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Ilustração cedida por Roger Mello

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por um rN dE LEiTOrES Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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Editorial

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á se foram dez anos... Páginas e páginas, nesta década, foram escritas. Mas principalmente lidas! A leitura escreveu o enredo de colaboradores, voluntários, educadores, parceiros e crianças, que integraram os projetos do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), organização não-governamental, localizada em Natal-RN, comprometida com iniciativas que promovam o fortalecimento da escola pública, de modo a torná-la capaz de oferecer uma educação básica de qualidade social para todas as crianças e adolescentes. E a história continua. Ano após ano, os projetos - voltados para a promoção da leitura literária - foram aprimorados, novos projetos criados, mais parceiros agregados e o público, foco da atuação da ONG, cada vez mais, atingido. O IDE foi se consolidando como uma representante legítima do terceiro setor no Rio Grande do Norte, contribuindo não somente pela prática das iniciativas, mas pelo trabalho de controle social, pela preocupação em registrar resultados e promover os produtos de suas atuações, por meio de publicações diversas, por propor atividades que aproximaram educadores, autores e crianças leitoras, como no caso do Seminário Potiguar Prazer em Ler, por viabilizar pesquisa inédita sobre o perfil dos leitores de Natal, assim como sobre a situação da leitura na cidade. Os efeitos do trabalho do IDE e seus parceiros, desde o início, ganharam o respeito dos meios de comunicação, que tornaram-se também parceiros, abertos a receberem as notícias da entidade e a disseminarem sua missão para a massa. Folheando a história da ONG, é possível constatar que a comunicação teve um papel importante: informativos eternizaram os acontecimentos; um programa próprio de rádio - na rádio Cidade 94 FM, em 2009 - falou sobre a proposta do IDE; espaços virtuais, com sites, newsletter e perfis em redes sociais diversas, romperam as barreiras do papel; e, agora, uma revista detalha a história. Todos esses meios construíram pontes com a sociedade, fazendo chegar a mensagem da educação de qualidade para todos, tendo a leitura como protagonista. As palavras, levadas de variadas formas e para diversos destinos, promoveram transformações por onde passaram. Poder público, iniciativa privada e terceiro setor se uniram e se moldaram em mudanças. Produções viraram livros. Observação atenta se transformou em controle social. E crianças se tornaram leitoras, com olhares atentos e curiosos. Completa-se um ciclo e, inevitavelmente, inicia-se outro, em uma dinâmica bem-vinda de renovação. Há, sem dúvida, muito ainda para se transformar: no RN, na Educação, nos educadores, nos estudantes. “Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”, bem definiu o poeta e educador Rubem Alves. Nas linhas e entrelinhas de um livro, esses processos acontecem. Que a Revista IDE 10 anos possa ajudar nessa metamorfose, oferecendo a ideia de que mudar é possível, por meio dessas páginas de exemplos concretizados, os quais foram colecionadas ao longo dessa história. Boa leitura!

Expediente Edição Comemorativa dos 10 anos do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) -----------------------------------------SITE www.ideducacao.org.br -----------------------------------------EDIÇÃO Priori Comunicação Estratégica -----------------------------------------TEXTOS Octávio Santiago e Taciana Chiquetti -----------------------------------------FOTOS Arquivo -----------------------------------------CAPA Ilustração cedida por Roger Mello -----------------------------------------PROJ. E DIAGRAMAÇÃO Terceirize Editora www.terceirize.com -----------------------------------------GRÁFICA Unigráfica -----------------------------------------TIRAGEM 5.000 exemplares -----------------------------------------ASSOCIADOS DO IDE Adélia Alice de Medeiros Cláudia Santa Rosa Eleika Bezerra Guerreiro Geraldo Batista de Araújo Ione Campos Freitas Laércio Segundo de Oliveira Maria Evania de Oliveira Matilde Carlos Fernandes Raimunda Maria Silva Tácia Maria Ataíde Pereira -----------------------------------------APOIO: Instituto C&A

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Índice

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Quebrando barreiras Trabalho do IDE rompe as barreiras do Estado e se torna referência nacional

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Parcerias

Era hora de agir

Publicações Editora do IDE contabiliza milhares de exemplares distribuídos

De mãos dadas, projetos se tornam realidade

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O surgimento da ONG que mudou a Educação no RN

Projetos

Alternativas que colocaram a teoria em prática

Controle Social

ONG está de olho nas ações e políticas públicas

Pesquisa inédita

Conheça o perfil dos leitores natalenses

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Como tudo começou

Era hora de agir

De forma pioneira, educadores se associaram para defender a escola pública e exercer o controle social na área da educação, preenchendo lacuna no Rio Grande do Norte

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oi a coluna Roda Vida, assinada pelo jornalista Cassiano Arruda Câmara no extinto Diário de Natal, a responsável por tornar pública a novidade: o Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), uma associação civil sem fins lucrativos, iniciava as

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suas atividades na cidade. “Oito educadores, que já ocuparam vários postos nesta área, uniram-se para defender uma educação básica de qualidade e já estão botando o time em campo para jogar”, dizia a nota publicada em 13 de março de 2005.

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A escalação do time em questão era a seguinte: Adélia Medeiros, Cláudia Santa Rosa, Delia Fernandes, Eleika Bezerra, Laércio Segundo de Oliveira, Maria Evânia de Oliveira, Neide Maciel e Tácia Ataíde Pereira. Todos unidos pela mesma razão. Queriam promover ações capazes de contribuir para a garantia de uma educação escolar de qualidade e que favorecesse o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes no Rio Grande do Norte. Assim, como pensavam os oito, seriam criadas as condições necessárias para viabilizar a inclusão social. As primeiras reuniões aconteceram no primeiro semestre de 2004, nas áreas de lazer de prédios onde fundadores moravam. Foi em uma delas que Cláudia e Eleika apresentaram coincidentemente a mesma sugestão de nome: IDE. Cláudia pensou na sigla que abreviaria Instituto de Desenvolvimento da Educação. Já Eleika, na conjugação do verbo “ir”. Era coincidência demais para se pensar em outro nome. Momento também para definir a missão, para traçar os objetivos. A biblioteca da Escola Estadual Sebastião Fernandes também foi cenário de muitos encontros. Até que, meses depois, no dia 1º de novembro, o Instituto foi criado oficialmente e se instalou no Edifício Lagoa Center, onde está abrigado até hoje, na sala 105. A partir daí, as primeiras parcerias começaram a ser estabelecidas e as ideias, discutidas em tantas reuniões, passaram a se tornar realidade. Segundo Cláudia, o IDE nasceu de uma necessidade. Não havia uma organização da sociedade civil no RN com foco na escola pública e praticamente não havia controle social na área. “Nossa preocupação sempre foi o funcionamento irregular das escolas, a falta de professores, a carência de qualidade no ensino, a apatia da população, a burocracia do aparelho estatal, a descontinuidade dos gestores e das políticas educacionais, as práticas clientelistas e paternalistas que produzem fracasso escolar e outras mazelas que têm contribuído para o insucesso de estudantes”, conta a educadora.

Cláudia Santa Rosa: o IDE nasceu de uma necessidade

Eleika Bezerra lembra que a iniciativa foi bem recebida Eleika lembra que a comunidade recebeu muito bem a proposta do IDE e, em pouco tempo, o Instituto já tinha na imprensa uma grande aliada. “Isso aconteceu exatamente por externarmos nossa preocupação com a grande questão da área, a educação básica, e por assumirmos o compromisso de defendê-la com consistência”, acredita a professora, que também recorda ter sido o IDE o primeiro no Estado, da área de educação, a focar nas metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o milênio, principalmente a que trata da educação básica de qualidade para todos. Logo no início, as linhas de atuação do IDE também foram definidas. Dentre elas, a formação continuada de profissionais da área de educação, o trabalho com as famílias dos estudantes e com as próprias crianças e adolescentes, os estudos e pesquisas e as ações políticas. Estas para permitirem a avaliação de cenários educacionais, o monitoramento e a proposição de políticas públicas, outra iniciativa pioneira no RN e que tornou o Instituto mais conhecido e referenciado pela mídia e pela sociedade. Os jornais seguiam noticiando: o IDE estava criado e plenamente em ação. Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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Projetos

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uitos caminhos, porém o mesmo destino: a qualidade da educação no Rio Grande do Norte. Os projetos do IDE são diversas vias, as quais levam a uma mesma parada final, tendo como combustível a promoção da leitura. Ao longo de dez anos, integrantes da ONG, colaboradores e parceiros foram delineando as iniciativas diversas, que ganharam forma, conteúdo e novos direcionamentos a cada avaliação de resultados e a cada demanda apresentada.

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IDE à Cidadania O IDE, por meio de seus projetos, começou atuando em uma escola municipal no bairro de Mãe Luiza, a Escola Municipal Antônio Campos, no ano de 2005, e beneficiando a 365 crianças e suas famílias. O projeto “IDE à Cidadania”, em parceria com o Instituto C&A e a Secretaria Municipal de Educação de Natal, foi voltado para a sistematização do projeto político-pedagógico (PPP) da escola e possibilitou aprimoramento para os profissionais e oficinas de educação, arte e cultura para as crianças. Estendeu-se até o final de 2006.

Estar à frente, como mediadora e gestora da biblioteca da Escola Estadual Hegésippo Reis, de 2007 a 2010, me fez vislumbrar prazeres e desafios. Construímos estratégias e conduzimos, junto à equipe docente, crianças, familiares e pessoas do bairro, o desejo de ler e de encantar-se com a leitura. A parceria com o IC&A foi um privilégio, através do qual participei de formações e discussões em defesa da leitura em Natal e em outras cidades do Brasil, o que me fez crescer politicamente, ampliar meus conhecimentos e acreditar que temos que interferir positivamente, fazer educação”

Maria Evania de Oliveira – associada fundadora do IDE, educadora e mediadora de leitura

Diálogos – em defesa da escola de todos O projeto “Diálogos – em defesa da escola de todos”, teve início em 2005 e se caracterizou pela continuidade, reunindo grupo de pessoas com interesse em debater questões educacionais e buscar alternativas para garantir às crianças o direito de aprender – proposta que permeia todas as iniciativas do IDE até hoje, embora com encontros mais pontuais. Naquele ano, mais de dez encontros foram realizados.

Lugares Onde Moram as Palavras O passo seguinte da instituição foi começar a mudar a realidade de uma pequena escola estadual no bairro Nova Descoberta, a Escola Estadual Hegésippo Reis, em um novo projeto, o “Lugares Onde Moram as Palavras”, aprimorado e vinculado ao Programa Prazer em Ler, do Instituto C&A – voltado para a formação de leitores. Em 2007, a atuação do IDE e da equipe da escola, junto aos órgãos competentes e com a ajuda do Instituto C&A e de outras instituições, como a Loja Maçônica Padre Miguelinho, deu uma nova cara à Hegésippo Reis, que, na área de formação de leitores, logo se tornou referência para as outras da rede, a partir da biblioteca montada, especialmente para a prática da leitura. Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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Projetos Canto das Diferenças Em 2007, paralelamente aos outros projetos, com a parceria do Instituto HSBC Solidariedade, foi implementado o projeto “Canto das Diferenças”, que promoveu grupos de estudos para os educadores, oficinas para as famílias e oficinas de canto coral e dança popular para as crianças da Escola Estadual Hegésippo Reis, além da aquisição de jogos educativos, tendo em vista o protagonismo infantil, a inclusão educacional e o desenvolvimento integral das crianças, sobretudo aquelas com alguma deficiência.

Rede Potiguar de Escolas Leitoras Em 2010, o projeto Formação de Mediadores de Leitura agregou escolas municipais de Natal e Parnamirim e bibliotecas comunitárias às escolas estaduais, que já participavam desde 2007. Foram organizados polos, por proximidade geográfica, e foi formada a Rede Potiguar de Escolas Leitoras, prevista na Lei 9.169/09, com o intuito de construir territórios de leitores, integrar as unidades de ensino, otimizar as ações de formação e atender a um número maior de estudantes e educadores da educação básica. A parceria foi ampliada, além dos parceiros que estavam trabalhando juntos, para as secretarias municipais de Natal e Parnamirim.

Formação de Mediadores de Leitura O trabalho na Escola Estadual Hegésippo Reis inspirou um projeto, em 2007, voltado aos educadores de 79 escolas estaduais, localizadas entre Natal e Parnamirim: o “Formação de Mediadores de Leitura”, resultado da parceria entre a Secretaria da Educação e da Cultura do RN e Instituto C&A, também vinculado ao “Prazer em Ler”. Nascia, assim, um projeto mais abrangente, a partir de um diagnóstico que levantou a situação da promoção da leitura, quanto a acervo, práticas de mediação de leitura e espaço de leitura nas escolas. Um dos objetivos do projeto foi formar educadores mediadores de leitura e expandir as ações tendo em vista uma política pública de promoção à leitura no Estado. Além de um seminário anual com convidados renomados na área de Literatura do Brasil e de outros países (Seminário Potiguar Prazer em Ler), o projeto incluía encontros mensais, oficinas dentro dos espaços de leitura das escolas, visitas técnicas de acompanhamento do processo e fóruns, realizados na capital e em cidades estratégicas do RN. O “Fórum Potiguar de Escolas Leitoras” contribuiu para conscientizar a sociedade potiguar sobre a importância de se desenvolver o prazer em ler desde a infância. Para isso, o trabalho refletiu, até mesmo, no poder legislativo local, com a “Lei da Leitura Literária nas Escolas” (nº 9.169/09), aprovada e promulgada pela Assembleia Legislativa do RN. O mesmo projeto, com o título de “Escola de Leitores”, chegou a ser implementado, durante o segundo semestre de 2010, em Mossoró, na região Oeste do Estado. A descontinuidade do mesmo decorreu da mudança de gestores do Estado.

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Concurso Escola de Leitores O Concurso Escola de Leitores, iniciativa do Instituto C&A, que premia os projetos das escolas voltados à promoção da leitura, também foi um dos destaques da atuação do IDE, desde 2010, enquanto instituição formadora. A primeira edição envolveu as escolas da rede estadual de Natal e Parnamirim, e a segunda e a terceira, escolas municipais da capital potiguar. “As experiências obtidas, cada biblioteca visitada alteraram o olhar e o perfil da equipe brasileira, na qual me incluo, que estava sedenta por ampliar o horizonte em defesa de uma política pública eficaz de promoção da leitura”, conta Maria Evania de Oliveira, educadora e mediadora de leitura, que integrou o projeto “Bairro Leitor”, ganhador do Concurso Escola de Leitores, na primeira edição, e que atravessou fronteiras, por meio de um intercâmbio na Colômbia – resultado da premiação. Concurso Escola de Leitores 2014 Cinco unidades de ensino da rede municipal de Natal tiveram projetos de leitura vencedores nesta terceira edição do Concurso Escola de Leitores, em 2014: o Centro Municipal de Educação Infantil Amor de Mãe e as escolas municipais Prof. Carlos Bello Moreno, Ferreira Itajubá, Prof. José de A. Frazão e Monsenhor Honório. O Instituto C&A, por meio do programa Prazer em Ler, premiará, cada uma, com R$ 15 mil para que tal recurso seja aplicado na execução de projeto de leitura. O IDE fará acompanhamento pedagógico durante um ano e meio e dois representantes de cada vencedora participará de intercâmbio na Colômbia para conhecerem a política de leitura daquele país - que é referência mundial, especialmente pela sua rede de bibliotecas-parques. As ganhadoras recebem certificados durante a abertura do 8º Seminário Potiguar Prazer em Ler, nos dias 25 e 26 de agosto, no Hotel Praiamar, em Ponta Negra. IDE-projeto.indd 9

Observatório da Educação do RN Em 2011, surge o Observatório da Educação do Rio Grande do Norte, um projeto do IDE, em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon/RN), para produzir e publicizar informações sobre a realidade da escola pública brasileira, especialmente a do Estado. A principal ferramenta desta iniciativa é o portal www.observatoriodaeducacaodorn. org.br. O Observatório, por meio de uma ouvidoria, faz a mediação entre a população e os órgãos da gestão educacional para que aconteça o controle social e as escolas sejam atendidas nas suas necessidades mais urgentes. Também publica estudos e levantamentos, indicadores, além de oferecer um espaço para as escolas disponibilizarem as suas informações.

Além dos projetos, o IDE realizou, ao longo da última década, e realiza diversas ações de prestação de serviços às secretarias de educação de diversos municípios, pavimentando novos caminhos rumo ao destino que todos almejam: a educação de qualidade para todos. Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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Seminários

iNTErCÂMBiO de experiências e inspirações

Escritores, educadores e crianças se reúnem, anualmente, no Seminário Potiguar Prazer em Ler, que chega à oitava edição em 2014

Ana Maria Machado

Mário Prata

Pedro Bandeira

Marina Colasanti

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ma das atividades mais esperadas pelos participantes da Rede Potiguar de Escolas Leitoras, dentro da proposta de formação dos professores mediadores de leitura, o Seminário Potiguar Prazer em Ler reuniu, nos últimos oito anos, um público de 4800 educadores para compartilhar experiências entre eles e também com grandes nomes da literatura nacional e internacional. Ícones infanto-juvenis dos livros, tanto como autores como ilustradores, além de outros escritores consagrados, fizeram parte da iniciativa, deixando importantes contribuições durante os seminários: Xosé Neira Cruz, Ana Maria Machado, Pedro Bandeira, Glória Kirinus, Ricardo Azevedo, André Neves, Bartolomeu Campos de Queirós, Angela Lago, Roger Mello, Roseana Murray, Daniel Munduruku, Celso Sisto, Marina Colasanti, Juliano Freire, José de Castro, Salizete Freire, Mário Prata, Afonso Romano de Santana, Antonio Francisco e muitos outros. Cento e dezesseis municípios do Rio Grande do Norte já estiveram representados nos seminários, além das redes de educação municipal de Natal e Parnamirim. Foram momentos de muitas trocas e inspirações entre os profissionais. As crianças tiveram participação garantida, apresentando suas produções literárias. Sempre aproveitando os anos eleitorais para provocar candidatos ao poder público a olharem, com mais atenção, para a causa da leitura, e a assumirem compromissos, os seminários têm oportunizado demonstrar as necessidades e avanços das políticas de promoção da leitura no Estado. O Seminário teve origem na parceria entre o Instituto C&A, o Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) e o governo do Estado do RN, por meio da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seec). A partir do ano de 2010, houve a adesão da Secretaria Municipal de Educação de Natal (SME/Natal), da União dos Dirigentes Municipais de Educação do RN (UNDIME/RN) e da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Parnamirim (SME/Parnamirim). Em 2012, a secretaria estadual optou por não mais ser parceira do seminário e do projeto como um todo.

Manifesto por um rN de Leitores Um dos momentos marcantes do seminário foi a leitura inédita do Manifesto por um RN de Leitores, lançado na cerimônia de abertura da quarta edição, em 2010. Posteriormente, o documento foi assinado pela então candidata ao governo do Estado, Rosalba Ciarlini, que assumiu o compromisso de priorizar ações para promover a leitura literária nas escolas. O texto do Manifesto defende a compreensão da importância das leis existentes que tratam sobre a promoção da leitura; a criação de bibliotecas públicas em todos os municípios do RN; o fortalecimento das escolas; a criação e melhora de condição dos espaços físicos das bibliotecas escolares; a transformação das salas de leitura em bibliotecas; a inserção dos professores mediadores de leitura no quadro funcional da administração pública; que os governos estadual e municipais sejam incansáveis na captação de recursos para garantir os planos de leitura literária nas bibliotecas públicas e escolares; e, finalmente, que os projetos de leitura tenham reconhecimento e apoio irrestrito. A íntegra do texto está disponível no site do IDE. Depois do seminário, foi disponibilizado o abaixo-assinado digital do Manifesto, que, atualmente, conta com mais de 10.200 assinaturas.

Seminário 2014 A 8ª edição do Seminário Potiguar Prazer em Ler acontece nos dias 25 e 26 de agosto, no Centro de Convenções do Hotel Praiamar. A abertura contará com rodas de conversa sobre leitura e educação com os candidatos ao governo do Estado do RN. Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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Publicações

Projetos

que dão frutos Livros, gibis, cordéis, informativos e outras publicações: editora do IDE contabiliza quase 23 mil exemplares já distribuídos, em dez anos

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lém de integrar e criar projetos para fomentar a promoção à leitura literária nas escolas, o IDE também, ao longo de sua década de história, se engajou em produções. As sementes, plantadas nos projetos, cresceram e renderam frutos, que a editora IDE tratou de ofertar ao público – as publicações. Editadas em livros, as informações são disseminadas, os resultados são

registrados e as experiências ganham uma nova maneira de serem compartilhadas com as pessoas. Entre livros, gibis, informativos, cordéis são quase 23 mil exemplares já distribuídos, nesses dez anos, nas escolas estaduais do RN e municipais de Natal e Parnamirim, assim como em instituições do Brasil: bibliotecas, organizações, institutos e meios de comunicação.

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Algumas publicações já tiveram, inclusive, duas edições, como o gibi “O Mistério das Palavras”, lançado em 2007 e reeditado em 2010. Produto do projeto “Lugares Onde Moram as Palavras”, iniciativa do IDE, em parceria com o Instituto C&A e a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura do RN, a publicação, escrita pela jornalista Taciana Chiquetti e ilustrada pelo chargista Brum, “conversa” com as crianças sobre o personagem Marquinhos, um menino que descobre que tudo à sua volta envolve leitura e interpretação. O texto mostra que a leitura é também uma forma de entretenimento e um exercício para a imaginação e pode ser o caminho mais curto entre o leitor iniciante e a prática da leitura.

Primeiros lançamentos O primeiro livro, lançado pelo IDE, em 2005, foi o “Textos Inventados”, uma coletânea, resultante de uma das ações do projeto temático “Navegando nas ondas da comunicação”, integrado ao grande tema Patrimônio Humano II – Criações e Invenções, desenvolvido pelo Programa de Formação e Desenvolvimento do Voluntariado do Instituto C&A, na-

quele ano, junto às crianças da turma do 1º ano “C” – 2º Ciclo da Escola Municipal Antônio Campos, no bairro Mãe Luiza. Nos textos, as crianças contam as suas próprias histórias, mediadas pelos voluntários, associados das lojas C&A de Natal, contando com a colaboração de educadoras da escola. Também em 2005, o “Pedagogia da co-responsabilidade” foi organizado pela educadora Cláudia Santa Rosa. É um livro composto de pequenos ensaios sobre as experiências do projeto “IDE à Cidadania”, também desenvolvido na Escola Municipal Antônio Campos. Os sete capítulos do livro foram escritos por professoras da escola e por profissionais da equipe do IDE, que atuaram no contexto do projeto. Um ano depois, é editado o “Cidadania em Tom Poético” - publicação construída no ano de 2006, na Escola Municipal Antonio Campos, durante as oficinas de poesias com 52 crianças, com idade de 8 a 12 anos, mediadas pela educadora Maria Evania de Oliveira, no projeto “Lugares Onde Moram as Palavras”. Neste livro, as produções das crianças foram aglutinadas em blocos temáticos: “Cidadania é Quando...”, inspirado no livro homônimo de autoria de Nilson José Machado. Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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Publicações

Parte das publicações foi produzida por crianças que participaram dos projetos

O livro “Retalhos de infância”, de 2006, reúne textos sobre lembranças da infância dos participantes das oficinas de Formação de Mediadores de Leitura – voluntários do Instituto C&A e professoras da Escola Antonio Campos, coordenado por Cláudia Santa Rosa. Ainda no ano de 2006, o “Trilhando caminhos das aprendizagens sob um novo olhar” é a documentação do projeto político-pedagógico da Escola Municipal Antonio Campos, resultado de um trabalho desenvolvido ao longo dos anos de 2005 e 2006, no contexto do projeto “IDE à Cidadania”. A publicação representa a construção coletiva da comunidade escolar de pensar o que se deseja para a sua escola. A mediação da equipe do IDE garantiu a sistematização qualificada, antigo desejo da Escola. A coletânea “Mais de 50 narrativas ensaios livres de crianças” reuniu, em 2007, narrativas feitas pelas crianças e também por algumas mães, pais e avós,

voluntários do Instituto C&A e de profissionais envolvidos nos projetos “Casa de Saberes” e “Lugares Onde Moram as Palavras”, ambos implementados na Escola Estadual Hegésippo Reis, no bairro Potilândia, naquele mesmo ano. Outros gêneros literários também foram contemplados pela editora IDE, como a série de folhetos de cordel “Histórias Contadas”, produto do projeto “Lugares Onde Moram as Palavras”, em parceria com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), através do Programa BNB de Cultura e com o Instituto C&A, por meio do Programa Prazer em Ler. As crianças produziram cinco folhetos, que foram editados em um “kit” especial. Para registrar os efeitos dos trabalhos do projeto Rede Potiguar de escolas Leitoras, em 2011, foi lançado o título “A leitura literária na escola pública potiguar”. Organizada por Cláudia Santa Rosa, a publicação é um compêndio de artigos escritos por 26 especialistas e escritores que, desde 2007, participam dos encontros de formação do projeto e das edições do Seminário Potiguar Prazer em Ler. O livro também inclui relatos de experiência de projetos de leitura realizados nas escolas que compõem a Rede Potiguar.

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informativos registram as histórias dos projetos Os informativos, que registraram a história dos projetos e deram voz aos envolvidos nas atividades, também fazem parte das publicações do IDE. O primeiro foi o jornal “IDE em Palavras”, compilando as diversas iniciativas do IDE; depois o “Escolas Leitoras”, informativo específico da Rede Potiguar de Escolas Leitoras; e ainda o Jornal “Narrativas”, que destacou as produções dos participantes do Concurso Escola de Leitores. Outra publicação que merece ser lembrada é a edição especial do DN Educação, suplemento do Diário de Natal, de setembro de 2008, com 15 mil exemplares, que detalhou, ao grande público potiguar, as atividades na área de leitura, implementadas pelo IDE e seus parceiros, destacando a importância das ações de promoção da leitura literária no contexto da Educação.

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Controle Social

os olh De bem abertos Sempre vigilante, o IDE já flagrou desrespeito a professores e ao calendário escolar e o uso de contratos públicos para atender a interesses particulares

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definição é do próprio Governo Federal. Controle social é a participação da sociedade civil nos processos de planejamento, monitoramento e avaliação das ações da gestão pública e na execução das suas polí-

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ticas e programas, um importante mecanismo de fortalecimento da cidadania. Parece simples, quando definido em poucas palavras, mas na prática há uma grande distância entre o ideal e o que realmente acontece.

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O Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) trabalha para encurtar essa distância no Rio Grande do Norte. Desde a sua fundação, o Instituto decidiu que uma de suas linhas de atuação seria a avaliação de cenários educacionais, monitorando-os e propondo soluções para possíveis problemas. Outra frente trataria da mobilização e da organização da sociedade para a defesa de uma escola pública de qualidade, fazendo sua parte e estimulando a comunidade a também exercer esse controle. Um dos momentos mais marcantes nesses 10 anos de trajetória do IDE aconteceu em 2006 quando o Instituto constatou que 85% das escolas públicas de Natal não estavam cumprindo com os 200 dias letivos em razão da prática de “esticar” os feriados. Segundo Cláudia Santa Rosa, uma das fundadoras do IDE, as escolas prometiam repor as aulas, mas isso não acontecia em todas elas. “Havia um desprezo do calendário escolar, muito por falta de monitoramento das secretarias de educação”, lembra a educadora. O assunto foi destaque na imprensa e fez com que a legislação fosse discutida e o seu cumprimento, cobrado. Também em 2006, o IDE constatou que a Secretaria de Estado da Educação arcou com a distribuição de peças eleitorais ao utilizar de contrato existente entre a pasta e os Correios para enviar correspondência de interesse particular de candidato. O fato violava o interesse público e foi prontamente levado ao Ministério Público Estadual. O mesmo aconteceu quando o Instituto visualizou na cidade a oferta da conclusão dos ensinos Fundamental e Médio em apenas 30 dias e quando estagiários ocupavam, sem salários, os lugares de professores concursados que aguardavam nomeação. “Todas as vezes que o controle social que exercemos incomodou alguns gestores públicos, tivemos a certeza de que estávamos no caminho certo. Isso não deveria acontecer, pois o controle social faz parte do regime democrático, mas ser avaliado incomoda. Os gestores tendem a tomar como questão pessoal”, diz Cláudia Santa Rosa, que, por vezes, também se manifestou por meio de artigos

Imprensa: parceira na divulgação das ações de controle social do IDE em veículos de comunicação sobre temas da área, uma das estratégias do Instituto para mobilizar a sociedade. Outro destaque dessa frente de atuação do IDE foi a aprovação de legislações no Estado e no município do Natal que viabilizam a leitura literária nas escolas públicas. A lei estadual 9.196/ 2009 (projeto do então deputado Robinson Faria) e a lei municipal de Natal 6.094/2010 (projeto do ex-vereador Ney Lopes Jr.) foram frutos de audiências públicas, propostas pelo Instituto, e preveem que todas as instituições de ensino das duas redes tenham uma sala de leitura, espaços providos de um acervo de qualidade constantemente ampliado e atualizado. Além disso, as legislações garantem a presença de educadores aptos para mediarem a leitura, contribuindo para a formação de leitores. Essas leis inspiraram versões semelhantes em outros municípios potiguares, como Parnamirim, João Câmara, entre outros. Tácia Ataíde Pereira, outra fundadora do IDE, conta que uma das dificuldades do controle social está em estimular a comunidade a “vestir a camisa” e nas próprias reações do Poder Público. “Observamos que os órgãos não veem com bons olhos as instituições que apontam onde está o erro, pois não entendem que elas surgem para somar, com boas intenções. Ainda precisamos avançar muito em relação ao controle social aqui no RN”, acredita Tácia, que reforça uma certeza: “o IDE não vai abrandar”. Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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De mãos dadas

Parcerias

livres de interesse Zelo com recursos públicos e privados é marca da instituição, que já chegou a devolver, aos cofres públicos, investimento excedente do Governo em projeto

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ssa é uma daquelas histórias que não se lê todo dia. Uma organização recebe recursos do Poder Público para a execução de um de seus projetos e, ao constatar que todas as despesas foram pagas, procura espontaneamente a entidade investidora para devolver o valor não utilizado. Porém, foi exatamente o que aconteceu com o Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), em 2011. No ano anterior, em 2010, o IDE recebeu, pela primeira e única vez em sua história, recursos do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. O investimento do executivo estadual foi feito para levar o projeto “Escola de Leitores” à cidade de Mossoró, entre os meses de junho daquele ano e fevereiro do ano

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seguinte. Ao término das atividades, a coordenadoria financeira do Instituto constatou que as despesas já haviam sido pagas, mas mesmo assim 15% dos recursos continuavam na conta aberta pelo IDE para este fim, valor que foi prontamente devolvido aos cofres públicos. Tácia Ataíde Pereira, uma das fundadoras do IDE e responsável pelo seu departamento financeiro, afirma que o fato demonstra o zelo do Instituto com os recursos que recebe dos seus parceiros investidores e que o único compromisso do mesmo é com a educação básica. “Nós assumimos uma missão muito séria e fazemos questão de ser muito transparentes com a utilização dos investimentos de parceiros”, conta Tácia.

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Tácia Ataíde: “nossa missão é muito séria”

Paulo Castro destaca a repercussão nacional do IDE

Parceiros, aliás, que são fundamentais para a existência do Instituto. Isso porque o IDE entende que, nos dias de hoje, não é possível conceber ações isoladas, principalmente as que se referem à educação. “As parcerias são muito importantes, pois não dispomos de recursos próprios e, por meio delas, é que conseguimos injetar recursos na execução dos projetos educacionais que elaboramos”, explica Tácia. Foi assim ao longo desses 10 anos, mas sempre com uma ressalva: a garantia da sua autonomia, para que o estabelecimento de uma parceria nunca significasse o silêncio do Instituto no que diz respeito ao exercício do controle social. O parceiro de primeira hora e que caminha com o IDE desde a sua fundação, de forma sistemática, é o Instituto C&A, que investe em projetos dedicados a qualificar o processo de educação de crianças e adolescentes no Brasil, desde 1991. Paulo Castro, diretor executivo do Instituto C&A, afirma que a organização é muito grata pela oportunidade de apoiar o IDE desde a sua fundação. “Algo que nos chama a atenção é que o papel do IDE como organização que trabalha pela melhoria na qualidade da escola pública transcende a cidade de Natal e a região Nordeste, tendo influência e repercussão em nível nacional. Seus resultados, nessa primeira década de trabalho, para a pauta da Educação são muito expressivos. No

entanto, há ainda muito a fazer e, por isso, o Instituto C&A reforça sua parceria nesta causa que nos une”, declara Paulo. O Governo Federal, o Banco do Nordeste, o Instituto HSBC Solidariedade, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte e o próprio Governo do Estado já firmaram parcerias com o Instituto. O trabalho em conjunto com veículos de comunicação também somou bastante, a exemplo do que aconteceu com a Rádio Cidade e com o extinto Diário de Natal. Atualmente, além do Instituto C&A e do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte (Sinduscon/RN), as prefeituras de Natal e de Parnamirim são grandes parceiras do IDE e permitem que ações idealizadas pelo Instituto sejam colocadas em prática nessas duas cidades, servindo de inspiração para políticas públicas em outros municípios. Para Tácia, esse leque de parceiros poderia ser maior se o poder público e a iniciativa privada não se limitassem a investir em áreas que trazem resultado imediatos, o que não acontece com a educação, que necessita de mais tempo e de um trabalho contínuo. “O que nos abre portas é o fato de o IDE ter muita credibilidade, graças à larga folha de ações exitosas que já realizou”, acredita a educadora que complementa: “essas ações demonstram que é possível sim reverter o quadro e melhorar a educação no RN”. Revista comemorativa 10 anos - IDE em palavras -

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Exemplo nacional

Quebrando barreiras

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Depois de se tornar referência no RN, IDE ganha espaço no Congresso Nacional e vai compor o Conselho Diretivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura

echar as portas da escola e “imprensar” as aulas entre um feriado na quinta-feira e o final de semana parece ser uma prática comum nas redes públicas de ensino no Rio Grande do Norte. Apesar de altamente prejudicial ao processo de aprendizado dos estudantes, o fato acontecia sem questionamentos. Até que, em 2006, o Instituto do Desenvolvimento da Educação (IDE) decidiu mudar essa história e colocou o assunto em pauta, alertando a população para a necessidade de se cumprir o calendário escolar. Esse foi um dos problemas encontrados pelo IDE, ao longo dos dez anos de sua existência, e que passaram a ser encarados com outros olhos pela sociedade. “Era uma situação que acontecia, mas as pessoas não se davam conta de que estava

errada, de que os dias letivos não estavam sendo dados de acordo com a lei”, explica e educadora Eleika Bezerra, uma das fundadoras e integrantes do Instituto. O alerta do IDE foi fundamental para que a infrequência escolar fosse vista com a seriedade que merecia. Foi a partir de experiências como essa, nas quais o IDE visualizava um problema adormecido e debatia possíveis soluções que o Instituto ganhou cada vez mais respeito e credibilidade. A imprensa passou a ter nos seus quadros fontes sérias para reportagens sobre temas relacionados e os convites para integrar mesas de audiências públicas em diferentes casas legislativas não paravam de chegar. O trabalho do Instituto começou a ser notado em outros estados, quebrando barreiras geográficas.

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A educadora Cláudia Santa Rosa, que sempre esteve à frente da coordenação de projetos do IDE, lembra-se da satisfação que teve de participar, na condição de palestrante, de alguns desses momentos, como as mesas sobre livro e leitura na Comissão de Educação da Câmara Federal e na Frente Parlamentar Mista do Livro e da Leitura, também no Congresso Nacional. Outras ocasiões relevantes foram as mesas redondas na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), por três anos consecutivos, a palestra em seminário da Feira do Livro de Porto Alegre, além de eventos do Ministério da Cultura (MinC) e diversos outros relacionados em distintas cidades do país. Reconhecimento que também permitiu, ao Instituto, a viabilização de importantes parcerias, fundamentais para colocar os seus projetos em prática. Para Cláudia, o IDE tem conseguido perseguir a missão que foi desenhada em 2004 e atingiu muitos dos objetivos que fizeram nascer o Instituto. “Essa é uma certeza que temos quando avaliamos os resultados obtidos pelos nossos projetos e quando obtemos o retorno positivo da comunidade escolar. Também nos indica que estamos no caminho certo quando o controle social que exercemos incomoda aos gestores públicos da ocasião. É aí que podemos perceber que o olhar do Instituto está alerta como propusemos”, acredita Cláudia. Porém, a estrada nem sempre foi tranquila. O controle social exercido pelo IDE, como disse Cláudia, logo nos primeiros anos, começou a incomodar alguns gestores públicos que não aceitavam as avaliações e recomendações propostas pelo Instituto. A educadora conhece a razão: “nem todos entendem a nossa intenção de colaborar, porque temos baixa tradição de avaliação. Como o Estado tem dificuldades de planejar a sua educação, não avalia e também não aceita ser avaliado”. Cláudia conta, no entanto, que alguns deles até chegaram a incorporar ações sugeridas pelo IDE, sem admitir de onde partiu a indicação. Outra dificuldade do Instituto está relacionada à quantidade de parceiros, que poderia ter sido maior, na opinião dela, o que aumentaria a sua capacidade de atuação. Além disso, mesmo passados dez anos,

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Experiência do IDE foi requisitada no Congresso Nacional algumas demandas insistem em permanecer, a exemplo da elaboração do Plano Estadual de Educação, que ainda não é uma realidade no RN. Também se nota que os resultados do Estado se alteraram muito pouco quando comparamos as edições do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador criado pelo Governo Federal para medir o desempenho das escolas públicas. A tímida evolução e as baixas colocações do RN indicam ineficiência no serviço. Isso significa que ainda há muito que ser feito. “Organizações como o IDE surgem de lacunas e essa lacuna infelizmente ainda existe em nosso Estado, por isso devemos permanecer com as portas abertas”, afirma Cláudia. Segundo ela, os maiores desafios daqui pra frente são manter os princípios, os objetivos e a missão do Instituto em evidência, ampliar as parcerias e estabelecer diálogo permanente com o Poder Público. No caminho, outra grande responsabilidade: o IDE como membro suplente do Conselho Diretivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL). Um fato que atesta o quanto o Instituto pode contribuir com a educação do RN.

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Terceiro Setor

Transformando

leitores

Trabalho do IDE mostra como o Terceiro Setor pode contribuir com a sociedade, gerando mudanças positivas

om uma cultura local que pouco valoriza – ou, até mesmo, compreende - o papel do terceiro setor -, os resultados, conquistados a partir dos projetos do IDE, contribuem para uma mudança de visão neste sentido. Sem ter como proposta fazer o papel do poder público ou privado, a ideia das organizações não governamentais é contribuir socialmente, provocando parcerias e, principalmente, novos efeitos. Efeitos que conduziram e ainda conduzem, por exemplo, a adolescente Vanessa Lidiane, de 13 anos, que participou dos projetos de leitura na Escola Estadual Hegésippo Reis, em Natal, de 2007 a 2010, desde que cursava a 1ª série do Ensino Fundamental. Ela acompanhou os diversos projetos de promoção à leitura literária, implementados na instituição escolar, assim como o aprimoramento de cada um. Iniciativas que

contribuíram para que ela se transformasse em uma leitora. “A sala de leitura foi ficando cada vez melhor, com mais livros, foi aí que comecei a ler mais realmente e gostar muito disso. Meus autores favoritos são Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Machado de Assis e Pedro Bandeira”. Este último ela relata com ainda mais destaque, porque chegou a conhecê-lo, quando ele esteve em Natal, no Seminário Potiguar Prazer em Ler. “Foi muito emocionante, porque antes eu só o via por foto e pelos seus textos e pude conhecê-lo pessoalmente”. A leitura hoje já faz parte da vida de Vanessa, não somente como uma atividade escolar, mas como uma atividade de lazer. Prazerosa! Pelos seus cálculos, ela lê de 30 a 60 livros por ano. “Grossos e finos, de literatura e didáticos”, detalha. “Gosto de ler, porque podemos ir a outros mundos,

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Pesquisa inédita traça o perfil do leitor de Natal

viajar pela leitura, pensar mais positivo”, justifica. Viajando pelas páginas, ela visita a personagem Beatriz, no livro “De repente dá certo”, seu preferido de Ruth Rocha. Folheando uma a uma, Vanessa compartilha as mudanças, angústias e alegrias da personagem, em suas relações familiares. Atualmente, a pequena leitora de infantis, já aprecia os títulos juvenis e segue estudando na Escola Estadual Castro Alves, no 8º ano, e principalmente frequentando a biblioteca da escola e emprestando livros inclusive nas férias. Ela acredita que, por ler muito, pode chegar mais facilmente ao seu objetivo – ainda indefinido – de se tornar pedagoga ou médica. E pretende passar adiante o comportamento de ler por e com prazer.

Uma pesquisa inédita, encomendada pelo IDE/ Instituto C&A ao Instituto Certus, apurou o perfil do público leitor e a situação da leitura da cidade de Natal. Foram entrevistadas 805 pessoas, a partir de 14 anos, em 34 bairros, das quatro regiões da capital, no período de 14 a 22 de junho de 2014. Elas responderam perguntas que revelam sobre o perfil do público leitor de Natal, suas preferências, suas práticas de leitura, assim como suas principais dificuldades no acesso à leitura. Além disso, o levantamento investigou a forma de relação desse público com as novas tecnologias para o acesso ao livro, identificou o perfil de leitores de outras modalidades de leitura, como jornais e revistas, e também colheu a opinião dos natalenses sobre as ações e iniciativas público-privadas que apresentam potencial de estimular a leitura.

61,12%

afirmam não serem leitores A média de livros lidos na cidade, por ano, é de

4,10% Com 37,94%, a Região

Norte tem o maior contingente de população leitora de Natal Mulheres são maioria entre os que lêem -

64,35% Menos de 8% dos jovens, entre 14 e 19 anos, afirmam serem leitores

Vanessa Lidiane, criança leitora

A pesquisa completa está no site www.observatoriodaeducacaodorn.org.br

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(84) 3611-0968

www.ideducacao.org.br / www.escolasleitoras.org.br www.observatoriodaeducacaodorn.org.br

av. antônio Basílio, 3066 - sala 105 - edifício Lagoa Center - Lagoa Nova - Natal/rN - BraSiL

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