Ano 15
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mar2012
www.teletime.com.br
chegou a hora?
A quarta geração se consolida no Mobile World Congress, em Barcelona. Espectro, arquitetura de redes e novos serviços estão em pauta. ENTREVISTA Os planos da Ericsson para manter território no Brasil com o LTE
MERCADO RURAL Anatel aponta novas possibilidades para o atendimento do campo
G O V E R N O
Nós transportamos mais do que documentos e objetos. Transportamos o bom nome da sua empresa.
Soluções de confiança para sua empresa: Encomendas – Logística – Serviços Financeiros – Exporta Fácil – Marketing Direto
F E D E R A L
Presidente Rubens Glasberg Diretores Editoriais André Mermelstein Claudiney Santos Samuel Possebon (Brasília) Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski
Editor Samuel Possebon Editora Adjunta e Editora de Projetos Especiais Letícia Cordeiro Editor de Mobilidade Fernando Paiva Redação Daniel Machado, Wilian Miron, Helton Posseti (Brasília) Consultor Especial Cláudio Dascal Arte Edmur Cason (Direção de Arte); Rubens Jardim (Produção Gráfica); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica); Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora) Departamento Comercial Bruna Zuolo (Ger. de Negócios) Ivaneti Longo (Assistente) Inscrições e Assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente) Circulação Patricia Brandão (Gerente) Marketing Harumi Ishihara (Diretora) Gisella Gimenez (Gerente) Administração Vilma Pereira (Gerente) TELETIME é uma publicação mensal da Converge Comunicações - Rua Sergipe, 401, Conj. 603 CEP: 01243-001 - Telefone: (11) 3138-4600 e Fax: (11) 3257-5910 - São Paulo, SP. Sucursal SCN Quadra 02 Bloco D, sala 424 – Torre B - Centro Empresarial Liberty Mall - CEP: 70712-903 - Fone/ Fax: (61) 3327-3755 - Brasília, DF. Jornalista Responsável Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão Ipsis Gráfica e Editora S.A. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem autorização da Glasberg A.C.R. S/A
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Samuel Possebon
FOTO: arquivo
.:Editorial
samuca@convergecom.com.br
A conta não fecha
A
s operadoras de telecomunicações em todo o mundo estão cada vez mais preocupadas com o modelo de sustentação financeira de suas redes no ambiente da banda larga. O argumento central é o de que os investimentos necessários para dar conta do crescente tráfego de dados simplesmente não se paga nos modelos atuais de remuneração. Essa gritaria já vinha acontecendo há alguns anos no universo das redes fixas e agora, como se viu no Mobile World Congress, em Barcelona (cuja cobertura detalhada você encontra nesta edição), ganhou a sua versão na boca dos operadores móveis. De modo geral, as soluções para esse impasse passam por duas ideias, ainda colocadas de maneira bruta: mudar o modelo de cobrança dos usuários, acabando com o preço fixo e com a possibilidade de uso ilimitado e, principalmente, cobrar dos provedores de conteúdo over-the-top, que estão ganhando dinheiro em cima das redes de banda larga. É sobre esta segunda ideia que vale a pena refletir um pouco mais. O que os provedores de telecomunicações querem exatamente? O mercado mundial de telecom representa uma indústria de US$ 5 trilhões ao ano, segundo estimativas da TIA (Telecom Industry Association, dos EUA). Tradicionalmente, as teles investem entre 10% e 15% de suas receitas na expansão e manutenção de suas redes por ano. Algo da ordem de US$ 500 bilhões ao ano, por baixo, se pensarmos em termos globais. É esse montante que a indústria de telecom precisa investir todos os anos para manter a bicicleta andando. Esse valor é, coincidentemente, o que toda a indústria de mídia do mundo gira por ano com receitas publicitárias. O mercado de publicidade online, incluindo as receitas da publicidade em buscas online, soma, ao todo, não mais do que US$ 80 bilhões ao ano. Ou seja, mesmo que a indústria de telecom abocanhasse toda a publicidade online gerada no mundo (algo inimaginável), isso não daria nem 20% das necessidades de investimento do setor. Se o setor de telecom, para fechar suas contas, resolvesse pegar toda a receita mar_2012 Teletime 3
do Google, por exemplo, teria um alívio de apenas US$ 38 bilhões, que foi o que a maior empresa de Internet no mundo faturou em 2011. Ou seja, menos de 10% do que o setor precisa investir ao ano. Pode-se argumentar que os provedores de serviço over-the-top (OTT) ganham não só com publicidade, mas com modelos transacionais, como a Amazon ou a Apple, ou com assinaturas, como a Netflix. Pois a Netflix teve receitas de US$ 3,2 bilhões em 2011. A Apple, com venda de conteúdos (excluída a parte de hardware) faturou cerca de US$ 11 bilhões, e a Amazon conseguiu mais US$ 6 bilhões com venda de músicas, vídeos e livros. Mais uma vez, num exercício de cenários absurdos, se o setor de telecom, para manter os investimentos necessários para suportar o crescente tráfego de dados, confiscasse toda a receita do Google, da Apple, da Netflix e da Amazon com conteúdos e publicidade OTT, conseguiria engordar seu caixa em US$ 60 bilhões. Durante o Mobile World Congress, o chairman e fundador do Google, Eric Schmidt, lembrou que se por um lado as empresas classificadas como OTTs pelas teles estão hoje ganhando dinheiro e faturando sobre as redes de banda larga, por outro é justamente a existência dessas aplicações over-the-top que está criando a demanda por banda larga. O que ele quis dizer, de maneira educada, é que se não fosse pelos OTTs, as teles estariam vendendo apenas serviços de telefonia. E ele educadamente não citou o fato de que o Google paga uma conta de telecomunicações de US$ 8 bilhões ao ano e dá de graça para o setor de telefonia celular o Android, o mais exitoso sistema operacional para smartphones da atualidade. De qualquer forma, o cenário do modelo econômico das telecomunicações na era da banda larga é para lá de complexo. Se de um lado é fato que os investimentos em redes não estão sendo cobertos pelas receitas, por outro é fato que a indústria de publicidade e a indústria over-the-top são muito pequenas se comparadas com as necessidades de investimento das teles. Alguém arrisca uma solução para esse problema?
152 Número
w w w . t e l e t i m e . c o m . b r
Ano 15 | Mar12
6
Capa
6 4G: chegou a hora?
Mobile World Congress 2012 reflete a consolidação do ecossistema do LTE
15 Especial Redes 4G
Questão de timing Fabricantes e operadoras questionam a utilização do espectro para o LTE e o momento da migração das redes para o 4G
Fixas
Adensamento ótico Oi anuncia fibras óticas no acesso e encurtamento de rede de cobre. Evolução do xDSL e integração com wireless seguem em pauta
15
27
cloud
Nuvens carregadas de negócios Serviços em nuvem começam a ser lançados no mercado braseileiro. Vertical é considerada essencial para o crescimento das operadoras.
artigo
Estratégia inteligente Para deixarem de ser meros canos, teles terão de apostar na evolução das plataformas e ampliar a oferta de serviços adicionais.
Entrevista
27 Azul, amarelo... verde e branco
O vice-presidente de marketing e estratégia da Ericsson, Lourenço Pinto Coelho, fala sobre a aposta da empresa sueca na produção e pesquisa no Brasil e sobre o novo ambiente político e tecnológico do País
P&D
30
33
30 Em desenvolvimento
Aumentam investimentos em pesquisa e desenvolvimento de telecom. No entanto, política tributária onerosa, burocracia e outros obstáculos mantêm Brasil pouco relevante no cenário internacional
Mercado rural
33 De volta à agenda Com a proximidade do edital do 450 MHz, governo promete pagar dívida do País com a área rural. Baixa renda, áreas extremamente dispersas e perfis de usuários diversos são principais desafios
Editorial 3 | Ponto de vista 36 | Ponto & Contraponto 38 ilustração de Capa: I editoria de arte converge/Harper/Sashkin/Emelyanov/shutterstock
4 Teletime mar_2012
10 e 11 de abril de 2012
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UM EVENTO CONVERGENTE, PARA QUEM PENSA TECNOLOGIA. Em sua edição de estreia, o ConvergeTec mostra porque é o evento mais promissor de 2012. Desenvolvido pela Converge, com o apoio das revistas Teletime e TI Inside, o evento pretende criar, durante os dias 10 e 11 de abril, um ambiente voltado para discussões sobre a evolução das tecnologias de rede, banda larga e TI, as perspectivas das operadoras, fornecedores e orgãos reguladores, e mais diversos temas que abordam o mercado de tecnologia.
GRADE DE PALESTRAS E PROFISSIONAIS CONFIRMADOS: TERÇA-FEIRA, 10 DE ABRIL Perspectivas globais para o futuro das redes Robin Mersh, Broadband Forum Redes fixas no ambiente da convergência Luis Fernando Bourdot, Embratel Atila Araújo Branco, Vivo/Telefônica As redes móveis no Brasil no cenário 4G Luis Alveirinho, OI Leonardo Capdeville, Vivo/Telefônica Core convergente para serviços Mauro Fukuda, OI Jacques Benain, Trópico Rene Pestre Filho, Embratel Otimização da infraestrutura existente Leonardo Finizola e Silva, Alcatel Lucent Luiz Lopes, Oi
PARA PATROCINAR: (11) 3138.4623 comercial@convergecom.com.br PATROCÍNIO GOLD
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PARCEIROS INSTITUCIONAIS
QUARTA-FEIRA, 11 DE ABRIL Avalanche de dados em um mundo over-the-top Giuseppe Marrara, Cisco Quem paga a conta das redes convergentes Tiago Monteiro, A.T Kearney Cabeça nas nuvens, pés na realidade Maurício Cascão, TIM Qualidade na banda larga Bruno Ramos, Anatel Luiz Eduardo Viotti, PriceWaterHouseCoopers Preparativos para o ambiente da casa conectada Antônio Carlos Bordeaux Rego, CPqD
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Samuel Possebon, de Barcelona samuca@convergecom.com.br
Mercado escaldado
C
om apenas 9 milhões de usuários, em um universo de mais de 3,6 bilhões de linhas móveis no mundo, a quarta geração de telefonia móvel (4G) roubou a cena no Mobile World Congress, realizado em Barcelona no final de fevereiro. É uma gota no oceano da mobilidade, mas já foi o suficiente para que praticamente todos os grandes lançamentos tecnológicos tenham vindo para redes LTE, que esse fosse o assunto de todos os debates e, mais do que isso, o objeto das análises de cenários futuros de mercado, políticas e estratégias. A indústria de telecomunicações está escaldada. Ninguém quer repetir o erro de 2007, quando o primeiro iPhone (que nem 3G era) provocou uma hecatombe nas redes das operadoras tanto no que diz respeito ao tráfego quanto à sinalização. Por isso, as projeções de tráfego, necessidades de investimentos, espectro, políticas públicas, modelos de negócio, tudo isso é colocado na mesa como se a quarta geração não fosse apenas os tais 9 milhões em 3,6 bilhões de usuários. Paradoxalmente, contudo, da mesma forma que a viabilização da quarta geração é a grande preocupação da indústria de telecomunicações, a sua massificação (juntamente com a massificação das redes 3G) é outra preocupação constante. Teles vs. OTT Do lado das lamentações, o que se viu em Barcelona foi um festival de operadoras dizendo que da forma que está, não vai dar. Ou seja, a quarta geração é, na verdade, um grande abismo, com um volume absurdo de tráfego gerado pelos provedores de serviços over-the-top (OTT) que nenhuma operadora conseguirá suprir sem investimentos monumentais na rede. “Não podemos dizer que não vemos essa revolução IP chegando para canibalizar nossos serviços, mas não podíamos ser nós a nos canibalizarmos. Infeliz mente, essa foi uma oportunidade apro-
editoria de arte converge/Harper/Sashkin/Emelyanov/shutterstock
A quarta geração é uma realidade, mas ainda é uma gota no oceano da indústria móvel. Ainda assim, setor discute como ficarão os modelos de negócio, regulamentação e estratégias de crescimento quando as redes 4G forem dominantes.
veitada por terceiros”, brincou René Obermann, CEO da Deutsche Telekom. Para Obermann, a indústria dos serviços over-the-top não contribui com os investimentos em rede, e ainda assim leva um pedaço cada vez maior do mercado. “Isso não vai se sustentar por muito tempo”, disse. Para Sunil Bharti Mittal, CEO da operadora indiana Bharti, o usuário tem a percepção de que tudo é de graça na Internet, muito em função de serviços criados e oferecidos por Google,
compensado para os operadores, precisa haver algum tipo de contrapartida. Ou vamos ter que cobrar cada vez mais dos usuários, e o usuário vai nos amaldiçoar ainda mais”, disse o executivo. “Nós temos que construir as estradas, mas precisamos colocar uma taxa para as estradas. O modelo de ‘coma quanto quiser’ fará a rede entrar em colapso”. O chairman e fundador do Google, Eric Schmidt, deu uma resposta simples a esse problema durante a sua apresentação em Barcelona. “Não sei muito como responder a isso a não ser pelo fato de que o crescimento das receitas (das empresas de telecom) está atrelado a essa demanda por aplicações, e nós somos responsáveis por grande parte do desenvolvimento dessas aplicações”, disse o executivo. Ou seja, o Google insinua que já está fazendo a sua parte ao criar a necessidade por mais conectividade. Sem falar no fato de que o Android, criado pelo Google, e todo o ecossistema em torno dele, estão impulsionando a banda larga móvel.
Ninguém quer repetir o erro de 2007, quando o primeiro iPhone provocou uma hecatombe nas redes das operadoras. Facebook, entre outros. “A percepção do usuário é que nós é que somos os porteiros inconvenientes que cobram por esse conteúdo. Ninguém vê que esses serviços gratuitos estão consumindo rede”, afirmou. Ele defende um modelo de interconexão de dados. “Isso precisa ser discutido. O que Google, Apple e Facebook fazem é legítimo, mas isso precisa ser 6 Teletime mar_2012
“Os reguladores seguem o modelo de sempre, de separar um pouco de espectro para os operadores, um pouco para entrantes, e isso não atende mais à realidade do mercado.” Vittorio Colao, da Vodafone mais citado entre aqueles que a Cisco apresenta no seu VNI é o de que o tráfego de dados nas redes móveis será multiplicado por 18 até 2016, sem a menor perspectiva de que as receitas acompanhem essa evolução. Segundo a Cisco, essas projeções estão se mantendo corretas nos últimos anos. Crescer é preciso Do outro lado da moeda, as operadoras acham que existe ainda uma grande oportunidade de expandir a cobertura 3G atual, o que pavimentará o caminho da quarta geração para muito além dos ínfimos nove milhões de usuários de redes 4G existentes. A fórmula envolve a redução dos preços dos dispositivos, sobretudo smart phones, para torná-los acessíveis a toda a população. Segundo o CEO da Telefónica Latin America, Santiago Fernandez Valbuena, a cobertura nessas regiões está sendo ampliada, mas, sem dispositivos baratos, os índices de penetração de banda larga, sobretudo banda larga móvel, continuarão baixos. Mittal, da Bharti Airtel, que também atua em vários mercados da Ásia e África, afirma que é preciso pensar em smartphones de menos de US$ 50 para efetivamente massificar a banda larga nesses países. Para Eric Schmidt, do Google, será possível ver, no próximo ano, smartphones chegando aos preços de telefones de baixo custo (feature phones). Schmidt afirmou acreditar que se o Google “fizer tudo certo” no futuro o Android estará em todos os cinco
bilhões de telefones. TELETIME perguntou a Schmidt quando seria possível ver uma versão do Android para feature phones. Ele respondeu que o processo acontecerá no sentido contrário, com smartphones se tornando tão baratos que serão acessíveis a todos. “Acredito que o ponto de virada é quando os smartphones passarem a custar menos de US$ 70, mas já no ano que vem veremos smartphones com Android a menos de US$ 100”, disse. Para Santiago Valbuena, da Telefónica, os governos em países emergentes têm se tornado “muito famintos” pelo valor que pode ser arrecadado com o licenciamento do espectro. Valbuena acredita que dentro de um ano gostaria de ver índices de penetração de banda larga móvel acima de 25% na América Latina e smartphones a menos de US$ 100. “Acho que essa é uma meta possível”, diz. Já o CEO da VimpelCom, Jo Lunder, adverte: “Até hoje temos conseguido fazer os investimentos necessários e a infraestrutura foi construída, mas isso não necessariamente poderá ser verdade no futuro”. FOTOS: divulgação
Dados do apocalipse Alguns dados destacados por Robert Pepper, vice-presidente de política tecnológica da Cisco (entrevistado desta TELETIME em dezembro de 2011), dão uma ideia das mudanças que podem ser esperadas no mercado de mobilidade no próximo ano. Mais do que destacar os dados do Visual Networking Index (VNI) para mobilidade, Pepper chamou a atenção para as tendências apontadas pelo estudo, que é utilizado como referência para a maior parte das operadoras no planejamento de suas redes e serviços. O primeiro destaque é que até 2016, 23% do tráfego de dados móvel será corporativo, e a maior parte do tráfego será da região asiática. “Temos que pensar que o tráfego corporativo tem necessidades diferentes de confiabilidade”, disse. Outro destaque feito por Robert Pepper é que de todo o tráfego móvel em 2016, 22% será decorrente de estratégias de offload da rede 3G e 4G, ou seja, estará em redes Wi-Fi. Segundo o VNI, em 2016, 60% dos usuários usarão mais de 1 GB por mês, e 48% do tráfego será de smartphones. Segundo a Cisco, o tráfego de dados a partir de tablets será apenas 4,7% do total em 2016, mas só esse percentual representa o dobro de todo o tráfego móvel no ano passado. Segundo a Cisco, 70% do tráfego de dados móveis será decorrente de conteúdos de vídeo e 71% do tráfego decorrerá de serviços prestados em nuvem, “o que exige baixa latência, além de velocidade”, lembrou Pepper. Para a Cisco, 36% dos usuários de serviços de banda larga móvel em 2016 terão conexões 4G, mas cada usuário 4G consumirá 28 vezes mais que um usuário de 3G. Para o executivo, por mais que se fale em mobilidade como a grande transformação da banda larga nos próximos anos, “todos os caminhos levam à fibra”. Segundo ele, é impossível pensar em banda larga móvel sem que a infraestrutura de fibra ótica para conectar as células esteja disponível em cada antena. Além disso, segundo Pepper, as redes precisam também de simetria de tráfego. “Não vivemos mais um mundo assimétrico”. Mas o dado apocalíptico
Novas regras Outro pleito dos operadores em Barcelona é que, em ambiente de quarta geração, não dá para manter os mesmos modelos de regulamentação. “É preciso tirar a ação regulatória do piloto automático”, disse Vittorio Colao, CEO da Vodafone, ao definir um dos maiores problemas para as operadoras móveis no mundo. Segundo ele, existem inúmeros exemplos de práticas regulatórias que vêm sendo executadas pelos governos há décadas, mas que não são mais condizentes com a realidade da indústria móvel no contexto da banda larga atual. Ele citou especificamente as políticas de interconexão europeias e mostrou insatisfação com as políticas atuais de distribuição das frequências. “Os reguladores se guem o mesmo modelo de sempre de separar um pouco de espectro para os operadores, um pouco para novos entrantes, e isso claramente não atende mais à realidade do Ralph de la Veiga, da AT&T Mobility mercado”, disse ele.
“levávamos anos para utilizar totalmente uma faixa de 10 MHz do espectro. Hoje, em um ano uma faixa desse tamanho está saturada.” mar_2012 Teletime 7
.:capa Colao lembra que as diretrizes regulatórias praticadas hoje na maior parte dos países foram estabelecidas pela UIT nos anos 80 e nunca foram mudadas. “Isso precisa ser revisto, porque naquela época Internet, banda larga e mobilidade estavam muito longe de ser uma realidade”, disse ele, apontando a nova realidade dos operadores de telefonia celular no disputado mercado de banda larga, competindo com serviços over-the-top e com grande pressão sobre as redes pelos crescentes serviços de vídeo. O presidente da AT&T Mobility, Ralph de la Veiga, mencionou a questão do espectro. “Há pouco tempo,
levávamos anos para utilizar totalmente uma faixa de 10 MHz do espectro. Hoje, em um ano uma faixa desse tamanho está saturada”, disse, ressaltando a crescente necessidade por mais frequências. A mensagem mais alentadora aos operadores de telecom nesse sentido veio do chairman da FCC, Julius Genachowski, que lembrou que os modelos praticados hoje de licenciamento de espectro, baseados em leilões e na criação de faixas não licenciadas, foram inovações norte-americanas seguidas por todos os países. Agora, diz o presidente da FCC, a próxima inovação proposta nos EUA é a possibilidade
dos leilões incentivados, em que quem tem espectro pouco utilizado e tem interesse de se desfazer dele vende para quem tem necessidade e demanda. Ele comemorou a aprovação pelo Congresso dos EUA de dispositivos legais que permitem à FCC seguir com essa política de leilões incentivados, que segundo a agência norte-americana devem fomentar a ocupação do espectro e o investimento em novas redes. Outra política que a FCC está implementando é a liberação de grandes faixas do espectro que eram utilizadas como banda de guarda para canais de TV e que agora poderão ser usadas para aplicações não licenciadas, como Wi-Fi.
Quanto menor, melhor Letícia Cordeiro, de Barcelona* leticia@convergecom.com.br
A
explosão de dispositivos conectados, o crescimento exponencial da demanda por conteúdos que consomem cada vez mais banda e o conceito de serviços em nuvem foram tópicos que permearam praticamente todas as discussões do congresso do Mobile World Congress em 2012 e acabaram por justificar, consequentemente, a principal tendência tecnológica apresentada na feira: arquiteturas de redes mais inteligentes e heterogêneas (HetNet), baseadas em micro, pico e femtocélulas mais eficientes no consumo de energia, espaço físico, otimização do espectro e que integram não apenas tecnologias de 2G, 3G e 4G, mas também Wi-Fi. E mais do que apenas uma tendência tecnológica, essa nova arquitetura e os lançamentos de equipamentos de rede indicam que, de fato, a base do ecossistema para a quarta geração de telefonia móvel em LTE (Long Term Evolution) começou finalmente a ser formada e deve evoluir ainda pelos próximos três anos. Os números realmente impressionam. De acordo com o Visual Networking Index (VNI), levantamento feito pela Cisco e que serve de referência para a maioria das
FOTO: divulgação
Tendência tecnológica para viabilizar o ambiente da quarta geração aponta para redução do tamanho das células e combinação de diferentes faixas do espectro para otimizar as transmissões de dados pelos dispositivos móveis.
operadoras na hora de planejar os investimentos em redes e serviços, em 2016, 38% dos usuários de banda larga móvel terão conexões 4G, mas a projeção é de que cada usuário 4G consuma 28 vezes mais banda do que um usuário de 3G, destacou o vice-presidente de política tecnológica da Cisco, Robert Pepper, durante sua apresentação no MWC. Já o presidente e CEO da Ericsson, Hans Vesterberg, enfatizou que o desafio será ainda maior porque, até 2016, cerca de 30% da população mundial viverá em áreas urbanas, que por sua vez corres10 Teletime mar_2012
ponderão a apenas 1% da superfície do planeta, e serão responsáveis por nada menos que 60% de todo o tráfego de dados gerado globalmente. Para conseguir atender a tamanha demanda, as operadoras precisarão otimizar as redes, agregando inteligência de gerenciamento e implementando micro e pico células para aumentar a capacidade em locais de maior densidade. Para o vice-presidente e head da unidade de negócio de rede da Ericsson, Johan Wibergh, a chave para o sucesso estará na capacidade das teles de minimizar as interferências de sinais das
diferentes tecnologias nessas áreas de grande demanda concentrada. “Separando as tecnologias em diferentes picocélulas é possível conseguir um ganho de até dez vezes em throughput, diminuir em três vezes a carga de sinalização e economizar quatro vezes mais em consumo de bateria”, garante. Esse movimento de miniaturização das estações radiobase (ERBs) começou ainda na edição do ano passado do MWC, com o lançamento do “Cube” da Alcatel-Lucent, o lightRadio, e foi seguido por todos os principais fabricantes de equipamentos, os tradicionais europeus e também os chineses, que trouxeram seus lançamentos de microcélulas para a edição de 2012 nos mais variados designs. Teoria O impacto dessa explosão de dados será grande nas arquiteturas de rede. Para atender a tamanha demanda, operadoras deverão investir no aumento da capacidade de transmissão de seus backhauls, fazendo a ligação entre as ERBs e o core de suas redes em fibra ótica. As redes deverão ganhar mais inteligência, com a modernização dos sistemas de suporte à operação e negócios (OSS/BSS), implantação de arquiteturas IMS (IP Multimedia Subsystem), gerenciamento centralizado do tráfego e CDNs (content delivery networks) para distribuição de conteúdo de forma otimizada. Essa é, pelo menos, a cartilha básica de planejamento de redes colocada pelos fornecedores. Nas ERBs, micro e picocélulas com tecnologias 2G, 3G, 4G e Wi-Fi integradas, prometem otimizar o espectro, reduzir o consumo de energia e escoar o tráfego de dados via Wi-Fi diretamente para redes fixas, sem sobrecarregar assim a móvel. Esse offload de tráfego, como é chamado, também pode ser feito por femtocélulas, que têm tecnologia similar aos roteadores domésticos Wi-Fi, mas com conectividade 3G ou 4G, e que se ligam diretamente a um backhaul que nada mais é do que a banda larga de um usuário. Para se ter uma ideia, a Nokia Siemens Networks estima que até 2020 haverá cerca de 500 milhões de roteadores Wi-Fi e microcélulas 4G de baixo custo integradas entre si e gerenciáveis pela rede LTE, além de cerca de 50
preciso ter uma rede inteligente, com eficiência no gerenciamento do conteúdo, colocando-os mais perto dos usuários, e dar o tratamento certo para cada tipo de dados”, pontua. O CEO da Deutsche Telekom, René Obermann, concorda e ressalta que a conectividade não pode mais ser tratada pelo modelo “best effort”. “Investimos para ampliar a capacidade da rede nos últimos anos e agora, com a tendência de que tudo virará nuvem, precisamos ter uma rede inteligente com possibilidade de gerenciamento de tráfego e qualidade de serviço”, comenta. Já a Telefónica aproveitou o MWC 2012 para anunciar um teste real de uma operação de LTE em Barcelona, cidade que sediou o evento. O teste implementou uma rede 4G com a tecnologia lightRadio, da Alcatel-Lucent, ao introduzir 11 microcélulas LTE sobre a rede 3G da operadora. Essas microcélulas, que no caso específico utilizam a frequência de 2,6 GHz, e permitem, segundo o CTO da Telefónica, Enrique Blanco, ampliação imediata de quatro vezes na velocidade final ao usuário, podendo alcançar velocidades de até 100 Mbps. Uma rede 3G com HSPA+ chega a 42 Mbps de velocidade teórica quando implementada com duas portadoras. A primeira operação comercial de LTE da Telefónica deve ser lançada na Alemanha no segundo semestre deste ano e, segundo o diretor mundial de redes de acesso wireless da Telefónica, Ian Miller, a tecnologia de femtocélulas está incluída nas apostas para tecnologias de acesso da operadora. “Tratase de uma tecnologia que faz todo o sentido para residências e para escritórios e pode ser muito utilizada para ampliar a rede 4G, juntamente com a rede Wi-Fi”, reconhece Miller. No Brasil, as primeiras implementações de femto e microcélulas estão prestes a acontecer. De acordo com o presidente da Alcatel Lucent Brasil, Jonio Foigel, após cerca de oito meses de testes com operadoras brasileiras, a fornecedora espera anunciar dois primeiros contratos nos próximos seis meses para cobertura com femtocells e equipamentos lightRadio de 3G para ampliar capacidade das redes e escoar parte do tráfe
“Separando as tecnologias em picocélulas é possível ganhar até dez vezes em throughput, diminuir em três vezes a sinalização e economizar quatro vezes em bateria.” Johan Wibergh, da Ericsson milhões de macro-hotspots Wi-Fi utilizados pelas teles para descarregar o tráfego da rede móvel. A assimetria das redes, diferença entre velocidades de download e upload, também deve diminuir para atender a demanda de aplicações em nuvem com usuários não apenas baixando, mas também fazendo o upload em tempo real de conteúdos como fotos, vídeo e informações de localização. Prática Teles de todo o mundo já se movimentam nesse sentido. A britânica Everything Everywhere, joint-venture entre a Orange (France Telecom) e a T-Mobile (Deutsche Telekom), investiu na integração das redes das duas operadoras e ampliou a capacidade de transmissão para acompanhar a demanda por dados móveis, que de acordo com o CEO da tele, Olaf Swantee, cresceu 50% no último ano. “Em 2012 terminaremos a integração das duas redes, investiremos em mais capacidade no backhaul e, se o espectro de 1,8 GHz for liberado nesta primavera, lançaremos nossos serviços
até 2016, 30% da população mundial viverá em áreas urbanas, que corresponderão a 1% da superfície do planeta, e gerarão 60% de todo o tráfego de dados. de 4G até o final do ano”, revela. Swantee afirma que esse investimento servirá também para suporte a serviços baseados na nuvem, como serviços on demand de TV da BSkyB e armazenamento de conteúdos do próprio usuário, como músicas, imagens e outros arquivos, que a operadora já começou a oferecer. A AT&T segue o mesmo caminho. O CMO e Business Solution da tele, Michael Bowling, defende que além dos pesados investimentos em infraestrutura de backbone e backhaul é preciso investir ainda na forma de entregar os serviços. “É mar_2012 Teletime 11
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Próximos passos Fornecedores começaram a dar os próximos passos em direção a esta evolução com demonstrações de soluções de voz sobre LTE (VoLTE), broadcast de TV e conteúdos multimídia e redes heterogêneas (HetNet) com a versão LTEAdvanced (LTE-A) que chega à velocidade teórica de 1 Gbps. Na VoLTE, o que se promete é o empacotamento da voz, em alta definição, para ser transmitida como dados na rede all IP LTE, permitindo não apenas voz de alta qualidade, mas também integração com serviços em nuvem e videoconferências em HD. Para distribuição de conteúdos, uma parceria entre Ericsson e Qualcomm demonstrou a plataforma evolved Multimedia Broadcast Multicast Services (eMBMS) para entrega de conteúdos a múltiplos usuários de maneira simultânea sobre redes LTE. A solução traz promessa de redução de custos na distribuição de conteúdos multimídia populares, tanto para streaming quanto para entrega fora dos horários de pico com armazenamento na memória dos dispositivos móveis para ser acessado pelo usuário no momento que quiser. O eMBMS pode ser utilizado tanto para transmissão ao vivo de TV e grandes eventos esportivos e shows, quanto para vídeo on-demand e upgrades de software para um grande número de usuários simultaneamente. A maioria dos fabricantes apresentou soluções de LTE-Advanced, como foi o caso da ZTE, que lançou sua ERB LTE-A comercial com tecnologia inter-band carrier aggregation, que permite agregação de bandas entre operadoras, e Mimo (multiple input and multiple output). A fornecedora chinesa afirma que a ERB pode dobrar o pico da taxa de transmissão de dados para usuários individuais, permitindo downloads em alta velocidade que alcançam taxas de até 270 Mbps no downlink. *A jornalista viajou a convite da Ericsson.
A vez do mobile banking Serviços de pagamentos móveis se multiplicam ao redor do mundo, mas tecnologia pode variar dependendo do público-alvo. Operadoras garantem participação graças à ajuda dos SIMcards. Fernando Paiva, de Barcelona
fernando.paiva@convergecom.com.br
A
fusão entre celular e carteira está acontecendo gradualmente, com passos mais ou menos rápidos dependendo do mercado, do perfil do usuário e dos players envolvidos. No MWC deste ano, foram anunciadas pelo menos seis novas parcerias de grande porte na área de pagamentos móveis, envolvendo empresas como Visa, Vodafone, Orange, Western Union, Citibank, América Móvil, Ericsson e Gemalto. E foram apresentados números entusiasmantes de projetos em andamento – principalmente aqueles em países emergentes. Uma coisa fica cada vez mais clara: as operadoras não ficarão de fora desse jogo. Seja via tecnologias tipo NFC (Near Field Comunications, ou comunicação por proximidade) ou através de canais mais populares, como mensagens SMS e USSD (aplicações enviadas pela rede das operadoras), as teles estarão presentes graças ao controle que têm sobre um pequeno componente embarcado nos terminais, essencial para garantir a identidade dos usuários e a segurança das transações: o SIMcard. Em países em desenvolvimento, a atuação das teles móveis na oferta de serviços financeiros tem sido cada vez mais comum. O baixo índice de bancarização em nações africanas e asiáticas abriu oportunidade para as teles transformarem o celular em um meio de transferência de valores entre pessoas, usando geralmente o SMS ou o USSD, disponíveis em qualquer celular GSM. Como rede de cash in e cash out (troca financeira) são usados comerciantes locais, geralmente aqueles que vendem recargas para pré-pagos. Não raro, a capilaridade dessa rede é maior que a de bancos do país em questão. É o caso do 12 Teletime mar_2012
Paquistão, onde há 18 mil agentes do serviço de m-payment da Telenor: o dobro do número de bancos. Entre os cases demonstrados no MWC, destaca-se o de Uganda, onde o serviço de m-payment da MTN, chamado “MTN Mobile Money”, registrou no ano passado 124 milhões de transações que somaram US$ 2,7 bilhões. Em apenas três anos de existência, o produto conquistou 30% da base da operadora. Enquanto isso, na Ásia, a Telenor criou no Paquistão o “Easypaisa”, que em poucos meses após seu lançamento já acumula 30 milhões de transações, que corresponderam a uma movimentação de US$ 700 milhões. O sucesso entusiasmou a operadora, que projeta, no médio prazo, ter 10% de sua receita na Ásia oriunda de serviços de m-payment. “As operadoras de telecomunicações estão em uma ótima posição para bancarizar os desbancarizados. Opera mos com 5% do custo de um banco tradicional, porque nosso sistema é mais simples. Demora apenas entre 5 a 10 minutos para se abrir uma conta”, relatou a vice-presidente de serviços digitais da Telenor, Kristin Lund, durante painel sobre o tema. Para viabilizar novos projetos, a Telenor cogita até mesmo adquirir bancos de pequeno ou médio porte, já que a legislação financeira da maioria dos países exige a participação de uma instituição financeira credenciada por seu banco central. No Paquistão, a Telenor tornou-se sócia majoritária de um banco local de microfinanciamento. Não é apenas o lucro direto que atrai as operadoras celulares. Há outro benefício: a redução do churn. “Nosso churn anual era de 50%. Com o MTN
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go das redes móveis. “Usando a combinação de cobertura em hotspots com lightRadio nos pontos de maior demanda com a cobertura macro de ERBs, numa composição de rede heterogênea, é possível colocar menos assinantes por equipamento, com maior média de velocidade por usuário, e reduzir os custos entre 40% e 50% em relação a uma rede tradicional”, estima o executivo.
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.:capa Mobile Money reduzimos para 25%”, informou Issac Nsereko, CMO da MTN, que opera em Uganda. Parcerias Presente em um painel sobre os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o diretor de serviços de valor adicionado do grupo América Móvil, Marco Quatorze, destacou o mesmo ponto: “Ao se associar o número telefônico a uma conta bancária, talvez consigamos mudar essa dinâmica do usuário de trocar de operadora móvel a cada nova promoção”, disse o executivo. A América Móvil e o Citibank anunciaram que lançarão em março, no México, um serviço de transferências financeiras entre usuários pelo celular via SMS, batizado de “Transfer”. A parceria vale para toda a América Latina e a previsão é chegar ao Brasil em junho. Outra parceria válida para mercados emergentes e anunciada durante a feira foi uma entre a Visa e a Orange. Os usuários do “Orange Money” na África, serviço equivalente ao “MTN Mobile Money”, poderão acessar pelo celular seus cartões pré-pagos e de débito da Visa. Embora as operadoras enxerguem os serviços financeiros como uma ferramenta de fidelidade, cresce a pressão dos usuários e dos governos pela interoperabilidade das transações móveis. Ou seja: a possibilidade de se transferir dinheiro para celulares de outras operadoras. Por sinal, essa é uma das exigências do governo brasileiro para a criação de uma lei que permita tais serviços no Brasil. Presente no evento de Barcelona, o ministro das comunicações, Paulo Bernardo, revelou estar em tratativas com o Banco Central para esse fim. Os fornecedores de plataformas de m-payment procuram viabilizar essa interoperabilidade. Um exemplo foi o acordo firmado entre Ericsson e Western Union, que prevê a integração da suíte de soluções de m-commerce da primeira à rede de transferência móvel de valores da segunda. A proposta é interligar o mundo financeiro móvel àquele das finanças internacionais, possibilitando trocas entre usuários de diferentes operadoras e até de diferentes países, explicou o CEO da Ericsson, Hans Vestberg. Países ricos Nos países desenvolvidos o cenário é diferente. Com uma população altamente bancarizada e uma grande penetração
de cartões de crédito, o que se procura oferecer ao consumidor é comodidade. Neste cenário, ganham força soluções baseadas em NFC e envolvendo apps móveis de bancos, bandeiras de cartão de crédito e portais de comércio eletrônico e vendas coletivas. Em painel sobre m-commerce, o Groupon informou que em dezembro passado 25% das compras realizadas em sua plataforma na América do Norte foram originadas através de seu aplicativo móvel, baixado mais de nove milhões de vezes. O eBay, por sua vez, registrou US$ 5 bilhões em transações feitas a partir de dispositivos móveis em 2011 e projeta alcançar US$ 8 bilhões este ano, informou seu CEO, John Donahoe, durante apresentação. As operadoras não têm qualquer controle sobre os serviços prestados a partir de aplicativos, atuando meramente como canos. Contudo, elas têm uma alternativa que complementa os apps financeiros: a oferta de serviços de pagamentos via NFC. A funcionalidade está começando a ser incluída em modelos de smartphones de diversos fabricantes, como Nokia, Samsung, LG e RIM. E a garantia de identificação do usuário, dono daquele terminal e titular de uma conta corrente, está no SIMcard, item controlado pelas operadoras. Os fornecedores de chips trabalham ativamente para ajudar as teles nesse sentido. A Gemalto anunciou o lançamento de uma solução chamada “UpTeq NFC” que permite à operadora alterar à distância aplicações de NFC instaladas no SIMcard. Isso evitaria que o assinante precisasse trocar de SIMcard para ter
acesso a algum novo serviço de NFC. A ideia das teles é firmar parcerias com bancos e bandeiras de cartão de crédito para tornar o celular uma espécie de carteira eletrônica móvel interligada às contas bancárias e capaz de realizar pagamentos rápidos, de baixo valor, simplesmente aproximando-o de um leitor. Nos EUA, as três maiores operadoras móveis (AT&T, Verizon e T-Mobile) formaram uma joint-venture com esse objetivo, a Isis. No MWC, anunciaram parcerias com três instituições financeiras: Chase, Capital One e Barclaycard. A Isis entrará em operação comercial em meados deste ano, começando por Salt Lake City, Utah e Austin. Outro acordo importante foi anunciado entre Visa e Vodafone, integrando os cartões pré-pagos da primeira à solução de NFC da operadora. Os celulares dos assinantes de cinco países (Alemanha, Espanha, Inglaterra, Holanda e Turquia) poderão ser usados como carteiras eletrônicas, lidas pelas máquinas de Visa no pontos de venda. Brasil O Brasil, apelidado de “Belíndia” por economistas nas década de 80, por ser “meio Bélgica, meio Índia”, deve ver florescer os dois tipos de serviços financeiros móveis: aqueles via SMS, para os usuários de baixo poder aquisitivo e com pré-pagos, e aqueles via NFC, para os mais ricos. Enquanto questões regulatórias são dirimidas (as reuniões entre o Minicom e o BC foram iniciadas logo após o MWC), os apps de finanças começam a fazer relativo sucesso no País. As teles não têm mais tempo a perder.
Parceiras de m-payment seladas em Barcelona empresa
Descrição
Ericsson e Western Union
Integração entre a plataforma de m-commerce da Ericsson e o sistema da Western Union
Visa e Vodafone
Lançamento de serviços NFC na Europa usando celulares da Vodafone e cartões pré0-pagos da Visa
Visa e Orange
Usuários do “Orange Money” na África poderão usar seu saldo de cartões de débito e pré-pagos da Visa
Citi e América Móvil
Lançamento do “Transfer”, serviço de transferências financeiras via SMS entre usuários. Primeiro mercado será o México
Isis, Chase, Capital One e Barclaycard
Adesão das três instituições financeiras à plataforma Isis de pagamentos via NFC nos EUA
Gemalto e Sony
Acordo para exportação do FeliCa, serviço de m-payment via NFC, popular especialmente no Japão, com a operadora NTT DoCoMo
14 Teletime mar_2012
EspecialRedes C
om a explosão da demanda por dados fixos e móveis, as operadoras apostam cada vez mais em capacidade, cobertura e serviços inovadores. Evolução das redes móveis, ampliação da malha ótica nas redes de acesso e cloud computing estão no topo das prioridades
Questão de timing
16
Com a proximidade do leilão de 2,5 GHz, fabricantes e operadoras questionam a utilização do espectro para o LTE e o momento da migração das redes para o 4G
Adensamento ótico
20
Oi anuncia ingresso em fibras óticas nas redes de acesso e encurtamento de rede de cobre. Evolução do xDSL e integração com wireless, no entanto, seguem em pauta
Nuvens carregadas de negócios
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Operadoras locais começam a lançar serviços em nuvem. Vertical é considerada essencial para o crescimento das teles fixas, móveis e de TV por assinatura
Estratégia inteligente
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Para deixarem de ser meros canos, teles terão de apostar na evolução das plataformas digitais e ampliar a oferta de serviços adicionais e inovadores
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EspecialRedes • 4G por Daniel Machado
daniel@convergecom.com.br
migração questionada Fabricantes e operadoras divergem sobre a oferta do LTE nesse momento, mas convergem para a inevitável evolução das redes móveis. transmissão, cobertura e oferta de serviços são os principais desafios.
“É possível atender bastante mercado ainda com o 3G. O Release 11 atinge 160 Mbps por portadora. Ninguém, em sã consciência, vai jogar essa rede fora!” Luis Antônio A. Lima, da Algar Telecom
16 especial redes | Teletime mar_2012
bastante mercado ainda com o 3G. O Release 11 (atualização tecnológica do 3GPP, associação global que desenvolve normas e evoluções técnicas da indústria sem fio) atinge 160 Mbps por portadora”, destaca. “Não vamos desenvolver mais? Ninguém, em sã consciência, vai jogar essa rede fora!” Já a Claro, operadora com o maior market share de aparelhos 3G do Brasil (43%), tem uma posição diferente das concorrentes. “O 3G poderia, sim, ser expandido. Mas o que se consegue de qualidade, velocidade e baixa latência em redes 4G justifica. Se pensarmos no futuro, LTE é a melhor solução”, diz Marcio Nunes, diretor de plataformas de rede da Claro.
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edução no custo por bit, maior aprovisionamento de serviços, melhor experiência para o usuário, uso flexível da banda e de novas frequências, arquitetura simplificada, interfaces abertas: esses são alguns dos argumentos para que se acelere o cronograma de evolução das redes de terceira geração (3G) para a quarta geração (LTE). A proximidade do leilão de 2,5 GHz, espectro que será utilizado para o LTE nas grandes cidades, mais a possibilidade de oferecer um serviço móvel capaz de competir efetivamente com a banda larga fixa, deveriam animar todas as operadoras móveis. No entanto, o assunto não é assim tão simples quanto parece e está longe de ser unanimidade entre as teles. Algumas empresas, como a TIM, sustentam que o mercado brasileiro só estará preparado para receber a tecnologia 4G daqui a dois ou três anos, quando a penetração de smartphones deve atingir pelo menos 50% da população (a média hoje é de 16%). Vivo e Oi também defendem o adiamento do edital (que deve ocorrer em junho), alegando que nos últimos quatro anos as teles injetaram bilhões de reais na construção e expansão de suas redes 3G e agora precisam se recuperar desse aporte, deixando para mais tarde os investimentos no 4G. Segundo dados da Telebrasil, a partir de 2008, quando as operadoras começaram a construir suas redes 3G, a média anual de investimentos saltou de R$ 13,9 bilhões nos quatro anos anteriores para R$ 18,3 bilhões. “Já ocupamos toda a capacidade de rede instalada do 3G? Temos necessidade de ir para o 4G neste momento? Só a Vivo tem mais de 2,5 mil municípios atendidos por 3G e, antes de ir para o 4G, precisamos pensar em como ocupar essa capacidade disponível”, diz Ari Falarini, diretor de rede da Telefônica/Vivo, operadora com a maior cobertura 3G do País. O diretor de Operações e Tecnologia da Algar Telecom, Luis Antônio Andrade Lima, concorda e defende a liberdade das operadoras em explorar o LTE em frequências já contratadas, como 850 MHz, 1.800 MHz e 1.900 MHz. “Devíamos seguir o exemplo de Portugal, onde isso está acontecendo. A implementação da rede já requer altos investimentos e, com a aquisição de novas licenças, o processo todo ficaria muito oneroso”, adverte. Segundo ele, a modernização de uma infraestrutura já existente custaria cerca de 30% menos do que a construção de uma rede totalmente nova. “É possível atender
O diretor de tecnologia para a América Latina da Nokia Siemens Networks, Wilson Cardoso, reitera: “o fato é que com o LTE abre-se um novo mercado, no qual haverá uma competição real e efetiva com a banda larga fixa”. Cardoso também atenta para outras vantagens da moderna rede. “O LTE apresenta Opex dez vezes menor em relação à banda larga fixa xDSL, por exemplo, com Capex até cinco vezes menor, se construído do zero. E a quantidade de células (2,5 GHz a 2,6 GHz) em relação ao 2,1 GHz também não deve ser maior”. HSPA+ ou LTE? Em termos de capacidade, há uma rede considerada intermediária entre o 3G e o 4G. Trata-se do HSPA+, tecnologia que permite velocidades de 21 Mbps por portadora. Ela é considerada uma rede 3G, mas as operadoras acreditam na migração para o HSPA+ como uma etapa anterior ao 4G e já estão investindo nisso. Em 2011, Vivo, Claro e Algar Telecom iniciaram a evolução de suas redes para essa tecnologia. A Oi também está implementando
empresas como a TIM sustentam que o mercado brasileiro só estará preparado para receber a tecnologia 4G daqui a dois ou três anos, quando a penetração de smartphones atingir pelo menos 50% da população. redes HSPA+ e a estratégia da TIM é a de construir estações radiobase (ERBs) HSPA+ com duas portadoras (42 Mbps). Uma das justificativas mais recorrentes é a escala, uma vez que já existem centenas de redes HSPA+ instaladas ao redor do mundo. “Os terminais HSPA+ são bem mais baratos que os de 4G, pois têm escala. Das 451 redes 3G, 187 são HSPA+, com potencial de chegar a 451 HSPA+”, diz Marcelo Motta, diretor de tecnologia e soluções da Huawei. Segundo a Associação Global de Fornecedores Móveis (GSA), há aproximadamente 49 redes comerciais LTE atualmente em operação. “No mundo ideal, com muito dinheiro, se investiria nos dois (HSPA+ e LTE), mas o mundo está em crise e a realidade das operadoras é outra”, acrescenta.
Outro argumento do “lobby pró-3G” é o investimento na rede: na evolução do HSPA, toda a estrutura de energia, cabeamento e antenas pode ser reaproveitada. “Quanto menor é a frequência, maior é o gasto. Se for implantar LTE, gastaríamos muito dinheiro na interface aérea, cerca de 70% a 80% do Capex”, diz Lima. “Sem falar do uso da área de vento na torre, o peso máximo e o custo de ocupação da antena, as adaptações necessárias para instalação de novas placas”. Motta acrescenta que não só as antenas, mas também o backhaul precisa ser redimensionado nesse processo de evolução. “Não adianta oferecer 21 Mbps
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EspecialRedes • 4G
“A rede de transmissão é o segundo gargalo. O primeiro, a meu ver, é a disponibilidade, a área de cobertura, será preciso ampliar bastante o número de antenas para o provimento de serviços de dados.” Helio Durigan, da Furukawa
de download por portadora e 7,2 Mbps no terminal se as redes de transmissão estiverem preparadas só para 1 Mbps”. Esse gargalo, segundo ele, precisa ser resolvido com ou sem LTE. Por esse motivo, a substituição de links de rádios digitais no backhaul por fibra ótica tem sido cada vez mais frequente no País. Segundo dados da Furukawa, de 35% a 40% das fibras óticas produzidas no Brasil têm como destino as redes de transmissão das operadoras móveis. Em 2010, foram 700 mil quilômetros e o crescimento estimado para 2011 era de 15% nessa demanda. “Temos visto a evolução considerável para fibra no backhaul, mas essa rede de transmissão é o segundo gargalo. O primeiro, a meu ver, é a disponibilidade, a área de cobertura, será preciso ampliar bastante o número de antenas para o provimento de serviços de dados”, ressalta Helio Durigan, diretor de engenharia da Furukawa, principal fornecedor de fibras óticas do Brasil. Nunes, da Claro, revela que 80% dos sites da operadora, espalhados em 3,6 mil municípios do País, são IP e, desses, 75% já dispõem de backhaul ótico. “Começamos esse movimento há três anos e hoje temos a maioria do backhaul preparada para o LTE. O que teríamos de fazer apenas é ampliar a eletrônica, capacidade dos multiplexadores óticos etc.”, diz. “Estar pronto para o LTE significa, por um lado, ter backhaul preparado e, por outro, ter e-node-B (estações rádiobase do LTE). Mas eu diria que o backhaul representa 50% do esforço”. Mas, além de toda a questão tecnológica, de capacidade e cobertura, há um outro ponto importante, geralmente esquecido, que Durigan salienta. “Quando se aumenta a frequência do serviço, é preciso ampliar o número de antenas, mas existe uma série de impedimentos ambientais e legais. Muitas cidades não permitem antenas na frente de escolas ou perto de hospitais. Há diversos alvarás que não serão cedidos ou mesmo renovados”, diz. Serviço De que adianta investir em cobertura e capacidade de transmissão se não houver quem compre o serviço? Essa é a pergunta que os representantes da indústria de telecom no Brasil fazem, em tom de crítica, ao governo. “A operadora investe um Capex gigantesco para implantar o 4G e depois? Ela vai conseguir lançar esse serviço a um preço atrativo na ponta? E o custo do terminal? Os clientes terão recursos para adquirir”?, indaga Motta. O diretor da Nokia Siemens Networks, Wilson Cardoso, dá as pistas: “as operadoras têm duas escolhas a fazer: ou criam um plano diferenciado de qualidade de serviço ou um pacote diferenciado de banda”, diz. Voz via IP Existe também o temor de que o serviço de voz não tenha o mesmo desempenho em relação ao de banda larga móvel nas redes de quarta geração, uma vez que essa tecnologia foi desenvolvida para o tráfego de dados (all IP). Por isso, a transmissão da voz se daria por meio de pacotes de dados, com protocolo IP, sobre a rede 4G propriamente dita. No entanto, testes recentes da Ericsson e Qualcomm, de transferência de voz
“A operadora investe um Capex gigantesco para implantar o 4G e depois? Ela vai conseguir lançar esse serviço a um preço atrativo na ponta? E o custo do terminal? Os clientes terão recursos para adquirir?” Marcelo Motta, da Huawei 18 especial redes | Teletime mar_2012
Existe também o temor de que o serviço de voz não tenha o mesmo desempenho em relação ao de banda larga móvel nas redes de quarta geração. baseada na funcionalidade padrão 3GPP Single Radio Voice Call Continuity (SRVCC), comprovaram que os usuários experimentarão serviços de voz transparentes quando saírem da cobertura LTE e forem para a rede 3G, já que a ligação será entregue automaticamente para o acesso WCDMA ou GSM durante a chamada. O ‘beta’ contou com infraestrutura de rede da Ericsson e chipset multimodo LTE/3G da Qualcomm no smartphone testado. As empresas também constataram que as operadoras estão evoluindo suas redes para suportar voz e SMS sobre LTE (baseadas em VoLTE GSMA IR.92) e para a introdução de serviços multimídia interoperáveis em smartphones LTE. De acordo com a Ericsson, as primeiras operadoras devem começar a implementar SRVCC em 2012, seguidas de mais lançamentos comerciais em 2013. Por enquanto, as primeiras redes de quarta geração no padrão LTE em operação comercial no mundo transmitem voz por meio de uma solução chamada CSFB (Circuit Switched Fallback). Essa solução consiste no uso das redes 3G e 2G para a realização das chamadas, através de circuitos comutados. Tratase de uma solução temporária enquanto não é adotado o VoLTE, que se encontra em fase de testes em várias operadoras do mundo e deve entrar em operação comercial no segundo semestre deste ano. É nesse período que chegarão ao mercado os primeiros smartphones habilitados para uso de VoLTE.
A mãe está ao telefone, perguntando pela 5ª vez, se está tudo bem.
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EspecialRedes • Fixas
Por fibra, cobre ou ar Oi finalmente ingressa no segmento de fibras óticas residenciais e, junto com a Telefônica, promete renovar rede de acesso. Evolução do cobre, também é anunciada, bem como a integração com tecnologias wireless.
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“O que vemos como tendência é cada vez mais as empresas com grande rede fixa investindo em soluções ópticas, de estado da arte, e aproveitando a infraestrutura existente, tanto em ADSL quanto em VDSL e novos atributos que turbinam essas redes.” Ari Falarini, da Telefônica
fato que promete esquentar o cenário das redes fixas é a entrada da Oi no mercado de acesso por fibra até a última milha (FTTx). Nem poderia ser diferente: a empresa soma 67 milhões de clientes e é a principal operadora fixa em quase todo o Brasil. Desse total, só não é a primeira em telefonia móvel (42,9 milhões); e em TV por assinatura (330 mil). Já em telefonia fixa, com 19,1 milhões de acessos; e banda larga, com 4,8 milhões, lidera em market share. Os dados são do terceiro trimestre de 2011, último período divulgado pela operadora até o fechamento desta edição. A Oi informou a esta reportagem, em nota, que “com o objetivo de dar suporte à adoção de novos serviços e melhoria na qualidade do acesso à banda larga fixa, sua aposta em 2012 se concentrará na expansão da rede fibra ótica FTTH até a casa do cliente”. Por mais esperado que fosse o anúncio (uma das principais sócias, a Portugal Telecom, investe maciçamente nessa tecnologia em seu mercado doméstico) a novidade deve impactar diretamente toda a evolução das infraestruturas de telecomunicações no País, uma vez que a Oi possui a maior e mais capilarizada rede ótica do Brasil, com 178 mil quilômetros (155 mil quilômetros de backbones metropolitanos e nacional e outros 23 mil quilômetros de cabos submarinos, que interligam Estados Unidos, Bermudas, Venezuela e as cidades de Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo). Com isso, agora as duas maiores operadoras fixas, responsáveis por 71% do mercado de telefonia fixa e 53% do setor de banda larga fixa, mostram claramente um plano de renovar suas redes de acesso e levar fibra ótica até a casa do assinante. A Telefônica já o faz desde 2009, quando se tornou a primeira incumbent a apostar em fibras óticas domiciliares no Brasil. A operadora tem 50 mil clientes FTTH, aproximadamente um milhão de homespassed no estado de São Paulo e uma ambiciosa meta de somar um milhão de clientes até 2015. A Algar Telecom também já iniciou o processo nas cidades em que atua, na região do Triângulo Mineiro e Franca (SP). FTTx A Oi ainda estuda modelos de negócio, realizando pesquisas de mercado e testes tecnológicos e de campo para definir sua oferta comercial de FTTH com foco no cliente de varejo (o serviço, até então, se limitava a clientes corporativos). O que se sabe é que o projeto será implementado por meio da tecnologia Gigabit Passive Optical Network (GPON), arquitetura capaz de atingir taxas de velocidade de transmissão teórica de 2,4 Tbps de downstream e 1,2 Tbps de upstream, além de permitir o compartilhamento de uma única fibra para até 64 usuários e reduzir os investimentos em rede (Capex e Opex). Mas, a exemplo da Telefônica, o projeto de redes óticas na última milha da Oi não se limita a levar a fibra até a casa do assinante. Parte da expansão ótica visa melhorar a qualidade do acesso por par trançado de fios de cobre. A operadora pretende chegar com fibra aos seus 20,5 mil armários telefônicos instalados em todo o País, e prover o fiber-to-the-curb (FTTC); nos edifícios, com o fiber-to-thebuilding (FTTB); e nos quarteirões, com o fiber-to-the-node (FTTN). A partir daí, o
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acesso será feito com par de cobre, estrutura já existente para a telefonia fixa, utilizando tecnologias como o VDSL. É uma estratégia conhecida como encurtamento de rede, ou adensamento ótico. Cobre turbinado Segundo palavras da própria Oi, a operadora está “concomitantemente, encurtando sua rede de cobre e aumentando a cobertura da rede de fibra ótica”. É o que a operadora chama de um “momento de transição e de coexistência das tecnologias de cobre e fibra ótica”. Na verdade, a operadora estuda em quais localidades lançará fibra até a casa do usuário e onde chegará com o link ótico somente até o armário telefônico. Porém, para a incumbent, ainda haverá casos onde fará mais sentido manter sua rede de acesso 100% de par trançado. Para isso, pretende continuar investindo em sua rede metálica, evoluindo do ADSL para o ADSL2+, que permite velocidades de até 24 Mbps, e para o VDSL, que fornece links de 50 Mbps. Neste caso, além da evolução dos DSLAMs, equipamentos das centrais responsáveis pelo acesso banda larga, será necessária ainda uma redução drástica da última milha (distância entre central e casa do usuário) para cerca de 400 a 500 metros. Atualmente, essa distância média no mercado brasileiro é de 1 a 2 quilômetros. É a mesma tática adotada pela Telefônica. “O que vemos como tendência é cada vez mais as empresas com grande rede fixa investindo em soluções óticas, de estado da arte, e aproveitando a infraestrutura existente, tanto em ADSL quanto em VDSL, e novos atributos que turbinam essas redes”, diz o diretor de redes da Telefônica, Ari Falarini. Esses atributos que turbinam as redes metálicas, citados pelo executivo, atendem pelo nome de vectoring (vetorização) e bonding e começam a ser estudados pelas teles como uma forma de garantir sobrevida às redes de cobre e cumprir o objetivo de oferecer os chamados ‘serviços à prova de futuro’ (pelo menos a médio prazo) pelos menores custos possíveis de instalação e operação. “Essas soluções fazem parte de um conceito maior, chamado DSM (Dynamic Spectrum Management, ou
Gestão Dinâmica do Espectro), que busca harmonizar os pares de cobre de maneira a deixálos com maior potência, um ganho que pode ser três vezes maior em relação a uma linha sem vectoring ou bonding”, explica o diretor de tecnologia para a América Latina da Nokia Siemens Networks (NSN), Wilson Cardoso. A técnica de vetorização reduz dinamicamente os efeitos dos ruídos gerados a partir da transmissão de frequências nos pares de cobre, também chamado de crosstalk, que sempre foi considerado o principal ponto fraco das redes de par trançado. A grosso modo, a vetorização précompensa o crosstalk que será sentido nas linhas. O FEXT (tipo de crosstalk) é pré-subtraído no nó de acesso e compensado, ao longo da transmissão, no par trançado, de modo a deixar livre de interferência os sinais recebidos no modem do usuário. “Esses parâmetros de linha variam durante o dia, de acordo com o aumento de umidade, de calor, ruído... A solução busca injetar a potência correta de acordo com as perdas e vai monitorando a linha e fazendo um balanço em tempo real entre potência e energia”, diz. O bonding também é utilizado para ampliar a performance do par trançado. Resumidamente, ele dobra a quantidade de portas no DSLAM e no modem do usuário. “Se você tem duas portas com uns 72 assinantes ‘pendurados’, com o bonding você duplica esse número”, exemplifica Cardoso. “Uma rede VDSL2 vetorizada e com quatro pares de bonding pode atingir 800 Mbps com última milha de 400 metros”, diz. Por essas e outras, Marcelo Motta, diretor de marketing e soluções da Huawei, outro tradicional fornecedor desse tipo de tecnologia, acredita em vida longa às redes de par trançado. “O xDSL vai continuar existindo por longa data. O cabo já está lá, quanto mais você desenvolver tecnologia para chegar mais dados na ponta, melhor”, sintetiza. “É verdade que essas novas tecnologias, de vectoring, bonding, estarão disponíveis em regiões de maior poder aquisitivo. No entanto, vão se espalhar para as áreas periféricas à medida que forem ganhando escala”. Phantom mode O diretor de Soluções da Alcatel-Lucent, Juan Pablo Lopes, reforça a crença de seus concorrentes nessas novas tecnologias desenvolvidas para as redes metálicas, mas faz questão de acrescentar mais uma: a phantom mode. Ao contrário das demais, esta solução é proprietária, pois foi desenvolvida e patenteada pelo Bell Labs, laboratório da Alcatel-Lucent. Tem o nome de “modo
“A pulverização da rede móvel necessita de infraestrutura de acesso fixo. Uma operadora de FTTx pode instalar femtocélulas na casa do assinante e a tendência é de uma sinergia crescente entre redes fixas e móveis.” Juan Pablo, da Alcatel-Lucent fantasma” por conseguir criar um link virtual (invisível) que, associado à porta física, duplica a capacidade de transmissão das redes VDSL/ VDSL2. De acordo com a Alcatel-Lucent, testes em laboratório da solução phantom mode associada com vectoring e bonding atingiram 300 Mbps sobre duas linhas VDSL2 em um loop de 400 metros. “A vetorização cancela o ruído que cresce com o aumento dos pares e o bonding combina e harmoniza a transmissão entre os pares físicos e o virtual em um único cabo”. Obstáculos Apesar de exaltar o universo de possibilidades das novas tecnologias sobre a rede metálica, Pablo adverte para a viabilidade comercial da solução. O bonding, segundo ele, precisa ser de quatro pares por usuário. “O modem do usuário encarece à medida que vai recebendo mais cabos. Não sei se vale a pena economicamente para a operadora”, explica. O backhaul é outro entrave. Ou melhor, a falta dele. “Um bom passo para resolver isso seria a implantação de uma solução óptica GPON para alimentar o DSLAM”, diz Cardoso, da NSN. A arquitetura no xDSL também está longe de ser a ideal. Como já foi dito, o loop médio no Brasil é de 1 a 2 quilômetros e precisa ser de, no máximo, 500 metros. O quarto obstáculo é o próprio cronograma de evolução da tecnologia xDSL. O vectoring e o bonding, segundo especialistas, só fazem sentido em cima da rede VDSL e, principalmente, VDSL2. “As operadoras ainda compram muitos equipamentos ADSL2 no mercado e as redes VDSL/VDSL2 só representam cerca de 10% da planta xDSL”, adverte Cardoso. Sigilo Em nota a esta reportagem, a Telefônica informou que “está avaliando a possibilidade de adotar a vetorização/bonding em sua rede
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VDSL”. A Oi se limitou a dizer que “atualmente 27% de sua planta de usuários fixos pode ser atendida com a tecnologia VDSL”. A Algar Telecom preferiu não se pronunciar a respeito, assim como a GVT, operadora que se encontra na melhor situação para turbinar sua rede xDSL, por contar com uma arquitetura de rede de par trançado mais moderna e atualizada, de maneira geral. Wilson Cardoso dá uma dica sobre as razões de tanto sigilo: “não existe nenhuma oferta de 100 Mbps em cima de cobre ainda no Brasil. Quem disser que vai fazer estará se entregando e denunciando que tentará lançar primeiro”. Outras redes Além das novas redes óticas e da modernização das metálicas, especialistas apostam em mais um movimento interessante na última milha: a combinação e integração de redes sem fio. Com a consolidação crescente das operações (móveis, fixas, TV) dos principais grupos de telecomunicações, isso passa a fazer cada vez mais sentido. “Quando você caminha para o mundo da fibra, por exemplo, a estrutura da rede fixa acaba sendo útil para o backhaul da rede móvel. Pois a rede móvel, como está crescendo, demanda estrutura de transporte cada vez maior”, diz Ari Falarini. O GPON, tecnologia na qual a Telefônica investe massivamente, pode ser utilizado não só nas redes de acesso dessas operadoras, mas também na infraestrutura de transmissão. “O futuro da rede fixa caminha no sentido de ter mais capacidade e resiliência”. As operadoras também estão atentas aos ambientes indoor. “A pulverização da rede móvel necessita de infraestrutura de acesso fixo. Uma operadora de FTTx pode instalar femtocélulas na casa do assinante e a tendência é de uma sinergia crescente entre redes fixas e móveis”, diz Juan Pablo, da Alcatel-Lucent. A Oi está levando tão a sério essa estratégia que em 2011 adquiriu a maior operadora Wi-Fi do Brasil, a Vex, com seus 2,1 mil hotspots. DANIEL MACHADO
EspecialRedes • Cloud por Letícia Cordeiro
leticia@convergecom.com.br
A nova fronteira Serviços em nuvem entram na pauta das teles como área estratégica para crescimento dos negócios nos próximos anos. as brasileiras não ficam atrás, preparam as redes e os primeiros serviços já começam a ser lançados.
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o que tudo indica, o futuro de serviços e aplicações de telecomunicações está nas nuvens. É a nova fronteira, dita como vertical essencial para o crescimento dos negócios de operadoras de todo o mundo e vale para operadoras fixas, móveis e até mesmo operadoras de TV por assinatura. Mas, ao mesmo tempo em que representam uma oportunidade de negócios, cloud services implicam pesados investimentos em infraestruturas de telecomunicações e TI. As teles precisam investir para aumentar a capacidade de transporte de dados, aprimorar a inteligência da rede com sistemas de suporte à operação e negócios (OSS/BSS) para controle e gerenciamento centralizado, entre outras ações, o que justifica também as boas perspectivas de negócios dos fornecedores de equipamentos. A tendência é tão patente que foi um dos principais focos de discussão durante a edição deste ano do Mobile World Congress, maior congresso de telefonia móvel que aconteceu em Barcelona, no final de fevereiro (veja matéria de capa desta edição). “A transição para o mundo em nuvem já está acontecendo e não há escolha para as operadoras, que precisam ter redes inteligentes totalmente baseadas em IP. A inovação vem a galope trazendo muitas oportunidades, mas deixará para trás quem não se mexer”, adverte o chairman e CEO da Cisco, John Chambers. O executivo estima que serviços em nuvem movimentem US$ 58 bilhões até 2013, que os dispositivos conectados somem 7,2 bilhões de
“A transição para o mundo em nuvem já está acontecendo e não há escolha para as operadoras. A inovação vem a galope trazendo muitas oportunidades, mas deixará para trás quem não se mexer. ” John Chambers, da Cisco 22 especial redes | Teletime mar_2012
unidades até 2015 e que o tráfego móvel cresça 26 vezes entre 2010 e 2015. Para o CEO da Deutsche Telekom, René Obermann, o futuro das redes é o que chama de conectividade inteligente, a combinação de diferentes redes com tecnologias de 3G, 4G, fibra ótica e Wi-Fi para oferta de serviços aos clientes. “Impressiono-me quando pessoas dizem esperar que nos tornemos apenas canos. Os serviços em nuvem são uma oportunidade para que as operadoras melhorem a qualidade de serviço e de entrega de conteúdo, mas isso não pode ser feito sobre uma rede burra (dumb pipe)”, alerta Obermann. Outro aspecto interessante levantado pelo executivo da Deutsche Telekom foi a necessidade de as operadoras começarem a abrir para desenvolvedores de aplicações suas APIs de rede, proporcionando assim a criação de aplicações e serviços otimizados do ponto de vista de utilização de capacidade de rede e processamento, por exemplo. Esse movimento de abertura de APIs também tem sido adotado por outras operadoras, como a norte-americana AT&T e, mesmo no Brasil, pela Telefônica/Vivo. “As operadoras controlam grande parte da cadeia de valor dos serviços em nuvem e isso é uma vantagem, porque podemos oferecer
diferentes níveis de serviço e segurança; e se pudermos cooperar para padronizar os APIs de rede, podemos garantir ainda a interconexão dos serviços entre nossas redes”, analisa Obermann. Na prática Serviços em nuvem são um leque amplo de possibilidades, que incluem infraestrutura como serviços (IaaS, na sigla em inglês), plataforma como serviço (PaaS) e software como serviço (SaaS). Em termos práticos, englobam desde videoconferência em alta definição, jogos multiplayers em tempo real e streaming de conteúdos multimídia a comunicação máquinaa-máquina (M2M) e a chamada “Internet das coisas”. As operadoras apenas agora começam a oferecer os primeiros serviços em nuvem, tanto para clientes corporativos quanto para usuários finais. A britânica Everything Everywhere, jointventure entre Orange (France Telecom) e T-Mobile (Deutsche Telekom), passou a oferecer recentemente conteúdo on demand de TV da BSkyB e serviços na nuvem de armazenamento de música, imagens e outros arquivos para seus clientes. “Se conseguirmos construir uma relação de confiança com nossos clientes, podemos simplificar suas vidas com ofertas de serviços em nuvem, que podem combinar mobile advertising, m-payments, health tracking services e muito mais”, diz o CEO da Everything Everywhere, Olaf Swantee. A operadora pretende ainda levar seu serviço de atendimento ao cliente para a nuvem para melhorar a qualidade e o engajamento dos consumidores. De olho na oportunidade apresentada por cloud services, o CMO e Business Solution da AT&T, Michael Bowling, conta que a tele investiu na ampliação da capacidade de seu backhaul e backbone e instalou redes de distribuição de conteúdos (CDNs, na sigla em inglês) para gerenciar esse tipo de tráfego, e agora já vende a entrega de serviços em nuvem dentro de sua rede para um provedor de conteúdo, cujo nome o executivo preferiu não revelar. Segundo ele, a venda do serviço de entrega de vídeo com garantia de qualidade foi a forma que a operadora encontrou para fazer parte da cadeia de valor dos serviços de conteúdo dos provedores over-the-top (OTTs), como Netflix e Amazon.com, da qual a tele esteve excluída até então. Brasil As operadoras brasileiras, por sua vez, já dão os primeiros passos quando o assunto é cloud services. A Telefônica, por exemplo, oficializou no início de março o lançamento de sua primeira oferta de serviços em nuvem.
“Se não entrarmos agora nesse modelo de nuvem, o lugar será ocupado por alguém, e não queremos perder essa oportunidade. O Brasil está correndo muito próximo dos mercados mais evoluídos nesse movimento das redes.” Maurício Vergani, da Oi Voltado para grandes empresas e órgãos públicos, o Virtual Hosting 2.0 é o primeiro de uma série de serviços de IaaS que a Telefônica lançará na América Latina ainda no primeiro semestre do ano. “Há um ano e meio a Telefónica (holding) definiu que serviços em cloud seriam uma das verticais de crescimento de receitas e de investimentos na estratégia global da companhia e nossa expectativa é de que, já em 2012, um terço do crescimento de TI no Brasil venha de produtos em nuvem”, revela o diretor executivo do segmento corporativo da Telefônica/Vivo, Maurício Azevedo. “Cloud será a principal alavanca de TI para os próximos anos”, garante. Segundo ele, o lançamento de IaaS, que tem como parceiros as empresas EMC, Cisco, Ericsson e VCE, compreende serviços de processamento, armazenamento (storage) e back-up e representa apenas a primeira das iniciativas de serviços em nuvem da Telefônica. “Até o final do ano, lançaremos também produtos de SaaS, como CRM, ERP e até mesmo softwares da Microsoft, mas ainda estamos em fase de definição das parcerias”, afirma Azevedo. Uma terceira etapa será o lançamento de produtos de PaaS, como videoconferência. Os primeiros países a lançar os serviços na América Latina serão aqueles que concentram os data centers da operadora: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru. Segurança, de acordo com Azevedo, é outra das prioridades da Telefónica em sua estratégia global. A holding implementou três centros mundiais de operação gerenciada de segurança (Security Operations Center - SOC) na Espanha, no Brasil e no Peru. “Esses centros estão desenvolvendo mais serviços de segurança e boa parte dos serviços também está sendo oferecida
na nuvem, como filtros de acesso web, antivírus e firewall”, explica. A Oi segue no mesmo caminho, tendo lançado ainda no início de fevereiro seu serviço de cloud computing Oi Smart Cloud. Trata-se também de uma oferta para o mercado corporativo de IaaS para processamento e armazenamento de informações a partir dos oito data centers da companhia. O diretor da Unidade de Negócios do Corporativo da Oi, Maurício Vergani, explica que os serviços serão cobrados de acordo com o consumo, como uma conta mensal de telefone, gerando economia em custos, prazos e infraestrutura de tecnologia, especialmente em períodos de grande demanda. “Aproveitamos a experiência da Portugal Telecom, que havia lançado o serviço no ano passado em Portugal, e adaptamos a oferta para o mercado brasileiro com um portal que permite que o cliente faça a configuração dos seus serviços e contratação e mais capacidade diretamente pela web”, conta. Segundo ele, em questão de minutos é possível contratar mais servidores virtuais ou desabilitar servidores, uma vez os parâmetros de segurança negociados previamente e a conta do cliente criada. Iaas, SaaS, PaaS “Lançamos apenas o primeiro nível de serviços cloud, que são os serviços de IaaS, com máquinas virtuais e serviços de segurança em nuvem. Mas, até a metade do ano, planejamos a oferta do segundo nível, de plataformas como serviço, que inclui comunicação unificada, email e videochamadas”, revela Vergani. O terceiro nível será de SaaS e a Oi já estaria negociando parcerias com desenvolvedores de softwares como ERP e CRM. O executivo da Oi acredita que o lançamento do segundo nível de serviços em nuvem, de PaaS, deve começar a atrair médias empresas e o nível de SaaS, pequenas e médias empresas e ainda o usuário final.
Os serviços em nuvem são uma oportunidade para que as operadoras melhorem a qualidade de serviço e de entrega de conteúdo. mas isso não pode ser feito sobre uma rede “burra”. mar_2012 Teletime | especial redes 23
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EspecialRedes • Cloud
“A Telefónica definiu que serviços em cloud seriam uma das verticais na estratégia global da companhia e nossa expectativa é de que, já em 2012, um terço do crescimento de TI no Brasil venha de produtos em nuvem.” Maurício Azevedo, da Telefônica/Vivo
“Desde o ano passado estamos investindo em ampliação da capacidade e do gerenciamento da rede e, como todos os aplicativos agora estão na nuvem, se conseguirmos que desenvolvedores hospedem esses apps na nossa nuvem, conseguiremos subir na cadeia de valor de conteúdos e serviços”, avalia Vergani. “Se não entrarmos agora nesse modelo de nuvem, esse lugar será ocupado por alguém, e não queremos perder essa oportunidade. Estamos coordenando e usando a experiência da PT na Europa e podemos afirmar que o Brasil está correndo muito próximo dos mercados mais evoluídos nesse movimento das redes”. A expectativa da tele é que até 2015 a receita de data centers cresça 50% em relação a 2011. Outra iniciativa da Oi com serviços em nuvem é a criação de uma plataforma de M2M. “Estamos desenvolvendo a plataforma não apenas para receber as informações dos chips, mas também para dar inteligência a essas informações”, conta. Segundo o executivo, a Oi testa em parceria com uma empresa de energia elétrica comunicação M2M baseada na nuvem entre medidores inteligentes de energia, com conexão 3G, e a smart grid da utility. “Também estamos testando chips em postes, que permitem ligar e desligar a energia elétrica remotamente”, acrescenta. Já do ponto de vista do consumidor final, um dos exemplos de serviços em nuvem sendo oferecidos atualmente é o Ideias Musik, serviço de streaming de músicas da Claro lançado em fevereiro. “Podese dizer que este é o primeiro serviço em nuvem que oferecemos, mas já estamos também fazendo testes de vídeo”, revela o gerente de SVA da Claro, Rafael Lunes. “Serviços em nuvem são um dos pilares de investimentos do grupo América Móvil. Estamos nos preparando para essa oferta de conteúdos na nuvem, investindo em ampliação da capacidade da rede com a evolução para a tecnologia HSPA+ e, posteriormente, com o 4G, e ainda em soluções de storage e CDNs”, ressalta Lunes. Até o final do ano serão investidos mais de R$ 3,5 bilhões em ações de melhoria de rede da Claro, seja em infraestrutura, serviços ou produtos. Juntas, todas as empresas do grupo América Móvil – Claro, Embratel e Net – farão R$ 10 bilhões em investimentos na ampliação de rede e na conquista de novos mercados. Everywhere Parte do mesmo grupo econômico, a Claro e a prestadora de TV por assinatura Net Serviços estão trabalhando na oferta integrada de conteúdos da programação da TV paga para outras telas, no modelo de TV everywhere (em que o conteúdo pode ser acessado pela Internet por meio de qualquer dispositivo desde que o usuário seja assinante regular da Net). Segundo João Padilha, gerente de engenharia da operadora de cabo e banda larga Net Serviços, a ideia é oferecer melhor experiência e melhor qualidade, além de conteúdos exclusivos ou com menores janelas de exibição do que OTTs. “Estamos preparando nossa rede para o aumento da demanda por banda dos nossos usuários, para garantir, acima de tudo, qualidade para os nossos próprios serviços on demand, independentemente se o assinante vai usar a conexão para acessar este ou aquele conteúdo”, pontua. O investimento na capacidade de rede, na arquitetura de distribuição do conteúdo com CDNs que levam o conteúdo mais próximo dos usuários e ainda em inteligência no gerenciamento dessa rede são prérequisitos para as próximas fases de expansão do Now, o
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serviço on demand da Net, que compreenderá a oferta de conteúdos fora da casa do usuário. “Já estamos em testes com plataformas que hospedarão os conteúdos formatados para as demais telas, como tablets e smartphones, para entregar o conteúdo não apenas dentro da rede da própria Net, através de hotspots Wi-Fi espalhados pela cidade, mas também em qualquer rede, mediante autenticação do assinante, no modelo de TV everywhere”. A oferta do conteúdo do Now fora da casa do assinante significará a oferta de conteúdos em nuvem e implica ainda, segundo Padilha, a implementação de outra plataforma que armazenará os conteúdos formatados especificamente para smartphones, tablets e computadores. Isso porque a entrega do vídeo no set-top box da Net utiliza um canal de vídeo tradicional, pelo cabo coaxial, para fazer o narrowcast. Ele explica que para entrega pela rede da Net através de hotspots ou mesmo pela Internet pública será preciso espelhar os conteúdos em outros encoders, que são parte dessa nova plataforma. Para Lunes, o papel da operadora celular é também de popularizar o consumo de vídeo. “Os smartphones podem ser set-tops de bolso e, com uma cobertura de banda larga móvel de qualidade e uma solução de distribuição de conteúdos proprietária (em referência a conteúdos da Net Serviços e da Claro TV, ex-Via Embratel), podemos trabalhar com tarifas diferenciadas ou mesmo isenção de tarifas para esse tipo de tráfego de dados”, revela. Ele salienta, entretanto, que não se trataria de degradação da rede para outros serviços OTT ou algo que fira a neutralidade da rede, mas sim uma política comercial, de isentar o tráfego de dados para um serviço próprio de distribuição de vídeo na rede móvel.
“Os smartphones podem ser set-tops de bolso e, com uma cobertura de banda larga móvel de qualidade e uma solução de distribuição de conteúdos proprietária, podemos trabalhar com tarifas diferenciadas ou mesmo isenção para esse tipo de tráfego.” Rafael Lunes, da Claro
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EspecialRedes • Artigo por Geraldo Araujo*
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O desafio além das redes
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futuro é conectado. Em pronunciamento, o cientistasênior do Massachusetts Institute of Technology (MIT), David Clark, apontou que, entre 15 e 20 anos, trilhões de dispositivos estarão conectados em rede. Já a Cisco revela que o tráfego de dados na rede móvel aumentará 26 vezes até 2015 - expansão três vezes mais rápida do que o trafego de dados nas redes fixas neste mesmo período. Na medida em que a demanda aumenta, cresce a necessidade de redes e também serviços que suportem a diversidade de dispositivos e a integração de novas aplicações. Em um país como o Brasil, o crescente poder aquisitivo da nova classe média aponta para perspectivas animadoras. Para se ter uma ideia, pesquisa do Ibope Inteligência apontou que em 2012 o consumo da classe C deve expandir nominalmente 13,5% e atingir R$ 1,3 trilhão, o equivalente a 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Corrobora esta tendência o fato de os consumidores emergentes serem hoje responsáveis por 43% da compra dos celulares. Nesse caminho, a próxima onda é a de substituir os aparelhos simples por smartphones. Já é possível acompanhar o lançamento integrado de fabricantes de celulares e operadoras, acompanhados de pacotes que pedem por investimentos menores por parte dos usuários. Pesquisa da Accenture, no ano passado, verificou que o brasileiro aumentará em 26% o consumo de smartphones em 2012, o que gera cada vez mais tráfego de dados para a as operadoras tratarem. Outra tendência forte no País é o consumo dos tablets. A mesma
pesquisa verificou entre os entrevistados a expectativa de expansão de compra de 160% deste tipo de dispositivo. Aliado a isso, ainda impulsionam esse crescimento o hábito cada vez mais comum de assistir vídeos no computador ou celular, além da comunicação M2M (machine-to-machine), com a sua infinidade de possíveis aplicações. Do outro lado dessa balança estão as operadoras, que devem se adaptar a esta nova realidade e às necessidades de um consumidor cada vez mais exigente. No mundo das redes móveis, as estimativas
apenas com foco na infraestrutura, deixando que todos os serviços fossem entregues por terceiros. No entanto, outras formas de avaliar a questão mostram um caminho mais rentável para essa indústria. O ideal é que essas empresas estabeleçam suas estratégias em duas dimensões: a primeira pela evolução das plataformas digitais, com soluções que podem ser desenvolvidas sob a marca das operadoras ou por canais de venda. As operadoras de telecomunicações têm que ser ágeis e estratégicas no que
“Como as redes se tornam cada vez mais disseminadas e consistentes, permitindo que alguns serviços rodem na nuvem, os serviços têm se tornado a base da diferenciação e competição.” apontam que para crescer e acompanhar a demanda, as provedoras de serviços terão que investir mais de US$ 1 trilhão nos próximos dez anos. No Brasil, isso exige ainda mais rapidez com a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, que aumentarão o consumo por banda larga, além da necessidade do investimento em redes 4G. Há diferentes caminhos que as operadoras podem utilizar para responder às demandas desse consumidor, cada vez mais exigente e ávido por novidades. Se as operadoras definirem suas relações apenas com foco nas redes, será um caminho limitado. Novos serviços, como de localização ou conexões digitais em casa (por exemplo, DVR remoto) estão surgindo, mas muitas dessas aplicações podem ser processadas over-the-top. Como as redes se tornam cada vez mais disseminadas e consistentes, permitindo que alguns serviços rodem na nuvem, os serviços têm se tornado a base da diferenciação e competição. Um extremo seria as operadoras seguirem
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escolherão, já que não será possível investir em todos os serviços inovadores do mercado. Isso inclui como elas navegarão entre as plataformas digitais e a possibilidade de integração com seus próprios serviços por meio de aplicativos de interface (APIs). A segunda dimensão é enfatizar e ampliar a oferta dos serviços adicionais, o que gerará novas fontes de receita. A imaginação para criar essa plataforma é infinita: como assistência técnica, para a casa conectada, por exemplo, ao tomar como base o relacionamento já existente com os clientes. As operadoras devem ficar atentas para atingir esse consumidor digital. O mundo da hiperconectividade ainda é um quebra-cabeça a ser montado. Descobrir como encaixar essas peças de forma mais rápida e eficiente pode definir a competitividade da indústria de telecomunicações nos próximos anos. *Responsável pela área de Redes da Accenture
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SOLUÇÕES ESPECÍFICAS DE ALTA TECNOLOGIA Cada vez mais, investimentos em infraestrutura para redes de banda larga são necessários nos ambientes corporativos. A Furukawa apresenta soluções que atendem estas condições, gerando confiabilidade e segurança à sua necessidade atual e futura. Realizando pesquisa e desenvolvimento, testes e análises, a Furukawa assegura a qualidade final de seus produtos e serviços, sempre com o suporte da ampla rede de atendimento de Distribuidores e Integradores Credenciados na América Latina. Quando pensar em soluções específicas de alta tecnologia para a sua rede, a escolha certa é Furukawa.
.:entrevista
Samuel Possebon
samuca@convergecom.com.br
Da Suécia para o Brasil
TELETIME – Como estão as perspectivas da Ericsson para a América Latina e para o Brasil para este ano e para os próximos? Lourenço Pinto Coelho – A América Latina tem ficado cada vez mais importante para a Ericsson porque é um continente que tem uma economia estável, tem um crescimento de PIB médio interessante, tem uma população crescente. Na Europa Ocidental a população é estável, e o crescimento vegetativo é zero. Aqui, várias iniciativas de vários governos estão trazendo populações das classes econômicas D e E para a classe C, e isso está criando uma dinâmica no mercado consumidor. Este ano não temos expectativa de perder market share, pelo contrário. O que vai movimentar o mercado na região? Estamos na expectativa muito positiva do LTE, que é uma nova onda que vem para elevar os ânimos da região. E LTE é uma tecnologia que já está madura, que já foi muito testada nos Estados Unidos, na Escandinávia, Japão, e alguma coisa na Europa já está se iniciando. O LTE é a aposta de crescimento para o mercado latino-americano? Na verdade, a razão disso tudo está um pouco atrás do LTE em si. A população está correndo cada vez mais atrás
lação é 10%. Em tudo é 10%, na economia, no PIB... E o Brasil é 40% da América Latina. Então, o Brasil é o motor, é a locomotiva da América Latina. Até porque, por causa da economia do Brasil, que em valores absolutos é enorme diante do restante da América Latina, temos um PIB muito alto. O Brasil tem sido de uma certa maneira um líder que inspira os demais países a copiarem. Isso é uma coisa positiva para nós brasileiros.
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Ericsson é uma das principais fornecedoras de equipamentos de telecomunicações do mundo, e a única do Ocidente que até agora não viveu nenhuma experiência traumática de reestruturação ou fusão. No Brasil, a empresa aposta que manterá uma posição dominante no cenário da quarta geração, mas acredita que pode ser beneficiada pelas apostas que fez nos últimos anos ao manter (e ampliar) sua fábrica no País e apostar em alguma pesquisa e desenvolvimento locais. Nesta entrevista, Lourenço Pinto Coelho, vice-presidente de marketing e estratégia da Ericsson para a América Latina, fala sobre esta posição da empresa e sobre as expectativas nesse novo ambiente político e tecnológico.
Lourenço Pinto Coelho
do que lhe é conveniente. E o que é conveniente para ela é mobilidade. A Internet virou móvel. Isso vai exigir muito throughput, e o LTE vem aí para ajudar as operadoras a reduzir custos, porque o LTE dá uma relação de custo/ benefício excelente. O problema é o custo do terminal 4G... Ainda não está nos US$ 40, US$ 60, mas o 4G traz outros benefícios. O que está acontecendo é que o terminal de LTE, assim como o terminal de HSPA+ e o de 3G, é uma concorrência direta com o PC. O que vemos é a diminuição na venda de PCs. Está havendo é um direcionamento do orçamento da população. E como vocês avaliam o Brasil, especificamente, nesse cenário? O Brasil responde, mais ou menos, por 40% da América Latina. A participação da América Latina e Caribe na Ericsson é mais ou menos 10%. A participação da América Latina em popumar_2012 Teletime 27
A geopolítica que hoje está estabelecida entre fornecedores e operadoras na terceira geração, essa geopolítica muda com a quarta geração? Abre uma possibilidade de remanejamento nessas peças? Gosto de fazer essas análises de futuro olhando para o passado. Cada vez que a gente teve uma mudança importante de tecnologia, a dinâmica, o balanço entre os concorrentes mudou. Na época do TDMA e do CDMA no Brasil os vendors eram Ericsson, Nortel, Motorola, NEC... Com o GSM, vieram novos players. Vieram Nokia, Siemens, Alcatel; a Ericsson continuou. Mas muda muito. Aí veio o 3G e também houve algumas mudanças. Nortel sumiu, Motorola também não atua nessa área. E agora no 4G não tenho razões para achar que vai ser diferente. Como estão se planejando para não perder o espaço que têm e, eventualmente, ganhar mais espaço? Tem gente que às vezes fala que a Ericsson fica empurrando o LTE. Para nós, o maior conforto seria ficar no 3G. Porque no 3G nós já temos o market share, temos clientes importantes em toda a região. No 4G começa do zero. Agora, nós apostamos muito em todo o investimento que fazemos em fabricação, em gente, em R&D e em serviços. Somos os maiores fornecedores de LTE no mundo. Em qualquer estatística a Ericsson é o maior deles. Como vocês avaliam a disposição das operadoras a adotarem o LTE logo? As operadoras fazem muito bem o trabalho que têm de fazer. E eles têm
.:entrevista
O LTE força uma melhoria nas tecnologias de backhaul, na arquitetura da própria rede, por conta do tráfego que gera? Com certeza. Esse efeito está acontecendo no LTE de forma muito amplificada. A gente já viu esse filme em menor escala com o WCDMA. O WCDMA é diferente do GSM porque exigia melhor otimização. Nas primeiras redes que implementamos, nós apanhamos. Tivemos dificuldade, mas tínhamos de otimizar a rede. No LTE, esse assunto é ainda mais crítico. É por isso que os operadores preferem gente com experiência nisso. Porque se você investiu numa rede e depois não conseguiu ter receita, foi a pior decisão que você podia tomar. Tem gente que contratou uma rede 3G, que é um negócio que já é quase commodity, e até hoje não está em operação. Existe um excesso de demanda por equipamentos 3G que possa comprometer a velocidade de implantação das redes? A gente fabrica 40 mil radiobases por ano na nossa fábrica brasileira. O Brasil não consome isso. Se precisar expandir a rede, eu invisto mais um pouco, expando a linha de montagem para 60 mil, para 70 mil, faço o que for necessário. Da nossa parte, não falta capacidade. Mas no mundo vocês não estão vendo um choque de demanda? No mundo a gente fabrica muito mais. A dificuldade que o pessoal tem, que um eventual cliente, que uma operadora ou outra tem de implantar, é a dificuldade de ter escolhido o vendor errado. Ou às vezes pediu adaptação de um produto padrão. Quando você adap-
ter o portfólio completo para endereçar tudo o que o cliente precisa na área de telecomunicações.
foto: alberto ruy
que vender o almoço para comprar a janta. Têm o planejamento estratégico deles, naturalmente. O LTE, assim como o 3G, começa com hotspot. No caso do Brasil, os hotspots são as 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo. Depois, o LTE vai se expandindo. Então, ele não vem para substituir tecnologia. Não é uma revolução. É uma evolução. Por ser uma evolução, ele tem compatibilidade reversa, ou seja, o usuário que está na LTE, pode falar com HSPA+, com WCDMA, com GPRS e com GSM, então a experiência do usuário não muda quando passa de uma rede para outra.
estamos falando com o mct para desenvolver melhores fornecedores locais.” ta, você deixa de ser cliente e começa a virar refém. Para tomar essa decisão, sair do padrão aberto, tem que ser muito confiante. Em compensação você vai pagar pouco. Só que às vezes você ganha no varejo e perde no atacado. Recentemente, a Nokia Siemens Networks, sua concorrente, decidiu se reestruturar e focar apenas em mobilidade. Isso foi um movimento específico ou existe uma tendência de fim do modelo de provedores end-to-end? Somos focados em telecomunicações. Aí, em telecomunicações, para se ter sucesso, tem que atacar tudo o que tiver de telecomunicações. Não posso entregar o LTE e depois o cara fala: “mas tem um problema de sinalização aqui” e eu falar “ah, isso não é comigo!”. Porque no LTE, um dos grandes estresses é a sinalização. O novo iPad vai dar um estresse para as operadoras na área de sinalização, pode apostar. E sinalização não é o tráfego. Não é o download de vídeo. É a conversa entre os dispositivos para manter o sincronismo etc. Como é que a Ericsson vai falar que não entende? Aí o cliente pede o billing. Vou dizer que não trabalho com billing? A gente trabalha com billing, OSS, BSS, sistemas de gerência. No caso da Ericsson, decidimos man28 Teletime mar_2012
Qual foi a leitura de vocês sobre as regras de política industrial colocadas no edital de 4G? A primeira leitura que a gente fez foi na Constituição de 1988. Depois tiveram mais outras medidas. A gente tem acompanhado essas coisas. Se der alguma coisa errada na área de estratégia da Ericsson eu sou o culpado, então a gente é obrigado a fazer leitura de várias coisa. O que está acontecendo na tecnologia, no usuário, no comportamento, na operadora, no governo, cultura... Não foi na consulta pública do 2,5 GHz que a gente viu o negócio de tecnologia nacional e de P&D, mas na licitação do 3,5 GHz, que já tinha isso, um bom tempo atrás. Estabelecemos o Brasil como centro da América Latina. Com fábrica, inclusive, que garante a região e o Caribe. O Sérgio Quiroga (presidente da divisão latino-americana) fica aqui. O Brasil tomou uma posição fundamental e estratégica em cima disso. Depois, fizemos investimentos para ampliar a linha de produção de quatro mil radiobases para 40 mil radiobases. Aumentamos em dez vezes de um ano para o outro. Mesmo não tendo demanda para tudo isso? Não tem demanda no Brasil, mas para exportações tem. Nós sabemos da importância na pauta do governo de exportação. E eu não vejo isso só aqui. Eu vejo na Argentina e para tudo quanto é lado a mesma coisa. Resultado: a gente investiu nesse esforço de exportação. No ano passado, para se ter uma ideia, conseguimos atingir a cifra de R$ 464 milhões em exportação. Desses R$ 464 milhões, R$ 432 milhões foram em hardware e R$ 32 milhões em software. A partir da fábrica no Brasil. Mas isso não é só montagem de equipamento? Se você for visitar nossa fábrica você vai ver máquinas inserindo componentes em placas de circuito impresso, componentes sofisticadíssimos. Depois a gente tem que fazer o teste da placa. Depois o teste do subsistema, depois o teste do sistema. Ficou cada vez mais complexo, porque os compo-
nentes hoje em dia são todos integrados. E a gente faz esse trabalho. Só na fábrica estamos com 1,2 mil funcionários. Agora, estamos falando com o Ministério de Ciência e Tecnologia para ajudar a desenvolver melhores fornecedores locais, para poder alavancar ainda mais a produção e adensar a cadeia. E o desenvolvimento de tecnologia nacional, que também é exigido? Investir no centro de competência para desenvolvimento para atendimento à Portaria 950 (Portaria 950/2006 do Ministério de Ciência e Tecnologia) é uma dificuldade, implica uma implementação via conteúdo intelectual. É muito difícil criar um ecossistema na empresa e ir pra o mercado. A Ericsson já está aqui há muito tempo fazendo isso, mas não é fácil para esses concorrentes. Fábrica é decisão de dois palitos. Se tenho interesse em investir ou não, se tenho dinheiro ou não. Uma vez que você decide, você faz em três meses. Tecnologia é diferente. Como é que eu crio competência? Isso vai demorar. Vocês mostraram preocupação com o percentual de conteúdo nacional exigido... Isso é um outro aspecto fundamental. Os 10% incidem sobre o quê? Se for 10% em cima de todo o investimento da operadora, a operadora compra telefone, compra computador, constrói prédio, é muita coisa. Mas o governo não esclareceu ainda. Todos nós fizemos comentários em relação à consulta pública e agora estamos aguardando o relatório final do governo. Eu acredito no bom senso da Anatel. Acho que na parte de conteúdo nacional, 10% me parece meio forte demais. E acho que um dia temos que pensar no software. Como assim? A Portaria 950 só fala de hardware, não fala de software. Há muito receio de falar de software porque existe o copy & paste. Pode desenvolver lá fora, fazer um download à noite. Mas tem maneiras de avaliar isso e o Ministério de Ciência e Tecnologia está estudando isso. Você pode verificar a quantidade de mestres contratados pela empresa, a quantidade de patentes que ela fez, pode ver a quantidade de homem/hora que ela reporta. Então, tem muitos indicadores com os
quais você consegue medir se a empresa está realmente desenvolvendo software ou simplesmente copiando e colando. Patentes, por exemplo, a Ericsson registrou agora, esse ano, 20 patentes no INPI aqui no Brasil. 50% de hardware e 50% de software. Tinha 39, mas as 19 já caducaram. O MIMO (sistema de antenas inteligentes usados em redes 3G e 4G) foi desenvolvido aqui pelos pesquisadores de universidades brasileiras; contrato da Ericsson. A Ericsson contrata cem pesquisadores nas mais renomadas universidades brasileiras e eles trabalham para a gente em pesquisa aplicada. De cada dez trabalhos que eles fazem, possivelmente oito ou nove não vamos usar, mas uma ou outra usamos. E vamos usar daqui a cinco, dez anos. E o MIMO foi lá atrás.
O novo iPad vai dar um estresse para as operadoras na área de sinalização, pode apostar.” Como você acha que ficará a força dos vendors depois do leilão de 4G? Não é muito ético para mim fazer avaliação com relação a meus concorrentes, mas em termos de quantidade acho que três. Incluindo nesses três pelo menos um asiático? Olha, acho que o asiático, com a agressividade que o pessoal tem, com o tipo de determinação que eles têm, tenho a impressão que o asiático deve permanecer. A briga com os asiáticos ainda está baseada em preço ou mudou o perfil dessa disputa? À medida que as empresas vão crescendo, ampliando o market share e começando a ficar importantes, elas começam a ter mais juízo. Isso é normal. Aí elas têm um outro tipo de responsabilidade. Elas já têm uma base importante a preservar, um nome a preservar, não podem correr muitos riscos, precisam manter a performance, não podem prometer o que não podem entregar. Também não pode prometer demais senão entope a fábrica, entope a linha de mar_2012 Teletime 29
produção. As atitudes, as decisões, começam a ficar muito mais pensadas. É natural que as empresas que vão ficando maduras fiquem mais moderadas. É normal. Agora, sempre tem um que está chegando, um paraquedista, e esse joga sangue na parede. Esse mercado de telecomunicações é um mercado muito bom, mas é um mercado altamente competitivo, e os vendors sofrem muito com isso porque os preços são muito baixos. A Ericsson investe 5 bilhões de euros por ano em pesquisa e desenvolvimento. A cada tecnologia que entra, espero que o pessoal trabalhe corretamente, que não exista dumping, que a regra do jogo seja respeitada. É isso o que eu espero. Do ponto de vista pessoa jurídica, não vou torcer para os meus concorrentes se darem bem. Mas também, para o bem do ecossistema, é importante ter concorrência. Como você está avaliando a questão dos investimentos das operadoras nos últimos anos? Os grandes operadores da América Latina (e quando falo grandes operadores, são poucos), são operadores comprometidos com perenidade. E eles sabem que perenidade depende de ter base de assinantes. A base de assinantes do Brasil cresce. A base de assinantes da região cresce. Está havendo um shift muito grande do perfil de tráfego, que está saindo de voz e migrando cada vez mais forte para dados, com vídeo etc. Isso também não depende da operadora. O crescimento da população, o crescimento da economia, o avanço da classe média, o crescimento da demanda por serviços, não depende da operadora, depende do comportamento da população, da economia, disponibilidade tecnológica, do preço dos dispositivos e da conexão. Um operador comprometido com o asset que ele tem e a perenidade da empresa dele não pode decidir investir menos, porque a hora que ele investe menos, outro toma market share. E como o mercado está crescendo, o outro vai pegar. Então não existe isso. Quem puxa é a demanda, não é o investimento. Da mesma forma que não posso falar que vou crescer, se o operador não comprar, não vou crescer. Acho que a demanda no Brasil e na América Latina vai ser maior em 2012 e 2013 e aí o investimento tem que acompanhar, porque quem não acom panhar perde mercado.
.:P&D
Wilian Miron
miron@convergecom.com.br
Longe do ideal
tendente do Instituto de Pesquisas Eldorado, que atua na área de TICs e gestão. Para ele, as medidas tomadas até agora pelo governo ainda são preliminares. “Falta um plano estratégico completo, que ataque as diversas áreas que travam o nosso desenvolvimento tecnológico. O que temos hoje é o governo identificando os alvos e atirando em um por vez”, analisa. Entre os problemas mencionados tanto por pesquisadores quanto por executivos das empresas estão taxas e impostos cobrados no Brasil e um processo legislativo em geral engessado e fisiológico. “Se não agirmos, vamos perdendo uma coisa atrás da outra. Hoje a indústria de componentes está toda no Sudeste da Ásia e isso inibe que as empresas venham
“Software não precisa de um ecossistema grande, enquanto o hardware precisa.” Rosana Fernandes, da Motorola Mobility, 30 Teletime mar_2012
montar ou criar projetos aqui”, conclui Catto. Mesmo assim, os avanços conseguidos pelo Brasil na última década são significativos e boa parte deles pode ser creditada à Lei de Informática e às exigências previstas na Medida Provisória 495. Elas cobram percentuais de tecnologia nacional e produção local nos produtos comercializados em território brasileiro. Em troca, empresas que cumprem as quotas têm direito a incentivos fiscais ou vantagens na hora de disputar licitações públicas. “O maior propulsor do P&D no Brasil é, sem dúvida, a Lei de Informática”, afirma Catto, do Instituto Eldorado. Outro ponto de inflexão na relação entre o mercado brasileiro e as multinacionais estrangeiras é a crise econômica, que acomete algumas das maiores economias do mundo desde o final de 2008. Mais dependentes de receitas vindas de suas subsidiárias em nações emergentes, as grandes companhias se mostram mais dispostas a negociar e a ceder quando o assunto é aumentar os investimentos nestes países como FOTOS: divulgação
N
os últimos dez anos, o cenário do desenvolvimento de tecnologias no Brasil, assim como nos demais países emergentes, começou a mudar um pouco, para melhor. Neste período, a produção de conhecimento, sobretudo no setor de telecomunicações, aumentou consideravelmente, como resultado do foco maior do governo no incentivo à produção local. Mesmo assim, engana-se quem acredita que o Brasil virou um mar de rosas no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico e à produção local de equipamentos com alto valor agregado. Ao mesmo tempo, os investimentos em tecnologia, embora tenham avançado, ainda carecem de medidas mais efetivas para um desenvolvimento pleno, segundo especialistas ouvidos por TELETIME. A solução para colocar o Brasil de vez numa curva ascendente de crescimento econômico e social, por meio da consolidação de uma indústria forte na área de tecnologia, seria a adoção de medidas mais robustas para incentivar o desenvolvimento nacional e a criação de empregos em cargos ‘estratégicos’, como engenheiros e desenvolvedores de sistemas. “Precisamos de uma política industrial e tecnológica que pense no longo prazo, assim como ocorreu na Ásia”, afirma o diretor de gestão da inovação do CPqD, Antonio Carlos Bordeaux. Essa política seria, na visão de Bordeaux, um conjunto de medidas para alavancar as pesquisas e a produção local, incentivando a formação qualificada de pessoas para atuar em áreas estratégicas. “Avançamos, mas hoje temos dificuldades para competir com outros mercados que oferecem preços baixos e têm um volume de pesquisas maior, com pessoal capacitado para gerar conhecimento”. Opinião semelhante tem Arthur João Catto, superin-
mmaxer/shutterstock
Investimentos em pesquisa e desenvolvimento por empresas de telecomunicações aumentaram no Brasil, mas o País ainda está longe de alcançar um espaço global significativo.
Engenheiros nos Brics 650 mil
700.000
Formados por ano
600.000 500.000 400.000
190 mil
300.000
220 mil
200.000 100.000 0
40 mil Brasil
Rússia
Índia
China
Fonte: Confea.
condição para atender o mercado interno, apontam os especialistas. A visão empresarial Embora o desenvolvimento tecnológico no Brasil ainda enfrente dificuldades, os investimentos em P&D evoluíram no País ao longo dos últimos dez anos. A maioria dos projetos feitos no Brasil na área de telecom, contudo, é na área de software para handsets ou de complemento e adequação ao mercado interno de produtos feitos no exterior. De acordo com os estudiosos, esta linha de pesquisa representa quase 80% do conhecimento produzido por universidade e centros de pesquisa no Brasil. Uma das principais áreas ‘desenvolvidas’ é a de sistemas operacionais para smartphones e
adaptações da plataforma Android para os aparelhos que serão vendidos no mercado brasileiro. Mesmo assim, alguns recursos desenvolvidos por centros de pesquisa nacionais chegam a ganhar projeção internacional e equipar devices vendidos em diversos países. Exemplo é o aplicativo MotoDev, produzido pelo Instituto Eldorado em parceria com a Motorola. O programa é uma plataforma aberta de desenvolvimento de sistemas que rodem em aparelhos com Android. Durante conferência internacional promovida pela fundação canadense Eclipse, em 2011, o MotoDev foi apontado como o aplicativo livre mais amigável. Por sua vez, as empresas defendem a postura de desenvolvimento maciço de
software no Brasil, e não hardware, sob a alegação de que os projetos de criação de novos produtos fazem parte de estratégias globais. Desta maneira, o desenvolvimento é feito em conjunto entre os diversos centros de P&D mantidos por determinada companhia ao redor do mundo. Neste caso, a atribuição que cada país tem na elaboração do produto final depende do que mais convém à empresa. “Software não precisa de um ecossistema grande, enquanto o hardware precisa”, diz a diretora de P&D da Motorola Mobility, Rosana Fernandes. A afirmação da executiva baseia-se no fato de a indústria brasileira, mais especificamente a de componentes eletrônicos, estar em declínio, o que encarece o produto final com o transporte de semicondutores e placas da Ásia para a montagem no Brasil. “Temos dificuldades para desenvolver hardware e outros equipamentos aqui porque faltam fornecedores e ainda há outros aspectos logísticos que tornam o tempo de desenvolvimento no País mais longo”. Desindustrialização O vice-presidente de novos negócios da Samsung, Benjamin Sicsú, complementa este raciocínio ressaltando que “o movimento de desindustrialização, que afeta o País e inibe a competitividade nacional impede que haja um desenvolvimento mais robusto de equipamentos com alto valor agregado”. Na visão dele, a falta de estímulo para a exportação, especialmente de produtos
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com alto grau de tecnologia fabricados por empresas brasileiras, restringe o consumo destes materiais ao mercado interno, ainda insuficiente para justificar investimentos em larga escala por parte das empresas. “Precisamos de um programa que estimule a competitividade com outros mercados, no qual as empresas possam desenvolver e montar o produto final no País”. Ele ressalta que desde a década de 1990, com a valorização da moeda nacional frente ao dólar, as multinacionais passaram a achar mais interessante investir na Ásia. “Hoje o nosso maior déficit é em telas de LCD. E as medidas tomadas pelo governo, embora boas, não possibilitam uma retomada dessa indústria. Afinal, temos que pensar em exportar; não dá para fazer indústria só para o Brasil”. Outro entrave para o sonho de desenvolvimento de uma indústria brasileira forte, com fabricação e desenvolvimento local de tecnologia, é a escassez de mão-de-obra qualificada. Hoje o País consegue formar, em média, 40 mil engenheiros por ano, quase um quinto dos 190 mil graduados na Rússia, no mesmo período. Já a Índia chega a colocar no mercado 220 mil engenheiros anualmente, enquanto a China certifica 650 mil pes-
“a falta de profissionais para algumas áreas-chave prejudica planos de crescimento.” Jesper Rhode, da Ericsson soas por ano capacitadas para atuar com P&D. Tendo em vista que o País almeja se tornar uma potência tecnológica, a falta de pessoas para atuar em centros de pesquisa públicos, privados e em universidades é alarmante. Segundo estimativa do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), o Brasil tem um déficit de 20 mil profissionais por ano. O diretor de inovação em negócios da Ericsson, Jesper Rhode, afirma que a falta de profissionais para algumas áreas-chave prejudica planos de crescimento e, consequentemente, mais investimentos em P&D num curto prazo. “É um dos desafios, porque gera pressão inflacionária”, comenta ao afirmar que em alguns casos o custo da mão-de-obra chega ser mais caro do que nos Estados Unidos, por exemplo. Desde 2001 a empresa conta com centro de pesqui-
sas em Indaiatuba, interior de São Paulo, onde 350 pessoas trabalham em estudos que podem gerar novos produtos ou melhorar a qualidade daqueles já existentes. O projeto de desenvolvimento tecnológico no Brasil custou R$ 850 milhões à companhia desde sua criação e, neste ano, deve demandar mais R$ 50 milhões, segundo Rhode. “Temos aproximadamente 20 projetos ativos e parcerias com centros de pesquisa e universidades brasileiras”. A LG, fabricante de celulares, também está entre as companhias que investem em desenvolvimento local de softwares, segundo o gerente de produtos e celulares da marca, Rodrigo Ayres. Atualmente a companhia aporta 10% de sua receita em pesquisas, que geram aplicativos tanto para os aparelhos telefônicos quanto para as smart TVs que são vendidas no mercado local. “Nossa estratégia aqui é baseada nisto porque conseguimos desenvolver bem essa competência, com profissionais criativos para esta área”.
“Precisamos de uma política industrial e tecnológica que pense no longo prazo, assim como ocorreu na Ásia.” Antonio Carlos Bordeaux, do CPqD
Crescimento moderado
E
m 2010 foram investidos R$ 11,6 bilhões em P&D em todo o Brasil, segundo o levantamento “Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo 2010”, realizado pela Fapesp. Este valor considera apenas o montante declarado por empresas e governos. O estudo, que traça um panorama dos aportes na área por parte das três esferas de governo do País, revela também que embora a União e os Estados invistam relativamente muito em pesquisas relevantes para o desenvolvimento do Brasil, o mesmo não ocorre quando analisado o montante aportado por municípios: “investimentos municipais em P&D não afetam muito os resultados dos investimentos totais na área, pois os aportes municipais têm uma participação menor do que 1% de todo dinheiro investido. Em 2007, por exemplo, a consolidação dos balanços feitos pela Secretaria do Tesouro Nacional acusava um montante de R$ 54,2 milhões”, relata a pesquisa, feita com base em análises do IBGE, que desde 2005 analisa o avanço de P&D em três segmentos de serviços: telecomunicações; atividades de informática e serviços relacionados; e pesquisa e desenvolvimento. Tais segmentos responderam por
30,4% do total de dos dispêndios na área, diz o estudo. Ao mesmo tempo, os serviços de P&D responderam sozinhos por 19,3% desse montante. Diante do salto econômico e social do Brasil na última década, e impulsionada pelos investimentos públicos e privados em P&D, a quantidade de produtos ‘inovadores’ desenvolvidos e registrados no País aumentou 64% entre 2001 e 2010, enquanto na Europa e no Japão os pedidos recuaram 30% e 25%, respectivamente. Mas, em números absolutos, a defasagem ainda é gritante. Neste período foram registrados 130 mil pedidos de patente para produtos brasileiros considerados inovadores, conforme as normas do DWPI, um dos maiores bancos de patentes do mundo. Na mesma década, a China superou os EUA e teve três milhões de registros. A maior parte destes, entre 2007 e 2010. Já os pedidos registrados no sistema global de patentes PCT (Patent Cooperation Treaty) aumentou 43% nos últimos quatro anos. Em 2011, os pedidos de patentes brasileiras cresceram 17%, com 572 pedidos, segundo estimativas da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).
32 Teletime mar_2012
.:MERCADO RURAL
Helton Posseti
helton@convergecom.com.br
Desafio distante
Licitação do 450 MHz promete resolver dívida que o País tem com a área rural, mas chegar a áreas isoladas e superar a barreira da renda não será tão simples. LUCIAN COMAN/SHUTTERSTOCK
O
atendimento da área rural voltou à agenda do setor de telecomunicações desde que a Anatel lançou a consulta pública para a venda das faixas de 450 MHz. Quase sempre, ouve-se do governo e das empresas que levar os serviços de telecom para essas áreas é um “enorme desafio”, ou outras expressões equivalentes. Convém destacar que, a despeito dos lugares comuns que surgem sobre o tema, o Brasil rural é de fato um mercado diverso e muitas vezes pouco conhecido das empresas e da administração pública. A área urbana abriga 84% da população brasileira. Os outros 16%, algo em torno de 30 milhões de pessoas, vivem na área rural e somam um quantitativo considerável e maior, por exemplo, que toda a população da Austrália. Apesar da grande quantidade de brasileiros que ainda vive no campo, eles estão espalhados por 99% do território nacional, ao contrário daqueles que moram na cidade, que se aglomeram em 1% do território. Além da distribuição física desses cidadãos ser muito dispersa, quando se fala em população rural é preciso compreender que esse mercado é formado por consumidores de perfis extremamente diversos. De um lado, existem, por exemplo, comunidades isoladas como os ribeirinhos da região Norte, comunidades remanescentes de quilombolas e assentamentos rurais. A coordenadora do projeto Territórios Digitais do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Rossana Moura, explica que esse público não tem renda para arcar com serviços de telecomunicações. Só poderia ser atendido, portanto, por meio de uma política pública mais ampla, que de alguma forma subsidiasse não só o acesso, mas também a conta mensal. Do outro lado da moeda está o mercado do agronegócio, que embora responda por mais de 20% do PIB, ainda padece de um atendimento estruturado. É o caso, por exemplo, de uma grande
fronteira agrícola brasileira que compreende trechos dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia – região conhecida como Mapitoba, destino de boa parte dos novos investimentos no agronegócio. As regiões Sul e Sudeste, por sua vez, são caracterizadas por abranger uma razoável quantidade de pequenos e médios produtores rurais, hoje igualmente mal servidos de serviços de telecomunicações eficientes e baratos. “O mercado rural ninguém conhece direito. Faltam estatísticas sobre esse mercado. O que nós sabemos é que o homem do campo tende a ter uma percepção de valor maior que o da cidade sobre os serviços de telecomunicações”, afirma o superintendente de Universalização da Anatel, José Gonçalves Neto. Ele revela que, devido a essa falta de dados, a Anatel não sabe ao certo o MAR_2012 TELETIME 33
potencial para atendimento do mercado empresarial no campo. Mas, segundo ele, é certo que ele existe e é grande em algumas regiões. Pelas contas da agência, só o atendimento do mercado residencial rural já seria lucrativo para as empresas. O superintendente está confiante de que a licitação do 450 MHz, enfim, conseguirá preencher o déficit de infraestrutura do Brasil rural. A Anatel amarga uma tentativa fracassada, que foram os serviços Ruralcel e o Ruralvan, criados antes da privatização. Os programas, que chegaram a ter cerca de 130 mil assinantes, hoje têm aproximadamente 20 mil pelas contas da Superintendência de Universalização. O conselheiro da Anatel Rodrigo Zerbone lembra, contudo, que cada área da agência tem uma estimativa desse número, de modo que seria impossível saber ao certo quantos usuários ainda existem hoje. O Ruralcel/Ruralvan é um serviço fixo prestado pelas concessionárias do STFC a usuários rurais, através das redes móveis. O programa não foi exitoso, na visão de Neto, porque não havia uma política de interconexão adequada. As teles móveis cobravam VU-M das fixas, mas a tarifa cobrada do usuário final segue o padrão da telefonia fixa, o que gerou desequilíbrios no serviço. Mas por que a venda de serviços na faixa de 450 MHz pode gerar um negócio lucrativo para a área rural? A resposta da agência veio na forma de um novo regulamento de tarifação para Fora da Área de Tarifação Básica (FATB), que é a forma técnica pela qual a agência define a área rural. A agência está propondo a criação de um Valor de Meio Adicional (VMA). Trata-se de uma espécie de taxa de interconexão cobrada dos usuários que chamam “de” ou “para” uma área rural (FATB), de modo a remunerar os meios adicionais construídos para levar a rede a essas áreas. A taxa será transparente para o usuário, assim como as tarifas de interconexão existentes hoje, mas a VMA não se confunde com as
.:MERCADO RURAL “O NOSSO PÚBLICO ESTÁ PARA LÁ DOS 30 KM (DOS CENTROS URBANOS) E O NOSSO MAIOR GARGALO HOJE É A CONEXÃO.” Rossana Moura, do Ministério do Desenvolvimento Agrário serão definidos pelas empresas e aprovados pela Anatel. A tecnologia de prestação de serviço provavelmente será o satélite. “Vamos ter uma oferta sistematizada de serviço. Vamos criar prateleiras de serviço básico que atendam ao usuário residencial e a pequena e média empresa”, afirma Neto. Segundo a última pesquisa PNAD divulgada pelo IBGE, cerca de 50% dos entrevistados declararam ter telefone. O superintendente da Anatel acredita que esse índice relativamente alto é resultado do esforço das operadoras móveis em cobrir as rodovias, o que acaba também, em muitos casos, cobrindo parte da área rural. Além disso, muitos habi-
que bem menos de 50% da população rural tem telefone hoje. E, quando tem, às vezes tem que subir no morro para fazê-lo pegar”, afirma Neto. O levantamento Estatísticas do Meio Rural – 2010/2011, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), mostra que há uma grande disparidade de renda entre o meio urbano e o rural. A média brasileira de rendimento no campo é de R$ 380, enquanto que na área urbana é de R$ 833. O menor rendimento da área rural é na região Nordeste, com R$ 257, enquanto que a área urbana da mesma região tem um rendimento médio de R$ 556. Na
HOJE, OS CONSUMIDORES DE FORA DA ATB QUE DESEJAREM UM ACESSO TELEFÔNICO PRECISAM SOLICITAR UM “PROJETO ESPECIAL” ÀS OPERADORAS, QUE CALCULARÃO O CUSTO PARA LEVAR O SERVIÇO ÀQUELE CLIENTE ESPECÍFICO. tantes das zonas rurais têm telefones celulares para usarem quando se deslocam às áreas urbanas dos municípios, o que distorce a estatística real de cobertura. Assim, a Anatel ampliou para 500 metros a zona ao redor dos conglomerados urbanos considerada Área de Tarifação Básica, o que contribuiu para que alguns domicílios da área rural fossem abarcados pela telefonia fixa. O fato é que a área rural não conta ainda com uma oferta estruturada de serviços de telecomunicações e, para o superintendente da Anatel, o dado apurado pelo IBGE não mostra o índice real de penetração do serviço telefônico nos domicílios rurais. “Entendemos
“O MERCADO RURAL NINGUÉM CONHECE DIREITO. O QUE NÓS SABEMOS É QUE O HOMEM DO CAMPO TENDE A TER UMA PERCEPÇÃO DE VALOR MAIOR QUE O DA CIDADE SOBRE OS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES.” Gonçalves Neto, da Anatel 34 TELETIME MAR_2012
outra ponta, está a Região Sul, onde a média de rendimento no campo é de R$ 591 e na área urbana, de R$ 963. Os dados do levantamento mostram que aproximadamente 22,5% dos domicílios da área rural têm renda superior a três salários mínimos, o que os colocaria, em tese, em condições de consumirem serviços de telecomunicações. Se forem considerados os domicílios com renda entre dois e três salários mínimos, esse percentual sobe para 40,5%. Se o assunto é a necessidade de subsídio para levar o serviço às famílias de baixa renda, é inevitável não falar do Fust. O fundo foi criado justamente para universalizar o serviço telefônico, mas o governo não dá nenhum sinal de que seus recursos serão liberados para ajudar a levar o serviço para a área rural. “O Fust foi criado para acelerar projetos, mas infelizmente ainda não foi usado. Agora nós temos ferramentas (a licitação do 450 MHz) para avançar com o atendimento rural”, afirma FOTOS: DIVULGAÇÃO
demais tarifas de interconexão, que continuam sendo cobradas entre as prestadoras normalmente. Além disso, a Anatel permite que o vencedor da faixa de 450 MHz preste também serviço de banda larga, como forma de viabilizar o negócio. Segundo o conselheiro da Anatel Jarbas Valente a estimativa da agência é de que a VMA fique em torno de R$ 0,20 a R$ 0,30 por minuto de ligação. “Queremos que esse regulamento estimule a implantação dos serviços rurais e a oferta de infraestrutura para isso”, diz ele. A rigor, a oferta de serviços rurais deveria ser custeada pelo Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), mas como isso depende de liberação por parte do Executivo (o que não tem acontecido nos últimos 12 anos), a Anatel optou pelo modelo daqueles países que não têm recursos públicos para a universalização rural. Para a Anatel, a licitação do 450 MHz e o regulamento do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) fora da ATB são importantes porque criam um arcabouço regulatório que exigirá das concessionárias que disponham de planos de serviço telefônico “de prateleira” em todo o Brasil. Hoje, os consumidores de fora da ATB que desejarem um acesso telefônico precisam solicitar um “projeto especial” às operadoras, que calcularão o custo para levar o serviço àquele cliente específico. De acordo com o regulamento, as empresas deverão oferecer duas modalidades de serviço (pré e pós-paga) em toda a área de abrangência do 450 MHz. No caso do serviço pré-pago, ele será 20% mais caro do que o preço por minuto do serviço básico da área urbana, mais a VMA. O pós terá o mesmo preço por minuto do plano básico da área urbana mais o VMA e terá uma franquia mínima de 100 minutos. Mesmo nas regiões onde o 450 MHz não chegará, a Anatel também exigirá das empresas que tenham um plano de serviço telefônico “de prateleira”. Nesse caso, a diferença dos planos oferecidos na área de cobertura José do 450 MHz é que eles
Campo carente O MDA tem um projeto que permite conhecer bem a realidade daqueles que estão na categoria dos que não poderiam pagar pelo acesso telefônico prestado com a faixa de 450 MHz. Por meio do projeto Territórios Digitais, que atua nos municípios de menor IDH do Brasil, o MDA tem implantada 130 Casas Digitais. As Casas Digitais não são apenas pontos de acesso à Internet, mas também de capacitação profissional do homem do campo. O problema, como descreve a coordenadora do projeto, Rossana Moura, é que a conexão por satélite não permite o tráfego de vídeo, por exemplo. As conexões do Gesac são de 1 Mbps ou 512 kbps, mas como o link não é dedicado, a velocidade que chega em cada ponto não é a velocidade nominal. O MDA contribuiu na consulta pública do 450 MHz justamente para que as Casas Digitais dentro da abrangência dos 30 km também recebam a conexão de banda larga, assim como as escolas. Rossana explica, entretanto, que boa parte das 130 Casas Digitais em funcionamento estão além da abrangência de 30 km. “O nosso público está para lá dos 30 km e o nosso maior gargalo hoje é a conexão”, diz ela. O distanciamento geográfico e a baixa renda são as principais dificuldades para levar a banda larga a localidades como assentamentos, agricultores familiares, quilombolas e comunidades indígenas. Rossana acredita que o atendimento dessa população só se viabiliza com subsídio público, já que mesmo nas áreas urbanas próximas a população tem dificuldade em pagar pelo acesso. Há, contu-
Brasil Rural 30 milhões de pessoas; 8,4 milhões de domicílios; 79.025 escolas públicas rurais; 14.284 postos de saúde na área rural;
8.923 projetos de assentamento na área rural;
4.366 aldeias indígenas. Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário.
do, uma parcela significativa de cooperativas e sindicatos rurais que ficariam de fora do raio de 30 km, mas poderiam pagar pela conexão. Nesse caso, as prefeituras teriam uma papel importante, na visão da coordenadora, porque poderiam negociar com as teles para levarem o sinal até esses pontos. O MDA participou do edital do Ministério das Comunicações em 2010 para novos pontos do Gesac. Estados e prefeituras encaminharam mais 2.017 endereços para receberem o projeto, sendo que 1.007 estão no estado do Amazonas. De acordo com Rossana Moura, os novos pontos já estão sendo entregues. Campo rico A Anatel reconhece que também não tem estudos sobre o potencial do mercado
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Neto, da Anatel. O problema é que, na outra ponta, o Fust continua sendo cobrado sem ser utilizado. Segundo estimativas da agência, o atendimento rural com a faixa de 450 MHz (em que as empresas se comprometem a atender os consumidores em um raio de 30 km da borda da sede municipal) chegará a 80% dos cerca de oito milhões dos domicílios rurais. Em relação às escolas rurais, estimativa do MDA é de que 82% das escolas sejam atendidas, nesse caso com telefonia e banda larga, como determina as regras da licitação do 450 MHz.
empresarial no campo. Considerando a pujança do agronegócio brasileiro, não é difícil imaginar que há muita oportunidade nessa área. A companhia gaúcha Br.Digital tem tido sucesso no atendimento de grandes produtoras agrícolas. A companhia tem um backbone que sai de Brasília e passa por Posse (GO), Luis Eduardo Magalhães (BA) e Barreiras (BA) e depois segue por municípios do Piauí e Maranhão. Essa infraestrutura já está operando há cerca de dois anos e foi construída exclusivamente para atendimento das indústrias agrícolas. Ainda para o primeiro semestre, está prevista a conclusão de outro backbone, que vai atender ao mercado agrícola da região Centro-Oeste. A rede começará em Goiânia e passará por Jataí, Rio Verde e Quirinópolis, no estado de Goiás. Para o segundo semestre, está previsto um backbone para o mercado do Mato Grosso, que passará por Lucas do Rio Verde, Sinop e Sorriso. De acordo com José Paulo Linné, diretor de negócios de todo o grupo Compuline, do qual faz parte da BR.Digital, telecomunicações no agronegócio é um produto caro, o que afasta a entrada das teles, que estão mais dedicadas ao atendimento do cliente residencial e urbano. “Existe mercado, mas é muito caro. Em Cuiabá, por exemplo, não existe uma empresa que faça o que nós fazemos”, afirme ele. Segundo Linné, o que permite que a Br.Digital atue nesse mercado é que dentro do grupo existe uma empresa que fabrica torres para telecomunicações. Por isso, o custo com esse insumo é pequeno. Sobre a licitação da faixa de 450 MHz, o executivo explica que a faixa não dá conta da necessidade dos clientes do agronegócio e, por isso, não tem interesse em entrar na disputa. Se a faixa de 450 MHz não é ideal para atender o agronegócio, espera-se que a sua licitação possa ao menos levar telefonia aos clientes residenciais do campo, o que não seria pouca coisa.
“EXISTE MERCADO RURAL, MAS É MUITO CARO. EM CUIABÁ, POR EXEMPLO, NÃO EXISTE UMA EMPRESA QUE FAÇA O QUE NÓS FAZEMOS.” José Paulo Linné, da Br.Digital MAR_2012 TELETIME 35
Eduardo Araujo*
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Por um futuro industrial competitivo e sustentável
O
Brasil se encontra em um momento muito especial no qual tecnologias inovadoras e convergentes estão moldando de forma muito profunda a maneira como vivemos. E no centro desse processo se encontram tecnologias de comunicação cada vez mais rápidas e abrangentes que permitem às pessoas interagir com o mundo inteiro, a qualquer hora, de qualquer lugar e com qualquer dispositivo. Devido à magnitude estratégica que o setor de telecomunicações tem é que a Nokia Siemens Networks tem assumido posicionamentos que buscam sempre identificar-se com os melhores interesses de nossos clientes – as operadoras – e da sociedade brasileira como um todo. A nosso ver, neste momento, torna-se crucial que desenvolvamos no Brasil uma política industrial moderna, competitiva e inovadora para o setor de telecomunicações, que crie ecossistemas de negócios inteligentes e sustentáveis, gere um mercado competitivo e equilibrado, possibilite exportações, com previsibilidade de demanda e com condições justas e razoáveis para benefício de todos. Nosso País, que tem feito progressos econômicos e sociais notáveis na última década, tem muito a contribuir e a tirar proveito deste novo cenário. Mas para permitir que as comunicações móveis continuem sendo um grande alavancador de outras indústrias, de negócios e que aproxime pessoas, talentos e ideias, é essencial uma política industrial que fomente, da forma mais eficaz possível, um mercado competitivo. Este conjunto de medidas deve estar baseado em pilares sólidos e estar o máximo possível sintonizado com práticas e inovações globais, pois nesta era na qual as fronteiras entre as pessoas se tornam cada vez mais tênues, não faz sentido desperdiçar recursos na recriação de tecnologias, principalmente aquelas objeto de padronização internacional. Vale, aqui, desenvolver espaços colaborativos de pesquisa, desenvolvimento e
inovação (PDI), nos quais o talento e as virtudes dos brasileiros possam fazer a diferença em um mundo cada vez mais conectado e competitivo. Se a colaboração em PDI nos grandes centros de padronização é hoje parte indissociável do negócio das comunicações globais, assegurando economias de escala e preços baixos ao consumidor, este também é o espaço colaborativo onde empresas brasileiras podem ter acesso ao reconhecimento e consideração de seus esforços, tornando seus produtos internacionalmente compatíveis e comercializáveis. Quanto às questões de manufatura local, a Nokia Siemens Networks apoia os esforços que se fazem no País em favor da retomada de sua industrialização. Neste contexto, entendemos que um
que se assegure à indústria um tempo adequado para que ela possa fazer os aportes. dos pontos-chave dessa política, que se inicia por meio da Consulta Pública 04/2012 da Anatel, é que se assegure à indústria um tempo adequado - 12 meses -, para que ela possa fazer os investimentos correspondentes. Tal prazo não apenas garantiria maior competição e escala de produção, mas também maximizaria a atração de investimentos destinados à criação de conteúdo local. Do contrário, a proposta atual apenas estimularia uma reserva de mercado, algo que historicamente não tem servido aos interesses da sociedade brasileira. Ainda neste cenário, sugerimos que a proposta atual da Anatel, que preconiza uma reserva de mercado com alto teor de produção e desenvolvimento realizado no Brasil, seja utilizada apenas como fator de estímulo inicial para a retomada local das atividades industriais. Tal política deve ser paulatinamente substituída por mecanismos mais amplos de fomento, de forma que a indústria, manufaturando e desenvolvendo no País, o faça 36 Teletime mar_2012
em bases competitivas e sustentáveis, capazes de enfrentar a concorrência internacional, das quais as telecomunicações indissociavelmente fazem parte. Referente ao conjunto de estímulos econômicos, acreditamos que os agentes públicos possam contribuir decisivamente para o desenvolvimento de um mercado brasileiro ainda mais competitivo, saudável e sustentável, com a diminuição dos tributos na cadeia de valor, redução dos custos trabalhistas e logísticos de todas as operações manufatureiras e de PDI e redução dos custos de capital, entre outros. Também é imperativa a necessidade de se criar melhores condições para as exportações, ampliando os mercados atendidos, reduzindo custos através do aumento da escala e reduzindo as volatilidades do mercado interno. Um planejamento mais eficaz permitiria uma previsibilidade de demanda que sustentaria investimentos de longo prazo. Finalmente, uma maior integração entre a indústria e os centros de pesquisa deve ser fomentada, no âmbito de projetos de interesse local, mas que ao mesmo tempo também possam ser exportados ao mercado global. A sociedade brasileira deseja e merece ter comunicações móveis de alta qualidade, rápidas, confiáveis e a preços razoáveis. A nosso ver, somente uma política industrial moderna, clara, abrangente e competitiva trará estes benefícios de forma duradoura aos cidadãos. A Nokia Siemens Networks, dando continuidade à rica história de seus acionistas, secularmente presentes na construção da infraestrutura brasileira, reitera sua disposição de continuar exercendo esse papel, através de um marco regulatório bem fundamentado e equilibrado que forje um mercado verdadeira mente competitivo. *Diretor para América Latina da Nokia Siemens Networks, responsável por todas as operações da empresa na região.
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Jacques Benain *
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Desafios da política industrial
O
fraco desempenho da indústria brasileira tem estado na pauta dos jornais já há alguns anos. O tema ganhou maior ênfase com o anúncio recente de que o fraco crescimento do PIB brasileiro em 2011 teve como principal causa a estagnação da indústria, que cresceu apenas 0,1%. Neste cenário, acentuam-se as discussões sobre a necessidade de criação de uma política industrial mais efetiva no País. Em meados de 2011 já havia sido anunciado pelo governo federal o plano Brasil Maior, que incluiu uma série de medidas divulgadas nos meses seguintes. Algumas delas foram aplaudidas pelos diversos grupos produtores como, por exemplo, as medidas que visam desonerar a folha de pagamentos. Outras medidas, contudo, já provocam discordância. Entre elas estão aquelas que visam criar algum tipo de incentivo específico para bens desenvolvidos e/ou produzidos no País. Claramente, uma política que discrimina bens que tiveram partes da sua agregação de valor realizada no País vai deixar descontentes aqueles que estão envolvidos na cadeia de valor dos bens não beneficiados. De outro lado, criar estímulos para que essa agregação de valor aconteça efetivamente por aqui é exatamente o objetivo da política. Um movimento do governo que tem provocado muitas críticas foi a inclusão das exigências de compra de produtos nacionais no edital de licitação das fre quên cias a serem usadas pelas redes móveis de quarta geração. O texto proposto para o edital incluiu a exigência de que 50% dos investimentos feitos pelas operadoras para atendê-lo sejam feitos em produtos fabricados no País. Adicionalmente, é exigido que um percentual dos investimentos, que parte de 10% e chega em 20% em 2017, seja feito em produtos desenvolvidos no Brasil de acordo com a Portaria 950 do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Os descontentes atacam essa medida,
rotulando-a como uma “reserva de mercado”, e dando a esse termo uma conotação nefasta associada aos insucessos das medidas adotadas nesse sentido na década de 70. O argumento permanece nesse nível de superficialidade, sem levar em consideração que a maioria dos casos de sucesso de países que atingiram um grau elevado de desenvolvimento tecnológico envolveu algum tipo de reserva de mercado. Muito menos se discute os motivos que tornaram as medidas do passado não efetivas. Um objetivo legítimo aqui para uma política industrial é promover o surgimento e crescimento das atividades ligadas à concepção e produção de bens no País até que os produtos resultantes dessas atividades possam se tornar competitivos internacionalmente. Para promover o surgimento de tais atividades, diversas medidas podem se justificar se aplicadas transitoriamente. Entre elas está a referida reserva de mercado. O
a maioria dos casos de sucesso de países que atingiram um grau elevado de desenvolvimento tecnológico envolveu algum tipo de reserva de mercado. desafio maior da política está justamente na criação de um ambiente que permita e estimule que as atividades de desenvolvimento e produção prosperem e gerem, de maneira sustentável, bens competitivos no cenário internacional. Isso, por sua vez, permitirá que as medidas inicialmente adotadas sejam realmente transitórias. Atualmente, existem ao menos dois aspectos desse cenário que afetam a indústria como um todo e que não têm recebido ações capazes de alterá-los significativamente. O primeiro aspecto é a valorização da moeda nacional. Na última década vimos um significativo aumento do valor mar_2012 Teletime 37
do real em relação às moedas estrangeiras puxado, em grande parte, pelo aumento da demanda e dos preços das poucas commodities agropecuárias e de mineração nas quais se concentra a pauta de exportações brasileira. É sabido que intervenções muito contundentes e perenes no câmbio podem gerar desequilíbrios econômicos e isso deve ser ponderado. Ao mesmo tempo, uma moeda muito apreciada por um cenário como esse pode inviabilizar toda a atividade industrial no País que não esteja relacionada a essas commodities. O outro aspecto é a estrutura de tributos e encargos trabalhistas do Brasil. Tal estrutura é perversa não só no valor dos tributos e encargos pagos como também na sua complexidade. A profusão de leis e regulamentos tributários existentes no Brasil agrega custos e diminui a competitividade da indústria de diversas formas. A quantidade de horas de profissionais gastas na interpretação e recolhimento destes tributos, assim como o trabalho de adequar sistemas corporativos para acompanhar as mudanças da regulamentação, representam uma face dessa moeda. Do outro lado está o custo com autuações e processos judiciais frutos de divergências na interpretação de leis que, de tão complexas, acabam dando margem a essas disputas. Não deixa de chamar a atenção o fato de que o governo, como medida de incentivo à produção, frequentemente edita medidas para aliviar a carga tributária de determinados setores, gerando muitas vezes ações que aumentam a complexidade das leis e agravam o quadro. Se essas e outras barreiras existentes não forem atacadas de maneira efetiva, as demais ações que compõe a política industrial podem se tornar inócuas, na medida em que não geram produtos capazes de competir no cenário mundial. Nesse quadro, as tão polêmicas reservas de mercado podem realmente vir a se tornar sacrifícios desnecessários. *Presidente da Trópico
Cláudio Dascal
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m-Health: potencial inexplorado Christos Georghiou/shutterstock
O
celular é companheiro. Está conosco em todas as horas e pode até ajudar a combater a depressão em pessoas mais solitárias. Com uma densidade maior que 100% em grande parte do mundo, podemos associar a cada pessoa um ou mais celulares e aproveitar este fato no tratamento da saúde. É um desafio interessante, assim como o uso de celulares como acompanhante de pessoas da melhor idade. No Mobile World Congress (MWC), que aconteceu em fevereiro em Barcelona, mais uma vez chamou atenção a quantidade de sessões temáticas para debater aplicações móveis, tais quais a casa conectada, publicidade pelo celular, o uso do celular como meio de pagamentos e, mais do que tudo, na saúde. Também impactante foi encontrar em pleno pavilhão central da exposição um imenso estande da austríaca Emporia. O espaço tinha apenas alguns telefones celulares com teclas maiores para pessoas da melhor idade, chamando pelo vazio a atenção para este segmento, embora não fosse a única empresa dedicada a este mercado no evento. A utilização de celulares na saúde, o Mobile Health, tem várias vertentes: nos hospitais, na monitoração de pacientes, como ferramenta auxiliar de home care para assegurar a administração correta de remédios e ainda como forma de reduzir o custo do seguro saúde. Cada uma destas vertentes tem uma infinidade de aplicações e oportunidades, ainda em fase apenas embrionária de desenvolvimento, quer por questões de falta de padronização baseadas em uma plataforma aberta que impulsione o desenvolvimento de aplicações de m-Health, quer pela inexistência de modelos de negócio que remunerem toda a cadeia envolvida. Vemos muito esforço para a padronização das interfaces em outras aplicações verticais como de casa conectada, cuja utilidade carece ainda de uma melhor identificação da demanda, e pouco se tem feito na questão de saúde, que tem maior alcance social e econômico, afetando sistemas públicos e privados de saúde. A área ganha ainda mais importância quando se consideram serviços de home
economia que pode ser alcançada pelos governos com a utilização de celulares em prevenção de saúde pode atingir a casa do trilhão de dólares. care e a elevação da média de idade da população, fruto da melhor qualidade de vida, sem o correspondente aumento de contribuição por tempo de trabalho aos sistemas públicos ou privados de seguro saúde. A situação já está bem caracterizada na Europa, onde uma população saudável já está aposentada e, na sua maioria, vive isoladamente. É a terceira idade, ou melhor idade, com algumas doenças crônicas mas com mobilidade e lucidez, e é um mercado importante a ser explorado pela tecnologia móvel. Este grupo apresenta um índice considerável de depressão, causada principalmente pela solidão e pelo alcoolismo, e são geradores de custo para os sistemas de
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saúde e companhias de seguro. Empresas focadas neste segmento começam a desenhar soluções que vão desde telefones celulares de fácil manejo a sistemas que ajudam a monitorar a correta administração de remédios. Esses aparelhos diminuem a sensação de isolamento dessas pessoas ao permitirem a fácil comunicação com amigos, familiares e agentes de saúde que acompanham seu estado clínico. O potencial de economia que pode ser alcançado pelos governos com a utilização de celulares em prevenção de saúde pode atingir a casa do trilhão de dólares, segundo estudo apresentado durante painel sobre o tema no MWC. Mas ainda faltam parâmetros de mensuração. Na Europa, por exemplo, o grande responsável pela assistência médica ainda é o Estado e não existem critérios para que se estabeleça a justa remuneração de serviços de m-Health em função da economia de uso da rede pública de saúde decorrente. Para vencer as barreiras desse potencial inexplorado, além da criação de padrões para interfaces em diferentes níveis, é preciso criar modelos de negócio que remunerem toda a cadeia envolvida e uma mudança de paradigma em que a indústria farmacêutica esteja focada na cura e não na doença que gera a venda de medicamentos. Como em todos os segmentos verticais, fica a discussão de qual o papel dos diferentes players e das companhias telefônicas, como enablers deste mercado. E como esses players procuram se posicionar também como prestadores de serviço, buscando um aumento na sua receita. Porém, players mais tradicionais não querem abrir de sua fatia no bolo e esta discussão faz com que uma adoção massiva de m-Health fique a alguma distância no tempo. A atenção que o G-20 está dando ao tema da saúde pode significar uma mudança de atitude dos agentes do setor. Gerando uma maior consciência dos governos do impacto positivo que o uso das telecomunicações e dos celulares no tratamento preventivo da saúde pode ter nas finanças pública e, como consequência, acelerando a sua utilização na saúde.
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