Revista Teletime - 166 - Junho de 2013

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Entrevista Globo avalia marco regulatório da Internet, neutralidade de rede, switch-off e a entrada das teles nos 700 MHz

Ano 16 • Junho 2013 • #166 www.teletime.com.br

Eventos Setor volta a reclamar de multas, impostos e amarras regulatórias no 57º Painel Telebrasil, mas governo oferece benefícios Regulamentação Paulo Bernardo enxerga avanço dos over-the-top no mercado, mas acredita em mudanças no modelo de remuneração

Oi contrata toda a capacidade do novo satélite SES-6 e entra com tudo na briga pelo mercado de TV paga

Jornada nas estrelas



editorial

Alvo de todos

O

Google é a maior empresa de mídia do mundo, quando computado apenas o faturamento de publicidade. O Google é a segunda maior empresa de mídia no Brasil. O Google é a grande preocupação da Globo do ponto de vista estratégico/regulatório (ver entrevista nesta edição). O Google é criticado pelas teles quando o debate são as posições do Marco Civil da Internet. O Google tornou-se objeto de declarações recorrentes do ministro Paulo Bernardo (ver reportagem nesta edição) em relação às preocupações com privacidade, questões tributárias, neutralidade de rede etc. O Google, enfim, virou a grande ameaça para aqueles que, até recentemente, estavam confortáveis em seus cantos, brigando entre si, mas alheios ao crescimento de um movimento muito mais relevante, uma nova Não existem distribuição no jogo de mocinhos nem forças do mercado de bandidos comunicação. em disputas O Google, de fato, é econômicas. muito grande e muito O que existem relevante. Para começar, são interesses. ele desenvolveu e distribuiu de graça o sistema operacional que hoje é dominante em plataformas de smartphones e em pouco tempo dominará o mercado de tablets, segundo todas as projeções. A Microsoft conseguiu fazer o mesmo no mercado de PCs nos anos 80/90 e até hoje é uma das maiores empresas de software do mundo. O espaço que o Google está ocupando com o Android é o movimento tático mais importante da última década no mercado de empresas de software. Mas o Google foi além: deu às pessoas serviços, de graça. Serviços de e-mail, vídeos, compartilhamento de arquivos e fotos, agenda, calendário, localização, mapas, recomendação, redes sociais e, sobretudo, busca. Tudo isso sem cobrar nada (ou muito pouco). Tudo isso para poder montar uma base de dados que faz o programa Prism do governo norte-americano parecer uma agenda eletrônica. O que o Google tem é a mais

poderosa ferramenta de publicidade personalizável jamais criada. Algo que mudou e mudará a indústria de mídia por décadas. Para as teles ficou a lição da inovação. Em uma década e meia de existência, o Google (e outras empresas de Internet, para ser justo) tirou delas a prerrogativa da oferta dos serviços finais ao usuário. Elas viraram canos. As preocupações com questões tributárias, de privacidade e com o próprio estrago que o Google está fazendo à ordem econômica até aqui estabelecida são legítimas e precisam ser discutidas e avaliadas. Mas é óbvio que essa onda também é uma reação de desconforto econômico e, em muitos casos, de reserva de mercado. É natural que seja assim e brigar faz parte do jogo. O tamanho que o Google ocupou na nossa sociedade assusta. O que não se pode é perder de vista o que o Google trouxe de positivo para a vida das pessoas. Bilhões de pessoas que usam o YouTube diariamente o fazem porque o serviço é bom. Usam celulares com Android porque eles são eficientes. Usam os recursos de produtividade porque eles ajudam. Usam a ferramenta de busca porque isso faz uma diferença monumental na facilidade de acesso à informação e difusão de ideias. Não existem mocinhos nem bandidos em disputas econômicas. O que existem são interesses. Mas existem também as boas ideias, e quem as tem primeiro, domina o jogo. samuca@convergecom.com.br

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Ano 16 • junho2013 www.teletime.com.br

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Capa

Dominando o espaço Oi aposta alto e contrata toda a capacidade do recém-lançado satélite SES-6 para reforçar estratégia em DTH no mercado de TV paga com ofertas mais robustas do que os concorrentes Sky e Claro TV.

Eventos

Queda de braço Painel Telebrasil volta a mostrar um setor de telecomunicações descontente com impostos, multas e amarras regulatórias. Governo promete ajudar com desonerações e mais espectro, mas cobra o preço de mais obrigações.

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Serviços Móveis

Terceirizar é preciso Seguindo a tendência de outsourcing do setor de TI, desenvolvedores começam a testar ferramentas que colocam os aplicativos como serviço (AaaS, na sigla em inglês). E até mesmo usuários leigos podem apostar nesse negócio.

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Regulamentação

Guerra de titãs Ministro das Comunicações Paulo Bernardo avalia o avanço das empresas over-the-top (OTT) contra as companhias de telecom no Brasil, mas avisa: modelos de negócios vão procurar se adaptar para que alguém pague a conta.

Editorial 3 News 6 Bits 26 Ponto de vista 39 Produtos e Serviços 40 Contraponto 42 4 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

36 ilustração de capa: divulgação.

Limpando o caminho Mudança de regras para o Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) extingue a necessidade de provedor de conexão, simplifica outorgas e dá um passo importante à modernização do arcabouço regulatório da Anatel.


Editor Samuel Possebon Editora Adjunta e Editora de Projetos Especiais Letícia Cordeiro Editor de Mobilidade Fernando Paiva (Rio de Janeiro) Redação Bruno do Amaral, Marina Tsutsumi e Helton Posseti (Brasília) Consultor Especial Cláudio Dascal Arte Edmur Cason (Direção de Arte); Rubens Jardim (Produção Gráfica); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica); Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora)

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Departamento Comercial Cibele Tommasini (Gerente Negócios) Ivaneti Longo (Assistente)

Entrevista

Jogo aberto Vice-presidente de relações institucionais das Organizações Globo, Paulo Tonet Camargo, explica a posição da companhia em temas polêmicos como neutralidade de rede, switch-off da TV analógica e marco regulatório.

Inscrições e Assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente) Circulação Patricia Brandão (Gerente) Presidente Rubens Glasberg Diretores Editoriais André Mermelstein Claudiney Santos Samuel Possebon (Brasília) Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski

Marketing Gisella Gimenez (Gerente) Administração Vilma Pereira (Gerente) TELETIME é uma publicação mensal da Converge Comunicações. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem autorização da Glasberg A.C.R. S/A. Jornalista responsável: Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão: Ipsis Gráfica e Editora S.A.

fale com a gente

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Infraestrutura

Pera, espera Programa de Enterramento da Rede Aérea aguarda definição de viabilidade técnica e econômica na Prefeitura de São Paulo há anos. Operadoras e incumbents do setor elétrico até são simpáticas à ideia, mas a rede na capital paulista ainda oferece muitos desafios.

errata TELETIME publicou na edição 164, na matéria “Pirataria de SMS” (pág.9), que a empresa Vexx Mobile havia se sentido “atingida” pela campanha contra o SMS pirata. A empresa afirma que, na verdade, a carta aberta no site da companhia foi colocada justamente para tratar da questão. O texto da empresa “só visa esclarecer o que realmente acontece nesse mercado, para (que) as pessoas tenham acesso a essa informação de uma forma clara e imparcial”. Na mesma matéria, a foto do diretor da Vexx, Homero Romão, foi publicada erroneamente como sendo de Michele Bader, da TWW (pág.8).

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Da redação do Teletime News www.teletime.com.br

Até o final do ano, a 4G Americas espera que o Brasil tenha 900 mil conexões LTE. É uma base bem mais modesta do que os 4 milhões previstos pela Anatel. * Segundo a agência, o País registrava quase 50 mil acessos 4G (considerando handsets e modems) em abril.

cobertura

Brian Roberts, presidente da Comcast, fala durante a Cable 2013.

Cabo vs. fibra

Europa: igual aos EUA

It’s all about bits

Os operadores de TV a cabo dos EUA estão convencidos do potencial de redes HFC para atender às demandas por velocidades na casa dos gigabits com o DOCSIS 3.1, que deve ter sua padronização no final deste ano, com lançamento comercial em 2015. A expectativa é que redes antigas, com largura de banda de 500 MHz, consigam entregar velocidades de 5 Gbps com o novo padrão. A transição não é simples porque o DOCSIS 3.1 precisa de uma grande quantidade de espectro. A performance ideal é com pelo menos 200 MHz reservados para o retorno. Mas, uma vez refeita essa engenharia de espectro, o ganho é de 35% em relação ao que se conseguiria com a modulação QAM (no caso do DOCSIS 3.1, a modulação é a OFDM, similar à que se usa nas redes móveis 4G).

Operadores de cabo europeus e norteamericanos têm algumas similaridades, mas também muitas diferenças. A maior semelhança é o tamanho: o setor de cabo na Europa tem cerca de 60 milhões de assinantes e o mercado norte-americano, cerca de 64 milhões. Mas a receita média por assinante na Europa está na casa dos US$ 24, enquanto nos EUA está na casa dos US$ 80, deixando a receita do setor americano quatro vezes maior. Por outro lado, a penetração é mais baixa e a programação é menos cara no mercado europeu. Operadores americanos e europeus apontam a relevância dessas redes em promover a competição no mercado, mas se queixam que raramente o cabo é contemplado em programas públicos de universalização da banda larga. Para Matthias Kurth, chairman da associação europeia Cable Europe, já está claro para os reguladores europeus que a banda larga é mais barata e mais rápida quando existe uma oferta de cabo competitiva.

A pauta dos principais executivos de tecnologia das operadoras de cabo dos EUA tem três itens principais: Wi-Fi, à ampliação da capacidade do acesso banda larga e melhoria das interfaces dos usuários. Ampliar acesso Wi-Fi com padrões que permitem maiores velocidades é hoje um desafio crítico. A Comcast vai usar a sua própria base de clientes, fazendo com que cada ponto doméstico se torne um hotspot público, sem prejudicar o serviço individual do cliente. Para a Time Warner Cable, a estratégia de Wi-Fi vem combinada com a ampliação da capacidade das redes banda larga, por isso é importante pensar em dispositivos preparados para essa realidade. Outro ponto importante é o aprimoramento das interfaces de usuário e a possibilidade de desenvolvimento de aplicativos que rodem nos set-tops e que possam fazer frente à tendência de set-tops e TVs conectadas. Operadores estão apostando em sistemas de software abertos para o rápido desenvolvimento de apps por vários vendors.

fotos: DIVULGAÇÃO

A adoção de TV everywhere nos EUA é de apenas 15% entre os que têm o serviço disponível, segundo a Parks Associates. Apenas 26% dos usuários sabem que têm a possibilidade de uso.

No começo de junho foi realizada em Washington, EUA, a Cable 2013, principal evento de TV por assinatura do mundo. Veja os destaques da cobertura realizada por TELETIME News.

Bava assume a tele brasileira em meio a rumores de mais mudanças.

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carreira

Mudanças na Oi Zeinal Bava, que presidia a Portugal Telecom (controladora da Oi), é o novo presidente da tele brasileira. Na esteira da indicação, uma série de executivos deixou a Oi, mas as mudanças ainda seriam uma consequência tardia da saída do ex-presidente Francisco Valim e de um processo de avaliação sobre as perspectivas e desafios da empresa. A mudança mais importante foi a saída de João de Deus Pinheiro de Macedo, que comandava a área institucional, regulatória

e estratégica da empresa. Pelo tempo de casa e pelas funções, era quem tinha a memória da Oi na cabeça. Será substituído por Carlos Aragão, que era diretor de relações institucionais. André Borges, diretor regulatório, será substituído por Carlos Eduardo Monteiro, que cuidava da estratégia do 4G. Saem também Julio Fonseca, diretor de gestão; e Pedro Ripper, diretor de inovação e planejamento. Especula-se sobre mais mudanças, mas segundo fontes da companhia, seria algo natural com a chegada de um novo presidente e um novo arranjo entre acionistas com o eventual processo de reestruturação da Oi.


Furukawa. Tecnologia que faz a diferença para

05/2013

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O jogo do satélite Oi contrata toda a capacidade do novo satélite SES-6 para o Brasil e promete uma mudança importante em sua estratégia de TV paga. Vantagem é ter uma capacidade que, hoje, ninguém mais tem. Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

P

ode-se falar o que for da convergência de redes, das tecnologias de transmissão de banda larga por meio de redes de fibra ótica ou cabos coaxiais. Mas o que tem prevalecido no Brasil quando o assunto é TV por assinatura é o bom e velho DTH. E no universo da TV paga via satélite, o elemento essencial é o satélite. O momento é de definições importantes nesse cenário. O primeiro passo foi dado pela Oi TV, braço de TV por assinatura da Oi. A empresa anunciou no começo de junho uma mudança importante em sua estratégia: a contratação de um satélite quase inteiramente próprio junto à SES, uma das maiores operadoras de satélite do mundo, pelos próximos 15 anos. É uma mudança e tanto nos planos da Oi. Até aqui, a operadora vinha confiando a infraestrutura de seu serviço à Media Networks, empresa do grupo Telefônica que opera a plataforma de DTH para diversas empresas, entre elas, no Brasil, a Vivo TV, a Oi TV e a CTBC TV (Algar Telecom). Com um novo satélite, a Oi prepara uma transição (lenta, mas irreversível) para uma nova plataforma. O elemento motivador desse movimento foi a necessidade de mudar a tática de conquista de mercado. Para crescer e disputar mercado com Sky e Claro TV (as concorrentes diretas no mercado de TV paga via satélite), a Oi TV precisava se diferenciar, e a chave para isso é aumentar significativamente a quantidade de canais, sobretudo canais em alta definição, e mudar o empacotamento, com novas opções, mais conteúdo sob demanda. “Estamos fazendo essa transição porque precisamos de mais canais, mais conteúdos, porque temos uma série de obrigações do SeAC a cumprir e porque o serviço de TV por assinatura é cada vez mais importante na nossa estratégia residencial”, diz Ariel Dascal, diretor da Oi TV. São 28 os transponders contratados no SES-6, satélite lançado com sucesso a partir do Cazaquistão no começo de junho e que nos próximos dois meses deve estar posicionado, testado e operacional. É o tempo que a Oi precisa para construir seu novo uplink center de Alvorada, 8 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

na Barra da Tijuca, zona sul do Rio de Janeiro, e que logo ganhará redundância de um novo uplink center, em Guaratiba, também no Rio. Com isso, a Oi deixa de depender exclusivamente das instalações da Media Networks no Peru. “Vamos conviver com as duas plataformas por muito tempo. O novo satélite será usado no upsell e nas novas vendas, para os clientes que entrarem na base a partir de agora e para aqueles que migrarem para pacotes mais altos”, explica Dascal. Não é uma operação simples ter dois satélites em posições diferentes, dois sistemas e dois centros de operação. O satélite atual usado pela Media Networks para os sinais da Oi é o Amazonas 2, da Hispamar (da qual a Oi é sócia com 19%). Ele fica na posição 61o W. O SES-6 ficará na posição 40,5o W, o que impede o uso das duas antenas para o mesmo satélite. Por isso, serão duas operações paralelas. Por outro lado, o novo satélite praticamente dobra a capacidade de canais que a Oi TV tem hoje. “No nosso roadmap estão mais canais HD, mais conteúdos em payper-view e on-demand, uma plataforma de DVR e posteriormente conteúdos over-the-top”, diz o executivo. Fontes de mercado dizem que a primeira estratégia da Oi será colocar uma grande quantidade de canais da TV Globo, de diferentes afiliadas e inclusive em HD, no line-up de seus serviços, o que nenhuma operadora de DTH hoje oferece de forma tão completa e abrangente. Negociação A negociação com a SES começou no início de 2012. Em princípio, era apenas uma negociação para venda de mais capacidade em um outro satélite da empresa, o SES-4. Quando soube que a SES teria um satélite com grande capacidade em banda Ku para o Brasil em 2013, a Oi abriu os olhos. A oportunidade casou com a estratégia da empresa de apostar no DTH para aumentar a fidelidade de seu cliente residencial. Desde então, a Oi foi a operadora que mais cresceu no mercado brasileiro e deve chegar ao final do ano com cerca de um milhão de assinantes. A negociação cresceu e acabou se tornando um dos maiores contratos individuais da SES. Comparável apenas ao acordo que a operadora tem nos EUA com a Dish, para


O SES-6 foi lançado no Cazaquistão no começo de junho e até agosto já deverá estar posicionado, testado e operacional.

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quem opera uma pequena frota de satélites. O acordo com a Oi praticamente dobra o peso que o Brasil tem nos negócios da SES no mundo e deve significar uma ampliação significativa da presença da empresa no país. A chave para que a SES conseguisse “vender” a oportunidade para a Oi foi uma certa flexibilidade na configuração do satélite. Inicialmente, a capacidade para o Brasil era menor, mas como o satélite ainda estava sendo fabricado, foi possível negociar com a Astrium (fabricante do satélite) a reconfiguração de alguns feixes originalmente desenhados para atender a região andina, o Cone Sul e a América do Norte. Com isso, toda a capacidade para o Brasil, e praticamente toda a capacidade em Ku do satélite, ficará com a Oi. No meio do caminho, Sky e GVT chegaram a manifestar junto a SES

O acordo com a Oi praticamente dobra o peso que o Brasil tem nos negócios da SES no mundo e deve significar uma ampliação significativa da presença da empresa no país.

interesse por adquirir capacidade satelital, mas o SES-6 já estava reservado para a Oi. A Oi, com isso, ganha uma vantagem competitiva importante, mas curta. Se conseguir colocar o satélite em operação no último trimestre do ano, a Oi terá praticamente nove meses com uma capacidade de canais sem precedentes no mercado de DTH. É sabido que todas as operadoras concorrentes estão no limite de sua capacidade, sobretudo em função das obrigações de carregamento do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) e do rápido crescimento da oferta de conteúdos em alta definição. Concorrentes A Sky, por exemplo, não tem conseguido viabilizar uma solução definitiva nem mesmo para canais de altíssima demanda, como o SporTV HD. Também tem alegado ao governo brasileiro que a falta de espaço no satélite é a razão para não conseguir cumprir algumas das cotas de empacotamento previstas na lei do SeAC. Da mesma forma, a GVT TV tem encontrado dificuldades de expandir sua base de canais HD, o que é um problema, já que o diferencial da empresa, depois

Desacelerando

O

decorrente do crescimento acelerado dos últimos dois anos e agora os planos de fidelização, que previam descontos, precisam ser renovados, o que não está acontecendo. Ainda assim, o mercado brasileiro de TV paga bateu a casa dos 17 milhões de assinantes em abril. Abaixo, o gráfico mostra a evolução da base do mercado brasileiro de TV paga, mês a mês, desde 2009.

12 10 8 6 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr

0

2

4

Milhões de assinantes

14

16

18

mercado de TV por assinatura brasileiro ainda cresce consideravelmente, mas está desacelerando. Taxas que há pouco mais de um ano batiam fácil a casa dos 30% estão próximas de 20%. Algumas explicações: 1) a economia brasileira desacelerou e, com ela, o consumo; 2) aumentou a inadimplência e, com isso, as operadoras passaram a ser mais cautelosas com suas ofertas; 3) há uma “ressaca”

2009

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2013


“O novo satélite será usado no upsell e nas novas vendas, para os clientes que entrarem na base a partir de agora e para aqueles que migrarem para pacotes mais altos.”

foto: DIVULGAÇÃO

acompanhado pela própria Oi, foi ter 100% de seus novos clientes em canais HD. A GVT teria um respiro este ano, mas os planos foram, literalmente, por água abaixo. Em janeiro, o satélite Intelsat 27, que substituiria os satélites Intelsat 805 e Galaxy 11 (ambos em 55o W) para aliviar a demanda da operadora, caiu no mar durante o lançamento. A GVT ainda não apresentou seu plano de contingência, mas crescem as apostas de que pode estar negociando com a Dish, operadora norte-americana que já deu todas as provas de que entrará no mercado brasileiro, só ainda não anunciou como. Sabe-se apenas que a Dish já reposicionou um satélite de grande capacidade (o Echostar XV) para a posição 45o W, adquirida em leilão da Anatel em 2011 pelo preço recorde de US$ 90 milhões. Para a GVT fechar um acordo operacional com a Dish, teria que rever a sua estratégia de apostar em uma plataforma híbrida de DTH com banda larga, já que o grupo Echostar (controlador da Dish) dificilmente abriria mão de sua própria tecnologia. Para a GVT TV, que já chega a 500 mil assinantes, isso seria um grande problema, mas menor do que ficar sem capacidade de satélite (seu satélite atual tem vida útil até meados de 2016). Mas a falha do Intelsat 27 não foi um problema só para a GVT. Também prejudicou os planos da Sky. Segundo fontes de mercado, um dos dois satélites que o Intelsat 27 substituiria (o Galaxy 11 ou o Intelsat 805) seria remanejado para atender a Sky até que ela tivesse um novo satélite específico. Hoje a Sky depende do lotado Intelsat 11. Sabese que há tempos a operadora busca viabilizar um novo satélite próprio. Mas mesmo sendo a principal empresa do grupo DirecTV fora dos EUA, a preferência por capacidade, até aqui, foi dada à Sky Panamericana, que opera nos demais países da América Latina. Após a falha do Intelsat, na conferência com investidores para os resultados de 2012, a DirecTV finalmente anunciou planos de colocar um satélite específico para atender ao Brasil, mas isso não deve acontecer até pelo menos 2016. Oficialmente, ainda não há notícias de um contrato acertado com a Intelsat. Mas a Sky já teria um novo artefato na mesma posição de seu satélite atual (trata-se do Intelsat 9), mas apenas com sinal de testes. Segundo apurou este noticiário, este satélite pode estar sendo reservado para dois usos: ou para o lançamento do serviço em HD da Sky no México ou para a transmissão da Copa do Mundo. Não deve servir, portanto, para dar mais capacidade para a Sky, pelo menos por enquanto. Já a Claro TV espera para ter o seu novo satélite, o StarOne C4, lançado no meio de 2014. Se tudo correr bem, ele estará em operação entre setembro e outubro do próximo ano. Será um satélite inteiro só para o DTH da

Ariel dascal, da Oi TV Embratel, o que ampliará significativamente a capacidade de operação da Claro TV. Mas até lá, a operadora terá que conviver com as limitações ao número de canais atual. O quarto grande player de DTH brasileiro é a Vivo TV (Telefônica), que depende da plataforma da Media Networks, e dificilmente vai mudar esse modelo. A Media Networks tem hoje um limite ao número de canais HD que consegue colocar e, por ser uma operação de distribuição de sinais compartilhada entre várias operadoras, não pode fazer movimentos pensando na estratégia de apenas um cliente. A Vivo TV dificilmente abriria mão de usar a plataforma da Media Networks, até pelo vínculo societário entre as duas empresas, ainda que conversas com a Dish, iniciadas e interrompidas em 2012, possam ter sido retomadas. A Vivo TV já relançou seu serviço de DTH no Estado de São Paulo. Com isso, a Oi TV terá, se aproveitar a capacidade extra que o SES-6 oferece, uma grande vantagem competitiva, pelo menos por algum tempo, em relação aos seus concorrentes diretos. O problema para a operadora não é mais satélite, mas a própria capacidade financeira da Oi de investir para crescer enquanto os concorrentes estão sem a mesma capacidade.

O satélite brasileiro

E

nquanto isso, segue afunilando o processo de escolha do fornecedor do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC), que será operado pela Telebras e pela Defesa brasileira e que deveria ser lançado em 2014, ainda que a data mais realista seja, agora, final de 2015. Três empresas superaram os requisitos mínimos de transferência de tecnologia exigidos pela Visiona (joint venture entre Embraer e Telebras que faz a integração do SGDC). Segundo apurou TELETIME, a companhia está negociando individualmente com a Mitsubishi Electric Corporation (Melco), Space Systems/ Loral, e Thales Alenia Space para que eles enviem até o final do mês de junho uma versão final da proposta, algo conhecido pela sigla em inglês BAFO (best and final offer). A Visiona deve levar mais aproximadamente 30 dias para analisar a proposta final, assim a expectativa é que o nome do vencedor seja divulgado no final de julho.

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Infraestrutura

fotos: divulgação

Centro de operações da AES Eletropaulo monitora rede subterrânea.

Embaixo da terra Prefeitura de São Paulo quer enterrar 41 mil km de rede aérea, mas falta de estudos de viabilidade já tornaram inócua a lei de 2005 que previa a iniciativa. Letícia Cordeiro

São Paulo para levar energia elétrica e serviços de telefonia fixa, banda larga e TV a cabo aos mais de 11 milhões de habitantes da capital paulista. A Telefônica/Vivo e a Net administração do prefeito de São Paulo, Fernando Serviços alugam os postes da utility para passar seus Haddad, está espanando a poeira de cima de um cabos de cobre, coaxiais e fibras. As redes aéreas de projeto antigo para livrar a cidade dos milhares de ambas as operadoras têm extensões de 10 mil km cada. quilômetros de fios e cabos que cortam o céu do Enterrar esses milhares de quilômetros de fios e cabos município. Apelidado nos bastidores de “Nova Cidade não é simples e, segundo estimativas conservadoras da Limpa”, o plano é colocar em prática a Lei 14.023 de 2005, AES Eletropaulo, custaria pelo menos R$ 100 bilhões. O regulamentada em 2006 e que tornava obrigatória a Decreto 47.817/2006, que regulamentou a lei municipal, transferência dessa infraestrutura para o subsolo, previa que os custos para a implantação do Pera seriam minimizando o risco de acidentes e “de inteira responsabilidade das rompimentos de cabos e fios não mais permissionárias, inclusive aqueles expostos às intempéries, com metas de decorrentes de danos nas áreas públicas corre nos 250 km aterrados por ano e a substituição em razão do enterramento de cabos, dos postes por árvores. Mas o projeto bem como o refazimento de calçadas, bastidores que técnico de execução e de viabilidade recapeamento de vias, guias e sarjetas a lei de 2005 tem econômica, a que se deu o nome de tantos vícios que ou qualquer outro item do mobiliário”. Mas Programa de Enterramento da Rede Aérea não seria possível não é tão simples. De acordo com o (Pera), nunca foi mais do que um esboço, diretor de operações da AES Eletropaulo, torná-la exequível Otávio Grillo, uma rede subterrânea pode e isso tornou inócua a lei municipal. e que a Prefeitura ser de dez a 16 vezes mais cara do que a Cerca de 41 mil km de redes de fios e estaria cogitando rede aérea e o impacto na conta de luz cabos da AES Eletropaulo cobrem os mais uma nova lei de 1,5 mil km² de área do município de do consumidor seria muito alto (poderia letícia@convergecom.com.br

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chegar a 70%). E isso não seria permitido pela agência reguladora do setor elétrico, a Aneel, que calcula em cerca de R$ 112 mil cada km de rede aérea. “A agência zela pelo bem da concessão e, por razões tarifárias, nos obriga a fazer as obras com o menor custo possível”, pontua Grillo. Assim, as opções que restam são parcerias públicoprivadas para tornar o Pera realidade. Nova lei Fontes ouvidas por TELETIME destacaram a inviabilidade da lei de 2005 e receberam bem a iniciativa da nova administração de fazer audiências públicas para traçar um novo plano factível. “Acho que o prefeito Haddad está fazendo agora de uma maneira correta, ouvindo as empresas e a sociedade”, destacou uma fonte que preferiu não se identificar. “Está surgindo a necessidade de um plano diretor pra cidade, planejamento para o subsolo e novas leis para instalação de antenas”, relata otimista outra fonte. O que corre nos bastidores é que a lei de 2005 tem tantos vícios que não seria possível torná-la exequível e que a Prefeitura estaria cogitando uma nova lei municipal que tomaria seu lugar e a revogaria. “Acredito que as audiências públicas devem durar mais uns dois meses e é possível que essa nova lei saia até o final do ano”, estima uma fonte. O que existe hoje Atualmente, a rede subterrânea da AES Eletropaulo tem 3 mil km de extensão e atende a 180 mil clientes de um total de 6,5 milhões de instalações na capital paulista. “Nossa rede subterrânea basicamente está no centro velho e na Avenida Paulista. Foi construída ainda nas décadas de 40 e 50 e vem sendo mantida desde então”, conta Grillo, detalhando que essa rede é automatizada com sensores de presença de água e é monitorada no centro de operações em Barueri. Em 2012, a concessionária enterrou mais 3,2 km de rede aérea nas regiões da Faria Lima, Largo da Batata (em Pinheiros), Rua 13 de Maio e imediações. “Este ano temos previsto algo similar, na Rua José Paulino, Rua do Gasômetro, outro trecho do Largo da Batata e mais algumas coisas na Nova Faria Lima”, enumera Grillo. Essas obras recentes estão sendo feitas em parceria com a prefeitura municipal, que, segundo o executivo, arca com os custos das obras civis. “A grande questão é que 75% dos custos de enterramento são com obras civis; a parte elétrica é só 25%, e onde há também cabos de telefonia ou TV a cabo, cada empresa arca apenas com o custo de passar seus cabos”, explica ele, detalhando que, com o investimento da prefeitura, o impacto não vai para a tarifa de luz.

E sempre que há iniciativas desse tipo da prefeitura, Telefônica/Vivo e Net Serviços aderem ao projeto de bom grado. “Se uma subprefeitura ou o secretário de obras chama, a gente enterra. É do nosso interesse, porque a rede fica mais estável e segura”, comenta fonte de uma das empresas. Outra iniciativa foi o enterramento da rede na Rua Oscar Freire, nos Jardins, onde os custos foram arcados pelos próprios lojistas. O custo total do projeto foi estimado em R$ 8,5 milhões, para alguns poucos quarteirões. “Somos favoráveis ao enterramento, porque a confiabilidade de fornecimento é maior e é recomendável ter rede subterrânea onde há grande concentração de pessoas, mas é preciso equacionar os custos e os prazos. Esse é um projeto de Estado, tem que transcender governos, de médio e longo prazo”, reitera Grillo. Dos 10 mil km de rede em São Paulo, a Net tem cerca de 300 km enterrados e a estimativa é de que o metro de uma rede subterrânea para a operadora de TV a cabo custe entre R$ 500 e R$ 800. As principais rotas de fibra da Net, por questão de segurança, já estão enterradas, assim como trechos de travessia de risco, como a Avenida 23 de Maio, onde os custos de ter sua rede rompida e serviços interrompidos são maiores que os de fazer a infraestrutura subterrânea. Subsolo Outro desafio da Prefeitura será fazer um mapeamento do subsolo da cidade. AES, Telefônica e Net têm um mapeamento preciso de suas redes subterrâneas, mas vale lembrar que são pequenas se comparadas a toda a extensão de São Paulo e o que a administração municipal tem é um mapeamento muito antigo e desatualizado. “Já houve situações em que tivemos de fazer redes subterrâneas pequenas e encontramos mapeamento dos anos 40 feito a lápis. Tivemos que fazer apenas alguns metros por dia para não romper nada”, diz uma fonte. “Na Oscar Freire, levamos um ano. Cada lugar que furávamos tinha um obstáculo, galerias fluviais”, relata outro engenheiro ouvido. As empresas gostariam de ter uma previsão de enterramento gradativa, da responsabilidade dos agentes privados e do poder público, e um mapeamento preciso do subsolo.

41 mil km de redes de fios e cabos em São Paulo é a extensão da rede aérea da AES Eletropaulo * Telefônica e Net têm 10 mil km de rede cada na capital paulista * Cidade tem 3 mil km de redes subterrâneas da AES e 300 km da Net Serviços

Custo para enterrar todos os fios e cabos de São Paulo seria de, no mínimo, R$ 100 bilhões * Aterramento da rede na Rua Oscar Freire, em 2012, custou R$ 8,5 milhões

“Somos favoráveis ao enterramento, porque é recomendável ter rede subterrânea onde há grande concentração de pessoas, mas é preciso equacionar custos e prazos.” Otávio Grillo, da AES Eletropaulo j u n h o 2013 | t e l e t i m e | 13


FOTO: dIvUlGAçãO foto: divulgação

“acho que o brasil tem órgãos demais, que precisam apeNas de ‘empowermeNt’, de voNtade política. ”

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entrevista

PAULO TONET CAMARGO

Variável Globo

O vice-presidente de relações institucionais Paulo Tonet Camargo abre o jogo e comenta a posição do grupo de comunicação sobre marcos regulatórios, switch-off e neutralidade de rede. Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

O

maior grupo de comunicação brasileiro é sempre uma força decisiva (a favor ou contra) quando o assunto são políticas de comunicações discutidas em Brasília. Raramente, contudo, a Globo se posiciona sobre sua visão estratégica nas questões que envolvem as políticas setoriais. Nessa entrevista, o vice-presidente de relações institucionais das Organizações Globo, Paulo Tonet Camargo, abre o jogo e comenta sobre as principais preocupações que hoje balizam a estratégia do grupo em Brasília. TELETIME – Recentemente você declarou no Congresso que não existe um problema de concentração no mercado de comunicação. Isso vale tanto para a quantidade quanto para a qualidade dos grupos? PAULO TONET CAMARGO – O que eu disse no Congresso é que o sistema de comunicação social no Brasil é democrático, porque o fundamento legal é a Constituição, que foi produto de um amplo debate democrático. No mundo real brasileiro, a Anatel recentemente identificou 14 redes de TV aberta que ela classifica de caráter nacional. Na prática há cinco. Há outros em grandes centros, que trazem pluralidades de conteúdos locais. A questão é: como se remunera a TV aberta? Com o bolo publicitário, que em geral fica em torno de 1% do PIB. Nesse 1% tem que caber toda a comunicação social, não só a TV, e evidentemente não tem espaço para todo o mundo. Nos EUA não há cinco empresas de âmbito nacional no mercado de TV. Aqui tem SBT, Record, Bandeirantes, Globo e Rede TV!. E tem gente que acha pouco. Quanto mais players nacionais, menor será a possibilidade efetiva de concorrência. Existe um teto que é 1% do PIB. O Brasil é uma economia de mercado. Não adianta querer olhar o mercado sob uma ótica ideológica que não seja a do mercado. Por isso o debate sobre uma nova e eventual regulamentação fica emparedado. Não é porque as

empresas não querem discutir, mas porque o debate está colocado de forma ideológica, quando deveria se colocar pela lógica do mercado. A discussão sobre um novo marco deveria, então, ser focada no mercado? Os fundamentos da discussão têm que ser esses. Mas a coisa sempre se coloca na forma de intervenção do Estado no mercado, quando a Constituição já diz que não pode ser assim. O grupo Globo vê a necessidade de discutir um marco regulatório? Existe um mito de que a legislação de comunicação é obsoleta, é de 1962... Isso tem sido repetido a toda hora. Não é verdade. Depois de 1962, sem falar no último regulamento de radiodifusão, que foi revisto em 2012, a regulamentação tem sido mexida seguidamente. Houve uma grande modificação em 1967, colocando restrições à propriedade dos meios. Tivemos a Constituição em 1988. Tivemos o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor, que mudaram sensivelmente a forma como a TV precisa trabalhar. Tivemos a Lei Geral de Telecomunicações e a Lei do Cabo na década de 90. O que precisa de uma revisão, na nossa visão, é a convergência. Se examinarmos um novo marco regulatório sob a perspectiva da convergência, não somos contra. Aliás, nunca fomos contra discussão nenhuma, mas achamos que é muito mais eficiente discutir para frente. O Google é o segundo faturamento de publicidade no Brasil. E vamos nos preocupar com rádio AM? Como resolver isso? Esses novos players devem seguir as mesmas regras dos atuais? Vamos clarificar alguns conceitos. Primeiro, não se fala em regular a Internet. O que se fala é em regular as atividades de natureza empresarial que usam a Internet como plataforma. Por exemplo: bancos. Eles estão na Internet, fazendo transações bancárias, e ainda assim seguem as regras do Banco Central, pagam IOF etc. j u n h o 2013 | t e l e t i m e | 15


entrevista A atividade bancária independe do meio. Compra e venda de mercadoria é a mesma coisa. Você pode comprar, mas as regras de tributação, Código de Defesa do Consumidor, tudo continua valendo igual. Não se trata de regular Internet, mas a atividade econômica. Na comunicação social vai ser diferente? Temos que pensar em uma regulação que pense nessas atividades comerciais no Brasil que tenham a Internet como plataforma. Não pode haver atividade comercial sem um mínimo de regulamentação. A Constituição regulou os meios e também o conteúdo porque achava que o conteúdo era relevante. Isso se aplicou a algumas plataformas, que eram as que existiam na época. Não dá para uma empresa jornalística que paga imposto aqui, que tem restrições de capital, que tem obrigações, competir com alguém que faz a mesma coisa pela Internet. Isso é o que tem que ser pensado para o futuro, porque a Internet é o ambiente do futuro. Vamos ter que desregulamentar tudo? É uma discussão. Só não pode ficar desequilibrado, com uma parte do mercado regulada e outra não, para a mesma atividade. No passado, o setor de telecomunicações, dominado por grandes empresas estrangeiras, era visto como a grande ameaça aos grupos de comunicação. A Lei do SeAC estabeleceu uma fronteira entre quem produz e quem distribui. Mas isso não se aplica aos grupos de Internet. Deveria? Sim. O modelo do SeAC foi um modelo vitorioso do ponto de vista de estabelecer quem é quem nesse mercado. Foi uma virtude da lei. Claro que, como em toda norma, há quem ganhou e quem perdeu com isso. Hoje, esse problema está resolvido. A Lei do SeAC é um divisor de águas. Mas ficou uma ponta solta, que é o ambiente da Internet, onde existem atividades empresariais. Ou se explicita em uma nova norma o que se quer fazer, ou se interpretam as normas existentes. Pode-se ler a Constituição e aplicar à Internet, ou buscar uma nova norma. Mas é fato que existe uma ponta solta. Empresas que eram provedoras de conteúdos, de plataformas de redes sociais, se tornaram empresas de mídia, e portanto de comunicação. Isso tem uma regra estabelecida na Constituição. Tem que aplicar. Será que não é um problema de falta de um órgão regulador que acompanhe e fiscalize? Qualquer órgão que venha a regular o setor tem que ter uma finalidade. O que o setor de comunicação precisa que já não esteja no âmbito da Anatel (e sempre achei que a presença da Anatel deveria ser maior)? Não é um problema de quem vai fazer, é problema de ter vontade de fazer. Não sei se uma nova agência vai resolver isso. Já temos uma agência. Basta que seja 1 6 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

dado a ela o poder de fiscalizar o cumprimento dos contratos de concessão, que, aliás, já fiscaliza em muitos aspectos. Ou a Receita, no caso de questões tributárias. Deve fiscalizar. E a Ancine? Tanto faz. Acho que o Brasil tem órgãos demais, que precisam apenas de “empowerment”, de vontade política. Acho que a Ancine talvez não seja a agência ideal, pois é uma agência mais voltada ao conteúdo, e isso pode gerar uma discussão política mais complicada. E a Anatel está mais aparelhada para analisar as questões, inclusive em relação a capital. E esse “empowerment” viria de um novo marco regulatório? A fiscalização do cumprimento de normas que já existem não precisa de novos órgãos nem de lei. Precisa de vontade política. Se um estrangeiro vem para o Brasil e compra um veículo de comunicação, existe regra para isso. O Ministério Público deve agir. O Ministério das Comunicações pode agir. A Anatel pode agir. Tem regra e tem órgão para fazer. O que não tem é vontade. As empresas de comunicação já levaram isso à Justiça, ao Ministério Público... Existe uma discussão jurídica que está parada. Mas falta vontade. Nos EUA, recentemente, o setor de radiodifusão começou a enfrentar serviços que revendem os conteúdos abertos. Um exemplo é o Aereo, que vende os conteúdos das TVs em plataformas móveis. Isso pode acontecer no Brasil? Os EUA são uma economia de mercado. Quem teve essa brilhante ideia de pegar um conteúdo aberto e revender via redes de telecomunicações para devices móveis viu que tinha um mercado para isso. Por que alguém no Brasil vai pagar por isso, se aqui nosso sistema, diferentemente dos EUA, já permite a mobilidade, de graça? Só não está funcionando porque não existe uma política pública que determine aos fabricantes de devices que incluam esse chip para receber a TV do ar. É simples. Isso do ponto de vista mercadológico. Porque do ponto de vista comercial haveria outros impedimentos de natureza autoral e propriedade intelectual. O governo deveria fomentar a mobilidade da TV aberta? Deveria. Existe uma portaria interministerial que fala


O fato de haver empresas como Apple, Microsoft e Google, que têm acesso ao sistema operacional, browser e conteúdos, coletando informações, e que ao mesmo tempo competem com empresas que só fazem o conteúdo e que não têm acesso a esses dados... Claro que isso preocupa. Mas a questão não é um grupo ter acesso e outro não. É o que é feito com essa massa de informações. Primeiro, é preciso saber onde estão esses dados, onde essa informação fica armazenada. Depois, que uso é feito. Isso é estratégico para o país, por isso tem que ter um tipo de regulamentação. No limite, claro, pode criar uma distorção no mercado publicitário, que obviamente vai para onde está a informação mais precisa sobre o consumidor. O que não posso dizer é para o mercado publicitário não aproveitar essa oportunidade. Isso não existe.

foto: divulgação

disso na fabricação de devices. Mas essa portaria praticamente não obriga a inclusão dos chips. O cidadão brasileiro não vê TV em seus aparelhos móveis por falta de política industrial do governo. Se houvesse, todo o mundo ia pegar. Estamos levando formalmente ao ministro Paulo Bernardo (Comunicações) um pedido para que seja revista essa política industrial. Isso e a recepção de FM, que está disponível mas vem desligada na maior parte dos dispositivos.

do Serviço de Comunicação Multimídia é preocupante para a Globo? Temos essa atividade, ainda que seja marginal dentro das receitas do grupo na área de Internet. A pergunta que nós nos fizemos é se esse modelo era sustentável. Como fica o usuário diante desse modelo? Já acreditávamos que isso um dia ia acabar, ia marchar para o desfecho que houve. É uma tendência natural. Como ser contra isso? É a realidade da Internet.

A radiodifusão pode começar a se remunerar da venda de seu conteúdo? Isso está previsto, por exemplo, no mercado de TV paga, já que a regra do must carry deixa de existir com a transição do analógico para o digital. A Globo está confortável para o A radiodifusão deve começar a se beneficiar dessas encaminhamento dado pelo governo para a possibilidades. Quando se discutiu a Lei do SeAC, a faixa de 700 MHz e a destinação desse espectro possibilidade de os radiodifusores cobrarem pelo para a banda larga móvel? conteúdo foi uma janela de abertura para novas Reconhecemos que essa faixa de espectro no remunerações, não apenas pelo mundo inteiro está sendo utilizada pela mercado publicitário, mas pela venda de banda larga móvel. O problema no seu conteúdo. O que entra dentro de Brasil, especificamente, é que há três uma lógica da distribuição dos canais pontos preocupantes: primeiro, é que foi pagos. Por isso brigamos por isso na lei verificado por meio de trabalhos da TV paga. Acredito que a plataforma de consistentes no Japão e na Inglaterra a Internet pode vir a oferecer outras interferência da banda larga 4G nas “O cidadão oportunidades, mas como tudo o que transmissões digitais do canal 51 para acontece na Internet, pouca gente está brasileiro não vê baixo. Nossa preocupação é que haja entendendo como rentabilizar esse um estudo que aponte o que tem que TV em seus conteúdo. A Globo vê a Internet como aparelhos móveis ser feito para evitar esse problema. No oportunidade, e acho que todo mundo caso japonês, o orçamento para mitigar por falta de enxerga assim. o problema é de US$ 3 bilhões. Se o política industrial custo for esse no Brasil, é preciso saber do governo. Se O fato da Anatel ter visto como quem vai pagar essa conta, como fazer houvesse, todo o isso. Outra preocupação é que, na desnecessária a figura do provedor mundo ia pegar”. nossa avaliação, há lugares no Brasil de acesso na nova regulamentação j u n h o 2013 | t e l e t i m e | 17


entrevista em que existe dificuldade de fazer caber Incluindo afiliadas e emissoras próprias. a radiodifusão no espaço destinado a Os 30% que ficam faltando custarão mais ela. Por conta justamente da pluralidade do que os 70%. Esse é um problema. E já de players. Para assegurar essa dissemos ao ministério que a pluralidade, precisa de espectro. E o retransmissão e a repetição dos sinais “até o canal 51, são feitas em muitos casos por terceiro ponto preocupante é que a o espectro solução de divisão de espectro proposta prefeituras. Se o governo não tiver um 700 MHz é da coloca duas questões políticas: na plano, um fundo de financiamento, maioria das regiões do Brasil não haverá radiodifusão. Do teremos uma parte do mercado que espaço para a expansão da radiodifusão, nunca vai se digitalizar. Falta essa contrário, sejam canais públicos, comunitários, o política. O problema sempre foi analisado ficamos sem que for. É um problema político. Outro sob a ótica das empresas que querem o espaço. A aspecto político é que fique claro que, a espectro. Agora tem que olhar o problema destinação de partir da destinação da faixa de 700 MHz sob a ótica do cidadão que recebe o sinal. faixa vai limitar o para a banda larga, o espaço restante, crescimento da mesmo os chamados white spaces, não Qual a expectativa em radiodifusão.” venham a ser ocupados pelas empresas relação à aprovação do Marco Civil de telecomunicações. Ou seja, até o da Internet? canal 51, o espectro é da radiodifusão. Do contrário, Nós esperamos, e temos manifestado reiteradas ficamos sem espaço para a expansão tecnológica. vezes, que o texto do deputado Alessandro Molon (PT/RJ) Teremos 4k, multiprogramação. A destinação de faixa seja aprovado. Achamos que a redação é satisfatória. vai limitar o crescimento da radiodifusão. Sabemos que há uma fricção com as empresas de telecomunicações em relação à neutralidade de rede, E a proposta de antecipação do switch-off, mas acho que existe uma questão de interpretação acham boa? apenas. Na nossa leitura do texto, não achamos que ele Primeiro, é preciso que se tenha claro que o switchvá criar nenhum problema mercadológico. As empresas off não depende das emissoras, mas de quem recebe. O de telecom dizem que sim. governo tem que mirar, antes de tudo, nos receptores. E vivemos num país em que ainda há pessoas assistindo Mas vocês entendem o receio das empresas TV preto e branco. Há regiões muito pobres que não de telecomunicações? podem ficar sem TV, inclusive nos grandes centros Entendemos, mas achamos que o texto não traz os urbanos. Trabalhar com dois transmissores, para nós, só perigos que eles acham que traz. Eles querem ter a acrescenta custo. Desligar um deles seria ótimo, mas possibilidade de oferecer pacotes segundo conteúdo e tem que assegurar uma política pública para que cada velocidade, e achamos que o texto que está lá não brasileiro tenha sua TV digital, do contrário vamos tirar a impede isso. O que o texto impede, e impede bem, é TV do ar para muita gente. E não há uma política pública que algum player do lado de cá, do lado do conteúdo, ainda, organizada, para essa questão. possa comprar das teles uma forma privilegiada para Depois, é muito importante que se diga o chegar do lado de lá. seguinte: a designação de faixa que hoje é da radiodifusão para as telecomunicações só se justifica Inclusive você já declarou que a Globo, se você destinar a faixa e fizer o leilão. Porque se como player de conteúdo, abre mão dessa destinar a faixa e não fizer o leilão, entra-se em um possibilidade de negócio. terreno muito perigoso e não vamos aceitar isso. A Perfeitamente. Não queremos, porque é uma destinação tem que estar atrelada ao seu uso. A questão estratégica impedir isso. A tele tem o direito de destinação pressupõe que as telecomunicações monetizar, e a possibilidade de customização de pacote precisam da faixa, então tem que leiloar. Não pode tem que ser feita na banda da distribuição. Se eu quero destinar e esperar para um dia abrir o leilão. ver muito vídeo, eu vou comprar mais banda. Se eu quero só acessar e-mail, vou pagar por menos banda. E em relação a políticas de fomentos Como funciona na TV paga. É natural, é da economia de às emissoras que ainda não conseguiram mercado. Só não pode tratar o tráfego de maneira se digitalizar? Você entende que isso discriminatória, porque o risco é muito grande. Hoje o deve ser estimulado? conteúdo da Globo, UOL, do bar da esquina, tem a Acho que deveria. Se não houver incentivo, veremos mesma oportunidade de chegar no outro lado. Mas se muita gente em dificuldade. No caso da Globo, há um discriminar, o conteúdo do bar da esquina não chega plano de digitalizar 70% da rede até a Copa do Mundo. nunca e aí a democracia está ameaçada. 1 8 | t e l e t i m e | j u n h o 2013



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Solução complicada Empresas de telecomunicações queixam-se (mais uma vez) de impostos, multas e amarras regulatórias no 57º Painel Telebrasil, e governo sinaliza com promessas de desonerações e mais espectro. Bruno do Amaral

bruno@convergecom.com.br

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inda no calor do lançamento comercial dos serviços LTE e comemorando a marca de 100 milhões de conexões de banda larga no País, as empresas de telecomunicações seguem com um desafio cada vez maior: ter retorno proporcional aos investimentos em infraestrutura. Esse foi o tom da Carta de Brasília 2013, apresentada durante a 57ª edição do Painel Telebrasil, que aconteceu no final de maio na capital federal. Mas isso também serviu de pano de fundo para o setor começar a debater assuntos que já se mostram como desafios no horizonte das teles. Destacam-se as desonerações para serviços de satélite e na faixa rural de 450 MHz; novas (e antigas, via refarming) frequências para o 4G e muitas queixas sobre as amarras regulatórias que têm, segundo as empresas, afastado investimentos. Para o presidente da Embratel, permitir condições adequadas de investimento só traz benefícios. “Com a adoção de

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tecnologias de ponta, serviços como TV por assinatura, por exemplo, hoje estão acessíveis a consumidores de todas as classes sociais”, disse José Formoso. Talvez uma das reclamações mais imediatas seja sobre os valores das multas aplicadas pela Anatel. A consultora Cláudia Viegas, da LCA, comparou as punições às teles com casos internacionais, como o do Google, multado em 145 mil euros na Alemanha por ferir leis de proteção a dados, e o da Exxon, que precisou pagar US$ 1,7 milhão por vazamento de óleo nos EUA. Isso tudo em um setor que recolhe R$ 59,2 bilhões em tributos e fundos setoriais (Fust, Funttel e Fistel), equivalente a 25,3% do Capex das teles em 2012. Pelos cálculos da LCA Consultores, apenas 4,8% da receita operacional das empresas de telecom são destinadas efetivamente à remuneração dos acionistas (majoritários e minoritários), enquanto 30,8% se destinam a impostos. Segundo a consultoria, em 2012 o setor respondeu por 4,9% do PIB nacional. No Brasil, as teles investem em média 19% da sua receita


apenas 4,8% da receita operacional das empresas de telecom são destinados efetivamente à remuneração dos acionistas, enquanto 30,8% se destinam a impostos. Mas existem outros problemas além de questões técnicas. O presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia Comunicação e Informática (CCTI) da Câmara dos Deputados, deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB/MG), surpreendeu na abertura do evento com um discurso ácido sobre a Lei das Antenas. “Temos que ter cuidado com os oportunistas de plantão. A Câmara tem deputados estudiosos, mas como em qualquer outro meio, tem os oportunistas. Há os que se posicionam de forma demagógica e a comissão dará resposta a todos. A lei não sairá de forma açodada. Estamos promovendo uma higienização do debate para que ele seja promovido de uma forma técnica”, disse o deputado no seu discurso. A intenção do deputado é que a matéria ande rápido, “porém, com passos seguros e sem tropeços”. Desonerações Por outro lado, há benefícios à vista. De acordo com o diretor do departamento de banda larga do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, durante um dos workshops realizados com autoridades durante o evento, o Minicom e

“Temos que ter cuidado com os oportunistas de plantão. Estamos promovendo uma higienização do debate para que ele seja promovido de uma forma técnica.” Paulo Abi-Ackel, deputado fotos: marcelo kahn

operacional, enquanto nos EUA esse número é de 12%. O secretário de telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano Martinhão, defende a posição do governo, ressaltando a aprovação de uma nova metodologia para o cálculo das multas – o primeiro passo em direção à transparência nesse ponto – e o regulamento de termos de ajuste de condutas (ou TACs) também recentemente colocado. Martinhão classifica a utilização dos fundos setoriais como “problemas históricos”, mas disse que eles estão sendo contornados. “A gente tem incentivos de outras formas, desoneramos os smartphones, estamos desonerando a implantação de rede e estamos junto com o Congresso Nacional para prorrogar o prazo do REPNBL”, enumerou. Na Carta de Brasília, que consolida a posição da indústria, o setor alega que “os investimentos em telecomunicações nos últimos 15 anos foram vultosos e sustentados por recursos privados, que levaram o total de acessos para mais de 346 milhões em 2013”. O texto pede para que o Congresso aprove com urgência o projeto de Lei das Antenas, alterando as legislações municipais e eliminando a burocracia para a instalação dos sites. “Não conseguiremos aumentar a capacidade de tráfego sem colocar equipamentos com radiação”, disse o presidente da Telefônica/Vivo e da Telebrasil, Antonio Carlos Valente, citando leis municipais antigas que consideravam a instalação de estações radiobase (ERBs) perigosa ao ambiente por conta da radiação.

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paulo bernardo, do minicom Ministério da Fazenda já chegaram a um acordo para o decreto que regulamentará a desoneração de equipamentos e serviços para as redes de 450 MHz, para as comunicações entre máquinas (M2M) e para serviços de satélites. É só esperar o fluxo normal de publicação desse tipo de regulamento. O Minicom aposta nos satélites em banda Ka para levar conectividade de banda larga a preços acessíveis a áreas em que não será possível chegar com infraestrutura terrestre. Coimbra cita o projeto do satélite geoestacionário brasileiro de defesa e comunicação estratégica da Telebras; a desoneração de projetos de satélites enquadrados no Regime Especial de Tributação do Programa Nacional de Banda Larga (REPNBL-Redes); e a desoneração de tributos federais para estações terrestres. “O número de acessos individuais à Internet via satélite no Brasil é irrisório (cerca de 100 mil ao final de 2012), custa caro e a velocidade deixa a desejar. Até 2018, esperamos que o número de acessos cresça mais de 18 vezes e que haja uma redução de 40% nos preços”, diz Coimbra. O governo deverá ainda promover a entrada de mais satélites para cobrir o espaço aéreo brasileiro. De acordo com o Minicom, um edital com novas posições orbitais para o uso de satélites na banda Ka deverá estar pronto até agosto. Já a faixa de 450 MHz deverá ser parte do PNBL 2.0. O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) deixou claro em seu discurso durante o evento que o objetivo do

fotos: marcelo kahn

“O impacto na arrecadação é mínimo. No 450 MHz, por exemplo, é zero, porque o serviço não existe.”

governo é adiantar a implementação dessas redes, que pelo edital da Anatel seria iniciada somente em 2014. A antecipação dos prazos, ele esclarece, terá o suporte financeiro do governo. “Quero discutir com transparência. A presidenta Dilma já colocou que está disposta a ajudar”, disse ele. “O impacto na arrecadação é mínimo. No 450 MHz, por exemplo, é zero, porque o serviço não existe”, afirma ele. Considerando o REPNBL-Redes, a desoneração do setor, incluindo infraestrutura de data center (além das redes fixas, móveis e satelitais), chegará a até R$ 3,8 bilhões até 2016, na estimativa do Minicom. Com isso, o investimento privado antecipado pela medida será de até R$ 18 bilhões no mesmo período. Mesmo equipamentos trazidos de fora poderão receber o benefício: uma vez atingido o percentual de equipamentos com produção local e de conteúdo nacional, os projetos submetidos e aprovados poderão adquirir também isenção fiscal de produtos importados, “desde que adquiridos em território nacional”, de acordo com o coordenador geral do Departamento de Indústria, Ciência e Tecnologia do Ministério das Comunicações, Laerte Davi Cleto. Espectro O fato é que, mesmo com esses benefícios, o setor ainda precisa de infraestrutura para atender à demanda. E isso significa mais espectro. Além do refarming da frequência de 1,8 GHz, a faixa mais cobiçada é a de 700 MHz, embora as operadoras temam exigências de qualidade e intervenções diretas nos modelos de negócio. Os presidentes da Claro, Carlos Zenteno, e da Algar Telecom, Luis Alexandre Garcia, foram alguns dos principais defensores dessa bandeira durante o encontro da Telebrasil. “O que acontece é que estão com uma expectativa de que venham grandes obrigações junto ao leilão de 700 MHz e estão pintando o cenário bem pior para tentar sensibilizar o regulador”, comenta o conselheiro da Anatel, Marcelo Bechara. Ele garante que não vê nada de errado com isso. “Não vendemos frequências, vendemos obrigações. Quanto menos obrigações, vão ter de pagar muito mais pelo espectro”, alerta. “Acho que no fim vão entender que investir em atendimento das obrigações é melhor do que gastar na frequência”, diz Bechara.

“Tem direitos que os consumidores desconhecem, e outros que eles acham que têm, mas não têm.” Elisa Peixoto, da anatel 2 4 | t e l e t i m e | j u n h o 2013


A resolução para a nova destinação da faixa de 700 MHz deverá ser publicada até o final de julho, com um edital de licitação ainda no segundo semestre. Enquanto esse espaço não é disponibilizado, as operadoras ainda estão se adaptando à faixa de 2,5 GHz. Já foram feitos acordos entre Oi e TIM e entre Claro e Vivo para o compartilhamento de rede 4G, feitos em tempo recorde e em grande escala e podendo gerar uma economia de até 50% entre Capex e Opex para operadoras. “O Brasil terá a maior operação de RAN sharing do mundo, considerando o nosso plano de desenvolvimento”, ressalta Carlos Eduardo Franco, diretor de relações regulatórias da TIM, durante outro workshop realizado no Painel Telebrasil. Existe ainda a possibilidade de uma nova forma de licenciamento de frequências, que pode ajudar não apenas no alívio da sobrecarga da rede móvel, mas até mesmo em processos iniciais Considerando o de refarming. Chamado de REPNBL-Redes, acesso por compartilhamento a desoneração do autorizado (ASA, na sigla em setor chegará a inglês), trata-se de uma espécie de meio-termo entre até R$ 3,8 bilhões espectro licenciado e nãoaté 2016. licenciado. “É uma forma de começar a utilizar o espectro que está sendo atribuído por uma incumbent que não o utiliza 24 horas por dia e nem em todos os locais”, afirma Francisco Giacomini, diretor sênior de relações governamentais da Qualcomm, citando como exemplo serviços de radares, satélites ou serviços militares de uso restrito. A frequência é compartilhada sem interferência, com gerenciamento entre as partes e administrada por uma entidade, que ele afirma que poderia ser a Anatel. Consumidor A questão é que nem sempre oferecer a qualidade de serviço é o mais difícil. No recém-criado cargo de superintendente de Relações com os Consumidores da Anatel, Elisa Peixoto tem uma complicada tarefa de reduzir as reclamações dos usuários com as operadoras, melhorando a imagem do setor de telecomunicações. “Não necessariamente estamos nos referindo à QoS (qualidade de serviço), que ainda tem muito a ser aprimorada, mas não é a nossa maior queixa,” explica. Segundo Elisa, as maiores causas de

“Mesmo com as operadoras atendendo às exigências de qualidade da Anatel para a banda larga, o consumidor requer uma experiência personalizada.” José Augusto de Oliveira Neto, da Huawei reclamações são erros na fatura e cancelamentos. “Tem direitos que os consumidores desconhecem, e outros que eles acham que têm, mas não têm.” “Somos um setor com enorme promoção de inclusão social e econômica e um grande empregador de mão de obra qualificada. É um setor que teria tudo para ter um histórico estelar de relacionamento público. Paradoxalmente, é visto como vilão”, lamentou Rodrigo Abreu, presidente da TIM. E complementou: “Temos que dar a expectativa correta do que é esperado dos nossos serviços, porque ainda existe um nível de desconhecimento muito grande”. Christian Schneider, presidente da Sercomtel, ressaltou que “o órgão do regulador está aí para defender o mercado, não relações de consumo, para as quais há outros órgãos competentes”. Segundo Claudia Viegas, da LCA Consultoria, a relação cada vez mais complexa entre usuários e empresas de telecom cria uma demanda por serviços de call centers ainda mais especializados, tratando não apenas de telefonia. A terceirização seria uma maneira de conseguir dar a esse novo perfil de cliente um serviço de mais qualidade. “Terceirizar não significa delegar a um terceiro, mas contratar um serviço especializado”, afirma. “Mesmo com as operadoras atendendo às exigências de qualidade da Anatel para a banda larga, o comportamento digital do consumidor atual requer uma experiência personalizada, só assim vamos sanar as reclamações”, avalia José Augusto de Oliveira Neto, CTO da Huawei. Ele propõe um regime especial de desoneração para inovação em soluções de melhoria da experiência do cliente. A ideia da Huawei é conseguir se reunir com o Minicom e outros órgãos para tentar emplacar a proposta.

“É um setor que teria tudo para ter um histórico estelar de relacionamento público. Paradoxalmente, é visto como vilão.” Rodrigo Abreu, da tim j u n h o 2013 | t e l e t i m e | 2 5


Dados de mercado

EVOLUÇÃO DAS OPERADORAS DE TV PAGA Dez/12

Variação % anual 12/13

Abr/13

Crescimento em 2013 %

Net Serviços

Cabo

4.970.777

5.376.643

5.540.318

11,46%

Sky

DTH, MMDS

4.287.731

5.052.758

5.342.814

24,61%

5,74%

Claro TV

DTH

2.613.026

3.118.356

3.305.106

26,49%

5,99%

3,04%

Oi TV

Cabo, DTH, MMDS

427.639

748.758

857.313

100,48%

14,50%

Vivo TV

Cabo, DTH

684.496

607.867

544.756

-20,42%

-10,38%

GVT

DTH

159.077

425.635

500.958

214,92%

17,70%

CTBC

Cabo, DTH

101.392

112.984

126.215

24,48%

11,71%

Blue Interactive/Viacabo

Cabo

100.105

106.916

111.341

11,22%

4,14%

SIM TV

Cabo

74.279

94.239

100.627

35,47%

6,78%

Nossa TV

DTH

82.168

86.841

90.224

9,80%

3,90%

RCA TV

Cabo

81.303

74.343

71.238

-12,38%

-4,18%

Net Jangadeiro

Cabo, MMDS

55.564

55.032

54.867

-1,25%

-0,30%

Cabo Telecom

Cabo

40.598

45.239

45.836

12,90%

1,32%

Mastercabo

Cabo

38.368

37.880

39.038

1,75%

3,06% 6,52%

BrTel

Cabo

33.211

33.792

35.994

8,38%

TVN

Cabo

25.056

26.028

26.309

5,00%

1,08%

Sercomtel

Cabo, MMDS

26.219

23.669

21.951

-16,28%

-7,26%

Net Angra

Cabo

2,38%

Subtotal Outras TOTAL BRASIL

conexões móveis

16.164

15.977

16.357

1,19%

13.817.173

16.042.957

16.831.262

21,81%

4,91%

141.986

146.000

138.414

-2,52%

-5,20%

13.959.159

16.188.957

16.969.676

21,57%

4,82%

CARROS CONECTADOS

Todo carro novo terá alguma forma de conectividade até 2025 (Mercado avaliado em cerca de 40 bilhões de euros em 2018)

BRASIL (1T/2013)

2,1 milhões

de novas conexões móveis 2G, 3G e 4G

268 milhões

de linhas ativas ao fim de março. Até o fim de 2013: 900 mil acessos 4G (Previsão 4G Americas)

América latina

125 mil

conexões 4G até 03/2013

44,7 milhões

de novas conexões 3G entre 2012 e 2013

4,5

6,9

bilhões de euros da entrega de serviços de telemática

24,5

bilhões de euros compreenderão os serviços de bordo

bilhões de euros serão em vendas de hardware

rzymuR/shutterstock.com

tanatat/shutterstock.com

Abr/12

Yuriy Vlasenko/shutterstock.com

Tecnologia

mundo

LTE cresceu mais de 400% entre o primeiro trimestre de 2012 e o mesmo período de 2013. Em maio, havia mais de 100 milhões de conexões LTE. 100 novas redes comerciais LTE entraram em operação no último ano, totalizando 178. Fonte: 4G Americas.

4,1 Fonte: GSMA e SBD.

2 6 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

bilhões de euros do fornecimento de conectividade


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AaaS: mobilidade para todos Desenvolvedores brasileiros enxergam demanda de pessoas físicas e pequenas empresas por apps móveis e criam o modelo de App as a Service (AaaS). Fernando Paiva

fernando.paiva@convergecom.com.br

2 8 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

contexto que surgem as primeiras propostas de AaaS no Brasil. A produtora gaúcha Queen Mob foi uma das primeiras a notar a demanda. “Muita gente nos cotava para apps de eventos, como shows e espetáculos, e sempre achava caro. Percebemos então que havia uma oportunidade”, relata Samantha Carvalho, uma das sócias da Queen Mob. A empresa então criou um serviço chamado Gada, para a criação de apps de eventos. Há templates para congressos, feiras, festas e até casamentos. O cliente envia as imagens e dados e a Queen Mob produz o aplicativo em Android ou iOS, além de cuidar da sua publicação na Google Play e na App Store. O pagamento pode ser feito na forma de uma mensalidade (R$ 200 para manter o título na

Rashevskyi Viacheslav/shutterstock.com

N

os últimos anos, ganhou força no setor de tecnologia da informação (TI) o modelo de negócios em que o software é vendido como serviço (SaaS, na sigla em inglês). A tendência agora chegou ao mundo da mobilidade, no que pode ser chamado de AaaS, ou “App as a service”. Para atender ao público de pequenas e médias empresas ou mesmo pessoas físicas que querem ter uma presença móvel, mas não podem ou não querem bancar a produção de um aplicativo totalmente personalizado, desenvolvedores brasileiros estão oferecendo esse trabalho como um serviço. Paralelamente, estão surgindo plataformas na web para criação de apps em um sistema “self-service”, sem requerer qualquer conhecimento prévio de programação. Na opinião de diversos especialistas, vivemos um processo de democratização da mobilidade. Produzir um aplicativo móvel custa caro. Se o projeto for feito por uma empresa de renome do mercado brasileiro, o preço varia entre R$ 30 mil e R$ 50 mil, podendo chegar a R$ 80 mil se incluídas tecnologias como realidade aumentada. Isso sem falar nos custos posteriores, de manutenção e atualização do app. São valores acessíveis somente para grandes marcas. Parte da explicação para os preços altos está na escassez de mão de obra especializada capaz de programar para os principais sistemas operacionais móveis (Android e iOS, basicamente). A popularização dos smartphones vem gerando um crescente interesse de pequenas e médias empresas por ter uma presença nesse universo, seja na forma de site ou de aplicativo móvel. É nesse


herança corporativa

O

mercado de soluções de TI para grandes corporações utiliza há muito tempo o conceito de software as a service (SaaS). Naturalmente, o modelo foi estendido para as soluções móveis. É assim que operam muitas das empresas que vendem aplicativos de automação de força de vendas, ERP, CRM e BI. David Dias, executivo de desenvolvimento de novos negócios da IBM Brasil, lembra que as primeiras experiências com o modelo de SaaS em ERP aconteceram oito anos atrás. Agora, seus parceiros que vendem esse serviço usando a nuvem da IBM, como SAP e Totvs, oferecem também o acesso através de apps móveis mantendo o modelo de cobrança por uso. A Notes, solução da IBM para colaboração corporativa, também é vendida como SaaS e permite o acesso por smartphones e tablets. “O cliente corporativo precisa de suporte no dia a dia, por isso faz sentido vender um app como serviço”, explica Roberto Dariva, presidente da Navita, desenvolvedora

fotos: divulgação

App Store e R$ 240, na Google Play) em um contrato de no mínimo um ano. No caso de eventos únicos, pode-se optar por pagar de uma só vez o preço cheio. “Já vendemos sete licenças permanentes e cerca de 12 para eventos pontuais. Passamos a ter uma receita recorrente para a empresa”, conta Samantha. Outro produtor brasileiro que planeja entrar na onda do AaaS é a Intuitive Appz. Neste caso, a empresa elaborou um aplicativo móvel em Android e iOS para controle de saída de alunos em escolas. A primeira experiência foi desenvolvida para a rede de ensino Arbos, com três unidades na Grande São Paulo, e entrará em operação em agosto. “Isso vai virar um produto para ser vendido como assinatura a outras escolas”, diz Leo Gmeiner, um dos sócios da Intuitive Appz. Outra iniciativa da empresa nos moldes de AaaS é a plataforma “RA Inside”, que tornará mais acessível a tecnologia de realidade aumentada para empresas brasileiras, com cobrança por tempo de uso da solução. Em Brasília, um grupo de seis jovens desenvolvedores mobile criaram a Instapps, uma produtora que promete entregar um app pronto em questão de dias. Para tanto, desenvolveram alguns templates básicos que atendem a diversos segmentos de negócios. Cobram uma mensalidade de R$ 299 que inclui versões para Android, iOS e HTML5, além da publicação nas respectivas app stores, atualizações ilimitadas e mensagens push. O contrato é de no mínimo três meses.

“Muita gente nos cotava para apps de eventos e sempre achava caro. Percebemos então que havia uma oportunidade” Samantha Carvalho, da Queen Mob

Self-service Outra tendência relacionada à democratização dos apps é o surgimento de plataformas selfservice para a geração de aplicativos por pessoas que não tenham conhecimento de programação. Algumas operam no formato de mensalidade e outras cobram uma taxa fixa. Os exemplos internacionais mais famosos são AppMachine, iBuildApp e Mobile Roadie. O Brasil também foi palco para o nascimento de uma plataforma dessas, a Universo.mobi, oferecida diretamente com este nome ou sob a bandeira Vivo meu App, pela Vivo. Neste caso, o modelo de negócios é ainda mais inclusivo: qualquer um pode criar o app de graça em troca de espaço publicitário comercializado pela empresa. Se quiser retirar os anúncios, a mensalidade custa apenas R$ 9. O sistema atraiu blogueiros, fã-clubes e pequenos estabelecimentos comerciais. Até um professor de Patologia da USP criou um app no qual disponibiliza todas as suas aulas. Foram criados até agora com a Universo.mobi 35 mil aplicativos, que acumulam mais de 1,5 milhão de downloads, entre versões para Android, Java e HTML5. “Acredito que somos hoje o

brasileira de soluções móveis corporativas. Sua empresa atende por exemplo um grande portal de vendas coletivas com um pacote de serviços que inclui um app de automação de força de vendas, o aluguel de tablets e um sistema de gerenciamento remoto desses terminais (MDM, na sigla em inglês). Tudo isso é pago com uma mensalidade. “O custo inicial para desenvolver um app é alto, mas acaba diluído ao longo do contrato”, explica Dariva. Outro exemplo é a Cigam, empresa brasileira especializada em ERP, que incluiu um módulo móvel há pouco mais de um ano, na forma de aplicativo. Seu uso é cobrado à parte, também no modelo de serviço. “O mobile é um diferencial hoje em dia para uma solução de ERP”, diz Robinson Klein, CEO da Cigam. A presença do módulo móvel gerou um aumento de 30% nas vendas da companhia, informa o executivo. “Todas as aplicações do mundo corporativo vão virar móveis, ou já viraram. O acesso móvel é um produto a mais, que pode ou não ser acrescido na mensalidade”, resume Dias, da IBM.

j u n h o 2013 | t e l e t i m e | 2 9


“Acredito que somos hoje o maior criador de apps do mundo” Guilherme Santa Rosa, da MoWA

maior criador de apps do mundo”, orgulha-se Guilherme Santa Rosa, CTO da MoWA e um dos fundadores da Universo.mobi. Em julho, a plataforma será rebatizada como Fábrica de Aplicativos. Iniciativas como essas propiciam o surgimento de um novo modelo de negócios para terceiros. Santa Rosa quer estimular, por exemplo, a proliferação do que chama de “appers”, pessoas que aprendem a usar a plataforma da Universo.mobi e oferecem o seu serviço de criação de aplicativos para quem não tem tempo ou disposição para sentar na frente do PC e produzir por conta própria o app, por mais fácil que seja. Na nova versão da plataforma, com o nome de Fábrica de Aplicativos, será incluída uma rede de recomendação de “appers”. “O pequeno

empreendedor pode fazer disso um negócio. A mão de obra é extremamente rara nesse mercado. Estamos tendo um papel de fomentar essa mão de obra”, avalia o executivo. A Queen Mob também percebe um potencial nesse sentido em sua plataforma Gada: um jovem de Porto Alegre adquiriu a licença e sustenta seus apps com a venda de banners internos. Para especialistas ouvidos por TELETIME, o surgimento do modelo de AaaS e de plataformas selfservice são um sinal de maturidade do mercado. “Isso é importante para um mercado como o latinoamericano, onde existem poucas empresas que desenvolvem apps”, comenta André Andrade, CEO do Titans Group. “O AaaS é um ponto de entrada (no mundo móvel) para quem está na base da pirâmide”, diz Fabiano Lobo, diretor geral da Mobile Marketing Association (MMA). Ele ressalta, contudo, que não basta criar um app e abandoná-lo depois, senão ele se transforma em um ativo morto. É preciso mantê-lo atualizado, não apenas em termos de conteúdo, mas também em termos técnicos, já que os sistemas operacionais realizam updates constantes. “A Apple atualiza o iOS duas ou três vezes por ano. Um app pode se tornar rapidamente obsoleto se não acompanhar (essas atualizações)”, comenta Lobo.

As plataformas self-service de apps Plataforma

AppMachine Universo.mobi (Fábrica de Aplicativos) iBuildApp

Mobile Roadie

30 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

Características gerais Oferece alto grau de personalização e permite teste no próprio smartphone do desenvolvedor. Cobrança é feita somente quando app é publicado.

Sistemas operacionais Android e iOS nativos.

Preço

Planos de US$ 499 a US$ 1.299, em pagamento único. Variação do preço é de acordo com ferramentas de personalização, profundidade dos relatórios de uso e tipo de suporte. Fácil criação a partir de passo a passo Android, HTML5 e Java. Gratuito ou R$ 9/mês. Publicação nas na web. Permite criação gratuita, com app stores é cobrada à parte com inclusão de banner publicitário. anuidade. Criação rápida, com templates básicos. Android, iOS (iPhone e De gratuito a US$ 79/mês, variando de Inclui integração com adnetworks. iPad) e HTML5. acordo com publicação ou não nas app stores e com limite de downloads. Oferece alto grau de personalização e Android e iOS (iPhone e De R$ 250/mês a R$ 1.334/mês. profundidade nos relatórios estatísticos, iPad) nativos. além de atualização remota a qualquer momento e envio de notificações push.

Sashkin/shutterstock.com

foto: divulgação

serviços móveis



regulamentação

Disputa entre dois mundos Samuel Possebon e Helton Posseti

samuca@convergecom.com.br | helton@convergecom.com.br

O

ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, vê um “conflito redistributivo” entre as empresas de conteúdo e as empresas de infraestrutura. Para ele, é preciso que os setores se acertem do ponto de vista financeiro porque, caso contrário, o usuário poderá ser prejudicado. Ele cita o exemplo da AT&T, que bloqueou acesso ao FaceTime (aplicativo que permite comunicação gratuita pela rede de dados entre usuários de iPhone e iPad) nos EUA. “É razoável a reclamação de que estão demandando cada vez mais rede e não há remuneração por isso. Se você tiver uma piscina e trocar a água toda a semana, sua conta vai ser mais alta. Com a Internet tende a acontecer isso também”. Nesta entrevista, Bernardo faz ainda uma avaliação dos resultados do PNBL e conta sobre como o governo está estruturando a evolução do programa. TELETIME - O senhor tem soltado alguns bits de informação sobre o PNBL 2.0, mas de que maneira isso está estruturado, qual a ideia por trás dele, como isso vai ser organizado como política pública? PAULO BERNARDO - Nós temos divulgado informações parciais porque estamos trabalhando no tema, não vamos ficar negando, mas, por outro lado, nós não temos o plano todo. Eu fui fortemente cobrado pela presidenta Dilma. Ela quer promover a universalização do acesso às tecnologias da informação e comunicação. Nós fizemos algumas simulações. Primeiro temos que colocar fibra óptica em todas as cidades que podem ser alcançadas; mas temos pelo menos umas 200 onde não é viável, principalmente na Amazônia. Fizemos um plano básico que é ter fibra óptica em todos os municípios. Está faltando rede em mais ou menos uns 1,8 mil municípios. E, nas cidades que têm, nós identificamos que em muitas delas temos que fazer reforço. As redes existem, mas não com capacidade suficiente. Então, para fazer o backbone, nós precisamos de uns R$ 27 bilhões e para atingir 90% dos domicílios 32 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

foto: marcelo kahn

Paulo Bernardo avalia como a batalha das teles contra as empresas over-the-top (OTT) está mudando o mercado e aponta para um novo modelo de remuneração no setor.

com um mix de fiber-to-the-home (FTTH) ou fiber-to-thecurb (FTTC). Fizemos essa simulação com esse mix e o backbone e nós precisaríamos de uns R$ 120 bilhões. Os R$ 120 bilhões não necessariamente precisam ser colocados pelo Estado; as empresas estão fazendo redes. Nós temos que definir qual o percentual com que o Estado vai entrar. Por exemplo, a presidenta falou que pode colocar dinheiro do orçamento, dinheiro do BNDES, falou que quer entrar para ajudar. Uma coisa da qual eu estou muito convencido e acho que a equipe também se convenceu é a seguinte: cada vez mais as tecnologias móveis serão decisivas. No Brasil, com as condições que nós temos e com as novas tecnologias 4G, é muito provável que a gente erre se for apostar tudo em fibra.


Achamos que uma parte dessa infraestrutura vai ser feita pela Telebras, nas regiões menos atrativas. Precisamos definir o mix de tecnologia e depois quem faz o quê e de onde sai o dinheiro. E essa troca o senhor acha que vem na licitação dos 700 MHz? Com os 700 MHz nós já temos simulações que mostram que, no mínimo, cabe todo o backbone que queremos fazer, como contrapartida ao leilão. Nas redes vicinais, temos que ver qual a tendência do mercado e decidir onde temos que intervir para acelerar.

“No Brasil, com as condições que nós temos e com as novas tecnologias 4G, é muito provável que a gente erre se for apostar tudo em fibra.”

Os operadores já manifestaram alguma reticência em relação a essa antecipação da licitação dos 700 MHz, por conta do esforço de investimento que terá que ser feito para implantação do 2,5 GHz. Existe alguma chance de o governo recuar dessa ideia de antecipar o leilão de 700 MHz? Não vejo por quê. Até porque, se eu fosse acreditar em tudo que eles dizem, não teria feito a de 2,5 GHz também. Essas obrigações que eles têm de investimento é parte do processo de contrato, isso significa um valor menor que nós arrecadamos. É que essa antecipação vem com as obrigações de ampliação do backbone, como o senhor já mencionou, mas também com as obrigações em relação aos radiodifusores. Mas eu entendo que em última instância quem vai pagar é o Estado. Se eu for vender o espectro “naked”, como os técnicos falam, eles vão pagar quanto? E sem contar que o 700 MHz, para quem tem obrigação do 2,5 GHz, ajuda. Em determinadas áreas ele é mais eficaz porque tem mais facilidade, a cobertura vai mais longe. Tem uma expectativa de arrecadação do leilão de 700MHz? Eu vi que o Departamento de Estado americano calcula investimento de US$ 40 bilhões, aí não é só a frequência. Não sei onde se baseou aquilo, mas também não vou desprezar, porque eles devem saber fazer conta. A Anatel tem várias simulações, evidente que eu não vou ficar falando, mas é uma faixa valiosa. E em relação a essas medidas que estão paradas, a comunicação máquina-a-máquina (M2M) e o compartilhamento de infraestrutura... Por que é tão complicado convencer o resto do governo dessas medidas que são tão importantes? O M2M nós demoramos aqui porque nós priorizamos outros instrumentos, mas está pronto e já

começamos a discutir com a Fazenda. Não acredito que vai ter problema porque eles foram muito simpáticos no trâmite. O compartilhamento eu falei com a presidenta, acho que nós vamos conseguir resolver. E aí tem que falar com ela, porque como envolve muitas áreas do governo, se não for decisão central não vai sair.

A presidenta já manifestou algum tipo de preocupação com a situação da única grande empresa brasileira no mercado de telecom, a Oi, que tem uma situação de dívida muito complicada e tem um papel relevante para o País? Assim individualmente não, mas ela acompanha. Eu mando alguns informes. É que eu não posso sobrecarregar a presidente com um monte de dados. E vocês (Minicom) se preocupam? Claro, temos acompanhado o tempo todo todas as empresas, até porque nós estamos preocupados em desenvolver o setor. Temos que acompanhar, mas quem tem que resolver o problema são eles. Mas existe o princípio de que manter a empresa brasileira é fundamental dentro da política do governo? Nós temos quatro grandes grupos. Nós achamos que temos que zelar pela situação de todos eles, fazer boa regulamentação, fazer políticas que viabilizem. Até porque existem poucos mercados com quatro empresas concorrendo, por exemplo, na telefonia móvel, como no nosso caso. Então para nós interessa preservar essa situação, porque essa briga beneficia o consumidor. Vocês tinham uma aposta grande que a nova legislação de TV por assinatura ia expandir a quantidade de redes pelo País e até agora, fora a Net, não tem sido a prática das grandes operadoras. Qual a sua avaliação em relação a isso? Eu continuo achando que a mudança da legislação é um grande estímulo para aumentar os investimentos. Não tem cabimento fazer rede duplicada. A tendência vai ser cada vez compartilhar mais. O mercado não reagiu como o governo esperava? Reagiu, todas as empresas estão fazendo bastante coisa. Ainda continua o mesmo problema, que é o fato de que todo o mundo quer fazer (rede) no mesmo lugar. Eu acho que há uma certa miopia. Na periferia de Brasília, por exemplo, as pessoas têm um poder aquisitivo bom. j u n h o 2013 | t e l e t i m e | 3 3


regulamentação resolver são as retransmissoras. Isso tem que ser trabalhado, mas por outro lado temos um prazo maior porque vamos antecipar o calendário nos grandes centros e postergar o calendário no interior para 2018. Mas mais importante é o financiamento para a troca dos receptores. Principalmente para a baixa renda nós temos que dar o conversor, ou dar um estímulo para ele comprar uma televisão nova.

“um setor vai engolir o outro? Não necessariamente. O mais provável é que essas over-the-top (ott) acabem abarcando tudo.” É diferente de você ir para o interiorzão onde o pessoal tem renda muito pequena. Aqui o pessoal tem renda alta, comparando. No PNBL 1.0 uma das coisas mais importantes foi o termo de compromisso para a banda larga popular, mas ele não se reverteu em um número grande de assinantes. Qual a sua avaliação? Eu acho que foi certo. Primeiro temos que lembrar o contexto. Nós estávamos discutindo com as empresas um plano de metas de universalização para a telefonia fixa. Nós acrescentamos um item. Vamos ter menos orelhões, menos obrigações e vocês vão vender Internet mais barato. Na minha opinião funcionou, porque normalmente, para o cara que está interessado, as empresas oferecem um plano com outra configuração, isso não é proibido. O senhor acha que a antecipação do calendário de desligamento da TV analógica está pacificada com a radiodifusão? Eles já conhecem mais ou menos o calendário. Não há grandes problemas com isso não. Mas eles esperam que haja algum recurso para fazer isso? Com certeza esperam. Não sei se nós estamos falando do mesmo volume. Nós achamos que é justo. Já tem cálculo, custa US$ 5 mil para trocar o núcleo do transmissor. O número de emissoras digitais está quase passando de 90%. O problema que nós vamos ter que 34 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

O senhor deu uma declaração muito interessante dizendo que a mídia tradicional vai ser atropelada pela Internet. Diante disso, o senhor acha que é hora de retomar aquele debate sobre aplicar a Constituição sobre a Internet? Eu não acho. Eu acho que a Constituição não fala de Internet, porque não existia (em 1988). Pode ser que nós tenhamos que discutir isso, mas eu acho que não está na nossa pauta. Aquele negócio do artigo 222, ali fala empresas jornalísticas. Com certeza não é função do ministério decidir isso e eu não sei nem de quem é, tem que ser discutido e definido. O Franklin (Martins, ex-ministro da secretaria de comunicação social) falava que as empresas de telecomunicações faturam R$ 200 bilhões e a radiodifusão fatura R$ 20 bilhões, R$ 30 bilhões. Então, um setor vai engolir o outro? Não necessariamente. O mais provável é que essas over-the-top (OTT), as empresas de Internet, é que acabem abarcando tudo. Hoje você entra no dispositivo e faz uma teleconferência com Japão. A França está discutindo esse tema, a Alemanha. Em algum momento nós vamos ter que discutir. O senhor acha razoável que as empresas de infraestrutura e as empresas de conteúdo se acertem do ponto de vista econômico com relação a isso? Me parece mais sensato. Ou então elas vão ficar brigando. Você vê, a AT&T nos EUA bloqueou o FaceTime. Mas nós não queremos que bloqueie. Se tem uma coisa como essa, que é boa, o usuário tem que usar. A questão é que há um conflito redistributivo. Um faz a infraestrutura e o outro cria um serviço para falar em cima da minha infraestrutura. O Manoel Rangel (presidente da Ancine) fala que quer começar a discutir o video on-demand, porque está crescendo. Eu acho até provável que não se enquadre na regra de TV por assinatura porque não tem canais, o canal é virtual. Mas é um problema que está chamando a atenção das pessoas. Esse é o ponto. Os serviços over-the-top, que concorrem com os serviços tradicionais, não


são regulados. O senhor acha que tem que haver uma equalização? Eu acho que tem que aprovar o Marco Civil da Internet. Tem que resolver isso e depois tem que ver como resolve outras coisas. Se você “der um Google” para pegar uma matéria da Folha de São Paulo, não vai aparecer. Estadão, Globo, ninguém deixa mais. Por que não está deixando? Eu acho que o que a França fez é razoável. Eles falaram “vocês (Google) têm que contribuir com um fundo para pagar os conteúdos”. E o senhor acha que a exemplo do que a Ancine está fazendo, a Anatel deveria começar a olhar esses serviços OTT, do ponto de vista regulatório? A Anatel com certeza está atenta para o que acontece no mercado. Que tem problema, tem, e em algum momento isso vai ser tratado. Por exemplo, é razoável a reclamação de que estão demandando cada vez mais rede e não há remuneração por isso. Se você tiver uma piscina e trocar a água toda a semana, sua conta vai ser mais alta. Com a Internet tende a acontecer isso também. Ou seja, mudar o modelo de remuneração. Por exemplo. Eu que só leio e-mail, vejo jornal, leio

Facebook. Eu tenho que pagar a conta de quem precisa de muita banda, baixa filme etc? A verdade é que tem uma corrente importante na Internet que defende que não pode ter nenhum tipo de barreira. Geralmente é quem usa muito que diz isso. Mas quando o senhor diz que tem que aprovar o Marco Civil do jeito que está, parece que vocês desistiram dessa discussão. Desistimos não. Estou dizendo que essa discussão existe. A questão do Marco Civil é que ele dá um sinal bom, de que nós estamos fazendo uma regulação. Essas outras questões de conteúdo, diferenciação de conta de Internet, nós não temos solução para isso. E o senhor acha que o Marco Civil não vai amarrar essa discussão para o futuro? Vamos ver pelo outro lado. As empresas estão vendendo 4G pelo mesmo preço do 3G. Mas na hora que eu entro no 4G, eu vou lá no YouTube e baixo um vídeo com uma velocidade louca, então vou consumir muito mais. As empresas estão dizendo que para 4G precisa ter uma banda maior. Você quer baixar um monte de coisa sem limite e o cara que vai mandar SMS vai pagar igualzinho?


regulamentação

Banda larga regulada Anatel aprova novo regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). Mesmo mantendo a Norma 4, de 1995, regras eliminam a necessidade de provedor de acesso. helton@convergecom.com.br

A

Anatel deu um passo importante na modernização do arcabouço regulatório do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), através do qual é possível oferecer Internet em banda larga. Como tudo que diz respeito à Internet é alvo de polêmica, com o novo regulamento do SCM não poderia ser diferente. De olho na evolução tecnológica, a Anatel acabou com a obrigatoriedade de que a conexão à Internet seja realizada por um provedor de acesso. Agora, a própria outorgada do SCM, desde que tenha mais de 50 mil acessos, deverá fazer a conexão gratuitamente, sem contudo fechar a porta para que outros provedores o façam também gratuitamente. Uma parte dos provedores de acesso, notadamente aqueles representados pela Abranet (onde estão os grandes provedores de acesso, como o UOL), não gostou da notícia, mesmo que o objetivo alegado pela Anatel tenha sido apenas de atualizar a norma a uma realidade do mercado. A questão é que com o surgimento da banda larga, tecnicamente deixou de ser necessário que um terceiro faça a conexão. Além disso, outros serviços que também permitem a conexão à Internet como o Serviço Móvel Pessoal (SMP) e a TV por assinatura nunca necessitaram do provedor de acesso. “A partir do momento em que se teve acesso em banda larga, o ato do usuário de se logar e autenticar na rede passou a ter menos valor agregado em relação à conexão discada. Tanto é que desde 1999, no serviço de TV a cabo, já se permite fazer o Serviço de Valor Adicionado (SVA) diretamente. A única coisa que a gente fez foi dizer que, assim

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como na TV por assinatura e no Serviço Móvel Pessoal, o SCM também pode conectar diretamente à Internet, sem a necessidade do provedor adicional”, explica o relator da matéria no conselho diretor da Anatel, Marcelo Bechara. O impacto é, portanto, para as teles que proveem o serviço de banda larga por redes ADSL. A Anatel desobrigou a contratação de um provedor de conexão sem alterar, entretanto, a Norma 4, de 1995, que separou o serviço de telecomunicações da conexão à Internet, classificada como Serviço de Valor Adicionado. Assim, para todos os efeitos - e o principal deles é tributário -, telecom e o serviço de acesso à Internet continuam sendo duas coisas para todos os efeitos, telecom distintas. “O que os provedores e o serviço de temiam, e nós não acesso à Internet fizemos, foi transformar continuam sendo o serviço de conexão à duas coisas Internet em serviço de distintas. telecomunicações. E muito mais por uma questão tributária, porque sobre telecomunicações incide ICMS, Fust, Fistel e Funttel e no caso de provimento de conexão à Internet incide apenas o ISS”, explica o conselheiro Marcelo Bechara.

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Helton Posseti


“O que os provedores temiam era transformar o serviço de conexão à Internet em serviço de telecomunicações. E muito mais por uma questão tributária.” Marcelo Bechara, da Anatel

Outra boa notícia na visão da Abrint foi a simplificação das regras para as empresas com até 5 mil assinantes, realidade para aproximadamente 80% dos associados. Pelas novas regras, essas empresas não precisam disponibilizar um sistema através do qual a Anatel terá acesso aos registros de reclamações, solicitações de serviços, pedidos de rescisão e de informação. Também não precisarão guardar as chamadas para o call center, nem comunicar interrupções à agência. As empresas com menos de 50 mil acessos também têm regras diferenciadas, como prazo menor para a guarda das gravações das chamadas ao call center. Em vez de guardarem por 120 dias deverão guardar por 90 dias. Outra novidade do regulamento foi a diminuição no preço da outorga, que antes custava R$ 9 mil e agora sai por R$ 400. Pelo preço antigo, o interessado poderá levar não só a licença de SCM, mas também de TV por assinatura (SeAC) e telefonia fixa (STFC). Para o presidente da Abrint isso não será um motivador de uma avalanche de pedidos de licença na Anatel, mas as condições favoráveis do novo regulamento podem gerar um efeito semelhante. “O preço não era o que impedia as pessoas de pedirem a outorga. Pode acontecer uma enxurrada de pedidos porque o

Conheça as novas regras • Licença cai de R$ 9 mil para R$ 400. • Por R$ 9 mil o empresário leva outorga de SCM, TV por assinatura (SeAC) e telefonia (STFC). • Empresas com mais de 50 mil acessos deverão fazer a autenticação de acesso à Internet gratuitamente. • Empresas com menos de 5 mil acessos não precisam guardar gravações de call center, disponibilizar sistema para acesso da Anatel nem informar interrupções. • Empresas devem guardar logs de conexão por um ano.

Vitezslav Valka/shutterstock.com

O Ministério das Comunicações chegou a emitir uma nota técnica em 2011 recomendando que a Anatel revisasse a Norma 4. Para Bechara, contudo, havia um “clamor” à época provocado pela CPI da Pedofilia, em que as autoridades estavam tendo dificuldades em obter os registros de conexão. Como o serviço de provimento de acesso é de valor adicionado, a Anatel não tem poder de regulá-lo, daí a posição do Minicom em tornar o acesso à Internet serviço de telecom. Hoje o contexto é outro e o impacto fiscal da revisão da Norma 4 seria um retrocesso na intenção da Anatel de estimular o mercado de provedores de acesso. “A visão hoje, e eu acho que o Minicom entende isso, é criar mecanismos para que pequenas empresas possam empreender na prestação de serviços convergentes de telecom. A Norma 4 foi mantida muito pensando nisso também, para que o impacto fiscal não inviabilize que elas possam florescer”, diz ele. Hoje o Conselho Diretor da Anatel aprova de 30 a 40 novas outorgas de SCM por semana. Apesar das explicações de Bechara, a Abranet divulgou um comunicado no dia da aprovação do novo regulamento em que denuncia “a ameaça de interrupção da evolução da Internet no Brasil”. No comunicado, a associação dizia que o novo regulamento pode acabar com a liberdade na rede e criar um monopólio. “O novo regulamento permite que as empresas donas da infraestrutura, as empresas de telecomunicações, passem por cima dos 3,8 mil provedores de Internet do Brasil e passem a oferecer diretamente, além do acesso banda larga, o serviço de conexão, que é responsável pela segurança e neutralidade da navegação”, diz o comunicado. O discurso incisivo divulgado no calor dos acontecimentos deu lugar a um tom mais cauteloso. O vice-presidente da associação, Eduardo Parajo, explica que a Abranet está analisando o novo regulamento “com bastante cautela”. “Nossa preocupação é não concentrar mais o mercado. O mercado já está funcionando, não vejo por que mudar”, disse ele. Outra associação que representa os provedores de Internet não viu um problema na mudança da regra. O presidente da Abrint, Basílio Perez, explica que a maioria dos associados são empresas de telecom e não apenas empresas de SVA. “Autenticação não é mais o foco das empresas, portanto essa parte não afetou em nada”, diz. “A parte boa é que eles não mexeram na Norma 4, e assim podemos manter o nosso modelo de negócio”, completa.

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sistema como um todo ficou favorável para as pequenas empresas”, analisa ele. Guarda de logs e neutralidade Inspirado no Marco Civil da Internet, o novo regulamento determina que os provedores guardem os logs pelo prazo de um ano e os disponibilizem para as autoridades competentes quando solicitados. Por questões comerciais, os provedores já guardavam esses registros, mas agora ficou clara a obrigatoriedade e o prazo. Para a Abrint, essa questão não é problema porque os custos de armazenamento estão caindo. Perez explica que os provedores já guardam esses dados para saberem sobre o perfil de uso dos seus clientes, como o horário de maior tráfego etc. No caso da neutralidade, a Anatel foi mais conservadora e decidiu esperar a manifestação do Congresso Nacional. O texto aprovado diz apenas que “as operadoras devem respeitar a neutralidade de rede conforme regulamentação, nos termos da legislação”. O conselheiro Marcelo Bechara explica porque o novo regulamento dá tratamento diferenciado aos dois assuntos abordados pelo Marco Civil – abordando um e deixando o outro para o texto legal. “Aqui (a guarda de logs) é o lado negro da Internet. Não podemos ser complacentes e deixar que as autoridades não tenham instrumento e deixar que aqueles que cometem crimes fiquem acobertados pela falta de regulamentação. Se o Marco Civil resolver mudar para três anos, automaticamente aqui vai mudar para três anos. Ninguém pode ser acobertado no crime”, afirma. Qualidade Outro aspecto polêmico do novo regulamento é o tratamento que foi dado à questão da qualidade. O texto estabelece que após o consumo da franquia de dados, as empresas poderão reduzir livremente a velocidade da conexão. Este artigo desagradou a ProTeste. Durante os debates sobre o regulamento de qualidade do serviço (RGQ-SCM), a associação questionou o então superintendente de Serviços Privados,

“Nossa preocupação é não concentrar mais o mercado. ele já está funcionando, não vejo por que mudar.” Eduardo Parajo, da Abranet 38 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

foto: divulgação

regulamentação

“A parte boa é que eles não mexeram na Norma 4. Isso é bom porque podemos manter o nosso modelo de negócio.” Basílio Perez, da Abrint

Bruno Ramos, se as regras (especialmente de velocidade mínima e média) valiam também para os planos de Internet popular que há pouco tempo haviam sido acordados entre as empresas e o Minicom. O questionamento fazia sentido porque esses planos com velocidade de 1 Mbps por R$ 35 têm franquia de dados de 300 MB para a conexão fixa e 150 MB para a conexão móvel, e, pelo acordo, depois do consumo da franquia, não há limite para a redução da velocidade. A resposta do então superintendente foi categórica: sim, as regras valem para todo e qualquer plano das empresas. Assim, o entendimento da ProTeste foi de que as regras de velocidade mínima e média também se aplicariam aos planos com franquia de dados, mesmo após o consumo da franquia. A interpretação faz sentido, já que o principal problema que o regulamento visava atacar era o fato de as teles entregarem uma velocidade muito inferior àquela contratada. Agora a Anatel dá uma interpretação diferente sobre a questão. “Se você estourou sua franquia, tem duas possibilidades. Ou você não paga nada e sua velocidade é reduzida ou você continua pagando. Mas aquilo que foi contratado tem que ser garantido. Se eu colocar o piso eu beneficio o cara que sempre estoura. Aquele que sempre estoura vai estar financiando aquele que não estoura”, diz o conselheiro.


artigo

Sustentabilidade em telecomunicações estamos descartando metais pesados altamente tóxicos como o chumbo, material que usado nas taças da nobreza na Idade Média matou inúmeros reis e tema sustentabilidade no setor de rainhas até ter seu uso proibido nas baixelas. telecomunicações foi colocado na pauta do A conclusão do debate sobre a sustentabilidade nas Painel Telebrasil deste ano, realizado em maio. telecomunicações levantado no Painel Telebrasil foi de Como se pôde depreender na ocasião, que cada vez mais se torna imperativo o reuso de sustentabilidade já é percebida como uma questão materiais, produzir produtos de menor massa (menores), importante, mas não prioritária para quem tem que desmaterializar (substituir produtos físicos por serviços disponibilizar o serviço de mobilidade, torres e antenas em TIC), gastar menos energia na produção e no seu uso; em meio a mais de 200 leis municipais e estaduais ter mais atualizações remotas e menos frequentes ditando onde e o que pode ou não pode ser feito. De fato, trocas de aparelhos, estimulado por um verdadeiro o conflito é o típico entre o urgente a ser feito e o bullying social e de marketing. importante a se fazer. Neste cenário para o incentivo à adoção da nova O debate, durante a Telebrasil, trouxe um enfoque prática, explica-se a necessidade de uma legislação que diferente em duas abordagens (nenhuma delas sobre a restrinja ao uso de materiais (como o chumbo); dê fim ao costumeira do aquecimento global e poluição): falou-se atual conceito de lixo, informando onde e como da sustentabilidade no processo industrial e da descartar os produtos industriais e de consumo que não sustentabilidade com soluções em TIC substituindo nos têm mais serventia (pós-uso); estimular e facilitar os produtos industriais por serviços de telecom e o grau de novos processos de se trazer de volta para a cadeia de satisfação da comunidade. suprimentos industrial (logística reversa) os insumos A provocação colocada no debate trouxe o recuperados dos produtos descartados (reciclagem); esquecido caso – mas emblemático - da tecnologia do além de orientar sobre o que fazer com o que não se display de LCD. Como todos se lembram, essa consegue recuperar (descarte ambientalmente correto). tecnologia apresentava características interessantes, Busca-se uma sobrevida dos materiais industriais, mas teve um ciclo de vida curto no mercado. O motivo? principalmente os perto de estarem esgotados, como o Entre outros fatores – e este escapou cobre, que nesse cenário passa de um da grande mídia - ao esgotamento do horizonte de 20 para 61 anos, e o ouro, elemento índio, essencial à tecnologia sustentabilidade de 36 para 41 anos. E para os que do produto e sem um material temem o custo desse processo de já é percebida substituto. O que chamou a atenção é logística reversa, já há quem pague a como uma questão uma operadora para retirar uma ERB do que o mesmo fato está para acontecer importante, mas com muitos dos materiais industriais campo e lhe dar a destinação não prioritária de uso costumeiro na indústria como o ambientalmente correta. cobre, que está com os seus dias Uma pergunta ficou no ar: dentro de para quem tem contados (ao redor de 20 anos), ou o que disponibilizar cinco anos, por onde virá a concorrência ouro, com reservas comerciais e o ataque ao produto e tecnologia? o serviço de estimadas em 36 anos, porque mobilidade, torres Pela terra (custo material), água jogamos no lixo os produtos eletrônicos (indisponibilidade), ar (aquecimento) ou e antenas em meio pela “nuvem” (soluções em TIC)? em vez de reaproveitar seus materiais a mais de 200 na logística e cadeia de suprimentos Definitivamente, a sustentabilidade traz leis municipais no mundo. É também verdade que um novo horizonte e mais negócios e estaduais. juntamente com esses metais nobres para as telecomunicações.

foto: marcelo kahn

Alberto Ozolins*

cartas.teletime@convergecom.com.br

O

*Profissional de telecomunicações e sócio-gerente da Teles Lanari Consultoria para Negócios e Sustentabilidade.

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produtos&serviços

OTT

Videogames, mas também vídeo

fotos: DIVULGAÇÃO

playstation 4

Na guerra dos consoles de nova geração, uma coisa ficou clara: Microsoft e Sony estão tentando estratégias diferentes. Agora isso não é necessariamente no terreno dos games, mas nas oportunidades multiplataforma e na conectividade. O Xbox One, da Microsoft, aposta mais na oferta de conteúdo over-the-top (OTT) para a família do que em jogos para heavy users. Entre as novidades, a possibilidade de fazer chamadas no Skype com vídeo simultaneamente enquanto se joga. Da mesma forma, Netflix e Hulu, duas das mais populares plataformas de streaming de filmes e séries, ganharam destaque. A perda de foco nos

games desagradou fãs do console, assim como a exigência de se conectar à plataforma online pelo menos uma vez a cada 24 horas e o impedimento de empréstimo de jogos usados. O preço do console será de US$ 499, ou R$ 2,2 mil no Brasil. Já o PlayStation 4, da Sony, embora tenho dado atenção especial ao lançamento de jogos com gráficos aprimorados e elementos sociais, também terá serviços OTT. Além de Netflix e Hulu, o PS4 agregará o Crackle (da própria Sony) e o Amazon Video. A novidade, também para o PlayStation 3 e o portátil Vita, é que os consoles agora contarão com o Redbox Instant (da operadora norteamericana Verizon) e Flixter, pelo menos nos Estados Unidos. O PS4 sairá por US$ 100 a menos que o Xbox One, mas ainda não teve preço no Brasil divulgado.

Chipsets

Offload

Para turbinar smartphones de entrada

TIM traz login automático para Wi-Fi

Mirando nos mercados em desenvolvimento, a companhia de chipsets Broadcom anunciou em junho o lançamento de um processador quadcore para smartphones de entrada, o BCM23550, construído para equipar aparelhos com gráficos e vídeo em alta definição (720p em monitores externos e TV). O equipamento conta com um processador de 1,2 GHz, core de vídeo multimídia e multitela e suporte a sensores de 12 megapixels. O BCM23550 vem acompanhado de uma suíte de conectividade, também da Broadcom, e tem Wi-Fi, GPS/ GLONASS, NFC e uma plataforma dualcore HSPA+ para redes móveis de até 21 Mbps de download e 5,8 Mbps de upload. O equipamento ainda é dualSIM e estará disponível para fabricantes no terceiro trimestre de 2013.

O tráfego de clientes TIM no Rio de Janeiro e em São Paulo já começou a ser direcionado automaticamente para a rede fixa da operadora nos hotspots Wi-Fi, isto é, dispensando a necessidade de login. Agora, iPhones e smartphones da Samsung que têm a tecnologia EAP (Extensible Authentication Protocol) já autenticam automaticamente na rede de hotspots Wi-Fi, que identificam os clientes da operadora e imediatamente passam a escoar a navegação para rede fixa. A empresa afirma que o objetivo é fazer o offload e melhorar a qualidade do acesso. Claro que pontos estratégicos, mesmo fora do eixo Rio-São Paulo, não ficaram de lado: a TIM já concluiu a instalação de todos os hotspots Wi-Fi para aeroportos e estádios de futebol da Copa das Confederações.

40 | t e l e t i m e | j u n h o 2013

xbox one


Sistema operacional

Apple apresenta o iOS 7 A Apple apresentou no começou de junho seu novo sistema operacional móvel, o iOS 7, trazendo mudanças radicais no visual, mas poucas funcionalidades novas. Espera-se que novidades mais impactantes sejam mostradas junto com os novos modelos de iPhone e iPads, que deverão ser apresentados no final do terceiro trimestre. A tipografia geral mudou, assim como os ícones dos apps e a interface dentro desses aplicativos, ficando com aspecto chapado e limpo. A tela de fundo tem efeito de parallax, que altera sua perspectiva de profundidade de acordo com movimento. Agora é possível voltar para telas anteriores arrastando o dedo da esquerda para a direita. Foi criado um centro de controle, acessível ao arrastar o dedo de baixo para cima. Nele há ferramentas básicas como

“modo avião”, player de música, lanterna e AirPlay. O menu de notificações também passou a ser acessível com o aparelho nesse estado e a câmera passa a contar com alguns filtros similares aos do Instagram. O compartilhamento de conteúdo com dispositivos da Apple pode ser feito via Wi-Fi, com o aplicativo AirDrop, que identifica os amigos próximos. E o iCloud agora aceita também o backup de vídeos gravados no telefone. Ao clicar duas vezes no “home button” é possível também navegar por miniaturas dos apps. Finalmente, em caso de roubo ou perda do iPhone será necessário informar a senha do iCloud para usá-lo de novo. Ainda em fase beta para desenvolvedores, o software só será disponibilizado para o consumidor durante o outono norteamericano (primavera no Brasil).

SeaC

Telebras ataca com CDN A Telebras anunciou que fornecerá serviços de CDN (Content Delivery Network) em parceria com empresas de conteúdo para provedores de acesso até o ano que vem. A ideia é proporcionar concorrência isonômica aos provedores menores do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) com oferta de pacotes triple play. O projeto, ainda em fase de estudos de arquitetura e modelo de negócios, fará a Telebras concorrer com empresas como Akamai e Level 3. A entrada no mercado de CDN em 2014 visa promover maior poder de competição a uma gama de mais de cem provedores que utilizam a infraestrutura da Telebras no País. A empresa

afirma que tem potencial para atender mais de 1,5 mil municípios com a rede de 25 mil km de backbone, que foi finalizado em maio. j u n h o 2013 | t e l e t i m e | 41


ponto&contraponto

Desonerar é uma distorção

A desoneração temporária parcial de algumas alíquotas de impostos e taxas da alçada federal não é solução para resolver a questão de competitividade de nossa indústria.

Cláudio Dascal

estímulos se distribuam como reflexos duradouros na cadeia produtiva. Não adianta produzir carros sem estimular a indústria de autopeças, sem construir vias, ecorrer a desonerações de qualquer tipo e por estradas e estacionamentos. qualquer tempo é o reconhecimento da nossa Outra questão relevante é a dependência de incompetência em ajustar desacertos do nosso insumos importados, que gera uma excessiva exagerado sistema tributário, que é apenas um sensibilidade de custos na nossa indústria com a dos vários gargalos que inviabiliza o desenvolvimento de variação cambial. Nas commodities, isso ajuda a nossa indústria e já afeta também o setor de serviços. exportação, mas nos produtos industrializados pode ter A desoneração tem efeito imediato apenas quando um efeito adverso para o mercado interno e se trata de medida geral, como no caso da indústria possivelmente neutro nas exportações setoriais. automobilística, onde parte da redução de imposto é A solução é simplificar, e não criar mais repassada rapidamente ou mesmo antecipadamente mecanismos, projetos e entidades. O caminho da aos preços. Em setores econômicos mais complexos, competitividade passa pela simplificação das como nas telecomunicações, as desonerações propostas atividades, eliminação dos gargalos, diminuição da são cirúrgicas e não terão impacto geral de estímulo à burocracia. Além de termos a maior carga tributária, produção ou ao consumo. temos o mais complexo sistema de arrecadação e A desoneração cirúrgica no setor cria uma demanda cálculos de impostos e taxas do mundo. Um custo por mais burocracia nas empresas que buscam operacional para as empresas, seus prestadores de enquadramento e obtenção dos benefícios. Isso acarreta serviço e para a máquina governamental, que deve gerir uma carga burocrática e um tempo de aprovação de e fiscalizar tal complexidade. projetos. Depois, na sua vigência, acarreta um custo de Em lugar de uma desoneração cirúrgica, deveria ser administração adicional à já pesada carga de tributos buscada uma pequena redução generalizada. Reduções que temos. É até questionável se o custo de obtenção do progressivas, de 1%, ou mesmo frações, ou ainda a benefício e sua administração compensam. A mesma eliminação por completo de tributos de forma aplicável a pergunta se aplica à demanda adicional do trabalho toda a cadeia de produção, serviços e consumo, gerado para a aprovação de projetos, que em geral transferindo liquidez para todo o mercado, sem criar envolvem alguns ministérios, e uma vez concedidos, na distorções artificiais e pontuais. própria fiscalização dos benefícios. Assim, há um É necessário que se dê atenção ao setor de serviços, inevitável aumento de custo burocrático que já enfrenta pressões de para empresas e governo. E o resultado competitividade. Já passamos a recorrer pode não compensar a redução de custo a desenvolvimento de software em eventualmente repassado ao produto final outros países; nossos custos de mão de para estimular o consumo. O que o resultado pode obra e impostos tornam proibitivos estamos fazendo é aplicar métodos que não compensar a manter essas atividades no país. Não se levam a aumentar as ineficiências em redução de custo trata apenas de educação ou detrimento do aumento de disponibilidade de profissionais eventualmente competitividade. Estamos apenas competentes. Trata-se de custos e repassado ao mascarando situações. produtividade, sempre associados e produto final Cria-se uma distorção na cadeia atrelados ao custo Brasil. É necessário para estimular produtiva. As soluções econômicas têm inverter a tendência de adotar soluções o consumo. que ser homogêneas para que os improvisadas e de curto prazo.

dascal@uol.com.br

R

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NÃO FIQUE FORA DE ÓRBITA!

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