Revista Teletime - 169 - Setembro de 2013

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Bolha de oferta Após licitação de 2011 e planejamentos ambiciosos, operadores de satélite temem excesso de capacidade Sem consenso Passados sete anos de discussões, setores de telecom e de energia ainda divergem quanto ao preço para uso de postes

Ano 16 • Setembro 2013 • #169 www.teletime.com.br

especial

mobilidade corporativa

Rota acidentada Necessidade de altos investimentos em fibra e modelos falhos atrapalham desenvolvimento da IPTV no Brasil




editorial

Grande demais para falhar

N

o mês de setembro Zeinal Bava, que ocupa a planos de marketing específicos, Zeinal Bava e os presidência da Oi desde junho, falou pela sócios da Oi, sem dúvida, trabalham em uma solução primeira vez à imprensa. Ao contrário do seu de médio prazo para colocar a empresa nos trilhos. Só antecessor, Francisco Valim, que na primeira esperamos que desse trabalho de reestruturação oportunidade que teve de falar com jornalistas (em abril venha uma empresa mais agressiva, mais competitiva de 2012) deu ênfase nas políticas de distribuição de e, sobretudo, que a solução não leve a uma dividendos e nas perspectivas de longo prazo da Oi, concentração ainda maior do mercado. Bava foi ao detalhe e optou por trazer apenas um novo ­ plano, que fosse um ícone daquilo que a operadora pretende fazer daqui para frente. Mostrou, com isso, um Fato sintomático do nível de irracionalidade vivido estilo de gestão focado em resultados operacionais. pelo governo por conta das denúncias de espionagem As perspectivas da Oi são complexas e delicadas. foi a decisão de... acelerar o Marco Civil. Foi a Altamente endividada e sem capacidade de investir, a explicação oficiosa para o pedido de urgência empresa luta para manter seu constitucional feito pela presidenta market share. Ao focar no segmento Dilma Rousseff ao texto. Não há pré-pago, fica claro que a empresa a oi atende onde problema algum em o governo, quer manter os números altos em ninguém mais chega, a convicto de que o Marco Civil é o termos de assinantes, ainda que a melhor caminho para o País, decidir única concessionária dar um empurrãozinho no projeto. Mas, rentabilidade seja menor. Também mostra que vai atuar em nichos, em de telefonia na maior vamos colocar as coisas em seu parte das cidades devido lugar: o Marco Civil não tem vez de um cardápio de planos para brasileiras, é uma nenhum poder de barrar, evitar ou toda a base. Zeinal Bava destacou um empresa cuja criação diminuir bisbilhotagem internacional diferencial que, de fato, só a Oi tem: teve um forte em nossas redes e serviços de rede em 4,6 mil municípios componente político Internet. Não é ele quem fará com que brasileiros. Tudo indica que a tele e é a empresa em mais o e-mail da presidenta seja mais ou vai buscar ser a operadora menos seguro. crítica situação multisserviços onde ninguém mais Ainda que o texto final exija econômica. presença local e armazenagem de chega. Ainda que a solução tecnológica não seja a de ponta, a dados no Brasil daqueles serviços Oi entende que mais vale ter alguma coisa para prestados por empresas estrangeiras com atividade oferecer em todos os lugares do que não oferecer comercial aqui, o efeito é inócuo em relação à nada. Será, assim, uma oferta “básica”, com ADSL, segurança. Se o objetivo é proteger informações DTH e telefone fixo e móvel. Investimentos mais estratégicas, o melhor caminho é um planejamento pesados em FTTx, 4G e outras tecnologias estratégico de longo prazo, coordenação entre as competitivas ficam para depois. áreas do governo e desenvolvimento tecnológico O governo está, obviamente, preocupado com a próprio. Não é o que aconteceu no caso da Petrobras, situação da operadora. A Oi é grande demais para por exemplo, que é o alvo número um de interesses falhar. É a incumbent que atende onde ninguém mais da arapongagem governamental e empresarial chega, a única concessionária de telefonia na maior externas e que, espantosamente, sequer teve suas parte das cidades brasileiras, é uma empresa cuja necessidades avaliadas para ser atendida pelo Satélite criação teve um forte componente político e é a Geoestacionário de Defesa e Comunicação brasileiro. empresa em mais crítica situação econômica. Nesse momento, enquanto dá apenas algumas pistas de como vai redirecionar a Oi anunciando samuca@convergecom.com.br 4 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013



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169 #

Capa

Devagar, quase parando Cinco anos depois da primeira implantação, as plataformas de IPTV no Brasil ainda não decolaram. Dificuldades nas estratégias de negócios e na parte técnica para instalação de redes de fibra são maiores obstáculos.

Editorial 4 News 8 Produtos e Serviços 40 Bits 42 Ponto de vista 44 Contraponto 46 6 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

ilustração de capa: ollyy/shutterstock.com.

especial

mobilidade corporativa

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Entre quatro paredes

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Governo nas mãos do povo

Após o sucesso das plataformas de geolocalização via satélite, desenvolvedores agora apostam na utilização da rede Wi-Fi e dispositivos móveis para oferecer localização indoor aos usuários.

Aplicações de m-gov são as bola da vez em projetos de órgãos federais para promover transparência, facilidade de acesso à informação e participação do cidadão na gestão pública.


Editor Samuel Possebon Editora Adjunta e Editora de Projetos Especiais Letícia Cordeiro Editor de Mobilidade Fernando Paiva (Rio de Janeiro) Redação Bruno do Amaral, Marina Tsutsumi; e André Silveira e Helton Posseti (Brasília) Consultor Especial Cláudio Dascal

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Arte Edmur Cason (Direção de Arte); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica); Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora)

Entrevista

Defesa em bloco

Departamento Comercial Cibele Tommasini (Gerente Negócios) Ivaneti Longo (Assistente)

Presidente executivo do SindiTelebrasil, Eduardo Levy fala sobre o Marco Civil da Internet, espionagem, CPIs estaduais e os desafios institucionais das teles.

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evento

Bolha espacial Mercado de satélites embarcou no bom momento dos últimos anos e acabou encomendando equipamentos demais. Agora o setor teme que o acúmulo de ofertas vire uma bolha.

Inscrições e Assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente) Circulação Patricia Brandão (Gerente) Presidente Rubens Glasberg Diretores Editoriais André Mermelstein Claudiney Santos Samuel Possebon (Brasília) Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski

Marketing Gisella Gimenez (Gerente) Ana Paula Pascoaletto (Assistente) Administração Claudia Tornelli Zegaib (Gerente) TELETIME é uma publicação mensal da Converge Comunicações. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem autorização da Glasberg A.C.R. S/A. Jornalista responsável: Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão: Ipsis Gráfica e Editora S.A.

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Regulamentação

Não é só por R$ 0,20 Anatel e Aneel concordam no preço de referência em R$ 2,44 por ponto de fixação em postes. Mas setores de telecomunicações e de energia discordam na aplicação e proposta permanece indefinida.

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Da redação do Teletime News www.teletime.com.br

Espectro

Edital de 700 MHz só após garantia de canais para TVs Um ofício enviado no último dia 30 de agosto pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao presidente da Anatel, João Rezende, mostra que o jogo pela faixa de 700 MHz poderá não ser tão simples como já davam como certo as empresas de telecomunicações. No ofício, Paulo Bernardo determina que a Anatel não tome nenhuma decisão relativa à licitação da faixa de 700 MHz até que “estejam concluídos os trabalhos de replanejamento de canais do Plano Básico de Distribuição de Canais de Televisão Digital”. O objetivo do ministério é “garantir que cada entidade outorgada possua canal para transmissão/retransmissão de seus canais na tecnologia digital”. Além da orientação em relação a como proceder, a forma como a questão foi colocada pelo Minicom dá alguns indícios importantes. Por exemplo, que o ministério espera que também as retransmissoras possam ser acomodadas já nesse primeiro momento. Outro aspecto interessante é que o ofício do ministério não dá chance para que a Anatel possa deliberar com uma acomodação parcial, apenas em algumas cidades. A determinação é clara no sentido

que “nenhuma decisão relativa à licitação da faixa de 700 MHz” será tomada enquanto o replanejamento não estiver concluído. A expectativa de quem acompanha os trabalhos técnicos para esse replanejamento é de que isso levará pelo menos mais um mês e meio. Alguns casos, mais complicados, como Belo Horizonte, ainda estão sendo analisados e discutidos. Uma fonte de alto nível da Anatel diz que de fato nada sobre o edital de 700 MHz será decidido até que a realocação dos canais de TV esteja concluída, o que só deve acontecer no final de novembro. Contudo, a Anatel ainda pretende, até no máximo meados de outubro, aprovar a destinação da faixa para a banda larga móvel.

Senado aprova MP dos pagamentos móveis O Plenário do Senado aprovou no dia 11 a Medida Provisória (MP) 615/2013, que cria regras para o mercado de pagamentos móveis. Com isso, a medida vai se tornar lei com a sanção presidencial, o que deve acontecer até o fim de setembro. Uma das alterações que haviam sido introduzidas no texto proposto pelo governo foi de autoria do senador Walter Pinheiro (PT-BA), que sugeriu que os mecanismos de pagamento móveis pudessem ser utilizados, inclusive, por pessoas sem bancarização. A expectativa do Banco Central é de que a regulamentação da nova lei saia ainda em novembro.

Nada sobre o edital de 700 MHz será decidido até que a realocação dos canais de TV esteja concluída, o que só deve acontecer no final de novembro.

Mercado

Microsoft compra a Nokia O que era apenas especulação se transformou em fato no início de setembro: a Microsoft anunciou a aquisição das áreas de Devices e Serviços da Nokia, bem como licenças de patentes e uso dos serviços de mapas da fabricante finlandesa, por um total de 5,44 bilhões de euros. A companhia norte-americana vai pagar 3,79 bilhões de euros pelas divisões e serviços dedicados a handsets, além de mais 1,65 bilhão de euros pelas licenças de patentes em um contrato de dez anos. A transação deverá ser completada no primeiro trimestre de 2014. A Nokia vai se focar na Nokia Solutions and Networks (NSN), nos serviços de mapas e localização HERE e em tecnologias avançadas (desenvolvimento e licenciamento de tecnologias). A NSN, que foi 100% incorporada à finlandesa após aquisição do share da Siemens, continuará focada nas tecnologias móveis, como LTE e futuros padrões. Em uma primeira etapa, a Microsoft vai disponibilizar para a Nokia 1,5 bilhão de euros em três parcelas de 500 milhões de euros em notas conversíveis. Esse dinheiro será usado pela Nokia para adiantar pagamentos referentes a financiamentos da compra da parte da Siemens na NSN. A Microsoft deverá absorver 32 mil funcionários da finlandesa, 8 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

m-Payment

incluindo 18.300 “diretamente envolvidos na fabricação” e 4.700 pessoas na Finlândia. Como parte da transação, a Nokia vai atribuir à Microsoft o acordo de patentes de longo prazo com a Qualcomm. A marca Nokia continuará a ser detida e gerida pela própria empresa europeia. A ideia é que a Microsoft foque não apenas em smartphones de ponta com Windows Phone 8, mas também no potencial do mercado em desenvolvimento com aparelhos mais baratos. Análise A situação financeira da área de devices da Nokia vinha piorando, como indicavam seus balanços de resultados, a ponto de gerar rumores sobre uma possível aquisição pela Microsoft ou concorrentes que usam Android, como a Huawei. Neste último caso, o interesse seria pelas patentes, mão-de-obra especializada, área de mapas e unidades fabris, abandonando o Windows Phone. O preço pago provavelmente seria menor – a Nokia vale mais para a Microsoft do que para qualquer outra companhia. Sua aquisição tornou-se questão estratégica, pois garante a sobrevivência do Windows Phone, já que a Nokia é o principal fabricante – os outros lançaram poucos modelos, apenas para não ficar completamente de fora e terem uma carta guardada na manga caso algo desse errado com o Android.


Turbilhão italiano O diretor Elio Cosimo Catania, membro do conselho de administração da Telecom Italia, renunciou ao cargo no dia 13 de setembro. O motivo é a investigação por suspeita de fornecer informações confidenciais da empresa a um repórter do jornal romano Il Messagero. Segundo a acusação, a publicação das informações gerou fortes oscilações no título da Telecom Italia na bolsa de valores. Na sua carta de renúncia, Catania afirmou que tomou a decisão para que “a atividade do conselho, em um período tão complexo para a empresa, e o trabalho dos investigadores possam ser cumpridos de uma maneira ordenada, enquanto reafirmo que minhas ações sempre foram corretas”. A Telecom Italia terá uma reunião do conselho para discutir questões de estratégia, o que inclui uma remodelagem da estrutura de acionistas. Em jogo O que está em jogo é o futuro da Telecom Italia com a alteração da composição societária da Telco, holding que controla a incumbent italiana com 22% de seu capital. A Telco, por sua vez,

isak55/shutterstock.com

Internacional

é controlada pela espanhola Telefónica, com 46%, mas o restante do capital está dividido entre instituições financeiras italianas que, segundo rumores de mercado, estariam dispostas a sair do capital da Telecom Italia. A Mediobanca já chegou a anunciar publicamente a disposição de se desfazer da participação de 11,6% na Telco, movimento este que pode ser seguido pela IntesaSanpaolo (que também tem 11,6% das ações da Telco) e

pela Assicurazioni Generali (com outros 31%). O acordo de acionistas da Telco pode ser encerrado no próximo dia 28 e, assim, a Telefónica poderia aumentar a sua participação na Telco ou permitir a entrada de um novo acionista. Por sua vez, a situação da Telefónica não é das melhores. A holding espanhola, já endividada, poderia desembolsar mais dinheiro pela Telecom Italia, mas enfrentaria problemas no Brasil. Teria de devolver o espectro da TIM Brasil ou mesmo vender a subsidiária brasileira para evitar concentração de mercado. Especula-se ainda no mercado italiano a possibilidade de entrada de outras operadoras interessadas na Telecom Italia, como a norte-americana AT&T, a mexicana América Móvil (que já está negociando maior presença na Europa com a aquisição da holandesa KPN), o empresário egípcio Naguib Sawiris (que já havia demonstrado interesse na tele italiana) ou mesmo a britânica Vodafone, que tem procurado expansão na Alemanha com a aquisição da KabelDeutschland, vendeu sua participação de 45% na Verizon Wireless, dos EUA, e, com dinheiro em caixa, já teria manifestado disposição de aumentar investimentos no mercado italiano.

Estratégia

A Oi está em tempos de economia e racionalização de recursos. Claramente, Zeinal Bava, presidente da tele, diz que a Oi investirá menos no próximo ano. “Vamos investir menos, monetariamente, mas não vamos fazer menos com isso. Vamos otimizar o que faremos com o mesmo investimento, por isso muito foco em engenharia, operações e TI”, disse Bava em sua primeira entrevista coletiva desde que assumiu o comando da empresa, em junho. A Oi precisa fazer caixa para reduzir seu endividamento, reiterou o CEO, em linha com o que já havia dito aos analistas de mercado. Isso passa pelo controle de inadimplentes, melhor gestão de custos e, obviamente, mudança na relação com os fornecedores. “Em relação aos investimentos, seremos mais criteriosos, sobre onde investir e em que áreas. Vamos ter que fazer uma alocação mais eficiente de recursos, mudando nosso paradigma de relacionamento com nossos parceiros fornecedores, não só uma relação de compra e venda”, disse. Foco no 3G e no DTH O que está evidente é que a Oi deve manter a expansão da rede 3G, que hoje chega a pouco mais de 500 municípios. A rede 4G, segundo Zeinal Bava, terá cobertura onde foi acordado com a Anatel. “O que vier a mais será uma grata surpresa”, disse. Na rede fixa, por exemplo, onde havia uma diretriz de ampliação da rede de fibras para IPTV, isso deve esperar um pouco. “Na TV por assinatura, o foco nos próximos 18 meses será na expansão da plataforma de DTH”, disse, ressaltando que o IPTV será ofertado onde houver a rede de fibra (ver matéria nesta edição). Mas a operadora entende que o serviço de TV paga precisará ser mais interativo, mais dinâmico, e aposta em serviços over-the-top (OTT) para criar esse tipo de relação. Por outro lado, a Oi deve buscar a melhoria de processos internos de operação, engenharia e TI. Um dos projetos, já em curso,

Nikiforov Volodymyr/shutterstock.com

Oi: menos investimentos e mais produtividade

A América Latina somou 147 milhões de clientes 3G e 4G, ou 21% de todas as assinaturas móveis na região. * São 25 redes LTE comerciais em 12 países latinoamericanos e 317 mil conexões contabilizadas até junho deste ano.

é a implantação de uma nova plataforma de gestão de campo, chamada Click. “Queremos que nossos profissionais sejam mais capacitados, mais produtivos e tenham condições de instalar mais serviços. Um mesmo profissional terá condições de instalar uma banda larga, um serviço de TV e configurar um computador”, diz o CEO. A nova plataforma de gestão de equipe está em implantação em Minas e deve ser estendida a toda a rede. Otimização Outro processo importante é a internalização de cerca de cinco mil técnicos de planta de rede interna que foram incorporados aos quadros da empresa. “Queremos com isso ter mais técnicos, mais engenheiros, mais qualidade na nossa equipe”. A operadora também deve reforçar o atendimento e a qualificação das vendas, de modo a melhorar os indicadores de satisfação e qualidade de serviços. Também existe um foco da operadora na oferta convergente de serviços, com múltiplos produtos e uma só fatura, explorando, sobretudo, o potencial de mercado nas cerca de 4,8 mil cidades em que a Oi está presente, muitas delas sem muitos concorrentes. s e t e m b r o 2013 | t e l e t i m e | 9


IPTV empacou ollyy/shutterstock.com

Altos investimentos em fibra e falta de modelo de negócios diferenciados engessam tecnologia de distribuição de TV paga por redes de dados no Brasil.

Letícia Cordeiro e Bruno do Amaral leticia@convergecom.com.br bruno@convergecom.com.br

U

sar redes de dados IP para entrega de serviços de TV por assinatura não é nem de longe algo novo, mas o IPTV ainda não decolou no Brasil. Os motivos são os altos investimentos necessários para a construção de redes de fibras óticas para garantir acesso de alta velocidade direto na casa dos clientes, e a falta de um modelo de negócios que realmente utilize todo o potencial da plataforma como forma de diferenciação frente às operações tradicionais de TV a cabo. A primeira experiência de IPTV no mercado brasileiro data ainda de 2007, quando a Brasil Telecom (hoje Oi) lançou o Video On. Por barreiras regulatórias, o serviço se restringia apenas a vídeos on-demand (VOD), sem grade de

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programação, e não obteve nenhum resultado significativo. As operadoras de telecomunicações só puderam oferecer serviços de TV a cabo em sua área de concessão a partir de 2012, com a regulamentação da Lei do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC). Assim, em abril do ano passado, quando apresentou seu planejamento estratégico até 2015, a Oi anunciou sua aposta na oferta de serviços quad-play e o lançamento de sua plataforma de IPTV utilizando o Mediaroom, middleware da Microsoft adquirido recentemente pela Ericsson. A ideia era oferecer o serviço em cima de uma rede fiber-to-the-home (FTTH) a ser construída e que chegaria a 2,5 milhões de homes-passed até 2015. O problema é que a situação financeira da Oi se agravou e, em tempos de economia e racionalização de recursos, os planos de IPTV da operadora foram colocados de lado. A companhia precisa fazer caixa para reduzir seu


foto: arquivo

endividamento e, segundo o novo CEO da Oi, Zeinal Bava, isso passa também por um maior critério na alocação dos investimentos. Assim, a diretriz de ampliação da rede de fibras para a tecnologia deve esperar um pouco. “Na TV por assinatura, o foco nos próximos 18 meses será na expansão da plataforma de DTH”, disse Bava, ressaltando que o IPTV será ofertado onde houver a rede de fibra. Mas a operadora entende que o serviço de TV paga precisará ser mais interativo, mais dinâmico, e aposta em serviços over-the-top (OTT) para criar esse tipo de relação. O fato é que o IPTV da Oi teve participação insignificante no crescimento de 18,8% na base de assinantes de TV por assinatura da operadora em 2013, que fechou em 889,4 mil assinantes. Quase a totalidade dos 140,6 mil novos clientes de TV entre janeiro e junho deste ano veio pelo DTH. E nada indica que esse foco irá mudar, já que a tele conta com o satélite SES-6, lançado em junho. A operadora contratou toda a capacidade de banda Ku no satélite, mais do que dobrando a quantidade de canais que pode oferecer via DTH. Começar de novo Na Telefônica/Vivo, cujo IPTV também já foi lançado e relançado, o serviço ainda patina. A primeira tentativa da operadora, lançada em 2008 sobre uma rede de fibra ótica na cidade de São Paulo, não conseguiu fazer com que os potenciais clientes da tele percebessem valor no serviço. O desempenho foi bem aquém do esperado e o próprio diretor da rede de fibra da empresa, André Kiger, chegou a admitir a TELETIME que a oferta de IPTV não tinha diferencial das operações de TV a cabo. Para se ter uma ideia, em junho do ano passado a rede de fibra da tele cobria pouco mais de um milhão de domicílios, mas tinha apenas cerca de quatro mil assinantes de TV. A Telefônica decidiu, então, suspender as vendas de novas assinaturas de TV via fibra, jogar fora sua primeira plataforma de IPTV (da AlcatelLucent) e adotar a Mediaroom. O serviço foi relançado em outubro de 2012, mas a estratégia não foi suficiente para impedir a perda de base de TV paga da operadora. A Vivo TV perdeu 18,65 mil clientes entre junho de 2012 e de 2013, retração anual de 20,3% em sua base, que agora soma 525,2 mil assinantes entre usuários de fibra, cabo e DTH. O diretor executivo de negócios digitais da Telefônica/ Vivo, Roberto Piazza, acredita que agora, com a nova plataforma, a operadora tem superado as dificuldades. “A gente vem crescendo bem e a vantagem do Mediaroom é que se tem uma flexibilidade muito grande de fazer coisas diferentes, com troca instantânea de canal, gravador multiroom e aplicativos que permitem, por exemplo, montar mosaicos de canais”, conta. A recuperação ficou difícil também pela complexidade técnica de instalação na casa do usuário e, principalmente, ao combinar o serviço de banda larga com o IPTV. Mas

“Na TV por assinatura, o foco nos próximos 18 meses será na expansão da plataforma de DTH. O IPTV será ofertado onde houver a rede de fibra.” Zeinal Bava, da Oi Piazza avalia que os desafios técnicos também foram superados. “Hoje a gente leva à casa do usuário um streaming de 2,5 Gbps, sendo 1 Gbps só para televisão. É uma banda muito grande e a possibilidade é infinita para levar mais conteúdo e aplicativos. Agora não estamos tendo mais dificuldades técnicas. Tem, naturalmente, que trabalhar para ajustar o nível de serviço e a gente vem constantemente evoluindo, lançando releases para melhorar a performance da plataforma. A gente entende que pouco a pouco está melhorando”, diz Piazza. “Estamos sempre aprendendo. É difícil, mas acho que passou a pior fase de aprendizado. Agora a gente tem a plataforma adequada, equipe comercial estruturada e

Com os problemas financeiros, ampliação da rede de fibras da Oi deve esperar um pouco. O IPTV da tele teve participação insignificante no seu crescimento de 18,8% na base de TV por assinatura em 2013, que fechou junho com 889,4 mil clientes. preparada para a comercialização e as equipes de campo estão bem treinadas e dimensionadas para fazer a instalação adequada. É um somatório”. Para voltar a crescer em TV paga, a estratégia é a venda de pacotes de serviços. Em conferência de divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre, o diretor geral da Telefônica/Vivo, Paulo César Teixeira, afirmou que os esforços que a operadora tem feito para melhoria do negócio fixo (que inclui telefonia e banda larga e TV por assinatura) no mercado de São Paulo devem começar a dar resultados a partir do próximo trimestre fiscal. “Nesse segundo trimestre já mostramos operacionalmente uma performance muito boa. Conseguimos reverter as perdas de linhas fixas, tivemos uma melhoria grande na banda larga com a diferença importante que 80% dos novos acessos já são acima de 4 Mbps, já temos quase 150 mil clientes em fibra e dobramos a base de IPTV em relação ao que tínhamos ao final do primeiro trimestre. Mas os resultados desse trimestre não capturam de imediato o pay-back dessas ofertas e esse casamento com as receitas deve começar a acontecer a partir do próximo trimestre”, disse Teixeira em entrevista a TELETIME. s e t e m b r o 2013 | t e l e t i m e | 11


foto: DIVULGAÇÃO

“Estaríamos preparados para fazer full IPTV na maioria da nossa rede. Mesmo assim, existia uma barreira regulatória, então fizemos a opção pelo híbrido, .” Dante Compagno, da GVT Os planos de TV paga da Telefônica/Vivo se limitam ao estado de São Paulo, com foco em IPTV na rede de fibra na capital e na plataforma de DTH para o interior. Perguntado se havia algum plano de trabalhar com campanhas de marketing a venda do DTH para outros estados do Brasil, Teixeira deixou claro: “Não temos planos, nesse momento não. O foco é em São Paulo e a lógica é que a TV se some aos serviços de voz e banda larga”, diz.

para fazer full IPTV na maioria da nossa rede, com VDSL ou mesmo com fibra. Mesmo assim, existia uma barreira regulatória no momento do nosso lançamento e tínhamos duas opções: fazer um DTH simples básico, similar ao que as teles fizeram sem interação com banda larga, ou fazer um produto que oferecesse um pouco de sinergia com serviços interativos. Já que temos como fortaleza uma banda larga de qualidade, fizemos a opção pelo híbrido, uma plataforma de TV que recebe canais lineares via satélite e oferece VOD e interatividade pela banda larga”, detalha. Compagno acredita que com o modelo híbrido a GVT se preparou para duas alternativas futuras: um modelo só de DTH, recentemente anunciado, e outro de full IPTV, no momento em que for economicamente viável. “Haverá regiões, as mais densas, onde fará sentido ter uma operação 100% IPTV, mas o satélite é mais eficiente para distribuição de canais lineares e não vamos abandonar essa operação”, garante o executivo da GVT. A escolha tecnológica em si, contudo, não garante o sucesso ou fracasso de um serviço, na visão de Compagno. “Não é a tecnologia em si o diferencial, são os serviços oferecidos e as vantagens. Sacudimos o mercado ao colocar canais HD em todos os pacotes, todos os clientes têm set-tops HD, temos VOD com milhares de horas de conteúdos, funcionalidade de catch-up com o ‘Outra Chance’ e apps interativos, como o Power Music Club com um milhão de músicas e vídeos.”

Pequenos Com a regulamentação da Lei do SeAC, o que se viu foi o movimento de pequenos provedores de acesso banda larga investindo em redes de fibra em cidades longe dos grandes centros urbanos e solicitando autorização para Aposta no híbrido prestar serviços de TV por assinatura junto à Anatel. Apesar de ter uma rede mais nova, com fibra a até De acordo com o presidente da Associação Brasileira de 500 metros da casa do usuário, a GVT optou por uma Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Basílio solução híbrida entre DTH e IPTV ao lançar sua operação Perez, os provedores associados estão “investindo muito de TV por assinatura no final de 2011 e é a operadora que forte atualmente em fibra, estão colocando em cidades de registra maiores índices de crescimento no serviço. todos os tamanhos para competir na área corporativa com Segundo dados da Anatel, a base de assinantes da GVT operadoras nas cidades grandes; mas, principalmente, para passou de 219,9 mil em junho de 2012 para 530,5 mil em lugares afastados (onde as outras não atuam)”. Com preços junho desde ano, alta de 141,3%, com cerca de 105 mil equivalentes para uma nova instalação de FTTH ou de uma novos clientes apenas em 2013. rede híbrida de fibra e cabo coaxial “Existe uma barreira técnica (HFC), a maioria desses pequenos GVT optou por uma para o IPTV que é a qualidade de provedores está optando por uma solução híbrida entre operação de IPTV direto sobre a fibra rede. Em uma operação IPTV full DTH e IPTV e é a operadora ótica. “A tendência é o IPTV, eles estamos falando de confiabilidade 24 x7 sem interrupções. É bem querem montar uma infraestrutura que registra maiores diferente de uma banda larga. O índices de crescimento bem moderna. A vantagem de chegar cliente de alta renda tem três ou no serviço. Base passou depois é poder contar com o que há quatro pontos de TV e cada ponto é de 219,9 mil em junho de de mais moderno. Em termos de uma banda diferente”, explica o preço, agora, passar cabo coaxial ou 2012 para 530,5 mil em diretor de TV por assinatura da GVT, fibra acaba sendo quase a mesma Dante Compagno. Mas isso não foi o junho deste ano, alta de coisa. E a diferença é que cabo coaxial 141,3%, com 105 mil novos tem que estar ligado na rede, tem que que motivou a escolha híbrida. “Do clientes em 2013. nosso lado, estaríamos preparados ter fontes e pagar energia, além de 1 2 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013


oi.com.br

aonde você for, a oi quer ir também. a oi investe sempre pra entregar diversas soluções e uma cobertura maior e melhor a cada dia.

a oi completa você. A Oi está investindo mais de 12 bilhões de reais do começo de 2012 até o fim de 2013.


“a gente vem constantemente evoluindo, lançando releases para melhorar a performance da plataforma. pouco a pouco está melhorando.” Roberto Piazza, da Telefônica/Vivo

uma série de ativos na rede como amplificadores, coisas que não são necessárias na fibra”, explica. Para esses pequenos provedores, o que faz mais sentido na oferta de IPTV não é uma plataforma como o Mediaroom, mas, sim, soluções baseadas em código livre, como o Android, sistema operacional móvel do Google. “O Android é só na ponta, no cliente. Mas todos os provedores têm sistemas de proteção, com criptografia. A proteção que eles têm contra a pirataria é muito superior ao que existe instalado”, garante Perez. Na teoria, a estratégia dos pequenos faz sentido, mas ainda faltam números que comprovem a efetividade prática. Para atender a esses novos entrantes, a Algar Telecom criou o iSPTV, que oferece o empacotamento de programação e suporte à operação de TV paga. “Nossa meta

é chegar a mil provedores em cinco anos, e nosso objetivo é viabilizar o core, que é de Telecom e TI”, revela o diretor comercial da empresa, Osvaldo César Carrijo. Ele diz que, a partir de 2014, passará a adotar uma postura mais agressiva para implementar as propostas. “Já falamos com mais de 200 provedores e temos pedidos de mais de 600”, garante. A estratégia desses pequenos varia, na avaliação de Perez, da Abrint. “Não tem um caso único. Tem provedores seguindo modelo da Algar, tem provedores seguindo outros modelos parecidos, tem provedores montando a operação convencional para fazer sua própria rede. Os pequenos são muitos, não tem como ter um modelo único.”

Na Telefônica/Vivo, cujo IPTV também já foi lançado e relançado, o serviço ainda patina. A Vivo TV perdeu 18,65 mil clientes entre junho de 2012 e de 2013, retração anual de 20,3% em sua base, que agora soma 525,2 mil assinantes.

Ericsson Mediaroom

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o início de setembro a Ericsson anunciou a conclusão da compra da Mediaroom, antiga divisão de middleware para TV sobre IP da Microsoft. A plataforma fornece soluções de IPTV para cerca de 13 milhões de domicílios por meio de 60 operadoras, incluindo a Telefônica/Vivo e a Oi no Brasil, o que confere agora à fabricante sueca uma participação de 25% desse mercado mundial de plataformas. A estimativa do vice-presidente sênior e diretor da unidade de negócios de soluções de suporte da Ericsson, Per Borgklint, é de que os assinantes de IPTV devem crescer a mais de 18% por ano para alcançar 105 milhões de assinaturas e uma receita de US$ 45 bilhões até 2015. Para o Head of Business Inovation, Partnership & Alliances para América Latina e Caribe da Ericsson, Jesper Rhode, a integração da Mediaroom ao portfólio da fornecedora sueca permitirá a consolidação de clientes e tecnologias de IPTV no mundo inteiro. “Mediaroom é uma série de tecnologias e IPRs (direitos intelectuais de propriedade) que a gente passa a ter direito e é uma base de operadoras, grandes e pequenas, no mundo inteiro. A proposta da Ericsson para o mercado, não só de TV, são serviços que melhoram com integração entre a camada de provisionamento e distribuição de conteúdo e serviço e a rede em si”, conta. “Está claro que no horizonte de médio prazo, a gente enxerga convergência entre as várias plataformas da Ericsson. O que nós vamos trabalhar primeiro é para garantir

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a continuidade de todas as nossas plataformas”, diz Rhode. Ele lembra que o mercado de IPTV nasceu fragmentado, com vários fornecedores, e que a Ericsson, depois de lançar sua plataforma IAP, adquiriu a Tandberg e, agora a Mediaroom. Na parte de serviços, a sueca adquiriu a Technicolor e a Devoteam, entre outras, para fortalecer a parte de gestão de serviço. “Não são só serviços para operadoras de telecomunicações convencionais, mas também temos vários contratos na Europa com redes de distribuição de TV para distribuição de conteúdo e de manutenção de infraestrutura.” A partir de agora, a nova divisão passa a se chamar Ericsson Mediaroom e fará parte da unidade de negócios de soluções de suporte do grupo. Os usuários do Xbox 360 não terão mais a Mediaroom integrada, como era previsto anteriormente. A Microsoft irá concentrar todos os seus recursos de TV no novo console Xbox One, agora com foco total em serviços OTT. A Telefônica/Vivo já havia confirmado a TELETIME durante a ABTA 2013 que, apesar de continuar com o middleware em seus set-top boxes, descartou a utilização do videogame para seu serviço de IPTV. A Mediaroom, baseada na Califórnia, nos Estados Unidos, continuará com seus funcionários e com o diretor Pete Thompson, que continua a liderar a organização e se reportará a Per Borgklint, da Ericsson. A empresa sueca planeja combinar o portfólio da Mediaroom com seus componentes e serviços existentes ao longo do tempo.


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entrevista Eduardo Levy

Batalha em vários fronts Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

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os últimos anos, o SindiTelebrasil assumiu o protagonismo no debate sobre uma série de questões. Da qualidade nas redes de telecomunicações à instalação de infraestrutura para a Copa, passando por discussões sobre o Marco Civil da Internet, espionagem, CPIs estaduais e até pirataria de celular. Existem poucos temas que não envolvam o sindicato patronal das empresas de telecomunicações. Trata-se de um movimento previsível, desde que as empresas de telecom passaram a concentrar suas atividades institucionais em uma entidade principal, no que na época foi chamado de “monobloco”. Nessa entrevista, Eduardo Levy, presidente executivo da entidade, fala sobre algumas das posições que têm sido defendidas pelo setor e sobre os desafios institucionais das empresas.

foto: arquivo

Presidente executivo do SindiTelebrasil defende posições do setor e avalia os desafios institucionais das empresas de telecomunicações brasileiras.

TELETIME – Por que tantos temas passaram a ser tratados pelo SindiTelebrasil? Como aconteceu? Eduardo Levy – O Sindi não vende produto, não tem que cumprir regulamentos e por isso pode se dedicar à sociedade, esclarecer e responder às demandas de forma mais eficiente. Há um esforço, via sindicato, de convencimento no Congresso, com interlocução com os diferentes setores. Trabalhando em conjunto, o custo acaba sendo menor, partilhado, e existe validação prévia das posições que saem daqui, o que torna as coisas mais simples. O que buscamos, à exaustão, é o consenso sempre que possível. As empresas individualmente têm outras prioridades e atividades, o que é natural. Aqui, entendemos a língua que fala o Congresso, Anatel, ministério e outros órgãos de relacionamento e, ao mesmo tempo, conhecemos bem o dia-a-dia das empresas. O setor de telecom sempre teve dificuldade de interlocução no Congresso. Hoje, fala-se que a bancada das teles é que segura o Marco Civil... Continuamos não tendo bancada. Há uma ruralista, que vota com um comando único. Conosco não existe 1 6 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

“As prioridades (do sinditelebrasil) são a melhoria da qualidade do setor, discussão sobre o modelo de multas e infrações e o Marco Civil.”


isso. Precisamos convencer os parlamentares a cada assunto. Uma hora votam com a gente, mas, em outras, perdemos. E há casos em que mesmo o parlamentar entendendo nosso argumento, pode ter dificuldades de defender a posição dele em relação à opinião pública, como é o assunto da assinatura básica. A questão recente que mais colocou o Sindi em evidência foi a do Marco Civil. Vocês se colocam como opositores do projeto? Não somos opositores. Entendemos, em primeiro lugar, que a legislação que ali está não tem nem necessidade de existir. Privacidade: o setor de telecom poderia, se quisesse, escutar qualquer conversa. Mas isso é crime. Não precisa a Lei Geral de Telecomunicações (LGT) dizer que é porque está na Constituição e em uma legislação específica. Temos os dados das pessoas, o endereço associado ao telefone e as ligações. Essa informação só pode ser entregue a terceiros por ordem judicial e precisa estar acessível às autoridades brasileiras necessariamente, seguindo a legislação local de privacidade, em que o conteúdo da mensagem não pode em nenhuma hipótese ser olhado sem a autorização judicial expressa. Pode-se dizer que as empresas de telefonia analisam o comportamento do usuário para oferecer pacotes mais atraentes, mas nenhuma vende esses dados para terceiros. E na questão da neutralidade? Em analogia, a rede de voz é gerenciada para assegurar o melhor desempenho a todos. E essa rede é um escândalo de desperdício de meios, porque um par trançado liga cada residência até a central. Parte da rede fica parada à sua disposição, mesmo que você não use. E, ainda assim, é uma rede gerenciada, o que não significa tirar a neutralidade. A rede de Internet é muito mais complexa e deve sofrer gerência maior para ser o mais eficiente possível. O IP gera redução de custos porque os recursos da rede são otimizados e compartilhados entre todos, mas tem que ser gerenciado. E-mail, streaming de vídeo, ligação IP, tudo isso está trafegando na mesma rede. O problema do Marco Civil é que, a depender do que estiver escrito e da interpretação que gerar, não poderemos gerenciar a rede. É bonito dizer que o e-mail tem que ter a mesma prioridade de um vídeo, de uma chamada de voz, de uma cirurgia remota. Mas no mundo prático isso não existe. O que se coloca é que as empresas de telecom podem passar a cobrar pacotes diferenciados em função dos serviços desejados... E isso é um problema? Você pode ir para casa de ônibus, de carro, de Porsche. Pessoas diferentes têm interesses e prioridades diferentes. É justo que todos paguem pela mesma coisa? Se alguém quer contratar um serviço para acessar o Facebook, qual o problema?

Mas o conceito da Internet sempre foi de plena liberdade de acesso aos diferentes conteúdos, ainda que a qualidade fosse pelo “best effort”. E pode continuar sendo, se a pessoa assim escolher. Mas se o prestador não der a opção para as pessoas, ele precisa assumir que todo o mundo vai fazer tudo o que a rede permite. E aí ou é preciso cobrar mais de todos ou comprometer a disponibilidade, porque a rede é comum e não se pode gerenciar nada. Mas no modelo contrário, a Internet não vira uma espécie de TV por assinatura? E quem contrata TV por assinatura prefere assim, prefere um pacote mais adequado às suas necessidades a contratar todos os canais. O ideal seria que todo o mundo pudesse receber tudo, mas isso custa. Se fosse igual para todos, quem não quer tudo seria penalizado. O programa “Minha Casa Minha Vida” entrega uma casa de 30 metros quadrados, com energia monofásica; não é uma casa de 100 metros quadrados com ar condicionado. É melhor garantir o básico para todos do que fazer todos pagarem por tudo. Já pensou se a partir de agora todo mundo tivesse TV paga no pacote completo. Quanto custaria?

“o setor de telecom poderia, se quisesse, escutar qualquer conversa. Mas isso é crime. Não precisa a LGT dizer que é porque está na Constituição.” Quem deveria regular o mercado pós Marco Civil? O Comitê Gestor (CGI) tem sido o responsável pela governança da Internet, controlando a numeração IP, estabelecendo as recomendações de boas práticas etc. A função deve ir para a Anatel? Imagina se, para tratar de recursos humanos em uma empresa, se estabelecesse um comitê com um representante da diretoria, quatro dos clientes, quatro dos empregados, dois do sindicato, dois das pessoas que passam na porta... e com base nesse modelo, fosse se definir a política salarial. Dá certo? Não dá. Na Internet é mesma coisa: um conjunto de empresas investe 99% dos recursos necessários para assegurar o funcionamento da rede, mas, na hora de decidir as regras, estão em minoria. No CGI, são quatro representantes dos clientes das redes e um das prestadoras para decidir como funcionarão as redes. O Comitê Gestor tem um valor imenso como fórum de discussão, como ambiente de troca de ideias, de convívio com os diferentes, de pensar o futuro, mas não pode ser, em hipótese alguma, um fórum decisório, porque não tem neutralidade. Quando estou lá, e sou conselheiro, estou lá para defender o lado das empresas, e o mesmo vale para os outros. Ninguém lá é neutro. Uma agência reguladora é formada por um corpo diretor que não representa nem empresas, nem consumidores, nem governo. Representam o Estado, que tem que zelar pelo s e t e m b r o 2013 | t e l e t i m e | 17


entrevista bom desempenho do setor. Como se pode falar em governança da Internet se nunca ninguém pergunta quanto custa, quem paga a conta, se não se analisa impacto regulatório? O problema é que a Internet se tornou uma atividade econômica importante para vários setores, inclusive para o de telecomunicações... Eu adoraria que essa frase constasse em todos os lugares. A Internet é uma atividade econômica e, se é isso, tem que ser olhada sob sua perspectiva econômica. Isso passa por quem investe permanentemente no setor. Essa visão tem que ser considerada porque, em última análise, quem estabelece o preço dos planos são as empresas. A Internet deveria ser tratada sem regras? Nenhum serviço é prestado se não for em uma plataforma de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), que é regulado. Então, existem regras. Se existe abuso concorrencial, excesso contra o consumidor, existem leis que impedem isso. Outro exemplo: serviços corporativos de conexão à Internet têm cláusulas de garantia de qualidade diferenciados. Porque cada um tem necessidade diferente, e paga por isso. A pergunta é: com o Marco Civil, mais ou menos gente terá Internet? Se tiver que trafegar tudo para todos de forma ilimitada, qual será a conclusão?

“O problema do Marco Civil é que, a depender do que estiver escrito e da interpretação que gerar, não poderemos gerenciar a rede.” O Marco Civil é desnecessário? Não precisa dele. Mas, se houver, tem que garantir que as redes possam ser gerenciadas, desde que não atentem contra outras legislações, a regulamentação existente. As teles enfrentam hoje 15 CPIs nas esferas estaduais. Isso acontece por uma deficiência de comunicação de vocês, porque a qualidade do serviço de fato caiu ou existe má-fé? Não diria nunca que existe má-fé por parte daqueles que lá defendem o interesse da população. Essas CPIs são consequência de um crescimento muito grande do setor, num país em que crescer em infraestrutura é uma grande dificuldade. Por que a maior parte das CPIs trata de telefonia celular? Seria incompetência das empresas se uma concentrasse os problemas. Mas é um mercado competitivo com quatro empresas, pelo menos. O que explica isso é que as empresas não conseguem se planejar para suprir as futuras deficiências porque os prazos e regras para instalação das redes são inadministráveis. Não podem colocar a rede do tamanho 1 8 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

que deveriam porque são impedidas pelas autoridades. O serviço móvel é cada vez mais essencial. A sociedade não aceita mais essa limitação. A peregrinação de vocês pelas CPIs tem ajudado a mudar esse quadro? Acho que sim. A falta de uma comunicação adequada sobre nossas obrigações e dificuldades era tal que nem os próprios legisladores envolvidos com as CPIs conhecem o assunto. Estamos usando essas conversas para mostrar nossa realidade e pedir alterações nas legislações. Há casos em que não somos autorizados a colocar antenas perto de praças públicas. Costumamos dizer que concordamos em seguir as mesmas regras impostas às empresas de energia. Transformadores elétricos podem explodir, dar choque, vazar o líquido de refrigeração – e boa parte dessa substância é cancerígena. Seria natural que a regra para um transformador de energia fosse rigorosa, correto? Só que não há regra para isso. A empresa de energia pode colocar poste e transformador onde quiser. A prefeitura de São Paulo lançou recentemente o edital para a rede de Wi-Fi público e um dos pontos é a autorização prévia para uso do mobiliário urbano para a instalação da rede. Pois as empresas de celular estão proibidas há mais de um ano de colocar qualquer coisa em São Paulo, e isso se repete em outros lugares. Porto Alegre é um caso ainda mais complicado. Não pode ter celular perto de praça, hospital, escola, teatro, clínica de shiatsu... Mas a prefeitura está colocando Wi-Fi nas praças. É um contrassenso. Desde que vocês passaram a colocar esse problema, algo mudou? Pelo menos, não apareceram novas leis, e alguns municípios começaram a rever as suas. O SindiTelebrasil propôs um modelo. Fizemos um levantamento de como isso é feito em Barcelona, Nova York, Sidney, Londres e Paris. É um código de autoregulamentação. Resolve parte do problema porque as empresas vão mudar suas práticas. A outra parte cabe às prefeituras, que precisam adequar as legislações. Não há lugar em que a burocracia não leve mais de três meses para liberar uma antena. Mas aí tem aeronáutica, IBAMA, patrimônio arquitetônico... De um lado, a prefeitura manda, com razão, esconder a torre, para ficar mais neutra, mais agradável, mas, de outro, a Aeronáutica manda pintar de laranja e branco para ficar em destaque para um avião naquela rota. O processo é kafkiano. Se o que o Brasil mais precisa é infraestrutura de telecom, tem que colocar antenas e redes. O paradoxo é que as empresas precisam correr atrás das autoridades para cumprir obrigações, isso quando não cobram R$ 42 mil por mês por um pedaço de terreno no fim do mundo para colocar uma antena. É um caso real. Como acontece nos estádios... Como acontece nos estádios, o que já é um absurdo,


Falta ao poder público consciência da relevância do setor de telecomunicações? O setor não é um ente isolado. A atividade reguladora, de liberar ou não a instalação de infraestrutura, as relações de consumo, as empresas, os fornecedores, tudo isso é parte do setor. As telecomunicações prestam um serviço à sociedade que é único. Cada vez que se colocam mais serviços, menores são os custos para toda a sociedade, porque se economiza em transporte, tempo, poluição, ampliam-se as possibilidades de negócio. O setor deveria ser, portanto, privilegiado, e não penalizado. Não falo em beneficiar empresas. Quem deveria ser privilegiado é o cidadão, que não deveria pagar mais impostos por um serviço de telecom do que paga por cigarro, aguardente, armas... O Brasil tem a maior parte de sua economia concentrada em cem cidades, mas os serviços de telecom são essenciais em todas as cidades. É um setor que não pode selecionar aonde quer ir. Por que não pensar em benefícios por zonas, estimulando a infraestrutura onde ninguém quer ir? Mas os recursos são finitos, a rentabilidade no Brasil é menor do que em outros países. Com o passar do tempo, as empresas estão encontrando mais dificuldades do que facilidades para atender e prestar os serviços. Isso precisa mudar. Esse não é um problema de hoje. Existe uma dificuldade de passar essa mensagem? Nosso desafio é ter mais vozes, mais informação, mais comunicação à sociedade para que ela perceba os benefícios que tem com os serviços e reaja à carga tributária, às dificuldades de instalação da infraestrutura. E de quem é a responsabilidade? De todos. Mas, da nossa parte, a atuação não é só focada em dar efetividade e benefícios de escala e custos para as empresas na sua representação institucional diária. Temos justamente o papel de mostrar para sociedade e autoridades a realidade do nosso setor. Temos que mostrar para a sociedade que existe um benefício geral com o crescimento do setor. Não é difícil argumentar com as autoridades quando problemas de qualidade são recorrentes? Existe um problema na forma como a questão da qualidade é tratada. Equipamentos podem dar defeito, um caminhão pode derrubar a rede ao bater num poste, um cabo de telefonia pode ter sido roubado. Nada tira a responsabilidade das empresas, mas as multas que

foto: arquivo

porque estamos levando serviço público para quem vai ao estádio. A Infraero cobra mais de aluguel das empresas de telecom do que das lojas que ficam nos aeroportos. A ex-ministra do Supremo, Ellen Gracie, certa vez se manifestou textualmente: não cabe cobrança de aluguel por uma área pública para a prestação de um serviço público. O problema de infraestrutura só muda com a intervenção do poder concedente.

“A Internet é uma atividade econômica e, se é isso, tem que ser olhada sob sua perspectiva econômica.” receberem por seus eventuais problemas de qualidade deveriam ser usadas para solucioná-los. É esse conceito que a Anatel está perseguindo e que deveria ter apoio de toda a sociedade. Mas não é a característica brasileira. Aqui a gente prefere punir, mas não exigir a reparação do erro. O que deve ser a prioridade daqui para frente? Como estão observando os trabalhos de revisão do modelo em debate no Congresso? As prioridades são a melhoria da qualidade do setor, discussão sobre o modelo de multas e infrações e o Marco Civil. Estamos atentos aos trabalhos do Congresso, contribuindo com os esforços de revisão da legislação naquilo que é razoável. Sabemos que nem tudo é possível. Nem para as empresas, nem para o governo. Ninguém acha que seja factível acabar com a arrecadação do Fistel. E a exigência de compensações para a liberação de espectro para a banda larga móvel? Se a intenção é dar benefícios para a sociedade, e isso é importante, é preciso também pensar nos custos, porque quem pagará a conta é a sociedade. É interessante exigir cobertura? É. Mas isso precisa fazer sentido. Se coloca obrigação, cai na tarifa, inevitavelmente. Regular por contrapartida não é um bom modelo? Não existe regra boa ou ruim. O leilão pode ser baseado em arrecadação, em área geográfica, em melhor tarifa... O importante é que faça sentido, e ele é dado pela capacidade de investimento, das pessoas comprarem, das prioridades do país. s e t e m b r o 2013 | t e l e t i m e | 19


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mobilidade corporativa

O mapa da mina Fernando Paiva

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Fernando Paiva

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a praia de Ipanema até as geleiras da Sibéria, é possível cruzar o mundo sem se perder, graças aos satélites que compõem o sistema GPS. Enquanto isso, pessoas continuam se perdendo dentro de aeroportos, shopping centers e feiras de eventos. Nesses lugares, continuam valendo velhas soluções analógicas, como abrir o mapa do local, seguir as placas de sinalização ou simplesmente perguntar para outra pessoa. Por pouco tempo. O mapeamento de ambientes fechados é a próxima fronteira para serviços de localização e navegação, que começa a ser explorada por grandes players da indústria de Internet e de telecomunicações, como Apple, Cisco, Google, Nokia e Qualcomm. Abrem-se oportunidades de negócios não apenas para a navegação em si, mas para aplicações de marketing e de análise de dados. Falta, contudo, 2 0 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

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Mapeamento de ambientes fechados é a nova fronteira de serviços de navegação e localização. Players como Apple, Google e Qualcomm se movimentam. uma padronização tecnológica e ainda é necessário melhorar a precisão da localização. O sinal de satélite perde força quando encontra barreiras físicas, como as paredes de um prédio. As antenas das torres celulares ao redor podem ajudar a ter uma ideia de onde o usuário se encontra, mas a precisão não é suficiente para oferecer um serviço de navegação indoor. A solução mais comum para esse problema é utilizar os roteadores Wi-Fi, que hoje estão por toda a parte. Na prática, o que se faz é uma espécie de triangulação dos pontos de acesso (APs, na sigla em inglês): comparando a potência com que chega o sinal do smartphone do usuário em cada AP e cruzando essa informação com o posicionamento dos roteadores e o mapa do local, é possível saber com uma precisão de cinco a sete metros a localização de uma pessoa. Neste método, basta que o smartphone esteja com o Wi-Fi ligado, não necessariamente conectado à rede sem fio local. O aparelho está sempre enviando sinais para os roteadores próximos, à procura de um conhecido: são esses os sinais usados para determinar a sua localização. Nem sempre os APs existentes em um local para conexão à Internet são suficientes para garantir uma boa localização indoor. Fazendo um estudo da planta e acrescentando mais APs é possível melhorar a precisão a algo entre três e cinco metros. Algumas empresas preferem instalar equipamentos próprios para essa finalidade. “A cada 25 m botamos um pequeno AP Wi-Fi, do tamanho de um pacote de cigarros, que chamamos de node. Com três nodes na vizinhança, obtemos a localização”, explica Cyril Houri, fundador e CEO da Navizon, empresa norte-americana que já instalou essa solução em museus e shopping centers dos EUA. Precisão complicada A precisão melhora ainda mais se forem usados equipamentos para comunicação por proximidade (NFC). Neste caso, são instalados marcadores com Bluetooth 4.0, um padrão de comunicação com baixo consumo de energia. Cada marcador é um pouco


fotos: divulgação

maior que uma bola de gude e sua outros pontos de interesse para quem Abrem-se bateria dura cerca de três anos. Com oportunidades de visita o lugar. No caso de um esses marcadores, é possível obter a shopping, as lojas e os caixas negócios não localização de uma pessoa com eletrônicos. Em um museu, as apenas para a precisão de aproximadamente 1 m, o principais obras e exposições. Em um navegação em si, hipermercado, as seções de produtos. que torna possível novas aplicações. mas para Os sensores presentes no O primeiro passo costuma ser a aplicações de smartphone complementam a solicitação da planta baixa para o marketing e de experiência, especialmente se o serviço administrador do lugar. Ela é proposto for a navegação a pé para o análise de dados. sobreposta ao contorno do local sobre usuário final. Com o acelerômetro, o o mapa externo existente. Os pontos giroscópio e a bússola, é possível saber de interesse são marcados dentro do para que direção o usuário está indo, se mapa, mas precisam ser conferidos ele está andando ou correndo etc. ao vivo, por um funcionário que vai até ao local se A coleta da localização dos APs e dos certificar que as indicações estão corretas. O Google marcadores pode ser feita via software instalado no oferece em sua página um canal para que qualquer smartphone de um desenvolvedor, que percorre cada administrador envie a planta do seu edifício para que corredor e cada sala em cada andar do lugar a ser ele seja incluído no Google Maps. A Nokia começou mapeado. Esta é a solução adotada por Navizon e abordando proativamente os administradores. “Nas pela francesa Pole Star, por exemplo. primeiras negociações houve algumas barreiras. Mas As informações sobre os mapas e a localização depois dos primeiros mapas acontece o oposto: os dos APs de um determinado lugar podem ficar administradores nos procuram pedindo para que a hospedadas em um servidor com o qual o gente mapeie seus edifícios”, relata Helder Azevedo, smartphone se comunica constantemente para diretor do Here para América Latina. apresentar ao usuário a sua posição a partir da Há detalhes de plantas baixas que são interface de um aplicativo. A troca de dados entre o desnecessários para a navegação de uma pessoa, terminal e o servidor, porém, pode gerar uma poluindo os mapas. “O raio de curva de uma porta latência que atrapalhe a navegação a pé. Uma saída em uma planta arquitetônica, por exemplo, é é armazenar dentro do app essas informações. É o irrelevante para uma aplicação que vai rodar na que faz a Pole Star. Assim, o usuário consegue pequena tela de um smartphone”, destaca Paulo navegar pelo mapa de um local fechado mesmo se Hartmann, sócio-diretor da MapMkt, empresa não estiver conectado à Internet. brasileira que está apostando em localização indoor no Brasil. Mapas Por melhor que seja a tecnologia de localização Aplicações indoor, ela se torna inútil se não for acompanhada de A utilização mais óbvia para o mapeamento um bom mapa. Há uma corrida por parte de grandes digital de locais fechados é a navegação para empresas para o mapeamento dos principais locais pedestres. Em um shopping, o usuário pode traçar fechados de interesse público no mundo, como uma rota até a loja desejada, por exemplo. Em um aeroportos, estádios, museus, shoppings e hospitais. aeroporto, o caminho até o portão de embarque. A Here, divisão de serviços de Em feiras e eventos de grande porte, localização da Nokia, já mapeou mais a navegação indoor põe fim aos de 50 mil edifícios em 69 países. No velhos mapas impressos. Em junho, Brasil foram 53 até agora, entre a tecnologia foi usada no Paris Air aeroportos e shopping centers de Show, uma das maiores feiras de várias capitais. A empresa trabalha aviação da Europa, usando a para chegar a 200 à época da Copa do solução da Pole Star, que mescla Mundo, incluindo os estádios das localização interna e externa (neste cidades-sede. O Google também já caso com GPS). começou a adicionar mapas de locais fechados em seu serviço Google Maps. Entre os exemplos estão os cassinos “O raio de curva de uma porta de Las Vegas. é irrelevante para uma Dentro de cada mapa é preciso aplicação que vai rodar em constar informações como a um smartphone.” localização de saídas, elevadores, Paulo Hartmann, da MapMkt banheiros, escadas e de quaisquer s e t e m b r o 2013 | t e l e t i m e | 2 1


mobilidade corporativa “O Wi-Fi deixa de ser apenas uma rede para se transformar em uma ferramenta de negócios.” Igor Giangrossi, da Cisco Outra aplicação que começa a ser explorada é a análise de fluxo de pessoas em ambientes fechados. O aeroporto de Copenhague, na Dinamarca, adotou a solução de localização indoor da Cisco com essa finalidade. Assim, perceberam que, depois do check-in, havia um fluxo grande de pessoas por uma área do aeroporto onde não havia lojas. Munido dessa informação, o administrador mudou o layout do aeroporto. Outro benefício foi poder monitorar quanto tempo os passageiros perdiam na fila do raio-X, o que permitiu aferir o cumprimento do nível de serviço exigido da empresa terceirizada responsável pelo processo. A análise de fluxo de pessoas pode ser aplicada em diversos outros locais, como um museu, para saber que salas receberam mais visitantes ou em quais delas as pessoas passaram mais tempo. Mobile marketing é outra área que tem muito a ganhar com localização indoor. Uma primeira ideia consiste na criação de cercas invisíveis que, uma vez ultrapassadas, geram o envio de um cupom promocional. Obviamente, é preciso respeitar regras mínimas de privacidade, obtendo previamente a autorização do consumidor e procurando enviar apenas mensagens que sejam relevantes para aquela pessoa, naquele contexto. Sobre isso, Aidoo Osei, gerente de desenvolvimento de negócios da Qualcomm, alerta: “Geralmente, quanto menor a área da cerca, mais eficiente será a comunicação. Cercas de 100 m de perímetro geram três vezes mais resultados que uma com mil metros”. Dependendo do objetivo, em vez de cercas virtuais, é melhor usar os marcadores de proximidade, aproveitando sua maior precisão. Eles podem transmitir para o smartphone do consumidor, via Bluetooth, uma promoção de um produto específico quando a pessoa estiver de frente para a vitrine de uma loja, por exemplo. A Qualcomm tem uma solução nesse sentido chamada Gimbal, que está em teste com alguns varejistas na Ásia. A Apple, por sua vez, apresentou recentemente o iBeacon, que seguirá uma proposta similar. Os marcadores também podem auxiliar a visita a 2 2 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

um museu, enviando informações sobre uma determinada obra assim que o visitante se aproxima dela. E em uma loja de grande porte, pode servir para chamar um vendedor até o local onde um consumidor precisa de atendimento. “As possibilidades vão muito além de um ponto azul no mapa. Navegar é interessante, mas é só o começo da história”, resume Christian Carle, CEO da Pole Star. fotos: divulgação

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Mercado O modelo de negócios na oferta de soluções de localização indoor varia tanto quanto as tecnologias adotadas. A Cisco, por exemplo, vende um serviço fim-a-fim, que inclui os seus roteadores e controladoras Wi-Fi. A proposta, neste caso, é agregar valor à infraestrutura de operadoras e de grandes clientes corporativos. “O Wi-Fi deixa de ser apenas uma rede para se transformar em uma ferramenta de negócios”, comenta o engenheiro consultor da Cisco, Igor Giangrossi. A Qualcomm vende a solução do Gimbal como um serviço e cobra pela quantidade de usuários. A Navizon faz o mesmo, mas o preço varia de acordo com a quantidade de nodes instalados. Para um local com 200 nodes, por exemplo, o preço mensal é de US$ 25 por node. A Nokia e a Pole Star, por sua vez, preferem licenciar o uso de suas plataformas para terceiros. E o Google segue sua estratégia tradicional de oferecer o serviço de graça, provavelmente aproveitando as informações coletadas do usuário para publicidade no futuro. A empresa foi procurada por TELETIME, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

O mercado de localização indoor está nascendo no mundo. Ainda falta padronização e interoperabilidade entre as variadas soluções. O mercado de localização indoor está nascendo no mundo. Ainda falta padronização e interoperabilidade entre as variadas soluções. Uma das tentativas de resolver essa questão é a In-Location Alliance, uma associação de 98 empresas desse setor. A expectativa, nos próximos anos, é de que haja uma consolidação, com os grandes players adquirindo os menores. Parte desse processo já começou, com a aquisição da ThinkSmart pela Cisco e da WiFiSlam pela Apple. Quando esse processo terminar, aqueles mapas em totens marcando “você está aqui” serão coisa do passado.


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O avanço do m-Gov Órgãos federais desenvolvem série de projetos de governo móvel para promover transparência, acesso à informação e participação do cidadão na gestão pública. André Silveira

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A

s aplicações móveis, que já dominam amplamente o meio privado, começam agora a ganhar terreno no setor de governo. Um dos primeiros órgãos no âmbito federal a aderir ao uso de apps móveis foi o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). A companhia desenvolveu um aplicativo para a Receita Federal que permite aos contribuintes, munidos de smartphones ou tablets, consultar a restituição do Imposto de Renda e a situação do CPF. O aplicativo foi desenvolvido para os sistemas operacionais iOS, da Apple, e Android, do Google. Recentemente, a empresa também desenvolveu um app para o Departamento Nacional de 2 4 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

Infraestrutura de Transportes (Dnit), para fazer a fiscalização de obras usando dispositivos móveis. Outro serviço que o Serpro está preparando visa mudar os procedimentos ligados ao preenchimento dos formulários usados pelos médicos da família na atenção básica à saúde. O profissional passará a usar um equipamento móvel que auxiliará o médico durante as visitas e permitirá a inclusão de dados no prontuário eletrônico para que possam ser transmitidos. O gerente de desenvolvimento de sistemas da regional de Salvador do Serpro, Serge Rehem, recorda que a demanda governamental surgiu em 2011, quando tiveram início as pesquisas na área. “Não havia uma demanda específica, mas percebemos que já era hora de termos acesso à essa tecnologia”, comenta. Ele também ressalta que, logo no início de


foto: divulgação

2012, a Receita Federal fomentou as discussões e o Serpro iniciou os trabalhos para criar um protótipo que oferecesse as últimas notícias e a agenda tributária para Android. “Em meados de março do ano passado, o protótipo estava pronto.” Ao perceber o avanço rápido, a Receita solicitou novos serviços e, em junho, houve o lançamento do aplicativo que permite a verificação de informações relativas ao CPF e também à restituição do Imposto de Renda (IR). O avanço do app foi tamanho que, neste ano, o contribuinte teve condições de fazer a declaração do IR, de forma simplificada, por meio da ferramenta, totalizando 7,6 mil declarações feitas por meio de dispositivos móveis. O resultado já gerou demanda. “Na realidade, são cerca de 40 pedidos somente da Secretaria da Receita Federal. O Serpro, de sua parte, vem se capacitando cada vez mais, pois percebemos que o acesso à Internet por meio de dispositivos móveis tem sido crescente”, diz Rehem.

“As primeiras soluções foram a consulta ao lote de restituição e ao CPF. No primeiro mês, tivemos mais de 500 mil acessos feitos de smartphones e tablets.”

Soluções inovadoras Cláudia Maria de Andrade, da Receita Federal A coordenadora-geral de tecnologia da informação da Receita Federal, Cláudia Maria de Andrade, explica declaração pela primeira vez escolheram um que o órgão sempre se pautou pelo desenvolvimento dispositivo móvel.” Com base nestas informações, a de tecnologias que possam auxiliar o cidadão, executiva diz que o órgão tem condições de elaborar investindo em governo móvel (m-Gov). “O foco é um perfil do contribuinte que utiliza a ferramenta. desenvolver soluções inovadoras, que racionalizem os “Isso permite definirmos ações estratégicas para processos”, afirma. Ela destaca que a Receita adquire oferecer soluções e também construir uma tecnologias com base em informações sobre como o infraestrutura capaz de suportar todo o movimento de seu público reagirá. “Levantamos dados sobre a transmissão de dados, sem frustrar o contribuinte. Isso solução em análise e cruzamos com as informações deve ocorrer do começo ao final, pois em nossos do nosso público. Ou seja, não nos baseamos registros temos a informação de que o último somente nas tendências ou modas, mas nas contribuinte concluiu a sua declaração às 23h59m59 facilidades e na melhoria da prestação do nosso do último dia do prazo de entrega. Isso significa que o serviço”, declara. nosso sistema tem confiabilidade”, ressalta. Foi exatamente com base em levantamentos que Outra característica inovadora da solução móvel o órgão solicitou o desenvolvimento do app móvel ao para a declaração do IR é que os dados ficam Serpro. “As primeiras soluções oferecidas foram a armazenados na nuvem. “Entendemos que era consulta ao lote de restituição e ao CPF. No primeiro interessante utilizar esta tecnologia, pois o perfil do mês, tivemos mais de 500 mil acessos feitos de usuário do app móvel é de um jovem que utiliza smartphones e tablets”, informa. A segunda solução, equipamentos de outros amigos para acessar a segundo ela, foi para a área aduaneira, em que o Internet. Como os dados são viajante tem a condição de fazer armazenados na nuvem, ele pode simulações sobre quanto terá que começar a fazer a declaração em um pagar de imposto sobre produtos que dispositivo e concluir o processo em trouxer do exterior. outro”, argumenta Andrade. Ao fazer o levantamento dos dados um dado relevante Apesar do pioneirismo, a Receita do Imposto de Renda via mobile, Federal diz não estar parada. A Cláudia destaca que 50% das é que 28% declarações foram feitas durante os dos contribuintes coordenadora-geral de TI antecipa outra solução que estará disponível em quatro últimos dias do prazo final, e que fizeram a plataformas móveis em setembro — a mais de duas mil declarações no declaração do Declaração de Bagagem de Viajante. último dia para a entrega. “Em relação imposto de renda Hoje já é possível preencher os dados ao horário, 45% das declarações em pela primeira vez pela Internet. “A próxima etapa será o plataforma móvel foram feitas após às escolheram um app para tablet e smartphone. É um 21h. Outro dado relevante é que 28% dispositivo móvel. software da área aduaneira que ajuda o dos contribuintes que fizeram a s e t e m b r o 2013 | t e l e t i m e | 2 5


mobilidade corporativa “O Serpro, de sua parte, vem se capacitando cada vez mais, pois percebemos que o acesso à Internet por meio de dispositivos móveis tem sido crescente.” Serge Rehem, do Serpro-Salvador

passageiro que retorna ao Brasil a cumprir as exigências da legislação a respeito de compras. Além disso, outros serviços móveis estão em estudo. Ela comenta que no site da Receita há mais de 80 serviços disponíveis, porém ressalta que a cultura mobile é diferenciada. Por isso, nem todos serão ofertados em plataformas móveis. Apesar de a Receita ser um órgão do governo, o Serpro é encarado com um fornecedor de mercado qualquer. “Estabelecemos critérios que devem ser cumpridos dentro do prazo e com qualidade. Do contrário, o fornecedor é multado”, ressalta. A justificativa de Andrade é que não se podem desperdiçar recursos públicos. E, segundo ela, essa política tem surtido efeito, tanto que hoje a Receita é considerada um órgão pioneiro na oferta de serviços tecnológicos de qualidade. “Um dos nossos maiores cases é a declaração do Imposto de Renda, por meios eletrônicos. Esse processo teve início em 1998 e hoje o contribuinte preenche e transmite seus dados sem o menor receio”. Fiscalização de obras Outro caso de sucesso que teve participação do Serpro foi o desenvolvimento de um app para o Dnit, para fazer a fiscalização de obras usando dispositivos móveis. A coordenadora estratégica de tecnologia do Serpro, Viviane Malheiros, explica que, com o aplicativo, o engenheiro do Dnit tem condições de ir a uma obra, fotografar o estágio em que ela se encontra e transmitir a imagem assim que tiver acesso à Internet. Os dados, então, são armazenados nos servidores do Serpro. “Antes, isso era feito por meio de documentos em papel”, informa. O app, apesar de não ser voltado ao usuário final, gera um impacto positivo, pois facilita a fiscalização por parte do órgão, que contrata empreiteiras para desenvolver as obras em diversas regiões do País. Viviane destaca que há um crescimento de 2 6 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

demandas para adaptação de sites à versão móvel por outros órgãos de governo. Em relação à segurança, a executiva ressalta que todos os procedimentos são observados, assim como ocorre na construção de sites para computadores. “Os processos são criptografados para que a segurança seja garantida”, afirma. Ela acredita que, em breve, os acessos móveis irão superar os feitos por computadores. “Cada dia aumenta a oferta de dispositivos móveis. Isso já justifica o desenvolvimento de aplicações para oferecer os serviços governamentais”, ressalta. Ainda a passos lentos na adesão ao mundo dos apps, a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev) tem alguns projetos em andamento e a expectativa é de que até o fim deste ano seja lançado algum serviço em plataforma móvel. Segundo o presidente do órgão, Rodrigo Assumpção, há conversas com os Ministérios da Previdência e do Trabalho para que alguns serviços hoje oferecidos pela Internet também sejam ofertados em plataforma móvel. “Nesse processo, temos que estabelecer critérios de identidade do usuário. Isso exige uma busca mais ampla do que na Web”, comenta. Segundo ele, a Dataprev pretende buscar parcerias com a iniciativa privada, pois entende que o mercado tem amplo conhecimento no desenvolvimento dessas soluções. No processo de formatação das plataformas móveis, Assumpção diz que a Dataprev considera dois aspectos. Um deles é a adaptação dos sistemas para telas menores, passando por uma readequação do design que hoje é apresentado nos sites. “Portanto, é fotos: divulgação

especial

a cada dia aumenta a oferta de dispositivos móveis. Isso já justifica o desenvolvimento de aplicações para oferecer os serviços governamentais. necessário ter um olhar para o passado.” O segundo aspecto diz respeito ao futuro. “É preciso pensar em adaptar todas as funcionalidades e serviços para a plataforma móvel”. Na visão do executivo, é importante avaliar que tudo o que se faz na Internet pode ser demanda para as plataformas móveis. Ele também ressalta que é preciso desenvolver uma arquitetura de salvaguarda para situações que resultem em falhas na transmissão, considerando os atuais problemas de infraestrutura de rede que o Brasil apresenta. O vice-presidente da MicroStrategy para a América



mobilidade corporativa

“Com o aplicativo, o engenheiro do Dnit tem condições de ir a uma obra, fotografar o estágio em que ela se encontra e transmitir a imagem assim que tiver acesso à internet” Viviane Malheiros, do Serpro Latina, Flavio Boliero, comenta que a oferta de serviços móveis poderá auxiliar o governo federal no estabelecimento de práticas de transparência junto à população. “A plataforma móvel pode permitir, por exemplo, que o cidadão tenha acesso aos repasses do governo federal aos estados e municípios. Não há nenhuma encomenda no governo neste sentido, mas a tecnologia permite isso”, diz. O executivo comenta que a empresa desenvolveu

uma solução para o Dnit que permite o controle de obras em estradas. “A plataforma, desenvolvida para funcionários do órgão, fornece ferramentas para a vistoria, controle de prazo e cronograma”, informa. Na opinião de Boliero, a plataforma permite não só ampliar a transparência, mas facilitar a fiscalização e reduzir a burocracia nos processos públicos. Ele explica que a solução oferece condições múltiplas e níveis de acesso, conforme o tipo de usuário. Em relação à identificação, Boliero diz que a plataforma também permite diversos tipos de acessos, utilizando alternativas como fotos, códigos de identificação digital, identificação biográfica e senhas. Já no tocante à segurança, o executivo sustenta que as soluções criptográficas garantem a transmissão de dados de forma a evitar a captação deles. No entanto, há outros fatores, como o comportamento do usuário, que podem comprometer a segurança. “O fundamental é o usuário ter a noção de que está tratando com os seus dados pessoais e que deve preservá-los tanto no meio virtual, quanto no meio físico.” fotos: divulgação

especial

O futuro é móvel Oferta de serviços públicos em plataformas móveis para que os cidadãos possam acessá-los a qualquer hora e em qualquer lugar é uma tendência irreversível.

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mbora a disponibilidade de serviços públicos em dispositivos móveis seja uma tendência irreversível, já que cada vez mais as pessoas estão trocando o computador por smartphones e tablets, isso não significa que haverá uma migração total. Esta é a opinião de Serge Rehem, do Serpro de Salvador, avaliando que a construção de portais poderá seguir três tendências. “Em um primeiro cenário, acreditamos que os órgãos terão seções focadas na plataforma móvel e outras deverão seguir no sistema tradicional para computadores e notebooks.” Uma segunda corrente, na visão do executivo, é a tendência de que o design dos portais que serão criados a partir de agora já considere, na sua concepção, o tráfego móvel, bem como para outras plataformas. “No processo de construção, deverá ser considerado tanto o aspecto macro, para smart TV de 60 polegadas, por exemplo, até a miniaturização”, comenta. A terceira tendência é a construção já focada totalmente nos dispositivos móveis. Neste caso, o desenvolvimento terá como 2 8 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

objetivo sistemas somente para a base em miniatura. O coordenador do Serpro justifica que o mercado já trabalha com estas tendências, uma vez que os fabricantes de celulares oferecem smartphones a preços cada vez mais acessíveis. “Acreditamos que em alguns países, esta plataforma será predominante no acesso à Internet”, analisa Rehem. No entanto, ele alerta que, no Brasil, o crescimento estará condicionado diretamente à qualidade do sinal para a transmissão de dados, que ainda deverá avançar. “As aplicações devem ser focadas e não devem ser pesadas, para terem uma melhor possibilidade de transmissão de dados”, destaca. Isso permitirá que a funcionalidade tenha menor dependência de banda e gere menos tráfego para o usuário. Na visão de Viviane Malheiros, do SERPRO, no governo federal, a tendência por enquanto é de que os projetos sejam baseados nos sites existentes. Ela acredita que o foco será na ampliação dos diversos serviços que o governo oferece via web para a plataforma móvel. Na opinião dela, o desenvolvimento


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mobilidade corporativa “O cenário político atual já demanda por uma maior transparência e a plataforma móvel abre uma série de possibilidades para o cidadão.” Flavio Boliero, da MicroStrategy inicial para a plataforma móvel poderá ocorrer só no futuro. O argumento é que, ao ser ofertada pela Internet em um primeiro momento, a ferramenta passa por uma espécie de avaliação, que oferece uma melhor visão de sua demanda no ambiente móvel. Flavio Boliero, da MicroStrategy, acredita que, a partir dos cases de sucesso, outros órgãos do governo deverão aderir à tecnologia móvel. “O cenário político atual já demanda por uma maior transparência e a plataforma móvel abre uma série de possibilidades para o cidadão como, por exemplo, os pais de um aluno saberem o quanto foi investido na escola em que ele estuda, o quanto foi gasto em merenda. Isso é bom para o governo, que passa a ter uma imagem positiva, e para o cidadão, que passa a ter o real conhecimento dos recursos que são obtidos com os impostos que ele paga.” Gargalo a ser vencido Para que o serviço esteja acessível ao usuário a todo momento, porém, é fundamental que a rede esteja apta a receber e transmitir os dados. No Brasil, as autoridades se preocupam com a qualidade da rede, mas acreditam que, por se tratar de uma demanda de ampliação de tráfego, o cenário deve mudar no futuro. “Certamente teremos uma ampliação da qualidade das redes nos próximos anos”, aposta Rehem. O presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, também aponta os problemas de infraestrutura como um gargalo para o desenvolvimento das plataformas móveis, porém ele diz acreditar que a situação não será permanente. “Enfrentaremos problemas nos próximos anos, mas a trajetória do desenvolvimento das redes e das tecnologias móveis é ascendente”, analisa. O cenário atual confirma a análise dos dois executivos. Se depender do seu 30 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

desempenho, as operadoras do Serviço Móvel Pessoal (SMP) ainda terão que investir muito para cumprir as metas de qualidade para o serviço de internet móvel, estabelecidas pela Anatel. O indicador que aponta isso é o levantamento divulgado pela agência. Conforme o desempenho das empresas, entre os meses de fevereiro e abril, o indicador que demonstra a quantidade de vezes que o usuário consegue navegar na Web por meio do celular foi de 96,71%, enquanto o índice aceitável pela Anatel é de 98%. Para Baliero, a qualidade das redes 3G e 4G hoje podem comprometer o desenvolvimento de novas aplicações na plataforma móvel. Porém, ele lembra que, em 2014, com a Copa do Mundo, todas as operadoras deverão ter a preocupação em ampliar a qualidade das redes. “Um evento como este significa maior tráfego. Consequentemente, maior possibilidade de negócios”.

problemas de infraestrutura também são gargalo para o desenvolvimento de plataformas móveis, mas cenário deve mudar, com teles investindo em redes 3g e 4g para a copa.

Oleksiy Mark/shutterstock.com

especial



evento

Medo da bolha Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

F

az alguns anos que o mercado de satélites vive um período de grande bonança e entusiasmo. Mas será que isso pode gerar uma bolha de oferta? Esse foi o tom do Congresso Latinoamericano de Satélites, organizado pela Converge (que edita TELETIME), no começo de setembro. Impulsionadas pela economia brasileira em geral. E pelo forte mercado de DTH no Brasil, não tem faltado às operadoras demanda por mais capacidade. Tanto é que, nos últimos cinco anos todos os principais players planejaram expansões e reforço de posições no Brasil. Mas o mercado de satélites tem uma peculiaridade: projeta-se hoje o que precisará acontecer nos próximos 15 anos, e entre a data em que se começa a planejar um novo satélite até sua efetiva entrada em operação, passam-se longos três anos, no mínimo. O momento positivo funcionou como estímulo para planos ambiciosos. Os resultados começam a aparecer agora e devem chegar ao auge em 2016, com o lançamento de uma série de novos satélites e uma ampliação significativa da capacidade disponível no mercado. O Ministério das Comunicações faz um levantamento de pelo menos oito novos satélites com capacidade de banda larga e vídeo entre 2013 e 2018: Amazonas 3 e a constelação O3b (esses já em operação), Amazonas 4 (2014), Star One D1 (2015), SGDC (2016), um satélite da Hughes em 2015, o Eutelsat 8Wb (2015/2016) e o Star One D2 (2017/2018). Fora esses, estão ainda previstos o Intelsat 29e (um satélite gigante com altíssima capacidade), o Intelsat 34, o Telesat 12 Vantage, e ainda três satélites da Satmex com cobertura para o Brasil. Com isso, o País terá nos próximos anos uma capacidade satelital sem igual. Também se deve considerar o SES-6, que entrou em operação recentemente. Do ponto de vista da capacidade satelital instalada, segundo estimativas da Anatel, hoje o Brasil tem 223,5 transponders equivalentes a 36 MHz em satélites 32 | t e l e t i m e | SETEMBRO 2013

fotos: marcelo kahn

Animado com demanda, setor de satélite se planejou e encomendou novos equipamentos para 2016. Medo agora é excesso de oferta.

“Nosso objetivo é tornar o edital (deste ano) mais atrativo, e por isso fizemos mudanças.” Jarbas Valente, da Anatel


operando em posições brasileiras. Em banda Ku, a capacidade em transponders equivalentes de 36 MHz é de 204,1; e em Ka, 222 transponders equivalentes. Essa medida não é a considerada mais precisa porque hoje, com as aplicações de dados e com a banda Ka, falar em equivalência de transponders de 36 MHz não faz mais sentido, mas é uma medida do impacto que a banda Ka poderá ter. Hoje, apenas um satélite opera em banda Ka para o Brasil: o Amazonas 3. Quando os satélites previstos na licitação de 2011 entrarem em operação, a estimativa da Anatel é que a capacidade em banda Ka dispare para 1.822 transponders equivalentes; em C passe a 238,5; e em banda Ku vá a 302,11 transponders equivalentes. “Nosso mercado cresce com o PIB. Nos últimos anos tem crescido. Espero que continue”, diz o general manager da Telesat no Brasil, Mauro Wajnberg. Para o diretor da Satmex, Javier Récio, um desafio do setor é que “existe um tempo entre planejar e lançar. Por isso o mercado se inunda de tempos em tempos”, diz. Segundo ele, de fato em 2016 haverá uma capacidade muito grande, “mas acreditamos que a demanda vai crescer. E vai haver uma grande demanda por capacidade em 2014”. Para o diretor da Hispamar, Sérgio Chaves, é importante lembrar que em geral os satélites que cobrem o Brasil atendem também outros países com demandas elevadas também, como Colômbia, Peru e Chile. Segundo o diretor de desenvolvimento de negócios da Star One, Fábio Alencar, a capacidade em banda Ka terá dois usos: o acesso residencial e o suporte à operação móvel da Claro, com capacidade de backhaul. “Acho que não teremos excesso de oferta porque também estamos estimulando mais o uso da capacidade satelital para vários serviços, mas certamente teremos um aumento significativo na capacidade do mercado”, diz ele. Diretor de marketing e vendas da Eutelsat, Eloi Stivalletti admite que existe uma grande capacidade para entrar em operação, sobretudo em banda Ka, mas as operadoras estão com coberturas que nem sempre se sobrepõem, por isso ele não vê riscos de um excesso de oferta. Ainda que existam dúvidas sobre uma bolha de excesso de capacidade, o interesse parece ser grande pela licitação de novas posições orbitais brasileiras, que deve acontecer no final

“Também acreditamos muito na banda Ka, mas precisamos ter certeza do mercado antes de entrar.” Dolores Martos, da SES

do ano. Dolores Martos, principal executiva da SES para a América Latina, diz que a empresa também deve disputar o leilão de posições brasileiras. “Já temos posições no México, Canadá e países andinos, e ter a mesma estratégia no Brasil é razoável. Também acreditamos muito na banda Ka, mas precisamos ter certeza do mercado antes de entrar. Acreditamos ainda em uma forte demanda puxada pelo DTH e por canais HD”. Espera-se dessa disputa especial atenção da Hispamar, uma vez que a Hispasat já anunciou que pretende usar a posição 61°W para o Amazonas 4, e esta é uma das posições que têm previsão para satélite brasileiro. Star One, Telesat, Hughes e até a Eutelsat podem ainda entrar na disputa.

Quando os satélites previstos na licitação de 2011 entrarem em operação, a estimativa da Anatel é que a capacidade em banda Ka dispare para 1.822 transponders equivalentes de 36 MHz; em C passe a 238,5; e em banda Ku vá a 302,11 transponders. A razão de tanto interesse é que estão sendo revistos alguns pontos da licitação. “Nosso objetivo é tornar o edital mais atrativo, e por isso fizemos mudanças em relação à consulta pública”, disse o vice-presidente e conselheiro da Anatel, Jarbas Valente. Entre as mudanças estão o fim das obrigações de uma capacidade de banda Ka nacional. A Anatel também caminha na possibilidade de deixar de exigir que as operadoras geolocalizem os terminais de recepção e transmissão de dados, principalmente com a banda Ka começando a ser oferecida no Brasil. As mudanças foram anunciadas pela primeira vez no evento.

“Acho que não teremos excesso de oferta porque também estamos estimulando mais o uso da capacidade satelital para vários serviços.” Fábio Alencar, da Star One SETEMBRO 2013 | t e l e t i m e | 3 3


evento

“nosso mercado cresce com o pib. nos últimos anos tem crescido. espero que continue.”

lexaarts/shutterstock.com

mauro wajnberg, da telesat

Apreensões O setor de satélites ainda apresenta dois pontos importantes de preocupação: a questão tributária e a possibilidade de perda do espectro. Na parte tributária, as operadoras querem que o governo assegure que as estações terrenas de operação de satélite, sobretudo para uso residencial, sejam desoneradas de Fistel, sob risco de que o modelo tributário inviabilize a banda Ka no Brasil. Como as estações de banda larga via satélite recebem e enviam sinais usando espectro eletromagnético, elas recolhem taxas de instalação e fiscalização do Fistel (TFI e TFF). No caso do segmento de satélite, essas taxas são de respectivamente R$ 200 pela instalação do equipamento e depois mais R$ 100 ao ano pelo funcionamento. Segundo Luiz Octávio Prates, presidente do Sindisat (sindicato nacional de empresas do setor de satélites), isso inviabiliza o mercado residencial, pois tecnologias concorrentes, como banda larga fixa e mesmo móvel, não pagam ou pagam valores muito menores (no caso do celular). “São taxas que foram criadas quando apenas grandes empresas podiam usar aplicações de satélite, mas hoje o consumidor final já pode ter acesso a essa tecnologia para banda larga”. Segundo ele, o Sindisat e a Abrasat

Satélite brasileiro avança

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á cerca de um ano, a Visiona, joint-venture entre Embraer e Telebras, começava o processo de contratação do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC). Em apenas 12 meses, conseguiu selecionar o fornecedor (Thales Alenia) e agora inicia a fase de construção em si. O satélite deve ser lançado no primeiro semestre de 2016, pelo foguete Ariane. Segundo o presidente da Telebras, Caio Bonilha, a estatal deverá ainda lançar um edital para a contratação de fornecedores nacionais dos terminais de usuário (CPEs) e dos gateways para o gerenciamento do tráfego de banda larga pela banda Ka. A Telebras utilizará a capacidade em banda Ka do satélite para distribuir sinais a provedores de acesso, não ao consumidor final. Um segundo satélite está projetado para entre 2019 e 2022. Mas os grandes beneficiados com a chegada do SGDC serão os órgãos de defesa. Segundo o coronel Edwin Pinheiro da Costa, do Ministério da Defesa, a capacidade atual, contratada junto à Star One, foi colocada no satélite em caráter experimental, e já está virtualmente ocupada. Hoje as Forças Armadas utilizam 82 estações, com capacidade para 40 estações simultâneas. A diferença é que nem todas as estações são usadas ao mesmo tempo. “Tivemos uma forte expansão. Em 2006 tínhamos apenas oito estações em uso”, diz o coronel Edwin, que participou do Congresso Latinoamericano de Satélites. Com o SGDC, a capacidade em banda X passará de 120 MHz atuais para 288 MHz. Serão cinco transponders em lugar de dois. Hoje as estações permitem até 512 kbps de velocidade. “O que temos tem nos atendido muito bem. Mas precisamos expandir”, disse o coronel. Outra diferença do sistema de defesa brasileiro com o novo satélite é a cobertura e a potência. “Hoje temos um footprint de banda X. Com o novo satélite, teremos três, incluindo uma de alta potência e um deslocável, com diâmetro de 1,5 mil km, para cobrir inclusive o Atlântico Sul”. Segundo o coronel Edwin, a potência no feixe regional será seis vezes maior, e no feixe nacional, 11 vezes maior.

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(associação setorial) têm se empenhado para conseguir convencer o governo da importância de rever essas taxas. E, de fato, o governo já indicou na Lei 12.715/2012 que vai isentar as estações terrenas de Fistel até 2018. Segundo o gerente do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, André Mouras Gomes, a expectativa é de que essa regulamentação, em processo de negociação dentro do governo, saia até o final do ano, mas o setor está cético, dada a resistência da Fazenda a novas desonerações. O outro problema é o espectro hoje utilizado pelas operadoras para a distribuição de sinais na banda C, usada para aplicações de dados de alta confiabilidade e, principalmente, para a distribuição de sinais de TV entre cabeças de redes e afiliadas. O problema é a reunião de radiocomunicação da UIT em 2015. As empresas de telefonia móvel reivindicam que a faixa de 3,6 GHz a 4,2 GHz seja usada para banda larga móvel, e reservadas ao IMT-2000, o padrão de banda larga via telefones móveis. Segundo Jarbas Valente, ainda não existe uma posição, mas está claro que a banda C no satélite cumpre um papel relevante, seja pelos aspectos econômicos (é uma tecnologia barata de recepção, sobretudo de sinais de TV) seja pelo aspecto geográfico (um país do tamanho do Brasil precisa de faixas satelitais mais robustas).

“Existe um tempo entre planejar e lançar. Por isso o mercado se inunda de tempos em tempos. Haverá muita capacidade em 2016, mas também uma grande demanda em 2014.” Javier Récio, da Satmex


regulamentação

Postes: problema insolúvel Bruno do Amaral

Igor Plotnikov/shutterstock.com

Mesmo as agências concordando em patamar de R$ 2,44, ainda não há consenso. Setores de telecom e energia divergem no preço de referência para uso dos postes. distribuidoras reclamam de que isso não cobre os custos de manutenção e fiscalização das infraestruturas. O esde 2006, uma proposta de resultado é que ainda não se chegou a Resolução Conjunta da Anatel um denominador comum. com a Aneel tenta “A proposta foi tímida, ambas as estabelecer um preço de agências empurraram o problema”, referência para contratos de declarou o presidente da Associação compartilhamento de postes na Brasileira de Provedores de Internet e resolução de conflitos entre Telecomunicações (Abrint), Basílio Perez. prestadoras de serviços de Na visão dele, o preço deveria ser telecomunicações e distribuidoras de instituído para as operadoras que pagam energia elétrica. Sete anos se atualmente acima deste valor, passaram e ainda não se chegou a permitindo que “grandes operadoras uma conclusão sobre como negociem livremente e as pequenas disciplinar o uso desses ativos. Por fiquem protegidas”. “Não queremos um isso mesmo, as agências realizaram preço de referência, queremos um no começo de setembro duas preço máximo”, reclama. Além disso, audiências públicas conjuntas, em ele sugere: “O valor de R$ 2,44 vai ter São Paulo e em Brasília, para tentar de ser fixo, não pode ter reajuste com debater a mais recente proposta. inflação, enquanto as grandes paguem Os órgãos reguladores pretendem menos”. Ele se refere às incumbents, estabelecer o valor mensal de que, segundo a entidade, conseguem referência em R$ 2,44 por ponto de valores bem abaixo dos entrantes. “Não fixação de cabos (ou de outra estrutura se mexe enquanto (os preços) de telecomunicação, como uma femtocell, por exemplo) estiverem defasados”. por poste. O cálculo foi estabelecido com uma média A associação também propõe uma negociação: ponderada na relação de preço cobrado em contrato e enquanto as distribuidoras mantêm o valor absoluto de número de postes das distribuidoras de energia. Mas o arrecadação total, as operadoras podem colocar mais valor será aplicado apenas em caso de solução de postes. “Se se paga R$ 12 mil para cada mil postes, a conflitos entre as empresas – a proposta partir do novo regulamento, você vai ter pretende continuar estimulando a livre cinco mil postes, continuando o mesmo Sete anos se negociação de preço entre as partes. passaram e ainda valor absoluto. Assim, não reduz a receita A questão é que os dois setores batem não se chegou a deles”. Segundo Perez, a conta fecha e é cabeça ao concordar em divergir. Grande vantajosa para as elétricas, pois haveria uma conclusão parte das empresas de telecomunicações maior necessidade de postes. “Continua sobre como quer, na verdade, o estabelecimento de pagando o mesmo, mas vai ter muito disciplinar o uso mais poste à disposição para trabalhar. um teto, que poderia até ser esse mesmo desses ativos. valor de R$ 2,44. Por outro lado, as Isso vai até aumentar a receita deles”. bruno@convergecom.com.br

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Novos estudos O diretor da Net Serviços Fernando Magalhães reclama de situações de “chantagem” nas cidades menores, mesmo que a operadora conte com contratos com a distribuidora. “Existe situação de negação, e (as elétricas) usam a necessidade de expansão (das teles) para cobrar mais”, afirmou. “O grande problema do estudo da Anatel é que ela sempre pensou no preço do poste e o que iria afetar as concessionárias do STFC (Serviço Telefônico Fixo Comutado). Aí, evidente que as concessionárias chiaram muito, porque iria ficar pesado para elas, e a agência foi sensível a esse tipo de argumento”, acusa Basílio Perez, da Abrint. Em comunicado, a Oi declarou que existe uma ônus excessivo, “especialmente para empresas do STFC”, porque elas têm obrigações de universalização. “A Oi solicita que a fixação de prazos e regras para a realização de adequações na ocupação de postes seja

foto: divulgação

Os custos de manutenção, diz, também não seriam problema. “Não é questão de escala, a manutenção é diferente. O poste de madeira tem uma vida útil de 40, 50 anos, dificilmente tem que mexer lá. É mais fácil (a manutenção) em um poste de concreto na cidade do que na área rural.”

“Não queremos um preço de referência, queremos um preço máximo.” Basílio Perez, da Abrint objeto de estudos prévios detalhados para avaliar as reais necessidades existentes e os procedimentos que devem ser adotados para viabilizar todo o processo sem imputar ônus adicionais que afetem os serviços prestados, em especial, pelas concessionárias do

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regulamentação STFC”, afirmou a companhia. A Telcomp, associação que representa prestadoras competitivas de serviços de telecom, também emitiu nota alertando para a diferença de preços entre operadoras incumbents e as entrantes. Entre outros pontos, a entidade explicou que descontos por volume não se justificam. “Estudos feitos pelas próprias distribuidoras de energia elétrica indicam que não existe possibilidade de economia de escala para justificar diferenças tão grandes no valor unitário de aluguel de postes”, diz o comunicado. Limpando a bagunça Por sua vez, as companhias de energia elétrica justificam que fixar o valor pode trazer problemas não apenas para elas, mas também para o consumidor. “A melhor metodologia (para o cálculo do valor) seria o custeio, e não o da média ponderada”, declarou na audiência em São Paulo o diretor da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), Pedro Urbi. “Não é questão de ganhar mais sobre o ponto, ou de cobrar mais de operadoras pequenas. Parece que essa discussão é mais sobre velhos e novos entrantes, e não para o setor elétrico”, disparou. “Se houver mudança de preço, tem que rever as tarifas. E não é uma revisão simples,

As propostas das agências

*Média Ponderada

O preço de R$ 2,44 foi calculado com base em 461 contratos de 61 distribuidoras. Maior parte (39%) tinha preço entre R$ 2,50 e R$ 5 por ponto de fixação. Mas 40% tinham preço acima de R$ 5.

*Preços altos

O mínimo encontrado foi de R$ 0,30. O máximo, R$ 10,57.

*Ponto de fixação

As agências entendem que cada grupo de serviços de telecomunicações só pode ocupar um ponto, no qual é possível passar mais de um cabo ótico.

Viktoriya Field/shutterstock.com

*Recadastro

Será feito uma identificação dos pontos de fixação utilizados pelas prestadoras. A responsabilidade pela fiscalização é das distribuidoras.

Relação operadoras e pontos por poste: Oi - 4 • Net – 1 • Embratel – 1 • GVT – 1 Telefônica 1,5 e 1,8* *Estimativa baseada em infraestrutura legada. Fonte: Anatel.

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Os dois setores batem cabeça ao concordar em divergir. Grande parte das teles quer o estabelecimento de um teto, mas elétricas reclamam que os R$ 2,44 não cobrem os custos de manutenção e fiscalização das infraestruturas. não é um evento corriqueiro (no setor)”. No modelo atual, a receita com a taxa cobrada pelas distribuidoras tem 90% do valor repassados ao consumidor (abatendo a conta de energia) e 10% para as empresas. Segundo a Aneel, as companhias têm achado o percentual insuficiente para a manutenção da infraestrutura, mas a revisão do percentual tarifário repassado às distribuidoras elétricas deverá entrar em debate em 2014. A AES Eletropaulo procurou estabelecer dois pontos principais: cumplicidade na responsabilidade sobre os ativos e preço de referência dinâmico. No primeiro caso, a distribuidora explica que é preciso corresponsabilidade. “Nós verificamos se os contratos têm sido cumpridos, e as telecoms respeitam esses contratos e colocam os cabos e fios onde devem”, declarou à TELETIME o diretor de regulação e distribuição da companhia paulista, André Luís Gomes. O problema é que há falta de organização e de fiscalização nos postes, o que acaba permitindo a entrada de clandestinos. “Há empresas que colocam cabos sem o nosso conhecimento, sem a segurança de estar cumprindo a normatização técnica.” Assim como a CPFL, a Eletropaulo ressalta que não ganha dinheiro com a atividade por conta da captura de 90% do valor cobrado nos postes como modicidade tarifária. O ponto é que a proposta feita por Anatel e Aneel também coloca novas obrigações, aumentando o custo operacional. “Em tese, faz todo o sentido que eu tenha custo maior se tiver novas obrigações”. Assim, ele explica, no médio e longo prazo, quando os 10% restantes não forem suficientes, “não vale a pena” para a distribuidora fiscalizar. “Aí vai continuar com poste bagunçado e fio caindo. E nesse ponto, a gente concorda: queremos que acabe. Os postes estão mal ocupados, e uma empresa de telecomunicações acusa que tem mais diligência que a outra”. Por conta disso, ele acredita que o preço de referência precisa, de fato, existir. Mas não fixado em R$ 2,44 como prevê a proposta, pois isso já criaria um teto virtual. “Achamos um risco, porque a ocupação e contratos são dinâmicos. Não dá para ter valor estático porque tem operadora com mercado pequeno e poucos pontos de fixação, mas tem que ter consideração da escala das telecoms”, diz Gomes. A Eletropaulo propõe que o preço seja regionalizado, considerando ainda o “tipo de distribuidora”. Na visão de André Luís Gomes, na forma atual da proposta, o preço de referência acabaria virando naturalmente o teto. “Não é um preço para ficar num


fotos: divulgação

regulamento, carimbado, porque aí fica para resolução e, se ficar assim, fica em contrassenso, porque a outra parte não vai aceitar mais do que R$ 2,44 nunca”, explica o diretor da distribuidora. Apesar do impasse, Gomes se diz otimista e enxerga uma saída com consenso entre os dois setores, até pelas relações de fornecimento de serviço, ainda que não seja possível agradar a todas as partes plenamente. “Mas acho que Anatel e Aneel têm de pensar em um senso comum, pensem na melhor prestação”.

Defesa A Anatel e a Aneel se defendem ao afirmar que a resolução do conflito serve de “motivador para ter preços diferenciados”. “Acho que é difícil se mensurar se há economia de escopo, não me é claro se tem efeito benéfico. E podemos discutir o preço de referência para teto, mas tabelar engessa o mercado. Os custos gerados com a perda de flexibilidade não vão compensar os benefícios”, declarou o superintendente de Competição da Anatel, Carlos Baigorri. No caso de o contrato entre as teles e a distribuidora estar vencido, o

“Não dá para ter valor estático porque tem operadora com mercado pequeno e poucos pontos de fixação, mas tem que ter consideração da escala das telecoms.” André Luís Gomes, da AES Eletropaulo jeito é refazer a negociação. “Entendo como um processo novo e, se não for, pode solicitar resolução de conflito”, declarou o superintendente de Competição da agência de energia, Tiago Sbardelotto. As agências consideram o ponto de fixação qualquer ocupação no poste, no espaço de 50 cm, para uso de telecomunicações. Nele, podem ser fixados cabos, fios e cordoalhas, ou mesmo uma femtocell (utilizando uma braçadeira no poste, um suporte de fixação). Na proposta, as companhias de telecomunicações, incluindo empresas de um mesmo grupo econômico, só têm direito a um ponto cada. No caso de haver mais operadoras dispostas a utilizar o poste do que espaço no tronco, a Anatel recomenda a utilização de compartilhamento de infraestrutura ou de enterramento de cabos.


produtos&serviços sistema operacional

Google chamará Android 4.4 de Kitkat O Google revelou que a versão 4.4 do sistema operacional Android, para tablets e celulares, será chamada de Kitkat, uma homenagem (possivelmente patrocinada) à famosa marca de chocolate fabricada pela Nestlé. A companhia tem por tradição dar nomes (em inglês) de doces aos seus sistemas móveis, como Cupcake, Gingerbread e Jelly Bean. Ainda não foram divulgados detalhes sobre o software e nem sua disponibilidade.

segmentação

smart metering

Oi foca no jovem e no pré-pago

Medidor de água inteligente

A Oi agora tem um objetivo claro: ganhar market share móvel, com crescimento no pré-pago, e na segmentação de mercados. O primeiro produto com a cara da nova gestão, anunciado pelo CEO Zeinal Bava, é o Oi Galera, um plano agressivo de pré-pago focado no público jovem (18 a 25 anos) com cobrança diária (R$ 0,99/ “Nossa dia) e Wi-Fi ilimitado. disso, o plano dá estratégia é Além direito ao uso sem custos desenvolver do app de streaming de produtos em música, o Oi Toca Aí. cima dos A distribuição de segmentos de chips será em ações mercados que promocionais, interação atendemos”. via Facebook e Twitter, e pelo site, com cadastro Zeinal Bava, da Oi para interessados. Quem estiver fora da faixa etária pode entrar, mediante pagamento de uma taxa. No atendimento, a Oi também segmentou uma parte de sua equipe de call center e de resposta a redes sociais para atender apenas ao Oi Galera, com a mesma faixa etária e linguagem. 40 | t e l e t i m e | s e t e m b r o 2013

A CAS Tecnologia lançou no Brasil a smart water, equipamento de medição inteligente de água. A ideia é atuar com as concessionárias para aumentar a eficiência no sistema de distribuição de água, semelhante às soluções de smart grids no mercado de energia. Com a smart water, é possível controlar o fluxo de distribuição de forma integrada com a operação de cada concessionária, e acompanhar vazamentos e desperdícios em tempo real.

qualidade

App para medir a banda larga móvel O aplicativo oficial da Anatel para a medição da qualidade da banda larga móvel está disponível para o iPhone. Desenvolvido pela Entidade Aferidora da Qualidade (EAQ), o app é gratuito. O programa mede os principais parâmetros de qualidade da conexão banda larga (velocidades de download e upload, latência, jitter e perda de pacotes), além de apresentar gráficos de resultados e comparativos, incluindo os locais das medições. O serviço também tem um aplicativo para Androide, que pode ser obtido na Google Play com o nome de Brasil Banda Larga.


handsets

iPhone “barato” é lançado Confirmando rumores, a Apple apresentou ao mundo dois modelos de iPhone. O 5C é uma versão construída em plástico resistente com as mesmas especificações da versão 5, mas agora com propostas de cores diferentes. Já o iPhone 5S é o novo modelo top de linha, que traz como principais inovações o processador A7, com arquitetura de 64 bits, e o leitor de impressão digital. Para o mercado brasileiro, uma boa notícia: tanto o iPhone 5S quanto o 5C são compatíveis com as redes de 4G

dispositivos conectados

Set-top box Android com LTE A Qualcomm e a companhia de mídia Technicolor (a mesma que introduziu as imagens coloridas no cinema) anunciaram na IBC, em Amsterdã, um acordo de colaboração para a produção de um novo set-top box que utiliza tecnologia LTE, broadcast terrestre e sistema operacional Android. Batizado com a sigla SVELTE (Stimulating Video Experience over LTE), o produto tem a ambição de ser um media center portátil e usar

o processador móvel Snapdragon 600 para não só levar serviços de TV, mas também conectividade ao televisor, além de jogos compatíveis. Ele irá concorrer com dispositivos como Apple TV e Chromecast, que dependem de conexão Wi-Fi e/ou Ethernet fixa e se limitam a conteúdos over-the-top. Ainda não há data de lançamento e nem disponibilidade do SVELTE.

locais. Eles serão vendidos ainda em setembro nos EUA e em outros nove países, incluindo, pela primeira vez, a China. O Brasil, contudo, terá que esperar até dezembro pela novidade, junto com outros cem países. O preço da versão 5S do aparelho desbloqueado é de US$ 649 (16 GB), US$ 749 (32 GB) e US$ 849 (64 GB). Contrário às expectativas, o iPhone 5C não ficou tão mais barato: ele sai por US$ 549 no modelo de 16 GB e US$ 649 na versão de 32 GB, ambos sem contrato.

componentes

Transferência a 400 Gbps (em um chip) A Cisco lançou o processador de rede nPower X1, que proporciona uma taxa de transferência real de 400 Gbps a partir de um único chip e consome um quarto de energia por bit em comparação com o processador anterior da marca. O componente foi desenvolvido para redes definidas por software (SDN), permitindo uma rápida reprogramação para novos níveis de agilidade de serviços e operação de rede simplificada. Ele também tem controle programável que usa APIs abertas para processar milhões de transações por segundo.

satélites A operadora de satélites SES fechou dois contratos para o recém-lançado SES-6, que ocupa a posição 40,5°W, para capacidade de banda larga em voos transatlânticos. O acordo plurianual com a Panasonic prevê o uso de beams de banda Ku sobre o Oceano Atlântico para aplicações bidirecionais de acesso à Internet em alta velocidade, voz e TV ao vivo em voos internacionais, com opção de monitoramento em tempo real por parte das companhias aéreas do consumo à bordo. Já pelo contrato com Hughes e Row 44, também plurianual, o SES-6 proverá capacidade para serviços de Wi-Fi e entretenimento para dispositivos móveis de usuários a bordo das aeronaves, incluindo Internet, TV ao vivo e vídeo on-demand (VOD). A infraestrutura crítica para conectividade terrestre ficará a cargo da Hughes e a SES oferecerá também suporte a partir de seu teleporto localizado em Betzdorf, Luxemburgo, para assegurar a conectividade no Atlântico Norte.

Iaroslav Neliubov/shutterstock.com

conectividade nas alturas

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NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2013 CONSU MIDORES

OPERADORAS

balanço

ICMS PAGO

R$ 17,3 bilhões

RECEITA BRUTA

Toma lá, dá cá As operadoras de telecom registraram receita bruta de R$ 111 bilhões durante o primeiro semestre de 2013, crescimento de 5,7% em relação ao mesmo período de 2012. As empresas também investiram mais: R$ 11,2 bilhões na primeira metade do ano. Os dados são do SindiTelebrasil, que afirma que o valor representa um crescimento de 8,7% em relação ao ano passado, quando foram investidos R$ 10,3 bilhões. Somente entre abril e junho foram investidos R$ 6,2 bilhões, um recorde para o período. No acumulado de 2012, foram R$ 25,8 bilhões. Somando os últimos 15 anos, desde a privatização, as operadoras acumulam investimentos de R$ 297 bilhões, valor que inclui o pagamento de outorgas. Segundo a entidade, em valores atualizados, isso representa mais de R$ 400 bilhões. Impostos A Telebrasil, por sua vez, chama a atenção para a alta carga tributária no setor. Segundo cálculo da

Natykach Nataliia/shutterstock.com

Dados de mercado

R$ 111 bilhões investimentos

R$ 4 milhões

R$ 11,2 bilhões

por hora

entidade, os usuários de serviços de telecom pagaram no primeiro semestre um total de R$ 17,3 bilhões em ICMS, ou cerca de R$ 4 milhões por hora nos seis primeiros meses de 2013. Dessa forma, o total do imposto recolhido aos governos estaduais representa aumento de 4,8% em relação aos primeiros seis meses de 2012, quando foram recolhidos R$ 16,5 bilhões. A alíquota do ICMS é diferente em cada Unidade da Federação, variando de 25% a 35%, sem contar a “incidência real”, que seria o peso do imposto repassado ao consumidor na forma como ele é incluído no cálculo da fatura. O ICMS representou R$ 33 bilhões em impostos pagos aos governos estaduais em 2012.

Frequências

Alhovik/shutterstock.com

América Latina enfrenta déficit espectral Os países latino-americanos têm alocado hoje, em média, apenas 20% da quantidade de espectro para serviços móveis recomendada pela UIT para 2015 (1.300 MHz) e correm o risco de enfrentar um gargalo espectral no futuro, se não enfrentar a questão. O problema será mitigado com os leilões do chamado “dividendo digital”, em frequências usadas atualmente pela TV aberta, como a faixa de 700 MHz no Brasil. Os números fazem parte de um levantamento feito

pela Signals Telecom Consulting a pedido do 4G Americas. Em dezembro de 2012 havia 680 milhões de conexões móveis em serviço na América Latina, das quais 113 milhões (17%) eram de banda larga (HSPA ou LTE). Em 2017, a previsão é de que a região alcance 858 milhões de conexões ativas, sendo 581 milhões (68%) em HSPA ou LTE, de acordo com projeções da Informa Telecoms& Media. Brasil, Chile e Colômbia são os mais

bem situados na região, tendo alocado para serviços móveis aproximadamente 30% do total recomendado pela UIT. Costa Rica, Nicarágua, Peru, Porto Rico e Uruguai estão na casa dos 20%, dentro da média regional. Os demais países ficam entre 10% e 20%. Uma revisão do estudo da UIT está sendo elaborada para publicação no ano que vem e pode aumentar ainda mais a recomendação de alocação de espectro para mobilidade.

Alocação de espectro na região Banda (MHz) Argentina Bolívia Brasil Chile Colômbia Costa Rica El Salvador Equador Guatemala Honduras México Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Uruguai Venezuela

700 Sim Sim Sim Sim

850 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

900 Sim Sim Sim Sim Sim

1.700 -

1.800 Sim Sim Sim -

1.900 1.700/2.100 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

-

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

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-

Sim Sim

Sim Sim

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Sim Sim

Sim Sim

Sim -

2.100 Sim -

1.900/2.100 Sim -

2.300 Sim

2.500 Sim Sim Sim -

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Sim -

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Fonte: Signals Telecom Consulting.

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DEZEMBRO, 2013

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ponto de vista

Big data nas telecomunicações foto: divulgação

Solange Carvalho*

que promoções de minutos e mensagens SMS gratuitas. Preço, aliás, deixou de ser o maior atrativo para os consumidores. Mais do que isso, eles querem um serviço ara lidar com o crescente tráfego das redes de de qualidade e ofertas ajustadas às suas necessidades. Por telefonia, o investimento em tecnologia é esses motivos, 66% das companhias de telefonia primordial, não apenas para prover infraestrutura pretendem usar a análise de dados para identificar a capaz de atender à demanda, mas para decifrar, opinião e os desejos dos clientes. entender e conhecer os consumidores. Neste cenário, as Em posse das informações, as operadoras têm a ferramentas de análise de dados são indispensáveis. capacidade de desenvolver campanhas inteligentes, As operadoras têm uma quantidade enorme de aprimorar as próximas ações e detectar fraudes. Essas informações sobre seus clientes e isso é um forte aliado. O abordagens tornam as empresas competitivas e criam que falta é transformar os dados soltos e desestruturados valor de negócios, além de melhorar a comunicação com em informações compiladas, para tomar as melhores os clientes e compartilhar conhecimentos com decisões de negócios e desenvolver produtos e serviços fornecedores, parceiros de negócios e funcionários. personalizados aos perfis de cada consumidor. Algumas operadoras norte-americanas já seguem esse Recente estudo da IBM, “Análise de dados: o real uso do modelo e utilizam as mídias sociais como forma de big data nas telecomunicações no mundo”, apurou que as interação com os consumidores. Por meio do companhias têm esta consciência e monitoramento dos assuntos estão seguindo para este caminho. abordados nas redes sociais, Profissionais de TI nas oferecem dicas e respostas para De acordo com o levantamento, 54% empresas de telecom das empresas estão no processo de apoiar pedidos, anunciar novos elaboração de uma estratégia que produtos e eventos especiais. deverão trabalhar em englobe atividades com big data; Os planos de negócio que adotam conjunto com as demais 33% estão desenvolvendo provas de a análise de dados possibilitam áreas de negócios. conceitos ou implementando Somente dessa maneira decisões mais inteligentes, rápidas e soluções de dados em grande que fazem a diferença. Dentro da será possível adequar a explosão de dados encontra-se a escala; e 13% ainda não iniciaram infraestrutura projetos com este foco. oportunidade de obter conhecimentos da análise de dados às e prever tendências que possam A aposta no investimento na necessidades da empresa. desencadear novas formas de fazer tecnologia é reflexo dos resultados que os executivos esperam ter negócios, seja interna ou diante das concorrentes. Cerca de 85% dos entrevistados externamente. Entretanto, implementar ferramentas para a do setor de telefonia descreveram que o uso de leitura de dados é só o primeiro passo. Para a tecnologia informações geradas pela análise de dados possibilita proporcionar os resultados almejados é preciso, ainda, uma vantagem competitiva para suas organizações. Esse desenvolver um plano de negócios com base em volume representa um aumento de 124% em relação à resultados mensuráveis e construir a análise focada nas mesma questão abordada em 2010, quando somente prioridades do seu negócio. 38% dos executivos tinham essa percepção. De qualquer forma, essa é uma jornada que está só O aumento na quantidade de provedoras de telefonia começando. Sendo assim, para gerar resultados e a mudança no comportamento dos consumidores promissores, os profissionais de TI nas empresas de fazem com que as operadoras enfrentem desafios para telecomunicações deverão trabalhar em conjunto com as reter e conquistar novos clientes. Nesta acirrada demais áreas de negócios. Somente dessa maneira será concorrência, na qual clientes são disputados número a possível adequar a infraestrutura tecnológica da análise de número, as empresas precisam oferecer muito mais do dados às necessidades da empresa.

cartas.teletime@convergecom.com.br

P *Diretora da indústria de telecomunicações da IBM Brasil

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ponto&contraponto

Fornecedor não é remédio parceiro as ineficiências da estrutura da operadora, seus ônus trabalhistas. Com a pressão sobre os preços, a transferência das atividades ficou inviável e, em alguns cadeia de valores da indústria de casos, resultou na devolução da atividade e dos contratos telecomunicações está cada vez mais distorcida e para as operadoras, sem que fossem atendidos os injusta com os fornecedores. Com a crescente objetivos de redução de custos e aumento de eficiência. competição com serviços over-the-top (OTTs), a Há várias verdades indiscutíveis: as empresas situação de rentabilidade das teles fica mais necessitam buscar eficiência e redução de custos para comprometida. Os encargos com dívidas e as obrigações manter sua rentabilidade; existe um legado de sistemas, com os acionistas fazem com que sobre menos dinheiro redes, pessoal e processos que engessam as empresas e para as crescentes demandas de evolução tecnológica que funcionam como travas para as mudanças das redes e por mais banda. Sobra a pressão para os necessárias para melhorar eficiência e competitividade; e fornecedores, na forma de redução de preços, prazos os fornecedores de serviços e produtos só podem assumir maiores de pagamento (quando há) e a responsabilidade a sua parcela de responsabilidade pelo equilíbrio das por continuar investindo em tecnologia para acompanhar contas das operadoras. as demandas dos clientes e dos órgãos reguladores. A necessidade de caixa para pagar dívidas ou investir A situação é mais complicada para as empresas triple oferece outro tipo de oportunidade, que não é exatamente ou quad-play que têm redes ou sistemas legados antigos uma parceria, mas, sim, operações de leaseback, com e que, por isso, carregam larga características quase de empréstimo ineficiência. Melhor a situação de bancário, como as de “venda” de torres empresas mais novas e de nicho, que para empresas especializadas com o podem fazer redes modernas e sem o o que se vê é um cenário pagamentos mensais pelo uso por ônus de sistemas e clientes antigos. de busca de redução longos prazos. Este tipo de acordo O número de clientes em disputa parece também viável para de preços por pelo mercado é bastante limitado, backbones ou outros ativos não procedimento licitatório estratégicos. Estas operações hoje assim como o número de autodestruidor e que têm mais um cunho bancário de fornecedores em toda a cadeia. É resulta na perda de comum falar em parceria entre leaseback e possibilidade ganhos operadoras e fornecedores, mas o que qualidade de serviço tecnológicos, compartilhamento de se vê é muito mais um cenário de sites e otimização de redes ainda a e na deterioração busca de redução de preços por um serem explorados. cada vez maior procedimento licitatório que tem Parcerias para o dos fornecedores. características autodestruidoras e que compartilhamento de sites já são tem como resultado final a perda de qualidade de serviço bastante sedimentadas, ainda têm muito espaço para e a deterioração cada vez maior dos resultados das crescer e melhor ficarão quando as empresas que empresas fornecedoras, com a perda de sua capacidade detenham o controle dos sites sejam neutras e de investimento em tecnologia. independentes, prestando uma maior gama de serviços. A construção de uma verdadeira parceria deveria A situação do setor requer criatividade para a adoção passar por algum conceito de fidelização, para que o de novos modelos, ou mesmo viabilização de modelos já esforço de ambas as partes tivesse longa duração. Isto existentes, aprendendo com os erros do passado. O não significa fornecedor único, que tampouco é saudável, fundamental é que uma parceria deve ser um acordo mas um esquema de parceria que privilegie o “total cost justo e bom para ambas as partes. Qualquer parceria de of ownership” e não o investimento imediato, que pode ser sucesso tem que ser “ganha-ganha”, ou seja, deve ser boa medido no resultado de uma compra pontual. para todas as partes em termos dos resultados esperados, Tivemos nos últimos anos algumas tentativas mal da qualidade, da fidelização e rentabilidade. Se não for sucedidas, particularmente em serviços gerenciados, onde assim, não será uma parceria, será mais um passo no o grande problema foi a necessidade de transferir para o caminho da canibalização do setor.

Cláudio Dascal

dascal@uol.com.br

A

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