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Voz Levante - Um teto para en- contrar sua voz - III Mari Vieira
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um teto Para encontrar Sua voz - iii
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Diversos fatores entrecruzam a vida das mulheres e as impedem de romper silêncios e alçar voos mais altos, mas a pobreza é um fator preponderante.
Ter acesso a alimentos (e outros bens materiais) é inegável à qualidade de vida e às condições de luta. A pobreza é um empecilho à vida de qualquer pessoa, mas a situação da mulher é perpassada por condições de raça, classe e gênero, conjunção que dificulta a vida de parte significativa da população feminina. As negras enfrentam realidade pior, pois grande parte sobrevive de trabalhos que oneram o bem-estar físico e psicológico, para além disso, muitas nesta pandemia colocaram a vida em risco para manter o emprego.
A condição de vida de parte de nós nesta pandemia está terrível. Não podemos nos calar diante de tanta atrocidade, como já ensinou Audre Lorde o silêncio não vai nos salvar. No contexto atual em que mais metade da população brasileira está em situação de insegurança alimentar ou fome, é natural que inúmeras mulheres estejam quase sem forças para reivindicar seus diretos, como falar quando a garganta está sufocada pelo estômago vazio, quando a voz está sufocada pela fome? Lembrar Conceição Evaristo é inevitável.
Pão Debaixo da língua a migalha de pão brinca à fome
As desigualdades de gênero, raça e classe geram o silêncio que impera na vida de parte das mulheres no Brasil (não só na pandemia). Do total de lares em insegurança alimentar 35,9% são chefiados por mães solo, são mulheres que precisam de um teto (em toda ampli-
tude de significado dessa palavra) para elas e seus filhos. Elas gritam suas necessidades, gritos que se são escutados por nós, são quase inaudíveis para as autoridades, ainda assim, seguem em luta. Que seus gritos não sejam somente de dor e que suas vozes não sejam enfraquecidas pela fome. Que o isolamento social não impeça aquelas (e aqueles) que podem tornar menos sofrida a realidade das que mais sofrem. A redução do auxílio emergencial foi desastrosa, pois os R$ 600 eram insuficientes. É o que falo no poema que publiquei no Cadernos Negros 43.
a porta fechada (trecho)
A porta fechada Abre-se a uma lágrima incontida Reconhecendo os nomes Dos nossos Vítimas dos homens Que dizem que 600 é suficiente para viver