AS FACES DE
Jorge alberto 1
Apresentação Muito além da satisfação de trazer a história da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM), vale o enorme aprendizado de conviver, nos últimos meses, com os personagens que a constroem a cada dia. A revista Acadêmicos retrata, em sua primeira edição, a trajetória da (ALTM), na comemoração do seu Jubileu de Ouro, e o perfil do imortal de número seis e atual presidente da instituição, o colunista Jorge Alberto Nabut. Nesta primeira edição, mostramos como se deu a fundação da instituição e quem foram os homens que construíram esta importante academia de intelectuais da região. Em seguida, amigo leitor, você poderá mergulhar no universo do presidente Jorge Alberto Nabut: colunista, escritor, ator e diretor de teatro, roteirista e diretor de cinema, membro da ALTM. Você irá saborear o resultado de entrevistas, realizadas nas tardes dos finais de semanas, sempre regadas ao doce sabor do chocolate, em forma de boas histórias ilustradas com fotografias que estavam muito bem guardadas e que, gentilmente, nos foram cedidas. O menino que não saia da barra da saia da mãe, o jovem amante de artes, o engenheiro que jogou tudo para cima e se dedicou ao jornalismo são fragmentos deste presidente que já ousou até em usar o nome fictício Iago, nos anos 60 e 70, para inquietar a sociedade da época por meio de um tradicional jornal impresso. Não há poucas palavras que definam Jorge Alberto. O desafio é, de fato, resumir, em poucas páginas, toda a versatilidade humana deste imortal. Aprecie a revista Acadêmicos com a certeza de que pretendemos ir além. Com a publicação desta primeira edição, a perspectiva é lançar um exemplar do gênero, no primeiro domingo do mês, ao longo de dois anos, com os perfis dos demais membros da ALTM. Contamos com o seu apoio. Boa leitura!
Índice HISTÓRIA DA ALTM PAINEL 3 CAMINHOS 6 PARA O MUNDO 12
O ACADÊMICO BIOGRAFIA 18 PONTO DE VISTA 36 O MELHOR 38
EXPEDIENTE Revista Acadêmicos. Os imortais da Academia de Letras do Triângulo Mineiro - Projeto apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo, na Universidade de Uberaba (Uniube) - Edição e Diagramação: Thiago Ferreira, aluno do 8º período de Jornalismo - Professora orientadora: Indiara Ferreira (MTB MG 6308 JP) 2
Os acadêmicos da ALTM
história da altm/painel fotos: divulgação
Conheça os imortais que integram a Academia cadeira 1
cadeira 2
cadeira 3
cadeira 4
Lincoln borges de carvalho
agenor gonzaga dos santos
martha de freitas azevedo pannuzio
padre tomaz de aquino prata
cadeira 5
cadeira 6
cadeira 7
cadeira 8
VAGA
jorge alberto nabut
lídia prata ciabotti
antonio pereira da silva
cadeira 9
cadeira 10
cadeira 11
cadeira 12
césar pereira vanucci
consuelo pereira rezende do nascimento
nárcio rodrigues da silveira
dimas da cruz oliveira
cadeira 13
cadeira 14
cadeira 15
cadeira 16
vilma terezinha cunha duarte
pedro lima
antonio couto de andrade
edmar césar
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história da altm/painel fotos: divulgação
cadeira 17
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cadeira 18
cadeira 19
cadeira 20
luia cláudio de pádua neto
Luiz manoel da costa filho
dom benedito ulhôa vieira
paulo fernando silveira
cadeira 21
cadeira 22
cadeira 23
cadeira 24
maria antonieta borges lopes
dom josé alberto moura
ernane fid´élis
elza texeira de freitas
cadeira 25
cadeira 26
cadeira 27
cadeira 28
ulbirajara franco
josé humberto silva henriques
terezinha hueb de menezes
gessy carísio paula
cadeira 29
cadeira 30
cadeira 32
cadeira 33
geraldo dias da cruz
irmã domitila ribeiro borges
João euripedes sabino
vaga
história da altm/painel fotos: divulgação
cadeira 34
cadeira 35
cadeira 36
cadeira 37
antônio de oliveira melo
antonio severino muniz
valdemes ribeiro de menezes
sebastião teotônio rezende
cadeira 38
cadeira 39
cadeira 40
joão gilberto rodrigues da cunha
carlos alberto cerchi
guido luiz mendonça bilharinho
Os presidentes 2013 a 2014
jorge alberto nabut
1987 a 2009
2011 a 2013
José Humberto Silva Henriques
1981 a 1987
2009 a 2011
Terezinha Hueb de Menezes
1979 a 1981
Membros Correspondentes “Somente poderão ser membros efetivos e sócios correspondentes pessoas de notório valor intelectual, que tenham livros publicados, ou que apresentem produção literária ou cientiífica publicada, e de reconhecido mérito” (Estatuto da ALTM - cap. II, Art 6)
1977 a 1979
Mário Salvador
José Soares Bilharinho
Jacy de Assis
Maurilio Cunha Campos de M. e Castro
1975 a 1977
1969 a 1975
1968 a 1969
1963 a 1968
Guido Luiz Mendonça Bilharinho
Edson Gonçalves Prata
Augusto Afonso Neto
José Mendonça
Alessandro Abdala Santana - Sacramento (MG) Ani de Souza Arantes Santos - Uberaba (MG) Carlos Donizete Bertolucci - Uberaba (MG) Dirce Miziara - Uberaba (MG) Geise Alvina Degraf Terra - Uberaba (MG) Iná Bittencourt de S. Barbosa - Uberaba (MG) Dr. José Correia Tavares - Lisboa - Portugal José Rodrigues de Arruda - Serrinha (RN) Samir Cecílio - Uberaba (MG) Stella Alexandra Rodopoulos - Brasília (DF) Suely Brás Costa - Uberaba (MG) Tiago de Melo Andrade - Uberaba (MG) C. Thiago Menezes - Águas de Lindóia (SP) Vicente Rodrigues da Silva Filho - Sacramento (MG)
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história da altm/caminhos por thiago ferreira . fotos: THIAGO FERREIRA e divulgação
Os fundadores a Academia de Letras do Triângulo Mineiro
Edson, Juven Três homens, de diferentes setores da sociedade da época, deram vida à Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM) que, neste ano, completa cinco décadas: José Mendonça, ex-presidente do Sindicado Rural do Triângulo Mineiro, hoje Associação de Criadores de Zebu (ABCZ); Edson Prata, jurista, professor de direito e mais tarde um dos fundadores do Jornal da Manhã e Monsenhor Juvenal Arduini, homem que se dedicou ao estudo da filosofia, sociologia e à religião católica. O advogado, historiador e escritor, Guido Bilharinho, dono da cadeira de número 40 na ALTM, explica que Uberaba sempre teve tradição de agremiações intelectuais. Remontando à história, ele destaca a criação do Grê6
mio Literário Bernardo Guimarães, no início do século XX. O Grêmio abrigou a primeira biblioteca da cidade e se encarregou da publicação de anuários. Foram cinco anos de realizações até que a agremiação se perdeu e todo o acervo foi doado para a administração municipal. “Era um acervo pequeno, uns 500 exemplares. Mais tarde, no governo de João Henrique Sampaio (1920 a 1922), foi criada a Biblioteca Municipal de Uberaba e concedido o nome do escritor da antiga instituição”, explica o acadêmico. Com a extinção do Grêmio Bernardo Guimarães, Guido explica que começaram a surgir especulações dos articulistas dos jornais da época: o Lavoura e Comércio e o Gazeta de Uberaba frisavam a necessidade de
enal e José uma instituição que congregasse os escritores na região. “Essa tradição de unir os escritores em uma agremiação acadêmica é uma tradição muito antiga. que surgiu na Grécia”, ressalta o historiador. No dia 15 de novembro de 1962, José Mendonça, intelectual da época, encontrou-se com os amigos Edson Prata e Juvenal Arduini, na época padre, na Sede do Sindicato Rural. Com o posicionamento positivo dos amigos, começaram, na mesma noite, a esboçar o estatuto da nova instituição. Foi o pontapé para o surgimento da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, instituição que completou 50 anos, em 2012. “Os motivos que me levaram a coordenar o movimento de fundação são baseados principalmente na necessidade de congregar
a intelectualidade triangulina em torno de um centro de convergência comum, para melhorar estudo e debate dos problemas literários científicos e sociais do mundo”, salientou José Mendonça, conforme citação disponível no acervo da ALTM. Em seguida, os primeiros convites começaram a ser dirigidos aos convidados para compor a Academia. Guido Bilharinho conta que os escritores da cidade foram convidados, mas que grande parte era jornalistas empregados nos jornais da cidade. “Na época, era muito difícil se ter um obra publicada”, finaliza o acadêmico. No dia 25 de novembro de 1962, os 27 primeiros acadêmicos reuniram-se no salão nobre da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro: José Mendonça, San7
história da altm/caminhos
tino Gomes de Matos, Victor de Carvalho Ramos, Padre Thomaz de Aquino Prata, Cônego Juvenal Arduini, Rui de Souza Novaes, Ari Rocha, Padre Antônio Thomás Fialho, César Vanucci, Antônio Edison Deroma, Raimundo Rodrigues de Albuquerque, João Rodrigues Cunha, Augusto Afonso Neto, Maurílio Cunha Campos de Moraes e Castro, George de Chirée Jardim, Lúcio Mendonça de Azevedo, Quintiliano Jardim, João Henrique Sampaio Vieira da Silva, Lauro Savastano Fontoura, Mario de Ascenção Palmério, Dom Alexandre Gonçalves Amaral, Jacy de Assis Soares de Faria, João Édison de Melo, Pereira Brasil, Licídio Pais, Edson Gonçalves Prata. Estes membros são considerados, em tese, fundadores da instituição. Os demais lugares foram sendo ocupados com o passar do
1 Os fundadores da ALTM - 1 Edson Prata .
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2 2 José Mendonça . 3 Juvenal Arduini
tempo até formar-se o grupo de 40 intelectuais (João Alamy Filho, Eurico Silva, Leonard Paulus Smeele, João Modesto dos Santos, Edelweiss Teixeira, Frei Fanscisco Maria de Uberaba, Gabriel Totti, Antônio Severino Muniz, Waldemes Ribeiro Menezes, Marçal Costa, José Soares Bilharinho, Dom José Pedro da Costa, Guido Luís Mendonça Bilharinho). Para o padre Thomas de Aquino Prata, acadêmico de número 4 e articulista do Jornal da Manhã, a academia tem por finalidade preservar a cultura da língua, da literatura, especialmente do Triângulo Mineiro. “Além do estudo dos problemas sociais e científicos, a união dos intelectuais do Brasil Central, a difusão de suas obras e conhecimentos gerais”, finaliza o imortal.
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Guido Bilharinho é advogado, historiador e acadêmico de número 40 na ALTM
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história da altm/caminhos
A eleição de um acadêmico A candidatura à vaga na Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM) se dá por meio de inscrição espontânea do candidato ou por indicação de cinco acadêmicos, posteriormente, submetida ao parecer de uma comissão constituída de cinco membros, nomeada pelo presidente da ALTM. As vagas somente surgem em caso de falecimento de um acadêmico. Atualmente, a cadeira de número cinco, que pertenceu a Juvenal Arduini, está vazia desde sua morte, em 2011. Aos 94 anos, foi vítima de insuficiência respiratória, complicações de uma pneumonia e de um acidente vascular cerebral. Segundo o atual presidente da ALTM, Jorge Alberto Nabut, com a reforma do estatuto será iniciado o processo de preenchimento da vaga. A eleição é praticada por voto secreto, em Assembleia Geral. Cada cadeira tem o seu patrono, que foi indicado pelo respectivo sócio fundador ou pelo primeiro acadêmico que dela tomou posse. A escolha do patrono, embora de livre vontade dos acadêmicos, teria que ser, necessariamente, de um intelectual ilustre das letras brasileiras, de preferência vinculado ao Estado de Minas Gerais e em especial à região triangulina.
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A busca pela sede própria Na noite do dia 25 de novembro de 1962, junto com a eleição da primeira mesa diretora e com a posse dos 20 imortais, foi discutida a necessidade de uma sede para abrigar a instituição que congregava os expoentes da cultura regional. Até então, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o escritório de advocacia de Edson Prata, a Associação Comercial e Industrial de Uberaba (ACIU) e o Jockey Club cediam espaço para as reuniões. Em 22 de dezembro, de forma solene, a ALTM foi instalada no Salão Nobre da Aciu. Quase dez anos se passaram até que o prefeito João Guido sugeriu que a Academia funcionasse juntamente com a Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães, mas só em seis de abril de 1973, o prefeito em exercício, Hugo Rodrigues da Cunha, concedeu chancela para que a
ALTM se instalasse no local. A história de oficializar o funcionamento parecia não ter fim. Em 1997, o então prefeito da época, Marcos Montes Cordeiro, decretou a permissão de uso de um espaço junto à biblioteca para o exercício das funções estatuárias e estruturais da associação. Hoje, a instituição busca uma nova sede para suas atividades novamente junto ao poder público municipal. A atual vice-presidente da instituição, Terezinha Hueb de Menezes, explica que há uma negociação para que seja concedida uma sede digna para a ALTM: “Com a reforma da biblioteca, em 2008, o espaço destinado para a academia ficou muito pequeno, assim impossibilitando a realização de algumas de nossas atividades”, explica a vice-presidente.
Com a reforma da biblioteca, em 2008, o espaço destinado para a academia ficou muito pequeno” terezinha hueb sobre a atual sede da ALTM na Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães
Terezina Hueb presidiu a ATLM por três anos e, atualmente, é vice-presidente
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história da altm/para o mundo por thiago ferreira . fotos: Adam Sobral e divulgação
DO TRIÂNGULO PARA O BRASIL. Em mais de 50 anos de história, a ALTM congregou escritores de toda a região. Dois deles ganharam notoriedade e foram convidados para compor a Academia Brasileira de Letras. Conheça-os a seguir.
Mário Palmério Em 4 de abril de 1968, Mário Palmério foi eleito o quarto ocupante da cadeira de número dois da Academia Brasileira de Letras, ABL, antes ocupada por Guimarães Rosa. Em seu discurso de posse, as primeiras palavras ditas foram uma citação do livro Campo Geral, de Guimarães Rosa. “Um certo Miguilim morava com a mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-doFrango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutum. No meio dos Campos Gerais, mas num
covão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos.”, leu Mário Palmério, fazendo uma alusão ao Triângulo e sua semelhança em ser mineiro assim como Guimarães Rosa. Mário Palmério nasceu em Monte Carmelo, no interior de Minas Gerais, em 1º de março de 1916, filho de Maria da Glória e do engenheiro e advogado Francisco Palmério. Depois de estudar no Rio de Janeiro e em São Paulo, Mário voltou para sua terra, em 1945, e deu início à sua carreia como professor. Construiu um conjunto de prédios
Nasceu relatório, cresceu crônica e acabou romance” mário palmério, sobre seu livro Vila dos Confins
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que abrigariam o Colégio do Triângulo Mineiro e a Escola Técnica de Comércio do Triângulo Mineiro. Em 1947, o governo federal cedeu a autorização da abertura da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro. Anos mais tarde, seria criada as Faculdades Integradas de Uberaba e, mais recentemente, a transformação em Universidade de Uberaba, hoje a Uniube. A carreira de autor decolou com o seu primeiro livro, o romance Vila dos Confins, publicado em 1956. O relato, com linguagem típica do homem sertanejo, a descrição geográfica e o cotidiano do homem do interior fizeram sucesso ao retratar a cultura rústica do Brasil interiorano. O próprio autor dizia que a obra “nasceu relatório, cresceu crônica e acabou romance”. Três anos depois da fundação da
André Azevedo pesquisou durante seis anos a história de Mário Palmério
Seu envolvimento na criação de diretórios partidários foram experiências de inspiração para os livros” ANDRÉ AZEVEDO, no seu livro A Cosnstrução do Mito Mário Palmério
ALTM, em 1965, Mário Palmério lançou o seu segundo livro, Chapadão do Bugre. Ele havia acabado de voltar do Paraguai onde permanecera por anos como Embaixador do Brasil. Isolado na sua fazenda no sudoeste do Mato Grosso, o autor encontrou inspiração para escrever Chapadão do Bugre. Na obra ele se dedicou a contar as lutas e conspirações políticas do interior do país. Na época, Mário já tinha cumprido seis anos de mandato como deputado na assembleia legislativa de Minas. “A intimidade do autor com caçadas, pescarias e com a vegetação sertaneja, e também o seu envolvimento na criação de diretórios partidários no Triângulo Mineiro nos anos 50 foram experiências fundamentais que lhe forneceriam inspiração para os livros”, finaliza o pesquisador André Azevedo na Fonseca. Além de Vila dos Confins de 1956 e Chapadão do Bugre lançando em 1965, Mário Palmério também é autor de O Morro das Setes Voltas, romance ainda inédito sem publicação e Seleta Organização, Estudos e Notas de Ivan Cavalcanti Proença, escrito em 1974. 13
história da altm/para o mundo por thiago ferreira . fotos: Adam Sobral e divulgação
Amigo de Guimarães Rosa, romancista lutou na revolução de 30, foi secretário de Juscelino Kubitschek e tornou-se escritor aos 44 anos
Geraldo França de Lima Eleito em 30 de novembro de 1989, Geraldo França de Lima ocupa a cadeira de número 31 na Academia Brasileira de Letras. Romancista e professor em Minas Gerais, nascido na cidade de Araguari, no norte do Triângulo Mineiro, é filho de Alfredo Simões de Lima e de dona Corina França de Lima. Quando criança, Geraldo teve a mãe como primeira professora, com quem aprendeu a ler e a escrever. O livro “Inocência”, de Visconde de Taunay, recomendado por seu pai, foi a primeira obra que leu, antes mesmo de completar 11 anos de idade. Em 1929, mudou-se para Barbacena há 173 km de Belo Horizonte. Na cidade, permaneceu por cinco anos, onde se destacou no aprendizado de línguas e sendo um dos mais assíduos frequenta14
dores da biblioteca. O seu primeiro escrito, descrevendo a viagem que demandou cinco dias, pela antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas, de Uberaba a Belo Horizonte, foi publicado no jornal Araguari. Em 1932, levado pela efervescência cultural de Barbacena, transformaram o grêmio literário no grupo literário Arcádia Ginasiana de Letras. Na mesma época, foi eleito presidente e diretor do jornal O Kepi, um seminário de ideias em Barbacena. Foi aí que apareceram suas primeiras poesias. Na quarta-feira santa de 1933, conheceu por acaso João Guimarães Rosa, na época médico capitão-médico da Força Pública Mineira. Uma fraterna amizade logo os uniu. Mais tarde, Guimarães Rosa vinha se tornar também um imortal da Academia Brasileira de Letras.
Escrevia por prazer, mas nunca quis mostrar a ninguém, muito menos a Guimarães Rosa. Temia sua crítica” GERALDO FRANÇA DE LIMA, em depoimento registrado na ABL
Em 1951, foi nomeado advogado da Estrada de Ferro Central do Brasil pelo Ministro da Justiça Bias Fortes, retornou definitivamente ao Rio de Janeiro. Na capital carioca passou também pela
Geraldo, nos últimos dias de vida, perdeu a visão e ditava os livros para a esposa
Adriana Londoño foi a protagonista da novela Serras Azuis baseada no primeiro livro do autor, exibida na TV Bandeirantes, em 1998
Procuradoria Geral e daí para a Consultoria Geral da República. Voltou a escrever no Diário de Notícias, com o poema “Saudades sugeridas”. Em 1960, ingressou no jornalismo opinativo com o artigo titulado “Com Bernanos no Brasil”. O texto teve larga repercussão no exterior. Atualmente é considerado importante depoimento sobre o escritor francês. Em 1958, tornou-se professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da UFRJ. Foi assessor do Presidente Juscelino Kubitschek e do presidente do Conselho de Ministros, Tancredo Neves. No ano de 1961, Guimarães
Rosa, almoçando em casa do amigo, encontrou, na escrivaninha, os originais do romance “Uma cidade na província”. Levou-os consigo e, entusiasmado, leu-os no mesmo dia. Pela madrugada, ao terminar a leitura, telefonou para dona Lygia, esposa do romancista, e emocionado transmitiu-lhe sua impressão: “Ou muito me engano ou estou na frente de um grande romancista.” Mudou o nome para “Serras azuis”, providenciou a publicação, indo pessoalmente procurar o editor Gumercindo Rocha Dórea Na tarde do lançamento, na Livraria Leonardo da Vinci, em 2 de junho de 1961, Guimarães Rosa pediu a palavra e, em discurso, relatou sua amizade com Geraldo França de Lima, terminando com a apologia ao romance. O sucesso alcançado valeu ao livro o Prêmio Paula Brito Revelação Literária 1961, da Biblioteca Pública do Estado da Guanabara. Em 1969, a União Brasileira de Escritores, sob a presidência de Peregrino Júnior, conferia o Prêmio Fernando Chinaglia a “Jazigo dos vivos”, considerado o melhor romance de 1968. Em 1972, recebeu a grande láurea do Conselho Estadual de Cultura do Estado da Guanabara, o Prêmio Paula Brito Ficção, destinado a conjunto de obra. Em 1991, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura Luísa Cláudio de Sousa, conferido pelo PEN Clube do Brasil ao romance “Rio da vida”. Em 1994, o Troféu Guimarães Rosa foi concedido a “Folhas ao léu”, como conjunto de melhores contos. Foi casado com Lygia Bias Fortes da Rocha Lagoa França de Lima, que faleceu em 2002. Sofrendo a perda da visão, o acadêmico ditava seus livros à companheira. Seu último romance, “O sino e o som” foi lançado em 2002. 15
história da altm/para o mundo por terezinha hueb de meneses . acadêmica 27 da altm
A função social da academia e sua contribuição para a sociedade A Academia de Letras do Triângulo Mineiro foi fundada em 1962, por três proeminentes intelectuais de Uberaba, Dr. Edson Prata, Dr. José Mendonça e Monsenhor Juvenal Arduini. Quarenta acadêmicos compõem seu quadro de sócios. Foi criada, tendo por “finalidade a cultura da língua, da literatura, especialmente do Triângulo Mineiro, e o estudo dos problemas sociais e científicos, a união dos intelectuais do Brasil Central, a difusão de suas obras e conhecimentos gerais (...)” Por ter como foco principal a literatura, tornase muito abrangente sua função social, uma vez que as revistas e os livros editados, atingindo o público leitor, concorrem, pelas ideias veiculadas, para a transformação da sociedade: convém lem-
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brar que os acadêmicos são intelectuais, direta ou indiretamente, engajados com a problemática social; daí a importância do trabalho de cada um. Além disso, ressaltem-se ainda as reuniões mensais, abertas não apenas aos acadêmicos, mas também à comunidade interessada, em que, quase sempre, há um palestrante, abordando temas tanto ligados à própria literatura, quanto a outros assuntos sociais mais abrangentes. Nos cinquenta anos da ALTM, são incontáveis os benefícios sociais, promovidos por reuniões, palestras, jornais, cadernos especiais, livros e revistas, os três últimos atingindo não apenas a região triangulina, mas também várias outras cidades do país e até do exterior, demonstrando sua relevância no cenário cultural.
Terezina Hueb presidiu a ATLM por dois anos e, atualmente, ĂŠ vice-presidente
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o acadêmico/biografia por thiago ferreira . fotos: RAMON MAGELA/francis prado
uma história de surpresas ele abandonou a engenharia e a economia para se tornar um dos colunistas mais renomados da cidade. uma vida inteira dedicada à cultura e à comunicação mineira
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O ano era 1950. Nascia Jorge Alberto Nabut, na primeira casa da Rua Marquez do Paraná, no bairro Estados Unidos, em Uberaba, Minas Gerais. De frente à casa da família, o cenário da época é a Praça Afonso Penna, hoje conhecida como a Praça da Concha Acústica. A enorme gameleira que, por anos, foi o cartão postal da praça foi o cenário de inspiração e abrigo para o menino Jorge, segundo filho da bordadeira Mariana Abdanur Nabut e do comerciante Elias Nabut. A sombra da árvore e os imensos jardins ingleses, comuns nas praças da cidade, foram o palco para as brincadeiras de crianças. Ele se lembra do carinho, da dedicação e do rigor da mãe Dona Mariana, sempre com os filhos por perto. “Tinha também um campo de futebol, mas não tive acesso. Minha mãe não queria que eu me misturasse com os meninos da rua, vivi embaixo da barra da saia da dona Mariana”, lembra Jorge. Recordando a infância, ele conta que, embaixo da Gameleira, inocente menino, protegia-se da imensidão do mundo que estava a sua frente, mas da sua copa podia enxergar o horizonte. “Era tão alta que se podia ver o Rio de Janeiro, a rádio Nacional e até Ângela Maria cantando”, relata o jornalista. A comunicação sempre foi companheira de Nabut. Ele conta que o rádio sempre o acompanhou. Nos anos 50, esta mídia viveu o seu me-
lhor momento no Brasil. As canções embalavam os dias de todos da casa e, assim, ouvindo os familiares cantarolarem, nasceu em Jorge o gosto pela musicalidade. Mais tarde, o menino se tornaria admirador assíduo de recitais e óperas. Atualmente, seu maior encanto é a sedução, a conquista e a magia que só
Era tão alta que se podia ver o Rio de Janeiro, a rádio Nacional e até Ângela Maria cantando JORGE ALBERTO, sobre a antiga gameleira que ficava no centro da praça Afonso Penna
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o tango argentino possui. “Quando vou a Buenos Aires de férias, vou a show de tango todos os dias. Acho bárbaro”, enfatiza o acadêmico. A formação acadêmica Com esse cenário envolvente da enorme Gameleira, referência para os artistas uberabenses, Jorge não conseguiria fugir das artes. A família Nabut sempre se preocupou com a formação cultural dos filhos. Jorge, junto com o irmão Carlos, na infância, estudou no Grupo Brasil, uma das escolas públicas mais antigas da cidade. Foi a sua segunda casa até a ida para o colégio Marista Diocesano, no alto da colina das Mercês. Jorge ainda guarda, com cuidado, alguns dos recibos de pagamentos da mensalidade da escola. Quando Jorge se formou no colegial, hoje chamado de ensino médio, ingressou na faculdade de economia. O menino sonhador, que mais tarde se revelaria um domi-
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1 - Praça Anfonso Penna e a gameleira centenária ao centro 2 - Jorge durante a sua primeira comunhão
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o acadêmico/biografia por thiago ferreira . fotos: THIAGO FERREIRA/francis prado
Vivi embaixo da barra da saia da dona Mariana JORGE ALBERTO, sobre a mãe
nador nato das palavras, também demonstrava grande aptidão para os números. Ele ingressou, com 20 e poucos anos, na Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro, FCETM, para cursar Economia. A sede da faculdade era onde hoje funciona o prédio da Associação Comercial e Industrial, na avenida Leopoldino de Oliveira, no centro de Uberaba. A imagem daquela época é diferente da dos dias atuais. O Córrego das Lages cortava o centro a céu aberto. A cidade foi crescendo e a frota de veículos também. Foi necessário, em 1970, a canalização para que avenida ganhasse mais amplitude. A avenida cruza Uberaba de ponta a ponta até a margem das BRs 262 e 050, dois eixos de desenvolvimento do Brasil Central. Como a principal avenida, Jorge também sempre buscou mais. Com o diploma de economista em mãos, decidiu continuar os estudos e conquistar outra graduação. Dessa vez, o diploma de Engenheiro veio das Faculdades Integradas São Tomás de Aquino, Fista, atual, Universidade de Uberaba. Jorge não seguiu carreira de engenheiro ou economista. Ele conta que, na região, não havia mercado 22
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1 - Grupo Escolar Brasil, na Praça Comendador Quintino, onde Jorge estudou na infância 2 - Mãe do acadêmico, a dona Mariana 3 - Jorge e o irmão Carlos Nabut
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Eu não ia deixar o quibe e a esfirra da dona Mariana. Eu pensei: Não, isso não é para mim não” JORGE ALBERTO, sobre deixar a família e seguir carreira como engenheiro
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Jorge Alberto na companhia dos colunistas Paulo Silva, Netinho e Virgínia Abdalla mais os empresários Antônio Ronaldo Rodrigues da Cunha e Rodrigues da Cunha e Delcides Barbosa Borges
para as carreiras. Era comum os novos graduados irem trabalhar em outros estados. Os destinos mais comuns eram Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Pará. “Eles voltavam sofridos, queimados do sol bravo dos canteiros de obras. Eu não ia deixar o quibe e a esfirra da dona Mariana. Eu pensei: Não, isso não é para mim não”, conta aos risos. O Iago do Netinho Já que os imensos canteiros de obras no país afora não seduziam o jovem engenheiro recém-formado, muito menos o ofício de economista, Jorge se dedicou de vez à comunicação. Antes mesmo das graduações, seu primeiro contato com o jornalismo já havia sido estabelecido, no Lavoura e Comércio. O jornal impresso circulava todas as tardes, em Uberaba, e fechou suas portas com 104 anos de veiculação, em outubro de 2003. Amigo do jornalista Ataliba Guaritá Neto, colunista renomado do Lavoura, responsável pela coluna Observatório, em 1969, Jorge foi convidado para atuar como um ghost writer (escritor fantasma). Na época, a página causava um frisson na sociedade e acumulava grande prestigio. Com um grande público leitor e fiel, Observatório chegou a criar prêmios para personalidades e até concurso de beleza que elegia a “menina-moça” e o “broto ano” em grandes bailes de gala. Jorge usava pseudônimo, todas as quartas-feiras: Iago. O batismo veio por meio de Netinho, inspirado
pelo ineditismo do nome no ciclo social uberabense. Ele conta que as pessoas se perguntavam quem era aquele indivíduo e como ele sabia do que acontecia nas festas, detalhes de como as pessoas se vestiam, sobre os romances... Ninguém conhecia o tal colunista. “Na verdade, era eu, mas só contei de vez a verdadeira identidade do Iago, anos depois, quando estava definitivamente no Jornal da Manhã”, conta Jorge. Durante os anos de 1972 e 1976, Jorge se dividia entre os dois jornais da cidade da época. No Lavoura e Comércio era o Iago, na coluna Observatório, de Netinho e, no Jornal da Manhã, assumia sua verdadeira identidade como articulista. “Quando contei para o Netinho que eu estava indo de vez para o JM, ele foi um grande incentivador e apoiador. Netinho foi um homem de uma generosidade fantástica”, finaliza o colunista. Jorge e o Jornal da Manhã
“O jornalismo uberabense vivia um período de ascensão e profundas mudanças”. É assim que Jorge define o surgimento do mais novo jornal da cidade. Foi quando, em 1972, a Arquidiocese colocava à venda o seu semanário que circulava na cidade, o Correio Católico. O veículo foi comprado por um grupo de cinco empresários da cidade liderados por Edson Prata. Estavam também Joaquim dos Santos, Gilberto Resende, Unias Silva e Adilson de Almeida. Surgia aí o Jornal da Manhã, matutino que se posicionava como concorrente direto do Lavoura e Comércio. O convite oficial foi feito pelos editores do Jornal da Manhã, Olavo Sabino e Mário Salvador. De lá para cá, são 36 anos dedicados a contar os fatos da sociedade uberabense. “Não tenho duvidas de que a ideia do convite para ir para o JM foi do Dr. Edson, que sempre acreditou muito no Jorge”, afirma o colunista. Engana-se quem pensa que re25
digir coluna social é apenas contar as viagens e as grandes festas da sociedade. Jorge, sempre ligado à cultura e às manifestações artísticas da cidade, apostou na abrangência dos temas abordados para entremear as notícias sociais. Também sempre ganharam espaço os fatos da atualidade, política e até mesmo outros enfoques noticiados pelo jornal. “Isso faz com que a pessoa deixe de ver o jornalismo social como algo de futilidades”, diz o colunista. Além da diversidade de assunto, característica no jornalismo de opinião, outra estratégia desenvolvida por Jorge é incluir o merchandising aos assuntos reportados. “A ideia é unir um assunto ao que o cliente quer divulgar. Separá-los faz com o 26
que leitor pule a informação”, explica Jorge. Além desses ingredientes para atrair e fidelizar o leitor, Jorge ressalta a importância de ser convidado para os eventos da cidade, conhecer as pessoas, além de ter um bom relacionamento. Segundo ele, um “dedo de prosa no melhor mineirês” faz toda a diferença na hora de buscar as informações para a sua coluna. Adepto fervoroso dos blocos de anotações, Jorge conta que nunca trocou o papel e caneta por gravadores. Segundo ele, quando você coloca um gravador para a pessoa falar, causa uma intimidação, uma imposição desnecessária de jornalista e entrevistado. “Sempre me perguntam: e o bloquinho?”, diverte-se o jornalista.
o acadêmico/biografia por thiago ferreira . fotos: marise romano
escritor com seis obras publicadas, jorge alberto deixa a sua contribuição para a literatura triângulina
O ingresso na Academia A efervescência da juventude, os movimentos culturais da cidade, a vocação e aptidão para escrever, a prática diária do jornalismo, aproximaram Jorge sempre dos integrantes da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM). Essa proximidade fez com que os imortais conhecessem o trabalho do jornalista e se interessassem pelas obras que o escritor publicava inspiradas, em especial, nas raízes do Triângulo Mineiro e suas singularidades. Em 2003, o colunista foi indicado à cadeira de número seis da instituição, ocupada pela primeira vez por Ruy de Souza Novaes, considerado um fundadores da ALTM. Acadêmico participativo, com seis livros publicados, uma infinidade de poesias, crônicas, colunas
e três peças teatrais roteirizadas com seus textos, em 23 de fevereiro deste ano, foi reconhecido como novo presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Na votação, na sede da ALTM, anexa à biblioteca Bernardo Guimarães, com voto obrigatório, alguns representados por procuração ou por carta, os 40 acadêmicos elegeram-no. “Um desafio, muito mais que um prazer. Por que há tudo o que ser feito. Principalmente criar um espaço físico, pois há 50 anos ela ainda não tem uma sede e nem qualquer instrumento de trabalho e nem um recurso humano, ou seja, não tem telefone, não tem celular, não tem computador, não tem secretária ....”, explica o novo presidente da academia. Com propostas inovadoras, Jorge concorreu com
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chapa única para o cargo e em seu discurso de posse falou da importância da valorização da cultura local e a da entidade como polo da literatura triangulina. A vice-presidência da ATLM é ocupa agora pela professora Terezinha Hueb de Menezes, que já esteve à frente da instituição entre 2009 e 2011. Mário Salvador e Vilma Terezinha Cunha Duarte são, respectivamente, o primeiro e segundo secretários. A historiadora e acadêmica, Maria Antonieta Borges Lopes, e o escritor Antônio Pereira da Silva se tornaram primeiro e segundo tesoureiros. A cerimônia contou, pela primeira vez, com a presença do chefe do executivo municipal, o prefeito Paulo Piau e da primeira dama Heloísa Piau. “Vim dar o meu abraço e dizer que duas políticas importantes foram deixadas de lado em Uberaba pelo poder público, a cultura e o esporte. Quero dizer que esse tempo acabou”, ressaltou o prefeito. A experiência à frente da vida cultural da cidade da cidade, incluem passagens pela presidência da Fundação Cultural de Uberaba, quando criou o Museu de Arte Sacra (MAS), o Museu de Arte Decorativa (Mada) e o Arquivo Público de Uberaba -, diretor do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba (Conphau), pela diretoria cultural Jockey Club de Uberaba e coordenação da Sala Cecília Palmério, credenciam este imortal para os desafios na presidência da casa para o biênio 2013/2014.
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1 - Solenidade de posse da nova direitoria da ALTM 2 - Jorge Alberto recebendo Paulo Piau e Heloísa 3 - Jorge com Lídia Prata e Luiz Ciabotti 4 - Gilberto Rezende e João Gilberto Rodrigues da Cunha 5 - Paulo Piau discursando na solenidade da posse da direitoria da ATLM 6 - Terezinha Hueb e Maria Antonieta
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o acadêmico/biografia por thiago ferreira . fotos: ARQUIVO PESSOAL
Três espetaculos, seis livros e dois curtas metragem produzidos durante uma vida dedicado a cultura
O homem das artes Ainda criança e na adolescência, os movimentos culturais dos anos 60 a 80, em Uberaba, seduziam o eclético Jorge. O jornalista conta que certa vez tentou, junto ao Ministério do Trabalho, adquirir o registro profissional de jornalista. Apesar de todos os documentos necessários juntos e com livros, reportagens que comprovavam a atividade profissional o pedido foi indeferido. Ainda assim, ele persistiu. Quando assumiu de vez uma coluna social, em 1976, no Jornal da Manhã, o colunistas e questionou sobre sua afinidade pessoal e a divergência de assuntos. O então editor-chefe da época, Maurício Sousa Campos,sugeriuo estilo que se tornaria a característica fiel do colunista. “Ele me aconselhou a diversificar os assuntos da coluna. Além das notas sociais, inserir assuntos da cultura da cidade”, explica o jornalista. Ao logo de nove anos, Jorge foi consolidando os passos para a publicação de sua primeira obra. Ele colecionava as melhores crônicas que já haviam sido publicadas ao longo de sua carreira como jornalista no Jornal da Manhã e também no Lavoura e Comércio.Em 1981, Edson Prata, na época diretor administrativo do JM, o convidou para lançar o livro que marcaria o início da sua dedicação à literatura: Coisas que me Contaram, Crônicas que Escrevi, Ensaios Históricos. “Foi uma surpresa e uma alegria enorme quando o Dr. Edson me disse que iríamos lançar o livro”, finaliza o jornalista. Na crônica, as particularidades de notícias ou fatos do cotidiano recebem tratamento literário e, por isso, 30
são a paixão de Jorge. Apesar desta admiração pelo gênero, ele assume que pouco praticana atualidade, em função da rotina árdua do colunismo. O autor define-se “um cronista frustrado”. A segunda obra de Jorge chegaria às livrarias da cidade pouco tempo depois em 1984 é Paisagem Provincial. A obra dedicada exclusivamente àpoesia é umaseleção dos melhores poemas escritos pelo imortal ao longo dos anosde 1964 a 1974. Para o lançamento da obra,o autor recebeu a sociedade da época em prédio anexo à Igreja São Domingos, que já sediou a Fundação Cultural. Segundo o jornalista, os lançamentos das obras estavam entre os eventos mais badalados da época. A decoração era uma atraçãoà parte, elaborada com dedicação exclusiva do jornalista. “Eu misturava o rústico da roça, com cortinas de renda, panelas de ferro, com a delicadeza da flor de lírio e música, muita música. O Wagner (do Nascimento, ex-prefeito de Uberaba) era um frequentador assíduo, muito animado e adorava dançar tango e bolero”, conta o acadêmico. Apesar do glamour, para ele, a obra de maior relevância e contribuição social viria pouco tempo depois em 1986. O livro Desemboque: Documentário Histórico e Culturalé um relato de crônicas, artigos e poesias sobre a região berço da civilização do Triângulo Mineiro, desbravada por bandeirantes paulistas, na época do Brasil Colônia. O livro traz os diversos olhares de escritores da região na época, a maioria dos autores já eram mem-
Jorge com o Elenco de Good Gin versus Bad People
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Jorge, em ensaio fotogrรกfico, com roupas do estilista Markito
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o acadêmico/biografia por thiago ferreira . fotos: ARQUIVO PESSOAL
bros da Acadêmia de Letras do Triângulo Mineiro. Os textos retratam a região nos olhares dos autores e em épocas diferentes. O livro está fora de circulação há mais de 20 anos, mas é muito procurado para estudos e leitura. “Ainda temos muitos pedidos do livro para pessoas da região, seja em São Paulo, Minas Gerais ou Goiás”, conta o autor. Seu último livro, lançado em 2011, Geografia da Palavra, fez um sucesso tão grande que surpreendeu até o próprio autor. Das prateleiras, a obra chegou ao teatro. No ano seguinte do lançamento, em 28 de março, a obra foi encenada no Centro de Cultura José Maria Barra. A peça, com o mesmo nome do livro, ganhou interpretação pelos atores da Cia Rogê. Com a casa cheia, o espetáculo levou ao palco a vida, a rota de versos e poesias de Jorge Alberto escritas durante a sua vida. Na noite de estreia, a plateia pode conferir também Avant Premier do curta metragem Pastorália. O roteiro e a direção, também de Jorge, mostram toda a versatilidade do acadêmico. “Sempre pensei que minhas histórias podiam ir para os palcos, fiz teatro também e, agora, vou poder assistir. Sinto-me para lá de homenageado”, conta o autor. A Cia Rogê já havia se inspirado na obra do acadêmico. A primeira montagem, realizada em 2010,em homenagem aos 190 anos de Uberaba, foi baseada no livro A Casa das Três Janelas. A trágica história familiar retratada por meio do relacionamento dos primos Anete, Ananias e Anacleto, evidenciava os velhos tempos e costumes do Triângulo Mineiro. O glamour dos palcos mexia Jorge desde cedo. Ele chegou a promover desfiles de moda na cidade, algumas mostrasde arte e a facilidade para organizar eventos culturais rendeu-lhe, em 1971, oseu primeiro espetáculo, batizado de Good Gin versus Bad People. Netinho e a sua coluna Observatório promoviam na cidade os baile Noite da Glamour e da Elegante do Ano. O acadêmico então foi desafiado a promover uma encenação dentro do evento. Ele conta que Netinho
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1 - Elenco de Geografia da Palavra na noite de estreia no Teatro Sesiminas 2 - Jorge com o diretor EmĂlio RogĂŞ, da cia 3 - Cena de Geografia da Palavra
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sempre gostava de “mexer o doce”, ou seja, inovar a cada evento. “Na hora, não tive dúvidas. Netinho sempre foi bárbaro, então, topei na hora o desafio”. A encenação no Jockey foi um dos pontos altos da noite. Uma grande luta entre o bem e mal,representada pelas artes marciais, ao som do contraste da música clássica com a música caipira ecoavam pelo salão do badalado clube. O elenco era formado de jovens que frequentavam o Mingau do Jockey, uma balada para os jovens da época, promovida aos domingos à tarde, na sede da Praça Rui Barbosa, em Uberaba. Anos mais tarde, o espetáculo foi adaptado e levado para o palco do Teatro Experimental de Uberaba, o TEU. “Eu mandei fazer um colan de malha, em uma cor laranja forte, mostrando os corpos. Só essa entrada desse pessoal em cena foi um impacto tremendo”, conta o acadêmico. Dois anos depois, veio a sequência do espetáculo: Good Gin Contra os Quatros Cavaleiros. A peça com figurinos e cenários do arquiteto Demilton Dib, um dos grandes parceiros de Jorge nos espetáculos montados nos anos 70 e 80. O enredo da peçaconta a história de
Sempre pensei que minhas histórias podiam ir para os palcos, fiz teatro também e, agora, vou poder assistir. Sinto-me para lá de homenageado JORGE ALBERTO, sobre ver a peça inspirada no seu último livro Geografia da Palava
Good Gin, o personagem quepassa pela provação dos quatros cavaleiros do Apocalipse: Fome, Guerra, Peste e a Morte. O insight surgiu de uma conversa com o amigo Demilton. “Estávamos em um bar. Veio a ideia e fazer uma sequência da peça e já começamos ali mesmo a esboçar o roteiro”. 35
o acadêmico/ponto de vista por NANDA GUARITÁ . fotos: ARQUIVO PESSOAL
colega de profissão, a jornalista nanda guaritá, neta de ataliba guaritá, fala sobre o acadêmico e suas particularidades
Jorge Alberto e o jornalismo O calendário marcava 2 de maio de 1977, quando Jorge Alberto Nabut entrou pela porta da frente do JORNAL DA MANHÃ, contratado como colunista e articulista. “Motivo para boas risadas, pois ainda estamos na batalha boa, em busca da informação de cada evento, especulando, plugando, frequentando e, às vezes, tirando leite das pedras, quando as informações minguam e a gente tem de encher uma página não somente de fotos, mas de muita informação”. Desde o início, ele teve a preocupação em mesclar eventos sociais com notícias de outros segmentos. Os arquivos do Jornal da Manhã são provas disso! Ao longo destes 35 anos de dedicação, Nabut prestou várias homenagens, fez algumas críticas, divulgou inúmeras iniciativas beneficentes. As melhores baladas contam com a presença e a cobertura de Jorge Alberto. Apaixonado por cultura, sempre apoiou e continua dando força às manifestações artísticas das mais diversas tendências. O resultado deste trabalho sério e constante é a conquista de muito prestígio. É testemunha viva da evolução das colunas sociais. “As mudanças foram tão divertidas quanto trabalhosas. Nos primeiros tempos, quando trabalhava em máquina de escrever, depois de receber diploma em Datilografia – isto aqui está parecendo cenário jurássico –, recebia três ou cinco fotos do Akira ou do Prieto e, em duas horas, a matéria já estava pronta. Quando 36
veio o computador, todo mundo tinha medo dele. Em determinado tempo, a Lídia (Prata) colocou cartazes pelo jornal adentro dando data final para aprendermos, não propriamente computação, mas a usar o mínimo necessário da peça para redigir as colunas. Fui até o último prazo e quem não aprendeu dançou, porque o dia amanheceu e ninguém nunca mais viu uma máquina de escrever na Redação. Foi a maior gozação!” E para quem pensa que a tecnologia só trouxe facilidades, Jorge avisa: “A elaboração da coluna ficou mais difícil, mais complexa, por causa do imenso acesso provocado pela época digital e pela própria complexidade do momento em que vivemos, mas também mais abrangente e imensamente prazeroso ao ver pessoas lendo a coluna diretamente do Japão, Paris ou New York. Mesmo assim há pessoas que se recusam a investir no colunismo social”. Do olhar de Nanda “Quando aterrissei no Grupo JM, já não havia nenhum sinal das tais máquinas de escrever. Havia sim um computador me aguardando ao lado do dele. Sentamos lado a lado há mais de dez anos. Já mudamos de salas, mas continuamos “grudados” pelo companheirismo. Nossas famílias sempre foram amigas. Jorge trabalhou com o meu avô Netinho e garante que recebeu dicas valiosas dele. Retribuiu tudo, me
“Fui até o último prazo e quem não aprendeu dançou, porque o dia amanheceu e ninguém nunca mais viu uma máquina de escrever na redação. Foi a maior gozação!”
A jornalista Nanda Guaritá com o avó Ataliba Guaritá, incentivador da trajetória de Jorge
JORGE aLBERTO, em depoimento sobre a chegada dos computadores no Jornal da Manhã
ensinando muito sobre o oficio. Somos realmente parceiros! Em meio aos milhares de papéis e emails que recebemos (a mesa dele é tão bagunçada quanto a minha), há um colunista inteligente, experiente e extremamente generoso. Adoro conviver com o Jorge. Damos risadas juntos, dividimos o lanche e “trocamos figurinhas”. Fazemos constantes pedidos um para outro, trocamos informações e repassamos material para as colunas. Quer saber mais sobre ele? Nabut odeia abrir um DVD com inúmeras fotos para separar. Seria mais fácil se o fotografo tivesse “peneirado” as melhores imagens. Não aceita trabalhar em outro computador, nem trocar de cadeira. Fica eufórico com o lançamento de algum livro, ama cinema, museus e andar de bike. Viajar para o Rio de Janeiro traz ótimo bom-humor ao colunista. É formado em engenharia, mas não gosta de conferir os pagamentos. Tem enxaqueca assim como eu! Vive atendendo ao telefone em árabe, mesmo quando o outro lado da linha não entende nenhuma palavra. Está ensaiando comprar um Iphone há meses. Ama gastronomia. Expulsa da “nossa” sala quem tumultua muito e atrapalha o seu raciocínio. É perspicaz e crítico! Já me perguntei como ele consegue acordar cedo para preencher colunas diárias há tantos anos. E nem precisei perguntar. Percebi que ganha forças para continuar caminhando a todo vapor cada vez que um leitor agradece a publicação de uma nota. Uma caixa de chocolate, uma cesta de lichia (que ele adora) ou um simples telefonema educado o faz lembrar do quanto ele é competente e essencial na vida de muitos uberabenses. E assim, Jorge Aberto continua escrevendo a sua história no colunismo social.”
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o acadêmico/o melhor por JORGE ALBERTO NABUT. GEOGRAFIA DA PALAVRA/2011
conheça DOIS fragmentos da obra de jorge alberto
a cozinha brasileira Para Beatriz Pimenta Camargo A tradição da casa brasileira remete ao quintal, nem sempre largo, mas fundo, misto de jardim e chácara, onde mangueiras e abacateiros manchavam o chão de sombra e umidade. Virada para o quintal – fazenda hipotética – a cozinha enfumaçada, impregnada de fuligem e picumãs pendurados no forro de ripas trançadas em losangos. Pegado à ela, o banheiro, cimentado, com bacia encostada à parede e à qual se juntavam balde d’água e caneca pro banho que podia ser quente quando havia serpentina que passando pela boca do fogão, conduzia água pelando ao chuveiro, se era hora do almoço. Um vitrô, pequeno, economizava a luz natural. O fogão à lenha, rodeado de negras à volta com panelas de ferro, achas de lenha molhada na chuva, os gravetos estalando no fogo intenso, a fumaça a anunciar a atividade gastronômica, o pesado caldeirão com água fervendo, calor abafado a defumar as carnes dependuradas, conversa afiada da criadagem, robustos tachos de cobre areados para se fazer a goiabada, o doce de manga, de leite, entre falas alegres dos filhos à mesa, brasa que nunca se apagava, mesmo adormecida sob a camada de cinza, deixando quentinho o forno, onde se assavam as quitandas, e no qual os gatos buscavam calor em noites de frio... A evocação dessas imagens nos devolve à cozinha brasileira, anterior à vinda do fogão a gás, do liquidificador e da geladeira. Cozinha que tinha então 450 anos de fogo alto, brando ou baixo, graças aos braços e fôlego fortes das cozinheiras que transformavam lenha, água, fogo, carne e grãos em alimento da vida. Tempo em que elas mesmas tinham de matar, sapecar e limpar capados, fazer linguiça, pegar e depenar ariscas galinhas, colher ovos nos ninhos perdidos em moitas no quintal... Naquele tempo pouca coisa vinha pronta da venda. Quase tudo tinha de ser feito em casa, pela criadagem, sob olhar severo das patroas. E a cozinha foi, por séculos, o registro de um Brasil imutável e sofrido, embora saboroso. Ano 2002
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o acadêmico/o melhor por JORGE ALBERTO NABUT. GEOGRAFIA DA PALAVRA/2011
que o verde nos perdoe As cortinas de maio voam suas rendas entre meus pensamentos, ideias alvejadas, movimento das lembranças nas janelas de minha consciência. Para além das cortinas, o sol derrama seu polvilho sobre a praça, sobre esta usina de galhos e folhas que se denomina Gameleira. Nos sonhos dormidos ou acordados, a árvore me acompanha com seus repentes, sua imensidão, suas visões, ao dobrar uma esquina, ao fechar os olhos, ao pegar uma página branca para escrever. Não sendo espectro, a Gameleira me fala coisas que eu queria ouvir e compõe um inventário sobre sua atividade em Uberaba, numa ladeira sua, frente à Rua do Comércio, num tempo em que os adultos podem ser crianças, pois, sua visão leva ao castelo das fadas sertanejas. Sob a Gameleira os bandeirantes abatidos pela fome de comida e de posses de sesmarias, depositam o cargueiro de farinha que, embora podre, lhes daria fama e fábula. Bernardo Guimarães redige na poeira pardacenta de seus troncos canelados, a marcha dos romeiros enfileirados nas terras soltas, arrastando pesadas promessas, sob o canto dos carros de bois, do Sertão da Farinha Podre até o fim do mundo, ao país dos Goyá, após Brasília, onde a desova dos milagres se retribui com a escultura dos ex-votos, aos pés da Senhora d’Abadia. Vejam como dormem amontoados sob ela, com alta sezão e febre
amarela os soldados que restaram da Retirada da Laguna... Debaixo da Gameleira é onde os carros de bois aprendem a ladainha das estradas e as romeiras apanham a sombra que acompanha seus filhos até os desertos de Moquém. A Gameleira lhes empresta a sombrinha contra o sol mordido de cachorro doido de agosto. Vinda pela Mojiana, passa a incansável procissão de progresso: levas de imigrantes italianos, espanhóis e libaneses; a imagem de Nossa Senhora de Fátima, trazida de Portugal; os soldados da Revolução de 30 de baionetas afiadas nos ossos dos inimigos; os pracinhas da II Guerra rumo ao oceano fundo do Atlântico; a fuga de registros de cartórios abafada a contos de réis; gente carreando segredo sob pressão; jovens que saltam os muros e caem no mato em busca de gozo improvisado; jagunços e suas facadas que até hoje sangram quando a noite abre a boca banguela... O jardim inglês de 1908 desenhado na praça é visto pelos moleques e a bola dá à praça abandonada de 1960, dinâmica nova: o futebol. A Gameleira se ri dessas peladas e sacode os galhos de seu vasto edifício quando um rapaz marca gol na área de terra pisoteada. Pelas torres dos galhos, a Gameleira namora a roda-gigante do Parque armado na Mojiana Velha. Das grossas grimpas se enxergam Paracatu, de um lado, a Guerra do Paraguai do outro. De uma banda, o quilombo
Tento Tengo e, de outra, o sorriso rasgado da praia de Copacabana... e a gente querendo que o galho se espiche mais um tiquinho, até chegar lá, descer no Rio de Janeiro, o sonho inteiro da vida da gente, a cidade que vem na viagem dos parentes, estampada na bandeja de borboletas azuis, lembrança trancada na cristaleira. A Gameleira às vezes espeta suas raízes para cima, brinca de pernas pro ar, não tendo folhas no tempo da seca. A praça é então abandono, ventania, cães e folhas caídas, tantas, como se vendaval varresse os escritórios dos edifícios e arrancasse de suas gavetas toda papelada do mundo, até que as primeiras águas de fim de ano a acalme e anestesie os cães, os jagunços, os partidários políticos. Os galhos, ainda nem vestidos, estendem os braços, apanham uma estrela da tarde e a entrega ao poeta da praça. Os imensos braços da Gameleira se espetam de brotos, canetas de cor rascunhando o projeto da nova indumentária. A Gameleira incendeia a cidade de verde; um incêndio tão grande quanto o da usina de petróleo. Uma árvore que jorra verde folha para colorir as caatingas, os jornais em preto e branco, a voz dos radialistas, colorir, enfim, os decretos dos prefeitos que não mais erguerão lâminas afiadas contra o monumento que se ergueu da pré-história dos chapadões, o monumento que ofende, incomoda aqueles que trazem o cascalho nos olhos.
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realização
altm academia de letras do triângulo Mineiro
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