrangeria praticamente toda a América do Sul, com uma extensão total de mais de 10 mil quilômetros, e aproveitaria as redes existentes utilizadas atualmente no setor elétrico ou energético, como é o caso dos gasodutos. O objetivo final é o de reduzir os custos das transmissões de dados entre os países e assim ampliar o acesso aos serviços de telecomunicações entre a população sul-americana. “Em relação a uma empresa norte-americana, um provedor de serviços na América do Sul paga, no mínimo, três vezes mais por megabit”, compara Kapp. “Na Bolívia, o valor do Mbps é US$ 1 mil”, alerta. Segundo o consultor da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), Edwin Rojas, o uso dos enlaces internacionais representa de 30% a 40% do custo final do serviço de Internet na América Latina. “As operadoras dizem que esse custo não passa dos 20%, mas há outras melhorias que devem ser analisadas”, alerta. Esse valor excessivo na composição da conta do serviço de Internet, de acordo com o consultor, ocorre pois de 60% a 80% do tráfego internacional originado na América Latina passa por servidores dos Estados Unidos. Cerca de 40% desse tráfego advém do Brasil. Mas os provedores privados refutam: “Só de impostos são 40%. Essa conta não fecha. Além do mais, o usuário doméstico paga muito mais pela última milha, principalmente se for cliente de incumbent, diz o diretor de marketing

“Dependemos muito dos backbones terrestres para ampliar ainda mais nossa capacidade. De nada adianta construir uma auto-estrada se no final haverá várias ruazinhas.” Mitsuo Shibata, da TIWS estratégico e comunicações da Level 3. E (para cada assinante de 1 Mbps) as operadoras não reservam 1 mega. Elas compram isso para dividir entre três assinantes, por isso esse gasto internacional é diluído, não representa tanto”, acrescenta. Segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o custo aproximado do projeto de integração de infraestrutura será de US$ 100 milhões e o prazo de conclusão é de dois anos. Este número, entretanto, representa apenas uma fração do montante total do plano, que inclui também cabos submarinos que ligarão a costa brasileira aos EUA, Europa e África. Bernardo defende que o projeto seja estabelecido como uma prioridade entre os países do conti-

Novo gigante Do lado privado, o mercado não foi menos agitado. A Level 3 concluiu a aquisição da Global Crossing e, com isso, é agora uma das maiores provedoras de infraestrutura de comunicações do mundo, com receita de US$ 6,2 bilhões, 56 mil quilômetros de redes submarinas, 160 mil quilômetros de rotas terrestres e 48 mil quilômetros de redes metropolitanas. “Ganhamos força nas Américas e agora somos o único provedor com acesso a todos os continentes, presente em 70 países e mais de 700 cidades”, comemora Neves. “Em 2011 estudamos a entrada em outros países. Provavelmente teremos novidades em 2012”, acrescenta. Não só o crescimento da capilaridade está em curso, mas um aumento da capacidade dos cabos do SAC (link submarino herdado da Global Crossing). “No segundo trimestre de 2012 ampliaremos a capacidade de lambda de 40 Gbps para 100 Gbps, crescimento de duas vezes e meia”, antecipa. Além de conectividade, as empresas do setor procuram oferecer serviços de valor adicionado. Em 2009, a Global Crossing lançou um serviço chamado Ethesphere. O produto é uma espécie de Metro Ethernet internacional, porque liga diversas filiais ao redor do mundo por meio de uma simples conexão Ethernet. A Level 3 manterá e ampliará o serviço. E tem fortes motivos para isso. “Desde que começou, nos últimos três anos o crescimento anual desse serviço tem sido de 35%”, relata Yuri Menck. A companhia está recebendo da Global Crossing um bom legado no segmento corporativo, que representa 60% do negócio da empresa no Brasil. Os outros 40% vêm do provimento de conectividade para operadoras.

O custo considerado razoável pela Telebras é de US$ 15 por Mbps na saída de Fortaleza, menos da metade do preço cobrado atualmente pelos provedores. nente e seja incluído no Plano de Ação Estratégico 2012-2022 do Conselho SulAmericano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan). O presidente da Telebras, Caio Bonilha, revelou que há uma negociação da estatal com a Odebrecht Defesa, que participaria da construção do trecho que ligará a América do Sul aos EUA e à Europa. Porém, declarou que tudo não passa de conversas preliminares. Por ser um projeto comercial, não há restrição à entrada de sócios no projeto e a Telebras estuda propostas de outras empresas. Na ponta africana, por outro lado, já existem compromissos firmados com empresas como a Angola Telecom para a construção do cabo. Segundo Bonilha, o que não falta ao projeto são empresas interessadas em entrar na joint-venture. Ele explica que a Telebras deve ser minoritária na joint-venture, mas será a maior acionista individual, e terá o controle das operações em Fortaleza e nos EUA. dez_2011 Teletime 31

TIWS A Level 3 tem como concorrentes na região diversos outros players de peso, como a Embratel (Atlantis 2, Americas 2 e Unisur); Oi (Globenet); LANautilus


.:Infraestrutura

Nau óptica

Q

uando o assunto é cabos submarinos, muito pouco se fala a respeito daqueles que têm a árdua tarefa de atravessar os mares instalando e fazendo manutenção nos cabos ópticos. Na verdade, são poucas as empresas que realizam o serviço de ponta a ponta. Elas cabem nos dedos de uma mão. Primeiro porque custa caro e requer alto nível de especialização. “Já instalamos cabos ópticos em pontos no mar com uma profundidade maior do que a altura da Cordilheira do Himalaia”, diz Vincent Chevalier, vice-presidente das Américas da Alcatel Lucent Submarine Network. A Cordilheira do Himalaia é a cadeia montanhosa mais alta do mundo e tem mais de 100 picos que excedem os 7,2 mil metros do chão. “É um investimento elevado; além do que, é preciso muita experiência e tripulação especializada nos barcos que instalam os cabos, construídos especialmente para esse fim”. A Alcatel Lucent tem mais de 50 anos de experiência em instalação de links internacionais, uma base de aproximadamente 510 mil quilômetros de redes submarinas implantadas e uma frota de seis navios “offshore” – como são chamados. Parece pouco, mas cada embarcação desse tipo

FOTO: altivue/divulgação

“Já instalamos cabos ópticos em pontos no mar com uma profundidade maior do que a altura da Cordilheira do Himalaia.”

custa, em média, US$ 120 milhões. “A frota mundial de navios offshore é de 40 embarcações, das quais oito são nossas”, diz Courtney McDaniel, diretor da TE SubCom, empresa do Grupo TE também com mais de 50 anos de experiência no setor e 490 mil quilômetros de sistemas ópticos instalados. “Recentemente, concluímos um projeto que exigiu seis navios, com várias centenas de pessoas envolvidas”, diz McDaniel, que afirma que a TE SubCom é a única empresa que terá uma embarcação especializada de plantão no norte da América do Sul para a manutenção e reparação de prováveis rupturas. No Brasil e América do Sul, aliás, a TE SubCom construiu e atualizou os sistemas submarinos Americas, Americas 2, SAM1 e Columbus, além de projetos offshore para a Petrobras.

32 Teletime dez_2011

Segundo o executivo da TIWS, o SAM-1 foi instalado há dez anos e teve sua capacidade nominal multiplicada por dez desde então. “Não preciso mexer em absolutamente nada da parte molhada do cabo. Faço isso remotamente. Ope­rar um cabo submarino é totalmente diferente de operar um cabo terrestre. É necessário haver um alinhamento com as redes terrestres”. Esse alinhamento, revela, está ocorrendo no grupo Telefónica. “Com a compra da Vivo, TVA, as futuras redes LTE, estamos trabalhando em um plano estratégico de arquitetura de redes”. Shibata revela que a TIWS continua investindo em aumento de capacidade, apostando também em cashing local. “Onde conseguíamos passar um lambda de 10 Gbps no mesmo espectro, hoje passamos 40 Gbps. E já estamos em testes avançados para transmitir, em um só cabo, 100 Gbps. Ou seja, nossa capacidade total é de 1,9 Tbps, mas pode chegar a 19 Tbps”, explica. FOTOS: divulgação

(Telecom Italia); e TIWS (SAM-1). Esta última acredita que o fato de ser o único provedor que não dispõe de uma operadora de telecom no varejo pesa Vincent Chevalier, da Alcatel Lucent significativamente contra Submarine Network a Level 3. “Cerca de 99% do tráfego doméstico das operadoras com provedores internaciopara as carriers. “Temos atendido nais, como Oi, TIM e Telefônica, saem e a Vivo na expansão que ela necesentram do País por esses links próprios. sita nas regiões da Amazônia e no E estamos muito à frente, pois temos Nordeste, inclusive via satélite”. operações domésticas em vários países”, diz Mitsuo Shibata, diretor geral da Gargalo TIWS, subsidiária do grupo Telefónica. Para Shibata, o problema nas teleAo contrário da Level 3, a atuação comunicações não se encontra no mar, da TIWS se restringe ao mercado de mas sim na terra. “O gargalo não está wholesale, ou seja, venda de dados e nas operações internacionais, mas nas voz no atacado. “Não pode haver condomésticas. Esse é o desafio para todas flito de interesses: mercado corporativo as operadoras. Dependemos muito dos é com a Telefônica Empresas, que é um backbones terrestres para ampliar dos nossos principais clientes”, explica. ainda mais nossa capacidade. De nada “A voz, mesmo ocupando uma banda adianta construir uma auto-estrada se pequena, ainda gera um tráfego e uma no final haverá várias ‘ruazinhas’”, receita associada importante. Cerca de compara. “Um lambda de 100 Gbps 60% da nossa receita vem da telefonia chegar ao País e não conseguir trafeinternacional. Só o grupo Telefónica gar, caindo para 10 Gbps, gera perda trafega no mundo 20 bilhões de minude eficiência”, acrescenta. tos por ano”, diz o executivo, que destaca também o recente lançamento de um serviço de atendimento ao cliente

Vendors Com a capacidade das redes submarinas dobrando, em média, a cada 24 meses, os vendors ampliam seus negócios. Alcatel-Lucent, Nokia Siemens Networks, Huawei e outras grandes fabricantes de equipamentos de transmissão apostam algumas fichas no mercado de links internacionais. Desde que desembolsou US$ 2 bilhões, no primeiro trimestre de 2010, e comprou a divisão de redes Metro da Nortel, a Ciena, nome mais novo nesse setor, não para de crescer. “Cerca de 25% dos 2 Tbps dos dados que circularam nos cabos submarinos em 2011 no Brasil foram roteados por equipamentos da Ciena. E acreditamos que entre 2011 e 2017 o crescimento da demanda será de 45% a 50%”, diz Marcos Garcia Villas-Bôas, diretor regional e gerente geral da Ciena Brasil, que acredita que em 2018 o tráfego anual no Brasil atinja 18 Tbps. “Vídeos de alta definição, 3D, proliferação de smartphones, tablets, Copa do Mundo, Olimpíadas, temos boas razões para estar otimistas.” 


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Valor adicionado e regulado

receita recorrente. Em um piscar de olhos, empresas estrangeiras aportaram no País com esse modelo e várias das companhias nacionais de SVA lançaram ofertas similares. A receita cresceu, mas junto veio a dor de cabeça. “O problema não era o produto, mas a forma como era oferecido”, recorda Philemon Mattos, diretor de desenvolvimento de negócios da Takenet. Muitos consumidores assinavam o serviço pela Internet, digitando seus números de celulares atraídos por ofertas pouco transparentes ou mentirosas. Havia casos em que a pessoa não se dava conta de que estava se comprometendo a um pagamento semanal. E pior: em alguns desses serviços era difícil ou quase impossível cancelar a assinatura. Houve até situações de fraude explícita em que dados de uma mala direta foram usados para forjar assinaturas, relata Rafael Pellon, advogado e sócio de CFLA Advogados e especialista no mercado de SVA. Para complicar a situação, os mais afetados

“A ideia é não deixar que o mercado vire um faroeste.” Rafael Pellon, da CFLA Advogados 34 Teletime dez_2011

eram justamente os usuários pré-pagos, pois alguns desses serviços se aproveitavam do fato desses consumidores não terem uma visibilidade adequada de seus gastos com telecomunicações, já que não recebem uma conta mensal detalhada. Muita gente teve seus créditos descontados sem saber o porquê. O resultado foi uma chuva de reclamações junto às operadoras e à Anatel. Pressionado, o órgão regulador decidiu tomar uma providência, dentro do seu raio de competência legal. Vale lembrar que, na teoria, a Anatel não pode regular diretamente os agregadores, integradores ou provedores de conteúdo móvel, somente as operadoras de telefonia. Ciente disso, a agência enviou um ofício às teles em julho do ano passado relatando a enxurrada de reclamações e exigindo providências por parte das teles por considerá-las responsáveis solidariamente aos seus parceiros, haja vista que usam seu sistema de billing para cobrar por tais serFOTOS: divulgação

N

o ano passado, o mercado de serviços de valor adicionado (SVA) em telefonia celular foi chacoalhado por um ofício da Anatel impondo uma série de exigências para a oferta de assinatura semanal de conteúdos, entre as quais a necessidade de dupla autorização por parte do usuário, o chamado “duplo opt-in”, para o envio de mensagens promocionais. Na época, abriu-se uma discussão sobre a necessidade de regulamentação de tais serviços. Agora, passado pouco mais de um ano, a Anatel volta a surpreender e inclui, pela primeira vez, metas de qualidade envolvendo o serviço de mensagens de texto (SMS) para as operadoras celulares. Estas terão que entregar 95% das mensagens enviadas por mês em até um minuto. Embora valha apenas para mensagens trocadas entre usuários, a nova meta afetará indiretamente a vida de agregadores e integradores de conteúdo móvel, prevêem analistas do mercado de SVA. A intervenção da Anatel traz um novo desafio a entidades como o Mobile Entertainment Forum (MEF): o de agilizar o processo de autorregulamentação, evitando imposições de órgãos reguladores. O mercado de SVAs existe há mais de dez anos no Brasil, tendo começado com a venda avulsa de ringtones monofônicos, alguns conteúdos por SMS e sites WAP. Por muito tempo não gerou dores de cabeça para os consumidores ou para as operadoras e seus parceiros. Tampouco rendia uma receita significativa, verdade seja dita. O cenário começou a mudar por volta de 2007, quando foram lançados no País os primeiros serviços de assinatura semanal de conteúdo móvel, ideia importada da Europa. Funciona da seguinte forma: o usuário paga um valor semanal (hoje em torno de R$ 4,99) e recebe créditos para serem trocados por ringtones, jogos, imagens, vídeos etc. O modelo foi bem aceito pelas operadoras, pois gera uma

nokhoog_buchachon/shutterstock

Nova intervenção da Anatel, dessa vez na entrega de mensagens de texto, reabre a discussão sobre a necessidade de regulamentação de conteúdo móvel no Brasil.


viços e compartilham de sua receita. Entre as exigências constava a obrigatoriedade de envio de uma mensagem de texto pela operadora para o usuário com informações sobre o serviço desejado, incluindo um link para o contrato, um número de protocolo, o preço e a forma de cancelamento. Além disso, para que a assinatura fosse efetivada, o usuário precisaria responder a essa mensagem confirmando seu interesse. Na prática, o ofício da Anatel determinava a adoção do que o mercado chama de “duplo opt-in”, ou, em bom português, uma “dupla autorização”. O mercado sentiu o baque. Imediatamente, as operadoras se reuniram com a Anatel, pedindo mais esclarecimentos e receosas de que tais exigências precisassem ser adotadas por outros SVAs. A agência, então, enviou outro ofício, em setembro do ano passado, esclarecendo que as novas regras não precisavam ser cumpridas para serviços como quiz, chat ou votação por SMS. E no caso de compra de conteúdos avulsos não era necessário enviar link para contrato. A intervenção da Anatel ligou o sinal de alerta entre as empresas de SVA. Ou elas se organizavam para se autorregular dali em diante ou a agência interviria mais vezes. “O mercado muda muito rapidamente e a legislação corre atrás. A autorregulamentação supre essa carência e a defasagem da lei. A ideia é não deixar que o mercado vire um faroeste”, argumenta Pellon. Uma das respostas foi justamente a elaboração de um código de conduta no âmbito dos associados do MEF, que reúne desenvol-

simples: esses problemas estavam traumatizando os consumidores, que nunca mais voltariam a comprar conteúdo móvel através das teles. Era um suicídio gradual do mercaRenato Marcondes, da Playphone do de SVA para as operadoras. O aperto feito pela Anatel, pelas operadoras e pelo MEF vedores, agregadores, intesurtiu efeito. A quantidade de reclamagradores, operadoras e fabrições diminuiu sensivelmente, garancantes. O código incluiu as tem fontes, e as ofertas se tornaram exigências da Anatel e acresmais transparentes. Empresas que centou vários outros detalhes, operavam com métodos, digamos, como sugestões de fraseologia para as pouco éticos, simplesmente estão deimensagens de confirmação e determixando o País ou mudando de foco. Vale nação de limites para a cobrança pelo lembrar que algumas já haviam tido serviço. O documento sugere também problemas similares em outros contiuma lista de palavras que devem ser nentes antes de aportarem por aqui. aceitas para o cancelamento do serviço “Algumas até incluem em seus planos quando enviadas por SMS pelo usuário. de negócios as multas que receberão Gradativamente, começou um prodas operadoras”, relata uma fonte. Há cesso de autofiscalização, visto que os

“O que me incomoda é a forma como a Anatel faz: manda um ofício e pronto.”

Ainda há muitos pontos no mercado de SVA que merecem atenção das empresas, se estas não quiserem sofrer novas interferências da Anatel. associados do MEF são concorrentes entre si. As denúncias, contudo, são encaminhadas pela entidade às operadoras, pois o MEF não tem poder para punir seus associados. As teles, sim, com base em termos de conduta assinados pelos parceiros, passaram a adotar penalidades, que variam desde a multa (que pode chegar a 50% da receita que caberia ao parceiro) até o bloqueio temporário do serviço. Segundo fontes, a TIM foi uma das mais duras. A operadora já tinha uma posição crítica ao serviço de assinatura antes mesmo do ofício da Anatel, tendo expressado isso em público durante a edição de 2010 do evento Tela Viva Móvel. Seu argumento era

informações de que os próximos alvos são países africanos, especialmente a África do Sul. “São empresas ‘gafanhoto’: vêm e destroem tudo”, compara o gerente geral para América Latina da Playphone, Renato Marcondes. SMS em um minuto Quando as coisas pareciam se acalmar, surgiu neste fim de ano mais uma novidade: a Anatel incluiu entre as novas metas de qualidade das operadoras móveis a obrigatoriedade de entrega em até um minuto de 95% das mensagens de texto que partem de sua rede todo mês. A medida é válida apenas para mensagens trocadas entre usuá

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.:Serviços móveis “O broker pirata degrada a funcionalidade do SMS.”

No mundo dos apps é diferente

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36 Teletime dez_2011

guem inclusive preços mais baratos que aqueles cobrados pelos integradores homologados. Entre os casos mais emblemáticos de spams via SMS estão alguns ocorridos durante campanhas eleitorais. Em 2010, por exemplo, no dia da eleição presidencial foi disparado um spam fazendo campanha para o candidato José Serra, do PSDB, cujo comitê central negou qualquer participação no ocorrido. “O broker pirata degrada a funcionalidade do SMS. Não há garantia de entrega das mensagens e pode passar qualquer conteúdo e em qualquer horário. A meu ver as maiores prejudicadas são as operadoras”, analisa Crisleine. No combate a esse problema merece destaque a atuação da Claro, que passou a exigir uma senha para o disparo de qualquer broadcast de mensagens. Segundo fontes do mercado, a iniciativa será seguida em breve pela Vivo. O MEF pretende lançar uma revisão de seu código de conduta a cada ano. A versão de 2011 estava em negociação quando do fechamento de TELETIME, com previsão de publicação em dezembro. Entre os pontos abordados estão o aperfeiçoamentos nas fraseologias das mensagens e no limite de cobranças. Mas uma das principais novidades estará no combate ao conteúdo pirata, principalmente no seu uso na web para atrair usuários a assinar serviços móveis, nova prática que se estabeleceu no mercado brasileiro. O MEF firmou acordo com o IFPI, um órgão internacional de combate à pirataria, para quem serão encaminhadas denúncias de irregularidades encontradas por aqui. O novo código também passará a exigir opt-in via SMS para quem assinar serviços através de sites WAP. Atualmente, é requerida apenas a marcação de um “checkbox” para adquirir uma assinatura semanal via WAP. Para especialistas ouvidos por TELETIME, uma área que o mercado precisará olhar com mais atenção em um futuro próximo é a de m-commerce. Será necessário criar certos padrões para evitar problemas conforme esse segmento cresce. Uma das preocupações é a proteção ao público infantil, para que não faça compras inadvertidamente. O assunto está no  radar do MEF para 2012. FOTO: divulgação

rios, mas terá efeitos sobre agregadores e integradores. Estes provavelmente terão que planejar melhor o balanceamento do seu tráfego de SMS ao longo do dia, a Crisleine Pereira, da BeWireless pedido das operadoras. O objetivo será não provocar a sobrecarga da plataforma de mensagens, eviMarcondes, da Playphone. tando o atraso na entrega do SMS entre “Quando a intervenção é usuários. Um dos temores é que as feita para garantir a qualioperadoras priorizem ainda mais o dade do serviço que, por tráfego peer-to-peer (P2P) em detrisinal, anda muito ruim no mento daquele de conteúdo via SMS 3G e no SMS, sou 100% a (ou A2P, na sigla em inglês). O problefavor”, diz Gustavo Ziller, diretor da ma é que alguns desses serviços são Aorta, uma desenvolvedora de aplicaextremamente sensíveis ao tempo, tivos móveis. Ele ressalta, entretanto, como alertas de gol. Outra possível se opor a qualquer tentativa de controrepercussão junto aos parceiros é um le do conteúdo distribuído, o que não é incentivo por parte das teles à adoção o caso por enquanto. da tecnologia USSD, que usa um outro canal de comunicação em redes GSM Próximos passos para envio de conteúdo por texto que Ainda há muitos pontos no mercaaparece na forma de mensagem popdo de SVA que merecem atenção das -up na tela do telefone e que hoje ainda empresas se estas não quiserem sofrer é pouco explorado no Brasil. novas interferências da Anatel. Um A Anatel definiu um prazo de 180 deles é o problema do spam via SMS. dias para que as operadoras atendessem Crisleine Pereira, presidente da a essa meta. As teles, contudo, ainda têm BeWireless, explica que é muito fácil muitas dúvidas. A Claro, por exemplo, comprar uma mala direta com nomes levantou as seguintes questões: 1) como e telefones celulares e, em seguida, garantir a entrega de uma mensagem ao enviar mensagens de texto não soliciusuário de outra operadora?; 2) como tadas usando brokers não homologagarantir essa entrega em até um minuto dos pelas operadoras. Esses brokers no caso de o telefone do usuário estar usam canais de roaming internacional desligado ou fora da área de cobertura? para entrar nas redes das teles como Sobre a primeira pergunta, um técse fossem mensagens P2P e consenico da Anatel ouvido por este noticiário informou que o prazo vale a partir da chegada da mensagem na rede da operadora de destino. O difícil será medir e fiscalizar isso. Para atender à demanda da Anatel, as operadoras terão que investir em nquanto isso, no mundo dos mais capacidade em suas plataformas aplicativos móveis, quem dá as de mensagens de texto. O problema é cartas em termos de regulamentação são os donos das que não há como garantir essa entrega lojas de aplicativos, ou seja, Apple, em um minuto durante momentos de na App Store, e Google, no Android pico, como Natal, Reveillon, finais de Market. São eles que ditam as regras, futebol etc. É provável que os detalhes através dos contratos assinados pelos dessas metas ainda sejam discutidos desenvolvedores. São contratos padronizados, sobre os quais os mais profundamente entre as empresas desenvolvedores não têm poder de e o órgão regulador, tal como foi feito realizar qualquer alteração – muito em relação ao ofício sobre o serviço de menos as operadoras ou os órgãos assinatura semanal. reguladores de telecomunicações. As interferências da Anatel diviQuem pode, sim, interferir é a legislação local de cada país. No dem as opiniões das empresas de SVA. Brasil, por exemplo, a exigência de “As intervenções eram necessárias e classificação etária para jogos bem-vindas até certo ponto. O que me eletrônicos obrigou a Apple a excluir, incomoda é a forma como a Anatel faz: por enquanto, a categoria de games manda um ofício e pronto. Não existe da versão brasileira da App Store. diálogo ou conversa técnica”, reclama


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.:ponto&contraponto

Um ano bom

É

certo que 2011 foi um bom ano para o setor. As operadoras cresceram e fusões se consolidaram. Talvez a indústria tenha fornecido menos do que esperava e sem dúvida, no item terminais, perdemos a posição de liderança industrial continental, pois passamos a comprar mais do que vender. Na frente política, o maior peso para o Ministério das Comunicações mostra um retorno de prestígio político ao setor, e assim espera-se que continue. E 2012 será um ano melhor ainda para o setor, caso se confirmem os planos de expansão anunciados pelas operadoras, as obras relacionadas à Copa de 2014 e os novos leilões de espectro previstos para o primeiro semestre. Além disso, as fusões e aquisições dos últimos anos entram em fase de estabilização. A reorganização da Telefônica com a incorporação da Vivo começa a mostrar suas tendências como organização e, com certeza, apesar de a Telefônica já operar de forma integrada em outros países, ainda decorrerá um longo período até que a estrutura organizacional aqui se adapte a um novo modelo de gestão e crie uma nova cultura, onde a operação fixa tradicional e de reflexos lentos possa conviver com a agilidade das operadoras móveis e com a introdução de novos serviços. Já os mexicanos começam a se movimentar na direção de buscar sinergias de negócio, organização e investimentos. Reside aí uma incógnita, contudo, já que não têm esta experiência em nenhum dos mercados em que atuam, muito menos no México. O Brasil agora é a bola da vez, a Europa está em crise e o nosso mercado pode ser uma saída para a estagnação de crescimento de operadores importantes no Velho Mundo. Poderemos ver fusões entre iguais ou mesmo aquisições de nicho, como vem fazendo a TIM, visando ampliar seu espectro de clientes ou presença em mercados específicos. No terreno dos fornecedores, parece que há tendência de calmaria, já que as grandes fusões já ocorreram e agora sobram pequenos ajustes. Os grandes vendors voltam a sua atenção para os serviços gerenciados, já que as margens de venda dos produtos está cada vez menor. Os pres-

E 2012 será um ano melhor ainda para o setor, caso se confirmem os planos de expansão anunciados pelas operadoras. tadores de serviço, sem dúvida, terão uma oportunidade, pois continuam muito pulverizados e podem vir a buscar uma concentração maior para se adequar ao menor número de clientes, operadores e vendors no mercado. A disputa pelos clientes de maior ARPU deve se acirrar com a entrada da Nextel com o serviço celular 3G, direcionada primordialmente aos clientes corporativos, seu mercado tradicional, isto no campo de disputa das operadoras. Mas aí surgem as expectativas de lançar outros serviços baseados na nuvem para abocanhar mais uma fatia de negócios das grandes empresas, aumentando o tamanho do mercado corporativo. Por um lado, isto renova o debate: é esse um mercado das operado38 Teletime dez_2011

ras ou das empresas fornecedoras de soluções em nuvem? Ou ainda, há uma nova oportunidade para os fornecedores de equipamentos tradicionais? Quanto aos fornecedores de equipamentos, há duas tendências claras: uma é a de aumentar sua presença em serviços, ampliando sua participação em gerenciamento de redes das operadoras; e outra é a de aumentar a oferta para o mercado corporativo. E 2012 aparece como o ano em que as grandes definições para o cenário 4G vão acontecer, embora as redes 4G entrem no mercado mais para 2013. Smartgrids aplicadas às redes elétricas permitirão uma evolução na direção das casas inteligentes. E começa uma migração mais consistente para IP em todas as tecnologias, colocando em perspectiva maiores volumes e bandas necessárias para os próximos anos. Paralelamente, torna-se crítica a questão de como rentabilizar o tráfego de dados para viabilizar os investimentos associados, e a busca de uma menor regulação associada a este tráfego gerido por autorizações, e não por concessões. Seria bom se neste novo ano tivéssemos uma clara evolução da massificação da banda larga, com a participação de todos os agentes. E é desejável que os fundos destinados à universalização passassem a ser utilizados para fomentar e financiar o acesso da banda larga em lugar da voz. Seria bom neste ano se a Telebras orientasse sua atuação no objetivo de sua recriação, trabalhando focada para o PNBL. Seria bom se a qualidade do serviço das redes celulares melhorasse e que a cobertura fosse ao menos razoável, fazendo a Anatel a fiscalização que lhe cabe fazer. Neutralidade de redes poderia deixar de ser um debate para ser uma solução de compartilhamento de infraestrutura em benefício dos investidores. Que a sustentabilidade deixe de ser uma preocupação ou um mote político e que se transforme em um conjunto de princípios e ações que realmente ajudem o planeta. Acreditamos pois, que pelas indicações vistas até agora, será um bom ano para o setor, se fatores de crise externa e fatores políticos que alterem o modelo adotado até agora não atrapalharem.


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