CAPA A SUPERAÇÃO DE RAISSA NASCIMENTO

Filha de diari sta supera obstácu los e con qui sta vaga em Me dicina na UFRN

Raíssa Nasci men to é exem lo de que m não desiste dos son hos

O ingresso no Ensino Superior traz consigo uma trajetória de dedicação, superação e persistência para não desistir em meio aos obstáculos. Nesse contexto, Raíssa Nascimento, 21 anos, moradora do bairro do Guarapes, na zona Oeste de Natal, filha de uma diarista e de um marceneiro, mostrou que nada nem ninguém poderia impedi- -la de conquistar o sonho de cursar Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a aprovação chegou. Foto: Magnus Nascimento

“Aos 12 anos decidi que queria ser médica, a partir desse momento os primeiros obstáculos surgiram, não sabia eu que eles iriam permanecer no meu cotidiano por mais alguns anos. O primeiro deles era descrença de muitos em relação ao meu desejo de frequentar uma universidade e, em especial, um dos cursos mais concorridos do país. Felizmente, ter em meu cotidiano exemplos de mulheres negras que sempre acreditaram em mim foi crucial para superar esse entrave”, destacou Raissa.

A estudante também relata a falta de um am biente de estudo adequado que a deixasse de igual para igual com seus concorrentes. “Tor nou-se, sem dúvida, um grande empecilho para absorver o conteúdo da escola adequadamente. Nesse momento, graças às políticas de afirma ção das instituições federais, tive a oportunida de de entrar no IFRN, onde tive acesso a espa ços adequados para prosseguir com a rotina de aprendizagem e auxílios para permanecer estu dando, sendo eles, a bolsa emprego e o auxílio passagem”, lembra Raissa.

Outra barreira para prosseguir com seu sonho era o fator financeiro, uma vez que, após a conclusão do técnico integrado, tornou- -se mais difícil custear mais um ano de estudo. “Por esse motivo, próximo ao fim do meu segundo ano de cursinho, momento esse em que eu não tinha muitas esperanças em passar, resolvi começar a trabalhar, uma vez que minha família também precisava de mim”, lembrou Raíssa.

A preparação para o Enem não foi um processo rápido. “É válido levar em conta o período do ensino médio o qual me proporcionou uma base teórica adequada para os anos de cursinho. Foi nos quatro anos de IFRN que adquiri o hábito de estudar por livros e fazer resumos em tópicos. Consequentemente, me concentrei na resolução de questões, uma vez que a grande característica do exame é ser uma prova de resistência a qual exige do vestibulando muita concentração, desse modo, focar em questões e no seu tempo de resolução foi uma das estratégias fundamentais rumo à conquista da tão sonhada vaga em Medicina”, descreveu.

Apoio da fa mília e profe ssore s

“Minha vida sempre foi repleta de mulheres negras que acreditam em mim e que eu conseguiria mudar a história de todas nós. A exemplo disso, preciso falar sobre minha mãe, meu maior exemplo de resiliência, uma mulher que nunca desistiu e que desde a infância é diarista, acorda às quatro da manhã para trabalhar, sendo o pilar da nossa família. Foi ela quem sempre lutou para que eu continuasse estudando”, relatou Raissa. Após a conclusão do Ensino Médio no IFRN, a estudante conta que direcionou os estudos com mais organização para o Enem. “No cursinho que estudei conheci dois professores que abraçaram e apoiaram meu sonho de uma forma inimaginável, Julianny Katarine e Pedro João. A redação, por exemplo, era uma das minhas maiores dificuldades e foi a professora Ju quem me auxiliou em todo o processo de escrita, até porque por inúmeras vezes me achava incapaz de produzir um texto, insegurança gerada pela falta de base no ensino fundamental e que foi vencida com a ajuda de Ju e Pedro, que me mostraram o contrário e estiveram durante todo o ano ao meu lado”, relatou a futura médica.

Raissa ainda ressalta: “é necessário destacar que o cérebro humano segue uma curva de aprendizagem, ou seja, quando se trata de conhecimento não há um momento pontual responsável pela aprovação, mas sim, uma série de situações, ou melhor, vários anos”.

Expec tativa e motiva ção Para quem vive situações parecidas de obstáculos financeiros, sociais e educacionais, Raíssa Nascimento deixa uma mensagem de motivação. “Realmente, não é fácil sair de um contexto desfavorável onde todo o sistema é orquestrado para que você não consiga, porém, guarde na mente o motivo pelo qual você está fazendo isso, crie um objetivo e lembre-se que o estudo é a coisa mais recompensadora desse mundo. A educação transforma vidas! Ela transformou a minha!”, explanou Raíssa.

Após a jornada para entrar na UFRN, a expectativa agora é pelo início do curso e dos próximos passos na carreira de médica. “As expectativas são as melhores possíveis, vou entrar no curso para estudar Medicina e ser a melhor profissional que eu possa ser, sei que não será fácil, até porque vão ser necessários 6 anos de dedicação em um curso que ainda é muito elitizado, sem falar nos outros 4 anos, no mínimo, direcionados à especialização. Para uma área belíssima, acredito que serão anos de muito aprendizados para que finalmente eu seja uma médica neurologista”, concluiu Raíssa.