Interações Medicamentosas em Psiquiatria

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Interações Medicamentosas em Psiquiatria Dr. Odeilton Tadeu Soares Mestre em Psiquiatria pela FMUSP Coordenador da Enfermaria de Ansiedade e Depressão Supervisor e Pesquisador do GRUDA (Grupo de Estudos de Doenças Afetivas) IPq-HCFMUSP tadeusoares@usp.br


Objetivos • Conceituar interações farmacodinâmicas e farmacocinéticas; • Demonstrar a importância do citocromo P450 na biotransformação de diversos medicamentos; • Apresentar e discutir casos clínicos com interações mais comuns em Psiquiatria.


Interações Medicamentosas Farmacodinâmicas

Influência de uma droga no efeito da outra, em seu sítio final de ação ou receptor. Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


Interações Farmacodinâmicas dos Psicotrópicos

• •

• Droga Efeito Potencializado • Clorfeniramina Anti-histamínico • Cimetidina Anti-histamínico • Benztropina Anti-colinérgico • Pseudo-efedrina Alfa- adrenérgico • Prazosin Bloqueio alfa-1 • Yombina Bloqueio alfa-2 • Risperidona Bloqueio 5HT-2 • Meperidina Serotonérgico • Fluoxetina, Paroxetina Serotonérgico Clorpromazina Bloqueio alfa-1, ef. anti-colinérgico Levomepromazina Bloqueio alfa-1, ef. anti-colinérgico • Tranilcipromina Serotonérgico (Hipertensão) • Álcool Anti-histamínico (Sedação) • Quinidina Anti-arrítmicos


Desinibição Serotonérgica Sistema Límbico Tronco cerebral Tronco cerebral (centro do vômito ) Hipotálamo Núcleos da base Mucosa intestinal

Ansiedade, tremores, agitação Insônia, mioclonias noturnas, despertares Náuseas e vômitos Diminuição do apetite Acatisia e Sintomas extra-piramidais Diarréia

Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


Citocromo P450 • Enzimas com origem comum; • RER de Hepatócitos e outros tecidos; • Envolvida na oxi-redução (fase I); • 40 identificadas, mas 6 respondem por 90% de sua atividade; • As drogas podem ser: inibidores, indutores ou substratos; • Metabolizadores lentos ou rápidos Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


Antidepressivos Tricíclicos • Usam várias enzimas para sua biotransformação (2D6,2C19,3A4,1A2) • Inibidores Enzimáticos: Antidepressivos outras classes, Antipsicóticos ( nível sérico dos ADTs) • Indutores Enzimáticos: Carbamazepina, Fenitoína,Fenobarbital ( nível ADTs) Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


ISRS • São inibidores enzimáticos • Fluoxetina e Paroxetina inibem 2D6 e 2C9 acentuadamente • Fluvoxamina inibe 1A2, 2D6 e 3A4 • Sertralina inibe mais em doses maiores de 200mg/d • Citalopram e Escitalopram têm a menor potência para inibição enzimática Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


IMAO • Grande potencial para interações farmacodinâmicas • Acúmulo de 5HT,DA e NA • Crises hipertensivas ou síndrome serotonérgica quando associados a ADTs ou ISRS • Não inibe significativamente enzimas do cit P450 Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


ISRNS – – – –

• Venlafaxina menos potente que ISRS na inibição de 2D6,3A4 e 2C19 única interação de risco com IMAOs • Duloxetina metabolizada por 1A2 e 2D6 Inibidores como Fluvoxamina(1A2) e Fluoxetina(2D6)  nível de duloxetina Efeito inibitório em 2D6 (níveis de ADTs) Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


Antipsicóticos Típicos • Ação predominante: Bloqueio D2 • Biotransformados por 1A2, 2D6 e 3A4 • Indutores como a CBZ, diminuem o seu nível plasmático, comprometendo a sua eficácia • Inibidores como a Fluoxetina e a Fluvoxamina, aumentam o nível plasmático, aumentando efeitos colaterais, como os extra-piramidais e hiperprolactinemia. Soares,OT. Guia de Interações Medicamentosas. EPUC,2006


Antipsicóticos Atípicos • Droga – – – – – – – – –

• Local biotransformação

Clozapina Aripiprazol Olanzapina Quetiapina Ziprazidona Risperidona Paliperidona Sertindol Asenapina

– – – – – – – – – Soares, 2006; Cozza,2008

2D6,3A4,2C9,1A2 2D6,3A4 2D6,1A2,UGT1A4 3A4 3A4,1A2 2D6,3A4 2D6,3A4 2D6,3A4 2D6,1A2


• Substratos – – – – – – – –

Tricíclicos ISRS (exc. cit/escit) Antipsicóticos Metadona Tramadol Nifedipina Propranolol Dexclorfeniramina

2D6

• Inibidores – – – – – – –

Bupropiona Fluoxetina Norfluoxetina Paroxetina Cimetidina Quinidina Ritonavir

Cozza,KL;Oesterheld,JR. Princípios da Interações Medicamentosas na Prática Clínica,APP,2005


3A4 Substratos Tricíclicos ISRS Antipsicóticos BDZ Hip. Ñ BDZ Buspirona

Inibidores Norfluoxetina Nefazodona Ciprofloxacin Cetoconazol Eritromicina Ritonavir Cozza,KL;Oesterheld,JR. Princípios da Interações Medicamentosas na Prática Clínica,APP,2005

Indutores CBZ Fenobarbital Fenitoína Hypericum Rifampicina Ritonavir


1A2 Substratos Amitriptilina

Inibidores Indutores Fluvoxamina Tabagismo

Imipramina Mirtazapina Clomipramina Clozapina Haloperidol

Ciprofloxacin Norfloxacin Cimetidina Verapamil Ac. Orais

crônico

Cozza,KL;Oesterheld,JR. Princípios da Interações Medicamentosas na Prática Clínica,APP,2005

CBZ Omeprazol Rifampicina Ritonavir


2C19 Substratos Amitriptilina Citalopram Clomipramina Omeprazol Imipramina Sertralina

Inibidores Fluoxetina Norfluoxetina Paroxetina Fluvoxamina Omeprazol Ritonavir Cozza,KL;Oesterheld,JR. Princípios da Interações Medicamentosas na Prática Clínica,APP,2005

Indutores CBZ Ac.Valpróico Fenitoína Fenobarbital Rifampicina Prednisona


Glicoproteínas P Substratos Amitriptilina Nortriptilina CBZ Quetiapina Digoxina Estradiol

Inibidores Amiodarona Bromocriptina Cetoconazol Eritromicina Haloperidol Imipramina Cozza,KL;Oesterheld,JR. Princípios da Interações Medicamentosas na Prática Clínica,APP,2005

Indutores Dexametazona

H.perfuratum Rifampicina Trazodona Venlafaxina?


Substratos das Uridinas 5’difosfato Glicuronosil Transferases (UGT 1A) • 1)Acetominofen, Etinilestradiol, Sinvastatina; • 3)Amitriptilina, Atorvastatina, CPZ, Clozapina, Imipramina, Prometazina; • 4)Imipramina, Olanzapina, Lamotrigina; • 6)Acetominofen, Cetoprofeno;

.

• 9)Diclofenaco, Furosemida,Propranolol


Caso Clínico I • Arlete, 30a, TDRecorrente, em uso de Imipramina 250 mg/d, apresentou melhora, mas mantém tristeza, ainda chora, e não tem vontade de sair de casa. Seu médico optou por introduzir bupropiona até 300 mg/d. A paciente começou a apresentar boca seca e intestino preso, além de taquicardia e tonturas. Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Qual a interação nesse caso? • A Bupropiona (Inibidor de 2D6) comprometeu a capacidade de 2D6 biotransformar a Imipramina, causando efeitos colaterais anticolinérgicos e provável toxicidade cardíaca. • Provável aumento do nível sérico de imipramina

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Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Caso Clínico II • Sérgio, 40a com diagnóstico de Esquizofrenia, bem controlado há 2 anos com uso de Tioridazina (300 mg/d). Há 2 semanas procurou o psiquiatra com queixas de tristeza e falta de vontade para ir ao trabalho como montador na loja de seu cunhado. Foi prescrito paroxetina 20mg/d.Começou a apresentar taquicardia, tremores e sialorréia

Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Qual a interação nesse caso? • A Paroxetina (inibidor 2D6) comprometeu a capacidade de 2D6 biotransformar a Tioridazina, aumentando o seu nível sérico. Efeitos extra-piramidais e taquicardia resultante de aumento do QTc (observado no ECG), só remitiram com a suspensão da

paroxetina

.

Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Caso Clínico III • Antonieta, 38a, TAB I e TOC. Em uso de Lítio 1200 mg/d e TCC, com bom controle. Faz uso de Propranolol, 30mg/d para tremores. Há 4 meses piora do TOC com vários rituais de contagem. Introduzido Sertralina até 250 mg/d, com pouca resposta. Há 5 dias queda da própria altura. Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Qual a interação nesse caso? • A Sertralina, em doses superiores a 200 mg/d é inibidor de 2D6. A capacidade de biotransformar o propranolol (substrato de 2D6) ficou comprometida. O aumento nos níveis plasmáticos de propranolol levou à piora da hipotensão postural, à anergia e por fim à queda da paciente.

Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Caso Clínico IV • Paula,23a, TAB I e T. do Pânico, controlada com CBZ 800 mg/d e Alprazolam 4mg/d. Apresentou leucopenia e foi decidida a substituição da CBZ por lítio. Três semanas após a suspensão da CBZ apresentou sedação excessiva, que interferia com a sua capacidade de trabalho.

Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Qual a interação nesse caso? • Com a retirada da CBZ (indutor 3A4) houve reversão da indução. Havia um equilíbrio no nível sérico com a administração conjunta, com cessação dos ataques de pânico sem sedação. Houve redução na biotransformação do Alprazolam (substrato 3A4), o que elevou os seus níveis plasmáticos, causando sedação excessiva. Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Caso clínico V • Luis Antônio, 80a, Depressão ansiosa, controlada com Mirtazapina 30 mg/d. Hipertenso, fazia uso de Nifedipina 20mg/d. Sentia-se sedado durante o dia e tentou-se substituir o antidepressivo pela Fluoxetina 20mg/d. O paciente foi encontrado pelo filho caído. Chamou a ambulância. Sua PA estava 80x50mmHg Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Qual a interação nesse caso? • A Fluoxetina (inibidor 3A4) foi adicionada a Nifedipina (substrato 3A4), diminuindo a sua biotransformação elevando o seu nível plasmático, levando à hipotensão e episódio de síncope.

Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Caso Clínico VI • Paulo, 20a, TOC, recebendo Fluvoxamina 200mg/d. Tomou grande quantidade de café para permanecer acordado para estudar para uma prova. Não conseguiu dormir, ficando agitado e trêmulo. Urinava a cada hora e sentia muita sede. Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Qual a interação nesse caso? • A Fluvoxamina (inibidor 1A2) impediu a cafeína (substrato 1A2) de ser biotransformada eficientemente, resultando em intoxicação por cafeína. Essa associação pode prolongar a meia-vida da cafeína mais de 6 vezes (Jeppesen,1996) Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Caso clínico VII • Laura,36a, esquizofrênica refratária a tratamentos convencionais, obteve remissão de seu quadro com clozapina 700mg/d. Após sua alta, seu clínico recomerndou que parasse de fumar, o que fez de forma abrupta. Duas semanas após apresentou sedação excessiva, tonturas, visão borrada e constipação. Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Qual a interação nesse caso? • A dose de clozapina foi estabelecida com uso constante de tabaco. O tabaco é um indutor significativo de 1A2. havia um aumento estável de 1A2 para biotransformar a clozapina . Com a interrupção do fumo, houve aumento nos níveis plasmáticos de clozapina, que cessaram com a redução da dose para 400 mg/d. Sandson,NB. Interações Medicamentosas-Casos Clínicos. APP,2007


Conclusão • Muitos EC indesejáveis são provocados por interações medicamentosas. • Na maioria das vezes, um ajuste de doses é suficiente para controlar esses efeitos. • Conhecer as principais interações medicamentosas dos medicamentos que mais utiliza e saber lidar com elas é atributo obrigatório do clínico.



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