por isso provoque Marilene Paiva e Rafaella Costa
por isso nĂŁo provoque
Marilene Paiva e Rafaella Costa
por isso não provoque Edição 1
Terceirize Editora Mossoró/RN 2017
AUTORAS Marilene Paiva e Rafaella Costa PROJETO GRÁFICO, CAPA E DIAGRAMAÇÃO Terceirize Editora - (84) 3211.5075 GRÁFICA Unigráfica
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) C838p
COSTA, Rafaella. Por isso não provoque / Rafaella Costa, Marilene Paiva. – Mossoró : Terceirize Editora, 2017. 233 p. : il. ISBN: 978-85-68722-06-0 1. Mulher – Biografia - Brasil. 2. Feminilidade. 3.Empoderamento. I. Costa, Rafaella. II. Paiva, Marilene. III. Título. CDD 920.0082 Bibliotecária-Documentalista Vanessa Christiane A. de S. Borba (CRB-15/452)
Apresentação
Quando a mulher souber o poder que tem, ela domina o mundo A mulher é soberana, é quem dá a vida, quem comanda, quem conduz. Está na mulher o controle da casa, dos problemas, da vida dela e de quem mais se aproximar. Nesse livro você vai encontrar mulheres diversas, jovens, maduras, mães, avós, donas de casa, médicas, advogadas, juízas, empresárias... mulheres espontâneas, extrovertidas, felizes, mulheres tímidas e tagarelas, mulheres bem resolvidas e mulheres recatadas, mulheres que amam mulheres, mulheres que amam os maridos, mulheres que amam os filhos... Mulheres! Sinta-se provocadx a embarcar nesse universo intenso, inebriante, forte, feminino.
Rafaella Costa
Marilene Paiva
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Ádna Canário
. Ana Luzia . Patrícia Targino
Bárbara Paloma
. Brena Santos . Carla Portela
Ediane Fernandes . Eliete Amaral . Francisca Furtado Luana Medeiros . Glaryanne Queiroz . Inalda Cabral
Gumercília Paiva
. Íris Menezes . Irlanda Carlos . Izabel Macedo
Izaíra Thalita . Jarda Jacinta . Jeane Ferreira . Júlia Miranda
Julita Sena Lia Castro
. Kaline Ferraz .
Karina Martha
. Liana Suassuna . Liane Dantas .
. Lena Rocha
Ludimilla Serafim
Glória Santos . Fátima Figueiredo . Fátima Carlos Lourdinha Frota .
Rosário Mota
. Socorro Estrela
Socorro Paiva . Eloilma Bezerra . Maria Emília . Liduina Costa
Lucileide Magalhães . Maria Luiza Néo . Mariana Ferreira Neófita Ragazzi Rosalba Ciarlini
. Patrícia Rossiter . Roberta Britto . Selma Carneiro .
Teresa Cristina .
Suely França
Vera Escóssia
. Zélia Macêdo
Nosso agradecimento aos anjos Aninha Borges e Lourdinha Mendonça
Sumário
Quando a mulher souber o poder ............................................................... 5 que tem, ela domina o mundo ...................................................................... 5 Ádna Canário de Souza Moura.................................................................. 12 Ana Luzia Gurgel Dantas.............................................................................. 16 Ana Patrícia Targino de Medeiros Oliveira.......................................... 20 Bárbara Paloma Fernandes de Vasconcelos Bezerra ...................... 24 Brena Christina Fernandes dos Santos................................................... 28 Carla Virgínia Portela da Silva Araújo .................................................. 34 Ediane Fernandes de Almeida Rosado ................................................... 38 Francisca Eliete de Souza Amaral............................................................ 42 Francisca Furtado de Araújo ..................................................................... 44 Francisca Luana Correia Lima Rodrigues de Medeiros................... 48 Glaryanne Queiroz Oliveira Vasconcelos .............................................. 52 Gumercília Pereira Paiva.............................................................................. 56 Heliana Lopes de Castro Santos ............................................................... 60 Inalda Cabral Rocha....................................................................................... 66 Iris Menezes da Silva...................................................................................... 70 Irlanda Maria Carlos de Holanda Noronha......................................... 74 Izabel Maria Montenegro Diniz Macedo............................................... 78 Izaíra Thalita da Silva Lima........................................................................ 82 9
Sumário
Jarda Jacinta...................................................................................................... 86 Jeane Ferreira de Souza Pereira................................................................ 90 Júlia de Fátima Costa Miranda.................................................................. 94 Julita Gomes Maia de Sena........................................................................... 98 Kaline Santos Ferraz Nogueira ...............................................................102 Karina Martha Ferreira de Souza...........................................................106 Lena Rocha ......................................................................................................112 Liana Graça Suassuna de França............................................................116 Liane Dantas de Oliveira............................................................................122 Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira...............................................128 Maria da Glória Fernandes Moreira Santos.......................................134 Maria de Fátima Alves Figueiredo..........................................................140 Maria de Fátima Carlos de Araújo Barbosa ......................................144 Maria de Lourdes Paula de Albuquerque Frota ..............................148 Maria do Rosário Mota................................................................................152 Maria do Socorro Estrela de Oliveira....................................................156 Maria do Socorro de Souza Paiva...........................................................160 Maria Eloilma Bezerra de Menezes.......................................................164 Maria Emília Lopes Pereira.......................................................................168 Maria Liduina Chaves Costa......................................................................172 10
Sumário
Maria Lucileide de Sá Magalhães e Barros........................................176 Maria Luíza Pinheiro Néo .........................................................................180 Mariana Ferreira de Souza........................................................................184 Neófita Maria de Oliveira Ragazzi.........................................................188 Patrícia Moura Rossiter Pinheiro...........................................................192 Roberta Britto de Queiroz Medeiros......................................................198 Rosalba Ciarlini Rosado..............................................................................202 Selma Carneiro de Azevedo.......................................................................206 Suely França.....................................................................................................210 Teresa Cristina de Sousa Ferreira Araújo............................................214 Vera Lúcia da Escóssia Chaves.................................................................218 Zélia Macêdo Lopes Heronildes da Silva..............................................226
*Os textos são de inteira responsabilidade das suas autoras.
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Prefácio
Cinquenta bichos esquisitos “Olhos nos olhos, quero ver o que você diz”... Se é que Chico Buarque traduz a alma feminina, poupe-me. O cara é phoda, sem dúvida, com suas Ninas, Joanas Francesas, Bárbaras, Anas de Amsterdã, Lilys Braun, mas Drummond tem maior razão: “É próprio da mulher o sorriso que nada promete e permite tudo imaginar”. Imagino tudo, mesmo sem sorriso e sem nada – ou quase nada –, para o primeiro prefácio que escrevo no escuro. Sobre a mesa, diante dos olhos tanto aflitos quanto instigados, apenas um dos 50 textos deste livro, além do desafio de Marilene Paiva, para que eu traga certo “toque poético, de leitor da alma feminina”. Quem dera! Estar entre os alguns, caetanamente falando, “a que tal graça se consente”. De fato, leio mulheres desde a adolescência, quando encontrei Florbela Espanca, “a que no mundo anda perdida”, destinada a “Amar! Amar! E não amar ninguém!”, porque não ambicionava um homem. Sonhava com “o amor dum deus!...”. Veio-me Clarice Lispector, para quem, na hora da estrela, “o destino de uma mulher é ser mulher”. Chegou-me Iracema Macedo com “furacões” nos seus “vestidos claros”, como “Enxame, cardume, aves/ Noite, noite, noite/ que a tua luz esmaga sem vencer”. E Cecília garantindo-me ser “poeta... irmão das coisas fugidias”. Quem escreve dá alma ao texto, corpo à palavra. Nessa perspectiva, li, antes do antes, a alma de Brena Christina Santos, única das 50 a se revelar perante mim. “Impactante”, na percepção
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Prefácio
de Rafealla Costa, no e-mail que me trouxe a crônica. “Revelador”, sugiro, da personalidade da autora e do espírito de toda a obra. Lendo Brena, a essência de Brena, tenho de alertar: quem entende da alma feminina é a mulher. E da masculina, também. Homem pensa saber da mulher, sem ao menos saber de si. Por isso, não provoque, que vêm aí 50 fêmeas, 50 bichos esquisitos, 50 belas feras, 50 TPMs, 50 teses sobre elas. Sobre nós. E sobre você.
Cid Augusto da Escóssia Rosado
Célio Duarte
Ádna Canário de Souza Moura Empresária, natural de Água Preta, em Pernambuco. Filha de Antônio Teixeira de Souza e Antônia Canário de Souza. É casada com Eduardo Henrique Barbosa de Moura e mãe de Lucas e Mateus.
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Ádna Canário
Um pouco da minha história
V
enho de uma família grande, somos dez filhos, eu sendo a sétima filha, nasci e me criei numa igreja evangélica na qual meu pai era pastor e, sendo assim, líder exigia muito da gente a estar à frente dos trabalhos da igreja. E
assim, com essa educação fui criada. Nasci na cidade de Água Preta, em Pernambuco, mas, logo viemos embora para o Rio Grande do Norte, minha infância foi na cidade de Apodi, lá comecei a trabalhar com doze anos de idade, era professora de jardim de infância e depois professora de datilografia onde fiz boas amizades que até hoje perduram. Depois minha mãe colocou um comércio de confecções no mercado central, onde trabalhei com afinco, foi ai onde adquiri com mãe o dom do comércio e a lidar com pessoas. Mesmo de família simples a gente se divertia bastante, pois participava de todos os eventos da igreja, eram muitas viagens para congressos e retiros. Todos os anos vínhamos para Martins, no carnaval, amava essa viagem, era a esperada do ano, esse retiro era uma benção. Pensando para frente, meu pai sentiu o desejo de vir morar em Mossoró por causa da família e, principalmente, dos estudos, pois sempre gostou de incentivar todos a estudar. Mas ao chegar em Mossoró procurei me ambientar e conhecer pessoas, foi então quando trabalhei no comércio como vendedora de uma loja. Já estava no sangue gostar de vender e ter meu próprio negócio. Comecei dentro do Odina com uma loja de moda, em sociedade com minha irmã, Eloisa, depois chegou o tempo
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Ádna Canário
de cada uma seguir seu rumo, foi quando veio o casamento de ambas, resolvemos dividir a sociedade e cada uma ter seu próprio negócio. Abri a Sob Medida no Shopping Liberdade, algum tempo depois resolvi vender a loja e seguir outro ramo de vendas externas e esse eu tinha mais contato com o meu cliente, pois visitava na casa da pessoa ou no trabalho. Com a chegada do shopping em Mossoró, hoje Partage Shopping Mossoró, senti o desejo de colocar uma loja e foi onde nasceu a Sensacionally. Fomos pioneiros, acreditamos no empreendimento e conseguimos inaugurar igual com o shopping, foram poucas lojas na abertura. E o sucesso da Sensacionally começou aí e segue até hoje... Sinto-me realizada com a profissão que escolhi, mesmo sabendo das dificuldades que enfrentamos. Passamos oito anos no shopping e veio a crise que me levou a sair do mesmo, porque senão perdia tudo o que ganhei no início. Digo muito, a crise veio para derrubar alguns, porém, no meu caso, fortaleceu-me, pois consegui comprar meu próprio ponto. Hoje minha loja se encontra no Oásis Center e, graças a Deus, continua bem frequentada, minha clientela hoje posso dizer que são meus amigos, temos um relacionamento bom de amizade que o faz procurar a loja não só para comprar, às vezes uma conversa, um desabafo e um café cheio de risadas e alegrias que inclui confiança. Essa satisfação tenho em receber todos com o mesmo carinho... Gosto muito do que faço, de conquistar novas amizades e graças a Deus me dou bem com as pessoas, isso me realiza. Em 1997, veio o casamento com Eduardo e uma das coisas que me chamou atenção nele ao conhecê-lo, foi vê-lo beijar a sua mãe, com bastante carinho, cuidado, atenção a ela... Namoramos seis
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Ádna Canário
anos, casamos no civil e fizemos uma cerimônia simples com direito a champanhe e bolo. Meu pai, como ministro do evangelho, deu a benção das alianças e sendo assim abençoando o nosso matrimônio. Daí veio a construção de uma família que juntos de mãos dadas conseguimos construir os ideias para a nossa família, que é o amor de Deus que nos alcançou, juntos construímos tudo o que temos hoje. Veio a chegada dos filhos, Lucas Eduardo - nosso primogênito que já tem dezoito anos - e Mateus Eduardo - nosso segundo filho que está com treze anos de idade. Neste ano de 2017, vamos fazer em novembro vinte anos de casados, um casamento sólido baseado nos princípios de uma vida a dois de respeito e amor. Correr atrás dos meus sonhos, lutar pelos meus ideais e ser forte fazem de mim uma mulher empoderada, realizada e feliz.
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Foto cedida
Ana Luzia Gurgel Dantas Filha mais velha de Joaquim Gurgel de Oliveira, em memória, e Rita Dantas Jales, Ana Luzia Gurgel Dantas, nasceu em Caraúbas e viveu até os quinze anos de idade em Janduís. É casada com Lindocastro Nogueira de Morais, e mãe de Guilherme Gurgel Nogueira e Ana Clara Gurgel Nogueira.
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Ana Luzia
A de Ana, de amizade e de amor
S
ou muito parecida com o meu pai, Joaquim Gurgel - que nos deixou há quase dois anos – assim como ele, levo a alegria sempre comigo, gosto de fazer e manter amizades, o interesse pela política também herdei dele, além do zelo
infinito pela família. Guardo do meu pai as melhores lembranças. A Ana Luzia que hoje apresento aqui nestas linhas é uma mãe e esposa muito cuidadosa, que prima pelo bem-estar dos seus amores, sempre procurando acompanhar a vida dos meus filhos no colégio, cuidando de tudo com muita atenção, e de olho no ciclo de amizades deles, pois, mãe-coruja que sou, não abro mão de saber quem está por perto do meu ninho. No meu coração trago ótimas recordações, uma delas vem carregada de saudosismo, é a minha infância e parte de minha adolescência, vivida em Janduís – cidade pequena, porém acolhedora, lugar que me trouxe grandes amizades, que perduram até hoje. “Eu só queria ter do mato Um gosto de framboesa Pra correr entre os canteiros” No meu décimo quinto aniversário, vim morar em Mossoró, na casa
da minha tia, Lúcia Gurgel, irmã de papai. Minha primeira recordação quando falo da minha chegada a Mossoró é o fato de ter sido matriculada no Colégio Diocesano Santa Luzia, instituição que muito me orgulho de ter em meu currículo escolar, onde cursei do final do ginásio - hoje Ensino Fundamental - até a conclusão do Segundo Grau, Ensino Médio. Concluindo o Segundo Grau, mais uma vez era hora de fazer as malas e preparar-me para uma nova mudança, o destino dessa vez
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Ana Luzia
foi Patos, na Paraíba, onde fui fazer faculdade de Economia. Vivi lá durante três anos e após esse período, voltei para Mossoró e passei a ser aluna da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN. Foi na UERN, eu no curso de Economia e ele no de Direito, que conheci o homem por quem me apaixonei e casei, o homem que me conduziu ao altar: Lindocastro Nogueira. “Quem ama nunca sente medo De contar os seus segredos Sinônimo de amor é amar” Foi com Lindocastro ao meu lado que constituímos uma linda família, composta por dois seres humanos que são a razão maior da nossa existência desde que chegaram a esse mundo, nossos filhos Guilherme e Clarinha. As trocas de olhares com Lindocastro virou namoro, ficou sério e passamos a caminhar de mãos dadas. Foram três anos de namoro. Enquanto universitários fizemos muitos planos, quando estávamos com nossos diplomas em mãos, resolvemos nos casar. “E deixemos de coisa, cuidemos da vida Pois senão chega a morte Ou coisa parecida E nos arrasta moço Sem ter visto a vida” Como todo início de qualquer jornada, tudo foi muito difícil: a condição matrimonial quer queira, quer não, uma nova vida estava iniciando ali, o engajamento no mundo profissional e por aí vai. Mas, com muita perseverança, humildade, cumplicidade e união, vencemos. Comecei a trabalhar na Faculdade Vale do Jaguaribe e
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Ana Luzia
no Colégio Passos Livres, enquanto Lindocastro ia se estabelecendo como advogado, atuando em Mossoró e em municípios vizinhos, assessorando juridicamente vários sindicatos. Quando celebramos nossas Bodas de Trigo, três anos de casados, engravidei e, em 2 de setembro de 2003, chega nosso primeiro anjo: Guilherme, que em 28 de outubro de 2010, ganhou uma irmãzinha linda, nossa Ana Clara. Sempre ativa e muito ligada, nunca consegui me conformar com atividades que não me dessem muitas possibilidades, sempre quis mais, gosto de ir à luta, e então, em 2009, por influência direta da convivência com meu companheiro Lindocastro, à época um advogado já com bastante experiência, decidi me matricular no curso de Direito, da Faculdade Mater Christi, curso pelo qual me apaixonei. Hoje, bacharel em Direito, tenho me dedicado a auxiliar nas atividades do escritório de Lindocastro, afinal, não basta ser esposa, tem que participar. E poder colocar em prática essa parceria profissional só tem nos feito evoluir, dar grandes passos e crescer, no trabalho, e em casa, já que nos tornamos mais fortes. Entre os altos os baixos pelos quais passei, as barras que tive que enfrentar, está a perda de uma irmã muito querida. É uma saudade eterna, mas que com fé em Deus, consegui, junto com meus familiares, ao longo dos anos, ir superando. Falando em família, uma palavra resume o que sinto por ela: orgulho. Tenho o maior prazer em estar sempre presente na vida de cada um. E se a palavra empoderamento pauta esse livro, posso afirmar que ela pauta também a mulher que sou. Firme nas minhas escolhas, sempre lutando pelos meus objetivos e uma verdadeira leoa em todos os aspectos.
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Célio Duarte
Ana Patrícia Targino de Medeiros Oliveira Graduada em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN - 1999, tem Mestrado em Bioecologia Aquática, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UERNO – em 2001; e Doutorado em Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – em 2005.
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Patrícia Targino
O Poder do Querer
S
em o poder, o querer esmigalha-se no campo minado das pálidas intenções. Sem o querer, o poder se sublima na vacuidade extravagante do que poderia ter sido, mas por falta da pura e condicionante vontade, não foi.
Corria o ano de 1994, quando ingressei no curso de biologia
na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Estudar a vida era um desejo que sempre alimentou os meus ideais de formação profissional. Após cinco anos, com a conclusão do nível superior, dei esse significativo passo em minha caminhada de eterna aprendiz. Entretanto, o desejo de singrar as estradas do mundo acadêmico, fez-me ingressar no mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com pesquisa na área de bioecologia. Como consequência, o inevitável impulso científico ao doutorado na mesma instituição de ensino, desenvolvendo estudos e defendendo a tese do comportamento animal no campo da psicobiologia, o que trouxe ainda mais encanto à minha vida-profissão. Naquele período, foram inúmeros os obstáculos enfrentadas pela recém-graduada que chegava do interior para cursar o mestrado na capital potiguar. Venceu-se o biênio e com ele também o desafio... Depois o doutorado. Esse sim, mais sacrificante porque exigia além dos estudos, o equilíbrio do coração e da mente para superar a distância, a saudade do lar que constituí em Mossoró naquele intercurso, ao lado de André Luís Oliveira, companheiro-amigoesposo, quando nos tornamos um só em 2004. Até então, todos os demais projetos pessoais e o desejo de se plantar a semente da descendência, ficaram no aguardo. O ideal de conquista era a pós-graduação.
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Patrícia Targino
No ano de 2005, concluí a minha jornada, não sem muita luta e esforço, recebendo o doutoramento tão almejado. Se a vitória foi permeada de dificuldades, certamente também foi coroada de aprendizagens e de êxitos. Vence não apenas o que batalha para chegar ao topo, mas aquele que nunca desiste de seus sonhos. Vence o ser humano que avança por seu próprio esforço, superando adversidades. O ser humano de carne e osso, que rala, que ri, que chora. E principalmente, que ousa. Na academia, jamais senti-me asfixiada pelo dever, mas realimentada pela esperança que enxergava em cada olhar, em cada cenho tenso ou sorridente ao meu redor, à espera da consagração, após renhida batalha de anos e anos. Não há conquista que valha a pena sem obstinação, sem o suor abençoado da peleja... Sempre me senti servidora, operária, aquela que trabalha com o empenho da aspiração que vai além do pessoal. Assimilei sobremaneira para aquele período da minha vida, o ensinamento de um defensor incondicional das causas da academia, meu tio Delby Medeiros, de saudosa memória, quando professava que “Em um trabalho científico não deve haver espaço para o ócio, para a mediocridade conformada, para o pessimismo impiedoso. Fazer ciência e desenvolver tecnologia é acreditar na imaginação, na criatividade, na força de vontade e na competência de cada pesquisador envolvido. É superar a inércia de uma máquina administrativa emperrada e burocrática”. Concluída a missão acadêmica, iniciei minha vida profissional como bióloga, quando do ingresso no serviço público no ano de 2008, através de aprovação em concurso público.
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Patrícia Targino
Posso afirmar que a completude da minha existência foi marcada pelo nascimento de meus filhos: Maria Cecília e André Luís Targino. A graça em estado de arte e de amor. Dois presentes de Deus... Hoje, olho pelo retrovisor do tempo e concluo que valeu a pena. Valeu, e como, cada lágrima derramada, cada insegurança vencida, cada sorriso adiado, pois minha vida não foi pequena, e foi sempre dotada de sentido, do poder do querer. Sim, conjuguei os verbos poder e querer e obtive, como resultante, o vetor do bem realizar. Realizar o bem ao próximo, através da utilidade e da disponibilização do conhecimento adquirido - ainda que diminuto - à coletividade: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”, é a lição atualíssima, deixada por Cora Coralina. Todas as vezes que resgato essas memórias, registro sempre a minha gratidão a Deus, à minha família; e, por que não, à profissão que abracei. Se tive algum mérito, graças ao Supremo Árbitro, foi o de conjugar o poder com o querer, lembrando de uma das máximas de Charles Chaplin: “Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito bela para ser insignificante”.
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Renato Gomes
Bárbara Paloma Fernandes de Vasconcelos Bezerra Graduada em Direito pela Faculdade Mater Christi, com Pós-graduação em Direito e Processo Tributário pela Universidade Potiguar - UNP, advogada inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio Grande do Norte, sócia fundadora e administradora do escritório de advocacia Fernandes, Pinto, Sousa & Vasconcelos Advogados Associados, Conselheira subseccional da OAB-Mossoró e membro da Comissão da Mulher Advogada pelo triênio 2013/2015, Secretária-Geral da OABMossoró pelo triênio 2016/2018, casada com Edilson Júnior, mãe de Eduardo Fernandes, amante das artes, História e da boa música.
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Bárbara Paloma
A mulher, a formiga e a borboleta
E
ncontrava-me em casa em uma tarde de um dia de semana qualquer - o que é raro, haja vista tantas obrigações, trabalho e atividades que nós mulheres acumulamos. Não me recordo o exato dia da semana,
mas lembro que estava até com um sentimento de culpa, imagine só, por estar em casa naquele horário e não ocupando aquela tarde com algum dos inúmeros afazeres e responsabilidades pendentes que tinha por fazer. Mas o cansaço venceu e me permiti passar a tarde deitada no sofá assistindo minhas séries do Netflix - não me condene, eu sei que você também já foi picada pelo mosquito desse site e está viciada em séries, filmes e documentários - até que ao desviar o olhar para o lado vi, pelo vidro da porta da varanda, que lá fora estavam uma formiga minúscula e uma borboleta sendo carregada por ela. Olhei para aquela cena e fiquei refletindo e procurando entender como um animal tão pequeno conseguia levar em suas costas outro infinitamente maior e mais pesado. Automaticamente, associei aquela cena à minha vida, que com certeza também é a vida de muitas mulheres. Quantas vezes nós sentimos que estávamos carregando todo o peso do mundo em nossas costas? Quantas atribuições nós acumulamos diariamente? Com a evolução do tempo e da sociedade, nós, cada vez mais acumulamos responsabilidades, cada vez mais as mulheres avançam e se destacam justamente por terem essa habilidade de lidar e administrar diversas situações ao mesmo tempo, apesar de ainda não terem o justo reconhecimento por isso. Precisamos ser mãe, esposa, profissional, dona de casa, motorista, médica, enfermeira, psicóloga, tudo ao mesmo tempo, sem falar
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Bárbara Paloma
nos rótulos que nos impõem, pois além de tudo ainda precisamos ser magras, bonitas, bem vestidas, usar batom e salto alto. Nossa rotina diária passa desde ao acordar cedo, cuidar do café da manhã, deixar e buscar filho na escola, trabalhar, fazer feira, dar de conta da casa, do que falta, do marido, levar filho doente ao médico, medicar, lembrar que tem que buscar a roupa na lavanderia, e ainda arrumar tempo para ir à academia. Ufa! Fico me perguntando se algum outro ser seria capaz de dar conta de tanta coisa. A resposta é não. Com certeza não. Certamente quando Deus criou a mulher, Ele lhe deu exclusivamente esse dom e a capacidade de realizar multitarefas, assim como deu à formiga a aptidão para carregar coisas muito maiores do que aparentemente ela poderia suportar. Assim, somos nós mulheres, apesar de sermos consideradas como o sexo frágil, a realidade é que nós mostramos para o mundo que somos capazes de suportar e de realizar coisas grandiosas, não obstante os conceitos e rótulos que nos sãos impostos há tantas décadas, para não falar séculos. E, enquanto refletia sobre tudo isso, a minha curiosidade sobre como seria possível uma formiga carregar tanto peso só crescia, e para saciar esse anseio fui consultar o doutor Google. Sim! Aquele mesmo que a quem nos socorremos para tantas outras coisas, seja para pegar uma receita de bolo ou até mesmo – que nossos médicos não saibam – para diagnosticar algo que estamos sentindo, quem nunca?. E em um artigo científico que encontrei, ele informava que as formigas são capazes de levantar até cem vezes o seu próprio peso, e para me surpreender mais ainda, lá dizia que elas executam tal façanha sobre qualquer superfície, inclusive paredes. E como elas fazem isso? Extraordinariamente as formigas conseguem modificar
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Bárbara Paloma
seu tamanho e forma dependendo do peso que elas carregam. E cada vez mais fiquei impressionada com a semelhança da mulher com a formiga, pois nós, igualmente a elas, além de conseguirmos realizar milhares de coisas que normalmente nenhum outro ser é capaz, conseguimos moldar e ajustar nossa rotina para que tudo seja contemplado e bem executado sobre toda e qualquer adversidade. Aliás, nesse quesito, posso afirmar que somos campeãs, como se diz aqui pelo Nordeste, nós damos nó em pingo d’água, conseguimos até fazer o marido nos ouvir dia de domingo em pleno jogo de futebol entre Flamengo e Fluminense no maracanã. Como diz Cid Moreira: “Isto é Fantástico!” É um caso raro de evolução da espécie humana que precisa ser estudado pela Medicina. Mas, brincadeiras à parte, compartilho a lição que tirei da cena da formiga carregando a borboleta. Há dias em que nos sentimos borboletas, cansadas e vencidas por uma jornada exaustiva de trabalho, mas o fato é que nós somos mesmo formigas, pois somente um ser extraordinário é capaz de lidar com o peso do acúmulo de tantas atribuições e responsabilidades, e conseguir realizá-los, mesmo diante das mais diversas atribulações, com toda a maestria que nos é peculiar. Nós somos formigas, nós somos fantásticas!
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Cedida
Brena Christina Fernandes dos Santos Formada em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande, onde participou de Programas de Extensão, Pesquisa e Monitoria. Atuou durante cinco anos no Movimento Estudantil, e em dois deles sendo representante dos estudantes pelo DCE. Organizou eventos, projetos e congressos, na cidade de Sousa, Paraíba. Publica artigos nas linhas de pesquisa: família, gênero, performatividade, violência doméstica, diversidade e identidades. Atualmente, é colunistacolaboradora e Assessora Jurídica do Jornal de Fato, advogada e Parecerista Jurídica de Licitação da Prefeitura de Mossoró.
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Brena Christina
Quanto tempo dura uma vida?
E
u tenho um segredo para fazer a vida durar: sempre perseverar. Isso acontece desde que dei os meus primeiros passos. Quiçá, no início, por instinto. Por mera necessidade de se locomover. Ou, talvez, já estivesse
delineando o meu futuro. Não sei. Mas, o que bem sei é que foi esse o segredo que não me fez desistir da bicicleta, quando, em 2001, perdi o controle e finalizei o percurso com a cara numa árvore. Hoje eu sei como andar. Também foi esse o segredo para prevalecer e resistir aos ambientes mais hostis pelos quais já passei. Um dia, caminhando pelas ruas do movimentado centro comercial, atividade que sempre gostei de fazer, sem objetivo específico, dispus-me a contar quantos homens olhariam para as minhas pernas. A cada novo olhar era como se eu fosse encolhendo, encolhendo, encolhendo, até chegar a pó. Mas, perseverei, insisti. Finalizei a minha caminhada. Contando... De um a um. E, em algumas situações, os olhares vieram acompanhados de assobios, cantadas e até toques. Sujaram-me. Sem dó. Para quem é mulher, sabe exatamente do que estou falando. Sabe exatamente o que eu senti... O que sentimos, todos os dias. Parece mandamento: “Cubra tuas pernas, ou não terás paz”. Encurralam nas regras deles. Mas, que sorte teríamos se a opressão que sofremos se resumisse àquela roupa que gostamos de vestir. Demorei muito tempo para compreender o por que de ser vistoriada dos pés à cabeça por homens que cobiçam e por mulheres que julgam. Não se fazia inteligível a necessidade das cantadas constantes no meio da rua, quando o objetivo de está ali era de apenas fazer a caminhada rotineira. Porque estavam me
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Brena Christina
desnudando o corpo com olhares quando o meu corpo é apenas uma carcaça? Que
desejo
incontrolável
era
aquele
a
ponto
de
se
sentir confortável com o desconforto causado com o medo proporcionado? Mais tarde, comecei a entender o que era aquilo que me perturbava tanto, aquilo que me impedia de sair à noite sozinha por medo do que aquelas atitudes, à primeira vista, inofensivas, pudesse se transformar em agressões mais severas, não apenas de alma, como também de corpo.Ocorreu depois de alguns anos, quando entrei no mercado de trabalho, ainda com o aspecto muito jovem, e, dessa vez, com o corpo todo coberto, lacrado, como queriam, e acompanhando o padrão culturamente imposto. Salto. Blusa social. Mangas compridas. Calça. Maquiagem. Verdade seja dita: nunca fui amiguinha das convenções sociais. Primeiro, vieram os assédios, desrespeitando o profissionalismo que existe numa relação entre cliente e profissional. Lutei em causas que me compadeceram o coração devido às condições financeiras alegadas pelo cliente, atuando, muitas vezes, à pro bono. Um dia, pensei que havia ganhado, até que escutei: “Agora que vencemos, vamos sair para algum barzinho, é tudo por minha conta, podemos conversar melhor lá”. Toda a felicidade que explodia dentro de mim, motivada pela falsa realidade de que minha atuação tinha alcançado o justo, o correto; se esvaiu, como areia na mão, assim, rápido, num estalar de dedos. E, mais uma vez, a minha alma foi eclipsada. Fiquei trêmula. Em todas as partes do meu corpo. Esse foi mais um dia para perseverar.
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Brena Christina
Não muito tempo depois, vi-me num ambiente rodeada de homens, de pessoas mais velhas; e, diante de tudo que já havia acontecido, me questionei: “Será mesmo que eu deveria estar aqui?”. Estamos tão habituadas a ser questionadas por tudo, a ser criticadas, ironizadas, maltratadas, rebaixadas, hostilizadas, que chegamos ao ponto de duvidar de nós mesmos. E quando escutamos “Quem você pensa que é, menina?”, parece que o mundo está prestes a desmoronar. Mas, saiba, ele não desmorona, e são nesses momentos extremos que devemos nos erguer da cadeira e dizer quem somos. Mulheres. Negras. Brancas. Amarelas. Pardas. Mestiças. Homossexuais.
Bissexuais.
Heterossexuais.
Panssexuais.
Intersexuais. Transexuais. Travestis. Empresárias. Empregadas. Donas de Casa. Advogadas. Físicas. Professoras. Servidoras. Estudantes. Aposentadas. Baixas. Altas. Médias. Gordas. Magras. Jovens. Adultas. Idosas. Somos o que quisermos ser. Quando quisermos ser. Onde quisermos ser. Seja dentro de casa ou no mercado de trabalho ou na rua. Francamente... Com o tempo, esperava me acostumar, acomodando-me ao medo, ao pavor, ao sentimento de impotência. Mas, encontrei muito mais força no embate, no questionamento, na busca dos porquês, no enfretamento cara-a-cara. No andar de mãos dadas com tantas outras que passam pelo mesmo ou muito pior. Às vezes, até penso que não ter encarado um estupro, uma agressão física, uma humilhação pública em dimensões mais alarmantes, foi uma dádiva. A que ponto cheguei? Considerar-me sortuda por não ter passado pelo horror que diversas mulheres espalhadas pelo mundo passa. Por tudo isso, eu luto. Mesmo
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Brena Christina
que a luta venha salgada, amarga, inundada de dor, cansaço. A perseverança – luta - tornou-se sinônimo de viver. E, quando digo que o segredo foi perseverar, é porque sem isso a minha vida teria acabado ainda na infância, quando esqueceram que eu era apenas uma criança e vislumbraram no meu corpo o desejo. Ou, na adolescência, quando a homossexualidade foi motivo de diversos olhares e julgamentos preconceituosos, machistas, homofóbicos. Ou, agora, na vida adulta, quando nos incapacitam por ser mulher, e a nossa opinião profissional vira mero enfeite. Ou, durante toda a nossa vida, quando antes de nos descreverem como inteligentes e corajosas, nos descrevem como ‘bonita’ ou ‘vaidosa’ ou “Com salto e maquiagem você fica mais mulher”. Todas essas atitudes nos matam, um pouco mais, a cada dia. Mas, persevero, pois é na perseverança que encontro a vida.
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“E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar.” Clarice Lispector
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Habner Weiner
Carla Virgínia Portela da Silva Araújo Filha de Anita Maria Barroca Portela da Silva e Alvernes da Silva Mello, casada com Francisco Marcos de Araújo e mãe de João Francisco Portela de Araújo e Ary Bernardo Portela de Araújo. Bacharel em Direito (UFPE), Especialista em Direito Processual Civil (UNP), mestre em Direito Constitucional (UFRN). Experiências profissionais: TJPE - auxiliar judiciário, secretária de sessões e assessora de desembargador (1992-2000); TJRN - Juíza de Direito - data da posse : 16.10.2000
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Carla Portela
Sexo frágil, não foge à luta...
O
nosso texto remonta ao ano de 1972, no momento em que o Brasil ainda vivia o auge de regime de exceção ditatorial e o mundo discutia, no âmbito da Conferência das Nações Unidas, o Meio Ambiente
Humano, uma nova história vinha sendo construída, agora na vida de uma mulher, aparentemente frágil, virtuosa e bela. Na cidade de Recife, capital de Pernambuco, a jovem Anita apresenta alguns problemas de saúde que, para a medicina da época, cogitou-se ser um tumor. Passados meses de investigação e exames, em janeiro de 1973, finalmente chegou-se à conclusão que aquela moça seria mãe no mês vindouro. “Grávida, como? Se nem barriga tenho?”, indagava-se com perplexidade. Isso mesmo, grávida e apenas com um mês para se preparar psicologicamente para a nova vida, para uma menina que surgia no seu caminho, sem pedir licença. “Mamãe, vou lhe dar o nome de Carmen Virgínia”, afirmava Anita para a sua mãe Ana, em alusão a Carmen, sua irmã, sempre tão amiga e presente em sua vida. O nome escolhido foi Carla Virgínia. Havia uma advertência médica de que a gestação talvez não pudesse se ultimar, já que Anita se submetera, precedentemente, a exames e procedimentos que poderiam ocasionar aborto. Contrariando a todos os prognósticos, vim ao mundo numa manhã do dia 11 de fevereiro de 1973. Cresci em ambiente de muito amor, coragem, sacrifícios, respeito e luta pela sobrevivência. No nascimento, Deus me ofereceu três mães, três Marias na terra: minha mãe, minha avó e minha tia.
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Carla Portela
No caminho, então com dois anos, perdi uma mãe na terra e ganhei uma estrela permanente no céu, minha avó, Ana. A vida seguiu. Cresci ao lado de uma guerreira, impulsionadora, que me preparava para a vida - que ela própria, até então, não conhecia ou experimentara - de tantas dificuldades, incertezas, que não era cor de rosa, era choque. Ainda pequena, ao brincar em um parque em Recife, avistei um grupo de formandos na Faculdade de Direito, e comentei com minha mãe que gostaria de estudar naquela ‘escolinha’, tendo ela redarguido que aquele colégio era para ‘gente grande’. Então, na fase adulta, fiz vários concursos, assumi, com dezenove anos de idade, cargo estatutário no Tribunal de Justiça de Pernambuco, fui residir em Caruaru. Na época, minha mãe estava sofrendo as sequelas de um AVC e, por ela, enfrentava semanalmente vários quilômetros de ônibus entre Recife-Caruaru-Recife. Contava postes. No final do ano de 1997, ao colar grau na Direção daquela Faculdade de Direito - UFPE - que era ‘uma escolinha’, no meu olhar infantil, vi no rosto da minha mãe rolar uma lágrima, lembrando daquela criança que sonhou e estava se graduando. Depois, a convite do Desembargador pernambucano José Antônio Macedo Malta, homem honrado e grande processualista, fui ser assessora em seu gabinete, de onde extrai importante bagagem da cultura jurídica. Não podia parar, e não parei. Tinha sonhos que me provocavam. No ano de 1998, fiz inscrição para o concurso de Juiz de Direito no Rio Grande do Norte. Uma colega de trabalho profetizou: “Você vai trabalhar em Mossoró”. Então, eu lhe disse: “Mossoró? Onde fica?” Da assunção do cargo em Natal, onde moramos - eu e minha mãe - durante dois anos,
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Carla Portela
e dali para Campo Grande, onde encontrei pessoas simples, mas, de grandiosos gestos e necessidades, também passei pela bela cidade de Areia Branca, comarca de povo acolhedor, até finalmente chegar nesta querida cidade de Mossoró. Aqui, casei com Marcos, dádiva celeste de amor e meu companheiro de vida, com quem construí família, criei laços definitivos. Recebi dois maravilhosos presentes: João Francisco e Ary Bernardo, que me completam como ser humano e me realizam na maternidade. Grávida, em situação de risco, fiz mestrado em Direito da UFRN. Elaborei pesquisa e dissertação sob repouso, impedida de movimentos bruscos. Precisava contar aos meus filhos mais tarde, que eles me fortaleceram, até mesmo no aprimoramento das minhas atividades acadêmicas. E, assim, em tempos de crises nas mais variadas esferas política, segurança, moral - o que, verdadeiramente, nos desafia é a não fugir da luta, da fé e da crença em dias melhores, com mais fraternidade, amor, justiça social e paz, pois tudo foi e é Deus, por meio de suas obras na terra, que nos conduz e nos impulsiona a respirar, a aspirar, a sonhar e a concretizar o melhor de nós, sendo as dificuldades apenas experiências que nos empoderam e nos amadurecem.
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Célio Duarte
Ediane Fernandes de Almeida Rosado Pedagoga, formada pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) com especialização em Gestão Educacional. Com 19 anos de experiência no ramo de Educação. Diretora do CNA Curso de Idiomas e do FOCO Reforço Escolar.
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Ediane Fernandes
Meus Jerônimos
I
niciei minha jornada na Educação no Colégio Geo aos 19 anos. Cursava Economia e ao me apaixonar pelo trabalho educacional, transferi meu curso para Pedagogia. Primeiro trabalhei como secretária, em seguida auxiliar de
coordenação e em pouco tempo me tornei Coordenadora Geral da Escola. A Educação passou a ser minha prioridade, coisas como fazer o calendário letivo, definir os horários dos professores em sala de aula, organizar as atividades de planejamento de ensino, promover a integração entre a escola e a família, criar estratégias para garantir o bom funcionamento da escola, tudo isso era uma rotina prazerosa em minha vida. Quando ainda funcionária do Colégio Geo, abri a minha própria Escola de Idiomas, o CNA, que na época funcionava como uma franquia-escola. Passei a ter três turnos de trabalho, pela manhã, no Geo, tarde e noite, no CNA. Sempre sonhei em formar uma família grande como a minha. Meus pais Edival Almeida e Lêda Maria Fernandes de Almeida tiveram quatro filhos. Minha mãe que cuidou e educou a todos nós, porque na época meu pai trabalhava viajando. Sempre foi uma mãe dedicada e nunca mediu esforços para ver a felicidade dos filhos. Herdei esse lado “mãezona” dela. Casei com Jerônimo Noguchi de Góis Rosado Filho e em 2010 nasceu o meu primogênito, Jerônimo Guilherme de Almeida Rosado, descobri o amor mais puro, verdadeiro, incondicional e sem medidas, um amor que só crescia. Amor que só sentimos quando nos tornamos mãe. Em 2012, recebi mais um presente, Jerônimo Eduardo de Almeida Rosado, um menino lindo e amável, que me faz cada dia mais feliz. Como sempre quis ter uma família
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Ediane Fernandes
grande, em 2016, chegou Jerônimo Artur de Almeida Rosado para completar a minha felicidade. Ficava imaginando como seria ser mãe de três filhos, e quando isso realmente aconteceu, lembrome de perguntar para a minha mãe, que era mãe de quatro filhos, de qual filho ela gostava mais e ela respondia que o amor era o mesmo. Hoje entendo que o amor pelos nossos filhos é o mesmo, assim como as alegrias, as renúncias, e que as preferências ficam em segundo plano quando este amor é dividido de forma intensa e verdadeira. Ser mãe é a minha maior e melhor experiência de vida. Nesta jornada que também é a vida, tive que ser vários atores; ser mulher, mãe, esposa, amiga, pedagoga, coordenadora e gestora do CNA, sempre trabalhando em três períodos e me dedicando em cada um deles com muito zelo e amor. O CNA foi uma escolha, mas também uma certeza que eu tive que com o meu “toque especial”, a escola seria um espaço educacional acolhedor e agregador. O sucesso foi construído com erros, acertos, mas muito trabalho e sempre buscando o melhor. São oito anos de construção com muita experiência, dedicação, amor, investimento, inclusive financeiro, que me levou a ter uma escola com uma excelência pedagógica, material didático exclusivo e qualidade incontestável, estrutura moderna e confortável para alunos e colaboradores, com professores qualificados e experientes na língua inglesa e espanhola. O que antes era um sonho, hoje, é uma realidade. Sou uma verdadeira empreendedora, com 19 anos de experiência no ramo da educação e com uma reputação ilibada como empresária e educadora no mercado de escolas de idiomas. Tudo aconteceu devido a minha ousadia, construí uma nova sede, de última
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Ediane Fernandes
geração, pois sempre acreditei na minha superação em relação aos desafios. E, infelizmente, numa sociedade em que ainda prevalece a iniciativa da força masculina, ousei provar a força da mulher no campo empresarial. Os desafios foram e são muitos, a tripla jornada me foi imposta, mas com dedicação, amor e objetivo, resolvi enfrentá-la. Situação que hoje considero conciliada, já que a iniciativa feminina, em todas as áreas, é uma realidade palpável, pela qual lutei, luto e lutarei sempre. Por ser uma educadora nata e por ter uma demanda de tempo junto a família, incorporei ao CNA uma escola de reforço, o curso FOCO, onde passei a desfrutar de mais tempo com meus filhos sem abdicar do meu trabalho em tempo integral. O FOCO tem como proposta acompanhar a vida escolar das crianças e adolescentes. “Quem ama educa” e continuar educando e empreendendo demonstra o meu objetivo como mãe, mulher e empresária.
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Cedida
Francisca Eliete de Souza Amaral Eternamente Eliete
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Por Jacqueline Amaral
alar sobre Eliete Amaral pode até parecer, mas não é tarefa fácil. De uma personalidade forte e complexa, ela traz na bagagem uma vida de lutas e vitórias que sempre lhe custaram muito trabalho e sacrifício.
Eliete Amaral, filha de Otaviano e Véscia, é membro de uma prole
de dezoito filhos, morando em um casarão na Avenida Rio Branco e, posteriormente tendo se mudado com a família para a Rua Jerônimo
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Eliete Amaral Rosado, onde escreveu sua história de vida, trajetória construída com muito trabalho e abnegação. Foi naquela rua abençoada que construiu sua família, na companhia daquele belo funcionário dos Correios, chamado Zezito. Dessa união nasceram suas duas filhas, Jacqueline e Jeannine. Avó apaixonada, denominada Tota por opção, de Raissa, Rommel e Gabriel, tendo sido essa patente a que mais lhe emociona e completa. Tota, Totinha e Totíula, como os três netos a tratam carinhosamente. Apaixonada por fotos e redes sociais, Eli, para as amigas, adora se ver nas imagens fotografadas por seu genro favorito, Vicente, dono de uma banda significativa do seu coração. Ainda das redes sociais, que hoje detém uma parte gigante de sua atenção, ela interage, leva a sério e se afeiçoa aos amigos faceanos. Ali, ela se transporta e abre uma janela interessante para o mundo, para as pessoas, para conhecimento dos fatos e notícias. De personalidade forte, nunca foi estilo docinho. Tinha atitudes e ideias próprias, onde tantas vezes a fizeram ser conhecida por essa característica. Mas a qualidade que mais cultuou durante a vida foi a generosidade com pessoas, que ela trazia para seu trabalho ou residência, tornando-as membros da família, ensinava o oficio e agregava como dela. Sofreu vários baques e ingratidões, mas nunca se arrependeu de seus atos. Então hoje no alto do seu escritório, no Centro Empresarial Caiçara, onde diariamente vai trabalhar, ainda nos conduz e guia. Com a determinação de sempre, cultua sua vaidade e dignidade. Não gosta que perguntem sua idade e, quando indagada, responde: “Sou do tempo que perguntar a idade de uma mulher era falta de educação”. Termina cercada de todas as razões, nesse quesito, porque, que importância tem a idade para uma mulher que tem dentro da alma, o espírito jovem e vaidoso de quem costuma fazer acontecer por força de sua própria vontade? Eternamente Eliete Amaral.
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Célio Duarte
Francisca Furtado de Araújo Francisca Furtado de Araújo é natural de São Benedito, Ceará, filha de Bráulio Furtado Barros e Doralice Pereira de Souza. Casada com Edmilson Coelho de Araújo e mãe de Wagner, Vânia, Walker e Vanessa. É também avó de Lidya, Lidyane Marques de Araújo, Felipe, Lucas, Pedro Henrique e Juliana.
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Francisca Furtado
Minhas tardes
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oi pelos idos de cinquenta, a precisão me foge, afinal, não é de bom tom entregar a idade de uma dama. O vento da tarde entrava pelas janelas da grande sala da Fazenda Cachoeira, onde familiares e vizinhos aguardavam a minha
chegada. Entre conversas acompanhavam o entra e sai no quarto ao lado, onde minha mãe, com ajuda da parteira da família sofria para me trazer ao mundo, seu terceiro parto, a primeira mulher. A minha infância foi naquele lugar, na propriedade do meu pai, que além do gado e das plantações possuía um armazém onde vendia cereais para toda a região do município de São Benedito, na Serra da Ibiapaba, no interior cearense. Dele herdara o sobrenome Furtado, o Souza veio da minha mãe. Passava os dias a correr entre as plantações, como subir em árvores, perseguir criações, pular no rio e a descobrir cantos e sensações daquele lugar abençoado, de onde tenho belas recordações. Infelizmente, aquela não foi uma década fácil para toda região. Noticias de parentes que haviam partido para outras paragens encorajaram meu pai a vender tudo e nos levar para Natal, onde nos estabelecemos e adquirimos pontos de comércio no hoje extinto mercado da Avenida Rio Branco. Apesar do incêndio que pôs o local abaixo, segundo alguns, obra do então prefeito Agnelo Alves, com árdua luta e parcerias locais, firmamos residência. A minha adolescência foi dividida entre o estudo, o trabalho no comércio e o auxilio à minha mãe na criação dos irmãos mais novos. No ano do golpe militar, lá por agosto, um final de tarde, estava na janela a conversar com vizinhos quando ao longe vejo um belo jovem, em traje militar, que descia a Rua Gonçalves Ledo, no bairro Cidade Alta, para ser festivamente recebido pelas vizinhas da residência da frente. A sua
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Francisca Furtado
chegada não me passou despercebida e logo vi que o recém-chegado havia notado a minha presença. Dos primeiros olhares ao namoro, para o noivado e casamento, se foram oito anos de preparações. Anos de muito sacrifício. Para ele, o trabalho e o estudo no curso de Medicina consumiam praticamente todo o tempo, para mim, a rotina estudo, trabalho e responsabilidades na casa do meu pai. Também cobravam tempo e disposição. Mas nos fins de semana, as praças e cinemas eram poucos para nossos passeios e conversas. Na primeira vez que vi a Igreja de Santo Antônio dos militares decidi que me casaria ali. Sempre comunguei da mesma impressão que Cascudo, a Igreja do Galo é a mais bela de Natal. Ao cair da noite do oitavo dia de 1972 realizei meu sonho, de braço com meu pai adentrei na Casa do Senhor e confirmei perante Deus e os homens que comungaria da vida e dos sonhos de Edmilson. Em pouco tempo essa cumplicidade com seus projetos me levaria para Mossoró. Por mais que já tenham se passado várias décadas, ainda me recordo da partida na antiga rodoviária de Natal, na Ribeira, em frente ao Teatro Alberto Maranhão. A mudança já havia partido na frente. Comigo, duas malas, meu filho Wagner e uma grande apreensão no peito. Bem lentamente o velho ônibus deixou Natal para trás e nos conduziu para Mossoró, só havia estado uma vez para conhecer a futura morada. Agora estava vindo para ficar. Não sabia que seria para sempre. Ao chegar em Mossoró, desci na atual Estação das Artes e para minha eterna gratidão estavam a me esperar aqueles que seriam meu porto seguro nos primeiros anos, doutor Clóvis e Laurita. Ao entrar na casa na Rua Juvenal Lamartine, a mudança já havia chegado e contei com a colaboração de mais dois casais incríveis, nosso vizinhos, doutor Edgardo e Guia, além de Mário e Socorro Vale. Naquela casa, nasceria Vânia e passaríamos os primeiros anos. Tempos de adaptação e de muitas alegrias. No início da década de oitenta, nos mudamos para nossa residência
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Francisca Furtado
atual, na Rua Duodécimo Rosado, ali chegaram ainda Walker e Vanessa que completaram nosso quarteto abençoado. Em Mossoró, contava com Maria Linhares, amiga fiel que havia conhecido na primeira vinda à cidade. Havia me hospedado no seu pensionato. Aliás, essa tem sido a grande dádiva dessa terra maravilhosa, as amizades que fiz e cultivei durantes os quase quarenta anos na capital do Oeste Potiguar. Além da convivência no meio médico, envolvemo-nos com movimentos filantrópicos da cidade: o grupo de samaritanas da Loja Maçônica União Mossoroense, a participação no Conselho Guardião das Filhas de Jó do Bethel nº2, o grupo do Chá Phino, irmãs com quem tive a honra de conviver nos últimos vinte e cinco anos. As grandes amigas do Grupo Solidário, onde nos cotizamos para beneficio de instituições da cidade e as mais diversas amizades que floresceram e se consolidaram. Uma terra que se notabilizou pela força das suas mulheres não poderia deixar de imprimir em mim essa força e determinação. Acredito que o poder feminino deva estar na consciência dos seus direitos em total igualdade de gênero, na liberdade de escolha, na capacidade de sonhar e realizar esses sonhos. Seja na carreira profissional, seja no mundo acadêmico ou mesmo na condução de um lar e de uma família que é um dos maiores desafios da atualidade, toda mulher deve ter em mãos as rédeas do seu destino e construir sua história com orgulho e altivez. Hoje, percebo que praticamente todos os acontecimentos importantes da minha vida se deram no fim de tarde, talvez, inconscientemente tenha feito desse momento do dia o meu preferido. Mas a verdade é que toda tardinha, sempre que posso, sento no quintal e simplesmente aproveito esse instante. O vento mais frio, as nuvens e cores do por do sol. A tranquilidade de encerrar mais um dia de obrigações e desafios. O aroma do café sendo preparado na cozinha. Fico a remoer lembranças de todos esses anos maravilhosos.
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Francisca Luana Correia Lima Rodrigues de Medeiros Francisca Luana Correia Lima Rodrigues de Medeiros nasceu em 12 de abril de 1965, na capital cearense. Recebeu dos pais, Ângela Correia Lima Rodrigues e Francisco Hervécio de Goes Rodrigues - Chico Hervécio - o legado do nome Francisca, em homenagem ao santo que dedicou sua obra aos pobres.
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Luana Medeiros
Crescente, minguante, cheia e nova
N
os primeiros anos de vida, na cidade de Fortaleza, a convivência com pais, avós, tios, primos e demais familiares, fez-se importante na formação do meu caráter, orientado sempre para a correção no desenvolvimento das relações
sociais, para o afeto e amizade para com as pessoas, mas, principalmente, para o amor com todos ao meu redor, em especial, para com minha querida irmã, Vanucci que nasceu quando eu tinha oito anos. Acompanhando meus pais que vieram trabalhar, ainda criança,
estabeleci-me em Mossoró, cidade onde cresci e constitui família, desenvolvi uma carreira profissional sólida. Estudei no Educandário Dom Bosco e no Colégio Sagrado Coração de Maria, tendo-me mudado para Fortaleza para cursar os dois primeiros anos do então científico, retornando a Mossoró para cursar o terceiro e último ano dessa etapa de formação. Ainda na adolescência conheci Eider Barreto, mossoroense, filho de Elder Andrade de Medeiros, em memória; e Ezilda Barreto Macedo de Medeiros, com quem viria a casar e constituir família. Casamo-nos em 1985, já tendo se passado mais de três décadas de convívio terno, como assim falou o padre, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, mantendo-se o laço forte como uma rocha e seguindo como o tempo. Acho que a cumplicidade, o companheirismo e a união são os pilares que sustentam a família e dão forças para continuar na labuta do dia a dia. Um porto seguro, onde pode atracar o barco nas tempestades. Após o casamento, mudamos para Natal, pois Eider Barreto já cursava Medicina na UFRN, e lá permanecemos residindo até a sua formatura. Nesse período, nasceram Eduardo e Felipe, os primeiros filhos. Quando do encerramento da faculdade de Medicina, mudamos com filhos para Brasília, para que Eider pudesse cumprir a residência médica no hospital L2 Sul.
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Luana Medeiros
No início com dois filhos, Eduardo e Felipe, seguindo o nascimento de Fernanda em Brasília, batalhamos muito para cumprir essa etapa da vida. Foram cinco anos de intensa luta, tendo que cuidar dos filhos, ir à Universidade em busca da minha formação e suportar os longos dias e noites de ausência de Eider quando dos plantões médicos. Encerrada a residência médica, retornamos a Mossoró, onde desenvolvemos nossa família e construímos nossas carreiras profissionais, permanecendo até os dias de hoje. Em 1985, veio ao mundo o primeiro dos três filhos, Eduardo, primogênito, que nasceu na cidade de Mossoró. Já no primeiro ano de vida de Eduardo, tivemos que enfrentar as dificuldades trazidas pela enchente daquele ano, que expulsou toda a nossa família de casa. Lembro que tivemos que sair às pressas, em um jipe, pois as águas já invadiam a residência de meus pais no Centro da cidade. Filipe, o segundo filho nasceu em 1987, também em Mossoró. Filipe também teve que enfrentar as dificuldades da vida desde cedo, sofreu com dificuldade de alimentação nos primeiros dias, pois não se adaptou de pronto ao leite materno. Nossa princesa, Fernanda, nasceu em Brasília, em 1989. A felicidade de ter uma menina na casa para completar a família deu lugar, nos primeiros meses, às dificuldades da vida na capital do País. O clima frio e de pouca umidade de Brasília provocava doenças comuns constantes nas crianças. Exemplos de profissionais dedicados ao trabalho, à família e à comunidade, Eduardo, Felipe e Fernanda, estão hoje com 32, 30 e 28 anos, respectivamente, mantendo entre si uma relação de cumplicidade fraterna que não se desgasta pelo tempo, apesar da distância em face da vida acadêmica e profissional de cada um. Os meninos, já casados, agora planejam suas próprias histórias familiares, ao lado das esposas Luciane, de Eduardo; e Jimena, de Filipe. Meus filhos são meus tesouros, meus
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Luana Medeiros
diamantes, meus bens mais preciosos. Todo o trabalho, as incertezas, as doenças, as dificuldades, nada vale quando comparados a um sorriso, a um olhar carinhoso, a um abraço de cada um deles, descrevo emocionada. Para decidir que profissão seguir, inspirou-me a vontade de servir à população, daí ter escolhido o curso de serviço social, que me concedeu a honrosa profissão de assistente social. Iniciei o curso na antiga Universidade Regional do Rio Grande do Norte – URRN - em Mossoró, no ano de 1981, tendo transferido para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - em Natal, onde cursei mais um pouco da grade curricular. Em Brasília, cursei mais um ano do curso na Faculdade na Universidade de Brasília – UnB - vindo a concluir o curso de Serviço Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN quando do retorno a Mossoró. Hoje sou servidora concursada da Prefeitura de Mossoró, já tendo ocupado inúmeros cargos na área de saúde e assistência social e desenvolvido várias atividades, sempre colocando minhas aptidões profissionais a serviço da coletividade e da sociedade. A minha profissão é adorável, pois permite ver o mundo e as pessoas com seus defeitos e qualidades, possibilitando-lhe uma melhor compreensão de como tudo funciona. As duras batalhas do passado serviram para o meu fortalecimento pessoal, porém às vezes sinto-me mais forte em alguns aspectos e um tanto debilitada em outros. Não deixo, entretanto, de agradecer por tudo o que vivi e pelas vitórias que obtive, o que permite concluir que tudo valeu a pena, que nada foi em vão. Penso em complementar a carreira acadêmica e continuar prestando meus serviços à população com muita saúde e por muitos anos enfrentando cada fase da vida, ora crescente e minguante, ora cheia, ora nova, ciente de que teria que estar lá, a cada dia, para cumprir o meu papel.
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Cedida
Glaryanne Queiroz Oliveira Vasconcelos Nasceu em Eduardo Gomes (RN), filha de Hugo Oliveira e AmÊlia de Souza Queiroz Oliveira. É Terapeuta Ocupacional.
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Glaryanne Queiroz
Da água para o vinho
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m dos grandes questionamentos dos amantes é se existe amor à primeira vista. E se existe sua alma gêmea. Nunca
me preocupei com isso, pois sempre fui uma pessoa dominada pela liberdade e amor livre. Minha maior
preocupação era sentir a vida como um passarinho, livre e solta. Mas um dia, tudo mudou. Ao visitar um amigo, no bairro do Montese, em Fortaleza, fui apresentada a uma linda mulher que inicialmente hostilizou totalmente minha capacidade conquistadora. Foi fulminante aquele olhar penetrante na alma. Não pude fugir, alias, não quis. Como resistir aquela deusa? Seu olhar, cheiro, voz, cabelo, pele, gestos, enfim, ela passou a ser o centro da minha atenção. Por mais que eu lutasse contra, sempre voltava a sentir que tudo dela me envolvia mais e mais. Não entendia muito do assunto, pois não era minha praia. Nunca levei a sério nenhum relacionamento. Era uma sensação gostosa, mas assustadora. Veio a vontade de conquistá-la e entender melhor aquele sentimento que fluorava de maneira primária no meu coração, corpo e alma. A minha maior preocupação era se ela tinha interesse por meninas, porque caso contrário, seria mais difícil. Não falaria impossível, mas difícil. Questionei ao amigo em comum e levei logo a resposta indesejável: ela tinha um namorado. Água fria, mas não conseguia tirá-la da minha cabeça. O cupido me pegou de cheio. Todos os sábados, na casa desse amigo, tinha um campeonato de baralho – buraco - e comecei a participar. Ao perguntarem quem seria minha dupla, ela respondeu prontamente: EU. Aquele momento foi decisivo para continuar a lutar por ela. Trocávamos olhares ardentes na hora da partida, toque das pernas
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Glaryanne Queiroz
por debaixo da mesa, ria de qualquer piada que ela contava e fins de semanas que não queria terminar jamais. Muita ansiedade pelo próximo encontro. Começamos a trocar cartinhas de amor, marcar encontros na sorveteria do bairro, ir juntas para festinhas de amigos. Tudo caminhava bem para o próximo passo. Até que o ‘tal’ namorado chega no meio de uma partida dessas de baralho, pois o mesmo precisava falar com ela. Naquele momento, parecia que ganhava algumas batalhas, mas tinha perdido a guerra. Então, afastei-me da turma. Não queria atrapalhar a vida de ninguém. Uma grande amiga, que morava perto da minha casa, tornou-se confidente. Perdida, fiquei sem rumo e não deixava de pensar nela e o melhor, depois tive a certeza, era recíproco. Sim... Tão recíproco que recebi um telefonema dela para falarmos sobre o eclipse da lua. Falamos tudo, menos do eclipse. Depois desse dia, ficou tudo esclarecido sobre o ex-namorado. Marcamos cinemas, onde até hoje rimos, pois não conseguimos lembrar os nomes dos filmes. Confirmado, o cupido flechou as duas. Tinha que montar um consultório terapêutico e começar a trabalhar, a convite de uma prima médica, em Mossoró. Ao falar para ela desse assunto, foi afirmativa: vou com você. Não acreditei naquela decisão, pois fazia dois meses de tudo entre nós. E, chegou o feriado do dia 7 de Setembro. Ela veio com seu irmão e uma turma para conhecer a fazenda da minha família. Exatamente, no dia 10 de setembro de 1989 dei o primeiro beijo roubado e desejado, na varanda da casa grande, deitadas numa rede, sob uma lua linda e cheia. Confirmamos o que já sabíamos, o amor era presente e não podíamos ficar separadas. Um mês depois desse momento, ela veio morar comigo e começamos a trabalhar juntas.
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Glaryanne Queiroz
Trocamos nossas juras de amor, amizade, fidelidade e companheirismo, na pobreza e na riqueza, na saúde e na doença, na tristeza e na alegria. Ao contrário de algumas afirmações, existe alma gêmea e nosso amor foi sim, à primeira vista. E o melhor de tudo foi a mudança ‘da água para o vinho’ nas nossas vidas. Esse ano faremos 28 anos de amor e união. Fomos o primeiro caso no Fórum de Mossoró, que entrou com um pedido da legalização da união estável como uma família em 2008 - batalha essa vencida depois de várias passagens de discriminação e preconceitos em 2011 e casamos oficialmente no 2º Cartório de Mossoró, no dia 21 de junho de 2013, depois que o STF – Superior Tribunal Federal - legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O amor não tem religião, cor, sexo, dinheiro, idade, etc. O amor é simplesmente AMOR. “Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor, valerá”. Ana Você é tão linda para mim, como uma gota no orvalho. Um amanhecer no deserto, o anoitecer na praia. Ter teu coração é a fortaleza do meu ser, A força de uma heroína, o desejo e o prazer. Vejo o céu com nuvens de brinquedos, Sinto as ondas do mar me acariciando e o vento me trazendo o lazer. A certeza da tua beleza é o caminho da minha calma. A certeza do teu amor é a calmaria da minha alma. Esqueço-me das palavras jogadas janela afora, lembro somente de flores. Você é a preocupação que quero ter e o meu bem querer. Meu tempo é feito de benção, de luz, de amor e de prazer.
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Jefferson Fernandes
Gumercília Pereira Paiva Filha, mãe, cirurgiã-dentista especializada em estética, sonhadora, guerreira e humana. Nascida em Marcelino Vieira, no dia 31 de maio, reside em Mossoró. Filha de Décio Pereira e Arli Paiva, tem cinco irmãos: Ellen, Débora, Alcebiades e César. Mãe coruja de Igor, Ingrid e Gabriel. Artista e artesã por paixão. Amante de viagens, música e família.
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Gumercília Paiva
Relicário
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aí do interior com oito anos de idade e em Mossoró vim morar, com todos os sonhos empacotados e os familiares ao meu lado, em busca de qualidade de vida. Começo dizendo que em colégio público fomos estudar,
mas com perseverança e trabalho duro dos meus pais, tivemos a oportunidade de mudar. Sou grata aos ensinamentos das freiras do Colégio Sagrado Coração de Maria, que ensinaram a rezar e com muita disciplina me ajudaram a melhorar. Como uma das filhas mais velhas, sentia-me na obrigação de ser exemplar, mesmo jovem sempre gostei de me destacar. Era uma das melhores alunas e com notas não precisei me preocupar. Desde criança sempre sonhei em ser dentista. Corri atrás desse objetivo com todas as forças, mas nunca deixei de ser artista. Dom herdado da minha mãe que, com talento e humildade, deu-me acolhimento. Uma mulher guerreira e trabalhadora e cheia de alegria, criou cinco filhos com muita maestria. A vida para nossa família nunca foi fácil, mas eu tinha um objetivo que era maior do que meus obstáculos. Com catorze anos apostei em mim ao me mudar para Natal. Tive a oportunidade de estudar no melhor colégio. Morava com mais seis primos estudantes, todos com o intuito de conseguir ser alguém na vida. Mesmo que para isso, às vezes, acumulavam-se algumas dívidas. Vivi longe dos meus pais e mais próxima dos meus medos. Mas – para realizar grandes coisas, precisamos sonhar do mesmo modo que agir – isso aprendi cedo. Não demorou para ser aprovada no vestibular, mais uma conquista na minha vida fui alcançar. Estudei quatro anos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Gumercília Paiva
enquanto mantive um relacionamento intermunicipal. Naquela época a comunicação era por cartas e ainda consigo lembrar o frio na barriga que dava esperar chegar. Formei-me aos vinte e um anos e precisei colar grau adiantado, pois havia passado no mesmo mês para um concurso do estado. Apesar da minha idade, estudar sempre foi minha prioridade. Embora estivesse empregada, não me contentei em ser apenas concursada. A minha aspiração era maior, agregar à minha cidade um atendimento de qualidade. Então resolvi apostar em mim novamente, e montar meu pequeno consultório. Com esforço e pouco reconhecimento comecei a ter meus primeiros atendimentos. Mas tudo aquilo ainda era pouco. Eu queria ter mais do que pacientes, ter amigos. Ser mais do que suficiente, ser necessária. Tratar mais do que boca, tratar doenças. Ver mais do que dente, enxergar essências. Prestar mais do que serviço, dar assistência. “Faça o que você ama e nunca terá que trabalhar” – com o tempo fui me aperfeiçoando e aos meus pacientes agradando. Deus me concedeu o dom de devolver sorriso aos meus pacientes e assim tenho levado minha vida, em paz com minha própria mente. Nasci dentista por vocação, decoradora por paixão e artesã, de coração. Hoje, carrego nas costas uma grande vitória: ter sempre acreditado na minha história. E venho aqui dizer que nunca é demais depositar esperança, amor e carinho naquilo que você escolhe trilhar. Sou mulher, sou guerreira e sou realizada. Hoje posso dizer que minha meta foi alcançada. Mas não estou acomodada, agora que alcancei, vou fazer o que sempre fiz de melhor: estudarei e minha vitória duplicarei.
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Gumercília Paiva
Sou mulher, trabalhadora e conquistei o meu espaço. Caminho assim, com humildade mas vou deixando rastros. Decidi há muito tempo não ser sombra de alguém, portanto, meu fracasso ou sucesso não depende de ninguém. Sou mulher, mãe e feliz, vivo em função da minha família como sempre fiz. Vou voando alto e construindo meu próprio forte, mas nunca deixando para trás minha raiz. Não hesito em lembrar que nunca se tratou de ‘ser’ ou ‘ganhar’; Não se trata de dente, dentista ou paciente; Não se trata de idade, dom ou oportunidade; Não se trata de mostrar, ter ou invejar; Trata-se de acreditar, ter fé, investir e amar a si mesmo; Trata-se de cair, aprender, se doar e reconhecer os próprios erros; Trata-se de vencer, saber, reconhecer e agradecer; Trata-se de empatia, inclusão, empoderamento e paixão; Trata-se de ser solidário; Trata-se de amar. Portanto Viva. Descubra. Reinvente-se. Caia. Perca. Chore. Levante. Aprenda. Ensine. Ofereça. Ouça. Faça. Mude. Acredite. Reze. Agradeça. E, sobretudo Ame-se, Mulher.
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Célio Duarte
Heliana Lopes de Castro Santos Nasci em Mossoró, em 13 de setembro de 1980, e fui batizada com o nome Heliana Lopes de Castro Santos - o Frota herdei do meu esposo - mas desde que nasci todos me chamam de Lia. Adoro os dois nomes, porém me sinto mais Lia do que Heliana. Sou filha caçula do casal amado Hermes de Castro Santos Júnior e Antônia Maria Lopes de Castro Santos, irmã dos queridos Hermes Neto e Betinho Castro, tia das princesas Luanna Castro e Gabriela Castro e dos príncipes Mateus Castro, Vitor Castro e Bebeto Júnior, esposa do amado Emmanuel Paula da Frota e mãe do reizinho Artur Castro Frota e de outros que quiserem vir. Sou formada em Comunicação Social – com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Estadual da Paraíba. Sócia da agência Elevare Comunicação desde 2009 e continuo empreendendo.
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Lia Castro
Palavras que norteiam minha vida: coragem e fé
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ara falar sobre a pessoa que sou, minha personalidade, conquistas, derrotas e tudo o mais, preciso me reportar à infância. Foi lá onde tudo começou. Cresci arrodeada de muito amor e compreensão, mas não me faltaram puxões
de orelha e palmadas, que me encorajaram a seguir sempre adiante. Fui uma criança ativa, tinha aquela energia que parecia nunca acabar. Tirava a paciência dos meus pais, mas com muito amor e dedicação, eles faziam de tudo para que eu pudesse ser livre, para que eu pudesse ter uma infância feliz, porém sabiam que precisavam canalizar toda aquela energia para o bem. Não deve ter sido tarefa fácil. Nunca tivemos muitas posses, porém nunca nos faltou o essencial. Lembro que tínhamos um sítio e eu adorava aquilo tudo. Foi naquele lugar que eu e meus irmãos recebemos as melhores lições. Das lembranças mais presentes estão aqueles dias em que sentávamos todos juntos embaixo do maior cajueiro do sítio e retirávamos as castanhas dos cajus com uma linha náilon e um pauzinho amarrado em sua ponta. Era uma festa para ver quem enchia mais sacos de castanhas. Papai venderia a colheita e isso ajudaria no orçamento doméstico. Muitas vezes sofríamos picadas das abelhas que ficavam rodeando os cajus, mas esse era apenas um desafio a ser superado, para nós o que importava era o resultado final. Quando o dia chegava ao fim, como recompensa, torrávamos várias castanhas numa latinha. Que delícia. Posso sentir o cheiro e o gosto desse momento. Sem dúvidas, aprendemos diversas lições ali. Claro que naquele momento tudo não passava de diversão, mas lá na frente iria fazer toda a diferença.
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Lia Castro
O sítio nos proporcionou contato direto com a simplicidade, feznos entender que o menos é mais e que felicidade é simplesmente questão de ser e nunca de desistir. O tempo passou, a menina cresceu cada vez mais forte, destemida e cheia de sonhos. Aquilo que muitos enxergam como ‘loucura’ eu defino ‘coragem’. Aos quinze anos, eu já sonhava em trabalhar, queria ser independente, nunca gostei de pedir que me dessem as coisas, eu me sentia na obrigação de ajudar. Meus pais nunca me cobraram isso, pelo contrário, mas não me impediam de sonhar. Comecei a trabalhar aos dezessete anos, minha primeira experiência foi ajudar meu pai na escola que ele montou, o Anglo Colégio e Curso. Logo depois, no ano 2000, entrei para a faculdade e tive que ir embora para Campina Grande. Foi uma época de grandes sacrifícios, pois a escola que meu pai havia montado acabou não dando certo e ele perdeu tudo o que tinha investido. Sem dinheiro e sem ajuda, tivemos que nos reinventar. Quando recebi o resultado da minha aprovação no vestibular senti um misto de felicidade e preocupação. Meus pais não tinham dinheiro para me manter estudando fora, então como eu iria? Questionei-me. Naquele momento perguntei a papai se eu deveria ir fazer minha matrícula e ele, sem pestanejar, respondeu que sim. Mas, como? Indaguei-o. “Matricule-se, minha filha, e o resto Deus proverá”, respondeu. Matriculei-me e, no mesmo mês, consegui meu primeiro emprego de carteira assinada. Foi minha primeira grande lição sobre Fé. Trabalhei durante três anos na Loja Riachuelo, como vendedora de sapatos, no shopping. Depois, já no terceiro ano de faculdade, consegui um estágio remunerado na minha área e fui ser assessora de
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Lia Castro
imprensa da Coteminas, empresa do saudoso ex-vice-presidente da República, José Alencar, a quem tive a felicidade de conhecer quando em visita à fábrica. Mas o salário não pagava todas as despesas do mês, então, minha mãe passou a vender dindim e com isso conseguiu me ajudar. Ao me formar, em meados de 2004, era hora de voltar para casa. Não sabia o que me esperava, mas como sempre, Deus continua abrindo meus caminhos e coragem eu tinha de sobra. Corri atrás e acabei recebendo um convite para ser assessora da Unimed Mossoró, paralelo a isso, meu pai conseguia também um novo emprego. A fase mais difícil estava ficando para trás. Voltei para casa e comecei a construir meus caminhos. Sempre ao lado dos meus pais, seguimos adiante. Passei por experiências enriquecedoras, superei desafios, conquistei novos conhecimentos e amigos. Em 2009, abri meu primeiro negócio, a agência Elevare Comunicação, ao lado do meu esposo e sócio, Emmano. Mas antes disso percorri um longo caminho. O emprego na Unimed não durou muito, cerca de doze meses, a empresa passava por uma crise financeira na época e teve que enxugar o quadro de funcionários. Depois compreendi que foi apenas o tempo necessário para voltar para casa. Depois veio a experiência na TV Mossoró, que ajudei a montar do zero. Vi nascer uma empresa, participei da maior parte do processo. Em seguida, mudei totalmente, quis experimentar outro ramo de atividades e fui contratada por uma financeira que representava o banco BMG no estado, a Policred, onde fiquei quase dois anos. Nesta, aprendi sobre juros, finanças, empréstimos, abertura de novos mercados, contratos, entre outros assuntos da área
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Lia Castro
comercial. Foi nesse momento que plantei a semente para um futuro próximo, tive a certeza de que teria meu próprio negócio, mas para isso eu precisava voltar para a área da comunicação. Dessa forma, em meados de 2007, deixei a Policred e fui trabalhar na TCM. Apresentei o principal jornal daquela emissora por quase três anos. Conheci muitas pessoas, compartilhei experiências, ampliei minha rede de contatos, firmei-me como profissional e ganhei o respeito do público. Eu estava pronta para abrir o meu próprio negócio, mas ainda me faltava alguma coisa, algo me prendia e não me deixava seguir adiante com o projeto. Foi aí que, no final de 2008, a vida me mostrou o caminho. Como sempre, Deus ilumina meus passos e a coragem continuava ali. Foi quando conheci meu esposo, que como eu, era da área de comunicação. Foi amor a primeira vista. Ele é designer, eu comunicadora, era perfeito demais para ser verdade. Mas foi. O ano seguinte foi o divisor de água das nossas vidas. Em apenas três meses de namoro decidimos abrir a empresa e ir morar juntos. O casamento de papel passado, como diria minha avó, só aconteceu três anos depois. Começamos a Elevare em uma salinha pequena, com apenas dois computadores, um gelágua e nossa imensa vontade de fazer acontecer. E aconteceu. A Elevare cresceu, prosperou, aprendemos muito em todos esses anos. Sem dúvidas, esse foi e é o grande desafio profissional da minha vida, até aqui. No percurso, abrimos outros negócios, como a Divine Esmalteria e o portal de notícias Mossoró Hoje. Projetos que fiz nascer, mas que tive que deixar em outras mãos, pois o trabalho na Elevare me exigia muito tempo e, apesar da vontade de continuar empreendendo, não era
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Lia Castro
o momento. Mas me sinto feliz, criei projetos que estão indo super bem sob a coordenação de outras pessoas. Veio a famigerada crise brasileira e abalou nossas estruturas e a de muita gente. Mas, para quem tem coragem e fé, o melhor caminho é olhar para frente, o melhor sempre ainda estar por vir. O ano de 2016 foi de muitas transformações, um tempo que muitos preferem esquecer. Para mim, foi o ano mais importante, uma nova etapa se iniciava, recebi meu filho em meus braços e a partir de então tudo mudou novamente. Comecei a reescrever nossa história, agora com outro sentido. Novos projetos estão sendo desenvolvidos e ainda terei muitas linhas para contar. Mas vamos deixar para as próximas edições. Para os que estenderam a leitura até aqui, obrigada e uma benção: que não lhes falte fé, coragem e humildade para seguir sempre adiante. E lembre-se: você define os valores que quer para sua vida e as consequências virão do mesmo modo.
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Paulo Eduardo
Inalda Cabral Rocha A educadora Inalda Cabral Rocha nasceu em Pau dos Ferros, há noventa anos e chegou à Mossoró com a família, às vésperas de fazer oito anos de idade. Criou oito filhos na situação de desquitada. Foi secretária de educação de Mossoró e chefe do Dired – Diretoria Regional de Educação e Desporto.
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Inalda Cabral
Uma noite inesquecível
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ive doze filhos, tendo perdido quatro deles ainda meninos. Destes, quem viveu mais foi Luzia, que perdemos quando ela tinha cinco anos. Até hoje não tem um dia em que eu não a lembre. Luzia era a primogênita, tinha lúpus.
Naquele tempo não havia tratamento. Às vésperas de falecer, tinha momentos em que não aceitava a morte e outros em que aceitava e até combinava que, chegando ao céu, reservaria um lugar para mim e me aguardaria. Se viva fosse, esse ano faria setenta anos no dia de Santa Luzia. Criei seis filhas e dois filhos. Tenho sete netos e um bisneto. Graças a Deus tive o privilégio de criar meus filhos sem precisar incomodar ninguém, mesmo não estando tão presente na vida deles, pois trabalhava demais, mas contei com a colaboração de Antônia Batista, um anjo que me foi enviado, logo que casei. Em nossa casa éramos dez, contando eu, Antônia e os oito filhos. Somente eu era provedora da casa. Meus filhos foram criados num ambiente simples, sem luxo, com o conforto de um lar aonde não faltou comida. Para isso, eu dava três expedientes, em escolas públicas, correndo de uma escola para outra, a pé, num tempo em que não havia transporte público na cidade. Não sobrava tempo para vida social, muito pelo contrário. Nunca fui de sair com amigas para barzinhos, clubes sociais, eu mal tinha tempo de entrar em casa para me certificar que tudo estava bem. Meus filhos eram obedientes. Hoje, usufruo daquilo que plantei: filhos próximos e que não me faltam nunca, seja em presença física ou através da tecnologia, como telefone ou redes sociais. Por sinal, algumas pessoas perguntam se sou eu mesma que opero minhas redes sociais. Vou explicar: leio bastante,
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Inalda Cabral
é um hábito que adquiri desde cedo, então, vivo em meio a jornais e livros. Ainda hoje assino jornal e, quando sento à mesa, a leitura já me aguarda, com livros e jornais. Então, para alguém que lê bastante como eu, era natural que, com o advento da internet, eu entrasse para esse mundo maravilhoso, que acesso todo dia. Assisto vídeos no Youtube, tenho Facebook, Instagram e Whatsapp. Através deles, acompanho o dia a dia dos filhos, netos, do bisneto, dos sobrinhos e amigos. Quando viajam, vejo os passeios. Se estão por aqui e vão a festas, vejo o que postam, pois não vou a festas. No aniversário deles, posto fotos, parabenizo. Alguns, eu ligo. Quem opera é quem estiver por perto, filhos ou netos, pois tenho celular e tablet, que estão conectados com minhas redes sociais. O Whatsapp eu uso quando quero ligar para qualquer um deles ou amigos mais chegados, então, a ligação é feita pelo telefone do Whatsapp e posso vê-los, enquanto nos falamos. Ou então, recebo ligação deles, o que eu acho ótimo. Temos um grupo no Whatsapp, e à noite a gente faz uma conversa só, é como se estivéssemos na sala ou na calçada. Eu posto fotos antigas, dos filhos ou netos, de quando eram pequenos e isso é motivo de risadas e recordações no Whatsapp. Naturalmente que tudo isso me faz bem. Esse ano, na véspera do meu aniversário, meus filhos me fizeram uma surpresa. Um dia antes, aliás, na noite anterior ao meu aniversário, aos poucos foram chegando aqui em casa cada um com uma mochila. Entrava, sentava-se ao meu lado, diante da televisão ligada e, vime cercada de todos eles. As meninas sem os maridos e filhos e os meninos, sem as esposas e filhos. Não entendi nada. Então, desligaram a televisão, os telefones e disseram que vieram dormir comigo, mas antes, bateríamos um longo papo para relembrar o tempo em que todos eram solteiros e ainda moravam comigo. Caímos na risada e
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Inalda Cabral
posso garantir que foi um dos melhores momentos da minha vida, não somente da velhice. Foi muito interessante porque fiquei calada, só ouvindo os relatos. Resolveram contar fatos desde a infância, as artes que faziam, as brincadeiras nos colégios, a adolescência, depois os namoros, casamentos, enfim. Confesso que fiquei sabendo de muita coisa que aconteceu e que não tomei conhecimento na época. Meus filhos, Rocha e Canindé, sempre foram muito unidos, nunca vi dois irmãos tão unidos. Até hoje continuam amigos. Eu não sei o que tanto eles conversam. As meninas lembraram coisas interessantes, inclusive uma delas trouxe um bilhete que havia recebido de Rocha, há mais de trinta anos. Bom, aquela noite foi inesquecível. Quando deu onze da noite, eu já estava cochilando, então, resolvemos dormir. A casa é grande, coube todo mundo. Alguém fez a conta e disse que fazia trinta e seis anos que não dormíamos juntos, que foi o tempo em que a mais velha se casou e saiu de casa. Durante o lanche, antes de dormir, ligaram os celulares. Havia recado dos esposos, esposas e os filhos que estavam curiosos para saber do encontro e pediam fotos. Ao amanhecer o dia, cada um veio me cumprimentar na cama. Rimos bastante da situação. Eu estava tão encantada com a noite anterior que não tive condições de levantar para tomar café com eles, mas do quarto eu ouvia o quanto estavam entusiasmados. Pareciam garotos tomando café antes de ir para a escola. Aconselho os filhos a se organizarem e promoverem uma noite de surpresa com seus pais. Foi muita emoção que, segundo eles, vão repetir todo ano, na véspera do meu aniversário. Já estou aguardando janeiro do ano que vem.
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Célio Duarte
Iris Menezes da Silva Natural de Mossoró, filha de Francisco de Assis Menezes e Eudes Laura Menezes da Silva. Mãe de Igor Menezes e Débora Menezes. Iniciou estudos no Colégio Dom Bosco e Colégio Sagrado Coração de Maria, concluindo no Colégio da Imaculada Conceição, em Fortaleza, no vizinho estado do Ceará. Aprovada em vestibular para Medicina, concluiu o curso na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Residiu por dois anos em Brasília, após aprovação em concurso para Residência Médica, em Ginecologia e Obstetrícia, no Hospital Regional da Asa Sul, pertencente a Fundação Hospitalar do Distrito Federal. Exerce suas atividades profissionais na Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, clínicas e hospitais privados, no consultório no Edifício Medical Center, e na Clínica Odete Rosado.
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Iris Menezes
Olha pro céu junho, seu lindo
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uando maio estava apenas começando, eu já estava naquela ansiedade pois, estava se aproximando o mês de junho, o meu querido mês. Claro que é o mês do meu aniversário e, independente disso, é o mês mais animado
do ano, especialmente para nós, nordestinos da gema. Sempre vêm à tona, as lembranças felizes da infância, quando as festividades eram vividas com muita intensidade. Fogueiras defronte às casas, fogos, bandeirinhas, muitas brincadeiras, roupas coloridas e muitas comidas gostosas, feitas em casa. Bolo de milho, pamonha, canjica, pé de moleque, milho assado e cozido, quanta gostosura. A casa enchia-se de agregados, que sempre apareciam nessas ocasiões e eu adorava observar a preparação das comidas, debulhar o milho e principalmente esperar por alguma panela com aquele restinho de canjica que sobrava. Soltar fogos ao redor da fogueira era outro momento muito esperado nas noites juninas e a criançada fazia a festa. Traques, chumbinhos, cobrinhas e estrelinhas estavam entre os preferidos. As crianças nas calçadas disputavam espaço, cada uma querendo mostrar os seus fogos e, muitas vezes nossos pais nos levavam para a residência de amigos ou familiares mais afastados do centro, onde podíamos soltar fogos à vontade e, às vezes, fazia-se aquele ritual de apadrinhamento de alguém ao redor da fogueira. Nas comemorações do meu aniversário, o bolo sempre tinha o formato de um balão colorido e eu tenho muitas fotos, muito feliz, ao lado do meu ‘balão’ de aniversário. Nos colégios essas datas sempre foram bem comemoradas, e as famosas quadrilhas e outras danças e brincadeiras eram muito esperadas, tanto pelas crianças,
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Iris Menezes
como também pelos adolescentes. As músicas juninas sempre muito bonitas e alegres, tocadas pelos nossos melhores forrozeiros, alegravam essas festas. Entre as melhores destacava-se: “Olha pro céu meu amor, vê como ele tá lindo”. O marcador da quadrilha era fundamental. Quem lembra dessas chamadas “anarrié, alavantu, olha a cobra, vamos nos preparar para a grande roda” e por aí vai. Eu sempre gostava de participar desses festejos, ao lado da minha família e das amigas. Quando vieram os filhos, procurei proporcionar a eles momentos especiais como os que vivi na minha infância, resgatando pelo menos em parte, alguns símbolos das festas juninas. Sempre acendi fogueira em frente de minha casa na véspera dos dias reservados aos santos do mês, Santo Antonio, São João e São Pedro, ajudando-os a soltar os fogos, saboreando as comidas típicas e também participando das comemorações escolares, sempre vestidos a caráter, camisa quadriculada, chapéu e bigode o menino - e trancinhas, vestidos coloridos e pintinhas pretas nas bochechas - a menina.
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“Pés, para que os quero, se tenho asas para voar?” Frida Kahlo
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Célio Duarte
Irlanda Maria Carlos de Holanda Noronha Natural de Almino Afonso (RN), chegou em Mossoró (RN) no dia 13/12/1969, com as benções de Santa Luzia, onde reside até hoje, foi aluna do Colégio Sagrado Coração de Maria, concluiu o Ensino Médio no Centro Integrado Professor Elizeu Viana - CEIPEV, sendo formada no Curso Técnico Agrícola, licenciada em Educação Física pela UERN - Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Funcionária pública estadual, atualmente trabalha na Escola Estadual Jerônimo Rosado.
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Irlanda Maria
Casada com José Morais de Noronha, tiveram dois filhos: Danilo Vinicius Carlos de Noronha e Daniel Victor Carlos de Noronha. Em 2005, tornou-se voluntária da AAPCMR - Associação de Apoio aos Portadores de Câncer de Mossoró e Região. Em 2007, foi uma das fundadoras do Grupo de Apoio “Toque de Mama”, da Liga Mossoroense de Estudos e Combate ao Câncer e voluntária da MamaClinic, do mastologista Dr. Epaminondas de Medeiros Jácome, na luta da prevenção do câncer de mama, através do diagnóstico precoce. No ano de 2012, teve seu ingresso como membro efetivo do Lions Clube Mossoró Centro, atualmente ocupa da função de Presidente do maior clube de serviços do mundo, para o ano leonístico 2016/2017.
Do cinza ao arco-íris
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pisódios de superação acontecem todos os dias e relembrá-los me trazem mais crescimento espiritual e maior gratidão a Deus. Em meus relatos, faço referência a problemas superados que trouxeram grandes lições e
uma enorme vontade de viver, e que sem eles eu não seria o que hoje sou. Sempre tive o sonho de escrever sobre uma incrível mulher, com que tive o prazer de conviver e conhecê-la tão bem. Lembro que lentamente e quase sem perceber, ela foi se tornando uma pessoa triste, frágil e impotente diante da vida, sem vontades, sem forças, sem projetos, com a autoestima baixíssima... entre outros sintomas. Para ela, o despertar dos dias pareciam
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Irlanda Maria
pesadelos, e os deitares de todas as noites eram verdadeiros refúgios, tudo era cinza. Não deu outra, foi diagnosticada com depressão. Todos os cuidados foram tomados: psiquiatra, medicamentos, sessões de psicoterapia e muito amor do maridão e dos filhos, cuidados que a priori pareciam vãos. Ela relata que escutava uma voz no seu subconsciente que dizia: “Não temas, porque eu sou contigo”. Essa voz a despertou e a fez reconhecer que realmente, ela não estava só! E quando imaginava que as coisas não poderiam piorar, eis que em um autoexame de rotina ela se surpreendeu. Certo dia, ao apalpar sua mama esquerda, notou a presença de um nódulo, o que, posteriormente, através de exames, foi diagnosticado como um câncer de mama. Numa época em que eram raros os casos, época em que as pessoas não tinham nem coragem de pronunciar o nome “câncer”, e que, em seu lugar, falavam “aquela doença” ou somente “CA”. Houve casos que as pessoas nem a visitaram, por simples desinformação, achando que era uma doença contagiosa. Mas por outro lado, mais uma vez, ela foi amada, apoiada e abraçada pelo seu cônjuge, seus filhos e familiares mais próximos. Você nunca sabe a força que tem, até que sua única alternativa seja ser forte. Naquele momento de profunda tristeza e dor, uma força sobrenatural surgiu em sua vida, vinda de um Deus que não abandona seus filhos, e que a acolheu em seus braços. A única coisa que via em sua frente era um túnel de fogo, e sua única alternativa era ultrapassá-lo, pois ela teria que seguir em frente. Foram
momentos
dolorosos,
passou
por
cirurgias,
hormonioterapias, sessões de quimioterapias e radioterapias, entre outros procedimentos. Passar por essa etapa não foi fácil,
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Irlanda Maria
mas foi possível, e o melhor de tudo isso é perceber ela se tornou, ou se descobriu uma pessoa melhor, mais forte e corajosa, com uma autoestima elevadíssima. Uma vontade louca de viver tomou conta daquela mulher. De repente, como em um passe de mágica, a vitória dela foi e continua sendo motivo de celebração diária, um colorido especial tomou conta daquela vida. O nascer do sol de cada dia é motivo de muita alegria, pela oportunidade que lhe é dada de viver mais um dia. Desde então, só alegria e gratidão brotaram do coração dessa mulher.
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Ricardo Lopes
Izabel Maria Montenegro Diniz Macedo Filha primogênita de João Diniz Fernandez e Izabel Maria Nóbrega Montenegro Diniz, (Neta), nasceu em Caicó, na região do Seridó, em 7 de outubro de 1962. Na adolescência foi morar em Natal, com a família.
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Izabel Macedo
A força vem do bando
M
eu nome foi escolhido por meu pai, é o mesmo nome de minha mãe, que é a junção dos nomes das avós, Izabel - avó materna de minha mãe - e Maria - avó paterna de minha mãe. Tenho oito irmãos:
Hylarina, Adília, Ana, João, Joaquim, Alexandre, Cesar e Nathália. A minha família é uma típica família seridoense, espalhada pelo Brasil, mas o coração na terra de Sant’Ana, uma família grande como tantas outras de origem rural e que tal qual as aves migratórias, partem, mas retornam aos ninhos de tempos em tempos, para se fortalecerem e manterem vivas as tradições e seus laços fraternos, sendo o mês de julho o momento do reencontro da família. Ainda criança, comecei a aprender artes manuais - pintar, bordar, fazer crochê e tricô, costurar - aos doze anos eu já costurava algumas peças cortadas por minha mãe. Aos dezesseis, fazia meus próprios vestidos. Em 1975, saímos de Caicó para morar em Natal, onde meus pais iriam concluir o curso de Administração, na UFRN, e também onde eles viam melhores condições de estudo para os filhos, imagine as dificuldades enfrentadas, principalmente financeiras para um casal de professores com um monte de filhos, então éramos cobrados a estudar para termos um futuro melhor. O ano de 1982 foi repleto de mudanças em minha vida, iniciei a faculdade de Educação Artística – habilitação em Artes Plásticas - casei com Joel e nossa filha Izabel Maria - Bellinha - nasceu. Foi um período de grande amadurecimento e de reformulação dos planos e objetivos para o futuro. A partir deste ano a ‘minha vida’ se transforma, deixa de
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Izabel Macedo
ser ‘uma’, passamos a ser três vidas, e nos tornamos apenas ‘um’, um foco, um objetivo, um sonho, uma meta, o plural se torna único. Joel começa a trabalhar na Petrobras e inicia o curso de Direito, na UFRN. Em 1984, nasce nossa segunda filha, Lucy, e em 1985, nasce Mônica. Em 1992, mudamos para Mossoró, nunca tinha vindo antes a Mossoró, chegamos aqui com três filhas - com nove, sete e seis anos - a gata Lili e a cachorra Kyka. Foi preciso aprendermos a conviver sem o apoio dos pais, irmãos, tios, primos e sobrinhos. Alguns sonhos ficaram mais distantes, como por exemplo, o meu de se tornar arquiteta. Mas aproveitamos as adversidades para crescermos, para estudar e trabalhar. Quando meu marido, em 1995, saiu da Petrobras, pediu demissão, fomos chamados de doidos, malucos, até irresponsáveis, porque tínhamos filhas e estávamos deixando a segurança de uma super empresa para nos aventurar em ‘sonhos profissionais’, ele seria advogado e eu, um dia seria arquiteta. O escritório de advocacia, o J. Macedo Advogados começa atuando em várias cidades, então a estrada era o nosso dia a dia, muitas vezes, precisávamos levar as meninas conosco, porque não sabíamos a hora que iríamos retornar, e não tínhamos como deixá-las em casa sozinhas. E era, exatamente nestes momentos, que mostrávamos a elas a necessidade de fazer mais, de se esforçar mais, de se dedicar mais, para atingir objetivos que seriam totalmente inatingíveis com atitudes acomodadas. E junto com nossas filhas continuamos sempre compartilhando nossas conquistas, os escorregos, as levantadas, fracassos e vitórias. Desenvolvemos habilidades para sonhar mais alto, para que não desistíssemos, para continuarmos a persistir, sempre. Neste percurso, nossa família aumentou, nasceu noss filho João Daniel, em 1999, e Ana Maria em 2002. Com eles ampliamos as realizações e também os desafios. Nossas filhas mais velhas estão casadas, Bellinha
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Izabel Macedo
e Ancelis, Lucy e Adriano, Mônica e João Paulo. Atualmente a família Diniz Macedo tem catorze membros, temos quatro netos, e a quarta Izabel Maria - filha de Bellinha - que chamamos de Bebel, como diz padre Manoel Guimarães, esta família tem uma dinastia de ‘Izabeis’. Temos também Enzo, Paulinho e Íris. Hoje, estou me acostumando a me apresentar como ‘arquiteta”, pois durante décadas ser arquiteta era o sonho que se tornava mais longe e difícil de ser concretizado. Entrei na universidade aos quarenta e sete anos de idade, na primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Potiguar – UnP, no Campus Mossoró, conclui a faculdade em 2014, recebendo a Laurea Estudantil, como a aluna com maior rendimento acadêmico da turma. Gosto muito de estudar, então em busca de aprender mais sobre meio ambiente, sustentabilidade, arquitetura bioclimática e as abordagens dentro dos conceitos e práticas adotadas na Europa fui estudar na cidade de Porto, Portugal, na Universidade Fernando Pessoa, onde estou prestes a concluir o mestrado em Engenharia e Gestão Ambiental. Ao final do mestrado estarei iniciando na Universidade do Minho, na cidade de Guimarães, Portugal, o doutorado em Construções Sustentáveis. Concluímos este ano o nosso escritório Diniz Macedo, unindo advocacia e arquitetura, onde temos a certeza que sonhar com pé no chão e acima de tudo FÉ em DEUS, tudo é possível. Um sonho que mais nos mantinha focados nas metas, nos objetivos era o de viajar, mas, viajar para longe, e estamos conseguindo, sempre estamos em ‘bando’, seja em Paris, Orlando, Madri, Nova York, Lisboa, Buenos Aires, Nápoles, Messina, Gênova, Marselha, Barcelona, Pittsburg, Tunis, e temos uma lista enorme... Sonho gigante...
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Gildo Bento
Izaíra Thalita da Silva Lima Jornalista, professora, pesquisadora e mestre em Ciências Sociais e Humanas, leitora incansável, meio zen e apaixonada pela própria vida! É assim que Izaíra Thalita se define hoje, aos 38 anos. É mãe de Áurea Letícia da Silva Medeiros (13 anos) e Pedro Victor da Silva Medeiros (6 anos), filhos e companheiros de alma nessa vida, seus amores e motivação para alcançar novos projetos, que sempre estão surgindo. Profissionalmente atua como jornalista há vinte anos, tendo realizado também trabalhos em assessora de comunicação, mídias sociais e como professora de graduação e pósgraduações. Tem se dedicado a realizar pesquisas que tratem da Cultura e
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Izaíra Thalita
do Ativismo Indígena na Internet. É autora de duas publicações autorais, entre elas, o livro-reportagem Um Olhar Sobre o Idoso – Percepções sobre a Velhice em Mossoró (publicado em 2008 pela Coleção Mossoroense) e integra a Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM) desde a sua fundação, ocupando a cadeira número 08, cuja patrona escolhida é a jornalista e poetisa Miriam Coeli. Se pudesse, resumiria tudo o que realiza como atividade profissional à importância que dá às palavras: “Gosto mesmo é de lidar com as palavras. Reordená-las, resignificar com elas a minha vida e a dos outros com aquilo que é dito e lido nos mais diferentes sentidos, nas diferentes linguagens e nas suas mais variadas formas”.
O vaso kintsukuroi “O que você busca, vem buscando por você” (Sufi Rumi).
J
á não era mais problema algum abandonar antigos hábitos e refazer a vida todos os dias. Ao olhar-se no espelho se via de uma outra forma: não era a mesma pessoa, não se vestia como antes, já nem se lembrava das histórias de dor do passado.
Primeiro porque pensava que tinha fé, depois se viu descrente de
quase tudo afinal, tanta dor ao redor não poderia haver na presença de Deus. Até que numa aula de um seminário sobre Humanidades ouviu uma professora falar sobre a física quântica e de como toda a energia que circula em torno de todos os seres vivos e abstratos, são invisíveis, mas promovem grandes transformações. Sentiu o coração acelerar e compreendeu que Deus existe, mas não como ela pensava que era antes, um Deus punitivo e vingativo. Deus era energia pura, viva, sentida e presente em tudo o que há. Saiu da sala e sentiu-se mudada com tudo o que havia escutado ali.
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Izaíra Thalita
“Mude. Mas comece devagar porque a direção é mais importante que a velocidade” lhe disse a foto em poesia estampada com os olhos de Clarice, a poetiza das mais duras e belas verdades da alma feminina. Haviam sinais por toda a parte. Mude, mulher! Nos muros, nas notícias, nos filmes que assistia, nas expressões de gente que passava pela ruas, no palhaço que insiste em ser a quebra da rotina dos outros no trânsito. Então, percebeu-se mais leve dia após dia. Já não sentia necessidade de ter. “Porque não fazer a viagem dos sonhos, porque não trabalhar menos? Porque não ensinar aos filhos o prazer contido na simplicidade do afeto na presença e não dos brinquedos, das roupas de marca?”, pensava. Era preciso recomeçar de verdade. Ela não lembra quando deu o start disso tudo, mas começou a fazer. E se lembra exatamente do dia que sentiu uma paz tão plena, como nunca antes havia sentido. Sentou-se na cadeira azul que ficava de frente para um pequeno jardim florido, com uma xícara de xá na mão e em silêncio, agradeceu por toda a dor a que havia passado, pois tudo a havia levado até aquele momento, para aquelas escolhas que agora eram a sua vida presente. E não estava mais rica, não tinha mais dinheiro, não estava nos padrões de beleza antes tão perseguidos, nem tinha ‘um amor’ do lado. Mas tinha a si mesma e, nossa: como esse encontro havia demorado. Estava orgulhosa de si. Ela havia superado, havia se recuperado e se sentiu como um vaso Kintsukuroi. Aqueles vasos de porcelana em que os chineses remendam após quebrados, com puro ouro, cujas rachaduras o fazem ainda mais valiosos. “Era isso! Um vaso rachado e consertado com ouro”.
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Izaíra Thalita
Ela havia feito as pazes com Deus e encontrou-se em si mesma. Estava tudo bem, tudo perfeito na imperfeição. A diferença é que agora ela percebia tudo o que se passava ao seu redor como pequenos milagres.
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Paulo Eduardo
Jarda Jacinta Nutricionista, graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Jarda Jacinta tem diversas especialidades em Ciências de Alimentação, pela Universidade do Estado do Ceará - UECE; em Equipes Gestoras e Serviços de Saúde, pela UFRN; em Nutrição Clínica, pela UGF – Universidade Gama Filho e é mestranda em Saúde Pública.
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Jarda Jacinta
S
ou nascida no Seridó, dia 3 de junho, mês da alegria do nordestino, onde comemoramos nosso São João. Talvez seja isso que me faça ser espontânea, como me definiu um amigo querido, Davi, em um debate com minhas primas, Gina
e Jaqueline, onde eu dizia ser tímida e Gina dizia: “Quando o tímido souber disso...” e nosso amigo saía em minha defesa: ”Jarda é tímida, mas é espontânea”. Essa foi uma das melhores definições que gostei de ouvir, pois era a mais pura verdade. Sou católica, acredito em Deus como um todo para todas as religiões, dizendo isso, vou a uma delas, onde se diz que escolhemos o lugar onde vamos nascer, viver, e eu não poderia ter escolhido melhor que meus queridos avós, saudosos Joventino Pereira de Araújo e Auleta Galvão Pereira. Eles me amaram e fizeram de mim a pessoa determinada que sou. Lembro quando voinho dizia: “Quando essa menina quer uma coisa, nem Deus com um gancho”. Eles também me presentearam com duas pessoas maravilhosas que cuidaram de mim, Etelvina, nossa Teté; e Iracema, a Neném. Teté, por sinal, cuidou de minhas filhas, o que possibilitou minhas ausências em cursos, congressos, especializações, mestrado, para ir em busca dos meus sonhos profissionais. Então, vejam como é difícil, já pulei a infância, adolescência e cheguei nas filhas, Helena e Eloah, nascidas de parto normal, que tenho suas chegadas como dois marcos importantes na minha vida. Muito diferentes, mas eu não poderia querer de outra forma, cada uma tem um pedacinho de mim, que olho e vejo em cada gesto e atitude. Voltando a infância. Foi ótima, onde tenho amigos até hoje, em nome de todos, cito minha Aicia – Everilce - irmã, amiga, companheira até os dias atuais, meu norte. Uma autobiografia minha não poderia existir sem ela. Um dia fui encaminhada com urgência para Natal com uma
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Jarda Jacinta
grande crise de abdômen agudo: uma forte dor, que piora com o passar das horas. Pois bem, você ia estar de plantão em outra cidade, eu lhe liguei à noite e disse que você não podia me deixar sozinha. Quando chego em Natal, no hospital, você é a primeira pessoa que vejo. O tempo do colégio foi ótimo, fizemos muitas coisas boas de lembrar. Os veraneios em Genipabu e Redinha, as noites de lua cheia, o violão tocado pelas primas, Maria Altiva e Ann, as batucadas e quando cito-as, não dá pra deixar de fora o nosso querido Eraldo, que com sua alegria fazia as noites passarem tão rápido. Um tempo que as músicas que cantávamos e curtíamos eram a nossa MPB: Chico Buarque, Toquinho, Vinícius de Morais, João Bosco, Caetano, Martinho da Vila e tantos outros. Temos que respeitar momentos de perdas, eu tive um grande, meu avô partiu quando eu tinha dezesseis anos. Foi difícil, mas os ensinamentos dele me deram suporte para superar aquela fase. Aos dezessete anos estava na faculdade, achando que podia mudar o mundo e na verdade podemos dar a nossa contribuição. Participando dos eventos políticos universitários, centro acadêmico, Diretório Central dos Estudantes, onde tive oportunidade de me orientar politicamente e me posicionar contra as arbitrariedades cometidas contra as universidades públicas. Estudávamos a história da política e discutíamos nos finais de semana. Falando assim, parece que não sobra nada de bom, mas tudo era maravilhoso. Mossoró, onde estou metade de minha vida, aqui escrevi e escrevo minha história. Cidade que me acolheu, onde nasceu minha segunda filha, Eloah, trazida ao mudo com a ajuda da minha querida doutora Iris Menezes, na Maternidade Santa Luzia, onde também tive o prazer de trabalhar com grandes profissionais que
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Jarda Jacinta
homenageio através do saudoso grande doutor Leodécio Fernandes Néo. Foi uma época tranquila onde meu amor pelo aleitamento materno se consolidou, pois ele nasceu quando amamentei a primeira filha, Helena. Amigos nessa cidade me adotaram de verdade, tenho famílias que me fazem sentir em casa: a família Azevedo, em nome do querido Expedito Bolão, a família Santos Lins, em nome da minha Neuza, a família Formiga em nome da querida Vanderli, e a família Soares em nome da minha amiga Ednê. Adoro Mossoró. No amor considero que fui feliz, sou feliz, pois segundo Paulo Coelho - gosto de algumas coisas escritas por ele - podemos passar pela vida sem encontrar a nossa metade uma única vez ou podemos encontrá-la mais de uma vez, eu sou feliz. E digo a você que está lendo, não deixe sua metade escapar, segure com firmeza, embarque nesse amor, pois do contrário irá se arrepender pelo resto de sua vida. Ao meu companheiro, José Janildo Belmont, pai afetuoso e paciente, que também me possibilitou seguir meus sonhos, ocupando minhas ausências com nossas filhas, muito obrigada. Mas todos esperam aquele final. Gosta de quê, faz o quê? Vamos lá, adoro ler, a música me faz viajar, o cinema faz parte da minha vida, mas estudar, buscar o conhecimento científico, isso me faz querer ser melhor a cada dia, para os meus pacientes, para a profissão que amo e abracei para minha vida. É com ética e com os conhecimentos científicos que temos as ferramentas para as mudanças que podemos oferecer ao próximo.
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Cedida
Jeane Ferreira de Souza Pereira Natural de Mossoró, filha de Jaime Ferreira de Souza e Maria Neuza Freitas de Souza. Casada com Sérgio Pereira, é mãe de Bianca Souza Pereira. Jeane é graduada em Administração de Empresas, é artesã e reside em Chicago, USA.
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Jeane Ferreira
Em busca de um ventre
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comemoração de um ano - Venho me dando conta que o meu sonho de ser mãe de uma princesa, já é uma grande e linda realidade. Demorei a entender. Porque foram muitas as vezes que pensei que era algo
que não estaria ao meu alcance. Ainda assim posso me emocionar lembrando de todo o nosso começo e a fé que tivemos em Deus. Cada tratamento, cada negativo e principalmente a longa busca de um ventre para embalar a nossa filha por apenas trinta e oito semanas. Porque esse foi o tempo que Deus determinou. O nosso forninho. Assim a chamamos carinhosamente. Não foi fácil, tão pouco foi impossível essa gestação que para nós durou cinco anos. Posso fechar meus olhos e deixar que as lágrimas banhem meu sorriso enquanto passeio em pensamento por todo esse processo. Foi longo. Foi cansativo. A busca por um ventre, o aprender a acreditar e confiar. Muitas pessoas me questionaram: - Você não sente ciúmes ou até mesmo um vazio em vê que sua filha não está aqui? Quem disse isso a você? Eu respondia com forças. A minha filha cresce em meu coração, eu a sinto em todos os minutos de nossa gestação porque ela já é o meu bem maior. Sabe, ainda criança aprendi que palavras com segurança calam aos que pouco conhecem a vida. Hoje escuto e vejo minha filha em meus braços me olhando como se entendesse tudo. Cada um de seus sorrisos tem um significado pra mim. Parece que já segura minhas lágrimas dizendo em silêncio: “Mãe, eu cheguei”. Outras vezes me dizem um sorriso: “Mãe, como é maravilhoso seu colo”. Cada sorriso, cada
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Jeane Ferreira
chorinho, cada birra e tudo pra mim. Bianca já existia desde os primeiros passos de nossa busca como trazê-la ao mundo. Deus me surpreendeu nas mil vezes que caí e quase desisti, foi ali que Ele me pediu calma e ressaltou que ia valer a pena. Valeu. Tanto que eu faria tudo novamente para o segundo filho. Porque tenho dentro de mim o amor ao próximo e sei com humildade que sozinha não seria possível me tornar verdadeiramente mãe. Eu não tinha ideia de como ser mãe, por mais que a teoria me mostrasse que era difícil ou fácil, pra mim seria diferente porque sou uma mãe com dificuldades físicas, com limitações. Uma mãe especial. Porém, com muita maturidade para saber que agora era preciso traçar o meu plano para cuidar da minha filha. Tem sido fácil, tem sido planejado. Há um ano eu estava segurando a mão do nosso ventre que gerou a minha filha, vendo o nascimento de parto normal, foi então que entendi o que é amar ao próximo como a si mesmo, porque ela estava ali sentindo e se contorcendo de dores para trazer Bianca ao mundo. Sentindo as dores que por natureza eu deveria sentir para gerar. Bianca nasceu e veio para os meus braços. Cortei o cordão umbilical delas. Não desabei como imaginei, ali nasci como mulher e como mãe. Nasci como ser humano. Mas, veio o susto, a minha pequena parou de respirar por alguns minutos e em meus braços, mas uma vez Deus e a Virgem Maria nos mostrando sua misericórdia e o que é de fato confiar. Bianca não nos deixou. Voltou a me olhar e a sorrir. Sou de uma família grande, de nove irmãos, e eu sendo a caçula comemorei junto com eles o nascimento de cada um de seus filhos, eu era a tia babona e em silêncio imaginava que cada um
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Jeane Ferreira
deles fossem meus. E eram. Imaginávamos e sorríamos em pensar de quando fosse a minha vez. Um ano se passou, a minha vez chegou, agora me vejo ensinando a minha filha seus primeiros passos e a escuto me chamar de Mamy. A emoção de entrar na casa de meus pais com a minha filha no colo não teve explicação, assim que completou seis meses de vida corremos para o Brasil para o batizado, para a alegria do seu primeiro sacramento, o inicio de sua vida da cristã. O amor de ver nossa família sentar à mesa para comemorarmos juntos o seu batismo e a minha vez de me tornar mãe. Não sei, talvez eu não possa explicar bem, mas a minha admiração cresce pela família que meus pais construíram. Agora com meus pais apenas no coração, ganhar o abraço de cada irmão é sentir o alicerce de ter uma família, o mesmo amor que quero passar para a minha filha. Um ano. De emoções e de boas surpresas. Um ano de transformação. Novamente com o meu bem mais precioso fomos comemorar com a família o primeiro ano de nossa filha, de nossa dádiva, de nossa vida. Deus nos diz diariamente para confiar e esperar. Realmente são palavras simples e parece que nunca nada irá mudar e acontecer em nossa vida. Eu esperei por dezesseis anos a nossa filha, esperei em Cristo e hoje não existe uma única noite que eu não reze agradecendo e me envergonhando por algum dia eu ter duvidado. Agora é viver essa nova fase de nossa vida carregando Bianca em nossos braços.
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Célio Duarte
Júlia de Fátima Costa Miranda Ser coração de menina, ter emoção de mulher
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rimeiramente vou me apresentar, meu nome é Júlia de Fátima Costa Miranda, nasci em 13 de maio de 1987, em Mossoró. Sou a filha mais velha de Antônio Miranda Terceiro e Vera Lúcia Costa Miranda, tenho
uma irmã que se chama Juliana de Fátima Costa Miranda. Casei em 29 de janeiro de 2005, com Leonardo Augusto Suassuna
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Júlia Miranda
de França, estamos casados há doze anos e dessa união nasceu nosso filho, João Augusto Miranda Suassuna de França, que tem a mesma idade do nosso casamento. Ele nasceu no dia 29 de abril, naquele mesmo ano 2005. Foi nesse dia 29 de abril de 2005 que tudo mudou, onde pude enxergar a vida de um outro lado. Já não existia o eu e sim o nós. Formei minha família. Tornar-me mãe na adolescência, aos dezessete anos, fez com que eu vivesse uma época que considero difícil. Minhas preocupações não eram como as de outras meninas da minha idade. Tive que assumir responsabilidades de mulher adulta muito cedo, como cuidar de casa, filho, marido, estudar e trabalhar. Apesar de muito jovem, sempre procurei ser independente e isso me levou a exercer diversas atividades profissionais. Já fui consultora de vendas, gerente de loja, gerente financeiro e administrativo. Saía de casa para trabalhar cedinho e só retornava tarde da noite, depois da faculdade. Nessa correria diária, muitas vezes nem almoçava, pois não tinha dinheiro suficiente para isso. Moramos em Natal, por cinco anos, no período de 2005 a 2010. Não tínhamos – eu e Leonardo – nossos pais por perto, e isso tornava tudo ainda mais difícil. Quando meu filho completou um ano de idade, entrei num curso superior de Gestão de Recursos Humanos, formei-me em 2008. Com muita dificuldade consegui concluir meus estudos. Pouca gente sabe o que passei para conseguir lograr êxito nessa batalha. Agradeço por ter meu esposo como companheiro fiel, sempre ao meu lado, foi ele quem mais me deu forças para nunca desistir. E apesar de todas as dificuldades que passamos, tínhamos uma certeza: seríamos recompensados mais na frente. Em 2010, retornamos a Mossoró para darmos início a uma nova etapa de nossas vidas. Tentaríamos aqui construir nossa história
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Júlia Miranda
profissional. Começamos a nos estruturar financeiramente. Em 2013, fiquei desempregada e, ao invés de ficar sofrendo com isso, fui mais uma vez desbravar horizontes, e então surgiu a grande ideia. Pensei: vou fazer comida por encomenda em casa. Sempre tive paixão por cozinhar, acredito que o dom já veio no meu sangue. Desde pequena acompanhava as grandes mesas fartas dos almoços em datas comemorativas, quando toda a família se reunia na casa da minha avó, aquilo mexia comigo, sempre foi uma lembrança que carreguei comigo de uma forma especial. O Júlia Gourmet surgiu de forma inesperada, mas me trouxe um prazer enorme. Quando se faz uma coisa com amor e prazer, tudo fica mais fácil. Mas, como eu ia iniciar? Comecei fazendo divulgação do meu trabalho nas redes sociais, no Facebook e Instagram. Era tudo amador, improvisado, mas sempre feito com dedicação e responsabilidade. Minha cozinha era super apertada, tinha em média cinco metros quadrados. A ideia de cozinhar por encomenda era proporcionar ao cliente uma comida fresca e saborosa. Com as postagens nas mídias sociais, as pessoas começaram a curtir, comentar e, então, surgiram nossas primeiras encomendas. Era apenas o início e como todo despertar, os números pareciam estar indo devagar, porém, o tempo foi passando e começamos a fidelizar muitos clientes, o marketing boca a boca deu uma acelerada no negócio e a nossa média foi aumentando, recebendo algo em torno de cinquenta refeições por semana. Passei apenas seis meses trabalhando em casa, pois em pouco tempo percebemos a necessidade de irmos para um espaço maior, então, em agosto de 2013, abri meu restaurante, estando entre os pioneiros do ramo
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Júlia Miranda
em Mossoró: fomos um dos primeiros restaurantes de delivery – com comida encomenda - em Mossoró. A nossa clientela se expandiu dia após dia e o Júlia Gourmet começou a ganhar espaço no mercado. Atualmente servimos em média mil refeições semanalmente, contamos com um quadro de doze funcionários, temos uma grande variedade de pratos em um cardápio que inclui também uma linha saudável, além de termos lançado recentemente uma linha de petiscos congelados. Em busca de construir uma carreira sólida, ingressei esse ano num curso superior de Gastronomia, que está oportunizando conhecer mais sobre minha área. A cada dia fico mais fascinada por esse mundo da culinária. Quando olho para trás e vejo minha história, tenho certeza que fiz valer a pena tudo o que vivi. Hoje sou realizada pessoalmente e profissionalmente. E apesar de ainda a estrada ser longa, sempre estarei pronta para traçar meu caminho. Coragem não vai me faltar. Continuando e finalizando minha apresentação: sou Júlia Miranda, mãe, esposa, filha, cozinheira, gastróloga em formação... Sou a Júlia Gourmet.
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Ricardo Lopes
Julita Gomes Maia de Sena O real sentido do poder
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ou Julita Gomes Maia de Sena, filha de Clélio e Luzia, dois amores. Esposa de Anderson, um paraibano ‘afrancesado’ que conheci na folia de um carnaval e hoje traz alegria para a nossa vida conjugal. Psicóloga, graduada pela
Universidade Potiguar, em 2011, psicanalista pela Unidade de Ensino e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise da Paraíba, tenho formação nos processos de morte, luto e perdas em diferentes
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Julita Sena
contextos pelo Núcleo de Apoio Apego e Perdas de Natal (RN) e em Teoria do Apego na clínica do luto pelo Instituto Entrelaços do Rio de Janeiro (RJ). Estou concluindo o mestrado em Saúde e Socidade pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN procurando conhecer as principais dificuldades vivenciadas por crianças com câncer como estas podem interferir na adesão ao tratamento e qualidade de vida dos pequenos pacientes oncológicos. Atuo na clínica com orientação psicanalítica e no atendimento em psicoterapia do luto. Além disso, ando arrumando as malas rumo às origens das construções e ensinamentos deixados por Freud... Compreendo a perspectiva do termo ‘empoderamento feminino’. Porém, cada vez que o ouço ou leio, questiono a sua funcionalidade. Qual a importância do ‘empoderamento’ para a figura feminina? A escravidão da raça negra foi abolida pela Princesa Isabel. O mundo se encantou pela beleza, voz e personalidade de Marilyn Monroe. Esse mesmo mundo viveu o afrontamento pelas cores de Frida Kahlo em suas telas. Melanie Klein não foi desejada pelos seus pais, mas veio após os seus três irmãos, cravando o seu nome na história da Psicanálise. Nos romances de Sylvia Plath encontramos belas obras poéticas até então não escritas. Olga Benário, na militância alemã, um dia disse “Lutar pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”. A atriz e cantora luso-brasileira, Carmen Miranda foi a primeira sul-americana a obter uma estrela na glamourosa calçada da fama, quando ela gerenciava a própria carreira. Elza Soares casou-se aos 12, foi mãe aos 13, aos 21 estava viúva com cinco filhos e, hoje, às vésperas de completar seus 80 anos, permanece com uma agenda de shows completamente cheia. As linhas são limitadas. Entretanto, mesmo que não fosse, o poder inerente à mulher, jamais caberia aqui. Diga-se lá em duas
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Julita Sena
palavras. Justifico com isso a interrogação citada no primeiro parágrafo para então, prosseguir. Penso com os meus singelos botões, que a grande questão é reconhecer e permitir o despertar do imenso universo feminino. Esse pensamento e essa atitude poderiam ser mais felizes. Sim, felizes. Afinal, falta algo ou alguém que implemente em nós um poder ou nos falta espaços para fazê-lo aparecer o que nos pertence? Vão às ruas, realizam-se debates e discussões em ambientes físicos ou virtuais porque o feminino deseja ter espaço. Uma vez que falta, uma vez se deseja. Buscamos algo quando algo nos falta. Buscamos espaços para o nosso poder porque não o temos. Para Sigmund Freud, a falta nos move, porque nos inquieta, de forma consciente ou não. Diante disso, peço licença para pontuar as nossas possíveis faltas. Não dispomos de uma sociedade suficientemente sábia para engrandecer a essência da personalidade que está ao nosso lado. A sociedade na qual estamos inseridos é tão desvalida que preocupa-se mais com a recomposição do corpo da mulher no pós-parto do que com a complexidade que é gerar um filho dentro de si. Boa parte dos homens que compõem essa sociedade são pouco inteligentes e pouco verdadeiros; mal sabem assumir o ser real de suas companheiras, algumas vezes porque estas não atendem às supérfluas projeções que atraem os olhos do exibicionismo masculino. Somos inúmeras Marilyns, Fridas, Melanies, Sylvias, Olgas, Carmens e Elzas. E a sociedade como um todo, deveria ser uma Isabel. Libertando os negros, as mulheres, os trangênros, os gays, pobres e qualquer um outro que esteja em uma condição ou classe divergente da sua. Marilyn Monroe foi encontrada morta, após um suposto suicídio associado à uma vida conturbada com drogas, depressão e ansiedade.
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Julita Sena
Quando viva, Frida Kahlo enfrentou a poliomielite, fratura na região pélvica advinda de um acidente quando almejava se aventurar frente à opressão vivida, traição do marido com a irmã, além das ideações suicidas constantes. Melaine Klein enfrentou dificuldades com a família de origem, no casamento e com os seus filhos e inúmeros colegas psicanalistas; perdendo a vida para um câncer. Enquanto isso, Sylvia Plath cometeu suicídio; mesmo tentando proteger os filhos de uma forte ‘nevasea’ e por que não considerar da série de narcóticos encontrados junto ao seu corpo? Olga Benário foi enviada do Brasil em 1942, para um campo de extermínio em Bernburg, onde foi morta/assassinada em uma câmara de gás logo em seguida. Com apenas 46 anos, Carmen Miranda sofria um ataque cardíaco fulminante, mediante o histórico de fumo, bebida e barbitúricos. Talvez seja válido pensarmos no empoderamento social de conferir uma vida emocionalmente saudável aos indivíduos em geral. No empoderamento masculino, para respeitar a escolha de cada homem sobre com quem ele quer ser e fazer feliz! Emporamento midiático ao exaltar menos a beleza da pele, do cabelo, dos dentes e dos olhos; mas das boas ações, do apreço ao próximo e da valorização do eu. Empoderamento de todos para sermos contra; revidando e denunciando comportamentos racista, machista, homofóbica ou de qualquer ordem preconceituosa. Por fim, Elza, eu e você estamos vivas(os)! Podemos contar e prolongar a nossa história, além de ajudar o outro a reajustar a dele. Podemos e devemos continuar na batalha, exigindo o nosso espaço. A partir disso, traremos à tona o que há de brilhante em nós, sem opressão. Especialmente, o nosso poder!
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Paulo Eduardo
Kaline Santos Ferraz Nogueira Médica dermatologista, casada com Alfredo Savio Monteiro Nogueira e mãe de Luísa Ferraz Nogueira e Matheus Ferraz Nogueira.
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Carisma e competência como ninguém
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que é que essa baiana tem? Tem carisma de sobra, tem! E competência também. Tomando emprestado os versos de Dorival Caymmi, aproveito para me apresentar: sou Kaline Ferraz, Médica Dermatologista. Nasci e me criei
em Itapetinga na Bahia. Uma dos seis filhos de Elio Ferraz Souto e Uraní Santos Ferraz. Sou de uma família tradicional. Fui criada sob fortes exemplos de princípios éticos e morais. Meus pais são pais muito presentes e dedicados à criação e formação moral dos filhos. Tenho certeza que vem daí toda pessoa que sou hoje. Desde pequena, sou bastante estudiosa e tinha certeza que os estudos seriam o caminho mais certeiro para o meu ‘sucesso’ na vida. Foquei todas as minhas energias nisso desde então. No ensino fundamental, ainda na Bahia, escolhi a medicina como profissão - sonho que vim concretizar no Ceará. Graduei-me em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e descobri ainda na graduação o amor pela Dermatologia. E em nome desse amor, viajei o mundo acumulando no curriculum cursos e especializações na área. Uma das experiências da qual mais me orgulho é de ter concluído um Fellowship em Melanoma e outros cânceres de pele no renomado Instituto Europeu de Oncologia – IEO - em Milão, na Itália, onde estudei por um ano. Lá, tive a oportunidade de aprender com grandes nomes da área, a exemplo do Professor Umberto Veronesi, fundador do IEO. Além da Europa, estudei nos Estados Unidos, mais especificamente na Michigan State University, onde fiz um curso de Biologia Molecular em Micologia. Mesmo adorando a experiência de viver e estudar fora, voltei ao Brasil devido aos laços familiares que são tão importantes
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para mim. Fiz duas especializações em São Paulo, uma em Dermatologia, com duração de dois anos e outra em Cosmiatria e Laser, com duração de um ano. As duas, realizadas no Instituto Superior de Medicina e Dermatologia, na capital paulistana. Depois de todos esses anos dedicados ao estudo, paixão que faço questão de nutrir e considero essencial para encarar os desafios que minha profissão exige, decidi voltar para Fortaleza, cidade que tão bem me acolheu, para construir minha família e carreira. Hoje, além da capital cearense, também atuo em Mossoró, cidade natal do meu esposo Alfredo Sávio Monteiro Nogueira, Cirurgião Torácico. Com um currículo recheado de experiências em grandes centros de ensino ao redor do mundo, que sempre foi um dos meus grandes sonhos, e um pique invejável para dar conta de toda uma vida atribulada, eu me orgulho dessa trajetória de luta, de altos e baixos, mas de alegrias e grandes conquistas. Celebro hoje o que eu considero a melhor fase de minha vida, tanto profissional, como pessoal. Estou vivendo uma fase profissional muito intensa. Bastante trabalho e exposição na mídia, o que me traz grande visibilidade e, consequentemente, muitos pacientes ao consultório. Apesar de amar bastante a Dermatologia Clínica, venho ganhando destaque na parte da Estética. Provavelmente por tanta dedicação e as inúmeras especializações e cursos que fiz na área. Confesso que é uma área que também me fascina. E a qual mulher não fascina? Assim, no último ano, venho me desdobrando entre o atendimento dos pacientes e muitos convites para entrevistas, eventos, revistas... Eu faço questão de aceitar o máximo possível dos convites. Pois dentre as coisas que eu mais amo na vida uma é a de falar de Medicina, falar de saúde, falar de Dermatologia e falar de cuidados com a pele. Realmente, o
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Kaline Ferraz
dia-a-dia é extasiaste e cansativo, mas me enche de orgulho e de um sentimento de realização que jamais havia sentido. À frente de tudo isso, coloco meus dois filhos, Luísa e Matheus, que ditam o ritmo e as decisões que tomo atualmente. A minha família é a razão da minha vida, meu alicerce, que me impulsiona a querer ser uma pessoa melhor a cada dia. É notório que a parte profissional tem boa parte da minha atenção. Sempre teve, mais ainda atualmente. Mas sei me divertir bem nos momentos de folga. Tenho o tempo dedicado aos filhos e o tempo exclusivo e fundamental para o marido. Marido esse que é mais que um companheiro, é meu parceiro, minha bússola, meu porto seguro. Ele também se declara meu maior fã. Fã da dermatologista, da esposa, da mulher e também da cantora. Cantora, sim. Esse é um dos meus dotes mais intrínsecos. Tenho verdadeira paixão pela música. Todo tipo de música. Canto nos momentos entre amigos e familiares. E, aliás, foi justamente num desses momentos cantando entre amigos, que meu marido me conheceu e se apaixonou. Então, esse meu lado ‘artista’ é bastante simbólico na minha união com ele. Remete-nos a tempos antigos e nos aproxima o tempo todo. Infelizmente, essa paixão pela música está um pouco de lado, no meu momento atual, devido a tantas atribulações. Mas quem sabe, um dia ela ocupe um lugar de destaque na minha vida e eu possa me dedicar a ela como eu gostaria. A rotina de trabalho é intensa e o corre-corre com os filhos e o marido não fica atrás, mas eu, com um constante sorriso estampado no rosto e no alto do meu salto, sou dessas poucas pessoas que ainda coloca amor em tudo o que faz.
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Jefereson Fernandes
Karina Martha Ferreira de Souza Meu destino sempre foi Mossoró
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escrever minha trajetória de vida acredito não há que decorrer, mas posso afirmar que já percorri algumas cidades na minha infância, até porque sou filha de funcionário público que necessitava se deslocar por
alguns municípios desse Estado, e assim começou minha caminhada. Com todo respeito, inicialmente tenho que me identificar, meu nome completo é Karina Martha Ferreira de Souza, nasci em 27 de
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Karina Martha
junho 1980, em Natal. Minha mãe, Maria do Socorro Ferreira de Souza, professora do Estado, e meu pai, Expedito Ferreira de Souza, Desembargador do TJRN. Costumo dizer que tive uma infância quase cigana, pois devido a necessidade de promoção do meu pai na Magistratura, tivemos que migrar de comarcas. Moramos em Upanema, onde tive minha primeira babá; depois Martins, onde comecei a estudar, mas minha recordação maior ficou nas fazendas comendo frutas em baixo dos cajueiros. Em 1984, chegamos em Pau dos Ferros, cidade da minha mãe, onde estudei na Escola Estadual Educandário, que foi fundada por Maria Rego. Naquela época já era briguenta e houve um desentendimento com uma colega de sala que arranquei quase todo o cabelo da menina. E a professora, assustada com o fato, guardou os cabelos em um envelope e levou até o trabalho da minha mãe, no outro dia era o comentário na cidade: A filha do juiz arrancou os cabelos da filha de Lucia da padaria. Depois de três anos, meu pai foi promovido para Mossoró. Então, a grande mudança. Eu com sete anos de idade, esperta, novidade, achando Mossoró uma grande metrópole. Feliz, primeira vez por estudar em uma escola particular. Na época, matriculada no Diocesano. Minha adaptação ao invés de ser uma maravilha, com os novos amigos, professores, os espaços, foi bem complicada. Na verdade, fiquei altamente rebelde, brigava todos os dias com os colegas, não concordava com os professores em sala de aula, tinha preguiça de mover dentro da escola, não gostava das carteiras; foi um verdadeiro problema.
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Karina Martha
No Diocesano, tenho lembrança de fortes passagens, as feiras de ciências, o canto do Hino Nacional, algumas professoras: Vânia Leite, Gorete Duarte e, principalmente, padre Sátiro e Tia Mundinha. Foi em Mossoró onde fiz meus primeiros laços de amizades, na escola, com as primas, tive oportunidade de brincar em casas de amigas, como Andressa e Vanessa Menezes, Viviane Pinto, Cristiano Mucano, Lia Castro, entre outros que não recordo mais. No inicio dos anos 1990, meus pais resolveram mandar os filhos para estudar em Natal, pois Keity, iniciava faculdade de Direito, e para não ficar sozinha, todos os filhos tiveram que estudar lá. Então, com dez anos, fui para capital. Lembro que ficamos muito assustados, pois passamos a morar sozinhos, de inicio achamos uma maravilha, tivemos e encontramos uma liberdade total. Estudei no Anglo, uma escola pequena, franquia paulista, metodologia ensino moderna, com material exclusivo, direcionada a concursos e vestibular. Na época, passei a pegar ônibus para ir a escola, o dinheiro era contado no mês, tinha que cumprir minha rotina diária. Fiz amizades maravilhosas que conto com elas até hoje. A liberdade que no inicio eu achava bom, depois eu reclamava querendo voltar para Mossoró, não tinha minha mãe nas reuniões da escola, na entrega do boletim, ou até mesmo na entrega da autorização das viagens de campo; mas posteriormente agradeci, porque foi assim que amadureci, aprendi, encontrei resposta de duvidas que tinha para tomar certas decisões na vida. Iniciei o curso de Comércio Exterior, na Universidade Potiguar, pois adorava ler sobre economia mundial, globalização, intercâmbio de informações, porém, por falta de profissionais na área o curso acabou sendo extinto e passei a cursar Administração de Empresas, período em que aprendi bastante e tive amizades
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maravilhosas. Comecei a ser selecionada em vários estágios, como Banco do Brasil, Unibanco e Santander e, após três anos havia saído minha contratação com o Santander. No mesmo período fui convidada pelo presidente do Tribunal de Justiça a trabalhar no setor de Recursos Humanos, onde decidi trabalhar por quatro anos. No decorrer desse período viajava bastante com amigos, conheci muita gente bacana, mas nada tão interessante. Em 2005, precisamente 8 de abril, recebi o convite de uma amiga, Polliana Mello, para virmos a Vaquejada de Mossoró e, no primeiro dia conheci Reno Ramalho de Vasconcelos, através dos amigos Daniela Rosado e Marcelo Duarte, depois disso, ele não me largou mais. Aquele ano, costumo dizer que foi o divisor de águas em minha vida, iniciamos o namoro e todos os finais de semana ele estava em Natal, até que no mês de agosto descobri que estava grávida, e então era o que faltava para realmente nos unirmos de vez. Em 29 de outubro, foi o dia marcado para celebrar nosso casamento, então tive que preparar minha mudança antes desse dia para Mossoro. Então, começou meu dilema, arrumando as malas, assim mamãe dizia: “Minha filha, tanto que você não gostava de Mossoró e hoje vai formar sua família por lá. Ou vai dar muito certo ou no primeiro ano estará de volta”, disse chorando e eu mais ainda, sem ter certeza de nada. Já o meu pai, exigiu o casamento e minha mudança imediata, mas pensando eu ter que construir novo lar antes do bebê chegar. E assim, tudo aconteceu perfeitamente, fui recebida por uma família linda, que me acolheu de braços aberto, minha sogra, Zuíla Ramalho Vasconcelos já achava que era a filha dela e José
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Martins de Vasconcelos Neto; ela interferiu, opinou em tudo no nosso casamento e só tenho a dizer que deu mais do que certo. A primeira exigência do meu pai: “Quero que Rosalba Ciarlini seja madrinha do casamento”, eu concordei imediatamente. Assim que cheguei em Mossoró, Zuila disse: “Quero pedir uma coisa, que Sandra Rosado seja madrinha”. Fiquei logo nervosa, só tenho a declarar que deu tudo certo. Hoje os tenho como meus pais, meus cunhados Jimena e Romano, que mesmo de longe sempre estão presentes na nossas vidas. Formamos nossa família: Ruan Ferreira de Souza Vasconcelos, em 2006, lindo, pequeno, mas saudável, trouxe outra grande mudança e aprendizados. Recém-casada, com o filho pequeno, casa nova, tudo era novidade e muito difícil. Mas aos poucos, fui me adaptando, cinco meses após o nascimento dele, resolvi cursar a faculdade de Direito. Conclui minha segunda graduação em Mossoró na UNP, em 2009, e ainda no 9º. período da faculdade fui aprovada no exame da Ordem Advogados do Brasil. Iniciei minha carreira profissional em Mossoró, como advogada militante, juntamente com os advogados, Daniel Victor e Catarina Ketsia, amigos que hoje são meus sócios do escritório Ferreira, Alves e Vasconcelos advogados e compadres. Sou apaixonada pela advocacia, profissão árdua, que exige muita dedicação e exclusividade. Em 2014, tive meu segundo filho, Ruy Ferreira de Souza Vasconcelos, lindo, esfomeado, esperto, inteligente e carinhoso. Já em meados do mesmo ano recebi o convite do Prefeito de Mossoró, para participar da equipe da Procuradoria do município. Passei dois anos contribuindo naquela gestão. Quando iniciou o ano de 2016, ano eleitoral, o escritório assinou contratos com
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Karina Martha
alguns candidatos municipais, pela incompatibilidade, requeri a exoneração, momento em que engajei na campanha eleitoral de Rosalba Ciarlini, esse foi um dos meus maiores aprendizados, controle emocional, 24 horas atenta nas atitudes dos candidatos e o peso da responsabilidade... Mas saímos vitoriosos. Em 2017, recebi o convite da prefeita Rosalba Ciarlini para assumir o cargo de Procuradora Geral do Município de Mossoró, no qual me senti extremamente lisonjeada e honrada, apesar de saber e conhecer todas as dificuldades que iria enfrentar. Mas posso afirmar, que foi um dos maiores desafios, também maior aprendizado. Apesar de sempre ter resistido a morar na Terra da Resistência, hoje confesso que meu destino sempre foi Mossoró, sou muito feliz em ter realizado laços afetivos, amigos inseparáveis, concretizada profissionalmente num local que sempre esteve de braços abertos a me receber; hoje sou cidadã mossoroense, e, por isso, sou grata a todos amigos e familiares que aqui me acolheram. Pretendo continuar trabalhando nessa terra quente, perpetuando esse sentimento de amor e admiração por esta cidade.
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Cedida
Lena Rocha Mulher
M
ulher é um Ser Humano, como também o homem, mas ela é verdade, realidade, imaginação e vida, que dá vida. Para falar da mulher, eu uso uma linguagem
bem pessoal, porque toda mulher tem histórias incríveis, doces e arrebatadoras.
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Lena Rocha
Mulher é um pouco de tudo. Mãe, filha, neta, no âmbito familiar é sempre quem inicia as conciliações. Atualmente, muito se fala no empoderamento feminino, mas ele sempre existiu, somente agora é mais observado e vivido. É a oportunidade da busca do direito da mulher. O poder da mulher está em sua vivência significante, quando ela sabe o que simplesmente a faz usufruir das descobertas de saber viver o que a vida lhe permite. O que a vida oferece à mulher? Tudo. Sabe por quê? Porque a mulher pode ser o que ela quiser e seu lugar é onde ela desejar. A mulher está em todos os cargos, antes ocupados apenas por homens, e se sobressai sobremaneira na forma de empreender os seus objetivos. A mulher sangra todos os meses, durante um longo tempo e nestes períodos, fica diferente, e a TPM se instala, há os que dizem que ela fica ‘louca’ nesta fase, mas é a loucura mais sã que se conhece, porque ela não para, trabalha, diverte-se, vive intensamente. Os dias vão passando e a mulher cresce descontraidamente, desconsertando os que têm preconceito. Na maturidade ela mostra mais ainda o seu equilíbrio em tomadas de decisões. A mulher ao passar por problemas, na sua maioria pensa, reage, levanta-se e dá a volta por cima, renascendo das cinzas, como fênix. A mulher gosta do seu marido ou namorado, assume seu amor quando é homossexual, diz-se transexual quando é, e em todas as situações merece respeito, no que fizer e no que for. A mulher ao abraçar uma causa o faz com alma, como se fosse uma prece, que Maria a ela destina e resiste firme na fé. Pede amparo e proteção, pede a santa atenção de quem a pode ajudar. Ela, a mulher, dedica-se a família seja como for a sua, é mãe de sangue, de coração, de pureza, de atenção e ardor.
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Lena Rocha
Procura nas pessoas, não a contenda, e sim mão amiga para seguir em busca do bem. Ela é guerreira sem guerra, é bonita e sempre bela, faz o mundo a admirar. A mulher abraça causas com amor, mesmo sendo de dor, de aflição e desespero, ela não foge da ação, porque tem razões que a faz sentir, que deve seguir, sem medo de nada. Mesmo quando se diz sem fé, na hora de suas angústias, faz tudo se modificar com suas raízes, que ela pensa que são só humanas, mas a mulher é Divina. A liberdade de consciência faz a mulher ser idolatrada, mesmo quando alguns pensamentos machistas dizem que seu lugar, é nos serviços domésticos. Em ter e criar seus filhos, e participar da vida do seu companheiro. Ela aprendeu com o tempo, que nada disso procede, que a vida que se sucede, é dever dela mudar. Ela o faz com harmonia, trabalha noite e dia, e modifica o que quer. O que resulta em seu êxito, em seu sucesso abundante, por sua sabedoria. Se sentir perseguição, a mulher busca colaboração, saindo do seu sofrer, lutando com força e coragem, por aquilo que a impulsiona a lutar para viver, como fez Maria da Penha, vítima de intolerância masculina, e sabendo seus Direitos recorreu às Cortes Internacionais, o que resolveu seu problema, que foi um grande dilema, mas em tempos atuais, o seu desempenho não a atingiu apenas, pois virou Lei em nossa Nação. Tudo o que a mulher faz, ela se dedica com amor, pois esse sentimento está em sua alma, é constante e é seu guia, fazendo dela um modelo de bondade e fraternidade. A sua generosidade é como a Divindade, admirável e benéfica. A mulher acumula tudo de melhor do seu gênero, é a única que não faz cerimônias do que deseja, porque ela sem vaidades, vai em busca da verdade e do que deseja fazer. A mulher é sábia e bondosa
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Lena Rocha
e por ser muito dengosa, não suporta fazer nada sem distinção, ela é como um sol estável que tem brilho próprio em sua imaginação. Para a mulher ninguém lhe concedeu um Templo, mas ela criou o seu próprio, atendendo a todas as vidas que se faça precisar, pelo bem que realiza. A mulher não é santa nem demônio, é apenas um ser humano, que busca a beleza na sua missão. Ela não se encolhe na escuridão da vida, porque ela é luz que defende a verdade, detecta o que é sincero para não ir pelo lado fácil, faz sua própria analise e realiza. Ela não pensa em satirizar a vida dos que a ignoram ou criticam, ela nasceu para a luta, por isso tanto ela busca trazer a paz para alguém. A mulher não precisa ter fortuna ou recursos, para beneficiar solidamente o abandonado, desprezado, odiado por todos. Enquanto os tolos verificam o precioso metal que os anima a construir patrimônios, ela se eleva em seu nome acolhendo os seus diletos, sejam eles mendigos ou soberanos, porque a sua intimidade é bastante ambiciosa para ter e fazer dignidade real. A mulher deixa muitas vezes de gozar os prazeres da vida entrando humildemente na empresa da solidariedade bastante difícil, mas ela se exige apenas boa vontade, invocando outras Musas que a queiram ajudar, pois sabem que o caminho é longo, difícil e vertiginoso, mas ela não vai parar. A mulher dá sempre abrigo e com tudo que ela faz, ela é Diva, mas não busca as luzes do estrelato. Por isso não provoque... Lena Rocha Simples, honesta, mulher, mãe, avó e Juíza Criminal.
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Ricardo Lopes
Liana Graça Suassuna de França Natalense de nascimento, mossoroense com título de cidadania e de coração. Filha de João Rotílio Suassuna de França, que se vivo fosse estaria com 119 anos, era comerciante; e de Maria de Lourdes Nunes, do lar e que pelo amor que os uniu, amor esse com quarenta e oito anos de diferença na idade soube constituir uma família com muitos valores, principalmente o do respeito ao próximo e de valorização do saber.
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Liana Suassuna
Aqui escolhi ser FELIZ
M
eu pai era bastante sábio, falava: “Filha, o estudo que estou te proporcionando será o maior bem que vou te deixar, porque esse ninguém vai tirar de você”. E foi através dessas orientações, que
transformei o estudo na trajetória de vida que sonhava para mim. E, aos dezesseis anos de idade, ingressei no curso de Arquitetura, no primeiro vestibular realizado. Perdi meu pai, meu herói, bem no início do curso, mas tive o prazer de proporcionar a ele a satisfação de me ver na universidade. No único ano que lhe foi possível acompanhar, um fato marcou essa fase. Ele me perguntava todos os dias: “Filha, o que aprendeu hoje?”. Algumas coisas que falava marcam até hoje. Ele dizia: “Todo dia, é dia de aprender“. E isso é verdadeiro demais, todo dia aprendo algo.Da vida profissional e das pessoas. Enfim, de tudo que nos rodeia.E,assim sigo,fazendo as melhores escolhas. Um outro ensinamento extremamente importante que segue comigo até hoje : “Temos sempre que tentar - sobre todas as esferas da vida – e, se por um motivo não for possível ,que a atitude tomada não deu certo, que sirva de aprendizado. Acho esse pensamento o máximo. Dessa forma, ele com minha mãe me passaram valores importantes. Ela, o oposto dele, muito jovem, sem nenhum saber, mas de uma inteligência única soube nos conduzir a partir do momento em que ele não estava mais conosco. Assim me tornei Arquiteta. Apaixonada por minha arte, já nasci arquiteta.Imagine uma criança que deixava de brincar para procurar uma construção e ficar olhando. Formei-me em 1985, com vinte e dois anos de idade e já casada com Luís Augusto de França,
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Liana Suassuna
meu preto, Engenheiro Civil e dono de um coração maravilhoso, com um único defeito, é abecedista. Fazer o quê? Ninguém é perfeito. Tenho filhos lindos. Uma filha, Karina Suassuna, bióloga e agora estudante de Arquitetura, ela é detalhista e perfeccionista igual à mãe, casada com um rapaz maravilhoso, presente de Deus nas nossas vidas, Naor Cândido, super centrado e dedicado em tudo que faz. O segundo filho, Leonardo Suassuna, Arquiteto e meu sócio no escritório. Amo trabalhar com ele, me completa além de ser meu grande amigo e confidente, somos muito parecidos. O terceiro filho, Rodolfo Suassuna, Engenheiro de estradas. Meu menino de um jeitinho carinhoso.Cheguei a Mossoró há trinta e um anos,acompanhando meu marido, que trabalhava em Apodi. Dessa forma, vivemos quatro anos da vida morando em cidades diferentes, eu em Natal e ele em Apodi. Em 1986, surgiu a boa nova de ser transferido para Mossoró. Nesse mesmo período fui convidada a assumir a vaga de Arquiteta. Minha relação com Mossoró foi amor à primeira vista. Aqui vi meus filhos crescerem, aqui vi minha vida profissional criar uma proporção que nunca imaginei. E hoje, posso dizer que nesses trinta e um anos, esta cidade me acolheu, abraçou-me, tornou-me sua filha. Aqui escolhi ser feliz. Nesse período, através de um amigo comum ,descobri que na cidade tinha uma outra arquiteta com o mesmo sonho de abrir um escritório. E, com essa parceria,ao lado da arquiteta Rejane Torres, surgiu o escritório da Criar Arquitetura. Após vinte anos, decidimos seguir carreira solo e nasce assim a Digriffe – Espaços Assinados com as parceiras Renata Camboin
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e Priscilla Rodrigues. Após
um período, essas parcerias são
desfeitas e entra para o escritório meu filho, Leo. Nasce então o escritório Digriffe Arquitetura e Engenharia. A arquiteta Simara Rodrigues complementa a nossa equipe. Uma equipe cheia de muito profissionalismo comprometimento. Adoro a profissão que escolhi, por isso não me sinto trabalhando, vivo arquitetura as vinte e quatro horas, adoro compartilhar meus conhecimentos, isso me faz feliz. Na vida profissional uma situação muito me orgulha é o fato de poder lutar e principalmente me dedicar a minha categoria profissional como Conselheira Estadual do CAU - RN em dois mandatos. Tarefa árdua, na maioria das vezes sem nenhum reconhecimento, mas com uma certeza nessa trajetória como conselheira a de que fiz sempre o melhor para os meus pares, para a arquitetura e principalmente pela sociedade. Porém, o que realmente me faz transbordar de felicidade e me faz ser a pessoa que sou, sempre procurando ser melhor a cada dia, é a família que Deus me presenteou. Tenho noras que são filhas de uma forma muito verdadeira no mais amplo sentido dessa palavra. Luís Rodolfo, o meu filho caçula, casado com Daniela Fonseca, muito parecida comigo na forma de ser. Perua como a sogra. Pois não estou nem ai, tenho o meu jeito, sou dessas bem exageradas. Desse casamento tenho um tesouro muito grande, dois netos lindos: Luís Eduardo, Dudu; e Antony Felipe, Tintim. Gente, descobri que ser vovys é uma das maravilhas que Deus nos permite exercer. Leonardo Suassuna casado com Júlia Miranda, nossa chef gourmet, nossa doidinha, faz-me dar boas gargalhadas com suas maluquices, adooooro. Da união de Leo e Julhinha, tenho o meu outro tesouro João Augusto, Janjão.
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Liana Suassuna
Junto dos meus netos me realizo, sou criança, quero ser sempre melhor, quero ser espelho, quero ser exemplo. Aguardando os outros netinhos prometidos por Karina e Naor. E dessa forma vou escrevendo minha história. Casada com um marido maravilhoso, meu primeiro, único e eterno namorado, acreditam? Trinta e quatro anos de uma convivência intensa, com dificuldades, com superações, mas principalmente com muito amor. Sou assim, sagitariana, sincera ao extremo, se não quiser escutar, melhor não perguntar. Perfeccionista, exigente, meio exagerada, falante demais. Esta sou eu, Liana Suassuna, cinquenta e quatro anos com cabeça de vinte, por isso não provoque.
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A Vida e a Morte O que é a vida e a morte Aquela infernal inimiga A vida é o sorriso E a morte da vida a guarida A morte tem os desgostos A vida tem os felizes A cova tem a tristeza E a vida tem as raízes A vida e a morte são O sorriso lisonjeiro E o amor tem o navio E o navio o marinheiro Florbela Espanca
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Clívia Dantas
Liane Dantas de Oliveira Casada com Eronildo Pereira de Souza, mãe de Isadora, Pedro Henrique e Clarisse, gestora da Master Produções e Eventos, graduada pela Universidade do Estado do Rio da Grande do Norte em Letras e Artes, pós-graduada em Administração e Gestão de Negócios pela Universidade de Ribeirão de Preto e em Eventos e Cerimoniais de Luxo pela Faculdade Roberto Miranda.
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Liane Dantas
“Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida”.
E
a conhecida música de celebrações era seguida de palmas e de “É big, é big, é big”. Essa era minha brincadeira preferida quando criança. Além de aniversários infantis para as bonecas, recheados com sucos simulados com água e cascas
de beterrabas mergulhadas para conseguir a cor da uva, também adorava promover com os meus primos espetáculos de circo, organizar o picadeiro, as entradas com palitos de fósforos. Ah! Era um sucesso. Nunca gostei de brincar de bonecas. Sempre gostei de construir, ler e decifrar enigmas. A arte sempre me fascinou. Sou filha única de um casamento que durou até os meus sete anos com muita dificuldade e sempre desejei constituir uma família que durasse enquanto vivesse. Estudar em uma escola de freiras ‘ajudou’ na minha ligação com Deus. Digo ‘ajudou’ porque, na verdade, desde muito pequenina tinha a certeza de sua existência e debulhava as minhas preces não apenas antes de dormir ou com palavras decoradas. Quando completei meus seis anos de idade, migramos de Areia Branca para Mossoró com o intuito de ter acesso a um estudo melhor. Ainda em nossa cidade de origem, minha mãe dava aulas de artesanato no SESI e, quando viemos para Mossoró, ela continuou a ministrar suas aulas no SESI, SESC e SENAC. Acompanhava todas com entusiasmo e aos oito anos de idade já pintava calcinhas, fraldas, conjuntos de berços, entre outros itens, que eram vendidos e ajudavam no orçamento familiar, pois, naquele momento, não contávamos mais com a renda de meu pai. Sempre fui leitora veemente e estudante aplicada. Estudava no
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Colégio Sagrado Coração de Maria, fui transferida e indicada por louvor de notas à escola que me acolheu até a 8ª série. Confesso que não foi fácil permanecer em uma escola onde estudavam pessoas que tinham excelentes condições sociais. Vê-las ter o lanche e eu nenhum, às vezes, maltratava-me. Mas, sempre confiei que meus filhos não passariam por aquilo e agradecia a oportunidade de estudar ali. Ver meu fardamento se decompor e a renda que a minha mãe e eu conseguíamos não dava para renová-lo. Imagine você pagar a mensalidade. Ir, em média, duas vezes na semana à Areia Branca tentar conseguir com meu pai o dinheiro da escola, deixava-me cabisbaixa e pensativa. E, mesmo assim, não conseguia o meu objetivo. Naquela época, meu anjo da guarda já era Irmã Zelândia. Que Deus abençoe essa alma bondosa, que permitiu a minha conclusão e ainda me indicou ao Colégio Diocesano Santa Luzia, conseguindo para mim, uma bolsa integral. E, assim, iniciei o Ensino Médio em 1987. Um ano maravilhoso. Construí novos amigos. Naquele ano, fui aprovada para o 2° ano. Porém, quando ainda no primeiro bimestre de estudo, fui conduzida por minha mãe a fazer uma entrevista de trabalho na UNIMED MOSSORÓ, deixando para trás meus amigos e meus estudos na escola particular de horário regular, passando a frequentar a Escola Estadual Professor Abel Freire Coelho durante dois anos, no período noturno, até a conclusão do curso. Período em que necessitei começar a trabalhar para ajudar nas despesas de casa. Éramos cinco pessoas em casa e não tínhamos renda fixa. Nunca reclamei. Sempre entendi. Assim, passei nove anos trabalhando naquela instituição. Iniciei como recepcionista, mas logo fui requisitada a fazer o apoio da diretoria da instituição como secretária. Um aprendizado grandioso
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de organização e planejamento. Promovemos junto a diretoria, assembleias, cursos, reuniões, confraternizações, construindo em mim, sem que percebesse, uma base para o que me aguardava no futuro. Durante o período, ingressei na Faculdade de Letras e Artes na UERN que me despertou o interesse para a importância de uma segunda língua. Concluí o curso com habilitações em Língua Portuguesa, Língua Inglesa e respectivas literaturas e, posteriormente, fiz uma pós-graduação em Administração. Nesse ínterim, acabei me desligando da Unimed e sendo admitida nas Lojas Riachuelo, iniciando um trabalho como vendedora, mas galgando novos desafios com brevidade. Visitamos várias lojas pelo país fazendo um trabalho de merchandising inaugural, aprendendo sobre vitrines, moda, paleta de cores, comportamento, etiqueta, aspectos importantes para minha construção como profissional. Paralelo a esse trabalho, participava ativamente de ações sociais junto a Fundação Casa do Caminho, instituição filantrópica que até os dias atuais, continuamos com a nossa colaboração junto à comunidade menos favorecida do bairro Barrocas, em nossa cidade, fortalecendo o meu elo espiritual. Ainda trabalhando na Unimed reencontrei alguém que mudaria a minha vida para sempre: Eronildo, por quem sempre nutri grande admiração. E, em 2000, casamos com o grande sonho de constituirmos uma família sólida e feliz. Quando ingressei na gerência das Lojas Narciso com o objetivo de modificar o foco de vendas da empresa, passei por duas transferências de cidade, em uma delas tinha acabado de casar. Foi quando decidi mudar o meu foco profissional da parte administrativa e comercial, para a educação que a meu ver é a grande mola propulsora da humanidade. Trabalhei na escola CAP
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como coordenadora e ainda no Colégio Diocesano Santa Luzia, Colégio Pequeno Príncipe e Colégio Menino Deus como professora. Dias corridos, mas gratificantes. Meus alunos eram meus maiores tesouros de aprendizado. Lidar com a realidade de cada um, fez-me ver que podia colocar em prática tudo em que eu acreditava dos meus ideais cristãos e de educação. Construí amigos, não apenas alunos. Até hoje, tenho elos fortalecidos com muitos. No mesmo período, nasceu minha primeira filha Isadora. E foi através do desejo de fazer o seu aniversário que pensei em ter uma empresa de eventos. Tinha uma vida corrida e não conseguia encontrar o que precisava em um só lugar com qualidade e que me atendesse dentro do prazo. Sempre fui exigente e perfeccionista e passei a perceber que as pessoas necessitavam desse tipo de serviço. Ainda em sala de aula, na época com cerca de trinta e seis turmas, porque havia assumido salas como professora concursada do estado, abrimos o CNPJ da Master Produções e Eventos com o objetivo de realizarmos eventos para a Petrobras, uma vez que já vínhamos colaborando no processo de execução de alguns eventos de maneira informal. Assim, iniciamos a nossa caminhada, com eventos corporativos, em seguida, fomos impelidos ao mercado de formaturas por meu cunhado que fechou o contrato com uma empresa de fora da cidade e a turma descobriu irregularidades sobre a mesma. Até então, a nossa vivência no mercado de formaturas era mínima. Estudamos, buscamos, construímos, firmamo-nos no mercado com um trabalho sério e comprometido, porque é nisso que acreditamos. Hoje, atendendo a grandes eventos sociais como casamentos, quinze anos, infantis, permanecemos em nossa busca pela excelência. Somos pós-graduados em eventos e cerimoniais de luxo
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pela Faculdade Roberto Miranda e ainda não estamos satisfeitos, pois sabemos que o ser humano deve estar em busca constante de melhorar-se como profissional e como ser espiritual. Percebo que fui construída para esse mercado de realização de sonhos, de celebração por suas conquistas. Hoje a música de parabéns antes entoada nas minhas brincadeiras, faz parte de meu dia-a-dia. Mas a maior conquista é a minha família: esposo e três filhos que Deus me deu de presente felicitando-me pela vida.
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Célio Duarte
Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira Graduada em Serviço Social, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN – Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira tem especialização em Direito Ambiental e Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Rede PRODEMA. Doutora em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN - na área de concentração Urbanização, Projetos e Políticas Físico Territoriais, tendo realizado pesquisa sobre gentrificação e centralidades urbanas.
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Ludimilla Serafim
Atualmente é professora do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas, da Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA - na área interdisciplinar. Foi Pró-Reitora de Extensão e Cultura da mesma universidade, atuou como assessora e conselheira dos conselhos superiores da universidade e foi chefe de departamento. É pesquisadora atuando principalmente nos seguintes temas: gestão territorial urbana, direito ambiental, questões socioambientais, direitos humanos e educação inclusiva, planejamento e administração. Membro da Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de Mossoró – ACJUS - membro da Academia Apodiense de Letras e da Associação dos Escritores de Mossoró - ASCRIM. Já lançou os seguintes livros: O Olhar da Águia para o Rosado da Caatinga e De Repente Tudo Mudou de Lugar: Refletindo Sobre Metamorfose Urbana e Gentrificação. Atualmente, é Presidente do Conselho da Comunidade da Penitenciária Federal em Mossoró e pertence ao Conselho Universitário - CONSUNI da UFERSA. É sócio- correspondente da União Brasileira de Escritores - UBE - RJ – RN e Diretora do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas – CCSAH.
Não é para qualquer uma...
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ram dias de dezembro de 2007, não lembro bem o dia da semana, mas nunca vou esquecer da lição daquele momento. Vamos aos fatos. Em 2006, começo a me integrar com um grupo de pesquisa na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Foi um ano difícil, de idas e vindas em Natal, para a inserção nos trabalhos e nas atividades que me levariam a cursar o doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Fiz, naquele ano, pelo menos duas disciplinas em caráter especial e logo no final do mesmo ano, concorri a seleção para ingressar
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no curso e não obtive êxito. Entendi que não era o momento certo e no tempo determinado tudo se cumpriria. Realmente faltaram apenas décimos, valores ínfimos transmitidos numa nota que não foi suficiente para atingir o alvo. O tempo passou e continuamos a trilhar o caminho para o doutorado, afinal era necessário fazer um recomeço e como bem colocou Chico Xavier: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim”. O fim das coisas era concretizar o sonho, não apenas em ser doutora, receber um título, mas me consolidar com a pesquisa acadêmica, chegar em novos horizontes e era necessário trilhar por essa estrada. Para isso, conseguimos ainda cursar uma disciplina como aluna especial. O fato de não ter uma graduação na área, poderia ser uma barreira. Mas, quando temos antes de tudo, Deus como guia, como luz, como fortaleza, como refúgio, como segurança, tudo fica diferente. São amarras que se soltam, muralhas que caem e apesar da grande luta e do esforço sumariamente empreendido a pessoa fica muito mais forte. A fé te faz navegar no mar das incertezas, sem naufragar, o alento é unicamente esse: Deus pode tudo em todos. O ano de 2007, logo chega aos dias de dezembro. A nova seleção vai acontecer e eu ia novamente me submeter ao processo. Naquele momento, antes das provas propostas, fui bem mais fortalecida. Aguerrida pela já experiência adquirida, pela vivência e pelas expectativas que aumentaram muito em relação ao ano anterior. Confesso que foi uma grande surpresa não ter sido sequer aprovada na prova escrita. Ora, no ano anterior havia estudado bem menos, e tinha passado em todos os processos, ficando ainda classificada. Lembro daquela manhã como se fosse agora. Segui para a secretaria
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e fui ver se os resultados eram aqueles mesmos, e ao me aproximar da mesa, faço algumas arguições e ouço a seguinte resposta: “Não é para qualquer uma Ludimilla, você acha que é tão simples assim?”. Aquelas palavras adentraram na minha alma e me cortaram por dentro. Fiquei dormente, coração dilacerado, saindo cabisbaixa, procurei o banco mais próximo, não conseguia ficar de pé. Posso dizer que vivi um pouco dos sentimentos do Profeta Neemias, naquele instante, chorei abundantemente e lamentei por todas as coisas. Fiquei ali pelo menos uma hora, sem saber o que fazer. Até que, segui para a rodoviária em busca do primeiro ônibus para Mossoró. Fiz um pedido ao Senhor e disse: eu estou arrasada, preciso da última cadeira eu quero ficar sozinha e chorar. Pasmem, ao chegar no guichê, a cadeira disponível era a última e de Natal até Mossoró eu vim conversando com Deus. Minhas lágrimas falaram para o Senhor tudo o que eu precisava. Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora A presença distante das estrelas! Mário Quintana Mas, nada é impossível para aqueles que buscam a Estrela Guia. E passados alguns dias, busquei ao Senhor e tive a certeza que realmente que aquele era o meu curso e ali o meu lugar, o meu espaço, e continuei estudando. Já era o final de 2008 e fomos novamente pela terceira vez, fazer o processo de seleção. Sai de Mossoró com uma palavra boa no
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coração, cantando alegremente como escreveu o profeta Isaías. Fiz todas as provas e o resultado foi surpreendente. Fui a primeira colocada em todas as etapas, atingir o nível máximo de pontuação, e para uma assistente social ser o primeiro lugar num doutorado em Arquitetura e Urbanismo, não era para qualquer uma. Outra lição que se pode tirar destas considerações é que a vida sem sonhos é muitíssimo mais fácil. Sonhar custa caro. E não digo só em moeda corrente do País, mas daquilo que forma a própria substância dos sonhos, como registrou Rachel de Queiroz. Nada é tão simples e fácil. Por isso não provoque a ira, o desânimo, o descontentamento. Alimente a força, a coragem e, acima de tudo, tenha fé. Nada como um dia após o outro, para alguém olhar e enxergar que a sua vitória não é para qualquer uma, é para os que acreditam na graça gloriosa e vitoriosa, sempre no Senhor.
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Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos e ser otimista. Cora Coralina
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Maria da Glória Fernandes Moreira Santos Nasceu em Flores, Pernambuco. Sexta filha de José Domingos Moreira, natural de Triunfo, em Pernambuco, comerciante e político - várias vezes vereador e presidente da Câmara Municipal de Flores - e, de Maria de Lourdes Fernandes Moreira, natural de Serra Talhada, professora.
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Maria da Glória
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onheci Edvaldo, meu marido, em Serra Talhada, quando ele era técnico agrícola do IPA - Instituto de Pesquisas Agropecuária de Pernambuco - e eu cursava o ginásio, também nesta mesma cidade. Logo no início
do namoro, meu pai que precisou ser consultado para permitir que namorássemos, resolveu em poucos dias, que deveríamos encerrar esse mal começado namoro porque eu era muito jovem. Edvaldo mais uma vez o convenceu de que não era por ai e, após uma longa conversa nos foi permitido continuar. Com o passar dos meses - nos víamos duas vezes por semana - papai resolveu se mudar para Arco Verde e Edvaldo continuou no meu encalço. Pouco tempo depois mudamos para Garanhuns, que ficava numa grande contra mão para nos encontrarmos. Edvaldo chegava por lá uma vez por mês. Nesse período de Garanhuns, Edvaldo que continuava morando em Serra Talhada queria cursar Agronomia, foi para Juazeiro, Bahia, porque não conseguia transferência para nossa capital, Recife, para poder fazer a faculdade. Como não foi bem sucedido - nossos planos era casarmos e morarmos em Petrolina, dado a proximidade de Juazeiro. Nesse período após o insucesso do vestibular foi estimulado por amigos para ir para Bolívia. Nesse ínterim, minha família foi morar em Recife. Meus pais já aposentados e, como meus irmãos já estavam estudando e trabalhando nesta cidade, ficaríamos todos juntos. Edvaldo na Bolívia, Cochabamba, continuávamos agora como noivos, através de cartas, que chegavam semanalmente. Guardo-as até hoje. O mais interessante é que dos amigos que foram para a Bolívia, a única noiva que esperou o noivo, fui EU. E essa
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Maria da Glória
distância se prolongou por um ano e meio. Olha, que não tínhamos outra comunicação senão através dos Correios. Muitas vezes me pego a lembrar do carteiro gritando da esquina: Maria da Glória! Quando Edvaldo retorna da Bolívia, após concluir o primeiro ano de Agronomia e certo de que seria aceito na Universidade Rural de Pernambuco, teve o dissabor de ter o seu pedido interferido por incompatibilidade curricular. Foi uma agonia, porque já estávamos fazendo os planos para o tão sonhado momento: o casamento. Na Bolívia, Edvaldo estudou com dois colegas potiguares e eles já tinham mantido contato com a ESAM, através de requerimentos que tinham sido acatados, Edvaldo usou o mesmo caminho. Foi a partir daí, que Mossoró passou a fazer parte dos meus sonhos, da minha vida. Ele iniciou aqui na ESAM. E dois anos depois, chego EU. Isso era fevereiro de 1972. Eu havia concluído o 2º grau, mais direcionado para o magistério. Fiquei empolgada com o curso de agronomia - morávamos na ESAM - devido ao contato com a faculdade, a empolgação de Edvaldo, dos colegas dele e, mesmo com as dificuldades. Por não ter estudado física, química e matemática, entrei como ouvinte. No 3º científico do Colégio Estadual que na época funcionava à noite, na ESAM. Devido a minha insistência, Edvaldo resolveu me apoiar e me dar aulas complementares para vestibular. Delvai, Delvaci, Fátima, Neci eram minhas colegas de grupo para enfrentarmos a batalha. Para minha felicidade, o vestibular aconteceu e eu fui aprovada. Agora universitária. Quanta alegria. Pouco tempo de aula e me vejo grávida. Não sabia se chorava ou sorria. Morando longe de tudo e todos... Não foi fácil. Era o último ano de Edvaldo na
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Maria da Glória
faculdade, quantas preocupações. Mas, como Deus esteve sempre do nosso lado, conclui o 1º ano, participei de todos os momentos da formatura de Edvaldo, em 15 de dezembro de 1973 e, no dia 30, chega Otávio Domingos, meu primeiro filho. Foi tudo tão abençoado, que Edvaldo que pensava em voltar para o IPA, em Recife, foi contratado como professor da ESAM em fevereiro do ano seguinte. Continuei o curso agora tendo Edvaldo como meu professor e, logo após minha conclusão partimos para Pós-Graduação em Lavras, Minas Gerais. Também não foi moleza porque precisávamos passar por um processo de seleção que não era tão simples e tínhamos ido como se diz: de mala e cuia. Deu tudo certo. Amém, amém! Passamos na seleção... E vamos queimar pestanas. Eu tinha a casa e uma criança para cuidar e, mesmo assim, conclui meus créditos com dezoito meses. E o que me veio? O segundo filho: Leonardo Cesar. Precisei me separar dele com quatro meses e de Otávio com seis anos, para concluir minha tese. Para isso contei com a ajuda de minha inesquecível mãe que foi o maior baluarte das minhas conquistas. Terminado o mestrado - sou mestra em Fitotécnica direcionada para Fruticultura Tropical - fui trabalhar na EMPARN em Caicó, mais um período de perseverança, depois Natal e, por fim, Mossoró. Enquanto isso, os meninos - Otávio e Leonardo - cresciam acompanhados pelos avós maternos, que vieram para Mossoró por minha causa, para me apoiarem. Os meninos cresceram, foram estudar em Recife. Otávio, Farmacêutico Bioquímico, formado pela Universidade Federal de Pernambuco. E Leonardo, em Administração de Empresas pela – FBV -Faculdade de Boa Viagem.
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Maria da Glória
Com a orientação de Edvaldo foi criado o laboratório de análises clinicas, primeiro em Recife e, após Otávio passar no concurso do ITEP como perito criminal em Mossoró, transferimos o laboratório, hoje Plasma Diagnósticos, para esta cidade, com a qual tenho um vínculo muito forte. Hoje, Edvaldo e eu, que éramos dois, somo dez. Dois filhos, noras e quatro netos. Procuramos ter uma vida participativa com a sociedade em que vivemos, atuando como Leões e na Maçonaria. Já fui Presidente do Lions Clube Mossoró-Centro e também Presidente do Clube das Fraternas Francisca Vasconcelos, da Loja Maçônica Jerônimo Rosado. Também já participei de dois pleitos como candidata à vereadora. Não fui eleita e isso não mexeu comigo, porque o que tentei foi para contribuir com Mossoró. Continuo minha vida, sempre disposta a ajudar, o que vem do meu EU. Mossoró, que é a cidade que adotei como minha, conhece o meu jargão: AMO MOSSORÓ.
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Exausto Eu quero uma licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o sono profundo das espécies, a graça de um estado. Semente. Muito mais que raízes. Adélia Prado
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Welison Alexandre
Maria de Fátima Alves Figueiredo Funcionária pública aposentada, nasceu em Mossoró, filha do saudoso casal Pedro Alves de Oliveira e Francisca Alves da Rocha. Viúva de Geovan Figueiredo de Sá, com quem foi casada trinta anos. Mãe de Ricardo Jorge Alves Figueiredo, Pedro Neto Alves Figueiredo, Geovan Figueiredo de Sá Filho.
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Fátima Figueiredo
O poder da amizade
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omo toda jovem, sempre gostei de ter bons amigos, divertirme e passear. Na rua onde nasci e me criei, tive uma infância regada de momentos saudáveis, costumávamos nos reunir para conversar, sentar na calçada, brincar.
Fomos crescendo, a adolescência chegando e o despertar para os namoros foram aparecendo, numa época onde os costumes eram bem diferentes dos dias de hoje. As idas ao parque de diversão, cinema, as paqueras, tudo era motivo de folia. Às vezes, tínhamos as desavenças, briguinhas e discórdias, mas logo tudo voltava ao normal, pois existia uma cumplicidade de amor e carinho. E assim fomos crescendo, estudando e as responsabilidades aparecendo. Junto com essas novas experiências, a maioria começou a encontrar o grande amor da sua vida e construir uma novo lar. E comigo não foi diferente, renunciei tudo e fui viver minha linda história de amor. Cada uma daquelas amigas seguiu seu rumo, construíram familias, mudaram de cidade e assim fomos distanciando, ficando somente as boas lembranças da infância. Uma das minhas melhores amigas foi embora para São Paulo, apesar da distância, sempre que ela vinha visitar Mossoró, me procurava e perguntava por notícias das outras, que na maioria, não tínha mais contato. Foi ai, que um dia, em uma de suas vindas, resolvemos procurar as outras e marcar um encontro na minha casa e assim foi feito. Parece que estávamos vivendo há décadas. Voltamos ao passado. A partir dai, decidimos não perder mais o contato. Até que um dia, o destino me apunhalou inesperadamente. De forma repentina, perdi o meu grande amor para o Pai celeste. Perdi minhas forças, fiquei sem chão, era como se estivesse sozinha no mundo. Começei a perguntar
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Fátima Figueiredo
a Deus o por que de tudo. Nem amigas para desabafar tinha mais. Eu estava sozinha, os filhos cada um com suas obrigações e seguindo sua vida e eu continuava só, as noite eram longas e tenebrosas, olhava para o céu na escuridão e indagava o por que de tanta solidão. Cheguei no limite de querer deixar de viver, implorava a Deus que ele aliviasse aquela dor tão forte do meu peito, que me ajudasse a sentir vontade de viver novamente, vontade de voltar a sentir prazer por simples coisas que gostava, desde passar um batom a tomar um belo banho e sair me sentindo bem. Lembro que até o banho era torturoso, a água pesada batia na minha cabeça e doia a alma, sentia-me suja. O espelho refletia uma mulher sem brilho, autoestima perdida, quando lembrava que tinha que continuar a rotina da vida, lá vinha as perguntas de sempre: “Para que?”, “Para quem?”, “Qual o sentindo da vida?”. As lágrimas ainda rolam ao rosto quando lembro desses momentos. Tudo era diferente, sempre procurava inovar, mas o próprio cotidiano do dia a dia trazia à tona a lembrança do meu amado. Foi dificil, mas tive que aprender a conviver com a solidão. Posso dizer que foi difícil, sentia-me como se, de repente, tivesse deixado de andar com minhas próprias pernas, era dificil recomeçar minha caminhada sem meu amor. Tinha que de qualquer forma aprender a conviver com a tal solidão. Um dia, meu filho vendo minha tristeza e solidão, perguntou por minhas amigas de infância e questionou: “Por que a senhora não faz uma reunião com elas aqui em casa?”. Ao mesmo tempo que tinha vontade , nada tinha graça para mim. Mas mesmo sem ânimo, resolvi convidar as que residiam em Mossoró e a partir dai esse contato passou a ser constante. Elas me passaram muita força e positividade. De repente, num desses encontros, tivemos a idéia de formar um grupo intitulado de Cinquentinhas, com alusão a faixa etária da maioria.
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Fátima Figueiredo
Hoje somos vinte e cinco amigas e algumas agregadas que de certa forma fizeram parte de uma história do passado. Algumas viúvas, outras divorciadas, umas com história vitoriosa de câncer, perda de filhos e outros problemas encarados pela vida. De lá para cá, minha vida tem tido outro sentido. Tudo é motivo de festa para nós, viramos criança quando estamos juntas. Fazemos viagens, comemorações de aniversários com direito a camisetas, festas temáticas, tertúlias - festas da nossa época - encontros de fim de semana. Nosso lema é ser feliz e quando uma fraqueja, as outras levantam. Hoje, passados quase cinco anos depois dessa perda e de todo sofrimento, perguntam-me: Superou? Sim. Hoje posso posso afirmar que sim. Aprendi a me conhecer, a criar novas rotinas e novos hábitos, junto com minhas amigas de longas datas. A saudade ainda existe, mas eu a driblo, “me pinto e me disfarço”, como diz a bela canção de Fafá de Belém. O segredo de tudo, além das amigas que foram peças fundamentais, são: a fé que tenho em Deus e minha família que é o alicerce de tudo, pois levou meu grande amor, mas me deixou três filhos maravilhosos: Ricardo Figueiredo, Pedro Neto, Geovan Filho, uma nora que recebi como uma filha, Jamile Figueiredo, e os mais lindos netinhos que me faz vibrar de felicidade: Giovanna Sofia e Pedro Guilherme. Hoje posso dizer que o Pai celestial me completou como mulher, como mãe e como avó, me devolvendo minhas amigas do passado, para resgatar o sentido da vida. Por fim, agradeço em especial com essas amizades de infância que ficaram guardadas numa caixinha chamada coração e que quando precisei, elas estavam lá, conservadas do mesmo jeito. Muito obrigada, minhas Cinquentinhas.
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Célio Duarte
Maria de Fátima Carlos de Araújo Barbosa Natural da cidade de Almino Afonso, filha do saudoso Antônio de Araújo Leite e Rita Carlos de Araújo, sendo a primogênita de uma prole de dez filhos. É casada com o mossoroense Francisco Evandro de Souza Barbosa e mãe de dois filhos, Tiago Carlos Barbosa e Breno Carlos Barbosa.
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Fátima Carlos
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heguei à cidade de Mossoró juntamente com minha família em 1965, para me dedicar aos estudos, após ser aprovada ao curso de admissão ao ginásio, na antiga Escola Estadual de Mossoró, onde permaneci até concluir o 2º grau.
Comecei a trabalhar aos treze anos de idade como professora
de alfabetização na Liga Operária Mossoroense. Com quinze anos trabalhei na antiga Escola Modelo Municipal, exercendo a função de auxiliar de professor. No ano de 1973, prestei vestibular na então Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte – FURRN - atualmente Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN - tendo restado aprovada ao curso de Geografia, o qual conclui no ano de 1977. Em 1974, fui nomeada professora da rede estadual de ensino, tendo lecionado em diversas instituições, entre elas na Escola Estadual Professor Abel Freire Coelho, onde permaneci até o período de aposentadoria. Ainda criança, por influência da minha mãe, despertei o gosto pelo mundo da moda, atividade que exerço há vinte e oito anos. Atualmente atendo em loja de multimarcas e ateliê que levam o meu nome, clientes do nosso Estado e de Estados vizinhos, procurando sempre informarse e atualizar-se na área em que atuo, através de leituras e viagens que realizo rotineiramente. As primeiras criações, no final da década de 1980, cruzam-se no cenário mundial e nacional com vários acontecimentos sócio-econômicos e políticos marcados pela emergência de uma nova geo-política. No âmbito local, então professora com formação acadêmica em Geografia, sempre entusiasmada com o mundo da moda, vislumbro novos horizontes para minha vida profissional. Inicio esse processo de criação, como já falei, sob influência de minha mãe Rita Carlos e
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Fátima Carlos
do inseparável e inesquecível amigo, Iatagan Falcão. São esboçados e confeccionados os cinco primeiros camisões em popeline no estilo patchwork, que foram adquiridos por algumas amigas. Sempre primando pela qualidade e beleza, as peças produzidas tornaram-se objeto de interesse das amigas-clientes, impulsionando o crescimento da produção e motivando-me a promover mudanças: a camisa passa a ser confeccionada em linho com bordados exclusivos e de criação própria. Sentimos já nessa época, a necessidade de reservar um espaço de nossa residência para tal finalidade. Assim, surge o Ateliê Fátima Carlos, em 1989, vocacionado a valorizar a beleza, a elegância e o brilho da mulher mossoroense. Durante a década de 1990, o ateliê evolui, ganhando contornos bem delineados em termos de expansão da produção, já confeccionando vestidos, saias, calças e blazers, e diversificando no uso das texturas e adereços, revelando novas formas de trabalhar e acenando para avanços significativos. Também nesse período, as conquistas tecnológicas permitem o surgimento das fibras ecologicamente corretas. O mundo é fashion. Essa é a era das top models: Linda Evangelista, Naomi Campbel, Cindy Crawford, e das celebridades como Madonna, Kate Moss, Tom Cruise e tantas outras. É nesse cenário que se gesta o quadro propício para a expansão das atividades do ateliê. Então, passei a pesquisar o que havia de melhor, mais atualizado e único no mundo da moda para a satisfação de nossas clientes. Ultrapassando fronteiras e vencendo obstáculos, comecei a adquirir nos endereços mais sofisticados da cosmopolita Nova Iorque peças nobres e aviamentos diferenciados que estavam longe de cair no comum. As viagens foram valiosa fonte inspiradora e me despertaram o interesse e o fascínio pela alta costura, cujos efeitos sinalizavam para a
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Fátima Carlos
demarcação de uma identidade própria em termos de estilo. Nesse percurso foram visíveis os avanços, as conquistas e os desafios enfrentados. Concomitantemente ao crescimento e diversificação das atividades, sente-se a necessidade de reformar a estrutura física do ateliê, o que foi concebido inicialmente pelas arquitetas Elizabeth Rosado e Vera Cidley e, posteriormente, já no ano de 2012, pela arquiteta Melina Carlos. Nesse sentido, buscando constantemente oferecer conforto, bemestar e confiança às minhas clientes, sempre procuro me esmerar em cada criação, colocando à disposição em nossas araras as mais renomadas grifes do Sul e Sudeste do país, além de prestar um serviço de consultoria quanto ao uso e combinação de roupas e acessórios, de acordo com as necessidades da cliente, horário e local do evento. Atualmente sinto satisfação, orgulho e entusiasmo, por poder contribuir com realizações concretas e enriquecedoras na vida de outras pessoas. Posso afirmar que atingi a maturidade profissional fashionista, firmando parcerias e contribuindo para viabilizar vários projetos do mundo social e cultural mossoroense. Vale acrescentar que sempre procuramos oferecer à nossa clientela um ambiente aconchegante cuja receptividade se traduza no bom atendimento oferecido. Neste ano de 2017, o Ateliê e Maison Fátima Carlos completa vinte e oito anos de atividades, contando com o empenho e lealdade de nossa colaboradora mais antiga, Sandra Pereira, e assumindo a cada dia o compromisso de servir a coletividade, de colaborar com os momentos felizes e celebrativos das famílias mossoroenses e potiguares, e de contribuir para elevar a auto-estima da mulher, que é considerada simplesmente chique.
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Célio Duarte
Maria de Lourdes Paula de Albuquerque Frota Empresária do ramo da panificação em Mossoró, aonde nasceu em 30 de setembro de 1958. Filha adotiva da saudosa Nilda Paula de Albuquerque, já viúva na época de sua adoção. Lourdinha é divorciada e mãe de cinco filhos. Lourdinha Frota é proprietária da Padaria Frota, no bairro Nova Betânia.
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Lourdinha Frota
Uma história marcada por uma palavra: Gratidão
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inha história é marcada por uma palavra: gratidão. Fui adotada ainda bebê, por uma família maravilhosa e até hoje agradeço a Deus pelo carinho e o amor que todos me dedicaram.
Tive três mães: uma biológica, que se revelou minha mãe depois
que eu já era adulta; minha mãe Nilda, que me recebeu e me deu seu sobrenome, e minha terceira mãe, a qual eu chamava de Babá, e era quem dava as ordens em nossa casa e me protegia de tudo e todos. Só ela podia reclamar das minhas traquinagens. Minha infância e adolescência foram bastante felizes. Recebi uma educação de excelência, tanto em casa, como na escola. Estudei nas melhores escolas. Fiz o primário no Colégio Sagrado Coração de Maria e o ginasial e Ensino Médio no Colégio Diocesano Santa Luzia. Eu era tímida, mas sempre participei de desfiles, eventos do colégio e tudo que tinha na cidade. No decorrer desse tempo, fiz boas amizades, amigos de infância que conservo até hoje. Comecei a trabalhar cedo. Meu primeiro emprego foi no escritório de contabilidade do meu irmão, Antônio, e o segundo, no cartório de Joca Bruno, de onde saí para casar. Casei em 1981, aos vinte e dois anos, com Cristovam Gurgel da Frota Filho. Após o casamento, fomos morar em Recife e um ano depois, nasceu minha primeira filha, Roberta. Nos anos seguintes, nasceram meus outros filhos: Estevam, Emmanuel, Daniel e, presente de Deus, meu filho Lucas. Dois anos após o nascimento da minha primeira filha, já estávamos de volta a Mossoró e decidi que queria trabalhar. Foi quando surgiu a
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Lourdinha Frota
oportunidade de comprarmos a padaria do pai de Cristovam, o senhor Cristovam Frota, e da sua irmã Maria José Frota. A padaria funcionava na Rua João da Escóssia e vendia pães, bolo Vermont e o delicioso pastel, feito por dona Amélia, matriarca da família. Quando assumimos, começamos a fabricar outros produtos e, com o passar dos anos, sentimos necessidade de encontrar um lugar maior. Procuramos por um tempo e encontramos um terreno para comprar. Então fomos atrás do sonho. Vendemos nossa casa, carro, algumas outras coisas e começamos a construir o que hoje é a Frota Pães e Doces. No percurso, tivemos algumas dificuldades, mas costumo dizer que, com Deus e disposição para trabalhar, nada é impossível. Hoje, não somos ricos, mas temos uma vida boa, tranquila. Conquistei tudo que tenho com muito trabalho. Trinta anos de suor e dedicação, que vêm trazendo recompensas ao longo dos anos. Hoje, sou divorciada, mas Cristovam e eu continuamos sócios na Panificadora Frota. Minhas conquistas, como já falei, foram com bastante trabalho e dedicação. Já enfrentei, e ainda enfrento alguns preconceitos, mas são coisas que não me abalam, só me entristeço por essas pessoas. Minha irmã, Vevinha, costumava dizer: “Lourdinha só dá valor a quem dá valor a ela”, talvez por isso eu tenha tanta gente maravilhosa ao meu redor, que me querem e a quem eu quero muito bem. AS festas em família são acontecimentos que marcaram minha vida. Em uma delas tive a oportunidade de agradecer por tudo que eles fizeram por mim. Também me marcou muito a chegada dos meus filhos, o casamento de três deles e o nascimento dos meus
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Lourdinha Frota
netos: Davi, Ana Luísa e Artur, os quais eu amo muito. Hoje posso dizer que sou uma pessoa feliz e realizada. Na área profissional, continuo buscando me reciclar, participando de cursos e feiras voltadas para a área da panificação. Amo inovar e deixar meus clientes sempre satisfeitos. Não penso em me aposentar, por enquanto. Na área pessoal estou em uma fase de curtir minha família, principalmente, meus netos. Gosto de aproveitar cada momento que posso estar com eles, paparicá-los, afinal, dizem que avó é justamente para isso: mima os netos, não é? Meus filhos já são todos adultos e, graças a Deus, bem encaminhados na vida. Nunca tive motivos para reclamar deles. Por fim, mais uma vez repito a essa palavra: gratidão. Gratidão a Deus e a Nossa Senhora, por quem tenho devoção, por todas as maravilhas que Eles têm feito e continuam a fazer na minha vida.
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Cedida
Maria do Rosário Mota Rosário ou Rosarinho, é natural de Caruaru, mais importante cidade do agreste pernambucano, onde nasceu em 30 de janeiro de 1956, terceira filha do casal Quitéria e Adornas Mota, que tiveram quatro filhos: Paulo, Maria da Penha, Rosário e Fernando. Rosário iniciou seus estudos no Colégio Sagrado Coração, em Caruaru, onde concluiu o primeiro grau. Em Recife, graduou-se em Medicina. Rosário, além de médica ginecologista obstetra, fez curso de especialização em auditoria médica – FACISA – e, há vinte anos, atua como médica auditora da Secretaria Municipal de Saúde. Atuou também como perita médica do Estado entre 2008 a 2012.
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Rosário Mota
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ma das mais marcantes características minhas é a inquietude, a busca constante pelos valores em que acredito, a realização de meus sonhos como mulher, como mãe, como médica e cidadã. Sempre
inquieta e inconformada, questionava junto ao meu pai o destino comum das moças da época: a formação no máximo no curso de magistério e o casamento formal com algum jovem do local. Porém, eu queria mais, sonhava mais alto e desejava ser médica, sonhava ser médica obstetra. De tanto insistir junto a papai, recebi autorização para realizar os estudos do segundo grau, na época o chamado curso científico, em Recife, onde já residia minha irmã mais velha, que cursava os estudos superiores na Universidade Católica do Recife. Assim, com quinze anos de idade, em 1971, cheguei a Recife e me matriculei no Colégio Esuda, onde completei o curso científico e logo a seguir prestei vestibular para Medicina, logrando êxito na Faculdade de Ciências Médicas, da Fundação de Ensino Superior de Pernambuco – FESP - hoje Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco – UPE - e assim, apenas com dezessete anos de idade, iniciei os estudos em Medicina. Durante o curso médico, desejando concretizar meu sonho de ser obstetra, aproximei-me de grandes e reconhecidos médicos ginecologistas-obstetras e me oferecia para trabalhar gratuitamente com eles, em troca de aprendizado durante treinamento. Pelo interesse e responsabilidade que sempre demonstrei, fui ganhando paulatinamente a confiança destes médicos e em pouco tempo tornei-me a auxiliar preferida para a realização dos procedimentos médicos cirúrgicos da especialidade.
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Na faculdade, cobria os colegas nos procedimentos práticos de ginecologia e obstetrícia, onde já reinava, realizava partos e pequenos procedimentos sem dificuldades. Realizei também concursos para estágios acadêmicos em maternidades de Recife, aprimorando os conhecimentos teóricos e práticos. Por fim, em dezembro de 1979, aos vinte e três anos, gradueime médica e, já no inicio de 1980, fui residir em Manaus, onde minha irmã, Maria da Penha, passou a morar após o casamento. E logo comecei a trabalhar como médica contratada pelo estado na maternidade de ltacotiara. Neste local carente, tive que mostrar toda minha experiência e capacidade profissional, para realizar os atendimentos necessários em uma região pobre e de poucos recursos e foi lá que permaneci prestando serviços por dois anos. Em maio de 1982, cheguei ao Rio Grande do Norte e fui trabalhar na cidade de Tenente Ananias. Pouco tempo depois, já era a diretora do centro de saúde local. Logo a seguir, fui chamada a montar um novo serviço hospitalar na cidade vizinha de Antônio Martins. Em 1983, contrai núpcias e, desta união, nasceram Tarcísio, em 1984, hoje psicólogo clínico; e Tarciana, em 1985, hoje residente nos Estados Unidos e que ano passado me presenteou com uma linda neta, Eva Marie. Este casamento veio a terminar dez anos após, em 1994. Uma curiosidade foi a forte atividade política que tive em 1988, quando fui candidata e eleita vice-prefeita da cidade de Tenente Ananias. Porém, não me adaptei a vida política e recusei-me de participar de novos pleitos, apesar do apelo de muitos. Em 1990, atuei como diretora do centro de saúde de Alexandria e trabalhava como médica ginecologista-obstetra do Hospital Guiomar Fernandes.
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Rosário Mota
Com o fim do casamento, resolvi mudar e me foi oferecido opções de trabalho em Natal ou Mossoró. Em visita a Mossoró, apaixonei-me pelo local e logo resolvi: “É aqui que vou morar”. Rapidamente me instalei e, em 1994, comecei a trabalhar no centro de saúde CAIC e iniciei carreira médica de ginecologistaobstetra nesta cidade, onde rapidamente me destacou pela sua excelência profissional. Minha identificação com Mossoró é tal, que sempre me anuncio como mossoroense, esquecendo minhas origens de Caruaru. Entre os anos de 2012 a 2014, fui médica do Hospital da Mulher, hospital este que ao fechar deixou um grande vácuo no atendimento especializado da mulher. A inquietude é minha marca registrada. A grande capacidade de diálogo, o fácil relacionamento com os colegas e o constante desejo de melhorias fez com que eu, junto com outros colegas nos uníssemos e fundamos o Núcleo de Ginecologia e Obstetrícia de Mossoró – NGO - onde exerço nos dias atuais o cargo de DiretoraPresidente com grande relevância. Atualmente, tenho consultório médico nas modernas instalações do West Clinical, que fica localizado na rua Duodécimo Rosado, n° 337, onde atendo particular e convênios médicos. Eis o resumo da vida desta caruaruense de nascimento e mossoroense de coração e livre opção.
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Paulo Eduardo
Maria do Socorro Estrela de Oliveira É natural de Sousa, Paraíba, filha de Antônio Estrela Dantas e Terezinha Lopes Martins. Casada comFrancisco Xavier de Oliveira Filho. Mãe de Iuri Estrela de Oliveira e Iago Estrela de Oliveira. Médica.
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Socorro Estrela
As armas e os Barões assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram. Camões
Feliz! Motivos não me faltam!
A
história registra que muitos foram os que rasgaram o grande oceano Atlântico, em viagens de além-mar, alcançando o Brasil. E então, assim, nesse novo êxodo, meus parentes também teriam deixado a neve, a fauna
e a flora extraordinárias da região da Serra da Estrela em Portugal, para abraçarem com fervor o Novo Mundo, como se também fosse a terra prometida. Assim, nesse histórico hereditário, sou filha da sílica paraibana e sousense. Nascida no alto e seco sertão, porém fortalecida que fui na resistência da saga do povo nordestino e mais ainda, encorajada na sentença de Euclides da Cunha, de que somos, antes de tudo, fortes, mas tudo sempre consolidado na fortaleza ética e moral e na pujança familiar do meu querido pai, Antônio Estrela Dantas, e da minha amada mãe, Terezinha Lopes Martins, que diuturnamente se dedicaram, como missão maior das suas vidas, para a educação e a formação acadêmica de seus cinco filhos, mas que ainda hoje, com as bênçãos de Deus, lucidamente zelam pelos caminhos seguidos
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por seus filhos. Mas a minha inspiração de forte eu fui buscar, às vezes suavemente, às vezes a fórceps, na beleza da ética; no vigor da razão, no respeito ao próximo e no amor ao exercício da medicina, profissão que pratico incansavelmente, nunca como fardo, mas louvando-a sempre como uma dádiva, como uma missão e ainda mais, como um presente divino. E assim construo a minha história, sempre respeitosamente guiada pela minha religião, pela minha fé, e consciente de que, na Sé do meu destino, a elevação espiritual está na medida correta das ações verdadeiras no exercício do bem. Todavia, para a consolidação dessa minha vida familiar, espiritual, social e profissional, uma condição teria ainda que surgir. Era a condição de que eu deveria cultuar o ensinamento cristão sobre o sal da terra, amando e respeitando esse título da preservação humana. Pois o Evangelho nos orienta que:”Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens”, Mateus 5.13. Por conseguinte, e dando continuidade ao meu caminhar, assim fui recebida e abraçada por essa adorável cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte. E foi essa cidade de Mossoró que tão altivamente me fez sua cidadã para que eu, sem reservas, e na medida certa, ou seja, sem excessos mas também sem omissões, pudesse ser orgulhosamente uma mossoroense. Mas essa bela cidade de Mossoró, em mais uma atitude de bondade, completou a minha virtude de mulher, dando-me o meu esposo Francisco Xavier de Oliveira Filho, dedicado companheiro na hora da alegria, e incansável companheiro nas horas dos obstáculos.
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Socorro Estrela
E se isso tudo ainda fosse pouco, como verdadeiramente não é, Mossoró ainda mais coroou a minha glória, a minha felicidade, entregando-me em berço esplêndido, os meus dois filhos, Iuri e Iago, hoje médicos, dedicados ao nobre mister do amor ao próximo, do amor à vida. Finalmente, sou médica pediatra, dedicada aos cuidados das crianças, pré-adolescentes e adolescentes, sempre atenta à saúde, prevenção e ao tratamento de doenças, sem esquecer do aleitamento materno, vacinas, prevenção de acidentes, crescimento e desenvolvimento dos que desabrocham para a vida. Eis meu mister. Ser uma parceira com os pais e/ou responsáveis no compartilhamento das suas dúvidas e anseios, no desenvolvimento da vida de seus filhos, priorizando sempre o bem mais precioso da vida que é a saúde. Independentemente de nossa liberdade religiosa, acredito que todos nós trazemos a nossa vocação, o nosso chamamento - vocare em latim - como a vocação profissional, etc. E estimulada por essa vocação, sou médica e sou crente. E assim, acredito na boa vontade das pessoas, e na vida soberana de Deus. Finalmente, lembrando da música do grupo musical Titãs: “Enquanto houver sol”, composição de Sérgio Britto, digo que é caminhando que se faz o caminho: “É caminhando que se faz o caminho Quando não houver desejo Quando não restar nem mesmo dor Ainda há de haver desejo Em cada um de nós, aonde Deus colocou”.
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Ricardo Lopes
Maria do Socorro de Souza Paiva Nasceu em Portalegre (RN), filha de Moises Ozório de Souza e Ezilda Pereira de Souza. Casada com Espedito Medeiros de Paiva e mãe de José Eloi de Paiva Neto, Moisés Ozório de Souza Neto, João Marcelo Medeiros Fernandes e Espedito Medeiros de Paiva Junior. É banqueteira e estrela que comanda o Requinte Buffet.
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Socorro Paiva
Sabores
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felicidade não está em viver, mas em saber viver. Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive, porque a vida não mede o tempo, mas o emprego que dela fazemos”.(Dalila Maitê Rosa Sena)
Saber viver com fé, acreditando, mesmo se todos os elementos
visíveis apontam no sentido oposto aos nossos sonhos e desejos. Saber viver com força, ainda que os braços vacilem ao suportar tantos fardos que teimam em testar nossa resistência. Saber viver com garra, mesmo quando parecemos estar em uma ilha remota, cercados de mares de desânimo por todos os lados. Saber viver com determinação, mesmo quando muitas vozes insistem em clamar para desistirmos dos nossos projetos mais caros e metas mais autênticas. Saber viver com amor, sem levar em conta gestos e palavras de desamor que pontuam a jornada da existência. Viver é saber sentir o gosto particular presente em cada instante. A vida da gente tem sentido de verdade quando o sabor se faz presente. As experiências vividas são da mesma essência do necessário alimento: precisam ser verdadeiramente saboreadas para nutrir cada parte do corpo e fortalecer o coração. Cada segundo, cada minuto, cada momento, então, se torna único, inigualável, especial. Alguns desses momentos são fortes, desafiadores, até certo ponto difíceis de degustar. Exigem determinação, fé e coragem para provar, sem nunca desanimar. São períodos em que precisamos combinar ingredientes de força e de fé para perceber a beleza que há em cada acontecimento!
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Socorro Paiva
Outros momentos são mais agradáveis ao paladar: devem ser valorizados, degustados sem pressa, pois servem para nutrir o espírito, preparando o ser para dias mais difíceis que sempre surgem em seguida. O tempo passa e outros instantes chegam para ser simples, aparentemente sem muita importância, coisas do cotidiano. São momentos que mais parecem os ingredientes escondidos e necessários, que terminam fazendo diferença no preparo da receita. Minha história de vida, a exemplo da história de tantas outras pessoas, foi e segue sendo marcada por instantes de maior e menor alegria à mesa. Mas todos os momentos vividos sempre estiveram firmados na fé, foram indispensáveis para chegar até aqui. Olho para o que ficou no passado para perceber a providência que me trouxe até esta hora de alegria pessoal e profissional, e que me levará adiante. Recordo a casa bancária que deixou de existir para habitar apenas o universo de nossas boas lembranças. Era, então, minha casa, que avistei de portas fechadas. Mas quando um portal se fecha, muitos outros são abertos. A vida mudou, e o gosto amargo do fim de um sonho cedeu lugar para a maravilhosa experiência de espalhar sabores. Dos pequenos e singelos bolos, ainda presentes na lembrança e no coração de muitos, enveredamos por outras trilhas culinárias. Em todas elas a felicidade nos esperou a cada passo dado. O coração, nesse tempo todo, se enche de felicidade pela chance de oferecer novo gosto à vida de muitos. É a alegria que não pode medir de receber em minha casa tanta gente. E de ver a felicidade de viver estampada em seus rostos.
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Socorro Paiva
Fazer parte dos momentos felizes de quem nem se conhece direito é uma grande responsabilidade. Somos convidados a todo instante para a festa da vida de pessoas aos quais nos unimos para além dos laços profissionais. Elas entram em minha vida. E me dão permissão para entrar na vida delas, com cores e sabores. A felicidade de cada um desses novos parceiros de jornada se transforma em felicidade minha. E a festa iniciada com eles e elas nunca tem fim. Tudo isso é saber viver com fé, força, garra, determinação, com amor, saber viver com sabor.
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Célio Duarte
Maria Eloilma Bezerra de Menezes Nasceu em 19 de abril de 1950, em Sonópole, no Ceará. Filha de Israel Bezerra de Menezes e Francisca Bezerra de Menezes. Passou a infância e juventude no sertão central do Ceará. É graduada em Pedagogia, pela Universidade do Estado do Ceará - UECE - e fez especialização em Gestão de Pessoas, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN.
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Eloilma Bezerra
T
enho uma filha, Thalita Bezerra de Araújo, e dois netos, Davi e Israel. Uma abençoada e linda família, uma história de lutas e sucesso onde respeitamos que a imaginação não tem idade e sonhar é prioridade. Em julho de 2004,
eu apresentava a Mossoró a Mil Opções Bijuterias, empresa familiar e, em maio de 2007, a Feminina Bijuterias, com um total de trinta e cinco colaboradores, vendendo o bem estar e vislumbrando a beleza da mulher potiguar. Em novembro de 2016, recebi o título de Cidadã Mossoroense, da Câmara Municipal, por indicação do vereador Genivan Vale, salientamos catorze anos de história nessa cidade. Minha infância considero encantada, perfeita. Sai dos alicerces de uma família de classe média estruturada do sertão central do Ceará. Fui privilegiada de mimos por ser a caçulas de seis irmãos. Guardo as marcas profundas de uma formação religiosa onde papai e mamãe foram os principais catequistas. Mês de maio trinta dias de novenas. Somos todos marianos. Sem esquecer o terço diário às 18 horas. Muito bom, teve uma vez, que seria obrigada a tomar café com leite e por não aceitar, depois de pedir, papai corria para me bater e todos corriam para me proteger, conclusão todos apanharam, menos eu. Minha juventude, ai que saudades que tenho... Alegre, atenta, participativa, muita leitura
e brincadeiras inesquecíveis, vou
contar uma... Do colégio Nossa Senhora das Dores no ginasial, saía uma quadrilha junina onde eu era a noiva. Desfilando montada em um cavalo pelas ruas da cidade, foi só começar os fogos para o meu cavalo disparar sem controle e levar os outros cavalos a correr também. A cidade riu demais, e dancei a festança com o vestido de noiva quase todo rasgado.
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Eloilma Bezerra
Com 25 anos, era professora de Língua Portuguesa na Escola Estadual de 1º grau, onde consegui realizar um grande sonho, apaixonada por Monteiro Lobato, despertamos em crianças de dez a doze anos a vontade de escrever sua própria história, foi fantástico. Isto me rende emoções até hoje. Muitas estórias lindas e tristes. Funcionária pública federal até aposentar e vereadora por duas legislaturas na Câmara Municipal de Senador Pompeu, onde registramos fortes lutas populares, precisaria de um livro. Com certeza o fato de gerar um filho me tornou forte, poderosa mesmo. Com a maternidade, amadureci e evoluí como mulher... Fiquei deslumbrada com a presença de minha filha, Thalita, mas não consigo controlar o imenso amor que tenho pelos netos, Davi e Israel, minha razão de viver. Minha vinda a Mossoró aconteceu por convite dos empresários José Eudimário Bezerra de Menezes, irmão, e de Mauro Eduardo Ricciardi, sobrinho. Juntou a coragem de enfrentar o novo com a determinação de vencer. Recebemos com gratidão o carinho deste povo maravilhoso e apresentamos nossa linha diferenciada de administrar. Como deixa claro nosso grande amigo e advogado doutor Marcos Araújo: “Dona Eloilma faz panfletagem, faz propaganda em microfone é manequim expositor das bijuterias e semi-jóias, vendedora, recepcionista, por aí extraímos irreverência”. É muito bom ser apaixonado por aquilo que fazemos. Obrigado RN, Obrigado Mossoró. A Mil Opções Bijuterias 1 e 2 agradece a comunidade mossoroense que por oito anos consecutivos, recebeu vários títulos por excelência no atendimento, feita por pesquisa popular e que essa é realmente a nossa maior recompensa.
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Eloilma Bezerra
Mossoró dos meus encantos Mossoró, te quero tanto. Já não sei viver sem ti. Se apaixonada sou, te amando, te levando aonde quer que vou te canto, por todo canto Mossoró dos meus encantos Este nascer do sol, tua luz me inebria rasgando até minha alma, raios fortes, cintilantes teu calor pura energia, acompanha todo o dia. Mossoró dos meus encantos. Esta febre de alegria é no Pingo da Mei Dia queima o meu coração Correndo pra multidão, voando de braço em braço, são sorrisos e abraços, vivemos esta emoção no mês de São João. E chegou a Boca da Noite. Que é que é isso, meu irmão? Meu grito é sanfonia. Vem pra rua! Vem dançar! É um carnaval, é magia, adrenalina e paixão, a nossa linda cidade hoje não dorme não. Veja o encantamento. Que beleza o despertar... São pássaros de galho em galho, cantam forte sem parar... Nas águas termais cristalina, fico besta. Uma menina, no Thermas a relaxar. E que maravilha tu és. Uma grande esmeralda debaixo dos meus pés. Terra de Santa Luzia. A menina que nos guia. Pelos caminhos da fé. É a maior das romarias do Nordeste potiguar e foi através de Luzia que comecei a te amar. Berço de lutas e bravura de vitórias conquistastes poetas e historiadores, artistas e cantores que riqueza cultural, sou tua filha orgulhosa, beijo o chão que me acolhe gratidão eu cantarei. Mossoró dos meus encantos.
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Guilherme Ricarte
Maria Emília Lopes Pereira Mossoroense, de 26 de fevereiro de 1947, filha de Leônidas Pereira de Paula - Nidinho Paula - e Joana Lopes Pereira. É a segunda de uma prole de dez irmãos. Iniciou os estudos em Mossoró, depois foi para Fortaleza, no Ceará, e concluiu em Natal, onde graduou-se em Direito. Do relacionamento com Francisco Canindé Queiroz e Silva nasceram: Isadora, Tito e Jules.
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Maria Emília
70 anos bem vividos
E
u nasci há setenta anos, mas diferentemente de Raul Seixas – na canção diz ter nascido ‘há dez mil anos atrás e não há nada neste mundo que não saiba demais’. Procuro sempre aprender a cada dia. Mas se continuo aprendendo ou me reciclando, já
vivi muitas Emoções, como o rei Roberto Carlos. Tive infância igual a de tantas outras crianças do meu tempo. De uma família com muitos filhos, cujos pais viviam para nos dar uma boa educação. Nunca quiseram nos deixar bens materiais, até porque entendiam que causam muitas disputas e se acabam. Enquanto a educação ninguém rouba. E a disputa é bem saudável. Até os 14 anos, permaneci em Mossoró, brincando na calçada com as crianças dos vizinhos. À época não havia o temor da violência. À falta de TV, a família se reunia na área externa da casa, para conversar e contar os acontecimentos do dia. Mas recordo a primeira viagem que fiz, como presente pela aprovação no Exame de Admissão. A cidade escolhida foi Apodi, terra de minha mãe, onde ainda morava uma tia, que me recebeu com muito carinho. Jamais esquecerei o meio de transporte: um ‘misto’, aqueles caminhões com duas boleias, sendo a primeira sem portas. Estrada de piçarra e numa freada brusca, sofri uma pancada na fronte, que chegou a sangrar. Nada que me apavorasse, pois fui socorrida pelos outros passageiros. Outra vez, fui a Natal. Também nesta época a BR 304 não tinha asfalto. A viagem se dava com oito horas ou mais de percurso. Não tive festa de quinze anos, mas recebi um presente que permanece comigo até os dias atuais: um piano. Iniciei os primeiros estudos do instrumento com Madre Glória, diretora do Ginásio Sagrado Coração de Maria.
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Maria Emília Concluído o ginasial, fui para Fortaleza estudar no Juvenal Carvalho, dirigido pelas Irmãs Salesianas, onde tive um grande aprendizado como interna. Também foi com as Irmãs Salesianas que comecei a me dedicar à religião. Foram dois anos de missas diárias, sempre às 6 horas. Éramos despertadas às 5 horas, pois antes de sairmos do dormitório era preciso deixar a cama arrumada e pronta para, após o café, já seguirmos para a sala de estudo, enquanto chegava o horário da aula. Vale salientar, que as internas não podiam se misturar com as externas, exceto na sala de aula. Até as fardas eram diferentes e os locais de recreio eram separados. Mas não me arrependo, pois foi um verdadeiro estágio de disciplina e que me ensinou a respeitar os outros, sempre ouvindo e admitindo que nem todos têm a mesma opinião, mas devem ser aceitos com os defeitos e virtudes. Em 1964, transferida para o Atheneu Norte Riograndense, em Natal, dava-se início à vivência política. Época da ditadura militar, era o começo da efervescência estudantil, com as músicas de protesto e as manifestações de rua, sob a ameaça da repressão. Tudo isto continuou de 1965 a 1969, quando cursava Direito. A Faculdade de Direito da UFRN era o centro das manifestações, reunindo universitários de outros cursos. Cheguei a ser Vice-Presidente do Centro Acadêmico Floriano Cavalcanti. As disputas giravam em torno de direita e esquerda. Mas nunca fui extremista. Ao contrário, pacificadora. Sabia ouvir os dois lados e tentava apaziguar, de forma a encontrar o melhor para ambos. Comecei a trabalhar ainda na faculdade. Como estagiária, no Departamento Cultural da Reitoria da UFRN, que funcionava na Avenida Hermes da Fonseca, onde hoje é o Comando Naval. Ainda não existia o Campus Universitário; as faculdades funcionavam separadamente e a de Direito era na Ribeira, o que obrigava muitas vezes, no período chuvoso, a tirar os sapatos para adentrar ao prédio. No Departamento Cultural tinha como Diretor o Escritor Edgar Barbosa, que também foi meu Professor de Direito Constitucional.
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Maria Emília Compunha também o quadro do Departamento o ex-deputado federal Ney Lopes de Souza. Concluído o curso de Direito, em 1969, não cheguei a colar grau solenemente, tendo em vista o falecimento de meu pai, no mês de setembro. Mas, talvez uma premonição, a última viagem que ele fez a Natal, poucos dias antes de sua passagem, foi para me entregar o anel de formatura. Isto me marcou muito e é uma lembrança inesquecível. Em Natal, frequentei a Escola de Música e pertenci ao madrigal da UFRN, sob a regência do Padre Pedro Ferreira. Com bolsa de estudo para a Alemanha, tive que adiar o sonho para vir ajudar minha mãe na criação dos irmãos menores. De todos, eu fui, a primeira a se formar. Com carta de recomendação do Professor Edgar Barbosa, consegui trabalhar com o Reitor João Batista Cascudo, como Assessora Jurídica. Acumulava a função de Secretária da Faculdade de Educação, Institutos de Ciências Humanas e de Letras e Artes, que tinham como diretores os Professores José de Freitas Nobre, João da Rocha e Alcir Leopoldo. Foi então que conheci o meu companheiro Canindé Queiroz, que lecionava matemática. Amor à primeira vista. De lá para cá, entre encontros e desencontros já se passaram 45 anos. E hoje, depois de ter aprendido muito com ele e ao seu lado ter fundado a Gazeta do Oeste, envelhecemos juntos, até que a morte nos separe. Em 1972 fiz concurso para o Ministério Público, tendo exercido a função de Promotor de Justiça nas comarcas de Martins, Apodi, Caraúbas, Areia Branca, Upanema, Mossoró e chegando ao último degrau da carreira como Procuradora de Justiça. Os 70 anos bem vividos não caberiam em duas páginas, espaço delimitado pelas idealizadoras do projeto Por Isto Não Provoque. O restante será contado na biografia completa que planejo transformar em livro.
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Cláudio Roberto
Maria Liduina Chaves Costa Nasceu no povoado de Poço do Barro, em Limoeiro do Norte, no Ceará, pelas mãos de uma parteira, no dia de Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro de 1957. É a sexta filha dos comerciantes Maria Freire Melo e José Vilmar Chaves, que tinham um ponto no mercado municipal, vendendo comidas e lanches. Quando a pequena Lili tomava entendimento de gente, estranhou porque os nomes dos seus outros irmãos, quase dez, todos começavam com a letra V, só ela era diferente e a brincadeira que se tinha entre os irmãos era que ela seria adotada, mas depois veio a explicação: é que o seu pai estando adoentado e internado na Santa Casa de Misericórdia, em Fortaleza, com poliomielite, fez uma promessa para Santa Liduina e quando ela nasceu recebeu o nome.
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Q
Liduina Costa
uando eu tinha apenas sete anos, no ano do golpe militar, meus pais resolveram migrar para Fortaleza, pois mamãe necessitava realizar tratamento de saúde e na capital havia mais recursos. Nossa tia Heraclides Chaves, irmã de papai sugeriu e incentivou a ida de nossa família à Fortaleza, pois a cidade grande poderia oferecer melhores oportunidades. Ao chegar na capital alencarina, logo nos estabelecemos no bairro Otávio Bonfim, na Vila Nazaré, de onde só eu sairia para dividir um quitinete com amigas e colegas de trabalho e posteriormente para me casar, depois de um ultimato dado ao meu namorado, Antonio Esildo Costa, um funcionário público do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em 1979, aos 21 anos de idade, mesmo depois de casarmos, vivemos nas proximidades da Vila Nazaré, no bairro Parquelândia. Conclui os estudos em 1978, na Escola Normal Justiniano de Serpa. Antes de me formar, em 1976, comecei a trabalhar no Romcy, a maior rede de lojas de departamento que o Ceará já teve. De comerciária passei a bancária, fui operadora de caixa no Banco Econômico e, de lá só sairia por conta do nascimento do meu primeiro filho, no mesmo ano do casamento, nasce no Hospital Geral de Fortaleza, aquele que se tornaria anos depois o produtor cultural e professor universitário, Thalles Chaves Costa. Em 1980, mudamos por conta da transferência do marido para a cidade de Russas e, em 1983, para Ipu, onde permanecemos até 1987, retornando para Fortaleza e fixando residência no bairro Antônio Bezerra. Em 1983, no Hospital Batista Memorial, nasce nossa segunda filha, a menina empreendedora, Thaís Chaves Costa. Em 1988, na Gastroclínica, nasce o terceiro filho, que se tornaria cirurgião dentista, Antonio Esildo Costa Filho. Em 1990, nova mudança, para o bairro Henrique Jorge e, em 1992, compramos uma casa no bairro Barroso, vizinho ao hoje, Arena Castelão, próximo ao bairro Messejana, onde permaneceríamos até 1994, quando nos aventuraríamos por terras potiguares.
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Liduina Costa
Com os filhos já crescidos, comecei a revender produtos como sacoleira, de porta em porta, para conhecidos amigos e familiares, visitando suas casas além de repartições públicas, tanto à vista como a prazo, de peças íntimas a perfumes e cosméticos em geral, de várias marcas e linhas até que um dia, pelo ritmo e volume de vendas comecei a receber propostas para a montagem de uma franquia própria, a linha de cosméticos Blosson Ville. Um sonho a ser realizado pela mulher empreendedora que sempre fui. Dada algumas opções de cidades, decidi juntamente com meu esposo optar por Mossoró, tanto pela proximidade com Fortaleza e o fato de já ter alguns familiares por parte de meu pai, como pelo investimento que seria possível, com a ajuda do marido, juntar nossas economias e encarar o desafio na capital do oeste potiguar. Depois de algumas visitas a Mossoró, aluguei duas salas na rua Dionísio Filgueira e dei entrada na abertura da empresa. A primeira remessa de mercadoria chegou em 8 de dezembro de 1994, dia do meu aniversário. Sempre tratei as clientes e pessoas próximas de Princesa e assim me chamavam também. Vim sozinha para Mossoró, em setembro de 1994, desbravar o mercado, comecei a visitar revendedoras de outras linhas de cosméticos a fim de apresentarlhes um produto novo na cidade, a meta era de um cadastro por dia, mas nem sempre era alcançada, enquanto Lourdinha, minha primeira colaboradora ficava na loja atendendo clientes, separando mercadorias e organizando tudo, a Lili aqui, como sou conhecida pelos íntimos, batalhava no campo, pelos bairros de Mossoró, andando de ônibus, a pé e de táxi por todos os cantos, visitando sacoleiras, angariando revendedoras para a nossa linha de cosméticos e fazendo novos cadastros. Fazia as refeições pela rua, nos restaurantes onde passava e a noite, tomava banho no apertado banheiro de uma das salas e estirava um colchonete no canto da loja para descansar para mais uma jornada. Matava um leão a cada dia.
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Liduina Costa
Em torno de três meses depois, por conta da escola dos filhos, o restante da família chegou para se juntar, dando-me mais forças para continuar naquele desafio. Meu marido conseguiu transferência do trabalho e começamos a visitar as cidades vizinhas conquistando novas revendedoras. Alugamos uma casa no bairro Nova Betânia, depois mudamos para outra casa alugada próximo ao Hospital Regional Tarcísio Maia. No final da década de 1990, adquirimos uma casa no Inocoop da Nova Betânia. A franquia cada vez crescendo e eu já contava com mais de cem revendedoras. Nos anos 2000, adquirimos duas salas comerciais no Shopping Oásis Center e já contando com mais de duzentas revendedoras cadastradas, duplicando a equipe da Blosson Ville. Organizamos eventos de marketing em hotéis da cidade a fim de alavancar as vendas e aumentar o plantel de consultoras de beleza. Sinto-me uma mulher realizada, mas com sede de continuar a empreitada, não pensando em aposentar tão cedo. Já contamos com cerca de vinte colaborares diretos e uma carteira de cadastrados em nossos sistemas de mais de duas mil consultoras em Mossoró e mais vinte e cinco cidades, aonde nossa contribuição é evidente nessa região. Meu esposo é Maçom e eu sou Samaritana há mais de trinta anos. Fazemos obras de caridade e movimentamos a economia de uma região inteira do estado do Rio Grande do Norte. Sinto-me hoje uma cidadã mossoroense e agradecida a terra que nos recebeu tão bem, que acolheu a mim e a minha família e que nos fizeram prosperar dignificando o nosso nome e o lugar. Em Mossoró, meus filhos casaram e aqui estão nascendo meus netos: Lícia, Lucas, Valentina e Maria Luisa. Muito obrigada, Mossoró.
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Célio Duarte
Maria Lucileide de Sá Magalhães e Barros Natural de Salgueiro, Pernambuco, filha de Alaíde Tavares de Sá e Lucíolo Matias Magalhães. Casada com Alvany Barros e mãe de Vanessa e Maria Clara, é bacharel em Direito e empresária.
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Maria Lucileide
“S
ou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher, sou minha mãe e minha filha, minha irmã, minha menina”. Sou o aroma suave que exalou do amor de dona Alaíde e seu Lucíolo, sou um milagre nessa vida, a borboleta que bateu asas
quando pensou que o mundo havia acabado, sou a fênix, ressurgi e segui. Sou mulher madura, que sorri feito criança, sou uma menina que usa salto alto. “Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura.” Como um girassol preencho o imenso e harmonioso jardim composto por nove adoráveis irmãos - sete mulheres e dois homens - um jardim regado pelos melhores valores que os filhos podem herdar dos pais: amor, cumplicidade e união. Isso é fruto da presença constante do meu pai, sempre dedicado, prestativo e disposto a dar o melhor por, e para os filhos, e de uma mãe doce, a típica mãe coruja, protetora e racional. Sou movida a sonhos desde criança, o primeiro deles, era o de ser passarinho e chilrear pelo mundo, queria ser cantora – ainda me imagino cantando a vida, afinal, como diz o poeta Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis... Ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!”. Lembro como se fosse hoje, de uma vizinha de infância que tinha aulas de piano em uma sala enorme de sua casa: eram apenas ela, a professora e o piano, eu espiava aquelas aulas e sempre me imaginava tocando aquele piano. Outros sonhos foram surgindo de acordo com a idade, e aos quinze anos fui morar na capital e estudar no Colégio Salesiano de Recife, onde conclui o que hoje é o Ensino Médio. Ainda em Recife, fui aprovada no vestibular de Direito, da Universidade Católica de Pernambuco e nesse meio tempo, conheci o homem com quem
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Maria Lucileide
decidi construir uma família. Casei aos vinte anos com Alvany Barros e migrei para Mossoró, cidade onde ele estava se estabelecendo como empresário. Transferi também o meu curso para a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, recebendo meu diploma de bacharel em Direito dois anos após a mudança. A maturidade chegou em vários aspectos de forma repentina. Cai de paraquedas numa cidade, num ambiente, numa realidade totalmente diferente do que eu estava acostumada, mas, como disse Érico Veríssimo: “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.”, e foi isso que eu fiz, tomei para mim o compromisso de me adaptar, fui me moldando, fazendo ajustes aqui e ali... Quando conclui a graduação, Alvany estava passando por uma situação difícil e eu decidi montar meu próprio negócio, para então poder contribuir com o orçamento familiar – a força da mulher quando ela quer algo é incontestável, falei com meu pai que me apoiou e fui em busca de renda extra com carrinhos de cachorroquente na rua - que na época estava ‘na moda’, consegui viabilizar, foi o maior sucesso, cheguei a ter dois carrinhos desses e o faturamento foi muito bem-vindo ao nosso bolso. Não quis viver a desilusão de um ‘quase’ e mais uma vez rumei em busca dos meus objetivos: era chegada a hora de colocar em prática a profissão de advogada. Sem condições de manter um escritório, uma amiga me acolheu e dividiu comigo o seu espaço profissional. Advoguei por um curto período de cerca de dois anos, mas valeu a pena, pois não desperdicei a oportunidade de merecer, jamais preferi a derrota prévia à dúvida da vitória. Dentro das minhas projeções quando adolescente, prestei vestibular para Medicina e Direito. Aprovada em Direito, projetei-me
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Maria Lucileide
advogada, mas me tornei empresária, adaptando-me aos trajetos que os sonhos vão tomando, de acordo com as necessidades. A condição de empresária veio junto com minha chegada à MM Parafusos para auxiliar Alvany na administração dos negócios. Comecei a me envolver devagar e fui ficando, ficando... De repente, vinte e três anos se passaram. São vinte e três anos em Mossoró, construindo uma história... Sempre focada no trabalho, absorvo cotidianamente uma jornada que envolve trabalho, casa, cuidado com as filhas, entre outras muitas atividades que fazem parte da rotina de muitas mulheres. O cansaço chega, mas, olho para tudo que construímos juntos, eu e Alvany, vejo que deu certo e sigo firme, porque vem valendo a pena. No início da nossa vida a dois, chegamos a mudar de casa oito vezes, morávamos de aluguel e sempre que o proprietário pedia a casa, lá íamos nós com nossa mudança... E essas mudanças não eram apenas de móveis de uma casa para outra, mas era também a nossa mudança, os anos foram passando e ficamos mais maduros, mais conscientes, evoluímos espiritual e pessoalmente. Hoje é possível projetarmos a vida das nossas filhas: Vanessa e Maria Clara – meu maior presente, o sentido maior de minha vida - enquanto que na minha época de universitária teve dias de eu não ter o dinheiro nem para me locomover até a faculdade. Sim, tudo foi válido. Todo sofrimento, toda dificuldade que passamos se transformou em aprendizado, em maturidade para não nos aventurarmos, para sabermos o que queremos.
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Cedida
Maria Luíza Pinheiro Néo Nascida em Catende,filha de Edgar e Eroltildes, na zona da mata pernambucana, Maria Luiza Pinheiro Néo foi a primogênita, única mulher de uma família numerosa de seis irmãos: Mário Luiz, Luiz Mário, Edgar Julião, José Antônio, Marcos e Marcelo. Teve sua infância marcada no colégio Santa Terezinha e as brincadeiras pelas cercanias da Usina Catende, maior produtora de cana-deaçúcar do Brasil, à época. Filha da típica miscigenação brasileira, suas raízes estão nos índios do Atalaia, bem como, ascendência portuguesa por outra parte.
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Maria Luíza
S
empre acreditei na força dos estudos para crescer na vida. Deste modo, iniciei e concluí o ensino infantil, na escola Santa Terezinha, em Catende. Peguei estrada de ferro para Palmares,fui matriculada no Colégio Nossa Senhora de
Lurdes, em regime de internato, e segui avançando pelos caminhos do conhecimento ao lado dos ensinamentos cristãos. Acolhida pela minha avó paterna, Lídia, detentora de um casario e um coração amoroso, inicio os estudos científicos no Colégio Regina Paces,em Recife. E entre filhos de ricos usineiros e políticos locais, tive minha capacidade posta a prova, entre piadas e desconfianças por parte do alunato, conclui com louvor a formação secundarista. Fiz teste de admissão na Universidade Federal do Pernambuco e fui aprovada no curso de Geografia e História. A minha vida de docente foi sempre muito dinâmica, com organização de eventos festivos. Ainda no plano educacional, já próximo a conclusão do meu curso, inicio a vida docente, em substituição a uma professora licenciada. Durante a faculdade, num evento comemorativo, realizado com a minha participação, observei um grupo de outros cursos promovendo desordem. Dia seguinte, após muito buxixo, foi apontado Leodécio Fernandes Néo como integrante do contratempo do dia anterior, fato esse,que me levou a tirar satisfação do ocorrido. Após conversa, e pedido de desculpas, selamos uma paz na história e inicamos uma outra, a nossa. Durante o período junino, festa maior de nossa região, mais uma vez o destino aproxima dois mundos tão díspares. E coloca em dança de quadrilha, a menina recatada de Catende e o moço de Mossoró,da Faculdade de Medicina.
Nos tradicionais passos juninos, como
passeio da dama, desfile de casais….na troca de par, fui cortejada
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Maria Luíza
com aperto de mãos mais “acalourado” da parte de Leodécio. Nosso namoro foi oficializado com as bênçãos de São João. Ao concluir a faculdade, já noiva, regresso a Catende onde lecionei por um ano, enquanto Leodécio concluia sua graduação. Após este período, casamos no dia 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, em Catende, e fixei moradia em Mossoró,terra de Santa Luzia. Do nosso matrimônio, geramos seis filhos homens, Alexandre Jorge, Augusto Sérgio, Alberto Magno, Leodécio Júnior, André Gustavo e Arthur Henrique. Para mim,todos eles são um exemplo de amor e ternura. Na vida conjugal, foram 43 anos alicerçados no conceito de família.Leodécio foi um marido de personalidade forte, mas de um coração acolhedor que me amou e protegeu a vida inteira. Em Mossoró, fui professora de Geografia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) quando ainda era FURRN. A minha vida de docente transitou com cargos de chefia. Primeiramente fui vice-diretora da Escola Abel Coelho, em seguida, fui efetivada na direção. Já naquela época, tinha pensamento de vanguarda, e tentei viabilizar a primeira escola de ensino técnico no interior do Rio Grande do Norte, mesmo não conseguindo tal proeza, fiz da escola,uma referência no ensino público de qualidade. Levando aos pais mossoroenses optarem pelo Abel, em detrimento das escolas de ensino privado. Hoje, temos juízes, promotores, médicos, engenheiros, todos com formação secundarista no Abel Coelho. Também fui diretora da Escola Padre Alfredo, onde desenvolvi a temática de conhecimento da cultura regional, ficando conhecida com a escola que melhor realizava festejos juninos na cidade. Logo depois, assumi a Merenda Escolar Municipal, em tempo de carestia severa, onde criança tinha apenas a refeição escolar como fonte
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Maria Luíza
alimentar diária. Procurei
dinamizar
e setorizar a distribuição
da merenda, amenizando o flagelo da fome. Com esses serviços prestados a municipalidade, fui agraciada com o título de cidadã mossoroense. Regressei à Uern, reassumi a cadeira de Geologia. Fiz parte da direção acadêmica do curso até me aposentar. No meu tempo de colégio interno fui apresentada a formação musical e me encantei com o piano e as artes plásticas, em especial a pintura de telas. Hobby esse que pratico há mais de 10 anos, sobre a tutela do professor Carlos Careca. Tenho participado de várias exposições com minhas colegas Luzia Leite, Guia Benavides, Alene Pinheiro, Meire Ester Cantidio, Ceição Bahia. Participei do Cursilho de Cristandade e faço parte da equipe, tendo reuniões semanais. Se a inexorável marcha do tempo, é cruel para todos,creio que comigo ela tem sido clemente. Sou ativa e independente, em minhas oito décadas
de vida. Estou imbuída da missão de capitanear
esta nau, chamada família. Vejo meu passado com a certeza de ter vencido todos os obstáculos impostos pela vida. Mas como capitã, até hoje seguro o leme. Uni experiência e paciência na condução de todos que me cercam, dos mares menos e mais revoltos. Minha fé é inabalável, é farol e guia. Acredito na força da mulher, da mãe afetuosa, da profissional qualificada, da mulher amiga, da cidadã que constrói sua história, da mulher forte que jamais perde a ternura !
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Paulo Eduardo
Mariana Ferreira de Souza Médica, natural de Mossoró, trinta anos, casada há dez anos com Pedro, mãe das princesas, Júlia e Isabela.
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Mariana Ferreira
A
o receber o convite para participar desse projeto, que homenageia mulheres de destaque na nossa cidade, confesso que fiquei surpresa e me questionei se realmente merecia estar ao lado de tantas histórias
incríveis de superação, de grandes lições e inspirações de vida. Aceitar o convite foi desafiador. Não sou cronista, tampouco escritora e essa é a primeira vez que me aventuro no mundo das letras, ainda tentando organizar sentimentos e ideias em palavras. Pois bem, convite aceito. Comecei então a pensar em como eu poderia contribuir para tornar essa obra ainda mais enriquecedora. Perguntei-me sobre o que eu poderia escrever, que experiências poderia contar? O que em minha história poderia inspirar a outras pessoas? Resolvi falar então um pouco da minha vida até aqui, e principalmente de pessoas especiais que estiveram comigo em muitos momentos e me ajudaram a realizar alguns dos meus sonhos. Tenho quase trinta anos de idade e, desde muito nova, aprendi com meu pai o valor do esforço e do estudo para alcançar nossos sonhos e objetivos. Aos treze anos migrei para Natal, para concluir o ensino médio e pretendia cursar Medicina. Sonho realizado em junho de 2012, ano da minha colação de grau. São muitos os desafios e dificuldades enfrentados por qualquer estudante de Medicina ao longo do curso. Mas no meu caso, esses desafios foram ainda maiores, pois precisei conciliar os estudos com a maternidade. Júlia, minha primeira filha, chegou quando ainda cursava o segundo ano de faculdade e trouxe, claro, muitas alegrias, mas também os medos e inseguranças típicos de uma primeira gestação. Júlia tornou-se minha grande companheira e, como morávamos sozinhas, estávamos sempre juntas. Ela me trouxe força e otimismo
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Mariana Ferreira
em meio a todas as incertezas daquele período. Ser mãe é uma grande oportunidade de crescimento e amadurecimento que me proporciona até hoje as melhores e mais felizes experiências que já vivi. Durante os anos que se seguiram ao nascimento de Júlia, com a ajuda principalmente da minha mãe, tia Diva, meu esposo e amigas de curso, consegui concluir a faculdade. E aqui peço licença para relembrar minha saudosa e querida tia Diva. Não teria conseguido nada sem ela. Tia Diva foi o tipo de pessoa que vivia para os outros, sempre prestativa, era aquela que eu sempre podia contar. Tê-la comigo nesses últimos anos foi um grande privilégio, ao qual sou imensamente grata. Infelizmente, Tia Diva nos deixou há cinco anos, no ano da minha formatura. Não tivemos tempo de comemorar essa e tantas outras vitórias juntas, mas deixo aqui minha eterna gratidão por tudo que ela fez e por tudo que me ensinou ao longo de sua breve vida. A saudade é eterna. Após me formar passei os anos seguintes entre Mossoró e São Paulo especializando-me na área da Dermatologia. Entre idas e vindas, deixava minha casa e minha família na busca pelo aprimoramento profissional e de poder trabalhar com aquilo que amo. Trabalhar com a beleza e a saúde exige constante atualização e treinamento frequente, são muitas as novidades lançadas no mercado a cada dia e é necessário trazer sempre o que há de melhor para nossos pacientes. Escolhi trabalhar com os cuidados com a pele e a beleza, por entender a importância do bem estar na qualidade de vida das pessoas. A saúde emocional interfere diretamente em todas as esferas da nossa vida e ajudar na melhora da auto-estima é para mim uma grande satisfação. Esse ano, completei dez anos de casada com meu esposo Pedro. Nos conhecemos ainda muito novos, eu com quinze e ele com vinte anos.
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Mariana Ferreira
Entre idas e vindas comuns de qualquer relacionamento, tivemos nossa pequena Júlia e casamos em 2007. Sou muito grata por tê-lo em minha vida. Sem ele, dificilmente conseguiria conquistar o que já conquistei e realizar outros tantos sonhos que ainda tenho. Ao longo desses quinze anos de relacionamento, entre momentos de dificuldades e alegrias, posso dizer que sou imensamente feliz com aquele que escolhi para compartilhar minha vida e construir minha família. Hoje, temos duas lindas filhas, e nossa família é o nosso melhor lugar, onde nos sentimos seguros e felizes em meio as tribulações da vida. Como falei, hoje temos duas princesas: Júlia, que fará dez anos e Isabela, que completará dois anos. Sinto-me muito realizada enquanto mãe, e espero ser para minhas filhas a melhor mãe que elas merecem. Júlia já está crescida, e encontro nela, uma grande amiga e companheira. Isabela é uma criança cheia de luz e leva alegria por onde passa, veio para completar a nossa família. Como tantas outras mulheres, também procuro diariamente o equilíbrio entre a vida familiar e a realização profissional. As cobranças, culpas e, por vezes, frustrações que surgem na busca de sermos cada vez melhores, são constantes na vida das mulheres nos dias de hoje. Poder compartilhar um pouco da minha história e conhecer a de tantas outras mulheres vitoriosas e guerreiras, é fonte de inspiração para nunca desistir dos nossos sonhos e encarar os desafios que surgem como parte da beleza da vida. Tenho muito orgulho daquilo que já conquistei e imenso amor por todos aqueles que estiveram comigo até aqui: Meu Deus, família e amigos. Sem vocês nada conseguiria, com vocês tudo é possível!
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Cedida
Neófita Maria de Oliveira Ragazzi “Vamos bordando a nossa vida, sem conhecer por inteiro o risco; representamos o nosso papel, sem conhecer por inteiro a peça. De vez em quando, voltamos a olhar para o bordado já feito e sob ele desvendamos o risco desconhecido; ou para as cenas já representadas, e lemos o texto, antes ignorado. E é então que se pode escrever - como agora faço - a “história” (Magda Soares, Metamemória-memórias, 1991)
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Neófita Ragazzi
Uma Neófita na cidade de Mossoró
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screver sobre a minha trajetória de vida, a partir de um começo, percorrendo os caminhos já trilhados, justificando os interesses e os desinteresses por um ou outro caminho, parece-me não ser uma tarefa das mais fáceis de executar,
porque preciso usar maior concentração e memória para não perder o fio condutor de todo um processo que me fez ser a pessoa que sou hoje. A aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos e compartilhados com os ensinamentos trazidos pelos meus pais, antigos professores, colegas de infância, de turmas, de juventude, de trabalho, enfim, com as pessoas que cruzaram meu caminho e deixaram algo novo, passa a ser descrita nesse pequeno texto. Nasci em Mossoró, na manhã quente do dia 7 de janeiro de 1964. Minha mãe, uma mulher natural de Janduís, Ezilda Batista de Oliveira, trouxe consigo, o desejo de me batizar com o nome de sua genitora, vovó Neófita Justina de Oliveira - natural do município de Campo Grande, antiga Augusto Severo. Porém, o meu pai, Lauro Amaro de Oliveira, resolveu também fazer homenagem a sua mãe querida, vovó Maria Henrique Rebouças de Oliveira - natural de Tibau. Decidiram então, me batizarem por Neófita Maria de Oliveira. Com isso, as honrarias às minhas duas avós se concretizaram. Foi na Catedral de Santa Luzia que recebi o batismo das mãos do Padre Huberto Bruening e no Colégio Diocesano Santa Luzia a primeira comunhão e o crisma. Sou uma mãe apaixonada e dedicada até hoje ao meu filho amado Sammuel Rubens Amaro de Oliveira. Hoje, Engenheiro Sênior da Petrobrás, exercendo suas atividades na Termelétrica Ferdinand Gaspariani, localizada na capital paulista. Estou casada com o homem que me encantou com sua polidez,
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inteligência e de um caráter excepcional, Sidnei Ragazzi, estatístico, professor aposentado dos quadros docentes da UNICAMP. Lembro de uma Mossoró calorosa, cheia de encantos com suas pracinhas, com seus cinemas, com suas festas de Santa Luzia, com seus colégios, com o querido Colégio Diocesano Santa Luzia, ou o tradicional Colégio dos Padres, como era conhecido pela população de Mossoró, minha terra natal. Lá entrei no início do ano de 1970, aos sete anos de idade, para cursar o antigo primário e sai onze anos depois, com a conclusão do meu curso científico. Foram momentos de felicidades e formação educacional ímpar. Posso dizer, com certa veemência, que a postura profissional dos meus primeiros professores influenciou decisivamente o meu modo de ver, perceber e escolher as leituras que me conduziram a um maior nível de abstração intelectual. No particular, registro os ensinamentos dos professores Hermógenes Nogueira da Costa e Heloísa Leão. Os motivos? Foi com o professor Hermógenes que obtive a formação moral e cívica. Lembro, com saudades, das sábias palavras de um chefe de Escoteiro, reconhecendo a existência de deveres que deveriam ser cumpridos pelo homem, enquanto membro de uma dada sociedade. Em suas aulas, Hermógenes costumava enfatizar que ser um bom cidadão, significava que o homem deveria saber atuar na sociedade com espírito de solidariedade, de trabalho em equipe, sempre primando pelo bem do conjunto, mas, sobretudo, ser livre para poder fazer suas escolhas. Já com a professora Heloísa Leão, aprendi que os livros eram tão importantes quanto a nossa casa, a nossa vida. A rigidez de sua conduta, na sala de aula, colocando de castigo, os alunos que esqueciam de trazer o livro texto e o caderno de exercícios, fez-me adentrar no mundo da leitura, sem que eu percebesse. Posso atestar que essa visão de mundo educacional era compartilhada com toda a equipe de professores do Diocesano, durante
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os anos que passei por aquele estabelecimento de ensino. Assim, motivada pelo gosto literário e pela curiosidade em aprender a redigir textos, escrever romances parecidos com os de autores que se apresentavam no cotidiano da minha vida escolar, entre eles Monteiro Lobato e José Mauro de Vasconcelos, iniciei meus estudos universitários no mundo das letras, na Universidade do Estado do rio Grande do Norte – UERN - no curso de Licenciatura em Língua Portuguesa e Inglesa, no ano de 1986. Minha terra, minha saudosa Mossoró, possibilitou-me um estudo universitário, do qual sou eternamente grata, uma vez que este me conduziu a um mundo de conquistas intelectuais profícuas. Logo, vieram as especializações, o curso de Mestrado e o curso de Doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC. Também o meu caminhar se faz pela UERN, porém de outra forma. Foi lá que desenvolvi alguns dos meus talentos, exercendo atividades de trabalho profissional. Faço parte do seu quadro administrativo desde 1990, onde passei por vários setores técnicos, assumindo diversas funções. Foi lá que convivi com pessoas de uma profunda ética profissional. Estive ao lado de grandes nomes como os ex-reitores Gonzaga Chimbinho, Nevinha Gurgel, Walter Fonseca, a quem tenho profunda gratidão; e o inesquecível homem de nobres predicados, entre eles o de um ser humano ímpar em sua integridade moral, intelectual e religiosa, doutor Milton Marques de Medeiros. Termino esse texto afirmando que muito me orgulha ser filha natural da cidade de Mossoró, minha terra querida. E agradeço a Marilene Paiva e a Rafaella Costa a oportunidade de escrever essas poucas linhas, que agora fica registrado na memória dessa terra querida, minha terra natal, minha origem.
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Paulo Eduardo
Patrícia Moura Rossiter Pinheiro Nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, é filha de Fred Sizenando Moura Rossiter Pinheiro e Maria de Fátima Moura Rossiter Pinheiro, casada com Sóstenes de Holanda Paiva. Médica Dermatologista.
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Patrícia Rossiter
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ossa vida é marcada por desafios. Eles nos motivam, dão sentido à vida e nos encorajam. Desafios como empreender, construir uma carreira profissional, formar uma família, ser bem relacionado na sociedade,
superar um problema de saúde, perder um familiar ou viver longe de quem se ama. A fé e uma boa autoestima nos ajudam a vencê-los. Os desafios são como etapas, fases do caminho que percorremos para nos encontrar com nós mesmos, com Deus e com outros. Tive a sorte de nascer numa família amorosa, a quem sempre fui apegada. Meus pais são engenheiros eletricistas, Fred e Fátima. Quando criança, eu costumava dizer que a minha mãe era ‘engenheira de postes’ e o meu pai, ‘engenheiro de telefones’. Minha família tem raízes nas cidades de Assu e João Câmara, bem como de imigrantes oriundos da Itália - Família Lagrotta - e da Inglaterra - Família Rossiter. Sou muito grata pela convivência e educação que recebi no seio familiar. Minha infância foi marcada por muitas brincadeiras com meus irmãos, Rodrigo e Mônica, vizinhos e colegas da escola. Meus pais adoravam passear pelo Rio Grande do Norte e estados vizinhos durante feriados e fins de semana. Ainda na infância, tive a oportunidade de conhecer Mossoró. Meu pai costumava vir a trabalho - TELERN/TELEMAR - e sempre elogiava a cidade. Ele que nos trouxe aqui pela primeira vez, para brincar nas piscinas termais e caminhar pelo centro - lembro de um shopping chamado Coelhão - e pelas praias de Areia Branca e Tibau. Fiquei fascinada quando vi uma salina pela primeira vez. Durante a minha vida escolar, percebia que os meus pais torciam silenciosamente, para que eu me tornasse engenheira,
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Patrícia Rossiter
seguindo a carreira deles, principalmente quando me envolvia nas Olimpíadas de Matemática. Durante o Ensino Médio, descobri minha vocação pela área da saúde. Então, os estudos se intensificaram e logo veio a vitória no meu primeiro grande desafio: a aprovação no vestibular de Medicina da UFRN. O apoio dos meus pais foi indispensável. Mesmo percebendo o desejo silencioso deles para que seguisse pelas exatas, sempre apoiaram e respeitaram a escolha que fiz. Iniciei o curso de Medicina em 2002. Agradeço a Deus por me dar a oportunidade de fazer a graduação próxima da minha família, que sempre foi o meu alicerce e muito colaborou na minha formação. Foi nos bancos da universidade que conheci Sóstenes, e começamos a namorar em 2005. Durante a graduação, passamos muito tempo juntos, dividindo as alegrias e dificuldades da vida acadêmica, construindo uma linda cumplicidade. No 7º período, cursei a disciplina de Dermatologia, e me identifiquei com os desafios desta especialidade. Foi quando reencontrei o Professor Pedro Trindade, que é chefe do setor de Dermatologia, do Hospital Universitário e foi o meu dermatologista na infância. Quando criança, eu tive muitos problemas de pele, e frequentemente a minha mãe me levava ao seu consultório. Quando concluí a graduação, veio um novo desafio: o ingresso na Residência Médica em Dermatologia, para a qual existem poucas vagas nas universidades. Eu estava disposta a viver longe da família pela primeira vez, então fui selecionada para os Hospitais Universitários do Rio, Vitória, Recife e Brasília. Resolvi ingressar no Hospital da Universidade de Brasília, pois meus irmãos moravam lá, então eu não estaria tão sozinha. Ainda no
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primeiro mês em Brasília, tive a grande surpresa de também ser convocada para o Hospital –HUOL - da UFRN. Coincidiu com o período em que o pai de Sóstenes apresentou um grave problema de saúde e precisou se transferir para tratamento em Natal. Desta forma, decidi voltar para Natal e fiz minha residência no Hospital Onofre Lopes. Assim, continuei próxima a Sóstenes e sua família nestes meses mais difíceis, de luta contra esta doença terrível. Seu pai, o odontólogo mossoroense Efigênio de Holanda Cavalcante, deixou-nos muita saudade. Depois da Residência Médica em Dermatologia, realizei o grande sonho de me tornar membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e ingressei no Curso de Especialização em Dermatologia Estética na USP. Morei, estudei e trabalhei em São Paulo, durante dois anos, e neste período eu já estava casada com Sóstenes, que era residente em Anestesiologia. Lá, iniciei a minha atuação em clínicas de dermatologia, conheci grandes profissionais e pude trocar experiência com dermatologistas de um dos maiores centros da América Latina. Na USP também cursei uma especialização em Tricologia Médica - saúde dos cabelos. A minha ligação com Mossoró se iniciou quando conheci Sóstenes e sua família. A efervescência cultural da cidade sempre me encantou. Nas férias e fins de semana, frequentávamos a Praça da Convivência e o Corredor Cultural e eu já começava a sentir como seria a minha vida por aqui. Passamos a morar em Mossoró em 2015, foi também quando comecei a exercer a minha especialidade aqui. Mossoró acolhe muito bem as pessoas de fora, por isso já me sinto em casa. Sou muito grata – primeiramente, ao Sóstenes e sua família, principalmente dona Maria Ivonete Paiva
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Patrícia Rossiter
de Holanda, minha sogra, e minhas cunhadas, Ligianne, Sáskira e Analígia. Sou grata aos amigos e amigas que me ajudaram a me encontrar na cidade, e à equipe da Clínica Biomedical, que também é uma família. Hoje reconheço Mossoró como uma cidade de gente empreendedora, criativa, protagonista da própria história. Fico feliz por poder construir uma família e continuar exercendo a minha profissão aqui. A nossa perspectiva é sempre buscar o que há de melhor, seguro e eficaz na Dermatologia, oferecendo a Mossoró um serviço de excelência, como a cidade merece. Trabalhar com Dermatologia é muito gratificante, por poder enxergar e sentir as mudanças e resultados do nosso trabalho. Tanto na estética como no tratamento de doenças da pele, acabamos contribuindo para melhorar a autoestima e confiança dos pacientes, ajudando-os a superar os seus próprios desafios. É na adversidade que precisamos ser fortes e guerreiras. Que o exemplo de vida das mulheres mossoroenses, reconhecidas historicamente pelas suas lutas, possam inspirar e orgulhar as futuras gerações.
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Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espelho ficou perdida a minha face? Cecília Meireles
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Jefferson Fernandes
Roberta Britto de Queiroz Medeiros Filha de Fernando Manoel de Queiroz e Francis Britto de Queiroz. Casada com Breno Valério Fausto de Medeiros, é mãe de Maria Theresa, João Guilherme e João Afonso. Graduada em Administração de Empresas e em Nutrição, com pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional pela UNICSUL. Tem formação em curso especializado de Personal Diet Clínico e Domiciliar, além de habilitação em testes nutri-genéticos. É membro do IBNF - Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional e da ASBRAN – Associação Brasileira de Nutrição.
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Roberta Britto
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enso que uma autobiografia, para afastar o perigo de ser presunçosa, deve ter como ponto de referência o agradecimento. Agradecer é condição que nos leva a uma reflexão sobre a vida em atitude de humildade. É evocar a memória do coração em sentimento de gratidão e reconhecimento da dependência da graça de Deus e da bondade de quem foi instrumento para o nosso auxílio na caminhada. Olhar para trás e visualizar o que já vivemos é contemplar sempre a graça do caminho, é ver o quanto fomos e somos abençoados. O percurso já trilhado revela a benção e o cuidado permanente de Deus em nossas vidas, e nos dá a força de seguir adiante, na certeza de que ‘até aqui nos ajudou o Senhor’, 1 Samuel 7, 12. Portanto, no contexto proposto de exaltação das qualidades femininas e do realce do papel da mulher na conquista do seu espaço social, prefiro seguir agradecendo ao que fui e ao que sou, no exercício contínuo de reconhecimento do amor misericordioso de Deus em minha vida. Assim, como mulher-cristã, o primeiro agradecimento deve ser sempre à Deus, que pelos seus desígnios permite minha vocação cristã no mundo, sendo Maria Santíssima o meu exemplo maior de devoção à Deus na dignidade de ser mulher, que pela sua humildade, paciência, temperança, força, fé e esperança tornou-se a mulher mais amada e respeitada em todo o mundo. Nos lugares mais distantes da terra, há sempre um altar erguido em honra da Virgem Maria, Mãe e Mestra de todos os homens, em todos os tempos. Diz Stefano de Fiores, professor consagrado da Pontifícia Faculdade Teológica de Marianum, de Roma, que: “A Virgem de Nazaré é uma mulher que reflete sobre a história, colhe dela as injustiças e, juntamente, a intervenção libertadora de Deus em favor dos oprimidos; empenha-se nessa história com livre e pessoal decisão; amplia a sua tarefa maternal para dimensões universais. […] O Magnificat apresenta um premente apelo ao empenho de libertação de toda categoria
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oprimida e marginalizada, com esperança ativa na realização de um mundo diverso, em que homens e mulheres encontrarão o modo de viver em comunhão de amor com Deus e em relações de justiça e fraternidade entre si.” Maria Santíssima representa o maior exemplo da importância e dignidade feminina. Pelo seu ‘sim’, doando-se a si mesmo, contribuiu para realização do maior projeto divino em favor da humanidade: Jesus Cristo, fonte permanente de amor, caminho, verdade e vida para todas as gerações humanas. Depois, agradecer a minha condição de mulher-filha. Nascida em Pernambuco e norte-rio-grandense de coração, sou a primeira entre quatro filhos do casal Fernando, em memória, e Francis. Meus pais foram e são referências em minha vida, a prova mais concreta de que a família é “santuário da vida e do amor”, João Paulo II. A eles devo a base de minha formação cristã e humana. Agradecer o desígnio de ser mulher-irmã de Chiara, Rafaela e Fernando. Mais do que irmãos, melhores amigos, amparo nas dificuldades e companheiros na alegria. Com eles sinto a força do elo que nos une em uma irmandade de vida e de amor. Agradecer o dom de ser mulher-esposa, que acredita na felicidade dos casais, realizada no cultivo permanente da fidelidade e do amor, valores que se completam e não se separam. Após sete anos de namoro e vinte de casada com Breno Valério, tenho a certeza de que somos duas almas pulsando em um só coração, e de que os ventos de fluidez e superficialidade das relações afetivas da vida moderna, não são capazes de superar a beleza de um amor verdadeiro e o testemunho de uma comunhão de vida em família plena e feliz. Agradecer o dom de ser mulher-mãe, sendo a maternidade dos meus filhos Maria Theresa, João Guilherme e João Afonso a maior realização de minha vida, fonte de alegria permanente da minha caminhada e força dos meus propósitos. Os meus filhos são as ‘cordas’ do meu coração, a representação do amor doação, gratuito,
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sem limitações nem contrapartidas. Agradecer a dádiva de ser mulher-profissional. Fazer da Nutrição um instrumento de cuidado à saúde do próximo e de melhoria da qualidade de vida de muitos é o meu propósito profissional. Escutar com paciência e dar atenção individualizada e especial a todos aqueles que me procuram, com o compromisso da atualização permanente e constante que a profissão e os pacientes exigem, não se tornam fardo quando o exercício da profissão se faz com amor. Ao contrário, ser nutricionista é atividade que desempenho com prazer, certa dos desafios, mas ainda mais convicta de que posso, com a dignidade do meu trabalho, ser útil à sociedade e instrumento de alegria, saúde e bem-estar para todos aqueles que se dispuserem aos meus cuidados. Por fim, concluo com o belo trecho escrito por João Paulo II em sua Carta Apostólica sobre a dignidade e a vocação da mulher, onde rende graças por todas e cada uma das mulheres: “Pelas mães, pelas irmãs, pelas esposas; pelas mulheres consagradas a Deus na virgindade; pelas mulheres que se dedicam a tantos e tantos seres humanos, que esperam o amor gratuito de outra pessoa; pelas mulheres que cuidam do ser humano na família, que é o sinal fundamental da sociedade humana; pelas mulheres que trabalham profissionalmente, mulheres que, às vezes, carregam uma grande responsabilidade social, por todas: tal como saíram do coração de Deus, com toda a beleza e riqueza da sua feminilidade; tal como foram abraçadas pelo seu amor eterno; tal como, juntamente com o homem, são peregrinas sobre a terra, que é, no tempo, a ‘pátria’ dos homens e se transforma, às vezes, num ‘vale de lágrimas’; tal como assumem, juntamente com o homem, uma comum responsabilidade pela sorte da humanidade, segundo as necessidades cotidianas e segundo os destinos definitivos que a família humana tem no próprio Deus, no seio da inefável Trindade”.
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Rosalba Ciarlini Rosado Pioneirismo é herança de família “Está no sangue”
A
expressão que significa determinada característica comum a membros de uma mesma família, sempre se fez presente em minha vida. Cresci encantada com as histórias que minha avó, Alaíde Escóssia, contava sobre a
avó do meu avô, Augusto da Escóssia, Ana Rodrigues Braga. Conhecida como Ana Floriano, ela comandou o Motim das Mulheres, movimento
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que ocorreu em 4 de setembro de 1875, em Mossoró, quando as mães e companheiras dos homens mossoroenses protestaram contra a ida deles para a Guerra do Paraguai. Eram cerca de cento e trinta donas de casa que saíram em passeata pelas ruas da cidade, protestando contra a obrigatoriedade do alistamento militar. Essas mulheres usaram as únicas armas que conheciam. Munidas de utensílios domésticos, como panelas, colheres de pau, frigideiras, conchas e rolos de massas, elas foram até a Catedral de Santa Luzia e rasgaram os editais que estavam fixados no quadro de avisos. Não se dando por satisfeitas e querendo destruir qualquer prova de convocação dos homens mossoroenses, dirigiram-se até a casa do escrivão de Paz. Lá, rasgaram o livro e todos os papéis que tratavam do alistamento militar. Está nos registros da história de Mossoró que minha tataravó, Ana Floriano, chegou a empunhar um espeto de ferro para defender a redação do jornal O Mossoroense, dos mandantes de um político que queria impedir a publicação dos fatos. Sem qualquer documento, as mulheres partiram, então, para a Praça da Redenção, onde entraram em choque corporal com soldados da Força Pública que ali estavam com
a missão de
dominar a rebelião. Nesse confronto, algumas mulheres saíram feridas, mas com o sentimento da vitória sobre o que consideraram autoritarismo. No Motim das Mulheres, Joaquina de Souza e Maria Filgueira também estavam entre as líderes. Toda essa admiração que senti por vó Ana Floriano, desde pequena floresceu ao longo da minha vida. Eu queria fazer dessa determinação e coragem muito mais do que uma questão de sangue. Involuntariamente, crescia a vontade de transformar o que trazia no DNA em gestos e ações concretas. Embalada por
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esse sentimento de pioneirismo, tornei-me a primeira prefeita eleita de Mossoró. Muito jovem, com apenas trinta e seis anos de idade, assumia o comando da minha cidade. Tive a confiança dos mossoroenses por três vezes, antes de chegar ao Senado Federal, como a primeira senadora do Estado do Rio Grande do Norte. Passados quatro anos, fui convocada para ser governadora do meu Estado e, dois anos depois, andando pelas ruas de Mossoró, ouvi o apelo do meu povo para que retornasse à Prefeitura Municipal. Sentia na vontade dos mossoroenses em me fazer prefeita pela quarta vez, a grande esperança de resgatar a credibilidade política e institucional do nosso município. A princípio, ponderei. Retornei para o exercício da minha profissão de médica pediatra. No consultório também escutei que Mossoró precisava muito do meu trabalho. E, diante de tudo isso, reuni a minha família e comuniquei que estaria, de novo, pronta para, talvez, a missão mais difícil de minha vida pública: recuperar Mossoró. Essa tarefa não é fácil. No entanto, não esmoreço diante dos obstáculos e sei que até o fim do meu mandato teremos completado o propósito, com o choque de reorganização que implementamos a partir de 1º de janeiro de 2017, de conduzir Mossoró ao rumo certo. Pois bem. Embora tenha recebido como herança a coragem e desejo de combater injustiças, não havia planejado nenhum mandato eletivo. Havia escolhido a Medicina como forma de servir aos mossoroenses. Andei pelos bairros da cidade e senti a carência das crianças e de toda população em ter um atendimento humanizado. Não podia curar apenas as dores do corpo. A chaga social também é responsabilidade nossa. Com esse pensamento, ajudado pelo movimento comunitário conseguimos desenvolver um trabalho de defesa dos mais carentes.
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Rosalba Ciarlini
Juntamente com a medicina comunitária, nascia a minha vida pública. Fui incentivada a disputar a Prefeitura de Mossoró pelos líderes comunitários e meu nome também foi submetido à consulta popular. Enfim, enfrentamos uma candidatura que saiu vitoriosa e, a partir daí, nossos mandatos foram se consolidando naturalmente. Surgia também a nova oportunidade de empoderamento da mulher mossoroense. Estávamos ampliando a grande luta de Celina Guimarães Viana, que se transformara na primeira eleitora da América Latina, em 5 de abril de 1928. Muito me estimulava saber que, assim como Celina Guimarães foi agente para que a mulher tivesse o direito de votar, eu tive o privilégio de ter sido a primeira mulher mossoroense a ser votada para prefeita. Considero que essa coincidência de fatos nos traz a certeza de que fomos protagonistas da luta feminina na nossa terra. Conquistamos espaços políticos, mas muito ainda temos que fazer para acabarmos com a desigualdade de gêneros. E isso deve abranger todos os setores da nossa sociedade. Em palavras e gestos somos responsáveis pela consciência política e justiça social na nossa comunidade.
Agindo assim, estaremos
quebrando as regras patriarcais, cujos conceitos nos consideram rivais e não iguais. Diariamente necessitamos de criar condições para oportunizar uma vida com mais qualidade para os mossoroenses. A firmeza das nossas ações nos traz a certeza de que questionar os padrões da sociedade é um ato de coragem que fortalece o movimento pela conquista de mais espaço para a mulher brasileira, em particular, a mossoroense, que tem uma história de vanguarda.
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Ricardo Lopes
Selma Carneiro de Azevedo
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ransforma sonhos em realidade. Quando se fala em vestidos de festas e noivas lembra-se logo do nome de Selma Carneiro, empresária respeitada pelo seu talento, elegância e bom gosto.
A história dessa grande empresária tem início em Almino Afonso,
cidade onde nasceu. Filha de Dulcineu Leite da Silva e Eliza Carneiro Leite, mulher reconhecida na região pela sua habilidade, criatividade e religiosidade, de quem ela herdou todas essas qualidades.
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Selma Carneiro
Eu venho de uma família de dez irmãos. Estudei no Clodomir Chaves, em Almino Afonso, onde vivi a infância e adolescência. Em 30 de maio de 1965, aos dezoito anos de idade casei-me com José Belarmino de Azevedo - Teteca - então, prefeito de Patu. Como meu sonho era casar com vestido de noiva e naquele tempo era superstição a mãe costurar o vestido de casamento da filha por não dar sorte no casamento, desenhei o meu vestido, que foi confeccionado pela costureira Zuíla Leite. Lembro que todos os acessórios foram feitos por mim, meu véu criei de um retalho de tule, a tiara de um colar de pérolas e o meu buquê fiz de papel crepom e pérolas. Logo após o casamento fui morar na capital do Estado, onde abri uma loja de presentes e decorações de nome Lojas Modernas, na Rua Coronel Cascudo, centro. Em Natal, a família começou a crescer com a chegada dos filhos: Virgínia Rose, Andréa Azevedo, Anna Karla Carneiro e Suzana Azevedo. Em 1971, decidi morar em Mossoró e investi no comércio varejista, inaugurando então a Cantina do Povo, no Alto da Conceição, um dos primeiros supermercados da cidade. Em 1974, nasceu nosso último filho, José Belarmino de Azevedo Júnior. Atualmente tenho a felicidade de conviver com seis netos: Bianca Andressa, Gabriel Brito, Vinícius Azevedo, Harlan Azevedo, Daniel Brito e Vívian Azevedo. Como sempre gostei de moda, confeccionava os vestidos de festas para minhas filhas. Criei com satisfação os vestidos de quinze anos e casamentos das minhas filhas. Desse modo, comecei a me destacar na cidade e receber encomendas. Daí surgiu a grife Ousadia, uma etiqueta de roupas de festas que vendia para principais boutiques do Rio Grande do Norte e de outros estados. Com o sucesso da grife, inaugurei uma própria loja de roupas femininas a Ousadia, localizada no Porcino Shopping no bairro
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Selma Carneiro Nova Betânia. Além de peças de minha criação, a loja oferecia aos clientes roupas dos principais centros de moda nacionais e internacionais. Posteriormente transferi a loja para o Shopping Boulevard no centro da cidade. Participei ativamente do Lions Clube Mossoró Centro, do Clube das Samaritanas da loja Maçônica 24 de Junho, do Cursilho de Cristandade e do Encontro de Casais com Cristo da Paróquia de Santa Luzia. Além de ter trabalhado por mais de vinte anos nas comissões de organizações da Festa de Santa Luzia. Em 1996, assumi o cargo de Secretária de Turismo do município de Tibau, cidade litorânea que tanto amo. Com o desenvolvimento do meu trabalho, a cidade de Tibau se destacou em nível nacional recebendo a comenda de cidade turística pelo Ministério de Turismo. Na minha gestão, Tibau também vivenciou os melhores carnavais da região. Apesar do meu trabalho na Prefeitura Municipal de Tibau, nunca me afastei do mundo da moda. Sempre procurada por noivas para a criação dos seus vestidos, resolvi então expandir meus negócios para aluguel de roupas de noivas e festas, nascendo então o Casarão das Noivas. Há mais de dezessete anos de existência, o Casarão das Noivas oferece uma maravilhosa diversidade de modelos, dos clássicos vestidos de noivas aos mais românticos, modernos e arrojados. Além de uma grande variedade de vestidos de festas, trajes masculinos e roupas temáticas de fantasias para todas as ocasiões e eventos especiais. Sempre gostei de festas e de acompanhar minha mãe na organização da Coroação de Nossa Senhora realizada, no dia 31 de maio na cidade de Almino Afonso. Há vinte e sete anos, após o falecimento de mamãe, continuo com a tradição de decorar a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus e organizar a coroação de Nossa Senhora na minha cidade natal, uma de minhas maiores
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Selma Carneiro realizações é ver a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus decorada e pronta para a coroação de Nossa Senhora. Em 2015, comemorei as Bodas de Ouro, em Almino Afonso. A cerimônia religiosa foi realizada especialmente no dia 31 de maio na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Foi tudo um grande sonho, em poder realizar a renovação do meu casamento de cinquenta anos na paróquia de Almino Afonso no mesmo dia em que sempre organizo a coroação de Nossa Senhora. Em poder contar com a presença dos meus filhos, genros, netos, familiares e amigos. Foi tudo muito lindo e emocionante. Um sonho realizado. Após cerimônia religiosa, meus amigos e familiares foram recepcionados na residência dos meus pais, que foi transformada em um memorial da família, onde são preservados fielmente os móveis da época, inclusive a máquina de costura de minha mãe. O memorial recebe visitas de pessoas durante todo o ano. Fico feliz ao terminar a coroação de Nossa Senhora receber toda a comunidade Almino Afonsense para o tradicional bolo dos anjos no memorial da família. Eu sou uma empreendedora de sucesso porque tive muitas dificuldades na vida, mas nunca desisti dos meus sonhos por acreditar que nada é impossível. Sempre tive muita fé em Deus, apesar das dificuldades nunca me faltou coragem e determinação. Hoje, a nossa loja, O Casarão das Noivas, é referência em todo o Rio Grande do Norte e outros estados. Recebi vários prêmios em reconhecimento da qualidade dos serviços oferecidos. Em maio de 2017, recebi mais uma vez o prêmio de primeiro lugar Top Ouro como a marca mais lembrada pelos mossoroenses no segmento de Noivas e Festas realizada pela agência 4midia publicada na revista Top Mossoró. Selma Carneiro uma mulher que veste sonhos e borda histórias.
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Paulo Eduardo
Suely França A cabeça nas nuvens e os pés no chão
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ascida em Lajes, Rio Grande do Norte, sou a primogênita de quatro filhos da dona de casa Luzinete França e do agricultor e mecânico Edileno Geminiano. Precoce, comecei a trabalhar aos catorze anos, fazendo jogo do bicho. Fui cantora, bancária, cabeleireira e hoje, uma empresária que realizou seus sonhos. Graduada em Administração e Marketing pela Universidade Potiguar – UNP.
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Suely França
Minha história começa em Fernando Pedroza, desde cedo percebi que a vida não era fácil, tendo como base uma família de hábitos simples, acostumada a vida no interior. Meu pai trabalhava em uma algodoeira próxima ao município onde residíamos, em paralelo, administrava um pequeno comércio, o que lhe deu a oportunidade de criar e proporcionar uma infância feliz a todos aos filhos, mesmo com algumas dificuldades. Estava no meu sangue aquele tino para lutar pelos meus sonhos, tinha meus anseios, meus desejos e o primeiro deles foi possuir uma bicicleta. Sem poder contar com a ajuda dos meus pais para fazer essa aquisição, busquei trabalho, comecei a fazer jogo do bicho nos quatro cantos do município onde morava, para então ter acesso ao mínimo, sem mexer no orçamento familiar. Enquanto cantora, aos catorze anos, ganhei vários concursos, aliás, ganhar era meu lema de vida. Olhava para o céu todas as noites, sentada na calçada de casa e falava para minha mãe: “Um dia vou tão longe e vou brilhar igual aquela estrela”. Ela ponderava, tentava me frear, todavia, segui em frente com humildade e fé. Meus pais temiam que eu sofresse, pois fui muito injustiçada na cidade, devido minhas opções. Cantando numa festa de vaquejada, em Lajes do Cabugi, conheci Marcos Pegado, com quem casei aos vinte anos. Ser humano maravilhoso, parceiro, cúmplice, conselheiro, amigo, amante, aquele que sonhei para minha vida, que me apoia incondicionalmente e me deu o privilégio de ser mãe de duas filhas, Maria Luiza, de quinze anos, um doce de menina; e a princesinha Maria Cecília, hoje com dois anos e dez meses. Aos dezesseis anos, conclui o Ensino Médio e segui para Natal. Trabalhei em padaria, banco, concessionária de automóveis e, por fim, tornei-me empresária no mundo da beleza. Tinha paixão por fazer sobrancelhas e queria ser uma cabeleireira renomada,
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Suely França
conquistar meu espaço, ser bem sucedida financeiramente, para então poder dar qualidade de vida para toda minha família. Profissionalmente, tudo decolou no ano de 2003, quando ainda estava na área bancária. Comecei a fazer curso de cabeleireira no SENAC, fui tomando gosto e cada vez mais tinha a convicção que era o que eu queria. Fazia meus cursos e continuava ativa no banco - emprego sólido e com excelente remuneração, pois tinha muito medo de trocar o certo pelo que, naquela época, era duvidoso. Nos finais de semana, colocava a nova profissão em prática e a abraçava. Errei e reconheço. Como qualquer profissional no início de uma nova atividade, precipitei-me na micropigmentação e acabei cometendo um erro gravíssimo, na primeira pessoa que confiou suas sobrancelhas a mim: minha tia Marly Geminiano. A partir daí, meu caminho sempre foi em busca do aperfeiçoamento, seja através de cursos, de palestras, congressos e tudo mais que for possível. Levei a micropigmentação para várias cidades do Rio Grande do Norte, surgiu então a necessidade de me especializar ainda mais e fui para São Paulo, chegando a atuar na Mag Estética. O ano era 2008 e São Paulo me abria as portas para me tornar uma profissional ainda melhor, lá estavam concentradas as melhores escolas, os melhores professores e os melhores produtos na área que queria atuar. Em quatro anos conclui minha primeira graduação voltada a micropigmentação, beleza e estética. Vieram outros vários cursos. Estava no caminho certo, então, tomei a decisão de sair do banco e através de parcerias, comecei a atender em vários salões de Natal, em dois anos formei uma cartela de clientes e abri meu primeiro salão de cabeleireiro, num ponto nobre da capital potiguar, fazendo cabelo e micropigmentação – algo raro naquela época, as pessoas não conheciam tanto e tinham medo. Minha chegada a Mossoró começou por meio de uma cliente que falou de dona Socorrinha Araújo - conhecida como Socorrinha Cabelos - a cabeleireira mais antiga e conceituada dessa terra
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Suely França
abençoada, que me recebeu em seu salão, onde fizemos um excelente trabalho durante cinco anos, ela com seu nome e eu atuando na área da micropigmentação: sobrancelhas, olhos e bocas. Durante esse tempo, me dividi entre Natal, Mossoró e outras cidades. Com um currículo recheado de especializações realizadas no Brasil e no exterior, estava preparada para colocar minha própria empresa em Mossoró, surgiu assim a Clínica de Beleza Suely França. Tudo foi dando certo e me desfiz do meu salão em Natal. A escolha não foi fácil, mas a decisão foi acertada, e no ano de 2015, com apoio, incentivo e amizade de Marilene Paiva, resolvi residir em Mossoró com toda minha família, mantendo minha clientela na capital potiguar e em outras cidades, outros estados e até no exterior, onde hoje tenho orgulho de dizer que faço uma parceria espetacular com o Studio D, nos Estados Unidos. Pessoas maravilhosas sempre fizeram parte da minha jornada, entre elas especialmente um irmão que a vida me deu, um parceiro, um pai, José Clécio da Silva, meu Joseph, ele que sempre me aconselhou para um caminhar nos trilhos certos, acolheu-me em sua casa e me incentivou a buscar os meus sonhos priorizando a honestidade. Exemplo de ser humano inteligente, íntegro, de caráter inquestionável. Para mim, a única coisa do mundo melhor que o meu trabalho é a minha família. O trabalho é uma realização, sou a primeira a chegar e a última a sair e sempre digo que não tenho medo de morrer, meu medo é ficar doente e não poder trabalhar. Minha trajetória de sucesso é dedicada a Deus, aos meus pais, por serem meu maior exemplo de vida, meu esposo, por tanta confiança e companheirismo, alguns amigos, meus parceiros, por quem tenho tanto respeito e admiração e, principalmente, a todos os meus clientes por tanta confiança, porque sem eles eu não teria minha história. Tudo que tenho, resumo em uma simples palavra: gratidão.
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Habner Weiner
Teresa Cristina de Sousa Ferreira Araújo “Por azar é Rett”, esta frase mudou o rumo da minha vida
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asci em Mossoró, no dia 6 de fevereiro de 1965. De família humilde, tenho muito orgulho dos meus pais, Teresinha Araújo Sousa Ferreira, em memória, meu maior exemplo de solidariedade; e Antônio Ferreira Filho, homem de sabedoria e fé
admirável e dos meus irmãos Marcos Antônio e Ana Cláudia Sousa Ferreira.
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Teresa Cristina
Comecei a estudar aos sete anos, no Educandário Nossa Senhora Aparecida, da professora Inalda Cabral Rocha, seguindo para o Ginásio Sagrado Coração de Maria e depois para o Colégio Diocesano Santa Luzia. Sou graduada em História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN - e pósgraduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional na Faculdade Latino Americana de Educação – FLATED - Ceará. Tive uma juventude breve, casei-me em 1982, aos dezessete anos, e em 1984, com dezenove anos, vivi um ano que me marcou profundamente. Passei no vestibular, fui mãe da minha primeira filha, Larissa Gabrielle Sousa Araújo, fiquei viúva, tendo meu esposo, Erosmar Lindolfo de Araújo, falecido aos vinte e um anos, deixando a nossa filha com apenas sete meses, começando uma história de desafios, compromissos e muita responsabilidade. Aos 27 anos, casei-me novamente com Alifran Antônio Duarte e tivemos duas filhas, Keylla Isabelle Sousa Duarte e Fernanda Hellen Sousa Duarte. Fernanda veio transformar tudo que, até então, eu compreendia sobre a vida. Nasceu em um momento em que estava emocionalmente muito fragilizada, pois acabara de perder a minha mãe. Foi um período difícil, superado apenas pela alegria da sua chegada. Porém, aos seis meses de idade, percebi um déficit motor e cognitivo no seu desenvolvimento, foi uma longa trajetória de investigação ao diagnóstico, com dois anos e seis meses, a resposta: “Por azar, é Rett”. Não é à toa afirmar que essa frase mudou a minha vida. Fiquei atordoada. A minha filha, que eu esperei dentro do que é tido como ideal, não veio como eu imaginava. Descobri o quão forte eu era pela coragem que tive para enfrentar os transtornos causados pela Síndrome de Rett. Iniciamos uma maratona de atendimentos
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Teresa Cristina
terapêuticos e acompanhamentos médicos que pudessem retardar o seu avanço. Foi assim que conhecemos a APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. A primeira coisa que aprendi ao chegar à APAE foi olhar minha filha para além da deficiência, a desprezar o que ela não podia fazer, valorizar suas capacidades e potencialidades, nunca desistir, estimular e insistir na superação das suas limitações. Eleita Presidente Voluntária da APAE Mossoró, assumi em janeiro de 2005, exerci o cargo por dois mandatos consecutivos. Essa foi a experiência mais gratificante da minha vida, jamais conseguirei mensurar o quanto, uma fase indescritível de muito crescimento. Junto com os profissionais desenvolvíamos estratégias, realizávamos estudos e pesquisas ampliando conhecimentos, lutando para implantar o que tivesse de mais atual visando a melhoria da qualidade de vida das crianças e suas famílias. Fora isso, muitos projetos, convênios, parcerias e campanhas realizadas para garantir que as ações se concretizassem, atendendo expectativas contidas no olhar e no coração de cada um. Nessa luta, muitas vezes precisei estar ausente de Fernanda. Nessas horas, quando queria fraquejar eu não podia, pois cada um deles para mim, era uma Fernanda. Uma força movia tudo isso, fortalecendo-me nos momentos de adversidade, a consciência de ser a representante deles, a alegria no olhar e o afeto contido nos abraços. Ninguém faz nada só, não passamos sozinhos por lugar nenhum. A dedicação, desprendimento, carinho, amor e solidariedade do povo, da imprensa, das parcerias público privadas e de amigos que durante todo o período estiveram lutando ao meu lado, foi imprescindível. Dentre tantos, destaco Evânio Araújo e Natália Bezerra, a quem dedico minha gratidão pela amizade e companheirismo, além do
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Teresa Cristina
amor que nutriam para com a instituição. No convívio com outras mães e no contato com companheiros como Benômia Rebouças, João Ferreira e Lúcia Aquino, a cada dia sentia-me motivada por reivindicar o cumprimento e implantação de Políticas Públicas em defesa dos direitos na perspectiva de combater o preconceito, promover e garantir a inclusão das pessoas com deficiência. Hoje, permaneço membro do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência e estou diretora do Centro Regional de Educação Especial de Mossoró e Região – CREE-MOS, que existe em Mossoró há trinta anos, dedicado a oferecer o atendimento educacional especializado à pessoas com necessidades educacionais especiais na perspectiva da educativa inclusiva. É a minha causa. Nessa minha missão, tenho muitos mestres que me ensinam sobre os valores da conduta e comportamento humano, mas descobri que na escola da vida Deus me deu a melhor professora. Fernanda me ensina, numa pedagogia que lhe é muito particular, o que eu preciso aprender, e o mais bonito é que faz tudo em silêncio. Todo dia me catequisando, ensinando a valorizar as pequenas coisas, a importância de amar, perdoar, renunciar, ser paciente, perseverar, nunca desistir nem desanimar, jamais perder a esperança, viver a cada dia, todo dia recomeçar, consegue me levar bem mais perto de Deus. A força e o brilho do seu olhar atravessa a minha alma, através dele pode comunicar os seus desejos, as suas alegrias, as suas dores, me acalma, ao mesmo tempo em que dar a certeza que me entende, ensina-me com a sua vida o verdadeiro sentido de amar. A maior lição, o que é ser gente e o que de fato nessa vida importa. Fernanda mudou o rumo da minha vida.
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Célio Duarte
Vera Lúcia da Escóssia Chaves Mulher Maravilha
S
ou Vera Lúcia da Escóssia Chaves. Nasci em 7 de setembro de 1958, filha de João Newton da Escóssia e de Iracy Santos da Escóssia. Tenho oito irmãos, gosto demais de todos eles, os Santos Escóssia: Jandyra Alaíde, Aurora Escosseza,
Carlos Augusto, Roberto Augusto, Silvana, Ricardo Augusto, Júnior Escóssia e Claudio Augusto.
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Vera Escóssia
Meu pai e minha mãe - João Newton da Escóssia, meu pai. Apesar de ter sido muito austero na nossa educação, sempre teve um carinho especial por mim, o que não o impediu de me dar uma bela surra em Tibau, numa sexta-feira à noite. Eu, com vinte e um anos de idade, já cursando minha segunda faculdade e estagiando no Banco do Brasil. E o que foi pior, desta vez não tinha aprontado nada, mesmo tendo sido muito danadinha. Meu pai foi um homem bastante honesto e trabalhador, não tinha ambição alguma, dava-nos casa, comida e estudo. Dele herdamos a honestidade e a organização, sempre foi um homem correto, digno. Hoje já falecido. Iracy Santos da Escóssia.
Minha
mãezinha, uma mulher encantadora, guerreira, calada, dizia que em boca fechada não entraria mosca, fria, pouco sorria, depois digo o porquê, mas querida por todos. Muito vaidosa, como minhas irmãs eram bonitas, ela trabalhava dia e noite para bancar nosso luxo, ajudou a todos os filhos, dando carros e motos para alguns, mandando outros para estudarem em Natal, Fortaleza e até para o Rio de Janeiro.Ajudou financeiramente a formar alguns netos, ajudou os irmãos, os colegas de trabalho, uma mulher admirável, tão boa que até as joias, ela deu aos colegas de trabalho da Prefeitura Municipal de Mossoró. Meu tempo de infância - Como sou moreninha, de cabelos pretos e meus irmãos têm uma cor mais clara e os cabelos castanhos, diziam que eu era adotada. E, de tanto ouvir esta estória, cheguei a pensar que era mesmo. Algumas vezes temia que um dia chegasse a verdade. Eu não queria ter sido adotada. Sou louca por Jandyra e ela por mim, sei que mamãe queria colocar meu nome de Setemblina, pode? E Jandyra, ainda
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Vera Escóssia
menina, aos nove anos, implorou a mamãe para colocar meu nome de Vera Lúcia. Salvou-me. Obrigada, mana. Mamãe com início de Alzhaimer, um dia perguntou: “Vera, você ainda tem mãe?”. Respondi: “Mamãe, sempre tive esta dúvida e agora aos cinquenta e oito anos, a senhora vem me fazer esta pergunta. Nem quero saber, minha mãe. É a senhora!”. Fim de papo. Nesse ano de 2017, perdemos papai e mamãe. Eles foram num curto período de tempo. Eles foram, mas deixaram seus exemplos, tanto em casa, como na vida pública. Não somente para seus descendentes, como para a cidade toda, pois eram referência no trato com a vida pública. E só Deus sabe como os filhos de João Newton e dona Iracy se desdobraram para seguir a linha deles dentro e fora de casa. Descoberta revoltante - Fiquei revoltada quando descobri que tinha um irmão carioca, que havia sido dado a um irmão de papai que não podia ter filhos, antigamente existia esse negócio de dar e criar filhos dos outros. Roberto Augusto foi retirado dos braços de mamãe aos oito meses, ainda mamando, hoje um homem lindo e bom. Mamãe sempre disse que nunca deu Roberto. As mulheres eram muito submissas, tomaram o bebê dos braços dela, por isso, ela se tornou uma mulher fria e de pouco riso no rosto, entregouse ao trabalho, acho que para não pensar, trabalhava de manhã e de tarde e a noite fazia a contabilidade da Rádio Rural. Com certeza sofreu demais, calada e nós perdemos a convivência do nosso irmãozinho Roberto. Já mocinha eu escrevi algumas cartas para ele e depois soube, por tia Conchecita, que ele nunca as recebeu, a mãe adotiva dele confiscava as mesmas. Quando completei dezoito anos, fui bater no Rio de Janeiro, tia Conchecita
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Vera Escóssia
intermediou nosso primeiro encontro. Um detalhe importante: para eu ir para o Rio de Janeiro tive que vender minhas coisas para colegas da faculdade de Educação Física, pois papai disse que não me dava o dinheiro. Fui e voltei de ônibus com umas colegas e, finalmente, conheci Roberto, meu irmão, aventureiro como eu. Deus sabe o que faz, se tivéssemos sido criados juntos, com certeza teríamos feito mil loucuras. Morei também um tempo na casa de um casal espetacular, casal conhecido e querido por todos em nossa cidade: Canindeh Alves e Ivanilda Linhares. Dele, confesso que lembro pouco o período que me acolheu, já dela tenho na memória uma mulher maravilhosa, levava-me para uma fazenda onde íamos de trem, andava de carroça e carrossel. Infelizmente, os dois já partiram para o reino eterno. Toda vez que nos encontrávamos eu pedia para ela contar a estória do trem, da carroça e do carrossel e também do cachorro que partiu para cima de mim e eu criança e com medo a chamei de mamãe. Portanto, ainda tenho quatro outros meio irmãos, como Ivana Linhares, Fafá, Vanusa e Neto. Realmente sou uma felizarda, quando eu quis ir para o cursilho fui a ela pedir e, de imediato me colocou. Obrigada, mamãe Ivanilda, você me deu bastante carinho. Quero neste momento pedir perdão a você, pois acho que pela minha imaturidade, fiquei um pouco afastada de você e das meninas, mas quero deixar aqui registrado que tenho um carinho enorme pelas minhas irmãs tortas. Eu sempre brincava com ela, chamando-a de avó desnaturada, pois não vinha visitar os netos, no caso meus dois filhos. Que Deus a tenha esta alma boa, tenho certeza que ela está fazendo muitas reuniões lá por cima, com certeza o céu mais feliz.
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Vera Escóssia
O período que estudei em Fortaleza não lembro do nome do colégio, aqui em Mossoró estudei no Educandário Dom Basco, lembro bem da professora Salete Brasil e dona Dagmar, depois fui para o Colégio Diocesano, onde estudei da quarta série primária até o científico, lembro bem dos professores Chiquito, Socorro Fernandes, Socorro Rodrigues, padre Alcir, padre Sátiro, dona Mundinha e outros, lembranças boas, colegas, namorados, amigas como: Inês Cabral, Ilná Escóssia, Magale Luz, Elidia Queiróz, Beth, Beta, Syomara, Goretinha, Silvana Otávio, Fatinha e Ângela Vasconcelos, dentre outras. Aos dezoito anos, comecei a trabalhar, pois nunca gostei de pedir dinheiro aos meus pais e queria ter minhas coisinhas, então comecei a trabalhar no que aparecia, no recenseamento do IBGE, ganhei tanto dinheiro que nem sabia contar, depois como menor estagiária trabalhei no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. Trabalhei na Weber Engenharia e, como meu então marido, não me pagava direito, só fiquei um ano para não colocá-lo na justiça do trabalho, preferi sair. Trabalhei na Prefeitura Municipal de Mossoró a vida toda, passando pela Secretária de Educação, na Secretaria de Obras e na Secretaria de Saúde, na Casa de Saúde Dix- Sept Rosado. Trabalhei também na UERN, mas com o nascimento do meu primeiro filho, tive que pedir para sair. Atualmente, já aposentada pelo INSS, trabalho na WSC Empreendimentos e Construções Ltda. Vida amorosa - Fui uma menina bonitinha, de muitos amores, apaixonava-me, queria morrer, chorava, sorria, pulava em cima da cama. Quando tinha um namorado novo, eu fazia uma festa. Tive exatamente vinte namorados, que não cabe aqui nominá-los, acho que todos casaram, uns descasaram como eu, alguns já falecidos, outros nunca mais soube nem notícias. Só posso dizer que namorei
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rapazes mais novos que eu, outros bem mais velhos. Foi gostosa minha juventude, aproveitei bastante. Por fim, chegou o dia de me entregar a um homem, casei em fevereiro de 1982, aos vinte e três anos, com um rapaz da minha cidade, como todos sabem, casei com Weber Chaves, meu casamento durou trinta e quatro anos, mas como ele pisou na bola, e eu não tenho o dom do perdão, resolvemos separar, e hoje temos um relacionamento amigável e respeitador. Tive dois filhos maravilhosos: meu primogênito, Pedro Augusto, e meu caçula, João Augusto. Dois discípulos de Jesus, lindos, maravilhosos, trabalhadores, corretos e bons, nem sinto falta de ter tido uma filha mulher, ganhei uma filha linda chamada Mariana, uma pérola de menina. Sobre os netos, primeiro chegou Júlia, que hoje tem nove anos, uma menina estudiosa, linda e meiga. Um belo dia, Júlia chega para mim e diz: “Vovó Verinha, você é uma avó diferente das avós de minhas amigas, pois elas fazem comidinha, crochê para as netas e a senhora é muito danada, doidinha, fica pulando de paraquedas, fazendo rapel, andando de Jet Sky”. Depois chegou Isabela, esta com um ano e meio, uma graça, linda da vovó, num momento de forte emoção fiz um poema para ela, no final o coloco. Meu câncer - Chegou em mim como uma paixão avassaladora, com choros, revoltas e questionamentos, apressada, tive que cortar o mau pela raiz, retirei uma parte do meu peito esquerdo, com a mesma rapidez que a paixão chega e depois de repente vai embora. Um fato até pitoresco, após receber o exame confirmando o diagnóstico corri e fui contar para minha irmã Jandyra, que mora em Natal, isso às oito horas da manhã. Ela colocou as mãos na cabeça e chorando até gritando, dizia: “Você vai me matar com esta
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noticia”. E eu calmamente disse: “Jandyra, o câncer é em mim, não em você. Fique calma”. Ela correu e ligou para o cunhado dela, médico, e eu ouvi toda a conversa pela extensão, ele disse: “Diga a Vera que chore tudo o que tiver de chorar, quebre o que tiver vontade e depois vá cuidar da saúde dela”, chegando em casa, já em Mossoró, desabei num choro e dei um murro no espelho tão grande que além de quebrá-lo, cortei minha mão e quando vi o sangue espirrando fortemente, vi que minha fé era maior do que aquele cancerzinho. Depois, acalmei e conversando com Deus, resolvi viver e conviver com este câncer sempre dentro de mim, com a cicatriz ainda visível no meu peito, até o chamo de fiel, pois já estamos convivendo juntos há mais de dez anos, hoje sem choro e com alegria por estar viva até hoje, sempre brinco com minhas amigas, o meu câncer é bonzinho, quietinho, não me perturba mais, foi mais uma paixão que passou na minha vida, como tantas outras, todos os anos renovo meus exames, revivo tudo novamente e ele lá mandando lembranças, retire este sinal, retire a vesícula e por ai vai, daqui a pouco vou ficar oca. Minhas loucuras - Sempre gostei de aventuras, aos quarenta anos, fiz duas tatuagens, uma estrela no pulso e um anjinho nas costas, quem sabia das minhas loucuras dizia, devia ter colocado um diabinho. Aos cinquenta e sete anos, finalmente, fiz um salto de paraquedas, um desejo antigo, depois fiz rapel, desci de corda do alto do prédio Mont Blanc, confesso que tive um pouco de medo, gosto de andar perigosamente de Jet Sky, gosto de atirar, tenho até boa pontaria. Quando meus filhos eram pequenos fazia tudo com eles, andava de bicicleta, de moto, de Wind car, subia em cima de casa, e fazia outras loucuras que nem posso descrever aqui, são impublicáveis.
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Vera Escóssia
Hoje minha vida se resume a família que construi. Casei, descasei, tenho dois filhos lindos, bons, trabalhadores, homens de bem. A vida é maravilhosa Cheia de lembranças... A vida é bela Bela como Pedro Bela como João Bela como Júlia Bela como Isabela Belas são minhas netas
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Zélia Macêdo Lopes Heronildes da Silva Um convite e um livro
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Oi Marilene e Rafaella: ocês me fizeram um convite para fazer parte de um livro que será escrito por 50 mulheres, não só mossoroenses, mas que residam em Mossoró. Achei a ideia excelente, muito interessante, e também, criativa e, por isso,
inteligente, intelectualmente falando. Vou iniciar, naturalmente
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sem nenhuma veleidade, a não ser a título puramente informativo, contando um pouco de minha trajetória de vida: Fui funcionária da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e assessora do Gabinete da Reitoria, na condição de cerimonialista, durante 14 anos. O início deveu-se ao convite do professor Antônio Gonzaga Chimbinho, Magnífico Reitor, em seguida, sequenciando as atividades, com a Professora Maria Neves Gurgel, Magnífica Reitora, continuando por mais seis anos na gestão do Magnífico Reitor, professor José Walter da Fonseca, quando chegou o tempo da aposentadoria, que se efetivou. Devo salientar que, durante o tempo em que trabalhava, fui professora cinco anos no Colégio Diocesano Santa Luzia, a convite das professoras Raimunda Almeida e Maria das Neves Gurgel. Por solicitação da Assistente Social, Antônia Paiva Duarte, Diretora do SENAI, ministrei cursos de “boas maneiras”. Como provisionada, escrevi, a convite do jornalista Dorian Jorge Freire, no jornal O Mossoroense, em seguida Gazeta do Oeste, em atendimento ao pedido do jornalista Canindé Queiroz, seu Diretor, depois no Diário de Natal e O Poty, Luiz Maria Alves, em seguida no Jornal de Natal, que tinha como Diretor, jornalista Airton Bulhões. Passei um período fazendo um programa na Rádio Libertadora. Entendi que era chegado o momento de parar. E o fiz, embora com intensa vida social, bastando salientar que há 40 anos sou sócia atuante no Lions Clube Mossoró- Centro, no qual fui presidente em 1999/2000, durante 14 anos o cargo de Diretora Social. Faço parte, ainda, do clube das fraternas da Loja Maçônica Jerônimo Rosado e da Loja Maçônica Sebastião Vasconcelos dos Santos, sendo desta sua Madrinha. Recebi o título de cidadã mossoroense com aprovação de todos os
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integrantes da Câmara de Vereadores, em sessão do dia 29 de setembro de 1991, por proposta de Marcos Medeiros. Ocupo a cadeira, N° 25, na Academia de Letras e Artes de Martins — AFLAM e cadeira n° 31, na Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de Mossoró — ACJUS. Integro a relação constante do livro “Mulheres Especiais” de autoria da escritora norte-rio-grandense, Anna Maria Cascudo Barreto, de saudosa memória. Tenho prazer de dizer que participo, frequentemente, de atividades, como voluntária, em diferentes locais, visando a atendimento aos mais carentes em diferentes setores e níveis. Passei um período como coordenadora do “Projeto Reviver”, uma assistência a grupos de idosos carentes. Participei, representando a Universidade, de congressos, seminários, cursos e outras atividades, promovidas por várias instituições brasileiras relacionadas a cerimoniais, em diferentes Estados brasileiros. Formação Acadêmica: Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais do Instituto de Ciências Humanas da FURN/RN, hoje, Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, no dia 15 de janeiro de 1993.
Homenagens Recebi muitas homenagens durante a minha vida. Aproveito para agradecer a todas e a todos, relacionando algumas lembranças, na impossibilidade de fazê-lo integral e amplamente, como era, e é, meu desejo. Elas me sensibilizaram profundamente. Tenho certeza, contudo, que todos se sentirão alvo dessa gratidão. Na Revista Presença, de N° 45, você escreveu: “Nascendo em Martins, no dia 25 de janeiro, a nossa Embaixatriz da Elegância,
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Zélia Macedo Heronildes, recebe muitas homenagens aos seus bem vividos anos. Advogada, cerimonialista nacional, é registrada no livro “Perfil Biográfico do Cerimonial Brasileiro Volume I”, Comitê Nacional, Coordenação de Marcilio Renaud, na pag. 157. “ Continuando: “Esposa muito amada de Élder Heronildes, mãe de George e Disraeli, Zélia já nasceu iluminada, numa das serras mais lindas deste nosso país, Martins”. Do alto do seu caráter e da nobreza de sua alma, amiga dos seus amigos, companheira e solidária com os que a procuram, vive justamente prestigiando, e sendo prestigiada.” Como bem escreveu o colunista Walterlin Lopes na mesma revista: “Zélia tem uma vida pontuada por conquistas, mas que segue sendo trilhada na simplicidade, na alegria de ser. Ela é referência na sociedade. Sua elegância é mais que elemento externo. Sua classe vem do coração, marco de sua alma de valores elevados. Por tudo quanto és, Zélia, aceite os nossos parabéns e os votos de uma existência plena e intensa. Todos os vivas.” Na mesma revista, Elder se expressou com a seguinte mensagem: “Ela, na realidade, é tudo para mim. Como mulher é maravilhosa. Como esposa é divina. Como mãe é inexcedível no amor e no extremo apego aos filhos. Tem feito do nosso lar, com devoção, zelo e carinho, um estado permanente de felicidade. Competente, eficaz e perfeccionista em tudo que faz, e o faz com inigualável responsabilidade, numa incontida vibração com o exercício de suas atividades e ações. Por isso, gera confiança e tranquilidade. É uma presença estimulante e imprescindível em tudo que tenho feito e participado. Faz da nossa união conjugal um estado permanente de amor e doação. Ela completa e dá sentido à minha vida. Vida engrandecida com ternura, compreensão, com presença marcante
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em todos os passos, em todas as horas e momentos difíceis, ou não. Que sua bondade seja perenizada, como os grandes rios e seus afluentes, que embelezam e dão magnitude ao próprio oceano, ao penetrarem em suas águas. Espero e desejo que assim continue por muitos, muitos e muitos anos de vida. Esperando que seja a força transparente da beleza eterna. Portanto, eternamente bela na sua integralidade, em matéria e em espírito. Élder Heronildes da Silva.” Na Revista Presença de N° 32, em 05. 2011, os meus filhos e minha nora, prestaram uma homenagem a mim e a Élder, com as seguintes mensagens, que com gratidão faço a transcrição neste momento: “Eles dominaram a difícil habilidade (complementando-se reciprocamente) de nos dar nas e para as fases adequadas, e em época na qual o conhecimento a respeito da vida nem de longe equiparava-se com os atuais e nem se propagavam como hoje, a educação humanitária, de cujas raízes decorrem a convicção de propósitos, a força aos exercícios desses propósitos, a coragem para enfrentar os reveses e, principalmente, repito, e principalmente, o valor de honestidade; tudo achegado com amor e carinho. E mais: sem deixar, como todos sabem, de se congraçar com a sociedade e de servi-la. Papai e mamãe eu os amo. Que Deus os abençoe e os continue iluminando. George Macedo Heronildes” (Eles agora procuram passar esses valores para o nosso querido Thales, neto que também se incorpora a esta homenagem.) Sogrinhos Zélia e Elder: “As ciências exatas desconhecem as emoções. Daí sustentaram que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Os cientistas dizem e pensam provar que cada corpo tem o seu espaço certo e definitivo. Essa verdade científica não resiste aos argumentos dos que conhecem Dona Zélia e Sr. Élder, meus sogrinhos, que, embora dois para os materialistas são um para os românticos.
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Dona Zélia e Sr. Élder, ao longo de mais de cinquenta anos de casamento, não formam um par, mas uma unidade. Essa unidade não lhes retirou os traços marcantes de cada personalidade. Um não apagou o outro. Pelo contrário, aprenderam a brilhar juntos. Somam-se. Agregam-se. Sabem sorrir juntos. Sabem sofrer as mesmas dores. Deles nasce a lição de que as divergências podem amanhecer com as cores das convergências. Vê-los na maturidade é um privilégio. Eles agem com simplicidade, sem palavras definitivas. Conhecem o momento certo da substituição do sim pelo não. Os meus sogrinhos amadurecem cheios de sabedoria que aflora de corações generosos. George e eu, filho e nora, somos devedores das lições que deles recebemos, ao mesmo tempo em que queremos ser credores, durante anos, dos gestos largos e das atitudes carinhosas de Dona Zélia e Sr. Élder, símbolos do nosso patrimônio afetivo e sentimental. Dona Zélia e Sr. Élder não completam cinquenta anos de casados como um simples fato cronológico. O tempo é parceiro deles. A data, em verdade, com o seu forte conteúdo romântico, simboliza a vitória de quem acredita, a exemplo do poeta, “que é impossível ser feliz sozinho.” Que Deus os abençoe.” Andrea Holanda Heronildes (nora) Mainha: “Antes de nascermos já conhecemos nossa mãe, por dentro, inclusive, depois, quando recebemos as mais diversas influências, ambientais e culturais, passamos a ter consciência daquele conhecimento, da mãe e da relação, graças a Deus, quanto mais adquiro essa consciência mais aumenta meu amor por você e, creio de maior relevância, minha admiração. Valentino, meu filho, e seu segundo neto, sempre que vai ao meu apartamento me pergunta se irá vê-la à resposta negativa, demonstra indisfarçável tristeza. Ele a
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adora. Maria José, mãe de Valentino, que a chama de vovó, também lhe quer muito.” Disraeli Macêdo Heronildes
Mossoró Mossoró é conhecida, nacionalmente, por eventos de destaque na sua história, fazendo notar o seu pioneirismo, em diferentes oportunidades e níveis de atuação. Destaque-se, inicialmente, que foi em Mossoró, a ocorrência do primeiro voto feminino em toda a América Latina, conforme se constata no livro do professor e ex-Reitor João Batista Cascudo Rodrigues, através da professora Celina Guimarães Viana, esposa do educador Eliseu Viana. Saliente-se a relevância de Ana Floriano, mãe do jornalista Jeremias da Rocha Nogueira, fundador do jornal centenário O Mossoroense, que liderou o conhecido e falado motim das mulheres, rasgando em praça pública, os editais convocando os jovens para a guerra. Merece sem dúvida ser lembrada, Amélia de Souza Galvão, de atuação singela, mas significativa, nas atividades abolicionistas em nossa terra. A poetisa Maria Sylvia de Vasconcelos, mossoroense, patrona da Academia Mossoroense de Letras - AMOL, cadeira n.8. Consagrada como uma das maiores poetisas do norte e nordeste, como afirmou em seu livro, o escritor paranaense, Osvaldo de Souza Temos Outras mulheres notáveis, como a atual prefeita e médica pediatra, Dra. Rosalba Ciarlini Rosado, exercendo o seu quarto mandato, tendo sido Senadora da República e Governadora do nosso Estado; Wilma Maia, Governadora; vereadora Sandra Rosado, que foi deputada estadual e federal; Maria de Fátima Rosado e Cláudia Regina, que foram prefeitas de Mossoró; Larissa Rosado, que está
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no seu segundo mandato como deputada estadual; vereadora lzabel Montenegro, em seu segundo mandato e atual presidente da Câmara; mais 3 vereadoras: Maria das Malhas, Isolda Dantas e Aline Couto. A primeira vereadora de Mossoró foi a professora Heloisa Leão de Moura, valendo salientar, entre outras, Maria Lúcia Ferreira e Raimunda de Dodoca. Já tivemos duas reitoras, as professoras Maria Gomes de Oliveira e Maria das Neves Gurgel. Juízas: Já tivemos em Mossoró a Dra. Lena Rocha. Atualmente, as juízas Dra. Carla Portela e Dra. Welma Menezes. Por tudo isso, todos e todas mossoroenses, se orgulham de Mossoró, pelo valor de suas mulheres, inclusive àquelas que aqui viveram e a adotaram a terra como mãe. Muito obrigada, Marilene e Rafaella, pelo convite e parabéns pela feliz iniciativa de vocês duas, que também fazem parte da história de Mossoró, pelo brilho, pela inteligência em tudo que fazem.
Zélia Macedo Heronildes. Daí sustentarem que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Os cientistas dizem e pensam provar que cada corpo tem o seu espaço certo e definitivo. Essa verdade científica não resiste aos argumentos dos que conhecem Dona ZÉLIA e Sr. ELDER, meus sogrinhos, que, embora dois para os materialistas são um para os românticos. Dona ZÉLIA e Sr. ELDER, ao longo de mais de cinquenta anos de casamento, não formam um par, mas uma unidade.
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por isso provoque Um documento histórico. A vida, os sonhos, as lutas de 50 mulheres no mesmo livro. Uma coletânea inspiradora. Esse é o livro POR ISSO NÃO PROVOQUE. Mulheres mossoroenses. Mulheres potiguares. Mulheres que adotaram nossa Mossoró, que adotaram nosso Rio Grande do Norte. Uma obra que chega para abrir portas, discussões. Para abrir caminhos e horizontes. Uma obra de valorização do empoderamento feminino. Um sonho. Uma realização. As inspirações que cada mulher pode causar. O seu novo livro de cabeceira. Provocações. Desafios. Instigações. Deleite-se.
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