Palestra sobre Manifestações Psiquiátricas do Puerpério

Page 1

Manifestações Psiquiátricas no Puerpério Dra. Vera Tess Médica Assistente do Instituto de Psiquiatria HC-FMUSP Responsável pelo Ambulatório de Gestantes do Grupo de Interconsulta do IPq


Período Perinatal e Transtorno Mental

• Conceito expandido de período perinatal  toda a gestação até um ano do nascimento • quadros mentais puerperais descritos desde a Antiguidade • até há poucos anos quase nada era descrito sobre doença mental na gestação

 período de vulnerabilidade: especialmente às doenças afetivas e ansiosas flutuações dramáticas dos hormônios gonadais • a gestação não protege a mulher da doença mental


Puerpério Período de desafios para a mãe

• • • •

cuidar de um recém nascido se restabelecer do parto lidar com a privação de sono tentar estabelecer uma rotina para a amamentação • se ajustar a uma nova dinâmica familiar • toda mãe recente com antecedentes psiquiátricos deve ser acompanhada de perto


Espectro dos Transtornos Afetivos Puerperais


Disforia Puerperal ou Blues  Forma mais leve dos quadros depressivos puerperais até 85% das puérperas  Labilidade emocional, choro fácil, ansiedade, insônia, irritabilidade e sentimentos de inadequação  Geralmente começam nos primeiros dias do parto e desaparecem espontaneamente em até duas semanas •

não há necessidade de um tratamento específico

Sintomas que persistem por mais de duas semanas devem ser reavaliados e sugerem a evolução para uma depressão maior. •

história prévia de transtorno de humor, especialmente aquelas que tiveram depressão durante a gestação, apresentam maior risco para os quadros puerperais


Depressão Pós-Parto

• 10 a 15% das puérperas • Quadro depressivo semelhante ao das não-grávidas  Maior frequência de obsessões com conteúdo de agressão ao bebê, irritabilidade e sintomas ansiosos  Início insidioso, geralmente duas a três semanas após o parto, podendo ocorrer meses após o parto


Depressão Pós-Parto

•Dificuldades em diagnosticar depressão nas primeiras semanas do parto Sintomas presentes no pós-parto normal: alterações de sono, de apetite e de desejo sexual dificuldade maior em quadros leves para moderados •A minoria procura tratamento Desinformação da paciente e familiares que interpretam os sintomas como normais para o momento Estigma associado à depressão: vergonha e sentimento de inadequação •A recorrência de depressão pós-parto pode chegar a 50% nas gestações seguintes


Transtornos Afetivos Puerperais Fatores de Risco


Transtornos Afetivos Puerperais Fatores de Risco

• Apoio social Grigoriadis e cols. (2009): revisão de literatura de práticas e rituais no pós-parto em várias culturas  funcionam como um fator protetor para DPP  principal elemento protetor é a presença de suporte familiar  mulheres de cidades grandes, especialmente na cultura ocidental  mais vulneráveis


Depressão Pós-Parto • Depressão pós-parto não tratada  Comprometimento dos cuidados com o RN e do vínculo afetivo mãe-bebê  compromete o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança

  o risco de suicídio materno e cronificação da depressão

 Dificuldades conjugais e risco maior de depressão no parceiro  Desenvolvimento do vínculo mãe-bebê começa na gestação


Depressão Puerperal: consequências

•Weissman e cols. (2006 ): estudo de seguimento de 20 anos de filhos de mães depressivas  maior freqüência de depressão, ansiedade, dependência química, problemas familiares e no trabalho •Weissman e cols. (JAMA, 2006): impacto sobre os filhos da remissão da depressão materna 151 mães deprimidas e seus filhos de 7 a 17 anos, após o tratamento e remissão da depressão materna  redução significativa dos sintomas depressivos e ansiosos e de comportamentos disruptivos da criança.


Depressão Paterna Puerperal

Saúde mental dos pais • Paulson e Bazemore (2010): metanálise de 43 estudos sobre depressão paterna entre o primeiro trimestre e um ano após o nascimento  prevalência de 10,4%.

 prevalência de depressão na população masculina em geral: 4,8% (12 meses)


Manejo da Depressão Pós-Parto

• Todos os tratamentos para DPP têm mostrado algum benefício na qualidade da interação mãe-bebê, na capacidade materna de lidar com os comportamentos do bebê e no desenvolvimento cognitivo da criança Diagnóstico e tratamento precoce essenciais para um melhor prognóstico  Mãe saudável  bebê ou criança saudável  Mãe doente  bebê ou criança doente • Os pais devem ser igualmente incluídos nas avaliações pré e pós-natal e podem ser precocemente tratados.


Psicose Puerperal

•0,1% a 0,2% das puérperas Início precoce, instalação nas primeiras três semanas após o parto  primeiras 48 a 72 horas • Quadros graves Irritabilidade, inquietação e alteração de sono que evoluem rapidamente para um quadro psicótico caracterizado por humor depressivo ou eufórico, comportamento desorganizado, labilidade emocional, delírios e alucinações


Psicose Puerperal • Pode se manifestar com quadros confusionais (Delirium)

• Investigar patologias orgânicas como: tireoidopatias, encefalites, tromboflebite cerebral, eclâmpsia • Recorrência da psicose puerperal: uma em três gestações • Puérperas com quadro maniformes: 50% evoluem para transtorno afetivo bipolar •História prévia de TAB ou psicose puerperal apresenta um risco elevado de recorrência no próximo parto (até 70%)


Psicose Puerperal

•Urgência psiquiátrica: a ausência de tratamento, geralmente em regime de internação hospitalar, coloca em risco a mãe e bebê •Taxa de infanticídio em psicoses puerperais: 4%


Hospitalização Psiquiátrica no Puerpério


TAB e Puerpério

• O pós-parto é o período de maior risco para o início ou piora da doença  risco do 1º episódio é sete vezes maior do que em outros períodos da vida

• Mais de 50% dos quadros puerperais começam na gestação  mudanças de humor na gestação representam um dos fatores de risco mais relevantes para quadros puerperais graves

• Risco 100x maior de Psicose Puerperal nas pacientes com TAB (10 a 20% vs 0,1 a 0,2% na população geral)


Reavaliando a Depressão Pós-Parto

•Sharma e cols. (2008) 56 casos reavaliados com o SCID, Highs Scale, MDQ 46% Depressão Puerperal 29% TAB SOE 23% TAB II 2% TAB I

53%

•Sharma e Khan (2010) 60 puérperas Depressão Pós-parto resistente ao tratamento Reavaliação diagnóstica: 34 (57%) com TAB Mudança medicação para estabilizados de humor ou antipsicótico  melhora do quadro


Quadros Afetivos Puerperais Orientações Quadro Puerperal Disforia puerperal

Orientações e tratamento Normalização dos sintomas Aumento do suporte social, envolvimento familiar e conjugal

Depressão puerperal

Medidas não farmacológicas

1.

Aumento do suporte social, envolvimento familiar e conjugal. Ampliar ajuda nos cuidados dos outros filhos

2.

Exercício físico

3.

Cuidados com a privação de sono

4.

Psicoterapia: terapia cognitiva comportamental e terapia interpessoal

Medicação 1. Avaliar a manutenção da amamentação: riscos da privação de sono e riscos da medicação para o bebê X riscos do não tratamento para a mãe e para o bebê. 2. Antidepressivos com perfil mais seguro: sertralina, paroxetina, fluvoxamina e nortriptilina 3. Uso com mais restrições: citalopram e fluoxetina


Quadros Afetivos Puerperais Orientações Quadro Puerperal

Orientações e tratamento

Psicose Puerperal

Urgência médica 1. Internação psiquiátrica 2. Investigação das causas orgânicas 3. Orientação familiar dos riscos para a mãe e para o bebê: suicídio e infanticídio 4. Tratamento farmacológico 5. Interromper a amamentação Em quadros maniformes acompanhar a puérpera por um ano, retirada da medicação gradual e sob supervisão


Links •Practice Guidelines APA Practice Guidelines: www.psych.org ACOG Practice Bulletin

•Systematic Reviews Cochrane reviews: www.cochrane.org/reviews

• LactMed database http://toxnet.nlm.nih.gov /index.html

•Women’s Programs http://www.womensmentalhealth.org/ www.motherisk.org


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.