Palestra sobre Epidemiologia e Fatores de Risco para os Transtornos Mentais no Idoso

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Projeto Clínica Psiquiátrica

Epidemiologia e Fatores de Risco para os Transtornos Mentais no idoso Cássio M C Bottino PROTER / CEREDIC IPq HC FMUSP cbottino@usp.br


Sumário • Envelhecimento da população mundial • Importância da epidemiologia em gerontopsiquiatria • Demências e transtornos cognitivos • Uso de álcool por idosos • Transtornos depressivos


ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL


Proporção da População Mundial com mais de 60 anos: 1950 - 2050

World Population Ageing, ONU, 2002


Pirâmides Etárias – Brasil

World Population Ageing, ONU, 2002


Por que os estudos epidemiológicos são importantes em gerontopsiquiatria? • Diagnóstico de ‘casos’ • Determinar a distribuição de um transtorno em uma população: estudos de prevalência e incidência • Estudar tendências históricas • Estudar fatores etiológicos • Organizar os serviços de atenção à saúde • Planejar estratégias de prevenção


Instrumentos de Rastreio • Demência – – – – – – – –

MMSE FV TDR Bateria breve SKT Pfeffer IQCODE B-ADL

• Depressão – CES-D – GDS

• Delirium – CAM

• Dep. Álcool – CAGE – MAST


Instrumentos de rastreio aplicados ao informante • B-ADL • 33 pacientes com demência leve a grave (CID-10) • 59 controles • Cronbach alpha = 0,98 • Escore da B-ADL diferente entre pacientes com demência e controles (p < 0,001) Folquitto JC, et al. Rev Bras Psiquiatr 2007; 29:350-3

• IQCODE • 34 pacientes com demência (CID-10) • 57 controles • Cronbach alpha = 0,97 • MMSE: classificou corretamente 85,7% e as 3 versões do IQCODE (L, S e SBr) 91,2% dos idosos Perroco TR, et al. International Psychogeriatrics 2009;21:531-8


Instrumentos diagnósticos para idosos • Geriatric Mental State Examination - GMS (Copeland et al., 1976) • Comprehensive Assessment and Referral Evaluation - CARE (Gurland et al., 1977) • Cambridge Examination for Mental Disorders of the Elderly - CAMDEX (Roth et al., 1986) – Versão brasileira (Bottino CM, Almeida OP, Tamai S, Forlenza OV, Scalco MZ, Carvalho IAM, 1999)


DEMÊNCIAS E TRANSTORNOS COGNITIVOS



Prevalência de Demência: estudos na comunidade de 1994 a 2000 MEDLINE e LILACS: 38 estudos

Lopes e Bottino. Arq Neuropsiquiatr 2002; 60:61-69


Taxas Anuais de Incidência de Demência

□ Meta-analysis of European studies, ♦ Meta-analysis of East Asian studies, ■ Metaanalysis of Western and Asian studies ▲Meta-analysis of European studies, ○ Brazilian incidende study

Nitrini et al. Alzheimer Dis Assoc Disord 2004; 18:241-6


Regiões desenvolvidas

Ásia

África

AL

Idade

+

+

+

+

Sexo Feminino

+

+

±

±

História fam.

+

+

TCE

+

Genes (APOE)

+

+

-

±

Analfabetismo

+

+

+

+

CCL ou CIND

+

+

Moradia Urbana

±

±

Baixo nivel socioecon.

±

+

Trab. Domésticos (ocup.)

-

+

±

+

Depressão

+

+

+

+

Doença vascular

+

+

+

±

Dieta pobre em fibras

±

+

+

Tabagismo

+

+

+ +

+ -

+ +

±

Kalaria et al. Lancet Neurology 2008; 7:812-826


Impacto da demência em diferentes regiões do mundo DALYs

Custos 2005 (US$)

Total

Por 100.000 pessoas

Por 1.000 pessoas c/ Dem.

Diretos (bil.)

Cuidado informal (bil.)

Doença (bil.)

Por paciente

4741

395

350

168,1

74,7

242,8

17964

Renda média

5597

107

354

42,3

30,3

72,6

4588

Renda baixa

422

57

363

0,8

1,0

1,8

1521

Regiões desenvol. Regiões em desenvol.

Kalaria et al. Lancet Neurology 2008; 7:812-826


Custos do paciente com demência no Brasil • Avaliado grupo de 41 pacientes com demência e suas famílias • Gastos chegam a comprometer 66% da renda familiar – 75% para pacientes em estágio inicial – 62% em estágio avançado – 80% quando associada a outra doença crônica Veras et al. Rev Psiq Clin 2007; 34:5-12


Prevalência de demência em SP e RP • Estudo comunitário em população ≥ 60 anos em São Paulo e Ribeirão Preto • Amostragem por conglomerado: 3 distritos com características sócio-demográficas diferentes (IBGE) • Identificação dos idosos nos domicílios • 1a fase: Rastreio dos possíveis casos • 2a fase: Diagnóstica – Avaliação por médicos treinados (CAMDEX, ex. físico e neurológico), diagnóstico DSM-IV – Exames lab. e neuroimagem (TC ou RM de crânio) - 80% da amostra positiva para demência


Prevalência de demência e CIND em SP

n ≥ 60 anos = 1.563 n ≥ 65 anos = 1.186

Sens = 94,4% Esp = 70,6% VPP = 61,6% VPN = 96,2% Bottino et al. Dement Geriatr Cogn Disord 2008;26:291–299


PrevalĂŞncia de DemĂŞncia em RP

n = 1.140

n = 787


Frequência das causas de demência em São Paulo e Ribeirão Preto

Lopes, Doutorado, FMUSP, 2006; Bottino et al. Dement Geriatr Cogn Disord 2008;26:291–299


Fatores de risco/proteção para demência

Fratiglioni et al. Lancet Neurology 2004; 3:343-53


Prevalência da DA nos EUA: 2000 a 2050

Sem alterações do Início da DA Progressão da Início e progressão tratamento DA retardada retardadas retardado Sloane et al. Annu Rev Public Health 2002 ; 23:213–31


USO DE ÁLCOOL POR IDOSOS


Uso de álcool por idosos • Alcoolismo em idosos tem características diferentes: – consumo de bebidas menor – sintomas de dependência menos graves – problemas legais e sociais menos freqüentes – complicações físicas mais graves (desnutrição, quedas, HA, dça cardiovascular e gastroint., neoplasias, interação medicamentos) • Eleva a mortalidade, morbidade e custo dos cuidados Castro-Costa et al. Addictive Behaviors 2008; 33:1598–1601; Blay et al. Int Psychogeriatr 2009; 13:1-8; Hirata ES, et al. Int J Geriatr Psychiatry 2009; 24:1045-53


Prevalência de problemas relacionados ao álcool em idosos

Castro-Costa et al. Addictive Behaviors 2008; 33:1598–1601; Blay et al. Int Psychogeriatr 2009; 13:1-8; Hirata et al. Int J Geriatr Psychiatry, 2009; 24:1045-53; Lopes rt al. Alcohol Clin Exp Res. 2010;34:726-33


Problemas relacionados ao uso de álcool em idosos • Prevalências brasileiras são elevadas • Fatores associados: sexo masc., idosos “jovens”, cor parda, baixo nível educacional e sócio-econômico, tabagismo, comprometimento cognitivo e/ou funcional • Fundamental para reduzir o impacto: – implementar estratégias de rastreio para idosos com risco aumentado – tratamento comportamental: abordagens médicas e comunitárias dirigidas para idosos


TRANSTORNOS DEPRESSIVOS


As 10 maiores causas de sobrecarga de doenรงa no mundo: 2004 -2030

World Health Association, GBD Report Figures 2004


Prevalência de Depressão em Idosos na Comunidade • Medline 1989 a 1996: 34 estudos • Taxas de prevalência variaram de 0,4 a 35% • De acordo com o nível diagnóstico: Depressão maior: 1,8% Depressão menor: 9,8% Síndromes depressivas clinicamente relevantes: 13,5% • Altas prevalências para mulheres e idosos vivendo em situações sócio-econômicas adversas Beekman et al. Br J Psychiatry 1999; 174:307-11


Cole & Dendukuri. Am J Psychiatry 2003; 160:1147–1156


Prevalência de Depressão em ambientes de tratamento específicos Inst. de Longa Permanência: – Depressão Maior: 8 – 14% – Depressão Menor: 14 – 30%

Hospitais para pacientes agudos: – Depressão Maior: 11 – 44% – Depressão Menor: 8 – 23% – “outras depressões”: 23%

Cuidados primários: – Depressão Maior: 6,5% – Depressão Menor: 5,2%

Blazer et al., 2004


Autores e ano

Local

Idade

n

Instrumento (critério)

Prevalência de doença / síndrome %

Fatores Associados

Gazalle e cols, 2004

RGS

65+

583

Escala p/ sintomas dep.

27 – 73,9

Fem, ↑idade, ↓escol., sem trab., luto

Lebrão e Laurenti, 2005

SP

60+

2.143

GDS-30

18,1

Fem, <idade

Batistoni e cols, 2007

MG

60+

903

GDS-15 CES-D

15 33,8

Não avaliados

Xavier e cols, 2001

RGS

80+

77

SCID (DSM-IV)

Depressão Depressão menor Distimia

7,5 12,1

HAS,TAG, pscotrópicos ↓ QV

4,5

Andrade e cols., 2002

SP

60+

375

CIDI 1.1 (CID-10)

Depressão Distimia

3,2 1,6

Ev. de vida, morar só, falta de sup. social, usodep. de álcool, tr. de ans.

Roriz-Cruz e cols, 2007

RGS

60+

422

GDS-15/ DSM-IV-TR

Depressão

17,1

Fem, S. Metab

Blay e cols, 2007

RGS

60+

7.040

SPES

Morbidade depressiva

22

<idade,<renda, rural, solt., dç clin, ↓AFs desempr., ↓AVD

Costa e cols, 2007

MG

75+

392

SCAN (CID-10)

Depressão Distimia

15,4 4,6

“saúde global comprometida” (auto relato)


Depress達o em idosos brasileiros na comunidade Proporti on meta-anal ysi s plot [random effects]

Cos ta e cols ., 2007

0,15 (0,12, 0,19)

Roriz -Cruz e cols.,2007

0,04 (0,03, 0,07)

Andrade e c ols ., 2002

0,03 (0,01, 0,06)

Xav ier e cols., 2001

0,08 (0,03, 0,17)

c ombined

0,07 (0,02, 0,14)

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

proportion (95% confidenc e interv al)

Barcelos-Ferreira R, et al., Int Psychogeriatr. 2010;22:712-26


Depressão e Mortalidade em Idosos • Altas taxas de mortalidade em idosos deprimidos (homens) com problemas de saúde física • Estudo AMSTEL: – síndromes depressivas maiores aumentam o risco de morte em homens e mulheres – a depressão leve aumentou o risco apenas em homens (ajustado para variáveis demográficas, doença física, declínio cognitivo e habilidades funcionais)

Schoevers et al. Br J Psychiatry 2000; 177:336-42; Koenig & Blazer, 2004


Tendência das taxas de suicídio no Brasil por sexo e idade: 1980-2000

• Aumento de 21% nesse período (3,3 para 4,0 mortes/100.000) • Brasil: uma das menores taxas mundiais de suicídio • Entre os 10 países com maior número de mortes (± 6.000 por ano) WHO, 1999; Mello-Santos et al. Rev Bras Psiquiatr 2005; 27:131-34


Sintomas depressivos clinicamente relevantes em SP e RP

D-10 ≼ 7

Lopes, Tese de Doutorado, FMUSP, 2006; Barcelos-Ferreira et al., Am J Geriatr Psychiatry, 2009;17:582-90


Fatores associados aos sintomas depressivos em São Paulo OR (IC 95%) MASCULINO

1.00

FEMININO

1.63 (1.08-2.46)

BRANCO

1.00

PARDO

1.60 (1.07-2.41)

p 0.020 0.023

NEGRO

1.00 (0.51-1.97)

0.994

ASIÁTICO

0.38 (0.08-1.73)

0.212

AVC

1.63 (0.95-2.79)

0.075

COMPROMETIMENTO COGNITIVO E FUNCIONAL

2.37 (1.61-3.50)

<0.001

DEPRESSÃO PRÉVIA

2.44 (1.69-3.50)

<0.001

USO DE PSICOTRÓPICOS

1.79 (1.23-2.59)

0.002

ATIVIDADE FÍSICA

0.48 (0.34-0.69)

<0.001

DM

1.44 (0.98-2.12)

0.061


Depressão em idosos brasileiros • Sintomas clinicamente relevantes e tr. depressivos em idosos brasileiros: prevalências elevadas • Fatores associados: sexo fem., dças fis., comp. cognitivo e/ou funcional, depressão prévia, TAG, uso de psicotrópicos • Rastreio adequado e estratégias de prevenção podem reduzir a prevalência no Brasil e aumentar a efetividade do tratamento Barcelos-Ferreira et al., Am J Geriatr Psychiatry, 2009;17:582-90


A prevenção da depressão em idosos é possível? • •

1.940 idosos seguidos por 3 anos: sint. subsindrômicos de depressão → risco de desenvolver dep. - 40% Prevenção pode ser mais efetiva para grupos com risco aumentado: Sintomas depressivos Comprometimento funcional Rede de suporte social pequena (mulheres) Bx . nível educacional Dças. Crônicas

Meta-análise - intervenções psicoter. breves p/ sint. dep. subsindrômicos: – Reduziu a incidência de depressão em 30% Cuijpers et al. J Nerv Ment Dis 2005;193:119–25; Schoevers et al. Am J Psychiatry 2006; 163:1611–21; Smit et al. Arch Gen Psychiatry 2006; 63:290-96


PROTER IPq HC FMUSP Cássio M C Bottino Débora P Bassitt Tânia Correa T Ferraz Alves Antonio Helio Guerra Vieira Filho Rita Cecília Reis Ferreira Edson S Hirata Lyssandra dos Santos Tascone Salma Rose Imanari Ribeiz Jefferson Cunha Folquitto Eduardo Villardes Campanha Ricardo Barcelos Ferreira Daniel S Barczac Diana M Bezerra Claudia Martins Santana Tíbor Rilho Perroco

Éric Cretaz Célia Petrossi Gallo Viviane H Myung Vanessa Satomi Mirian Gracy Bolso Renata Ávila Isabel A M Carvalho Pedro Zuccolo Ednéia de Paula Lílian Tavares Márcia A Paviani Renne Alegria Maria Inês Falcão Patrícia Buchain Alessandra V R Moraes


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