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Lendas e histórias do edifício Co- pan mesmo durante a 9 pandemia Geraldo Nunes
SãO PAULO
de todos os tempos
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Geraldo nuneS
Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.
lendaS e hiStóriaS do edifício coPan meSmo durante a Pandemia
O Edifício Copan tem o formato de uma onda, as paredes internas e os corredores também fazem curvas lá dentro. A elaboração deste projeto arquitetônico pra lá de ousado aconteceu em 1951. O anúncio da construção ocorreu durante as comemorações do IV Centenário de São Paulo - 1954. Quem projetou o Copan foi Oscar Niemeyer quando Brasília ainda não existia, mesmo assim era um arquiteto conhecido pela obra da Pampulha, em Belo Horizonte.
O edifício demorou para ficar pronto, só em 1966, mas virou marca registrada de São Paulo, pela imponência de sua construção: 35 andares, dois subsolos de garagem, uma pequena cidade dentro da metrópole. Há espaço para 52 lojas no piso térreo e muitas delas fecharam por causa da pandemia. Havia um cinema que fechou suas portas em 1980 e depois alugado, virou templo evangélico.
O projeto veio cheio de controvérsias. A ideia era se construir um imóvel de alto padrão, com apartamentos espaçosos e super luxuosos. O proprietário se quisesse poderia além de morar, ter ali mesmo seu escritório porque os três primeiros andares foram reservados para fazer parte de uma ala empresarial. Anexo, há um edifício que pertence ao Bradesco, mas pela proposta original seria feito dele um hotel.
Durante a construção os interessados desistiam da compra por causa do alto preço das unidades. A construtora então decidiu modificar o empreendimento. Oscar Niemeyer discordou das mudanças e deixou o projeto, sendo substituído pelo arquiteto Carlos Lemos. No lugar dos apartamentos classe A, foram colocados à venda unidades menores distribuídas em conjuntos de três quartos e também quarto-sala conjugados em kitchnetes.
Em 1987, o Departamento do Controle de Uso de Imóveis da Prefeitura de São Paulo - Contru - notificou o Copan por problemas com a fiação elétrica, encanamentos e outras situações que todos os arranha-céus enfrentam quando não recebem a devida manutenção. Para resolver o problema, a administradora do condomínio decidiu contratar um síndico com dedicação exclusiva. No cargo, desde 1993, Afonso Celso Prazeres de Oliveira, segue firme, mesmo agora no enfrentamento da pandemia.
Cheguei a entrevistá-lo no programa São Paulo de Todos os Tempos para a Rádio Eldorado, em 1997. Na ocasião ele se recusou a comparecer no estúdio alegando falta de tempo, então fui até ele e acreditem; valeu a pena. Em seu escritório conheci um verdadeiro museu repleto de documentos e fotos relativas ao arranha-céu, inclusive algumas mostrando o que havia no terreno antes da construção, e o que existia, também era bárbaro: Vila Normanda, um conjunto de residências bem ao estilo dos casarões europeus em plena Avenida Ipiranga.
Em 2007, quando Oscar Niemeyer completou 100 anos de vida, Afonso Celso prestou uma homenagem ao arquiteto e estampou o número 100 na fachada.
Agora, em 2021, a crise econômica tem prejudicado as finanças do Copan, mas sua história, repleta de casos interessantes nos faz lembrar Plínio Marcos, hoje uma verdadeira lenda. Um dos atores mais bem pagos da televisão brasileira nos tempos da Tupi, largou tudo por questões existenciais e políticas.
Chamado de “autor maldito”, Plínio Marcos preferiu viver da venda dos livros que escrevia, sempre com temas polêmicos. Mas lucrar com literatura no Brasil, nós sabemos, não é nada fácil. O artista passou então a imprimir ele próprio suas obras para depois vender nas portas dos teatros e nas faculdades. Morreu em 1999, quando já não mais residia no condomínio. Para terminar uma pergunta: Se pudesse escolher, você preferiria morar no Copan de agora ou a Vila Normanda de antigamente?
► Foto da Vila Normanda,